UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA MARCELA VIEIRA CALMON QUALIDADE DE VIDA RELACIONADA COM OS PROBLEMAS BUCAIS EM MULHERES ANTES E DURANTE O TRATAMENTO QUIMIOTERÁPICO DO CÂNCER DE MAMA VITÓRIA 2013

Transcript of UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE...

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTO CENTRO DE CINCIAS DA SADE

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM SADE COLETIVA MESTRADO EM SADE COLETIVA

    MARCELA VIEIRA CALMON

    QUALIDADE DE VIDA RELACIONADA COM OS PROBLEMAS BUCAIS EM MULHERES ANTES E DURANTE O TRATAMENTO QUIMIOTERPICO DO

    CNCER DE MAMA

    VITRIA 2013

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    MARCELA VIEIRA CALMON

    QUALIDADE DE VIDA RELACIONADA COM OS PROBLEMAS BUCAIS EM MULHERES ANTES E DURANTE O TRATAMENTO QUIMIOTERPICO DO

    CNCER DE MAMA

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Sade Coletiva da Universidade Federal do Esprito Santo (Ufes), como requisito para obteno do ttulo de Mestre em Sade Coletiva, rea de concentrao em Epidemiologia. Orientadora: Prof. Dra. Maria Helena Monteiro de Barros Miotto Coorientadora: Prof Dra. Eliana Zandonade

    VITRIA 2013

  • 2

    Dados Internacionais de Catalogao-na-publicao (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Federal do Esprito Santo, ES, Brasil)

    Calmon, Marcela Vieira, 1982- C164q Qualidade de vida relacionada com os problemas bucais em

    mulheres antes e durante o tratamento quimioterpico do cncer de mama / Marcela Vieira Calmon. 2013.

    112 f. : il. Orientadora: Maria Helena Monteiro de Barros Miotto. Coorientadora: Eliana Zandonade. Dissertao (Mestrado em Sade Coletiva) Universidade

    Federal do Esprito Santo, Centro de Cincias da Sade. 1. Sade bucal. 2. Qualidade de vida. 3. Mamas - Cncer. 4.

    Epidemiologia. I. Miotto, Maria Helena Monteiro de Barros. II. Zandonade, Eliana. III. Universidade Federal do Esprito Santo. Centro de Cincias da Sade. IV. Ttulo.

    CDU: 614

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    QUALIDADE DE VIDA RELACIONADA COM OS PROBLEMAS BUCAIS EM MULHERES ANTES E DURANTE O TRATAMENTO

    QUIMIOTERPICO DO CNCER DE MAMA

    MARCELA VIEIRA CALMON

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps Graduao em Sade Coletiva da Universidade Federal do Esprito Santo UFES, como requisito para obteno do ttulo de Mestre.

    Avaliada em 21 de maro de 2013

    Comisso Examinadora:

    ___________________________________________

    Prof. Dr. Maria Helena Monteiro de Barros Miotto Orientadora Universidade Federal do Esprito Santo

    ___________________________________________

    Prof. Dr. Eliana Zandonade Coorientadora Universidade Federal do Esprito Santo

    ___________________________________________

    Prof. Dr. Maria Gabriela Haye Biazevic 1 Examinadora Universidade de So Paulo

    ___________________________________________

    Prof. Dr. Maria Helena Costa Amorim 2 Examinadora Universidade Federal do Esprito Santo

    ___________________________________________

    Prof. Dr. Tnia Regina Gro Velloso Examinadora Suplente Universidade Federal do Esprito Santo

    VITRIA 2013

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    Dedico esta dissertao minha famlia por

    ter me ensinado a no desistir dos meus

    sonhos e a buscar, antes de ttulos, ser uma

    pessoa melhor e amar os que me rodeiam.

    Ao Eduardo, por ter permanecido ao meu

    lado, incentivando-me a percorrer este

    caminho, por compartilhar angstias e

    dvidas, estendendo sua mo em momentos

    difceis.

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    A Deus por me amparar nos momentos difceis, por me dar fora para superar as

    dificuldades, mostrar os caminho nas horas incertas e me suprir em todas as

    necessidades.

    minha amiga e orientadora, Maria Helena Miotto, por me mostrar o caminho da

    cincia, fazer parte da minha vida nos momentos bons e ruins, por ser exemplo de

    profissional e de mulher que sempre far parte da minha vida.

    Aos meus avs Edina e Mrio, meus pais Maria Dilza, Durval e Nete, minhas

    irms Mem, Mrya, Mrcia e Leni, meus afilhados Matheus, Marianna, Ravi e

    Letcia, enfim, toda a famlia pelo carinho, pacincia, incentivo, compreenso nos

    momentos de ausncia...vocs so o melhor que a vida me trouxe.

    A Eduardo, Pami, Edite e Evie por me acolherem com tanto amor em sua casa,

    dando o carinho que precisava receber nos momentos difceis. muito bom fazer

    parte dessa famlia... Amo vocs.

    s minhas amigas de pesquisa Maria Aparecida e Larissa que participaram

    diretamente deste trabalho e me ajudaram em todos os momentos.

    Aos meus colegas do Grupo de Estudo em Cncer, Srgio, Juliana, Ktia... e a

    todos os colegas e professores do mestrado pelo convvio e aprendizado.

    professora Maria Helena Costa Amorim por ter despertado em mim o desejo de

    fazer o mestrado e por ter me apresentado o programa mais humano, sensvel e

    edificante do qual j fiz parte, o Premma.

    professora Eliana Zandonade pelos conselhos, sugestes, orientaes e carinho

    em todos os momentos. Voc foi decisiva para minha chegada at aqui!

  • 6

    A todos os amigos da Faculdade Pitgoras de Linhares, em especial, Z Claudio,

    Dany e Deyse pelo incentivo incondicional. Sem isso no seria possvel!

    Aos colaboradores do Hospital Santa Rita de Cssia pelo carinho e apoio.

    Em especial, a todas as mulheres que fizeram parte deste estudo. Conviver com

    vocs tornou-me no uma pesquisadora, mas uma mulher mais forte, guerreira,

    assim como vocs so! Obrigada por compartilhar comigo esse momento to

    delicado... Vocs sero um exemplo para sempre em minha vida!

  • 7

    Depois de algum tempo, voc aprende...

    A construir todas as suas estradas no hoje,

    porque o terreno do amanh incerto demais

    para os planos, e o futuro tem o costume de

    cair em meio ao vo.

    E o que importa no o que voc tem na

    vida, mas quem voc tem na vida. E que bons

    amigos so a famlia que nos permitiram

    escolher.

    Aprende que maturidade tem mais a ver com

    os tipos de experincia que se teve e o que

    voc aprendeu com elas do que com quantos

    aniversrios voc celebrou.

    Que todos querem viver no topo da

    montanha, mas toda felicidade e crescimento

    ocorre quando voc est escalando-a.

    Aprende que o tempo no algo que possa

    voltar para trs. Portanto, plante seu jardim e

    decore sua alma, ao invs de esperar que

    algum lhe traga flores.

    E voc aprende que realmente pode suportar,

    que realmente forte, e que pode ir muito

    mais longe depois de pensar que no se pode

    mais. E que realmente a vida tem valor e que

    voc tem valor diante da vida!

    William Shakespeare

  • 8

    RESUMO

    Objetivos: Avaliar os impactos produzidos por problemas bucais na qualidade de

    vida; examinar a associao com as variveis sociodemogrficas, clnicas e

    odontolgicas; e avaliar o impacto das manifestaes bucais na qualidade de vida

    em mulheres antes e durante o tratamento quimioterpico do cncer de mama.

    Metodologia: A pesquisa realizou-se com mulheres com diagnstico histopatolgico

    de cncer de mama atendidas no Hospital Santa Rita de Cssia (HSRC), de janeiro

    de 2012 a janeiro de 2013. Foram desenvolvidos dois estudos: o primeiro

    observacional transversal e o segundo longitudinal. As mulheres foram estudadas

    em trs momentos: antes de qualquer interveno relacionada ao tratamento; aps a

    realizao da primeira sesso de quimioterapia; depois da segunda sesso de

    quimioterapia. Para o artigo um, foram selecionadas todas as mulheres com

    diagnstico histopatolgico de cncer de mama atendidas no HSRC, no perodo de

    janeiro a dezembro de 2012; para o artigo dois, a amostra foi calculada utilizando-se

    o programa Bioestat 5.0 e o mtodo de McNemar. Os dados foram organizados no

    programa Microsoft Office Excel 2007 for Windows e analisados pelo Pacote

    Estatstico para Cincias Sociais (SPSS), verso 20.0. Utilizaram-se dois roteiros na

    forma de entrevista, incluindo o indicador subjetivo Oral Health Impact Profile

    (OHIP). No primeiro artigo, foi realizada anlise descritiva dos dados, utilizando-se

    os testes qui-quadrado ou o exato de Fisher. Calculou-se o odds ratio (OR) com

    intervalo de confiana de 95% e aplicou-se o mtodo de Mantel-Haenzsel. No

    segundo artigo, realizou-se anlise descritiva dos dados para cada dimenso do

    OHIP, aplicou-se o teste de McNemar e o teste Kappa. Adotaram-se nveis de

    significncia menores que 5% no estudo. Resultados: Foram estudadas 89

    mulheres. O percentual de impactos dos problemas bucais na qualidade de vida foi

    de 28,1% e esteve associado menor renda e utilizao de servios odontolgicos

    por urgncia. No artigo dois, foram estudadas 41 mulheres. Houve um aumento no

    percentual de impacto dos problemas bucais na qualidade de vida das mulheres

    investigadas do primeiro para o segundo momento da pesquisa, e o impacto foi

    significante nas dimenses limitao funcional, dor fsica e incapacidade fsica,

    interferindo em condies essenciais das mulheres. Concluso: As mulheres em

    terapia antineoplsica j possuem um alto impacto antes do incio do tratamento e

    essa condio agravada aps o tratamento quimioterpico. extremamente

  • 9

    importante a integrao do cirurgio-dentista com a equipe de oncologia no cuidado

    do paciente em todos os estgios da doena. Esses pacientes requerem cuidados

    bucais especficos, necessitando de acompanhamento antes, durante e aps o

    tratamento oncolgico, na tentativa de minimizar os efeitos deletrios da

    quimioterapia, melhorando, assim, a sua qualidade de vida.

    Palavras-chave: Sade bucal. Qualidade de vida. Perfil de impacto da doena.

    Neoplasias da mama.

    .

  • 10

    ABSTRACT

    Objectives: To assess the prevalence of impacts produced by oral problems on

    quality of life and its possible association with sociodemographic variables, need for

    dental prosthesis, dental service utilization and clinical staging, and assess the

    impact of oral manifestations on quality of life in women before and during

    chemotherapy for breast cancer. Methodology: The survey was conducted in

    women with a histopathologic diagnosis of breast cancer at the Hospital Santa Rita

    de Cassia (HSRC), from January 2012 to January 2013. There were two studies: the

    first was observational cross and the second was longitudinal, the women were

    studied on three occasions. To order one, we selected all women with histological

    diagnosis of breast cancer treated at the HSRC between January and December

    2012. To order two, the sample was calculated using the BioStat 5.0 and using the

    McNemar test. Data were organized using Microsoft Office Excel 2007 for Windows

    and analyzed using Statistical Package for Social Sciences (SPSS) version 20.0. For

    objective one, performed descriptive analysis of data by means of frequency tables

    with numbers and percentages for each of the items of the survey instrument. It was

    used qui-quadrado square or Fisher exact test. Was calculated odds ratio (OR) with

    a confidence interval of 95%, and used the method of Mantel-Haenzsel. For objective

    two, was performed descriptive analysis of data by means of frequency tables with

    numbers and percentages for each dimension OHIP in three stages of the research.

    It was applied the McNemar test, and the Kappa test. Adopted were significance

    levels below 5%. Results: Were studied 89 women who fulfilled the criteria for

    inclusion during the study period. The prevalence of impact of oral health on quality

    of life was 28.1% and was associated with lower income and utilization of dental

    services by urgency. For the second objective, were studied 41 women. There was

    an increase in the percentage impact of oral manifestations on quality of life of

    women surveyed from the first to the second stage of the research. The impact is

    significant on the dimensions functional limitation, physical pain and physical

    disability, interfering with essential conditions of women, such as speech and

    feeding. Conclusion: The antineoplastic therapy in women already have a high

    impact before the treatment and this condition is aggravated after chemotherapy. It is

    extremely important the integration of the dentist with the oncology team in patient

    care at all stages of the disease. These patients requiring oral care specific, need of

  • 11

    monitoring before, during and after treatment cancer in an attempt to minimize the

    deleterious effects of chemotherapy, thus improving its quality of life.

    Keywords: Oral health. Quality of life. Sickness impact profile. Breast neoplasms.

  • 12

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Distribuio proporcional dos dez tipos de cncer mais incidentes estimados para 2012 em mulheres, exceto pele no melanoma, Brasil .............................................................................................................

    23

    Quadro 2 Estimativas para o ano de 2012 das taxas brutas de incidncia por 100 mil mulheres e de nmero de casos novos por cncer, no Esprito Santo e em Vitria ........................................................................................

    24

    Quadro 3 Categorizao das variveis independentes do estudo ............

    44

  • 13

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Taxas de mortalidade por cncer de mama, por 100 mil mulheres, 2008, no mundo ...........................................................................

    27

    Figura 2 Taxas de mortalidade das cinco localizaes primrias mais frequentes de cncer, por 100.000 mulheres, entre 2000 e 2010, Brasil .....

    28

    Figura 3 Representao espacial das taxas brutas de mortalidade por cncer de mama, por 100.000 mulheres, entre 2000 e 2010, no Esprito Santo e no Brasil ...........................................................................................

    28

    Figura 4 Fluxograma das mulheres com diagnstico de cncer de mama atendidas no HSRC, em Vitria/ES, 2012 ....................................................

    43

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    LISTA DE TABELAS (ARTIGOS)

    ARTIGO 1

    Tabela 1 Caractersticas sociodemogrficas de mulheres com cncer de mama, Vitria/ES, 2012 ................................................................................

    59

    Tabela 2 Informaes gerais de sade de mulheres com cncer de mama, Vitria/ES, 2012 ................................................................................

    60

    Tabela 3 Frequncia do impacto, por dimenso, segundo a renda de mulheres com cncer de mama, Vitria/ES, 2012 ........................................

    61

    Tabela 4 Frequncia do impacto, por dimenso, segundo motivo da visita ao profissional de sade bucal nos ltimos 12 meses, por mulheres com cncer de mama, Vitria/ES, 2012 .......................................................

    62

    ARTIGO 2

    Tabela 1 Caractersticas sociodemogrficas e das manifestaes bucais das mulheres diagnosticadas com cncer de mama, Vitria/ES, 2012-2013

    79

    Tabela 2 Frequncia do impacto, por dimenso, nas mulheres com cncer de mama nos trs momentos da pesquisa, Vitria/ES, 2012-2013 ..

    80

    Tabela 3 Frequncia do impacto, por dimenso, nas mulheres com cncer de mama entre o 1 e 2 momentos da pesquisa, Vitria/ES, 2012-2013 ..............................................................................................................

    80

    Tabela 4 Frequncia do impacto, por dimenso, nas mulheres diagnosticadas com cncer de mama entre o 2 e 3 momentos da pesquisa, Vitria/ES, 2012-2013 ..................................................................

    81

    Tabela 5 Frequncia do impacto, por dimenso, nas mulheres diagnosticadas com cncer de mama entre o 1 e 3 momentos da pesquisa, Vitria/ES, 2012-2013 ..................................................................

    82

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    CEP Comit de tica em Pesquisa

    DCNTs Doenas Crnicas No Transmissveis

    HSRC Hospital Santa Rita de Cssia

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    INCA Instituto Nacional do Cncer

    OHIP Oral Health Impact Profile

    OMS Organizao Mundial da Sade

    OR Odds ratio

    PNSB Pesquisa Nacional de Sade Bucal

    PREMMA Programa de Reabilitao para Mulheres Mastectomizadas

    SPSS Pacote Estatstico para Cincias Sociais

    SUS Sistema nico de Sade

    TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    UFES Universidade Federal do Esprito Santo

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    SUMRIO

    1 INTRODUO ........................................................................................... 18 2 REVISO DE LITERATURA ..................................................................... 21

    2.1 Cncer ....................................................................................................... 22 2.1.1 Cncer de mama ............................................................................. 25 2.1.2 Tratamentos ..................................................................................... 29 2.1.3 Manifestaes bucais ..................................................................... 30

    2.2 Promoo da sade e qualidade de vida ............................................... 33 2.3 Indicadores de sade bucal .................................................................... 35

    2.3.1 Oral Health Impact Profile Perfil do Impacto da Sade Bucal (OHIP) ........................................................................................................

    36

    3 OBJETIVOS ............................................................................................... 38 3.1 Objetivos do Artigo 1 ............................................................................... 39 3.2 Objetivo do Artigo 2 ................................................................................. 39 4 METODOLOGIA ........................................................................................ 40

    4.1 Tipo de estudo e delineamento da pesquisa ........................................ 41 4.2 Local do estudo ....................................................................................... 41 4.3 Populao universo .............................................................................. 42 4.4 Amostra ..................................................................................................... 42 4.5 Critrios de incluso ............................................................................... 43 4.6 Critrios de excluso .............................................................................. 43 4.7 Coleta de dados ....................................................................................... 44 4.8 Varivel dependente ................................................................................ 45 4.9 Variveis independentes ......................................................................... 45

    4.9.1 Faixa etria ...................................................................................... 46 4.9.2 Estado civil ...................................................................................... 46 4.9.3 Raa/cor da pele .............................................................................. 46 4.9.4 Grau de instruo ........................................................................... 47 4.9.5 Condio socioeconmica ............................................................. 47 4.9.6 Renda ............................................................................................... 47 4.9.7 Utilizao de servios odontolgicos ........................................... 48 4.9.8 Necessidade de prtese ................................................................. 48 4.9.9 Municpio de residncia ................................................................. 48 4.9.10 Estadiamento clnico .................................................................... 48

    4.10 Tratamento estatstico dos dados .......................................................... 49 4.11 Consideraes ticas .............................................................................. 50

    5 RESULTADOS .......................................................................................... 51 5.1 Proposta do Artigo 1 ................................................................................ 52

    5.1.1 Resumo ............................................................................................ 52 5.1.2 Introduo ........................................................................................ 53 5.1.3 Metodologia ..................................................................................... 56 5.1.4 Resultados ....................................................................................... 58 5.1.5 Discusso ........................................................................................ 63 5.1.6 Concluso ........................................................................................ 67 5. 1.7 Referncias ..................................................................................... 68

    5.2 Proposta do Artigo 2 ................................................................................ 72 5.2.1 Resumo ............................................................................................ 72

  • 17

    5.2.2 Introduo ........................................................................................ 73 5.2.3 Metodologia ..................................................................................... 75 5.2.4 Resultados ....................................................................................... 78 5.2.5 Discusso ........................................................................................ 83 5.2.6 Concluso ........................................................................................ 87 5.2.7 Referncias ...................................................................................... 88

    6 CONCLUSO DO ESTUDO ...................................................................... 91 REFERNCIAS DO ESTUDO ................................................................... 93 APNDICES .............................................................................................. 101 APNDICE A Termo de consentimento livre e esclarecido .............. 102 APNDICE B Roteiro para registro das informaes das

    participantes (1 momento) .....................................................................

    103 APNDICE C Roteiro para registro das informaes das

    participantes (2 e 3 momentos) ............................................................

    107 ANEXOS .................................................................................................... 109 ANEXO A Perfil do Impacto da Sade Bucal (OHIP 14) ..................... 110 ANEXO B Aprovao no CEP/UFES .................................................... 111 ANEXO C Aprovao no HSRC ............................................................ 112

  • 18

    1 INTRODUO

  • 19

    No Brasil, h um processo de envelhecimento da populao e uma situao de

    transio das condies de sade, caracterizada pela queda relativa das condies

    agudas e pelo aumento das condies crnicas (MENDES, 2011). As doenas

    crnicas no transmissveis (DCNTs) so um problema de sade global e uma

    ameaa sade e ao desenvolvimento humano (SCHMIDT et al., 2011). Dentre

    essas, o cncer tem se destacado como um evidente problema para a sade pblica

    mundial nas ltimas dcadas.

    O cncer de mama o tipo que mais acomete as mulheres em todo o mundo,

    excluindo-se os casos de cncer de pele no melanoma. So esperados, no Brasil,

    52.680 novos casos de cncer de mama e, para o Esprito Santo, 900 novos casos,

    em 2012 e 2013 (INSTITUTO NACIONAL DO CNCER, 2011).

    O tratamento consiste em destruir ou inibir a proliferao excessiva de clulas

    neoplsicas, podendo incluir cirurgia, quimioterapia e radioterapia. A quimioterapia

    age em todos os tecidos e pode provocar vrios efeitos colaterais no organismo

    (PAIVA et al., 2010). Muitos desses efeitos so visveis na cavidade bucal e,

    conhecendo-os, aes simples podem ser feitas na tentativa de impedir sua

    progresso ou at mesmo evit-los, melhorando assim a condio bucal das

    pacientes.

    Devido alta incidncia da doena, essas pacientes constituem uma categoria

    especial, necessitando de acompanhamento por uma equipe multiprofissional de

    forma a prepar-las para o tratamento antineoplsico. Isso refora a ideia de que a

    Odontologia, alm de aliviar a dor, pode contribuir para a reabilitao dessas

    pacientes, auxiliando no desenvolvimento da autoestima e ampliando a interao

    social.

    A mudana do paradigma mdico tem feito os pesquisadores desenvolverem novas

    maneiras de medir percepes, sentimentos e comportamentos, dando uma

    crescente importncia s experincias subjetivas do indivduo, como seu bem-estar

    funcional, social e psicolgico, e s suas interpretaes de sade e doena

    (LOCKER, 1997).

    Os aspectos associados qualidade de vida s podem ser avaliados pelo prprio

    paciente, refletindo seu julgamento acerca do que afeta o seu bem-estar (ARISAWA

    http://www.inca.gov.br/estimativa/2012/index.asp?ID=2

  • 20

    et al., 2005). Usualmente, os dados coletados nas pesquisas e inquritos

    populacionais incluem apenas sinais clnicos e objetivos identificados

    profissionalmente (ARAJO, 2007), contudo no trazem informaes a respeito do

    impacto que a condio bucal possui em sua qualidade de vida (BIAZEVIC, 2001).

    Objetivando complementar esses indicadores, Slade e Spencer (1994)

    desenvolveram e testaram o indicador subjetivo Oral Health Impact Profile (OHIP)

    para avaliar o impacto social da doena bucal.

    O OHIP apresenta sete dimenses conceituais: limitao funcional, dor fsica,

    desconforto psicolgico, incapacidade fsica, incapacidade psicolgica, incapacidade

    social e deficincia, que esto organizadas de forma hierrquica de impacto

    crescente na vida do indivduo e, coletivamente, indicam o impacto social da

    doena.

    Desenvolvido originalmente no idioma ingls e em diferente contexto sociocultural,

    ao longo do tempo, foi traduzido em diversos idiomas (SANDERS et al., 2009),

    inclusive traduzido transculturalmente e validado para o idioma portugus do Brasil

    (OLIVEIRA; NADANOVSKY, 2005). Tem sido o instrumento mais utilizado para

    avaliar o impacto causado por condies bucais no bem-estar e na qualidade de

    vida das pessoas (SANDERS et al., 2009).

    Diante do exposto, conhecer o impacto dos problemas bucais na qualidade de vida

    das mulheres em tratamento do cncer de mama poder auxiliar na criao de

    aes que incluam a Odontologia como uma das especialidades imprescindveis

    para promoo da sade dessa populao.

  • 21

    2 REVISO DE LITERATURA

  • 22

    2.1 Cncer

    Acompanhando tendncia mundial, nota-se, no Brasil, processo de transio que

    tem produzido importantes mudanas no perfil das enfermidades que acometem a

    populao (INSTITUTO NACIONAL DO CNCER, 2011). As situaes das

    condies de sade revelam uma importncia relativa crescente das condies

    crnicas no quadro epidemiolgico. Os principais fatores determinantes desse

    aumento so as mudanas demogrficas, as mudanas nos padres de consumo e

    nos estilos de vida, a urbanizao acelerada e as estratgias mercadolgicas

    (MENDES, 2011).

    Essa progressiva ascenso da incidncia e da mortalidade por doenas crnico-

    degenerativas, conhecida como transio epidemiolgica, tem como principal fator o

    envelhecimento da populao, resultante do intenso processo de urbanizao e das

    aes de promoo e recuperao da sade (INSTITUTO NACIONAL DO CNCER,

    2011). Ainda segundo Mendes (2011), em todo o mundo, as taxas de fecundidade

    diminuem, as populaes envelhecem e as expectativas de vida aumentam. Isso

    leva ao incremento das condies crnicas pelo aumento dos riscos de exposio

    aos problemas crnicos.

    Dentre essas condies, o cncer converteu-se em um evidente problema

    de sade pblica mundial nas ltimas dcadas. Dados publicados pela Agncia

    Internacional de Pesquisa sobre o Cncer estimaram, para 2008, cerca de 12,7

    milhes de novos casos de cncer e 7,6 milhes de mortes por cncer. Destes, 56%

    dos novos casos de cncer e 63% das mortes por cncer ocorrem nas regies

    menos desenvolvidas do mundo (FERLAY et al., 2010; JEMAL et al., 2011).

    A Organizao Mundial de Sade (OMS) estimou que, no ano 2030, podem-se

    esperar 27 milhes de casos incidentes de cncer, 17 milhes de mortes por cncer

    e 75 milhes de pessoas vivas, anualmente, com a doena. O maior efeito desse

    aumento vai incidir em pases de baixa e mdia rendas (INSTITUTO NACIONAL DO

    CNCER, 2011).

    Segundo dados do Instituto Nacional do Cncer (2011), em pases com grande

    volume de recursos financeiros, predominam os cnceres de pulmo, mama,

    http://www.inca.gov.br/estimativa/2012/index.asp?ID=2

  • 23

    prstata e clon. Em pases de baixo e mdio recursos, os cnceres predominantes

    so os de estmago, fgado, cavidade oral e colo do tero. Contudo, esse padro

    est mudando rapidamente, e tem-se observado um aumento progressivo nos

    cnceres de pulmo, mama e clon e reto, os quais, historicamente, no

    apresentavam essa importncia e magnitude.

    Essas diferenas nos padres de incidncia e mortalidade entre pases

    desenvolvidos e em desenvolvimento vo refletir as disparidades na prevalncia e

    distribuio dos principais fatores de risco, prticas de deteco e/ou a

    disponibilidade e utilizao de servios de tratamento (JEMAL et al., 2011).

    Os cnceres mais comumente diagnosticados em todo o mundo so de pulmo

    (12,7% do total), mama (10,9%) e cncer colorretal (9,7%) (FERLAY et al., 2010). No

    Brasil, as estimativas para o ano de 2012, vlidas tambm para o ano de 2013,

    apontam a ocorrncia de aproximadamente 520.000 casos novos de cncer,

    incluindo os casos de pele no melanoma, reforando, assim, a magnitude do

    problema do cncer no Pas. Excluindo-se os cnceres de pele no melanoma, os

    tipos mais incidentes para o sexo masculino sero prstata, pulmo, clon e reto e

    estmago. Para o sexo feminino, os tipos mais incidentes sero mama, colo do

    tero, clon e reto e glndula tireoide para o sexo feminino (Quadro 1) (INSTITUTO

    NACIONAL DO CNCER, 2011).

  • 24

    Quadro 1 Distribuio proporcional dos dez tipos de cncer mais incidentes estimados para 2012 em mulheres, exceto pele no melanoma, Brasil

    Localizao primria Casos novos Percentual

    Mama Feminina 52.680 27,9%

    Colo do tero 17.540 9,3%

    Clon e Reto 15.960 8,4%

    Glndula Tireoide 10.590 5,6%

    Traqueia, Brnquio e Pulmo 10.110 5,3%

    Estmago 7.420 3,9%

    Ovrio 6.190 3,3%

    Corpo do tero 4.520 2,4%

    Sistema Nervoso Central 4.450 2,4%

    Linfoma no Hodgkin 4.450 2,4%

    Fonte: Instituto Nacional do Cncer, 2011.

    Quando analisada a representao espacial segundo a Unidade da Federao, as

    Regies Sul e Sudeste, de maneira geral, apresentam as maiores taxas de cncer,

    enquanto as Regies Norte e Nordeste, as menores. As taxas da Regio Centro-

    Oeste apresentam um padro intermedirio (INSTITUTO NACIONAL DO CNCER,

    2011).

    No Esprito Santo, a taxa bruta estimada do cncer em mulheres de 293,56 casos

    novos para cada 100 mil (Quadro 2).

  • 25

    Quadro 2 Estimativas para o ano de 2012 das taxas brutas de incidncia por 100 mil mulheres e de nmero de casos novos por cncer, no Esprito Santo e em Vitria

    Estimativa dos Casos Novos

    Mulheres

    Localizao Primria Estados Capitais

    Neoplasia Maligna Casos Taxa Bruta Casos Taxa Bruta

    Mama Feminina 900 49,42 130 71,28

    Colo do tero 340 18,65 40 20,30

    Traqueia, Brnquio e Pulmo 160 8,96 20 11,85

    Clon e Reto 310 16,84 60 33,46

    Estmago 160 8,96 20 13,11

    Cavidade Oral 120 6,79 20 10,36

    Laringe - - - -

    Bexiga 50 2,86 ** 6,36

    Esfago 80 4,33 ** 3,61

    Ovrio 110 5,92 20 9,49

    Linfoma no Hodgkin 90 4,89 ** 8,01

    Glndula Tireide 290 16,03 30 14,76

    Sistema Nervoso Central 90 5,05 ** 5,79

    Leucemias 70 3,81 ** 4,03

    Corpo do tero 50 2,88 ** 4,22

    Pele Melanoma 80 4,35 ** 6,00

    Outras Localizaes 750 41,35 90 49,08

    Subtotal 3.650 201,03 500 282,54

    Pele no Melanoma 1.680 92,78 180 102,98

    Todas as Neoplasias 5.330 293,56 680 384,26

    Fonte: Instituto Nacional do Cncer, 2011. ** Menor que 15 casos.

    2.1.1 Cncer de mama

    O cncer de mama o cncer mais frequentemente diagnosticado e a principal

    causa de morte por cncer em mulheres em todo o mundo. responsvel por 23%

    (1,38 milhes) do total de novos casos e 14% (458.400) do total de mortes por

    cncer em 2008 (JEMAL et al., 2011).

  • 26

    Segundo estimativas do Instituto Nacional do Cncer (2011) para 2012 e 2013, so

    esperados, para o Brasil, 52.680 casos novos de cncer de mama. Tambm o

    mais frequente nas mulheres das Regies Sudeste (69/100 mil), Sul (65/100 mil),

    Centro-Oeste (48/100 mil) e Nordeste (32/100 mil). Na Regio Norte, o segundo

    tumor mais incidente (19/100 mil). No Esprito Santo, a taxa bruta estimada do

    cncer da mama de 49,42 casos novos para cada 100 mil mulheres, e so

    esperados 900 novos casos para os anos de 2012 e 2013.

    O cncer de mama , provavelmente, o tipo mais temido entre as mulheres,

    sobretudo pelo impacto psicolgico que provoca, uma vez que envolve

    negativamente a percepo da sexualidade e a prpria imagem pessoal, mais do

    que se observa em qualquer outro tipo de cncer (INSTITUTO NACIONAL DO

    CNCER, 2008).

    A etiologia do cncer de mama multifatorial, porm idade e fatores relacionados

    com a vida reprodutiva da mulher continuam sendo os mais importantes para o

    desenvolvimento desse tipo de cncer (INSTITUTO NACIONAL DO CNCER,

    2012b). As taxas de incidncia aumentam rapidamente at os 50 anos e,

    posteriormente, esse aumento ocorre de forma mais lenta (INSTITUTO NACIONAL

    DO CNCER, 2011). Outros fatores de risco so conhecidos, como: histria familiar;

    cncer prvio da mama; fatores hormonais; doena mamria benigna; exposio

    prvia a radiao ionizante; suscetibilidade gentica e dieta rica em gorduras

    (INSTITUTO NACIONAL DO CNCER, 2008).

    A deteco precoce associada ao tratamento adequado atualmente a estratgia

    mais eficaz para reduzir a mortalidade por cncer de mama. No Brasil, o exame

    clnico anual das mamas e o rastreamento so as estratgias recomendadas para o

    controle do cncer de mama (INSTITUTO NACIONAL DO CNCER, 2011).

    Apesar de ser considerado um cncer de relativamente bom prognstico, se

    diagnosticado e tratado oportunamente, as taxas de mortalidade por cncer de

    mama continuam elevadas no Brasil, muito provavelmente porque a doena ainda

    diagnosticada em estdios avanados.

  • 27

    Em mulheres, como foi dito, a causa de morte por cncer mais frequente, tanto

    nas regies em desenvolvimento como nas mais desenvolvidas. No Brasil a taxa de

    mortalidade de 12,3 para cada 100 mil mulheres (Figura 1).

    Figura 1 Taxas de mortalidade por cncer de mama, por 100 mil mulheres, 2008, no mundo

    Fonte: International Agency for Research on Cancer, 2008.

    Quando comparadas as taxas de mortalidade dos cinco tipos de cnceres mais

    incidentes em mulheres no Brasil, o cncer de mama tambm apresenta-se como o

    mais frequente, seguido por cncer de traqueia, brnquios e pulmes e cncer de

    clon e reto (Figura 2).

  • 28

    Figura 2 Taxas de mortalidade das cinco localizaes primrias mais frequentes de cncer, por 100.000 mulheres, entre 2000 e 2010, Brasil

    Fonte: Instituto Nacional do Cncer, 2010.

    Analisando-se as taxas de mortalidade por cncer de mama nas Unidades da

    Federao, o Esprito Santo apresenta uma taxa bruta de 10,25 casos para cada

    100 mil mulheres (Figura 3).

    Figura 3 Representao espacial das taxas brutas de mortalidade por cncer de mama, por 100.000 mulheres, entre 2000 e 2010, no Esprito Santo, Brasil

    Fonte: Instituto Nacional do Cncer, 2010.

  • 29

    2.1.2 Tratamentos

    O cncer de mama deve ser abordado por uma equipe multidisciplinar, visando ao

    tratamento integral da paciente. Existem trs formas principais de tratamento do

    cncer: cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Essas podem ser usadas em conjunto,

    variando apenas quanto suscetibilidade dos tumores a cada uma das modalidades

    teraputicas e melhor sequncia de sua administrao (INSTITUTO NACIONAL

    DO CNCER, 2012a).

    O tratamento primrio a mastectomia, interveno cirrgica que pode ser restrita

    ao tumor, atingir tecidos circundantes ou at a retirada da mama, dos linfonodos da

    regio axilar e de ambos os msculos peitorais (SILVA, 2008).

    A radioterapia o mtodo de tratamento que utiliza equipamentos e tcnicas

    variadas para irradiar reas do organismo humano, prvia e cuidadosamente

    demarcadas (INSTITUTO NACIONAL DO CNCER, 2012a). A cirurgia e a

    radioterapia so opes de tratamento local e regional.

    A quimioterapia atua de forma sistmica e consiste no emprego de substncias

    qumicas, isoladas ou em combinao, com o objetivo de tratar as neoplasias

    malignas. A finalidade da quimioterapia depende basicamente do tipo de tumor, da

    extenso da doena e do estado geral do paciente. Pode ser classificada em:

    curativa, paliativa, potencializadora, adjuvante e neoadjuvante (INSTITUTO

    NACIONAL DO CNCER, 2008). As duas ltimas so as mais comumente utilizadas

    no tratamento do cncer da mama.

    A quimioterapia adjuvante utilizada como mecanismo complementar ao tratamento

    principal, que pode ser a cirurgia ou radioterapia, quando o paciente no apresenta

    qualquer evidncia de neoplasia maligna detectvel por exame fsico e exames

    complementares. A quimioterapia neoadjuvante utilizada antes do tratamento

    principal, indicada para reduo de tumores loco e regionalmente avanados, com a

    finalidade de tornar os tumores ressecveis ou de melhorar o prognstico do

    paciente (INSTITUTO NACIONAL DO CNCER, 2012a).

  • 30

    A maioria dos quimioterpicos atua em todos os tecidos, no diferenciando as

    clulas neoplsicas das clulas normais, provocando com isso vrios efeitos

    colaterais no organismo (SONIS; FAZIO; FANG, 1996; PAIVA et al., 2010), ainda

    assim, a quimioterapia possvel, uma vez que os tecidos normais se recuperam

    totalmente antes das clulas neoplsicas.

    Os principais efeitos colaterais, segundo o tempo de incio e a durao, so: nusea

    e vmito, febre, fadiga e alopcia (queda de cabelo) (INSTITUTO NACIONAL DO

    CNCER, 2008). Alm desses, 40% dos pacientes desenvolvero complicaes

    bucais em decorrncia do tratamento quimioterpico (SONIS; FAZIO; FANG, 1996;

    HERRSTEDT, 2000).

    2.1.3 Manifestaes bucais

    As complicaes orais decorrentes de terapias contra o cncer so, geralmente,

    subnotificadas, menosprezadas e subtratadas. Avanos recentes no tratamento do

    cncer conduziram a alteraes na incidncia, natureza e gravidade das

    complicaes orais (EPSTEIN et al., 2012). Contudo, essas alteraes podem levar

    a complicaes sistmicas importantes, podendo aumentar o tempo de internao

    hospitalar, os custos do tratamento e afetar diretamente a qualidade de vida dos

    pacientes (HESPANHOL et al., 2010).

    De acordo com Sanches Jnior et al. (2010), uma vez que as clulas do epitlio oral

    tem alto ndice mittico, apresentando renovao a cada sete a 14 dias, tornam-se

    susceptveis aos efeitos txicos das drogas quimioterpicas. As complicaes orais

    do cncer se encontram entre as mais devastadoras em curto e longo prazo, por

    afetarem as atividades humanas mais bsicas, como alimentar-se e comunicar-se

    (ARISAWA et al., 2005).

    Dentre as manifestaes bucais associadas ao tratamento quimioterpico do cncer,

    as mais esperadas so a mucosite (SONIS; FAZIO; FANG, 1996; CHUNG; SUNG,

    2006; VOLPATO et al., 2007; SANCHES JNIOR et al., 2010; HESPANHOL et al.,

    2010; PAIVA et al., 2010; EPSTEIN et al., 2012), xerostomia (ARISAWA et al., 2005;

  • 31

    CHUNG; SUNG, 2006; COSTA et al., 2007; HESPANHOL et al., 2010; PAIVA et al.,

    2010; EPSTEIN et al., 2012), infeco (PAIVA et al., 2010; LOPES; NOGUEIRA;

    LOPES, 2012; EPSTEIN et al., 2012) e doenas periodontais (CHUNG; SUNG,

    2006).

    A mucosite oral a manifestao bucal mais comumente encontrada em pacientes

    submetidos a tratamento quimioterpico (SONIS; FAZIO; FANG, 1996; SANCHES

    JNIOR et al., 2010; HESPANHOL et al., 2010; BARBOSA; RIBEIRO; CALDO-

    TEIXEIRA, 2010; LOPES; NOGUEIRA; LOPES, 2012). Sua manifestao inicial o

    eritema, seguido do desenvolvimento de placas brancas descamativas, que so

    dolorosas ao contato. Crostas epiteliais e exsudato fibrinoso levam formao de

    uma pseudomembrana e ulcerao, representando a forma mais pronunciada da

    mucosite (VOLPATO et al., 2007).

    Tais alteraes so mais comuns na mucosa no queratinizada e surgem cerca de

    cinco a sete dias aps o incio do uso da droga, com sintomatologia dolorosa

    (SONIS; FAZIO; FANG, 1996). Ocorre resoluo das leses aps a parada do

    tratamento, geralmente, em trs a quatro semanas (VOLPATO et al., 2007).

    A xerostomia tambm tem sido relatada como uma complicao comumente

    associada terapia do cncer (COSTA et al., 2007; HESPANHOL et al., 2010;

    BARBOSA; RIBEIRO; CALDO-TEIXEIRA, 2010; LOPES; NOGUEIRA; LOPES,

    2012). Caracteriza-se pela secura da boca e espessamento do fluxo salivar.

    Associado a esse sintoma, pode ser relatada ainda ardncia na mucosa bucal,

    ressecamento dos lbios, comissuras lbias, entre outros sintomas (PAIVA et al.,

    2010).

    A xerostomia tambm pode levar diminuio e perda temporria do paladar, em

    decorrncia de alterao das papilas gustativas, da quantidade e qualidade da saliva

    e da microflora oral (LOPES; NOGUEIRA; LOPES, 2012). Observa-se ainda que as

    manifestaes bucais de mucosite e/ou xerostomia podem apresentar, como efeito

    colateral secundrio, uma dificuldade na alimentao desses pacientes.

    A diminuio da saliva aumenta o risco de desmineralizao dental e crie e

    tambm o risco de outras infeces orais (EPSTEIN et al., 2012). Dentre os tipos de

    infeces mais comuns nesses pacientes, a infeco fngica principal causada

  • 32

    pela Candida albicans, denominada candidase. Ela representada por placas

    brancas, removveis, na mucosa bucal, lngua e palato (LOPES; NOGUEIRA;

    LOPES, 2012). Estudos realizados demonstram uma alta incidncia dessa

    manifestao entre os pacientes oncolgicos em quimioterapia (HESPANHOL et al.,

    2010; EPSTEIN et al., 2012).

    A herpes labial a principal infeco viral nos pacientes em quimioterapia. comum

    sua manifestao nos lbios, como bolhas, evoluindo para ulceraes at formar

    crostas (LOPES; NOGUEIRA; LOPES, 2012).

    Segundo Sonis, Fazio e Fang (1996), a frequncia com que os pacientes

    submetidos quimioterapia apresentam problemas bucais afetada por diversas

    variveis, que podem ser divididas em variveis relacionadas com o paciente e

    aquelas relacionadas com a terapia. Os fatores associados ao paciente incluem

    idade, diagnstico e o estado de sua boca antes e durante a terapia. As variveis

    que dizem respeito terapia incluem o tipo de droga, a dose e a frequncia do

    tratamento, alm do uso de terapia concomitante.

    As medidas preventivas so essenciais para minimizar os efeitos adversos em longo

    prazo na cavidade bucal. Fatores de risco, como a precria condio bucal,

    disfuno salivar, risco microbiano e risco diettico, devem ser identificados e

    abordados antes de iniciar a terapia antineoplsica (EPSTEIN et al., 2012).

    Portanto a correta compreenso desses sinais e sua correlao com sintomas e

    drogas utilizadas nos tratamentos oncolgicos tornam esses tipos de manifestaes

    mais previsveis, o que facilita a preveno e o tratamento dessas condies,

    oferecendo uma melhor qualidade de vida s pacientes (ARISAWA et al., 2005;

    HESPANHOL et al., 2010).

  • 33

    2.2 Promoo da sade e qualidade de vida

    Um amplo comportamento social veio para substituir o paradigma mdico que

    valoriza doena e no sade, e contemplou um novo modelo, o socioambiental, que

    valoriza a sade e nos compromete a desenvolver novas maneiras para medir

    percepes, sentimentos e comportamentos, dando uma crescente importncia s

    experincias subjetivas de cada indivduo e s suas interpretaes de sade e

    doena (LOCKER, 1997).

    Os novos desafios sociais, polticos e culturais, o esgotamento do paradigma

    biomdico e a mudana do perfil epidemiolgico da populao nas ltimas dcadas

    tm ensejado o aparecimento de novas formulaes sobre o pensar e o fazer

    sanitrios (CARVALHO, 2004). A promoo da sade aparece como eixo

    determinante no novo modo de pensar sade.

    O conceito de promoo da sade surgiu no Canad, em 1974, e o incio do seu

    fortalecimento acontece a partir da I Conferncia Internacional sobre Promoo da

    Sade, realizada em Ottawa, Canad, em 1986. Na carta produzida nessa

    conferncia, a promoo da sade foi entendida como o processo de capacitao da

    comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e sade, incluindo uma

    maior participao no controle desse processo (CARTA DE OTTAWA, 1986).

    Segundo Carvalho (2004), a promoo da sade envolve escolha e, como tal, no

    se coloca na esfera do conhecimento cientfico, mas na esfera dos valores,

    vinculando-se a processos que no se expressam de maneira precisa e facilmente

    mensurvel.

    O objetivo final da promoo da sade a qualidade de vida da populao. Para

    Minayo, Hartz e Buss (2000), qualidade de vida uma noo eminentemente

    humana, que tem sido aproximada ao grau de satisfao encontrado na vida

    familiar, amorosa, social e ambiental e prpria esttica existencial.

    O Centro de Promoo da Sade da Universidade de Toronto (GLOBAL

    DEVELOPMENT RESEARCH CENTER, 2002) elaborou a seguinte definio:

  • 34

    "Qualidade de vida diz respeito ao grau no qual a pessoa desfruta as possibilidades

    da vida". Simplificando: "Quo boa sua vida para voc?".

    Muitas so as definies de qualidade de vida, contudo o conceito s tem significado

    no nvel pessoal. V-se que questes muito particulares esto relacionadas com o

    termo qualidade, j que a designao dessa palavra est tambm vinculada

    s percepes subjetivas (MOREIRA, 2006).

    importante ressaltar que a busca por uma definio sobre qualidade de vida

    meramente pautada em indicadores quantitativos predeterminados (como renda,

    grau de instruo ou condies de moradia) mostra-se insuficiente, pois no revela

    dados importantes referentes aos sentimentos, julgamentos e valores que cada um

    possui em relao ao termo (MOREIRA, 2006).

  • 35

    2.3 Indicadores de sade bucal

    Geralmente, a avaliao das necessidades das pessoas ignora os aspectos

    sociocomportamentas e culturais, levando em conta apenas as necessidades

    normativas sem considerar a percepo subjetiva do indivduo (LEO; SHEIHAM,

    1995). Sabe-se que os sinais clnicos da doena, observados profissionalmente,

    representam apenas um dos aspectos da sade das pessoas. Para eliminar essa

    lacuna, cada vez mais os investigadores comeam a incluir avaliaes subjetivas da

    funo e do bem-estar, quando descrevem a sade de pacientes e populaes

    (ARAJO, 2007).

    Na Odontologia isso no diferente, os indicadores objetivos, tradicionalmente

    utilizados, constituem medidas clnicas teis para mensurar a necessidade

    normativa de tratamento, sob a tica do profissional, contudo no trazem

    informaes a respeito do impacto que a condio bucal possui na qualidade de vida

    (BIAZEVIC, 2001).

    Tem sido um desafio para a sade bucal coletiva desenvolver novas maneiras de

    avaliar sade. De acordo com Miotto e Barcellos (2001), o desenvolvimento de

    indicadores subjetivos de sade bucal vem permitindo capturar percepes e

    sentimentos dos indivduos sobre sua prpria sade bucal e suas expectativas em

    relao a tratamento e servios odontolgicos.

    Para Biazevic (2001), os indicadores subjetivos em sade bucal produzem maior

    evidncia na deteco de problemas que os indicadores objetivos no identificam,

    tais como percepo da condio bucal, impacto da percepo na qualidade de vida

    e alteraes na produtividade de uma sociedade.

    Sua utilizao deve ser complementar dos indicadores objetivos, permitindo uma

    viso mais ampla do diagnstico e dos objetivos do tratamento, envolvendo as

    percepes normativas e subjetivas, que consideram a qualidade de vida do

    paciente de maneira igualmente importante (FEU; QUINTO; MIGUEL, 2010).

  • 36

    Com o propsito de complementar esses indicadores, Slade e Spencer (1994)

    desenvolveram e testaram um indicador subjetivo para avaliar o impacto social da

    doena bucal.

    2.3.1 Oral Health Impact Profile: perfil do impacto da sade bucal (OHIP)

    O OHIP foi originalmente desenvolvido utilizando-se do modelo conceitual adaptado

    por Locker (1988), que supe que o contedo qualidade de vida relacionada com a

    sade bucal apresenta sete fatores/dimenses conceituais: limitao funcional; dor

    fsica; desconforto psicolgico; incapacidade fsica; incapacidade psicolgica;

    incapacidade social; e deficincia. Essas dimenses apresentam-se em uma ordem

    hierrquica de impacto crescente na vida do indivduo e, coletivamente, indicam o

    impacto social da doena.

    O OHIP um indicador subjetivo desenvolvido para fornecer uma medida

    abrangente das disfunes, desconforto e incapacidade autoavaliada atribuda

    condio bucal, complementando os indicadores tradicionais de epidemiologia bucal

    e, desse modo, fornecendo informaes da percepo sobre o impacto dos

    problemas bucais (BOMBARDA-NUNES; MIOTTO; BARCELLOS, 2008).

    Possui, em sua verso original, 49 itens subdivididos nas sete dimenses propostas.

    Com o propsito de produzir uma verso mais reduzida e menos complexa do

    instrumento original, Slade (1997) realizou um estudo com uma amostra aleatria

    estratificada de idosos com 60 anos ou mais, residentes na Austrlia, no perodo de

    1991 a 1992. Foram eliminadas as questes que causavam maiores problemas de

    interpretao, e testes estatsticos foram utilizados na inteno de construir um

    subgrupo de dez a quinze questes que abrangessem a maior quantidade de

    informaes contidas no OHIP original. O autor concluiu que 14 itens eram efetivos

    para determinar as mesmas associaes com os fatores clnicos e

    sociodemogrficos, apresentando, assim, boa confiabilidade, validade e preciso.

    Desenvolvido originalmente no idioma ingls e em diferente contexto sociocultural,

    ao longo do tempo foi traduzido em diversos idiomas. Depois foi traduzido

  • 37

    transculturalmente e validado para o idioma portugus do Brasil (OLIVEIRA;

    NADANOVSKY, 2005).

    Tem sido o instrumento mais utilizado para avaliar o impacto causado por condies

    bucais no bem-estar e na qualidade de vida das pessoas (SANDERS et al., 2009).

    Alm disso, um instrumento suficientemente sensvel para capturar mudanas no

    impacto de condies orais (SLADE; HOSKIN; SPENCER, 1996; MIOTTO;

    BARCELLOS, 2001).

  • 38

    3 OBJETIVOS

  • 39

    3.1 Objetivos do Artigo 1

    Avaliar o impacto produzido por problemas bucais na qualidade de vida; examinar a

    associao com as variveis sociodemogrficas, clnicas e odontolgicas em

    mulheres com diagnstico de cncer de mama.

    3.2 Objetivo do Artigo 2

    Avaliar o impacto das manifestaes bucais na qualidade de vida em mulheres antes

    e durante o tratamento quimioterpico do cncer de mama.

  • 40

    4 METODOLOGIA

  • 41

    4.1 Tipo de estudo e delineamento da pesquisa

    A pesquisa foi realizada em mulheres com diagnstico histopatolgico de cncer de

    mama atendidas no Hospital Santa Rita de Cssia (HSRC). Desenvolveram-se duas

    propostas de artigos.

    O primeiro um estudo observacional, de natureza transversal, descrevendo de

    uma maneira pontual a distribuio das caractersticas das pacientes estudadas, no

    perodo de janeiro a dezembro 2012.

    O segundo artigo classifica-se como estudo longitudinal, uma vez que as mulheres

    foram estudadas em trs momentos: o primeiro momento, antes de qualquer

    interveno relacionada com o tratamento; o segundo momento, aps a realizao

    da primeira sesso de quimioterapia, mas antes da segunda sesso; e o terceiro

    momento, aps a segunda sesso de quimioterapia, mas antes da terceira sesso.

    O perodo de estudo foi de janeiro de 2012 a janeiro de 2013.

    4.2 Local do estudo

    O estudo foi realizado no HSRC, um hospital de carter geral, filantrpico e

    particular, reconhecido em todo o Estado como referncia em tratamento de cncer,

    mas tambm disponibiliza especialidades gerais. Possui um centro oncolgico que

    oferece tratamento qumio e radioterpico e dispe de terapias complementares,

    atendendo a pacientes do Sistema nico de Sade (SUS) e de convnios

    (HOSPITAL SANTA RITA DE CSSIA, 2013).

    No segundo e terceiro momentos da pesquisa (proposta do Artigo 2), os dados

    foram coletados no Programa de Reabilitao para Mulheres Mastectomizadas

    (Premma). O Premma desenvolvido no ambulatrio Ylza Bianco do HSRC. Seu

    objetivo oferecer ateno especial s mulheres em tratamento do cncer de

    mama. Tem como proposta sistematizar o cuidado mulher mastectomizada de

    modo interdisciplinar, fundamentado nas habilidades especficas de cada rea do

  • 42

    conhecimento em sade. Pratica-se o cuidado integral mulher e sua famlia,

    promovendo um resgate da autoestima feminina por meio de diversas atividades

    (CARTILHA DO PREMMA, 2009).

    4.3 Populao - Universo

    Todas as mulheres com diagnstico histopatolgico de cncer de mama atendidas

    no HSRC, no perodo de janeiro de 2012 a janeiro de 2013.

    4.4 Amostra

    Para o Artigo 1, selecionaram-se todas as mulheres com diagnstico histopatolgico

    de cncer de mama atendidas no HSRC, no perodo de janeiro a dezembro de 2012.

    Foram estudadas 89 mulheres que preencheram os critrios de incluso no perodo

    da pesquisa.

    Para o Artigo 2, calculou-se a amostra com o programa Bioestat 5.0 e o mtodo de

    McNemar. Considerou-se que, em 30% das mulheres, no haveria alterao na

    qualidade de vida associada aos problemas bucais aps o incio do tratamento com

    a quimioterapia (concordantes) e, em 25% da amostra, haveria discordncia. O

    tamanho mnimo da amostra foi de 41 mulheres, acrescida de 20% para compensar

    possveis perdas, resultando em uma amostra de 49 mulheres, para um alfa de 5% e

    um poder de 80%.

  • 43

    4.5 Critrios de incluso

    Incluram-se no estudo as mulheres com diagnstico histopatolgico de cncer de

    mama atendidas no HSRC, que no tinham realizado nenhum tipo de tratamento de

    cncer anterior e com 18 anos ou mais de vida.

    4.6 Critrios de excluso

    Para o Artigo 2, adotaram-se os seguintes critrios de excluso: pacientes que

    realizaram tratamento posterior cirurgia diferente de quimioterapia e pacientes em

    que no houve definio do tratamento no perodo estudado (Figura 4).

    Figura 4 Fluxograma das mulheres com diagnstico de cncer de mama atendidas no HSRC, Vitria/ES, 2012

    89 pacientes atendidas de janeiro a dezembro de 2012

    Excluses motivo 1

    26 mulheres (29,2%) realizaram tratamentos diversos, como radio e/ou hormonioterapia

    Excluses motivo 2

    22 mulheres (24,7%) no tiveram a definio do tratamento no perodo do estudo

    41 mulheres (46,1%) da amostra

  • 44

    4.7 Coleta de dados

    Os dados foram coletados pela prpria pesquisadora, utilizando a tcnica de

    entrevista com registro em formulrio e mediante a assinatura do Termo de

    Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APNDICE A).

    Utilizaram-se dois roteiros:

    1. Roteiro para registro das informaes das participantes (APNDICES B e C).

    Avaliaram-se as informaes sociodemogrficas das pacientes como: idade, estado

    civil, raa/cor, grau de instruo, condio socioeconmica, renda e municpio de

    residncia. Alm de informaes sobre a utilizao de servios odontolgicos nos

    ltimos 12 meses, necessidade de prtese e estadiamento clnico.

    2. Roteiro perfil do impacto de sade bucal OHIP-14 (ANEXO A).

    O OHIP avalia a percepo das respondentes sobre os impactos produzidos pela

    condio bucal sobre a qualidade de vida. Utilizou-se a verso reduzida do

    instrumento, OHIP - 14.

    Para codificao das respostas do OHIP, utilizou-se uma escala de frequncia do

    tipo Likert com cinco opes sobre a frequncia de cada problema em um perodo

    determinado. A escala constituda pelas seguintes opes: sempre,

    frequentemente, s vezes, raramente e nunca/no se aplica. As respostas foram

    avaliadas de forma dicotmica. As respostas sempre e frequentemente indicam

    impacto na qualidade de vida e as respostas s vezes, raramente e nunca

    significam sem impacto na qualidade de vida.

    Os dados clnicos utilizados nesta pesquisa, Artigo 2, foram coletados por outra

    pesquisadora e aproveitados como fontes complementares.

    As informaes sobre o estadiamento clnico foram coletadas do pronturio das

    pacientes.

  • 45

    4.8 Varivel dependente

    Perfil do impacto de sade bucal, considerando as dimenses: limitao funcional,

    dor fsica, desconforto psicolgico, incapacidade fsica, incapacidade psicolgica,

    incapacidade social e deficincia.

    4.9 Variveis independentes

    No Quadro 3 so apresentas as variveis independentes do estudo.

    Quadro 3 Categorizao das variveis independentes do estudo (Continua)

    Grupo Varivel Categoria

    VA

    RI

    VE

    IS S

    OC

    IOD

    EM

    OG

    R

    FIC

    AS

    Idade

    Menor de 20 anos 20 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos 60 anos ou mais

    Estado civil

    Solteira Casada/ Unio Estvel Separada Viva

    Raa/cor

    Branca Negra Amarela Parda Indgena

    Grau de instruo

    At 3 srie ensino fundamental Da 4 srie at a 7 srie ensino fundamental Ensino fundamental completo Ensino mdio completo Ensino superior completo

    Condio socioeconmica Classe A Classe B Classe C

    Classe D Classe E

    Renda

    At 1 salrio mnimo Mais de 1 a 2 salrios mnimos Mais de 2 a 3 salrios mnimos Mais de 3 a 4 salrios mnimos Mais de 4 a 5 salrios mnimos 6 salrios mnimos ou mais

    Municpio de residncia Vitria Outras cidades

  • 46

    Quadro 3 Categorizao das variveis independentes do estudo (Concluso) V

    AR

    IV

    EIS

    DE

    SA

    D

    E B

    UC

    AL

    Utilizao de servios odontolgicos

    Sim No

    Necessidade de prtese dentria

    Sim No

    VA

    RI

    VE

    L

    ES

    TA

    DIA

    ME

    NT

    O

    Estadiamento clnico

    0 I II III IV

    Descrio das variveis:

    4.9.1 Faixa etria

    As categorias etrias foram estabelecidas conforme a idade da paciente no

    momento da entrevista.

    4.9.2 Estado civil

    Indica a situao conjugal da paciente no primeiro momento da pesquisa.

    4.9.3 Raa/cor da pele

    A informao foi autodeclarada. Utilizou-se a categorizao estabelecida pelo

    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), por se constituir a classificao

    empregada nas pesquisas nacionais sobre a populao.

  • 47

    Para anlise desta varivel, optou-se em agrupar as pacientes de raa/cor preta,

    parda, amarela e indgena como no brancas, transformando esta varivel numa

    varivel dicotmica.

    4.9.4 Grau de instruo

    Neste estudo, utilizou-se a seguinte categorizao: mulheres que estudaram at 3

    srie do ensino fundamental, da 4 at a 7 srie do ensino fundamental, ensino

    fundamental completo, ensino mdio completo e ensino superior completo.

    4.9.5 Condio socioeconmica

    Analisou-se a condio socioeconmica pelo Critrio de Classificao Econmica

    Brasil da Associao Brasileira de Empresas de Pesquisa, por posse de bens e nvel

    de escolaridade do chefe de famlia, em classes A, B, C, D e E (BRASIL, 2008).

    4.9.6 Renda

    Esta informao foi autodeclarada e considerou-se a renda total da famlia da

    respondente. Utilizou-se a seguinte categorizao: at um salrio mnimo, mais de

    um at dois salrios mnimos, mais de dois at trs salrios mnimos, mais de trs

    at quatro salrios mnimos, mais de quatro at cinco salrios mnimos e seis

    salrios mnimos ou mais.

  • 48

    4.9.7 Utilizao de servios odontolgicos

    Nesta varivel, perguntou-se sobre a utilizao de servios odontolgicos nos

    ltimos 12 meses e, em caso afirmativo, o motivo da consulta: preveno,

    tratamento de rotina e atendimento de urgncia.

    4.9.8 Necessidade de prtese

    Os dados sobre necessidade de prtese foram avaliados clinicamente por outra

    pesquisadora e aproveitados como fontes complementares no presente estudo.

    4.9.9 Municpio de residncia

    O dado refere-se ao endereo de moradia das pacientes. No caso das pacientes

    provenientes de outras cidades e que se encontram instaladas na cidade onde se

    localiza o hospital, registrou-se o endereo de origem.

    4.9.10 Estadiamento clnico

    Esta varivel seguiu o Sistema TNM de Classificao dos Tumores Malignos de

    acordo com o American Joint Committee on Cancer (AMERICAN JOINT

    COMMITTEE ON CANCER, 2011). Realizou-se uma reviso de todos os pronturios

    pela pesquisadora e foram utilizadas as anotaes feitas pelos mdicos.

    Para anlise desta varivel, optou-se por agrupar os estadiamentos clnicos 0, I e II,

    classificando-os como iniciais, e os estadiamentos clnicos III e IV, como tardios.

  • 49

    4.10 Tratamento estatstico dos dados

    Os dados foram organizados no programa Microsoft Office Excel 2007 for Windows

    e analisados pelo Pacote Estatstico para Cincias Sociais (SPSS), verso 20.0.

    Para o Artigo 1, realizou-se anlise descritiva dos dados, por meio de tabelas de

    frequncia com nmero e percentual para cada um dos itens do instrumento de

    pesquisa. A associao das dimenses do impacto da sade bucal e dos fatores

    sociodemogrficos e de utilizao de servios odontolgicos foi testada pelo teste

    qui-quadrado ou o exato de Fisher. Adotou-se o nvel de significncia de 5%. Para

    avaliar a fora dessa associao, calculou-se o odds ratio (OR) com intervalo de

    confiana de 95%. Utilizou-se o mtodo de Mantel-Haenzsel, que forneceu um OR

    combinado, permitindo conhecer a frequncia de impactos para todas as dimenses

    combinadas.

    No Artigo 2, realizou-se anlise descritiva dos dados, por meio de tabelas de

    frequncia com nmero e percentual para cada dimenso do OHIP nos trs

    momentos da pesquisa. Para verificar a direo (tendncia) da discordncia, ou

    seja, estudar a mudana nos trs momentos, aplicou-se o teste de McNemar, e para

    mensurar os nveis de concordncia nos trs momentos, empregou-se o teste

    Kappa, considerando concordncia quase perfeita (0,801,00), substancial (0,60

    0,79), moderada (0,410,59), razovel (0,210,40), ruim (0,20). Compararam-se os

    momentos da pesquisa de dois em dois (LANDIS; KOCH, 1977).

    Quanto aos problemas bucais, realizou-se o teste de McNemar para estudar a

    discordncia entre os trs momentos, comparados dois a dois.

    Adotaram-se nveis de significncia menores que 5%.

  • 50

    4.11 Consideraes ticas

    A responsvel por este estudo enviou o projeto para a anlise do Comit de tica

    em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Esprito Santo (Ufes), que foi

    aprovado sob n 274/11, em 14 de dezembro de 2011 (ANEXO B).

    Posteriormente, o projeto de pesquisa foi encaminhado ao HSRC, e foi aprovada

    sua realizao a partir de janeiro de 2012 (ANEXO C).

    Todas as pacientes foram orientadas sobre a importncia da pesquisa e receberam

    informaes detalhadas sobre os objetivos da pesquisa, os riscos, benefcios,

    garantia de sigilo de identidade e direito de recusa em participar da pesquisa, com

    posterior assinatura da respondente do TCLE (APNDICE A).

  • 51

    5 RESULTADOS

  • 52

    5.1 Proposta do Artigo 1

    Impacto dos problemas bucais na qualidade de vida em mulheres com diagnstico de cncer de mama 5.1.1 Resumo Objetivos: Avaliar o impacto produzido por problemas bucais na qualidade de vida;

    e examinar a associao com as variveis sociodemogrficas, clnicas e

    odontolgicas em mulheres com diagnstico de cncer de mama. Metodologia:

    Trata-se de um estudo observacional transversal, com amostra composta por 89

    mulheres com diagnstico histopatolgico de cncer de mama atendidas no Hospital

    Santa Rita de Cssia, Vitria, Esprito Santo, Brasil, entre janeiro e dezembro de

    2012. Utilizaram-se dois roteiros na forma de entrevista, um para registro das

    informaes das participantes; e o Oral Health Impact Profile (OHIP-14), para avaliar

    a percepo das respondentes sobre os impactos produzidos pela condio bucal

    sobre a qualidade de vida. Realizou-se anlise descritiva dos dados para cada um

    dos itens do instrumento de pesquisa. A comparao dos percentuais das

    dimenses do impacto da sade bucal com as variveis independentes foi verificada

    pelo teste qui-quadrado ou pelo teste exato de Fisher, quando apropriado. Para

    avaliar a fora da associao entre evento e exposio, calculou-se o odds ratio.

    Adotou-se o nvel de significncia de 5%. Utilizou-se o pacote estatstico SPSS 20

    para as anlises. Resultados: O percentual de impacto foi de 28,1%, houve

    associao estatisticamente significante com as variveis: renda (p=0,039) e motivo

    da visita ao profissional de sade bucal (p=0,012). Concluso: O uso de indicadores

    subjetivos em conjunto com indicadores normativos possibilita o planejamento de

    estratgias apropriadas de assistncia, garantindo a melhoria da qualidade de vida

    desta populao.

    Descritores: Sade bucal; Qualidade de vida; Perfil de impacto da doena.

  • 53

    5.1.2 Introduo

    No Brasil, h um processo de envelhecimento da populao e uma situao de

    transio das condies de sade, caracterizada pela queda relativa das condies

    agudas e pelo aumento das condies crnicas, o chamado processo de transio

    demogrfica e epidemiolgica1-3.

    Juntamente com esse envelhecimento populacional, h um aumento da demanda

    dessa populao por servios de sade3 que nem sempre vem acompanhado de

    modificaes no atendimento s suas necessidades de sade2,3.

    Dentre os vrios aspectos da sade, a sade bucal merece ateno especial pelo

    fato de que, historicamente, os servios odontolgicos no possuem como

    prioridade a ateno a idosos e adultos3, destinando a maior parte dos investimentos

    realizados pelas polticas pblicas de sade bucal apenas populao de

    escolares4.

    Isso revela um quadro precrio nas condies de sade bucal de idosos e adultos

    no Brasil5,6. A dvida assistencial deixada pela Odontologia originou-se pela adeso

    ao modelo assistencial curativo e mutilador3,7 em detrimento s aes de carter

    coletivo voltadas para a promoo da sade3,6.

    Novas expresses sobre o pensar e o fazer sanitrios tm sido necessrias

    mediante os novos desafios sociais, polticos e culturais, o esgotamento do

    paradigma biomdico e a mudana do perfil epidemiolgico da populao8. A

    promoo da sade aparece assim como eixo determinante no novo modo de

    pensar sade, tendo como objetivo final a qualidade de vida da populao.

    Sob esse aspecto, torna-se importante avaliar a qualidade de vida de pacientes

    oncolgicos. Nas ltimas dcadas, com o aumento das doenas crnicas no

    transmissveis (DCNTs), o cncer se destacou, convertendo-se em um evidente

    problema de sade pblica mundial. O cncer de mama o tipo que mais acomete

    as mulheres em todo o mundo, tanto em pases em desenvolvimento quanto em

    pases desenvolvidos9,10. Segundo estimativas do Instituto Nacional do Cncer (Inca)

    http://www.inca.gov.br/estimativa/2012/index.asp?ID=2

  • 54

    para 2012/2013, so esperados, no Brasil, 52.680 novos casos de cncer de mama

    e, para o Esprito Santo, 900 novos casos9.

    O tratamento consiste em inibir a proliferao excessiva de clulas neoplsicas,

    podendo incluir cirurgia, quimioterapia, radioterapia e hormonioterapia. A

    quimioterapia age em todos os tecidos, podendo provocar vrios efeitos colaterais

    no organismo11, dentre esses, as manifestaes orais se encontram entre as mais

    devastadoras em curto e longo prazo, por afetarem as atividades humanas mais

    bsicas, como alimentar-se e comunicar-se12.

    Devido alta incidncia da doena, essas pacientes constituem uma categoria

    especial, necessitando de acompanhamento por uma equipe multiprofissional de

    forma a prepar-las para o tratamento antineoplsico, diminuindo a possibilidade de

    aparecimento das manifestaes bucais ou tornando essas manifestaes menos

    severas, ocasionando um menor impacto em sua qualidade de vida.

    Para a sade bucal, tem sido um desafio desenvolver maneiras de avaliar sade,

    visto que os indicadores tradicionalmente utilizados constituem medidas clnicas

    teis para mensurar a necessidade normativa de tratamento, contudo no trazem

    informaes a respeito do impacto que a condio bucal possui na qualidade de

    vida13. Com o propsito de complementar esses indicadores, Slade e Spencer14

    desenvolveram e testaram o indicador subjetivo Oral Health Impact Profile (OHIP)

    para avaliar o impacto social da doena bucal.

    O OHIP foi originalmente desenvolvido utilizando-se do modelo conceitual adaptado

    por Locker15 e que supe que o contedo qualidade de vida relacionada com sade

    bucal apresenta sete dimenses conceituais: limitao funcional, dor fsica,

    desconforto psicolgico, incapacidade fsica, incapacidade psicolgica, incapacidade

    social e deficincia. Desenvolvido originalmente no idioma ingls e em diferente

    contexto sociocultural, ao longo do tempo, foi traduzido em diversos idiomas16,

    inclusive traduzido transculturalmente e validado para o idioma portugus do

    Brasil17. Tem sido o instrumento mais utilizado para avaliar o impacto causado por

    condies bucais no bem-estar e na qualidade de vida das pessoas16.

    Os objetivos deste estudo foram avaliar os impactos produzidos por problemas

    bucais na qualidade de vida e examinar a associao com as variveis

  • 55

    sociodemogrficas, clnicas e odontolgicas em mulheres com diagnstico de cncer

    de mama.

  • 56

    5.1.3 Metodologia

    Trata-se de um estudo observacional, do tipo transversal. A amostra do estudo foi

    composta por todas as mulheres com diagnstico histopatolgico de cncer de

    mama atendidas no Hospital Santa Rita de Cssia (HSRC), Vitria, Esprito Santo,

    Brasil, no perodo de janeiro a dezembro de 2012. O HSRC um hospital de carter

    geral, filantrpico e particular, reconhecido em todo o Estado como referncia em

    tratamento de cncer, mas tambm disponibiliza especialidades gerais. O HSRC

    possui um centro oncolgico que oferece tratamento qumio e radioterpico e dispe

    de terapias complementares, atendendo pacientes do Sistema nico de Sade

    (SUS) e de convnios18.

    Foram utilizados como critrios de incluso: mulheres com diagnstico

    histopatolgico de cncer de mama atendidas no HSRC, que no tinham realizado

    nenhum tipo de tratamento de cncer anterior, com 18 anos ou mais de vida.

    As variveis independentes foram: caractersticas sociodemogrficas (faixa etria,

    estado civil, grau de instruo, raa/cor da pele, condio socioeconmica e renda);

    necessidade de prtese dentria; utilizao de servio odontolgico; e estadiamento

    clnico.

    Categorizou-se a condio socioeconmica de acordo com a posse de bens de

    consumo e escolaridade do chefe da famlia, em classes A, B, C, D e E, por meio do

    Critrio de Classificao Econmica Brasil19. Esse tipo de categorizao permite

    comparaes com diversos estudos nacionais. Quanto varivel raa/cor, optou-se

    por agrupar as mulheres em brancas e no brancas. O estadiamento clnico inicial

    seguiu a classificao da American Joint Committee on Cancer20, e agrupou-se os

    estdios clnicos 0, I e II (inicial) e os estdios clnicos III e IV (tardio).

    A varivel dependente foi o perfil do impacto da sade bucal, medido pelo OHIP,

    considerando suas sete dimenses. O instrumento possui, em sua verso original,

    49 itens e uma verso reduzida com 14 itens, que so efetivos para determinar as

    mesmas associaes com os fatores clnicos e sociodemogrficos do instrumento

    original21.

  • 57

    A prpria pesquisadora coletou os dados, utilizou-se a tcnica de entrevista com

    registro em formulrio e mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e

    Esclarecido (TCLE). Utilizaram-se dois roteiros: um para registro das informaes

    das participantes quanto s variveis independentes; e o OHIP-14 (verso reduzida),

    para avaliar a percepo das respondentes sobre os impactos produzidos pela

    condio bucal sobre a qualidade de vida. As informaes sobre o estadiamento

    clnico foram coletadas do pronturio das pacientes.

    Para codificao das respostas do OHIP, utilizou-se uma escala de frequncia do

    tipo Likert com cinco opes sobre a frequncia de cada problema em um perodo

    determinado de tempo. A escala constituda pelas seguintes opes: sempre,

    frequentemente, s vezes, raramente e nunca/no se aplica. As respostas foram

    avaliadas de forma dicotmica. As respostas sempre e frequentemente indicam

    impacto na qualidade de vida e as respostas s vezes, raramente e nunca

    significam sem impacto na qualidade de vida.

    Realizou-se anlise descritiva dos dados, por meio de tabelas de frequncia com

    nmero e percentual para cada um dos itens do instrumento de pesquisa. A

    associao das dimenses do impacto da sade bucal e dos fatores

    sociodemogrficos e de utilizao de servios odontolgicos foi testada pelo teste

    qui-quadrado ou o exato de Fisher. Adotou-se o nvel de significncia de 5%. Para

    avaliar a fora dessa associao, calculou-se o odds ratio (OR) com intervalo de

    confiana de 95%. Utilizou-se o mtodo de Mantel-Haenzsel, que forneceu um OR

    combinado, permitindo conhecer a frequncia de impactos para todas as dimenses

    combinadas. Os dados foram organizados no programa Microsoft Office Excel 2007

    for Windows e analisados pelo Pacote Estatstico para Cincias Sociais (SPSS),

    verso 20.0.

    O projeto foi aprovado pelo Comit de tica da Universidade Federal do Esprito

    Santo (Ufes), sob n274/11, em 14 de dezembro de 2011, e autorizado pelo HSRC.

  • 58

    5.1.4 Resultados

    Foram estudadas 89 mulheres que preencheram os critrios de incluso no perodo

    da pesquisa.

    Na Tabela 1, observam-se as caractersticas sociodemogrficas das mulheres: a

    maioria possui idade igual ou maior de 50 anos (68,5%), so casadas/unio estvel

    (59,6%), estudaram at a 3 srie do ensino fundamental (36%), tm cor branca

    (64%). Quanto condio socioeconmica, a predominncia foi de classe C

    (57,3%). Em relao renda, 61,8% declararam renda de at dois salrios mnimos.

  • 59

    Tabela 1 Caractersticas sociodemogrficas de mulheres com cncer de mama, Vitria/ES, 2012

    Caracterstica Nmero Percentual

    Faixa etria

    At 49 anos 28 31,5

    50 59 anos 23 25,8

    60 69 anos 21 23,6

    70 anos ou mais 17 19,1

    Estado civil Solteira 9 10,1

    Casada/Unio estvel 53 59,6

    Separada 7 7,9

    Viva 20 22,4

    Grau de instruo

    At 3 srie ensino fundamental 32 36,0

    Da 4 srie at a 7 srie ensino fundamental 20 22,4

    Ensino fundamental completo 14 15,7

    Ensino mdio completo 15 16,9

    Ensino superior completo 8 9,0

    Raa/cor Branca 57 64,0

    No branca 32 36,0

    Condio socioeconmica

    Classe B 17 19,2 Classe C 51 57,3 Classe D 19 21,3 Classe E 2 2,2 Renda familiar At 1 salrio mnimo 21 23,6 Mais de 1 a 2 salrios mnimos 34 38,2

    Mais de 2 a 3 salrios mnimos 10 11,2

    Mais de 3 a 4 salrios mnimos 10 11,2

    Mais de 4 a 5 salrios mnimos 8 9,0

    6 salrios mnimos ou mais 6 6,8

    Total 89 100,0

    Questionadas sobre a utilizao de servios odontolgicos, 44,9% das mulheres

    procuraram profissionais de sade bucal nos ltimos 12 meses, e o motivo da

    consulta foi atendimento de rotina/preveno (65,9%). Na maior parte das mulheres,

    h necessidade de utilizao de prtese (60,7%). O estadiamento inicial foi

    predominante em 71,9% da amostra (Tabela 2).

  • 60

    Tabela 2 Informaes gerais de sade de mulheres com cncer de mama, Vitria/ES, 2012

    Caracterstica Nmero Percentual

    Procura de profissional ltimos 12 meses CD 40 44,9 Falso profissional 1 1,1 No procurou 48 54,0

    Motivo da procura profissional Urgncia 14 34,1 Rotina/preveno 27 65,9

    Necessidade de utilizao de prtese Precisa 54 60,7 No precisa 35 39,3

    Estadiamento 0 10 11,2 I 16 18,0 II 38 42,7 III 13 14,6 IV 1 1,1 Ignorado 11 12,4

    O percentual de impacto na qualidade de vida produzido por problemas bucais foi de

    28,1% (Escore Geral). A Figura 1 apresenta os percentuais do Escore Geral e das

    dimenses do OHIP.

    Figura 1 Frequncia do impacto, por dimenso, de mulheres com cncer de mama, Vitria/ES, 2012

    Quando realizada a anlise das dimenses do OHIP segundo a varivel renda, os

    resultados mostraram diferena estatisticamente significante na dimenso

    incapacidade psicolgica (p=0,039). (Tabela 3).

  • 61

    Tabela 3 Frequncia do impacto, por dimenso, segundo a renda de mulheres com cncer de mama, Vitria/ES, 2012

    Dimenso At 2 SM Acima 2 SM

    p-valor Odds Ratio N % N %

    Limitao funcional Com impacto 3 5,5 2 5,9

    0,637 1,083

    0,172 6,849 Sem impacto 52 94,5 32 94,1 Dor fsica

    Com impacto 6 10,9 5 14,7 0,415

    1,408 0,394 5,025 Sem impacto 49 89,1 29 85,3

    Desconforto psicolgico

    Com impacto 10 18,2 8 23,5 0,363

    1,385 0,486 3,953 Sem impacto 45 81,8 26 76,5

    Incapacidade fsica Com impacto 3 5,5 0 0,0

    0,231 * Sem impacto 52 94,5 34 100,0

    Incapacidade psicolgica

    Com impacto 12 21,8 2 5,9 0,039

    4,465 0,933 21,360 Sem impacto 43 78,2 32 94,1

    Incapacidade social Com impacto 3 5,5 1 2,9

    0,505 1,904

    0,190 19,081 Sem impacto 52 94,5 33 97,1 Deficincia

    Com impacto 3 5,5 3 8,8 0,417

    1,678 0,319 8,850 Sem impacto 52 94,5 31 91,2

    Mantel-Haenszel 0,494 1,140

    0,437 2,972

    *No calculado por apresentar caselas com zero.

    Quando estudadas as dimenses segundo o motivo da visita ao profissional de

    sade bucal (Tabela 4), observou-se resultado estatisticamente significante na

    dimenso dor fsica para as mulheres que procuraram o cirurgio-dentista por motivo

    de urgncia (p=0,012). Calculando o OR para esta dimenso, as mulheres

    apresentaram uma chance 9,37 vezes maior de impacto quando comparadas com

    as mulheres que procuraram o cirurgio-dentista por motivo de rotina/preveno.

  • 62

    Tabela 4 Frequncia do impacto, por dimenso, segundo motivo da visita ao profissional de sade bucal nos ltimos 12 meses por mulheres com cncer de mama, Vitria/ES, 2012

    Dimenso Rotina/Preveno Urgncia

    p-valor Odds Ratio N % N %

    Limitao funcional Com impacto 0 0,0 1 3,7

    0,659 * Sem impacto 14 100,0 26 96,3

    Dor fsica Com impacto 6 42,9 2 7,4

    0,012 9,375

    1,569 56,006 Sem impacto 8 57,1 25 92,6 Desconforto psicolgico

    Com impacto 6 42,9 5 18,5 0,099

    3,300 0,785 13,879 Sem impacto 8 57,1 22 81,5

    Incapacidade fsica Com impacto 2 14,3 1 3,7

    0,265 4,333

    0,357 52,581 Sem impacto 12 85,7 26 96,3 Incapacidade psicolgica

    Com impacto 5 35,7 4 14,8 0,129

    3,194 0,696 14,664 Sem impacto 9 64,3 23 85,2

    Incapacidade social Com impacto 0 0,0 2 7,4

    0,428 * Sem impacto 14 100,0 25 92,6

    Deficincia Com impacto 2 14,3 2 7,4

    0,422 2,083

    0,261 16,631 Sem impacto 12 85,7 25 92,6

    Mantel-Haenszel 0,117 2,857

    0,736 11,086

    *No calculado por apresentar caselas com zero.

    As associaes entre as dimenses do OHIP e as variveis: faixa etria, classe

    social, raa/cor, necessidade de uso de prtese e estadiamento clnico no foram

    estatisticamente significantes no presente estudo (p > 0,05).

  • 63

    5.1.5 Discusso

    Desenvolveu-se este estudo em uma amostra de mulheres que tiveram diagnstico

    de cncer de mama no HSRC. As mulheres com cncer de mama enfrentam

    situaes importantes e difceis, como deteco do problema na mama, confirmao

    do diagnstico, perodo anterior ao tratamento, cirurgia, tratamento subsequente

    com radioterapia, quimioterapia e outros procedimentos22.

    A maioria das pacientes possui idade igual ou maior que 50 anos. A idade continua

    sendo o principal fator de risco para o cncer de mama. As taxas de incidncia

    aumentam rapidamente at os 50 anos e, posteriormente, esse aumento ocorre de

    forma mais lenta9.

    Quanto condio socioeconmica, a predominncia foi de classe C. Segundo

    informaes do Inca9, a ocorrncia do cncer da mama tambm se encontra

    relacionada com o processo de urbanizao da sociedade, evidenciando maior risco

    de adoecimento entre mulheres com elevado status socioeconmico, ao contrrio do

    que se observa para o cncer do colo do tero. No presente estudo, isso no

    acontece, contudo deve-se considerar que o HSRC uma entidade filantrpica, e

    que cerca de 60% de sua demanda so pacientes do SUS. Neste estudo em

    particular, todas as pacientes eram provenientes do SUS. Isso pode explicar o fato

    de no existirem pacientes da classe A, mas refora a fragilidade de indicadores de

    classe social que utilizam como critrio o poder de compra do indivduo.

    A maior parte das mulheres no procurou profissionais de sade bucal nos ltimos

    12 meses. Essa informao um alerta, pois reflete dcadas de excluso aos

    servios odontolgicos restauradores, reabilitadores e a ausncia de uma poltica de

    sade bucal direcionada a essa populao adulta e idosa23. Dados da ltima

    Pesquisa Nacional de Sade Bucal (PNSB), realizada no Brasil em 2010, mostraram

    que, na Regio Sudeste, 6,7% das pessoas com idade entre 35 e 44 anos e 14,1%

    das pessoas com idade entre 65 e 74 anos nunca haviam consultado com cirurgio-

    dentista24.

    Estudo que avaliou as tendncias em equidade horizontal na utilizao de servios

    de sade de 1998 a 2008 mostra que a visita ao cirurgio-dentista teve a maior

  • 64

    queda absoluta na desigualdade horizontal entre os servios analisados, contudo

    ainda o servio mais desigualmente distribudo at 200825.

    Diversos estudos tm demonstrado que usurios regulares de servios

    odontolgicos declararam-se mais satisfeitos com suas condies bucais, o que

    mostra a importncia da frequncia das visitas ao cirurgio-dentista na qualidade de

    vida23,26,27.

    Em aproximadamente 72% das pacientes, o diagnstico ocorreu em estdios

    iniciais. Sabe-se que as taxas de mortalidade por cncer da mama continuam

    elevadas no Brasil, muito provavelmente porque a doena ainda diagnosticada em

    estdios avanados9. No presente estudo, o diagnstico est sendo realizado no

    momento esperado, todavia novos estudos precisam ser realizados para avaliar se o

    incio do tratamento segue o mesmo padro. importante ressaltar que o cncer da

    mama s possui bom prognstico se diagnosticado e tratado oportunamente9.

    Ainda em relao ao estadiamento, em 12,4% da amostra, no foram encontradas

    essas informaes nos pronturios das pacientes. Isso refora a necessidade de

    uma anlise mais profunda sobre a importncia do preenchimento completo da ficha

    de registro de tumor no HSRC.

    A frequncia de impacto dos problemas bucais na qualidade de vida foi de 28,1%,

    resultado semelhante a outros estudos realizados em populaes distintas de

    adultos e idosos no Brasil23,26,28-30 e na Nova Zelndia31, contudo diferente de

    estudos desenvolvidos em pases desenvolvidos ou em populaes especficas.

    Pases como Austrlia e os Estados Unidos apresentam frequncia de impacto

    geralmente menor, na ordem de 15%16, j estudos realizados com populaes

    especficas apresentam percentual de impacto superior, chegando a 62% em

    pacientes com o vrus da imunodeficincia humana na Flrida32 e 81% em pacientes

    dependentes qumicos em Vitria33.

    Aproximadamente 62% das pacientes declararam renda de at dois salrios

    mnimos. Na anlise dessa varivel, as mulheres que possuem renda de at dois

    salrios mnimos possuem mais impacto na dimenso incapacidade psicolgica.

    Esse resultado homogneo ao encontrado em um estudo realizado em

    Bauru/SP34.

  • 65

    Sabe-se que a frequncia das doenas bucais reflete fatores de ordem biolgica,

    comportamental e socioeconmica, assim como fatores de acesso a bens de

    consumo e a servios de sade. Dessa forma, indivduos com diferenas

    pronunciadas de renda tambm esto em desvantagem quanto ocorrncia de

    agravos em sade bucal6,23,35.

    importante salientar que, na dimenso incapacidade psicolgica, questiona-se

    acerca da dificuldade em relaxar e do sentimento de vergonha em relao sua

    condio bucal, tornando evidente, com o resultado apresentado, o impacto social

    da