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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA COORDENAÇÃO DE PESQUISA Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica PIBIC Programa de Iniciação Científica Voluntária - PICVOL Relações entre Estereótipos e Representações Sociais: Processos Automáticos e Medidas Implícitas Área de Concentração: Processos Grupais e de Comunicação Bolsista: Tássia Viviane Nunes Santana Orientador: Marcus Eugênio Oliveira Lima Relatório Final Período Agosto 2016 a Julho 2017 Este projeto é desenvolvido com bolsa de iniciação científica PIBIC/CNPq São Cristóvão/SE 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

COORDENAÇÃO DE PESQUISA

Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC

Programa de Iniciação Científica Voluntária - PICVOL

Relações entre Estereótipos e Representações Sociais: Processos

Automáticos e Medidas Implícitas

Área de Concentração: Processos Grupais e de Comunicação

Bolsista: Tássia Viviane Nunes Santana

Orientador: Marcus Eugênio Oliveira Lima

Relatório Final

Período Agosto 2016 a Julho 2017

Este projeto é desenvolvido com bolsa de iniciação científica

PIBIC/CNPq

São Cristóvão/SE

2017

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo analisar os aspectos automáticos da estereotipia e do

preconceito. Ele se detém sobre dois temas relevantes para entendimento das

manifestações do preconceito e do racismo, a saber os processos automáticos e as

medidas implícitas. As perspectivas teóricas adotadas são da Psicologia Social dos

Estereótipos e da Teoria das Representações Sociais. A pesquisa empírica se baseou no

Modelo do Conteúdo dos Estereótipos de Fiske et al. (2002), analisando a aplicação de

estereótipos a grupos de brancos e negros. Participaram 158 Estudantes universitários,

69.6% mulheres, com idades variando de 17 a 60 anos (M= 25.5, DP = 7.1). Os

resultados encontrados indicaram apenas um efeito da cor da pele dos grupos, indicando

uma maior atribuição do estereótipo da competência positiva aos brancos que aos

negros. Os resultados são discutidos com base nas ainda muito poucas leituras de

psicologia social que fizemos neste período.

PALAVRAS CHAVE: Processos Automáticos, Medidas implícitas, Estereótipos.

Sumário

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 4

2. REVISÃO DA LITERATURA.................................................................................. 6

2.1 PROCESSOS AUTOMÁTICOS ............................................................................ 6

2.2 Atitudes implícitas medidas indiretas ..................................................................... 8

2.2.1 PRIMING .......................................................................................................... 8

2.2.2 TESTE DE ASSOCIAÇÃO IMPLÍCITA TAI(TAIAI) ....................................... 9

2.3 ESTEREÓTIPOS .................................................................................................. 10

3. Metodologia ............................................................................................................ 12

3.1 Participantes ........................................................................................................ 12

3.2 Procedimentos e instrumentos ........................................................................... 12

4. RESULTADOS ...................................................................................................... 12

5. DISCUSSÃO ........................................................................................................... 14

6. CONCLUSÕES ...................................................................................................... 15

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 16

LISTA DE TABELA

Tabela 1: DADOS SPSS CÉNÁRIOS EXPERIMENTAIS

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1. INTRODUÇÃO

Não precisa muito esforço para percebermos que ninguém é igual, cada individuo possui

particularidades únicas e importantes para garantir sua singularidade, sejam em aspectos fenótipos,

culturais, sociais, religiosos entre outros. O que deveria ser visto como comum ou semelhante

muitas vezes desencadeia grandes tensões entre os homens, violentas guerras são travadas pela não

aceitação das diferenças.

Os seres humanos evoluíram em vários aspectos, no entanto ainda não são capazes de lidar

satisfatoriamente com o problema da intolerância. Esta, que se manifesta de múltiplas formas,

produz nas pessoas uma tendência a emitirem julgamentos sobre os outros atribuindo-lhes

características que na maioria das vezes não são reais, desencadeando uma série de manifestações

estereotipadas e preconceituosas, culminando na discriminação, exclusão e atos de violência.

Gordon Allport uma das maiores referências sobre o tema do preconceito na Psicologia

social, o descreve como defeito cognitivo, e o define como: “Uma atitude de prevenção ou de

hostilidade dirigida a uma pessoa que pertence a um grupo simplesmente porque ela pertence àquele

grupo, e se presume que possua as qualidades desagradáveis desse grupo.” (ALLPORT, 1979, p.7

apud LIMA, 2011) Tal antipatia é perceptível em geral contra os grupos minoritários como

homossexuais, negros, ciganos, judeus, evangélicos entre outros, também é um método para

hierarquizar as estruturas sociais dos grupos valorizando uns e desvalorizando outros mantendo um

determinado padrão social.

O racismo, por sua vez, é outro processo de exclusão da diferença que se relaciona com o

preconceito e que também possui grande impacto na contemporaneidade. Ele se manifesta através

da depreciação com base nas características como cor e traços físicos que introduzem o indivíduo

em determinado grupo envolvendo um conjunto de crenças, emoções e comportamento

discriminatório. De acordo com Lima (2011, p. 27) ele pode ser entendido como:

Assim, entendemos o racismo como um processo de hierarquização, exclusão e

discriminação contra um indivíduo ou toda uma categoria social que é definida como

diferente com base em alguma marca física externa (real ou imaginada), a qual é

resignificada em termos de uma marca cultural interna que define padrões de

comportamento. [...]

Um dos fatores que diferenciam o racismo do preconceito é que este pode ser definido como

uma atitude, já o racismo acontece de maneira institucional e cultural, há uma convicção na

existência da diferença internalizada de maneira que o torna algo natural, o que acaba legitimando

as relações de distanciamento entre os grupos e de desfavorecimento dos grupos minoritários.

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Esses julgamentos generalizados dissolvidos no meio social fazem parte do racismo,

impressões que constituem um conceito sólido sobre determinados grupos ou pessoas são definidas

como os estereótipos, não são essencialmente negativos, mas geralmente depreciativos, avaliações

imperfeitas por falta da experiência, mas que se fixam de tal maneira que tornam-se imunes a

mesma. O passo inicial para o desenvolvimento das imagens ou representações estereotipadas dos

grupos é a categorização social, processo natural da cognição humana de grande relevância como

estratégia de economia mental um modo de etiquetar o mundo, facilitando a identificação dos

objetos.

A categorização social ocorre nas circunstâncias em que uma pessoa deixa de ser

percebida individualmente e passa ser qualificada como um elemento de um grupo

mediante a aplicação de critérios físicos (cor da pele, gênero, idade, etc.) ou características

de natureza distinta (sociais, econômicas, religiosas, etc.) [...]” (TAJFEL, 1981 apud

PEREIRA 2011 p.131)

Todos esses conceitos servem para nos situar sobre como se constroem os comportamentos

racistas que por sua vez se estabeleceram na sociedade de maneira que muitas vezes são ações que

passam despercebidas até mesmo diante de quem as sofre.

Com o propósito de entender melhor fenômenos sociais nos quais estamos todos imersos,

mas que por vezes não são despercebidos, inicialmente vamos seguir uma linha de investigação

teórica, tomando os estereótipos e construção do preconceito como objetos de análise, investigando

como surgem e ainda como verificar a existência desses afetos nos indivíduos através de medidas

implícitas de preconceito e estereotipia.

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 PROCESSOS AUTOMÁTICOS

Diariamente nos deparamos com situações em que sem perceber fazemos comparações em

busca de encontrar semelhanças que possibilitem associar indivíduos a grupos, observando assim no

sujeito características comuns a um determinado grupo.

É provável que ao ver um indivíduo cuja religião seja de raiz afro sejam feitas redes

associativas em que essa pessoa seja julgada com adjetivos como “macumbeira”, “feiticeira”,

“bruxa”, entre tantos outros. Desencadeando assim, sentimentos de antipatia reduzindo desta forma

possíveis afinidades sem ao menos conhecer o sujeito ou dialogar com ele.

Em questão de segundos um individuo pode expressar amor ou ódio a outro sem se dar

conta disso, é assim que economizamos energia psíquica, através desse hábito comum a nós seres

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humanos, o qual é aprendido por meio do contato social. Mas por ser uma estratégia muito

superficial pode conduzir a julgamentos falhos, e é preocupante quando se odeia alguém

desconhecido, assim torna-se algo negativo quando participa da construção do preconceito e do

racismo.

Em consequência várias injustiças foram e são produzidas por essa predisposição a

qualificar e universalizar automaticamente com base em pequenas peculiaridades presentes que

remetem a determinado grupo. A desumanização em recorrência destas associações preenchem os

noticiários cotidianos de absurdos, pessoas perdem a vida apenas por serem taxadas de maneira

negligente, por exemplo, assassinato de homossexuais, genocídios, os quais nos permitem analisar

que tais fatos são comuns contra minorias sociais e impactam enormemente suas vidas.

Em suma, essas atitudes são frutos dos processos automáticos, um mau habito mais

interpretado como uma forma de economia de energia psíquica, de maneira que a ativação de

estereótipos frequentemente torna-se inevitável e imperceptível.

Os processos automáticos podem ser ativados em duas circunstâncias: a) em processamentos

caracterizados pela falta de intenção e de consciência de que o processo produz um determinado

resultado final; e b) em contextos em que não existem intencionalidade e consciência do resultado

final do processamento. (LIMA, 2011, p. 234)

Duas perspectivas importantes relacionadas aos processos não controlados ou inconscientes

se contrapõe, pela ótica de Freud (1905/1970) indica que a automaticidade dos processos mentais

esta diretamente relacionada com os níveis de consciência, já numa investigação da função da

consciência do ponto de vista filosófico William James (1890/1965) o comportamento dos

indivíduos seriam determinados pelos hábitos que ao serem aprendidos não exigem muita reflexão

para expressar-se. (LIMA, 2011, p. 232)

Na maioria das vezes esses impulsos são reprimidos pelas normas sociais, ou seja,

dependendo dos costumes vigentes em cada sociedade irá relativizar a maneira que os sujeitos irão

reagir diante dos ativadores do preconceito, e assim podendo impulsionar ou coibir os processos

automáticos.

A diminuição das expressões preconceituosas mais flagrantes ou abertas transmite uma

imagem de que o preconceito estaria chegando ao fim, no entanto, o que se nota é que o sujeito é

coagido a não transparecer tais comportamentos, levando a origem de novas formas de expressões

do racismo.

Fazendo um apanhado de suas definições podemos dizer que o preconceito simbólico refere-

se a posições ou atitudes contrárias a situações de igualdade entre os grupos, ainda que as pessoas se

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considerem livres de preconceito. Já o racista aversivo acredita ser um sujeito igualitário mas

quando está em situações demonstra o contrário, o preconceito ambivalente há um antagonismo

com os valores de igualdade, por fim, o racismo cordial é uma peculiaridade brasileira que acontece

através de piadas e ditados populares. Assim fica claro que não estamos no fim, mas apenas no

começo de novas formas de manifestações, de maneira que o próprio sujeito social pode se dizer um

sujeito livre de preconceitos. (LIMA, 2002)

Devido a estas novas formas de manifestações sutis de exteriorização do preconceito, foi

necessário elaborar modelos avaliativos nos quais os indivíduos não percebam a real intenção do

estudo, em que torna-se possível a compreensão destas atitudes que encontram-se reprimidas pela

sociedade. Assim, surgem as medidas não obstrutivas das respostas, capazes de identificar de

maneira sutil sem que haja interferência dos autores. Este será então tema do próximo tópico.

2.2 ATITUDES IMPLÍCITAS MEDIDAS INDIRETAS

Devido as alterações de comportamentos da sociedade diante de determinadas condutas que

atualmente ocupam lugar na legislação, tendo em vista todas as consequências, os indivíduos

passam a se policiar em suas atitudes dificultando a percepção, e fazendo assim surgir novas formas

de manifestação dessas condutas.

Preocupados em atender a necessidade de compreender como os indivíduos se posicionam

diante de determinadas questões, foram criados métodos capazes de acessar os julgamentos mais

profundos destes indivíduos. Existem dois métodos bastante difundidos e eficazes na detecção

desses processos: o método de priming e o Implicit Association Test - TAI (Greenwald, et al.,

1998). Através desses métodos, temos acesso aos processos que fogem do controle do ator,

possibilitando assim a visualização do preconceito, aquele que existe, mas está reprimido pelas

normas sociais, e que muitas vezes nem o próprio individuo sabe que possui.

2.2.1 PRIMING

Este método serve como um estímulo inicial, que tem a capacidade de influenciar o

indivíduo em suas avaliações futuras sem que ele perceba que está sendo persuadido, produzindo

uma agilidade na produção de estereótipos. O priming de latência funciona de maneira que o

individuo é exposto a categorias sociais e o tempo que ele leva para reconhecer palavras ou

associações diferentes remetem a existência ou não do preconceito implícito,

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“Os primings podem ser de dois tipos: a) associativos, quando o intervalo entre os primes e os

alvos (targets) é curto e b) repetitivos ou cronicamente acessíveis, quando os efeitos do priming duram

muito tempo” (LIMA, 2011, p. 237). Ainda podem ser supraliminares, quando o sujeito percebe

conscientemente o estimulo ou subliminares quando os estímulos são inconscientes.

Sobre os efeitos do priming, Lima (2011) descreve o estudo inaugural realizado por

Higgins, Rholes e Jones (1977) da seguinte maneira: um grupo memorizava características positivas

enquanto o outro negativas, em seguida foram apresentador a uma história aleatória, onde os

mesmos não faziam relação entre as etapas, por fim ao serem solicitados a impressão do

personagem da história sofria influência da positividade ou negatividade das primeiras

características as quais foram expostos

É importante observar que mesmo diante de diferentes formas de aplicação, estudos

mostram que diante da associação com o priming “Negros” são construídos estereótipos negativos.

2.2.2 TESTE DE ASSOCIAÇÃO IMPLÍCITA TAI(TAI)

Outra importante forma de avaliação das respostas automáticas utiliza a associação de

conceitos como facilitador para a categorização, ou seja, utiliza a combinação de estímulos sejam

eles imagens ou palavras, permitindo investigar atitudes raciais implícitas relacionando

características e atribuições, manipulados por latência de resposta, ou seja, é levado em

consideração o tempo que os indivíduos levam para acessar as informações, caracterizando assim a

existência dos processos automáticos

O Teste de Associações Implícitas pode ser resumido nas seguintes etapas: inicialmente os

participantes devem relacionar fotografias expostas de pessoas brancas ou negras a palavras

positivas ou negativas, seguidamente o sujeito deve avaliar com palavras do tipo “Eu gosto” ou

“Não gosto”, por fim os indivíduos são apresentados a associações compatíveis e incompatíveis ao

preconceito exibidas a esquerda ou a direita do computador, aleatoriamente.

Inicialmente deve-se classificar os indivíduos em “Brancos ou Negros, seguidamente

classificar em “gosto ou não gosto

Leite (2016) utilizou o instrumento TAI como ferramenta para análise de 169 estudantes da

Universidade Federal de Sergipe (UFS) - que se autodenominaram conforme a cor da pele -

apresentando fotografias de pessoas “brancas” ou “negras” e palavras estereotípicas positivas e

negativas, tendo como resultante que as pessoas conseguem ser mais rápidas quando as associações

são compatíveis, o que caracteriza o preconceito implícito, ressaltando também, que esse resultado é

comum aos que se denominam “brancos”.

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2.3 ESTEREÓTIPOS

Mulher não sabe dirigir? Mulçumanos são terroristas? Nordestinos são miseráveis?

Brasileiro é corrupto? Provavelmente você já deve ter ouvido algo desse tipo em sua vida, e pode

até ser que acredite em algum desses conceitos, pois estas impressões são generalizações partilhadas

de maneira que fazem parte do senso comum. No cotidiano, ao ligar a TV, ou ao acessar alguma

rede social é possível se deparar com várias formas de consensos, seja em uma novela, em uma

piadinha entre amigos, ou uma discussão no facebook, em sua maioria é reproduzida de forma

inconsciente por serem conceitos habituais.

Desde muito cedo retemos todo tipo de informação do mundo em que vivemos, as quais

podem ser acessadas sempre que necessário, podendo interferir nas próximas informações a serem

captadas, estes “rótulos” são Estereótipos servem como forma de economia de energia psíquica,

transmitem um padrão de ideias sobre pessoas ou grupos sociais sem levar em consideração as

características individuais dos sujeitos, possuem uma rigidez substancial, levando os indivíduos a

acreditarem fielmente em sua veracidade de maneira que dispensam verificar sua autenticidade, já

que as mesmas nem sempre estão corretas .

A ativação dos estereótipos dependerá do quão superficial e frequente ele esteja

determinando o fator acessibilidade, a associação entre as experiências retidas e as particularidades

presentes no estimulo social designam aplicabilidade e por fim o destaque que esses estímulos

recebem assinalam a condição saliência (TECHIO, 2011, p. 31).

O primeiro a formular um conceito sobre o tema foi Lippmann (1922), que definia os

estereótipos como fotografias mentais resultantes da simplificação da realidade e foi o primeiro a

iniciar estudos contemporâneos acerca dos estereótipos (MARQUES & PAÉZ, 2000 apud LEITE,

2016).

Eles podem ser sociais, culturais, de gênero, estimulado apenas pela visualização aparente e

superficial fazendo o sujeito traçar um perfil completo do individuo ou grupo, assim é incontestável

a fragilidade que possui esses julgamentos. O mundo globalizado ajuda a disseminar ainda mais

esses pensamentos, reforçando muitas vezes, por exemplo, a xenofobia através doa estereótipos

culturais, ou ainda o etnocentrismo, já que há uma tendência a valorizar o endogrupo e desfavorecer

o exogrupo.

Parece-nos, portanto, que a ativação e a aplicação dos estereótipos também depende de

outras variáveis menos relacionadas com as diferenças individuais ou com reapredizagens

sociais e mais relacionadas com os interesses e conflitos intergrupais. Estas variáveis são,

no nosso entender, as normas sociais e ideologias. (LIMA, 2011 p.61)

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Além da função de economia de energia psíquica existem funções culturais e sociais que

possuem grande relevância na manutenção dessas crenças. Os estereótipos possibilitam satisfazer

necessidades humanas como de assimilar o mundo em que vivemos, bem como se identificar como

pertencente em alguma categoria social, por outro lado possibilita a manutenção do status quo

social, servindo como estratégia de justificação social, perpetuando as diferenças sociais.

Pode-se compreender que os estereótipos também servem para manter o sistema social

fazendo com que os grupos possuam propriedades constantes e inalteráveis mantendo a logica do

preconceito e descriminação. ( MOYA et al., 2011 p.135)

O que vai tornar as funções dos estereótipos positivas ou negativas é a maneira que este será

aplicado pelos indivíduos, contribuindo construção do preconceito este é caracterizado por ações

apresentando um caráter afetivo, desencadeiam emoções e sentimentos (positivos, ou em sua

maioria, negativos)

Existem divergências em sua funcionalidade levando em consideração que ao mesmo tempo

em que ele nos ajuda a compreender o mundo e nossa vida social, faz parte da manutenção de

atitudes prejudiciais a determinados grupos minoritários, que acabam pagando muitas vezes por

ideias erronias, avaliações imperfeitas por falta da experiência, mas que se fixam de tal maneira que

tornam-se imunes a mesma .

Segundo a teoria aplicada por Fiske et al. (1999) os estereótipos são ambivalentes por

exatamente por essa possibilidade de serem ao mesmo tempo positivos e negativos, por exemplo

um individuo pode considerar outro incompetente e ao mesmo tempo acha-lo muito simpático. O

mesmo faz uma relação entre o status grupal e sua interdependência cultural, assim os grupos de

alto status são respeitados e cobiçados por sua competência, porém não são considerados amáveis

transmitem sentimentos negativos, já os grupos de baixo status não são respeitados por serem

incompetentes, no entanto transmitem sentimentos positivos. (FISKE, et al. 1999 apud TECHIO,

2011, p.41)

Assim sendo, os estereótipos cumprem um papel muito importante na vida social de forma

geral, influenciando diretamente a maneira como os indivíduos enxergam o mundo e de que forma

vivem de acordo com o status do grupo em que esta inserido e principalmente mantendo a ordem

pré-estabelecida, por tanto mantendo desigualdade social.

Articulando as teorias aqui descritas, seguindo a investigação em busca de analisar como

ocorrem a aplicação destes processos na vida social seguimos para a pesquisa empírica, com

objetivo de compreender e esclarecer a formação desde o conteúdo até a aplicação das atitudes

ambivalentes dos estereótipos e do preconceito nos indivíduos, utilizando como estratégia uma

medida implícita na tentativa de expor os processos automáticos.

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3. Método

3.1 Participantes

Participaram 158 Estudantes universitários de diversos cursos da UFS, sendo que destes

69.6% de sexo feminino, com idades variando de 17 a 60 anos (M= 25.5, DP = 7.1), sendo que, em

relação à cor da pele 91(57.6%) se definiram como pardos (18%), 28 como pretos e 25 (16%) como

brancos, outros 8.4% se definiram como outras cores.

3.2 Procedimentos e instrumentos

Em busca de alcançar os objetivos propostos da investigação através de uma abordagem

quantitativa, tendo como objetivo a análise do conteúdo dos estereótipos e a sua aplicação, adotando

o Modelo do Conteúdo dos Estereótipos de Fiske et al. (2002), foi atribuído estereótipos a grupos

de brancos e negros representados em quatro cenários experimentais: competentes e amáveis,

competentes e frios, incompetentes e amáveis, incompetentes e frios, variando ainda cor da pele

dos grupos (Brancos vs. Negros) (desenho 2 x 2 x 2).

O questionário foi constituído inicialmente por um breve e fictício texto, sucedido da

ilustração (figura) de um grupo de pessoas brancos ou de pessoas negras. O texto e a figura foram

nosso priming . Em seguida foram enunciadas três questões com algumas características, assim os

participantes deveriam classifica-las e avaliar como pertencente ou não ao grupo, e em qual medida

eram positivas ou negativas buscando visualizar a diferença de associação atribuída entre negros e

brancos. (Apêndice)

Para analisar os dados foi utilizado o software aplicativo estatístico SPSS (Statical Package

for the Social Sciences) e os resultados foram categorizados em quatro dimensões (competência

positiva e negativa, amabilidade positiva e negativa).

4.RESULTADOS

Foi possível constatar que os participantes tendem a atribuir características de competência

positivas (competentes, bem-sucedidos, determinados e vencedores) aos grupos representados no

cenário experimental como competentes (frios ou amáveis), F(1, 126) = 213.44, p< .0001. No

entanto nota-se uma tendência de maior atribuição ao grupo constituído pelos exemplares brancos

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que compunham os cenários F(1, 126) = 2.88, p = .09. Da mesma forma, características de

competência negativa (egoístas, insensíveis, rígidos, hipócritas e opressores) foram expressas aos

grupos representados como “frios” (competentes e incompetentes) (Tabela 1). Expressivamente sem

efeito da cor da pele dos grupos alvo da representação.

Os traços positivos de cordialidade positiva (legais, humildes, sinceros, simpáticos e gente

boa), os quais foram atribuídos para os grupos representados como amáveis (competentes ou

incompetentes, brancos ou negros), F(1, 126) = 342.95, p< .0001. Essa atribuição não teve

influência da cor da pele dos grupos. (Tabela 1). Finalmente, para os traços estereotípicos da

cordialidade negativa (subordinados, acomodados, descansados, passivos e lentos) a menor

atribuição foi para os grupos competentes (brancos ou negros), F(1, 126) = 28.22(Tabela 1).

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Tabela 1: DADOS SPSS CÉNÁRIOS EXPERIMENTAIS

Dimensão

avaliada

Cor da pele dos grupos Tota

l brancos negros brancos negros

CF CC CF CC IF IC IF IC

Competência

Positiva

4.52d 5.40d 4,50 d 4,72 d 0,63a 2,00bc 1,05bb 2,42c 2,59

Competência

Negativa

3,55 a 0,78 b 3,50 a 0,53 b 4,15 a 0,35 b 3,75a 0,44 b 2,13

Cordialidade

Positiva

1,05 a 5,22 b 0,92 a 4,41b 0,42 c 4,00 b 0,68a 4,31b 2,62

Cordialidade

Negativa

0,35 a 1,10

abc

0,64 a 0,88 ab 2,26 c 2,05 bc 1,83bc 1,94 bc 1,38

Total 2,36 3,12 2,39 2,63 1,86 2,1 1.82 2,30 9,25

Nota 1: CF = competente e frio; CC = competente e cordial; IF = incompetente e frio; IC=

incompetente e cordial

Nota 2: Em cada linha médias com sobescritos diferentes são diferentes estatisticamente (p < .05)

5. DISCUSSÃO

Esta pesquisa teve como objetivo principal analisar teoricamente e testar empiricamente

temas de grande relevância para a Psicologia Social como processos automáticos, medidas

implícitas e consequentemente outros temas como Estereótipos. Através de conteúdos teóricos

fomos apresentadas a diferentes realidades as quais na vida cotidiana passam despercebidas pelos

sujeitos, foi possível avaliarmos a ativação dos processos de estereotipia automáticos entre

indivíduos brancos e negros. Em nossa pesquisa empírica utilizamos um priming racial, seguimos a

teoria de ambivalência apresentada por Fiske (2002) nos concentrando no conteúdo além da

aplicação dos Estereótipos, esta teoria demonstra que os mesmos podem possuir ao mesmo tempo

tanto características positivas quanto negativas, dividimos em quatro cenários experimentais:

competentes e amáveis, competentes e frios, incompetentes e amáveis, incompetentes e frios.

Nossos resultados demonstram uma diminuição na expressão do preconceito, mas devemos ressaltar

que foi realizada somente em ambiente universitário o que pode exercer algum tipo de influencia ,

todavia constatamos existência dos processos automáticos nos individuos, possibilitando perceber

ainda que sutilmente apresentados o preconceito e o racismo são reais, portanto ressaltamos a

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importância de mais pesquisas sobre o tema, levando em consideração que esta foi realizada

somente em nosso ambiente universitário, lembrando que apesar do preconceito e o racismo

aparecerem de formas mais sutis dando até mesmo a falsa impressão de estarem extintos a

realidade é outra, a luta ainda não acabou, há muito para ser mudado em nossa vida social.

6. CONCLUSÕES

Durante esse período de pesquisa podemos ter contato com importantes obras de teóricos da

Psicologia social além de participar de debates que propiciaram um maior aprofundamento nos

temas, além da integração no grupo NSEPR (Normas Sociais, Estereótipo, Preconceito e Racismo)

o qual nos proporcionou oportunidades de aprender muito mais a cerca de diversas temáticas

abordados na psicologia e ter um contato diferenciado com o universo acadêmico permitindo

experimentar como é efetivamente a vida e as dificuldades vivenciadas por um estudante

pesquisador. Sinto-me lisonjeada por participar de uma pesquisa que demonstra tanto potencial e

relevância para toda a sociedade, conhecer e compreender mais sobre esse tema e participar do

grupo NSEPR possibilitou aprender muito não somente sobre a Psicologia Social e seu papel, mas

sobre a vida, e certamente levarei todo esse aprendizado comigo sempre. Acredito que o trabalho

não para por aqui, é necessário uma ampliação nos horizontes da pesquisa, podendo assim sair até

do âmbito universitário, já esta é de interesse social, em geral, possibilitando assim talvez uma

diversificação do estudo.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHAVES, Antônio Marcos; SILVA, Priscila de Lima. Representações Sociais. In: CAMINO,

Leoncio. et al. Psicologia Social: Temas e Teorias. Brasília: TECHNOPOLITIK, 2011. p.299- 349

LEITE, Michelle de Farias.Projeto de Pesquisa: Relações entre a Teoria das Representações

Sociais e os Modelos da Cognição Social. 2016

LIMA, M. E. O. Preconceito e Racismo: Delimitação teórica e perspectiva de análise. In: Normas

Sociais, Preconceito e Novas Expressões dos Racismos. Cap.1 p. 17-60

LIMA, Marcus E.O. et al. Serão os estereótipos e o preconceito inevitáveis? O

monstro da automaticidade. In: LIMA, Marcus E.O.; PEREIRA, Emanoel Marcos.

Estereótipos, preconceito e racismo: perspectivas teóricas e metodológicas. P.43-

64

PEREIRA, M. E. Cognição Social. In: CAMINO, Leoncio. et al. Psicologia Social: Temas e

Teorias. Brasília: TECHNOPOLITIK, 2011. p.101-169

RODRÍGUEZ-BAILÓN, Rosa; JIMÉNEZ-MOYA, Gloria; MOYA, Miguel. Estereotipos y

Prejuicio. In: RODRÍGUEZ-BAILÓN, Rosa; JIMÉNEZ-MOYA, Gloria; MOYA, Miguel.

Fundamentos de Psicologia Social. Espanha: Pirâmide, 2011. Cap. 5. p. 118-138.

TECHIO, Elza Maria. Estereótipos sociais como preditores das relações intergrupais. In: TECHIO,

Elza Maria; LIMA, Macus Eugenio Oliveira. Cultura e Produção das Diferenças: estereótipos e

preconceito. Brasilia: Twchnopolitik, 2011. Cap. 1. p. 21-75

TEIXEIRA, Floricelia Santana O Fenômeno da Despersonalização e suas Relações com a Infra-

Humanização e o Preconceito. São Cristovão, 2014. (Mestrado em Psicologia Social). Núcleo de

Pós-Graduação e Pesquisa em Psicologia Social, Universidade Federal de Sergipe.

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APÊNDICE

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Centro de Educação e Ciências Humanas

Departamento de Psicologia

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Você está sendo convidado a colaborar em um estudo que tem como objetivo analisar as relações e

processos grupais. Este estudo se insere num projeto de pesquisa aprovado no edital de 2016 do

Programa Institucional de Iniciação Científica PIBIC-UFS. O tema do projeto é a relação entre

Representações e Cognições Sociais, o mesmo é coordenado pelo professor Marcus Eugênio

Oliveira Lima (DPS) e executado pelas bolsistas: ISABEL CRISTINA MARTINS SANTOS

(DPS), JESSICA FIGINI PIRES (DED) e TASSIA VIVIANE NUNES SANTANA (DSS).

Sua colaboração para nós é fundamental. Trata-se de um questionário muito breve e que tem tempo

médio de resposta inferior a 10 minutos. Caso concorde em colaborar, pedimos que leia e responda

muito atentamente as questões, não deixando nenhuma sem resposta.

Esta pesquisa cumpre todos os princípios éticos na pesquisa previstos na Resolução nº

510/2016/CNS, alguns dos quais são destacados abaixo:

Confidencialidade e segurança dos dados

Todos os dados coletados neste questionário são anônimos e serão guardados de forma confidencial.

Os dados serão codificados de forma que as respostas não possam ser atribuídas a nenhum

indivíduo.

Todos os dados coletados serão apenas utilizados para os objetivos de investigação do presente

estudo.

Participação e abandono do estudo

A sua participação é totalmente voluntária. Você pode decidir abandonar o estudo a qualquer

momento, sem qualquer prejuízo. Se pretender abandonar o estudo, simplesmente deixe de

responder às perguntas e o material que tiver completado até esse ponto será apagado e não poderá

ser incluído no estudo.

Se estiver interessado em conhecer os resultados do estudo pode nos contatar através do e-mail:

[email protected].

Caso concorde em participar passe a página seguinte. Caso não concorde chame a pesquisadora e

devolva o questionário.

Muito obrigado!

CA1

Leia atentamente o texto abaixo e em seguida responda as questões sobre ele.

Um grupo de pessoas de uma cidade do interior se destacou por trabalhar muito na criação e

expansão de uma rede de lojas. Esse grupo desenvolveu projetos inteligentes e inovadores, e com

esforço conseguiu alcançar o sucesso. Eles são muito reconhecidos devido a isso, mas também por

serem simpáticos e gentis. Em geral, eles são muito queridos pelos seus funcionários e pelos

moradores da cidade.

Foto ilustrativa do Grupo de Empresários

O texto relata de forma muito sumária algumas características do grupo de empresários, pedimos

que nas páginas seguintes avalie se outras características podem ser atribuídas a eles.

19

1) Em que medida essa característica refere algo positivo ou negativo na sua avaliação? Totalmente negativa

Moderadamente negativa

Um pouco negativa

Nem negativa nem positiva

Um pouco positiva

Moderadamente positiva

Totalmente positiva.

2) O grupo da história possui essa característica?

3) O que significa essa característica para você?

Como você define a característica? SIM NÃO 1 2 3 4 5 6 7

Determinados

( ) ( )

Egoístas

( ) ( )

Legais

( ) ( )

Subordinados

( ) ( )

Persistentes

( ) ( )

Insensíveis

( ) ( )

Humildes

( ) ( )

Acomodados

( ) ( )

Vencedores

( ) ( )

20

Rígidos

( ) ( )

1) Em que medida essa característica refere algo positivo ou negativo na sua avaliação? Totalmente negativa

Moderadamente negativa

Um pouco negativa

Nem negativa nem positiva

Um pouco positiva

Moderadamente positiva

Totalmente positiva.

2) O grupo da história possui essa característica?

3) O que significa essa característica para você?

Sinceros

Descansados

Bem-sucedidos

Hipócritas

Simpáticos

Passivos

Competentes

Opressores

Gente boa

21

Lentos

Espertos

Honestos

4) Em relação à cor da pele como você descreveria as pessoas da história?

Totalmente

Brancas

Totalmente

Pretas

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

5) Em que medida a história lhe pareceu ser verdadeira?

Totalmente inverídica 1 2 3 4 5 6 7

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Totalmente verídica

Dados sociodemográficos

Gênero: Masculino ( ) Feminino ( )

Idade: ___________

Cor da pele:

Estado Civil _______________________________________________

Religião: __________________________________________________

Qual a renda familiar (aproximada) em salários mínimos?____________

22

( ) Branca ( ) Preta ( ) Amarela ( ) Parda ( ) Indígena

Outra: ____________________________

Obrigado pela participação!