UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO … · TCC (Graduação em Educação Física) –...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E CIÊNCIAS DO ESPORTE
MARIA LAVINIA TOMAS DA SILVA
A DANÇATERAPIA NO DESENVOLVIMENTO MOTOR DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
VITÓRIA DE SANTO ANTÃO
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E CIÊNCIAS DO ESPORTE
MARIA LAVINIA TOMAS DA SILVA
A DANÇATERAPIA NO DESENVOLVIMENTO MOTOR DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a banca examinadora, do Centro Acadêmico de Vitória, da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito para obtenção do título de Licenciada em Educação Física, sob orientação da Prof.ª Dr.ª Lara Colognese Helegda.
VITÓRIA DE SANTO ANTÃO
2018
Catalogação na Fonte
Sistema de Bibliotecas da UFPE. Biblioteca Setorial do CAV. Bibliotecária Giane da Paz Ferreira Silva, CRB-4/977
S586d Silva, Maria Lavinia Tomas da. A dançaterapia no desenvolvimento motor de crianças e adolescentes com transtorno do espectro autista: uma revisão bibliográfica / Maria Lavinia Tomas da. - Vitória de Santo Antão, 2018.
40 folhas. Orientadora: Lara Colonese Helegda. TCC (Graduação em Educação Física) – Universidade Federal de
Pernambuco, CAV, Licenciatura em Educação Física, 2018. Inclui referências.
1. Dançaterapia. 2.Transtorno do espectro autista. 3. Desenvolvimento
motor. I.Helegda, Lara Colognese (Orientadora). II. Título.
793.3 CDD (23.ed ) BIBCAV/UFPE-224/2018
A DANÇATERAPIA NO DESENVOLVIMENTO MOTOR DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: UMA
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a banca examinadora, do Centro Acadêmico de Vitória, da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito para obtenção do título de Licenciada em Educação Física.
Aprovado em: 07/12/2018.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Prof.ª D.rª Lara Colognese Helegda (Orientadora)
Universidade Federal de Pernambuco
_________________________________________
Prof.º D.r Saulo Fernandes Melo de Oliveira (Examinador Interno)
Universidade Federal de Pernambuco
_________________________________________
Prof.º M.e Anderson Apolonio da Silva Pedroza (Examinador Externo)
Universidade Federal de Pernambuco
Aos meus pais, Alcione e Josenildo.
A minha avó Lourdes.
Ao meu irmão Felipe e a minha cunhada Nataely...
Porque a minha família é o meu alicerce!
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me permitido a chegar até onde eu cheguei, me dando sempre
perseverança para superar minhas dificuldades na formação acadêmica e na minha
vida pessoal.
A minha orientadora, Prof.ª Dr.ª Lara Colonese Helegda, pela paciência e
complacência, nesta difícil missão de me orientar. Especialmente nos momentos em
que demonstrei insegurança e desespero ao desenvolver este trabalho. Por sua
colaboração e sugestões no projeto e na vida, e pela transmissão de grandes
conhecimentos. Pelos momentos em que pude contar com a sua ajuda como uma
amiga e uma figura materna.
A minha família, em especial aos meus pais Maria Alcione Barbosa da Silva e
Josenildo Tomás da Silva que me deram o devido amor, educação e suporte que me
permitiu conhecer e semear humildade e perseverança; aos meus tios, primos e
outros familiares, em especial ao meu irmão Luiz Felipe Tomas da Silva e minha
cunhada Nataely dos Prazeres Souza Tomas que serviram de inspiração e exemplo
me introduzindo aos sacrifícios de uma formação de nível superior; a minha avó
Maria de Lourdes Barbosa da Silva e nosso cachorro Teddy pela afetividade e
momentos de descontração que me fizeram entender o valor de uma vida que pode
ser compartilhada com quem tanto se ama.
A todos os professores do Curso de Licenciatura em Educação Física e aos
outros educadores que contribuíram na minha formação, em especial a Maria
Alessandra dos Santos e Marcelus Brito de Almeida por terem sido conforto e
extroverção nos momentos mais difíceis.
Aos meus amigos incríveis que tive o prazer de conhecer e ter suas
companhias durante a formação de Professora. Suas amizades foram fundamentais
desde os primeiros passos desta caminhada, em especial Natália Francielle Bezerra
da Silva e Maria Gabriela Barbosa das Mercês; e ao decorrer desta disciplina, em
especial Rayelle Thais Lima da Silva e Arianne Larissa dos Santos Silva Souza, que
foram responsáveis por tantos aconselhamentos, coletividade e inspiração.
Obrigada!
RESUMO
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um agrupamento de desordens
neurológicas, responsáveis por afetar o desenvolvimento neuropsicomotor de
indivíduos. Dentre as caracteristcas das pessoas com TEA pode-se descatar
principalmente três: dificuldade em comunicar-se verbal e não verbalmente;
comportamentos repetitivos de movimentos e dificuldade na interação social. Além
disso, as crianças exibem dificuldade na capacidade de imitar gestos e dificuldade
de expressar-se utilizando gestos espontaneamente, tendo assim a interação social
prejudicada e reduzida. Desde cedo algumas crianças com TEA já apresentam
sintomas de disfunção motora e danos sensoriais. Com base em estudos prévios, foi
observado que a dançaterapia possui efeitos positivos para o indivíduo praticante da
modalidade, capacitando o método como um meio de intervenção a ser
experimentado no tratamento de diversas patologias físicas e mentais, incluindo o
TEA. A partir disso, foi considerado que a dançaterapia com os seus benefícios
atrelados, seria capaz de estimular o desenvolvimento motor de crianças e
adolescentes com TEA, podendo ser trabalhadas também na escola através das
abordagens pedagógicas da Educação Física: Psicomotricidade e
Desenvolvimentista. O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo de caráter
qualitativo e descritivo sobre os impactos positivos das aulas de dançaterapia na
vida de crianças e adolescentes com TEA, especificamente no desenvolvimento de
suas habilidades motoras. A metodologia se deu através de uma revisão da
literatura, entre janeiro e novembro de 2018, nas bases de dados PUBMED
(MEDLINE), BIREME (LILACS), SCIELO e Google Acadêmico, além de livros
consultados na Biblioteca do Centro Acadêmico de Vitória. Concluiu-se que a
dançaterapia possui eficácia no desenvolvimento motor de crianças e adolescentes
com TEA, além da melhora da sua expressão corporal, auxiliando a comunicação e
interação social; e que para avaliar a eficácia destas aulas no ambiente escolar, se
faz necessário a iniciação da aplicabilidade desta modalidade de dança na escola.
Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista. Dançaterapia. Habilidades Motoras.
Educação Física Escolar.
ABSTRACT
Autism Spectrum Disorder (ASD) is a grouping of neurological disorders, responsible
for affecting the neuropsychomotor development of individuals. Among the
characteristics of people with ASD can be mainly three: difficulty in communicating
verbally and non-verbally; repetitive behavior of movements and difficulty in social
interaction. In addition, children exhibit difficulty in imitating gestures and difficulty
expressing themselves using gestures spontaneously, thus having impaired and
reduced social interaction. Early on, some children with ASD already have symptoms
of motor dysfunction and sensory damage. Based on previous studies, it was
observed that the dance therapy has positive effects for the individual practicing the
modality, enabling the method as a means of intervention to be tried in the treatment
of various physical and mental disorders, including ASD. From that, it was considered
that the dance therapy with its benefits linked, would be able to stimulate the motor
development of children and adolescents with ASD, and can be worked also in the
school through the pedagogical approaches of Physical Education: Psychomotricity
and Developmental. The objective of this work was to conduct a qualitative and
descriptive study about the positive impacts of dance classes on the life of children
and adolescents with ASD, specifically on the development of their motor skills. The
methodology was based on a review of the literature, between January and
November of 2018, in the databases PUBMED (MEDLINE), BIREME (LILACS),
SCIELO and Google Academic, in addition to books consulted in the Library of the
Academic Center of Vitória. It was concluded that the dance therapy has efficacy in
the motor development of children and adolescents with ASD, besides the
improvement of their corporal expression, aiding communication and social
interaction; and that in order to evaluate the effectiveness of these classes in the
school environment, it is necessary to initiate the applicability of this type of dance in
school.
Keywords: Autism Spectrum Disorder; Dançaterapia; Motor Skills; Schoolar Physical
Education.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Fases do desenvolvimento motor............................................................ 15
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO, JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS ..................................................... 9
2 DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES ................................. 12
2.1 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA ..................................................... 12
2.2 SISTEMA DE NEURÔNIOS ESPELHOS ........................................................ 14
2.3 DESENVOLVIMENTO MOTOR E TEA ............................................................ 15
2.3.1 FASES DO DESENVOLVIMENTO MOTOR .............................................. 15
2.3.2 HABILIDADES MOTORAS E TEA ............................................................. 17
3 A DANÇA ............................................................................................................... 19
3.1 HISTÓRICO DA DANÇA NO BRASIL .............................................................. 19
3.2 A DANÇA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR BRASILEIRA ......................... 22
3.3 A DANÇATERAPIA E TEA .............................................................................. 23
4 ABORDAGENS PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NO ENSINO
DA DANÇA ................................................................................................................ 26
4.1 PSICOMOTRICIDADE ..................................................................................... 26
4.2 ABORDAGEM DESENVOLVIMENTISTA ........................................................ 27
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 29
6 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 35
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36
9
1 INTRODUÇÃO, JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um agrupamento de desordens
neurológicas, responsáveis por afetar o desenvolvimento neuropsicomotor de
indivíduos (MACHADO, 2015). O transtorno recebe o nome de espectro por envolver
múltiplos fatores que se apresentam de maneiras diferentes de um indivíduo para o
outro, sempre se mantendo em uma linha gradativa, que é construída considerando
desde os sintomas mais leves, até os mais graves.
Para Assumpção e Pimentel (2000), são muitas as características relacionadas
ao TEA, porém existem pelo menos três delas que se sobressaem em relação as
demais, que podem se manifestar de forma isolada ou em conjunto. Sendo elas:
dificuldade em comunicar-se verbal e não verbalmente; comportamentos repetitivos
de movimentos e dificuldade na interação social (PECTRUS, et. al., 2008). Além
disso, as crianças exibem dificuldade na capacidade de imitar gestos e dificuldade
de expressar-se utilizando gestos espontaneamente, tendo assim a interação social
prejudicada e reduzida (INGERSOLL; SCHREIBMAN, 2006).
Estudos mostram que a embora o TEA possua uma base patológica
desconhecida, alguns autores consideram que a condição desta patologia está no
mau funcionamento do sistema de neurônios espelho (MACHADO, 2015).
Desde cedo algumas crianças com TEA já apresentam sintomas de disfunção
motora e danos sensoriais (ASSUMPÇÃO; PIMENTEL, 2000), que quando
identificados, podem ser trabalhados com a intenção de diminuir os impactos
negativos sobre o desenvolvimento da criança (PLAISTED; DAVIS, 2009).
Com base em estudos realizados previamente, foi observado que a dança
contém a capacidade de intervir de forma terapêutica no indivíduo praticante da
modalidade, capacitando o método como um meio de intervenção a ser
experimentado no tratamento de diversas patologias físicas e mentais, incluindo o
TEA.
A partir disso, foi considerado que a dança com os seus benefícios atrelados
seria capaz de estimular o desenvolvimento motor de crianças e adolescentes com
10
TEA, podendo ser trabalhadas também na escola através das abordagens
pedagógicas da Educação Física: Psicomotricidade e Desenvolvimentista, tendo em
vista os seus objetivos de atuação em campo.
Justifica-se esse estudo considerando que poucos trabalhos foram realizados
sobre o tema e, neste, propõe-se a análise e discussão da dança sendo utilizada
como um método terapêutico não farmacológico, para o aprimoramento do
desenvolvimento motor, visando a interferência na capacidade de expressão
corporal e comunicação por meio de gestos de pessoas com Transtorno do Espectro
Autista.
Contudo, realizou-se um estudo com metodologia de caráter qualitativo e
descritivo sobre os impactos positivos e negativos da dança utilizada como um
método terapêutico na vida de crianças e adolescentes com TEA, especificamente
no desenvolvimento de suas habilidades motoras.
Este tema foi escolhido com base em outras pesquisas realizadas
anteriormente sobre o tema, a fim de produzir uma obra que contivesse o máximo de
informações possíveis a serem encontradas nas delimitações propostas. Para isso,
o tipo de abordagem escolhida para contemplar o objetivo de melhor forma, foi a
revisão bibliográfica, vendo que esta é uma das abordagens de pesquisa mais
qualificada quando se trata de realizar uma compilação de conteúdos pré-existentes.
Os estudos selecionados para análise foram aqueles desenvolvidos sobre um
público de crianças e adolescentes, tendo em vista que são nessas fases da vida,
principalmente no caso das crianças, que acontecem em grande maioria o
desenvolvimento de suas habilidades motoras. No caso de crianças e adolescentes
com TEA, foi possível encontrar um número similar de artigos para ambas as fases,
e uma porção de artigos com a idade do público não especificada em números, onde
determinava apenas a fase de desenvolvimento em que se encontrava.
A Coleta de dados e Período de estudo ocorreu a partir de artigos e foi iniciada
em janeiro de 2018 utilizando como fonte as bases de dados PUBMED (MEDLINE),
BIREME (LILACS), SCIELO e Google Acadêmico, além de livros consultados na
Biblioteca do Centro Acadêmico de Vitória. A busca por novos artigos se deu até
novembro de 2018, visando a possibilidade de encontrar o máximo de teor possível.
11
Os principais descritores utilizados para esta pesquisa foram: autismo;
transtorno do espectro autístico; dança; dançaterapia; terapia de movimentos;
desenvolvimento motor; habilidades motoras; sistema de neurônio espelhos. Foram
combinados entre si, buscando composições que contivessem pelo menos mais de
um descritor em comum. O mesmo procedimento foi realizado para as suas versões
na língua inglesa: autism; autism spectrum disorder; dance; dance therapy;
movement therapy; motor development; motor skills; mirror neuron sistem.
Ao final das buscas, o resultado foi a escolha de artigos e livros que abordam o
tema de maneira semelhante, considerando os critérios de eliminação, abrangendo
todos os tópicos selecionados para análise e discussão no desenvolvimento deste
trabalho.
12
2 DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
2.1 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um agrupamento de desordens
neurológicas, responsáveis por afetar o desenvolvimento neuropsicomotor de
indivíduos. (TEIXEIRA-MACHADO, 2015) O transtorno recebe o nome de espectro
por envolver múltiplos fatores que se apresentam de maneiras diferentes de um
indivíduo para o outro, sempre se mantendo em uma linha gradativa (BRUNA,
2014), que é construída considerando desde os sintomas mais leves, até os mais
graves.
O nome TEA foi tecnicamente determinado pelo DMS-5, o Manual de
Diagnósticos e Estatísticas de Transtornos Mentais, para denominar o autismo e
outras síndromes com características similares, tais como: a síndrome de Asperger e
o Transtorno Global do Desenvolvimento sem Outra Especificação que pode ser
abreviado como PDD-NOS (sigla em inglês) ou TID-SOE (sigla em português)
(JOHNSON; MYERS, 2007).
As características de uma pessoa com TEA começam a serem firmadas a partir
dos seis anos de idade, porém, antes disso, por volta dos dois a três anos é que elas
já podem ser identificadas e diagnosticadas (ROGERS, 2009). Há, também, a
possibilidade, segundo Stefanatos (2008), de que algumas crianças se desenvolvam
e alcancem o marco do desenvolvimento esperado até determinada idade, mas
depois regridam.
Para Assumpção e Pimentel (2000), são muitas as características relacionadas
ao TEA, porém existem pelo menos três delas que se sobressaem em relação as
demais, que podem se manifestar de forma isolada ou em conjunto. São elas:
dificuldade em comunicar-se verbal e não verbalmente; comportamentos repetitivos
de movimentos e dificuldade na interação social (PECTRUS; et. al., 2008).
Além disso, as crianças exibem dificuldade na capacidade de imitar gestos e
dificuldade de expressar-se utilizando gestos espontaneamente, tendo assim a
interação social prejudicada e reduzida (INGERSOLL; SCHREIBMAN, 2006).
13
Para Baghdadli et. al. (2012), quando se trata de comunicação verbal, parte
das crianças com TEA, até a sua vida adulta, não são capazes de desenvolver uma
oratória satisfatória que consiga contemplar suas necessidades diárias de
comunicação. Além de que seus gestos são menos frequentemente integrados às
palavras caracterizando, também, uma disfunção na sua comunicação não-verbal
(LANDA, 2007). A ecolalia é muito presente a partir dos três anos, onde as crianças
são mais propensas a repetir palavras e balbucios ao invés de se expressar
autonomamente (FERNANDES, 2008).
Os comportamentos repetitivos estão presentes em basicamente todos os
indivíduos com TEA e, segundo a Repetitive Behavior Scale-Revised (RBS-R), os
comportamentos repetitivos mais comuns são: comportamento ritualista;
uniformidade; comportamento compulsivo; estereotipia; comportamento restrito e
automutilação. Não aparecem todos em um único indivíduo, mas podem aparecer
um ou mais de um por indivíduo (LAM; AMAN, 2007).
Déficits sociais distinguem o autismo dos transtornos do espectro do autismo
de outros transtornos do desenvolvimento (RUFIN e TUCHMAN, 2008). Nesta
vertente que contempla a interação social, o indivíduo sente extrema dificuldade em
se comunicar por não entender o que as outras pessoas querem dizer, no sentido de
que para a comunicação acontecer, a expressividade oral deve ser realizada com
muita literalidade, para que a pessoa com TEA possa compreender o que lhe está
sendo passado (ATYPICAL, 2017).
O TEA é um transtorno de caráter altamente hereditário e tem a capacidade de
afetar o processamento de informações no cérebro, alterando a forma como as
células nervosas e suas sinapses se conectam e se organizam; como isso ocorre
ainda não é bem compreendido (LEVY et. al., 2009).
Estudos mostram que a embora o TEA possua uma base patológica
desconhecida, alguns autores consideram que parte da condição desta patologia,
voltada a disfunção de estímulos sensoriais, está no mau funcionamento do sistema
de neurônios espelho.
14
2.2 SISTEMA DE NEURÔNIOS ESPELHOS
O sistema de neurônios espelhos (SNE) foi descoberto no fim da década de
1990 pela equipe de neurocientistas liderada por Giacomo Rizzolatti, Leonardo
Fogassi e Vittorio Gallese (FERREIRA; CECCONELLO; MACHADO, 2015).
Para Gaselle (2005), os neurônios espelho foram associados a muitas
modalidades do comportamento humano: imitação, aprendizado de novas
habilidades e leitura da intenção em outros humanos; e a sua disfunção poderia
estar envolvida com a gênese do autismo (RAMACHANDRAN; OBERMAN, 2006).
Em um estudo, o sistema de neurônios espelhos é detalhado por Lameira;
Gawryzewski e Pereira (2006, p. 129):
Os neurônios espelho desempenham uma função crucial para o comportamento humano. Eles são ativados quando alguém observa uma ação de outra pessoa. O mais impressionante é o fato desse espelhamento não depender obrigatoriamente da nossa memória. Se alguém faz um movimento corporal complexo que nunca realizamos antes, os nossos neurônios-espelho identificam no nosso sistema corporal os mecanismos proprioceptivos e musculares correspondentes e tendemos a imitar, inconscientemente, aquilo que observamos, ouvimos ou percebemos de alguma forma.
Muitos pesquisadores de neurociência cognitiva consideram que este sistema
fornece o mecanismo psicológico para a interação da percepção com a ação
(MACHADO, 2015).
Os neurônios espelho podem ser importantes para compreender a ação de
outras pessoas e para aprender novas aquisições motoras mediante a imitação.
Problemas neste sistema constituem a base de desordens cognitivas como o
autismo (DINSTEIN; THOMAS; BEHRMANN, et. al., 2008).
Estudos sugerem que atividades individuais e grupais de caráter imitativas
como a dança possuem grande eficácia no estímulo de melhor funcionamento do
sistema de neurônio espelhos.
15
2.3 DESENVOLVIMENTO MOTOR E TEA
2.3.1 FASES DO DESENVOLVIMENTO MOTOR
Ao falar do desenvolvimento geral de crianças e adolescentes, vemos que o
desenvolvimento motor tem forte presença nesta fase da vida e a busca é sempre
por meios e alternativas que auxiliem no alcance da sua capacidade máxima.
Para Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), o desenvolvimento motor é a
mudança contínua do comportamento motor ao longo do ciclo da vida, provocada
pela interação entre as exigências da tarefa motora, a biologia do indivíduo e as
condições do ambiente.
Para certas fases da vida é esperado que o ser humano consiga efetuar
algumas ações que estariam de acordo com a desenvoltura motora proposta para a
sua faixa etária, e através disso foram montadas perspectivas de fases de
desenvolvimento pelas quais os indivíduos pudessem mensurar os níveis de avanço,
podendo assim saber se estaria atingindo o que é esperado para a sua idade.
A figura abaixo mostra as fases do desenvolvimento citadas por Gallahue e
Ozmun (2003):
Figura 1: Ampulheta das fases do desenvolvimento motor.
Fonte: Gallahue; Ozmun, 2003.
16
Como mostrado na figura 1, são quatro fases do desenvolvimento: fase motora
reflexiva, fase motora rudimentar, fase motora fundamental e fase motora
especializada.
A fase motora reflexiva compreende a primeira fase do desenvolvimento motor
humano. É nela que, como o nome já diz, a predominância será de reflexos; que vai
desde a vida intrauterina até um ano de idade. “Os movimentos reflexos são reações
involuntárias do corpo a várias formas de estimulação externa” (GALLAHUE;
OZMUN; GOODWAY, 2013, p. 140). Além de que “os movimentos involuntários
presentes nos bebês servem como base para movimentos voluntários futuros”
(GOMES; MAGALHÃES; MAIA, 2015, p. 20).
A fase motora rudimentar é a segunda fase do desenvolvimento motor e para
Gomes, Magalhães e Maia (ibidem), os primeiros movimentos voluntários são os
movimentos desenvolvidos nesta fase, que compreendem movimentos básicos que
acontecem de maneira previsível, como movimentos estabilizadores e tarefas
manipulativas, mas o nível de desenvolvimento dessas habilidades varia de uma
criança para outra. Esta fase se dá desde o nascimento até pelo menos dois anos
de idade.
A fase motora fundamental compreende a terceira fase. Nesta – que vai dos
dois anos até sete anos de idade – a criança possui um acervo maior de
movimentos voluntários, mas desta vez, específicos. É o período em que a criança
está descobrindo como desempenhar uma variedade de movimentos
estabilizadores, locomotores e manipulativos, primeiro de forma isolada e mais tarde
executando movimentos combinados (GALLAHUE; OZMUN, 2003).
A fase motora especializada é a quarta fase, onde os movimentos voluntários
agora também são complexos. Compreende desde os sete anos até os quatorze
anos por diante e “Esse é o período em que as habilidades estabilizadoras,
locomotoras e manipulativas fundamentais são progressivamente refinadas,
combinadas e elaboradas para uso em situações crescentemente exigentes”
(GALAHUE; OZMUN, 2003, p. 105).
17
2.3.2 HABILIDADES MOTORAS E TEA
Desde cedo algumas crianças com TEA já apresentam sintomas de disfunção
motora e danos sensoriais (ASSUMPÇÃO; PIMENTEL, 2000), que quando
identificados, podem ser trabalhados com a intenção de diminuir os impactos
negativos sobre o desenvolvimento da criança.
Muitos indivíduos com TEA demonstram habilidades superiores de percepção e
atenção, em relação à população em geral (PLAISTED; DAVIS, 2009). Em
contrapartida, embora possuam estas habilidades superiores, isso trará consigo
algum déficit de inteligência que poderá ter influência nas suas respostas sensoriais
(GESCHWIND, 2009).
Um estudo longitudinal realizado com famílias do Vale do Silício da Holanda
mostrou que a maior incidência de nascimentos de crianças com TEA se dá em
famílias em que pais e mães possuem o nível de inteligência superior, ou seja, foi
constatado que a hereditariedade da patologia está diretamente relacionada aos
genes que provém inteligência ao indivíduo.
Ao falar de bagagem corporal, estima-se que 60%–80% das pessoas com TEA
possuem sinais motores que incluem tonicidade muscular pobre, falta de
planejamento motor e andar na ponta dos pés. (GESCHWIND, ibidem.) Além de que
déficits na coordenação motora existem em todo o TEA e são maiores no autismo
propriamente dito (FOURNIER et. al., 2010).
Para Cunha (2010), crianças com TEA possuem dificuldades no
desenvolvimento motor, tendo em vista que, boa parte das habilidades motoras
desenvolvidas na fase fundamental partem também de estímulos que são gerados a
partir de atividades grupais, sendo estas negligenciadas graças a dificuldade de
sociabilização do indivíduo com TEA.
Para a elaboração de atividades para crianças que possuem um atraso no seu
repertório de movimentos e na interação social, se faz necessário após o diagnóstico
de TEA dado por profissionais da saúde, uma avaliação do nível de desenvolvimento
do indivíduo a fim de atender melhor às expectativas de evolução individual das
crianças em aulas. Para isto existem muitos testes que abrangem características
18
desde o repertório motor até a sociabilização, nível de intelecto, nível de
comunicação, entre outras.
Dessa forma, a avaliação do desenvolvimento motor de uma criança pode ser feita de diversas maneiras, por meio de vários métodos e instrumentos de avaliação que englobem avaliações da coordenação corporal, da motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal organização espacial e temporal, fazendo então um trabalho voltado para as carências encontradas no indivíduo, e, por meio das avaliações, obter intervenções que tragam resultados positivos, pois essa é a finalidade de qualquer avaliação (SOARES; CAVALCANTE NETO, 2015, p. 448).
Muitos profissionais da área da saúde a da educação possuem o subsídio para
identificar nos indivíduos as características que estão atreladas a essa patologia.
Através disso, é que se podem direcionar atividades específicas que auxiliem no
desenvolvimento neuropsicomotor de pessoas com TEA.
Intervenções terapêuticas direcionadas ao estímulo sensorial, como a dança,
tem mostrado resultados positivos no tratamento de crianças e adolescentes com
TEA, uma vez que ela é responsável por estimular a sensação, percepção e
consequentemente predispor a ação.
Conforme as pesquisas sobre o tema avançam, mais terapias e metodologias
de ensino são exploradas como meio de intervenção para a melhoria da qualidade
de vida da pessoa com TEA.
19
3 A DANÇA
3.1 HISTÓRICO DA DANÇA NO BRASIL
O Brasil é um país conhecido por sua grande diversidade cultural construída ao
longo dos séculos e passada de geração para geração. Essa diversidade cultural se
expressa em inúmeras vertentes que fazem do país um local tão rico e atrativo, que
se torna difícil entender o quão contemplados são aqueles que podem conhecer um
pouco da sua riqueza.
Dentre essas riquezas culturais, pode-se citar a dança como uma forte
expressão do país, caracterizando, não apenas suas origens, mas também, as
peculiaridades de cada região com sua arte, cultura e danças típicas regionais,
estaduais e, ainda, brasileiras; mesmo com a influência de outros países, pode-se
encontrar elementos que substanciam a diversidade ao acervo de danças
brasileiras.
Ao falar da origem da dança no Brasil, nota-se que não há exatamente um
lugar específico que possa ser descrito como local do surgimento da mesma. Por se
tratar de um país de grande extensão territorial, acredita-se que a construção e
desenvolvimento desta prática se deu concomitantemente em várias partes dele
com ou sem a influência dos povos vindos de outras nações.
A chegada dos europeus e, posteriormente, dos africanos a América do Sul foi
um dos fatores responsáveis pela criação de um cenário de influências multiculturais
que serviu de subsídio para a progressão da dança com inúmeros propósitos
diferentes.
Segundo, Boucier (1999), a dança possuía a característica ritualista e
cerimonialista, onde povos e nações a utilizavam como um meio de se comunicar
com deuses e entidades com a intenção de pedir algo ou agradecer o que lhes foi
dado; além de que a dança também sempre esteve presente em rituais fúnebres,
educação de crianças, festas e treinamento militar, ou seja, no Brasil, não poderia
ser diferente.
20
Com o passar dos séculos, o trânsito de imigrantes de outras partes do mundo
no Brasil, garantiram o acesso a inúmeras novas culturas que tiveram grande
influência e impacto sobre a dança.
Segundo Nanni (1995), considerando-se os dados históricos, a dança pode ser
classificada em: Étnicas, folclóricas, danças de salão ou sociais e dança teatral ou
artística.
Os primeiros apontamentos da dança, como elemento de construção cultural
do homem, surgiram nos primórdios por meio de registros de gravuras em paredes
de cavernas e outras superfícies. Após muitos anos de estudo, historiadores foram
capazes de identificar tais desenhos como movimentações rítmicas, com diversas
propriedades (DARIDO; RANGEL, 2014).
Ainda, há relatos de que a dança começou a ser civilizada quando os Jesuítas
chegaram ao Brasil e deram início a catequização dos índios, fazendo com que as
populações indígenas se organizassem em grupos e realizassem coreografias para
eventos em comunhão com os Jesuítas, dando origem as danças com influência de
brasileiros nativos. Vê-se posteriormente que a dança como um elemento cultural
começou a ser modificada sob a influência de escolas de balé vindas da Europa e
outras partes do mundo.
Para Ferreira (2012), há indícios que no início do século XX foi fundada a
primeira escola de dança do Brasil, estando ela situada na cidade do Rio de Janeiro,
trazendo consigo incontáveis características das escolas europeias de balé. Nas
décadas de 20 e 30, algumas professoras ministravam aulas de balé em clubes da
cidade. Declaradamente, elas nunca tiveram a intenção de formar bailarinas
profissionais, mas sim promover aulas de postura e etiqueta para moças de elite da
cidade (PEREIRA, 2003).
Por outro lado, alguns bailarinos com um propósito de caráter artístico,
trabalharam com a intenção de construir espetáculos com características similares
às do teatro e musicais, como também, aos espetáculos que antes eram
apresentados por companhias de dança estrangeiras.
21
No Brasil, a vertente da dança ligada à Educação Física surge neste período,
por agregação de movimentos ginásticos às suas bases elementares, geralmente
ofertadas por bailarinas vindas do exterior.
Em sequência, esse modelo híbrido de abordagem foi sendo incorporado a
formação dos professores de educação física, tendo em vista o aprimoramento de
suas práticas docentes. Como resultado, temos a dança sendo atribuída as aulas de
Educação Física, sendo elas promovidas em escolas com a proposta educacional,
ou em clubes e academias, com o propósito de melhoramento da estética e
promoção de saúde.
Para Darido e Rangel (2014), embora o Brasil seja um país conhecido por sua
diversidade de manifestações rítmicas, são poucos os incentivos ao aprofundamento
de estilos específicos de danças (...) talvez por haver uma limitação na educação
para a dança.
Ao observar que a dança é capaz de abranger inúmeras vertentes do
conhecimento, torna-se válido avaliá-la como um objeto que pode ser aplicado no
contexto de cuidar e educar crianças de todas as idades. Mendes (1985), enfatiza
que a dança é capaz de expressar todas as emoções humanas sem o auxílio da
palavra, pois pode tudo expressar, revelando-se como arte, imagens e associações
cheias de riqueza e vitalidade, uma forma de comunicação, estado de espírito,
sentimentos e sensações.
No entanto, a dança e o movimento possuem uma ligação que inicia desde a
vida intrauterina. Nela ocorre os primeiros movimentos que levam o ser humano a se
expressar, sendo assim, sendo compreendido e entendendo as primeiras
manifestações do indivíduo. Assim, pode-se dizer que o movimento é a base da
dança, o elemento principal a ser trabalhado, lapidado e aperfeiçoado, como uma
habilidade básica de movimento (BAMBIRRA, 1993).
Portanto, a dança e o movimento podem ser elementos que educam,
expressam e libertam a busca de valores, sensibilidade, linguagem corporal, como
também, força, resistência, impulso e desaceleração ao movimento, sendo ainda
utilizados como forma de terapia.
22
Por isso, não somente como demonstração de gestos corporais, a dança está
ligada ao respeito e ao modo com que o corpo se movimenta e, mais do que isso, a
uma construção, organização, transformação e projeção do Ser no tempo e no
espaço como fator de comunhão cultural, social e intelectual (NANNI, 1995).
3.2 A DANÇA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR BRASILEIRA
Ao falar sobre a educação básica, a qual é oferecida desde a educação infantil
até ensino médio, sabe-se que na Educação Física enquanto componente curricular,
tem a dança inserida como um de seus componentes obrigatórios. Entretanto, ainda
são encontradas muitas dificuldades para a realização desta prática na escola.
Além da dança, também são ditos como pilares da Educação Física os
esportes, os jogos, as lutas e as ginásticas. Para Cunha (1992), a dança merece
destaque junto às outras práticas da Educação Física, uma vez que as mesmas se
complementam.
Compreendendo que a dança pode ser precursora de diversos benefícios, para
os alunos através da sua prática no ambiente escolar. Dentre os benefícios da
prática da dança na escola, pode-se salientar o aprimoramento do repertorio motor,
a melhora da expressividade corporal, afetividade e interação social, como avaliado
por Alves e Andrade (2013, p.1):
A dança é um conteúdo fundamental a ser trabalhado na escola: com ela, podem-se levar os alunos a conhecerem a si próprios e os outros; a explorarem o mundo da emoção e da imaginação; a criarem; a explorarem novos sentidos, movimentos livres. Verifica-se assim, as infinitas possibilidades de trabalho para o aluno com sua corporeidade por meio dessa atividade.
Considerando a afirmação dos autores Alves e Andrade (2013), é possível
perceber que através da prática da dança pode-se oportunizar ao aluno, uma maior
aquisição do conhecimento sobre seu corpo, seus sentimentos e a relação para com
a sociedade, no qual o professor de Educação Física na escola demonstra um papel
importante para o incentivo desta prática, através de suas aulas, gerando assim a
oportunidade e ambiente favorável a vivência da dança.
23
3.3 A DANÇATERAPIA E TEA
Para Resende (2008), a dança utilizada como um instrumento terapêutico – ou
dançaterapia – trata-se de um modelo de intervenção onde o praticante busca
desenvolver suas habilidades motoras e expressividade artística através de
sequências de movimentos e dinâmicas individuais ou em grupo. Orientadas pelo
instrutor da terapia, tem o objetivo de que ao final de cada sessão – ou de um
conjunto de sessões – o indivíduo possa ter aprimorado a percepção sobre o seu
próprio corpo em movimentos específicos ou globais além de desenvolver-se
intelectualmente, tendo lhe atribuindo a capacidade de aceitação corporal,
desinibição, expressividade, autocontrole, concentração, interação social, dentre
outros.
Desenvolvida por María Fux, bailarina argentina de renome mundial, a
dançaterapia tem a proposta integrativa, tendo em vista incluir um público
diversificado que, na maioria das vezes, é excluído das propostas de atividades
artísticas, em ambientes com indivíduos neurotípicos dominantes em quantidade.
Este público diversificado inclui pessoas com Síndrome de Down, surdos, pessoas
com deficiência mental e física, idosos, entre outros (MARÍA FUX, 1988).
Diferente da metodologia tradicional do ensino da dança, os novos métodos de
trabalhar a dança como um instrumento terapêutico, conta com algumas
especificidades que possuem a intenção de garantir uma melhor qualidade e
aproveitamento da terapia. Essas especificidades incluem desde a - escolha do
ambiente onde serão executadas as sessões, até o tipo de atividades que são
aplicadas, considerando faixa etária dos participantes, a bagagem corporal e
emocional e o objetivo a ser atingido (VIANNA, 1998).
Foi analisado também que a dançaterapia é um trabalho que contempla muitas
áreas de estudo, por isso são muitos os profissionais envolvidos nesta prática. Seu
trabalho engloba não só os profissionais da saúde, como fisioterapeutas e
psicólogos, mas se amplia para diversas áreas, como as artes, a educação e
ginásticas (WIKIDANÇA, 2013).
Com o passar do tempo e com as análises feitas, foi observado que o método
continha a capacidade de intervir de forma terapêutica no indivíduo praticante da
24
modalidade, capacitando o método como um meio de intervenção a ser
experimentado no tratamento de diversas patologias físicas e mentais, incluindo o
TEA.
Segundo Machado (2015), na pessoa com TEA, a dança como terapia favorece
o desempenho gestual e motor, principalmente no equilíbrio e na marcha, além de
contribuir para a melhora da qualidade de vida do indivíduo. Outros estudos
ressaltam a importância do movimento rítmico no desenvolvimento de habilidades
motoras negligenciadas por causa da condição do espectro autista.
É importante ressaltar que a dançaterapia, em sua particularidade, busca
atender à necessidade específica do praticante, e para isso as aulas podem ser
moldadas de acordo com a demanda. Para o caso do indivíduo com TEA, foi
analisado que as sessões podem ser oferecidas individualmente ou em grupo
visando melhoras na capacidade de interação pessoal do indivíduo.
Um estudo realizado por Machado (2015) sugere que ao depender do nível de
autismo do praticante, as sessões de dançaterapia podem iniciar-se individualmente,
para que não haja inibição ou resistência do praticante. Além de que se faz
necessário um ambiente específico para desenvolvimento do trabalho sem
interferência do meio externo, a maneira que desvie a atenção do participante das
atividades.
Em adição a isso, outros estudos sugerem a realização das sessões de
dançaterapia em grupo, visando não só o aprimoramento das capacidades e
habilidades motoras, mas também a interação social, como foi relatado nos
resultados de um estudo realizado por (WOLFF, ARRIECHE; SOUZA, 2012, p. 05):
Os pais relataram achar importante a realização das aulas de dança
visto que contribuem com o bem estar da criança, tornando-a mais feliz. Outro aspecto citado foi que a dança auxiliou na coordenação motora e na relação interpessoal, pois as crianças passaram a ter mais contato com outras crianças.
Também, foi observado, que a faixa etária dos participantes influencia
também na receptividade do tratamento, tendo em vista que os comandos dados a
crianças e adolescentes serão entendidos e absorvidos de acordo com a sua fase
de desenvolvimento e também a gravidade no seu nível de autismo.
25
Um estudo, realizado com uma criança de dez anos de idade, mostrou
resultados significativos no seu desenvolvimento sócio-emocional, considerando que
esse alcance deveu-se ao interesse apresentado pela criança na progressão das
atividades. Enquanto outros estudos trazem a interferência positiva da dançaterapia
no desenvolvimento motor e expressividade corporal das crianças e principalmente
adolescentes.
Vale salientar que a maioria dos estudos encontrados se trata de estudos de
caso, por isso os resultados se atentam a particularidade de cada indivíduo
estudado. Além de que ainda são poucos os estudos desenvolvidos retratando a
dançaterapia no tratamento das condições atribuídas a pessoas com TEA, no
melhoramento da sua qualidade de vida e no seu desenvolvimento motor, mas ainda
um levantamento pôde ser feito incluindo bons resultados desta prática.
26
4 ABORDAGENS PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NO
ENSINO DA DANÇA
4.1 PSICOMOTRICIDADE
Psicomotricidade, segundo Ferreira (2004, p. 1654), é a capacidade de
determinar e coordenar mentalmente os movimentos corporais; a atividade ou
conjunto de funções psicomotoras.
Para a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (1999), a mesma é definida
como:
Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. É sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto (SBP, 1999).
Também conhecida por educação psicocinética ou educação psicomotora, se
trata de uma proposta divulgada inicialmente em programas de escolas especiais
para alunos portadores de deficiência física e mental (DARIDO; RANGEL, ibidem).
Nesta modalidade, a atenção é voltada para o desenvolvimento da criança,
considerando sua aprendizagem, processos afetivos, cognitivos e psicomotores,
visando a construção integral do desenvolvimento do aluno.
Esta modalidade é a primeira a ser inserida por volta dos anos 70 em
contraposição aos modelos anteriores (DARIDO; RANGEL, 2014). Tornando-se
assim, relevante em alguns programas de Educação Física escolar.
É valido salientar a importância que a psicomotricidade representa para
educação de movimentos da criança, pois essa é uma alternativa que permite o
autoconhecimento do seu leque de atitudes voluntárias, possibilitando-lhe uma
imagem própria, auxiliando para construção da sua personalidade, como descrita
por Le Bouch apud Darido e Rangel, (2011, p. 8):
Assim, a psicomotricidade defende uma ação educativa que deva ocorrer a partir dos movimentos espontâneos da criança e das atitudes corporais, favorecendo a gênese da imagem do corpo, núcleo central da personalidade. A educação psicomotora, na opinião do autor, refere-se à formação de base indispensável a toda criança, seja ela normal ou com problemas, e responde a uma dupla finalidade; assegurar o desenvolvimento funcional, tendo em conta
27
possibilidades da criança ajudar sua afetividade a expandir-se e equilibrar-se, através do intercâmbio com o ambiente humano.
A proposta como um todo é garantir ao aluno que ele possa realizar atividades
que estimulem o seu desenvolvimento corpóreo e também seu intelecto, fazendo
com que mais de uma qualidade seja explorada e aprimorada concomitantemente a
fim de prover ao aluno uma experiência integralizada do seu desenvolvimento na
escola.
No caso da dança, a psicomotricidade se torna uma alternativa de abordagem
pedagógica com indícios de grande efetividade, uma vez que, nas atividades
elaboradas considerando essa metodologia, o aluno será capaz de desenvolver
habilidades motoras que estão diretamente relacionadas à dança, tais como, a
lateralidade, noção de tempo e espaço, direção e sentido, afetividade e reflexão do
movimento.
4.2 ABORDAGEM DESENVOLVIMENTISTA
Este tipo de abordagem, como o nome já diz, é a que busca o desenvolvimento
da bagagem de movimentos corporais da criança, reconhecendo que as mesmas
são seres totalmente integrados com características motoras, cognitivas e afetivas e
buscando caracterizar a progressão normal do crescimento físico. Esta é a
abordagem que reconhece as individualidades e se atenta ao encorajamento da
singularidade.
Segundo Gallahue (2008), esta abordagem tem por objetivo enfatizar a
aquisição de novas habilidades de movimento e crescente competência física
baseada no nível desenvolvimentista único do indivíduo, baseando-se na proposição
central de que cada criança possui seu próprio timing e padrão de crescimento e
desenvolvimento.
Para os principais autores que defendem esta abordagem, a Educação Física
tem o papel de proporcionar ao aluno as condições para que o seu acervo de
comportamento motor seja desenvolvido, oferecendo experiências de movimentos
que sejam adequadas para sua faixa etária, tendo sua eficácia mensurada por meio
de parâmetros pré-estabelecidos, como mostra Darido e Rangel (2011, p. 9):
28
Foi proposta uma taxionomia para o desenvolvimento motor: o estabelecimento de uma classificação hierárquica dos movimentos dos seres humanos durante seu ciclo de vida, desde a fase dos movimentos fetais, espontâneos e reflexos, rudimentares e fundamentais, até a combinação de movimentos fundamentais e culturalmente determinados.
É válido ressaltar a importância que, assim como em outras metodologias de
ensino, o professor possui na aplicabilidade desta abordagem, sendo ele
responsável pela observação sistemática do comportamento motor dos seus alunos,
visando a identificação de qual fase se encontram e se há erros a serem corrigidos
durante o desenvolvimento do processo.
“Os autores mostram-se preocupados com a valorização do processo de
aquisição de habilidades, evitando o que dominam imediatismo e a busca do
produto” (DARIDO; RANGEL, ibidem)
Para o ensino da dança, na abordagem desenvolvimentista se vê na criança a
oportunidade de utilizar seu repertório motor e se expressarem de modo único
(GALLAHUE, 2008).
Por se tratar de uma forma de movimento expressivo, atende as expectativas
da abordagem voltadas para a unicidade da criança, garantindo a oportunidade da
utilização do corpo como um instrumento de comunicação e auto-expressão, desde
as danças estruturadas como as danças criativas.
29
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No Brasil, ao falar da parte da população composta por pessoas com TEA, vê-
se que muitos são aqueles que não compreendem a importância de ações voltadas
para este público em específico. Assim, como outras deficiências, esta é uma que
necessita de atenção especial visando que são seres humanos que fazem parte da
nossa sociedade merecendo os mesmos direitos.
Para exemplificar isto, pode-se notar no corpo do texto a referência às
pessoas com esta deficiência sempre como pessoas com TEA, salientando que,
antes de qualquer deficiência que alguém possua ou venha a possuir, existe uma
pessoa; um sujeito que carrega consigo uma bagagem emocional, uma história e
uma personalidade que merece respeito e tratamento com equidade.
Na sociedade, sabe-se que os indivíduos considerados neurotípicos – termo
utilizado para identificar pessoas sem TEA – possuem dificuldade de identificar e se
relacionar com indivíduos com TEA e principalmente a dificuldade de reconhecer
que embora eles precisem de uma atenção especial, são pessoas que podem ser
inseridas no dia a dia de uma sociedade desenvolvida desde que possuam seus
espaços e peculiaridades respeitadas.
Por isso, a proposta inicial do trabalho foi levantar a discussão sobre um
problema, que por mais que esteja presente na vida de milhões de brasileiros, ainda
se torna negligenciado e obsoleto muitas vezes até por falta de informação.
Trazendo para a realidade que atinge diretamente os mais próximos, pode-se
fazer uma análise do que se está sendo feito para garantir uma melhor qualidade de
vida para aqueles que são pouco representados.
Como mencionado por autores no desenvolvimento do trabalho, ao falar das
particularidades das pessoas com TEA, pode-se identificar além das dificuldades
relacionadas ao intelecto, dificuldades relacionadas com o desenvolvimento do seu
comportamento motor e da sua expressividade e comunicação em meio a
sociedade.
Para isto, na tentativa de solucionar problemas como este, surgem
possibilidades de melhoramento das condições em que o indivíduo é sujeito a se
30
desenvolver, começando pelos estímulos ofertados no primeiro círculo social a qual
a pessoa é exposta: a família.
Antes de qualquer coisa, se faz necessário o diagnóstico do indivíduo para
identificar qual das patologias dentro do TEA ele se encaixa. A primeira identificação
será feita pela família, que encontrará na criança atrasos no desenvolvimento da
fala, do comportamento motor e lacunas na interação social. A partir disso, já se vê a
necessidade da família no reconhecimento e identificação do nível de
desenvolvimento em que a criança deve se encontrar ao atingir determinada faixa
etária.
Após o diagnóstico, se faz necessário uma análise, de como será possível
introduzir no dia a dia destes indivíduos, um modelo de vida similar ao que é
oferecido aos neurotípicos, que estão presentes na nossa sociedade em grande
escala.
Tendo em vista as disfunções associadas ao aparato motor da pessoa com
TEA, alternativas vão sendo buscadas na intenção de proporcionar a estes
indivíduos o desenvolvimento da sua capacidade máxima, utilizando-se de artifícios
acessíveis e de fácil compreensão de funcionamento, para que esteja ao alcance de
todos os necessitados.
A dançaterapia foi avaliada como um objeto que possui a capacidade de
influenciar diretamente o melhoramento da aquisição de habilidades motoras em
indivíduos neurotípicos e com TEA. Não só sendo considerada eficaz neste quesito,
mas também sendo associada ao aprimoramento da interação social, que antes se
via comprometida pelas disfunções associadas à patologia.
Considerando que o trabalho teve como público avaliado pessoas com TEA, as
considerações dos benefícios da dançaterapia serão voltadas a este público.
No âmbito da Educação Física, a Dança está presente como conteúdo a ser
trabalhado na escola desde as séries iniciais até as últimas da educação básica,
tendo em vista que ela é uma das áreas mais responsáveis pelo desenvolvimento da
criança, englobando desde questões motoras, até cognitivas e afetivas.
31
Quando se trata da educação para pessoas com TEA, vê-se que a dança
quando trabalhada na forma de terapia, possui grande eficácia em vários aspectos já
citados anteriormente. A análise que precisa ser feita é até que ponto esta
modalidade de dança é ofertada para o público em geral e principalmente pessoas
com TEA.
A aplicação da dançaterapia possui benefícios que se estende além dos
benefícios da dança tradicional. Não se trata de uma modalidade vaga, de objetivos
redundantes, mas sim de uma prática inovadora que engloba várias outras
modalidades de dança, como a dança criativa e a dança educação a fim de
estimular o praticante sempre com algo novo, fugindo do tecnicismo, das regras e de
aulas que se tornam cansativas e desestimulantes; é uma modalidade que consegue
alcançar o participante de dentro para fora, estimulando seus desejos voluntários e
involuntários, pois é nela que a pessoa pode se redescobrir, fazendo coisas que
achou que nunca seria capaz de fazer.
Porém, por ser uma modalidade de dança pouco difundida e com algumas
peculiaridades, se vê que não faz alcance de um público que poderia ser muito
beneficiado com a sua prática.
O grande questionamento é para entender como uma prática eficaz no
alcance dos seus objetivos se encontra sendo tão negligenciada a ponto de
profissionais da área da Educação Física não possuírem o conhecimento mínimo
sobre ela.
Sabe-se que a dançaterapia tem grande incidência de aplicabilidade nas
academias e principalmente espaços voltados unicamente para a prática da dança;
também em espaços teatrais, vendo que esta também é um estilo de dança que
vislumbra a criatividade, onde o aluno tem liberdade para “fazer o que quer”. Em
decorrência disso, sabe-se que desde quando foi criada, a dançaterapia possuía a
intenção de atrair pessoas que não participavam por não se encaixar no padrão de
dançarinos, incluindo principalmente pessoas com deficiências e, não menos
importantes, pessoas com TEA.
Tendo em vista que já possui uma eficácia comprovada na no
desenvolvimento motor de pessoas com TEA, a proposta seria inserir a dançaterapia
32
na vida dessas pessoas desde o seu primeiro contato com a sociedade, que para
muitas crianças em geral, esse primeiro contato se dá através da frequência à
escola.
Para levar em consideração a iniciação desta prática, devem-se analisar os
possíveis empecilhos que podem se tornar bloqueadores desta ação.
Como foi mencionado anteriormente, a dançaterapia possui particularidades
que pode tornar a sua aplicabilidade inviabilizada no ambiente escolar, uma vez que
muitas escolas não possuem um espaço dedicado para atividades como dança, e
muitas vezes nem se quer um espaço dedicado aos esportes e outras atividades
englobadas pela Educação Física.
A proposta seria a inserção das terapias em dança aos poucos e de maneira
flexível, moldando espaços para que ela pudesse ser adaptada à medida que as
pessoas pudessem vivenciá-la de maneira proveitosa, obtendo mais resultados
positivos do que negativos na sua aplicação.
Nesta etapa vê-se a importância da formação do Professor de Educação Física
na escola. Até onde se sabe, nos cursos de formação para professores, a
dançaterapia não é uma modalidade que é trabalhada em aula, vendo que é
necessária uma formação externa à faculdade, o que se trata de cursos, workshops
e afins. São cursos ofertados em grande escala em algumas regiões específicas do
país, mas que ainda se torna disponível através de cursos online e plataforma de
vídeos como o YouTube. Para estes em principal, se torna necessário checar a
procedência dos profissionais que difundem o conteúdo.
Referente às escolas, a preocupação principal está voltada para o ambiente no
qual as aulas de dançaterapia poderão ser realizadas. Em relação às escolas
particulares, imagina-se que algumas – poucas – podem fornecer o espaço
adequado para a realização das aulas, tendo em vista que a estruturação do
ambiente foge aos padrões de uma escola tradicional se assim se fizer desejado.
No caso de escolas públicas, sabe-se que a realidade da estruturação de um
ambiente para a realização destas aulas, está fora do alcance em muitas regiões do
país. Neste caso, já é de grande proveito quando a escola oferece ao menos um
espaço para a realização das aulas de Educação Física como um todo, que na
33
maioria das vezes se detém a uma “quadra”, muitas vezes não coberta, apenas com
o desenho no chão do que seria as demarcações de uma quadra poliesportiva, se
fazendo assim necessário, uma extrema adaptabilidade para que ao menos as
atividades mais comuns e conhecidas pelos alunos, possam ser vivenciadas.
Dando continuidade ao que se entende sobre a Dança na Educação Física
escolar brasileira, é necessário avaliar em qual contexto a dançaterapia pode ser
incluída nas aulas, sob as perspectivas das abordagens pedagógicas utilizadas
pelos professores.
As abordagens descritas no desenvolvimento do trabalho – Psicomotricidade e
Desenvolvimentista – foram as que mais demonstraram subsídio para trabalhar a
dançaterapia na escola, visando o desenvolvimento motor de crianças e
adolescentes com TEA. Sendo a abordagem Desenvolvimentista uma que se dedica
em grande escala ao desenvolvimento motor e aquisição de habilidades motoras da
criança; e a Psicomotricidade, a que vislumbra o funcionamento concomitante do
aparato motor e cognitivo, buscando o desenvolvimento completo do ser. Além de
que, ambas as abordagens são indicadas para aulas com crianças e adolescentes
das séries iniciais.
Ao atrelar estas abordagens às condições de uma pessoa com TEA, se faz
necessário entender até onde cada uma delas se mostra eficaz, e o porquê disto.
Na abordagem Psicomotricidade, pode-se enxergar a ligação direta de três
fatores que caracterizam a abordagem com as particularidades do TEA. Trata-se da
cognição, aparato motor e afetivo. Então, para o aluno com TEA, a Psicomotricidade
se torna efetiva a partir do momento que ela insere o aluno com TEA e suas
particularidades em uma aula que seja capaz de estimular estas três características.
Como a ideia da Psicomotricidade se dá na condição de desenvolver as três
partes em conjunto, se torna necessário a análise do funcionamento e aplicação das
atividades em etapas, para não sobrecarregar o aluno com TEA. Então há uma
construção de uma série de acontecimentos para trabalhar a psique do aluno,
partindo para o aprimoramento do seu aparato motor, até alcançar o seu afetivo,
realizando atividades que promovam a interação social do aluno com TEA em
relação ao seu meio.
34
Com a dançaterapia sendo trabalhada na perspectiva Psicomotora, o
desenvolver das atividades não seria diferente. A busca seria por um ponto onde os
objetivos de ambas as formas de trabalhar se encontrassem, sempre vislumbrando o
benefício da criança com TEA. Para isto, toda a preocupação desde com o
professor, até o ambiente e a preparação das aulas devem ser consideradas.
Em relação à abordagem Desenvolvimentista, como visto no seu conceito
anteriormente, ela estará mais voltada para todas as atividades que desenvolvam
habilidades motoras propriamente ditas. Tendo em vista que as atividades desta
abordagem possam ser trabalhadas, a depender do professor, de maneira que mais
do corpo seja exigido, se faz necessário analisar as possibilidades de atividades que
alcancem a atenção do aluno com TEA, mas sempre focando no desenvolvimento
das suas habilidades.
Para isto, uma construção do perfil das aulas terá que ser completamente
adaptada ao nível de desenvolvimento do aluno com TEA, sem deixar que atenda às
necessidades dos alunos neurotípicos.
Através disso é que se torna evidente a adaptabilidade da dançaterapia para
ser aplicada nas aulas de dança na escola. Uma vez que ela possibilita aos alunos
esta liberdade de expressão, através de comandos guiados, visando o melhor
encaminhamento da aula. Com base nisso, o aluno poderá desenvolver-se como um
ser completo, aprimorando habilidades negligenciadas e garantindo uma melhor
qualidade de vida.
A proposta desde trabalho é evidenciar que, mesmo com as dificuldades
encontradas no caminho a ser percorrido durante sua trajetória, a criança com TEA
terá mais possibilidades de desenvolver-se em sociedade, sendo beneficiado nas
suas características físicas, mentais e sócio-afetivas, se tornando um ser que não
precisa ser excluído porque é diferente, mas sim, um que pode ser tratado com
equidade e beneficiado pelos que vivem ao seu redor.
35
6 CONCLUSÃO
Concluiu-se com base nos estudos analisados que a dançaterapia possui
eficácia no desenvolvimento motor de crianças e adolescentes com TEA, além da
melhora da sua expressão corporal, auxiliando a comunicação e interação social.
E que para avaliar a eficácia destas aulas no ambiente escolar, se faz
necessário a iniciação da aplicabilidade desta modalidade de dança na escola,
iniciando pela preparação do professor de Educação Física, do ambiente escolar e
por fim, inserção deste modelo nas aulas considerando as abordagens pedagógicas.
36
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