UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE …de uso residencial, e foram confeccionados...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
CAROLINA DE SOUZA LEÃO MACIEIRA GESTER
LADRILHOS HIDRÁULICOS EM BELÉM: SUBSÍDIOS
PARA A SUA CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO
SALVADOR-BA
2013
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CAROLINA DE SOUZA LEÃO MACIEIRA GESTER
LADRILHOS HIDRÁULICOS EM BELÉM: SUBSÍDIOS PARA A SUA
CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Arquitetura e Urbanismo, da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal da Bahia,
como parte dos requisitos para a obtenção do grau de
Mestre em Conservação e Restauro.
Orientadora: Profª. Drª. Cybèle Celestino Santiago
SALVADOR-BA
2013
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CAROLINA DE SOUZA LEÃO MACIEIRA GESTER
LADRILHOS HIDRÁULICOS EM BELÉM: SUBSÍDIOS PARA A SUA
CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________________________
Profª. Dra. Cybèle Celestino Santiago (orientadora)
Doutora pela Universidade de Évora, Portugal
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – Universidade Federal da Bahia
__________________________________________________________________
Prof. Dr. Mário Mendonça de Oliveira
Título de Notório Saber em Arquitetura, Universidade Federal da Bahia
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – Universidade Federal da Bahia
___________________________________________________________________
Profª. Dra. Thais Alessandra de Bastos Caminha Sanjad
Doutora pela Universidade Federal do Pará, Brasil.
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – Universidade Federal do Pará
SALVADOR-BA
2013
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que me apoiaram e que contribuíram de alguma maneira,
para a realização deste trabalho. Principalmente à minha família, minha mãe, meu
pai (in memoriam) e minha irmã, por estarem sempre ao meu lado. Impossível
conseguir expressar o meu sentimento de gratidão.
Pai, agradeço por ter sido meu pai com toda força e essência da palavra, por
ter me incentivado, junto com a minha mãe, ir a busca dos meus sonhos. Hoje sei
que estás orgulhoso da minha conquista.
Ao tio João Cezar Moura, meus agradecimentos pelas passagens cedidas, de
tantas idas e vindas à Salvador, as quais permitiram presenciar momentos
importantes, mesmo que estes tenham sido difíceis, junto com a minha família.
Agradeço, em especial, ao meu noivo Rui Borges, por sua companhia
fortalecedora. Obrigada por estar sempre ao meu lado.
Aos professores Cybèle Santiago e Mário Mendonça, meus sinceros
agradecimentos pela confiança e pela dedicação a mim e ao meu trabalho.
Agradeço pela compreensão, devido a meus momentos de ausência. Minha
admiração por vocês motivou a minha ida à Salvador, assim como a enfrentar todas
as dificuldades.
Agradeço aos amigos baianos, pela ajuda e companhia. Com destaque as
amigas Sthefania Habeyche e Ana Cristian Magalhães, pelo apoio às minhas
estadias em Salvador e, principalmente, pela amizade. E Lisa Sahadia, pelos
momentos de trabalho juntas.
À professora Thais Sanjad, pela participação intensa em todos os momentos
de decisão, com dedicação e sabedoria. Obrigada pelos anos de confiança e por
todo apoio. Dedico-lhe imensa admiração.
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Obrigada aos amigos do LACORE, que estão sempre dispostos a contribuir,
nem que seja apenas com palavras de desespero. Com carinho especial, agradeço
às amigas Flávia Palácios e Juliana Fortes, com as quais muitas vezes dividi
experiências e compartilhei o mesmo teto de maneira muito divertida. À professora e
amiga, Rose Norat, o meu agradecimento pelas contribuições e incentivos.
Aos laboratórios da UFPA e da UFBA que possibilitaram a realização das
análises laboratoriais: Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação
(LACORE/UFPA), Laboratório de Caracterização Mineral (LCM/UFPA), Laboratório
de Mineralogia e Geoquímica Aplicada (LaMIGA/UFPA), Laboratório de Microscopia
Eletrônica de Varredura (LABMEV/UFPA) e Núcleo de Tecnologia da Preservação e
da Restauração (NTPR/UFBA).
Ao Prof. Flávio Nassar, que gentilmente autorizou fotografar os catálogos
antigos que pertenciam ao seu avô, José Sidrim. Aos entrevistados, Nelson Vale,
Divo Picazio Júnior, Carlos Antônio Barbosa da Silva e José Leitão de Almeida
Viana, pela disponibilidade.
À CAPES, pela bolsa de mestrado a mim concedida.
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RESUMO
Em Belém, o ladrilho hidráulico está presente em várias edificações, principalmente
as da década de 40 e 50, do século XX, quando alcançou o período auge da
produção. Este material foi aplicado em palacetes e em edificações mais modestas,
de uso residencial, e foram confeccionados majoritariamente pela produção local. A
decadência da fabricação do ladrilho hidráulico ocorreu ao mesmo tempo em que
novos revestimentos chegaram à cidade, como os “São Caetano”. Atualmente, em
obras de restauro, este revestimento de piso é normalmente substituído por outros
materiais. Na maioria dos casos, isso ocorre devido à falta de domínio de técnicas
restaurativas compatíveis. O ladrilho hidráulico é composto por duas camadas. A
primeira, que é superficial, pode ser decorada e possuir relevo em cimento branco
pigmentado. A segunda, mais espessa, é constituída por cimento, areia e,
eventualmente, pó de pedra finamente moído. Este material é conhecido pelo seu
desempenho contra desgaste, pela facilidade de manutenção e por apresentar valor
estético diferenciado, por ser um revestimento rústico e elegante. Este trabalho visa
o estudo histórico e tecnológico de ladrilhos hidráulicos do século XX e réplicas do
século XXI, presentes em Belém. Para isso, foi dividido em três etapas: 1) pesquisa
histórica; 2) pesquisa tecnológica; 3) investigação laboratorial. A primeira etapa
abrange a investigação acerca da origem do material, evolução tipológica,
tecnologias de produção e de conservação e restauração. Tais informações foram
pesquisadas em fontes primárias, como relatórios dos governantes do Estado do
Pará dos séculos XIX e XX, notícias em jornais e periódicos da época, catálogos de
fábricas de ladrilho, entre outros. A segunda etapa consiste na investigação sobre o
processo de produção do ladrilho hidráulico, a partir de visitas a fábricas atuais de
diversas cidades, e entrevistas com herdeiros, proprietários e funcionários dessas
fábricas. Na última etapa realizou-se caracterização física, mineralógica e química
das amostras de ladrilhos hidráulicos coletadas. Primeiramente, as amostras foram
mapeadas quanto às patologias existentes com o auxílio do software CorelDraw 15.
Para a caracterização física, as etapas foram: 1) identificação das fábricas das
amostras; 2) dimensionamento com o auxílio de régua; 3) avaliação das cores
utilizadas na decoração com o uso do colorímetro; 4) ensaio de absorção total em
água; 5) ensaio de densidade pelo picnômetro de Hubbard; 6) ensaio de dureza; 7)
teste de abrasão; 8) análise morfológica por meio de microscópio ótico e por
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Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV); 9) Análise de traço provável por meio de
ataque ácido; 10) granulometria. Quanto à caracterização mineralógica e química,
foram utilizadas, respectivamente, a Difração de Raios-X (DRX) e a Fluorescência
de Raios-X (FRX). Por meio da pesquisa histórica e tecnológica foi possível
entender a abrangência do uso do ladrilho hidráulico em Belém, e a ocorrência de
várias fábricas locais, nos séculos XIX e XX, tais como a A. Pinheiro Filho e Cia, de
maior destaque na produção da cidade. Por meio das análises laboratoriais pode-se
perceber que a amostragem utilizada na pesquisa é de formato quadrado, variando
de 15 a 20 centímetros de lado. São materiais de pouca porosidade, entre 5 a 12%,
e resistentes à abrasão. As imagens de microscópio mostram uma matriz
homogênea e partículas distribuídas com formatos arredondados ou com formatos
irregulares, de diferentes tamanhos. Em relação às cores, o colorímetro indicou
variações entre as amostras. Por meio da caracterização química pode-se perceber
que as amostras são constituídas principalmente de Ca, Si e Al, elementos
provenientes do cimento. Os pigmentos utilizados para a coloração são constituídos
de Fe, Mn e Cu, para as cores amarelo, marrom e azul, respectivamente. Elementos
como Ti, Na e Cl também estão presentes, sugerindo a adição de componentes com
outras funções ou contaminação. A areia é caracterizada pelos elementos Si e O. As
análises de DRX indicaram, a presença de larnita, portlandita, calcita, biotita e
quartzo. Os resultados obtidos na pesquisa são importantes para a conservação e a
restauração deste tipo de material, pois auxiliam na investigação tecnológica para
futuras intervenções restaurativas adequadas. As informações adquiridas também
são essenciais para a documentação dos ladrilhos hidráulicos, como subsídio para
salvaguarda de sua técnica construtiva, para entender técnicas de produção,
procedência e uso.
Palavras-chave: Ladrilhos hidráulicos em Belém; história de ladrilhos hidráulicos; tecnologia de ladrilhos hidráulicos; caracterização de ladrilhos hidráulicos.
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ABSTRACT
In the city of Belém, floor tiles are present in several buildings, especially the ones
from the 40’s and 50’s, of the twentieth century, during its peak in production. This
construction material was applied in buildings of different social classes, and made
by local production. The decay of the floor tile fabrication occurred at the same time
in which new construction materials arrived in the city, such as “São Caetano” type.
Currently, in restorative interventions, original floor tiles are normally substituted for
other materials. In most of the cases, this occurs due to the lack of knowledge of
compatible restoration techniques. Floor tiles are composed of two main layers. The
first one is superficial and may be decorated and have relief made of pigmented
white cement. The second one is thicker and constituted by cement, sand, and
sometimes rock powder. Floor tiles are known for its performance against wear, to its
ease of maintenance, and presentation of different esthetic value, for being rustic and
elegant. This research aims to study floor tiles from the XX and XXI centuries in
Belém, in a historic and technological approach. This study was divided in three main
parts: 1) historical survey; 2) technological studies; 3) laboratorial investigation. The
first part covers research on floor tiles origin, typological evolution, production
technologies, and also conservation and restoration. Such information was found in
original sources, such as records from Pará’s State Governors, and catalogues of tile
manufacturers, among others. The second part consists in the investigation of floor
tiles production, with factories visiting in several cities, and interviews with heirs and
employees in factories. The last part covers the physical, mineralogical and chemical
characterization of floor tiles samples. First, the samples were mapped according to
weathering actions with the use of the software CorelDraw 15. The physical
characterization was divided into the following steps: 1) identification of the samples’
factory; 2) samples measurement; 3) evaluation of the colors on the sampling with
the use of a colorimeter; 4) water absorption tests; 5) density test with the use of
Hubbard’s picnometer; 6) hardness tests; 7) abrasion tests; 8) morphological
analysis, with the use of optical microscopy and Scanning Electron Microscope
(SEM); 9) probable trace analysis; 10) grains analysis. For mineralogical and
chemical characterization it was used X-Ray Diffraction (XRD) and X-Ray
Fluorescence (XRF), respectively. Through the historical and technological research
it was possible understanding the basis of floor tiles in Belém, and the occurrence of
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several local factories in the nineteenth and twentieth centuries, such as A. Pinheiro
Filho e Cia, of great participation in the city’s production. Through the laboratorial
analysis it was possible to observe that the samples used in the research are square
shaped, varying from 15 to 20 centimeters. The samples are of low porosity, between
5 and 12%, and abrasion resistant. Microscope’s images show a homogenous
matrix, and particles with different shapes and sizes distributed along the sampling.
The colorimeter indicated variations in colors among the sampling. The chemical
analysis indicated mainly Ca, Si and Al, elements from the cement, and Fe, Mn and
Cu for the pigments used for coloring, for the colors yellow, brown and blue,
respectively. Elements such as Ti, Na and Cl are also present, suggesting the
addition of components that provide other functions or sample’s contamination. The
sand used is characterized by Si and O. Mineralogical analysis indicated larnite,
portlandite, calcite, biotite, and quartz. The results obtained on the research are
important for conservation and restoration of floor tiles: they improve technological
investigation for future interventions. The information acquired are also essential for
this construction material documentation, as subside for the safeguard of its
manufacturing techniques, as well as to understand its production, origin and use.
Key-words: Floor tiles in Belém; floor tiles history; floor tiles technology; floor tiles characterization.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Rua João Alfredo, a artéria comercial mais importante da cidade, em 1908. ....................... 19
Figura 2: Palacete Vitor Maria da Silva: (A) lavatório em porcelana decorada inglesa, (B) painel de
azulejos franceses da fábrica Choisy Le Roi, (C) forro em chapas metálicas decoradas e (D) ladrilhos
cerâmicos. ............................................................................................................................................. 20
Figura 3: Ladrilhos aplicados na parede do hall de entrada do Solar do Barão de Guajará em Belém.
............................................................................................................................................................... 21
Figura 4: Fábrica da Phebo em Belém ................................................................................................. 22
Figura 5: Seção transversal de ladrilho hidráulico que indica as camadas que o constituem. ............ 23
Figura 6: Sala de refeições do Instituto Lauro Sodré ............................................................................ 24
Figura 7: Comparação entre (A) mosaico de pedra e ladrilho hidráulico, (B) azulejo e ladrilho
hidráulico e (C) ladrilho cerâmico e ladrilho hidráulico. ........................................................................ 28
Figura 8: Exemplos de prensas mecânicas utilizadas para fabricação de ladrilhos hidráulicos: (A) de
mão, (B e C) prensa parafuso e (D) prensa hidráulica para fabricação de ladrilhos ............................ 30
Figura 9: Anúncio em periódico referente à premiação da fábrica Orsola, Solá e Compañia .............. 32
Figura 10: (A) Forma utilizada para a fabricação do ladrilho hidráulico de Gaudí e (B) o ladrilho
hidráulico pronto .................................................................................................................................... 33
Figura 11: Catálogo da fábrica Devesas contendo imagens de ladrilhos cerâmicos (A) e ladrilhos
hidráulicos (B)........................................................................................................................................ 34
Figura 12: Fábrica de Ladrilhos Lunardi & Machado, (A) antes e (B) depois de 1990 ......................... 37
Figura 13: Anúncio da Emanuele Cresta & Comp. no Almanak da Cidade de Minas .......................... 38
Figura 14: Fábrica de Mosaicos, uma das fábricas mais antigas de ladrilho hidráulico do Brasil ........ 39
Figura 15: Galpão de produção da fábrica Dalle Piagge. ..................................................................... 40
Figura 16: (A) Imagem da capa do catálogo da A. Pinheiro Filho e (B) artefatos de marmorite
produzidos por ela ................................................................................................................................. 43
Figura 17: Ladrilhos produzidos na A. Pinheiro Filho assentados na capela do Colégio Marista ........ 44
Figura 18: Anúncio da fábrica de ladrilhos e marmorite Hercules ........................................................ 46
Figura 19: Ladrilhos hidráulicos antigos aplicados atualmente em balcão de uma padaria em
Belém/PA. .............................................................................................................................................. 47
Figura 20: (A) Ladrilho hidráulico do Colégio Santo Antônio e (B) ladrilho cerâmico do Palacete do
Parque da Residência. .......................................................................................................................... 49
Figura 21: Variação de tonalidade de acordo com o cimento utilizado ................................................ 54
Figura 22: Fábrica de ladrilhos hidráulicos em atividade no final do séc. XIX ...................................... 56
Figura 23: Operário manuseando a prensa hidráulica. ......................................................................... 57
Figura 24: (A) Depósitos com as misturas de cimento branco com pigmentos a serem utilizados nos
ladrilhos hidráulicos, (B) derramamento da mistura no gabarito com o “calchalote”. ........................... 58
Figura 25: (A) Adição da massa de cimento e (B) ladrilho hidráulicos sendo pressionados. ............... 59
Figura 26: (A) Ladrilhos hidráulicos secando em estantes, (B) tanque onde os ladrilhos hidráulicos são
imersos para a cura e (C) resultado final. ............................................................................................. 60
Figura 27: Composição de ladrilhos hidráulicos (A) geométricos e (B) florais. .................................... 61
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Figura 28: (A) faixas sendo utilizadas como moldura, (B) rodapé em faixa de ladrilho hidráulico. ...... 62
Figura 29: (A) ladrilhos hidráulicos sextavados e (B) composição de ladrilhos hidráulicos oitavados
com tozetos. .......................................................................................................................................... 63
Figura 30: Exemplo de padrões de ladrilhos hidráulicos semelhantes, porém com procedência
distinta. (A) Salvador Bulet y Cia, Barcelona-Espanha, (B) Procedência desconhecida e (C) Mosaic
del Sur, Málaga-Espanha. ..................................................................................................................... 64
Figura 31: Eflorescência salina nos ladrilhos da parede do Solar Barão de Guajará. ......................... 66
Figura 32: Piso em ladrilho hidráulico com fissuras devido à acomodação do terreno, na Farmácia
República (Belém/PA). .......................................................................................................................... 67
Figura 34: Piso em ladrilho hidráulico com fissuras decorrentes de processos de dilatação térmica, na
igreja de São Pedro dos Clérigos, em Salvador (BA). .......................................................................... 68
Figura 35: Remoção de ladrilho hidráulico de maneira imprópria, no antigo cinema de Cachoeira (BA).
............................................................................................................................................................... 68
Figura 37: Pisos desgastados por abrasão. .......................................................................................... 69
Figura 38: Piso com diferentes tipos de deposição: tinta, argamassa e poeira, na Farmácia República
(Belém, PA). .......................................................................................................................................... 69
Figura 33: Ladrilhos hidráulicos com lacunas, sendo (A) com preenchimento e (B) sem
preenchimento. ...................................................................................................................................... 70
Figura 36: Peça de ladrilho hidráulico apresentando sulco produzido por Makita. .............................. 71
Figura 39: Peças de ladrilho hidráulico apresentando mudança de cor. .............................................. 71
Figura 40: Piso da biblioteca do Colégio Nazaré (Belém, PA) com aspecto brilhoso. ......................... 72
Figura 42: (A) algas na superfície de ladrilhos hidráulicos, (B) plantas localizadas nas juntas. .......... 73
Figura 43: Excrementos de pombos depositados no piso. ................................................................... 74
Figura 44: (A) Pisos em ladrilhos hidráulicos com preenchimento de cimento e (B) e substituição. ... 75
Figura 45: (A) Antes e (B) depois da peça restaurada pelo IEPHA/MG ............................................... 77
Figura 46: Processo de aplicação de novos ladrilhos hidráulicos. (A) Piso em ladrilho hidráulico
apresentando lacuna, (B) contrapiso nivelado, (C) assentamento das réplicas e (D) resultado final .. 78
Figura 47: Piso coberto com papelão e gesso ...................................................................................... 79
Figura 48: Piso com a aplicação do emplasto ...................................................................................... 81
Figura 49: (A) Antes e (B) depois (B) da aplicação do ácido oxálico.................................................... 82
Figura 50: Peças de vidro com plotagem substituindo ladrilhos hidráulicos originais. ......................... 82
Figura 51: Aluna do CECI restaurando ladrilho hidráulico. ................................................................... 84
Figura 52: (A) área do piso, na qual já foram tiradas as peças originais, (B) ladrilhos originais
empilhados pós-remoção e (C) caixa contendo as peças de substituição. .......................................... 85
Figura 53: Piso apresentando ladrilhos novos e ladrilhos antigos. ....................................................... 86
Figura 54: Desenho esquemático da avaliação das dimensões dos ladrilhos hidráulicos. .................. 90
Figura 55: Espectrocolorímetro PANTONE COLORCUE e tabela de cores PANTONE...................... 90
Figura 56: (A) Corte da amostra e (B) pesagem em balança técnica (B). ............................................ 91
Figura 57: (A) Picnômetro de Hubbard cheio de mercúrio, (B) pesagem do picnômetro com mercúrio
em balança semi-analítica, (C) picnômetro com mercúrio e a amostra e (D) pesagem da amostra. .. 92
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Figura 58: Equipamento para teste de abrasão: abrasímetro .............................................................. 93
Figura 59: Amostra dividida por camadas. ............................................................................................ 95
Figura 60: Ataque ácido às amostras. .................................................................................................. 95
Figura 61: Filtragem do material suspenso. .......................................................................................... 96
Figura 62: Difratômetro de Raios-X do Laboratório de Caracterização Mineral do Instituto de
Geociências da UFPA. .......................................................................................................................... 97
Figura 63: Metalizador do LABMEV do Instituto de Geociências da UFPA. ........................................ 98
Figura 64: Dimensionamento e configuração do tardoz das amostras. ............................................. 101
Figura 65: Imagem de MEV de seção transversal da amostra AM-4. ................................................ 103
Figura 66: Identificação das camadas na amostra AM-8. ................................................................... 104
Figura 67: Identificação das amostras de superfície lisa e das amostras de superfície áspera. ....... 104
Figura 68: Imagens de MEV identificando as características morfológicas dos ladrilhos de superfície
lisa. ...................................................................................................................................................... 106
Figura 69: Imagem de MEV da amostra AM-6. ................................................................................... 107
Figura 70: Imagem de MEV da amostra AM-7. ................................................................................... 108
Figura 71: Imagem de MEV da amostra AM-8. ................................................................................... 108
Figura 73: Separação das amostras por tipo de agregado. ................................................................ 112
Figura 74: Digrafograma da amostra AM-1. ........................................................................................ 113
Figura 75: Caracterização química por MEV/SED da amostra AM-1 ................................................. 114
Figura 76: Difratograma da amostra AM-2. ......................................................................................... 115
Figura 77: Caracterização química por MEV/SED da amostra AM-2. ................................................ 115
Figura 78: Difratograma da amostra AM-3. ......................................................................................... 116
Figura 79: Caracterização química por MEV/SED da amostra AM-3. ................................................ 116
Figura 80: Difratograma da amostra AM-4. ......................................................................................... 117
Figura 81: Caracterização química por MEV/SED da amostra AM-4. ................................................ 117
Figura 82: Difratograma representativo das amostras AM-5, AM-6, AM-7 e AM-8. ........................... 118
Figura 83: Caracterização química por MEV/SED das amostras AM-5, AM-6, AM-7 e AM-8. .......... 118
Figura 84: Difratograma da amostra AM-9R. ...................................................................................... 119
Figura 85: Caracterização química por MEV/SED da amostra AM-9R. ............................................. 119
Figura 86: Difratograma da amostra 10R. ........................................................................................... 120
Figura 87: Caracterização química por MEV/SED da amostra AM-10R. ........................................... 120
Figura 88: Difratograma da amostras AM-11R. .................................................................................. 121
Figura 89: Caracterização química por MEV/SED da amostra AM-11R. ........................................... 121
Figura 90: Difratograma da amostra AM-12R. .................................................................................... 122
Figura 91: Caracterização química por MEV/SED da amostra AM-12R. ........................................... 122
Figura 92: AM-1 com fragmentação total e parcial. ............................................................................ 124
Figura 93: Amostra AM-5 apresentando fissuras. ............................................................................... 125
Figura 94: Amostras AM-2 e AM-5 apresentando sujidade. ............................................................... 125
Figura 95: (A) Amostra AM-4 com deposição de pingos de tinta e (B) amostra AM-1 com deposição de
argamassa. .......................................................................................................................................... 126
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Figura 96: Amostra AM-11R com eflorescência. ................................................................................ 126
Figura 97: Alteração cromática na amostra AM-7. .............................................................................. 127
Figura 98: Marca causada pela máquina de corte na amostra AM-11R. ........................................... 127
Figura 99: Imagem-resumo das etapas de caracterização, diagnóstico e intervenção. ..................... 136
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Relação das amostras da pesquisa........................................................................ 88
Tabela 2: Classificação das cores da decoração dos ladrilhos hidráulicos de acordo com a
tabela de referência PANTONE..............................................................................................
102
Tabela 3: Traço provável da camada inferior das amostras................................................... 109
Tabela 4: Absorção total em água e massa específica das amostras.................................... 110
Tabela 5: Desgaste das amostras por meio do teste de abrasão........................................... 110
Tabela 6: Percentual de desgaste em pedras ornamentais.................................................... 111
Tabela 7: Composição química das amostras........................................................................ 121
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LISTA DE SIGLAS
APD – Automatic Powder Diffraction
CECI – Centro de Estudos Avançados de Conservação Integrada
DRX – Difratometria de Raios-X
EDTA – Ácido etilenodiamino tetra-acético
FAU – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
ICDD – Internacional Center for Diffraction Data
IEPHA/MG – Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais
IG – UFPA – Instituto de Geociências da Universidade Federal do Pará
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
LACORE – Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação
LCM – Laboratório de Caracterização Mineral
MEV – Microscopia Eletrônica de Varredura
MEV/SED – Microscopia Eletrônica de Varredura com sistema de energia dispersiva
NBR – Norma Brasileira
NOSELOUR – Nossa Senhora de Lourdes
NTPR – Núcleo de Tecnologia da Preservação e da Restauração
SCIAL – Sociedade de Construções e Indústrias Anexas
UFBA – Universidade Federal da Bahia
UFPA – Universidade Federal do Pará
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 18
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...................................................................... 27
2.1 CONTEXTO HISTÓRICO.......................................................................... 27
2.1.1 Contexto internacional............................................................................ 27
2.1.2 Contexto nacional.................................................................................... 36
2.2 SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE LADRILHOS HIDRÁULICOS
E LARILHOS CERÂMICOS.......................................................................
49
2.3 PRODUÇÃO DE LADRILHOS HIDRÁULICOS.......................................... 51
2.3.1 Matéria-prima utilizada............................................................................ 51
2.3.2 Etapas da produção................................................................................. 55
2.4 VARIAÇÕES TIPOLÓGICAS..................................................................... 60
2.5 FATORES DE DEGRADAÇÃO.................................................................. 65
2.5.1 Agentes físicos......................................................................................... 65
2.5.2 Ataque químico........................................................................................ 72
2.5.3 Agentes biológicos.................................................................................. 72
2.6 TÉCNICAS JÁ USADAS EM CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DE
LADRILHOS HIDRÁULICOS.....................................................................
74
3 MATERIAIS E MÉTODOS.........................................................................
88
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES............................................................... 100
4.1 CARACTERIZAÇÃO FÍSICA...................................................................... 100
4.2 CARACTERIZAÇÃO MINERALÓGICA E QUÍMICA.................................. 111
4.3 IDENTIFICAÇÃO DAS PATOLOGIAS NA AMOSTRAGEM...................... 123
5 CONCLUSÕES.......................................................................................... 129
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................... 138
7 ANEXOS.................................................................................................... 144
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1 INTRODUÇÃO
A cidade de Belém, capital do Pará, foi fundada em 12 de janeiro de 1616, por
Francisco José Caldeira Castelo Branco. As primeiras construções constituíram os
dois núcleos iniciais denominados de Cidade e Campina.
Relatos de viajantes do século XVIII e meados do XIX1 descrevem a cidade
de Belém com aspecto de aldeia em função da simplicidade da maioria das
construções, principalmente da arquitetura civil, cujos materiais empregados foram
aqueles que a região poderia oferecer, ou seja, o barro, a madeira, a palha e as
pedras. No entanto, algumas construções, como igrejas e palácios, já se
destacavam nesse cenário, pela sua arquitetura monumental, principalmente a partir
de 1753, com a chegada do arquiteto italiano Antônio José Landi, cujos projetos
contribuíram para mudar ainda mais a aparência da cidade.
A arquitetura de Landi introduz o estilo neoclássico em Belém, mas é só a
partir de meados do século XIX até o início do século XX que a cidade iria passar
por profundas modificações patrocinadas pela riqueza gerada na economia da
borracha. As ruas passaram a ser pavimentadas e as edificações construídas com
materiais nobres importados da Europa. Belém se revela como uma das principais
cidades brasileiras, cuja aparência em nada se assemelhava aos relatos mais
antigos (Figura 1).
1 BATES, Henry Walter. Um naturalista no rio Amazonas. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed.
da Universidade de São Paulo, 1979.
-
19
Figura 1: Rua João Alfredo, a artéria comercial mais importante da cidade, em 1908. Fonte: Lemos, 1902 – 1909 .
As modificações foram também impulsionadas pelo código de posturas
municipal de Antônio José de Lemos, intendente de Belém entre os anos de 1897 a
1912, que obrigava a substituição de beirais por platibandas com sistema de
captação de águas pluviais, a eliminação das “puxadas”2 das edificações, entre
outras, em prol de melhores condições de higiene na cidade e nas suas edificações.
O período da borracha também provocou mudanças culturais nas pessoas
que residiam em Belém. A cidade tornou-se palco também de intensa vida social,
com reuniões, bailes e espetáculos de ópera. Esses eventos faziam parte do
cotidiano das pessoas mais “bem nascidas” e para atender a estas atividades as
edificações passaram a ter salões ricamente ornamentados com pinturas artísticas,
chapas metálicas estampadas, ladrilhos, azulejos etc., tudo importado, resultado do
intenso comércio entre Belém, a Europa e os Estados Unidos. A residência Victor
Maria da Silva é um dos exemplos mais representativos dessa época (Figura 2).
2 As "puxadas" seguiam o modelo tradicional português, com ambientes anti-higiênicos, sem
ventilação e iluminação natural, e com ambientes que eram verdadeiras estufas, provocadas pela colocação de extensos planos envidraçados.
-
20
Figura 2: Palacete Vitor Maria da Silva: (A) lavatório em porcelana decorada inglesa, (B) painel
de azulejos franceses da fábrica Choisy Le Roi, (C) forro em chapas metálicas decoradas e (D)
ladrilhos cerâmicos.
Os mais avançados produtos de construção das principais fábricas europeias
foram utilizados nas edificações de Belém. No que se refere aos revestimentos de
piso, a mudança foi significativa pois, do século XVII ao início do século XIX, os
materiais empregados como revestimentos correspondiam à madeira em tábuas
espessas e largas aplicadas uma ao lado da outra, sem a preocupação de formar
desenhos geométricos ou outros tipos de composição; a tijoleira, principalmente nas
igrejas, fortificações, palácios; e o lioz, mas, em termos de piso, este ficou muito
restrito às calçadas de Belém, às soleiras das mais diversas edificações e às lápides
de túmulos dentro das igrejas.
Com as facilidades advindas pelo intenso comércio a partir de meados do
séc. XIX, surgem outros tipos de revestimentos. A madeira, mesmo sendo, ainda, de
origem local, passou a ser aplicada diferentemente de até então, com composições
constituídas por mais de um tipo de madeira e formando composições geométricas,
A B
C D
-
21
com técnica de parquetagem. O lioz continuou a ser muito utilizado. A novidade
estava em outros tipos de pedras e nos ladrilhos.
Os ladrilhos foram muito utilizados em áreas externas e no pequeno hall que
antecede à escada que dá acesso ao interior da edificação. Em alguns casos, como
no Solar do Barão de Guajará (Figura 3), foi aplicado na parede. Além de atribuir
beleza pelas suas cores e composições geométricas e/ou orgânicas, os ladrilhos
proporcionaram melhores condições de limpeza nestes ambientes.
Figura 3: Ladrilhos aplicados na parede do hall de entrada do Solar do Barão de Guajará em Belém.
A higiene e a resistência levaram o ladrilho a ser utilizado também no interior
de fábricas de Belém, pela necessidade de manter o piso sempre limpo e de
suportar o peso das máquinas (Figura 4).
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22
Figura 4: Fábrica da Phebo em Belém (Fonte: www.ibge.gov.br).
São dois os tipos de ladrilhos que chegaram a Belém, o cerâmico e o
hidráulico, que apesar de terem a aparência muito semelhante, inclusive com os
mesmos desenhos e cores, e serem materiais que passam por processos de
moldagem, prensagem e secagem, são completamente distintos quanto à técnica de
produção e à matéria prima utilizada. O ladrilho cerâmico corresponde a um material
produzido com pasta cerâmica (argilas e óxidos metálicos) queimada a altas
temperaturas. Já o ladrilho hidráulico é elaborado com cimento e pigmentos. Este
trabalho se dedicará a estudar o ladrilho hidráulico, que corresponde ao material
utilizado com maior frequência em Belém, além de ter sido produzido nesta cidade.
Segundo a NBR 94573, o ladrilho hidráulico é uma placa de concreto de alta
resistência ao desgaste para acabamento de paredes, pisos internos e externos,
contendo uma superfície lisa ou em relevo, colorida ou não, de formato quadrado,
retangular ou outra forma geométrica definida.
3 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9457: Ladrilhos hidráulicos –
Especificação. Rio de Janeiro, 1986.
-
23
Esta definição, porém, não está completamente correta, pois o ladrilho
hidráulico não pode ser tratado como uma placa de concreto, já que não apresenta
agregado graúdo em sua composição. Ele é uma placa de cimento.
Eles são constituídos por duas camadas facilmente reconhecidas, a
decorativa e a base. A primeira é a parte superior do material que fica aparente
quando assentado. A segunda corresponde ao suporte da decoração, e geralmente
apresenta impresso no seu tardoz4, o nome e/ou a marca da fábrica que o produziu.
A grande diferença do ladrilho para outros revestimentos é que ele não tem
uma camada de pintura e nem possui impressão, mas sim uma camada decorada
por volta de 5 mm, o que garante a maior durabilidade da decoração (Figura 5).
Figura 5: Seção transversal de ladrilho hidráulico que indica as camadas que o constituem.
O ladrilho hidráulico possui diferentes significados em função das linguagens
de diferentes culturas. A expressão mais antiga que se conhece é a de “mosaico”5.
Apesar da denominação “mosaico” ser muito utilizada para ladrilhos hidráulicos, este
termo deve ser considerado impróprio, pois a definição de mosaico é o conjunto de
peças, cerâmicas, de pedra, de vidro ou outro material, embutidas em um plano,
formando desenhos ou não.
No Brasil é chamado ladrilho o material em placas regulares para pavimentos,
que pode ser cerâmico ou de cimento. A denominação ladrilho hidráulico dá-se por
ser um material para revestimento fabricado a partir de cimento hidráulico.
4 Tardoz corresponde à face inferior do ladrilho.
5 ORTEGA, Carmen; LORA, Ana Mitila. El Mosaico Hidráulico: Arte em evolucioón. República
Dominicana: Grafisfon, 2008, p. 26.
Camada inferior
Camada decorativa
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24
Apesar da sua importância histórica e estética, o ladrilho hidráulico é
constantemente substituído por outro tipo de material nas intervenções em
edificações da cidade de Belém, por diversos motivos. Entre eles pode-se citar: 1) a
ideia equivocada da “volta ao original” na arquitetura religiosa, de modo a substituir o
ladrilho assentado posteriormente à construção por tijoleira atual, esta sem valor
histórico e estético; e 2) o nível de desgaste das peças aliado ao desconhecimento
dos meios técnicos adequados à sua conservação.
Um dos exemplos mais marcantes de remoção de ladrilhos diz respeito à
Igreja de Sant’Anna, edificação do século XVIII, restaurada recentemente, cujos
ladrilhos foram desenhados por Joseph Casse, segundo relatos do historiador Aldrin
Figueiredo. Provavelmente em função do estado de conservação da tijoleira original
e diante da novidade de produção local, os ladrilhos foram provavelmente lá
assentados na primeira década do século XX e estavam inseridos na unidade
artística do monumento, contribuindo assim para o valor estético do mesmo. A
substituição por novas tijoleiras descaracterizou a edificação e não alcançou o
mesmo efeito adquirido pelo ladrilho ao longo desses anos.
Outra edificação que teve seus ladrilhos removidos foi o Instituto Lauro Sodré,
atual Tribunal de Justiça do Estado. A edificação possuía uma grande variedade de
ladrilhos hidráulicos (Figura 6), provavelmente produzidos pela fábrica paraense A.
Pinheiro Filho e Cia Ltda. uma vez que todos estão no catálogo de produtos
cimentícios da referida indústria. Os ladrilhos foram substituídos por porcelanato, o
que contribuiu significativamente para a descaracterização da edificação.
Figura 6: Sala de refeições do Instituto Lauro Sodré (Fonte: Pará, SECULT, 1998).
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25
Dessa maneira, o objetivo deste trabalho consiste em estudar o ladrilho
hidráulico, sob o viés histórico e tecnológico, da cidade de Belém de modo a traçar
subsídios para a sua conservação e restauração.
Os objetivos específicos dessa pesquisa consistem em:
Identificar o contexto histórico da comercialização e produção dos
ladrilhos hidráulicos, o início e o auge da utilização deste material em
Belém;
Caracterizar o processo de fabricação do ladrilho e os materiais
utilizados na sua produção;
Identificar prováveis diferenças e/ou semelhanças entre ladrilhos
hidráulicos antigos e réplicas produzidas atualmente;
Caracterizar fisicamente o ladrilho hidráulico e sua composição química
e mineralógica, de modo a identificar os melhores meios de
preservação deste material.
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26
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27
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 CONTEXTO HISTÓRICO
O ladrilho hidráulico está presente em vários locais do mundo. A
contextualização histórica do surgimento e aplicação do material em diversos locais
subsidia o entendimento da importância do mesmo como patrimônio artístico e
histórico.
2.1.1 Contexto internacional
O cimento revolucionou a indústria da construção e passou a ser utilizado em
diversos elementos arquitetônicos, entre eles, o ladrilho hidráulico. Apesar das
diversas hipóteses quanto à origem dos ladrilhos hidráulicos, não há dúvidas de que
são derivados do cimento tipo Portland.
O ladrilho hidráulico, assim como os elementos arquitetônicos em ferro e o vidro,
pode ser considerado exemplo de produto advindo pós Revolução Industrial que,
fabricado sob base artesanal, sobretudo, com aplicação de recursos relativamente
inovadores para a época, tem técnica de produção manufatureira que transcendeu e
se mantém viva, paralelamente ao processo industrial6.
A técnica usada para a fabricação de ladrilhos hidráulicos baseia-se na técnica
banchetto, que surgiu na Itália, no século XII7. A partir desta técnica, estima-se que a
fabricação de ladrilhos hidráulicos imitativos de mármores tenha surgido entre os
séculos XVII e XVIII na Itália, usando uma mistura de cal compactada em um molde
de ferro, com sucessivas camadas de cor adicionadas e polidas à mão8.
É comum no desenvolvimento de uma nova técnica que sua base esteja pautada
em técnicas antecedentes Observam-se também na técnica do ladrilho hidráulico
6 MACHADO, Luiz Gomes. Apresentação: texto para exposição “Se esta rua fosse minha”.
Museu da casa Brasileira. 2005. Disponível em: http://www.mcb.sp.gov.br. 7 NAVARRO, Mario Arturo Hernández. Puerto Rico Tile Designs. Pepinpress, 2012. p. 37.
8 JOYNT, Anna. Cuban Mortar Tiles. International Cooperation and Regeneration through the
Rediscovery of a Lost Craft. Havana: 2009. Faculty of Architecture, University of Havana, s/p.
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28
elementos residuais de outros revestimentos precedentes, como dos azulejos, dos
ladrilhos cerâmicos e dos mosaicos.
Na Figura 7 podem-se notar, comparativamente, as semelhanças entre ladrilhos
hidráulicos (organizados na linha inferior) e exemplos anteriores de mosaico de
pedra, azulejo antigo e ladrilho cerâmico (linha superior). Claramente, a composição
formal, padrões e cores denotam a influência de mosaicos, azulejos e ladrilhos
cerâmicos antigos na decoração dos ladrilhos hidráulicos.
Figura 7: Comparação entre (A) mosaico de pedra e ladrilho hidráulico, (B) azulejo e
ladrilho hidráulico e (C) ladrilho cerâmico e ladrilho hidráulico.
Detalhadamente, observa-se: (A) o ladrilho hidráulico replica o desenho
reticulado do mosaico; (B) semelhança na composição formal dos padrões
decorativos entre azulejo e ladrilho hidráulico e (C) repetição de padrão formal
decorativo com alteração somente das cores entre ladrilho cerâmico e ladrilho
hidráulico.
Alguns países destacam-se na produção e popularização dessa técnica como a
França, Espanha e Portugal, na Europa, o que viria influenciar a produção na
América Latina e no Brasil.
A B C
-
29
França
Na França, o ladrilho hidráulico surgiu por volta de 1850, logo depois da
implantação da primeira fábrica de cimento no país, chamada Guilhon & Barthelemy,
a qual foi responsável pela fabricação e exportação de peças, moldes e todos os
utensílios necessários para a fabricação do ladrilho hidráulico para outras partes do
mundo. Além desses materiais ela fornecia, também, um manual explicativo com os
procedimentos necessários para o processo de fabrico e com a sugestão de que
cada fabricante buscasse o desenvolvimento de suas peças, com desenhos
próprios, estimulando a variedade de novas padronagens que se identificassem com
seu local de origem9.
Foi na França que o ladrilho hidráulico passou por uma revolução em seu
processo de fabricação, impulsionando sua produção. A Guilhon & Barthelemy, já
referida, introduziu a prensa hidráulica no processo de fabricação do ladrilho
hidráulico, o que proporcionou melhor qualidade ao produto final, já que, com a nova
prensa, as peças eram comprimidas com maior homogeneidade.
Antes da prensa hidráulica, as prensas utilizadas para compactação dos
ladrilhos hidráulicos eram de mão e, depois, em parafuso, necessitando maior
esforço físico em sua operação e, naturalmente, levando à diferença nos resultados
(Figura 8).
9 ORTEGA, Carmen; LORA, Ana Mitila. El Mosaico Hidráulico: Arte em evolución. República
Dominicana: Grafisfon, 2008, p. 39-42.
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30
Figura 8: Exemplos de prensas mecânicas utilizadas para fabricação de ladrilhos hidráulicos:
(A) de mão, (B e C) prensa parafuso e (D) prensa hidráulica para fabricação de ladrilhos. Fontes: (A) http://ardecol.inforoutes.fr, (B) Autora, (C) Segurado, s/d, (D) Autora.
As prensas manuais, em geral, não atingem pressão superior a 30 ou 50 quilos
por centímentro quadrado (3 à 5 MPa). Já as prensas hidráulicas podem atingir 150
quilos por centímetro quadrado (15 MPa)10.
O Institut Promoció de Ceràmica11 descreve que a mecanização do processo
permitiu o aumento da produção e a diminuição da fadiga do trabalhador,
ressaltando, contudo, que a produtividade é sempre limitada pelas operações
manuais, indispensáveis em todo o processo, principalmente na decoração.
Ressalte-se que a França foi a principal responsável pela propagação da técnica
de produção do ladrilho hidráulico, ao contribuir para a sistematização do processo
10 SEGURADO, João Emílio dos Santos. Biblioteca de instrução profissional: Materiais de
construção. Lisboa: Livraria Bertrand, 7ª ed., s/d, p. 152. 11
http://www.ipc.org.es/home.html.
A B
C D
http://ardecol.inforoutes.fr/educationetpatrimoine/fiche415/fiche415contenu.htm
-
31
de fabricação e introduzir e estimular o tema de propriedade dos desenhos. O uso
deste material expandiu-se assim pela Europa, Norte da África e América Latina.
Inicialmente, os ladrilhos hidráulicos revestiam pisos de ambientes importantes,
em edificações de alto padrão e em edifícios públicos. Porém, em meados do século
XX, seu uso foi popularizado e passou a ser utilizado em vivendas em várias cidades
francesas.
Seu esplendor ocorre em consonância ao Art Nouveau, no final do século XIX,
quando surgem modelos que reproduzem elaborados desenhos em linhas sinuosas
e composições assimétricas, preferencialmente com motivos de vegetais estilizados.
Devido à grande recessão no período entre as grandes guerras, os ladrilhos
hidráulicos caíram em desuso na Europa. A partir da década de 1960, foram
substituídos por outros materiais mais modernos no processo de reconstrução pós-
guerra e de renascimento econômico refletido na indústria da construção, resultando
no desaparecimento das fábricas de ladrilhos hidráulicos12.
Espanha
A origem do ladrilho hidráulico é discutida por vários autores e, por vezes,
atribuída à diferentes países da Europa. Navarro13, cita a Espanha como o país que
primeiro desenvolveu este tipo de material, sendo que a cidade de Barcelona seria a
pioneira na produção, iniciada a partir de 1857. O auge das produções ocorreu
durante o Art Nouveau, em 1880, e alcançou o mercado internacional.
Uma das fábricas mais importantes da Espanha é a Bustsems y Cia, que é
considerada a primeira do país, iniciando a produção de ladrilho hidráulico, em 1857.
Entre os arquitetos que fizeram parceria com esta fábrica figura a personalidade
marcante de Antoni Gaudí.
12
ORTEGA, Carmen; LORA, Ana Mitila. El Mosaico Hidráulico: Arte em evolución. República Dominicana: Grafisfon, 2008, p. 44. 13
NAVARRO, Mário Arturo Hernádez. Havana tile designs. Singapura: Pepin Press, 2007, s/p.
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32
Outras fábricas de grande reconhecimento na Espanha são as Orsola, Solá y
Compañia e a Garret, Rivet y Cia. A primeira destacou-se na exposição de
Barcelona em 1888, recebendo diploma de honra em Bruxelas, devido a seu
reconhecimento como maior produtora nacional e internacional, com grande
diversidade de modelos e ótima qualidade, enquanto a segunda caracterizava-se
como das mais tradicionais produtoras de ladrilhos hidráulicos no país14 (Figura 9 e
Anexo 1).
Figura 9: Anúncio em periódico referente à premiação da fábrica Orsola, Solá e Compañia. Fonte: httpupload.wikimedia.orgwikipediacommons66fAnunci_orsola-sola.jpg.
A Escofet, Fortuna y Cia, fundada em 1886, também desfrutou de muito prestígio
e ficou conhecida por seus desenhos inovadores e rápida expansão por toda a
Espanha e América Latina. O arquiteto Antoni Gaudí contribuiu para esse sucesso
ao desenhar alguns modelos de ladrilhos hidráulicos para esta fábrica. Um exemplo
é o ladrilho hidráulico hexagonal, com tema marinho (Figura 10), produzido
especialmente para a casa Batlló (1904), que, no entanto, não foi utilizado nesta
edificação e, sim, na casa Milá (1906), do mesmo arquiteto.
14
ORTEGA, Carmen; LORA, Ana Mitila. El Mosaico Hidráulico: Arte em evolución. República Dominicana: Grafisfon, 2008.
-
33
Figura 10: (A) Forma utilizada para a fabricação do ladrilho hidráulico de Gaudí e (B) o ladrilho hidráulico pronto. Fonte:ORTEGA y LORA, 2008.
Segundo o Institut Promoció de Ceràmica, nas primeiras décadas do século
XX, não havia cidade alguma ou município da Espanha que não possuísse fábricas
de “mosaico hidráulico”. De acordo com o anuário geral de construção, de 1958, em
fase inicial de declínio, havia 1.021 fábricas de mosaico hidráulico na Espanha,
sendo 151 na província de Madri, 109 em Barcelona, 42 em Bilbao, e 36 em
Alicante.
Portugal
Em 1910, a fábrica Devesas, famosa por fabricar azulejos, lançou um
catálogo contendo específicações e imagens dos produtos oferecidos pela mesma.
Entre esses materiais, estão os ladrilhos hidráulicos e os ladrilhos cerâmicos (Figura
11). Algumas fábricas de azulejos produziam também ladrilhos cerâmicos. Outro
exemplo é a fábrica Villeroy & Boch, na Alemanha. Em Portugal, até o presente
momento, ainda não foi encontrada referência de outra fábrica que trabalhasse
principalmente com peças cerâmicas, e que produzisse, também, ladrilhos
hidráulicos.
A B
-
34
LADRILHOS CERÂMICOS LADRILHOS HIDRÁULICOS
Figura 11: Catálogo da fábrica Devesas contendo imagens de ladrilhos cerâmicos (A) e ladrilhos hidráulicos (B). Fonte: Catálogo Devesas, 1910.
Em Portugal, tem-se resgistro, também, da Sociedade de Construções e
Industrias Anexas, conhecida por Mosaicos SCIAL, de 1921, certamente uma das
principais fábricas do país. Seu objetivo era produzir ladrilhos hidráulicos de boa
qualidade, com arestas vivas e perfeitas, desenhos e cores inalteráveis e com
resistências compatíveis com os ladrilhos estrangeiros. A fábrica critica a produção
do material em outras fábricas, destacando que a matéria-prima e o processo
utilizado nas demais, não garantiam bom resultado15.
Os primeiros operários da SCIAL, os quais foram responsáveis por repassar
toda a técnica de fabricação dos ladrilhos hidráulicos para os operários portugueses
15 Sociedade de Construções e Industrias Anexas. Mosaicos Scial. Lisboa.
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35
eram de Barcelona. O cimento utilizado na produção era importado da França:
Extra-Blanc LAFARGE e Gris LAFARGE. Os pigmentos também eram importados e
garantiam concentração nas cores empregadas.
América Latina
A vinda dos ladrilhos hidráulicos da Europa para a América aconteceu devido
à grande imigração espanhola, no final do século XIX e início do XX, quando os
imigrantes trouxeram suas culturas e experiências de um negócio rentável, com
grande potencial de produção. Além disso, em 1867, a empresa Garreta, Rivet y Cia,
de Barcelona, exibiu sua coleção na Exposition Universelle de Paris. A sua
popularização extravasou as fronteiras do continente europeu para as colônias16.
Cuba foi o primeiro país da América Latina a fabricar ladrilhos hidráulicos. Por
volta de 1884 e, em 1899, já contava com quatro fábricas17.
A fábrica “A Cubana”, fundada em 1903, era considerada, na época, como a
maior fábrica do mundo, com suas instalações que ocupavam dez mil metros
quadrados. A fábrica era conhecida por utilizar ferramentas modernas e matéria-
prima de primeira qualidade, como areia, constituída somente por silicatos e livre de
sais, o que favorecia a qualidade das cores; cimento da indústria Lafarge e
pigmentos da Ritcher. Além disso, muitos de seus trabalhadores eram antigos
operários das fábricas Escofet, Orsola y Bustsems.
Antes do século XX, os modelos usados nos ladrilhos hidráulicos de Cuba,
em sua maioria, eram praticamente iguais aos de Barcelona. A fábrica La Havana,
entretanto, aumentou a concorrência no mercado, depois que passou a elaborar sua
própria coleção, utilizando cores e ornamentos diversos, fazendo com que a
variedade de padrões aumentasse consideravelmente no país inteiro. Os ladrilhos
hidráulicos passaram a ter desenhos compatíveis com a cultura local18.
16 NAVARRO, Mario Arturo Hernández. Puerto Rico Tile Designs. Pepinpress, 2012. p. 37.
17 ORTEGA, Carmen; LORA, Ana Mitila. El Mosaico Hidráulico: Arte em evolucioón. República
Dominicana: Grafisfon, 2008, p. 49. 18
NAVARRO, Mário Arturo Hernádez. Havana tile designs. Singapura: Pepin Press, 2007, p. 27.
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36
No México, os ladrilhos chegaram por influência italiana e espanhola. Em
1885, Eugenio Talleri, de origem italiana, começou a importar algumas peças de
Milão e, posteriormente, de Barcelona, passando, em 1896, a produzir seus próprios
ladrilhos hidráulicos.
Em 1900, surgiu a segunda fábrica, de propriedade do alemão Wilhem
Stevens Sarto o qual, a princípio, importava toda a matéria-prima e o maquinário da
Alemanha.
Somente em 1910 o México passou a produzir seus próprios ladrilhos
hidráulicos, iniciando a popularização do material no país e, consequentemente, a
abertura de diversas fábricas.
Os ladrilhos hidráulicos espanhóis também influenciaram o início da produção
na Argentina. Em 1896, o espanhol José Maria Cirtés fundou a Mosaicos
Tradicionales Argentinos, uma das primeiras fábricas de pisos em Buenos Aires,
passando a líder de mercado e, décadas depois, convertendo-se em exportador da
mercadoria para países da Europa. Também, no século XX, a Argentina já exportava
ladrilhos hidráulicos para o Brasil, Paraguai, Bolívia e Chile.
2.1.2 Contexto nacional
No Brasil, este material foi importado principalmente de Portugal, da França,
da Bélgica e da Alemanha. Foi no final do século XIX que os segredos das técnicas
de manufatura do ladrilho hidráulico foram passados aos imigrantes residentes no
Brasil e, então, começaram a ser instaladas aqui as primeiras fábricas.
Minas Gerais
A primeira fábrica de ladrilhos hidráulicos do Brasil foi fundada em Juiz de
Fora/MG, em 1889. Depois foi transferida para Belo Horizonte/MG, em 1896. O
fundador da fábrica foi o italiano Giovanni Lídio Lunardi, neto de Giovanni Lunardi,
que foi presidente sindical das Indústrias de Ladrilhos Hidráulicos e Produtores de
Cimento de Belo Horizonte.
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37
A fábrica Lunardi & Machado era localizada na área comercial central da
capital mineira, na Rua Curitiba, 158, em uma área de quatro mil metros quadrados.
A fábrica possuía máquinas elétricas da fábrica francesa A. Guilhon et Fils, as quais
podiam produzir diariamente quatro mil ladrilhos hidráulicos de variadas cores e
desenhos. O maquinário da fábrica era composto por oito prensas hidráulicas, uma
bateria de bombas hidráulicas, um moinho para tintas e um britador, tudo acionado
por um motor inglês de vinte cavalos.
Além de ladrilhos hidráulicos, a fábrica produzia, também, artefatos de
cimento armado, como manilhas de “qualquer diâmetro”, soleiras, banheiras,
degraus, ornamentos para fachada de prédios e outros. Era também oficina
marmoarista19.
A Figura 12 mostra a fachada da loja e fábrica de ladrilhos hidráulicos da
família Lunardi, em Belo Horizonte, em dois momentos distintos. Apesar da imagem
“A” não ser datada, pode-se perceber que deve ser anterior a 1900, já que o cartão
postal é desta data “B”. A fábrica já tinha sofrido reformas em sua fachada.
Figura 12: Fábrica de Ladrilhos Lunardi & Machado, (A) antes e (B) depois de 1990. Fonte:
LLOYD, 1913.
19
LLOYD, Reginald. Impressões do Brazil no Século Vinte. Londres: Lloyd's Greater Britain Publishing Company, 1913, p. 765.
A
B
http://www.bhnostalgia.blogspot.com.br/
-
38
Quando da construção de Belo Horizonte, como a nova capital de Minas
Gerais, foram importados diversos materiais construtivos do Rio de Janeiro para as
obras. Na apresentação desses materiais eram utilizados catálogos de divulgação
dos produtos, como o caso da Emanuele Cresta & Comp, que, dentre diversos
materiais, fornecia também ladrilhos hidráulicos20 (Figura 13). Nesse período, as
fábricas A Predial, Antiga Fábrica e Empresa Industrial, atendiam a demanda local
por ladrilhos hidráulicos.
Figura 13: Anúncio da Emanuele Cresta & Comp. no Almanak da Cidade de Minas. Fonte: Lima, 1900.
Nas três primeiras décadas do século XX foram abertas mais duas fábricas, a
Indústria Nacional e a Fábrica de Ladrilhos e Oficina Artística de Mármore Lupini &
Comp.
20 CAMPOS, Cláudia Fátima. História do Ladrilho Hidráulico em Belo Horizonte. 2011.
Dissertação (Mestrado em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável) – Universidade Federal de Minas Gerais, p. 94.
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39
Na década de 1940 existiam seis fábricas de ladrilhos hidráulicos, em Minas
Gerais21.
Rio Grande do Sul
A Fábrica de Mosaicos localizada em Pelotas/RS é uma das fábricas mais
antigas do país ainda em funcionamento. Fundada em 1914, a fábrica surgiu em
meio a uma efervescência econômica no país e disputava o mercado com mais
dezesseis fábricas de ladrilhos hidráulicos22. Em consonância à prosperidade
econômica, vieram também grandes artistas e arquitetos estrangeiros. Com isso, o
gosto pelo ladrilho hidráulico tornou-se mais presente. A Fábrica de Mosaicos
(Figura 14) possui, ainda hoje, mais de 300 modelos, do início do século, nos mais
diversos padrões: art nouveau, art deco, florais e geométricos23.
Figura 14: Fábrica de Mosaicos, uma das fábricas mais antigas de ladrilho hidráulico do Brasil. Fonte: www.fabricademosaicos.com.br.
Apesar da importância e recorrência de uso do ladrilho hidráulico no país, há
poucos registros sobre este material, mesmo com sua constante presença nas
edificações e calçadas de cidades históricas. Considerando a relevância desse
material, foi desenvolvido em Pelotas um inventário dos ladrilhos hidráulicos usados
21
CAMPOS, Cláudia Fátima. História do Ladrilho Hidráulico em Belo Horizonte. 2011. Dissertação (Mestrado em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável) – Universidade Federal de Minas Gerais, p. 94-95. 22
http://fabricademosaicos.com.br/ 23
LEÓN, Zênia de. Pelotas: casarões contam sua história. 2ª edição. Editora: Dm. Hofstatter. 1º Vol. 1993, p. 257.
http://www.fabricademosaicos.com.br/
-
40
em calçadas da cidade, reconhecendo esse instrumento de registro como um
importante passo para a preservação de bens culturais24.
São Paulo
Em São Paulo, a fábrica Dalle Piage, uma tradicional produtora de ladrilhos
hidráulicos, está em funcionamento desde 1922. Seu nome é inspirado em seu
fundador, o italiano Federico Dalle Piagge, um dos precursores da técnica no Brasil.
A fábrica Dalle Piagge, assim como diversas outras fábricas de ladrilhos hidráulicos,
passou por um período de estagnação entre 1960 e 2000, tendo sido fechada neste
período. Foi, entretanto, reaberta pela quarta geração da família em 2000.
Atualmente a Dalle Piagge é uma das fábricas mais importantes do país (Figura 15).
Figura 15: Galpão de produção da fábrica Dalle Piagge.
Outra fábrica de ladrilhos hidráulicos tradicional de São Paulo/SP é a Ornatos.
Ela tem a sua origem na década de 30, porém fechou as portas na época de crise
do material. Já na década de 80, voltou a funcionar, com o principal objetivo de
trabalhar com peças para restauro de edifícios. Os ladrilhos hidráulicos de
substituição, preparados para obra de restauro do Palacete Pinho, foram produzidos
nesta fábrica. Segundo o site da mesma, as peças são de 2004.
24
ZECHLINSKI, Ana Paula Polidori; ALMEIDA, Lílian Borges; OLIVEIRA, Ana Lúcia Costa. Ladrilho hidráulico: tentativa de preservação. Revista de pesquisa & Pós-graduação. Ano 2, volume 2, nº 2. Ouro Preto. 2000.
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Maranhão
Os ladrilhos hidráulicos de São Luís começaram a ser importados de
Portugal, Inglaterra, França e outras países da Europa a partir do século XIX. Na
cidade, também foi desenvolvido um trabalho de pesquisa sobre o assunto,
abordando o contexto histórico e político-econômico da inserção do ladrilho
hidráulico na cidade, apontando algumas edificações históricas que possuem o
ladrilho hidráulico utilzado especialmente como revestimeento de pisos25.
Pará
Apesar de não ter sido encontrado, até o momento, registro algum
documental que comprove a importação de ladrilhos hidráulicos em Belém/PA,
possivelmente os primeiros exemplares da cidade foram importados da Europa,
especialmente da França, Portugal e Alemanha, seguindo a lógica da chegada de
praticamente todos os materiais construtivos utilizados na capital paraense no
apogeu da economia do látex da região, entre o final do século XIX e início do XX,
na Belle Epóque.
Primeiramente, chegaram os ladrilhos cerâmico, que foram usados em
diversas edificações importantes da cidade, como o Palacete Pinho e o Palacete
Vitor Maria da Silva. Os ladrilhos cerâmicos eram originados nos principais pólos
cerâmicos do mundo, a exemplo da fábrica alemã Villeroy & Boch. O uso desse
material construtivo era justificado por sua beleza e durabilidade, porém, era um
produto que somente pessoas de alto padrão aquisitivo poderiam obter.
Já os ladrilhos hidráulicos, eram de mais fácil acesso, devido ao seu processo
de fabricação ser mais simplificado, com relação ao ladrilho cerâmico, e,
consequentemente, possuir menor custo.
A difusão do uso do ladrilho hidráulico em Belém está provavelmente
relacionada ao início da produção local, resultando em maior acessibilidade ao
25 SILVA, Svetlana Maria Farias da. Ladrilhos de São Luís: reflexos estéticos de uma época. São
Luis: Secretaria de Estado da Cultura – SESC, 2005, p. 29.
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material e ao preço final de revenda. Com a possibilidade de adquirir peças na
própria cidade ocorreu maior estímulo ao comércio de compra e venda desse
material.
A primeira fábrica em Belém deve ter sido a que foi fundada por Domingos
Acatauassú Nunes em sociedade com o alemão Guilherme Frederico Humdemark.
Segundo o senhor Nelson Vale, em entrevista concedida durante essa pesquisa em
2012, o seu avô, Guilherme Frederico Humdemark, foi o responsável pela chegada
da produção de ladrilhos hidráulicos em Belém. O relato, destaca que Guilherme
possuía o conhecimento da produção de ladrilhos hidráulicos trazido da Alemanha,
contudo não detinha recursos financeiros para montar uma fábrica própria.
Guilherme, então, propôs sociedade à Domingos Acatauassú, dividindo a
responsabilidade da gestão administrativa para o sócio, enquanto que ele próprio se
encarregava do gerenciamento e produção das peças. Apesar desses relatos, ainda
não foi possível precisar a data de fundação da fábrica, tampouco sua denominação
oficial.
Outra fábrica de muito prestígio na cidade era a A. Pinheiro Filho, localizada
na Travessa Quintino Bocayuva, Nº 31. Além da fabricação de ladrilhos hidráulicos,
esta fábrica produzia outros elementos construtivos e de ornamentação, tais como:
marmorite (pedra artificial), escadarias, soleiras, peitoris, colunas, balaustradas,
portais, tampos de mesas para bares, bancos de jardim, vasos, bacias com sifão
para banheiro, pias, postes, estátuas, túmulos, guarda-corpos entre outros (Figura
16).
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Figura 16: (A) Imagem da capa do catálogo da A. Pinheiro Filho e (B) artefatos de marmorite
produzidos por ela. Fonte: Catalogo A. Pinheiro Filho e Cia Ltda, 1927.
Os catálogos da fábrica eram ricos e bem ilustrados. Um volume de 1927 da
A. Pinheiro Filho relata que o objetivo da fábrica era oferecer um material que
atendesse aos mais modernos requisitos de higiene e técnica, contando com o mais
moderno em máquinas.
Os ladrilhos produzidos na A. Pinheiro Filho eram prensados com força de
150 a 200 Atm, com “esquadrias perfeitas e arestas vivas”26. A fábrica oferecia
também grande variedade de desenhos criados por outras indústrias estrangeiras
especialistas em ladrilhos, e a coloração dos desenhos era resultado de pigmentos
de primeira qualidade, importados da Europa.
A. Pinheiro Filho forneceu ladrilhos hidráulicos para diversas edificações da
cidade, principalmente para escolas e prédios públicos. O Colégio Marista possui
vários ladrilhos, distribuídos em diversos ambientes, produzidos por esta fábrica.
26
Catálogo A. Pinheiro Filho e Cia Ltda, 1927.
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A Figura 17 mostra a capela do colégio, com ladrilhos hidráulicos assentados
no piso e os modelos dos ladrilhos utilizados no catálogo da fábrica.
Figura 17: Ladrilhos produzidos na A. Pinheiro Filho assentados na capela do Colégio Marista.
Fonte: Catálogo da fábrica A. Pinheiro Filho e Cia Ltda, 1927.
O filho do alemão Guilherme Frederico, suposto pioneiro na produção de
ladrilhos hidráulicos em Belém, Henrique Ferreira do Vale, herdou a prática de
produzir ladrilhos e também trabalhou como mestre ladrilheiro. Foi proprietário da
fábrica de Ladrilhos Cruzeiro, a partir de 1946, até o momento de decadência do
ladrilho hidráulico, com a introdução das lajotas cerâmicas.
Em 1961, seguindo a tradição da família de trabalhar na produção de ladrilhos
hidráulicos, o engenheiro Nelson Vale, filho de Henrique Vale, deu continuidade à
fabricação do material, com a fábrica CONSTAR. Inicialmente, começou com a
fábrica no quintal de seu sogro. Já em 1963, mudou-se para uma casa maior, onde
fabricou ladrilhos até 1968.
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Em sua entrevista, Nelson Vale relatou que chegou a ter quatro prensas
funcionando e vinte funcionários trabalhando em sua fábrica, no período em que o
ladrilho era mais valorizado. As prensas eram provenientes da fábrica de máquinas
J. Gimines.
Outra fábrica de ladrilhos hidráulicos que funcionava em Belém/PA foi a
Fábrica Nossa Senhora de Lourdes, conhecida também como NOSELOUR. Essa
fábrica iniciou seu funcionamento em 1959 e registrou falência em 1970.
Em contato pessoal com o engenheiro José Leitão de Almeida Viana, filho de
Orlando Viana, fundador da fábrica, este explicou que acompanhou do surgimento
até a decadência a fábrica de ladrilhos do pai. Assim, sabe-se que Orlando Viana
iniciou carreira militar aos 17 anos, e aos 38 anos já entrava para a reserva. A busca
de um novo ofício o levou a comprar equipamentos para a fabricação de ladrilho, os
quais foram adquiridos de uma fábrica em Icoaraci e instalados em seu quintal.
Além dos equipamentos, foram contratados também, os operários que
trabalhavam na fábrica de Icoaraci, com o objetivo de repassar a técnica de
produção para os demais funcionários. No início do funcionamento, em 1959, a
fábrica contava com uma prensa com quatro operários, mas, em 1961, a produção
dobrou, sendo adquirida mais uma prensa, na qual também trabalhavam quatro
operários.
José Viana garante que o material produzido por seu pai possuía ótima
qualidade e que o ladrilho era muito utilizado na época. O modelo mais procurado
pelo público era o tipo marmorizado, o qual imitava mármores, modelo que era
produzido exclusivamente pela NOSELOUR. As peças possuíam dimensões de
20cm x 20cm ou 30cm x 30cm, sendo que os maiores eram mais adequados para
assentamento em calçadas. Na face posterior, as peças possuíam um círculo como
sua marca.
O maior comprador dos ladrilhos produzidos pela NOSELOUR era o
município, que os usava para o revestimento de pisos de escolas e repartições
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públicas. Infelizmente, muitos desses pisos não existem mais devido a demolições e
reformas.
Existiram outras fábricas de ladrilhos hidráulicos na cidade de Belém. Apesar
de não se ter muitas informações sobre elas, foram encontrados anúncios em jornais
de propagandas da Fábrica Hercules, por exemplo (Figura 18).
Figura 18: Anúncio da fábrica de ladrilhos e marmorite Hercules. Fonte: O liberal, 1943.
A queda da produção de ladrilhos hidráulicos, em todo o país, ocorre a partir
da popularização das lajotas cerâmicas, as quais apresentavam preços muito mais
baixos que os dos ladrilhos. No Pará, esta queda vem juntamente com a abertura da
rodovia Belém-Brasília, a partir de 1960, que tinha por objetivo a integração
comercial entre o norte e o sul do país. Através da rodovia, a comercialização de
diversos produtos foi favorecida, incluindo materiais de construção como as lajotas.
Hoje em dia, os ladrilhos hidráulicos voltaram a ser utilizados, principalmente
por indicação de arquitetos de interiores e decoradores. Observam-se na atualidade
ações antagônicas em relação ao uso de ladrilhos hidráulicos: ao mesmo tempo em
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que o material tem sido substituído por outros tipos de revestimentos, também estão
sendo aplicados em diversas construções contemporâneas e até mobiliário.
O gosto por revestir pisos e paredes tende a voltar. A aplicação de ladrilhos
hidráulicos é facilmente encontrada em estabelecimentos comerciais e residências,
sendo principalmente utilizados como elementos decorativos. Os ladrilhos
hidráulicos aplicados em edificações contemporâneas podem ser de fabricação atual
ou antiga, provenientes de demolições (Figura 19).
Figura 19: Ladrilhos hidráulicos antigos aplicados atualmente em balcão de uma padaria em Belém/PA.
Atualmente, existem duas fábricas em funcionamento em Belém/PA:
CONSTAR e Ladrilharq.
A fábrica CONSTAR, citada anteriormente, voltou a produzir ladrilhos
hidráulicos em 2006, devido à procura por este material no Estado, já que foi
observado que para adquirir ladrilhos, até então, era necessário recorrer a fábricas
de outros lugares do país.
A CONSTAR conta com uma prensa e possui três funcionários, que
produzem 20m² por dia. Os quarenta moldes utilizados na produção, todos originais
da Alemanha, são herança do avô do proprietário.
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A Ladrilharq funciona há 10 anos e pertence ao arquiteto Carlos Antônio
Barbosa da Silva, com escritório situado à Rua José Bonifácio, em Belém/PA,
enquanto sua produção concentra-se no município de Abaetetuba/PA.
Em entrevista realizada com o proprietário, o mesmo relatou que a
idealização da fábrica de ladrilhos surgiu a partir do seu gosto pessoal pelo material,
presente em sua memória, a partir das diversas edificações ladrilhadas de sua
cidade natal, a cidade histórica de Óbidos/PA, no interior do estado.
O arquiteto relatou ainda que, ao se interessar em abrir a fábrica, lembrou-se
de um amigo de infância, cuja família possuía uma fábrica de ladrilhos na década de
1940 e de onde comprou, como sucata, sua antiga prensa. As demais prensas foram
adquiridas em Abaetetuba/PA (duas) e Benevides/PA (uma), provenientes de
fábricas desativadas.
Em Abaetetuba, os padres locais haviam produzido ladrilhos no seminário,
anteriormente, indicando também funcionário treinado nesse ofício, que foi
contratado para a nova fábrica.
Atualmente, a fábrica conta com o trabalho de 15 pessoas, sendo sete na
produção do material e dois operários em cada prensa. A fábrica produz,
aproximadamente, 200 peças simples por dia, por operário. A Ladrilharq possui
ladrilhos assentados durante obras de intervenção restaurativa em diversas
edificações em Belém, destacando o Museu da Universidade Federal do Pará e o
Asilo Dom Macedo Costa, ambos importantes edificações históricas da cidade.
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2.2 SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE LADRILHOS HIDRÁULICOS E
CERÂMICOS
No desenvolvimento da pesquisa, foi verificado que é muito comum a
generalização do termo ladrilho hidráulico. Com frequência, os ladrilhos cerâmicos,
pela semelhança de desenho, ou mesmo por desconhecimento das diferenças, são
errôneamente enquadrados como “ladrilhos hidráulicos”.
Isto acontece devido às semelhanças em aspecto entre os dois materiais.
Contudo, há sensíveis diferenças entre os dois tipos de ladrilhos, especialmente
quanto à sua estrutura e composição. Um olhar atento observará que os materiais
diferem bastante entre si.
O ladrilho hidráulico é constituído principalmente de cimento, enquanto que o
cerâmico é confeccionado com o uso de argilas e é queimado em temperatura
elevada (Figura 20).
Figura 20: (A) Ladrilho hidráulico do Colégio Santo Antônio e (B) ladrilho cerâmico do Palacete do Parque da Residência.
É provável que o ladrilho hidráulico tenha surgido com a intenção de substituir
o ladrilho cerâmico, pois sabe-se que o declínio de sua produção aconteceu no fim
do século XIX, quando os ladrilhos hidráulicos foram desenvolvidos. Outro aspecto
fundamental é de caráter econômico, pois os ladrilhos hidráulicos eram muito mais
baratos que os cerâmicos, o que atendia à crescente economia de massa.
A B
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50
Em Belém/PA, é possível destacar algumas edificações que apresentam o
ladrilho cerâmico como pavimentação de piso. Entre eles está o Palacete Pinho,
edificado no final do século XIX, em 1897, quando o comerciante Antônio José de
Pinho, proprietário do imóvel, contratou o engenheiro Camilo de Amorim para
executar a obra.
O palacete apresentava ladrilhos cerâmicos em toda área externa de
varandas e pátios, em áreas de circulação e áreas molhadas. Até sua restauração
finalizada em 2011, era possível encontrar ladrilhos cerâmicos franceses no
palacete, porém estes ladrilhos cerâmicos da fábrica francesa Sand & Co foram
substituídos por réplicas em ladrilho hidráulico com o intuito de complementar áreas
com peças degradadas ou faltantes. Segundo relatos, não foi identificada, na época,
a diferença entre ladrilhos hidráulicos e ladrilhos cerâmicos na edificação: o piso em
ladrilho cerâmico teria sido identificado como piso em ladrilho hidráulico, daí a
substituição.
O caso do Palacete Pinho reflete a perda das informações dos materiais e de
técnicas antigas, que permitam, por exemplo, a identificação correta entre os
diferentes ladrilhos.
A identificação dos ladrilhos do Palacete Pinho poderia ter sido feita ainda in
loco, utilizando ácido clorídrico (HCl), já que o ladrilho hidráulico é uma material
carbonático, o qual sofreria efervescência na presença do ácido, enquanto que o
ladrilho cerâmico não sofreria alteração alguma.
Justifica-se assim, a relevância da identificação correta dos materiais,
principalmente quando estes forem objetos a serem restaurados e conservados
adequadamente de acordo com sua composição e características próprias.
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2.3 PRODUÇÃO DE LADRILHOS HIDRÁULICOS
O conhecimento sobre a matéria-prima e o processo de produção do material
apresenta grande importância no seu âmbito histórico e tecnológico. A fabricação do
ladrilho hidráulico corresponde a uma técnica artesanal, e por isso, tradicional. Ter
registro sobre as etapas do processo torna possível retornar ao trabalho dos antigos
mestres ladrilheiros.
2.3.1 Matéria-prima utilizada
A matéria-prima utilizada na fabricação de ladrilhos hidráulicos é composta
por cimento Portland cinza, cimento Portland branco, areia, pó de pedra fino,
pigmentos inorgânicos e água.
Cimento Portland cinza
Em 1824, o construtor inglês Joseph Aspdin patenteou o cimento Portland.
Ele queimou conjuntamente pedras calcárias e argila, transformando-as em um pó
fino. Percebeu que obtinha uma mistura que, após secar, tornava-se tão dura quanto
às pedras empregadas nas construções.
Após isto, houve um desenvolvimento do material, cujo uso ganhou força, por
apresentar algumas vantagens com relação à cal.
No Brasil, as primeiras toneladas de cimento foram produzidas e colocadas
no mercado em 1926. Até então, o consumo de cimento no país, dependia
exclusivamente do produto importado27, o que implica que, provavelmente, até esse
momento os ladrilhos hidráulicos aqui produzidos utilizaram o cimento importado
como matéria-prima.
O cimento Portland é produzido a partir de mistura controlada de calcário e
argila, ainda com outras matérias-primas minerais, em menores proporções. É uma
27 http://www.abcp.org.br.
http://www.abcp.org.br/
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mistura rica em sílica, alumina e ferro que, após moída, é sujeita à calcinação a
uma temperatura da ordem dos 1400 a 1500 ºC28.
O cimento é o aglomerante mais utilizado