UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Larissa Cristina Brito.pdf · da...
Transcript of UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Larissa Cristina Brito.pdf · da...
0
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI – BIGUAÇU
CURSO DE PSICOLOGIA
LARISSA CRISTINA BRITO
PSICÓLOGOS E MÉDICOS DIANTE DA MORTE: a trégua no conflito profissional
Biguaçu
2005
1
LARISSA CRISTINA BRITO
PSICÓLOGOS E MÉDICOS DIANTE DA MORTE: a trégua no conflito profissional
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para a obtenção do grau de Bacharel em Psicologia do Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí.
Biguaçu
2005
2
LARISSA CRISTINA BRITO
PSICÓLOGOS E MÉDICOS DIANTE DA MORTE: a trégua no conflito profissional
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi considerado aprovado, atendendo os
requisitos parciais para obter o grau de Bacharel em Psicologia na Universidade do
Vale do Itajaí.
Biguaçu (SC), 23 de junho de 2005.
Banca Examinadora
Prof. MSc. Sandro César Sell
Orientador
Prof. MSc. Marcelo de Oliveira
Membro
Prof. MSc.Leandro Oltramari
Membro
3
Aos meus pais, Jamir e Ruth Brito, que me deram
a vida e formaram meu caráter e personalidade
À minha irmã Nicolly Eduarda pela digitação de
meus trabalhos quando precisei
Ao meu noivo, Gabriel Paschoal Pítsica, pelo
amor e incentivo.
Obrigada por fazerem parte da minha vida.
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, pela sabedoria e persistência que me foram
concedidas para a realização deste estudo;
Ao professor MSc. Sandro César Sell orientador e amigo, que me iluminou o
caminho e deu qualidade ao meu trabalho. Sua dedicação e perspicácia renderam
frutos. E renderão. Obrigada!
Aos professores Marcelo de Oliveira e Leandro Oltramari por aceitarem o
convite em participar deste trabalho;
À Prof. MSC Helena Paschoal Pítsica, chefe, amiga e cunhada, pelas horas
em que me ausentei do trabalho para terminar esse TCC;
Às amigas Bruna Hoffmann Loeff e Josiani Alves Staroski , pelo apoio e
incentivo em todas as horas;
A todos os que, de uma maneira ou de outra colaboraram na realização deste
trabalho.
5
"É freqüente nos depararmos com desafios que à
primeira vista parecem intransponíveis. Eles estão aí
justamente para nos ensinar que tudo é possível na
corrente ilimitada da vida. Cada obstáculo e desafio
vencidos nos levam a conhecer o potencial de nossa
capacidade, desenvolvido através do amor pela vida.
Receba cada desafio com uma bênção e mostre que
você está pronto para crescer. Mesmo nos aparentes
momentos de derrota há sucesso, pois, quando
acontecem, nos permitem reconhecer quais
comportamentos impedem a realização de nossos
objetivos. Não estabeleça juízos a partir dos resultados
de suas tarefas, tampouco critique seu desempenho a
partir delas. Ao invés disso, alegre-se pela beleza de
estar em um processo contínuo de conhecimento do
universo. Seja grato pelos desafios que surgem em sua
vida. Eles são manifestações da alma, que anseia
libertar-se de limitações ".
(JOHN COLUMBUS TAYLOR)
6
SUMÁRIO
RESUMO.....................................................................................................................8
RIASSUNTO ...............................................................................................................9
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................10
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................13
2.1 MORTE ..............................................................................................................13
2.1.1 Conceitos ......................................................................................................13
2.1.1.1 Medicina......................................................................................................13
2.1.1.2 Psicologia....................................................................................................14
2.1.2 Dados históricos e psicológicos da morte.................................................15
2.2 PACIENTE TERMINAL ......................................................................................19
2.2.1 Conceitos ......................................................................................................19
2.2.2 Paciente Terminal: o modelo clássico de Kubler-Ross ...........................21
2.2.2.1 1ª Fase: Negação .......................................................................................22
2.2.2.2 2ª Fase: Raiva.............................................................................................23
2.2.2.3 3ª Fase: Barganha ......................................................................................24
2.2.2.4 4ª Fase: Depressão ....................................................................................25
2.2.2.5 5º Fase: Aceitação ......................................................................................26
2.3 OS PROFISSIONAIS DIANTE DA MORTE .......................................................27
3 METODOLOGIA....................................................................................................31
3.1 MÉTODO ...........................................................................................................31
3.2 POPULAÇÃO ALVO ..........................................................................................31
3.3 INSTRUMENTO.................................................................................................32
3.4 PROCEDIMENTOS PARA COLETAS DE DADOS ...........................................32
3.5 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS............................................................32
4 ANALISE DA BIBLIOGRAFIA EM FUNÇÃO DAS QUESTÕES ..........................36
7
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................52
REFERÊNCIAS.........................................................................................................54
FILMES RELACIONADOS COM A PESQUISA .......................................................58
8
RESUMO
BRITO, Larissa Cristina. Psicólogos e médicos diante da morte: a trégua no conflito profissional. 2005. 47 f. Trabalho de Conclusão de Curso - Graduação em Psicologia - Universidade do Vale do Itajaí, Biguaçu, 2005.
O fenômeno morte, desde os primórdios da civilização, é considerado um assunto que, ao mesmo tempo fascina e aterroriza a humanidade. O mistério com que se envolve essa passagem, da vida para a morte, e a necessidade de elaborar os sentimentos de desconforto suscitado pela saída física do grupo de um de seus membros, leva a uma relação dúbia de curiosidade e reverência. A finalidade do presente estudo é discutir o papel de psicólogos e médicos diante da morte. Tem - se como objetivo geral verificar os possíveis desencontros entre as concepções de médicos e psicólogos sobre o processo de morrer. Para atingir esse objetivo, os objetivos específicos investigam: Compreender papel de médicos e psicólogos diante da morte inevitável; Analisar a relação profissional-paciente; Verificar se há uniformização de papéis e discursos médico-psicólogos em face do paciente terminal. Inicialmente, será apresentado conceito e dados históricos e psicológicos da morte e de paciente terminal e após o papel dos profissionais da saúde diante da morte. Nas suas conclusões, o trabalho aponta para a pouca distinção diante do paciente terminal no fazer de médicos e psicólogos. Nesta pesquisa utilizou-se de artigos e textos de 22 profissionais, sendo 11 médicos e 11 psicólogos. O método utilizado será pesquisa bibliográfica com a finalidade de colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito sobre determinado assunto. Ao final, verificou-se que perto da morte, a função de médicos e psicólogos se parecem não só, em muitos aspectos entre si, mas com a intervenção de senso comum (da família, amigos etc.). A relação médico-paciente é muito importante e deve haver até o final da vida do paciente terminal. Essa relação deve ser de confiança, ser transparente, e ainda de diálogo.
Palavras- chave: Morte; paciente terminal; equipe multidisciplinar.
9
RIASSUNTO
BRITO, Larissa Cristina. Psicologhi e medici davante dalla morte: la tregua nel conflito professionista. 2005. 59f. Lavoro di Conclusione di Corso – Graduazione in Psicologia – Universidade do Vale do Itajaí, Biguaçu, 2005. Il fenomeno morte, da i primordi della civilizzazione, è considerato un tema Che, al stesso tempo affascina es sgomenta la umanità. Il mistero con che se involge questo passagio, dalla viíta alla morte, ed la necessita di elaborare i sentimenti di disconforto suscitato per la uscita física del grupo di uno dei suoi membri, riporta a uma relazione dubbia di curiosità e riverenza. La finalità della presente ricerca è discutere la funzione dei psicologhi e medichi davanti dalla morte ha come obiettivo gerale verificare i possibili desappuntamento tra le concezioni di medici ed psicologhi su il processo di morire. Per attingere questo obiettivo, i obiettivi specifichi investigano: comprendere la funzione dei médici ed psicologhi davanti alla morte inevitabile. Alanizare la relazione professionista-paziente. Verrificare se existono uniformizazzione della funzione ed discorso medico-psicologico verso il paziente terminale. Inizzialmente sara rappresentato conceto historichi e psicologichi dalla morte e di paziente terminale e doppo la funzione dei professionista della salute davante la morte. Nei suoi concluzioni, il lavoro aponta per la poça distinzione davanti Del paziente terminale nella funzione Del medico e psicológico. In questa ricerca hanno utilizato artighi ed testi di 22 professionista, essendo 11 medichi e 11 psicologhi. Il método utilizzato saranno la pesquisa bibliográfica com la finalità di mettere lo ricercattore in contato direto com ghi scritti soppra determinatti assunto. Al fine, vede Che insieme la morte la funzione dei médici e psicologhi sono somigliante non solo in asppetti da se, ma con la intervención del senso comune (dalla famiglia, amici, ecc.). La relazione medico paziente è molto importante ed bisogna havere da fine della viíta del paziente terminale. Questa relazione debe essere di fidicia, essere trasparente, ed adesso di dialogo. Parola-chiave: morte; paziente terminale; equipe multidisciplinare.
10
1 INTRODUÇÃO
Esta pesquisa ganha sua importância ao analisar como médicos e psicólogos
assumem publicamente seu papel em face do paciente terminal.
É importante ainda, para que possamos ter uma idéia integrada de como o
paciente é visto a partir de diferentes enfoques dos especialistas possibilitando –nos
inferir se, no conjunto, estes acabam produzindo uma visão fragmentada do ser
humano em seu processo de morte.
Com isso, faremos com que a sociedade onde estamos inseridos, que tem a
morte como um tabu, possa refletir e discutir sobre o assunto, tornando esta, uma
pesquisa altamente relevante socialmente.
O fenômeno morte, desde os primórdios da civilização, é considerado um
assunto que, ao mesmo tempo fascina e aterroriza a humanidade. O mistério com
que se envolve essa passagem, da vida para a morte, e a necessidade de elaborar
os sentimentos de desconforto suscitado pela saída física do grupo de um de seus
membros, leva a uma relação dúbia de curiosidade e reverência.
Nas sociedades modernas ocidentais, a morte representa um dos pontos
básicos em que o discurso oficial da ciência, que prometeu manter tudo sobre seu
controle, continua tendo que ceder lugar a saberes tidos, muitas vezes, como menos
legítimos, como a filosofia e a religião. Os especialistas em ciência não conseguem ir
muito além de alegar a naturalidade do processo de morte, ao mesmo tempo em
que, como paliativo, prometem crescentemente seu adiamente médio, através de
intervenções terapêuticas cada vez mais calcadas em saberes científicos.
Mas se a morte do indivíduo é uma só, os especialistas a se debruçarem
sobre os pacientes terminais são muitos. E, então, surge, o problema de se a
fragmentação dos saberes não levaria à fragmentação do objeto? Em outras
palavras, se cada especialistas (psicólogo, médico, enfermeiro...) com sua própria
perspectiva profissional de abordar o paciente terminal não o levaria a uma definição
parcial, contraditória e causadora de desorientação ao sujeito em seu processo de
morrer?
11
Uma das formas de responder a essa indagação seria entrevistando os
próprios pacientes. Mas seria uma tarefa muito delicada e difícil ao nosso nível de
formação, além do que haveria a questão ética de se é correto submeter pessoas na
sua fase final de vida aos interesses da pesquisa científica. Poder-se-ia, então,
entrevistar os próprios profissionais, mas, com o tempo disponível para esse estudo,
teme-se acabar com uma visão muito particular de poucos profissionais
entrevistados. Outra forma de tentar, de forma meramente sugestiva, responder as
indagações desta pesquisa, é trabalhar com os discursos públicos dos profissionais
médicos e psicólogos disponíveis em artigos, livros e sites na Internet.
Assim, será apresentado as seguintes questões que nortearam esta pesquisa:
Diferentes formações acadêmicas formam diferentes perspectivas sobre o ato
de morrer?
Especialistas em contato com o paciente terminal o vêem de forma diferente,
assim, como seu papel diante da morte anunciada?
Quais são as concepções que estes especialistas têm do seu papel diante da
morte inevitável?
Tem - se como objetivo geral verificar os possíveis desencontros entre as
concepções de médicos e psicólogos sobre o processo de morrer. Para atingir esse
objetivo, os objetivos específicos investigam: Compreender papel de médicos e
psicólogos diante da morte inevitável; Analisar a relação profissional-paciente;
Verificar se há uniformização de papéis e discursos médico-psicólogos em face do
paciente terminal.
A hipótese de pesquisa pressupõe que quando lidam com pacientes
terminais, médicos e psicólogos tendem a assumir discursos e papéis semelhantes,
como se a iminência da morte apagasse certas fronteiras corporativas e
epistemológicas.
O tema da morte não é de forma alguma uma discussão atual. Foram muitos
os filósofos, historiadores, sociólogos, biólogos, antropólogos e psicólogos a discutir
o assunto no decorrer da História. Isto porque a morte não faz parte de uma
categoria específica, como fenômeno universal, ela é uma questão que atravessa o
tempo e o espaço exigindo respostas que, embora sejam culturalmente situadas,
12
são humanamente inafastáveis, independentemente da visão de mundo de cada
cultura.
13
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Esta pesquisa investiga a trégua no conflito profissional entre psicólogos e
médicos diante da morte. Para tanto fez - se necessário inicialmente à elucidação de
questão relacionada a morte, pacientes terminais e equipe multidisciplinar.
2.1 MORTE
2.1.1 Conceitos
2.1.1.1 Medicina
Para o médico Luis Rey (2003, p.136) em sua obra Dicionário de termos
técnicos de medicina e saúde, morte é: 1. Cessação completa e definitiva, seguida da desorganização das
estruturas orgânicas e celulares, com extinção das funções neuropsíquicas. A morte cerebral pode preceder à morte do organismo como um todo. [...]
Em termos de função, a morte se caracteriza pela interrupção completa e
definitiva das funções vitais (respiração, consciência...) de um organismo vivo, sendo
denominada como morte clínica, e com o desaparecimento da coerência funcional e
destruição progressiva das unidades celulares, denominada morte total. (KOVÁCS,
1992)
14
2.1.1.2 Psicologia
Para o psicólogo Norbert Sillamy (1998, p. 158) em sua obra Dicionário de
psicologia Larousse, define morte como: Cessação definitiva das funções vitais do organismo. A idéia da morte geralmente suscita ansiedade pois é a consciência de um nada inconcebível. Se a morte de uma pessoa habitualmente é sentida pelos familiares como uma perda irreparável, suscitando pesar, às vezes a neurose, ate mesmo a morte, ela é, em certos povos (Esquimós, indígenas da Ilhas Fidji), ocasião de alegrias: os membros dessas sociedade estão convencidos de que há uma vida alem da morte, mais feliz do que esta. Para tentar descobrir o segredo da morte, psiquiatras e psicólogos, desde o começo dos anos 70, tentam colher o Maximo de informações junto às pessoas que estiverem muito perto dela. Vários testemunhos afirmam a presença de uma “luz celestial”, de uma “luz extraordinária”, de uma sensação de bem estar. Para R. Siegel, é possível explicar tais impressões pela liberação maciça de endorfinas no momento em que o organismo sente a morte chegar.
Como era de se esperar, a definição de morte para o psicólogo envolve mais
do que a cessação das funções orgânicas, vez que representa um processo a ser
vivido não apenas no corpo, mas também na psique e nas mediações culturais sobre
o significado que o sujeito atribui a tal fato. Por tal ampliação, poder-se-ia esperar
uma divisão ideal do trabalho terapêutico com o paciente terminal: enquanto o
médico tentaria manter vivo o organismo, o psicólogo interviria a fim de manter
coerente o significado do processo pelo qual passa o paciente terminal. O primeiro
cuidaria para que o corpo não se deteriorasse irreversivelmente; o segundo, para
que a identidade do sujeito não se perdesse antes da hora fatal. Mas, na prática,
essa divisão de trabalho dificilmente existe, como veremos.
15
2.1.2 Dados históricos e psicológicos da morte
A morte é um processo biológico natural e necessário. A morte não é o
contrário da vida e sim um artifício da natureza para tornar possível a manutenção
da vida.. A morte é uma condição indispensável à sobrevivência da espécie e,
através dela a vida se alimenta e se renova.
As religiões e a filosofia sempre procuraram explicar de onde vem e para
onde vai o homem, no entanto, cada um de nós tem sua própria representação de
morte que nos são passados por nossa família e pelas nossas culturas e esta, por
sua vez, são atribuídas personificações, qualidades, formas. (KOVÁCS, 1992)
Segundo MORIN (1970 apud KOVACS, 1992): É nas atitudes e crenças diante da morte que o homem exprime o que a vida tem de mais fundamental. A sociedade funciona apesar da morte, contra ela, mas só existe, enquanto organizada pela morte, com a morte e na morte. Para a espécie humana, a morte está presente durante a vida toda e se faz acompanhar de ritos. Desde o homem de Neanderthal são dadas sepulturas aos mortos. A morte faz parte do cotidiano, é concreta e fundamental. Qualquer grupo, mesmo os mais primitivos, não abandonam os seus mortos. A crença na imortalidade sempre acompanhou o homem. (KOVÁCS, 1992, p. 28)
Todas as culturas personificam a morte de forma diferente. A religião tem o
papel de socializar e dirigir os ritos de morte como forma de lidar com o terror. O
sacrifício favorece a ligação entre vida e morte, conforme MORIN (1970 apud
KOVACS, 1992): Quando se sacrifica um animal para beber o sangue, ou mesmo no canibalismo, existe a idéia de incorporação dos elementos vitais do morto. Nos ritos de iniciação, chega-se a uma vida nova passando pela morte e separação. Começa com isolamento, torturas, rituais traumatizantes, auto - mutilação, sofrimento físico e psíquico, para depois ocorrer um ‘renascimento’ e uma reintegração na sociedade.
Muitas culturas possuem rituais para cuidar da pessoa que morre Na
mitologia hindu, a morte é encarada como uma válvula de escape para o controle
demográfico. Quando a "Mãe-Terra", torna-se sobrecarregada de pessoas vivas, ela
apela ao deus Brahma que envia, então, a "mulher de vermelho" (que representa a
16
morte na mitologia ocidental) para levar pessoas, aliviando assim, os recursos
naturais e a sobrecarga populacional da "Mãe-Terra".(ARIES, 1977)
O hebreus consideravam o corpo do morto como alguma coisa impura, que
não podia ser tocada. Os antigos índio americanos falavam dos espíritos do mal e
atiravam flechas ao ar para afugenta-los (KUBBER-ROSS, 1998)
Os rituais de luto sempre existiram, consistindo na manifestação mais aberta
ou mais contida da tristeza. Segundo KONAVACS (1992) no Ocidente, na Idade
Média, o preto em sua origem não tinha relação nenhuma com respeito e sim de
expressar medo aos mortos. Relacionava-se, não com o respeito e sim como horror dos mortos. O preto era um disfarce, assim o fantasma do morto não reconheceria o vivente para caça – lo. O uso do preto incluía véu, pois acreditava - se ser uma forma de proteção contra a própria morte. Essa cor era designada para confundir o próprio demônio, que estava caçando outras vidas. Algumas raças usavam pintura da face em branco ou preto, como uma forma de enganar o morto, que acreditava que os enlutados também eram fantasmas e não criaturas vivas que poderiam ser invejadas por eles. (KONAVACS, 1992, p. 34)
Os egípcios da Antigüidade, segundo Kastenbaum e Aisenberg (1983), em
sua sociedade bastante desenvolvida do ponto de vista intelectual e tecnológico,
consideravam a morte como uma ocorrência dentro da esfera de ação. Eles
possuíam um sistema que tinha como objetivo, ensinar cada indivíduo a pensar,
sentir e agir em relação à morte. (KASTENBAUM E AISENBERG 1983)
Os autores seguem dizendo que os malaios, por viverem em um sistema
comunitário intenso, apreciavam a morte de um componente, como uma perda do
próprio grupo. Desta feita, um trabalho de lamentação coletiva diante da morte era
necessário aos sobreviventes. Ademais, a morte era tida não como um evento
súbito, mas sim como um processo a ser vivido por toda a comunidade.
Segundo Ariès (1977), na Vulgata, o livro da Sabedoria, após a morte, o justo
irá para o Paraíso. As versões nórdicas do livro da Sabedoria rejeitaram a idéia de
Paraíso descritas no livro original pois, segundo os tradutores, os nórdicos não
esperam as mesmas delícias que os orientais, após a morte. Isso porque os
orientais descrevem que o Paraíso tem "a frescura da sombra", enquanto os
nórdicos preferem "o calor do sol". Estas curiosidades nos mostram como o ser
17
humano deseja, ao menos após a morte, obter o conforto que não conseguiu em
vida.
Já o budismo, através da sua mitologia, busca afirmar a inevitabilidade da
morte. A doutrina budista nos conta a "Parábola do Grão de Mostarda": uma mulher
com o filho morto nos braços, procura Buda e suplica que o faça reviver. Buda pede
à mulher que consiga alguns grãos de mostarda para fazê-lo reviver. No entanto, a
mulher deveria conseguir estes grãos em uma casa onde nunca houvesse ocorrido a
morte de alguém. Obviamente esta casa não foi encontrada e a mulher
compreendeu que teria que contar sempre com a morte. (ARIES, 1977) Portanto a
morte é apenas a iniciação numa outtra forma de vida além daquela cujo fim
representa, devendo ser vivido como um momento de consciência focalizada para
facilitar a perda.
Segundo Mircea Elíade (1987) os fino-úgricos (povos da região da Península
de Kola e da Sibéria Ocidental), têm sua religiosidade profundamente vinculada ao
xamanismo. Os mortos destes povos eram enterrados em covas familiares, onde os
que morreram há mais tempo, recebiam os "recém mortos". Assim, as famílias eram
constituídas tanto pelos vivos quanto pelos mortos.
Esses exemplos nos trazem uma idéia de continuidade em relação à morte,
não sendo a mesma, considerada como um fim em si. Havia uma certa tentativa de
controle mágico sobre a morte, o que facilitava sua integração psicológica, não
havendo, portanto uma cisão abrupta entre vida e morte. Isso sem dúvida
aproximava o homem da morte com menos terror. (ELÍADE, 1987)
Apesar da familiaridade com a morte, os Antigos de Constantinopla
mantinham os cemitérios afastados das cidades e das vilas. Os cultos e honrarias
que prestavam aos mortos, tinham como objetivo mante-los afastados, de modo que
não "voltassem" para perturbar os vivos. (ARIES, 1977)
Por outro lado, na Idade Média, os cemitérios cristãos localizavam-se no
interior e ao redor das igrejas e a palavra cemiterium significava também "lugar onde
se deixa de enterrar". Daí eram tão comuns as valas cheias de ossadas sobrepostas
e expostas ao redor das igrejas.
A Idade Média foi um momento de crise social intensa, que acabou por
marcar uma mudança radical na maneira do homem lidar com a morte. Kastenbaum
18
e Aisenberg (1983) nos relatam que a sociedade do século XIV foi assolada pela
peste, pela fome, pelas cruzadas, pela inquisição; uma série de eventos
provocadores da morte em massa. A total falta de controle sobre os eventos sociais,
teve seu reflexo também na morte, que não podia mais ser controlada magicamente
como em tempos anteriores. Ao contrário, a morte passou a viver lado a lado com o
homem como uma constante ameaça a perseguir e pegar a todos de surpresa.
A missas encomendadas para a alma, a morte era outra forma de buscar
proteção, assim como os donativos, que “representavam uma possibilidade de
perdão para os atos terrenos, e para o acúmulo de bens”. (KOVACS, 1992, p.34)
Conforme Kovács (1992), na Idade Média o local das sepulturas era nas
igrejas, perto dos santos configurando uma forma de proteção.No entanto,
posteriormente, passou a ser prestígio somente de alguns e quanto mais alto, mais
prestigiado, enquanto os pobres ficavam no pátio da igreja.
No século XIX a morte passa a ser desejada, por ser considerada como “bela,
sublime repouso, eternidade e possibilidade de uma reunião com o ser amado”,
sendo esta chamada de morte romântica. (KOVACS, 1992, p.36) Nesta época surgi
também o espiritismo voltado para a comunicação dos espíritos com os seres vivos,
surgindo ainda o medo das almas virem assustar os vivos provocando com isso,
várias fantasias.
Chegando no século XX a morte não é mais vista como natural e sim como
fracasso, com isso, esconde-se qualquer manifestação de luto e dor. O local de
morte passa a ser no hospital, onde a maioria das pessoas não visitam o doente
com a desculpa de não atrapalhar o trabalho dos médicos e ainda não tornar visível
a presença da morte. (KOVÁCS, 1992) A possibilidade de escolha deu lugar a uma
crescente perda da dignidade ao morrer, como nos afirma Kübler-Ross (1998) ".já
vão longe os dias em que era permitido a um homem morrer em paz e dignamente
em seu próprio lar."
A sociedade ocidental, basicamente, rejeita a morte procurando
constantemente vencê-la e para isso se baseia no seu desenvolvimento científico. A
tentativa de vencer ou, no mínimo, contornar a morte é pretendida com certo
sucesso pela medicina moderna. Kübler-Ross (1998) descreve que são cada vez
mais intensas e velozes as mudanças sociais, expressas pelos avanços
19
tecnológicos. O homem tem se tornado cada vez mais individualista, preocupando-
se menos com os problemas da comunidade. Essas mudanças tem seu impacto na
maneira com a qual o homem lida com a morte nos dias atuais.
É notável as diversas visões de morte no Ocidente, onde a morte é vista
como fim, vergonhosa entre outros adjetivos; sendo que no Oriente é um estado de
transição e evolução, para o qual deve haver um preparo. (KOVACS, 1992)
2.2 PACIENTE TERMINAL
Verificaremos adiante o conceito de paciente terminal e os estágios em que o
paciente passa a partir do momento em que descobre que sua doença é incurável.
2.2.1 Conceitos
A expressão terminal, conforme Kobler-Ross (1998), é complexa e arriscada,
porque um paciente portador de uma enfermidade de evolução fatal e grave pode,
em determinados instantes voltar às suas atividades, como, por exemplo, os
portadores de neoplasias mais severas que podem ter uma sobrevida estimável – às
vezes por tempo prolongado, graças ao avanço vertiginoso das terapêuticas hoje
empregadas. Seu conceito, portanto, é impreciso, até porque a própria vida já é por
si mesma terminal. O termo terminal pode parecer como algo que nada mais possa
ser feito pelos pacientes cuja doença não possui cura. Para Kovacs (1992, p.198) Muitas vezes, o rótulo terminal traz a falsa idéia de que não há mais nada que se possa fazer pelo paciente. Esta é uma crença errônea, pois, como vimos, é justamente neste momento, que a pessoa necessita mais de ajuda, tanto física como psíquica. Os desejos e metas continuam enquanto há vida, e o paciente ainda não morreu.
Por isso, definir paciente terminal não é uma tarefa tão fácil como
aparentemente pode dar a entender.. No entanto considera-se paciente terminal
20
aquele que, na evolução de sua doença, não responde mais a nenhuma medida
terapêutica conhecida e aplicada, sem condições portanto de cura ou de
prolongamento da sobrevivência, necessitando apenas de cuidados que faculte o
máximo de conforto e bem-estar. (KÜBLER-ROSS, 1998)
Kovacs (1992, p.188) salienta que: O conceito de terminalidade é um conceito relativo, já que todos nós temos a morte como fim de nosso processo de desenvolvimento. A questão da temporalidade é relativa, pois ao dizermos que um idoso ou um paciente com doença grave está mais próximo da morte, este fato é constantemente contrariado, pois muitas vezes, pessoas saudáveis ou mais jovens morrem mais cedo do que aqueles que já estão ‘marcados para morrer’.
Kovacs (1992, p.188) define paciente terminal como “pacientes com doenças
para as quais não foi encontrada a cura”.
Segundo Holland (1969) é terminal aquele paciente que apresenta duas
características fundamentais: a da incurabilidade e a do fracasso terapêutico dos
recursos médicos. E por isso, faz-se necessário a atenção e proximidade não
somente dos familiares e amigos, mas também da equipe de profissionais que
devem estes estar sempre em contato aos pacientes para atende - los no que se
fizer necessário.
Segundo Kubler-Ross (1998) focalizar o paciente e trata-lo como ser humano
fazendo – o participar do tratamento é desafiante. Ninguém discute hoje os
benefícios que a tecnologia moderna vem trazendo na preservação, erradicação e
cura das doenças e na reversibilidade da expectativa ante as condições mais
adversas. O que se discute no momento é um possível mau uso desses recursos,
com suas implicações éticas, legais e econômicas, evitando-se que ela se
transforme num instrumento de exploração ou num mecanismo de sofrimento inútil e
de resultados ineficazes.
Mesmo que a morte faça parte da vida de cada um de nós, este instante é
muito pessoal e único. Por isso, já se defende a idéia de que temos o direito de viver
em toda plenitude a última etapa de nossa existência, apesar dos sofrimentos e das
limitações.
Nunca podemos esquecer que o conteúdo e o significado da fase terminal da
vida de um ser humano – a expectativa da morte iminente, o lugar onde ele se
21
encontra, a agonia, o sofrimento e os rituais que precedem a sua morte -, estão
intricados nos valores basilares que ele crê, e nos costumes e tradições que
envolvem este momento na cultura a que ele pertence. Os doentes são raramente consultados sobre os seus desejos, e são internados em hospitais cada vez mais sofisticados, principalmente se têm dinheiro para custear os tratamentos, pelo menos aqui no Brasil. Tecnicamente, em vez de repouso e tranqüilidade recebem aparelhos, transfusões, picadas, intromissões de tubos e cateteres e exames muito evasivos. Há uma preocupação com órgão, pulsações, secreções e não com a pessoa. (KOVÁCS, 1992, p. 191)
Há quem considere admissível, diante de um paciente salvável, prevalecer a
preservação da vida sobre o alívio do sofrimento, mesmo com algum
constrangimento do paciente. E diante de um outro, no caso em fase de morte
inevitável, quando a cura não é mais possível e quando seu estágio de vida é final, é
considerável prevalecer o princípio do alívio do sofrimento sobre o da preservação
de uma existência precária, por considerar que qualquer tratamento mais agressivo
traria certamente sofrimentos inúteis.
Mesmo assim, qualquer que seja o entendimento da equipe em relação a um
paciente terminal, é muito justo que toda conduta seja discutida com a família e,
quando possível, com o próprio doente, levando em conta o que é melhor para
assisti-lo, mesmo sabendo-se que é difícil falar em autonomia do doente terminal.
2.2.2 Paciente Terminal: o modelo clássico de Kubler-Ross
Elizabeth Kûbler-Ross formou grupos de pacientes terminais, com a
participação de alguns enfermeiros, capelães (sacerdotes e pastores) e médicos.
Juntos, realizaram diversos seminários em que debateram sobre as inúmeras
dificuldades vividas pelo paciente terminal.
Entre as muitas descobertas, perceberam que, a partir do momento em que a
pessoa descobre que está com uma doença incurável, ela pode passar por cinco
fases psíquicas: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. É importante
salientar que não se dá, necessariamente nesta ordem, afinal, em casos mais
22
graves da doença, o paciente pode vir a falecer antes da fase da negociação ou da
aceitação e assim por diante.
2.2.2.1 1ª Fase: Negação
Esta fase, inicia-se logo após o paciente ter conhecimento da gravidade de
sua doença, reagindo de diversas maneiras quanto ao problema.
“Ao tomar conhecimento da fase terminal de sua doença, a maioria dos mais
de duzentos pacientes moribundos que entrevistamos, tem como reação esta frase:
‘Não, eu não, não pode ser verdade’.” ((KÜBLER-ROSS, 1998, p.43)
A negação existe em todos os pacientes terminais, porém vem com maior
intensidade em jovens pois é neste período da vida em que sonha-se, planeja-se o
futuro, permanecem na fase de negação por mais tempo, pois esta atitude é uma
forma de perder tempo em ralação à vida e ganhar tempo em relação à morte. Só
vão em busca de ajuda quando a doença já está bem avançada e, praticamente,
não existe mais o que fazer. Mesmo assim, estarão sempre rejeitando o tratamento
e mudando de médico. Já em pessoas mais idosas, muitas metas já realizaram-se e
muitos objetivos foram alcançados, onde já possui sua família definida, possuem
seus filhos crescidos e levando a vida da melhor maneira possível, viram seus netos
crescer e etc. Isto não quer dizer que seja para eles, mais fácil de encarar a morte,
mas sim, menos sofrido por terem vivido bem até o atual momento. (KÜBLER-
ROSS, 1998) [...] a negação é uma defesa temporária, sendo logo substituída por uma aceitação parcial. A negação assumida nem sempre aumenta a tristeza, caso dure até o fim, o que ainda, considero uma raridade. Entre os nossos duzentos paciente em fase terminal, encontrei apenas três que rejeitaram até o último instante a aproximação da morte. (KÜBLER-ROSS, 1998, p. 45)
Ao passo que as pessoas que vivem comprometidas com a vida, que
procuram cuidar bem de si mesmas, passam por esta fase de negação, mas saem
rapidamente, pois, quando percebem situações que estão ameaçando a própria
vida, vão imediatamente em busca de soluções adequadas. (KÜBLER-ROSS, 1998)
23
Junto com esta atitude de negação, o paciente terminal está vivendo grandes
e terríveis medos, como, por exemplo, do desconhecido, da dor física, do hospital,
de ir para a UTI, da solidão, do abandono, de separar-se das pessoas amadas e de
morrer sozinho. (KÜBLER-ROSS, 1998)
É importante não censurá-lo por esta atitude de negação e não obrigá-lo a
assumir compromissos e atitudes para as quais ainda não se sente preparado, mas
dar-lhe permissão para que possa ir assumindo essa dura realidade aos poucos, de
acordo com o seu próprio ritmo.
2.2.2.2 2ª Fase: Raiva
Depois das reações iniciais de choque e negação, muitos reagem com raiva,
inveja, revolta e ressentimento à compreensão de que, em breve, poderão morrer.
Conforme Kubber-Ross (1998, p. 55) citando o posicionamento de um de
seus pacientes: “‘Acho que qualquer um em meu lugar olharia para outra pessoa e
diria: Pois é, por que não poderia ter sido ele?, e isso já me passou diversas vezes
pela cabeça’.”
Ele está à procura do responsável por sua doença e sente muita raiva por ser
ele e não um outro que está nesta situação.
Uma situação que também provoca raiva é quando ele segue todo o
tratamento previsto e não experimenta melhora. Pelo contrário, após novos exames,
é detectado o avanço da doença.
Um tipo de pessoa que vive a raiva de uma forma muito intensa é aquela que
foi educada para ser ‘muito forte’. Viveu sempre cansada e com excesso de
atividade, cuidando de tudo e de todos, sem tempo para cuidar de si mesma,
constantemente voltada para o ‘dever’ e pouquíssimas vezes se proporcionando
momentos de prazer. (KÜBLER-ROSS, 1998)
No momento em que se encontra diante de uma doença terminal, sente muita
raiva em perceber que foi incompetente na administração da própria vida, desviando
toda a sua energia para os outros, não cuidando de si mesma com amor e
24
responsabilidade. Como ela estava sempre cuidando dos outros, não aprendeu a ser
cuidada, a receber. Portanto, esta situação de dependência em que se encontra, em
função da doença, é extremamente angustiante, pois receber, para ela, não é
sinônimo de amor, ao contrário, é uma grande humilhação. (KÜBLER-ROSS, 1998)
As atitudes de agressão e rejeição, demonstradas pelo paciente durante esta
fase, podem assustar muito. Alguns amigos e familiares sentem-se magoados e
começam a se afastar; enquanto outros assumem a postura de conselheiros,
dizendo o que é certo, o que é errado, o que não devem fazer. (KÜBLER-ROSS,
1998) Este momento é muito difícil, tanto para ele, como para aqueles que o
acompanham. A sua raiva volta-se contra a equipe de saúde que lhe assiste, contra
os familiares, os amigos, a sociedade, e, às vezes, até mesmo contra Deus. Contrastando com o estágio da negação é muito difícil, do ponto de vista da família e do pessoal hospitalar, lidar com o estágio da raiva. Deve-se isso ao fato de esta raiva propagar em todas as direções e projetar-se no ambiente, muitas vezes sem razão plausível” (KÜBLER-ROSS, 1998, p. 56)
No entanto, conselhos e repreensões de nada valerão neste momento. É
importante compreender que esta é uma fase que faz parte do processo psíquico
vivido por ele. Não se deve reprimir a expressão dos seus sentimentos, mas, se
possível, encorajá-lo a manifestar a sua raiva. (KÜBLER-ROSS, 1998)
Nesta fase, também existem muitos medos que estão presentes. Há o medo
de assistir à sua degradação física e, talvez, mental; o da mutilação; o da rejeição; o
de tornar-se dependente e de perder o controle. Todos esses medos tornam-se mais
leves e suportáveis quando não precisam ser negados e podem ser compartilhados.
(KÜBLER-ROSS, 1998)
2.2.2.3 3ª Fase: Barganha
Este terceiro estágio é menos conhecido, mas igualmente utilizado pelo
paciente, no entanto, num tempo curto. Uma vez que o paciente admite que está
com uma doença terminal, que é ele mesmo e não outra pessoa, surge então a fase
25
da barganha, da negociação, quando ele tenta se livrar da doença através de
promessas.
Procura fazer algum tipo de acordo com Deus, em que busca adiar a sua
morte ou conseguir a sua cura, como, por exemplo: “Se Deus me curar, minha vida
será toda dedicada a Ele”; “Se Deus me curar, trabalharei incansavelmente pelo seu
Reino”; “Se Deus me curar, vou ajudar os pobres.” (KÜBLER-ROSS, 1998)
Ou então ele estabelece datas: “Deus, ajude-me a viver mais alguns anos, até
os meus filhos estarem mais independentes e não precisarem tanto de mim.”
Para Kobler – Ross (1998, p. 89): A barganha na realidade, é uma tentativa de adiamento; tem de incluir um prêmio oferecido ‘por bom comportamento’, estabelece também uma meta auto – imposta [...] e inclui uma promessa implícita de que o paciente não pedirá outro adiamento, caso o primeiro seja concedido. Nenhum de nossos pacientes ‘cumpriu as promessas’
A maioria das promessas são na realidade feitas à Deus e ainda mantidas em
segredo, mas não são feitas essas negociações somente com Deus, são feitas
também com os enfermeiros, psicólogos, médicos, faxineira e demais pessoas em
que ele possa realizar tal barganha.
As pessoas que mais barganham são aquelas que, com a descoberta da
doença, descobriram também que, até então, cuidaram muito mal de si mesmas;
realizaram pouquíssimas metas e investiram muito pouco nos seus ideais. Portanto,
negociar com Deus é uma forma de pedir um pouco mais de tempo, para fazer agora
o que não conseguiram fazer antes. (KÜBLER-ROSS, 1998)
2.2.2.4 4ª Fase: Depressão
A depressão aparece de acordo com Kobler – Ross (1998, p. 91): Quando o paciente em fase terminal não pode mais negar sua doença, quando é forçado a submeter-se a mais uma cirurgia ou hospitalização, quando começa a apresentar novos sintomas e tornar-se mais debilitado e mais magro, não pode mais esconder a
26
doença. Seu alheamento ou estoicismo, sua revolta e raiva cederão lugar a um sentimento de grande perda.
A depressão aparece quando o paciente toma consciência de sua debilidade
física, quando já não consegue negar suas condições de doente, quando as
perspectivas da morte são claramente sentidas. Evidentemente, trata-se de uma
atitude evolutiva; negar não adiantou, agredir e se revoltar também não, fazer
barganhas não resolveu.
“Este momento é muito difícil também para a família, que tenta de todas as
formas animar o pacientem traze – lo de volta para a vida” (KOVACS, 1992, p.193)
No entanto, nesta fase o ideal é que o paciente exteriorize seus pensamentos, não
sendo necessárias frases ou palavras que o façam rir. Dizer-lhe para não ficar triste seria contraproducente, pois todos nós ficamos profundamente tristes quando perdermos um ser amado. O paciente está prestes a perder tudo e todos a quem ama. Se deixarmos que exteriorize seu pesar, aceitará mais facilmente a situação e ficará agradecido aos que puderem estar com ele neste estado de depressão sem repetir constantemente que não fique triste. (KÜBLER-ROSS, 1998, p. 93)
Surge então um sentimento de grande perda. É o sofrimento e a dor psíquica
de quem percebe a realidade nua e crua, como ela é realmente, é a consciência
plena de que nascemos e morremos sozinhos. Aqui a depressão assume um quadro
clínico mais típico e característico; desânimo, desinteresse, apatia, tristeza, choro,
etc.
Nesta fase é necessário ampara-lo, ficar ao lado dele, não o deixa sozinho.
Muitas vezes apenas com um toque ou um olhar valem mais do que mil palavras.
2.2.2.5 5º Fase: Aceitação
Segundo Kobler-Ross (1998) a aceitação é quando não mais sente
depressão e nem raiva. É o momento em que encontra paz e aceita o que está
acontecendo. Os pacientes que melhor reagem são aqueles que liberaram suas
raivas, choraram, falaram sobre seus medos. Nesta fase de aceitação os momentos
27
de silêncio são maiores e seus interesses diminuem. Neste momento é a família que
mais precisa de ajuda, confome cita a mesma autora: [...] É também o período em que a família geralmente carece de ajuda, compreensão e apoio mais do que o próprio paciente; a medida que ele, às vésperas da morte, encontra uma certa paz e aceitação, seu circulo de interesse diminui. (KUBLER-ROSS, 1998, p. 118)
Nesse estágio o paciente já não experimenta o desespero e nem nega sua
realidade. Esse é um momento de repouso e serenidade antes da longa viagem,
portanto, Kobler-Ross (1998, p.118) alerta para que “não se confunda aceitação com
um estágio de felicidade”.
Os profissionais da saúde visam cada vez mais melhorar a qualidade da
morte que o paciente alcance esse estágio de aceitação em paz, com dignidade e
bem estar emocional. Assim ocorrendo, o processo até a morte pôde ser
experimentado em clima de serenidade por parte do paciente e, pelo lado dos que
ficam, de conforto, compreensão e colaboração para com o paciente.
Kubler-Ross (1998) acrescenta ainda que em todos os estágio há a
esperança, desde a negação até a aceitação, a esperança sempre esteve presente
e esta deve ser incentivada pelas pessoas próximas ao paciente.
2.3 OS PROFISSIONAIS DIANTE DA MORTE
Para falarmos equipe interdisciplinar temos que ter em conta a importância da
prevenção dos graves efeitos psicológicos, sociais e físicos da hospitalização e da
patologia, incidentes tanto nos pacientes terminais como em suas famílias.
Para STEDEFORD (1986) salienta que a equipe pode trabalhar nesse sentindo
em benefício dos parentes, e, na verdade, por eles mesmo, esquecendo que alguns
pacientes até o último minuto sentem raiva por estar morrendo.
A equipe interdisciplinar é aquela equipe envolvida nos esforços para se tratar
com dignidade o paciente, considerando-o nos seus aspectos biológicos, sociais,
psicológicos e espirituais. "A interdisciplinaridade deve ir além da mera justaposição
28
de disciplinas" (Parecer n. CEB15/98 da Lei de Diretrizes Curriculares Nacionais
para o Ensino Médio). O conceito de interdisciplinaridade fica mais claro quando se considera o fato trivial de que todo conhecimento mantém um diálogo permanente com outros conhecimentos, que pode ser de questionamento, de confirmação, de complementação, de negação, de ampliação, de iluminação de aspectos não distinguidos (Parecer n. CEB15/98 da Lei de Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio).
Transdisciplinaridade, definida por Fernando Hernandez (1998, p.54): A transdisciplinaridade se caracteriza pela definição de um fenômeno de pesquisa que requer: a) a formulação explícita de uma terminologia compartilhada por várias disciplinas e b) uma metodologia compartilhada que transcende as tradições de campos de estudo que tenham sido concebidos de maneira fechada. A transdisciplinaridade representa uma concepção da pesquisa baseada num marco de compreensão novo e compartilhado por várias disciplinas, que vem acompanhado por uma interpretação recíproca das epistemologias disciplinaras. A cooperação, nesse caso, dirige-se para a resolução de problemas e se cria a transdisciplinaridade pela construção de um novo modelo de aproximação da realidade do fenômeno que é objeto de estudo.
Quando atende-se um paciente terminal é de fundamental importância que
toda a equipe esteja bastante familiarizada com os estágios pelos quais ele passa,
lembrando que podem se intercalar e repetir durante todo o processo da doença,
descritos por E. Kübler Ross, em seu livro Sobre a Morte e o Morrer (1998) e que
permitem uma visão real da complexidade vivida pelo paciente diante da sua
terminalidade e do morrer. São eles: a negação e o isolamento, a raiva (revolta), a
barganha, a depressão e a aceitação, complementando-se com a esperança, que
persiste em todos estes estágios e que é o que conduz o paciente a suportar sua
dor. (KÜBLER-ROSS, 1998). É importante ainda apontar que as pessoas que fazem
parte da equipe de profissionais, não são apenas os médicos, psicólogos,
nutricionistas, enfermeiros e etc. Fazem parte ainda o cozinheiro, a faxineira, o
pastor/ padre entre outros. Todas as pessoas que fazem o possível para dar uma
morte digna são formadores dessa equipe de profissionais.
De posse do conhecimento destes estágios, indubitavelmente, torna-se muito
mais tranqüilo, para o profissional que assiste ao paciente terminal, lidar com os
29
sentimentos e emoções que afloram, ajudando-o na compreensão e na
transitoriedade dos mesmos, bem como respeitar cada momento vivido pelo
paciente, sem julgá-lo e sem lhe impor sua perspectiva. (KÜBLER-ROSS, 1998)
Um dos membros da equipe que desconheça estes estágios poderá incorrer
em erros que repercutirão em todo o processo do paciente, interferindo nos
trabalhos dos outros profissionais.
Por exemplo, se a enfermeira não sabe que a raiva projetada nela, pelo
paciente, é apenas a manifestação de um sentimento esperado e compreendido, e
reage a ela com aspereza, poderá contribuir para que o paciente se sinta culpado
pelo seu estado, levando-o a um quadro depressivo, que já é esperado, prejudicial
para os seus esforços de melhora. Assim, mais esforço será exigido, por exemplo,
da fonoaudióloga, que deverá mostrar-lhe a importância da sua contribuição no
tratamento; a psicóloga terá mais um elemento de terapia, que poderia ser evitado,
deixando o espaço psicoterapêutico para outras questões mais emergenciais.
(REZENDE, 1999)
Neste momento é importante que se tenha consciência dos estágios pelos
quais passa um paciente terminal, citados anteriormente, para ajudá-lo a superá-los
e para se ajudar e não tomar para si o que pode ser bastante transferencial.
Conhecer ainda os problemas implicados no processo do adoecer e morrer, para
ajudá-lo a se sentir melhor e ter um resto de vida digna. Não desistir do tratamento
do paciente. O paciente pode desistir, mas os profissionais de saúde não. Quando o
paciente se sente abandonado à própria sorte, sem assistência, ele se entrega e
desiste também, antecipando sua própria morte. "Para o paciente é reconfortante
sentir que não foi esquecido quando nada mais pode ser feito por ele. É gratificante
inclusive para o visitante, pois isto vem mostrar que a morte não é uma coisa
horrível, medonha, que tantos querem evitar".(KÜBLER-ROSS, 1998)
Trabalhar em equipe nos proporciona muito benefícios, como: os saberes
inacabados e incompletos; a transcendência dos limites de cada saber; o paciente é
biológico, social, psicológico e espiritual, de maneira única e indivisível, devendo ser
tratado em todas estas esferas; necessidade das reuniões em equipe, onde se põem
em questão as relações pessoais, profissionais, as condutas, as convicções etc.,
adaptando-se a uma melhor maneira de se tratar o paciente; elaboração da angústia
30
gerada pela possibilidade da morte. Onde as pessoas têm o espaço para
elaborarem a morte enquanto condição pertinente à vida. Assim sentem que a
relação com o paciente terminal deixa de ser ameaçadora e se faz possível que se
acompanhe de fato e de perto a evolução total do mesmo, sem o sentimento de
onipotência tão freqüentemente ameaçado; reconhecimento dos problemas graves
gerados pelos procedimentos técnicos. Por exemplo, a necessidade de extirpar um
tumor de boca que deforme o paciente, deixando-o psicologicamente deprimido e
fazendo que se afaste de tudo e de todos, rendendo-se à enfermidade. A cirurgia
pode ser um sucesso tecnicamente, mas um desastre psicológico; a morte vista
como tabu na nossa cultura. Porque a morte é ainda vista como algo terrível e
temível e precisamos de ajuda para superarmos os "pensamentos" dos nossos
pacientes, o significado e o re-significar da morte, pois assim podemos descobrir
outros significados da morte. (KÜBLER-ROSS, 1998)
Estar atento ao processo da doença e do adoecer em toda sua complexidade
exige muito mais do que um aprendizado acadêmico, exige um dever ético e
humano de todos aqueles que um dia cuidam daqueles que carecem da nossa
assistência.
31
3 METODOLOGIA
3.1 MÉTODO
O método utilizado será o de pesquisa bibliográfica, que “abrange toda
bibliografia já tornada publica em relação ao tema de estudo, desde publicações
avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, etc., até meios de
comunicação orais: radio, televisão [...]” (OLIVEIRA, 1997, p.183). Este é
desenvolvido a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e
artigos científicos.
De acordo com OLIVEIRA (1997) a pesquisa bibliográfica tem a finalidade de
colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito sobre
determinado assunto.
Não existem regras fixas para a realização de pesquisa bibliográfica. Para Gil
(1996), no entretanto, é importante arrolar algumas tarefas como: exploração das
fontes bibliográficas, leitura do material, elaboração das fichas, ordenação e analise
das fichas e finalmente, a conclusão.
Sendo assim, a pesquisa bibliográfica propicia o exame de um tema sob novo
enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras e não sendo uma mera
repetição de um escrito.
3.2 POPULAÇÃO ALVO
Consistirá de uma amostra direcionada de 16 (dezesseis) artigos de
profissionais com currículos academicamente reconhecidos, sendo 8 (oito)
psicólogos e 8 (oito) médicos. Tais artigos foram selecionados pelo prestígio do
profissional enquanto formador de opinião e sua acessibilidade ao público, tanto
especializado quanto leigo bem informado.
32
Neles será feito um estudo descritivo e comparativo sobre o papel de cada
profissional em face do paciente terminal.
3.3 INSTRUMENTO
O instrumento utilizado consistiu de um roteiro com 9 questões a serem
aplicadas aos textos selecionados, servindo como uma grade de leitura, para
possibilitar comparações entre os textos selecionados.
3.4 PROCEDIMENTOS PARA COLETAS DE DADOS
Para poder comparar a visão que médicos e psicólogos apresentam diante do
paciente terminal, escolhemos as seguintes perguntas:
1. O que é o paciente terminal segundo os artigos pesquisados?
2. Qual a relação profissional-paciente?
3. Qual o papel do profissional diante da família?
4. Há integração da equipe?
5. A autonomia do paciente deve prevalecer?
6. A morte humana realmente segue as etapas referencias por Kubber Ross?
7. O que é morrer bem? Opinião sobre os Cuidados paliativos.
8. Qual o papel do médico/psicólogo diante do paciente terminal ?
3.5 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
33
Para a analise dos resultados, será utilizado a analise de conteúdo, cujo
objetivo, segundo MINAYO (1994), é compreender de maneira critica os dados
coletados, com suas significações explicitas ou implícitas.
O objetivo deste capítulo é, aplicando as questões-guias, aos textos
previamente selecionados, verificar se há diferença significativa entre as concepções
de médicos e psicólogos, diante do paciente terminal. A fim de evitar repetições, as
respostas selecionadas são as mais comuns entre a categoria profissional
investigada.
As questões-guias, já descritas na metodologia, são as seguintes:
1. O que é o paciente terminal segundo os artigos pesquisados?
2. Qual a relação profissional-paciente?
3. Qual papel do profissional diante da família?
4. Há integração da equipe?
5. A autonomia do paciente deve prevalecer?
6. A morte humana realmente segue as etapas referencias por Kubber Ross?
7. O que é morrer bem? Opinião sobre os Cuidados paliativos.
8. Qual o papel do médico/psicólogo diante do paciente terminal ?
Os especialistas pesquisados estão abaixo descritos.
1. Dra. Elisa M. P. Campos Riberito – psicóloga,
Dra. Ana Lúcia Martins da Silva – psicóloga da UTI
2. Dr. Cedric Nakasu - Psicólogo Hospitalar
3. Dra. Vera Anita Bifulco (Psicóloga do Setor de Cuidados Paliativos da
Disciplina de Clínica Médica da Universidade Federal de São Paulo)
4. Heloise Zanelatto Neves (estudante de psicologia) com a colaboração de Dra.
Márcia Lucrécia Lisboa Especialista em Psicologia Clínica e Psicologia
Hospitalar e Dr.Juadir Copat Especialista em Psicologia Clínica e Psicologia
Hospitalar
5. Dra. Maria Helena Pereira Franco Bromberg – Psicóloga Mestre e doutora em
Psicologia Clínica
34
6. Dra.Susana Alamy - Psicóloga
7. Dra. Elisa M. P. Campos Riberito – psicóloga
8. Psicóloga Maria Margarida Moreira Jorge de Carvalho (Responsável pela
matéria Seleção e Orientação Profissional, criou um projeto experimental
teórico e vivencial que deu origem a uma metodologia própria de trabalho, a
Orientação Profissional em Dinâmica de Grupo. Dessa experiência iniciou-se
o Serviço de Orientação Profissional na USP, até hoje em funcionamento)
9. Psicóloga Maria Helena Bromberg - do 4 Estações, um centro de pesquisas
sobre luto e atendimento a enlutados, em São Paulo.
10. Joaquim Clotet Ph.D., Professor de Ética e Bioética nos Cursos de Pós-
Graduação em Filosofia e Medicina da Pontifíca Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre-RS
11. Dr. Luiz Fernando Lopes, Dra. Anamaria Arbo Furrer, Dra. Beatriz de
Camargo – Médicos especialistas do Departamento de Pediatria)
12. José Roberto Goldim Doutorado em Medicina (Clínica Médica).
13. Dr. Roberto Brólio - Sócio fundador e Conselheiro da Associação Médico
Espírita de São Paulo, Professor Livre-Docente da Faculdade de Saúde
Pública da Universidade de São Paulo. Médico Tisiologista
14. Neri Tadeu Camara Souza - Advogado em Direito Médico - Médico -
Residência em Clínica Médica-Gastroenterologia - Especialização em
Administração Hospitalar – Especialista em Gastroenterologia pela
Associação Médica Brasileira – Coronel Médico RR da Brigada Militar.
15. Profª Dra. Nelci Fenalti Hoehr - Departamento de Patologia Clínica da
Faculdade de Ciências Médicas
16. Dr. Carlos Fernando Francisconi - Coordenador e membro fundador do
Programa de Apoio aos Problemas de Bioética do Hospital de Clínicas de
Porto Alegre
17. Jefferson Pedro Piva - Professor Auxiliar, Departamento de Pediatria e
Puericultura, Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS), Porto Alegre-RS. Médico Chefe da UTi do Hospital da
Criança Santo Antônio, Porto Alegre-RS.
18. Dr. Marcos Knobel – Médico-assistente da UTI.
35
19. Paulo R. Antonacci Carvalho - Professor Adjunto, Departamento de Pediatria
e Puericultura, Faculdade de Medicina da UFRGS, Porto Alegre-RS. Médico
Chefe da UTI Pediátrica, Hospital de Clínicas de Porto Alegre-RS.
20. Rachel Aisengart Menezes (UERJ) médica, psiquiatra e psicanalista, Doutora
em Saúde Coletiva (Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro).
21. Prof. Dr. Marco Tullio de Assis Figueiredo - Professor da Disciplina Eletiva de
Cuidado Paliativo da UNIFESP-EPM e Sócio fundador da International
Association for Hospice and Palliative Care (USA
36
4 ANALISE DA BIBLIOGRAFIA EM FUNÇÃO DAS QUESTÕES
QUESTÃO 1
O que é o paciente terminal segundo os artigos pesquisados?
Para o Psicólogo Cedric Nakasu paciente terminal “é um rótulo dado a
pacientes com doenças para as quais não se vislubrem, no momento, possibilidades
de cura. No entanto, isso não está obrigatoriamente atrelado a uma dimensão
temporal objetiva de proximidade com a morte.”
Dra. Ana Lúcia Martins da Silva e Dr. Marcos Knobel. “paciente terminal é
aquele cuja condição é irreversível, independentemente de ser tratado ou não, e que
apresenta alta probabilidade de morrer num período relativamente curto de tempo. “
E conceitua Dr. Carlos Fernando Francisconi “aquele que vai morrer num
período relativamente curto de tempo, de 3 a 6 meses, independentemente das
ações médicas que são colocadas em prática”
Para a Psicóloga Susana Alamy “é aquele paciente que está em fase terminal
de uma doença, onde o esperado passa a ser óbito, independentemente da
terapêutica utilizada, sendo esta neste momento mais paliativa e não tendo a
expectativa de cura”.
37
ANÁLISE:
Os termos mais freqüente utilizados para caracterizar paciente terminal são
quantitativos (tempo restante de vida), tanto por médicos quanto por psicólogos.
Mas, um dos autores citados, Psicólogo Hospitalar Cedric Nakasu diz que não é só
a quantificação objetiva do tempo de vida restante que caracteriza o paciente
terminal e sim impossibilidade de cura.
38
QUESTÃO 2
Qual a relação profissional-paciente?
Profª Dra. Nelci Fenalti Hoehr sobre a relação médico-paciente diz que “o
tratamento tem inicio com o relacionamento médico-paciente. É preciso inspirar
confiança e assegurar ao paciente terminal que sua dor não está sendo
menosprezada e que será feito o melhor possível para alivia-lo.
Segundo os médicos Dr. Luiz Fernando Lopes, Dra. Anamaria Arbo Furrer,
Dra. Beatriz de Camargo “muitos médicos passam a ver o paciente terminal com um
misto de compaixão e desapontamento pois, aparentemente, “não há mais nada a
ser feito”. Esquecem-se de que os limites do cuidar são amplos que o do curar.
Sempre é possível cuidas de uma pessoa doente, embora nem sempre se possa
curar a doença naquela pessoa.”
Para Cedric Nakasu o psicólogo vai então, atuar como “profissional da
promoção da saúde, tanto na prevenção quanto no tratamento, de acordo com as
necessidades, mas não deve atuar como força isolada, e sim unida e integrada à
atuação de outros profissionais da área, contribuindo para garantir ao indivíduo, seu
bem-estar e tendo em vista a humanização do atendimento . Diz ainda que “é
importante assinalar algumas precauções. O processo psicoterápico com pacientes
terminais não tem como meta a cura de processos somáticos e não entra no lugar
dos tratamentos médicos. Também não tem como objetivo acalmar ou “amansar” o
paciente, para que ele se torne mais dócil, não atrapalhe o médico com suas
exigências, sendo este um pedido freqüente aos psicólogos hospitalares.”
39
ANÁLISE:
Nota-se nesta questão, a importância da empatia entre o paciente e o
profissional de saúde é necessário oferecer ao paciente conforto. Nota-se ainda a
necessidade de conversar com o paciente fazendo com que este confie no
profissional da saúde.
Segundo levantamento, que retoma a relação medico-paciente terminal, de
autoria da pesquisadora Teresinha Klafke e, realizado há alguns anos, que diz não
deixa de oferecer parâmetros importantes, na avaliação do psiquiatra Vicente de
Carvallho, a pesquisa mostrou que apenas 50% dos médicos conversam com o
paciente sobre a doença. A outra metade, que, não conversa, apresentou
justificativas que vão desde o medo das reações emocionais dos doentes – como a
depressão, que poderia comprometer o tratamento e acelerar a evolução da doença
– até o fato de serem latinos, portanto muito emotivos. Ainda nessa metade, 20%
alegam dificuldades pessoais (angustia, sentimento de impotência), 13,3% afirmam
que até conversariam, mas ainda não passaram pela experiência, e 16,7%
simplesmente desconversam quando o paciente fala da doença.”
Com isso, salienta-se mais uma vez, a importância da comunicação do
profissional com o paciente terminal e ainda, a importânica do profissional estar
preparado para tal atuação frente a morte.
40
QUESTÃO 3
Qual papel do profissional diante da família?
Heloise Zanelatto Neves com a colaboração de Dra. Márcia Lucrécia Lisboa e
Dr.Juadir Copat “A fim de ajudar o paciente e seus familiares o médico pode: Ajudar
a pessoa a enfrentar a crise, auxiliando-a a expressar seus sentimentos; Ajudar a
pessoa a descobrir os fatos, desmistificando fantasias e esclarecendo suas dúvidas,
evitando especulações sobre a doença; Não dar a pessoa uma falsa confiança,
oferecendo ajuda e reconhecendo a validade de seus temores; Não encorajar a
pessoa a culpar as outras; Ajudá-la a aceitar ajuda; Incentivar e sugerir uma
reorganização das tarefas cotidianas, para que a pessoa receba assistência. ‘
Conforme Riberito “a família de um paciente terminal tem sido vista como um
agente importante nos cuidados necessários ao paciente; alguns autores como Reit
e Lederberg chegam a propor que a família é um paciente também, que deve ser
assistida cuidadosamente pela equipe de saúde, denominando-a ´paciente do
segundo escalão´.
Para Piva e Carvalho “o seu papel para com a família é o de apresentar de
forma imparcial a evolução do caso, discutir pormenorizadamente as possíveis
opções, sempre sob o prisma dos princípios éticos e morais”.
Para Bromberg “o cuidado com a família não termina com a morte do
paciente, é continuo durante o período de luto”.
41
ANÁLISE:
Verifica-se que em relação ao profissional e a família tem muita importância o
uso da comunicação, pois é dessa maneira que serão tomadas importantes decisões
quanto ao tratamento, compartilhando assim, decisões e ainda, realizando
despedidas.
Salienta-se ainda que, nos artigos pesquisados, não encontrou-se a
preocupação de médicos com a família após a morte do paciente terminal, diferente
do psicólogo, confome citado por Bromberg na questão acima.
Numa pesquisa realizada por BROMBERG em relação a comunicação entre
profissionais e destes com o paciente e a família, percebeu-se que esta
praticamente não existe, há clara evitação por parte dos profissionais, e em especial
quando o estado de saúde do paciente agrava e a morte se aproxima.
Enfim, é preciso ter diálogo para levar o grupo familiar a perceber de que
maneira está procedendo, algumas vezes não querendo ver a gravidade do quadro
da doença ou não querendo entrar em contato com a tristeza que todos sentem.
42
QUESTÃO 4
Como deve funcionar a equipe clínica diante do paciente terminal?
A equipe interdisciplinar, para a psicóloga Susana Alamy, “é aquela equipe
envolvida nos esforços para se tratar com dignidade o paciente, considerando-o nos
seus aspectos biológicos, sociais, psicológicos e espirituais”.
Dr. Luiz Fernando Lopes, Dra. Anamaria Arbo Furrer, Dra. Beatriz de
Camargo pensam que “conforme preconizam Zarbock e Cols, os pontos mais
importantes a serem considerados pelo membros da equipe de saúde devem ser:
Identificar as providências necessárias ao bem-estar do paciente terminal,
principalmente aquelas relacionadas à dor ou a sintomas específicos; Dar suporte
aos familiares envolvidos com a futura perda; Decidir, em conjunto com os
familiares, as características e cuidados para o estágio final da vida, incluindo a
retirada de alguns medicamentos e suportes nutricionais que, nesse momento, não
estariam mais servindo para auxiliar no tratamento da criança e sim prolongando seu
sofrimento; Decidir entre os membros da equipe e, se possível, com os familiares se
procedimentos de ressuscitação deverão ser tentados; Modificar os planos de
cuidado da criança, diante das possibilidades de sua morte, em casa ou no hospital.
Cedric Nakasu relata que “o trabalho do psicólogo hospitalar aparece como
parte fundamental da equipe de saúde, auxiliando não somente o paciente como
também seus familiares e a equipe como um todo” e ainda que “a equipe de saúde
muitas vezes não possui tempo hábil para despender com os pacientes, sendo este
paciente, um paciente terminal e com necessidades muito específicas, sua exigência
ou suas demandas para com esta equipe tende a aumentar e sentindo não
correspondidos estes sentimentos e necessidades, o paciente passa a solicitar maior
atenção ou a boicotar o próprio tratamento como forma de conseguir esta atenção;
43
estando o psicólogo também inserido neste contexto, faz-se necessária à
intervenção do mesmo junto a este paciente”.
ANÁLISE:
Verifica-se que todos fazem esforços para dar ao paciente terminal um
tratamento com dignidade. Não existe um membro da equipe que é mais ou menos
importante. É fundamental toda a equipe, havendo assim, a troca de informações,
experiências e ainda um atendimento eficaz tanto para o paciente terminal quanto
para seus familiares e ainda para a própria equipe, não havendo assim, conforme
citado acima pelo psicólogo hospitalar Cedric Nakasu, tempo necessário para
atender além do paciente a sua família e ainda à equipe de saúde que sofre todo um
desgaste, concordando assim com a psicóloga Elisa Ribeiro que diz que “caberia ao
psicólogo que atua na área da Psiconcologia ocupar este lugar pouco definido”.
Salienta-se ainda que o médico, a sua formação, é voltada para a cura e sabendo
ele que não tem cura para seu paciente entra, algumas vezes, em conflitos consigo
mesmo.Daí, mais uma vez, nota-se a importância do psicólogo fazendo parte desta
equipe.
44
QUESTÃO 5
A autonomia (vontade do paciente) deve prevalecer?
Segundo a Dra. Maria Helena Pereira Franco Bromberg “as necessidade
especiais daqueles que estão fora de possibilidade de tratamento, porque não mais
respondem a essas tentativas, devem ser identificadas, para que possam ser
atendidas por meio de uma ação apropriada e econômica. “
Heloise Zanelatto Neves com a colaboração de Dra. Márcia Lucrécia Lisboa
e Dr.Juadir Copat “o paciente tem o direito de saber ou não o seu diagnóstico,
cabendo ao médico perceber o momento em que o paciente está pronto a receber
este diagnóstico. Cabe ao médico informar de forma que mantenha a esperança do
paciente, comunicando-lhe de que nem tudo está perdido, é uma batalha que devem
travar juntos não importando o resultado final”.
Neri Tadeu Camara Souza afirma que “é crucial que haja autonomia de
vontade na conduta do paciente, ou seja, estamos frente a um ser como agente
único de seus próprios atos, não transferindo a outrem a responsabilidade moral
pelos seus atos, assim, tendo espontaneidade da ação em seu agir”
E para Joaquim Clotet “a pessoa tem o direito de manifestar
antecipadamente sua vontade, tanto no que dó respeito à aceitação ou recusa dos
meios que vão mantê-la prostrada, sem esperança de recuperação, quanto no que
se refere ao tipo de tratamento por ela preferido. Trata-se do exercício da autonomia
do indivíduo, vinculado ao tratamento médico a ser administrado num futuro estado
de incapacidade para a tomada de decisões. Não há dúvida, é o aprimoramento do
45
princípio da autonomia do enfermo, ou do futuro paciente. O reconhecimento e a
prática do mesmo aperfeiçoa, mas, às vezes, também complica o exercício da
medicina”
ANÁLISE:
Tanto o psicólogo como o médico relatam que a autonomia do paciente deve
prevalecer, mesmo sendo este para a cessassão do tratamento como para o
prolongamento. O paciente é quem decide se acelera ou desacelera o processo de
morte. O paciente sofre influências deste processo, ao profissional cabe informar as
suas reias condições, os tipos de tratamentos disponíveis, etc.. Estas informações
devem ser claras a ponto que o paciente compreende as diversas opções que se
apresentam para que então, decida seu objetivo.
É importante ainda salientar que, caso o paciente terminal decida pela
cessassão do tratamento e com isso, acelerando seu processo de morte, o
profissional deve ter em mãos o consentimento por escrito, para que futuramente
não venha ter problemas com processos judiciais, conforme diz o advogado e
médico Dr. Néri Souza diz que “o consentimento informado pode ser oral ou escrito,
mas a forma escrita, principalmente do ponto de vista legal, é a mais recomendável”
46
QUESTÃO 6
Qual o papel do profissional diante do paciente terminal?
Para a Psicóloga Vera Anita Bifulco “a Psicologia pode oferecer ajuda nos
cuidados a pacientes fora de recursos terapêuticos de cura através de Intervenções
Psicossociais, as quais são esforços sistemáticos aplicados para influenciar
beneficamente o enfrentamento e melhorar a qualidade de vida, através de meios
educacionais e psicoterapêuticos.”
Para os médicos Dr. Luiz Fernando Lopes, Dra. Anamaria Arbo Furrer, Dra.
Beatriz de Camargo a atuação médica, classicamente, “baseia-se em dois princípios:
a preservação da vida e o alivio do sofrimento.” E mais: “o médico deve estar
receptivo ao seu paciente, ouvir suas demandas desde o inicio do tratamento, para
identificar com prontidão o período de inversão de expectativas, quando todo o
tratamento adicional será, anes, fonte de sofrimento que de alivio para o doente.
Identificar diferentes momentos do paciente e sua doença requer clareza medica
mas também humana e ética.” E que “podemos resolver a dor, o sofrimento, as
necessidades básicas de higiene, nutrição e conforto do doente terminal, ajudando-o
neste momento, a não perder sua dignidade como pessoa, valorizando-o como tal
perspectiva de salvarmos uma vida.”
Para o Dr. Marcos Knobel e a Dra. Ana Lúcia Martins da Silva “o médico pode
favorecer o paciente e a família a alcançarem o ponto de equilíbrio, construindo uma
relação baseada na confiança e diálogo, pois a relação médico-paciente ultrapassa
o limite simplesmente biológico da intervenção médica e se aprofunda em relação
terapêutica. Desempenha papel fundamental na condução clinica e na orientação
47
aos familiares, porem este são soberanos para toda e qualquer decisão que diz
respeito à saúde do paciente”.
Para Nakasu “o trabalho com pacientes terminais está se configurando como
uma área em que o psicólogo pode desenvolver uma atividade muito importante,
dentro de uma linha de valorização do ser humano e da pessoa que está acometida
de uma doença grave, como por exemplo, câncer ou AIDS”.
ANÁLISE:
Fica claro aqui o papel de cada um dos dois profissionais. O Psicólogo cuida
do psicológico do paciente. O médico, por sua vez, cuida do corpo, das dores
sentidas neste corpo. Assim, o papel do médico será o alívio da dor e do psicólogo a
qualidade de vida nesse processo diante da morte. O psicólogo vai dar condições
para que este paciente venha redescobrir o sentido da vida vivido neste momento
vivenciado por ele. Assim, já que, a cura não pode lhe ser “dada”, adota-se então
atitudes humanas que garantem a dignidades deste paciente e uma vida com melhor
qualidade independentemente do tempo restante e controlando sua dor com
tratamento/ medicamento adequado prescrito pelo médico.
48
QUESTÃO 7
Acontece realmente as etapas referencias por Kubber Ross?
Conforme a Dra. Elisa M. P. Campos Riberito “em geral o processo de negar
a doença foi o primeiro a ocorrer após o diagnóstico do câncer. O paciente procurou
outros profissionais para ver se não houve um engano no diagnóstico.”
Dr. Roberto Brólio diz que “contudo, na maioria das vezes, ao deparar-se com
a iminência da morte, sente medo, e pode apresentar reações que no dizer de
KUBLER-ROSS estariam relacionadas a cinco estados psico-emocionais: de
negação, de revolta, de questionamento, de depressão, de aceitação. Segundo a
mesma autora, a esperança é o sentimento que coexiste sempre,
concomitantemente com qualquer dos estados mencionados.
José Roberto Goldim “os pacientes ou seus familiares normalmente passam
pelos mesmos estágios quando recebem uma má notícia. Estes estágios foram
classificados pela Dra. Kübler-Ross para pacientes que estavam morrendo.
Inúmeras outras situações presentes na prática dos profissionais de saúde, como a
comunicação de diagnósticos de doenças genéticas, por exemplo, podem fazer com
que as pessoas passem por estágios semelhantes”.
E Susana Alyma afirma que “quando atendemos ao paciente terminal é de
fundamental importância que toda a equipe esteja bastante familiarizada com os
estágios pelos quais ele passa, lembrando que podem se intercalar e repetir durante
todo o processo da doença, descritos por E. Kübler Ross, em seu livro Sobre a
49
Morte e o Morrer e que permitem uma visão real da complexidade vivida pelo
paciente diante da sua terminalidade e do morrer”.
ANÁLISE:
Os estágios identificados por Kubler-Ross em 1969 definidos no processo da
morte e os métodos para que profissionais da saúde e familiares acompanhem e
ajudem a pessoa em seus últimos dias, conforme citado por médicos e psicólogos
na questão acima, é identificado atualmente.
Verifica-se a exortação à necessidade do profissional estar ciente do mesmo
para que além de facilitar no tratamento, possa lidar com os sentimentos e emoções
e também compreende-los esse processo final da vida do paciente. De posse do
conhecimento desses estágios o trabalho com esse paciente torna-se mais tranqüilo
para o profissional, que vai ajudar o paciente terminal nessa trajetória para a morte.
É importante ainda para que não ocorra erros durante o tratamento que venham a
interferir no trabalho da equipe.
50
QUESTÃO 8
Opinião sobre os Cuidados paliativos.
Segundo os médicos Dr. Luiz Fernando Lopes, Dra. Anamaria Arbo Furrer,
Dra. Beatriz de Camargo cuidado paliativo “é um conjunto de atos multiprofissionais
que têm por objetivo efetuar o controle dos sintomas do corpo, da mente, do espírito
e do social, que afligem o homem na sua finitude, isto é, quando a morte dele se
aproxima. Na maioria das vezes, a família é também abraçada pela equipe
multiprofissional, pois ela compartilha do sofrimento do paciente. O Cuidado Paliativo
prolonga-se após a morte sob a forma de atendimento do luto dos familiares. Este
termo tem um sentido pejorativo, de tratamento ineficaz, algo que não resolve, mas
apenas encobre ou adia um desfecho inevitável – a morte. É o nome dado a uma
espécie de cobertura ou toldo que, antigamente, protegia os reis e autoridades e que
ainda hoje é utilizado na Igreja Católica . Ou seja, trata-se de algo que cobre,
protege uma pessoa considerada de grande valor e dignidade.”
Para a psicóloga Vera Anita Bifulco “há atitudes que devem ser preservadas
nos atendimentos de cuidados paliativos: Deixar o paciente falar; quando não há o
que ser dito, o silêncio fala por si próprio. Vale mais o olhar, o segurar a mão, o
afagar uma cabeça, a garantia de saber que não se está sozinho numa hora que
envolve tanto mistério; o paciente sabe mais o que é melhor para ele que nós, ele
sabe mais que ninguém sobre ele mesmo; sua vontade é soberana; nunca negar a
esperança. Ela é um direito soberano do paciente até seu último minuto de vida;
devemos reverenciar a vida enquanto houver vida, como princípio ético; aceitar o
paciente dentro de sua individualidade. Ele pode ser diametralmente oposto a nós,
isso não deve alterar em nada minha conduta. Não estamos para julgar, mas para
acolher e cuidar”.
51
ANÁLISE:
No que se refere a paciente terminal todo cuidado é paliativo, onde este vai
além de aliviar a dor física do paciente, vai cuidar ainda do aspecto psicológico,
espiritual dele. E quanto a isso, há um consenso de que eles são fundamentais ao
bem estar do paciente.
52
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A morte é geralmente vista como algo ruim, que espanta e amedronta. Não
admitimos que a morte está diretamente relacionada com a vida, afinal, morrer é a
única certeza que temos durante nossa vida, já de que modo morreremos, isso sim
não sabemos.
Após a análise e discussão das 08 questões apontadas em artigos de
médicos e psicólogos verifica-se que, em suma, parece haver uma forte confluência
entre o papel desses dois profissionais (médicos e psicólogos) ao lidarem com
pacientes terminais, confirmando assim nossa hipótese da pesquisa..
Nota-se ainda que perto da morte, a função de médicos e psicólogos se
parecem não só, em muitos aspectos entre si, mas com a intervenção de senso
comum (da família, amigos etc.). A relação médico-paciente é muito importante e
deve haver até o final da vida do paciente terminal. Essa relação deve ser de
confiança, ser transparente, e ainda de diálogo.
A comunicação é algo primordial nessa última etapa da vida do paciente e
esse é o papel primordial destes profissionais, pois a cura já não lhe pode ser dada,
então o que eles necessitam é de atenção, comunicação. Eles não querem estar
sozinhos, querem estar ao lado de alguém para poder conversar, onde aqui fazem
uma relação de confiança e diálogo. Esses profissionais tem o dever de dar ao
paciente terminal uma melhor qualidade da sua vida atendendo suas necessidades
físicas, psicológicas, sociais tanto do paciente quanto de sua família. Deve-se levar
em conta que todo esse cuidado depende também da estrutura hospitalar, pois se
este não dá suporte aos profissionais, estes nada podem fazer além do possível.
A comunicação entre profissional e o paciente assume função muito
importante devendo ser um diálogo aberto e sistemático, planejado e individualizado,
que proporcione condições emocionais sobre a verdade.
O desejo de falar e ser ouvido e ainda de obter resposta é algo que não deve-
se negar ao paciente terminal, pois a partir desse momento a vida, o restante de
tempo que lhe resta, passará a ter outro sentido.
53
Conforme visto o paciente tem o direito de ser tratado bem até que ele morra
e ainda ter uma morte digna.
Para a psicóloga Vera Anita Bifulco: Há atitudes que devem ser preservadas nos atendimentos de cuidados paliativos: Deixar o paciente falar; quando não há o que ser dito, o silêncio fala por si próprio. Vale mais o olhar, o segurar a mão, o afagar uma cabeça, a garantia de saber que não se está sozinho numa hora que envolve tanto mistério; o paciente sabe mais o que é melhor para ele que nós, ele sabe mais que ninguém sobre ele mesmo; sua vontade é soberana; nunca negar a esperança. Ela é um direito soberano do paciente até seu último minuto de vida; devemos reverenciar a vida enquanto houver vida, como princípio ético; aceitar o paciente dentro de sua individualidade. Ele pode ser diametralmente oposto a nós, isso não deve alterar em nada minha conduta. Não estamos para julgar, mas para acolher e cuidar.
Outro aspecto visto nesta pesquisa é a questão da autonomia do paciente.O
paciente é que decide se quer prolongar seu tratamento, sua vida ou não. Ao
profissional lhe cabe dar informações devidas, corretas ao paciente, pois neste caso,
já não há mais a questão da escolha de terapias para a obtenção da cura e sim o
prolongamento da vida mediante intervenções terapêuticas.
Enfim, o atendimento a pacientes terminais é um atendimento específico e
não como os outros que procuram a cura como resultado. Neste caso o que procura-
se é qualidade no atendimento ao paciente e a família. É o alívio da dor física e
psicológica. É respeitar os direito do paciente terminal.
Com esse trabalho concluímos que, de fato, a morte torna menos clara a
diferença entre profissionais, pelo menos durante todo este processo do morrer. Se
no dia-a-dia vemos um certo corporativismo por parte de cada profissional da saúde,
na morte iminente, calam-se divergências para ouvir – se os últimos rumores do
paciente.
54
REFERÊNCIAS
ALAMY, Susana. Psicologia hospitalar – paciente terminal e equipe interdisciplinar http://www.atlaspsico.com.br/COLABORADORES_Psicologia_hospitalar_paciente_terminal_e_equipe_interdisciplinar.htm Trabalho apresentado na V Jornada de Psicologia da Universidade Vale do Rio Verde de Três Corações/MG, 16.mai.2002. ALMEIDA, José Luiz Telles de. Respeito à autonomia do paciente e consentimento livre e esclarecido: uma abordagem principialista da relação médico-paciente. [Doutorado] Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública; 1999. 129 p. http://portalteses.cict.fiocruz.br/transf.php?script=thes_chap&id=00002507&lng=pt&nrm=iso ARIÈS, Philippe. O homem diante da morte. Vol I 2ª edição.Rio de Janeiro: F. Alves, 1989. _____. O homem diante da morte. Vol II 2ª edição.Rio de Janeiro: F. Alves, 1990. AVERIL, Stedeford. Encarando a morte: uma abordagem ao relacionamento com o paciente terminal. Tradução de Silvia Ribeiro. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986. BROLIO, Roberto. Eutanásia. http://www.fortunecity.com/millenium/celesteville/40/eutanasi.htm Boletim Médico - Espírita da Associação Médico Espírita de São Paulo CARVALHO, Maria Margarida M. J. de.(org.) Introdução à psiconcologia. São Paulo: Editorial Psi, 2000. _____. Resgatando o viver. São Paulo: Summus, 1998. ELIADE, Mircea. História das crenças e das idéias religiosas: da idade da pedra aos mistérios de elêusis. Volume 1. Das origens ao judaísmo. 2ª edição. Rio de Janeiro: ZAHAR Editores, 1983. FIGUEIREDO. Marco Tullio de Assis Figueiredo. Cuidados Paliativos: Você sabe o que é? Professor da Disciplina Eletiva de Cuidado Paliativo da UNIFESP-EPM e
55
Sócio fundador da International Association for Hospice and Palliative Care (USA) http://www.oncoguia.com.br/dor/07_oquesao.asp 2005 FRANÇA, Genival Veloso de.O paciente que vai morrer - direito de saber a verdade http://www.malthus.com.br/artigos.asp?id=114 Resumo de trabalho apresentado no III Congresso Brasileiro de Bioética e I Congresso de Bioética do Conesul, Porto Alegre, 2 a 4 de julho de 2000. FRANCISCONI, Carlos Fernando; GOLDIM,José Roberto. Problemas de Fim de Vida:paciente terminal, morte e morrer. http://www.bioetica.ufrgs.br/morteres.htm 1997-2003 GIL, Antonio Calos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 1991. HOLLAND, J. G. SKINNER, B. F. A análise do comportamento. São Paulo: Herder, 1969 KASTENBAUM, R. e AISENBERG, R. Psicologia da morte. Editora da USP, São Paulo, 1983. KNOBEL, Marcos; SILVA, Ana Lucia Martins da. O paciente terminal: vale a pena investir no tratamento? http://www.einstein.br/biblioteca/artigos/Vol2Num2/O%20paciente%20terminal%20%20(Marcos).pdf 2004 KOVÁCS, Maria Julia. Morte e Desenvolvimento Humano. 2a.ed. Casa do Psicologo, São Paulo, 1998. KÜBLER ROSS, Elizabeth. Sobre a morte e o morrer. São Paulo, Martins Fontes, 1998. LOPES. Luiz Fernando; CAMARGO. Beatriz de; FURRER. Anamaria Arbo. Médicos Pediatras Especialistas do Departamento de Pediatria do Hospital do Câncer - A.C. Camargo. Aspectos da Humanização no Tratamento de Crianças na Fase Terminal. http://www.hcanc.org.br/outrasinfs/ensaios/hum1.html 2003
56
MARANHÃO. José Luiz de Souza. O que é a morte. Coleção Primeiros Passo. São Paulo: Editora Brasiliense AS, 1985. MENEZES, Rachel Aisengart. Tecnologia e morte natural: o morrer na contemporaneidade XXVI encontro anual, Caxambu, MG, 22 a 26 de outubro de 2002 MINAYO. M.C. O desafio do comportamento: Pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo-Rio de Janeiro: HUCITEC-ABRASCO, 1992. MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX: neurose. 9ª ed.: Rio de Janeiro : Forense Universitaria, 1997. NAKASU, Cedric. Atendimento Psicológico A Pacientes Terminais http://www.redenacionaldetanatologia.psc.br/artigo_07.htm PÁDUA, E.M.M. Metodologia da pesquisa: Abordagem teórico-pratica. Campinas: Papirus, 2000. Parecer n. CEB15/98 da Lei de Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio PIVA, Jefferson Pedro; CARVALHO, Paulo R. Antonacci. Considerações éticas nos cuidados médicos do paciente terminal. http://www.portalmedico.org.br/revista/bio2v1/consideracoes.html REY, Luis. Dicionário de termos técnicos de medicina e saúde. 2. ed.Rio de Janeiro: Guanabara Koogan SA, 2003. REZENDE, Vera Lúcia. Reflexões sobre a Vida e a Morte: Abordagem interdisciplinar do paciente terminal. Editora Unicamp, 1999. RICHARDSON, Roberto Jarry. e colaboradores. Pesquisa Social: Métodos e Técnicas. 3.ed. São Paulo: Editora Atlas, 1999. SILLAMY, Norbert. Dicionário de psicologia larousse. Tradução Francisco Franke Settineri. Porto Alegre: ArtMed, 1998
57
SOUZA, Neri Tadeu Câmara. Consentimento Informado na Atividade Médica e a Autonomia do Paciente http://www.medonline.com.br/artneri.htm 2001 Medicina On line - Revista Virtual de Medicina STENFORD, Averil. Encarando a morte: uma abordagem ao relacionamento com o paciente terminal. São Paulo: Artes Médicas, 1986. TORRES, Wilma da Costa et al (coord.). A redescoberta da morte. In:_____ A psicologia e a morte. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1983.
58
FILMES RELACIONADOS COM A PESQUISA
”A balada de Narayma” (sobre morte e velhice).
“Terra das sombras” (perda do cônjuge).
“A última grande lição” (paciente terminal).
“O enigma das cartas” (a criança e a morte).
“O quarto do filho“ (perda do filho)
“No limite do silêncio” (suicídio).
“Uma lição de vida” (paciente terminal).
“Sob a areia” (perda ambígua).
“O sétimo selo” (conceito de morte).