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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A ‘VEZ DO MESTRE’
A UTILIZAÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA VISUAL ADQUIRIDA
(DOS 6 AOS 12 ANOS )
SABRINA NUNES DE SOUZA
Monografia apresentada como
requisito parcial para obtenção do Grau
de Especialista em Psicomotricidade.
RIO DE JANEIRO
FEVEREIRO DE 2003
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‘’Dedico este trabalho a meus pais ( Sandra e Marcos ) e ao meu
noivo ( Eduardo ), que sempre me deram ajuda e incentivo para meu
crescimento emocional e profissional.’’
Com muito amor e gratidão,
Sabrina .
ii
3
‘’A criança é um casulo, apenas . E não há entomologia que possa
dizer, pelo aspecto exterior desse casulo, as cores do inseto que
palpita lá dentro .’’
Humberto de campos ( 1886-1934 )
Memórias, Prefácio .
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SUMÁRIO
Introdução
I ) Capítulo I – Caracterização da deficiência visual ------------------------------------07
1.1-Conceito
1.2-Classificação
1.3-olho e a sua visão
1.4-A visão
1.5-Etiologia
II ) Capítulo II – O que é psicomotricidade ------------------------------------------------12
2.1-- Os fundamentos da aprendizagem psicomotora
2.2-- A psicomotricidade no desenvolvimento da criança
2.3-- Elementos básicos das atividades psicomotoras
III ) Capítulo III – A importância da psicomotricidade no portador deficiência
visual ------------------------------------------------------------------------------------------------18
IV ) Capítulo IV – A importância da visão --------------------------------------------------19
V ) Capítulo V – A criança portadora de deficiência visual adquirida --------------20
VI ) Capítulo VI – A importância das AVD’S na educação e reabilitação nas
crianças portadoras de deficiência visual --------------------------------------------------27
VII ) Capítulo VII – A assistência fisioterápica a criança portadora de deficiência
visual ------------------------------------------------------------------------------------------------29
VIII ) Capítulo VIII – Algumas atividades lúdicas aplicadas em crianças
portadoras de deficiência visual ------------------------------------------------------------32
Conclusão
Referências bibliográficas
iv
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INTRODUÇÃO
Este trabalho foi elaborado com a pretensão de abordar,
especificamente, a problemática do portador da deficiência visual, considerando
suas possibilidades de participação ativa no meio social. Visa fornecer
conhecimentos e despertar nas pessoas atenção e interesse sobre os portadores
de deficiência visual. Todos precisam saber, que eles apresentam condições de
se realizar socialmente. Isso é sempre possível quando esses deficientes têm a
oportunidade de mostrar suas potencialidades.
A comunidade em geral, e mesmo a família em particular, nem
sempre tem o esclarecimento necessário para uma atividade apropriada para
com as pessoas cegas ou de visão sub-normal. Essas, geralmente, são
prejudicadas pôr super proteção, segregação, descrença ou valorização
exageradas de suas reais possibilidades, criando condições desfavoráveis para
seu ajustamento e integração no meio social.
Os temas desenvolvidos nesse trabalho, irão informar conhecimentos
básicos sobre a deficiência visual, e proporcionar ao deficiente visual condições
para que, dentro de suas potencialidades, possam formar hábitos de auto-
suficiência que lhes permitam participar ativamente do ambiente em que vivem,
através de atividades psicomotoras.
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RESUMO
Esta monografia aborda um tema que foi escolhido para chamar a atenção do
mundo para a problemática das crianças portadoras de deficiência visual .Não
só as dificuldades enfrentadas pela falta de visão ,mas também pelas
dificuldades das pessoas mal informadas pelo assunto .Nela aborda-se a
explicação dos vários tipos de cegueira e como podemos tratar dela para que
essas crianças possam Ter uma vida ‘’normal’’ através da psicomotricidade
.Explica também a psicomotricidade para que os leitores desta monografia
possam entender do que se trata .Junto os dois tópicos e surge a formação de
atividades lúdicas para uma melhora de vida para essas crianças portadoras de
deficiência visual , para que estas possam Ter suas vidas felizes e fazerem suas
atividades diárias e em sociedade o mais independente da ajuda de outras
pessoas. . .
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CAPÍTULO I
Caracterização da deficiência visual
1.1)Conceito
A deficiência visual se caracteriza pela incapacidade total ou parcial
de seus portadores utilizarem o sentido da visão nas atividades normais da vida
e pela capacidade de superarem sua deficiência, valendo-se dos sentidos
remanescentes.
A cegueira pode ser congênita ou adquirida. Diz-se que a cegueira é
congênita ou precoce, quando a perda de visão ocorre no período compreendido
do nascimento à idade de 5 ou 6 anos. Já a adquirida, é quando ocorre a perda
da visão a partir dos 7 anos de idade. Nesse caso, as pessoas cegas são
capazes de se recordar das experiências visuais anteriores à perda da visão:
fatos, imagens, ambientes ,etc.
Temos que ter a distinção entre dois aspectos que marcam os que são
atingidos pôr distúrbios sensoriais ou físicos : a incapacidade ou deficiência
propriamente dita.
A incapacidade refere-se à condição peculiar e uma pessoa, sendo
determinada e descrita através de uma avaliação médica. Já a deficiência refere-
se às naturais limitações que impedem ou dificultam a pessoa incapacitada à
realização plena de suas atividades.
Então, a incapacidade visual determina uma deficiência que deve ser
considerada, apenas, como fator que restringe e limita certas ações humanas,
mas que, nem pôr isso, impede a realização de um grande número de atividades
que garantem ao deficiente de visão, a sua independência e auto realização
como membro participantes de suas atividades.
1.2) Classificação
Os deficientes visuais são freqüentemente classificados em dois
grupos: pessoas cegas e pessoas de visão Sub normal. Essa classificação pode
ser determinada através de dois conceitos: médico e educacional.
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O conceito médico toma como base duas características: a acuidade
visual e / ou limitação do campo de visão.
Sob o ponto de vista médico: - As pessoas cegas são aquelas que se encontram
em uma das seguintes situações: acuidade visual do melhor dos seus olhos,
após correção, seja menor que 1/10 ( um décimo) da visão considerada normal
ou campo de visão do melhor dos seus olhos, com diâmetro correspondendo a
um arco máximo de 20 graus. Dentro dessas características, uma pessoa pode
ter visão residual, ou seja, um grau máximo de acuidade de visão.
Já as pessoas de visão sub-normal, também chamadas de
amblíopedes ou de visão reduzida, são aquelas que têm acuidade visual dentro
dos limites de 1/10 ( um décimo) e 3/10 ( três décimos) considerada normal.
Sendo assim, elas apresentam uma acuidade de visão superior a 1/10 ( um
décimo) e igual ou menor que 3/10 ( três décimos) de visão considerada normal.
Sob o ponto de vista educativo: - É considerada uma pessoa cega
aquela que apresenta perda total da visão ou baixa visão residual, em tal grau
que, necessite do método Braille como meio de leitura / escrita e / ou de outros
métodos, recursos didáticos e equipamentos especiais para suas educação.
Já as pessoas com visão sub-normal, são aquelas que, embora com
distúrbios de visão, possuem resíduos visuais, em tal grau, que lhe permitam ler
textos impressos em tinta, desde que se empreguem recursos didáticos e
equipamentos especiais para sua educação.
Em síntese, os portadores de cegueira, classificados nos dois grupos,
quer pôr qualquer um dos conceitos citados acima, são todos que não podem
desempenhar uma profissão ou uma tarefa de modo satisfatório, para cuja
execução seja imprescindível o emprego de recursos visuais.
1.3 ) O olho e sua visão
Os olhos são órgãos responsáveis pela visão.
Temos dois globos oculares, onde cada um apresenta uma parede
formada pôr três membranas. São elas: esclerótica, coróide e retina.
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A esclerótica é a membrana mais externa, de cor branca e opaca, e
que te, como função a proteção do globo ocular. Na parte da esclerótica,
apresenta-se uma saliência transparente que recebe o nome de córnea.
Anteriormente a córnea, temos a conjuntiva, que é uma camada de proteção
delgada e transparente, e posteriormente temos um orifício pôr onde o nervo
óptico penetra no globo ocular.
A córnea permite a chegada dos raios luminosos a retina. É
responsável pela sensibilidade à corpos estranhos e filtra os raios ultra violeta.
Já a conjuntiva, contém glândulas especiais para a produção de lágrimas e
também reveste a face interna das pálpebras.
A coróide, localizada sob a esclerótica, é muito rica em vasos
sangüíneos, e o sangue que circula nessa membrana nutre as células do olho.
Como a esclerótica, a coróide também apresenta um orifício pôr onde passa o
nervo óptico.
Anteriormente à coróide, tem um orifício circular, a pupila. Essa, é
rodeada pela faixa circular da coróide, que é denominada íris, que pode ser:
azul, castanha ou verde. É pela pupila que ocorre a entrada de luz e a íris
funciona como um diafragma regulável, ou seja, ela ajusta o tamanho da pupila,
permitindo a entrada de mais ou menos luz nos olhos: - sob a luz forte, a pupila
diminui, enquanto que, na penumbra ela se dilata. Isso ocorre devido à ação de
dois músculos: o dilatador da pupila e o esfíncter da pupila.
A retina é a camada mais interna e sensível do globo ocular. É
formada pôr um prolongamento do nervo óptico, que se insere no cérebro e
penetra no olho, atravessando a esclerótica e a coróide. Sua função é focalizar a
luz proveniente dos objetos para que possamos enxergar.
A parte mais importante da retina é a fóvea. Na fóvea a visão tem a
máxima nitidez, que ocorre pela ação de seus foto receptores - os cones e
bastonetes. Existe também o nervo óptico ponto cego, onde não há percepção e
é exatamente o ponto no qual sofre expansão para formar a retina.
O interior dos olhos é formado pôr três elementos: cristalino, humor
aquoso e humor vítreo.
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O cristalino, é uma espécie de lente biconvexa, vascular, incolor e
quase totalmente transparente, situado atrás da íris. Sua função é dar nitidez e
foco à imagem luminosa, projetando-a sobre a retina.
O humor aquoso, localiza-se anteriormente ao cristalino, isto é,
preenche o espaço entre a córnea e o cristalino, e é produzido pelo corpo ciliar.
O humor vítreo é uma espécie de gelatina que preenche todo globo
ocular desde a face posterior do cristalino até a retina. Tem papel importante na
transparência e na forma do olho.
Existem também, os anexos do globo ocular. São eles: cílios,
pálpebras, sobrancelhas, glândulas lacrimais e músculos oculares.
As pálpebras são duas dobras de pele revestidas internamente pela
conjuntiva (como já foi dito anteriormente) e servem para proteger os olhos e
espalhar sobre eles o líquido que conhecemos como lágrima.
Os cílios impedem a entrada de poeira nos olhos.
As sobrancelhas impedem a descida do suor da testa para o interior
dos olhos.
As glândulas lacrimais produzem lágrimas, que lavam e lubrificam os
olhos.
E pôr fim, temos os músculos que são responsáveis pela
movimentação do globo ocular. São eles:
1) Músculo reto superior = elevação do globo ocular
2) Músculo reto inferior = depressão do globo ocular
3) Músculo reto lateral = abdução do globo ocular
4) Músculo reto medial = adução do globo ocular
5) Músculo oblíquo superior = move o globo ocular para baixo e para dentro.
(Músculo de leitura)
6) Músculo oblíquo inferior = move o globo ocular para cima e para dentro.
1.4 ) A visão
Os raios luminosos atravessam a córnea, o cristalino, o humor aquoso
e o humor vítreo até atingirem a retina. Esses raios luminosos, provenientes de
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objetos, são focalizados na retina, que estimulará seus fotorreceptores: os cones
e os bastonetes. Os cones são responsáveis pela visão de cores e os bastonetes
pelo preto e branco.
A retina, então, formará uma imagem invertida, que será transmitida
através de impulsos nervosos, pelo nervo óptico, até o cérebro. Esta irá
interpretar e permitir ver os objetos nas posições em que realmente se
encontram, ou seja, nosso cérebro reúne os impulsos nervosos em uma só
imagem.
A capacidade do aparelho visual humano perceber os relevos, deve-
se ao fato de serem diferentes às imagens que cada olho enviará ao cérebro.
Com somente um dos olhos, temos a noção de largura e altura, já com os dois,
passamos a ter noção de terceira dimensão e da profundidade .
1.5 ) Etiologia
Algumas das etiologias mais comuns são:
- Blenorragia ou gonorréia;
- Sífilis;
- Casamento consangüíneo;
- Tracoma ( conjuntivite virótica );
- Oncocercose ( causada pôr um parasita ) ;
- Glaucoma;
- Catarata ( opacidade do cristalino );
- Hanseníase ( lepra );
- Diabetes;
- Xeroftalmia ( carência de vitamina A );
- Sarampo ;
- Acidentes de trabalho ;
- Varíola ;
- Escarlatina;
- Tifo .
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CAPÍTULO II
O que é Psicomotricidade
A psicomotricidade consiste na unidade dinâmica das atividades , dos
gestos ,das atitudes e posturas ,enquanto sistema expressivo ,realizador e
representativo do ‘’ser em ação’’ e da ‘’coexistência com outrem’’.( Jacques
Chazaud).
A psicomotricidade envolve toda a ação realizada pelo indivíduo ,que
represente suas necessidades e permitem sua relação com os demais .É a
integração psiquismotricidade .
De uma maneira estática ,a motricidade pode ser definida como o
resultado da ação do sistema nervoso sobre a musculatura , como resposta é a
estimulação sensorial .
Psiquismo poderia ser considerado como conjunto de sensações,
percepções ,imagens ,pensamentos ,afetos ,etc .
A mobilidade deve ser compreendida em sua evolução ,a partir dos
movimentos reflexos e incoordenados que tem finalidade e os gestos ,de valor
simbólico .
A função psicomotora ,no entanto ,não pode ser estudada senão como
uma unidade onde se integram a incitação , a preparação ,a organização
temporal , a memória ,a motivação ,a atenção ,etc .
Cada elemento da motricidade deve ser considerada no conjunto e na
história que lhe dá significado .
A psicomotricidade deve ser compreendida em sua integridade
,partindo de fenômenos que envolvem o desejar e o querer .
Resumidamente o que iremos abordar dentro da psicomotricidade é:
1) A formação do eu da personalidade da criança, isto é, o desenvolvimento do
esquema corporal, através do qual a criança toma consciência de seu corpo
e das possibilidades de expressar-se por meio desse corpo;
2) A criança percebe que seus membros não reagem da mesma forma, como
por exemplo, ela pode pular com o pé esquerdo mas não com o direito. Isso
sedá à dominância lateral, daí o estudo da lateralidade;
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3) A maneira como a criança se localiza no espaço que a circunda e como
situa as coisas, umas em relação as outras, isso é a estruturação espacial.
E como exemplo: Eu estou em cima da cadeira e a bola está embaixo
da cadeira;
4) Temos a orientação corporal que diz respeito à maneira que a criança
se situa no tempo. Exemplo: ontem, amanhã,
5) E, por último, como a criança se expressa também através do desenho,e
completa-se o estudo com o domínio progressivo do desenho e do grafismo.
2.1) Os fundamentos da aprendizagem psicomotora
A educação psicomotora é uma técnica.
Como utilizá-la para que uma criança adquira noção de esquema
corporal ou uma outra noção indispensável a seu desenvolvimento ?
- Iremos usar os mesmos caminhos da aprendizagem natural, etapa por etapa.
- Primeiro, usaremos os exercícios motores, isto é, exercícios em que o
corpo se desloca e o sujeito percebe as diferentes noções de maneira interna.
Depois, através de exercícios sensório motores, em virtude dos quais a
manipulação de objetos possibilita a percepção de diversas noções.
Evidentemente, o tato é muito importante. E finalmente, através de exercícios
perceptomotores, em que as manipulações são mais sutis e a percepção visual,
muito importante ,domina as outras partes.
2.2) A psicomotricidade no desenvolvimento da criança
O movimento ,assim como os exercícios é de fundamental importância
no desenvolvimento físico ,intelectual e emocional da criança. Estimula a
respiração e a circulação ,de modo que ,nutre as células e promove a eliminação
de detritos celulares .
Graças ao exercício são fortalecidos os músculos e os ossos .
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O movimento permite à criança explorar o mundo exterior através de
experiências concretas , sobre as quais são construídas as noções básicas para
o desenvolvimento intelectual
É a exploração que desenvolve na criança a consciência de si
mesmo e do mundo exterior .
O desenvolvimento é contínuo .A criança se desenvolve de maneira
contínua , desde os primeiros dias de vida .
A harmonia do desenvolvimento com todos os seus componentes é
tão importante quanto a aquisição de tantas performances numa determinada
idade ,ou de tantos centímetros .Não se trata para a criança de realizar uma
corrida de obstáculos , o mais rapidamente possível ,mas desenvolver seu corpo
e sua mente de maneira equilibrada .Entretanto ,no momento em que certas
aquisições , tais como a linguagem ,por exemplo,se desenvolvem rapidamente
,os progressos em outras áreas se estacionam : é preciso compreender que a
criança não pode centrar seus esforços em todos os setores ao mesmo tempo .
Cada criança é única .O esquema do desenvolvimento é comum a
todas as crianças ,mas as diferenças de caráter ,as possibilidades físicas ,o meio
e o ambiente familiar explicam que com a mesma idade crianças perfeitamente
‘’normais’’ possam comportar-se de maneiras diferentes ; o bebê que anda com
11 meses não está mais perto do normal que aquele que anda com 16 meses .A
criança que progrediu inicialmente muito rápido vai reduzir o ritmo de suas
aquisições e vai ser alcançada por aquela criança que parecia ‘’atrasada’’
alguns meses antes.
Desta maneira , julgar um bom desenvolvimento de uma criança é
muito mais complexo do que parece : não é suficiente apreciar ,baseado num
manual a conformidade ou não de referenciais indicados ,é preciso ter em vista o
conjunto da criança e de suas condições de vida familiar e não se preocupar com
uma anomalia isolada .
A criança se sentirá bem a medida em que seu corpo lhe
obedece, em que o conhece bem, em que pode utilizá-lo não somente para
movimentar-se mas também para agir.
‘’(Wallon H., Évolution psychologique de enfant, Collin, Paris, 1968. )’’
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2.3) Elementos básicos das atividades psicomotoras
-Coordenação Motora
a) coordenação motora global ou ampla :
A coordenação motora global diz respeito à atividade dos
grandes músculos . Através da movimentação e da experimentação , o indivíduo
procura seu eixo corporal ,vai se adaptando e buscando um equilíbrio cada vez
melhor . Consequentemente ,vai coordenando seus movimentos ,vai se
conscientizando de seu corpo a das suas posturas . Quanto maior o equilíbrio
,mais econômica será a atividade do sujeito e mais coordenadas serão as suas
ações .
Quanto maior o equilíbrio ,mais econômica será a atividade do
sujeito e mais coordenadas serão suas ações .
Diversas atividades levam à conscientização global do corpo
,como andar ,que é um ato neuromuscular que requer equilíbrio e coordenação ;
correr que requer ,além destes resistência e força muscular; e outras como
saltar ,rolar ,pular ,arrastar-se ,nadar ,sentar, lançar ,pegar ,etc .
b)coordenação motora fina e óculo-manual
A coordenação motora fina diz respeito ã habilidade e destreza
manual e constitui um aspecto particular da coordenação motora global .
É necessário que haja também um controle ocular ,isto é,a
visão acompanhando os gestos da mão .Chamamos a isto de coordenação
óculo-manual ou viso-motora .Esta coordenação é essencial para a escrita .
c)esquema corporal
O corpo é uma forma de expressão da individualidade .A
criança percebe-se e percebe as coisas que a cercam em função de seu próprio
corpo .Isto significa que ,conhecendo-o ,terá maior habilidade para se diferenciar
,para sentir diferenças .
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O desenvolvimento de uma criança é o resultado da interação
do seu corpo com os objetos de seu meio ,com as pessoas com quem convive e
com omundo onde estabelece ligações afetivas e emocionais .
O corpo ,portanto , é sua maneira de ser .É através dele que
estabelece contato com as entidades do mundo ,que se engaja no mundo ,que
compreende os outros .
d) lateralidade
A lateralidade é a propensão que o ser humano possui de
utilizar preferencialmente mais um lado do corpo do que o outro em três níveis:
mão ,olho e pé .Isto significa que existe um predomínio motor ,ou melhor ,uma
dominância de um dos lados .O lado dominante apresenta maior força muscular
,mais precisão e mais rapidez .É ele que inicia e executa a ação principal .O
outro lado auxilia a ação e é igualmente importante .Na realidade os dois não
funcionam isoladamente ,mas de forma complementar ,
A criança precisa experimentar os dois lados sem
interferências .Ela precisa se descobrir .Não devemos direcioná-la.
Destra : lado direito (três níveis – olho ,mão e pé ;
Canhota : lado esquerdo (três níveis – olho ,mão e pé ;
Ambidestra : (lado esquerdo e direito )
Lateralidade cruzada : (tudo desencontrado)
e)estrutura espacial
Em primeiro lugar ,portanto ,a criança percebe a posição de seu
próprio corpo no espaço .Depois ,a posição dos objetos em relação a si mesma e
,por fim ,aprende a perceber as relações das posições dos objetos entre si .
Para que uma criança perceba a posição dos objetos no espaço
,precisa ,principalmente ,Ter uma boa imagem corporal ,pois usa seu corpo
como ponto de referência .Ela só se organiza quando possui um domínio de seu
corpo no espaço .
f) estrutura temporal
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As noções de corpo ,espaço e tempo tem que estar intimamente
ligadas se quisermos entender o movimento humano .O corpo coordena-se
,movimenta-se continuamente dentro de um espaço determinado ,em função do
tempo ,em relação a um sistema de referências .
Para uma criança aprender a ler ,é necessário que possua domínio
do ritmo , uma sucessão de sons no tempo ,uma memorização auditiva , uma
diferenciação de sons ,um reconhecimento das freqüências e das durações dos
sons das palavras .um indivíduo deve Ter capacidade para lidar com conceitos
de ontem ,hoje e amanhã .uma criança pequena não consegue extrapolar suas
ações para o passado ou o futuro .
É a orientação temporal que lhe garantirá uma experiência de
localização dos acontecimentos passados ,e uma capacidade de projetar-se para
o futuro ,fazendo planos e decidindo sobre sua vida .
g) ritmo
É um doas conceitos mais importantes da orientação temporal .O
ritmo não envolve ,porém ,somente as noções de tempo ,mas está ligado ao
espaço também .a combinação dos dois da origem ao movimento .O ritmo não é
movimento ,mas o movimento é meio de expressão do ritmo .
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CAPÍTULO III
A importância da psicomotricidade no portador de deficiência visual.
Nos primeiros meses de vida, o ser humano adquire noções
básicas de extrema importância no seu desenvolvimento psicomotor. De acordo
com correntes científicas largamente respeitadas, o homem, durante os dois
primeiros anos de vida, repete os passos de sua ancestralidade animal; vem da
simples célula, passando por peixe, quadrúpede, macaco, até assumir a postura
de bípede.
Nessa recapitulação filogenética, milhares e milhares de anos são
transpostos em pouco tempo de vida. Ao nascer, um ser humano, puramente
reflexo; aos dois anos de idade, já anda e se expressa através de linguagem
falada. Esta capacidade de aprendizado do indivíduo humano nas primeiras
etapas da vida parecem confirmar tais teorias.
No nosso entender, os profissionais envolvidos com a pediatria
devem Ter plena consciência do valor da atividade motora no processo de
desenvolvimento, assim como também da importância de poder detectar e
intervir precocemente em presença de qualquer alteração nessa área.
O bebê cego; apresenta alto risco em sua evolução. O déficit
visual impõe uma grande dificuldade na troca com o meio, uma vez que, 80%
das informações são recebidas pela visão.
O desenvolvimento é fruto de contínua troca entre os estímulos
ambientais e as respostas orgânicas. Deste modo, é fácil compreender a
importância da estimulação, desde os primeiros dias de vida para a criança cega
congênita, como forma de prevenir a instalação de outras alterações além da
cegueira.
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CAPÍTULO IV
A importância da visão
A visão não pode ser considerada isoladamente, mas
somente conforme a sua contribuição ao funcionamento sensorial total.
A visão é o nosso elo primário de ligação com o mundo
objetivo, proporcionando informações constantes e verificação imediata, e
permitindo que os elementos sejam apreendidos em forma já integrada, ou
seja, é o mais sofisticado e objetivo dos sentidos, permite o reconhecimento
do mundo externo e fornece um relato minucioso, registrando
simultaneamente posição, forma, cor, tamanho e distância.
A percepção visual é uma função bastante complexa, que
ocorre em três fases: primária, secundária e terciária.
Na fase primária há captação da imagem pelos receptores
foto sensíveis localizados na retina.
Na fase secundária ocorre o reconhecimento da imagem
projetada, ela passa a ter um significado.
Na fase terciária ocorre uma integração cortical desta imagem
reconhecida com todos outros sentidos. Portanto, a visão está
estreitamente correlacionada com as outras atividades sensoriais.
Faltando a visão, os sentidos restantes: audição, tato, olfato e
paladar, têm de funcionar sem a informação e a integração que a visão
proporciona. Por conseguinte os dados originados dos outros sentidos são
intermitentes, fugidos, seqüenciais e necessariamente recebidos de forma
fragmentada. Não existe uma compensação sensorial mágica
(Gibson,1969).
Com efeito, os outros sentidos parecem inicialmente os outros
sentidos parecem diminuídos na ausência da visão, e as crianças cegas
freqüentemente parecem não ter a percepção de seu ambiente e
necessitam de estimulação adicional.
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CAPÍTULO V
A criança portadora de deficiência visual adquirida
Levaremos em conta, que essas crianças já possuíram a visão
durante as primeiras etapas de vida. Este fator é de grande importância na
organização das diversas estruturas mentais que irão intervir no
desenvolvimento sensório motor e na intervenção social destas crianças. Mesmo
que elas não tenham imagens visuais úteis, utilizarão estruturas mentais ainda
baseadas na visão, pois esta monitora todos os outros órgãos sensoriais.
A criança cega não é capaz de se orientar, nem realizar adaptações
em seu sistema muscular de acordo com as variações posição, distância,
tamanho e forma. Pela ausência da visão, as combinações auto corretivas de
reforço mútuo entre a visão e as respostas motoras ficam muito comprometidas.
Não existe substituição de um sentido por outro. O conjunto sensorial funciona
em sinergismo onde nenhum dos sentidos realiza suas funções de forma isolada,
eles se retro alimentam.
A deficiência visual torna impossível o reconhecimento do mundo
através de imagens visuais. Por isso, a criança cega é tão dependente do tato
que fica difícil projetar imagens além da periferia de seu alcance. Além disso, a
cegueira impõe um maior grau de dificuldade na percepção do próprio corpo.
A criança cega não conta com a visão para fazer a distinção
fundamental entre seu anatômico e todas essas contingências ambientais. As
noções de distância e de espaço, são adquiridas através dos deslocamentos
corporais. Isso se inicia no arrastar, engatinhar e posteriormente na marcha.
Desta forma, a criança passa a compreender objetivos mais remotos e as
distâncias percorridas. Já a criança cega, apresentará maior dificuldade de se
deslocar devido à falta de estímulo visual para despertar-lhe o interesse, e
também pela sensação de insegurança que apresenta. Sua locomoção é restrita,
sua orientação espacial ficará prejudicada. Desenvolver contato ativo nestas
crianças é fundamental. Desta forma, elas poderão explorar o ambiente,
contornos e formas, formarão imagens táteis não se sentindo tão inseguras e
desinteressadas pelo meio externo, passando a tomar conhecimento de detalhes
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mais sutis de distância e das relações espaciais, facilitando sua locomoção no
espaço e sua integração com o meio.
A chave para o uso do tato está no conhecimento de seu
desenvolvimento, sintetizado em atividades que visem à estimulação apropriada
e à aquisição de destreza. A finalidade, é explorar o desenvolvimento da
modalidade tátil, e proporcionar aplicações práticas dos aspectos relativos à
evolução desta modalidade.
A ausência da modalidade visual, exige experiências alternativas do
desenvolvimento, afim de cultivar a inteligência e promover capacidades sócio-
adaptativas. O ponto central desses esforços é a exploração do pleno
desenvolvimento tátil. Nesse processo, fica implícita uma compreensão das
seqüências do desenvolvimento dentro da modalidade tátil. Todas essas fases
contêm níveis variados de aquisição de habilidades relativas ao
desenvolvimento.
São divididas em quatro fases, que se apresentam da seguinte
maneira:
Primeira fase: Consciência da qualidade tátil
O sentido do tato começa com atenção prestada a texturas,
temperaturas, superfícieis vibráteis e diferentes consistências. Pelos movimentos
das mãos, as crianças cegas se dão conta das texturas, da presença de
materiais, e das inconcistências das substâncias. Também, através dos
movimentos das mãos, as crianças cegas podem aprender os contornos,
tamanhos e pesos. Essas informações são recebidas sucessivamente, passando
dos movimentos manuais grossos à exploração mais detalhada dos objetos.
Segunda fase: Conceito e reconhecimento de forma.
No segundo nível do reconhecimento tátil é o conceito e o
reconhecimento do relacionamento do todo com as partes. Em estudos feitos por
Vurpillot (1976), descobriu-se que antes dos três anos de idade, crianças não
deficientes não têm modelos de representação separados das ações sobre um
objeto. Este período de modelo de ação é semelhante ao esquema sensorial
motor de Piaget. Após os três anos, porém, os objetos podem ser comparados
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num esquema mais do tipo mediação. A criança pode comparar o que é
lembrado com o que é percebido. Vurpillot que a transferência intra-modal tátil-
tátil ocorre tardiamente e produz desempenho inferior, se comparando com a
transferência visual-visual. Uma explicação para este desempenho inferior está
em que o sistema visual permite a experiência da informação, ao passo que o
sistema tátil proporciona apenas uma experiência limitada da informação, de
maneira sucessiva.
Terceira fase: Representação gráfica.
Depois da exploração da forma e das partes interrelacionadas dos
objetos, é a representação gráfica. A perspectiva espacial nesta fase difere das
perspectivas espaciais do manuseio de objetos.
Ao passar para um nível mais abstrato de representação gráfica, a
criança cega deve se familiarizar com formas geométricas tridimensionais pelo
manuseio dos objetos sólidos antes de evoluir para a representação
bidimensional dos objetos. Uma vez que a forma já seja conhecida, ela deve ser
apresentada em vários tamanhos, para ajudar a criança a generalizar.
Quarta fase: Sistema de simbologia
A combinação de um sistema de simbologia vem a ser o passo final do
desenvolvimento da modalidade tátil. Um dos sistemas comuns é o Braille, um
sistema de pontos perceptíveis pelo tato, que representam os elementos da
linguagem. Pesquisa sobre o Braille, indicam que os caracteres mais legíveis são
os que têm o menor número de pontos. Há também estudos que mostram que as
seguintes condições causam erros na leitura de Braille.
São elas, em ordem decrescentes: palavras abreviadas, múltiplas
contrações na cela, contrações na parte superior e inferior da cela, palavras
escritas por extenso e palavras que designam o alfabeto (Nolan & Kederis,1969).
Além do tato, outro sentido importante para o reconhecimento do meio
para a criança cega, é a audição, apesar de não compensar a ausência da visão.
Na criança com visão normal, a audição, monitorizada pelos olhos, é um sentido
de distância, para a criança cega é um sentido subjetivo, por isso, deve ser
educada para que adquira objetividade, localização e noção de distância.
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A cegueira não é apenas a perda de um sentido isolado: é a perda do
sentido que gera a integração de todos os outros. Apesar disto, a criança cega
tem uma capacidade progressiva de ir se adaptando à sua deficiência. Se for
bem orientada desenvolverá sua potencialidades permanentes. A deficiência
visual não pode ser considerada como agente etiológico de alterações cognitivas
motoras e psíquicas, mas sim como um fator predisponente à instalação deste
quadro.
Em cada etapa do desenvolvimento, uma capacidade surge e é
trabalhada pelo organismo, passando a ser integrada em uma escala crescente
de desenvolvimento. Para que isto ocorra, a criança necessita ser encorajada e
reforçada por seus pais. Se não há esforço e motivação, esta criança será
invadida por uma sensação de insegurança e medo.
O desenvolvimento psicomotor se realiza pela combinação de prazer
que a criança sente por ter experimentado algo novo (uma aquisição motora e/ou
sensorial) e o reforço familiar à aquisição feita por seu filho.
Lowenfild dentre outros investigadores coincidem ao manifestar as
grandes dificuldades, o alto risco e a vulnerabilidade que a criança cega
apresenta em seu desenvolvimento.
Os estudos de Gomulicki, sobre o desenvolvimento de percepção em
crianças cegas com 07 (sete) anos de idade, nos mostram uma notável
inferioridade em relação as crianças videntes da mesma idade nas habilidades
do tato, da audição, da manipulação e motoras.
Gomulicki afirma que a ausência da função integradora da visão dificulta
a utilização dos outros sentidos. O desenvolvimento se dá através das vivências,
experiências que vão sendo adquiridas.
A visão é uma janela para o mundo. Estabelece uma porta de entrada
para todos os estímulos que irão motivar a criança a se lançar em novas
experiências e conquistas. Nas crianças cegas, estas experiências são mais
restritas e limitadas e isto pode causar uma lentidão e até mesmo anomalias no
seu processo de maturação.
A criança cega não tem motivação para descobrir o mundo externo. A
cegueira lhe impõe duas limitações básicas: na quantidade e variedade de
experiências e na mobilidade e domínio de espaços desconhecidos.
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A visão proporciona um mundo atraente com milhares de formas, cores,
situações e experiências. Fornece uma verificação imediata e a impressão de
elementos que estimulam a curiosidade e o interesse da criança. Já vimos, que
as informações que recebemos do meio através deste sentido, constituem 80%
de total recebido. A visão desempenha um papel fundamental na função de
síntese e na formação de imagens no pensamento.
A criança cega, ouve sons em sua volta, e vai elaborando uma série de
conhecimentos. Ouvir, proporciona certa orientação de direção e de distância do
objeto sonoro, mas fornece pouca informação sobre suas diferentes
características (forma, tamanho, cor, posição no espaço et.). O profissional deve
orientar os pais de forma que eles compreendam a importância de fornecer a
informação auditiva a mais rica possível para o seu filho, para que ele vá
organizando suas experiências. Deve escutar os passos de sua mão, sua voz
dizendo que vai pegá-lo nos braços, perceber o seu cheiro, sentir o afeto pela
suavidade de sua voz, seu calor, a pressão do corpo materno sobre o seu. Tudo
isso, configura uma experiência global na criança cega irá adquirindo percepção
corporal e tomando conhecimento das coisas ao redor.
Através de estudos, ficou comprovado que a criança cega necessita de
estimulação auditiva na organização de suas percepções, como se a audição
atuasse monitorando as outras experiências perceptivas.
Fica caracterizada a importância da conscientização dos pais da
necessidade de conversar com a criança, dizendo para ela o que está
acontecendo nas suas atividades da vida diária: alimentação, banho, passeio,
fazer carinho etc.
A percepção tátil nas crianças cegas tem significado completamente
diferente. Suas imagens são formadas através de percepções táteis e auditivas,
enquanto a que as do vidente são formadas predominantemente através de
impressões visuais.
As crianças cegas devem ter a oportunidade de vivenciar experiências
totais de forma inteligente, ampla e generalizada que não somente
compreendam conhecimento verbal e tátil dos objetos, mas sua posição no
espaço e no tempo, suas relações com a criança e com outros
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seres e objetos. Desta forma ela irá se organizando, conhecendo e sentindo-se
segura e confiante para se lançar em novas experiências.
Depender do conhecimento prévio de um espaço ou de outra pessoa,
em certas situações, gera ansiedade e angústia. Na nossa experiência podemos
observar pessoas cegas que superam estes sentimentos e apresentam bom
controle do espaço.
A mobilidade ou capacidade de movimento depende de dois fatores
essenciais para a mobilidade e estão intimamente relacionados:
a) Orientação mental que é uma habilidade de uma pessoa reconhecer o
espaço a sua volta e as relações espaço-temporais em relação à si mesma;
b) Locomoção física que é o movimento de um organismo em deslocamento,
conferindo significado a este mecanismo orgânico.
A criança cega que deseja dirigir-se a um determinado lugar, deverá
formar um mapa mental em seu pensamento, enquanto se desloca para seu
objetivo. Sua memória motriz e seu sentido auditivo estarão constantemente em
atividade, procurando captar todos os sons que possam informá-las a respeito
das variações encontradas em sua volta e os perigos que dela derivam. Assim
mesmo, procurará interpretar os diferentes sinais recolhidos no ambiente, que
servem de pontos de referência para verificar se seu deslocamento está correto.
Terá sua atenção voltada aos odores, mudanças de temperatura, correntes de
ar, alterações do piso, distância em relação ao tempo que leva para alcançar seu
objetivo e também aos diferentes ruídos durante o percurso.
O equilíbrio e o sentido cinestésico também se acham implicados. O
equilíbrio é sempre difícil quando não há visão para lhe proporcionar informações
sensoriais que lhe permitam um feedback postural. A criança tem que encontrar
esse equilíbrio em si mesma, desenvolvendo melhor coordenação e reflexos. O
sentido cinestésico, que nos facilita informações referentes à configuração do
movimento do corpo no espaço, deve ser educado no cego a fim de ajustar
movimentos e deslocamentos.
Os movimentos nos primeiros anos de vida têm importância
fundamental. A criança cega está restrita em seus movimentos muito
precocemente. As crianças de visão normal têm um desejo inato de colocar em
uso imediatamente e os movimentos que vão adquirindo, sentem prazer no
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aperfeiçoamento de suas habilidades motoras. Na criança cega, este desejo é
inibido pela ausência de estímulo visual. As formas e cores não lhe provocam
qualquer interesse de aproximação, além disso sente medo diante do vazio. Não
tem domínio do espaço à sua volta e não tem a menor idéia do que pode
encontrar.
Se a criança cega, não for educada precocemente, tende a ser
passiva. Este comportamento pode originar alterações musculares (hipotonia) ,
na coordenação e no equilíbrio estático e dinâmico.
A criança cega não realiza as reações protetoras, principalmente
porque não enxerga o solo, por isso, não tem porque estender os braços para
proteger-se da queda. Ela deve ser ensinada a perceber a continuidade das
superfícieis através do tato, vendo com as mãos.
As reações de indireitamento também são afetadas em virtude da
importância da visão na orientação postural. Com a ausência da informação
visual, os receptores proprioceptivos, táteis e principalmente labirínticos terão
que ser acessados. Isto pode ser feito através da cinesioterapia. Nada melhor do
que o movimento para ajudar na consciência corporal necessária a uma boa
orientação postural.
É preciso despertar seu interesse através dos estímulos,
principalmente auditivos, para que sinta prazer em elevar sua cabeça e, desta
forma, interagir com o ambiente. O controle da cabeça é primordial no processo
do desenvolvimento motor, ele é a base de um processo que ocorre de forma
crânio caudal.
A fisioterapia através da estimulação poderá propiciar uma
reorganização sensorial logo nas primeiras etapas da vida, evitando atraso no
desenvolvimento psicomotor e com isso prevenindo alterações do equilíbrio
estático e dinâmico.
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CAPÍTULO VI
A importância das AVD’S na educação e na reabilitação da criança
portadora de deficiência visual
A) OBJETIVO
Na educação da criança cega ou portadora de visão sub normal ,cabe
ressaltar a importância da Atividade da Vida diária (AVD‘S) cujo objetivo é
proporcionar à criança condições para que, dentro de suas potencialidades, possa
formar hábitos de auto suficiência que lhe permitam participar ativamente do
ambiente em que vive.
Em relação à criança cega ou portadora de visão sub normal, como
isso ocorre ?
Se os hábitos à mesa, a postura, a adequação para se vestir e a
higiene pessoal são comportamentos adaptativos, há necessidade de um
treinamento intensivo, porque a criança cega pode apresentar atitudes
inadequadas em algumas dessas situações. Sem dúvida, ela, no espaço maior ou
menor de tempo, acabará por realizar as mesmas tarefas que as de visão normal,
tomando-se em conta, é claro, as diferenças individuais e a restrita capacidade de
limitação de quem não vê.
Muitos pais, diante das dificuldades de seus filhos, tornam-se super
protetores e, assim, impedem a criança de vivenciar experiências que contribuirão
para a autonomia dela. É de grande importância a realização de um trabalho com
os pais, paralelamente com que é feito com seus filhos, através de encontros e /
ou reuniões, dando a oportunidade da prática das (AVD’S) que são desenvolvidas
com eles.
B) ATIVIDADE DA VIDA DIÁRIA (AVD)
A criança só aprende aquilo que vive concretamente. É importante
que ela faça suas próprias descobertas através da manipulação, exploração do
ambiente físico-social. Para isso podem e devem ser exploradas situações
referentes à alimentação, higiene pessoal, saúde, segurança, às atividades
domésticas e ao vestuário.
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Assim, através do treinamento em AVD, a criança cega e de visão sub
normal aprende, entre outras coisas: localizar os alimentos no prato; cortar
alimentos; controlar a quantidade de comida do prato, cortar alimentos; controlar a
quantidade de comida do prato sem derramar; controlar a quantidade de comida
no talher; servir-se à mesa; encher copos e garrafas; receber visitas; vestir-se;
cuidar de sua aparência visual, caminhar, sentar e gesticular de maneira
adequada; prevenir-se contra acidentes e remediá-los.
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CAPÍTULO VII
A assistência fisioterápica à criança portadora de deficiência visual
adquirida
A assistência fisioterápica à criança cega se justifica, por ser o
fisioterapeuta portador de conhecimentos técnicos e científicos sobre o
desenvolvimento psicomotor, assim como das implicações que a ausência
da visão pode acarretar a este processo. O fisioterapeuta está apto a
diagnosticar e intervir de forma adequada, com intuito de prevenir a
instalação de alterações motoras na criança deficiente visual.
A melhor ajuda que a fisioterapia pode prestar, é através da
estimulação motora. A criança deve aprender a se movimentar, a conhecer
seu corpo e ter prazer em se deslocar para descobrir o mundo que a cerca
e dominar o espaço. A passividade imprimida pela ausência da visão pode
implicar em alterações nas seguintes áreas:
- tônus muscular;
- postura;
- coordenação motora;
- psíquica;
- equilíbrio;
- orientação espacial;
- cinestésica;
- social.
Nosso objetivo principal é desenvolver habilidades sensoriais,
para que a privação do sentido da visão não inviabilize o processo de
interação com o meio, responsável pelo amadurecimento psicomotor.
O recurso mais apropriado é a cinesioterapia através de
exercícios passivos, ativos assistidos e ativos livres, de acordo com o
propósito em questão. A cinesioterapia, ou seja, terapêutica pelo movimento
pode ser realizada através da estimulação auditiva, olfativa, gustativa, tátil,
propioceptiva e cinestésica, visando desenvolver a consciência corporal,
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coordenação motora, equilíbrio, correção postural, marcha e orientação no
espaço.
Os exercícios têm como objetivo, estimular as vias sensoriais
remanescentes para que, através destas, a criança consiga se integrar
plenamente com o meio, alcançar independência e felicidade.
Pelos movimentos ocorrerá a estimulação dos receptores do tato,
propiocepção, pressão, temperatura etc., localizados nas diversas regiões do
corpo.
O fisioterapeuta, inicialmente, fará uma avaliação dos padrões
motores e da postura objetivando uma orientação e manejo mais adequado no
que diz respeito a estes aspectos.
A motricidade não pode ser vista isoladamente, mas como o
desejo para ação, favorecendo o conhecimento e domínio do próprio corpo,
sempre procurando proporcionar a participação afetiva da criança. Um dos
aspectos mais ricos que a criança possui para aprender suas tarefas
evolutivas é o brinquedo, ou seja, o jogo.
A atividade lúdica na vida da criança ocupa, em importância, o
mesmo lugar do trabalho na vida de um adulto. Este aspecto constitui o eixo
principal da nossa atividade técnica em função de que os estímulos serão
oferecidos através de brinquedos e atividades lúdicas.
Estimular não é bombardear a criança para que ela faça alguma
coisa. Estimular é oferecer situações, pessoas, objetos etc., que tenham um
significado para a criança, despertando desta forma seu desejo para agir
sobre os estímulos que lhe foram oferecidos. Trabalharemos estimulando :
- Consciência das mãos para propiciar atividades que despertem o interesse
da criança para esta parte do corpo;
- Desenvolver as habilidades táteis, assim como a coordenação auditiva
manual. Devem ser trabalhadas para que possa explorar e efetuar imagens
mentais das pessoas e objetos a sua volta;
- Desenvolver características de cada parte da casa;
- Desenvolver atividades corporais, com atividades que promovam o
reconhecimento dos seus contornos físicos através de estímulos táteis,
propioceptivos e auditivos;
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- Estimular deslocamentos, onde podemos usar estímulos sonoros para
motivação;
- Desenvolver senso de orientação e mobilidade com atividades lúdicas que
propiciam deslocamentos com autonomia no espaço;
- Desenvolver habilidades auditivas que podem ser feitas com exercícios de
adivinhação, nos quais reconhecerão sons familiares e alcançarão a fonte
auditiva, onde com isso alcançará também sua capacidade de orientação;
- Desenvolver autonomia de locomoção, onde é interessante usar um bastão
nas atividades, com o objetivo de integrar esse objeto que será de
fundamental importância para sua orientação e mobilidade;
- Prestar atenção sempre na criança portadora de deficiência visual, pois não
tendo a quem imitar poderá assumir posturas anômalas.
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CAPÍTULO VIII
Algumas atividades lúdicas aplicadas em crianças portadoras de
deficiência visual.
A) ESQUEMA CORPORAL
- grande motricidade:
- treinar marcha;
- andar de quatro;
- andar de joelhos;
- brincar de trenzinho;
- brincar de roda, um brinca sentado do lado do outro ou em pé,passando a
bola um para o outro;
- passar de uma cadeira para outra;
- pular num pé só;
- jogos de estátua.
a) Motricidade Refinada
: - brincar com carrinhos;
- enfiar miçangas;
- amassar papel;
- embrulhar objetos miúdos.
-
b) Percepção das Partes do Corpo
- tocar nas diversas partes do corpo com o comando;
- brincar de aplausos;
- fazer buraco na areia com o dedo;
- colocar cotovelo nos joelhos;
- andar de joelhos;
- tapar os ouvidos;
- estalar a língua;
c) Orientação Espaço-Temporal
- reconhecimento olfativo com cheiros diferentes;
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- reconhecimento gustativo com vários sabores;
- reconhecimento auditivo, com uso de apitos, guitarra, tambor;
- reconhecimento tátil, perceber o que é macio, áspero, dar bolinha,
garfo etc.;
- reconhecimento interno ou proprioceptivo pedindo que levante o braço
direito, depois a perna esquerda, empurrar para saber se é pesado ou leve;
- ensinar posições para que possa reconhecer e expressá-las, orientaremos
para que fique de pé, sentado, de pé com as mãos nos ombros. Fará o que o
terapeuta solicitar.
d) Organização Espaço-Temporal
- trabalhar coordenação, destreza e equilíbrio. Usaremos brincadeiras de tudo
que seu mestre mandar;
- mandaremos levantar a perna direita junto com o braço esquerdo, depois
inverte (coordenação);
- pular num pé só, cruzar as pernas, andar em plano inclinado(equilíbrio);
- jogo de morto vivo (coordenação), - dobrar papel, enrolar uma corda
(destreza).
B) LATERALIDADE
- pular num pé só, A criança pulará na perna que tem mais firmeza;
- manter-se em equilíbrio em um pé, depois no outro;
- bater num tamborim;
- tocar piano;
- abotoar e desabotoar;
- enfiar miçangas.
C) ESTRUTURAÇÃO ESPACIAL
- Conhecer o espaço imediato;
- mostrar o espaço em que ela vive, para que possa andar sem esbarrar;
- reconhecer sua cadeira;
- jogos cantados, como: um atrás do outro, igual um gafanhoto...;
- trabalhar diferentes noções como dentro e fora, triângulo e quadrado, grande
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e pequeno... Trabalharemos mostrando os objetos para as crianças, elas
terão que tocá-los.
Orientação Espacial
- aprender noção de fila, frente a frente, costas contra costas... Usaremos
canções, tudo que seu mestre mandar, dançar...
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CONCLUSÃO
Fornecer conselhos e orientações seguras para as crianças
portadoras de deficiência visual, será o nosso objetivo como fisioterapeutas.
Não existem regras rígidas, tampouco há receitas, pois a nossa
função é respeitar a individualidade de cada criança.
Temos a sabedoria e a competência de assegurar que, antes de
qualquer orientação à essas crianças que na realidade não são deficientes, e sim
eficientes, vem o amor, a paciência, a dedicação, pois sem esses conceitos, os
melhores ensinamentos de nada valerão.
Precisamos compreender a criança, para conhecer suas motivações,
seus atos e seus procedimentos.
A educação da criança portadora de deficiência visual exige
abnegação e energia.
Não podemos esquecer que a criança precisa ser educada para a
vida, para poder enfrentá-la, apesar de sua deficiência.
Não é apenas o círculo restrito da família no qual a criança precisa
aprender a viver, é o mundo.
Ela deverá conhecer os obstáculos que terá que enfrentar, a
incompreensão de terceiros, e a adversidade que fará parte da sua existência
num mundo de videntes.
A criança deve aprender que todo mundo tem seus problemas, que a
vida exige de nós uma atitude corajosa e uma boa dose de otimismo para se
existir nela.
Existem limites, mas existe também a possibilidade de despertar na
alma da criança tudo que existe de bom, de cultivar seus talentos e de formar
seu caráter.
Enfim, esse será o nosso dever de profissional! Proporcionar à estas
crianças uma qualidade de vida melhor e sua integração ao meio.
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