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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE ESTIMULAÇÃO SENSORIAL: BASE PARA A APRENDIZAGEM Por: Carine Bompet de Campos Orientadora Prof. Dr. Mary Sue Niterói 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

ESTIMULAÇÃO SENSORIAL:

BASE PARA A APRENDIZAGEM

Por: Carine Bompet de Campos

Orientadora

Prof. Dr. Mary Sue

Niterói

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

ESTIMULAÇÃO SENSORIAL:

BASE PARA A APRENDIZAGEM

Apresentação de monografia à Universidade Candido

Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Neurociências Pedagógica.

Por: Carine Bompet de Campos

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AGRADECIMENTOS

A Deus e a minha família, que sempre estiveram presentes em minha vida me

dando força e coragem.

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DEDICATÓRIA

...dedico a Deus pela presença constante em

minha vida e a minha família que sempre

esteve ao meu lado nos momentos de

anseio e pelo exemplo de vida do meu pai,

ao qual dedico a minha conquista com toda

admiração.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Localização dos corpúsculos sensitivos na pele.............................16

Figura 2 – Cones e bastonetes..........................................................................19

Figura 3 – Esquema de formação das vias auditivas eferentes........................32

Figura 4 – Papilas gustativas na língua.............................................................38

Figura 5 – Trajeto anatômico do nervo olfatório da cavidade nasal...................42

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RESUMO

O presente estudo tem por objetivo analisar os Sistemas Sensoriais, a integração do

Sistema Nervoso para possibilitar as sensações. Considerou-se ao longo deste

trabalho a importância do conhecimento neurocientífico das vias sensoriais,

contribuindo para a formação do profissional para que atue com estratégias

diferenciadas de forma que a aprendizagem seja construtiva e inovada. No primeiro

capítulo, foram abordadas as funções das informações sensoriais cuja integração

está na base da evolução da motricidade e do cérebro dos vertebrados. No segundo

capítulo, abordamos a operacionalização dos Sistemas Sensoriais e seus

componentes estruturais que formam os circuitos neuronais. O terceiro e quarto

capítulos abordam os sentidos e como o cérebro entra em contato com o ambiente

através destes órgãos que respondem aos diversos estímulos. Logo, foi de suma

importância abordar a Neurofisiologia do Sistema Sensorial para facilitação da

execução das estratégias de intervenção. E, por fim, abordou-se o conceito de

aprendizagem e as estratégias facilitadoras para estimular as sinapses neuronais.

Palavras-chave: Pedagogo, Estimulação Sensorial, aprendizagem, codificação

neural.

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METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa realizada por um levantamento bibliográfico, onde

se utilizou como ferramentas para coletas de dados informações de artigos

científicos, revistas e dissertações e livros que abordaram as vias sensoriais e a

integração dos sistemas ratificando a importância da estimulação sensorial para a

aprendizagem.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................10

CAPÍTULO I

PARA QUE SERVE A INFORMAÇÃO SENSORIAL?............................................12

CAPÍTULO II

PLANO GERAL DOS SISTEMAS SENSORIAIS....................................................14

2.1 Componentes estruturais: células e conexões..................................................14

2.2 Princípios gerais de funcionamento dos Receptores.........................................15

2.3 Transduçãox Codificação Neural........................................................................22

CAPÍTULO III

OS SENTIDOS E SUAS VIAS........................................................................... 24

3.1 Visão............................................................................................................26

3.2 Audição........................................................................................................30

3.3 Paladar.........................................................................................................35

3.4 Olfato............................................................................................................40

3.5 Propriocepção..............................................................................................43

CAPÍTULO IV

INTEGRAÇÃO SENSORIAL..............................................................................45

CAPÍTULO V

ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO.................................................................50

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CONCLUSÃO.......................................................................................................58

BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................61

ÍNDICE..................................................................................................................62

FOLHA DE AVALIAÇÃO.......................................................................................63

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INTRODUÇÃO

Tradicionalmente a função do pedagogo foi a de educador no contexto

escolar e como ocorre em qualquer profissão, o pedagogo necessitou se expandir

em termos de conhecimentos e aplicação destes, uma vez que a metodologia

precisa estar adequada para evocar o processo de construção do conhecimento,

cujas bases são as percepções conduzidas centripetamente ao cérebro. Pretendo

discutir nesse estudo, as vias sensoriais e a sua contribuição para o processo de

aprendizagem.

Ontogeneticamente, a integração sensorial inicia - se no útero materno,

como pré – requisito do desenvolvimento e da aprendizagem. Prolonga –se extra –

uterinamente através das aquisições que transitam entre os gestos, a visão e as

palavras (LURIA, 1966).

O aluno para aprender necessita de três fatores básicos: bom funcionamento

do SNC, visto que ele é o órgão onde a aprendizagem é processada, além das

condições orgânicas. O segundo fator a ser considerado é a família, onde o

indivíduo está inserido, contribuindo para um ambiente que estimule as

potencialidades, além de interferir no bom estado emocional do sujeito. E a escola,

entra como fator importante na aprendizagem formal com práticas pedagógicas que

atendam as necessidades gerais e específicas do aluno.

A Neurociência traz uma contribuição efetiva e muito importante para

entendermos à complexidade da espécie humana. Por termos hoje acesso ao

cérebro em funcionamento, temos uma dimensão nova de observação de estudo

deste órgão que guarda a memória e organiza o comportamento humano. Para o

ensino na escola, levar em consideração o desenvolvimento do cérebro não é uma

opção teórica, mas sim uma necessidade, pois a aprendizagem de conhecimentos

escolares ocorre em função do desenvolvimento e funcionamento do cérebro.

Marinelli, os profissionais de Recursos Humanos necessitam ampliar as relações

interpessoais através da inteligência emocional que utilizada e estimulada

adequadamente permite uma maior habilidade no relacionamento com o ser humano

como abordaremos melhor no último capítulo deste trabalho, pois a motivação

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humana é o maior fator de inovação quando se tem a liberdade de expressão dos

sentimentos.

Portanto, com esse estudo representarei o pedagogo como um profissional

cujo conhecimento específico se faz necessário na organização para atuar com

eficácia nas propostas pedagógicas contextualizadas e exploradas através dos

órgãos sensoriais.

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CAPÍTULO I

PARA QUE SERVE A INFORMAÇÃO SENSORIAL?

Não há som se não há ninguém que o ouça; não há gosto se ninguém o provar; não há cores sem que alguém as veja. As coisas do mundo existem independentemente uma das outras, é claro, e porque existem atributos físicos e químicos que lhe são próprios. (Jack deGroot, 1994:74)

A percepção é uma das conseqüências da sensação, e nem sempre está

disponível a nossa consciência, pois é filtrada pelos mecanismos de atenção,

emoção, sono e outros. Portanto, a percepção apresenta um nível de complexidade

mais alto do que a sensação, e por isso mesmo ultrapassa os limites estruturais dos

sistemas sensoriais, envolvendo também outras partes do sistema nervoso, de

funções não - sensoriais. Felizmente, a percepção é mais seletiva que os sentidos: o

sistema nervoso tem mecanismos para bloquear as informações irrelevantes a cada

momento da vida do indivíduo, permitindo que ele se concentre em apenas um

pequeno número de informações mais importantes.

A informação sensorial tem outras funções, além da percepção: (1) permite o

controle da motricidade; (2) participa da regulação das funções orgânicas; e (3)

contribui para a manutenção da vigília. No primeiro caso, para que nossos

movimentos sejam corretos, isto é, atinjam os objetivos a que se propõem, é preciso

que o Sistema Nervoso perscrute o ambiente para planejar corretamente os

movimentos, e depois monitore com eles estão sendo executados. Esta tarefa é

realizada pelos sistemas sensoriais. Durante a própria execução dos movimentos, o

sistema motor recebe informações sensoriais vindas dos músculos, das articulações

e da superfície cutânea do membro, que lhe permite verificar se a tarefa está sendo

cumprida corretamente, corrigindo os erros de trajeto e execução que porventura

estejam sendo cometidos. Nesse processo, não é necessário que as informações

sensoriais se tornem conscientes, isto é, sejam percebidas, porque são inúteis para

a compreensão do que está sendo lido. A segunda função da informação sensorial é

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a regulação das funções das vísceras, dos órgãos em geral e dos vasos

sanguíneos, o que é feito automaticamente sem atingir a consciência. Exemplo:

quando faz calor suamos sem perceber, o que se dá pela ativação neural das

células secretoras das glândulas sudoríparas e pela dilatação dos vasos sanguíneos

que as irrigam, obtida também através de comandos neurais. Mas quem informa os

neurônios que comandam as glândulas e os vasos sanguíneos que a temperatura

subiu? Novamente, essa função é realizada pelos sistemas sensoriais, neste caso

aqueles que monitoram as variações de temperatura da pele e do sangue. Lent

(2001: 97) acrescenta ainda:

[...] a informação sensorial que constantemente bombardeia o sistema nervoso contribui para que este se mantenha desperto, sem que nos demos conta disso. O sono vem mais facilmente quando estamos em ambiente silencioso e escuro, ou seja, em condições de mínima estimulação sensorial [...].

Para que isto aconteça é necessária à organização de um sistema sensorial,

que representa os conjuntos de regiões do sistema nervoso, cuja função é

possibilitar as sensações.

O sistema sensorial é composto por receptores sensoriais, estruturas

responsáveis pela percepção de estímulos provenientes do ambiente

(exterorreceptores) e do interior do corpo (interorreceptores). Essas terminações

sensitivas do sistema nervoso periférico são encontradas nos órgãos dos sentidos:

pele, ouvido, olhos, língua e fossas nasais. Estes têm a capacidade de transformar

os estímulos em impulsos nervosos, os quais são transmitidos ao sistema nervoso

central, que por sua vez, determina as diferentes reações do nosso organismo.

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CAPÍTULO II

PLANO GERAL DOS SISTEMAS SENSORIAIS

2.1- COMPONENTES ESTRUTURAIS: CÉLULAS E CONEXÕES

Todo sistema sensorial, como qualquer parte do sistema nervoso, é

composto de neurônios interligados formando circuitos neurais que processam a

informação que chega do ambiente. O ambiente – externo ou interno em relação ao

organismo – é, portanto, a origem dos estímulos sensoriais. Estes geralmente

incidem sobre uma superfície onde se localizam células especialmente adaptadas

para captar a energia incidente. São essas células os primeiros elementos dos

sistemas sensoriais, os chamados receptores sensoriais. (LENT, 2001: 99).

Os receptores são também chamados de células primárias (ou de primeira

ordem) dos sistemas sensoriais. Nem sempre são neurônios: os receptores visuais,

por exemplo, bem como os auditivos, os gustativos e os receptores vestibulares

(encarregados de avaliar a posição da cabeça) são células epiteliais modificadas.

Neurônios ou não, todos se conectam através de sinapses com neurônios

secundários ou se segunda ordem, estes com neurônios terciários ou de terceira

ordem, e assim por diante. Esses circuitos em cadeia levam a informação traduzida

do ambiente pelos receptores a níveis progressivamente mais complexos do sistema

nervoso.

Os receptores estão sempre situados em posições estratégicas no

organismo, favoráveis a captação privilegiada dos estímulos para os quais são

especializados. Enquanto os receptores estão posicionados em diferentes tecidos e

órgãos, nervosos ou não, mas sempre os mais favoráveis à captação da energia que

os vai estimular, os neurônios subseqüentes estão sempre localizados dentro do

sistema nervoso, seja o SNP, seja o SNC. As fibras desses neurônios muitas vezes

estão compactadas em nervos ou feixes que compõem as vias aferentes dos

sistemas sensoriais, que levam as informações sensoriais até o córtex cerebral,

onde serão realizadas as operações que resultarão na percepção.

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2.2 - PRINCÍPIOS GERAIS DE FUNCIONAMENTO DOS RECEPTORES:

Receptores são células especializadas para detectar alterações específicas

do ambiente, o receptor sensitivo é a única parte da membrana neuronal sensível à

estimulação. A energia do estímulo é transformada em eventos neurais.

Os receptores sensitivos ou possuem uma cápsula especializada de tecido

não neural envolvendo o axônio ou são terminações nervosas livres. Receptores

com terminações nervosas livres são nocirreceptores os quais são sensíveis a

estímulos nóxicos ou de destruição tecidual e transmitem dor, os termorreceptores

os quais são sensíveis tanto ao frio como ao calor e transmitem sensações térmicas.

Receptores encapsulados são mecanorreceptores os quais transmitem as

modalidades de tato e sensibilidade proprioceptiva. A cápsula do mecanorreceptor

não participa diretamente da transdução do estímulo e nem confere sensibilidade a

modalidades particulares.

Mais propriamente, ela age como um filtro para adaptar a resposta do

receptor ao estímulo.

Há cinco tipos principais de receptores encapsulados, localizados na pele e

tecidos profundos: corpúsculos de Meissner, corpúsculos Pacinianos, corpúsculos

de Ruffini, receptores de Merkel e receptores do cabelo ou pêlo. Os corpúsculos de

Meissner e Pacinianos são de adaptação rápida. Eles respondem a estímulos

contínuos e duradouros, disparando uma salva de potenciais de ação que marcam o

início e o fim do estímulo. Os corpúsculos de Ruffini e os receptores de Merkel são

receptores de adaptação lenta, disparando potenciais de ação por toda a duração do

estímulo.

A modalidade sensitiva de um receptor também determina o diâmetro de seu

axônio e os padrões de conexões do Sistema Nervoso Central. Os

mecanorreceptores possuem um axônio de grande diâmetro e coberto por uma

grossa bainha de mielina. Os mecanorreceptores são os receptores sensitivos de

mais rápida condução no Sistema Nervoso Somático.

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O esquema com a localização das terminações nervosas sensitivas está ilustrado na figura 1:

Fig. 1- a) Localização dos corpúsculos sensitivos na pele. b) Detalhe dos receptores que ocorrem na pele

“Diferentes tipos de sensações táteis conduzem informações complexas e

detalhadas sobre o mundo e atuam com sinal de alerta”. O tato é essencial para

experimentar a textura e” sentir “ os objetos. Tem um papel vital na comunicação

com os outros e a nossa pele é o maior órgão dos sentidos e nos permite interagir

de forma plena com o que nos cerca.” (LOPES, 2006: 74).

Ratificando essa afirmativa, Lent (2001: 176) ressalta que a variedade de

receptores táteis origina uma vasta gama de sensações táteis que são

transformadas em percepções no córtex cerebral somatossensorial.

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Os quimiorreceptores estão relacionados principalmente com o paladar e o

olfato. Os quimiorreceptores relacionados com o paladar situam-se na língua. São

chamadas de papilas gustativas que nos permite distinguir quatro sabores

importantes: doce, salgado, amargo e azedo.

A língua é o principal órgão sensorial para a detecção do paladar. É a parte

muscular mais flexível do corpo, como revelado por sua atuação tanto na nutrição

como na comunicação. Tem três músculos internos e outros três pares que a

conectam a boca e a garganta. A superfície é dotada de estruturas minúsculas,

semelhantes a espinhas, chamadas papilas. Outras partes da boca, como o palato,

a faringe e a epiglote, também podem detectar o estímulo gustativo. As papilas

gustativas são distribuídas pela língua e quatro tipos foram identificadas:

circunvalada, filiforme, foliada e fungiforme.

Os quimiorreceptores relacionados com o olfato situam-se no teto epitélio

olfatório. As substâncias químicas necessitam estar dissolvidas no ar que entra

pelas cavidades nasais para que possam impressionar esses quimiorreceptores.

Paladar e olfato são sentidos químicos – receptores no nariz e na boca ligam – se ás

moléculas que entram, gerando impulsos elétricos que são enviados ao cérebro. Os

dois grupos de sinais passam pelos nervos cranianos. Estímulos relacionados ao

olfato movem – se do nariz ao bulbo olfatório, e seguem pelo nervo olfatório até o

córtex olfatório no lobo temporal para processamento. A via dos dados relacionados

ao paladar (gustativos) move - se a partir da boca pelas ramificações dos nervos

trigêmeo e glossofaríngeo até o bulbo raquidiano, prossegue até o tálamo e então

atinge as áreas gustativas primárias do córtex cerebral.

O olfato tem uma tendência maior do que os outros sentidos a evocar emoções e memórias. As áreas olfatórias cerebrais se desenvolveram há muito tempo e estão conectadas ao cérebro primitivo, o que sugere que este sentido é vital para nossa sobrevivência e a dos animais, demonstrado por nossa ação imediata quando percebemos cheiro de gás ou fumaça, por exemplo. Ele também tem um papel relevante na relação sexual, nas respostas emocionais e na formação das preferências por alimentos e bebidas. Todos esses fatores provavelmente tiveram importância – chave na vida de nossos ancestrais. (MORAES, 2009: 104).

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A temperatura ambiente é monitorada pelos termorreceptores periféricos,

fibras aferentes cujos terminais situados na pele e em algumas vísceras têm a

propriedade de gerar potenciais receptores proporcionais a certas variações de

temperatura. Através da pele, as variações ambientais de temperatura podem atingir

o sangue, cuja temperatura é monitorada pelos termorreceptores centrais. Sabe-se

que a região pré-optica e o hipotálamo anterior alojam esses neurônios receptores,

mas há muita certeza sobre sua localização precisa.

A identidade do integrador do mecanismo de termorregulação foi atribuída ao

hipotálamo. Os primeiros investigadores descobriram que os animais submetidos a

lesões da região anterior do hipotálamo tornavam-se hipertérmicos crônicos: era

como se eles não mais conseguissem perder calos. Por outro lado, quando as

lesões eram localizadas no hipotálamo posterior ocorria o contrário: os animais

tornavam-se incapazes de se aquecer, e a sua temperatura corporal tendia sempre

a igualar-se à do ambiente. Conclui-se que os integrados hipotalâmico devia ser

constituído de dois componentes: uma região sensível aos “sinais de erro para cima”

correspondentes ao aumento da temperatura corporal (no hipotálamo anterior) e

outra sensível aos sinais de queda da temperatura corporal (no hipotálamo

posterior). O hipotálamo anterior ativaria os controladores sub-reguladores, isto é,

aqueles capazes de diminuir o tônus vascular simpático periférico e de provocar a

sudorese e o aumento da freqüência e amplitude respiratórias, garantindo a

dissipação do calor corporal excessivo. O hipotálamo posterior, ao contrário, ativaria

os controladores supra-reguladores, ou seja, aqueles capazes de provocar a

estimulação da inervação simpática dos vasos cutâneos e os tremores involuntários,

provocando a conservação e a geração de calor corporal.

A informação que veiculam é utilizada pelo SNC para organizar reações

orgânicas e comportamentais destinadas a conservar calor, segundo as

necessidades do organismo.

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Fotorreceptores ou fotoceptores são os receptores sensoriais responsáveis

pela visão. São células que captam a luz que chega à retina e transmitem para o

cérebro um impulso nervoso correspondente à qualidade dessa luz, permitindo

assim que o cérebro reconheça imagens.

Existem dois tipos de fotorreceptores no olho humano, um deles é chamado

de bastonete, que permite a visão em preto e branco, e o outro de cone, que permite

a visão em cores.

Os cones são encontrados principalmente na retina central, em um raio de

10 graus a partir da fóvea. Os bastonetes, ausentes na fóvea, são encontrados

principalmente na retina periférica, porém transmitem informação diretamente

para as células ganglionares.

No fundo do olho está o ponto cego, insensível a luz. No ponto cego não há

cones nem bastonetes. Do ponto cego, emergem o nervo óptico e os vasos

sangüíneos da retina.

O esquema com a localização dos fotorreceptores está ilustrado na figura 2:

Fig. 2 – Cones e bastonetes

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Nociceptor é um receptor sensorial que envia sinal que causa a percepção da

dor em resposta a um estímulo que possui potencial de dano. Nociceptores são

terminações nervosas responsáveis pela nocicepção.

Os nociceptores são neurônios sensoriais que são encontrados em qualquer

área do corpo humano que podem sentir dor tanto externamente quanto

internamente.

Tem-se como exemplos de dor externa aquelas produzidas em tecidos como

a pele cujos estímulos são captados por nociceptores cutâneos. Presentes, também,

na córnea e nas mucosas.

A dor interna é captada por nociceptores internos em uma variedade de

órgãos como os músculos, juntas ou articulações, bexiga, intestino e ao longo do

trato digestivo. Os corpos celulares dos neurônios sensoriais nociceptivos estão

localizados tanto na raiz ganglionar dorsal quanto na cadeia ganglionar trigeminal. A

cadeia ganglionar trigeminal é composta por nervos especializados da face

enquanto que a raiz ganglionar dorsal está associada com o resto do corpo humano.

Os axônios estendem-se na direção do sistema nervoso periférico. Os dendritos, por

sua vez, ligam-se às zonas sensoriais.

Os nociceptores desenvolvem-se das células tronco da crista neural que é

um componente transitório ectodérmico localizado entre o tubo neural e a epiderme

do embrião na formação do tubo neural que é responsável por grande parte dos

desenvolvimentos recentes na evolução dos vertebrados. Mais especificamente, é

responsável pelo desenvolvimento neural. As células tronco da crista neural formam

o tubo neural e os nociceptores crescem da parte dorsal desse tubo. Eles se formam

mais tarde durante a neurogênese. Se eles fossem formados mais cedo, eles

poderiam ser proprioceptores ou mecanoreceptores de baixo limiar os quais não são

receptores capazes de captar dor. Então, o desenvolvimento dos nociceptores, mais

tarde, na neurogênese, permite a eles capacidades sensoriais singulares. Todos os

receptores embrionários expressam o fator de crescimento TrkA (NGF). No entanto,

os fatores de transcrição que determinam o tipo do nociceptores permanece

desconhecido para a ciência atual .

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O terminal periférico dos nociceptores maduros está onde os estímulos

nocivos são detectados e transformados em energia elétrica. Quando a energia

elétrica alcança um valor limite, ou seja, o limiar, um potencial de ação é induzido e

dirige-se em direção do Sistema Nervoso Central (SNC). Isso leva a uma sucessão

de eventos que permitem a consciência da dor. A especificidade sensorial dos

nociceptores é estabelecida pelo alto limiar alcançado somente por alguns estímulos

particulares.

Somente quanto altos limiares são alcançados por estímulos químicos,

térmicos ou mecânicos do meio ambiente, os nociceptores são disparados. A

maioria dos nociceptores são classificados pela modalidade do estímulo ambiental

ao qual responde ou é sensível. Alguns nociceptores respondem a mais de um

desses estímulos e são conseqüentemente designados como Nociceptores

Polimodais. Outros nociceptores respondem a nenhuma dessas modalidades,

embora eles possam responder a estímulos sob um estado inflamatório e

receberam, por esse motivo, uma designação mais poética: Nociceptores

Silenciosos ou Dormentes.

Fibras nociceptivas aferentes (aferente: da periferia para o centro, ou seja,

que enviam informação para o cérebro) viajam para a medula espinhal onde formam

sinapses na borda dorsal. Essas fibras nociceptivas localizadas na periferia são a

primeira seqüência de neurônios. As células da borda dorsal da medula espinhal são

divididas em camadas fisiológicas distintas chamadas de lâminas. Diferentes tipos

de fibras formam sinapses em diferentes camadas. Fibras ADelta foram sinapses

nas lâminas I e V enquanto as fibras axoniais C conectam-se aos neurônios na

lâmina II; fibras ABeta conectam-se com a lâmina I, III e V. [2].

Depois de encontrarem a lâmina específica no interior da medula espinhal, a

primeira seqüência nociceptiva projeta-se para a segunda seqüência de neurônios e

cruza a linha média. A segunda seqüência de neurônios envia sua informação por

dois caminhos para o Tálamo: a coluna dorsal, sistema medial-lemniscal e sistema

ântero-lateral. O primeiro é reservado para dor moderada regular, enquanto o lateral

é reservado para sensação de dor. Ao atingir o Tálamo, a informação é processada

no núcleo ventral posterior e enviado para o córtex cerebral no cérebro.

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2.3 - TRANSDUÇÃO x CODIFICAÇÃO NEURAL

O mecanismo de tradução da “linguagem do mundo” (as formas de energia

contida no ambiente) para a “ linguagem no cérebro” ( os potenciais bioelétricos

produzidos pelos neurônios) é semelhante em seus princípios básicos para todos os

receptores, e consiste em duas etapas fundamentais: transdução e codificação. A

transdução consiste na absorção da energia do estímulo seguida da gênese de um

potencial bioelétrico lento (o potencial receptor ou potencial gerador). A codificação

consiste na transformação do potencial receptor em potenciais de ação.

Os tipos de transdução acompanham os tipos de receptores. Assim, os

mecanorreceptores realizam uma transdução mecanoneural ou mecanoelétrica

(audioneural ou audioelétrica, no caso particular dos receptores auditivos), os

fotorreceptores realizam uma transdução fotoneural ou fotoelétrica, e assim por

diante: transdução quimioneural ou quimioelétrica. A característica importante da

transdução é a proporcionalidade entre o estímulo e a resposta, o que significa que

o potencial receptor realmente traduz as características principais do estímulo: sua

intensidade e sua duração. Estímulos mais fortes (mais intensos) provocam

potenciais receptores maiores, e estímulos mais duradouros igualmente provocam

potenciais mais duradouros. O potencial receptor é um potencial lento, de tipo

analógico, semelhante aos potenciais sinápticos: seus parâmetros de amplitude e

duração variam proporcionalmente aos parâmetros equivalentes do estímulo. A

transdução é uma conversão análogo – analógica, ou seja, envolve dois códigos

analógicos.

A codificação neural consiste na representação dos parâmetros do estímulo

sensorial incidente por parâmetros de um código digital, como nos computadores. A

codificação pode ocorrer na mesma célula receptora, em uma segunda célula

conectada com o receptor através de uma sinapse química, ou mesmo em um

terceiro ou quarto neurônio na cadeia sensorial. Os parâmetros do estímulo são

representados pelos parâmetros do potencial receptor que resulta da transdução,

após a codificação passam a sê – lo também pelo código de freqüências e pela

duração da salva de potenciais de ação da fibra.

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Geralmente os sistemas sensoriais são constituídos por conjuntos

organizados de receptores, às vezes formando órgãos receptores, como o olho e o

ouvido, outras vezes distribuídos por uma vasta superfície de captação dos

estímulos, como a pele. Sendo assim, em condições naturais raramente um estímulo

atinge um único receptor, mas vários de uma só vez. Quando pressionamos com um

lápis a superfície da pele de um dedo da mão, por exemplo, os receptores situados

bem sob a ponta do lápis são estimulados com maior intensidade, e esta vai

diminuindo gradualmente para longe da ponta. Obviamente, os potenciais receptores

gerados exatamente sob a ponta do lápis têm maior amplitude que os mais

afastados, e correspondentemente a freqüência de potenciais de ação produzidos

nas fibras que se originam sob a ponta do lápis é maior que nas regiões periféricas.

O sistema nervoso central, então, recebe na verdade um ‘‘ mapa” codificado em

potenciais de ação, que representa a topografia do estímulo. Isso se deve

parcialmente a organização topográfica que é característica de muitos sistemas

sensoriais, e que envolve o agrupamento de fibras nervosas e corpos neuronais lado

a lado, de acordo com a posição espacial dos receptores. Na modalidade

somestésica, essa organização se chama somatotopia. Na modalidade visual,

chama – se visuotopia se considerarmos o campo visual, ou retinotopia se

considerarmos a retina. É lógico concluir que a organização topográfica é mais

precisa nos sentidos em que a localização espacial é uma propriedade relevante,

como a visão e a somestesia. A audição apresenta uma organização topográfica

particular, desvinculada do atributo de localização espacial.

Nem todos os receptores são capazes de sustentar um potencial receptor

durante períodos prolongados, embora os estímulos sensoriais muitas vezes sejam

duradouros. Na verdade, quando o estímulo se inicia o potencial receptor atinge

certa amplitude e logo decresce a um valor menor que depois se torna estável. Esse

fenômeno se chama adaptação e constitui uma propriedade importante dos

receptores, que muda bastante sua capacidade de representação do estímulo. São

receptores de adaptação lenta, aqueles cujo potencial receptor decresce pouco

depois de atingir a amplitude proporcional ao estímulo, e os de adaptação rápida são

aqueles cujo potencial receptor decresce muito e rapidamente, depois de atingir a

amplitude proporcional ao estímulo, podendo chegar a zero. l

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CAPÍTULO III

OS SENTIDOS E SUAS VIAS

Nas primeiras semanas, os cinco sentidos do bebé já estão a funcionar. Ele absorve as visões, os sons, os cheiros, os sabores e todos os contactos com este maravilhoso mundo novo. Como qualquer capacidade humana, o desenvolvimento dos sentidos faz-se ao longo de toda a vida, mas é no primeiro ano que tudo começa. (Jack deGroot, 1994:80)

Os cinco sentidos fundamentais do corpo humano - tato, gustação ou paladar,

olfato, audição e visão - constituem um conjunto de funções que propicia o seu

relacionamento com o ambiente. A propriocepção é por vezes referida como o sexto

sentido. Por meio dos sentidos, o nosso corpo pode perceber tudo o que nos rodeia;

e, de acordo com as sensações, decide o que lhe assegura a sobrevivência e a

integração com o ambiente.

Onde quer que estejamos o ambiente ao nosso redor está sempre se

alterando.

Calor e frio, dia e noite, silêncio e ruídos, odores, sabores e mais uma

infinidade de estímulos do meio ambiente são captados pelos nossos órgãos dos

sentidos. Assim, tomamos conhecimento do que acontece à nossa volta:

pelo tato - sentimos o frio, o calor, a pressão atmosférica, etc.

pela gustação - identificamos os sabores;

pelo olfato - sentimos o odor ou cheiro;

pela audição - captamos os sons;

pela visão - observamos as cores, as formas, os contornos, etc.

Portanto, em nosso corpo os órgãos dos sentidos estão encarregados de

receber estímulos externos. Esses órgãos são:

a pele - para o tato;

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a língua - para a gustação;

as fossas nasais - para o olfato;

os ouvidos - para a audição;

os olhos - para a visão.

Na verdade, todas as sensações são interpretadas no cérebro. Os órgãos

dos sentidos recebem os estímulos (luz, som, gosto, cheiro, temperatura, dor,

pressão, etc.) e os transmitem ao cérebro, através de nervos sensoriais. O cérebro,

então, "entende" a mensagem.

O corpo humano é a mais perfeita máquina já construída e é formado por

diversas partes que se relacionam entre si, ou seja, os vários sistemas que formam

nosso organismo dependem um do outro para realizarem suas atividades. Milhares

de reações químicas acontecem a todo o momento e são responsáveis pela

manutenção e o funcionamento perfeito do nosso corpo, que vem se transformando

e evoluindo para se adaptar aos diversos ambientes que o homem foi conquistando

com o passar do tempo.

Os sentidos são a porta de ligação do nosso meio interno com o ambiente. Por meio

dos sentidos, o organismo pode perceber as coisas que nos rodeiam e mandar as

mensagens necessárias para nossa melhor adaptação, contribuindo assim, com a

sobrevivência e a integração do ser humano com o ambiente no qual ele está

inserido.

Os sentidos estão ligados a todos os sistemas

A atuação estratégica está baseada na atuação do profissional que executa

o treinamento, pois este deve possuir conhecimento sobre todo o sistema, e não

apenas da sua área; deve liderar o processo de fazer a organização aprender a

aprender, trazendo novas tecnologias de aprendizagem e fazer com que as pessoas

possam contribuir para que os objetivos da organização sejam alcançados.

Com isso, fica-se notório a necessidade das empresas deixarem de encarar

o desenvolvimento de pessoal como algo pontual, treinando-os em habilidades

específicas.

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3.1 - VISÃO

A luz visível faz parte do espectro da radiação eletromagnética e se encontra

entre os 380 e760nm de comprimento. Esta porção do espectro foi essencial, não só

para possibilitar o sentido da visão, mas primariamente para desencadear a vida em

nosso planeta. Neste espectro estão a quantidade de energia compatível com os

fenômenos biológicos que dependem da luz: as plantas realizam a fotossíntese e o

crescimento fototrópico; a fotossensibilidade também está presente nos protozoários

e animais multicelulares. A sensibilidade à luz ocorre em estruturas denominadas

máculas, mas para se enxergar, isto é, para se ser capaz formar imagem é

necessário adicionalmente um sistema de lentes. Esse órgão óptico é coletivamente

denominado olho.

A cor da luz percebida é determinada por três fatores: matiz (depende do

comprimento da onda; o espectro da luz visível corresponde às matizes que o nosso

olho enxerga), saturação (pureza relativa da luz, ou seja, se um objeto nos parece

branco é porque reflete todas as matizes da luz) e brilho (intensidade da luz).

O olho dos vertebrados é semelhante a uma câmara fotográfica, porém bem mais

complexo. O olho possui um mecanismo de busca e de focalização automática do

objeto de interesse, um sistema de lentes que refratam a luz (uma fixa e outra

regulável), pupila de diâmetro regulável, filme de revelação rápida das imagens e um

sistema de proteção e de manutenção da transparecia do aparelho ocular. As

células sensíveis à luz estão na retina e através de um processo fotoquímico, os

fotorreceptores transformam (“transduzem”) fótons em mudanças do potencial de

membrana (potencial receptor). Antes dos sinais visuais se tornarem conscientes no

cérebro, estes são pré-processadas na retina por uma camada de células nervosas.

As informações aferentes chegam ao encéfalo através do nervo óptico (II par de

nervos cranianos) e já foram previamente triadas sobre determinadas características

da cena visual. O olho além de possibilitar a análise do ambiente à distância, permite

discriminar os objetos quanto a suas formas, se estão perto ou longe, se estão em

movimento e dependendo da espécie, se são coloridos. Além da construção visual

sobre o ambiente onde se encontram as imagens são utilizadas como elementos de

comunicação.

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Anatomia do Olho Humano

O olho, igualmente denominado globo ocular, é um órgão duplo e simétrico, já

que o ser humano apresenta na sua constituição dois olhos, localizados em

cavidades ósseas da parte anterior do crânio, denominadas órbitas. O globo ocular

tem uma forma esférica, mas algo aplanada no sentido vertical, com um diâmetro

que nos adultos pode chegar aos 24,5 mm. É formado por três camadas

concêntricas e composto por uma série de estruturas que controlam a passagem

dos raios luminosos provenientes do exterior, com vista à projetá-los sobre uma

membrana sensível aos estímulos luminosos, onde são formadas as imagens

posteriormente elaboradas pelo cérebro.

A camada externa do olho é constituída por duas estruturas: a esclerótica e a

córnea. A esclerótica é uma túnica resistente e opaca, formada por tecido conjuntivo,

que constitui a maioria do revestimento externo do olho, embora apenas seja

perceptível na parte anterior, onde é possível apreciar a sua típica cor branca - o

popular "branco do olho". A esclerótica serve de base para uma série de pequenos

músculos que proporcionam aos olhos a sua típica mobilidade, permitindo que se

desvie nas diferentes direções de maneira coordenada com o outro globo ocular. Na

parte anterior, como se fosse uma "janela" do olho encontra-se a córnea, um disco

transparente com a forma de uma abóbada adjacente à esclerótica ao longo de toda

a sua periferia (limbo esclerocorneano) como se fosse o vidro de um relógio, através

das quais os raios luminosos podem penetrar no interior do globo ocular.

A camada média do olho corresponde à úvea, a camada vascular do olho,

responsável pela nutrição dos restantes componentes do globo ocular e formada por

várias estruturas: íris, corpo ciliar e coróideo. A íris é um disco situado poucos

milímetros atrás da córnea, majoritariamente composto por fibras musculares e

constituído por uma quantidade variável de pigmentos, dos quais depende a cor

evidenciada para o exterior, condicionada por fatores genéticos e variáveis de

pessoa para pessoa. No centro da íris existe uma abertura circular, a pupila,

perceptível desde o exterior como um ponto de cor negra, cujo grau de contração ou

dilatação, alterado pela ação das fibras musculares do disco, regula a passagem dos

raios luminosos até ao fundo do olho. À volta da íris, é possível encontrar o corpo

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ciliar, uma estrutura igualmente constituída por abundantes fibras musculares que

formam o músculo ciliar, ligada ao cristalino através de um ligamento, cuja contração

altera a curvatura da lente, de modo a possibilitar a incidência dos raios luminosos

sobre a retina. O corpo ciliar é igualmente constituído por formações vasculares

encarregados da secreção do humor aquoso, o líquido que ocupa a parte anterior do

olho. O coróideo é a porção mais extensa da úvea, já que se estende desde o corpo

ciliar ao longo de toda a porção posterior do globo ocular, entre a esclerótica e a

retina, sendo composto por abundantes vasos sanguíneos e tendo como principal

função nutrir as estruturas sem irrigação própria, nomeadamente os elementos

sensoriais da retina.

A camada interna do olho corresponde à retina, a membrana sensível sobre a

qual são projetados os raios luminosos, formada por várias camadas de células que

originam duas unidades: a retina pigmentar ou sensorial, onde se encontram os

fotorreceptores, e a retina neural, constituída por células de sustentação e por

outras, cujos prolongamentos formam o nervo óptico. É possível distinguir dois tipos

de fotorreceptores, as células responsáveis pela transformação dos estímulos

luminosos em impulsos nervosos: os cones, que reagem em ambientes bem

iluminados, sendo sensíveis às cores, e os bastonetes, que reagem em ambientes

pouco iluminados, proporcionando uma visão a preto e branco.

Por outro lado, é possível distinguir dois setores específicos sobre a superfície

da retina. Um deles, situado exatamente no pólo posterior do globo ocular, é a

mancha amarela ou mácula lútea, uma pequena zona de cor amarela, cuja parte

central se encontra ligeiramente deprimida (favea centrais) e onde apenas existem

cones, que corresponde à área de maior acuidade visual. O outro ligeiramente

deslocado para a região interna, é a papila óptica, correspondendo ao ponto através

do qual as fibras nervosas das células da retina que transportam os estímulos

visuais saem do olho, atravessando o coróideo e a esclerótica, de forma a

constituírem o nervo óptico. Como este sector não apresenta fotorreceptores, é

designado "ponto cego".

O conteúdo do olho apresenta vários elementos: o cristalino, o humor aquoso

e o humor vítreo. O cristalino é uma estrutura fundamental para garantir uma visão

correta, já que atua como uma lente que possibilita a incidência dos raios luminosos

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sobre a retina. O cristalino é um disco transparente biconvexo, com elevado

conteúdo aquoso situado por trás da íris, graças a um ligamento que o une ao

músculo ciliar, cujo grau de contração altera a forma da lente e, consequentemente,

a sua curvatura, adaptando a sua capacidade de incidência. À frente do cristalino, os

espaços situados entre a lente e a íris (câmara posterior) e o localizado entre esta e

a córnea (câmara anterior) são ocupados pelo humor aquoso, um líquido

transparente produzido pelo corpo ciliar, que circula de um espaço para o outro,

atravessando a pupila.

Por trás do cristalino, entre a superfície posterior da lente e a retina, existe um

espaço ocupado pelo humor vítreo, uma massa gelatinosa transparente que garante

ao olho a sua forma globular, atravessado no seu centro por um fino canal

designado canal hióideo.

O sistema óptico humano é capaz de distinguir milhões de cores, mas na

prática a quantidade que vemos depende de termos aprendido ou não a enxerga –

lãs.

As áreas visuais do encéfalo ficam na parte posterior; assim a informação

proveniente dos olhos tem de percorrer toda a profundidade do cérebro antes de

começar a ser processada e convertida em visão. A informação visual pode

direcionar as ações dentro de um quinto de segundo, mas leva cerca de meio

segundo para que vejamos conscientemente um objeto.

O cérebro usa dois tipos pistas para produzir uma percepção tridimensional

do mundo. A primeira é a imagem ligeiramente diferente registrada em cada olho(

disparidade binocular) e a outra é a maneira como a forma percebida de um objeto

se modifica enquanto ele se move.

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3.2 - AUDIÇÃO

A constituição do sistema auditivo não segue uma projeção linear de

neurônios que ascendem da cóclea até o córtex cerebral, mas sim uma formação

em rede que interage intensamente com outros sistemas neuronais, como o da

linguagem (do qual ele faz parte) e o sistema límbico. Essa interação é feita através

de sensores, núcleos nervosos presentes em diferentes alturas e de conexões

aferentes e eferentes que seguem mais de um caminho e às vezes entram em

contato entre si, formando circuitos de retroalimentação.

A descoberta desse novo conceito sobre o funcionamento em rede do sistema

auditivo deu grande impulso no interesse sobre as relações anatômicas e funcionais

das vias auditivas eferentes (VAE) e sobre o seu papel na audição dos seres

humanos.

No entanto, esse interesse na verdadeira função das VAE não é recente,

iniciando-se com Rasmussen, a partir de 1946, através de uma série de estudos

anatômicos. Quirós, em 1973, esclareceu que a descoberta das fibras eferentes foi

feita primeiramente pelo anatomista Cajal, que as considerou parte do nervo

vestibular, cabendo a Rasmussen o mérito de identificá-las como descendentes da

região dos núcleos Olivares até a cóclea. Quirós comenta ainda que Galambos, em

1958, afirmou que havia eferências auditivas desde o córtex cerebral e que essas se

relacionavam com o sistema límbico e com a substância reticular mesencefálica na

modulação das mensagens auditivas.

Hoje sabe-se que o sistema eferente auditivo pode ser encontrado em todas as

classes de vertebrados e em alguns invertebrados. Em humanos, esse sistema

emerge do córtex até a cóclea e, nos níveis inferiores, as fibras partem

preferencialmente do núcleo do complexo olivar superior e caminham em direção à

orelha interna.

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RELAÇÕES ANATÔMICAS DAS VIAS AUDITIVAS

Todas as fibras eferentes originadas dos mais diversos pontos do sistema

nervoso central organizam-se no nível do complexo olivar superior (COS). A partir

desse ponto, descem em direção à cóclea através de dois tratos distintos, o Trato

Olivococlear Medial (TOM), que tem como destino final as células ciliadas externas

(CCE) e o Trato Olivococlear Lateral (TOL), responsável pela inervação das células

ciliadas internas (CCI).

Sabe-se que as CCE possuem uma capacidade de contração rápida que

independe da presença de ATP, actina e miosina. Essa contração tem a finalidade

de amplificar o estímulo sonoro através do contato entre as CCI e a membrana

tectorial, com conseqüente despolarização das células e condução do estímulo

pelas vias auditivas. Por essas características, as CCE são consideradas

amplificadores mecânicos, enquanto as CCI são as verdadeiras receptoras e

codificadoras dos estímulos sonoros.

Analisando-se a inervação aferente da cóclea, esse conceito é ainda mais

reforçado. As CCI são inervadas por neurônios tipo I, grandes e mielinizados,

compreendendo 90 a 95% da população total dos gânglios espirais e responsáveis

por uma condução rápida e eficiente. Já as CCE possuem neurônios tipo II,

pequenos, sem bainha de mielina e com poucas organelas citoplasmáticas,

representando 5 a 10% das fibras aferentes do nervo auditivo.

Já em relação ao sistema eferente, esse quadro se altera completamente. As

CCE recebem inervação eferente de fibras largas e mielinizadas, 80% contralaterais,

que compõem o TOM. As CCI, inervadas pelo TOL, recebem neurônios pequenos,

desmielinizados, 90% ipslaterais e com uma velocidade de condução nervosa muito

lenta.

As primeiras fibras auditivas descendentes têm origem cortical, mais

precisamente no córtex auditivo primário. O córtex manda as suas projeções para o

COS de forma indireta, através do tálamo e do colículo inferior. A partir desse ponto,

as fibras caminham em direção ao COS juntamente com a eferência vestibular e

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dividem-se em fibras que cruzam a linha média na altura do assoalho do IV

ventrículo, e nas que descem ipisilateralmente, como pode ser visto na Figura 1.

As fibras auditivas eferentes saem do tronco como parte do nervo vestibular

inferior e entram na cóclea entre o giro basal e o segundo giro, na margem externa

do canal de Rosenthal, via anastomose vestibulococlear de Oort, no fundo do meato

acústico interno e progridem em direção ao ápice coclear através do trato espiral

intraganglionar. As fibras eferentes entram no órgão de Corti, através da habenula

perforata, justapostas às fibras auditivas aferentes.

Figura 3: Esquema de formação das vias auditivas eferentes.

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Várias substâncias estão envolvidas na transmissão de estímulos através do

sistema auditivo eferente e conhecer sua ação é necessário para entender os

processos que ocorrem na fenda sináptica desses nervos.

Vários estudos apontam a acetilcolina como o principal neurotransmissor do

TOM e do TOL 8-10. Já o glutamato está preferencialmente envolvido com a

transmissão nervosa dos neurônios do TOM 11, enquanto o GABA (ácido gama

aminobutírico), a dopamina e os opióides endógenos são mais freqüentes nas

fendas sinápticas do TOL. Aparentemente o GABA e a dopamina estão relacionados

com a proteção das terminações nervosas em relação aos efeitos lesivos do ruído,

já que ambos sofrem um aumento na fenda sináptica em situações de ruído intenso.

Por outro lado, os opióides endógenos são liberados em momentos de forte estresse

físico e emocional e, quando presentes na fenda sináptica, aumentam a descarga

elétrica sobre as CCI e sobre os neurônios aferentes tipo I.

FUNÇÕES DAS VIAS AUDITIVAS EFERENTES

Inúmeros trabalhos tentaram determinar a verdadeira ação das VAE sobre a

audição humana. Entretanto, os reais mecanismos fisiológicos de interação dos

sistemas auditivos aferente e eferente na modulação da resposta ao estímulo sonoro

ainda não foram bem esclarecidos. Há muita discordância na literatura sobre as

funções específicas do TOM e do TOL, principalmente por problemas técnicos na

captação das respostas isoladas de cada trato, especialmente do TOL, pois a

ausência de mielina dificulta a detecção das descargas elétricas.

O método mais direto de estimulação das VAE é a colocação de eletrodos no

assoalho do IV ventrículo ou a infusão de neurotransmissores próximo às

terminações nervosas. Apesar de muito usadas experimentalmente, as duas

técnicas sempre foram clinicamente limitadas pela impossibilidade de estudo em

humanos. Em 1978, a descoberta das Emissões Otoacústicas (EOA) por Kemp

permitiu analisar fisiologicamente as VAE, já que as EOA são emitidas pelas CCE

que, por sua vez, são diretamente moduladas pela ativação do sistema eferente

medial.

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As VAE também podem ser estudadas através de estímulos acústicos

apresentados ipsi ou contralateralmente à orelha estudada. Classicamente a

amplitude das emissões transitórias e dos produtos de distorção sofre um

decréscimo com o uso da estimulação acústica contralateral em comparação com a

medida padrão. O mecanismo pelo qual isso acontece ainda não está bem

estabelecido, mas acredita-se que o TOM possa produzir uma contração lenta nas

CCE como forma de modular e inibir as suas contrações rápidas, proporcionando

mais um mecanismo de proteção das estruturas da orelha interna diante da

estimulação acústica. Chegou-se a aventar que essa supressão das emissões

otoacústicas diante de um estímulo acústico contralateral poderia ser mediada pelos

músculos da orelha média. Entretanto, algumas evidências confirmaram a hipótese

do envolvimento neural nesse mecanismo, como o fato da supressão ocorrer

especificamente para cada freqüência, de ser desencadeada por estímulos

contralaterais baixos o suficiente para não proporcionar a contração dos músculos e

de ocorrer mesmo em indivíduos com ausência do reflexo estapediano.

Várias são as funções creditadas às VAE, mas talvez o efeito mais

conhecido seja a diminuição da amplitude do potencial de ação (N1) do nervo

coclear, o que foi demonstrado várias vezes tanto pela estimulação elétrica exclusiva

do TOM, como pela estimulação acústica. Como o potencial de ação é gerado pelas

fibras aferentes que inervam as CCI, podemos concluir que de algum modo, o TOM

(inervação eferente das CCE) influencia as aferências que partem das CCI. Essa

ativação do TOM leva a uma mudança nos movimentos do órgão de Corti em função

das contrações lentas produzidas nas CCE. Essa mudança nas contrações acarreta

uma diminuição da amplitude dos movimentos da membrana tectorial alterando a

estimulação das CCI e por sua vez, diminuindo o potencial de ação do nervo

coclear.

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3.3 - PALADAR

As submodalidades gustativas são: doce, ácido, amargo e salgado. Os

receptores gustativos são sensíveis a todos os estímulos, sendo mais sensível a

uma submodalidade especifica. Os estímulos químicos que causam mais

eficientemente cada uma das modalidades são: NaCl (salgado); sacarose (doce),

quinino (amargo) e ácido (HCl). Por outro lado, alguns aminoácidos como sacarina e

o aspartame que são utilizados nos adoçantes causam sensação de doce... Uma

outra submodalidade denominada umami (delicioso em japonês) é estimulada pelo

aminoácido glutamato especialmente uma sensação prazerosa.

Realizando testes com várias substâncias químicas observou-se que os

receptores gustativos respondem a todas elas, porém, com preferência a

determinadas substâncias. No exemplo ao lado, um determinado receptor responde

mais sensivelmente com PR despolarizante ao NaCl enquanto o outro, tanto ao

NaCl como ao HCl. Repare que as fibras aferentes primárias aumentam a freqüência

dos PA em sincronia aos PR despolarizantes e diminuem aos PR hiperpolarizantes.

As substâncias químicas operam alterando o PA de maneira mais ou menos

especifica para o grupo de substâncias químicas:

1) passam diretamente pelos canais iônicos (NaCl e amargo)

2) ligam-se aos canais iônicos bloqueando-os (amargo e quinino)

3) ligam-se aos canais iônicos abrindo-os

4) ligam-se a receptores moleculares que ativam 2o mensageiros que por sua vez,

abrem ou fecham canais iônicos(doce e amargo)

Repare que em todos os casos a via final comum é estimular a liberação de

NT na sinapse que é um processo cálcio-dependente (como nas demais

neurotransmissões). Ativações dos receptores gustativos dependem de “chaves”

para cada “fechadura” especifica e que a resposta de cada botão gustativo (conjunto

de células sensoriais) deverá ser o resultado do recrutamento de determinadas

fibras aferentes.

Outras modalidades sensoriais contribuem com a experiência gustativa

consciente.

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De que modo então os variados alimentos evocam sabores tão peculiares?

Como discriminamos o sabor de um sorvete e de um churrasco?

A percepção consciente dos alimentos que experimentamos depende da

interpretação integrada com as informações aferentes não só gustativa como

também olfativas que emanam do alimento. (o quê acontece quando você está

resfriado e o epitélio olfativo está recoberto com muco?). Além disso, características

como textura e temperatura também fazem parte das informações que contribuem

com o sentido do paladar (aferentes somestésicos, mediados V par =trigêmeo).

Alguns sabores são enfatizados quando associados à dor... Isso mesmo: os

alimentos de sabor picante estimulam nociceptores químicos que para alguns

enfatizam o sabor e aumenta a palatabilidade do alimento. Assim, alem da sensação

de fome, a palatabilidade também aumenta (ou diminui) a nossa ingestão alimentar.

A via gustativa:

Os impulsos originados nos 2/3 anteriores da língua chegam ao SNC pelo VII

par craniano. Já o IX par é responsável por 1/3 posterior e faringe e o X par, pela

epiglote. As projeções centrais dos neurônios de primeira ordem ocorrem no bulbo,

mais especificamente no núcleo do trato solitário. Dai, os neurônios de 2a.ordem

projetam-se para o tálamo (Núcleos Ventrais Póstero Mediais ou VPM) do mesmo

lado e do lado oposto. As fibras tálamo-corticais (3a.ordem) se projetam para o

córtex cerebral, na área gustativa primária, situada na parte inferior do giro pós-

central, adjacente à parte somestésica da língua.

Gustação ou Paladar

Os sentidos gustativo e olfativos são chamados sentidos químicos, porque

seus receptores são excitados por estimulantes químicos.

Os receptores gustativos são excitados por substâncias químicas existentes

nos alimentos, enquanto que os receptores olfativos são excitados por substâncias

químicas do ar. Esses sentidos trabalham conjuntamente na percepção dos sabores.

O centro do olfato e do gosto no cérebro combina a informação sensorial da

língua e do nariz.

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O receptor sensorial do paladar é a papila gustativa. É constituída por células

epiteliais localizadas em torno de um poro central na membrana mucosa basal da

língua. Na superfície de cada uma das células gustativas observam-se

prolongamentos finos como pêlos, projetando-se em direção da cavidade bucal; são

chamados microvilosidades. Essas estruturas fornecem a superfície receptora para

o paladar.

Observa-se entre as células gustativas de uma papila uma rede com duas ou

três fibras nervosas gustativas, as quais são estimuladas pelas próprias células

gustativas. Para que se possa sentir o gosto de uma substância, ela deve

primeiramente ser dissolvida no líquido bucal e difundida através do poro gustativo

em torno das microvilosidades. Portanto substâncias altamente solúveis e difusíveis,

como sais ou outros compostos que têm moléculas pequenas, geralmente fornecem

graus gustativos mais altos do que substâncias pouco solúveis difusíveis, como

proteínas e outras que possuam moléculas maiores.

A gustação é primariamente uma função da língua, embora regiões da

faringe, palato e epiglote tenham alguma sensibilidade. Os aromas da comida

passam pela faringe, onde podem ser detectados pelos receptores olfativos.

As Quatro Sensações Gustativo-Primárias:

Na superfície da língua existem dezenas de papilas gustativas, cujas células

sensoriais percebem os quatro sabores primários, aos quais chamamos sensações

gustativas primárias: amargo (A), azedo ou ácido (B), salgado (C) e doce (D). De

sua combinação resultam centenas de sabores distintos. A distribuição dos quatro

tipos de receptores gustativos, na superfície da língua, não é homogênea.

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Figura 4 – Papilas gustativas na língua

Até os últimos anos acreditava-se que existiam quatro tipos inteiramente

diferentes de papila gustativa, cada qual detectando uma das sensações gustativas

primárias particulares. Sabe-se agora que todas as papilas gustativas possuem

alguns graus de sensibilidade para cada uma das sensações gustativas primárias.

Entretanto, cada papila normalmente tem maior grau de sensibilidade para uma ou

duas das sensações gustativas.

O cérebro detecta o tipo de gosto pela relação (razão) de estimulação entre

as diferentes papilas gustativas. Isto é, se uma papila que detecta principalmente

salinidade é estimulada com maior intensidade que as papilas que respondem mais

a outros gostos, o cérebro interpreta a sensação como de salinidade, embora outras

papilas tenham sido estimuladas, em menor extensão, ao mesmo tempo.

Cada comida ativa uma diferente combinação de sabores básicos, ajudando a

torná-la única. Muitas comidas têm um sabor distinto como resultado da soma de

seu gosto e cheiro, percebidos simultaneamente. Além disso, outras modalidades

sensoriais também contribuem com a experiência gustativa, como a textura e a

temperatura dos alimentos. A sensação de dor também é essencial para sentirmos o

sabor picante e estimulante das comidas apimentadas.

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REGULAÇÃO DA DIETA PELAS SENSAÇÕES GUSTATIVAS

As sensações gustativas obviamente auxiliam na regulação da dieta. Por

exemplo, o sabor doce é normalmente agradável, o que faz com que um animal

procure preferentemente alimentos doces. Por outro lado, o gosto amargo é

geralmente desagradável, fazendo com que os alimentos amargos, que geralmente

são venenosos, sejam rejeitados. O gosto ácido é muitas vezes desagradável, o

mesmo ocorrendo com o sabor salgado. O prazer sentido com os diferentes tipos de

gosto é determinado normalmente pelo estado de nutrição momentâneo do

organismo. Se uma pessoa está há muito sem ingerir sal, por motivos ainda não

conhecidos, a sensação salgada torna-se extremamente agradável.

Caso a pessoa tenha ingerido sal em excesso, o sabor salgado ser-lhe-á

bastante desagradável. O mesmo acontece com o gosto ácido e, em menor

extensão, com o sabor doce. Dessa forma, a qualidade da dieta é automaticamente

modificada de acordo com as necessidades do organismo. Isto é, a carência de um

determinado tipo de nutriente geralmente intensifica uma ou mais sensações

gustativas e faz com que a pessoa procure alimentos que possuam o gosto

característico do alimento de que carece.

IMPORTÂNCIA DO OLFATO NO PALADAR

Muito do que chamamos gosto é, na verdade, olfato, pois os alimentos, ao

penetrarem na boca, liberam odores que se espalham pelo nariz. Normalmente, a

pessoa que está resfriada afirma não sentir gosto, mas, ao testar suas quatro

sensações gustativas primárias, verifica-se que estão normais.

As sensações olfativas funcionam ao lado das sensações gustativas,

auxiliando no controle do apetite e da quantidade de alimentos que são ingeridos.

TRANSMISSÃO DE ESTÍMULOS AO SISTEMA NERVOSO CENTRAL

As vias de transmissão dos estímulos gustativos ao tronco cerebral e daí ao

córtex cerebral. Os estímulos passam das papilas gustativas na boca ao tracto

solitário, localizado na medula oblonga (bulbo). Em seguida, os estímulos são

transmitidos ao tálamo; do tálamo passam ao córtex gustativo primário e,

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subseqüentemente, às áreas associativas gustativas circundantes e à região

integrativa comum que é responsável pela integração de todas as sensações.

REFLEXOS GUSTATIVOS

Uma das funções do aparelho gustativo é fornecer reflexos às glândulas

salivares da boca. Para tanto, estímulos são transmitidos do tracto solitário, no

cérebro, aos núcleos vizinhos que controlam a secreção das glândulas salivares.

Quando o alimento é ingerido, o tipo de sensação gustativa, atuando através desses

reflexos, ajuda a determinar se a secreção salivar deverá ser grande ou pequena.

3.4 - OLFATO

A olfação é tão importante quanto qualquer outro sistema do sentido. Ela nos

permite a interação com o meio em que vivemos através da percepção dos seus

odores e a sua alteração promove importante prejuízo e risco diário. É

imprescindível ressaltar a sua relação com a gustação, pois sem o olfato não

sentimos de forma adequada o sabor dos alimentos, perdendo assim o apetite e o

prazer com a alimentação.

A qualidade de vida está intimamente relacionada com o olfato para cidadãos

comuns e para aqueles que dependem diretamente dela para melhor executar suas

funções como cozinheiros, bombeiros, distribuidores de comidas e bebidas,

degustadores, produtores de vinhos, empregados de indústria química, produtores

de perfume e outros.

Desde o século passado, inúmeros testes foram realizados para avaliar o

olfato, porém de forma muito subjetiva, tendo-se dificuldades em mensurar ou

especificar a perda. Felizmente, grandes progressos foram obtidos nas últimas

décadas com o desenvolvimento de métodos psicofísicos e eletrofisiológicos para

testar a olfação.

A qualidade e intensidade da percepção olfatória depende do estado anatômico e

funcional do epitélio nasal e dos sistemas nervoso central e periférico.

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Aspectos anatômicos

Através do processo evolutivo, três sistemas neurais relacionam-se ao

olfato: o primeiro e o quinto pares cranianos (olfatório e trigêmeo, respectivamente) e

o nervo terminal (zero). O nervo olfatório é responsável pela sensação do odor

propriamente dito e o nervo trigêmeo, pelas sensações somatossensoriais como frio,

ardor, irritação e toque. A região olfatória localiza-se no teto da cavidade nasal (na

altura da lâmina crivosa do etmóide), concha nasal superior e terço superior do

septo nasal, possuindo 1 a 2 mm de espessura e sua mucosa tem uma coloração

amarelada. Os odores alcançam à área olfatória através de dois fluxos aéreos: nasal

anterior e retrógrado da rinofaringe.

As primeiras células responsáveis pela olfação são neurônios

especializados bipolares (atuam como receptor periférico e primeiro gânglio), que

sofrem constante renovação (em média 30 dias). Emitem axônios através da

membrana basal do epitélio olfatório, onde se tornam mielinizados e atravessam a

placa cribiforme penetrando na fossa craniana anterior, para formar conexões com o

bulbo olfatório denominadas glomérulos (3). Estes feixes de axônio são provenientes

de sinapses de neurônios olfatórios com os neurônios de segunda ordem do bulbo

olfatório, passando ipsilateralmente através da placa cribiforme, porém algumas

fibras se cruzam entre os bulbos. A informação, que é proveniente do neurônio de

segunda ordem, é processada centralmente no córtex piriforme anterior, núcleo

amigdalóide e lobos frontal e temporal. Os estímulos são conduzidos ao bulbo a uma

velocidade de 50 m/seg, porém antes de chegarem ao córtex olfatório passam pelo

tálamo, integrando-se às fibras da gustação.

O córtex olfatório compreende o núcleo olfatório anterior, o tubérculo

olfatório, o córtex pré-piriforme, o córtex entorhinal lateral, o córtex periamigdalóide e

o núcleo cortical da amígdala.

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Figura 5. Trajeto anatômico do nervo olfatório da cavidade nasal ao bulbo olfatório.

Ratificam - se as relações existentes entre gustação e olfato.

Subjetivamente, as sensações olfatórias e gustatórias estão completamente

integradas. Esse fato é facilmente constatado nos resfriados fortes, durante os

quais o indivíduo tem um hiposmia temporária e os alimentos perdem o sabor

característico. O paladar é responsável pelos quatro sabores essenciais

(amargo, azedo, doce e salgado), as outras variações do gosto são

essencialmente olfatórias. Numa comparação, o gosto traduziria as sete notas

fundamentais do piano e o olfato representaria o mundo infinito dos harmônicos.

Podemos afirmar que a córtex olfatória, localizada no lobo frontal e temporal,

está unida indiretamente às múltiplas zonas corticais, subcorticais e ao

rinencéfalo. Assim os impulsos olfatórios oriundos da área piriforme atingem o

hipocampo e o giro denteado, de onde fibras eferentes os levam, via alveus,

fimbria e fornix, aos núcleos mamilares e à formação reticular do tronco

encefálico. Fibras do corpo mamilar se conectam com o núcleo talâmico anterior

e com o giro singular. Via "stria terminalis", fibras nervosas chegam ao

hipotálamo, núcleos septal e pré ótico vindos do complexo amigdalóide.

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3.5. PROPRIOCEPÇÃO

O "sexto" sentido e pouco conhecido é o da propriocepção.

Como o próprio nome diz: é o sentido que informa o cérebro das partes que

compõem o nosso próprio corpo.

É este sentido que informa nosso cérebro que há algo estranho acontecendo

em nosso abdômen e que nos faz diferenciar entre um mal estar e a vontade de

evacuar.

Também é este sentido que informa nosso cérebro sobre as eventuais

alterações no ritmo cardíaco quando forçamos demais no futebol ou no sexo.

E este sentido que informa o nosso cérebro quanto à posição no espaço que

ocupa nosso pé, nossa perna, nossa coluna, enfim, cada pequeno músculo do

nosso organismo.

Em total sintonia com os demais sentidos e, desenvolvendo junto a eles na

primeira infância, que aprendemos a falar na hora certa, andar no momento

adequado, etc.

Hoje a propriocepção é descrita como a conciliação do senso de posição

articular (habilidade do indivíduo identificar a posição do membro no espaço) e da

cinestesia (movimento articular) (Dover et al., 2003); outros autores ainda

consideram que o termo propriocepção tem um sentido mais amplo, que inclui nesta

definição o controle neuromuscular (Laskowski et al., 1997).

Esses mecanoceptores iniciam o laço aferente do feedback proprioceptivo ao

SNC (Laskowski et al., 1997). Os axônios que transportam informações dos órgãos

para a medula são chamados de aferentes e são denominados de acordo com seu

tamanho, ou seja, I, II, e assim por diante, conforme o diâmetro e a velocidade de

condução relativa. Transportam as informações dos órgãos do fuso (Ia) e dos órgãos

de Golgi do tendão (Ib) (Cailliet, 2000).

Muitos axônios que trazem a informação proprioceptiva entram no corno

dorsal da medula e fazem sinapses com os interneurônios. A essência da integração

aferente com a coluna espinhal é quando estes sinais se encontram com os

interneurônios e estes se conectam com os altos níveis do SNC. A maioria dessas

informações proprioceptivas propaga-se até os altos níveis do SNC através do trato

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dorsal lateral ou trato espinocerebelar. Os dois tratos dorsais laterais estão

localizados na região posterior do corno espinhal e finalmente carregam os sinais ao

córtex somatosensorial. Embora a maioria das sensações que este trato é

responsável seja toque, pressão e vibração, grande quantidade da compreensão

consciente do senso de posição articular e cinestesia também é atribuída a este

trato (Riemann & Lephart, 2002).

A informação proprioceptiva ou é tornada consciente ou processada

inconscientemente. Por exemplo, manter ou o equilíbrio em geral são atos

inconscientes. A propriocepção consciente costuma envolver processamento

cortical, resultando em tomada de decisão. Isso resulta no comando aos músculos

para que executem um movimento. A enorme quantidade de input proprioceptivo

indica que boa parte é processada de forma inconsciente.

A propriocepção usa a via coluna dorsal – leminisco medial, que passa pelo

tálamo e termina no córtex do lobo parietal. A propriocepção inconsciente envolve os

tratos espinocerebelares e termina no cerebelo.

A informação sensorial é o input aferente que atinge o nível de alerta

consciente, e o caminho percorrido por esta é conhecido como aferente sensorial. A

informação sensorial possui duas categorias:

(1) somática: sensações que atingem a superfície do corpo;

(2) sentidos especiais: visão, audição, paladar e olfato e tacto.

Percepção: é a interpretação do ambiente que nos rodeia, criada pelo nosso

cérebro a partir de impulsos nervosos gerados nos receptores sensoriais.

O mundo real não corresponde exatamente àquele que percepcionamos por

diversas razões: - Os receptores humanos detectam apenas um número limitado de

formas de energia. A nossa percepção é limitada mesmo para as formas de energia

para as quais possuímos receptores.

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CAPÍTULO IV

INTEGRAÇÃO SENSORIAL

Sem integrar a informação sensorial no seu sistema vestibular com as que são oriundas das suas articulçaões e dos seus músculos, vai ser mais difícil saber onde se encontra no espaço e para onde se move ou navega nele, por isso, as disfunções posturais são mais susceptíveis de rpovocar desvios motivacionais e concentracionais.(Fonseca, 2006:45)

A Integração Sensorial é o processo pela qual o cérebro organiza as

informações, de modo a dar uma resposta adaptativa adequada, organizando assim,

as sensações do próprio corpo e do ambiente de forma a ser possível o uso eficiente

do mesmo no ambiente.

Os sistemas ligados à Integração Sensorial são: vestíbulo proprioceptivo,

somatosensorial e praxia, que estão interligados/inter-relacionados para promoção

de um bom desempenho motor e emocional no meio ambiente.

Visa a quantidade e qualidade de estímulos proporcionados ao sujeito, para

que busque um equilíbrio modulado, dando assim, uma resposta que esteja de

acordo com suas capacidades e com o meio, melhorando o desempenho de uma

criança (por exemplo), em seu processo de aprendizagem.

A Teoria de Integração Sensorial descreve como o indivíduo desenvolve a

capacidade de perceber, aprender e organizar sensações recebidas do seu corpo e

do meio para executar atividades voluntárias e significativas. Um importante

componente desta teoria é a explicação de Ayres sobre como a criança desenvolve

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a capacidade de organizar inputs sensoriais. (Ayres, 1972, 1979). Ela coloca que,

inicialmente, a criança recém nascida experimenta sensações, mas não é capaz de

dar significado a elas.

Durante o caminho da criança para ampliar a percepção de seu corpo do

mundo, e durante suas continuadas experiências interativas, a criança começa a dar

significado às sensações que ela percebe. Enquanto a criança continua a

experimentar vários graus, tipos e combinações de informação sensorial no meio,

ela responde produzindo respostas adaptativas: uma resposta com objetivo e

intencional que provoca com sucesso uma mudança no meio. Cada vez que a

criança responde de maneira adaptativa seu sistema nervoso armazena a

percepção e o conhecimento adquirido a partir desta experiência, utilizando-o para

guiar organizações futuras ou diferentes experiências sensoriais e demandas do

meio. Quando a criança é capaz de enfrentar com sucesso os desafios de seu meio

há um aumento na habilidade do cérebro em organizar sensações para produzir

complexas respostas adaptativas. Este processo é chamado Integração Sensorial.

Portanto a Integração Sensorial refere-se ao processo neural através do qual

o cérebro recebe, registra e organiza o input sensorial para uso na generalização

das respostas adaptativas do corpo ao meio circundante, começando durante o

desenvolvimento pré-natal.

Os inputs vestibular e somatosensoriais têm um papel vital na criação de

modelos precisos do corpo para o controle postural necessário à orientação corporal

em relação à gravidade e ao meio. O processo de feedback sensorial produzido pelo

movimento permite adaptação de ações motoras às mudanças das demandas do

meio e das tarefas e facilita a aprendizagem motora, assim como componentes de

aprendizagem perceptual e cognitiva.

Ayres propôs que uma adequada integração sensorial não é apenas a base

da aprendizagem, mas também a base da aprendizagem e do desenvolvimento

emocional. Ela coloca que esta emoção é uma função do sistema nervoso, e que

processar e integrar sensações para produzir respostas é básico para o crescimento

emocional.

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Portanto, integração saudável e respostas aos inputs sensoriais foram também

associadas ao desenvolvimento e organização da ligação entre pais e criança,

desenvolvimento social, autoconceito e auto-regulação.

Muito foi aprendido sobre os sinais precoces de problemas nos processos

sensoriais entrevistando as famílias de crianças mais velhas com desordens de

integração sensorial acerca do seu desenvolvimento. Muitas dessas famílias contam

que eles observavam que estes problemas estavam presentes desde o nascimento.

Por exemplo, seus recém-nascidos tinham dificuldades com as demandas motoras

orais e experiências corporais básicas, tais como subir numa cadeira ou descer uma

escada após tê-la subido de joelhos. Além disso, a criança pode não ser capaz de

formular sinais corporais apropriados ou gesticular para comunicar desejos de

carinho, comida ou brinquedo favorito. Aos dois ou três anos de idade a criança

pode apresentar problemas de evacuação ou dificuldades em adquirir habilidades

simples de cuidado diário, tais como se vestir peças de roupa, sapatos e casacos.

Preensão inadequada de brinquedos ou outros objetos ou o uso contínuo e repetitivo

de comportamentos imaturos de brincar podem ser observados.

Em uma criança pouco ativa, o comportamento de "espectador da

brincadeira" pode começar a aparecer, com a criança (que se aproxima da idade

pré-escolar) evitando os jogos de manipulação de brinquedos ou jogos motores,

preferindo atividades mais sedentárias, tais como ver televisão ou olhar livros.

Crianças brilhantes podem esconder inadequações de planejamento motor através

de jogos de faz-de-conta e ênfase na imaginação e interação social sobre jogos de

manipulação de objetos e coordenação global.

Um bebê ou criança pequena com disfunção integrativo-sensorial tem

sintomas que se imaginam refletirem uma desordem no processo neural central de

input sensorial.

Assim como uma desordem pode conduzir a interações desorganizadas e não

adaptativas com o meio do qual o feedback sensorial e os modelos de ação interna

são produzidos, também pode perpetuar o problema. O quadro clínico, no entanto,

pode variar muito de criança para criança. As diferenças podem ocorrer tanto pela

severidade da desordem como pela configuração dos fatores que compõem o

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quadro individual de cada criança. O processo sensorial disfuncional em algumas

crianças pode, em última instância, resultar em dificuldades de aprendizagem, que

podem conduzir ao fracasso escolar; em outras crianças, ele pode ser refletido em

frustrantes movimentos globais desajeitados ou em constante dificuldade em adquirir

habilidades ocupacionais que outras crianças adquirem com facilidade.

Desordens funcionais na habilidade para modular as sensações recebidas

são também observadas em muitos casos nos quais a criança parece ter

hipersensibilidade às experiências sensoriais simples, tais como andar na grama ou

descer por um escorregador. Do mesmo modo, a criança pode falhar em se orientar

na presença de inputs sensoriais desconhecidos, tais como um golpe de ar atrás do

pescoço, a presença de um novo e colorido brinquedo ou uma nova pessoa

entrando na sala.

No processo educacional, algumas crianças são hipersensíveis quanto à

recepção de informações sensoriais. Observa-se que crianças relatam serem

capazes de ouvir conversas ou o som de móveis sendo arrastados em outros

prédios. Outras crianças são tão sensíveis ao estímulo tátil (toque) que não toleram

a sensação da etiqueta em suas camisetas. Por outro lado, algumas crianças são

hiposensíveis a estímulos sensoriais, ou seja, são pouco sensíveis e necessitam de

uma maior intensidade de estímulo para que este seja percebido. Outras buscam a

sensação de intensa pressão ao serem massageadas ou ao serem firmemente

enroladas em pesados cobertores. Isso nos reporta à diversidade humana que

encontramos em nossas escolas, pois varia de acordo com o ambiente, influências

genéticas, histórico-culturais, estímulos e percepções experimentadas pela mesma.

Muitas crianças no espectro autista aparentam ter complexos padrões de

sensibilidade. Na verdade, toda e qualquer ação da criança resulta em informação

sensorial para o cérebro, o que contribui para o processo de organização e

integração. Quando se vê um bebê colocando objetos na boca ou batendo objetos

no chão verifica-se os métodos naturais do cérebro para a integração sensorial.

Quando uma criança de quatro anos pula na cama, roda em torno do próprio eixo

até ficar tonta, quer que alguém a segure de cabeça para baixo, ela está integrando

seus sentidos.

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O sistema vestibular (que controla o equilíbrio) continua a amadurecer até a

adolescência, o que explica o porquê dos adolescentes buscarem experiências

intensas como as das montanhas-russas, enquanto que os adultos geralmente não

as toleram fisicamente.

Com as atividades o cérebro coloca as mensagens sensoriais juntas e

devolve a informação correta em resposta ao estímulo que foi dado. As atividades

de integração sensorial usam exercícios neurosensoriais e neuromotores para

estimular a própria habilidade do cérebro em se reparar.

Quando o trabalho é bem sucedido, pode desenvolver a atenção, concentração,

audição, compreensão, equilíbrio, coordenação e o controle da impulsividade nas

crianças.

No início da vida o cérebro desenvolve a organização que será a estrutura

para comportamento e aprendizagem posteriores. Ele depende da informação que

recebe do ambiente através dos sistemas sensoriais. Depende de informação visual,

auditiva, tátil, olfativa e gustativa. Além disso, precisa também de informação sobre

gravidade e movimento. O cérebro reúne todas essas sensações e as organiza para

um plano de ação. Quando há um distúrbio na recepção e organização das

informações sensoriais recebidas sobre o mundo afeta o desempenho nas demais

áreas. Quando a criança não recebe informações sensoriais importantes de forma

clara e concisa, pode não estar recebendo o “alimento” que o cérebro precisa para o

processo de aprendizagem. Assim, vêem-se crianças muito inteligentes, que não

produzem de acordo com o potencial intelectual que possuem. Pode-se então

suspeitar que exista uma dificuldade no processamento sensorial

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CAPÍTULO V

ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO

Conhecer e entender o processo da aprendizagem tornou - se um grande

desafio para os educadores. Atualmente é necessário compreender que as

interações perpassam por aspectos biológicos, psicológicos, sociais, e o ambiente

dessa especificidade e a sala de aula, porque este espaço está sendo

dessacralizado pela relevância das novas tecnologias no desenvolvimento do

comportamento dos aprendentes. É preciso, portanto, reconfigurar esse lugar de

forma a promover maior convergência dessas tecnologias com interfaces possíveis

de manutenção das aprendizagens.

O educador, ao estabelecer em seus planejamentos as estratégias de

ensino em relação ao seu conteúdo, deve sensibilizar - se que suas turmas

constituem de uma biologia cerebral (bioecologia cognitiva) em movimentos

ininterruptos de transformações, pois aprender é uma ação que independe da

especificidade de um espaço. É preciso que o educador perceba que,

neurofisiologicamente, os aprendentes estão com os órgãos dos sentidos

estimulados e, por conseguinte, existe um movimento de conexões nervosas.

O processo sensorial ou integração sensorial, refere-se ao processo em que o

cérebro registra, organiza e interpreta a informação, a partir dos nossos sistemas

sensoriais (movimento, toque, visão, som, cheiro e gosto). Para o ensino na escola,

levar em consideração o desenvolvimento dos órgãos dos sentidos não é uma

opção teórica, mas uma necessidade, pois a aprendizagem dos conhecimentos

ocorre em função do desenvolvimento e funcionamento do cérebro e dos sistemas

sensoriais.

O sistema tátil ou senso do toque é o maior sistema. Este sistema nos ajuda a

identificar as propriedades dos objetos e nos dá informação do nosso meio

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ambiente. Consiste de duas áreas: sistema protetor e sistema discriminatório. O

sistema protetor é responsável pelo corpo que se retira automaticamente, ou se

defende do toque quando percebido como um mal. O sistema discriminatório prevê

informações relativas a tamanho, forma e textura dos objetos no meio ambiente.

Atividades táteis nunca deverão ser impostas à força, a uma criança que evita ou

teme o estímulo.

Atividades para estimular ou acalmar o sistema tátil:

* Brincar com texturas diferenciadas, como: areia, arroz, feijão, creme de barbear,

pintura com os dedos, pudim, massa de modelar, argila, massa de vidraceiro, "gak",

grude, etc.

* Classificar objetos pela textura.

* Identificar objetos pela textura escondendo-os em um saco ou caixa.

* Modelar

* Esconder objetos de texturas variadas.

O sistema de movimento confia na informação dos receptores do ouvido

interno que nos diz onde estamos em relação à gravidade, se estamos em

movimento ou parados, quão rápidos estamos nos movendo e a direção que

estamos tomando. Isto tudo, trabalha em conjunto com a informação vinda dos

músculos, juntas, pele, visão e receptores de audição. Este sistema é importante a

medida que nos dá um sentido de espaço e controles de estabilidade de que

necessitamos para uma postura ereta, equilíbrio, noção de espaço, estabilidade

visual e muitas outras funções automáticas. O sistema é também importante para a

manutenção do nível de iniciativa no sistema nervoso central. Pode ser usado para

acalmar-nos ou manter-nos alertas.

Se os níveis estiverem desbalanceados, a criança pode demonstrar

reações super-ativas, que é quando ela recebe mais informações do que consegue

processar, demonstrando medo das diferentes posições e movimentos, devendo

parecer, tais atividades, ameaçadoras para ela. Outras crianças podem demonstrar

uma baixa reação, devido ao não processamento de informação suficiente e podem

demonstrar crescente necessidade de atividades de movimento e procurar este tipo

de atividade por elas próprias. Movimentos vagarosos, rítmicos, tendem a acalmar

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nossos sistemas. Movimentos rápidos, não ritmados, tendem a agitar nossos

sistemas. Proporcione sempre um nível de estimulação que seja confortável para a

criança.

Atividades para estimular ou acalmar o sistema "vestibular”:

* Balanços, carrossel, gangorra e outro qualquer equipamento de "play ground”

* Gira-gira

* Embalar no seu colo ou balançar sobre uma bola grande, pula-pula, etc.

* Pular, rolar, girar

* Balançar em rede ou assemelhado

* Balançar em cadeira de balanço

* Dançar

* Vibração

* Correr, saltar. galopar

* Corrida de carro, corrida de velocípede, corrida de skates

"Propriocepção" trabalha, largamente, com nossos sistemas vestibulares.

É a sensação inconsciente de movimento nos músculos e juntas do corpo. Dados

deste sistema nos mostram quando e como os músculos estão se contraindo ou

estirando, ou quando e como as juntas estão se dobrando/estendendo ou

comprimidas. Ajuda a desenvolver a consciência do corpo, produzindo movimentos

suaves e controlados e ajuda no planejamento motor e organização.

Atividades para aumentar os dados "proprioceptivos”:

* Empurrar, puxar objetos como um caminhão, caixa pesada

* Usar o aspirador de pó

* Cavalgar

* Pular em barras de ginástica

* Brincar com colcha ou lençol

* Cadeiras de saco de feijão

* Levantadores

* Patinete

* Rebocador de guerra

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O sistema visual usa a retina do olho para obter informação do meio

ambiente. A visão trabalha com outros sistemas e, provê a informação necessária

para direcionar respostas motoras acuradas. A informação visual no meio ambiente

pode, muitas vezes, ser super estímulo para algumas crianças e, outras, podem não

receber bastante informação deste meio ambiente.

Atividades para estimular o sistema visual:

* Providenciar objetos de cores quentes e brilhantes. Quanto mais coloridas forem,

mais estimulantes serão.

* Luzes brilhantes podem ser estimulantes.

* Prover atividades manuais e jogos com modelos interessantes, brinquedos que

acendem.

* Providenciar itens contrastantes para discriminar.

Atividades para acalmar o sistema visual:

* Usar cores frias com pouco contraste

* Remover estímulos visuais estranhos durante as atividades

* Providenciarem jogos e brinquedos com estampas decrescentes, partes móveis

limitadas, sem luzes brilhantes.

O sistema auditivo é estimulado quando ondas de ar alcançam os

receptores do ouvido. O processo auditivo é a percepção de uma habilidade para

entender o que é escutado no meio ambiente. É importante estar apto para separar,

associar e decodificar os sons e ainda lembrar o que foi ouvido. Nossa realização

com a linguagem é grandemente influenciada pela habilidade em processar a áudio

informação.

Atividades para acalmar ou "acordar" o sistema auditivo:

* Música de batida rápido-distinta que, normalmente, "acorda", enquanto que música

lenta tende a ser mais calmante e organizada.

* Propiciar ambientes reservados se o sistema auditivo estiver super reativo

* Usar tom de voz para "levantar" (tons altos, excitantes) ou, para acalmar (tons

calmos, melodiosos)

* Fones de ouvido para controlar a o áudio

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* Cantar, dançar com música

* Instrumentos musicais

Técnicas Globais de Alerta Sensorial para crianças letárgicas e que

demonstrem um nível de baixa atividade. As seguintes atividades podem ser usadas

para aumentar a atenção diante de tarefas esperadas:

* Dar à criança uvas geladas ou gelo picado para mastigar

* Proporcionar um "lanche saudável" no meio da manhã ou à tarde, como, por ex.:

fruta, queijo, bolachas ou cereal

* Usar luzes claras onde a criança trabalha ou brinca

* Deixar a criança pular num mini "pula-pula" ou se balançar

* Encorajar a criança a se movimentar o mais rápido que puder

* Encher uma piscina com água fresca para a criança brincar

* Deixar a criança tomar um chuveiro fresco ou correr debaixo de um esguicho

* Dar à criança água gelada num copo de canudo ou numa mamadeira

* Encorajar a criança a espirrar água fresca em seu rosto e pescoço

* Brincar de luta com a criança

* Dar uma volta de bicicleta, especialmente em subidas

* Tocar música compassada alta e rápida

* Encorajar a criança a correr

* Permitir a criança mascar chicletes sem açúcar ou, se conveniente, chupar bala

dura, sem açúcar

Calma sensorial

Técnicas para acalmar as crianças que são hiper-ativas ou se encontram

em nível crescente de atividade. Essas técnicas podem ser usadas para acalma-las

antes de iniciar alguma tarefa ou após para desacelera-las:

* Designe uma área onde a criança possa usar como esconderijo, tal como uma

colcha sobre uma mesa de jogar cartas, um canto sossegado, etc.

* Evite apressar ou perturbar a criança tanto quanto possível

* Deixe que a criança se aconchegue ou embale-a, se coloca-la para dormir for uma

dificuldade, leia suaves estórias de dormir ou coloque música suave.

* Dê-lhe um banho tépido seguido de uma toalha de massagem e loção.

* Evite TV, '"video games" e algazarra antes da hora de dormir

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* Lembre-se de que mesmo com algum trabalho você pode acalmar sua criança e se

acalmar

* Use baixa iluminação

* Encoraje sua criança a ouvir música calma e rítmica com e sem fones de ouvido

* Deixe sua criança, deitar ou sentar em um travesseiro vibrador

* Dê uma volta de carro

* Encoraje a criança a se balançar, lentamente, em uma cadeira de balanço

* Proporcione massagem profunda com loção

* Fale baixo e se mova vagarosamente no ambiente da criança

Sugestões de Alguns Jogos de Trabalho com corpo e explorando os sentidos:

1 – Caçador de tartarugas:

Os jogadores dispersam-se pelo pátio: são as tartarugas. Ao sinal, o caçador sai

correndo para pegar as tartarugas. Estas evitarão ser apanhadas deitando-se de

costas, pernas e braços encolhidos, imitando tartaruga deitada de costas.

Enquanto estiverem nesta posição, não poderão ser caçadas. O jogador que for

apanhado será eliminado.

2 – Jogo das Cores:

Sentados em círculos, os alunos devem aguardar a indicação do professor.

Ao indicar uma cor, exemplo: verde – Todos devem sair correndo e tocar em algo

da cor indicada.

3 – Me dá um abraço:

Os alunos devem estar distantes um do outro. Ao sinal especificado: Três

palminhas dadas pelo professor, por exemplo, todos devem correr e encontrar um

amigo para abraçar.

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4 - Lobos e Carneirinhos:

Formação: Traçar no chão duas linhas afastadas cerca de 20 metros uma da outra.

As crianças são divididas em dois grupos: lobos e Carneirinhos. Cada grupo se

coloca atrás de uma linha. O grupo dos lobos fica de costas para o grupo dos

Carneirinhos.

Desenvolvimento: Ao sinal do professor, os Carneirinhos saem a caminhar, o mais

silenciosamente possível, em direção aos lobos. Quando estiverem bem próximo

deles o professor diz: “Cuidado com os lobos”!Estes, então, voltam-se rapidamente

em partem em perseguição aos Carneirinhos. Os Carneirinhos apanhados antes de

alcançar a linha original (de onde vieram) passam a ser lobos. Na repetição da

brincadeira invertem-se os papéis.

Sugestão: Antes de proporcionar essa brincadeira, é interessante que se explore o

que se sabe e se discuta sobre esses animais: Como são? Quem já viu um

carneirinho? Quem já viu um lobo? Onde? Quando? Se viu, o que achou do animal?

Vamos imitar um lobo? Vamos imitar um carneirinho?

O professor deve explorar o tema de acordo com o interesse das crianças.

5 - Onça Dorminhoca:

Formação: Formar com os alunos uma roda grande. Cada criança fica dentro de um

pequeno círculo desenhado sob os pés, exceto uma que ficará no centro da roda,

deitada de olhos fechados. Ela é a Onça dorminhoca.

Desenvolvimento: Todos os jogadores andam a vontade, saindo de seus lugares,

exceto a onça dorminhoca que continua dormindo. Eles deverão desafiar a onça

gritando-lhe: “Onça dorminhoca”! Inesperadamente, a onça acorda e corre para

pegar um dos lugares assinalados no chão. Todas as outras crianças procuram

fazer o mesmo. Quem ficar sem lugar será a nova Onça dorminhoca.

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Sugestão: O professor poderá proporcionar um estudo sobre a onça, de acordo com

o interesse das crianças: Quem já viu uma onça?

Aonde? Quando?

Como ela é? Como vive? O que come?

Quem quer imitá-la?

Confeccionar uma máscara de cartolina ou papelão para aquele que fará o papel da

onça.

Partindo deste estudo, a criança, quando for desenvolver a atividade, criará um

personagem seu relativo à brincadeira.

6 - Corrida do Elefante:

Formação: As crianças andam à vontade pelo pátio. Uma delas separada utiliza um

braço segurando com a mão a ponta do nariz e o outro braço passando pelo espaço

vazio formado pelo braço. (Imitando uma tromba de elefante).

Desenvolvimento: Ao sinal, o pegador sai a pegar os demais usando somente o

braço que está livre (O outro continua segurando o nariz). Quem for tocado

transforma-se também em elefante, logo, em pegador, adotando a mesma posição.

Será vencedor o último a ser preso.

Sugestão: As crianças, durante a brincadeira podem caminhar como um elefante.

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CONCLUSÃO

Durante muito tempo as creches, Pré-Escolas ou Jardim de Infâncias foram

considerados locais para deixar a criança com alguém de segurança para os pais

poderem exercer seus trabalhos, ou, no máximo, um local para brincar. Hoje

sabemos a importância e o papel pedagógico, educativo, social desta fase da

criança.

Pesquisas demonstram que quando a escola é um ambiente altamente

estimulante, onde possam ter como se explorar, imitar, olhar, escutar, expressar-se

através de sua fala e em contato com crianças da mesma faixa etária, tendo a

professora como facilitadora e orientadora, as crianças com menos de seis anos

desenvolvem sua inteligência de forma surpreendente.

Aos educadores cabe propiciar atividades diversificadas e criar ambientes

educativos cada vez mais ricos e desafiadores.

"Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos

sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com

exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem."

(Carlos Drumond de Andrade)

A brincadeira é o caminho do desenvolvimento cognitivo na infância. E é a

partir da exploração do seu próprio corpo e dos amigos que iniciam as construções

dos conhecimentos e habilidades principais. Em vez de impedí-las de brincar, o ideal

é apresentar materiais que incentivem brincadeiras diversas e enriqueçam cada vez

mais o processo ensino-aprendizagem.

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No processo educacional, algumas crianças são hipersensíveis quanto à

recepção de informações sensoriais. Observa-se que crianças relatam serem

capazes de ouvir conversas ou som de móveis sendo arrastados em outros prédios.

Outras crianças são tão sensíveis ao estímulo tátil (toque) que não toleram a

sensação da etiqueta em suas camisetas. Por outro lado, algumas crianças são

hiposensíveis a estímulos sensoriais, ou seja, são pouco sensíveis e necessitam de

uma maior intensidade de estímulo para que este seja percebido. Outras buscam a

sensação de intensa pressão ao serem massageadas ou ao serem firmemente

enroladas em pesados cobertores. Isso nos reporta à diversidade humana que

encontramos em nossas escolas, pois varia de acordo com o ambiente, influências

genéticas, histórico-culturais, estímulos e percepções experimentadas pela mesma.

Muitas crianças no espectro autista aparentam ter complexos padrões de

sensibilidades sensoriais. Uma criança pode ser hipersensível a sons e cheiros, mas

hiposensível ao toque. Em outros casos, as sensibilidades das crianças parecem

mudar de um momento para o outro, ou dentro de períodos de dias ou semanas.

Elas podem ser hipersensíveis à luz em um dia e parecer hiposensíveis ou não

afetadas pela luz em um outro dia. A ciência de hoje ainda não consegue explicar

completamente por que isto acontece.

Na verdade, toda e qualquer ação da criança resulta em informação sensorial

para o cérebro, o que contribui para o processo de organização e integração.

Quando se vê um bebê colocando objetos na boca ou batendo objetos no chão

verifica-se os métodos naturais do cérebro para a integração sensorial. Quando uma

criança de quatro anos pula na cama, roda em torno do próprio eixo até ficar tonta,

quer que alguém a segure de cabeça para baixo, ela está integrando seus sentidos.

O sistema vestibular (que controla o equilíbrio) continua a amadurecer até a

adolescência, o que explica o porquê dos adolescentes buscarem experiências

intensas como as das montanhas-russas, enquanto que os adultos geralmente não

as toleram fisicamente.

Com as atividades o cérebro coloca as mensagens sensoriais juntas e

devolve a informação correta em resposta ao estímulo que foi dado. As atividades

de integração sensorial usam exercícios neurosensoriais e neuromotores para

estimular a própria habilidade do cérebro em se reparar.

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Quando o trabalho é bem sucedido, pode desenvolver a atenção,

concentração, audição, compreensão, equilíbrio, coordenação e o controle da

impulsividade nas crianças.

Esta aprendizagem interneurossensorial capaz de integrar as atividades é a

que interessa aos educadores, pois é nela que se desenvolvem as potencialidades,

podendo integrar vários sistemas visuais, táteis, auditivos, desencadeando outras

possibilidades de reconhecimento das habilidades que o educador precisa despertar

no educando.

Se o professor tiver conhecimento da modalidade de aprendizagem do seu

estudante, pode - se transformar em um facilitador do processo de ensino e

aprendizagem. Aprender é preservar o cérebro de uma possível sobrecarga que só

contribuiria para uma desintegração total da aprendizagem.

A proposta é mediar o funcionamento desse sistema sensorial dentro do

contexto educacional, ratificando a importância de realizar um planejamento prévio

como pré - requisito para que a atuação seja eficaz.

Conseqüentemente, esta atuação deste ponto de vista facilitará um outro tipo

de aprendizagem – Integrativa, onde os órgãos dos sentidos e suas emoções

influenciam as energias e o equilíbrio dos nossos órgãos.

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BIBLIOGRAFIA

DEGROOT, Jack. Neuroanatomia. 21ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,

1994.

FERRRARETTO et al. Ações Integradas na Reabilitação de crianças portadoras de

Paralisia Cerebral. In: KUDO, et al. Fisioterapia, fonoaudiologia e terapia

ocupacional em pediatria. São Paulo: Savier, 1990, p.327-352.

GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional. 70 ed. Rio de Janeiro: Objetiva.

LAPIERRE, André. A simbologia do movimento, psicomotricidade e educação. São

Paulo: Manolo, 1986.

LENT, Robert. Cem Bilhões de Neurônios. Rio de Janeiro: Atheneu, 2001.

MAGALHÃES, Livia C. [Apostila] – Bases Neurobiológicas da Integração sensorial.

São Paulo: agosto / 1999.

MAGALHÃES, L.C. As bases da terapia de integração sensorial: estudo da relação

entre processos neurológicos e comportamento. Faculdades Salesianas de Lins-

Lins. (Apostila), 2002.

RELVAS, Marta. Neurociência e Educação. Rio de Janeiro: Wak, 2009.

VAYER, Pierre. A criança diante do mundo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO................................................................................02

AGRADECIMENTO................................................................................03

DEDICATÓRIA.......................................................................................04

LISTA DE FIGURAS...............................................................................05

RESUMO................................................................................................06

METODOLOGIA.....................................................................................07

SUMÁRIO...............................................................................................08

INTRODUÇÃO........................................................................................10

CAPÍTULO I ...........................................................................................12

CAPÍTULO II...........................................................................................14

CAPÍTULO III...........................................................................................24

CAPÍTULO IV...........................................................................................45

CAPÍTULO V...........................................................................................50

CONCLUSÃO..........................................................................................58

BIBLIOGRAFIA........................................................................................61

ÍNDICE.....................................................................................................62

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes

Título: Estimulação sensorial: base para a aprendizagem

Autora: Carine Bompet de Campos

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito:

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