UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO · divisão de Ma e nos significados da divisão de Pinto e...

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO VANESSA CRISTINA DE CARVALHO ITO CONHECIMENTO DE ESTUDANTES DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA A RESPEITO DOS PROCESSOS DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM DA DIVISÃO ENTRE FRAÇÕES São Paulo 2014

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO

VANESSA CRISTINA DE CARVALHO ITO

CONHECIMENTO DE ESTUDANTES DE LICENCIATURA EM

MATEMÁTICA A RESPEITO DOS PROCESSOS DE ENSINO E DE

APRENDIZAGEM DA DIVISÃO ENTRE FRAÇÕES

São Paulo 2014

VANESSA CRISTINA DE CARVALHO ITO

CONHECIMENTO DE ESTUDANTES DE LICENCIATURA EM

MATEMÁTICA A RESPEITO DOS PROCESSOS DE ENSINO E DE

APRENDIZAGEM DA DIVISÃO ENTRE FRAÇÕES

Dissertação apresentada à banca examinadora da Universidade Anhanguera de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de mestre sob orientação da Profa. Dra. Angélica da Fontoura Garcia Silva.

São Paulo 2014

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dra. Angélica da Fontoura Garcia Silva

Prof. Dra. Aparecida Rodrigues Silva Duarte

Prof. Dra. Nilza Eigenheer Bertoni

DEDICATÓRIA

Aos meus queridos pais, pela boa educação que

me deram e por terem me ajudado a chegar até

aqui.

Ao meu amado, por ter estado ao meu lado e ter

me dado todo o suporte do qual precisei durante

boa parte deste longo percurso.

Amo vocês.

AGRADECIMENTOS

Há quase três anos, quando me inscrevi para o processo seletivo deste

programa de mestrado não fazia ideia do que estava por vir. Sinto-me emocionada ao

olhar para trás lembrando de todo o caminho que percorri para chegar ate aqui.

Foram dias duros de tempos confusos. Mas, me adaptei aos poucos e com o

passar dos meses comecei a me sentir parte desta casa. Fui agraciada com o privilégio

de ser aluna de ilustres professores dos quais trago no peito um enorme carinho e

admiração. Não haveria palavras suficientes para expressar meu apreço e

agradecimento a todos.

À Prof. Dra. Angélica Fontoura Garcia Silva, minha querida orientadora, sem a

qual este trabalho não teria sido realizado. Muitíssimo obrigada pela dedicação, pela

confiança, e principalmente, por ter acreditado que eu era capaz e não ter desistido de

mim nos meus piores momentos. Serei eternamente grata à senhora por toda sua

atenção.

À Prof. Dra. Aparecida Rodrigues Silva Duarte, que sempre esteve ao nosso

lado, nos dando apoio incondicional, a todo o momento disposta a nos ajudar,

enriquecendo nosso trabalho com suas contribuições e amizade.

À Prof. Dra. Nilza Eigenheer Bertoni, pela atenciosa avaliação deste trabalho no

processo de qualificação e por todas as suas observações, sem as quais este trabalho

não alcançaria a qualidade que alcançou.

À Prof. Dra. Tânia Maria Mendonça Campos, por quem tenho profundo respeito

e admiração, por coordenar este programa de pós graduação de forma tão brilhante,

favorecendo o crescimento da pesquisa em Educação Matemática no Brasil.

Aos funcionários da secretaria do mesmo programa, sempre tão gentis e

competentes, nos prestando um ótimo atendimento quando necessitamos.

Ao Prof. Dr. Vincenzo Bongiovanni, a quem admiro profundamente e tenho

grande respeito. Obrigada pelo seu apoio, pela ética e humanidade as quais sempre

dispensou a mim. O senhor me fez enxergar o magistério com novos olhos.

À Secretaria de Educação Estadual de São Paulo, por terem acreditado no meu

projeto e terem me concedido a bolsa de estudo, fornecendo todo o suporte financeiro

necessário para a concretização deste trabalho.

Aos futuros professores, alunos do curso de Licenciatura em Matemática da

UNIAN-SP, turma de 2012, por terem sido tão gentis ao colaborarem no

desenvolvimento dessa pesquisa.

Óðinn, deus da sabedoria, guardião dos mistérios das runas. Sem o seu

toque eu nada saberia. Agradeço-te por não ter me desamparado durante todo

este processo e por não permitir que eu fosse envergonhada diante dos homens.

A ti pertence todo o conhecimento nos nove mundos.

Hail Alfather!

SUMARIO APRESENTAÇÃO 13 CAPÍTULO 1: CONFIGURAÇÃO DA PESQUISA 16

1.1 Antecedentes e Motivações 16

1.2 Os processos de ensino e de aprendizagem da divisão entre frações: Problemática

20

1.3 Objetivos e questões de pesquisa 22

1.3.1 Nosso objeto de pesquisa: o futuro professor de matemática

22

1.4 O percurso da investigação

24

CAPÍTULO 2: AS PESQUISAS SOBRE O TEMA E O CURRÍCULO PROPOSTO

25

2.1 Sobre os conhecimentos necessários ao ensino 25

2.1.1 Conhecimento profissional docente na perspectiva de Shulman

25

2.1.2 Conhecimento profissional docente na perspectiva de Ball e colegas

2.2 Conhecimentos necessários para o ensino da divisão entre frações: o que dizem as pesquisas

31

2.3 Indicação do currículo oficial: contribuições para análise do conhecimento curricular

42

CAPÍTULO 3: A INVESTIGAÇÃO 49

3.1 Procedimentos Metodológicos 49

3.2 Caracterização dos sujeitos 50

3.3 Atividades desenvolvidas durante a intervenção

51

CAPÍTULO 4: DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA E ANÁLISE DOS DADOS

56

4.1 Conhecimentos Prévios dos Futuros Professores

56

4.2 Intervenção

62

4.2.1 Atividade 3: Modelo de Medida 62

4.2.2 Atividade 4: Problema 2 e 3 83

4.3 O Currículo Oficial do Estado de São Paulo 96

4.3.1 Discussão do Problema: Atividade 5 97

4.4 Atividade 6: A divisão como operação inversa da multiplicação 102

4.5 Análise e Reelaboração dos problemas.

108

CONSIDERAÇÕES FINAIS

119

REFERÊNCIAS

126

ANEXOS I. Termo de consentimento livre e esclarecido

II. Termo de compromisso

12

APÊNDICES

I. Questionário

II. Atividade 1

III. Atividade 2

IV. Atividade 3

V. Atividade 4, problema 1

VI. Atividade 4, problema 2 e 3

VII. Atividade 5

VIII. Atividade 6

130

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Esquema de comparação dos níveis de conhecimentos

segundo Shulman (1986) às categorias de conhecimentos de acordo

com Ball et al (2008).

28

Figura 2. Multiplicação entre frações 44

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1. Comparação entre os modelos de divisão segundo Ma

(1999) e os significados de divisão de acordo com Pinto e Monteiro

(2008)

33

Quadro 2. Resolução da atividade 2

57

Quadro 3. Classificação dos erros evidenciados na atividade de

elaboração dos problemas

59

RESUMO

O presente estudo tem por objetivo investigar os conhecimentos profissionais de futuros professores de matemática, no que tange aos significados da divisão, em especial, a divisão entre frações. Essa pesquisa está baseada nos níveis de conhecimento de Shulman, nas categorias de conhecimento de Ball, Thames e Phelps, nos modelos de divisão de Ma e nos significados da divisão de Pinto e Monteiro. A pesquisa foi realizada com 11 alunos do curso de graduação, licenciatura em matemática de uma universidade particular da cidade de São Paulo entre os anos de 2012 e 2013. A investigação foi desenvolvida em três etapas. Na primeira etapa, foi feito um levantamento bibliográfico sobre o que as pesquisas existentes falavam sobre o tema. A segunda etapa consistiu na elaboração de uma intervenção que seria realizada junto à referida turma de licenciatura. A terceira etapa foi a realização da intervenção com a turma de licenciatura. Durante a pesquisa, aplicou-se uma série de 6 atividades que tratavam da divisão entre frações, por meio de situações problemas que traziam os significados da divisão propostos por Pinto e Monteiro. A análise dos dados foi feita qualitativamente. Os resultados mostraram, inicialmente, uma pontual carência no conhecimento dos futuros professores, ao se depararem com questões que exigiam certo grau de interpretação para se obter a resposta correta e a (re)construção dos conhecimentos necessários ao ensino, especialmente, o especializado e pedagógico do conteúdo

Palavras-chaves: modelos de divisão, significados da divisão, divisão entre frações, educação matemática.

ABSTRACT

The present study has the objective to investigate the professional knowledge of future mathematics teachers, with respect to the meanings of the division, in particular the division between fractions. This research is based on the knowledge levels of Shulman , the knowledge categories of Ball, Thames e Phelps, in the division models of Ma and the division meanings of Pinto and Monteiro. The research was conduced with 11 second year of teaching degree students, from a private university in São Paulo city between the years 2012 and 2013. The investigation was developed in three stages. In the first stage, we made a bibliographic investigation into the existing research about the spoke subject. The second stage consisted of developing an intervention to be conduced on second year of teaching degree students. The third stage was the completion of the intervention with the class degree. During the research, we applied a series of 6 activities that addressed the division between fractions, using problem situations that brought the division meanings proposed by Pinto and Monteiro. The data analysis was done qualitatively. The results showed a specific deficiency in the knowledge of future teachers, when they were faced with issues that required some degree of interpretation to give the correct answer and the (re) construction of knowledge needed for teaching, mainly the specialized and pedagogical content.

Key-words: division models, division meanings, division between fractions, mathematic education.

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APRESENTAÇÃO

O presente estudo insere-se na linha de pesquisa “Formação de Professores que

Ensinam Matemática” do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da

Universidade Anhanguera de São Paulo (UNIAN- SP).

Este trabalho é resultado de uma pesquisa de caráter qualitativo no qual

investigamos os conhecimentos de futuros professores de matemática do Estado de

São Paulo acerca do ensino da divisão entre frações. Nosso objetivo principal é

identificar quais são os conhecimentos necessários ao futuro professor de matemática

para que este venha a ensinar o conceito de divisão de forma significativa, algo que

está além do ensino de procedimentos dos algoritmos da divisão.

A pesquisa contou com a participação de um grupo de estudantes do segundo

ano de Licenciatura em Matemática de uma universidade particular da cidade de São

Paulo, por dois semestres. Durante a investigação foram feitas três sessões de

intervenções junto a esta turma, nas quais os futuros professores resolveram algumas

tarefas envolvendo divisão entre frações. Além dessas tarefas, os estudantes

participaram de discussões que abordavam os significados da divisão, a saber, a

divisão como medida, a divisão como partilha equitativa e a divisão como operação

inversa da multiplicação. Analisamos as respostas dos licenciandos, assim como as

questões discutidas e suas reflexões durante todo o processo.

Para desenvolver esta pesquisa, nos orientamos pela questão central que

apresentamos a seguir:

Quais são os conhecimentos profissionais de estudantes de um curso de

Licenciatura em Matemática evidenciados durante a participação de uma

intervenção que lhes sejam garantidos espaços para estudar os três

significados da divisão entre frações?

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Para responder a esta questão de pesquisa, nos organizamos em três etapas:

1. Realização de uma pesquisa documental:

2. Elaboração da intervenção junto à referida turma de Licenciatura em Matemática,

em três encontros.

3. Análise dos dados obtidos durante a intervenção.

Coletamos os dados para este estudo por meio dos seguintes instrumentos:

1. Questionários;

2. Registros de observações colhidas durante as sessões de formação;

3. Registros feitos pelos licenciados.

Para a fundamentação teórica, fizemos uso dos estudos que tratam dos níveis de

conhecimento estipulados por Shulman (1986) e Ball (1990, 2008), além dos

significados da divisão sugeridos por Ma (1999) e Pinto e Monteiro (2008).

Apresentamos este estudo em cinco capítulos conforme descritos abaixo:

No primeiro capítulo tratamos dos motivos que nos levaram a investigar o

conhecimento de futuros professores de matemática sobre o ensino da divisão entre

frações. Mostramos a relevância do estudo tanto do ponto de vista pessoal como

teórico. Discutimos sobre as frustrações pessoais que um professor pode sofrer ao se

sentir incapaz de responder determinados questionamentos feitos por seus alunos e

sobre a importância de se ter o domínio do conhecimento do conteúdo e seus

significados. Apresentamos brevemente nossas escolhas tanto a respeito da

metodologia da pesquisa como dos teóricos que utilizamos na análise dos dados.

Indicamos ainda o objetivo principal para o desenvolvimento desta pesquisa que é

reconhecer quais são os saberes fundamentais necessários ao professor de

matemática.

No Capítulo 2, apresentamos uma descrição de algumas pesquisas existentes

sobre o tema escolhido. Nossa intenção foi ampliar a justificativa e discutir a teoria que

utilizamos neste estudo. Nesse capítulo apresentamos também resultados de

15

pesquisas que apontam o fato de que o sucesso no processo de aprendizagem

depende diretamente do repertório de conhecimentos do professor. No que tange ao

enfoque matemático, nos concentramos na divisão entre frações, pois segundo

estudos publicados, tradicionalmente no Brasil assim como em outros países (China,

Portugal e EUA), o ensino da divisão entre frações mantém o foco no ensino do

algoritmo “inverte e multiplica”, e se faz necessário ampliar o conhecimento de futuros

professores sobre esta temática. Por essa razão, achamos por bem desenvolver este

estudo visando investigar as causas e os efeitos produzidos no processo de

aprendizagem ocorrido em consequência de um ensino limitado a esse procedimento.

Na sequencia, ainda no segundo capítulo, fazemos um relato acerca do que

dizem as pesquisas sobre este assunto. A divisão entre frações é um tema

investigado em pesquisas voltadas para a educação matemática, e esses estudos nos

mostram que autores como Neves (2008), Ma (2009), Pinto e Monteiro (2008), Oliveira

Filho (2011) e Ponte (1998) concordam que "alunos e professores apresentam

dificuldades conceituais", pois "há uma evidente fragilidade no conhecimento

profissional docente" e que "os professores precisam ter um conhecimento profundo

acerca dos conteúdos ensinados".

No Capítulo 3, nos dedicamos à descrição das atividades realizadas durante os

encontros com a turma de licenciatura. Já os principais resultados da pesquisa são

descritos no capítulo 4, no qual as análises dos dados coletados foram realizadas

considerando a fundamentação teórica escolhida.

Para finalizar esta pesquisa, apresentamos nossas Considerações Finais

contendo nossas reflexões sobre os dados analisados, respostas relativas à nossa

questão de pesquisa e indicação de pesquisas que poderão ser realizadas

posteriormente. Dessa forma, diante dessas considerações, esperamos contribuir para

com pesquisas acadêmicas voltadas para essa temática de estudo.

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CAPÍTULO 1: CONFIGURAÇÃO DA PESQUISA

Neste primeiro capítulo realizamos um relato pessoal sobre os motivos que nos

levaram a desenvolver este trabalho e, em seguida, apresentamos o que dizem as

pesquisas acerca da divisão entre frações. Apresentamos ainda nosso objetivo e

questões de pesquisa e descrevemos o nosso percurso de investigação.

1.1 Antecedentes e motivações1

Sou professora da rede de ensino público do Estado de São Paulo desde maio de

2002. Iniciei minha carreira no magistério trabalhando como professora substituta,

quando procurei uma escola para efetuar meu estágio. Naquela época estava cursando

o último ano de Licenciatura em Matemática numa universidade particular na cidade de

Santo André, em São Paulo. Por coincidência, o diretor da escola havia sido meu

professor no ensino médio e acabou por me convidar para compor o quadro de

professores eventuais daquela escola, pois a falta de professores em sala de aula já

era algo bastante comum naquela época. Pois bem, no auge dos meus 22 anos de

idade, estava eu assumindo minha primeira aula de Matemática, no posto de

professora, numa turma de 8ª série, hoje conhecida por 9º ano. O professor titular da

turma havia se afastado por um problema de saúde e o tema que estava sendo

trabalhado era o Teorema de Tales. Para minha surpresa, um assunto com o qual eu,

uma futura professora de matemática, prestes a obter a licenciatura, nunca havia tido

contanto anteriormente, nem no ensino médio, nem na graduação. Tive que me

preparar para entrar na sala de aula, estudando o assunto com algumas poucas horas

de antecedência. Então, fiz o que pude. Mas a insegurança em estar ali, diante daquela

turma era algo inevitável. Primeiramente, por ser minha primeira vez em sala de aula, e

para agravar minha situação, precisava ensinar um conteúdo, do qual eu não tinha

conhecimento.

1 Esta subseção é apresentada na primeira pessoa do singular por tratar-se de experiências pessoais da pesquisadora.

O restante do trabalho será escrito na primeira pessoa do plural, por acreditarmos que esta investigação é fruto dos

nossos estudos, das contribuições da orientadora, banca além dentre outros.

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Lembro-me dessa situação com desgosto, pois certamente aquele conteúdo não

foi ensinado de forma plena para aquela turma de 8ª série. Por fim, o professor titular

retornou e, quero acreditar, aqueles alunos não concluíram o ensino fundamental sem

aprenderem o Teorema de Tales, tal como aconteceu comigo.

Tendo superado essa dificuldade, ao longo dos meses que permaneci naquela

unidade escolar, fui compreendendo quão grande era a minha necessidade de

aprimorar meus conhecimentos sobre os conteúdos matemáticos ensinados na escola

regular.

Os dias foram se passando. Como aluna do último ano da graduação, aquele foi

um período em que eu estava muito envolvida com o assunto do meu trabalho de

conclusão de curso. O tema que estava estudando era o ensino da Matemática para

alunos surdos. Eu estava numa escola que recebia alunos com necessidades

educacionais especiais, e dentre aqueles alunos, havia dois com deficiência auditiva.

Grata surpresa tê-los conhecido durante o desenvolvimento do meu trabalho. Durante

os momentos de intervalo entre uma aula e outra, aproveitava para registrar aquela

experiência com os alunos surdos e isso me ajudou bastante. Acredito que meu desejo

por compreender as necessidades de aprendizado dos alunos nasceu naquele período

em que estive naquela escola, ainda como estudante de graduação.

No ano de 2003, continuei trabalhando como professora eventual em outras

unidades escolares da rede pública de São Paulo, na cidade de Mauá. Quanto mais

tempo eu passava em sala de aula, maiores eram as lacunas que eu encontrava nos

meus conhecimentos necessários para lecionar. Tendo já concluído minha graduação,

aos poucos fui compreendendo que o quê eu havia estudado durante o curso tinha

pouca conexão com o que eu precisava ensinar para os meus alunos. Continuar

estudando era necessário. E assim eu fiz.

Naquele ano, frequentei várias oficinas e mini cursos oferecidos pelo Centro de

Aperfeiçoamento ao Ensino de Matemática (CAEM) do Instituto de Matemática e

Estatística (IME) da Universidade de São Paulo (USP).

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No final de 2003, a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, promoveu um

concurso para efetivação de professores da rede pública, no qual fui aprovada. Passei

o ano de 2004 aguardando a convocação para assumir o posto de professora efetiva da

rede estadual e, durante o período de espera, continuei frequentando os cursos

oferecidos pelo CAEM.

Finalmente, em janeiro de 2005 fui convocada e tive minha contratação efetivada

pelo Estado. Pela primeira vez, seria eu a professora titular das turmas de Matemática

com as quais já estava acostumada a trabalhar como professora eventual.

Escolhi assumir meu cargo na mesma escola que já trabalhava desde 2003.

Escola a qual cursei todo o ensino fundamental durante a infância, localizada no bairro

onde nasci, em meio a comunidade que me viu crescer. Era meu quarto ano como

professora. Desde a faculdade, algumas coisas já haviam mudado na minha concepção

de magistério. Já não era tão ignorante quanto aos conteúdos que deveria ensinar e,

nessa época, sentia certa segurança em lidar com os adolescentes. Estar em sala de

aula, era algo confortante para mim.

Pois bem. Com a reforma do Currículo Estadual de 2008, eis que surgiram novos

desafios. Um curso que apresentava um material a ser desenvolvido na sala, com

conteúdo, muitas vezes, apresentado de forma diferente da que eu estava acontumada.

Tudo novo. Aquilo que eu sabia, precisava se adequar à nova realidade do ensino da

Matemática. Uma nova batalha se travou dentro da minha mente. Horas de estudos e

pesquisas, buscando compreender a nova proposta de ensino. Eu precisava superar

essa dificuldade, pois aquele era meu trabalho. Era hora de voltar para sala de aula

como aluna, em busca de compreensão dos pressupostos que envolviam as novas

metodologias indicadas.

Em 2009, me matriculei num curso de Especialização em Educação Matemática

na mesma Universidade particular da cidade de Santo André, aonde havia cursado a

graduação. A constante troca de experiência profissional durante o curso e todas as

metodologias de ensino sugeridas na grade curricular, me forneceram subsídios para a

compreensão do atual Currículo de Matemática. Mas sentia que ainda não era o

suficiente.

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Novamente, estava eu diante de temas por mim desconhecidos. Dessa vez, meu

trabalho de conclusão da especialização tratava sobre as Dízimas Periódicas, em

especial, as dízimas cíclicas que apesar de serem consideradas uma curiosidade por

um grande geômetra do qual tive a honra de ser aluna, era um assunto que me

fascinava.

Ao concluir esse curso, uma das professoras me convidou para participar do

processo seletivo do programa de Mestrado da Universidade Anhanguera na cidade de

São Paulo. Minha primeira reação foi de espanto e recusa, pois sempre vi o curso de

Mestrado como algo inalcançável para mim. Eu tinha consciência das exigências que

um curso deste nível requer e tinha medo inclusive de participar do processo seletivo.

Aquela professora, tão querida, de forma carinhosa acabou por me convencer de que

eu era capaz e que ela me ajudaria no que fosse possível. Assim sendo, fiz minha

inscrição e para minha surpresa, fui aceita para o programa de Mestrado da UNIAN, no

início de 2012.

Quando iniciei neste programa, não fazia ideia sobre o que iria estudar, mas me

inclinava a pesquisar sobre o ensino dos números racionais. Ao longo do tempo em que

estive lecionando, ficou claro para mim que, dentre todos os conjuntos numéricos, os

números racionais em sua representação fracionária era um dos temas com mais

dificuldade de compreensão por parte dos alunos. Mas, para qual área do ensino das

frações eu iria me direcionar?

Com a ajuda da minha orientadora, decidimos pelo tema ensino da divisão entre

frações. Assim, com base em minha experiência como aluna de graduação e como

professora de Matemática, resolvemos investigar os conhecimentos profissionais de

futuros professores de Matemática sobre os significados da divisão, tendo como objeto

principal o ensino da divisão entre frações.

20

1.2 Os processos de ensino e de aprendizagem da divisão entre frações:

problemática

No que se refere às dificuldades apresentadas por alunos e professores com

relação à divisão entre frações, observamos em uma revisão bibliográfica inicial a

existência de diversos estudos no âmbito da Educação Matemática.

Neves (2008), por exemplo, ao fazer a revisão bibliográfica para sua tese de

doutorado cujo tema central era a divisão e os números racionais, após analisar

quarenta e dois estudos nacionais e internacionais publicados no período de 1999 a

2006 observou que “alunos e professores apresentam dificuldades conceituais”

(NEVES, 2008, p.vi). A autora complementa que tal fato potencializa a redução da

capacidade de compreensão do aluno uma vez que os estudos:

(...) sugerem que o ensino desses conteúdos tem priorizado o uso de regras em detrimento da elaboração conceitual, não ampliando a compreensão dos sistemas numéricos e das interações entre as operações e engendrando rupturas conceituais entre os números naturais e os racionais. (NEVES, 2008, p.vi).

Ao confrontar professores americanos num estudo comparativo sobre o

conhecimento profissional entre professores chineses e americanos a respeito da

divisão envolvendo frações, Liping Ma (2009) verificou que 57% dos entrevistados não

conseguiram apresentar a resposta correta da divisão de 2

1

4

31 . “Dos 23 professores

americanos, 21 tentaram calcular 2

1

4

31 , mas apenas nove (43%) completaram seus

cálculos e obtiveram a resposta correta.” (MA, 2009, p.114). Esse resultado nos

instigou a questionar sobre qual seria o resultado de uma investigação semelhante a

essa no Brasil, sobretudo, entre futuros professores, foco de nossa pesquisa.

Além disso, em um levantamento bibliográfico preliminar, tomamos conhecimento

do trabalho das pesquisadoras Hélia Pinto e Cecília Monteiro (2008). As autoras, de

forma análoga a Ma (2009), levantaram um estudo sobre os três significados da

divisão (a divisão como medida, como partilha equitativa e como operação inversa da

21

multiplicação). Esse estudo, de natureza teórica, nos ajudou na compreensão dos

significados também explorados por Ma (2009). Para mostrar a relevância do estudo,

Pinto e Monteiro (2008) chamam a atenção para o fato de que em Portugal as

dificuldades na compreensão deste tópico por parte dos alunos têm origem na prática

docente. Segundo as pesquisadoras:

(...) ainda persiste a ideia de que ensinar a divisão é ensinar a realizar o algoritmo da divisão em vez de desenvolver o conceito (...). Para que os alunos possam compreender de forma significativa a divisão de números racionais, os professores precisam ter um conhecimento profundo acerca desta operação e das conexões que tem com outras operações de modo a que selecionem problemas e projetem tarefas adequadas. (PINTO e MONTEIRO, 2008, p.201).

Ainda tratando do mesmo assunto, no Brasil, o pesquisador Dario Vieira de

Oliveira Filho (2011), constatou que “há uma evidente fragilidade no conhecimento

profissional docente” no que concerne ao ensino das operações envolvendo frações:

Fica explícita a necessidade de rediscutir as formas de se tratar a temática fração nos cursos de formação inicial e continuada de professores. A partir dos depoimentos dos docentes envolvidos nesta pesquisa, foi possível identificar a influência das dificuldades relativas ao conhecimento matemático na prática docente. (OLIVEIRA FILHO, 2011, p.150).

Entende-se desta forma, que a maneira como o professor venha a abordar o

ensino da divisão entre os números racionais pode interferir diretamente na

compreensão dos alunos, haja vista que outras pesquisas apontam que as

concepções do professor influenciam diretamente na qualidade do aprendizado. João

Pedro da Ponte (1998), por exemplo, estabelece uma relação intrínseca entre o

conhecimento do professor e os processos de ensino e de aprendizagem. O autor

afirma que:

Na verdade, um professor, para exercer adequadamente a sua actividade profissional, tem (a) de ter bons conhecimentos e uma boa

22

relação com a Matemática, (b) de conhecer em profundidade o currículo e ser capaz de o recriar de acordo com a sua situação de trabalho, (c) de conhecer o aluno e a aprendizagem, (d) dominar os processos de instrução, os diversos métodos e técnicas, relacionando-os com os objectivos e conteúdos curriculares, (e) conhecer bem o seu contexto de trabalho, nomeadamente a escola e o sistema educativo e (f) conhecer-se a si mesmo como profissional. (PONTE,1998, p.4)

Diante dessas primeiras constatações, acreditamos que a compreensão dos

alunos sobre os significados da divisão depende do conhecimento do professor. De

acordo com as pesquisas mencionadas, existe uma pontual carência do conhecimento

dos professores sobre este assunto em diversos países. Dessa forma, consideramos

ser relevante investigar a influência das abordagens dos diferentes significados no

desenvolvimento profissional docente de um curso de formação inicial.

1.3 Objetivos e questões de pesquisa

1.3.1 Nosso objeto de pesquisa: o futuro professor de matemática.

Esta pesquisa tem como objeto matemático a divisão entre frações e como

sujeito principal estudantes de um curso de Licenciatura em Matemática de uma

universidade particular localizada na cidade de São Paulo, (futuros professores de

matemática que, possivelmente, virão a exercer sua função nesse mesmo Estado).

Nosso estudo tem por finalidade analisar os procedimentos de reconstrução dos

conhecimentos profissionais de futuros professores que lecionarão Matemática para os

anos finais da educação básica sobre a utilização de diferentes significados para

ensinar o conceito de divisão de fração.

Para desenvolver nosso estudo pretendemos responder às seguintes questões:

Quais são os conhecimentos profissionais explicitados por estudantes de um

curso de Licenciatura em Matemática no qual lhes sejam garantidos espaços

para estudar os três significados da divisão com frações?

Esta questão pode ser respondida com o auxílio de outras perguntas:

23

Quais são as concepções que os futuros professores de Matemática têm em

relação aos processos de ensino e de aprendizagem do conceito de divisão entre

frações?

Quais são as reflexões explicitadas pelos futuros professores durante uma

sequência de aulas de um curso de Licenciatura em Matemática em que se

propõe a discussão de diferentes significados da divisão entre fração?

24

1.4 O percurso da investigação

Para o desenvolvimento desta pesquisa, iniciamos nossos estudos fazendo uma

análise bibliográfica em alguns trabalhos publicados que tratam de temas relacionados

ao ensino da divisão e seus significados, em especial, a divisão entre frações.

Com base nestes estudos, achamos por bem elaborarmos uma sequência de

atividades com o objetivo de investigar a reconstrução de conhecimentos de futuros

professores de Matemática acerca da divisão entre frações e seus significados. Sendo

assim, selecionamos e desenvolvemos algumas atividades que trataram do mesmo

assunto, afim de serem trabalhadas durante as aulas com os nossos sujeitos de

pesquisa.

A sequência foi desenvolvida em quatro aulas de três horas de duração, as quais

chamaremos de sessões.

Sessão 1: Foi aplicado um instrumento diagnóstico que investigava a capacidade dos

indivíduos em efetuarem o cálculo de 2

1

4

31 e elaborar quatro situações problemas

que ilustrassem essa divisão com situações cotidianas.

Sessão 2: Foram apresentadas aos futuros professores o significado da divisão como

medida, de acordo com Pinto e Monteiro (2008).

Sessão 3: Foram apresentadas aos futuros professores os significados da divisão

como partilha equitativa e como operação inversa da multiplicação (Pinto e Monteiro,

2008). Neste encontro também mostramos as semelhanças existentes esses

significados e os modelos de divisão de acordo com Ma (1999). Após este estudo,

solicitamos que os futuros professores analisassem e solucionassem um problema

envolvendo divisão entre frações, baseado numa atividade do Currículo oficial de

Matemática do Estado de São Paulo.

Sessão 4: Foi realizada um semestre após os primeiros encontros. Nessa sessão

retomamos a discussão sobre os significados da divisão e propusemos que os

indivíduos reformulassem os problemas por eles elaborados, com o objetivo de

investigar se eram capazes de reconhecer os erros cometidos inicialmente e corrigi-los

autonomamente.

25

CAPÍTULO 2: AS PESQUISAS SOBRE O TEMA E O CURRÍCULO

PROPOSTO

Para o desenvolvimento deste estudo, tomamos como base um quadro teórico

relacionado tanto à formação de professores quanto ao objeto matemático divisão entre

frações. Quanto ao primeiro enfoque procuramos, em particular, os que tratam do

conhecimento profissional docente e da reflexão sobre a prática. Para tanto, utilizamos

ideias divulgadas por Shulman (1986), e Ball, Thames & Phelps (2008). Quanto ao

segundo enfoque, nos referenciaremos nos estudos de Ball (1990), Ma (1999) e Pinto e

Monteiro (2008) sobre os diferentes significados da divisão com frações. Nos

apoiaremos também na Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud (1990).

2.1 Sobre os conhecimentos necessários ao ensino

Sobre essa temática, nossa investigação fundamentou a análise dos dados

especialmente nos estudos de Shulman (1986) e Ball et al (2008).

2.1.1 Conhecimento Profissional docente na perspectiva de Shulman

Nos EUA, Lee S. Shulman (1986) faz uma discussão sobre a importância em

manter o equilíbrio entre o conhecimento do conteúdo e o conhecimento pedagógico.

Ele afirma que no século XIX, a realização plena do trabalho pedagógico concentrava-

se no conhecimento do conteúdo. Para esse autor, em muitas pesquisas sobre ensino

existe uma lacuna quanto às questões centrais sobre o conteúdo das lições ensinadas

e que o tema principal nesses trabalhos são as metodologias de ensino utilizadas pelos

professores. Shulman considera esse ponto cego nas investigações desenvolvidas na

segunda metade do século XX como um paradigma perdido.

Lendo a literatura de pesquisas sobre o ensino, está claro que questões centrais não são feitas. A ênfase está sobre como os professores dirigem suas salas de aula, organizam atividades, administram o tempo e como estruturam as atribuições, como atribuem elogios e críticas,

26

como formulam os níveis de suas perguntas, como planejam suas aulas, e julgam a compreensão dos alunos em geral. Nós sentimos falta de questões sobre o conteúdo das lições ensinadas, as questões feitas, e as explanações oferecidas. (SHULMAN, 1986 p.10)

Em seu estudo, Shulman ainda apresenta os domínios e categorias de

conhecimentos que um professor deve ter em mente e qual a relação existente entre os

conhecimentos do conteúdo e os conhecimentos pedagógicos gerais. O autor faz uma

classificação dessas categorias de conhecimento da seguinte maneira:

Conhecimento do conteúdo específico: segundo o autor, é aquele que “se

refere à quantidade e organização do conhecimento em si, na mente do professor”.

Este tipo de conhecimento está relacionado diretamente aos conteúdos que o professor

deve ser capaz de ensinar de forma compreensível durante certo período de acordo

com a maturação dos seus alunos. Para Shulman:

Os professores devem não apenas ser capazes de definir para os estudantes as verdades aceitas em um domínio. Eles devem também ser capazes de explicar por que uma proposição particular é considerada justificada, porque vale a pena conhecer, e como se relaciona com outras proposições, tanto no âmbito da disciplina ou fora dela, tanto na teoria quanto na prática. (SHULMAN, 1986 p.13)

Nesse nível de conhecimento, espera-se que o professor tenha ao menos o

domínio mínimo do assunto, quando comparado ao conhecimento de uma pessoa leiga.

Ele deve compreender os fundamentos do tópico que está ensinando, sua estruturação

e seus significados. O professor também deve ser capaz de justificar a relevância dos

conteúdos abordados, a fim de classifica-los como centrais ou periféricos.

Conhecimento pedagógico do conteúdo: Este tipo de conhecimento abrange

outros significados além do anterior. De acordo com Shulman, ele diz respeito a temas

específicos do conteúdo que são importantes no processo de ensino: “suas formas

mais úteis na representação das ideias, as analogias mais poderosas, ilustrações,

27

exemplos, explanações e demonstrações... de forma a tornar o assunto compreensível

aos outros.” (SHULMAN, 1986, p.14)

O professor deve possuir um repertório particular que o ajude a atingir o

entendimento dos alunos acerca de determinada temática. O conhecimento pedagógico

do conteúdo também é útil para classificar os tópicos ensinados como fáceis ou difíceis.

Ele permite que o professor seja capaz de identificar as dificuldades dos alunos em

compreender esses conteúdos de forma a evitar que os alunos sejam vistos como

desprovidos de conhecimentos e suas mentes sejam vistas como um “quadro branco”

pronto a ser usado.

Conhecimento curricular: Nessa terceira categoria de conhecimento, Shulman

discute a importância do conhecimento curricular. Há uma investigação sobre as

concepções consideradas para a construção de um programa de ensino e como seus

temas devem ser distribuídos de acordo com os níveis de aprendizagem. O autor ainda

cria uma ilustração comparando os conteúdos a serem ensinados e o currículo com

medicamentos receitados por um médico, cujo objetivo é curar a enfermidade.

O currículo e os materiais associados são a matéria médica de pedagogia, a farmacopeia de que o professor chama a essas ferramentas de ensino que apresentam ou exemplificam o conteúdo particular e corrige ou avalia a adequação das realizações dos alunos. Esperamos que o médico maduro compreenda toda a gama de tratamentos para melhorar uma determinada doença... Do mesmo modo, devemos esperar que o professor maduro venha a possuir tais entendimentos sobre as alternativas disponíveis para o ensino curricular. (SHULMAN, 1986, p.15)

Para Shulman, conhecer os conteúdos relacionados à sua disciplina não é

suficiente para um professor. O professor também deve ter conhecimento acerca dos

temas trabalhados por outros professores simultaneamente, para que ele seja capaz de

relacionar o conteúdo que está trabalhando com os diversos assuntos estudados pelos

alunos em outras matérias.

28

2.1.2 Conhecimento Profissional docente na perspectiva de Ball e colegas

Considerando o trabalho realizado por Shulman, a pesquisadora americana

Debora Loewenberg Ball (1990) desenvolveu investigação que analisou o

conhecimento pedagógico e as concepções de futuros professores de ensino

fundamental e médio sobre o ensino da matemática, em especial, o ensino da divisão.

A autora abordou três aspectos da divisão: a divisão entre frações, a divisão por zero e

a divisão envolvendo equações algébricas. Durante o desenvolvimento da pesquisa,

foram tomados como relevantes a compreensão sobre o assunto, as ideias acerca do

ensino e da aprendizagem e o ponto de vista pessoal dos futuros professores sobre

qual é o papel do professor em sala de aula.

Essa investigação deu origem ao projeto de pesquisa que a autora vem

desenvolvendo ao longo dos últimos anos juntamente com outros pesquisadores, no

qual procuram investigar os conhecimentos necessários para o ensino da matemática

de professores americanos. Para representar suas hipóteses Ball et al (2008) propõe

um refinamento para categorias de Shulman. A Figura 1 mostra a correspondência

entre as categorias fundamentais de conhecimento estipuladas por Shulman (1986) e a

subdivisão conceitual dada por Ball.

Figura 1. Esquema de comparação dos níveis de conhecimentos segundo Shulman (1986) às categorias de conhecimentos de acordo de Ball et al (2008).

29

Fonte: BALL et al, 2008, p.5

Conhecimento do conteúdo comum (CCK): Segundo Ball et al (2008)

Conhecimento do conteúdo comum é o conhecimento que qualquer pessoa, professor

ou não, possui sobre um determinado conteúdo. Essa categoria abrange o

conhecimento do assunto e de suas estruturas organizacionais, necessário para nortear

o professor sobre o que é legítimo ensinar ou não. O professor deve ser capaz de:

... saber quando os estudantes têm respostas erradas, reconhecer quando o livro didático dá uma definição incorreta, e ser capaz de usar termos e notações corretamente quando fala e escreve na lousa. (BALL et al, 2008, p.6, tradução nossa 2)

Conhecimento do Conteúdo Especializado (SCK): Os autores afirmam que

essa categoria de conhecimento refere-se ao conhecimento estritamente matemático

necessário ao ensino. O professor deve ser capaz de avaliar os erros dos alunos a fim

de identificar a fonte deste erro rapidamente, e assim tomar providencias para sanar o

problema, orientando os alunos de forma eficiente e fluente.

Análises como essas são características do trabalho distintivo que o professor faz e elas requerem um tipo de raciocínio matemática que a maioria dos estudos não precisam fazer em uma base regular (BALL et al, 2008, p.7, tradução nossa3)

Conhecimento do Conteúdo e dos Estudantes (KCS): Ball et al (2008) define

essa categoria como o resultado da experiência do professor no magistério, ou seja,

sua experiência com os estudantes e com o conhecimento de seus pensamentos.

Neste caso, a experiência do professor auxilia no diagnóstico dos erros e suas

possíveis causas. Sem o conhecimento do conteúdo e dos estudantes é inútil ter o

conhecimento do conteúdo específico ao ensinar.

2...knowing when students have answers wrong, recognizing when the textbook gives an inaccurate

definition, and being able to use terms and notation correctly when speaking and writing at the board. (BALL et al, 2008, p.6) 3 Analysis such as this are characteristic of the distinctive work teachers do and they require a kind of mathematical reasoning that most adults do not need to do on a regular basis (BALL et aL, 2008, p.7).

30

É claro, considerações matemáticas deste tipo [referindo-se a avaliações de erros] só valem a pena se o professor souber o suficiente sobre estudantes e ensino para fazer uso disto, mas o ponto que nós queremos aqui é que o trabalho do professor constitui uma forma de resolver problemas matemáticos que vive dentro do trabalho de ensinar. (BALL et al, 2008, p.8, tradução nossa4)

Conhecimento do Conteúdo e do Ensino (KCT): O conhecimento do conteúdo

e do ensino é aquele que permite que o professor reconheça a sequência didática que

deve ser aplicada para que não haja lacunas no processo de ensino e de

aprendizagem. É um conhecimento que conecta a compreensão matemática específica

e a compreensão de assuntos pedagógicos que viabilizam a aprendizagem dos alunos.

Os professores precisam sequenciar um conteúdo particular para instrução, decidindo com qual exemplo começar e quais exemplos usar para levar os estudantes profundamente dentro do conteúdo. Eles precisam avaliar as vantagens instrucionais e desvantagens de representações usadas para ensinar uma ideia específica. (BALL et al, 2008, p.9, tradução feita por nós5)

Conhecimento curricular do conteúdo: De acordo com Ball et al (2008) o

conhecimento curricular do conteúdo é aquele que permite que o professor tenha

domínio sobre a gama de programas e assuntos designados para o ensino, de acordo

com cada nível de aprendizagem. O professor deve conhecer os materiais didáticos

que estão à sua disposição, além das indicações e contraindicações para uso do

currículo ou desses materiais de acordo com cada situação específica. (Shulman, 1986,

apud Ball et al, 2008 p.2)

A segunda categoria, [referindo-se aos níveis de conhecimentos de Shulman, 1986] conhecimento curricular, é representado pela ampla gama de programas designados para o ensino de assuntos e tópicos particulares em dado nível, a variedade de materiais instrucionais

4 Of course, mathematical consideration of this kind is worthwhile only if a teacher knows enough about students and teaching to make use of it, but the point we want to make here is that the work teachers do constitutes a form of mathematical problem solving that lives inside the work of teaching. (BALL et al, 2008, p.8) 5 Teachers need to sequence particular content for instruction, deciding which example to start with and

which examples to use to take students deeper into the content. They need to evaluate the instructional advantages and disadvantages of representations used to teach a specific idea.

31

disponíveis em relação àqueles programas. E o conjunto de características que atendem tanto as indicações e as contraindicações para o uso de determinado currículo ou materiais dos programas em circunstâncias específicas. (SHULMAN 1986b apud BALL et al, 2008, p.2, tradução nossa6).

2.2 Conhecimentos Necessários para o Ensino da Divisão entre Frações: o que

dizem as pesquisas

Para o tópico “divisão entre frações”, Ball (1990) utilizou como tema central a

elaboração de uma história que ilustrasse a divisão 2

1

4

31 . Os resultados obtidos pela

autora apontaram que grande parte dos pesquisados não foi capaz de criar uma

situação problema que atendesse a divisão sugerida, pois afirmavam que era

impossível conectar tal divisão com uma situação da vida real. Segundo Ball (1990),

alguns dos futuros professores tinham uma visão distorcida da matemática,

considerando que ela não possuía necessariamente total aplicação na vida prática e

lacunas nos conhecimentos necessários para o ensino.

As respostas dos candidatos a professores ao serem solicitados a

resolver e desenvolver uma representação para 2

1

4

31 sugeriram que

eles perceberam que a tarefa era sobre frações, não divisão. Quando perguntamos, por exemplo, o que criava esta dificuldade, a maioria

comentou que era difícil (ou impossível) relacionar 2

1

4

31 com a vida

real, porque, como um disse, "você não pensa em frações, você pensa mais em números inteiros". Não somente suas explicações revelavam que eles enquadravam o problema em termos de frações, mas também que muitos estavam desconfortáveis com frações como quantidades. Muitos comentaram que eles não gostavam de frações. (BALL, 1990, p.134, tradução nossa7).

6 The second category, curricular knowledge, is “represented by the full range of programs designed for the teaching of particular subjects and topics at a given level, the variety of instructional materials available in relation to those programs, and the set of characteristics that serve as both the indications and contraindications for the use of particular curriculum or program materials in particular circumstances” (Shulman, 1986b, p.10). 7 The teacher candidates' responses to being asked to solve and to develop a representation for

32

Um erro recorrente identificado por Ball foi a confusão criada pelos futuros

professores pesquisados ao desenvolver uma história ilustrando a divisão por dois, e

não por meio, como foi solicitado.

Dentre os dezenove candidatos a professores, apenas dois participantes puderam

identificar que a divisão por meio não correspondia à divisão por dois, ainda que não

tivessem a compreensão do significado da divisão por meio.

Dois participantes (fundamental e um médio) reconheceram o problema conceitual. Eles inicialmente propuseram histórias ou modelos que representavam a divisão por dois e, em seguida, percebi que eles estavam representando divisão pela metade [referindo-se à divisão por dois], não por meio. (BALL, 1990, p.136)

Além destes, alguns dos participantes não foram capazes de desenvolver sequer

um exemplo, correto ou incorreto.

A partir das concepções de Shulman e Ball, a pesquisadora chinesa Liping Ma

(1999) considerando o modelo sugerido por Ball na divisão 2

1

4

31 , desenvolveu um

estudo comparativo entre professores chineses e americanos acerca da compreensão

dos significados da divisão. Neste estudo, Ma destaca a importância do domínio dos

professores acerca dos três níveis de modelos relacionais, classificando-os como

modelo de divisão por agrupamento, modelo de divisão como repartição e modelo de

divisão como produto e fatores. Seguindo a mesma linha de pesquisa que Liping Ma, as

pesquisadoras portuguesas Hélia Pinto e Cecília Monteiro (2008) desenvolveram um

estudo baseando-se em três categorias de significados de divisão: a divisão como

medida, a divisão como partilha equitativa e a divisão como operação inversa da

multiplicação. O quadro, a seguir, nos dá um parâmetro de comparação entre os

1 ¾ ½ suggested that they perceived the task to be about fractions, not division. When asked, for

example, what made this difficult, most commented that it was hard (or impossible) to relate 1 ¾ ½ to

real life because, as one said, "you don't think in fractions, you think more in whole numbers.”. Not only

did their explanations reveal that they framed the problem in terms of fractions, but also that many were

uncomfortable with fractions as quantities. Several commented that they did not like fractions.

33

modelos de divisão de Ma (1999) e os significados da divisão de Pinto e Monteiro

(2008):

QUADRO 1: Comparação entre os modelos de divisão segundo Ma (1999) e os

significados da divisão de divisão segundo Pinto e Monteiro (2008)

MA (1999)

PINTO E MONTEIRO

(2008)

SIGNIFICADOS

AGRUPAMENTO DIVISÃO COMO

MEDIDA

Quantas vezes cabem o

divisor dentro do dividendo.

REPARTIÇÃO PARTILHA

EQUITATIVA

O divisor e o quociente são

da mesma natureza e o

quociente representa o valor

que cabe a cada um dos

elementos do divisor.

PRODUTO E FATORES OPERAÇÃO INVERSA

DA MULTIPLICAÇÃO

Há uma relação

multiplicativa entre três

medidas, onde multiplicando

um valor desconhecido pelo

divisor o resultado é o

dividendo.

De acordo com Ma, o modelo de agrupamento consiste em encontrar quantas

vezes o divisor cabe dentro do dividendo. Neste modelo deve-se considerar:

(...) quantas vezes um número é relativamente a outro número. Por exemplo, quantas vezes o número 10 é relativamente ao número 2? Dividimos 10 por 2 e obtemos 5. 10 é 5 vezes 2. É a isto que chamamos o modelo de agrupamento. (MA, 1999, p.139)

O modelo de repartição da divisão definido por Ma (1999) consiste em separar o

dividendo em tantas partes iguais quantas indicadas pelo divisor, e verificar quanto vale

essa parte. Neste modelo, o dividendo e o quociente são da mesma natureza e o

34

quociente representa o valor que cabe a cada um dos elementos do divisor. Para a

divisão utilizada como questão central da pesquisa: “(...) o modelo de repartição da

divisão entre frações – “encontrar um número tal que 2

1 dele seja

4

31 ”.” (MA, 1999,

p.140).

Ma (1999) define o modelo de produto e fatores como o ato de encontrar um fator

que multiplicado pelo divisor dê origem ao dividendo. Segundo a autora, neste modelo

há uma relação multiplicativa entre três medidas, no qual multiplicando um valor

desconhecido pelo divisor o resultado é o dividendo. Este é um modelo de divisão,

geralmente associado a situações problemas que envolvem cálculos de área de

quadriláteros ou circunferências relacionados a frações. “Se um lado de um retângulo

de 4

31 metros quadrados [de área] mede

2

1 metro, qual é o comprimento do outro

lado?” (MA, 1999, p. 138).

Para Pinto e Monteiro (2008), na divisão como medida, o divisor e dividendo são

da mesma natureza e o divisor pode ser entendido como a quantidade de vezes que ele

cabe no dividendo. Ou seja, toma-se o divisor como unidade de medida para se medir o

dividendo. Naturalmente são divisões que induzem os alunos a fazer agrupamentos dos

itens a serem divididos:

48 bolachas foram colocadas em caixas com 4 cada uma, quantas caixas são necessárias?” Pretende-se pois determinar o número de grupos, dando a dimensão de cada grupo [...] Numa fase mais avançada [os alunos] percebem que têm de procurar o fator escalar que lhes diz quantas vezes o divisor cabe no dividendo. (PINTO e MONTEIRO, 2008, p.203)

O segundo significado da divisão discutidos por Pinto e Monteiro (2008)

denomina-se divisão como partilha equitativa. Neste significado da divisão o dividendo

e o quociente são da mesma natureza. Nos problemas que envolvem este significado,

pretende-se determinar o tamanho do grupo que caberá a cada elemento do divisor.

Pinto e Monteiro (2008) sugerem que o uso de situações contextualizadas proporciona

35

melhor compreensão das situações apresentadas, o que gera certa clareza na

esquematização de algoritmos da divisão, propiciando resultados de forma significativa.

“São situações que pretendem determinar o tamanho de cada grupo, ou seja, o valor

que cabe a cada um dos elementos do divisor” (PINTO E MONTEIRO, 2008, p.208).

Por exemplo:

Neste caso, deve-se determinar o número de balas que cabe a cada garota.

Assim, 5315 . Logo, cada uma receberá 5 balas.

O terceiro significado de divisão discutido pelas autoras é o chamado divisão

como operação inversa da multiplicação. “Nesta categoria de situações, existe uma

relação multiplicativa entre três medidas sendo uma delas o produto de outras duas.”

(PINTO E MONTEIRO, 2008). Geralmente este significado vem atrelado a situações

problemas que envolvem divisão de áreas. Neste caso, temos o produto entre dois

fatores, sendo um deles um valor desconhecido a ser determinado: bxa , onde a e b

são valores conhecidos e x é uma incógnita, ou seja, abx .

Assim como em outros países, tradicionalmente no Brasil, o processo de divisão

envolvendo frações concentra-se no algoritmo conhecido como Inverter o divisor e

multiplicar. Não há problema algum no uso deste algoritmo. Porém a falta de

compreensão do processo de divisão quando ele é ensinado pode gerar lacunas

comprometendo todo o processo de aprendizagem da divisão entre frações. Muitas

vezes o algoritmo “inverter o divisor e multiplicar (IM)” é ensinado sem conexão com o

significado da operação. Os alunos realizam as tarefas seguindo o procedimento sem

alcançar a compreensão do por que da funcionalidade do algoritmo. Um dos erros

recorrentes entre crianças de 11 e 12 anos que estão aprendendo o processo de

divisão entre frações é inverter o dividendo, o que indica uma completa incompreensão

do que estão fazendo. É necessário que haja uma compreensão significativa deste

conceito, para que sua realização não seja uma mera manipulação de números (PINTO

e MONTEIRO, 2008).

Clara tem 15 balas e deseja distribuir igualmente entre 3 amigas. Quantas balas cada uma receberá?

36

Para Pinto e Monteiro (2008), é importante que se ofereça aos alunos a

oportunidade de vivenciarem experiências de divisão que envolvam o significado de

partilha equitativa, e que este estudo seja ampliado para outros estudos direcionados

aos significados da divisão como medida e a divisão como operação inversa da

multiplicação.

As autoras, assim como Ball (1990) e Ma (1999), apoiadas em Shulman (1986),

destacam a importância do conhecimento do conteúdo específico. Elas afirmam que o

sucesso do aprendizado significativo depende diretamente do conhecimento dos

professores quanto à conexão entre divisão e multiplicação com frações para que eles

possam criar tarefas que promovam reflexão sobre o efetivo significado da divisão. “É

fundamental que os professores possuam um conhecimento bastante aprofundado da

divisão, na sua relação com a multiplicação e das suas propriedades.” (PINTO e

MONTEIRO, 2008, p.218).

No que tange ao ensino das frações, este “tema tem sido apontado pelos

professores como um dos mais problemáticos na aprendizagem da matemática das

séries iniciais” (BERTONI, 2004). A autora afirma que tais dificuldades têm sido tão

acentuadas pelas avaliações externas, ao ponto de implicar na diminuição à ênfase do

ensino das frações neste segmento de ensino.

É o caso dos Parâmetros Curriculares Nacionais, cujas orientações vão no sentido de eliminar das séries iniciais as operações com números racionais na representação fracionária. A matriz de descritores da 4ª série do SAEB – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, MEC/INEP - também não inclui essas operações. (BERTONI, 2004, p.1).

Bertoni ainda destaca que não há uma preocupação em se preencher esta lacuna

do aprendizado nas propostas curriculares que seguem para as séries finais do ensino

fundamental.

Por outro lado, não se nota, de modo geral, nos livros e nas propostas curriculares de 5a a 8ª série, mudanças no sentido de uma introdução mais cuidadosa às frações e às operações entre elas, visando suprir essa lacuna deixada nas séries iniciais. Isso nos leva à constatação de

37

que o espaço para a aprendizagem desses números nas séries iniciais foi diminuído e não houve ganho de espaço nas séries finais. (BERTONI, 2004, p.1)

Além disso, concordamos com a autora quando em outro estudo ela afirma que o

ensino das frações deve ir além dos procedimentos utilizados em situações parte-todo e

na utilização de cálculos somente focados na memorização de algoritmos. Segundo

Bertoni (2009):

(...) É preciso encontrar caminhos para levar o aluno a identificar essas quantidades em seu contexto cotidiano e a apropriar-se da ideia do número fracionário correspondente, usando-os de modo significativo. (BERTONI, 2009, p.16)

Nesse mesmo estudo a autora discute também a divisão entre frações e assim

como Ball (1990) e Ma (1999), ela associa as situações às observadas nos números

naturais, ou seja, situações de partilha e medida. Seu estudo nos ajudou a

compreender melhor tais situações uma vez que em poucas palavras define cada um

dos dois modelos: “Na partilha, temos a divisão equitativa; na medida, temos a

formação de grupos ou porções de tamanho pré determinado” (ibidem, p. 99). Suas

colocações nos permitiram refletir sobre as possibilidades e limites da utilização das

diferentes situações uma vez que chama a atenção para o fato de que “divisão como

partilha nem sempre será possível com frações; mas a divisão como formação de

grupos de tamanho fixado (medida) será sempre aplicável” (ibidem).

Analisando em um contexto geral sobre a utilização desses números, Bertoni

(2004) afirma que a ausência das frações em nosso cotidiano deve-se ao fato de que o

uso contínuo dos números racionais em sua representação decimal está ligado a uma

questão sócio-cultural, uma vez que os números decimais têm uma forte presença no

nosso sistema monetário e no sistema de medidas. A aceitação por parte dos alunos

pelos números decimais é impulsionada pela analogia que há entre as operações com

números naturais e as operações com números decimais. Isso nos parece preocupante

uma vez que Behr et al (1983) considera que os números racionais se constituem numa

ideia de fundamental importância para a Matemática que acontece no contexto escolar.

Os autores chamam a atenção para o fato de que o desenvolvimento desse conceito

38

ocorre, sobretudo, no período de transição ao que Piaget indica como pensamento

concreto e operacional formal que ocorre justamente nos anos finais do Ensino

Fundamental.

Merlyn Behr e colegas (1983) justificam a importância do estudo dessa temática

afirmando que a compreensão do conceito de fração envolve três perspectivas: a

prática, a psicológica e a matemática. Na perspectiva prática, os autores consideram

que o estudo deste conceito amplia a habilidade de dividir, favorecendo, dessa forma, a

construção do conceito de proporcionalidade, compreensão e manipulação (modelagem

e resolução) de situações problema do mundo real. Sob o ponto de vista psicológico,

Behr et al (1983), como já afirmamos anteriormente, reconhecem que os números

racionais possibilitam que os alunos expandam e desenvolvam suas estruturas mentais.

Já na perspectiva matemática, esse estudo aponta que a compreensão desse conceito

é fundamental para levar o aluno a entender, posteriormente, as operações algébricas

elementares.

Apoiados também nos estudos de Behr et al (1983), Campos e Rodrigues (2007)

afirmam que existe uma relação intrínseca entre a compreensão do significado das

frações e as habilidades para se devolver divisões. Os autores afirmam que o estudo

das frações, pela perspectiva psicológica, proporciona aos alunos um rico

desenvolvimento em suas estruturas mentais, além de propiciar um crescimento

intelectual contínuo levando o aluno do campo concreto para o campo operatório

informal.

Nesse estudo, os autores verificaram que “um aspecto significativo da construção

do conceito de número racional, que permanece não apropriado por alunos até estágios

de escolarização posteriores ao seu ensino formal: a ideia de unidade” (CAMPOS e

RODRIGUES, 2007, p.68). Ainda, os autores identificaram como uma das possíveis

causas das dificuldades encontradas pelos alunos, a prática pedagógica dos

professores.

Essa constatação se confirma em outros estudos. Neves (2008), ao fazer a

revisão bibliográfica para sua tese de doutorado e analisar quarenta e dois estudos

nacionais e internacionais publicados no período de 1999 a 2006 observou que “alunos

e professores apresentam dificuldades conceituais” (NEVES, 2008, p.vi). A autora

39

complementa que tal fato potencializa a redução da capacidade de compreensão do

aluno, uma vez que os estudos:

... sugerem que o ensino desses conteúdos tem priorizado o uso de regras em detrimento da elaboração conceitual, não ampliando a compreensão dos sistemas numéricos e das interações entre as operações e engendrando rupturas conceituais entre os números naturais e os racionais. (NEVES, 2008, p.6)

Nesse sentido, também com base num estudo levantado com professores

inseridos no projeto intitulado “Observatório da Educação” financiado pela Coordenação

de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e pelo Instituto de Estudos

e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) na cidade de São Paulo, Brasil, o

pesquisador Dario Vieira de Oliveira Filho (2011), constatou que “há uma evidente

fragilidade no conhecimento profissional docente” no que concerne ao ensino das

operações envolvendo frações:

Fica explícita a necessidade de rediscutir as formas de se tratar a temática fração nos cursos de formação inicial e continuada de professores. A partir dos depoimentos dos docentes envolvidos nesta pesquisa, foi possível identificar a influência das dificuldades relativas ao conhecimento matemático na prática docente. (OLIVEIRA FILHO, 2011, p.150).

Analisando outros documentos que tratam do ensino da divisão com frações, as

pesquisadoras Garcia Silva, Duarte juntamente com Oliveira Filho (2012), constataram

que o ensino da divisão entre frações concentra-se, principalmente, no estudo do

procedimento, sem oferecer um entendimento conceitual. Os pesquisadores ainda

fizeram uma análise do Currículo Oficial do Estado de São Paulo, no que se refere ao

estudo das operações com frações. No Caderno do Professor (1º bimestre, 7º ano) há

uma orientação sugerindo que os professores introduzam o ensino da divisão entre

frações por meio de situações que envolvam a ideia de medida. O caderno ainda

orienta que os professores façam uma avaliação diagnóstica com os alunos a fim de

investigar seus conhecimentos sobre as frações no que tange à nomenclatura e a

representação parte-todo (São Paulo, 2009).

40

Nele ainda destaca-se a importância de se desenvolver habilidades que propiciem

aos alunos “reconhecer a diferença entre os números naturais, diretamente ligados à

ideia de contagem e ordenação, e os números fracionários relacionados aos processos

de medida” (SÃO PAULO, 2009, p.9, apud GARCIA SILVA et al).

Ainda relacionado aos processos de ensino e de aprendizagem apoiaremos este

estudo nas pesquisas de Gerard Vergnaud.

A Teoria dos Campos Conceituais foi desenvolvida pelo psicólogo francês Gérard

Vergnaud. Seus estudos fundamentaram-se nas teorias de Piaget e demonstraram

preocupar-se com a compreensão cognitiva do sujeito em ação. Segundo o autor trata-

se de:

... uma teoria cognitivista que visa fornecer um quadro coerente e alguns princípios de base para o estudo do desenvolvimento e da aprendizagem das competências complexas, nomeadamente daquelas que relevam as ciências e as técnicas (VERGNAUD, 1996, p.155).

A Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud analisa o desenvolvimento do

conhecimento, com foco específico no conteúdo. Vergnaud (2011) discute sobre a

relevância do seu estudo ao afirmar que existe uma relação do indivíduo com o

conhecimento, e que ela não é a mesma durante toda a vida. Segundo o autor “existe

uma variação muito grande [do conhecimento de crianças com idades] entre os 5 aos

13 anos e poucos pesquisadores se interessaram por estudar este aspecto (...)”

(VERGNAUD, 2011).

Dessa forma, segundo o autor a construção de um Campo Conceitual pelo aluno

se dá por meio da superação das dificuldades conceituais enfrentadas ao longo de um

período de tempo de estudo, por meio de experiências vivenciadas, aprendizagem e

maturidade.

Seus estudos indicam que o desenvolvimento cognitivo da criança depende de

conceitualizações e, nesse sentido, é sua essência. Para o autor Conceitualização é

definida como “a construção, percepção e relação dos objetos e propriedades que

estão no mundo”. (VERGNAUD, 2010). O autor considera que é por meio da percepção

que se identifica tais objetos e suas propriedades, além disso, também pode ser

resultado de uma construção.

41

Vergnaud (1996) considera o Conceito como um tripleto de três conjuntos, C (S, I,

R), na qual:

S é um conjunto de situações que dão sentido ao conceito (a referência);

I é um conjunto de invariantes sobre os quais repousa a operacionalidade dos

esquemas (o significado);

R é um conjunto de representações simbólicas que podem ser usadas para

repensar as situações e os procedimentos de tratamento (o significante).

Dessa forma, o autor considera que para compreender como se dá a construção

dos conceitos pelos estudantes é necessário que se analise as experiências

vivenciadas dentro ou fora da escola e afirma que é preciso levar em conta esses três

conjuntos ao mesmo tempo. Além disso, Vergnaud afirma não haver uma

correspondência biunívoca entre estes três conjuntos. Assim sendo, ele afirma que

nenhum deles pode ser excluído dessa relação.

Em nosso estudo trataremos, sobretudo, sobre as diferentes situações que

envolvem o conceito de divisão entre frações. Dessa forma, é necessário que

apresentemos o conceito de situação proposto pelo autor.

Na Teoria dos Campos Conceituais o autor afirma que o conceito de situação

pode envolver uma ou mais tarefas com diferentes graus de complexidade. Todavia,

considera também que a dificuldade presente na resolução de uma situação que

envolve várias tarefas não é a soma nem o produto das diferentes subtarefas

envolvidas, mas o desempenho em cada subtarefa que afeta o desempenho global

(VERGNAUD, 1990, p. 146).

Neste estudo consideraremos o termo “situação” tal como é empregado por

Vergnaud. Por fim, é importante destacar que, fundamentados no autor, procuramos

discutir com os futuros professores, durante o processo formativo, um conjunto de

situações que retratavam a ideia de divisão entre frações, seus invariantes e suas

representações.

42

2.3 Indicações do currículo oficial: contribuições para análise do conhecimento

curricular

No ano de 2008, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo iniciou a

implementação do atual currículo disciplinar destinado às escolas da rede pública de

ensino fundamental e médio. Seu principal objetivo era contribuir com o crescimento

dos níveis de aprendizado dos alunos, “propiciando a todos uma base comum de

conhecimento e de competências” (SÃO PAULO, 2008), formando uma única rede de

ensino em todo o estado. Para isso, contou com a ajuda de especialistas e professores

que atuavam em sala de aula.

Para a criação deste currículo, inicialmente, foi feito um levantamento dos

principais documentos pedagógicos existentes. Em seguida, deu-se início a uma série

de reuniões que contavam com a presença de professores, nas quais esses

profissionais puderam expor suas experiências para que desta forma, fossem ser

identificadas e sistematizadas as práticas já utilizadas nas escolas.

O currículo é composto por um documento básico denominado Currículo do

Estado de São Paulo – Matemática e suas Tecnologias, e um conjunto de três

documentos:

1. O Caderno do Gestor, cujo objetivo é apoiar os gestores escolares e

coordenadores pedagógicos, estimulando-os a fazer com que a implementação

deste currículo tivesse sucesso junto aos professores, e assim garantir que a

proposta pedagógica fosse cumprida. (SÃO PAULO, 2010, p.8)

2. Os Cadernos do Professor, no qual contém, especificamente, orientações para o

desenvolvimento do trabalho em sala de aula, tais como sugestões de

atividades, o tempo previsto para execução de cada tarefa e quais habilidades

devem ser trabalhadas em cada situação de aprendizagem para que os alunos

alcancem as competências esperadas. (SÃO PAULO, 2010, p.8)

3. Os Cadernos do Aluno, que assim como os cadernos do professor, contém 4

situações de aprendizagem, as quais pretende-se que os estudantes as

43

desenvolvam ao longo do bimestre de acordo com as orientações do professor.

(SÃO PAULO, 2010, p.8)

Os cadernos do aluno e do professor são separados em 4 volumes, os quais são

trabalhados nos 4 bimestres do ano letivo. Eles compõem, fundamentalmente, aquilo

que, segundo seus elaboradores, deve ser ensinado durante a série/ano corrente,

podendo ser enriquecido com outros materiais de apoio. Os conteúdos abordados no

currículo são as principais referências para o estabelecimento das matrizes do sistema

de avaliação do rendimento escolar do estado de São Paulo (SARESP). Tal avaliação é

aplicada aos alunos ao final de cada ciclo: 3º ano, 5º ano, 7º ano e 9º ano do Ensino

Fundamental e 3ª série do ensino Médio. Essas avaliações são usadas como diretrizes

para a criação dos programas de reforço e de recuperação continuada que são

oferecidos ao longo das séries subsequentes. Assim, espera-se que ao final de cada

curso (Ensino Fundamental e Médio) os alunos tenham desenvolvido as competências

essenciais na formação escolar.

No que tange ao ensino da divisão por frações, o currículo estadual de matemática

inicia este estudo no volume 1 do 7º ano (6ªsérie) na segunda situação de

aprendizagem dos Cadernos do Professor e do Aluno.

A divisão entre frações é apresentada logo após o estudo da multiplicação por

frações dentro da mesma situação de aprendizagem. Nesta situação de aprendizagem

é esperado que o aluno tenha compreensão não apenas das regras básicas de

multiplicação entre frações como também de seus significados. Para isso, faz-se uso de

uma representação geométrica, como veremos a seguir:

44

Calcular 4

3 de

5

4:

FIGURA 2 – Multiplicação de frações. Fonte: Currículo Oficial do Estado de São Paulo – 7ª série (8ºano)

– Caderno do Professor– Volume 1 – p.32.

Da mesma forma, no que diz respeito à divisão entre frações, a atividade

proposta, segundo as indicações contidas no material, também “favorece a utilização de

argumentos geométricos para compreensão do algoritmo [inverte e multiplica]” (SÃO

PAULO, 2008). Generalizando a ampliação da ideia de partilha, temos:

Os autores do caderno sugerem ao professor que se faça uma analogia com os

números inteiros, supondo que seja feita a divisão de duas latas de tinta inteiras para

pintar 6 paredes, o que nos diz que uma lata de tinta pintaria três paredes, pois

326 . Da mesma forma, pode-se chegar ao resultado do tamanho da área a ser

pintada considerando 4

3 de parede a ser pintado com

3

2 de tinta, ou seja,

3

2

4

3 .

Se com 3

2 de uma lata de tinta dá para pintar

4

3 de uma parede, que fração da

parede conseguirei pintar com uma lata de tinta?

45

A orientação inicial do caderno induz à aplicação do algoritmo “inverte e

multiplica”. Em seguida, menciona a ideia de frações equivalentes indicando que se

faça a multiplicação das frações por um mínimo múltiplo comum entre 4 e 3, no caso

12, o que nos leva, naturalmente, ao mesmo algoritmo inverte e multiplica.

8

9

24

33

34

24

34

33

3

2

4

3

3

24

3

Esse algoritmo é discutido por Pinto e Monteiro (2008), apoiadas em Sinicrope,

Mick e Kolb (2002) que exemplificam uma situação de divisão entre frações

algebricamente8, nomeada por eles de algoritmo do denominador comum.

bc

ad

bd

bc

bd

ad

d

c

b

a

Pinto e Monteiro (2008) justificam que este algoritmo, fundamentadas em Flores

(2002), pode ser utilizado:

Quando as partes são do mesmo tamanho, o resultado depende apenas do número de partes envolvidas e não do seu tamanho, por isso, para dividir fracções com o mesmo denominador, basta dividir os numeradores. (PINTO E MONTEIRO, 2008, p.204)

As autoras afirmam que, em Portugal, tal algoritmo “raramente é utilizado na sala

de aula do segundo ciclo” (Ibidem). Observamos que houve por parte dos autores

desse currículo a preocupação de chamar a atenção do professor para essa outra

forma de resolver a divisão entre frações. Entretanto, acreditamos que, para viabilizar a

reflexão do professor para uma possível aplicação deste segundo algoritmo seria

necessária uma ampliação das orientações contidas neste caderno. Nossa hipótese,

confirmada por Oliveira Filho (2011), ao investigar professores da rede de ensino

público de Estado de São Paulo sobre sua prática pedagógica, todos foram unânimes

8 Essa atividade foi utilizada na segunda sessão de nossa investigação na Atividade 3.3

46

em afirmar somente a utilização do algoritmo inverte e multiplica em suas aulas.

(OLIVEIRA FILHO, 2011, p.164).

Entre as orientações dadas aos professores, o caderno menciona que nesta tarefa

o principal objetivo é fazer com que os alunos fixem as regras práticas da divisão entre

frações [algoritmo inverte e multiplica], enfatizando no primeiro momento a importância

da aplicação em situações problemas, para que o desenvolvimento da regra prática

propicie ao aluno o ganho natural deste significado.

Essa situação de aprendizagem do currículo é finalizada com a indicação de

quatro situações problemas envolvendo a divisão entre frações.

A duas primeiras são semelhantes, tratando da divisão de fração por número

inteiro, envolvendo o conceito de partilha equitativa.

João colocou em uma jarra 4

3do conteúdo de uma garrafa de refrigerante. O

conteúdo da jarra foi repartido igualmente entre seis pessoas. Calcule a fração

do refrigerante que havia inicialmente na garrafa que coube a cada uma das seis

pessoas (SÃO PAULO, 2008, p.24)

Laura tem 4

13 de hora para terminar suas três tarefas de casa. Se ela dividir

igualmente o tempo entre as tarefas, quantas horas ela terá que dedicar a cada

uma? (SÃO PAULO, 2008, p.25)

47

O terceiro problema envolve o conceito de divisão como partilha de um número

decimal por uma fração.

A quarta e última situação problema retoma o conceito de divisão como partilha

equitativa, mas desta vez entre duas frações.

Como vimos, o primeiro problema trata da divisão entre uma fração e um número

natural. O segundo é a divisão entre um número natural e um número misto. O terceiro

problema trata da divisão entre um número racional na sua representação decimal e

uma fração, todos envolvendo partilha equitativa. Apenas o quarto problema apresenta

uma divisão entre frações. Efetivamente, temos apenas duas situações de

aprendizagem que apresentam a divisão entre frações (o problema introdutório e o

último acima descrito) em todo o currículo, o que nos parece insuficiente. Nesse

sentido, cabe ao professor complementar o trabalho. Todavia, consideramos que os

autores do documento deveriam chamar a atenção do professor nesse sentido.

Ao fazermos a análise das propostas contidas no currículo acerca das sugestões

de ensino dadas aos professores, sentimos que tais orientações não especificam

claramente a necessidade de desenvolver nos alunos a construção dos diferentes

significados da divisão por meio da apresentação de situações problemas diversificadas

até porque observamos que nem todos os significados foram abordados. Percebemos

que a quantidade de tarefas apresentadas não é suficiente para propiciar ao aluno a

Rita comprou chocolate a granel e pagou R$7,20 por 4

3 de “quilo”. Qual o preço

do “quilo” do chocolate que Rita comprou? (SÃO PAULO, 2008, p.25)

Podemos encher 8

7 do tanque A usando

3

2da água contida no tanque B.

Supondo-se o tanque A completamente vazio, que fração do tanque B seria

necessária para encher o tanque A? (SÃO PAULO, 2008, p.25)

48

fixação da regra prática e que o tempo destinado à execução dessas tarefas não é

suficiente para proporcionar a construção do conhecimento da divisão entre frações,

necessária aos alunos. Dessa forma, as evidências aqui apresentadas nos levam a

considerar que este seja um conteúdo abordado de maneira um tanto superficial pelo

currículo estadual.

49

CAPÍTULO 3: A INVESTIGAÇÃO

Neste capítulo apresentamos nossa metodologia de pesquisa, a caracterização

dos sujeitos envolvidos e os instrumentos de investigação utilizados durante o

desenvolvimento do estudo. Nossa investigação foi realizada contando com a

colaboração de um grupo de estudantes do quarto semestre do curso de graduação

em Matemática de uma universidade particular da cidade de São Paulo.

3.1 Procedimentos Metodológicos

Para atingir os objetivos durante a execução desta pesquisa, utilizamos uma

abordagem qualitativa apresentando características apontadas por Bogdan e Biklen

(1994):

1. “Na investigação qualitativa a fonte direta de dados é o ambiente

natural, constituindo o investigador o instrumento principal”.

2. “A investigação qualitativa é descritiva”.

3. “Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do

que simplesmente pelos resultados ou produtos”.

4. “Os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de

forma indutiva”;

5. “O significado é de importância vital na abordagem qualitativa.

(BOGDAN E BIKLEN,1994, p. 47-50).

Nesta pesquisa estivemos em contato direto com os sujeitos investigados durante

o desenvolvimento das atividades, o que nos deu a oportunidade de presenciar as

reflexões e as discussões feitas por eles. Coletamos os registros escritos da realização

das tarefas e fizemos a gravação do áudio de boa parte de suas falas. Isso nos permitiu

analisar o processo de criação da investigação. Para a análise dos dados, as

informações foram coletadas e inter-relacionadas e consideramos, assim como os

autores, o processo de análise “como um funil: as coisas estão abertas de início e vão

50

se tornando mais fechadas e específicas no extremo”. (BOGDAN E BIKLEN,1994,

p.50). Procuramos ainda nos preocupar em apreender as diferentes perspectivas dos

nossos sujeitos de forma fidedigna.

Para desenvolver esse estudo, realizamos inicialmente uma pesquisa bibliográfica

que nos orientou no processo de criação das atividades a serem realizadas durante as

sessões de intervenção. Tal intervenção foi realizada, quase que totalmente, durante as

aulas da disciplina Prática de Ensino e divididas em quatro sessões:

Sessão 1: Aplicação de um questionário de caráter diagnóstico.

Sessão 2: Apresentação e discussão do modelo de divisão como medida.

Sessão 3: Apresentação dos modelos de divisão como partilha equitativa e como

operação inversa da multiplicação, além da análise de uma atividade do Currículo

oficial de Matemática do Estado de São Paulo.

Sessão 4: Reformulação dos problemas elaborados na primeira sessão um semestre

após os primeiros encontros.

3.2 Caracterização dos sujeitos

Contamos com a participação de 11 sujeitos para a realização deste estudo.

Listaremos a seguir algumas características do grupo:

Sua idade média era entre 25 e 35 anos, dentre os quais havia 3 mulheres e

8 homens.

Todos os sujeitos frequentaram escola pública, e 3 deles foram alunos do

programa de Ensino para Jovens e Adultos (EJA) da Secretaria de Educação do

Estado de São Paulo.

Três eram professores da rede pública, sendo dois professores dos anos

finais e uma professora dos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Para preservar a identidade dos sujeitos deste estudo, usaremos letras

maiúsculas do alfabeto para nomeá-los. Portanto, os chamaremos de Futuros

Professores A, B, C, D, E, F, G, H, I, J e K quando estivermos nos referindo a eles.

51

3.3 Atividades desenvolvidas durante a intervenção

Iniciamos a pesquisa com uma atividade baseada no estudo desenvolvido por

Ball (1990) que analisou os conhecimentos de professores acerca de divisão no

universo dos números reais. Assim como a autora, no tocante à divisão entre frações

também sugerimos que nossos sujeitos efetuassem a divisão de 4

31 por

2

1 fazendo

uso do algoritmo de sua escolha.

Essa tarefa foi inspirada em Ball (1990) na qual procuramos analisar o

Conhecimento Comum do Conteúdo (CCK) (BALL et al, 2008). Nesse sentido,

buscamos investigar um conhecimento que é considerado como básico a qualquer

pessoa que estudou matemática, independentemente, de ser professor ou não. Assim

sendo, pedimos que os sujeitos desse estudo efetuassem a mesma divisão indicada

pela autora.

Atividade 1: Efetuar a divisão 2

1

4

31 .

Posterior ao trabalho de Ball (1990), Ma (1999) fez uso da mesma divisão e,

depois de analisar a resolução solicitou a elaboração de uma situação problema que

ilustrasse a divisão 2

1

4

31 . Em seguida, Ma (1999) elaborou um estudo comparativo

entre professores chineses e americanos sobre os conhecimentos explicitados acerca

da divisão entre frações pelos dois grupos de professores.

52

Da mesma forma que esse estudo, sugerimos aos estudantes de licenciatura que

elaborassem quatro problemas que direcionasse à esta divisão apresentando a

questão a seguir:

Atividade 2: Elaborar quatro problemas que ilustrem a situação abaixo:

“As pessoas parecem adotar diferentes abordagens na resolução de problemas

envolvendo a divisão entre frações. Como se resolve um problema como este?

2

1

4

31 ”

(BALL, 1990)

Nesta atividade, esperava-se que os sujeitos elaborassem quatro problemas

indicando exatamente a divisão de 4

31 por

2

1 e calculassem o quociente da divisão.

A terceira atividade foi baseada no trabalho desenvolvido por Pinto e Monteiro

(2008) em um exercício que investigava a capacidade de efetuar a divisão de dois

hexágonos regulares adjacentes em partes. Nesta atividade, esperava-se que os

sujeitos fossem capazes de extrair frações dos hexágonos, mantendo a

proporcionalidade em suas áreas.

Atividade 3.1: Consideremos dois hexágonos adjacentes como a unidade.

Represente:

a) As metades da figura:

b) Os quartos da figura:

c) Os sextos da figura:

d) Os duodécimos da figura:

53

A atividade seguinte utilizava os mesmos hexágonos adjacentes, porém baseava-

se na divisão destes hexágonos em triângulos com o intuito de se formarem trapézios.

O objetivo era verificar se os futuros professores eram capazes de efetuar

aritmeticamente tal tarefa observando a mudança da unidade de referência de

triângulo para trapézio.

Na atividade 3.2 observamos o modelo de divisão como medida, no qual usamos

o divisor como uma unidade para medir o dividendo.

A atividade seguinte traz três problemas, sendo o primeiro deles envolvendo o

conceito da divisão como medida e os dois últimos o conceito de divisão como partilha

equitativa (PINTO E MONTEIRO, 2008). Esperava-se que os futuros professores

efetuassem a divisão e elaborassem a resposta de acordo com as unidades de

referência contidas nas perguntas.

Atividade 3.2: Considerando a unidade anterior, determine quantos trapézios

cabem em 11 triângulos e, em seguida, represente os cálculos aritmeticamente.

Atividade 4 - Problema 1 (medida): Numa confeitaria foram vendidos 4 bolos

em fatias de 5

3 do bolo. Quantas fatias foram vendidas e quantas partes do

bolo sobraram?

Atividade 4 - Problema 2 (partilha equitativa): A mãe de Marta fez um bolo

de cenoura e dividiu em 16 fatias iguais. Marta levou para a escola 16

12 do bolo,

que distribuiu igualmente em 3 pratos. Que porção do bolo ficou em cada

prato?

54

A atividade 5 foi extraída do Currículo Oficial do Estado de São Paulo. Era

baseada no modelo de divisão como partilha equitativa e seu objetivo era investigar o

conhecimento do conteúdo e do ensino dos futuros professores de acordo com as

categorias de conhecimentos estabelecidos por Ball et al (2008).

A última atividade (6) foi extraída do trabalho das autoras Pinto e Monteiro (2008)

e envolvia o conceito da divisão como operação inversa da multiplicação. Este conceito

da divisão está associado ao Conhecimento Do Conteúdo Especializado (SCK), de

acordo com as categorias de conhecimentos de Ball et al (2008).

Ao findar a sequência de atividades investigativas, foram apresentados

formalmente aos futuros professores os três modelos e significados da divisão (Ma,

1999, Pinto e Monteiro, 2008) e os níveis e categorias de conhecimentos (Shulman,

1986, Ball et al, 2008). Após uma discussão, os futuros professores tiveram contato

com suas atividades e fizeram uma análise dos próprios erros.

Atividade 4 - Problema 3 (partilha equitativa): Considerando que 5

4 de uma

corda mede 4

31 metros, quanto mede a totalidade da corda?

Atividade 5: Se 3

2de uma lata de tinta dão para pintar

4

3 de uma parede, que

fração da parede conseguirei pintar com uma lata de tinta?

Atividade 6 (operação inversa da multiplicação): Determinar o

comprimento de um retângulo que tem largura igual a 4

3 da unidade e de área

20

6 de unidades quadradas. (PINTO E MONTEIRO, 2008, p.212)

55

No semestre seguinte ao início da intervenção, retornamos a um novo encontro

com esta mesma turma a fim de retomarmos a discussão acerca dos modelos de

divisão. Nesse encontro solicitamos que os futuros professores reelaborassem os

mesmos problemas sugeridos na segunda atividade, criando uma história cuja solução

fosse dada por 2

1

4

31 , observando suas colocações para que não cometessem

novamente os mesmos erros: problemas que induzissem à divisão por 2, à

multiplicação por 2

1 ou a criação de histórias inconsistentes.

Os resultados das atividades foram analisados, conforme descritos no capítulo

seguinte.

56

CAPÍTULO 4: DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA E ANÁLISE DOS

DADOS

Neste capítulo descrevemos e analisamos todo o processo de desenvolvimento

da pesquisa junto à turma de Licenciatura em Matemática, bem como os resultados

obtidos na realização das atividades.

Buscamos classificar as tarefas por categorias observando os erros e acertos

cometidos nos procedimentos de resolução apresentados pelos futuros professores.

4.1 Conhecimentos Prévios dos Futuros Professores

Para analisar os conhecimentos prévios dos sujeitos deste estudo elaboramos

duas questões iniciais que serão descritas e analisadas a seguir.

Atividade 1:

A atividade inicial tinha por objetivo verificar se os estudantes de um curso de

licenciatura eram capazes de resolver a divisão 2

1

4

31 e qual era o procedimento

utilizado. Nesta atividade, pretendíamos reconhecer dentre os níveis de

conhecimentos sugeridos por Ball et al (2008) o Conhecimento Do Conteúdo Comum

(KCC), ou seja, o conhecimento que os futuros professores revelavam acerca da

divisão com frações.

Ao fazer a análise dos dados desta atividade, observamos que todos os

indivíduos envolvidos foram capazes de chegar ao resultado correto, fazendo uso do

algoritmo “inverte/multiplica”.

Reiteramos que para preservar a identidade dos nossos colaboradores,

chamaremos os mesmos de futuros professores A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, e K.

Abaixo relacionamos os procedimentos utilizados pelos sujeitos envolvidos nesta

investigação.

57

QUADRO 2: Resolução da atividade 2:

Futuro Professor Desenvolvimento do Algoritmo A

2

7

4

14

2

1

4

7

2

1

4

31

B

2

7

4

14

1

2

4

7

2

1

4

7

2

1

2

314

2

1

4

31

2

2

C

2

7

4

14

1

2

4

7

2

14

7

2

1

4

7

2

1

4

3

4

4

2

1

4

31

2

2

D

2

7

4

14

1

2

4

7

2

1

4

7

2

1

4

31

2

1

4

31

2

2

E

2

7

4

14

2

1

4

7

2

1

4

31

2

7

4

14

2

1

4

7

2

1

4

3

4

4

2

2

2

2

ou

F

2

7

4

14

2

1

4

7

2

1

4

3

4

42

2

G

2

7

4

14

1

2

4

7

2

1

4

7

2

1

4

34

2

1

4

31

2

2

H

5,31

2

4

7

2

14

7

2

1

4

7

I

2

7

1

2

4

7

2

1

4

7

J

2

7

4

14

1

2

4

7

2

1

4

7

4

3142

2

K

2

7

4

14

2

1

4

7

4

3

4

4

Para a resolução desta divisão foram necessários conhecimentos prévios sobre

números mistos, frações impróprias e o algoritmo da divisão entre frações.

58

Todos os futuros professores foram capazes de alcançar o resultado corretamente

demonstrando efetuar com correção a operação. Segundo Ma (1999) essa operação

não é trivial. A autora ressalta que:

... a divisão por fracções é um tópico avançado da aritmética. A divisão é a mais complicada das quatro operações. Os números fraccionários são muitas vezes considerados os números mais complexos na matemática

do ensino básico. A divisão por fracções, a operação mais complicada

com os números mais complexos pode ser considerada um tópico cimeiro da aritmética. (MA, 1999, p.114)

Analisando os cálculos observarmos que os futuros professores utilizaram-se de

ideias básicas a fim de resolver a operação proposta:

1. Transformar o número misto 4

31 na fração imprópria

4

7.

2. Efetuar a multiplicação de 4

7 por

2

1 (algoritmo inverte e multiplica)

3. Simplificar o resultado final (4

14) por 2.

Trata-se do Conhecimento do Conteúdo Comum (CCK) descrito por Ball et al

(2008). Segundo os autores, este é o conhecimento básico a todos os professores que

estudam matemática, optem ou não pelo magistério.

Todavia, consideramos que o fato de resolver de forma correta uma divisão entre

frações não habilitaria esses estudantes de licenciatura a elaborar situações-problema

envolvendo tal operação. Nesse sentido, consideramos ser de fundamental importância

identificar quais problemas seriam elaborados pelos sujeitos deste estudo.

Atividade 2

Nesta fase da investigação, assim como sugerido por Ball (1990), foi solicitado aos

futuros professores que desenvolvessem quatro situações problemas que ilustrassem a

divisão 2

1

4

31 , numa tentativa de garantir que os três significados da divisão sugeridos

59

por Pinto e Monteiro (2008) fossem contemplados. De acordo com Ball et al (2008),

esta tarefa envolve o Conhecimento do Conteúdo e do Ensino (KCT).

Analisando as proposições, observamos que mesmo resolvendo a operação de

forma correta, pouco menos de 20% dos participantes elaborou situações consistentes.

Observamos que dos 44 problemas elaborados, 11 apresentavam corretamente

da divisão de 1 4

3 por

2

1, 6 tratavam da multiplicação por

2

1, 28 demarcaram a divisão

por 2 e apenas 3 problemas ficaram inconsistentes.

Como exemplo das situações elaboradas com correção apresentamos a

elaborada pelo Futuro Professor C:

Para melhor analisar a relação entre os acertos e equívocos observados na

criação das situações por sujeito relacionamos no quadro a seguir os problemas

elaborados por cada estudante de acordo com a ideia encontrada neles. A

denominação dos problema 1, problema 2, problema 3 e problema 4 referem-se aos 4

problemas elaborados por cada licenciando, sendo que a mesma designação, para

alunos distintos, significa problemas distintos.

QUADRO 3: Classificação dos erros evidenciado na atividade de elaboração de

problemas

Futuro

Professor Divisão por

2

1

Multiplicação

por 2

1

Divisão por 2 História

inconsistente

A Problema 1 Problemas 2 e 3 Problema 4

B Problema 4 Problemas 1,2 e 3

C Problemas 1,2,3 e 4

Se um ventilador refrigera 2

1 sala, quantos ventiladores são necessários para

ventilar 1 4

3de sala? (FUTURO PROFESSOR C)

60

D Problemas 1,2,3 e 4

E Problemas 2 e 4 Problemas 1 e 3

F Problemas 1,2,3 e 4

G Problemas 1,2,3 e 4

H Problema 1 Problemas 2 e 4 Problema 3

I Problemas 1, 2 e 4 Problema 3

J Problemas 1,2,3 e 4

K Problemas 1,2,3 e 4

Analisando o ocorrido observamos que quatro estudantes elaboraram, pelo

menos, parcialmente, situações que representavam uma divisão por 2

1: dois alunos

(FPG e FPC) elaboraram corretamente as quatro situações e dois parcialmente (FPI e

FPA), os demais estudantes apresentaram concepções equivocadas para a divisão.

Resultados semelhantes a estes foram encontrados por Liping Ma (1999, p.126).

Segundo a autora aproximadamente 26% dos 23 professores americanos investigados

conseguiram elaborar problemas consistentes, já aproximadamente 70% deles

utilizaram concepções erradas, semelhantes às observadas nesta pesquisa.

Consideramos histórias inconsistentes as histórias que não indicam claramente

qual o cálculo deve ser realizado para se chegar a uma resposta. Ma (1999) destacou

em sua pesquisa alguns casos de professores americanos que não “apresentaram

confusão ao efetuarem a divisão, mas também não foram capazes de escrever uma

história” (MA, 1999, p.128).

Das análises dos problemas, podemos observar a existência de alguns erros

recorrentes:

Divisão por 2:

Parte dos sujeitos ao criarem algumas histórias confundiram a divisão por 2

1 com

a divisão por 2. Foram utilizadas expressões como “dividir ao meio”, ou “dividir a

metade”.

Ganhei um pacote de biscoito e já tinha ¾ do mesmo biscoito. Resolvi dividir a metade com um amigo. Quanto cada um ficou? (FUTURO PROFESSOR E)

61

Alguns problemas apresentavam citações em que se repartia 14

3 entre duas

pessoas.

Multiplicação por 2

1

Alguns indivíduos confundiram a divisão por 2

1 pela multiplicação por

2

1.

Histórias inconsistentes:

Dentre os problemas analisados, ainda encontramos algumas histórias que não

apresentavam uma problematização clara.

Depois de analisarmos estes resultados passamos apresentação e reflexão sobre

os diferentes significados da divisão com frações.

Comprei um pacote de bolacha e já tinha 4

3 de outro

pacote de bolacha. Quero dividir meio a meio com meu amigo. Quanto cada um irá comer? (FUTURO PROFESSOR B)

Karina tinha 1 chocolate inteiro e mais 4

3 de outro

chocolate, porém metade caiu no chão. Quanto sobrou do chocolate? (FUTURO PROFESSOR B)

Comprei uma caixa de maçãs. Vendi 1 4

3 e dividi ao meio

(2

1) esse número para fazer uma torta. (FUTURO

PROFESSOR H)

62

Ao final desta investigação, os participantes da pesquisa tiveram a oportunidade

de fazer uma reflexão sobre os erros cometidos e puderam reelaborar as questões

incorretas. Nesta fase de reelaboração, houve uma expressiva melhora, porém alguns

participantes cometeram os mesmos erros que foram discutidos e retomados.

4.2 Intervenção

Reiteramos que durante a intervenção apresentamos aos futuros professores

situações problema envolvendo diferentes significados. A sequência de tarefas foi

desenvolvida durante a aula e destinamos um tempo para que, em pequenos grupos,

todos resolvessem e, em seguida, discutimos em plenária as diferentes soluções

encontradas.

4.2.1 Atividade 3: Modelo de Medida

Esta atividade foi desenvolvida durante nosso primeiro encontro com os indivíduos

investigados. Durante esse encontro foram realizadas três tarefas que tratavam da

divisão entre frações. Tais divisões tinham foco na categoria da divisão como medida,

sugerida por Pinto e Monteiro (2008).

A primeira tarefa consistia em realizar a representação das frações por meio de

figuras e a segunda tarefa consistia em resolver aritmeticamente uma situação

problematizada e a terceira tarefa envolvia um caso contendo possíveis estratégias

equivocadas de alunos do Ensino Fundamental.

Para a primeira tarefa, os futuros professores deveriam realizar a divisão de dois

hexágonos adjacentes em partes, sendo elas metades, quartos, sextos e duodécimos.

O objetivo dessa tarefa era verificar se os futuros professores eram capazes de

determinar diferentes unidades de medidas a partir de um todo, e assim obter unidades

de medidas diferentes.

63

Exemplo de resolução da atividade 3:

Fonte: O sentido do número: Reflexões que se entrecruzam, Teoria e Prática (PINTO E MONTEIRO,

2008, p.203)

64

Após a realização da primeira tarefa, discutimos em plenária as resoluções dadas

pelos sujeitos às questões. Todas as soluções realizadas foram compartilhadas com o

grupo pelo quadro negro, e neste momento os futuros professores afirmaram que esta

atividade havia sido de fácil execução. Todos os envolvidos obtiveram sucesso em

suas respostas. Como consideramos que tal atividade envolveria o Conhecimento Do

Conteúdo Especializado (SCK) com a ideia de medida em contato com a geometria,

acreditamos que esse era um conhecimento já construído pelos nossos sujeitos.

Na segunda tarefa (atividade 3.2), os futuros professores deveriam resolver

aritmeticamente uma situação problematizada. O enunciado solicitava que fossem

representados os cálculos que resolveriam a situação, além da expressão aritmética:

Análise das soluções apresentadas pelos alunos na Atividade 3.2

Na análise das respostas podem-se verificar algumas variações sutis nos

procedimentos de resolução. Dentre os indivíduos investigados, 9 responderam a

questão corretamente e somente 1 não foi capaz de representar a situação

aritmeticamente. O décimo primeiro futuro professor não esteve presente na execução

desta tarefa.

Atividade 3.2: Considerando a unidade anterior, determine quantos trapézios

cabem em 11 triângulos e em seguida represente os cálculos aritmeticamente.

65

Com relação às estratégias utilizadas pelos futuros professores nessa atividade,

observamos que:

1. Na apresentação dos resultados, 6 estudantes representaram 3

11 como

3

23 ; 3

estudantes indicaram apenas 3

11; 1 não resolveu a tarefa, deixando a folha em

branco.

2. Todos os estudantes expressaram corretamente os resultados em termos da

unidade de referência trapézio. Assim, a resposta 3

11 ou

3

23 significa que em

3

11

de trapézio cabem em 11 triângulos.

3. Entre os 10 futuros professores, 8 deles resolveram aritmeticamente considerando

3

3 a medida de um trapézio inteiro (entre eles o futuro professor G).

Alguns dos pontos observados: o futuro professor B modelou o problema,

transformando-o em uma equação e o futuro professor H representou o cálculo

baseando-se apenas na imagem. A expressão aritmética foi indicada e os cálculos

foram realizados. Estes dois casos são representados a seguir:

66

O futuro professor H expressou o resultado como um número inteiro, ignorando a

existência do denominador da fração.

67

No protocolo anterior, observamos que o futuro professor H finalizou os cálculos

admitindo 11 inteiros como resultado da adição de 3

2 com 3, ignorando o denominador

da fração

3

11.

Durante as discussões, alguns dos futuros professores fizeram comentários

acerca dos procedimentos de resolução por eles utilizados. Nesta conversa os sujeitos

destacaram a possibilidade da formação de três trapézios inteiros dados pelo

agrupamento de três triângulos equiláteros cada um. Comentaram também sobre a

impossibilidade de se formar o quarto trapézio, uma vez que dos 11 triângulos restavam

apenas 2, e que para formar o quarto trapézio era necessário mais um triângulo. Esse

grupo pontuou a sobra de 3

2 de um trapézio como o resto no algoritmo da divisão.

Os membros de outro grupo utilizaram o mesmo procedimento de resolução,

porém apontaram a existência de quatro trapézios, sendo o quarto trapézio incompleto,

pois dele havia sido retirado 3

1 do todo indicando a ideia de subtração.

Observando tal discussão, a professora questionou os alunos sobre o fato de

alguém entre eles ter pensado na ideia da divisão de 3

11. Ela esperava que os futuros

professores observassem que poderiam representar a situação por meio do significado

do quociente, ou seja, 3

11. Para essa discussão observamos que apenas três dos

futuros professores se manifestaram, conforme descrito a seguir:

Eu ia dividir... eu ia dividir, mas...por que daí se ele dividir os onze...talvez, porque de dois a três...na verdade aí vai sobrar o resto. Seria os dois terços. (FUTURO PROFESSOR F)

Eu fiz assim: um trapézio é igual a três triângulos. Aí, quantos trapézios são iguais a x triângulos? Daí, x trapézios é igual a onze triângulos. Aí vai ficar três x é igual a onze, e x é igual a onze terços. (FUTURO PROFESSOR B)

68

Observamos que a ideia de quociente estava presente nas estratégias indicadas.

Vale ressaltar, entretanto, que apenas 3 dos 11 participantes se manifestaram.

Salientamos que, consideramos relevante a problematização proposta durante a

intervenção, uma vez que a utilização do significado quociente para representar frações

não é utilizada por muitos dos docentes brasileiros. Documentos Oficiais como PCN

(1998), por exemplo, já apontavam que os professores utilizavam-se do significado

parte-todo para introduzir fração, como também foi verificado nas investigações

propostas por Garcia Silva (2007) e Oliveira Filho (2011). Oliveira Filho (2011), por

exemplo, aponta que professores que lecionavam para os 6º e 7º anos do Ensino

Fundamental além de não utilizarem-se do significado quociente para introduzir as

frações apresentavam a divisão exclusivamente por meio do algoritmo. Todavia em

uma situação que envolva agrupamento ou medida, é difícil compreender 3

11 como

resposta. O mais claro seria indicar que de 3

11 extrai-se 3 grupos inteiros e mais

3

2 de

outro grupo, ou seja 3

23

3

11 .

A atividade 3.3 tratava da análise da resposta dada a um exercício resolvido

incorretamente. Para analisar o Conhecimento do Conteúdo e dos Estudantes (KCS)

descrito por Ball (2008), propusemos a analise do erro por meio da seguinte situação:

Desta atividade esperava-se que os futuros professores identificassem que o

principal erro do aluno foi a mudança na unidade de referência. Ele deixou de olhar

A gente pode pegar onze triângulos e dividir por três. Se colocasse outro lá formava mais um trapézio. (FUTURO PROFESSOR E)

Atividade 3.3: Um dos alunos resolveu o problema anterior e encontrou como

resultado. Discuta essa resposta.

69

para os trapézios e passou a observar os hexágonos. Sua resolução indica que talvez o

erro desse aluno tenha sido pensar em um triângulo faltante dos seis que, agrupados,

formam um dos hexágonos. Dificuldades dos estudantes ao final da educação básica

relativas a compreensão do papel da unidade em situações-problema envolvendo

frações foram observadas na pesquisa de Rodrigues (2005).

Dessa forma, consideramos que a situação apresentada poderia favorecer a

discussão e reflexão do grupo sobre essa temática. As respostas a essa situação

indicaram lacunas nos conhecimentos dos futuros professores em relação as essas

dificuldades possivelmente encontradas por alunos na compreensão do papel da

unidade na situação apresentada. Esta tarefa, nos permitiu observar que 3 professores

não obtiveram sucesso em suas respostas. Os protocolos a seguir ilustram essas

situações.

Análise das Soluções apresentadas pelos alunos na Atividade 3.3

Um dos sujeitos participantes foi capaz de descrever a resposta dada pelo aluno,

porém não mencionaram a mudança de unidade de referência.

70

Além deste, três sujeitos mencionaram que o aluno identificou a existência de três

trapézios e a sobra de 6

1. Provavelmente compreenderam a situação, mas também não

mencionaram o inteiro de referência (trapézio).

71

Um sujeito apresentou a situação de forma figural.

72

Um sujeito se baseou na operação (6

13 ) para verificar a incorreção da resposta.

Ainda houve entre os futuros professores 5 sujeitos que apresentaram uma

análise inconsistente.

73

Observamos que os futuro professores A e C não deixaram claro que a parte

desprezada do desenho se referia aos dois triângulos restantes que formariam o quarto

trapézio

3

2.

74

Segundo Ball et al (2008) o conhecimento do conteúdo e dos estudantes relaciona

a compreensão do conteúdo matemático ao conhecimento da forma como pensam os

alunos, possibilitando ao professor a previsão e análise de erros comuns de estudantes

e a busca de encaminhamentos a fim de superá-los. (BALL et al, 2008, p.15)

75

Nesse sentido, consideramos que a apresentação e discussão da situação

durante a intervenção favoreceu o processo de reflexão sobre a necessidade de

reconhecer a existência de diferentes unidades de referência.

Durante o segundo encontro da nossa intervenção, foi proposto aos sujeitos de

pesquisa que resolvessem a seguinte situação problema:

Nosso objetivo com esta atividade era verificar se os futuros professores eram

capazes de reconhecer a ideia da divisão por medida sugerida por Pinto e Monteiro

(2008), e assim responder a questão apresentada de acordo com a unidade de

referência na pergunta.

Para desenvolver esta atividade é necessário que se apliquem os conceitos da

categoria de Conhecimento do Conteúdo e do Ensino (KCT), ;(Ball, 2008).

Este problema indica que dos 4 bolos, podem-se vender 6 fatias e sobram 3

2 de

fatia, ou ainda 6 fatias com a sobra de 5

2 do bolo. Neste caso, esperava-se que ao

responder, o futuro professor indicasse a qual sobre ele estava se referindo: bolo ou

fatias.

Ao resolver a questão pelo algoritmo da divisão, assumindo que 4 bolos repartidos

em quintos, tem-se 20 partes para se dividir em 5

3. Este cálculo induz ao resultado de

6 fatias inteiras e 3

2 de uma fatia.

Dentre os sujeitos pesquisados, os futuros professores I, C, B e A fizeram o uso

deste algoritmo da divisão. Porém ao elaborarem suas respostas, não indicaram ao

que se referia a outra parte do quociente (3

2).

Atividade 4 – Problema 1: Numa confeitaria foram vendidos 4 bolos em fatias

de 5

3 do bolo. Quantas fatias foram vendidas e quantas partes do bolo

sobraram?

76

Dos 4 futuros professores, um deles não apresentou nenhuma resposta, além dos

cálculos

Um futuro professor apresentou resposta de 3

26 referenciando-se erroneamente

aos 3

2 como se fosse o resto de um bolo.

77

Um futuro professor desenvolveu o cálculo aritmético obtendo como resultado 3

26

e representou a situação de forma figural, indicando 5

2 de sobra, porém sem indicar

claramente o todo referência dos restos obtidos.

78

Um futuro professor fez uso de frações, somando as parcelas. Ao finalizar seus

cálculos, encontrou 5

2 de resto, mas também não indicou ao que se referenciava esta

sobra.

Em contrapartida, ao resolver este problema utilizando recursos figurais, a solução

facilmente tende a ter como resultado 6 fatias inteiras e uma sobra de 5

2 de um bolo.

Esta sobra na verdade refere-se a uma parte fracionária do quociente e não ao resto da

divisão. Esta também é uma resposta aceitável, desde que ao responder seja indicado

ao que se refere a fração encontrada: 5

2 de bolo.

Dentre os futuros professores, 6 deles apresentaram solução figural, porém

nenhum deles indicou a unidade de referência da fração.

79

Três sujeitos indicaram a solução de forma figural, obtendo 6 fatias vendidas e um

resto de 5

2. Porém não fizeram menção a o que se referia a fração.

80

Um futuro professor indicou apenas a sobra de 5

2 mencionando a quantidade de

apenas 5

3 de fatias vendidas.

Um futuro professor indicou a resposta de forma figural, além de somar as

parcelas. Ao final da soma, efetuou a subtração daquilo que seria possível ser vendido,

resultando num resto de 5

2, sem mencionar ao que se referia a fração.

81

Um futuro professor respondeu este problema incorretamente, transformando uma

grandeza contínua em uma grandeza discreta. Ao fazer a representação figural, ele

encontrou apenas 4 fatias de bolo para serem vendidas, repartindo cada bolo em 5

pedaços iguais, dos quais ele utilizou 3 partes, deixando outras 2 partes como sobra.

Este futuro professor não percebeu que com 2 fatias da sobra de um bolo e 1 fatia da

sobra de outro ele poderia formar uma nova fatia. Ele considerou o bolo individualmente

em uma situação real cortando as fatias separadamente. Além disso, não observou

que cada fatia deveria ser vendida de forma fracionada, levando suas respostas para a

divisão aos números inteiros.

Durante a resolução dos problemas, acompanhamos de perto a discussão de uma

dupla (futuros professores E e J). Abaixo segue a transcrição do diálogo.

Futuro Professor J – Aqui tem 1, 2, 3, uma fatia... 1, 2, 3, duas fatias... aí tem

1, 2, 3, três fatias... depois 1, 2, 3, quatro fatias... 1, 2, 3, cinco fatias... 1, 2, 3,

seis fatias.

Futuro Professor E – Então isso é um pedaço?

Futuro Professor J- É um pedaço!

82

Nesta discussão percebemos que os futuros professores E e J não se deram

conta de que ambos haviam feito o cálculo de maneira correta, porém não estavam

usando a mesma unidade de referência. Ao representar essa situação de forma figural,

o ultimo bolo apresenta a sobra de uma fatia de 5

3 de bolo. Ao efetuar os cálculos pelo

algoritmo da divisão, encontramos uma sobra de 5

2 de uma fatia. Essa fração na

verdade não se refere ao resto da divisão e sim a uma parte fracionária do quociente.

Portanto o resultado dessa divisão pode ser um número misto: 5

26 fatias.

Após a discussão, enquanto a professora apresentava a questão o grupo

percebeu a diferença nos referenciais: bolo e fatia. Nesse momento, de acordo com as

Futuro Professor E – Então tem dois pedaços, três pedaços, quatro pedaços,

cinco pedaços, seis pedaços...

Futuro Professor J – E sobram esses dois. Então seis pedaços e sobram dois

quintos.

Futuro Professor E – Essa é uma forma de fazer (apontando para o

desenho). Eu fiz assim (apontando para o cálculo). Vinte quintos dividindo os

bolos... deram seis pedaços e sobraram dois terços.

Futuro Professor J – E a resposta aqui embaixo não deu dois quintos.

Futuro Professor E – Não sei... Olha: quatro bolos são vinte dividido por

cinco, que vai dar quatro bolos, dividido por três quintos, que é a fatia do bolo.

Aí você inverte. Vai dar cem sobre quinze. Cem dividido por quinze, vai dar

seis pedaços inteiros e vai sobrar dez de quinze.

Futuro Professor J – Mas por que isso?

Futuro Professor E – Simplificando isso aqui por cinco, vai ficar seis pedaços

inteiros e dois terços.

Futuro professor J – Mas sobraram dez fatias de quinze?

Futuro Professor E – Então, é isso que eu estou na dúvida.

83

colocações feitas pelos sujeitos, entendemos que eles passaram a perceber a

importância do reconhecimento do todo referência.

Nossa investigação aponta novamente uma constatação que também foi

observada por Campos e Rodrigues (2010) ao investigar o conhecimento de alunos que

haviam completado a Educação Básica, e tanto naquela como nesta pesquisa notamos

também “um aspecto significativo da construção do conceito de número racional, que

permanece não apropriado por alunos até estágios de escolarização posteriores ao seu

ensino formal: a ideia de unidade” (CAMPOS e RODRIGUES, 2010, p.68).

4.2.2 Atividade 4: Problema 2 e 3

Na atividade seguinte, buscamos investigar os conhecimentos dos futuros

professores acerca do conhecimento do conteúdo especializado estabelecido por Ball

et al (2008).

Nesta tarefa, selecionamos duas situações problemas utilizadas pelas

pesquisadoras Pinto e Monteiro (2008) que ilustravam o conceito da divisão por partilha

equitativa.

Ao analisarmos os dados, percebemos que os sujeitos envolvidos não tiveram

dificuldades em resolver o primeiro problema:

Esta atividade pode ser resolvida pelo algoritmo da divisão. Divide-se 4

3 por 3 e a

resposta deste problema é 4

1. Todos os futuros professores chegaram a este resultado

utilizando métodos diferenciados.

Atividade 4 - Problema 2 (partilha equitativa): A mãe de Marta fez um

bolo de cenoura e dividiu em 16 fatias iguais. Marta levou para a escola 16

12

do bolo, que distribuiu igualmente em 3 pratos. Que porção do bolo ficou em

cada prato?

84

Três dos nossos colaborares não participaram desta atividade: os futuros

professores A, C e H.

Dos professores que apresentaram uma solução, dois deles utilizaram apenas o

algoritmo inverte e multiplica para chegar ao resultado, porém o segundo não indicou

na resposta ao que se referia a fração encontrada:

85

Dois futuros professores representaram a situação de forma figural, além de

utilizarem o algoritmo da divisão inverte e multiplica. Estes apresentaram uma resposta

ao problema.

86

Um futuro professor apresentou a resolução de forma figural além do algoritmo

inverte e multiplica, porém não indicou a unidade de referência da fração encontrada:

Um futuro professor apresentou resposta de forma figural, o que provavelmente o

levou a perceber que restava 3

1 do bolo. A partir disso, calculou

3

1 de

16

12 pela

multiplicação, mas não apresentou na resposta a unidade de referência da fração.

87

Um futuro professor registrou anotações de cálculo mental e finalizou

apresentando a resposta.

O futuro professor K efetuou a divisão de 16

12 por 3. Levando em conta que havia 12

fatias de 16

1 dividindo essa quantia em 3 pratos, obtendo 4 fatias de

16

1 para cada

prato, ou seja 16

4. Notamos aqui um cálculo mental rápido, já que é válido o algoritmo

utilizado: para dividir uma fração pela outra, é possível dividir os numeradores e os

denominadores ordenadamente, obtendo o numerador e o denominador da fração

quociente.

88

Consideramos que esta foi uma atividade realizada com sucesso pelos futuros

professores.

Dos nossos sujeitos de pesquisa, todos iniciaram transformando a fração mista

4

31 na fração imprópria

4

7.

Dois futuros professores fizeram uso do algoritmo inverte e multiplica a partir da

divisão de 4

7 por

5

4. Após encontrarem o resultado, apresentaram a resposta indicando

a unidade de referência da fração.

Atividade 4 - Problema 3 (partilha equitativa): Considerando que 5

4 de uma

corda mede 4

31 metros, quanto mede a totalidade da corda?

89

Um futuro professor apresentou solução de forma figural e efetuou a divisão de 4

7

por 5

4 utilizando o algoritmo inverte e multiplica. Ao final, indicou a resposta utilizando a

unidade de referência para a fração encontrada.

90

Um futuro professor utilizou o conceito de proporção, indicando a quarta

proporcional. Ao final indicou a unidade de referência da fração encontrada.

Um futuro professor indicou na solução o algoritmo inverte e multiplica, e justificou

seus cálculos utilizando o conceito de proporcionalidade.

91

Dois futuros professores efetuaram a divisão de 4

7 por 4 fazendo uso do algoritmo

inverte e multiplica. Tendo determinado a medida correspondente a uma parte,

adicionou esta parte às outras 4 já determinadas obtendo assim as 5 partes que

compunham a totalidade da corda. Destes dois professores, o primeiro fez uma

anotação deixando claro o motivo pelo qual lançou mão deste método. Ele afirma não

ter compreendido o motivo pelo qual se chega ao resultado correto dividindo 5

4 por

4

7.

Provavelmente ele aplicou o algoritmo inverte/multiplica mentalmente, invertendo a

primeira fração.

92

93

O futuro professor K enganou-se ao efetuar o cálculo, dividindo a fração que

representa o tamanho da corda

5

4 pela metragem estipulada

4

7. Coincidentemente,

ele chegou no resultado esperado, pois ao utilizar o algoritmo inverte e multiplica, se fez

válida a propriedade comutativa da multiplicação.

94

Durante a execução desta tarefa, tivemos a oportunidade de presenciar alguns

diálogos. Abaixo segue a transcrição de um deles:

Futuro Professor J: um inteiro e três quarto é equivalente à sete

quartos. Um quinto dividido por sete quartos é quatro sobre trinta e cinco.

Aí eu pensei e somar sete quartos sobre quatro por trinta e cinco

Futuro Professor E: então, mas o que eu acho que está errado aí é que,

como você vai dividir um quinto por...

Futuro Professor J: Não, não, não...desse aqui a gente vai tirar um

quinto...um quinto dividido por sete quartos...um quinto vezes quatro

sobre cin....sobre sete. Isso aqui é sete sobre quatro, sobre trinta e cinco,

que é isso aqui.

Futuro Professor E: Você concorda que aqui não está certo? Você está

fazendo a conta como se fosse o total da corda. Isso é quatro quintos da

corda.

Futuro Professor J: Mas como você vai fazer para achar um quinto...

quanto que um quinto mede?

Futuro Professor E: Então eu acho que agora sim, a conta que eu fiz

aqui, acho que esse é o total da corda. Aí se você tirar daqui. Você

pode... desse resultado aqui você pode dividir por um quinto. Ah, sei lá.

95

Diálogo estabelecido entre os futuros professores E e J, com intervenções da Professora.

Professora: Como você pensou?

Futuro Professor J: Eu pensei em tirar um quinto... eu queria saber

quanto que um quinto mede da corda. Aí depois eu ia pegar um quinto,

mais o que mede, mais o que ele está dando. Aí eu ia somar os dois e ia

achar o valor total.

Professora: Quatro partes da corda, então é um metro e três quartos.

Futuro Professor J: Então eu queria achar quanto que um quinto

equivale em metros também.

Professora: E qual estratégia você pode utilizar para chegar nessa

resposta?

Futuro Professor J: Eu vou dividir

Professora: Existe uma estratégia mais simples. Pensa, você já tem

quatro partes da corda. Você quer saber a equivalência da medida da

corda em metros.

Futuro Professor E: Você pode dividir isso aqui por quatro que você vai

achar a outra parte. Assim acha um quinto, né professora? Isso mesmo.

Divide isso aqui por quatro.

Futuro Professor J: Por quatro, né? Os sete quartos... Sete quartos

dividido por quatro, vai ficar sete sobre dezesseis. Quanto deu o seu

outro lá?

Futuro Professor E: Estou dividindo por quatro.

Futuro professor J: Sete dezesseis avos, né?

Futuro Professor E: É.

Futuro Professor J: Então, sete dezesseis avos é o quê? (risos)

Futuro Professor E: Um quinto da corda.

Futuro Professor E: Não é o que falta para dar um inteiro?

Futuro Professor J: Isso confunde a cabeça

Professora: Você já tem todas as respostas em mãos, mas não sabe a

quais perguntas elas respondem. Pense e interprete novamente a

questão do problema.

Futuro Professor J: O que é sete dezesseis avos?

96

O problema aparece com enunciado correto. Podemos perceber que o diálogo

entre os futuros professores apresenta bastante riqueza de detalhes. Embora os alunos

não tenham notado que basta uma divisão entre os números, as discussões e

processos foram bastante enriquecedores.

Esperava-se que os estudantes fizessem uso da quarta proporcional. Eles não

perceberam que para se obter este resultado bastava efetuar a divisão de 4

31 por

5

4.

4.3 O Currículo Oficial do Estado de São Paulo

Para analisar o Conhecimento Curricular proposto por Ball et al (2008)

apresentamos uma situação apresentada no material de apoio ao currículo de São

Paulo “Caderno do Professor” (2009). Nosso objetivo foi verificar como os futuros

professores analisaram uma situação problema apresentada no Currículo Oficial de São

Paulo:

Foi solicitado aos futuros professores para que se fizesse uma análise do

problema e classificasse a divisão envolvida de acordo com seu significado: medida,

partilha equitativa ou operação inversa da multiplicação. Neste momento os estudantes

já haviam assistido a apresentação dos modelos e significados da divisão. Nessa

tarefa, eles ainda deveriam apresentar uma justificativa explicando o modelo de divisão

escolhido.

Atividade 5: Se

3

2de uma lata de tinta dão para pintar

4

3 de uma parede, que

fração da parede conseguirei pintar com uma lata de tinta? (SÃO PAULO FAZ

ESCOLA, 6ª SÉRIE (7ºANO), 2009, 1º BIM., p.32).

97

4.3.1 Discussões do Problema: Atividade 5

O resultado desta divisão pode ser obtido fazendo uso de proporcionalidade:

3

2 da lata de tinta, pinta

4

3 de parede

1 lata inteira de tinta, pinta x partes da parede

Analisando a situação o futuro professor poderia perceber comparando 3

2 da lata

de tinta com 1 lata de tinta inteira, encontrando 2

3 como fator de proporcionalidade.

Dessa forma, comparando 4

3 da parede com x partes da parede, teríamos o produto

2

3.

4

3 chegando ao resultado de

8

9 da parede.

Tal esquema poderia, inclusive justificar o algoritmo IM (inverte e multiplica). Outro

esquema que poderia ser utilizado é o da quarta proporcional:

8

9

2

3

4

3

3

24

3

4

31

3

2 xxxx

Portanto, uma lata de tinta pinta 8

9 da parede, ou seja, uma parede inteira mais

8

1

de outra parede.

Esperava-se que o futuro professor indicasse que para solucionar este problema,

havia sido utilizado o conceito de divisão como partilha equitativa: quantas partes da

parede podem ser pintadas com uma lata de tinta inteira?

98

Dos participantes envolvidos na pesquisa obtivemos os seguintes resultados:

Um futuro professor efetuou a divisão de 4

3 por

3

2 e fazendo o uso do algoritmo

inverte e multiplica, chegou ao resultado de 8

9, porém não classificou o problema de

acordo com o significado da divisão nele contido.

99

Um participante fez uso da quarta proporcional, encontrando o resultado

corretamente, porém classificou o problema como sendo fatores e produto.

Três dos futuros professores também fizeram uso da quarta proporcional

classificando o problema corretamente como partilha equitativa.

100

101

Um dos participantes não apresentou o cálculo do problema e apenas afirmou

corretamente que se tratava de um caso de divisão como partilha equitativa.

Um dos sujeitos efetuou a divisão de forma incorreta dividindo a quantidade de

tinta pela porção da parede a ser pintada e concluiu classificando o problema como um

caso de partilha equitativa. Nota-se que apesar do erro de cálculo, este futuro professor

compreendeu o significado nele envolvido.

102

Um dos futuros professores efetuou a divisão corretamente fazendo uso do

algoritmo inverte e multiplica e concluiu classificando o problema como um caso de

divisão como medida.

Os resultados na resolução deste problema nos mostra que grande parte dos

professores alcançaram a compreensão do significado “partilha equitativa”

corretamente. Isso provavelmente favorecerá o trabalho do professor ao ensinar as

atividades contidas no currículo oficial do estado São Paulo.

4.4 Atividade 6: A divisão como operação inversa da multiplicação

O objetivo da atividade seguinte era analisar as estratégias utilizadas pelos futuros

professores ao resolverem um problema envolvendo a ideia da divisão como operação

inversa da multiplicação. Este conceito da divisão está associado ao Conhecimento do

Conteúdo Especializado (SCK), de acordo com as categorias de conhecimentos de Ball

et al (2008).

De acordo com Pinto e Monteiro (2008), “nesta categoria existe uma relação

multiplicativa entre três medidas, sendo uma delas o produto das outras duas”. Os

problemas que envolvem este significado geralmente são relacionados ao modelo de

área. (PINTO E MONTEIRO, 2008).

103

Como este problema está relacionado à área de um retângulo, para resolvê-lo

basta desenharmos um retângulo e dividi-lo em 20 casas, sendo 5 de comprimento e 4

de largura. Conforme informação no enunciado do problema, marcamos 3 das 4 casas

na largura, e hachuramos a área restante para completar as 6 das 20 casas de área.

Um problema, facilmente solucionável de forma figural.

Apenas um dos futuros professores representou a situação unicamente de forma

figural indicando o comprimento correspondente de 5

2.

Três futuros professores fizeram uso da quarta proporcional e chegaram ao

mesmo resultado.

Atividade 6: Determinar o comprimento de um retângulo que tem largura igual a

4

3 da unidade e de área

20

6 de unidades quadradas. (PINTO E MONTEIRO,

2008, p.212)

104

105

Cinco futuros professores efetuaram a divisão de 20

6 por

4

3, e chegaram também

ao mesmo resultado.

106

107

108

Apenas um futuro professor não obteve sucesso em sua resolução. Ele tentou

modelar o problema, mas atribuiu uma variável para a largura e outra para o

comprimento. Por este motivo não chegou à resposta correta.

4.5 Análise e Reelaboração dos problemas.

No semestre seguinte à realização da primeira intervenção, realizamos um novo

encontro com a mesma turma de Licenciatura em Matemática a fim de retomarmos a

discussão inicial da oficina (Atividade 2) sobre a criação de uma história adequada que

ilustrasse a divisão de 4

31 por

2

1.

Iniciamos o encontro fazendo uma reapresentação dos significados da divisão

descritos por Ma (1999) e Pinto e Monteiro (2008). Ainda falamos dos níveis de

conhecimentos segundo Shulman (1986) e que mais tarde foram refinados numa leitura

matemática por Ball (1990) e Ball et al (2008).

109

Nosso objetivo era fazer com que os sujeitos identificassem os erros cometidos

em suas atividades entregues no semestre anterior, e com base nas discussões acerca

dos significados, reelaborassem novos problemas observando a demarcação da divisão

utilizada para a criação das histórias.

O quadro a seguir nos dá o parecer percentual dos avanços alcançados pelos

futuros professores após a discussão dos significados. Pode-se notar também que

apesar dos avanços, ainda nos deparamos com alguns casos em que os significados

não ficaram muito claros, pois alguns futuros professores cometeram os mesmos

enganos cometidos anteriormente.

QUADRO 3: Parecer percentual nos avanços da reelaboração dos problemas da

atividade 2.

Atividade 2: Elaboração

Atividade 2: Reelaboração

Quantidade % Quantidade %

Elaboração correta

Divisão por ½ 12 27,3 14 66,7%

Elaboração incorreta

Divisão por 2

23 52,3 2 9,5%

Multiplicação por 2

0 0 1 4,8%

Multiplicação por ½

6 13,6 0 0

Histórias Inconsistentes

3 6,8 4 19,%

Total de problemas avaliados

44 21

A seguir apresentamos os protocolos gerados pelos futuros professores na reelaboração dos problemas.

110

1. História inconsistente:

111

Analisando as quatro situações, observamos que o Futuro Professor D,

utilizou-se corretamente da ideia de medida, todavia a inconsistência estava na

redação do texto. Na primeira situação, a estudante afirma que Luzia fez 4

3 de

bolo, o que na realidade não é possível. Já na segunda situação, o futuro

professor não deixa claro que a unidade os 4

3 é referente aos milhões de reais.

112

2. Divisão por dois:

3. Estratégia da Multiplicação por dois na solução da atividade 2:

Os protocolos apresentam situações inadequadas, mas não infundadas. Trata-se

de estratégias pensadas. Sabendo que o algoritmo da divisão por 2

1 envolve a

multiplicação do dividendo por 2, os futuros professores procuraram uma situação que

levasse a isso.

113

114

4. Elaboração correta:

115

116

117

118

Finalmente, é importante registrar que os resultados individuais destacados do

ocorrido nesta atividade, proposta meses após a intervenção, mostram que os domínios

dos conhecimentos necessários ao ensino dos futuros professores sobre os diferentes

significados foram ampliados. Analisando o desempenho individual pudemos observar a

(re)construção dos conhecimentos do conteúdo e do ensino por parte dos estudantes

investigados. Acreditamos que tal avanço é fruto da intervenção que envolveu essa

turma, favorecendo a superação dos conhecimentos limitados demonstrados

inicialmente.

119

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho é resultado de uma pesquisa de caráter qualitativo realizada com

estudantes do curso de Licenciatura em Matemática em uma universidade particular da

cidade de São Paulo entre os anos 2012 e 2013.

O objetivo principal desta investigação foi reconhecer quais eram os

conhecimentos necessários a um futuro professor de matemática para uma

compreensão adequada no que tange ao ensino da divisão entre frações. Para isso

iniciamos nossa investigação fazendo um levantamento sobre o que diziam as

pesquisas acerca deste assunto.

Nos fundamentamos inicialmente nos níveis de conhecimentos estabelecidos por

Shulman (1986), a saber o Conhecimento do Conteúdo Específico, o Conhecimento do

Conteúdo Pedagógico e o Conhecimento Curricular. Ainda nos apoiamos nas

categorias de conhecimentos de Ball et al (2008) que tratam de um refinamento dos

níveis de conhecimento de Shulman. São elas: Conhecimento do Conteúdo Comum,

Conhecimento do Conteúdo Especializado, Conhecimento do Conteúdo e dos

Estudantes, Conhecimento do Conteúdo e do Ensino e o Conhecimento Curricular.

No que se refere ao objeto matemático, nos firmamos nos modelos de divisão

estabelecidos por Ball (1990) também discutidos por Ma (1999), dentre os quais estão o

modelo de divisão por agrupamento, o modelo de divisão por repartição, e o modelo de

divisão como produto e fatores. Seguindo a mesma linha de pesquisa, fizemos uso dos

significados da divisão postos por Pinto e Monteiro (2008). As autoras classificam os

três significados da divisão como: a divisão como medida, a divisão como partilha

equitativa e a divisão como operação inversa da multiplicação. Pelo fato de haverem

grandes semelhanças entre as classificações dadas por estes dois estudos e por

termos trabalhado as situações propostas por Pinto e Monteiro (2008) durante a

intervenção, optamos por utilizar a classificação dos significados da divisão indicados

pelas últimas autoras.

Nossa pesquisa foi dividida em três partes: a pesquisa bibliográfica, a elaboração

das atividades que seriam aplicadas na intervenção junto a uma turma de licenciatura

em matemática e a intervenção, que foi realizada em quatro sessões.

120

Durante a intervenção foram aplicadas uma série de 6 atividades cujo tema central

era os significados da divisão, em especial a divisão entre frações.

Contamos com a participação de 11 sujeitos, dentre os quais 3 eram mulheres e 8

eram homens, com idade média entre 25 e 35 anos. Dentre eles, dois sujeitos já

atuavam como professores dos anos finais do ensino fundamental e uma como

professora dos anos iniciais, também do ensino fundamental.

Reiteramos que, para a elaboração das atividades, nos concentramos nos

significados da divisão de acordo com Pinto e Monteiro (2008), todavia também

utilizamos algumas das ideias de Ball (1990) e Ma (1999).

A atividade 1 foi baseada numa divisão sugerida por Ball (1990) e que mais tarde

seria utilizada também por Ma (1999). Tal tarefa consiste em efetuar a divisão 2

1

4

31 . O

objetivo dessa tarefa era verificar se os futuros professores eram capazes de aplicar

corretamente algum algoritmo da divisão e chegar ao resultado correto. Nesta tarefa

procuramos avaliar o Conhecimento do Conteúdo Comum (BALL et al, 2008). Esta foi

uma tarefa bem sucedida, pois 100% dos sujeitos envolvidos foram capazes de resolvê-

la corretamente, entretanto, os resultados das análises mostraram que todos os sujeitos

fizeram uso do algoritmo “inverte e multiplica” da divisão. Até aquele momento, os

sujeitos ainda não tinham tido contado com os modelos ou os significados da divisão

estabelecidos por Ma (1999) e Pinto e Monteiro (2008).

A atividade 2 foi baseada numa tarefa utilizada por Ma (1999) na qual o objetivo

era criar uma situação problema cuja solução fosse dada pela divisão 2

1

4

31 .

Solicitamos aos futuros professores que elaborassem 4 problemas, pois esperávamos

que nas histórias por eles criadas fossem contemplados os três significados da divisão.

Num primeiro momento, tínhamos 44 problemas para serem observados. Os resultados

apontaram que dos 11 futuros professores, apenas dois deles foram capazes de

elaborar histórias que levassem à divisão por meio. Dentre os erros cometidos

identificamos a divisão por 2, a multiplicação por 2

1, e algumas histórias inconsistentes,

ou seja, não permitiam ao leitor compreender a ideia envolvida no problema.

121

Das análises dos problemas elaborados no primeiro encontro, comparados à sua

reelaboração, podemos observar um avanço significativo na compreensão dos futuros

professores sobre a divisão 2

1

4

31 . De acordo com os dados obtidos, inicialmente

27,3% dos estudantes elaboraram os problemas corretamente. No retorno, seis meses

após a intervenção, vimos que essa porcentagem aumentou para 73,8%. Notamos

também que a porcentagem da elaboração de problemas de forma equivocada também

diminuiu. A mudança mais expressiva foi na divisão por 2, cuja porcentagem caiu de

52,3% para 5,2% dos problemas elaborados. A este respeito um único problema com

este erro foi apresentado na reelaboração. Observamos também que nenhum dos

problemas apresentados seis meses após a intervenção demonstraram confundir a

divisão por 2

1 com a multiplicação por

2

1. A porcentagem de erro para este caso, caiu

13,6% para 0%. Todavia houve uma ampliação da porcentagem dos problemas

inconsistentes na reelaboração. Na primeira fase, a porcentagem deste tipo de

problemas era de 6,8%. Já na segunda fase, essa porcentagem aumentou para 15,8%

(3 problemas). Entretanto, vale ressaltar que dos problemas com histórias

inconsistentes na fase de reelaboração, 2 deles foram apresentados pelo mesmo

sujeito. Ao analisarmos os sujeitos individualmente, confirmamos que este sujeito

permaneceu apresentando algumas limitações, mas vale destacar que este futuro

professor não atentou para o texto das duas situações, mas ao analisar a situação do

ponto de vista da ideia de divisão entre frações percebemos que ela foi apresentada

com correção (envolvia ideia de medida). Além disso, vale ressaltar que esse mesmo

sujeito elaborou corretamente um outro problema.

A atividade 3 foi baseada em uma tarefa apresentada por Pinto e Monteiro

(2008), sendo dividida em 2 partes. A primeira parte tratava de um exercício que

investigava a capacidade de efetuar a divisão de dois hexágonos regulares adjacentes

em partes, e envolvia o significado da divisão como medida. Nesta atividade,

esperava-se discutir com os sujeitos a ideia de medida em representações figurais.

Para responder com correção o futuro professor deveria ser capaz de extrair frações

dos hexágonos, mantendo a proporcionalidade em suas áreas. As análises dos

122

resultados mostraram que 100% dos envolvidos obtiveram sucesso em suas

resoluções. Isto significa que os sujeitos possuíam a habilidade de identificar frações

quando as mesmas são representadas geometricamente.

Na segunda parte desta tarefa os futuros professores deveriam resolver

aritmeticamente uma situação problematizada. O enunciado solicitava que fossem

representados os cálculos que resolveriam a situação, além da expressão aritmética.

Eles deveriam responder quantos trapézios consegue-se formar com 11 triângulos que

faziam parte da formação de 2 hexágonos adjacentes. Essa atividade, mesmo antes

da discussão em plenária, foi respondida com correção por todos os estudantes do

curso de licenciatura.

A atividade 4 foi dividida em três tarefas em forma de situações problema, cujas

soluções eram dadas pela divisão entre frações. Em todas as tarefas desta atividade

era possível identificar se os estudantes possuíam o conhecimento do conteúdo

especializado e o conhecimento do conteúdo e do estudante segundo Ball et al (2008)

além de favorecer a reflexão sobre esses pontos com os estudantes durante a

discussão geral.

O primeiro problema envolvia o conceito de divisão por medida. O principal

objetivo desta tarefa era verificar se os futuros professores eram capazes de

reconhecer o significado da divisão nele contido e identificar a unidade de referência

adequada para a resposta final. Esta tarefa continha duas unidades de referência

distintas, pois o quociente apresentava um número misto como resposta. O que se

esperava dos futuros professores era que eles indicassem a que se referia a fração

encontrada. Dos participantes envolvidos, 100% efetuaram os cálculos corretamente

dos quais 67% não indicaram a unidade de referência em sua resposta, 11%

apresentou o cálculo sem resposta, 11% acertou o cálculo, mas se enganou quanto a

unidade de referência e 11% não foram capazes de resolver os cálculos corretamente.

Durante as discussões ocorridas em sala observamos que os estudantes identificaram

os equívocos ocorridos e foi possível refletir sobre o papel da unidade de referência.

O segundo problema trazia o significado de divisão como partilha equitativa. Dos

sujeitos envolvidos, 3 deles não participaram desta atividade. Mesmo antes da

123

discussão e da reflexão em plenária, observamos que todos os participantes já haviam

resolvido a situação de forma correta, apresentando métodos de soluções variados.

Identificamos entre as soluções que 25% fizeram cálculo mental e 75% utilizaram o

algoritmo inverte e multiplica. Além disso, 50% dos participantes fizeram uma

representação figural da situação problema.

O terceiro problema também envolvia o conceito de divisão como partilha

equitativa. Essa tarefa apresentava a divisão de um número misto por uma fração.

Todos os sujeitos iniciaram transformando o número misto em fração imprópria. O

objetivo principal dessa tarefa era verificar se os futuros professores eram capazes de

interpretar o problema corretamente e efetuar os cálculos de maneira adequada. Os

resultados mostraram que 87,5% dos futuros professores responderam corretamente a

situação. Dos sujeitos envolvidos, observamos que 62,5% chegaram à resposta

correta fazendo uso do algoritmo inverte e multiplica, 25% obtiveram o resultado

correto fazendo uso da quarta proporcional e apenas 12,5% não foi capaz de

interpretar o problema corretamente. Nesse momento, observamos que os futuros

professores possuíam domínio parcial do conhecimento do conteúdo especializado

(BALL et al, 2008), mas durante a discussão em plenária, eles demonstraram

compreender a situação.

A atividade 5 foi extraída do projeto São Paulo Faz Escola (currículo oficial),

volume 1 da 6ª série (7º ano). O objetivo principal nessa tarefa era identificar em qual

dos modelos de divisão o problema se encaixava. Tratava-se de um problema

envolvendo o modelo de partilha equitativa. Para realizar essa tarefa era necessário

que o futuro professor tivesse o domínio sobre a categoria do conhecimento do

conteúdo e ensino definidos por Ball et al (2008). No primeiro momento, observamos

que 62,5% dos participantes já conseguiam classificar o problema corretamente como

partilha equitativa, 12,5% classificou como operação inversa da multiplicação, 12,5%

classificou com medida, e outros 12,5% apresentou apenas os cálculos sem efetuar a

classificação. Como vimos, a maioria dos professores envolvidos nessa atividade

absorveu corretamente o significado da divisão como partilha equitativa. Consideramos

que as discussões ocorridas até então favoreceram aos futuros professores a

124

compreensão sobre os diferentes significados. Acreditamos ainda que tal compreensão

poderia favorecer o processo de ensino das atividades presentes no currículo oficial do

estado de São Paulo.

A atividade 6 trazia um problema relacionado com a área de um quadrilátero,

cujas dimensões eram dadas por frações. Um problema facilmente solucionável de

forma figural. O objetivo nessa atividade era analisar as estratégias utilizadas pelos

professores ao resolverem um problema envolvendo a ideia da divisão como operação

inversa da multiplicação. Esse conceito da divisão está associado ao conhecimento do

conteúdo especializado, de acordo com as categorias de conhecimentos de Ball et al

(2008). Nessa atividade 50% dos participantes fizeram uso da representação figural e

obtiveram a resposta correta fazendo uso do algoritmo inverte e multiplica, 30% fizeram

uso da representação figural da quarta proporcional chegando ao resultado correto,

10% obteve o resultado apenas com a representação figural e 10% não chegou ao

resultado correto por erro de interpretação do problema. Nossas discussões e

socializações desses resultados iniciais, possivelmente permitiram a ampliação do

conhecimento dos participantes.

O interesse por nossa pesquisa se iniciou ao observarmos a inexistência de

trabalhos que tratassem, especificamente, desta temática no Brasil. Por ser um assunto

que permeia o currículo oficial do estado de São Paulo e por se tratar de um

conhecimento básico para qualquer professor de matemática, acreditamos na validade

deste trabalho como agente enriquecedor no campo da pesquisa em educação

matemática.

Nosso principal objetivo era investigar quais são os conhecimentos necessários ao

futuro professor de matemática para que este venha ensinar o conceito de divisão entre

frações de forma significativa.

Com base em nossos dados, buscamos responder a nossa questão de pesquisa:

Quais são os conhecimentos profissionais de estudantes de um curso de

Licenciatura em Matemática evidenciados durante a participação de uma

intervenção no qual lhes sejam garantidos espaços para estudar os três

significados da divisão entre frações?

125

Ao analisar o Conhecimento Comum do Conteúdo e o Especializado de acordo

com nossos resultados, observamos que no início da intervenção o uso do algoritmo

inverte e multiplica era o método predominante nas resoluções de cálculos que

envolvem divisão entre frações e, dessa forma, consideramos a necessidade de que se

discuta com futuros professores além da justificativa para a utilização do algoritmo IM, a

ampliação das reflexões sobre a possibilidade de utilização de outros algoritmos, tanto

do ponto de vista didático como da matemática. Além disso, o reconhecimento da

unidade de referência não era um conhecimento prévio de todos os futuros professores.

Tal conhecimento foi evidenciado durante a intervenção. Nesse sentido, acreditamos na

necessidade de que os cursos de formação inicial deveriam considerar tal necessidade.

Quanto ao Conhecimento Pedagógico do Conteúdo observamos também haver,

inicialmente, uma carência pontual em termos de interpretação de situações problemas,

o que pode gerar equívocos na elaboração de respostas e interpretação análise das

orientações contidas no currículo. Percebemos uma clara necessidade de um estudo

mais aprofundado sobre a divisão entre frações e, principalmente, a necessidade do

estudo dos significados da divisão nos cursos de formação inicial e continuada para

professores de matemática, pois acreditamos que o processo de aprendizagem é

diretamente afetado pelo repertório de conhecimentos do professor, sobretudo, o

Conhecimento do Conteúdo e dos Estudantes e do Conhecimento do Conteúdo e do

Ensino.

Durante nossa intervenção foi possível evidenciar a (re) construção destes

conhecimentos quando se favoreceu a discussão e reflexão dos licenciandos sobre a

análise de erros dos alunos e possibilidades de intervenção. Consideramos o tempo

como uma limitação deste estudo. Esta pesquisa poderia ter sido feita com um tempo

maior destinado à intervenção para cada situação problema, na qual o futuro professor

tivesse mais tempo para refletir sobre suas colocações em cada atividade. Portanto,

acreditamos na validade de investigações futuras que abordem este tema destinando

um tempo maior para a intervenção.

126

REFERÊNCIAS

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Research in Mathematics Education, 21(2), 13 2-144, 1990

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Brasília: Universidade de Brasília, 2009.

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127

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Tese (Doutorado). Universidade de Brasília, Brasília, 2008.

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SERRAZINA, L. ROCHA, I. O sentido do número: reflexões que entrecruzam teoria e prática.

Lisboa: Escolar, 2008.

RODRIGUES, W. R., Números Racionais: um estudo das concepções dos alunos após o estudo

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SÃO PAULO. Caderno do professor: matemática, ensino fundamental – 6ª série/7º ano 1º

bimestre. Coordenação Maria Inês Fini; equipe: Nilson José Machado, Carlos Eduardo de Souza

Granja, José Luiz Pastore Mello, Roberto Perides Moisés e Walter Spinelli. São Paulo: SEE,

2009.

SHULMAN, Lee S., Those who understand: knowledge Growth in teaching – Education

Researcher, Vol.15, nº2, 1986 pp. 4-14

VERGNAUD, G. La teoria de los campos conceptuales. Recherches en didáctique des

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______. A Teoria dos Campos Conceituais. In: BRUN, Jean (Org.). Didáctica das Matemáticas.

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______. A Teoria dos Campos Conceituais. In: CAMPOS, T.M.M. (coord). Curso monográfico

Altos Estudos. UNIBAN / CAPES 05 a 13 de agosto de 2010. ______. Palestra: A Teoria dos Campos Conceituais- UNIBAN / CAPES 25 de agosto de

2011.

128

ANEXO I

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título da Pesquisa: Conhecimento de Estudantes de Licenciatura em Matemática a Respeito dos

Processos de Ensino e de Aprendizagem da Divisão entre Frações

Nome do (a) Pesquisador (a): Vanessa Cristina de Carvalho Ito

Nome do (a) Orientador (a): Profª Drª Angélica da Fontoura Garcia Silva

O senhor(a) foi convidado(a) a participar desse estudo, que tem como tema “Conhecimento de

Estudantes de Licenciatura em Matemática a Respeito dos Processos de Ensino e de Aprendizagem da

Divisão entre Frações”, por ser acadêmico do Curso de Matemática Licenciatura plena. O objetivo dessa

pesquisa é investigar os conhecimentos profissionais de futuros professores que lecionarão Matemática

para os anos finais da educação básica, sobre a utilização de diferentes significados para o ensino do

conceito de divisão de fração.

Eu, Vanessa Cristina de Carvalho, portadora do RG 29.226.876-2, e do CPF 270.731.708-08,

residente à Avenida Américo Tornero, 590 casa 01 – Jd. Mauá – Mauá – SP, aluna do Programa de

Mestrado Acadêmico em Educação Matemática da Universidade Bandeirante de São Paulo - UNIBAN,

Campus Maria Cândida, estou realizando um estudo sobre os conhecimentos profissionais de futuros

professores de Matemática no que concerne ao ensino da divisão entre frações, com orientação da Profa.

Dra. Angélica da Fontoura Garcia Silva.

Em qualquer momento do estudo, o Sr.(a) terá acesso aos profissionais responsáveis pela

pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas. Os contatos poderão ser feitos por telefone (11) 9

8217-7064, (11) 4578-5940, ou via e-mail: [email protected].

Fica, portanto, estabelecido que o (a) Sr.(a) está participando de livre e espontânea vontade e

que, se desejar, tem o direito de desistir de sua participação a qualquer momento. As informações nessa

pesquisa serão mantidas em sigilo, garantindo, desta forma, seu anonimato. A divulgação dos resultados

será utilizada somente para esta pesquisa.

Não haverá despesas pessoais para o participante em qualquer fase do estudo.

São Paulo, 04 de dezembro de 2012.

_________________________________ Vanessa Cristina de Carvalho Ito

_________________________________

Angélica da Fontoura Garcia da Silva

Pesquisador: Vanessa Cristina de Carvalho Ito, RG 29.226.876-2, tel.: (11) 9 8217-7064

Orientador: Profª Drª Angélica da Fontoura Garcia Silva, RG: 11.796.468-2, tel.: (11) 9 9544-

1814

Comissão de Ética: tel.: (11) 2967- 9077

E-mail: [email protected]

129

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Entendo que fui convidado (a) a participar como voluntário(a) dessa pesquisa e

acredito ter sido suficientemente informado(a) segundo o que li e o que me foi explicado

a respeito da mesma. Ficaram claros para mim quais os propósitos do estudo, as

garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes bem com o fato de

que minha participação é isenta de despesas.

Eu,

________________________________________________________________,

concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu

consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou

perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido com a minha participação neste

estudo.

Assinatura do participante: _________________________________________

RG:_______________________

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e

Esclarecido deste colaborador para a participação neste estudo.

Assinatura do pesquisador responsável pelo estudo

____________________________________

São Paulo, ___/___/___.

130

ANÉXO II

TERMO DE COMPROMISSO

Declaro que, no desenvolvimento do Projeto de Pesquisa Conhecimento de

Estudantes de Licenciatura em Matemática a Respeito dos Processos de Ensino e

de Aprendizagem da Divisão entre Frações antes do início da coleta de dados,

juntarei na Folha de Rosto os dados e a assinatura do responsável pela instituição onde

será realizada a pesquisa.

São Paulo, 04/12/2012

____________________________________________

Profª Drª Angélica da Fontoura Garcia da Silva

Orientadora

____________________________________________

Vanessa Cristina de Carvalho Ito

Orientanda

131

APÊNDICE I

Prezado Acadêmico,

O questionário abaixo tem por objetivo obter elementos para subsidiar a elaboração

de um estudo sobre os conhecimentos profissionais de futuros professores de

Matemática no que concerne ao ensino da divisão entre frações.

Os sujeitos terão sua identidade preservada, não sendo identificados.

Os dados servirão para a pesquisa de Vanessa Cristina de Carvalho Ito, sob o titulo:

Conhecimento de Estudantes de Licenciatura em Matemática a Respeito dos

Processos de Ensino e de Aprendizagem da Divisão entre Frações.

Obrigado.

Nome:__________________________________________________________

QUESTIONÁRIO

1. Qual o ano de conclusão do ensino Médio? __________________

2. Você considera que seu desempenho na disciplina de matemática durante a

Educação Básica foi.

( ) Excelente, ( ) Muito Bom, ( ) Bom, ( ) Péssimo, ( ) Ruim

3. Você concluiu o Ensino Médio:

Regular ( ) Técnico ( ) EJA ( ) Outros ___________________

4. Sua idade : ______________________________________

5. Você estudou no Ensino Médio em:

( ) Escola Pública, ( ) Escola Particular

132

6. Por que escolheu o curso de Licenciatura em Matemática.

( ) gosta de Matemática;

( ) quer ser professor de Matemática;

( ) Pelas oportunidades de trabalho;

( ) Falta de opção de curso.

7. Você considera que seu desempenho no curso de Licenciatura em Matemática é:

( ) Excelente, ( ) Muito Bom, ( ) Bom, ( ) Péssimo, ( ) Ruim

8. Você tem alguma experiência como professor de Matemática ?

sim ( ) não ( )

9. Se você respondeu sim à pergunta anterior, diga se já trabalhou com alunos o

tema divisão entre frações e comente como foi.

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

________________________________________________________

133

APÊNDICE II

NOME:_________________________________________________R.A_________

Atividade 1: Efetuar a divisão 2

1

4

31 .

UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO – UNIAN

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

134

APÊNDICE III

NOME:_________________________________________________R.A_________

Atividade 2:

“O que você diria ser uma boa situação ou história para 2

1

4

31 ,

algo real para a qual 2

1

4

31 é a formulação matemática adequada?”

(BALL, 1990)

UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO – UNIAN

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

135

APÊNDICE IV

NOME:____________________________________________________R.A_________

SITUAÇÕES-PROBLEMA ENVOLVENDO DIVISÃO COM FRAÇÃO: ATIVIDADE 3

Atividade 3.1: Consideremos dois hexágonos adjacentes como a unidade. Represente:

a) As metades da figura:

b) Os quartos da figura:

c) Os sextos da figura:

UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO – UNIAN

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

136

d) Os duodécimos da figura:

137

Atividade 3.2: Considerando a unidade anterior, determine quantos trapézios cabem em 11 triângulos, e em seguida represente os cálculos aritmeticamente.

1. Um dos alunos resolveu o problema anterior e encontrou como resultado 6

13 .

Discuta esta resposta.

Expressão aritmética:

Cálculos:

138

APÊNDICE V

NOME:_________________________________________________R.A________ SITUAÇÕES-PROBLEMA ENVOLVENDO DIVISÃO ENTRE FRAÇÕES: MEDIDA

Atividade 4 - Problema 1:

Numa confeitaria foram vendidos 4 bolos em fatias de 5

3 de bolo. Quantas fatias

foram vendidas e quanto sobrou?

1. Ao resolver o problema anterior, dois alunos encontraram diferentes resultados.

O aluno A encontrou 5

2 como resto da divisão, enquanto o aluno B encontrou

3

2.

Comente a estratégia de raciocínio de cada um dos alunos.

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139

APÊNDICE VI

NOME:_________________________________________________R.A_________

SITUAÇÕES-PROBLEMA ENVOLVENDO DIVISÃO ENTRE FRAÇÕES: PARTILHA EQUITATIVA

Atividade 4 - Problema 2: A mãe de Marta fez um bolo de cenoura e dividiu em

16 fatias iguais. Marta levou para a escola 12/16 do bolo, que distribuiu igualmente

em 3 pratos. Que porção do bolo ficou em cada prato?

Atividade 4 - Problema 3: Considerando que 4/5 de uma corda mede 1 ¾

metros, quanto mede a totalidade da corda?

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APÊNDICE VII

NOME:_________________________________________________R.A_________

ANALISAR A SITUAÇÃO PRESENTE NO CADERNO DO PROFESSOR,

CLASSIFICÁ-LA EM DIVISÃO COMO MEDIDA, COMO PARTILHA OU FATORES E

PRODUTO E JUSTIFICAR A RESPOSTA

Atividade 5:

.

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141

APÊNDICE VIII

NOME:_________________________________________________R.A_________

SITUAÇÕES-PROBLEMA ENVOLVENDO DIVISÃO COM FRAÇÃO: A DIVISÃO

COMO OPERAÇÃO INVERSA DA MULTIPLICAÇÃO

Atividade 6: Determinar o comprimento de um retângulo que tem largura igual

a4

3 da unidade e de área

20

6de unidades quadradas.

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