Uma viagem à Índia

18

description

Imagine uma aventura da mesma magnitude de Os Lusíadas, mas que fosse escrita hoje. Um homem que faz uma viagem à Índia, tentando aprender e esquecer no mesmo movimento, traçando um itinerário de uma certa melancolia contemporânea. É assim que os grandes críticos têm definido este livro, escrito por Gonçalo M. Tavares, um dos mais aclamados escritores portugueses da nova geração.

Transcript of Uma viagem à Índia

Page 1: Uma viagem à Índia
Page 2: Uma viagem à Índia

Prefácio

Uma viagem no coração do caos

Eduardo Lourenço

Viagem_India_miolo.indd 5 11/9/10 5:29 PM

Page 3: Uma viagem à Índia

«Já no tempo de Alexandre as portas da Índia estavam fora de alcance, mas, ao menos, o gládio do rei mostrava a sua direcção. Hoje, as famosas portas estão mais longe e mais inacessíveis; mas ninguém mostra a direcção; muita gente brande gládios mas o olhar que pretende segui- -los perde-os de vista.»

Franz Kafka, «O Novo Advogado», em A Metamorfose

«E Bloom é homem de bom ouvido, disse ainda Anisha Shankra. Com facilidade distingue a música obesada outra, da simples, da que aparece num pontoe vai directamente para o destino, sem adjectivossonoros. Quem ouve boa música merece– diria um optimista –nascer noutra vida como flor – mas Bloom nunca falaria assim.»

Uma Viagem à Índia, Canto VII

Viagem_India_miolo.indd 7 11/9/10 5:29 PM

Page 4: Uma viagem à Índia

PÁGINA 9

Esta repetição da viagem iniciática do Ocidente, tendo como «modelo» a dos Lusíadas, é uma original revisitação da mitologia cultural e literária do mesmo Ocidente, não como exercício sofisticado de des-construção (que também é) mas como versão lúdica e paródica de uma quête, aleatória e como tal assumida. Não sei se existe entre nós – e mesmo algu res – um objecto ficcional tão intrinsecamente «literário», quer dizer, o de uma «viagem» que é, em múltiplos sentidos, o da construção do barco literário da mesma viagem. O que lemos releva do segundo ou do terceiro grau. Já Os Lusíadas foram e são texto intra textual e não apenas como todos (pela natureza não «real» dos textos). Este prosaico poema, antipoema e hiper-poema, com consciência aguda da sua ficcionalidade, navega e vive entre os ecos de mil textos-objectos do nosso imaginário de leitores. Como todos os grandes livros, e este é um deles. As peripécias da aventura dramático-burlesca de Bloom – referência hiper-literária, só existe em diálogo com outras de Os Lusíadas ou encontram nele motivos de reinvenção surpreendente, ou em si mesma ou pela música (e olhar) com que o narrador (autor) as acompanha. De ma-neira que esta é sempre uma dupla viagem. E no coração dela

Viagem_India_miolo.indd 9 11/9/10 5:29 PM

Page 5: Uma viagem à Índia

PÁGINA 10

e como seu fogo frio uma devastadora e radical ironia que em permanência desloca o texto para paragens não percorridas.

Quando chegámos à Índia – os que por nós lá foram para sempre e lá ficaram –, há muito que ela era para o Ocidente a porta aberta e misteriosa para uma quietude capaz de nos curar do nosso demoníaco desassossego. Mas foi a nossa chegada que a converteu para os outros em lugar de todos os sonhos e fantasmagorias. Para nós, todas as viagens são «viagens à Índia», e não é o menor dos seus desafios e atrevimentos que o Gonçalo M. Tavares nos proponha repetir a viagem arquétipo à terra onde realidade e sonho se confundem, subvertendo o sentido da viagem canónica do Ocidente em aventura da ilusão de todas as buscas divinas e epopeia luminosa da decepção. Uma decepção à altura do desespero e da agonia ocidental no momento mesmo em que a sua história e meta-história, como pulsão conquistadora e épica, converteu o Ocidente inteiro e a sua cultura sob o signo de Ulisses em êxtase vazio, fascinado pelo esplendor do seu presente sem futuro utópico, glosando sem descanso a sua proliferante ausência de sentido.

A singular e provocante Viagem à Índia de Gonçalo M. Tavares não é, contudo, a epopeia desta espécie de terra de ninguém do sentido, em que o Ocidente se converteu, mas a travessia e o confronto, ao mesmo tempo intemerato e burlesco, desse caos, não para descobrir nele uma mítica porta de saída mais ilusória ainda que as já conhecidas, mas para encarar a sério o seu paradoxal enigma. É apenas, num travestimento sem precedentes do texto epopaico (Os Lusíadas, a seu modo, também é já texto de decepção, por conta da realidade), uma viagem ao fim do nosso fabuloso presente como glosa interminável da existência como tédio de si mesma. Partindo como Gama de Lisboa, e diferindo o mais que pode e sabe, como Ulisses, não o regresso, mas o «fim» da Viagem, Bloom, o seu tão célebre e literário herói, não contemplará (como a

Viagem_India_miolo.indd 10 11/9/10 5:29 PM

Page 6: Uma viagem à Índia

PÁGINA 11

humanidade inteira) a face de Deus ou as pegadas de Deus, que no espelho da Índia imaginava contemplar. Mas não volverá o mesmo. Agora sabe o que já pressentia. Que não viajamos para nenhum paraíso. Que todas as viagens são sempre um regresso ao passado de onde nunca saímos.

Uma Viagem à Índia não recomeça em tempos outros a eterna busca do Oriente, de todos os Orientes onde o Gama já aportou por nós, mas tenta proeza mais temerosa, a da re--escrita da aventura verbal onde ela está consagrada, como a de Homero para Joyce. É sobretudo a contra-epopeia, ao mesmo tempo luminosa, paródica e burlesca, de um herói de tudo como nada que subverte todas as versões épicas da Viagem que inventámos e que é sempre, ao fim e ao cabo, a não-viagem que nós próprios somos. Não como embarcados, à maneira de Pascal, mas como viajados por conta de ninguém. A nossa fabulosa aventura foi sempre sem sujeito como os gregos já sabiam. Mas agora navegamos pela primeira vez e a sério no mar do nosso sublime, ou apenas trivial e universal, anonimato. Seria – e também é – o cúmulo do niilismo se o seu autor-herói, primeiro não-viajante cons-ciente da ficcionalidade de todas as buscas do Graal, não nos acompanhasse ou se acompanhasse, na ausência de musa, o que ele chama «a velha ironia»

«que por vezes utiliza[rá] para evitarrir às gargalhadas, ou chorar.»

Para nós, todas as viagens são viagens à Índia. As do passado porque para lá se dirigiam sem saber que a alcançariam. De tão percorridas não precisam de ser invocadas. São pura legenda. Gonçalo M. Tavares deixa-as no limbo em que se dissolveram: Jerusalém, Atenas, Roma, o Graal, o novo mundo, a própria natureza, como labirinto ávido de catástrofe, como se fosse

Viagem_India_miolo.indd 11 11/9/10 5:29 PM

Page 7: Uma viagem à Índia

PÁGINA 12

a Cassandra de si mesma, já estão inscritas no seu futuro esquecimento. E importam pouco comparadas com a única viagem que um século sem viagens possíveis nos mares do mundo exige a Bloom, o Ulisses do século xxi, «inteiramente ignorado dos antigos», como diria Pessoa, o nosso Bloom caseiro, também ele em busca das famosas «índias que não vêm nos mapas».

O título provocante que Gonçalo M. Tavares deu à sua original odisseia releva menos de Pessoa – sonhador do puro sonho – que de Borges, fabricante da pura ficção. E mesmo de pleonástica ficção. A Lisboa de onde Bloom parte, como o Gama, para a Índia, é e não é a dos Lusíadas, que já era a de um passado eterno quando Camões, evocando-a, a inscreve no nosso imaginário mítico. É só uma capital de um século na sua hora zero, todo presente, e que perdeu ou dispensa todas as bússolas dos viajantes do passado em busca do futuro. O universo de Gonçalo M. Tavares é um mar inavegável à maneira antiga. Mais se parece a um Titanic repousando nas profundezas de um mar de destinos imóveis no único tempo que nos choca, nos fascina e nos convoca, sempre em atraso para evocar as suas aventuras terminadas. Uma Viagem à Índia não é uma versão insólita, para muitos leitores hermética, nem da pura imagem navegante que conta do mar anterior as novas aventuras, nem a pura viagem onírica da Ode Marítima à busca de um Deus que nenhuma baleia branca assinala. É uma viagem menos epopeia que irónica travessia de um espaço mitológico, de nós como Ocidentais, imersos, se não submersos, pelos sonhos dos outros, revividos como nossos e dos nossos como de ninguém.

O Virgílio desta navegação é Bloom, o nosso Ulisses convertido em literatura e aqui devolvido «à vida» de todas as grandes proezas que mil textos disseminados com ciência e divertida visão de um amante virtual de banda desenhada

Viagem_India_miolo.indd 12 11/9/10 5:29 PM

Page 8: Uma viagem à Índia

PÁGINA 13

ilustram a policiesca, surrealizante, e hiper-realística aventura. O autor de Jerusalém celebrizou-se entre nós, e depois no vasto mundo, pelo olhar extraterrestre com que tão familiarmente subverte e converte a visão e a vivência do nosso quotidiano, transfigurando-as, como um prestidigitador à Buster Keaton, numa cena de magia unindo a geometria e o delírio a frio. Com alguma sombra de Pessoa – maior ainda a de Whitman – mas sem lágrimas recalcadas. A inicial Dublin do seu Bloom é Londres, a mais viva e morta das nossas capitais, onde os fantasmas conjugados de Sherlock Holmes e Agatha Christie lhe surgem numa mistura deliciosa de história policial e viagem heteróclita entre as mil tenebrosas aventuras da cidade de um quotidiano fantástico como «armazém metafísico». Mas há outras, como Paris servindo-lhe de Ilha dos Amores.

O dispositivo de Uma Viagem à Índia é o de um poema provocantemente épico e anti-épico. A sua realidade é a de um romance não menos provocantemente inscrito nos «cantos» e «estâncias», ao mesmo tempo prosaicas e hiper--literárias pelos ecos de todas as peripécias que lhe são como mar inacessível à plácida superfície do seu poema, total e totalizante. A sua «viagem» não desconhece todas as viagens já feitas. Sabe-se outra, como a de Camões se desejou. É entre tudo e nada, ao mesmo tempo trivial e sublime, mas hiper- -consciente do seu carácter desesperado, da sua necessidade, da sua in-transcendência transcendente. Salvo a do seu herói--anti-herói num mundo e num tempo onde os ícones são mais visíveis que os «homens». Bloom é «o» herói do que vê e, o que vê e o vê a ele, nunca existiu assim. Por isso o seu romance-poema ou poema-romance, tão futurante pelo seu anacronismo paradoxal, é de um futurismo mais convincente que o de Houellebecq e devolve ao não escrito o que nos foi tudo, a começar pela «divina» Grécia que já não somos ou não merecemos:

Viagem_India_miolo.indd 13 11/9/10 5:29 PM

Page 9: Uma viagem à Índia

PÁGINA 14

«É certo que os Gregos tentaram aperfeiçoartanto a Verdade quanto o gesto,porém as ideias foram de longe as coisas mais mudadas.Eis pois o momento de colocar a Gréciade cabeça para baixoe de lhe esvaziar os bolsos, caro Bloom.»

Não se diga que o autor – criador de Bloom – não assuma o mais directamente possível a sua aventura real e metafísica. O herói vai à Índia procurando «sabedoria» e «esquecimento». Tudo o que o Ocidente nunca teve e não desejou. A sua carta de prego:

«Esperamos, pois, Bloom, que cresças e que crescendovás directo à realidadee não pares. Porque não bastaencostares-te aos acontecimentos,o que pensámos para ti é bem mais profundo,não basta conheceres sete teorias,terás que subir a sete altas montanhas.E atravessar ainda os continentescomo se a terra fosse uma extensão temporalcapaz de medir os teus dias.»

Excursão mística? Os deuses não são o assunto de Bloom. Ou do seu criador:

«Os deuses actuamcomo se não existissem, e assimnão existem, de facto, com extrema eficácia.»

Contudo é a sua inexistência mesma quem comunica a todas as aventuras ao rés do real mais banal, e só por isso sublime,

Viagem_India_miolo.indd 14 11/9/10 5:29 PM

Page 10: Uma viagem à Índia

PÁGINA 15

uma dimensão irónica e transcendentemente sarcástica, música de fundo que articula todas as visões e, sobretudo, todas as vivências em torno da visão original onde tudo e nada se defrontam e se combatem. É de uma negrura absoluta esta viagem à Índia, pátria arcaica de nós mesmos como Espírito, entre fantasmas e vampiros de que esta cruel e tónica Viagem se alimenta. Nenhuma das ilusões que nos fazem viver e de onde emergimos, mesmo a mais sublimada, escapa ao seu olhar de anatomista dos nossos sonhos divinos. Bloom é um Édipo que não está disposto a vazar os olhos por um pecado de que não é sujeito. O mundo nunca conheceu perfeição alguma digna de adoração.

«E o mundo não tem metadeporque nunca está inteiro […]. O mundo nunca está completo:faltam pessoas que nos morreram.»

Bloom (ou o seu criador) não desce aos infernos para resgatar, como o incauto Orfeu, a Eurídice, que perdeu por culpa paterna. Por sua causa matou o seu próprio pai. E esse é o «motivo», a causa original da sua viagem. Buscar água que o lave do seu crime irremível, como a do Ganges, feito só de água lustral. A visão de Gonçalo M. Tavares da Índia quando sem pressa aí chega, se é que alguém aí chega («Porque à Índia não se chega, meu caro, na Índia caminha-se») é só por si mitologia e geografia da alma e um prodigioso retrato desse continente onde a religião não é uma crença mas o ar que se respira, a única onde a água suja da vida redime todas as misérias. Essa água que «embebeda mais que o vinho e seduz tanto como as mulheres jovens»…

Uma Viagem à Índia não é apenas uma busca a essa terra da promissão da alma onde um Ocidente sem ela imagina

Viagem_India_miolo.indd 15 11/9/10 5:29 PM

Page 11: Uma viagem à Índia

PÁGINA 16

regressar até descobrir, como Bloom, que os seus «gurus» são vulgares e suspeitos vendedores de ilusões como todos os outros.

Não sendo (ainda que) uma profunda e divertida «suma ateológica» da nossa existência como Ilusão, à maneira de Antero (com o humor a mais), Uma Viagem à Índia é uma navegação parada e fulgurante da nossa alma de pós-modernos, fugitivos e perseguidos, como um herói de banda desenhada entre os recifes simétricos de um Poder sem rosto que nem precisa de existir para nos servir de Destino e uma universal Ilha de Amores tarifados de onde desapareceu até a lembrança de que alguma vez, como na história de Pedro e Inês (de Bloom e Mary), Poder e Amor tivessem dormido na mesma cama.

Eduardo Lourenço

Viagem_India_miolo.indd 16 11/9/10 5:29 PM

Page 12: Uma viagem à Índia

Uma Viagem à Índia(2003-2010)

Viagem_India_miolo.indd 17 11/9/10 5:29 PM

Page 13: Uma viagem à Índia

Já se ia o Sol ardente recolhendo

Luís de Camões

Viagem_India_miolo.indd 21 11/9/10 5:29 PM

Page 14: Uma viagem à Índia

Canto I

Viagem_India_miolo.indd 23 11/9/10 5:29 PM

Page 15: Uma viagem à Índia

CANTO 1

PÁGINA 25

1

Não falaremos do rochedo sagrado onde a cidade de Jerusalém foi construída,nem da pedra mais respeitada da Antiga Gréciasituada em Delfos, no monte Parnaso,esse Omphalus – umbigo do mundo –para onde deves dirigir o olhar, por vezes os passos,sempre o pensamento.

2

Não falaremos do Três Vezes Hermesnem do modo como em ouro se transformao que não tem valor – apenas devido à paciência,à crença e às falsas narrativas. Falaremos de Bloome da sua viagem à Índia.Um homem que partiu de Lisboa.

3

Não falaremos de heróis que se perderam em labirintosnem na demanda do Santo Graal.(Não se trata aqui de encontrar a imortalidademas de dar um certo valor ao que é mortal.)Não se abrirá uma cova para encontrar o centro do mundo,nem se procurará em grutas nem em caminhos da florestaas visões que os Índios idolatravam.

Viagem_India_miolo.indd 25 11/9/10 5:29 PM

Page 16: Uma viagem à Índia

UMA VIAGEM À ÍNDIA

PÁGINA 26

4

Não se trata aqui de fazer um jejum no alto da montanha sagradapara que a fraqueza e os ares elevadospossibilitem tremores e doenças benignas.Trata-se simplesmente de constatar como a razão ainda permite algumas viagens longas.Falaremos de Bloom.

5

Não iremos admirar de perto o Vesúvio, nem deitaremos animaispara a cratera de modo a acalmar os elementos.Não mataremos pela água da juventude eterna,nem amaldiçoaremos nomes atirando tábuas com letras malditasàs águas de Bath, em Inglaterra.Não falaremos das grandes pirâmides de Gizé,das suas múltiplas passagens secretasque permitem a entrada ou a fuga dos homens.

6

Não falaremos das ruínas de Stonehenge ou de Avebury,nem dos alinhamentos demasiado exactos de pedrasna ilha de Lewis. Não falaremos desses milagres deixados um pouco por todo o mundo,dessas cartas em pedra que os antigos nos enviaram.

Viagem_India_miolo.indd 26 11/9/10 5:29 PM

Page 17: Uma viagem à Índia

CANTO 1

PÁGINA 27

Falaremos de um homem, Bloom,e da sua viagem no início do século xxi.

7

Não falaremos dos terríveis acontecimentos naturaisda história do mundo.Terramotos e maremotos, ciclones em Bangladeshtufões nas Caraíbas – o mundo abana e sofre de incêndios e inundaçõesdesde Noé, pelo menos.Não falaremos da Pedra Negra em Mecae das sete voltas que essa pedra exigeque um crente dê em redor da praça.Falaremos de Bloom e da sua viagemde Lisboa à Índia.

8

Não falaremos da cidade inca de Machu Pichunão falaremos das grutas de Lascaux,nem dos seus desenhos acriançados,ameaçadores e sérios. Não falaremos dos cavalos chineses nem dos seres mitológicos das rochas em Ontário.Falaremos de Bloom. E da sua viagem à Índia.

9

Não falaremos do aparecimento súbito de anões em certas grutas do México,

Viagem_India_miolo.indd 27 11/9/10 5:29 PM

Page 18: Uma viagem à Índia

UMA VIAGEM À ÍNDIA

PÁGINA 28

nem dos penhascos no Coloradoonde dentro da pedra se construíram casas. Não falaremos de mesas de pé-de-galo e das periódicas visitas do Além às casasde cidadãos racionais.Falaremos de uma viagem à Índia.E do seu herói, Bloom.

10

Falaremos da hostilidade que Bloom, o nosso herói,revelou em relação ao passado, levantando-se e partindo de Lisboa numa viagem à Índia, em que procurou sabedoria e esquecimento.E falaremos do modo como na viagem levou um segredo e o trouxe, depois, quase intacto.

11

É indispensável tornar conhecidas acções terrestrescom o comprimento do mundo e a altura do céu,mas é importante também falar do que não é assim tão longo ou alto.É certo que os Gregos tentaram aperfeiçoar tanto a Verdade quanto o gesto, porém as ideias foram de longe as coisas mais mudadas. Eis pois o momento de colocar a Grécia de cabeça para baixo e de lhe esvaziar os bolsos, caro Bloom.

Viagem_India_miolo.indd 28 11/9/10 5:29 PM