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,. 2 12 DEZEMBRO Saramago teve muita �orte. Os alentejanos são hospitaleiros, sim, mas a hospitalidade dos alentejanos pobres faz-se na pra, no largo Igreja ou na taberna. E preciso tempo e confiança para se abrir a casa a um estranho e oferecer-lhe, sem mais, a partilha da própria me •U•)=JãO capote de José Saramago CHOVIA qu+ Deu, 1 dava e fazia um frio de racha naquela noita da Flvealro d 1980. Ma1 o 11110 nobre da Cai do Alentefo, em Llsbo · - gande como é e d11de logo pouco acolhedo -, tornara-11 mal, confortável com o pa11ar dai hora,. O fantar flzera•H de comida-e d bom vinho da terra que o llvro celebrava. Com excepçio, talvez, da meaa de hon• ra para o escritor, todas as outra, tinham sido organizada• espontaneamente. Aqui e all Juntavam•H grupo• de amigo,, mas além mais o que se via eram convlv11 de clcun1tlncl1, vagamente conhecidos ou acabadlnho1 de se apesanta uns aos outos, poentura nem Isso, que o tempo era de poucas formalldades. Gente das letras e dos Jornais, alguns nomes sonan·tes e míticos para a esquerda comunista, como o ex-Presidente da Repúbllca Costa Gomes e o ex-primeiro-ministro Vasco Gonçal• ves, dirigentes do PCP e a fauna do croquete que é de regra aparecer em todos os lançamentos. Mas num conjunto de me- sas muito próximas das janelas, e sem medo do frio que amea- çava pelas frinchas, estava um grupo de homens e mulheres diferentes. Mais homens que mulheres, diga-se já, vestidos de escuro em grande pae, os rostos duros e a pele enegrecida pelo sol e pela vida, porém contentes - como talve escreves- se agora Saramago e como bem se podia ver pelo seu modo de estar. Um género de pessoas que as editoras não costumam convidar para a apresentação de livros, por motivos que até nem custa perceber: muitos deles, a maioria talvez, nunca comprarão um único exemplar. Não só por lhes ltar o dinhei- ro para outros alimentos, mas pela mais simples e cruel razão de que não sabem ler. Ali estavam, pois, se não todos, certamente a maioria dos 16 nomes de homens e mulheres sem os quais «não teria sido escrito este livro», como o autor deixou gravado logo a seguir ao frontispício, antes de avançar para uma interrogação recuperada de Almeida Garrett, que aqui se reproduz parcialmente: «E eu pergunto aos economistas, políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indi- víduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho des- proporcionado( ... ), à desgraça invencível, à penúria absolu- ta, para produzir um rico?» Lá para o fim da noite, Maria Lúcia Lepecki, professora de Literatura na Faculdade de Letras de Lisboa, lamentava para· um grupo mais próximo, no seu sotaque brasileiro: «Vocês não percebem que têm na frente o García Márquez da língua pougu111,,. Além dela, nlngu6m mal1 lera ainda o livro que acabava d1 nasce e a malo pae tomou a col11 po de11bfo da boa vontade, a velha mania que 11mpre temo, de toma de11fo1 por realldade. uLevantado do Chio» ara o 12 ° llvro com a a11lnatura de Jo1é Saramago. Ma,, por al1um1 1tra• nha e ainda lnexpllcável azlo, aparecia-nos naquela noite como II foue o primeiro. O autor confe11ava ter tido o 10• nho de poder dizer d11te livro, quando o acabaue: ul1to 6 o AlenteJo,,. M11 do1 1onho1, escrevia ele, acordamo1 todo1. Limitou-se, poli, a corlglr, com uma humlldade que nio 6 exactamente o seu foe, como ficou bem demon1tado na cena públlca desta quinta-feira contra a SIC: «l1to é um llvo sobre o AlenteJo,,. Um llvro que «quis aproximar-se da vida». Dezoito anos depois, faltava ver e ouvir Mariana Amálla Bazu• ga explicar no Canal I como foi José Saramago almoçar a sua casa logo no dia em que chegou a vre com esse tal fim em vista: aproximar-se da vida. E de um ceo Alentejo. Ele tinha dito aos homens da UCP(Unidade Coledlva de Produção) que, no tempo que por ali estivesse, não queria ficar a almoçar num restaurante mas na casa de um trabalhador. Conta Mariana: «Mas ninguém disse, pois então pode ser na minha casa. O meu marido disse». Teve muita soe José Saramago. Os alentejanos são gente hospitaleira, sim, mas a prova dessa hospitalidade e, em par- ticular, a hospitalidade dos alentejanos pobres, faz-se na pra- ça, no largo da igreja ou na taberna. É preciso tempo, muita confiança e intimidade até se chegar ao ponto de abrir a casa a um estranho e se lhe oferecer, sem mais e por tempo inde- terminado, a partilha da própria mesa. Não existe agora qual- quer dúvida de que João Bazuga, o dono da casa, era um alentejano especial. Por isso se compreende melhor e faz sentido aquele capote de gola de raposa que o Nobel da Lite- ratura orgulhosamente enverga no meio da neve, ·como uma espécie de homenagem codifica�a aos 16 nomes de homens e mulheres sem os quais «Levantado do Chão», o livro primei- ro, não teria sido escrito. E por isso se entende muito bem que, no meio da sua tão grande serenidade, Mariana, já vesti- da de preto por João e por um filho de ambos, se deixe emo- ; cionar quando recorda o dia em que aquele· homem que vem � agora a sair de um luxuoso hotel de Estocolmo lhe bateu à e porta para almoçar. Só porque o seu marido i o único, ou pelo menos o primeiro, a dizer: «Pois então, pode ser em :� minha casa». DIREITOS HUMANOS ) Um dia de foguetório QUEM se tenha dado ao trabalho de ler, por estes dias de grande divulgação. os 30 aigos da Declaração Universal dos Direitos do Ho- mem, viu que o que ali está não é um mero enunciado de pncípios mas um autêntico pro- jecto de sociedade - o projecto de uma socie- dade ideal, talvez utópica. Não precisamos se- quer de chegar aos direitos específicos sobre a Saúde, a Educação ou a Justiça, para nos dar- mos conta de como � ambiciosa a empresa para que a ONU desafiou o mundo em 1948. Basta a primeira frase do igo pmeiro - «Todos os homens nascem livres e lauals em dignida- de e em direitos» - para nos põr a pens na distância que vai entre o que se lê no papel e a realidade destes 0 anos que a Declaraço tem de existência. Compreende-se, por is o, que e fale de hpocrisia a propósito destas comemorações. Mui- tos dos países que agora mesmo se associam ao cinquentenário violam ou violaram ostensiva- mente e de rma sistemática - em alguns ca- os como douna de Estado assumida às cla- ras, tanto em nome da direita como da esquerda - as regra que sub creveram logo em 48 ou já depois, mas com igual rça de compromisso. Há, decerto, muita hipocrisia. Mas isso não deve impedir o reconhecimento de que, como observava Mário Soares, também no «Públi- co», foi percorrido um longo caminho graças à Declaração de 48 e a um vasto conjunto de ou- tros documentos que se lhe seguiram. Ou como escrevia de rma mais explícita na revista «Ti- me» desta semana um professor de Direito Constitúcional Comparado, Wiktor O iatynski, a ideia central da Declaração «udou a acele· rar os movimento Independentiss e fez dls· parar a revolução pelos direitos civis no mundo ocidenl», a o mesmo tempo que «con• feriu lealtlmidade à lu contra a tirania em todo o mundo, desempenhando um papel crucial no· derrube do comunismo. O que REVEILLQN 98/99 �SP PENHA NGA Golf Reso ROADWAY 20. OOh1 Oooktail de reoep9ão +0 Foyer D. Joio., oom aoolhimento ito especial... r " \ 1 \ i.l ' 1 • al,OOh1 Jatar +a Sala D. JoloJ reviva os mel��ntos da "Broadway" atravs da ecora9ão e 4) 1 •�9o que lhe P.roporcinos·, enquanto é seida cuidada e deliciosa emnta. • OO.OOh: Champagne, passas e µita afetr!• rree1Ível convite para dan9ar� · 1 + • Ó?,00 h: Ceia ligeira. antes qµe, o sol nas9a, ortj 1 \t1 27, 500$00 por pessoa especiais para crian9as) oneof . s·otorld' ' - (l ;' 1 não é um recorde nada mau para uma Ideia». E o iculista da «Time» defende, ao contrá- rio de outros que pedem uma Declação com mai e novos direitos, que a melhor rma de defender os já consagrados é limitar a própria definição de Direitos Humanos; impor o co• nhecimento desses diitos mínimos nas leis na- cionais, zendo depender do efectivo respeito por eles a elegibilidade dos Estados para benefi- ciarem, por exemplo, da ajuda do Banco Mun- dial e do FMI; ou e tabelecer sançõe pa os que violem tais direitos, bem como legitimar antecipadamente a inteenção da comunidade inteacional quando os cmes cometidos assu- mam o carácter de genocídio, como sucedeu em Timor-Leste, ou no Ruanda, ou no Kosovo. Isto é o que devem zer o Estados nas orga- nizações inteacionais a que pertencem. Mas o que cada um deles pode zer nos seus mais estreitos donios não tem lites, atendendo ao ponto baixo em que nos encontramos. A sua autoridade será tanto maior nesses «ra» inter- nacionai quanto mais fizerem poas adentro por uma cultura de re peito pelos direitos huma- nos. Agora veja-se este pequeníssimo e quase insignificante exemplo: há vários anos que exis- te nos currículos do Secundário, em Portugal, uma disciplina com o nome de Desenvolvimen- to Pessoal e Social (DPS), a sede própria para uma formação cívica elementar que a escola de- ve dar aos seus alunos. Pois são raríssimas as escolas onde a disciplina é ministrada. E quase sempre por professos que não têm foação específica para a leccionar. No meio do milha- res de cursos das milhentas universidades exis- tentes no consta, pelos vistos, o de professore de DPS. Todas as comemorações com data macada - e as da Declaração não são excepço - têm este risco: o de seirem para pouco mais do que o foguetóo de um dia ou, vá lá, de uma semana. SANTA CASA DA ECÓ DE LISBOA DEPARTAMENTO DE OBRAS ANÚNCIO Concurao Público para a emprellada de •OBRAS 0 RMODLAÇÃO PARA O LAR NOSSA SNHORA DO CAMO - EBTADA DO CALHAIZ D BENFICA, N.u 177/179, EM Ll8BOA+, 1 - ENTIDAD AD�UDICANT SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE LISBOA - Depaamento de Obras - Largo Trindade Coelho, em Lisboa. · · - LUGAR DE EXECUÇÃO DA OBA Estrada do Calharlz de Benfica, n." 177/179, em Lisboa. 3 - NATUREZA E EXTENSÃO DOS TRABALHOS Execuçào de todos os 1rabalhos de cons1ruçêo clvll de remodelação do edlflclo, Incluindo demollçêo, esca· vaçào e contenção periférica e de fachadas, fundações e estruturas, Instalações de água e esgotos, rede de Incêndios, electrlcldade, segurança, gás, 1e1efones, aquec1men10 central e ventllaçao, elevadores e monta-pratos. 4 - PRAZO DE EXECUÇÃO O prazo de execução é de 12 meses. S - FORNECIMENTO DE DOCUMENTAÇÃO a) O processo de concurso encontra-se patente no Departamento de Obras da Santa Casa da Misericór- dia de Lisboa, Largo Trindade Coelho, Lisboa, onde poderá ser consultado e adquirido nas horas de expediente. ·b) O custo do processo de concurso é de Esc.: 40.000$00. acrescido do respectlvo IVA. 8 - NATUREZA. E CLASSIFICAÇÃO DOS ALVARÁ$ a) Os concorrentes deverão ser delentores dos seguintes alvarás de empreiteiro de Obrás Públicas: 1.• Subcalegorla da t .• Categoria, e ainda da t .• Subcategoria da 4.• Categoria ou 2.•, 3.•, 5.•, 7.•, a.• e 9.• Subcategorias da 4.• Categoria e classes correspondentes ao valor global e parcelares da proposta por especialidades. b) Caso o concorrente não disponha dos alvarás nas especialidades exigidas na alfnea a), Indicará, em documento anexo, os subempreiteiros e respectlvos alvarás, aos quais ficará vinculado por contrato para a execução dos trabalhos que lhe respeitem. 7 - PREÇO BASE DO CONCURSO O preço base do concurso é de Esc.: 235.000.000$00 (duzentos e trinta e cinco milhões de escudos). 8 - CAUÇÃO O valor da caução é de 5% (cinco por cento) do valor do Contrato. 9 - TIPO DE EMPREITADA A empreitada é por preço global. 10 - CRITÉRIO DE APRECIAÇÃO DAS PROPOSTAS A adjudicação far-se-á à proposta mais vantajosa pela aplicação dos seguintes critérios de apreciação, ordenados por ordem decrescente de Impoância: - Preço: - Prazo de execução; - Capacidade técnico-financeira do concorrente: - Valor técnico dos equipamentos a Incorporar em obra. 11 - DATA, LOCAL E MODO DE APRESENTAÇÃO a) As propostas terão de dar entrada no Oepaamento e Obras da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Largo Trindade Coelho, Lisboa, até às 12 horas do dia 19 de Janeiro de 1999. b) As propostas deverão ser redigidas em llngua portuguesa. 12 - ABERTURA DAS PRÓPOSTAS A abertura das propostas terá lugar às 15.30 horas do dia 19 de Janeiro de 1999. Lisboa, 1 O de Dezembro de 1998 SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE LISBOA A Provedora Maria do Carmo Rom4o REFERENDO N·u nca fiando. PAULO Portas ganhou um referendo e exo rcizou o fantasma monteirista que ameaçava atormentá -il eleições. Agora, tem apenas de conviver com u parlamentar dividido, o que não é coisa pouca m as s e uportável, porque, ainda que de rma indire cta v iu legitimidade política renovada, Os resultados d v e o ' vir de travão à ameaça de uma ci ão na bancad a eventual resolução de um suicídio político cole ctiv nizado por Manuel Monteiro e amigos mais próxim osJ ficaria que não ficassem agora sossegados no s e u c o Mas nestas coisas há sempre um «porém». o « deste caso é que os aparelhos partidários em geral sro pre muito fiéis e generosos para com os líderes de s E o CDS-PP em particular tem feito prova ba tante de fiel com cada um, mas também com o outro que v e o a seguir. Por exemplo, deu dois terços a Freitas quo se preparava para aplaudir Monteiro. E não regateog apoio a Monteiro, quando também já estava pront o a mar o seu adver ário e ex-amigo. Portas tem agora 0 condições com a vaga perspectiva de chegar ao poder lhando esse oectivo, o melhor é nunca fiar... , �. �4�.4�.4, IIOl'EL LISBOA PLAZA Tv. Sullt 7 / Av. Lirdade Resca�-Tcl: (01) 346 39 22 www.hetage.pt SEDE,ÃO·Felas. Loures,Tel.: (01) 98 9 F . (01) 989* S U1 · Rua Ao , 2--D . Tel.: (01) 1� 1I VIII No l , go do Me . Tel.: (S) c Z To V . R io L o, . Tel.: (&1) 31 51 1 S1 , Av. Dr., 17 T.: (B) PEDRO & MANTOVANl,sA COZINHAS E SALAS DE BANHO

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2 12 DEZEMBRO

Saramago teve muita �orte. Os alentejanos são hospitaleiros, sim, mas a hospitalidade dos alentejanos pobres faz-se na praça, no largo Igreja ou na taberna. E preciso tempo e confiança para se abrir a casa a um estranho e oferecer-lhe, sem mais, a partilha da própria me

•U•)=Jã•

O capote de José Saramago CHOVIA qu11 Deu, 1 dava e fazia um frio de rachai' naquelanoita da Flvel'alro d 1980. Ma1 o 11110 nobre da Cai doAlentef o, em Llsbo · - gl'ande como é e d11de logo poucoacolhedol' -, tornara-11 mal, confortável com o pa11ar daihora,. O fantar flzera•H de comida-e d bom vinho da terra que o llvro celebrava. Com excepçio, talvez, da meaa de hon• ra para o escritor, todas as outra, tinham sido organizada• espontaneamente. Aqui e all Juntavam•H grupo• de amigo,, mas além mais o que se via eram convlv11 de cll'cun1tlncl1, vagamente conhecidos ou acabadlnho1 de se apl'esantal' uns aos outl'os, porventura nem Isso, que o tempo era de poucas formalldades.

Gente das letras e dos Jornais, alguns nomes sonan·tes e Jámíticos para a esquerda comunista, como o ex-Presidente da Repúbllca Costa Gomes e o ex-primeiro-ministro Vasco Gonçal• ves, dirigentes do PCP e •a fauna do croquete que é de regra aparecer em todos os lançamentos. Mas num conjunto de me­sas muito próximas das janelas, e sem medo do frio que amea­çava pelas frinchas, estava um grupo de homens e mulheres diferentes. Mais homens que mulheres, diga-se já, vestidos de escuro em grande parte, os rostos duros e a pele enegrecida pelo sol e pela vida, porém contentes - como talvez: escreves­se agora Saramago e como bem se podia ver pelo seu modo de estar. Um género de pessoas que as editoras não costumam convidar para a apresentação de livros, por motivos que até nem custa perceber: muitos deles, a maioria talvez, nunca comprarão um único exemplar. Não só por lhes faltar o dinhei­ro para outros alimentos, mas pela mais simples e cruel razão de que não sabem ler.

Ali estavam, pois, se não todos, certamente a maioria dos 16 nomes de homens e mulheres sem os quais «não teria sido escrito este livro», como o autor deixou gravado logo a seguir ao frontispício, antes de avançar para uma interrogação recuperada de Almeida Garrett, que aqui se reproduz parcialmente: «E eu pergunto aos economistas, políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indi­víduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho des­proporcionado( ... ), à desgraça invencível, à penúria absolu­ta, para produzir um rico?»

Lá para o fim da noite, Maria Lúcia Lepecki, professora de Literatura na Faculdade de Letras de Lisboa, lamentava para· um grupo mais próximo, no seu sotaque brasileiro: «Vocês não percebem que têm na frente o García Márquez da língua

pol'tugu111,,. Além dela, nlngu6m mal1 lera ainda o livro que acabava d1 nascei' e a malol' parte tomou a col11 pol' de11ba· fo da boa vontade, a velha mania que 11mpre temo, de tomai' de11fo1 por realldade. uLevantado do Chio» ara o 12° llvro com a a11lnatura de Jo1é Saramago. Ma,, por al1um1 1tra• nha e ainda lnexpllcável l'azlo, aparecia-nos naquela noite como II foue o primeiro. O autor confe11ava ter tido o 10• nho de poder dizer d11te livro, quando o acabaue: ul1to 6 o AlenteJo,,. M11 do1 1onho1, escrevia ele, acordamo1 todo1. Limitou-se, poli, a col'rlglr, com uma humlldade que nio 6 exactamente o seu fol'te, como ficou bem demon1tl'ado na cena públlca desta quinta-feira contra a SIC: «l1to é um llvl'o sobre o AlenteJo,,. Um llvro que «quis aproximar-se da vida». Dezoito anos depois, faltava ver e ouvir Mariana Amálla Bazu• ga explicar no Canal I como foi José Saramago almoçar a sua casa logo no dia em que chegou a Lavre com esse tal fim em vista: aproximar-se da vida. E de um certo Alentejo. Ele tinha dito aos homens da UCP (Unidade Coledlva de Produção) que, no tempo que por ali estivesse, não queria ficar a almoçar num restaurante mas na casa de um trabalhador. Conta Mariana: «Mas ninguém disse, pois então pode ser na minha casa. O meu marido disse».

Teve muita sorte José Saramago. Os alentejanos são gente hospitaleira, sim, mas a prova dessa hospitalidade e, em par­ticular, a hospitalidade dos alentejanos pobres, faz-se na pra­ça, no largo da igreja ou na taberna. É preciso tempo, muita confiança e intimidade até se chegar ao ponto de abrir a casa a um estranho e se lhe oferecer, sem mais e por tempo inde­terminado, a partilha da própria mesa. Não existe agora qual­quer dúvida de que João Bazuga, o dono da casa, era um alentejano especial. Por isso se compreende melhor e faz sentido aquele capote de gola de raposa que o Nobel da Lite­ratura orgulhosamente enverga no meio da neve, ·como uma espécie de homenagem codifica�a aos 16 nomes de homens e mulheres sem os quais «Levantado do Chão», o livro primei­ro, não teria sido escrito. E por isso se entende muito bem que, no meio da sua tão grande serenidade, Mariana, já vesti-da de preto por João e por um filho de ambos, se deixe emo- ; cionar quando recorda o dia em que aquele· homem que vem � agora a sair de um luxuoso hotel de Estocolmo lhe bateu à e porta para almoçar. Só porque o seu marido foi o único, ou � pelo menos o primeiro, a dizer: «Pois então, pode ser em :� minha casa». �

DIREITOS HUMANOS

) Um dia de foguetório QUEM se tenha dado ao trabalho de ler, por estes dias de grande divulgação. os 30 artigos da Declaração Universal dos Direitos do Ho­mem, viu que o que ali está não é um mero enunciado de princípios mas um autêntico pro­jecto de sociedade - o projecto de uma socie­dade ideal, talvez utópica. Não precisamos se­quer de chegar aos direitos específicos sobre a Saúde, a Educação ou a Justiça, para nos dar­mos conta de como � ambiciosa a empresa para que a ONU desafiou o mundo em 1948. Basta a primeira frase do Artigo primeiro - «Todos os homens nascem livres e lauals em dignida­de e em direitos» - para nos põr a pensar na distância que vai entre o que se lê no papel e a realidade destes .50 anos que a Declaraçllo tem de existência.

Compreende-se, por is o, que e fale de hi· pocrisia a propósito destas comemorações. Mui­tos dos países que agora mesmo se associam ao cinquentenário violam ou violaram ostensiva-

mente e de forma sistemática - em alguns ca-os como doutrina de Estado assumida às cla­

ras, tanto em nome da direita como da esquerda - as regra que sub creveram logo em 48 ou jádepois, mas com igual força de compromisso.

Há, decerto, muita hipocrisia. Mas isso não deve impedir o reconhecimento de que, como observava Mário Soares, também no «Públi­co», foi percorrido um longo caminho graças à Declaração de 48 e a um vasto conjunto de ou­tros documentos que se lhe seguiram. Ou como escrevia de forma mais explícita na revista «Ti­me» desta semana um professor de Direito Constitúcional Comparado, Wiktor O iatynski, a ideia central da Declaração «ajudou a acele· rar os movimento Independentistas e fez dls· parar a revolução pelos direitos civis no mundo ocidental», ao mesmo tempo que «con• feriu lealtlmidade à luta contra a tirania em todo o mundo, desempenhando um papel crucial no· derrube do comunismo. O que

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• OO.OOh: Champagne, passas e muita afetr!!'o<• :li.rres!e1Ível convite para dan9ar� · 111

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27, 500$00 por pessoa especiais para crian9as)

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não é um recorde nada mau para uma Ideia».

E o articulista da «Time» defende, ao contrá­rio de outros que pedem uma Declaração com mai e novos direitos, que a melhor forma de defender os já consagrados é limitar a própria definição de Direitos Humanos; impor o reco• nhecimento desses direitos mínimos nas leis na­cionais, fazendo depender do efectivo respeito por eles a elegibilidade dos Estados para benefi­ciarem, por exemplo, da ajuda do Banco Mun­dial e do FMI; ou e tabelecer sançõe para os que violem tais direitos, bem como legitimar antecipadamente a intervenção da comunidade internacional quando os crimes cometidos assu­mam o carácter de genocídio, como sucedeu em Timor-Leste, ou no Ruanda, ou no Kosovo.

Isto é o que devem fazer o Estados nas orga­nizações internacionais a que pertencem. Mas o que cada um deles pode fazer nos seus mais estreitos domínios não tem limites, atendendo

ao ponto baixo em que nos encontramos. A sua autoridade será tanto maior nesses «fora» inter­nacionai quanto mais fizerem portas adentro por uma cultura de re peito pelos direitos huma­nos. Agora veja-se este pequeníssimo e quase insignificante exemplo: há vários anos que exis­te nos currículos do Secundário, em Portugal, uma disciplina com o nome de Desenvolvimen­to Pessoal e Social (DPS), a sede própria para uma formação cívica elementar que a escola de­ve dar aos seus alunos. Pois são raríssimas as escolas onde a disciplina é ministrada. E quase sempre por professores que não têm formação específica para a leccionar. No meio do milha­res de cursos das milhentas universidades exis­tentes nllo consta, pelos vistos, o de professore de DPS. Todas as comemorações com data mar· cada - e as da Declaração não são excepçllo - têm este risco: o de servirem para poucomais do que o foguetório de um dia ou, vá lá, de uma semana .

• SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE LISBOA

DEPARTAMENTO DE OBRAS

ANÚNCIO Concurao Público para a emprellada de •OBRAS 01! Rl!MODl!LAÇÃO PARA O LAR NOSSA Sl!NHORA DO CAFIMO - EBTFIADA DO CALHAFIIZ DI! BENFICA, N.u 177/179, EM Ll8BOA11, 1 - ENTIDADI! AD�UDICANTI!

SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE LISBOA - Departamento de Obras - Largo Trindade Coelho, em Lisboa. · ·

:Z - LUGAR DE EXECUÇÃO DA OBFIA Estrada do Calharlz de Benfica, n." 177/179, em Lisboa.

3 - NATUREZA E EXTENSÃO DOS TRABALHOS Execuçào de todos os 1rabalhos de cons1ruçê.o clvll de remodelação do edlflclo, Incluindo demollçê.o, esca· vaçào e contenção periférica e de fachadas, fundações e estruturas, Instalações de água e esgotos, rede de Incêndios, electrlcldade, segurança, gás, 1e1efones, aquec1men10 central e ventllaçao, elevadores e monta-pratos.

4 - PRAZO DE EXECUÇÃO O prazo de execução é de 12 meses.

S - FORNECIMENTO DE DOCUMENTAÇÃO a) O processo de concurso encontra-se patente no Departamento de Obras da Santa Casa da Misericór­

dia de Lisboa, Largo Trindade Coelho, Lisboa, onde poderá ser consultado e adquirido nas horas de expediente.

·b) O custo do processo de concurso é de Esc.: 40.000$00. acrescido do respectlvo IVA. 8 - NATUREZA. E CLASSIFICAÇÃO DOS ALVARÁ$

a) Os concorrentes deverão ser delentores dos seguintes alvarás de empreiteiro de Obrás Públicas: 1.• Subcalegorla da t .• Categoria, e ainda da t .• Subcategoria da 4.• Categoria ou 2.•, 3.•, 5.•, 7.•, a.•e 9.• Subcategorias da 4.• Categoria e classes correspondentes ao valor global e parcelares da proposta por especialidades.

b) Caso o concorrente não disponha dos alvarás nas especialidades exigidas na alfnea a), Indicará, em documento anexo, os subempreiteiros e respectlvos alvarás, aos quais ficará vinculado por contrato para a execução dos trabalhos que lhe respeitem.

7 - PREÇO BASE DO CONCURSO O preço base do concurso é de Esc.: 235.000.000$00 (duzentos e trinta e cinco milhões de escudos).

8 - CAUÇÃO O valor da caução é de 5% (cinco por cento) do valor do Contrato.

9 - TIPO DE EMPREITADA A empreitada é por preço global.

10 - CRITÉRIO DE APRECIAÇÃO DAS PROPOSTAS A adjudicação far-se-á à proposta mais vantajosa pela aplicação dos seguintes critérios de apreciação, ordenados por ordem decrescente de Importância: - Preço: - Prazo de execução; - Capacidade técnico-financeira do concorrente: - Valor técnico dos equipamentos a Incorporar em obra.

11 - DATA, LOCAL E MODO DE APRESENTAÇÃO a) As propostas terão de dar entrada no Oepartamento 'de Obras da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa,

Largo Trindade Coelho, Lisboa, até às 12 horas do dia 19 de Janeiro de 1999. b) As propostas deverão ser redigidas em llngua portuguesa.

12 - ABERTURA DAS PRÓPOSTAS A abertura das propostas terá lugar às 15.30 horas do dia 19 de Janeiro de 1999. Lisboa, 1 O de Dezembro de 1998

SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE LISBOA A Provedora

Maria do Carmo Rom4o

REFERENDO

N·u nca fiando. PAULO Portas ganhou um referendo e exorcizou o fantasma monteirista que ameaçava atormentá-ileleições. Agora, tem apenas de conviver com urn parlamentar dividido, o que não é coisa pouca mas se uportável, porque, ainda que de forma indirecta viu legitimidade política renovada, Os resultados d�ve111'vir de travão à ameaça de uma ci ão na bancada eventual resolução de um suicídio político colectiv� nizado por Manuel Monteiro e amigos mais próximos J ficaria que não ficassem agora sossegados no seu c111 Mas nestas coisas há sempre um «porém». o « deste caso é que os aparelhos partidários em geral sro pre muito fiéis e generosos para com os líderes de s E o CDS-PP em particular tem feito prova ba tante de fiel com cada um, mas também com o outro que ve111 a seguir. Por exemplo, deu dois terços a Freitas quando se preparava para aplaudir Monteiro. E não regateog apoio a Monteiro, quando também já estava pronto a mar o seu adver ário e ex-amigo. Portas tem agora 0

condições com a vaga perspectiva de chegar ao poder lhando esse objectivo, o melhor é nunca fiar...

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