UMA CONCEPÇÃO SISTÊMICA DA OBRA DE ARTE NA CONTEMPORANEIDADE
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Entre Territrios 20 a 25/09/2010 Cachoeira Bahia Brasil
UMA CONCEPO SISTMICA DA OBRA DE ARTE NACONTEMPORANEIDADE
Andria Machado OliveiraUFRGS-Brasil/UdM - Canad
Hermes Renato HildebrandUNICAMP/PUCSP Brasil
RESUMO:
O presente artigo apresenta uma viso sistmica da obra de arte na contemporaneidade,com foco na arte digital. Tal abordagem tem como fundamentao terica as idias deprocessos de individuao de Gilbert Simondon, de processos de comunicao de VilmFlusser e a Teoria da Complexidade. Estas teorias convergem na busca de um modelo que
trata a obra de arte como um processo contnuo onde as vises entre natural e artificial,obra e espectador (inter(ator)) e arte, cincia e tecnologia se apresentam hbridas. Umaabordagem sistmica que extrapola a noo de objeto artstico isolado e individuado e ondeo conceito de sistema como obra de arte influenciado pela cincia, atravs de novasformulaes tericas que observam os fenmenos sob o ponto de vista sistmico, atravsdos suportes e interfaces tecnolgicas, expondo novas possibilidades fsicas, conceituais epoticas.
Palavras-chave: arte, tecnologia, sistema, individuao, comunicao.
ABSTRACT:
This article shows a systematic point of view in the artwork in contemporary, specially indigital art. Such approach is based on Gilbert Simondons idea of individuation process,Vilm Flussers idea of communication process and Complexity Theory. These theories arelooking for a model which treats the artwork as a continuous process where natural andartificial, artwork and spectator (interactor), and art, science and technology are presentedhybrid. In this sense, we seek a systematic approach which goes beyond the notion ofisolated and individuated artefact and where the artwork as a system concept is influencedby science through new theoretical formulations which realize the phenomena observedunder the systemic point of view and expose new physical, conceptual and poetic
possibilities through media and technological interfaces.Keywords: art, technology, system, individuation, communication.
Introduo
Hoje, os suportes digitais apoiados nos meios de produo permitem novas formas
de conexo entre Arte, Cincia e Tecnologia. Tal dinmica nos leva concepo de
sistema como obra de arte. Desloca-se o foco da obra circunscrita em si paraabarcar as relaes sistmicas onde ela encontra-se inserida. Focar nos sistemas
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em vez da obra de arte propriamente dita dar nfase, s conexes, aos ns,
fluidez das bordas e dobras, aos espaos vazios, subjetividade, ao sujeito mediado
pelo Outro na linguagem e na cultura e, de fato, s foras no visveis do mundo que
nos cerca. Consideramos que estas questes so vitais, em funo da vertiginosa
dinmica que as tecnologias propiciam nos processo de mediao, cada vez mais
densos, complexos, emergentes e adaptveis ao ambiente.
Processo de Comunicao como Sistema
Nossas ferramentas, linguagens e sistemas, hoje, colocam-se diante de uma "crise
de representao" generalizada (Plaza, 1991, p.45), portam-se como se estivessem
esfacelados, mas, na verdade, deixam claro que, atravs de nossas observaes
dos fenmenos naturais e culturais organizam-se segundo modelos que s vezes
no esto totalmente estruturados em nossos sentidos. Contudo, eles possuem
caractersticas que possivelmente se organizaram a partir de novos modelos de
observao que concebemos, num processo sistmico e contnuo de produo de
conhecimento; numa outra metodologia de investigao cientfica.
Os meios de comunicao geram novos signos, que, por sua vez, abrem novas
possibilidades de significao, e, assim, se pretendemos viver intensamente esse
momento, devemos buscar compreender como se organizam os signos que, cada
vez mais, abrem suas portas interao do homem com o mundo que nos cerca, e
atravs de nossas mentes. Entre esses meios, destacamos as mdias digitais, que,
com os cdigos de baixo nvel, os pxeis e uma lgica binria, ordenam-se segundo
o modelo de Boole. Esse modelo, seus algoritmos e o conhecimento matemtico
esto intrinsecamente relacionados aos meios de comunicao.
As imagens e ambientes gerados pelos sistemas computacionais simulam objetos,
que as vezes no existem. So codificaes matemticas, conduzindo-nos aos
novos paradigmas de percepo em que a questo digital se impe. Este processo
de elaborao de conhecimento como um sistema univocamente determinado rene
produo e distribuio das informaes, num s princpio, criando ambientes que
so simulacros de nossas mentes.
Atualmente, podemos olhar as produes como elos de um processo cognitivo
nico, onde mente e mundo fazem parte do mesmo ecossistema, convivemos,
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intimamente, com a lgica binria e com o mundo digital e, assim, a arte, a
matemtica, cincia e tecnologia, e tudo mais, unem-se em busca de suas
similaridades e dilogos. O perfil produtivo do momento em que vivemos, est
apoiado nos conceitos e procedimentos lgicos matemticos das ferramentas que
so nossos artifcios e que usamos para produzir a comunicao humana. Segundo
Flusser (2009) a comunicao foi criada pelo homem com o propsito de promover o
esquecimento da falta de sentido e da solido de uma vida para a morte, a fim de
tornar a vida vivvel. Ele afirma que
A comunicao humana um artifcio cuja inteno nos fazer esquecer a
brutal falta de sentido de uma vida condenada morte. Sob a perspectiva
da natureza , o homem um animal solitrio que sabe que vai morrer e que
a na hora da sua morte est sozinho. [...] Sem dvida no possvel viver
com esse conhecimento da solido fundamental e sem sentido. A
comunicao tece o vu do mundo codificado, o vu da arte, da cincia, da
filosofia e da religio, ao redor de ns [...](2009, p.91).
Para Flusser, esse propsito, na medida em que estabelece um mundo codificado,
ou seja, um mundo construdo a partir de smbolos ordenados tem como objetivo
represar as informaes adquiridas. E, assim, ao armazenar informaes, estamosvivendo e negando a nossa natureza para a morte na solido (2009, p.89-100), ou
seja, a partir dos processos de comunicao criamos um mundo codificado e
artificial que constri e potencializa o mundo natural. Ou melhor, Flusser nos mostra
que no temos como separar a produo do natural e do artificial na vida, e caso
haja separao, nos leva morte, ao isolamento ou despotencializao da vida.
Sistema e Processo de Individuao
Deste modo, ao compartilharmos esses pontos de vista estamos dando vazo
pulso de vida e de morte simultaneamente, formulada por Freud, na medida em
que descobrimos novos padres de representao cultural e natural. Esse fato no
permite apenas a ampliao do conhecimento, como tambm estabelece a
constituio de subjetividades, novos sentidos para a vida e novas percepes da
realidade. Na perspectiva do sistema como obra de arte, Gilbert Simondon nos
auxilia ao apontar a idia de sistema como algo em contnuo movimento emprocesso de individuao. Para ele, a individuao no um resultado, mas um
processo contnuo atravs do qual o indivduo se constitui como tal, construindo a
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sua subjetividade no campo do pr-individual de singularidades e de
potencialidades. Todo indivduo um processo dinmico. Este processo acontece
no dilogo entre as diferenas e na criao e dissoluo das tenses,
incompatibilidades e desigualdades em busca de um equilbrio temporrio e
intrnseco aos sistemas, ao qual Simondon denomina metaestvel.
Neste sentido, hoje, a obra de arte, produtor e observador (inter(ator)) constituem-se
num sistema como um processo nico. De acordo com Simondon, deve-se
conhecer o indivduo pela individuao muito mais do que a individuao a partir do
indivduo (2003, p.100). Ele concebe o indivduo em sua subjetividade a partir da
individuao, ou seja, a partir de uma ontologia que pondera o ser no como nico,
pronto e isolado, mas como algo que est sempre se tornando. Um processo
dinmico que no permite o congelamento das formas, corpos, espaos e tempo,
uma vez que est num contnuo processo de saturao e transformao; numa
permanente diferenciao de si mesmo. Simondon entende que [...] primeiro, existe
o princpio de individuao; em seguida, este princpio opera em uma operao de
individuao; por fim, o indivduo constitudo aparece (2003, p.100).
Os indivduos obra, produtor e inter(ator) pertencem ao mesmo processo deindividuao, estando em interatividade constante via relaes de causalidade. Essa
interao ocorre entre corpos em atividade relacional em sistemas de individuao,
j que a interao, aqui, vista como ressonncia interna de um sistema (Oliveira,
2008). Os indivduos vivos no so termos prontos de uma relao, mas, como
Simondon nos diz, teatro e agente de uma relao em uma comunicao interativa
em que no est em relao nem consigo mesmo nem com outra realidade, j que
ele es el ser de la relacin, y no ser en la relacin, pues la relacin es operacinintensa, centro activo(1964, p.38).
Assim, a individuao no resultado de forma e matria, corpo e alma, mas sim
expresso de uma resoluo em constante (trans)formao. A interatividade, vista
pela individuao, uma experincia de presentificao, indo alm da
representao. Deleuze comenta que
dir-se- tanto que ela (individuao) estabelece uma comunicao interativaentre as ordens dspares de grandeza ou de realidade; ou que ela atualiza a
energia potencial ou integra as singularidades; ou que ela resolve o
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problema posto pelos dspares, organizando uma dimenso nova na qual
eles formam um conjunto nico de grau superior (1969, p. 119).
Observa-se que a funo do pblico alterada nessa viso sistmica das obras de
arte. Segundo Milton Sogabe,
a interao propriamente dita, no sentido do pblico afetar os eventos que l
acontecem, d ao pblico uma nova funo ou caracterstica, solicitando
sua participao no s atravs da interpretao ou reflexo mental, mas
tambm a sua atuao corporal na obra (2008, p.1988).
Aqui, ressalta-se novamente, que esta atuao na obra no se restringe a uma ao
definida a priori, como apertar um boto, mas uma ao de experimentao ao nvelmolecular dos corpos ou elementar dos objetos tecno-estticos, uma ao de
agenciamentos, agenciar estar no meio, sobre a linha de encontro de um mundo
interior e de um mundo exterior (Deleuze, 1969, p.131). Assim, o pblico inter(ator)
pertence a obra, j que, por exemplo, o espao das instalaes que era ocupado com
elementos tridimensionais d lugar ao pblico que precisa se movimentar e atuar
dialogando com os elementos virtuais que se atualizam (Sogabe, 2008, p.1990).
Osmose, (1995) de Charlotte Davies,Captura em Tempo Real. So 12 mundos em Osmose
que podem ser explorados em qualquer ordem.
Podemos observar tais relaes em obras de realidade virtual, como Osmose
(1995) e Ephmre (2000) de Charlotte Davies e Avraham Eilat respectivamente.
Osmose propicia uma experincia sem contigidade com o referente real e comoutras situaes espao-temporais. Segundo Oliver Grau,
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enquanto ambientes virtuais anteriores apresentavam portais que
resultavam em transies abruptas, no mundo das imagens de Osmose o
observador vivencia transies osmticas de uma esfera a outra, vendo
uma esfera esmorecer lentamente antes de se amalgamar prxima (2007,
p.222)
Nessa obra o inter(ator) atinge um estado de imerso atravs das transformaes da
paisagem digital, experimentando sensao de leveza, ausncia de gravidade e
movimento multidirecional. Em Osmose utiliza-se capacete de realidade virtual,
recursos da computao grfica 3D e sons interativos que so explorados
sinestesicamente.
As relaes entre obra e inter(ator) tambm so analisadas na videoinstalao in
process Jogo de Corpos dos autores desse texto. Nesta obra, as figuras vo
sobrepondo-se, movendo-se pelas paredes, aparecem, escondem-se, repetem-se,
diluem-se, fragmentam-se, cortam o espao, alteram seus tamanhos, misturam-se
com os sons e com as sombras dos inter(atores). O meio digital oferece a
possibilidade de movimento de animao quelas figuras que estavam em repouso
em imagens de xilogravuras e s sombras capturadas na obra.
Cria-se um meio hbrido de imagem e som que proporcionar um espao imersivo
na sala escura com ritmo de projeo das imagens que permitir a interao
(atuantes). Os inter(atores) agem na cena como personagens daquele drama,
experimentam de maneiras no habituais, percebem seus corpos com as
configuraes dos corpos projetados. Todos interagem na obra, entretanto, a obra
no totalmente dada, fechada; pelo contrrio, ela atualiza-se a partir da ao dos
indivduos naquele meio: os sujeitos atuam em cenas alm-cotidiano propostas pela
obra e tecnologia. As relaes entre obra, tecnologia e humano pressupem
interao em processo de individuao.
O meio criado nesta videoinstalao abriga as deformaes das imagens projetadas
das figuras femininas da srie Avesso e das sombras dos corpos dos inter(atores),
visando construir um espao no euclidiano, projetivo de imerso. As imagens das
xilogravuras trazem um rebatimento do espao, uma busca escheriana de uma
construo paradoxal, um espao que vai se esfacelando. As figuras femininas,antes fixas em seus lugares nas xilos, agora se misturam com os fundos, mostrando-
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se com seus avessos, sem lado, assim como as Faixas de Mobius e os desenhos
de Escher. O meio criado pela tecnologia digital permite que estes rebatimentos
repitam-se e espandam-se, gerando um espao projetivo de representao na obra.
Videoinstalao Jogos de Corpos, (2010),de Andria Oliveira e Hermes Renato Hildebrand
Assim, a videoinstalao, como um work-in-process um sistema como obra e de
fato, de acordo com o seu tempo, uma obra inacabada e em processo, seguindo
em direo a uma necessria busca pela expanso dos limites da arte, propondo
novos caminhos para o entendimento do contemporneo. O objetivo dessapesquisa-criao encontrar padres emergentes, por isso mesmo novo nas
relaes entre os seres vivos e o meio.
Sistema e Teoria da Complexidade
Tais relaes tambm podem ser encontradas nas obras do grupo SCIArts Equipe
Interdisciplinar que desenvolve seus trabalhos na interseco entre arte, cincia e
tecnologia e a partir da idia de sistema como obra de arte (Hildebrand, 2009). Aproduo do grupo procura exprimir a complexidade existente na relao entre estes
elementos e a representao de conceitos artstico-cientficos contemporneos que
demandem novas possibilidades miditicas e poticas. A obra Por um Fio prioriza
as relaes entre as diversas obras existentes em uma mostra de arte e opera com
os processos paradoxais da observao humana onde interagem simultaneamente
espaos virtuais e realidade, imagens em tempo real e pr-gravadas.
O estranhamento provocado pela incerteza da observao. Ora temos a imagem
em tempo real, ora ela apresenta-se pr-definida, em ambos os casos elas esto
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mediadas por interfaces eletrnicas. O inter(ator) aciona sensores que vo produzir
significados que o deixam inseguro a respeito do que se est vendo. Assim, nossa
percepo sobre as outras obras da mostra e, consequentemente, nossas
interpretaes esto Por um Fio.
J em Entremeios I e II as obras operam nos espaos entre obras e transforma a
individualidade das obras presentes nos eventos - Mediaes: Arte-Tecnologia, na
Fundao Ita Cultural em 1997 e na II Bienal do Mercosul, no Rio Grande do Sul
em 2000. So dois sistemas integrados que ganham significados com a presena
dos inter(atores) no ambiente. Elas possuem como caracterstica principal, no
serem objetos um espaos definidos, mas sim sistemas onde tudo se torna parte de
um organismo vivo e integrado. Buscam relaes entre todos os elementos
existentes, sejam as obras, os acontecimentos circundantes e as pessoas que
interagem com as obras. As obras Re-Trato, Des-Espelho e Mar-Ciso atuam
com o sujeito mediado pelo Outro, pela linguagem e pela cultura.
Instalaes Interativas do Grupo SCIArts,Entremeios, (1997) e Mar-Ciso, (2006)
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Des-espelho, (1998), do Grupo SCIArts
Os sistemas so construdos de maneira que se produzam espelhos bizarros que
reflitam outras faces de ns mesmos para a nossa prpria contemplao. Essas
obras propem jogos de imagens no qual o indivduo se reconhea a partir de outros
pontos de vista, que no o de seu prprio, mas de outro externo e que causa
estranhamento de si mesmo.
Por fim, Atrator Potico, Gira.S.O.L e MetaCampo so produes que operam
com as foras no visveis da natureza. A instalao hipermdia interativa Atrator
Potico constri sua potica atravs do dilogo entre imagem, som, ferro-fludo (um
lquido magntico que se conforma ao campo formado por bobinas
eletromagnticas) e a interao com o pblico e foi realizada em parceria com o
msico Edson Zampronha. A obra Gira S.O.L. - Sistema de Observao da Luz -
utiliza-se de uma estrutura que possui a propriedade de se organizar diante de um
estmulo ambiental tal como a flor girassol. A relao entre a natureza e a tecnologia,
atravs da utilizao da energia solar constri a potica da obra. A idia de sistema
como obra de arte faz parte de uma viso processual e relacional do mundo que,
cada vez mais, vem se afirmando em todos os campos do conhecimento.
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Instalaes Interativas do Grupo SCIArtsAtrator Potico e Gira S.O.L., (2005 e 2007),
Essa ideia faz referncia obra propriamente dita, que no se apresenta como um
objeto ou um espao fsico delimitado e visvel, mas como um sistema. Metacampo
uma instalao interativa que envolve sensores, sistema de controle digital com
computador e microcontrolador e atuadores eletromagnticos. A interao se d pela
ao do vento, externo ao espao expositivo, e pela presena das pessoas no
espao interno da obra e opera com o conceito de autonomia. Hastes verticais so
movimentadas atravs da ao do vento provocado artificalmente. Essa obra estsendo projetada para ser realizada no evento Emoo Art.Ficial, em junho, no Ita
Cultural, em 2010. Consiste de um objeto artstico com caractersticas adaptveis e
virtualmente imprevisveis, portanto, a autonomia do sistema implica no conceito de
emergncia de processos, bem como adaptabilidade a mudanas de condies
ambientes, sejam elas reais ou virtuais
As instalaes desenvolvidas pelo grupo SCIArts, desde o princpio, baseiam-se na
idia de um sistema interligando eventos, influenciado pelas teorias dos sistemas
complexos, dos campos mrficos, da teoria das redes e do efeito borboleta. Na
Argentina, nos anos 60, o Centro de Estudios de Arte y Comunicacin (CAYC),
apontou para essas possibilidades criativas, trazendo a idia da arte de sistemas.
preciso considerar o contedo semntico presente na expresso arte de
sistemas e compar-lo com o conceito sistema como obra de arte, aqui proposto.
No primeiro caso, h uma generalidade artstica que, de alguma maneira, se
conforma em um sistema, enquanto, no segundo caso, a natureza do sistema que
permite v-lo como obra artstica. H ainda uma diferena crucial no enfoque dado
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ao conceito de sistema, hoje, as teorias consideradas fazem suas observaes com
base nos sistemas complexos.
De maneira simplificada podemos dizer que a Teoria da Complexidade definesistemas complexos a partir de modelos constitudos por muitas partes
heterogneas que interagem localmente sem interferncias de um controle central. A
partir dessa abordagem, afirmamos que o universo sistmico. A poltica, a
economia, o trfego nas grandes cidades e os sistemas inteligentes, inclusive o
homem, pode ser descritos como sistemas que compartilham comportamentos ou
dinmicas semelhantes, e, apesar das particularidades, e das escalas, mantm
similaridades em suas composies. O entendimento de tais dinmicas sistmicas
requer a integrao de inmeras perspectivas oriundas das mais diversas reas do
conhecimento, partindo da fsica qumica, da biologia cincia da computao, da
cincia social economia, da matemtica s artes.
O tipo de abordagem que se realiza dentro da perspectiva da complexidade enfatiza
aspectos da organizao, da arquitetura dos sistemas em detrimento do
estabelecimento de estados individuais, aproximando-se dos processos de
individuao de Simondon. O objetivo da teoria da complexidade buscarcompreender como novas classes de entidades se estabelecem e permanecem,
como por exemplo, sistemas qumicos autnomos, organismos vivos, estruturas
cognitivas e sociedades, modelando-as no contexto de uma abrangente teoria da
evoluo. Dentro de uma perspectiva de aplicao to ampla, no descabido
supor que as Artes e suas prticas possam ser consideradas como objetos de
estudo no campo de conhecimento configurado pelas teorias dos sistemas
complexos.
Aventar tal possibilidade sistmica de anlise que reflete sobre a comunicao
humana, no implica negar ou desconsiderar outras abordagens. Ao contrrio, a
utilizao de um instrumental oriundo da teoria da complexidade, da individuao e
da observao do porque comunicamos, coloca-se aqui como tentativas de
contribuir para a ampliao do conhecimento crtico da Arte, principalmente quando
se trata de refletir sobre caractersticas emergentes como as que se apresentam nas
obras de Artes Contemporneas com base nas Tecnologias. As prticas artsticas de
hoje e as rupturas com padres pr-estabelecidos representam, no contexto da Arte,
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demandam novos paradigmas e, eventualmente, a reformulao de aspectos
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Andria Machado Oliveira
Professora e Artista Multimdia, Mestre em Psicologia Social e Institucional/UFRGS edoutoranda em Informtica na Educao/UFRGS-Brasil e UdM-Canad. Integrante dosgrupos: Modos de Trabalhar, Modos de Subjetivar/UFRGS; e NESTA (Ncleo de Estudosem Subjetivao, Tecnologia e Arte)/UFRGS. Bolsista CNPQ.
Av. Otto Niemeyer, 2417-115Porto Alegre RS Brasil - 91910 [email protected]
Hermes Renato Hildebrand
Professor da UNICAMP/PUCSP e Artista Multimdia, Mestre em Multimeios/UNICAMP eDoutor em Comunicao e Semitica/PUCSP. Desenvolve produes artsticas com o grupode artistas SCIArts - Equipe Interdisciplinar. Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas -LIPACS Laboratrio Interdisciplinar de Pesquisa-Ao com Comunidades Saudveis(Cultura, Sociedade e Mdia/UNICAMP/TIDIA-aE)
Rua Antonio Galvo de Oliveira Barros, 126Baro Geraldo Campinas So PauloSP Brasil - [email protected]