Um procedimento hermenêutico de seis passos

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Um procedimento hermenêutico de seis passos (proposto por H. Virkler): Dókimos – 2011 – Mauro Régis da Silva 1º Passo: Análise Histórico-Cultural e Contextual • Análise contextual histórico-cultural: Consideramos o ambiente histórico-cultural do autor para melhor compreendermos suas alusões e objetivos • Análise contextual: contextual visa relacionar uma passagem com o texto completo do autor para que, considerando o seu pensamento geral, venhamos a ter um melhor entendimento de um texto em particular; 2º Passo: Análise Léxico-Sintática • Lexicologia: definição das palavras; • Sintaxe: Relação entre as palavras no texto; • Bom conhecimento de português e, se possível, de grego e hebraico. 3º Passo: Análise Teológica • Consideramos o nível de conhecimento teológico do público alvo na época em que o texto foi escrito; 4º Passo: Análise Literária • Identifica a forma ou método literário utilizado numa passagem em particular (metáforas, hipérboles, antropomorfismos, etc.); 5º Passo: Comparação com Outros Intérpretes • Comparar o produto dos quatro passos acima com trabalhos de outros intérpretes sobre do mesmo texto. 6º Passo: Aplicação • “Traduzir” o significado original do texto, obtido pelos cinco passos acima, para a nossa própria época e cultura. IMPORTANTE: Não há como automatizar a atividade hermenêutica. Estes passos servem apenas como um guia inicial com questões a serem consideradas durante o estudo, visando minimizar a possibilidade de interpretações equivocadas. Passo 1 – A Análise Histórico-Cultural e Contextual a) Determinar o contexto histórico-cultural geral • Situação política, econômica e social (Ex.: Expectativa de Jesus salvar os judeus do julgo romano); • Costumes relacionados ao texto em questão (Ex.: Corbã, em Mc.7:10-13); • Nível de comprometimento espiritual do “público alvo”

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Um procedimento hermenêutico de seis passos (proposto por H. Virkler): Dókimos – 2011 – Mauro Régis da Silva

1º Passo: Análise Histórico-Cultural e Contextual • Análise contextual histórico-cultural: Consideramos o ambiente histórico-cultural do autor para melhor compreendermos suas alusões e objetivos • Análise contextual: contextual visa relacionar uma passagem com o texto completo do autor para que, considerando o seu pensamento geral, venhamos a ter um melhor entendimento de um texto em particular; 2º Passo: Análise Léxico-Sintática • Lexicologia: definição das palavras; • Sintaxe: Relação entre as palavras no texto; • Bom conhecimento de português e, se possível, de grego e hebraico. 3º Passo: Análise Teológica • Consideramos o nível de conhecimento teológico do público alvo na época em que o texto foi escrito; 4º Passo: Análise Literária • Identifica a forma ou método literário utilizado numa passagem em particular (metáforas, hipérboles, antropomorfismos, etc.); 5º Passo: Comparação com Outros Intérpretes • Comparar o produto dos quatro passos acima com trabalhos de outros intérpretes sobre do mesmo texto. 6º Passo: Aplicação • “Traduzir” o significado original do texto, obtido pelos cinco passos acima, para a nossa própria época e cultura.

IMPORTANTE: Não há como automatizar a atividade hermenêutica. Estes passos servem apenas como

um guia inicial com questões a serem consideradas durante o estudo, visando minimizar a

possibilidade de interpretações equivocadas.

Passo 1 – A Análise Histórico-Cultural e Contextual a) Determinar o contexto histórico-cultural geral • Situação política, econômica e social (Ex.: Expectativa de Jesus salvar os judeus do julgo romano); • Costumes relacionados ao texto em questão (Ex.: Corbã, em Mc.7:10-13); • Nível de comprometimento espiritual do “público alvo”

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b) Contexto histórico-cultural específico e objetivos de um livro: • Quem foi o autor? Qual era seu ambiente e sua experiência espiritual? • Para quem estava escrevendo? (crentes fiéis, crentes em pecado, incrédulos, apóstatas, etc.) • Qual foi a finalidade (intenção) do autor ao escrever este livro? c) Desenvolver uma compreensão do contexto imediato • Entender como o livro é organizado (montar um esboço por assunto) • Saber contextualizar a passagem em análise na argumentação corrente o autor. • Saber identificar a perspectiva do autor.

Numenológica: Perspectiva Divina, absoluta (geralmente relacionadas a questões morais); Fenomenológica: Perspectiva humana, relativa (geralmente relacionadas a questões naturais, físicas);

d) Distinguir passagens descritivas (descrição, narração) de prescritivas (normativa, tradicional). • A ação de Deus numa passagem narrativa nem sempre significa que Deus sempre opera deste modo com os crentes. Ex.: Dons de línguas na conversão (At.10:44 ) • Ações humanas descritas na Bíblia, se não forem claramente aprovadas, devem ser avaliadas. A Bíblia também registra os erros dos homens de Deus. e) Distinguir o núcleo de ensino de uma passagem de detalhes incidentais. Ex.: Uma vez que o filho pródigo voltou para o Pai sem a necessidade de um mediador, então alguém poderia concluir que Jesus não é essencial para a salvação. f) Definir a quem se destina cada promessa, sentença, ordenança, etc.

Passo 2 - Análise Léxico-Sintática Visa compreendermos a definição das palavras (lexicologia) e sua relação com as outras (sintaxe) para que entendamos melhor o sentido do texto. 1. Necessidade da Análise Léxico-Sintática • Embora as palavras possam assumir significados diferentes, só deve haver um significado num determinado contexto: o Exemplo: Mt.: 5:12 “fermento dos fariseus” Alguns, no desejo de parecerem originas e surpreenderem os ouvintes dão interpretações fantasiosas. Ninguém pode dizer: “O Espírito me diz que tal ou tal é o significado de uma passagem”. Não podemos simplesmente aceitar tal declaração. O sentido legítimo deve ser verificado pela interpretação. 2. Passos para a Análise Léxico-Sintática: a) Determinar a forma literária geral • Há três formas principais: 1. A Prosa: predomina o uso literal; 2. A Poesia: predomina o uso figurativo; 3. A Literatura apocalíptica: predomina o uso simbólico; Relembrando a distinção entre sentido literal, figurativo e simbólico: Sentido Literal: Coroa de ouro na cabeça do rei Sentido Figurativo: Não me chame de coroa, pois eu sou muito novo. Sentido Simbólico: ... vi uma coroa de 7 pontas que eram 7 nações ...

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• 1/3 do A.T. aproximadamente foi escrito em forma poética. b) Observar as divisões naturais do texto • Divisões em versículos e capítulos (úteis na localização de passagens) dividem o texto de modo antinatural. • Algumas versões mantêm a numeração, mas organizam o texto em parágrafos. Seja qual for a versão, devemos ler o texto enxergando os parágrafos e não os capítulos e versículos. Por exemplo, Atos 8:1 depende completamente de Atos 7:60. c) Observar os conectivos(porem, mas, em, ) dentro de parágrafos e sentenças. • Exercício (sem consulta): Em Gálatas 5:1, ao dizer-nos “Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão”, Paulo quis dizer que nós não deveríamos nos submeter novamente: a) ( ) Aos prazeres da carne; b) ( ) À escravidão do pecado; c) ( ) Ao amor ao dinheiro; d) ( ) Ao legalismo judaico; e) ( ) Ao domínio romano; d) Determinar o sentido das palavras • Exemplo do dia-a-dia - a palavra “acabado”: O muro está acabado (concluído ou danificado) Olavo Bilac é o tipo acabado de poeta (poeta muito bom, perfeito) José está acabado hoje (abatido, esgotado) Como a senhora Shirley está acabada (envelhecida, cansada) • Exercício: A palavra grega [sarx] que traduzimos por “carne” aparece nos textos abaixo. De acordo com cada versículo e os possíveis significados apresentados na coluna da direita, numere a coluna da esquerda:

e) Como determinar o sentido das palavras?

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• Exercício (sem consulta): Vendo as definições e explicações dadas pelos próprios autores. Por exemplo, que significa “perfeito” em “[...] a fim de que o homem de Deus seja perfeito [...]” (2Tm.3:16-17)? * a. ( ) Sem pecado? b. ( ) Incapaz de cometer uma falta grave? c. ( ) Sem pecado numa área específica? d. ( ) Nenhuma das anteriores • O sujeito e o predicado de uma sentença podem explicar-se mutuamente. Ex.: Por utilizar a palavra (moranthei) pode significar tornar-se tolo ou tornar-se insípido, sem sabor, Mateus 5:13 poderia ser traduzido tanto por “[...] ora, se o sal vier a ser insípido [...]” ou por “[...] ora, se o sal vier a ser tolo [...]”. Entretanto, sendo o sujeito da sentença o sal, o único significado aplicável é tornar-se insípido. • Observar se ocorre paralelismo dentro da passagem, especialmente em textos poéticos. a. Paralelismo Sinonímico (de sinônimo): A segunda linha da estrofe repete o conteúdo da primeira utilizando sinônimos. Ex. (Sl.103:10): “Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniquidades” b. Paralelismo Antitético (de antítese): A segunda linha da estrofe contrasta agudamente a primeira. Ex. (Sl. 37:21): “O ímpio pede emprestado e não paga; o justo, porém, se compadece e dá” c. Paralelismo Sintético (de síntese): A segunda linha da estrofe completa, vai mais longe que a idéia da primeira. Ex. (Sl. 14:2): “Do céu olha o Senhor os filhos dos homens, para ver se há quem entenda, se há quem busque a Deus” • Determinar se a palavra está sendo utilizada como parte de uma figura de linguagem. Exemplo: Ele tem os olhos maiores do que a barriga; Está chovendo pra cachorro. Figuras de linguagem ocorrem na bíblia e uma interpretação literal seria desastrosa. (Virkler sugere o uso de um bom manual bíblico de figuras de linguagem;) *Resposta: Paulo esclarece de imediato que se trata de ser perfeitamente habilitado para um viver piedoso (“perfeitamente habilitado para toda boa obra”). • Estudar passagens paralelas. Informações complementares podem tornar o entendimento mais claro; É importante distinguir paralelos verbais de paralelos reais: a) Verbais: Utilizam palavras semelhantes, mas estão falando de coisas diferentes. Ex.: O conceito de Palavra de Deus como “espada” difere entre Ef.6:17 e Hb.4:12. • No primeiro a espada faz parte da “armadura de Deus” para a batalha contra o mau (Jesus fez esse uso da Palavra contra Satanás);

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• No segundo ela é penetrante, conhecendo todos os pensamentos e propósitos do homem, diferenciando os que são verdadeiramente obedientes dos que apenas aparentam ser. b) Reais: Independente de usar as mesmas palavras ou não, falam do mesmo conceito ou do mesmo evento. Obs.: A maioria das Bíblias apresentam referências para os versículos paralelos. É bom ter cuidado e verificar sempre se tal paralelo é real ou apenas verbal. f) Sintaxe Trata do modo como os pensamentos são expressos por meio das formas gramaticais de uma certa língua. • Cada língua tem sua própria estrutura. • Línguas analíticas: A ordem das palavras é um guia para o significado. Ex.: Português e hebraico (um pouco menos); • Línguas sintéticas: O significado é entendido apenas parcialmente pela ordem das palavras e muito mais pelas terminações das palavras ou pelas terminações dos casos. Ex.: Grego; • O estudo da sintaxe utiliza principalmente os Léxicos Analíticos, as Gramáticas Gregas e Hebraicas e as Bíblias Interlineares. • Muito do trabalho já foi feito e publicado. É importante sabermos quando é necessário utilizar desses recursos. IMPORTANTE: Todo este estudo mais técnico deve fazer parte de qualquer exegese, mas apenas como a preparação para a exposição. Ele não precisa aparecer necessariamente no produto final.

Nosso objetivo nas exposições bíblicas é alimentar as pessoas, não impressioná-las. O mesmo quando cantamos, regemos ou

tocamos algum instrumento, o alvo e adorar a Deus e não impressionar o homem.

Exegese O termo provém de duas fontes: Ex (ex)que significa fora e Agein (Agein) guiar, liderar e explicar. Usada para indicar narrativa, tradução ou interpretação. Teologicamente usada para designar a interpretação de modos formais de explicação que podem ser aplicados a algum texto a fim de se compreender o seu sentido. Na linguagem técnica a exegese aponta para a interpretação de um texto literário específico ao mesmo tempo em que os princípios gerais aplicados em tais interpretações são chamados de hermenêutica.

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Bibliografia • VIRKLER, Henry A.. Hermenêutica Avançada: Princípios e Processos de Interpretação Bíblica. São Paulo. Editora Vida, 2001. • FEE, Gordon D., STUART Douglas. Entendes o que lês?. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1986. • BERKHOF, Louis. Princípios de Interpretação Bíblica. JUERP, 4ª Edição, 1988.