Tríada Geoestratégica China, Índia e Europa · Os dois Estados emergentes asiáticos, China e...
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Trada Geoestratgica: China, ndia e Europa. Implicaes para Portugal
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RESUMO:
A China, a ndia e a Europa procuram neste tempo de instabilidade, de mudana e de incerteza permanentes, um estatuto internacional relevante, que as coloque
no s como potncias regionais, mas, se possvel, que lhes permita disputar o
estatuto de grandes potncias do sistema internacional. Os dois Estados emergentes asiticos, China e ndia, tm conseguido excelentes desempenhos econmicos, um significativo reforo do seu poder militar e
um peso crescente nas relaes internacionais, nomeadamente nos grandes fora de
deciso mundial, mas continuam com sociedades duais e instveis, sobretudo,
merc do fosso crescente entre ricos e pobres.
A Europa vive um tempo conturbado, no consegue unidade poltica, nem coeso
entre os seus Estados membros, tem grandes vulnerabilidades na defesa e
segurana e est com dificuldades na sustentabilidade econmica e na manuteno
do estado social.
Portugal, como pequeno Estado em crise econmica arrastada, com problemas
estruturais fundamentais no resolvidos, numa era de globalizao favorvel aos
grandes espaos , de entre os pases europeus, um dos que mostra maiores vulnerabilidades e possui menos foras para se impor nos cenrios internacionais de
grande competitividade.
A potncia hegemnica actual, os EUA, no d mostras de abdicar nem na esfera
econmico, nem no campo militar. Procura assegurar o domnio das relaes
internacionais e psico-sociais. Percebe-se que no ceder com facilidade.
Novos actores, nomeadamente o terrorismo transnacional e as armas de
destruio massia, introduziram factores de incerteza na evoluo do sistema
internacional. A sua reconfigurao possvel, mas no certa.
Se a mudana acontecer, ela ser em grande parte determinada pelo
compatibilizao que se conseguir entre o desenvolvimento humano e o crescimento
econmico. A incerteza persiste, a instabilidade real e, as previses so muito
falveis.
Palavras-Chave:
Sistema Internacional, Grandes Espaos, Estados Emergentes, China, ndia e Europa.
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ndice
1. INTRODUO ......................................................................................................1 2. NOVOS COMPETIDORES POTNCIAS EMERGENTES ............................3 2.1. A Complexidade Geopoltica da sia ............................................................3 2.2. A China.............................................................................................................5 2.2.1. Poder econmico ............................................................................................5 2.2.2. Poder Militar ....................................................................................................8 2.2.3. Poder Poltico - Relaes Internacionais ......................................................8 2.3. A ndia ............................................................................................................10 2.3.1. Poder econmico ..........................................................................................11 2.3.2. Poder Militar ..................................................................................................13 2.3.3. Poder Poltico - Relaes Internacionais ....................................................14 3. VELHOS COMPETIDORES AS DEMOCRACIAS EUROPEIAS.................15 3.1. Poder econmico ..........................................................................................16 3.2. Poder Militar, Poder Poltico e Relaes Internacionais............................17 4. CENRIOS EVOLUTIVOS PROVVEIS............................................................20 4.1. Equilbrio Geoestratgico Asitico..............................................................20 4.1.1. Emergncia Asitica Suave..........................................................................20 4.1.2. Emergncia Asitica Conturbada ................................................................21 4.2. Evoluo Geoestratgica da Europa..........................................................22 4.2.1. Viso Eurocptica .........................................................................................22 4.2.2. Viso Pr Europesta ....................................................................................24 4.2.3. A terceira Via para a Europa Uma sociedade europeia baseada no
conhecimento................................................................................................26 5. PORTUGAL NO CONTEXTO DOS CENRIOS DESCRITOS...........................27 6. CONCLUSES ...................................................................................................29 7. APNDICE.............................................................................................................31
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AACCRRNNIIMMOOSS EE AABBRREEVVIIAATTUURRAASS
EUA - Estados Unidos da Amrica. UE - Unio Europeia. OTAN - Organizao do Tratado Atlntico Norte. ONU - Organizao das Naes Unidas. ASEAN - . OMC -Organizao Mundial do Comrcio. PNUD - Programa das Naes Unidas para o
desenvolvimento. PCC - Partido Comunista Chins. RPC - Repblica Popular da China. OTASE - Organizao do Tratado das Naes do Sueste
Asitico CECA - Comunidade Europeia do Carvo e do Ao. PESC - Poltica Europeia se Segurana Comum. PESD -Poltica Europeia de Segurana e Defesa. OMS - Organizao Mundial de Sade. DPCO - Doena Pulmonar Crnica Obstuctiva
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TRADA GEOESTRATGICA CHINA, NDIA E EUROPA. Implicaes para Portugal
1. INTRODUO
Num mundo marcado por perturbaes constantes, tendo a incerteza como maior
probabilidade e sendo a imprevisibilidade a sua caracterstica mais relevante, no
surpreende que, na anlise do sistema internacional e do posicionamento dos seus
diferentes actores, sejam necessrios extremos cuidados, e uma capacidade
inovadora de perceber, na hora, os jogos de interesses de cada momento. As
transformaes imprevistas, mas reais, condicionam no s o nosso presente, mas
tambm o nosso futuro. A verdade de ontem pode ser obsoleta hoje e
completamente errada amanh.
Aps o equilbrio de mais de 50 anos da Guerra Fria em que a bipolaridade da
sociedade mundial foi real, camos neste incio do Sc. XXI numa situao em que
os Estados Unidos da Amrica (EUA), se apresentam como a nica potncia global,
como refere Henry Kissinger (...) Os EUA desfrutam de uma superioridade
inigualvel, mesmo quando comparados com os maiores imprios do passado. Do
armamento actividade empresarial, da cincia tecnologia, do ensino superior
cultura popular, a Amrica exerce um ascendente impar em todo o Mundo. (...) 1
Assistimos j, desde essa altura, perda da sua cautela estratgica aps um
curto perodo de imprio benigno e estamos em pleno imprio arrogante2.
Neste contexto, podero emergir nos grandes espaos mundiais, potncias
globais competidoras efectivas?
O potencial geoestratgico da Europa e da sia emergente tem que ser pensado
luz da sua importncia face potncia dominante e no pressuposto de que a
globalizao colocou as relaes internacionais mais dependentes da componente
econmica do que da componente poltica e enfatizou a componente psico-social. A
sub-valorizao da componente militar convencional permitiu o aparecimento e a
consolidao de potncias regionais mais fortes e equilibradoras da superpotncia
dominante.
1 Henry Kissinger, Precisar a Amrica de uma Poltica Externa, p.13. 2 Loureiro dos Santos em 19-01-2006 no IESM
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Neste contexto, natural que a Velha Europa ambicione um lugar de maior
estabilidade, livre dos conflitos que no passado a fustigaram e violentaram os seus
povos. compreensvel, tambm, que aspire a ter um maior peso na economia e
deseje ver consolidada, a nvel mundial, uma sociedade caracterizada pela
diversidade e pelo respeito dos direitos do homem e pretenda ver, finalmente,
reconhecido e consolidado o estatuto de moderador, de grande negociador e de no
beligerante.
, igualmente, compreensvel que a China e a ndia, apontadas como provveis
superpotncias, devido ao seu poder demogrfico e ao seu grande crescimento
econmico, ambicionem, neste sistema econmico mundial nico, um lugar de
verdadeira liderana.
Neste contexto de instabilidade, de mudana e de incerteza permanentes,
certamente que o papel de Portugal no mundo pouco relevante, pelo que dever
prestar uma ateno redobrada que lhe permita alinhar-se de modo a assegurar um
estatuto digno a nvel internacional.
A extenso e complexidade da temtica referida no ttulo deste trabalho obrigam-
nos a limitar a nossa abordagem anlise dos possveis cenrios evolutivos da
Europa e da sia emergente e s repercusses mundiais que tais cenrios possam
ter sobre Portugal e a sua populao.
Tentaremos, pois, responder seguinte questo principal: Evoluiro a China, a ndia e a Europa, como potncias regionais com peso real na estratgia global? Formulamos e tentaremos responder, tambm, s seguintes questes derivadas:
1) Tero a China e a ndia uma atitude de envolvimento e cooperao ou opor-se-o? 2) Evoluir a Europa no sentido de uma unio poltica que lhe permita afirmar-se internacionalmente? 3) Conseguir Portugal garantir segurana e desenvolvimento suficientes para o bem estar do seu povo?
O trabalho foi estruturado numa introduo, quatro captulos, concluses e um
apndice. No primeiro captulo referem-se factos relevantes da actualidade da China
e da ndia. No segundo captulo aborda-se a realidade actual da Europa. No terceiro
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captulo indicam-se alguns dos possveis cenrios evolutivos geoestratgicos desta
trada e no quarto captulo descrevem-se as suas potenciais implicaes na
realidade nacional. Terminamos com a apresentao das concluses decorrentes da
anlise efectuada. Numa viso pessoal, centrada no homem, discute-se a
compatibilizao do desenvolvimento humano e econmico e a sua repercusso no
equilbrio do sistema internacional.
2. NOVOS COMPETIDORES 3 POTNCIAS EMERGENTES
2.1. A Complexidade Geopoltica da sia Quando nos debruamos, ainda que de modo simples, sobre a realidade
geopoltica da sia apercebemo-nos logo que estamos perante um mundo de
grande complexidade e de forte risco de instabilidade. Aqui ocorreram guerras
sangrentas, nomeadamente a da Coreia e a do Vietnam, envolvendo, sobretudo,
interesses que transcendiam em muito os dos paises beligerantes. A presena
americana, como condicionante do incio e do desfecho de tais conflitos, foi uma
constante. Os EUA so de facto a potncia regional dominante da regio4. Mas,
apesar dos conflitos ocorridos, talvez o fenmeno que melhor caracteriza esta parte
do mundo na actualidade seja a presena de um aceitvel equilbrio. Apesar de
inimigos ou de rivais do ponto de vista estratgico, os pases da regio respeitam-se
e cooperam em termos econmicos. Mas tal no significa que, em caso de
necessidade, no estejam dispostos a usar todos os seus recursos incluindo o uso
da fora. O aumento do poder de um desencadeia de imediato nos demais,
sobretudo nos que se sentirem mais ameaados, um ajustamento corrector nos seus
mecanismos de defesa. Assim se explica que os gastos permanentes com a defesa
continuem a aumentar de modo constante5. Segundo o British Aerospace as
despesas militares dos pases asiticos sero, em 2010, superiores s da Europa
podendo atingir dois teros dos gastos dos EUA.
Um outro aspecto igualmente importante desta vastssima regio a sua
heterogeneidade do ponto de vista geogrfico, demogrfico, econmico, histrico,
3 Joseph Nye JR, O Paradoxo do Poder Americano pg. 38. 4 Loureiro dos Santos em 23-02-2006 no IESM 5 Luis Tom, Geopoltica da sia e da China, Janus 2006, pp.40.
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poltico e religioso. Se considerarmos os pases asiticos no seu conjunto, mas mais
precisamente a China, o Japo, a Rssia, e a ndia, perceberemos, com facilidade, a
quase impossibilidade de emergir de entre eles um inimigo suficientemente
poderoso para controlar os outros. Apercebemo-nos, igualmente, das dificuldades
sentidas pela Superpotncia Mundial actual nas suas complexas e difceis relaes
com os pases desta regio. Como afirma Kissinger (...) um bloco asitico hostil,
que combinasse os pases mais populosos e de mais vastos recursos do mundo...
seria incompatvel com os interesses nacionais americanos. Por isso, a Amrica tem
que manter a sua presena na sia e o seu objectivo geopoltico deve continuar a
ser evitar a convergncia asitica num bloco inamistoso (...).6
A China e a ndia desempenharo, j neste sculo, um papel fundamental no
evoluir da sia. Trata-se, com efeito, de pases que dispem de uma mo de obra
abundante e com uma enorme capacidade de trabalho. Acresce que esta mo de
obra cada vez mais qualificada, nos sectores da tecnologia industrial, das
comunicaes, e da biotecnologia. Estes pases, com um invulgar poder de
penetrao em todos os mercados mundiais tm conhecido, nos ltimos anos, um
enorme crescimento econmico. Ambos possuem um aparelho militar, numeroso,
em modernizao e reorganizao.
Mas, no obstante possurem um enorme potencial econmico e militar, tanto a
ndia como a China conhecem grandes vulnerabilidades. Com efeito, existe uma
enorme diferena entre mundo rural e o mundo urbano em crescimento. So
gritantes as carncias bsicas que afectam largos milhes de indivduos. Existem
deficincias de infra-estruturas e assustador o aumento das desigualdades entre
os seus cidados. o que se depreende do Programa das Naes Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) que alerta para este facto, e referindo-se ao avolumar do
fosso existente nestes pases entre ricos e pobres, aponta-o como um factor
potencial de instabilidade poltica e social aconselhando os respectivos governos a
aumentar os gastos com as polticas sociais e a reformar o sistema fiscal 7.
Uma outra fragilidade advm das disputas fronteirias existentes, no s entre si,
mas tambm entre a ndia e o Paquisto, e entre a China e a Rssia. As enormes
somas gastas pela ndia e pela China com a defesa relegam para um futuro distante 6 Henry Kissinger, op.cit. pp.13. 7 Sequeira I, in O Pblico ,18 Dezembro 2005.
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a possibilidade de se tornarem potncias mundiais, transformando em multipolar o
actual sistema internacional.
2.2. A China com uma grande determinao que a China procura atingir os seus objectivos de integrao territorial, de modernizao econmica, tecnolgica e militar, a fim de
consolidar o seu estatuto de potencia regional e, num futuro no muito longnquo,
ver reconhecido o seu estatuto de grande potncia mundial.
As convulses internas dos ltimos trs sculos mantiveram a China fora das
grandes decises internacionais.
Se nos debruarmos sobre a histria da China e analisarmos os factores que
contriburam para momentos de grandeza e perodos de decadncia
compreenderemos as razes do seu actual ressurgimento. Se o que se ouve com
frequncia nas grandes cidades chinesas O sculo XIX foi para ns o da
humilhao, o sculo XX o da restaurao, o XXI ser o sculo da dominao, vier
a concretizar-se, ento o actual sistema internacional ser profundamente alterado.
Iniciado que foi o processo de se imitar o que de melhor chega do Mundo Ocidental,
se progredir no sentido da inovao e do respeito pelos direitos humanos, ento a
China passar de um hipercapitalismo de Estado a uma economia de mercado com
um estado social. Mas podemos, tambm, assistir proximamente a um
desmoronamento da China, devido aos seus desequilbrios polticos, sociais,
financeiros e ambientais.
2.2.1. Poder econmico No sei se Marx aprova tudo o que estamos fazendo aqui
Vou encontrar-me com ele no cu e conversaremos a esse respeito.
Deng Xiaoping 1986 A economia chinesa , seguramente, data, a economia mais prspera da cena
internacional. Com efeito, a que mais influencia o mercado mundial, que apresenta
mais elevadas taxas de crescimento no s relativamente ao seu comrcio externo
nomeadamente importao de recursos energticos e commodities, mas tambm
em termos de mercado interno. A dimenso das suas necessidades em matrias-
primas j se traduziu por uma subida generalizada dos preos mundiais, podendo
levar alguns deles, como sejam o do crude e seus derivados, da energia elctrica e
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nuclear, do ao, do cobre e da platina, at nveis impensveis. O aumento da
procura poder, igualmente, fazer explodir um novo e longo ciclo de preos
elevados, o que ter, seguramente, repercusses sobre as economias menos
desenvolvidas8.
Devido a uma mo de obra abundante e barata9 a China est a reconfigurar a
geografia mundial das indstrias, atingindo, seriamente, o mundo menos
desenvolvido e em especial a Amrica do Sul e o Maghreb. Por outro lado, est, a
investir na qualificao das suas indstrias, nomeadamente nos sectores da
investigao e da alta tecnologia.
No menos importante o seu mercado interno, mesmo quando comparado com
os pases mais desenvolvidos. 1,3 mil milhes de consumidores , de facto, um
mercado gigantesco, que tem despertado o interesse de mltiplas empresas a nvel
mundial. Produtos alimentares, computadores, telemveis, automveis ou avies,
tudo ali tem potencial maior que em qualquer outra regio do mundo10.
Mesmo que esteja ainda espartilhado entre a manuteno do centralismo
comunista, e a economia de mercado que j imps uma verdadeira revoluo
industrial e se prepara para consolidar uma revoluo cultural, educacional,
tecnolgica e de comunicaes, o programa reformista tem progredido sem
sobressaltos significativos, apesar de conter em si enormes riscos. O aumento da
urbanizao e da industrializao fez surgir uma classe mdia, cada vez mais
exigente, consumista e intelectualizada. Muitos dos seus membros foram formados e
mantm contactos com o exterior. Em contrapartida assiste-se a um
empobrecimento progressivo e crescente de uma grande parte do mundo rural, o
que explica porque que a China continue a fazer parte das naes mais pobres do
mundo. Os operrios expulsos das fbricas e os camponeses afastados das
cooperativas do Estado engrossam diariamente o nmero de desempregados,
fenmeno que j visvel na periferia dos grandes aglomerados. Pouca semelhana
existir j entre a cidade e o campo, entre a costa leste e o interior, entre o sector
8 Joo Silva, in Economia Global e Gesto N.3, Dezembro de 2005, pp.77-91. 9 Loureiro dos Santos em 23-02-2006 no IESM, afirmou: custo de mo de obra na China actualmente de 30 cntimos / hora. 10 Mrio Murteira citado por Joo Silva, op. cit. p.81 (...)O crescimento econmico j provocou uma desocidentalizao alterando a trada de grandes potencias comerciais (Europa, EUA e Japo) para uma nova dimenso, agora quadrilateral, pelo envolvimento Chins...) .
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privado e as estruturas empresariais do Estado, entre as empresas locais e as
multinacionais, pelo que a situao pode tornar-se, subitamente, explosiva.
igualmente preocupante o sector financeiro. Como herana da era comunista
dura ficou uma banca que servia apenas de cofre do Estado, cheia de crditos mal
parados e irrecuperveis que se pensa poderem ascender a cerca de 40% do PIB
chins11. Acresce a este facto a especulao imobiliria, com as graves
consequncias que so em tudo semelhantes quelas que enfrentam as sociedades
ocidentais mais dbeis.
A realidade chinesa , pois, complexa e, at certo ponto, contraditria.
A actual situao econmica teve incio com as reformas introduzidas por Deng
Xiaoping. S muito territrio, muita gente e muita diversidade permitiram esta
evoluo12. Mas, a partir de agora, em que se torna necessrio consolidar a
sustentabilidade, podem surgir imensos problemas relacionados com a satisfao
das pessoas e o esgotamento dos recursos. S uma atitude pragmtica permitir
manter um equilbrio em alta. Um exemplo de que esse pragmatismo est presente
e que o poder econmico determina muito do que acontece na China so os
princpios emanados do XVI Congresso do Partido Comunista Chins. Ali se
consagrou a teoria das trs representaes, que consagra a ampliao das bases
de representao social do partido. Este que assentava unicamente nos operrios e
camponeses abriu as suas fileiras aos empresrios. Destes muitos deles milionrios,
ocupam, hoje, lugares cimeiros na estrutura do partido e do Estado e passaram a
integrar a vanguarda da classe operria, do povo chins e da nao chinesa.
O valor acrescentado de uma dispora cada vez mais numerosa, mais
competitiva e detentora de cada vez mais riqueza, igualmente um factor de
potencial econmico que no deve ser ignorado. Existem cerca 30 a 60 milhes de
chineses a trabalhar fora do pas, sendo a sia e a Amrica os principais locais de
destino. Na Europa, e tambm em Portugal, o seu nmero tem vindo a aumentar.
Merc da sua estrutura familiar e de uma excelente cultura do trabalho so
fortemente competitivos. Dedicam-se aos sectores da restaurao, pequeno retalho,
comrcio grossista e indstria do vesturio.
11 Henrique Morais, O sector financeiro chins, Janus 2006, pp. 52-53. 12 Loureiro dos Santos em 19-01-2006 no IESM afirmou: A China liberalizou a economia mas no liberalizou a poltica ao contrrio da Rssia que liberalizou a poltica mas no liberalizou a economia
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2.2.2. Poder Militar Ainda que persistam dvidas quanto sua verdadeira dimenso, parece claro,
que os gastos com a defesa por parte da China so significativos e esto em
crescimento acelerado13. As somas investidas na defesa podem, no entanto, ser
consideradas insignificantes, quando comparadas com as dos Estados Unidos.
Devido ao seu atraso tecnolgico, viu-se forada, numa primeira fase, a equipar-se
com armamento importado, sendo as suas primeiras aquisies feitas na Unio
Sovitica. Mas com o surgimento e evoluo do conflito sino-sovitico, a partir dos
finais da dcada de cinquenta, viu-se forada a desenvolver uma tecnologia prpria,
incluindo a nuclear. Ultimamente tm sido significativas as compras de navios de
superfcie, de submarinos convencionais e nucleares, de avies de combate e de
msseis terra ar, ar ar e terra terra. Aumentaram, tambm, de modo significatico, as
suas capacidades balsticas e nucleares o que torna a China a potncia militar
regional melhor equipada do Sudeste Asitico.
Embora se posicione, no sistema internacional, com uma atitude no belicista,
com uma grande determinao que os dirigentes chineses investem na
consolidao do seu poder militar14. Paralelamente, tentam ganhar poder e
influncia, a nivel internacional, atravs da diplomacia e da defesa dos valores
culturais. Mas, evidente que, no abdicaro de nenhuma das suas actuais
capacidades militares na defesa do seu interesse nacional. A constatao desta
realidade explica a atitude americana de empenhamento e de parceria
estratgica implementada, desde a segunda administrao Clinton e continuada
pelo Presidente Bush, neste seu segundo mandato.
2.2.3. Poder Poltico - Relaes Internacionais Apesar do seu poder militar, a China ainda, actualmente, uma potncia regional com capacidade de interveno limitado apenas Asia. A sua poltica externa tem
sido caracterizada por uma atitude de grande flexibilidade nas disputas territoriais
fronteirias, pela continuao da defesa coerente dos princpios da coexistncia
13 In Pblico de 5 de Maro 2006. 14 Jiang Enzhu, na Assembleia Nacional Popular em 5 Maro de 2006, quero insistir que a china uma nao comprometida com a paz... Estamos firmemente determinados garantir a soberania da China bem como a sua integridade territorial...
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pacfica, pelo estabelecimento de relaes econmicas mutuamente vantajosas e
pela defesa da cooperao multilateral.
Um ponto em que se mostram intransigentes a questo de Taiwan. A sua
integrao na Repblica Popular da China constituiu e constitui, como dizem,
um dever nacional sagrado.
Embora de uma forma moderada, a China est atenta e interessada em marcar
presena nos grandes acontecimentos que dominam a agenda internacional, como o
demonstram as suas intervenes no Conselho de Segurana da ONU e a
colaborao no combate ao terrorismo transnacional. Este desejo de ter um maior
protagonismo, a nvel mundial, no passa desapercebido aos Estados Unidos. Como
diz Henry Kissinger A China ... o estado com maior potencial para se tornar um
rival dos EUA no novo sculo, embora, do meu ponto de vista, isso no venha a
ocorrer nos primeiros vinte e cinco anos. 15
Nesta sua procura de poder e de influncia a nivel internacional, h ainda a
assinalar as relaes que procura estabelecer com todos os pases, detentores de
recursos energticos, da frica, do Mdio Oriente, do Caucaso, da Amrica Latina e
com a prpria Rssia16.
O desejo de afirmao e de projeco da China, a nvel mundial, abarca vrios
sectores, como se pode depreender no empenho que, oficialmente, colocaram na
candidatura de Pequim a sede da Olimpada de Vero 2008. So j evidentes os
cuidados que esto ter com toda a envolvente dos Jogos, como sejam as
instalaes, os equipamentos, a componente desportiva e a preparao de pessoas.
Sero, segundo dizem, os jogos verdes, numa curiosa aluso s preocupaes
ambientais. Sendo os maiores poluidores, a nvel globai17, os Chineses preparam-
se para fazer uma demonstrao de vanguardismo ambientalista, defendendo que
em todas as cidades em que se desenrolam as Olimpadas, circulem apenas
autocarros a hidrognio. Esperam os Chineses que as condies tursticas que se
propem oferecer possam criar fluxos tursticos para alm do Vero de 2008. O
15 Henry Kissinger op. cit. P.135 16 Assis Malaquias, in Pblica 495/20 Nov. 2005, pp.7-10. 17 De acordo com o Banco Mundial, entre as 20 cidades mais poludas do Mundo, 16 so chinesas. Pequim apesar de ter um nmero de viaturas menor em circulao, produz mais dixido de carbono que Los Angelos e Tquio juntas.
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conjunto das novas preocupaes globais est a, claramente, expresso e associado
economia.
Para melhor se compreender a poltica chinesa ser necessrio no esquecer
a cultura confucionista entendida como um misto de humanismo, racionalismo e
moralismo18 .
Primeiro a China, depois a sia e, s depois o Mundo, o que se pode retirar dos
seus objectivos conhecidos de longo prazo: desenvolver relaes francas, abertas e
competitivas com todo o mundo; apaziguar as tenses regionais, que poderiam
comprometer o desenvolvimento e crescimento do seu poder global; isolar Taiwan
internacionalmente e preparar a sua integrao futura, mesmo que para tal seja
necessrio, hostilizar os EUA; aumentar o seu poder militar, reorganizando e
reequipando em quantidade e qualidade tecnolgica, nomeadamente, na rea
nuclear.
2.3. A ndia Marcam o subcontinente indiano a complexidade e a diversidade. Desde h
dcadas apontada como uma das potncias emergentes mais promissoras, a ndia
tem visto adiada a consolidao deste estatuto, desiludindo analistas polticos e
negando aos seus povos um estatuto que, se bem usado, lhe poderia proporcionar
bem-estar e prosperidade. Se bem que integre uma das mais velhas civilizaes,
no conseguiu ainda, para todos os seus povos, uma identidade cultural nica,
marcante e caracterstica. Sendo um dos pases mais ricos e com uma economia
que no cessa de crescer, a ndia continua a integrar um nmero impressionante de
pobres que continua a aumentar. Apesar de ser uma das democracias mais slidas
da sia, assente em princpios humanistas de no-violncia e no alinhamento, as
discriminaes, a violncia e as crises polticas internas so uma realidade.
Tudo, desde o territrio, s gentes, passando pela religio e pela economia
diverso e complexo. Os reflexos na poltica so, pois, inevitveis. A ndia no viu
ainda consolidado o estatuto de grande potncia que, h muito, lhe apontado, mas
continua a possuir todas as condies para crescer, para se desenvolver e se impor
no s na regio, como no mundo. 18 Arnaldo Gonalves, Os valores asiticos e os direitos humanos, Poltica Internacional, pp.141-161.
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Entre potncia virtual e Estado real, a ndia vai fazendo o seu caminho, talvez
lento, mas com adequada sustentabilidade. A sua integrao no mundo globalizado
torn-la-, mais cedo ou mais tarde, mas ainda neste sculo, um dos pases mais
prsperos e poderosos. Ter que proceder, necessariamente, a reformas sociais,
respeitando a diversidade cultural e tnica, para que, sem turbulncia e sem grandes
riscos, a mais valia econmica que um milho de indivduos pode produzir seja
adequadamente distribuda.
De acordo com a sua constituio, de 1950, a ndia uma repblica democrtica,
soberana, socialista e secular, com uma estrutura federal de 27 Estados e Unies
territoriais. Tem um governo parlamentar bicamaral e um poder judicial
independente, que assenta nos conceitos e tradies dos pases anglo-saxnicos19.
Apesar da presena de mltiplos movimentos tnicos, polticos e mesmo de
guerrilha, a unidade do estado nunca esteve seriamente afectada. Os benefcios da
unio acabam sempre por superar os riscos da fragmentao e a moderao,
mesmo entre os grupos mais radicais, tem sempre prevalecido. As lutas so mais
para conseguir maior reconhecimento interno do que para derivas independentistas.
Na anlise da multifacetada populao indiana, no ser possvel esquecer a
relevncia social do sistema de castas e subcastas existentes. Este tem evoludo e
no sendo hoje um verdadeiro sistema, mantm-se como uma coleco de grupos
de interesses em concorrncia por uma parte do poder 20.
2.3.1. Poder econmico A vantagem da ndia no , apenas, o custo o custo associado
competncia de alto nvel, tendo em conta o enorme reservatrio de talento que R A Mashelkar
Na ltima dcada, assistimos a um crescimento significativo da economia indiana
(6,8% desde 1994), o que ter permitido reduzir a pobreza no pas em cerca de
10%, facto este tanto mais relevante quanto sabido que existem, ainda, na ndia
25% das pessoas a viver abaixo do limiar da pobreza.
Trata-se de uma economia mista, com uma fora de trabalho maioritariamente
(cerca de 60%) do sector primrio, mas tambm com uma importante parcela de
19 Elisabeth Moretti- Rollinde, Droits personnels en Inde ou labsence dun code civil unique, Bulletin du CREDHO N 14 dcembre 2004, pp. 123-124 20 Jaffrelot, Inde: la dmocratie par la caste. Histoire dne mutation scio-politique, 2005
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trabalhadores envolvidos nos servios (23%). Neste sector, muita gente fala bem
ingls e altamente especializada em software informtico e em tecnologias de
informao. Aqui se encontram alguns dos maiores call centers do mundo.
A indstria vai ser um dos motores da sua economia nos prximos anos,
nomeadamente com a consolidao do desenvolvimento a que assistimos na
biotecnologia e no sector farmacutico mundial, onde dominam j boa parte do
mercado dos frmacos genricos. A ndia actualmente o maior produtor de pio
para indstrias lcitas do mercado farmacutico. Muitas das dificuldades sentidas na
sua indstria devem-se, em grande medida, ao controlo que o governo ainda impe
ao investimento estrangeiro. H, no entanto, a promessa governamental de
liberalizao do investimento nas reas da aviao civil, das comunicaes e dos
seguros.
O desenvolvimento da economia tem feito da ndia um grande importador de
commodities, em especial crude e seus derivados, maquinaria ligeira, fertilizantes e
qumicos. As suas principais exportaes so os txteis de qualidade, a joalharia, os
qumicos, os frmacos e as peles. Os seus principais mercados so os EUA, a
China, Singapura e a Inglaterra.
O facto de a economia, ligada indstria e aos servios, ser a parcela que mais
cresce e mais potencialidades detm, um importante indicador de que o seu ritmo
pode aumentar e atingir, muito proximamente, os nveis j alcanados pela China.
Sero, seguramente, motores deste crescimento, os excelentes nveis de formao
e percia atingidos pelas suas elites mais jovens, o crescimento e a inovao que
vo conseguindo nas tecnologias de informao e os novos mercados que a
globalizao mundial lhes faculta diariamente. O crescimento da sua economia pode
vir a ser sustentado, j que consubstancia um maior equilbrio entre o trabalho
manual e o trabalho industrial efectuado com base em tecnologias evoludas e
trabalho intelectual.
Esperam os indianos que a concretizao destes objectivos econmicos lhes
permita induzir uma importante mudana na sua sociedade, nomeadamente retirar
muitos milhares de famlias do limiar da pobreza, gerar muitos postos de trabalho,
reduzir a iliteracia, melhorar infra-estruturas habitacionais e de comunicaes
terrestres, areas e martimas e desenvolver servios de sade adequados.
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2.3.2. Poder Militar A ndia por tradio, desde a sua independncia, um pas que se rege por
princpios humanistas, de no violncia e no alinhamento e , igualmente, adepta
da resoluo dos conflitos atravs da diplomacia, mas ao longo da sua histria, foi
obrigada a reconhecer o poder militar como um elemento fundamental para
persecuo dos seus objectivos e interesses vitais. Os conflitos com os seus
vizinhos, China e Paquisto, impem-lhe a necessidade de no descurar o seu
poder militar. Assim se explicam, no s o aumento dos efectivos das suas Foras
Armadas, como tambm a soma gasta com a sua manuteno e modernizao. O
facto de a China ser uma potncia nuclear levou a ndia a desenvolver, igualmente,
esta capacidade, o que levou o Paquisto por sua vez a dotar-se de armamento
nuclear. Tem investido ainda no desenvolvimento de msseis com ogivas nucleares
mltiplas e em submarinos nucleares. No surpreende assim, que no ano de 200521
tenha dispendido 18.86 mil milhes de US dlares, cerca de 2,93% do seu produto
interno bruto.
As foras armadas indianas so constitudas por um grande exrcito; uma
marinha composta por unidades de superfcie, submarinos e aviao naval; uma
fora area; uma guarda costeira e vrios corpos de segurana paramilitares. Possui
onze portos de mar profundo na costa oeste, cinco na costa leste e cento e trinta
portos menores em ambas as costas. Os efectivos so, na sua quase totalidade,
constitudos por homens, estando a interveno das mulheres, quase
exclusivamente, reservadas rea da sade.
A marinha de guerra indiana a quinta maior do mundo. Uma boa parte dos seus
navios de superfcie e os submarinos nucleares est equipada com armas e
sensores tecnologicamente avanados. Trata-se de uma marinha de guas azuis,
profissional, competente, disciplinada que se tornou visvel como uma potncia naval
regional. A esta fora se junta uma guarda costeira, organizada imagem da
americana, responsvel pelo patrulhamento da sua extensa zona econmica
exclusiva.
21 The World Factbook - http://www.cia.gov/cia/publications/factbook/ em 04-02-2006
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2.1.2 Poder Poltico Relaes Internacionais Apesar de se tratar de um pas demasiado complexo, em termos populacionais e
de desenvolvimento econmico, todos os Indianos so a favor da manuteno das
fronteiras herdadas e da integrao territorial.
A sua maior preocupao em poltica externa tem a ver com o diferendo que ope
a India ao Paquisto, por causa de Caxemira, e com a China, tambm por questes
fronteirias. Por esta razo e apesar de ser um Estado fundador do movimento dos
no alinhados, a ndia viu-se na necessidade de se aproximar das grandes
potncias e de desenvolver o seu programa nuclear. Este pauta-se por uma cultura
estratgica minimalista. Desenvolver as armas nucleares o suficiente para ser
credvel, numa eventual resposta aos adversrios, mas sempre considerando que
as mesmas so imorais e problemticas e s devem ser utilizadas quando a
negociao poltico-diplomtica falhar. Com avanos e recuos, o programa progrediu
o suficiente para a ndia ser, hoje, uma potncia nuclear considervel. Este facto,
aliado superioridade das suas foras convencionais terrestres, areas e navais
indianas, em relao ao Paquisto, levou, por sua vez, este ltimo Estado a estreitar
as suas relaes com os EUA, relaes estas que se tm mantido e que remontam
criao da OTASE, em 1954 e do Pacto de Bagdad, em 1955.
A questo de Cachemira e o armamento nuclear chins e paquistans continuam
a ser uma grande preocupao para a Unio Indiana. Tem-se verificado, contudo,
uma melhoria nas relaes com o Paquisto, bem patente nas relaes desportivas
e comerciais.
A par das suas preocupaes internas e regionais, a ndia procura uma posio
internacional mais abrangente, baseada nos valores da segurana e da
convergncia de interesses, no s com os EUA, mas tambm com a Europa. Esta
estratgia de parceria com os EUA, reiterada em 2004 e consolidada j este ano,
tem permitido a cooperao em actividades nucleares no militares, nos programas
espaciais, no comrcio de alta tecnologia e nos msseis de defesa 22 23.
Pelo que acabmos de referir, constata-se que a ndia evoluiu muito nos ltimos
25 anos. Tem procurado, ao longo deste tempo, promover um desenvolvimento
slido e sustentado em todas as reas. Afirmam os seus dirigentes que o seu 22 Jorge Fernandes, in O Pblico 5 Maro de 2006 pp. 27 23 Fareed Zakaria, India rising, Newsweek , 6 March, 2006, pp. 28-43
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crescimento deve ser aplicado em benefcio das pessoas, do ambiente e da
segurana, num contexto de relaes internacionais regionais e globais de no
alinhamento e de respeito pelo direito Internacional. So vitais para os prximos 15
anos, realam: 1) A garantia da Paz, Segurana e Unidade Nacional; 2) A segurana
e sustentabilidade alimentar e nutricional; 3) A garantia de uma sociedade de pleno
emprego; 4) O desenvolvimento de uma sociedade de conhecimento; 5) A melhoria
da Sade Pblica e individual do seu povo; 6) A expanso tecnolgica e
infraestrutural do Pas; 7) O adequado aproveitamento das vantagens da
globalizao; 8) A estabilidade e qualidade da governao que permitam a
concretizao dos objectivos nacionais; 9) O desenvolvimento generalizado duma
cultura de valores, nomeadamente do valor do trabalho.
3. VELHOS COMPETIDORES AS DEMOCRACIAS EUROPEIAS Aps duas devastadoras guerras era indispensvel criar condies que
pacificassem a Europa e permitissem o seu desenvolvimento harmonioso, estvel e
sustentado. Foi imbudo deste esprito que Robert Schuman props, em 1950, um
plano, concebido e desenvolvido conceptualmente por Jean Monnet, para a criao
de uma Comunidade Europeia do Carvo e do Ao (CECA). A partir do
aproveitamento dos recursos necessrios para a conduo de uma guerra surgiu,
com idealismo, o esprito que deveria conduzir paz e prosperidade dos povos
europeus, atravs do respeito pelas pequenas naes, pelos seus cidados e pelos
seus direitos. Os seus conceptualizadores aperceberam-se, desde incio, que no
seria uma tarefa fcil, mas que poderia avanar. Caminhando muitas vezes, a um
ritmo lento, mas seguro e sempre continuado, foi possvel, atravs do consenso
chegar aos nossos dias com uma UE que integra, actualmente, 25 Estados
Democrticos. Dispondo de uma moeda Comum a 12 dos seus Estados-membros, o
Euro, de um Banco Central emissor, e, sobretudo, de uma Carta de Direitos
Fundamentais onde se consubstanciam os direitos sociais e econmicos, como
sejam o emprego, a segurana, a assistncia social, a sade e o ambiente, a UE
hoje um grande mercado livre. Este tem vindo a consolidar-se atravs de vasto
conjunto de leis, de forma consensual e a partir de negociaes.
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A UE necessita ainda de ter a confiana e o apoio dos seus actuais e futuros
cidados, bem como de programar as reformas institucionais e constitucionais
necessrias para poder afirmar-se politicamente no seio do sistema internacional.
A clarificao poltica, agora momentaneamente comprometida pela no
aprovao, no tempo previsto, do Projecto de Tratado Constitucional, passa pela
elaborao e concretizao de polticas comuns, incluindo a Poltica Externa e a
Poltica de Defesa e Segurana (PESC e PESD).
De modo progressivo, embora muitas vezes lento, a Europa est em vias de
consolidar um modelo de relaes entre Estados que se baseia na supremacia do
Direito Internacional e na renncia guerra como soluo para as crises e os
conflitos. A est a maior revoluo de conceitos das relaes internacionais alguma
vez operada na histria24.
3.1. Poder econmico Apesar da poltica de coeso social, a Europa ainda marcada por uma grande
diversidade econmica entre os pases que a integram. Este facto bem patente
nas diferenas de rendimentos per capita dos seus cidados.
No seu conjunto, a UE ocupa um lugar de destaque no panorama econmico
mundial. Possui uma moeda comum e forte, o Euro, a circular em doze pases.
Em apenas 50 anos, a Europa, com base no mercado livre, transformou-se na 2
maior economia mundial, sendo seu objectivo actual at 2010 transformar-se, com
base no conhecimento, na economia mais competitiva e dinmica do mundo. Para
que tal acontea torna-se necessrio estimular o esprito empresarial e o
desenvolvimento tecnolgico, nomeadamente a criao de uma forte, evoluda e
inovadora sociedade de informao, desenvolvimento e investigao que aproveite
adequadamente os seus recursos humanos.
A economia da UE desenvolve-se fundamentalmente a partir dos servios (69,4%
da produo econmica). A indstria, que foi a grande responsvel pelo seu
desenvolvimento econmico, no representa actualmente, mais que uma parcela de
28.3% da sua economia global. Apesar dos problemas que tem colocado a
agricultura na Europa tem um peso limitado de 2,8% do total. O crescimento
econmico nos ltimos anos foi baixo, da ordem dos 2,5 a 3,5 % ao ano. A taxa de 24 Mark Leonard, in Sculo XXI A Europa em Mudana.
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desemprego alta, da ordem dos 9.5% (2004). A maioria dos estados membros
possuidora de excelentes infra-estruturas virias, porturias, aeroporturias, de
comunicaes e equipamentos sociais, nomeadamente na rea da sade.
Portugal, a partir da integrao e em especial aps a adeso moeda nica, ficou
com uma economia sem fronteiras, sujeita a regras explicitas e a regras impostas
pelo prprio mercado25. O mito europeu substituiu o mito ultramarino26.
Em consequncia deste novo regime econmico, a economia portuguesa
debate-se com problemas a longo prazo, de convergncia real e com problemas
macroeconmicos actuais e a mdio prazo. Quanto convergncia real, convem
no esquecer as deficincias infra-estruturais ainda existentes, a falta de
flexibilidade da economia, a sua grande dependncia da economia do estado, os
fracos desempenhos da justia e da educao, os elevados gastos com a sade e a
segurana social, a baixa produtividade geral, e, sobretudo, os baixos nveis de
concorrncia e de competitividade econmica, em grande medida devido ao sistema
fiscal existente e fuga de impostos que permite. Quanto aos problemas actuais e
de mdio prazo, eles so marcados no s pela estagnao da economia, agravada
pela lenta recuperao da economia europeia, mas tambm por factores internos
como seja o forte endividamento das famlias, as polticas pr-ciclicas e pela
dificuldade de uma consolidao oramental sustentvel.
A abordagem correco do dficit no pode continuar a ser feito pelo lado das
receitas, mas sim pelo lado das despesas.
3.2. Poder Militar, Poder Poltico e Relaes Internacionais. A Europa continua a ser um conjunto de Estados, ciosos da sua soberania,
sobretudo em assuntos de Poltica Externa e de Defesa e Segurana. Como tem
acontecido em todas as reas da construo europeia, tudo ocorre lentamente. A
convico do desejo de progredir em direco a uma realidade nova , no mnimo,
fraca.
Nascida de uma tentativa de manter a paz, a Europa l se vai construindo mais
como uma necessidade do que como uma convico. A dissociao, entre o
pensamento e o sentir dos seus povos e as palavras dos seus lideres, uma
25 Campos e Cunha, no IESM, em 07/02/2006. 26 Joo Salgueiro, no IESM, em 23/01/2006.
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evidncia27. Os pases europeus, mais do que vizinhos que caminham para sobrepor
e esbater as suas fronteiras, so muitas vezes vizinhos inimigos intmos e sempre
dispostos a uma boa disputa28. medida que as fronteiras se alargam, sem que a
coeso social progrida ao mesmo nvel, a diversidade cresce, no como elemento
enriquecedor que devia ser, mas antes como elemento de separao. O
pragmatismo que, apesar de tudo, tem presidido construo europeia, ser
fundamental para a compreenso da indispensabilidade da existncia de uma
poltica externa comum e, mesmo, de uma poltica de segurana e defesa que,
obrigatoriamente, deve assentar num poder militar forte e credvel. A unidade de
aco dos pases europeus decisiva para a consolidao da Europa. S unidos
conseguiro acordos favorveis aos seus interesses e compatveis com os seus
valores. Constituir-se como uma zona segura, um espao de liberdade, justia,
estabilidade e empregabilidade so objectivos estratgicos da poltica comum a
perseguir. Igualmente vital, ser transformar a ordem internacional, atravs da
defesa de principios semelhantes aos que vigoram internamente (democracia,
primado dos direitos humanos e da economia de mercado).
Deste sentido da construo de um espao continental europeu comum,
depende a capacidade de afirmao externa. Tal implicar a promoo dos
princpios do primado da negociao sobre os princpios da guerra, na resoluo de
conflitos. Mas implicar, tambm, a capacidade militar de interveno face,
sobretudo, s novas ameaas e riscos.
Apesar de todas as limitaes do ponto de vista poltico-diplomtico, a UE vai-
se afirmando de modo no negligencivel, em vrios fora, nomeadamente na ajuda
humanitria, na regulao do comrcio mundial, na poltica monetria e nas novas
preocupaes mundiais no domnio dos transportes, do ambiente e, internamente,
consolida-se como espao de liberdade, justia, estabilidade e empregabilidade,
possuidor de um invejvel modelo social. Estes factos deram UE um estatuto de
potncia de poder suave. A atraco pelo modelo social europeu inquestionvel.
Com naturalidade se percebe que a UE precisa, de modo inadivel, de adquirir uma
27 Antnio Barreto, in O Pblico 19 Maro de 2006. (...) Estranhamente, ou talvez no, a Europa saiu da ordem do dia. C dentro e l fora. (...) Recomear tudo como antes impossvel. Renovar difcil. Acabar com ela improvvel. (...) 28 Adriano Moreira em conferncia proferida no IESM em 23/02/2006
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capacidade complementar de credibilidade, o poder duro, que possibilite realmente a
projeco de foras militares.
Privilegiar a negociao, mas ser capaz de impor os seus princpios e defender
os seus interesses vitais, so tarefas inadiveis, mesmo que elas se constituam
como factores de desequilbrio entre estados membros.
No surpreende, pois, que em 1999, em Maastrich, tenha surgido como
fundamental o pilar de Poltica Externa e de Segurana Comum (PESC) da Unio.
Desde ento, a UE fez progressos assinalveis: estabeleceu as suas competncias
em matria de segurana e defesa, montou as estruturas polticas e militares de
anlise, deciso e realizao de operaes. Nasceram o Comit Poltico e de
Segurana, o Comit Militar, o Staff Militar, a Agncia Europeia de Defesa, o Estado
Maior da Defesa, as Clulas de Planificao, os Battlegroups. Aconteceram as
suas primeiras operaes, expandiram-se as reas e os tipos de interveno. Os
estados membros afectaram meios e fixaram objectivos para harmonizao e
melhoramento de capacidades, incentivaram a reorganizao do mercado europeu
de armamento, definiram os critrios e os meios para a interveno de reaco
rpida. Mas, nem tudo fcil. A componente militar debate-se com dificuldades
como sejam: o deficit de capacidades militares de muitos dos seus membros e as
indecises gerais dos pases quanto s posies de autonomia ou de
complementaridade para as suas FFAA, em relao ao conjunto.
Entre objectivos e capacidades h um gap tremendo. Para tentar ultrapassar
este, a UE, a partir das capacidades que dispunha fixou Objectivos Globais
(Headline Goal de Helsnquia, em Dezembro de 1999 e Headline Goal 2010), que
levaram s conferncias de gerao de foras, identificaram as reas em que era
necessrio aumentar as capacidades e estabeleceram planos de aco para atenuar
os deficites identificados. A recente formao dos Battlegroups insere-se neste
esprito. A necessidade de melhoria real, sobretudo no domnio da mobilidade, do
apoio logstico, da capacidade de combate, da intelligence, do comando e
controlo, das comunicaes, vigilncia e reconhecimento.
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4. CENRIOS EVOLUTIVOS PROVVEIS Neste incio do Sc. XXI, quando se fala de cenrios evolutivos geoestratgicos e
geopolticos, a nica coisa que se pode dizer que todas as previses so falveis.
A insegurana provocada pelo terrorismo transnacional; a imprevisibilidade evolutiva
das velhas potncias, os riscos do crescimento acelerado das potncias
emergentes, o envelhecimento rpido das populaes, os fenmenos migratrios
violentos, o crescimento das assimetrias sociais responsveis por um cada vez
maior nmero de pobres, a degradao ambiental induzida pela poluio e indutora
de catstrofes naturais, cada vez mais frequentes e mais agressivas, o esgotamento
de recursos naturais, nomeadamente gua potvel e fontes energticas tradicionais,
tornam qualquer previso uma hiptese falvel, mesmo que assente em racionais de
integrao de factos colhidos, analisados e feitos conhecimento na hora.
neste contexto que nos debruaremos, a partir da anlise e discusso dos
factos atrs referidos, sobre alguns dos possveis cenrios evolutivos da Europa e
da sia emergente.
4.1. Equilbrio Geoestratgico Asitico
4.1.1. Emergncia Asitica Suave Se mantiverem os actuais ritmos de crescimento econmico e militar, a China e a
ndia vero o seu poder aumentar de modo significativo colocando-os ao nvel no
s da velha Europa, mas tambm dos EUA. Tal no acontecer, contudo, se no
conseguirem ultrapassar os novos problemas que se esto a desencadear nas suas
sociedades. So sociedades multitnicas, multireligiosas e duais, com um fosso
enorme entre ricos e pobres e com uma classe mdia, ainda agora emergente, mas
j com dificuldades em manter o seu estatuto. Conseguiro a sustentabilidade do
desenvolvimento j atingido se aceitarem redues nas taxas de crescimento
econmico e se investirem em polticas sociais, em infra-estruturas, em educao e
no combate srio ao desemprego de camponeses, de operrios e ainda de
trabalhadores que se tornaram obsoletos devido desvalorizao do trabalho
manual e ao aparecimento do trabalho inovador de alta tecnologia. Tero que
canalizar mais recursos para aliviar estas presses e tornar as suas relaes
comerciais internacionais globais mais transparentes.
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Tero que implementar o respeito pelas normas de mercado, que reduzir os
regimes de subsdios e que combater a pirataria imitadora e lesiva dos direitos de
patente.
Tero, ainda, de respeitar os grandes equilbrios ecolgicos, nomeadamente de
recursos e ambientais, participando no esforo global de proteco do planeta.
Tero, finalmente, que se transformar em naes com rosto, em povos
empresrios, em empresas com logotipo, inovadoras e respeitadas.
Tanto a multipolaridade como a bipolaridade regional pode favorecer uma
emergncia suave destas duas potncias. No entanto o equilbrio estratgico da
zona pode ser rompido, se uma das potncias geodemogrficas se sobrepuser e
ameaar o status quo actual.
A Ascenso Pacfica, conceito defendido e difundido por Zheng Bijiam29 e,
posteriormente, modificado para Desenvolvimento Pacfico pelo Presidente Hu
Jintan, que engloba noes de paz, multilateralismo e regionalismo, apresentado
como o princpio orientador da poltica, da China actual e facilitador da sua
emergncia suave. A tradicional posio indiana de humanismo, no-violncia e
no alinhamento vai no mesmo sentido.
As tarefas que podem conduzir a uma emergncia suave e que permitiro o
equilbrio mundial, no so fceis, nem na poltica interna, nem nas relaes
internacionais, mas so desejveis. So, mesmo, fundamentais para que, mudando
o mundo, o deixem em equilbrio, ainda que instvel.
4.1.2. Emergncia Asitica Conturbada No havendo correces que estabilizem o comrcio internacional e diminuam a
conflitualidade interna crescente pode chegar-se a uma situao grave para a
economia, a paz e a segurana mundiais.
O perigo de imploso da China e ou da ndia por perturbaes polticas internas
real. A conflitualidade em redor de Taiwan, as disputas fronteirias entre a ndia e
o Paquisto ou um conflito global de comrcio externo entre potncias econmicas,
podem sempre acontecer e preceder um conflito militar.
Igualmente no desprezvel como hiptese, o facto de serem os EUA, por
interesse prprio, forados por perturbaes interna a desencadear um conflito 29 Zheng Bijiam, Vice-Presidente da Escola Central do Partido Comunista da China
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comercial ou mesmo militar. Os efeitos da globalizao sobre a populao
americana e toda a panplia de repercusses, que lhe est subjacente, no comrcio,
no emprego e no desenvolvimento, no podem ser esquecidos.
A emergncia conturbada no apenas um exerccio acadmico, uma
possibilidade real, no desprezvel e preocupante. Vulnerabilidades internas e
externas podem constituir perigo real. Sem ser exaustivo bastar lembrar: a
fragilidade do sistema financeiro chins; os problemas ambientais; a crescente
assimetria na distribuio dos rendimentos entre o litoral e o interior, entre os meios
rural e urbano ou entre ricos e pobres; o aumento do desemprego; a fragilidade dos
sistemas de apoio social e sade; o impasse no processo de reformas polticas,
particularmente na China, ou as repercusses sociais do sistema de castas e
subcastas na ndia.
4.2. Evoluo Geoestratgica da Europa
4.2.1. Viso Eurocptica Basta que a Europa fale de unio para logo se dividir30
Raymond Aron
A Europa precisa mudar porque no tem sabido desenvolver as suas
oportunidades, nomeadamente crescendo economicamente e projectando tal factor
de poder no contexto mundial, nem tem conseguido minimizar ou eliminar as suas
fraquezas. Encontra-se, manifestamente, em declnio31, com rendimento estabilizado
ou mesmo em queda, com uma utilizao de recursos cada vez menos eficaz e
eficiente. Cada nova aplicao de recursos traduz-se em menores resultados. No
consegue concretizar as polticas que se prope e tem vindo a ser com frequncia
ultrapassada pela dinmica dos acontecimentos. A Europa evoluiu para um Estado-
Providncia, em que o que conta a garantia de segurana. Tem uma cultura de
dependncia distributiva.
Os polticos dos diferentes estados tm sido incapazes, ou no tem querido
apresentar aos seus eleitores a realidade europeia, como mtodo para ocultar os
desequilbrios internos dos seus pases. A produo, os recursos e a sua
distribuio so inapropriados. Os cidados que, mesmo quando entendem o que
30 Raymond Aron, le Grand Schisme (1948),p.60 31 Joaquim Aguiar, Relaes Internacionais, Set.2005,pp.75-87.
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INSTRUO NO CLASSIFICADO INSTRUO 23
verdadeiramente deve ser feito vo diferindo para as geraes posteriores as
solues que apontam para perda de privilgios e de segurana. Os estados esto
paralisados e incapazes de acompanhar a competio que a globalizao impe,
porque os seus polticos e os seus cidados esto num equilbrio de curto prazo,
egosta e perigosamente sem futuro.
A Europa est numa crise de confiana, em que os cidados desconfiam das
suas lideranas, mas elegem-nas e os estados membros desconfiam entre si.
Acresce a estes factos polticos e estratgicos que o crescimento econmico
baixo (9%) e que o estado social est em
dificuldades, no conseguindo manter a segurana social. O modelo, se no est
esgotado, est pelo menos muito abalado. Este facto pode servir de incentivo para
uma atitude euroceptica mas realista.32
A Europa est, assim, esmagada pela incapacidade de fazer reformas, quer
porque se instalou uma cultura de facilitismo, quer pela miopia dos sindicatos que
no entendem a presso da globalizao e em especial, da integrao da ndia e da
China nos mercados mundiais.
A crise demogrfica, pela baixa da natalidade e pelo incremento da esperana de
vida, aumentou o nmero de idosos e de reformados, disparou as despesas sociais,
facilitou a imigrao e importou problemas.
Para os mais cpticos, o futuro est, definitivamente, comprometido ainda pela
crise cultural. Mais preocupada em copiar o modelo americano do que desenvolver o
modelo europeu, a classe mdia europeia fala ingls, s pensa em dinheiro,
frequenta Centros Comerciais e consome sem critrio33.
Josep Borrel e Duro Barroso reconheciam, em Viena de ustria a 27 de Janeiro
de 2006, a crise actual 34.
Sempre que se avizinham grandes decises na UE, surjam os argumentos
32 Costa Correia (...) num eventual quadro de potencial desagregao que o pensamento euro-realista pode contribuir para fomentar um melhor conhecimento dos riscos que para a UE pode constituir uma dissociao gradual ou sbita da ideia de unidade poltica... e para ajudar a evitar reaces de individualismo nacional, com os inerentes efeitos contributivos para um caminho de desunio (...). 33 Joo Silva, in Expresso de 5 de Novembro de 2005 34 in Dirio de Notcias, 29-01-2006, Joseff Borrel: A Europa tem uma crise mltipla de identidade, legitimidade, resultados e eficcia, Duro Barroso indispensvel um grande esforo para conseguir uma Europa de resultados, a par de princpios de diversidade e de tolerncia, cimento da sociedade consolidada pela componente cultural
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INSTRUO NO CLASSIFICADO INSTRUO 24
eurocepticos. Afirmam que est iminente a perda da soberania dos pases, que o
estado social europeu vai ser posto em causa, que os alargamentos ou as
reestruturaes induziro vagas de imigrao a partir dos pases mais pobres, que
iro degradar as condies de vida local e criar instabilidade social. Dizem que os
pases mais desenvolvidos e mais ricos assumiro a direco da Unio e acabaro
por prejudicar no s a independncia, mas tambm a qualidade de vida dos mais
pobres.
O processo de desenvolvimento europeu tem sido difcil, extrado a ferros e
repleto de muitas limitaes. As suas actuais instituies e os seus representantes
esto sem capacidade de dilogo e sem suporte de uma fora militar credvel. Os
eurocepticos so de quadrantes polticos diversos e at antagnicos, e tm
motivaes diversas. Para muitos, a UE mais no deve ser que um mercado, uma
moeda, uma viso humanista quanto baste da vida social, de preferncia num
ambiente seguro e apenas alargado o suficiente para promover a reconciliao e
fazer a preveno de novos conflitos regionais, mas no to alargado que ponha em
risco as actuais condies de trabalho e os benefcios no domnio da sade e
segurana.
Uns com receio do alargamento excessivo, outros pelo risco de degradao do
modelo social de apoio, outros ainda com receio da perda de soberania nacional,
tm impedido a UE de ter uma posio poltica slida, de criar um aparelho militar
credvel e de consolidar o seu crescimento econmico e comercial e o seu estatuto
mundial. Menor desempenho, crise de identidade e reduo da coeso so as
consequncias mais visveis desta postura.
4.2.2. Viso Pr Europesta
A Europa no ser feita de uma s vez de acordo com um plano geral: Ser construda atravs de realizaes concretas que
criem em primeiro lugar uma solidariedade de facto. 35
Quando a ameaa comear a tornar-se pesadelo, a Europa despertar e
conseguir um equilbrio minimamente satisfatrio, em que verdadeiramente
ningum pode dizer que perdeu. A negociao distribuir benefcios e contribuies
35 Schuman, Robert (9 de Maio de 1950), Schuman Declaration
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de um modo pragmtico, permitir a manuteno do sonho utpico dos mais pobres
e dar um novo impulso, que permitir o relanamento da economia, a criao de
emprego, o repensar do modelo social e o reiniciar da discusso sobre a
organizao poltica e militar.
Porque a crise instalada pela recusa francesa e holandesa ratificao do
Tratado Constitucional foi, em grande parte, a expresso de desagrado dos seus
cidados s polticas internas dos governos e das suas elites, convir no esquecer
que o seu efeito maior foi o aviso aos governos europeus que tm que contar com
os seus cidados antes de assumirem compromissos externos em seu nome. A
Europa dos cidados surgiu com naturalidade. Poucos negaro que o debate sobre
a Europa est terminado, que dos 50 anos passados j resultaram mais de 80 000
pginas de normas de direito, um mercado comum, uma moeda nica e um esboo
de fora de defesa comum.
Muitos acreditam que chegmos a um ponto de no retorno que obrigar a
consolidar a Europa, naturalmente com os ritmos que se mostrarem mais
adequados. O retrocesso seria o descalabro econmico, financeiro e social e
colocaria de novo em risco a segurana regional e mundial.
Os europestas acreditam que o bom senso prevalecer.
A fora da UE pode ser fundamental para o equilbrio mundial. Cada novo Pas
que entra, alarga o mercado, melhora as condies de vida dos seus cidados, faz
crescer a zona de estabilidade, da que, com naturalidade, se diga que a entrada na
esfera da influncia da UE muda a natureza dos pases para sempre. So j, muitas
as pessoas que vivem na Euroesfera, adoptando mais ou menos profundamente a
maneira europeia de ver e fazer as coisas.
Exercendo o poder transformador36, que funciona a longo prazo e tem a ver com o objectivo final de reconfigurar o mundo e no ganhar pequenas lutas, a UE
vai mudando. Mesmo sem lder, esta rede de centros de poder, que a UE, tem
consensualmente criado as suas leis e regras. Vai-se construindo um Mundo de
bem-estar geral, sem desigualdades gritantes, com respeito pelos direitos humanos
e pela viabilidade da vida no planeta. Como diz Mark Leonard: (...) imaginem um
mundo em que os pases pequenos so to soberanos quanto os grandes. Um
36 Mark Leonard, Sculo XXI A Europa em Mudana 2005, p. 62
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mundo em que o que interessa obedecer lei; onde os valores democrticos so
mais importantes do que aquilo que se tenha feito na guerra contra o terrorismo;
onde... se faz parte da maior economia do mundo. O que lhe estou a pedir que
imagine o Novo Sculo Europeu. (...).
Este projecto j evoluiu tanto que, por exemplo, a guerra no apenas um facto
indesejvel, inconcebvel.
As diferenas no so vistas como oposio, mas antes como realidades diversas
a respeitar e harmonizar com as regras gerais aceites consensualmente. uma
sociedade de poder do direito.
O poder de atraco que este projecto impe tal, que a principal preocupao
dos seus vizinhos integr-la. Pertencer a uma potncia econmica que respeita os
direitos humanos bem mais atraente que ser autnomo, mas dependente de uma
superpotncia poltica e dos seus caprichos.
A agresso passiva37 a principal arma da Europa, a ameaa de retirar o apoio e a amizade ou de inviabilizar a adeso que vai mudando os candidatos, com
uma eficcia superior quela que a fora das armas conseguiria.
O maior argumento da Europa que o seu modo de vida se vai tornando uma
atraco irresistvel para os emergentes. Sem pressas, passo a passo, ao ritmo
possvel, a Euroesfera crescer e o mundo beneficiar globalmente. As polticas
centrar-se-o no indivduo e no seu bem-estar.
4.2.3. A terceira Via para a Europa Uma sociedade europeia baseada no conhecimento
Em pleno desenvolvimento da 3 globalizao38 a Europa est sujeita a uma
concorrncia acrescida, que coloca em conflito os dois cenrios limites descritos, o
do eurocepticismo, que condena a prazo a utopia da UE e o euro optimismo, que
acredita que, com maior ou menor dificuldade, a Europa consolidar-se-. Entre a
atitude conservadora de manter o modelo social europeu sem modificaes
significativas, nomeadamente na sade, na proteco social ou na regulao do
mercado e do trabalho e a atitude mais liberal de criar mais emprego e mais
competitividade, mesmo que se tenham de reduzir, de modo significativo, os
37 MarK Leonard, op.cit. p. 65 . 38 Thomas Friedman, O mundo plano, pp.19-58.
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benefcios agora existentes, comea a surgir uma 3 via a 3 Europa.39 Uma unio
que reconhece a necessidade de aumentar a competitividade e abrir caminho a mais
emprego, sem sacrificar o modelo social nas suas componentes de proteco social,
cuidados de sade e de negociao colectiva.
necessrio ter o maior nmero de indivduos a trabalhar com qualidade, com
formao, com conhecimento, inovando e conservando o que for possvel conservar
no apoio social e na sade. Foi este o modelo concebido em Lisboa, quando se
definiu a Agenda 2000. Os progressos no tm sido muito visveis, mas ainda no
esto completamente comprometidos.
Esta viso de 3 via para a Europa envolve uma orientao estratgica assente
em trs prioridades, a saber: 1) Conhecimento e inovao para o crescimento; 2)
Fazer da Europa uma regio mais atractiva para investir, trabalhar e viver; 3) Criao
de mais e melhores empregos com respeito pela coeso social.
A Cimeira Europeia de Bruxelas de Maro de 2006 avana com a estratgia do
plano D40 (Democracia, Dilogo e Debate) e com aces, at 2007, em reas
prioritrias, a Educao e ID, o Ambiente e o Emprego e Energia.41
5. PORTUGAL NO CONTEXTO DOS CENRIOS DESCRITOS Sem Europa, ficamos reduzidos de novo periferia, nossa pequenez.
Jorge Sampaio
No trminus do seu segundo mandato, afirmava, em Dresden, o Presidente Jorge
Sampaio42: (...) teremos que andar muito para preencher este vazio entre os
cidados e os dirigentes...a Europa, nomeadamente para Portugal, foi algo de
profundamente positivo, til e fundamental na mudana das nossas vidas...A Europa
indissocivel da minha leitura do futuro de Portugal. Sem Europa ficamos
reduzidos de novo periferia, nossa pequenez...No nos podemos dissociar da
evoluo europeia. (...)43. Esta afirmao paradigmtica da encruzilhada que
vivem os pases europeus, incluindo Portugal.
39 Maria Joo Rodrigues, Revista de Estudos Internacionais, 18/19, 2003, pp. 267-285. 40 Margarida Marques, Economia Pura, Fevereiro/Maro de 2006, pp. 22 23. 41 Pblico 23 de Maro 2006, pp. 16 -17. 42 In Dirio de Notcias, 5 de Fevereiro 2006, pp. 15 43 In Dirio de Notcias, 4 de Fevereiro 2006, pp.10
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Assiste-se a uma crise de confiana dos cidados, relativamente aos seus
dirigentes nacionais e europeus.
Com a entrada de Portugal na Unio Europeia, ocorreram alteraes vrias no
modo de vida e na mentalidade dos portugueses. Houve melhorias sensveis no
nvel de vida, mas porque no foram devidamente aproveitadas, tanto a nvel pblico
como privado as verbas recebidas dos fundos de coeso foram mal aproveitadas. O
resultado a crise geral que, em termos econmicos, afecta, actualmente, todos os
sectores da sociedade portuguesa.
Sendo os recursos humanos e no as matrias primas a maior riqueza de um pas, estes deveriam ter merecido uma maior ateno por parte do poder poltico. Apesar do nmero de Escolas existentes, a formao recebida ao nvel do ensino bsico e secundrio no prepara os jovens para ingressar no mundo do trabalho. O abandono escolar muito acentuado. O ensino superior, no se reformou adequadamente. A Universidade necessita de investir mais na investigao, sair da sua torre de marfim e estar atenta evoluo da sociedade que cada vez mais dinmica. Uma maior ligao entre a Universidade e o mundo do trabalho, que permita que se formem quadros em nmero suficiente e capaz de responder s exigncias e aos desafios de uma sociedade internacionalizada, interdependente e altamente competitiva. necessrio que em Portugal se cultivem e se incentivem a dedicao ao trabalho, o esprito de iniciativa e de inovao e, no caso dos empresrios, se admita o risco como uma realidade com que preciso conviver. Estamos globalmente na idade industrial, mas ainda muito prximo da sociedade agrria44. Os resultados da Europa determinaro, em boa medida, o nosso futuro no
contexto desta trada geoestratgica. Se a UE no conseguir posicionar-se como
uma realidade poltica nica, no ter peso no contexto mundial, e, no seio do G8,
os pases europeus que hoje integram esta organizao e que detm as maiores
economias, desaparecero do grupo dos lideres econmicos mundiais45. Nestas
circunstncias, os pequenos Estados, incluindo Portugal, sero seriamente
afectados e podero ver o seu futuro seriamente comprometido.
O crescimento sustentado e a ascenso suave, mas progressiva, da China e da
ndia como as potncias econmicas dominantes da segunda metade do Sculo 44 Manuel Castells, in Dirio de Notcias, 05/02/2006, pp. 16 -17. 45 http://www.janelanaweb.com/vento/seculo_emergentes.html em 18/10/2005
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XXI, deslocaro o centro de gravidade do Mundo para Oriente46. Se tal acontecer,
torna-se difcil prever o modo como iro exercer esse seu poder. Muito
provavelmente f-lo-o de modo cooperativo. As suas relaes devero ser
multilaterais com a UE, com os Estados Unidos, e ainda com os novos Estados
emergentes, como seja o Brasil e a Rssia. Seguramente, que subalternizaro os
mercados dos pequenos pases, com excepo dos que possuem matrias primas
necessrias sua economia. Portugal ter dificuldades acrescidas.
Um outro cenrio possvel ser o da no consolidao da UE, conjugado com
uma evoluo conturbada da China e da ndia. Neste caso assistir-se- ao aumento
da instabilidade mundial e, seguramente, desregulao dos mercados, o que
afectar a Europa, incluindo Portugal.
6. CONCLUSES A UE, a China e a ndia ocupam, no actual sistema internacional, um lugar subalterno relativamente aos Estados Unidos. A situao poder, no entanto, vir a
alterar-se, se a UE conseguir avanar no sentido da integrao numa unio poltica
e se, por outro lado, a China e a ndia continuarem a crescer ao mesmo ritmo dos
ltimos anos, do ponto de vista econmico e tecnolgico.
A Europa ter que prosseguir as suas polticas sociais, investir na valorizao dos
seus recursos humano e colmatar as grandes diferenas que ainda existem entre os
pases integrantes estando especialmente atenta aos menos desenvolvidos, nos
quais se inclui Portugal. Ter, tambm, de vencer as resistncias ainda existentes
relativamente a uma unio poltica. No sendo fcil, mas poder acontecer se os
Estados europeus, em virtude das transformaes do sistema internacional, se virem
verdadeiramente ameaados. Foi, alis, a ameaa que esteve na gnese da Unio
Europeia quando, em 1950, se constituiu a CECA e, depois,em 1957, se assinou o
Tratado de Roma. Tratava-se de uma ameaa ideolgica, poltica e militar,
representada na altura pela Unio Sovitica. Foi esta ameaa e, tambm, o lugar de
subalternizao, nas grandes decises a nvel mundial, que levou os Europeus a
46 http://www.janelanaweb.com/vento/choque_geo_estrategico.htm em 18/10/2005
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avanar no sentido da integrao. A vulnerabilidade econmica, a subalternizao
relativamente aos Estados Unidos e o perigo da economia dos Asiticos
emergentes, podem cimentar e fazer avanar os Europeus no sentido da integrao
e da unio.
Na era da globalizao e dos grandes espaos econmicos, j no h lugar para
os pequenos Estados, como o caso dos pases europeus, mesmo daqueles que
possuem economias desenvolvidas. Acresce que, ao nmero de plos de
desenvolvimento econmico actualmente existentes, os Estados Unidos, a Europa e
o Japo, podem vir a juntar-se, no futuro, a China e a ndia, o que tornar a
economia mundial ainda mais competitiva. A China e a ndia so, com efeito, dois
Estados que, como vimos, devido sua extenso geogrfica e dimenso
demogrfica podem transformar-se, muito proximamente, em potncias polticas e
econmicas mundiais. Este facto pode constituir um incentivo importante para levar
os Europeus a unir-se politicamente e, no sentido de defender o seu interesse, a ter
uma voz activa no sistema internacional e a dotar-se de uma fora militar credvel.
No esta a situao actual como o demonstram claramente as primeiras atitudes
dos Estados europeus relativamente guerra nos Balcs e o seu posicionamento a
respeito da invaso do Iraque.
Se Europa falta uma unio poltica e lingstica e uma forca militar credvel,
China e ndia falta investir ainda muito, em termos sociais e de direitos humanos, a
fim de colmatar as grandes diferenas que existem no seio das suas populaes,
sem o que poderemos assistir a uma imploso destes dois Estados. Mas, se, pelo
contrrio, estes problemas forem resolvidos ou minorados poderemos assistir a uma
nova configurao do sistema internacional, em termos polticos, econmicos e
militares.
muito provvel que a mudana induzida pela globalizao actualmente em
curso, se centre na sia, e muito especialmente na China e na ndia. Ali se
localizaro os maiores mercados, os maiores centros de produo industrial e
tecnolgica, os centros nevrlgicos da maioria das multinacionais e os mais
evoludos centros de conhecimento, investigao e desenvolvimento.
A demografia ainda condicionar, significativamente, o Poder dos pases no
Mundo. Pode faz-lo quer positivamente pela fora de trabalho que disponibiliza e
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pela massa crtica que representa, quer negativamente pela imprevisibilidade de
problemas sociais que sempre lhe podem estar subjacentes.
Continua a haver perigo real de reverso da globalizao sendo apontados como
maiores riscos, as doenas pandmicas, os movimentos anti-outsourcing
nascentes nos pases desenvolvidos em perda, o terrorismo transnacional ou o
medo do terrorismo de massas, o desenvolvimento de movimentos de revolta nos
pases pobres perdedores ou o sobre aquecimento econmico da China e/ou da
ndia.
Os grandes ganhadores na balana de poderes, se a globalizao continuar sem
evoluo conturbada, sero a China e a ndia. A UE se conseguir, em tempo til, ser uma realidade poltica nica poder posicionar-se como uma das quatro maiores potncias econmicas mundiais.
A realidade portuguesa ser determinada pela evoluo que a UE vier a fazer.
Com a Europa em perda, Portugal ser profundamente atingido.
A diminuio dos riscos reais que Portugal enfrenta s pode ser minorada com
uma interveno de fundo na educao. indispensvel mais saber, saber mais
evoludo, mais cultura do trabalho e do mrito aos diferentes nveis da sociedade
porque, em qualquer dos cenrios traados, s assim criaremos oportunidade e
minoremos tanta ameaa.
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7. APNDICE
Na Evoluo Geostratgica da Trada, China, ndia e Europa, sero compatveis o desenvolvimento humano e o crescimento econmico? A seleco de factos que fizemos no corpo do trabalho, a partir dos quais elaboramos alguns possveis cenrios evolutivos, coloca nfase na economia, no
seu crescimento e na sua sustentabilidade. Mesmo quando discutimos acerca do
poder militar e das relaes internacionais dos pases da trada, ficou subjacente
que a preocupao dos governos com as capacidades blicas e com as suas
estratgias polticas, tinha sempre subjacente como objectivo primeiro, a economia.
O interesse nacional dos Estados est cada vez menos ligado territorialidade e
soberania e diversifica-se. A globalizao impe-se e coloca o interesse
econmico como interesse fundamental.
Entre as vulnerabilidades que se apontam China e ndia, capazes de induzir evolues conturbadas e penalizadoras dos seus interesses, contam-se o
crescimento das assimetrias sociais, responsveis por um grande nmero de
pobres, os fenmenos migratrios violentos, o esgotamento de recursos naturais,
nomeadamente a gua potvel, a dificuldade de sustentabilidade alimentar e
nutricional, a insuficincia infra-estrutural de habitaes e equipamentos de sade
pblica, o dficit e a dificuldade de acesso a servios de sade, a degradao
ambiental indutora de cada vez mais e piores catstrofes naturais. Aponta-se para a Europa, a necessidade da criao de uma verdadeira Unio
Europeia, com unidade poltica e capacidade militar credvel, capazes de potenciar e
o seu j importante peso econmico neste mundo global. , ainda, preocupao
fundamental o desenvolvimento de uma sociedade do conhecimento, de
investigao, de liberdade, de justia e de pleno emprego onde o modelo social de
apoio e proteco ao indivduo seja real e se estenda ao longo de toda a vida.
Numa anlise muito simples somos levados a pensar que o primado da economia
na evoluo do sistema internacional conta j com o apoio do poder militar,
condiciona a conduta poltica dos governos e teme a evoluo comportamental dos
indivduos. As pessoas so vitais para a economia, mas so potencialmente
limitadoras do lucro e podem condicionar a sua evoluo e sustentabilidade.
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As condies de trabalho e o respeito pelos direitos individuais, apesar da
reduo do peso das ideologias, condicionam, ai