Trechos da poesia Canção da Estrada Aberta (Song of the Open Road) - Walt Whitman

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Seleção e adaptação de versos da poesia CANÇÃO DA ESTRADA ABERTA Folhas de Relva, ℎ www.nicholasgimenes.com.br

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Seleção e adaptação de versos da poesia

CANÇÃO DA ESTRADA ABERTA

𝑑𝑜 𝑙𝑖𝑣𝑟𝑜 Folhas de Relva, 𝑑𝑒 𝑊𝑎𝑙𝑡 𝑊ℎ𝑖𝑡𝑚𝑎𝑛

www.nicholasgimenes.com.br

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A pé e com o coração iluminado me entrego à estrada aberta,

Saudável, livre, o mundo à minha frente,

A longa trilha de terra levando aonde eu escolher.

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Daqui em diante não peço mais boa-sorte, boa-sorte sou eu mesmo.

Daqui em diante eu não lamento mais, não adio mais, não careço de nada;

Acabaram-se as queixas internas, bibliotecas, críticas lamurientas.

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Forte e contente percorro a estrada aberta.

A terra, é o bastante, não quero as constelações mais próximas,

Sei que estão muito bem onde estão,

Sei que elas bastam àqueles que lhes pertencem.

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Ainda aqui carrego meus velhos fardos deliciosos,

Os carrego, homens e mulheres, os carrego comigo aonde quer que vá,

Juro que é impossível me livrar deles,

Sou preenchido por eles e os preencherei em troca.

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Vejo a terra a se expandir à direita e à esquerda,

pintura viva, cada ponto com sua luz melhor,

a música descendo onde faz falta e

e o silêncio onde sua falta não é sentida,

a alegre e fresca sensação da estrada.

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Ó estrada que viajo, a mim dizes:

Não me deixes. Não te aventures, se me abandonas estás perdido!

Estou preparada, sou bem batida e irresistível, adere-te a mim?

Estrada pública, respondo que não tenho medo de deixar-te,

porém te amo, expressas-me melhor que eu mesmo,

Serás para mim mais que meu poema.

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A partir de agora me ordeno liberado de limites e linhas imaginárias,

Indo aonde eu queira, meu próprio mestre total e absoluto,

Ouvindo outros, considerando bem o que dizem,

Parando, buscando, recebendo, contemplando, gentilmente,

mas com vontade inegável, me despindo das amarras que me reteriam.

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Inalo grandes porções de espaço,

O leste e o oeste são meus, e o norte e o sul são meus.

Tudo parece belo para mim.

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Posso repetir a homens e mulheres,

Fizestes tal bem a mim que eu faria o mesmo a vós,

Quem me negar não me perturbará,

Quem me aceitar ele ou ela será abençoado e me abençoará.

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Agora vejo o segredo de fabricação das melhores pessoas,

É crescer ao ar livre e comer e dormir com a terra.

Eis o teste de sabedoria, não é testada em escolas,

Sabedoria é da alma, não é suscetível de prova, é sua própria prova,

É a certeza da realidade e imortalidade de tudo, e a excelência de tudo;

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Reexamino agora filosofias e religiões,

Elas podem se revelar bem em salas de conferência,

contudo não revelar nada sob as amplas nuvens e fluidas correntes.

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Eis realização, eis um homem apurado —ele realiza aqui o que ele tem nele,

O passado, o futuro, majestade, amor,

se estiverem vazios de ti, estás vazio deles.

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A emanação da alma vem de dentro por portões sombreados,

sempre questões provocantes,

Por que há esses anseios?

Por que há esses pensamentos na escuridão?

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Por que há homens e mulheres que enquanto estão junto a mim

a luz do sol expande meu sangue?

Por que quando me deixam minhas flâmulas de júbilo afundam chatas e frouxas?

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A emanação da alma é felicidade, eis felicidade,

Acho que ela permeia o ar livre, aguardando o tempo todo,

Agora flui sobre nós, certamente estamos impregnados dela.

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Aqui se eleva o fluido e aderente caráter,

é o frescor e doçura de homem e mulher,

(As ervas matinais brotam não mais frescas e mais doces todo dia,

do que ele brota fresco e doce continuamente de si mesmo.)

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Para o fluido e aderente caráter exsuda o suor do amor de jovens e velhos,

Dele cai destilado o encanto que desdenha beleza e aquisições,

Para ele levanta a dor saudosa arrepiante de contato.

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Vamos! quem quer que sejais, vinde viajar comigo!

Em viagem comigo encontrarei o que não cansa nunca.

A terra não cansa nunca, a natureza é rude e a princípio incompreensível,

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Não percais a coragem, continuai,

existem coisas divinas bem escondidas,

eu vos juro que existem coisas divinas mais belas

do que podem as palavras dizer.

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Não devemos parar aqui,

por mais doces que sejam as coisas arrumadas,

por mais conveniente que a habitação pareça,

não podemos permanecer aqui;

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Por mais abrigado que seja o porto e por mais calmas as águas,

aqui nós não devemos ancorar;

por mais acolhedora que seja a hospitalidade à nossa volta,

não nos é permitido desfrutá-la senão por pouco tempo.

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Vamos! com poder, liberdade, a terra, os elementos,

Saúde, desafio, júbilo, auto-estima, curiosidade;

(Eu e os meus não convencemos por argumentos, rimas,

Convencemos por nossa presença.)

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Ouve! Serei honesto convosco:

não ofereço as macias recompensas de sempre,

mas ofereço ásperos prêmios novos.

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Assim hão de ser os dias que vos devem suceder:

não acumulareis as chamadas riquezas,

distribuireis com mãos pródigas tudo o que adquirirdes ou ganhardes.

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Mal chegarei à cidade à qual vos encaminháveis,

dificilmente vos estabelecereis visando satisfação

antes de vos sentirdes convocados

por um irresistível chamamento à partida,

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deveis habituar-vos aos sorrisos irônicos e às zombarias

daqueles que deixardes para trás,

aos acenos de amor que receberdes apenas respondereis

com apaixonados beijos de despedida,

não permitirás a retenção dos que esticam as mãos em tua direção.

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Vamos! em busca dos grandes companheiros, e nos juntar a eles!

Eles também estão na estrada,

eles são homens ágeis e majestosos, elas são grandes mulheres,

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Apreciadores das calmarias e das tempestades dos mares,

Marinheiros de muitos navios, caminhantes de muitas milhas de terra,

Habituados a muitos países e habitações distantes,

observadores de cidades, labutadores solitários,

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Ponderadores e contempladores de tufos, flores, conchas da costa,

Dançarinos em danças de casamento, beijadores de noivas,

suaves ajudantes de crianças, portadores de crianças,

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Viajantes em estações consecutivas, durante anos,

os anos curiosos, cada um emergindo do que o precedeu,

Viajantes com companheiros, a saber suas próprias distintas fases,

Ultrapassadores dos latentes dias irrealizados da infância,

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Viajantes joviais com sua própria juventude,

Viajantes com sua própria sublime velhice de virilidade e feminidade,

Velhice, calma, expandida, ampla com a amplitude altiva do universo,

Velhice, fluindo livre com a deliciosa liberdade próxima da morte.

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Vamos! ao que é sem fim como foi sem início,

Passar muita coisa, pisadas de dias, restos de noites,

Fundir tudo na viagem a que eles tendem,

e aos dias e noites a que eles tendem,

De novo os fundir no começo de viagens superiores,

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Ver nada em lugar nenhum que tu não possas alcançar e ultrapassar,

Conceber nenhum tempo, mesmo distante, que não possas alcançar e ultrapassar,

Não ver nenhum ser, que também não vás lá,

ver nenhuma posse que não possas possuí-la,

desfrutando tudo sem trabalho ou compra,

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Pegar o melhor da fazenda do fazendeiro e das frutas de pomares,

Levar para teu uso fora das compactas cidades quando as atravessas,

Carregar prédios e ruas contigo depois aonde fores,

Colher as mentes de seus cérebros conforme os encontras,

colher o amor de seus corações,

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Levar teus amantes na estrada contigo, por tudo que os deixas para trás,

Conhecer o universo em si como uma estrada,

como muitas estradas, como estradas para almas viajantes.

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Toda religião, todas as coisas sólidas, artes, governos

tudo que foi ou é aparente neste globo ou qualquer globo,

descende em nichos e cantos ante a procissão de almas

pelas grandes estradas do universo.

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Para sempre vivos, sempre adiante,

Imponentes, solenes, tristes, confusos, furiosos, frágeis, insatisfeitos,

Desesperados, orgulhosos, afetuosos, doentes, aceitos ou rejeitados,

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Eles vão! eles vão! eu sei que eles vão, mas não sei aonde vão,

Mas sei que vão em busca do melhor—de algo ótimo.

Quem sejas, avança! ou homem ou mulher avança!

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Não deves ficar dormindo e se distraindo aí na casa,

embora a tenhas construído, ou embora tenha sido construída para ti.

Sai desse confinamento obscuro! Sai de trás da tela!

É inútil protestar, sei de tudo e o exponho.

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Vejo através de ti e vejo-te tão mal quanto todos os outros,

Pelo riso, dança, refeição, das pessoas,

Dentro de trajes e ornamentos, dentro desses rostos lavados e aparados,

Vejo um secreto e silencioso desespero.

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Meu apelo é o apelo de batalha, nutro rebelião ativa,

Quem for comigo deve ir bem armado,

Quem for comigo vai com freqüência com alimento escasso,

pobreza, inimigos coléricos, deserções.

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Vamos! a estrada está à nossa frente!

É segura — meus próprios pés a experimentaram bem — não te deténs!

Que o papel permaneça no atril não escrito, e o livro na estante não aberto!

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Que as ferramentas fiquem na oficina! que o dinheiro permaneça não ganho!

Deixa a escola em seu lugar! desconsidere o rogo do professor!

Que o pastor pregue em seu púlpito! que o advogado pleiteie no tribunal,

e o juiz interprete a lei.

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Camaradas, estendo minha mão!

Vireis viajar comigo?

Vamos poder contar uns com os outros?

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Livro Folhas de Relva

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