Tratamento de Feridas

52
1 1. PELE: ANATOMIA E FISIOLOGIA A pele é o maior órgão externo que um adulto possui, pesando entre 2,7 a 3,6 kg e abrangendo uma área de aproximadamente 1,9m 2 , recebendo um terço do volume sanguíneo circulatório corporal (Baranoski e Ayello, 2006). A sua espessura pode ser de 0,5 mm a 6mm de acordo com a sua localização. Das suas principais funções, destacam-se a protecção, sensação, termorregulação e excreção. A sua capacidade de protecção é mantida através de uma barreira mecânica, uma vez que a pele funciona como barreira à invasão de organismos como as bactérias. No entanto, algumas espécies estafilocócicas (como o Staphylococcus aureus ou Staphylococus epidermis) toleram o sal, estando presentes em grande número, tornando-se assim bactérias residentes na pele (Baranoski e Ayello, 2006). A pele também mantém uma barreira de protecção através dos seus valores de pH ácidos, pois este encontra-se entre 4,5 a 6 conferindo-lhe uma protecção que ajuda a manter a flora cutânea normal (Baranoski e Ayello, 2006). A sensação é uma das funções mais conhecidas, sendo as áreas mais sensíveis ao toque as que têm maior número de terminações nervosas. Em zonas corporais com pêlos, os corpúsculos tácteis são chamados de corpúsculos de Meissner. A dor somática (a partir das áreas extensas do corpo ou esqueleto) é também recebida através da pele. A dor (aguda) superficial numa área local é normalmente transmitida por impulsos nervosos muito rápidos, pelas fibras A-delta. Tende a ser rápido e cessa quando o estímulo doloroso pára. Os impulsos da dor (crónica) profunda são transmitidos lentamente ao longo de pequenas e finíssimas fibras C mielinizadas. Em contraste, este tipo de dor tende a ser sentida ao longo de uma área mais difusa, dura por maiores períodos de tempo e permanece mesmo depois do estímulo da dor desaparecer (Baranoski e Ayello, 2006). Apresenta funções ao nível da regulação térmica, conseguindo mantê-la equilibrada devido ao controlo pelo hipotálamo em resposta ao centro interno da temperatura corporal e pela ajuda dos receptores da temperatura periférica na pele no processo de hemostase da temperatura. Esta é mantida através de fenómenos como transpiração ou perda insensível de água, através da pele, pulmões e mucosa oral. Também é controlada pela dilatação ou contrição dos vasos sanguíneos, pois quando a temperatura central corporal aumenta, o corpo esforça-se por reduzir a temperatura libertando calor pela pele. Isto é conseguido pelo envio de sinal químico que aumenta o fluxo sanguíneo na pele pela vasodilatação, diminuindo assim a temperatura cutânea. Ao contrário, o oposto ocorre quando a temperatura central corporal é

description

Tipos

Transcript of Tratamento de Feridas

  • 1

    1. PELE: ANATOMIA E FISIOLOGIA

    A pele o maior rgo externo que um adulto possui, pesando entre 2,7 a 3,6 kg e

    abrangendo uma rea de aproximadamente 1,9m2, recebendo um tero do volume sanguneo

    circulatrio corporal (Baranoski e Ayello, 2006). A sua espessura pode ser de 0,5 mm a 6mm

    de acordo com a sua localizao.

    Das suas principais funes, destacam-se a proteco, sensao, termorregulao e

    excreo. A sua capacidade de proteco mantida atravs de uma barreira mecnica, uma

    vez que a pele funciona como barreira invaso de organismos como as bactrias. No

    entanto, algumas espcies estafiloccicas (como o Staphylococcus aureus ou Staphylococus

    epidermis) toleram o sal, estando presentes em grande nmero, tornando-se assim bactrias

    residentes na pele (Baranoski e Ayello, 2006). A pele tambm mantm uma barreira de

    proteco atravs dos seus valores de pH cidos, pois este encontra-se entre 4,5 a 6

    conferindo-lhe uma proteco que ajuda a manter a flora cutnea normal (Baranoski e Ayello,

    2006).

    A sensao uma das funes mais conhecidas, sendo as reas mais sensveis ao

    toque as que tm maior nmero de terminaes nervosas. Em zonas corporais com plos, os

    corpsculos tcteis so chamados de corpsculos de Meissner. A dor somtica (a partir das

    reas extensas do corpo ou esqueleto) tambm recebida atravs da pele. A dor (aguda)

    superficial numa rea local normalmente transmitida por impulsos nervosos muito rpidos,

    pelas fibras A-delta. Tende a ser rpido e cessa quando o estmulo doloroso pra. Os impulsos

    da dor (crnica) profunda so transmitidos lentamente ao longo de pequenas e finssimas

    fibras C mielinizadas. Em contraste, este tipo de dor tende a ser sentida ao longo de uma rea

    mais difusa, dura por maiores perodos de tempo e permanece mesmo depois do estmulo da

    dor desaparecer (Baranoski e Ayello, 2006).

    Apresenta funes ao nvel da regulao trmica, conseguindo mant-la equilibrada

    devido ao controlo pelo hipotlamo em resposta ao centro interno da temperatura corporal e

    pela ajuda dos receptores da temperatura perifrica na pele no processo de hemostase da

    temperatura. Esta mantida atravs de fenmenos como transpirao ou perda insensvel de

    gua, atravs da pele, pulmes e mucosa oral. Tambm controlada pela dilatao ou

    contrio dos vasos sanguneos, pois quando a temperatura central corporal aumenta, o corpo

    esfora-se por reduzir a temperatura libertando calor pela pele. Isto conseguido pelo envio

    de sinal qumico que aumenta o fluxo sanguneo na pele pela vasodilatao, diminuindo assim

    a temperatura cutnea. Ao contrrio, o oposto ocorre quando a temperatura central corporal

  • 2

    reduzida; o sinal qumico causa diminuio do fluxo sanguneo atravs da vasoconstrio para

    diminuir a temperatura cutnea (Baranoski e Ayello, 2006).

    A pele tem tambm funes ao nvel da excreo, pois ajuda a expelir os produtos

    finais do metabolismo celular e a prevenir a perda excessiva de fluidos.

    Apresenta um papel fundamental na sntese de vitamina D, em funo da exposio

    aos raios UV. Dependendo desta exposio, a pr vitamina D transforma-se em vitamina D

    que ajuda fixao do clcio (Baranoski e Ayello, 2006). A capacidade de absoro no

    muito elevada, pois apesar da impermeabilidade da camada crnea, ocorrem, em pequena

    escala, trocas de gases entre o ar e a pele (Baranoski e Ayello, 2006).

    O papel da funo imunitria na pele no est ainda totalmente reconhecido. A pele

    apresenta clulas de Langerhans e macrfagos tecidulares, que desempenham um papel

    importante na digesto de bactrias, assim como mastcitos, necessrios para o

    funcionamento imunitrio.

    A pele humana composta por duas camadas distintas: a epiderme, a camada mais

    externa; e a derme, a camada mais interna (Baranoski; Ayello, 2006). A juno dermo-

    epidermal, normalmente referida como a zona da membrana basal, separa as duas camadas.

    Sob a derme fica uma camada de tecido conectivo solto, chamado tecido subcutneo ou

    hipoderme (Baranoski e Ayello, 2006).

    Fig. 1 Anatomia da pele.

    [Camadas da pele, figura encontrada no endereo: http://2.bp.blogspot.com/_jDXk77ac-

    xU/TGGCOzP7DZI/AAAAAAAAAFY/X14HcOQMeeI/s1600/camadas_da_pele.jpg]

  • 3

    Fig. 2 Divises dos estratos presentes na epiderme.

    [Epiderme, figura encontrada no endereo: http://projetoferidas.zip.net/images/epiderm1.jpg]

    A epiderme (Fig. 1) a camada mais fina da pele, que se repara e regenera a cada 28

    dias (Irion, 2005). A epiderme composta por clulas queratincitas rgidas e crnea que

    migram da camada nica de clulas mais profunda para o estrato crneo. Esta migrao

    celular leva normalmente 28 dias e afectada pela quimioterapia e envelhecimento

    (Baranoski e Ayello, 2006). A falta de cidos graxos essenciais responsvel pela pele seca

    e escamosa e por um aumento da permeabilidade cutnea (Irion, 2005). Diversos factores de

    crescimento afectam a pele, inclusive a o factor de crescimento epidrmico (EGF), o factor de

    crescimento fibroblstico cido e bsico (aFGF e bFGF), a insulina, o factor de crescimento

    do tipo insulnico I e II (ILGF-I e ILGF-II), a interleucina-2 (IL-2), os factores estimulantes

    de colonizao, o factor de crescimento neural, o factor de crescimento derivado de plaquetas

    (PDGF) e o factor de crescimento transformador e (TGF e TGF ) (Irion, 2005).

    Diferencia-se n os cabelos, unhas, clulas sudorparas e glndulas sebceas. Divide-se em

    cinco camadas ou estratos (Fig. 2): crneo, lcido, granuloso, espinhoso e basal.

    O estrato crneo consiste em clulas

    queratincitas; camada e casca; facilmente

    removida durante o banho. O estrato lcido

    uma linha agrupada de clulas translcidas;

    no observvel em pele fina encontra-se

    apenas na palma das mos e na planta dos ps.

    O estrato granuloso e o estrato espinho contm

    clulas de Langerhans. O estrato basal ou

    germinativo uma camada unida de clulas

    que contm os melancitos e pode regenerar-se

    (Baranoski e Ayello, 2006).

    As principais funes da epiderme

    consistem na proteco da perda de gua da

    epiderme e na manuteno da integridade

    cutnea contra barreiras fsicas, tais como

    foras de deslizamento, frico e irritantes

    txicos.

    A membrana basal divide a epiderme da derme. Contm fibronectinas (uma

    glicoprotena adesiva), colagnio tipo IV (uma no fibra que forma o colagnio),

    proteoglicano de sulfato de heparina e glicosaminoglicano. A cama basal tem uma superfcie

    irregular chamada crista interpapilar que se projecta em sentido descendente a partir da

    epiderme e liga-se s projeces ascendentes da derme (Baranoski e Ayello, 2006).

  • 4

    Fig. 3 Divises dos estratos presentes na derme.

    [Derme, figura encontrada no endereo: http://2.bp.blogspot.com/_JiGf_KyownY/SUbeheF

    oOjI/AAAAAAAAAFw/BTttU1lF8BU/s400/Cam

    ada_derme.jpg]

    Na Fig. 1, podemos ver a segunda camada depois da epiderme, ou seja, a derme,

    composta principalmente por colagnio e elastina, sintetizadas e segregados por fibroblastos.

    O colagnio forma at 30% do volume ou 70% do peso seco da derme. Pode ser dividida em

    duas sub-camadas (Fig. 3), a derme papilar e a derme reticular (Baranoski e Ayello, 2006).

    A derme papilar composta por colagnios e fibras reticulares. Contm capilares para

    receptores de manuteno cutnea e sinais de dor

    (corpsculos de Pacini e corpsculos de

    Meissner). A derme reticular composta de feixes

    de colagnio que unem a pele ao tecido

    subcutneo. Encontram-se nesta camada,

    glndulas sebceas, folculos pilosos, nervos e

    vasos sanguneos.

    A principal funo da derme fornecer

    fora tnsil, suporte, reteno da humidade, sangue

    e oxignio pele. Atravs das glndulas sebceas

    presentes, que segregam o sebo, tambm lubrificam

    a pele (Baranoski e Ayello, 2006).

    O tecido subcutneo tambm pode ser observado na figura 1, unindo a derme s

    estruturas adjacentes. A sua funo promover um aporte sanguneo permanente derme

    para regenerao. fundamentalmente composto por tecido conectivo e adiposo, que fornece

    uma almofada entre as camadas cutneas, msculos e ossos. Promove a mobilidade cutnea,

    molda o contorno humano e isola o corpo.

    Ao longo destes ltimos tempos a populao idosa tem vindo a aumentar cada vez

    mais e torna-se por isso uma populao especial que merece uma ateno mais pormenorizada

    para uma prestao de melhores cuidados. Dessa forma, faz todo o sentido, serem abordadas

    algumas das alteraes que decorrem do envelhecimento natural da pele.

    O processo de envelhecimento da pele, torna a epiderme mais pobre com o passar dos

    anos. Os nivelamentos da juno dermo-epidermal, a derme papilar e as cristas interpapilares

    epidermais enfraquecem (Baranoski e Ayello, 2006), tornando a pele mais exposta a traumas

    mecnicos. medida que a pele envelhece, a membrana basal enfraquece a rea de contacto

    entre a epiderme e derme diminui em 50%, aumentando assim o risco de leso cutnea por

    separao traumtica e acidental da epiderme da derme (Baranoski e Ayello, 2006).

    Existe uma diminuio do nmero de glndulas excretoras o que explica a pele seca;

    e diminuio da capacidade de reter humidade devido baixa quantidade de protenas o que

    explica o risco de desidratao. pele mais facilmente rugosa devido diminuio de

  • 5

    elastina; menos eficaz contra a perda de gua, abraso e infeco. A derme diminui a sua

    espessura em 20% contribuindo para a aparncia de pele fina normalmente observada nos

    idosos (Baranoski e Ayello, 2006). Pensa-se que a diminuio ascendente da migrao

    celular epidermal na camada de estrato crneo, contribui, em parte, para uma taxa de

    cicatrizao mais longa nesta populao (Irion, 2005).

  • 6

    2. FERIDAS: FISIOLOGIA DA CICATRIZAO

    Quando se sofre um dano tecidular, seja de que tipo for, o nosso organismo tem

    imediatamente uma resposta, sendo essencial que a hemostase seja rapidamente atingida e que

    os tecidos sejam reparados para prevenir a invaso de agentes patognicos, permitindo a

    restaurao a funo tecidular. O processo de cicatrizao de feridas uma sequncia

    complexa de casos que comeam com uma leso e terminam com o encerrar completo da

    ferida e uma organizao bem sucedida do tecido cicatricial (Baranoski e Ayello, 2006).

    O encerrar da ferida no significa que a cicatrizao esteja completa; ela continua num

    processo de remodelao, ao longo de 18 meses aps o encerramento. Durante esta fase, a

    ferida apesar de encerrada, continua vulnervel (Baranoski e Ayello, 2006).

    A primeira fase do processo de cicatrizao da ferida denomina-se de hemostase, pois

    a ruptura entre os tecidos aps a leso causa hemorragia, que inicialmente preenche a ferida e

    expe o sangue a vrios componentes da matriz extracelular. Uma sucesso de

    acontecimentos desenrolam-se, comeando por uma agregao das plaquetas que se agregam

    e se desgranulam, o que activa o factor XII (factor Hageman), resultando na formao do

    cogulo e hemostase (Baranoski e Ayello, 2006). Durante esta fase, ocorre principalmente a

    reteno da hemorragia no local do dano do vaso sanguneo, o que essencial, uma vez que

    preserva a integridade do sistema circulatrio fechado e em alta-presso, para, dessa forma,

    limitar a perda sangunea. Durante a coagulao, forma-se um cogulo fibrinoso, actuando

    como uma matriz preliminar na rea da ferida onde as clulas podem migrar. Aps a

    formao do cogulo fibrinoso, activado outro mecanismo, como parte do mecanismo de

    defesa corporal a fibrinlise, no qual o cogulo de fibrina comea a desfazer-se. Este

    processo evita a extenso do cogulo e dissolve o cogulo de fibrina para facilitar uma maior

    migrao celular na rea da ferida, permitindo passar para a fase seguinte (Baranoski e

    Ayello, 2006).

    A fase seguinte ento chamada de fase inflamatria, porque medida que o cogulo

    de fibrina se degrada, os capilares dilatam-se a tornam-se permeveis, permitindo fluxo de

    fluidos no local da leso e activando o sistema complementar (Baranoski e Ayello, 2006). O

    sistema complementar composto por uma srie de protenas solveis, interactivas,

    encontradas no soro e fluido extracelular que induz a lise e a destruio de culas-alvo

    (Baranoski e Ayello, 2006). A C3b, uma molcula complementar, ajuda a ligar os neutrfilos

    bactria, facilitando a fagocitose e subsequente destruio bacteriana (Irion, 2005). No

  • 7

    espao da ferida, podemos encontrar nesta altura, as citoquinas e alguns fragmentos

    proteolticos, os quimioatraentes, que vo iniciar uma chamada macia de outras clulas.

    As principais clulas inflamatrias neutrfilos e macrfagos - so ento atradas para

    o espao da ferida para estabelecer uma resposta inflamatria aguda. Os neutrfilos aparecem

    na ferida pouco depois da leso e atingem o seu pico numrico nas 24 a 48 horas seguintes

    (Irion, 2005). A sua principal funo destruir bactrias pelo processo de fagocitose. Os

    neutrfilos tm um tempo de vida muito curto e o seu nmero reduz-se rapidamente aps 3

    dias sem infeco (Baranoski e Ayello, 2006). Os macrfagos tecidulares so provenientes

    dos moncitos sanguneos e aparecem aproximadamente 2 a 3 dias aps a leso, seguidos dos

    linfcitos (Baranoski e Ayello, 2006). Os macrfagos tambm destoem as bactrias e

    desbridam atravs da fagocitose e ao mesmo tempo so uma fonte rica de reguladores

    biolgicos, incluindo citoquinas e factores de crescimento, produtos lipdicos bioactivos e

    enzimas proteolticas que so tambm essenciais no processo normal de cicatrizao

    (Baranoski e Ayello, 2006).

    As citoquinas incluem factores de crescimento, interleuquinas, factores de necrose

    tumoral e interferes. Os agentes patognicos, endotoxinas, produtos de degradao tecidular

    e hipoxia so todos factores que estimulam clulas a produzir citoquinas aps a leso e as

    principais fontes celulares para estas citoquinas so as plaquetas, fibroblastos, moncitos,

    macrfagos e clulas endoteliais. No processo de cicatrizao desempenham um papel de

    mediadores pois regulam a proliferao celular, migrao, sntese da matriz, deposio,

    degradao e respostas inflamatrias no processo de reparao (Irion, 2005). Logo aps a

    leso, a desgranulao das plaquetas liberta citoquinas em grande nmero, que atraem

    neutrfilos e mais tarde macrfagos, tendo diversos efeitos na cicatrizao. Por exemplo, os

    factores de crescimento de queratincitos aumentam a estimulao da sntese de colagnio

    influenciado por um factor de crescimento como a insulina (Baranoski e Ayello, 2006). Os

    factores de crescimento transformadores inibitrio ao crescimento de fibroblastos na

    presena de factores de crescimento epidermais, mas estimula a diviso celular quando existe

    factores de crescimento de plaquetas (Baranoski e Ayello, 2006).

    A terceira fase do processo de cicatrizao, e chamada de proliferativa pois

    caracterizada pela formao de tecido de granulao na zona da ferida e comea 3 dias aps a

    leso e pode durar semanas (Baranoski e Ayello, 2006). O novo tecido compe-se de uma

    matriz de fibrina, fibronectina, colagnios, proteoglicanos, glicosaminoglicanos e outras

    glicoprotenas (Irion, 2005). Nesta etapa os fibroblastos movem-se para dentro da ferida e

    proliferam e preciso especial cuidado pois nesta altura a pessoa tem um risco acrescido de

  • 8

    deiscncia da ferida, pois o colagnio tipo III, na ferida, diminui a fora tnsil (Baranoski e

    Ayello, 2006).

    Os fibroblastos desempenham nesta etapa um papel importante, surgindo um grande

    nmero nos 3 dias aps a leso e atingindo o ponto mximo ao 7 dia. Durante este perodo

    eles sintetizam e depositam protenas extracelulares, durante a cicatrizao da ferida,

    produzindo factores de crescimento e factores angiognicos que regulam a proliferao

    celular e angiognese (Baranoski e Ayello, 2006).

    As protenas da matriz extracelular tambm desempenham uma funo importante

    para fornecer a elasticidade e resistncia necessrios. A matriz extracelular consiste em

    protenas, polissacardeos e os seus complexos produzidos pelas clulas na rea da ferida. As

    duas principais classes de protenas da matriz so fibrosas (colagnio e elastina) e protenas

    adesivas (fibronectina remodelao tecidular e laminina). A sntese e degradao do

    colagnio minuciosamente equilibrada. A elastina a protena que fornece elasticidade e

    resistncia (Baranoski e Ayello, 2006).

    Durante este perodo d-se a angiognese, ou seja, a formao de novos vasos na rea

    da ferida. A maior clula envolvida na angiognese a clula vascular endotelial, que surge a

    partir das terminaes danificadas dos vasos e capilares. Os novos vasos originam capilares

    que se desenvolvem a partir de pequenos vasos existentes nos bordos da ferida. As clulas

    endoteliais oriundas destes vasos soltam-se da parede vascular, degradam e penetram

    (invadem) a matriz provisria na ferida, formando um ndulo ou uma gmula vascular em

    forma de cone ou boto. Estes botes estendem-se em comprimento at encontrarem outro

    capilar, a que se ligam para formar laos vasculares e redes permitindo a circulao do sangue

    (Baranoski e Ayello, 2006).

    De seguida d-se a reepitelizao, que comea poucas horas aps a leso, e

    fundamental para o processo de cicatrizao. As clulas basais marginais, que normalmente

    esto firmemente ligadas derme subjacente, alteram a sua propriedade celular de adeso

    comeando a perder a sua adeso firme, migrando em eixo ou de comboio atravs da matriz

    provisria. O movimento horizontal interrompido quando as clulas se encontram. Este

    processo e conhecido como inibio de contacto (Baranoski e Ayello, 2006).

    A contraco da ferida, comea normalmente 5 dias aps a leso. A actividade

    contrctil dos fibroblastos e miofibroblastos fornece a fora para esta contraco. Estas

    clulas podem usar integrinas e outros mecanismos de adeso para se fixar rede de

    colagnio e alterar a sua motilidade, transportando as fibrilas para mais perto dos bordos da

    ferida. Vrias teorias esto descritas para explicar este fenmeno. A teoria dos

    miofibroblastos sugere que a fora de contraco ocorre quando o movimento dos feixes

  • 9

    (tambm denominado de fibras de stress) de microfilamento (actina) contra o miofibroblasto

    de uma forma muscular. Dado que os miofibroblastos desempenham muitos contactos clula-

    clula e clula-matriz, a contraco muscular empurra as fibrilas de colagnio contrata o

    corpo dos miofibroblastos e detm-nos at se estabilizarem. Este conjunto de fibras de

    colagnio contra o corpo das clulas dos miofibroblastos conduz a uma esfoliao de tecido

    de granulao. A matriz extracelular da ferida contnua com as margens da ferida no

    danificadas, favorecendo a esfoliao do tecido de granulao para rasgar o bordo da ferida,

    conduzindo sua contraco (Irion, 2005). A teoria da traco sugere que os fibroblastos

    provocam uma maior aproximao das fibrilas da matriz por foras de traco exercidas nas

    fibras da matriz extracelular, qual esto ligadas. Uma fora mltipla, feita de foras de

    traco de muitos fibroblastos individuais, e a responsvel pela contraco da matriz. Tais

    foras de traco actuam como foras de deslizamento tangenciais superfcie da clula

    gerada durante o alongamento e o alargamento (Irion, 2005).

    A ltima fase, a fase da maturao comea normalmente 7 dias aps a leso e pode

    durar 1 ano ou mais (Irion, 2005). A componente inicial da matriz extracelular depositada a

    fibronectina e forma uma rede de fibra provisria. Outros componentes incluem cido

    hialurnico e proteoglicanos. A deposio de colagnio torna-se o constituinte predominante

    da matriz e depressa forma feixes fibrilares, fornecendo rigidez e fora tnsil ferida (Irion,

    2005). A deposio de colagnio e remodelao contribui para o aumento da fora tnsil nas

    feridas cutneas. Nas 3 semanas aps a leso, a fora tnsil restaurada a aproximadamente

    20% da pele normal, sem leso (Baranoski e Ayello, 2006). Uma srie de colagenases

    regulam o fim deste processo e tambm caracterizado pela reduo gradual na celularidade e

    vascularidade. A cicatriz um produto final da cicatriz da ferida sendo uma massa de

    colagnio relativamente avascular e acelular que serve para restaurar a continuidade celular e

    algum grau da funo e fora tnsil (Baranoski e Ayello, 2006). No entanto, a fora de uma

    cicatriz permanece inferior do tecido normal, mesmo muitos anos aps a leso, e nunca

    restaurada (Irion, 2005;Baranoski e Ayello, 2006).

    Apesar das fases apresentadas, nem todas as feridas seguem padres to lineares como

    os acima descritos. Importa ento distinguir a cicatrizao de feridas por primeira inteno da

    cicatrizao de feridas por segunda inteno.

    As feridas que cicatrizam por primeira inteno, so normalmente chamadas de feridas

    agudas, em que h uma interrupo na integridade da pele e tecidos subjacentes que progride

    atravs do processo de cicatrizao de forma atempada e no complicada (Sousa e Santos,

    2007). Estas envolvem pouca perda de tecido, os bordos podem ser aproximados sem tenso e

    colados ou suturados. No encerramento primrio, a migrao epitelial de curta durao e

  • 10

    pode ser completada em 72 horas. Em 24 a 48 horas, as clulas epiteliais migram a partir dos

    bordos da ferida num movimento linear, ao longo das margens reduzidas da derme (Baranoski

    e Ayello, 2006).

    Sangue e drenagem serosa tendem a extravasar das linhas de inciso durante as

    primeiras 24 horas aps a cirurgia, se deixados no local da ferida, esses fluidos fornecem um

    excelente meio para a proliferao bacteriana e podem potencializar a infeco de baixo grau

    na forma de abcessos nos pontos (Gogia, 2003). Os pensos neste tipo de feridas,

    normalmente, so deixados no local por um mnimo de 48 horas, as quais, num paciente

    saudvel, so tempo suficiente para a reepitelizao ocorrer e a barreira de proteco da pele

    ser restaurada. Se o penso repassar, o curativo deve ser trocado de imediato, uma vez que os

    microrganismos entram e migram rapidamente para a zona no cicatrizada, aumentando o

    risco de infeco. Aps 48 horas, a frequncia de troca ditada pela condio da ferida e pela

    condio do paciente. Se os bordos da pele esto bem aproximados, a linha de sutura est

    seca, a inciso pode ser deixada aberta ao ar (Gogia, 2003).

    As feridas que cicatrizam por primeira inteno, so aquelas cuja exciso cirrgica

    provoca perda de tecido e os bordos da ferida no podem ser aproximados. Temos tambm

    aqui inseridas, neste tipo de cicatrizao por segunda inteno, as feridas crnicas,

    identificadas como aquelas feridas que se desviam da sequncia esperada de reparao, em

    termos temporais, aparncia e resposta a tratamentos agressivos e apropriados (Baranoski e

    Ayello, 2006). Em ambas o processo de cicatrizao acontece primeiro com uma camada de

    tecido de granulao a cobrir gradualmente a ferida, depois a contraco da ferida acontece,

    aproximando os bordos da ferida e depois o encerramento completo com a cicatriz (Gogia,

    2003).

    A fisiologia da cicatrizao no poderia ficar completa sem abordar alguns factores

    que podem interferir directamente com o processo de cicatrizao descrito. Dessa forma

    podemos referir como um dos factores principais que pode atrasar o processo de cicatrizao

    a idade avanada da pessoa (j descrito no captulo 1), uma vez que quanto mais idade

    menos flexibilidade nos tecidos e diminuio de muitos dos factores como o colagnio entre

    outros (Baranoski e Ayello, 2006).

    O estado de nutrio pode atrasar a cicatrizao, assim como propiciar a atraco de

    microrganismos. O jejum pode diminuir os factores como o colagnio e a perda de 15% a

    25% do peso habitual tambm tem consequncias negativas no estado nutricional (Gogia,

    2003). A diminuio de 2,0g/dl de albumina pode aumentar a incidncia de deiscncias e

    atrasar a cicatrizao (Irion, 2005) e a deficincia de algumas vitaminas como a vitamina C

  • 11

    (sntese diminuda de colagnio), vitamina A (diminu a actividade dos moncitos) e zinco

    podem comprometer a fase de epitelizao (Gogia, 2003).

    A diabetes altera comprovadamente o processo de cicatrizao (Gogia, 2003), uma vez

    que a hiperglicemia leva a alteraes dos pequenos vasos e por sua vez, altera a perfuso dos

    tecidos. A sntese de colagnio est tambm diminuda devido deficincia de insulina

    (Gogia, 2003).

    O tabagismo tambm um factor retardador da cicatrizao, pois a nicotina um

    vasoconstritor, levando isquemia tecidular, sendo tambm responsvel por uma diminuio

    de fibroblastos e macrfagos. O monxido de carbono diminui o transporte e o metabolismo

    do oxignio (Gogia, 2003). A obesidade tambm um dos factores que altera o processo de

    cicatrizao, devido em parte ao tecido adiposo ter menor vascularizao o que aumenta o

    risco de infeco por deiscncia e eviscerao (Gogia, 2003). O estado imunolgico tambm

    leva a alteraes, pois a ausncia de leuccitos, leva a um retardo da fagocitose e da lise de

    restos celulares, prolonga a fase inflamatria e predispe infeco e tambm a ausncia de

    moncitos leva a formao de fibroblastos deficitria (Gogia, 2003).

    O uso drogas como esterides por exemplo, retarda e altera a cicatrizao, pelo seu

    efeito anti-inflamatrio (Gogia, 2003). A quimioterapia, por levar a neutropenia, predispe

    infeco; inibe a fase inflamatria inicial da cicatrizao e interfere nas mitoses celulares e na

    sntese proteica (Gogia, 2003) e a radioterapia leva a fibrose vascular num espao de 4 a 6

    semanas, com consequente hipoxia tecidual - h diminuio dos fibroblastos com menor

    produo de colagnio (Gogia, 2003).

  • 12

    3. TRATAMENTO DE FERIDAS: OPES

    O tratamento de feridas envolve vrias decises, desde o tipo de desbridamento, tipo

    de soluo usada para limpeza do leito da ferida e tipo de produto, como os pensos, a aplicar.

    O desbridamento a remoo do tecido necrtico, exsudado e resduos metablicos da

    ferida para melhorar ou cicatrizar a ferida. O principal objectivo do desbridamento reduzir a

    carga bacteriana na ferida para controlar e prevenir a sua infeco, especialmente em feridas

    que se esto a deteriorar. Se o tecido no vivel no for retirado no s atrasa a cicatrizao

    mas tambm resulta em perdas de protenas, osteomielite, infeco generalizada, possibilidade

    de septicemia, amputao do membro e morte (Baranoski e Ayello, 2006).

    Existem vrias maneiras de efectuar desbridamento, como os mtodos mecnicos, o

    cirrgico, o enzimtico o autoltico o qumico e o biolgico.

    O desbridamento mecnico inclui os pensos hmidos/secos que envolve a colocao

    de um penso de gaze, embebido em soro fisiolgico, na superfcie da ferida, removendo-o

    quando este est seco, facilitando nessa altura a remoo do tecido desvitalizado e detritos da

    ferida. Infelizmente o tecido de granulao e as novas clulas entretanto formadas tambm

    so removidas, devendo o seu uso ser ponderado. Este tipo de desbridamento tambm inclui a

    hidroterapia (whirlpool) para pacientes que necessitem de limpeza agressiva ou para amolecer

    o tecido necrtico em feridas extensas; e a lavagem pulstil com um equipamento

    especializado que combina um fluido de irrigao pulstil com suco. Dura entre 15 a 30

    minutos e deve ser realizado duas vezes por dia se mais de metade da ferida estiver coberto

    por tecido necrtico (Baranoski e Ayello, 2006).

    O desbridamento cirrgico/cortante inclui o uso de bisturi, frceps, entre outros e deve

    ser realizado com especial cuidado, uma vez que necessrio saber diferenciar com segurana

    o tecido desvitalizado das estruturas prprias anatmicas (Baranoski e Ayello, 2006).

    O desbridamento enzimtico considerado bastante eficaz, uma vez que as enzimas

    so agentes de limpeza eficazes que aceleram a degradao e desbridamento, resultando na

    iniciao precoce dos processos anablicos e na melhoria global da cicatrizao, ao facilitar a

    remoo dos tecidos desvitalizados da superfcie da ferida (Baranoski e Ayello, 2006).

    O desbridamento autoltico, envolve o uso das enzimas autolticas do corpo para,

    lentamente, libertar a ferida do tecido necrtico. Numa ferida hmida, as clulas fagocitrias e

    as enzimas proteolticas podem amolecer e liquefazer o tecido necrtico, que ento

    assimilado pelos macrfagos. fcil de realizar e faz-se atravs do uso de pensos

  • 13

    semioclusivos, como os filmes transparentes, hidrocolides e hidrogis (Baranoski e Ayello,

    2006).

    Aquando da execuo do tratamento a uma ferida, qualquer que seja a sua etiologia,

    deve ser-se feita a sua limpeza, uma vez que a presena de detritos orgnicos estranhos e

    contaminantes na superfcie da ferida pode alojar microrganismos ou fornecer nutrientes para

    o seu crescimento (Baranoski e Ayello, 2006). Este processo de limpeza deve ser um processo

    realizado de forma correcta, por um lado porque se traduz numa oportunidade de remover

    esses contaminantes inflamatrios, tornando a ferida menos permissiva ao crescimento

    microbiano e por outro se no se proceder dessa forma, podemos causar trauma tecidular

    (Baranoski e Ayello, 2006).

    Os objectivos principais ao executar a limpeza da ferida so, a remoo dos detritos

    orgnicos, a reduo da carga microbiana, a minimizao do trauma aquando da remoo de

    material aderente, a hidratao da superfcie da ferida para promover e facilitar o

    desenvolvimento da cicatrizao, o aumento do campo visual do leito da ferida para despistar

    eventuais alteraes no processo de cicatrizao e principalmente a promoo do conforto do

    doente (Faria, 2009).

    Para a limpeza da ferida essencial que se utilize um mtodo cuja fora seja suficiente

    para remover da superfcie os contaminantes e os detritos minimizando o trauma da ferida

    (Baranoski e Ayello, 2006). Um desses mtodos a irrigao da ferida, que favorece a sua

    limpeza criando foras hidrulicas geradas pelo jorro do fluido. Para que a irrigao seja

    eficaz na limpeza da ferida, a fora do jorro deve ser superior s foras de aderncia que

    prendem os detritos superfcie da ferida (Baranoski e Ayello, 2006). Muitos estudos tm

    apoiado que a presso aumentada do jorro do fluido aumenta a remoo de bactrias e detritos

    da ferida (Faria, 2009). O uso de agulha e seringa para distribuir fluido ao tecido da ferida

    geralmente visto como um mtodo conveniente de produzir presso de irrigao efectiva,

    estando o tamanho da seringa e o calibre da agulha a condicionar a quantidade de presso do

    fluxo ao fluido (Baranoski e Ayello, 2006). Quanto maior for a seringa maior ser o fluxo do

    fluido. Estudos tm demonstrado que utilizando uma seringa de 20cc e uma agulha de 19G se

    produz a fora de irrigao necessria remoo eficaz dos detritos na ferida (Baranoski e

    Ayello, 2006). Outra alternativa irrigao o banho whirlpool que limpa a ferida, expondo

    todo o seu leito e pele circundante. Pensa-se que os benefcios associados exposio

    prolongada da ferida agua, que amolece os detritos orgnicos da ferida e os torna mais fceis

    de remover, adequando-se por esta razo melhor ao tratamento de feridas crnicas com tecido

    necrtico espesso (Baranoski e Ayello, 2006). Uma vez que no possvel controlar a sua

  • 14

    fora de distribuio na ferida logo que o tecido necrtico seja removido deve descontinuar-se

    este tratamento.

    Para efectuar a limpeza da ferida podemos utilizar dos mais variados agentes de

    limpeza, sendo a utilidade de agentes especficos, dependentes do equilbrio entre as suas

    propriedades antibacterianas e a sua toxicidade para as clulas de cicatrizao da ferida, como

    os glbulos brancos e fibroblastos (Baranoski e Ayello, 2006).

    Para a maioria das feridas, o soro isotnico o adequado para a limpeza da superfcie

    (Pereira e Rodrigues, 2009). A gua, embora no isotnica, uma alternativa adequada, desde

    que no contenha qualquer contaminante potencial (Baranoski e Ayello, 2006). Uma vez que

    o fluido apenas tem um breve contacto com a superfcie da ferida, no crucial que a soluo

    seja isotnica. Pode preparar-se uma soluo salina barata dissolvendo duas colheres de ch

    de sal no iodado num litro de gua engarrafa (Baranoski e Ayello, 2006, p.121).

    Se a superfcie da ferida estiver demasiado cheia de detritos superficiais, pode utilizar-

    se produtos para limpar as feridas. Estas substncias contm agentes superficiais activos ou

    surfactantes que pela sua polaridade qumica quebram os laos que prendem os contaminantes

    da ferida (Baranoski e Ayello, 2006).

    Deve ter-se em ateno, que este tipo de produtos apesar de ter um efeito oxidante

    benfico na remoo de crostas, apresentando uma aco mecnica de limpeza e destruidora

    de bactrias, quando usados numa ferida com tecido de granulao se verifica formao de

    vesculas que quando abertas promovem uma maior deteriorao do leito da ferida; toxicidade

    sobre os fibroblastos, embolias nas irrigaes em cavidades, irritao da pele circundante, em

    concentraes menores que na proporo de 0,003% inibe a migrao e proliferao dos

    queratincitos (Legerstee, 2005).

    Apresentam-se de seguida algumas das opes disponveis para o uso na limpeza das

    feridas.

    Soro Fisiolgico 0,9%

    O soro fisiolgico 0,9% isotnico, ou seja, tem a mesma concentrao de cloreto de

    sdio que o sangue. actualmente o agente de limpeza de eleio para a maioria das feridas,

    sendo o mais seguro (Baranoski e Ayello, 2006).

    Deve utilizar-se fazendo irrigao sobre o leito da ferida com uma presso suficiente

    para remover os resduos depositados no leito da ferida e deve aquecer-se temperatura

    corporal, aproximadamente 37C, uma vez que a esta temperatura que se estimula a

    actividade dos macrfagos e das mitoses. Se a fase da mitose (diviso celular) demora entre

    90 minutos a 120 minutos temperatura de 37C, ao permitirmos o contacto de soro

  • 15

    fisiolgico a uma temperatura inferior vamos diminuir essa actividade das mitoses inibindo-as

    por duas horas e demorando mais 40 minutos a voltarem sua velocidade de diviso,

    atrasando bastante o processo de cicatrizao (Irion, 2005).

    Limpa e humedece a ferida, amolece os tecidos desvitalizados, favorecendo o

    desbridamento autoltico. Pode remover-se os exsudados limpando a ferida com uma gaze

    embebida em soro com movimentos leves e lentos para no prejudicar o tecido (Baranoski e

    Ayello, 2006).

    Clorexidina

    A clorexidina um anti-sptico com espectro de aco inferior quando comparado

    com outros anti-spticos, tendo maior actividade para bactrias gram-positivas do que para

    gram-negativas e sendo memso ineficaz contra bacilos da tuberculose, por exemplo e esporos,

    estando indicada na profilaxia e tratamento de feridas infectadas (Baranoski e Ayello, 2006).

    Tem baixa toxicidade para clulas vivas. Actua rapidamente, esterilizando no tempo mdio de

    30 segundos a 5 minutos, dependendo da concentrao e do tipo de microrganismo a

    exterminar, sendo que a aco bactericida mais rpida do que a fungicida. O modo de aco

    caracteriza-se por uma rpida absoro por parte das clulas bacterianas, resultando numa

    srie de modificaes citolgicas que afectam sua permeabilidade e suas propriedades pticas,

    pois a clorexidina tem grande afinidade com a bactria devido ligao da sua molcula

    catinica (positiva) parede celular aninica (negativa) do microrganismo, fazendo com que

    se quebre essa parede e que o produto penetre no citoplasma, causando a morte da bactria

    (Faria, 2009). A quantidade absorvida proporcional s sadas dos constituintes celulares.

    Iodopovidona

    A iodopovidona contm iodo, onde a sua parte livre ir actuar sobre os

    microrganismos. Constitui um anti-sptico de largo espectro, que retarda a epitelizao e

    baixa a resistncia tnsil da ferida. A iodopovidona interage com a membrana celular

    destruindo os fibroblastos agentes importantes na sntese de colagnio e consequente

    processo de cicatrizao (Legerstee, 2005). Est apenas indicado para desinfeco tpica

    antes de tcnicas invasivas.

    Perxido de hidrognio

    O perxido de hidrognio uma substncia que na forma aquosa, conhecido

    comercialmente como gua oxigenada. Tem um efeito oxidante que destri as bactrias

    anaerbias. Actua por diversos mecanismos de degradao dos aminocidos pelo seu poder

  • 16

    oxidante elevado. Quando colocado sobre a ferida, ela vai oxidar algumas protenas presentes

    nas bactrias. Em contacto com sangue e tecidos vivos o perxido de hidrognio decompe-se

    e liberta oxignio, o que necessrio, contudo tambm pode libertar radicais livres, estando

    por isso desaconselhado o seu uso (Faria, 2009).

    Hipoclorito de sdio

    O hipoclorito de sdio, conhecido vulgarmente como soluto de Dakin uma soluo

    usada para dissolver o tecido necrtico e para desinfeco e destruio de microrganismos. A

    sua aco d-se principalmente devido libertao de cloro na forma activa que actua sobre

    as protenas formando cloraminas que so solveis na gua e inibindo a reaco enzimtica no

    interior da clula por desnaturao e inactivao do cido nucleico (Faria, 2009). Tem efeito

    desodorizante, tanto pela sua aco sobre as bactrias produtoras das substncias que

    produzem odores como pela aco oxidante energtico. Tem baixo custo e a sua aplicao

    deve ser efectuada a cada 12h (Faria, 2009). Apesar das suas conhecidas aplicaes muitos

    estudos se tm realizado para um melhor conhecimento desta soluo e os resultados so

    contraditrios at mesmo entre os mesmos autores.

    Hidalgo e Dominguez, num estudo realizado em 2000, concluram que esta substncia

    pode resultar em efeitos mutagnicos a longo prazo (Hidalgo e Dominguez, 2000) mas

    tambm descobriram que em concentraes < ou = 0.005%, pode estimular a diviso celular

    de fibroblastos. Outros estudos mais antigos (Avlicino e Newton, 1994; Bueren et al, 1995)

    referenciaram a sua utilizao na inactivao de retrovrus no sentido de poder ser usado, em

    menores concentraes, de modo a reduzir a carga vrica de um indivduo infectado, como

    uma rea a explorar. Este produto tambm foi abordado no tratamento de processos

    inflamatrios (Danilkov et al, 1998), para pielonefrite, cistite e uretrite.

    Betana + Polihexanida

    A betana um surfactante que penetra em fibrinas difceis, desbrida e remove

    bactrias e biofilmes. tensoactivo de alta qualidade, existe compatibilidade tecidual,

    ausncia total de componentes gordurosos e a pele e mucosas no so afectadas (Faria, 2009).

    A polihexanida um conservante que previne o crescimento bacteriano e

    comprovadamente no txico para os tecidos. Agente conservante que tem compatibilidade

    tecidual, no seca a pele ou as mucosas, no irritante ou txico e tem baixo potencial

    alergnico. Pode ser utilizado para feridas crnicas ou feridas muito sensveis como

    queimaduras de 2 grau, por exemplo (Faria, 2009).

  • 17

    Existe no mercado, Prontosan da marca B. Braun, que conjuga estas duas

    substncias acima citadas, para irrigao de feridas: a betana como substncia surfactante

    activa e a polihexanida (preparao combinada) como conservante de limpeza, manuteno da

    hidratao e eliminao de germens da ferida. Fragmenta e remove as crostas presentes

    (biofilme) e proporciona um ambiente hmido ideal para o processo de cicatrizao. Pode e

    deve ser aquecido para simular a temperatura corporal. Pode ser usado at 8 semanas aps

    aberto. Pode ser aplicado directamente por irrigao ou com uma compressa hmida por um

    perodo de 10 a 15 minutos (Catlogo B.Braun, 2010).

    Assim, no que se refere utilizao de alguns destes produtos como agentes de

    limpeza e quanto ao real benefcio que trazem ao processo de cicatrizao anda existem

    muitas dvidas. A maioria dos trabalhos pesquisados recomenda que tais agentes,

    comummente empregados para higienizao, limpeza e proteco das reas perifricas s

    leses, no sejam usados no leito da ferida, pois como demonstram inmeros trabalhos

    citados por Ribeiro (2003 cit. por (Baranoski e Ayello, 2006) os danos aos tecidos,

    provocados pela maioria dos anti-spticos e produtos tpicos utilizados em feridas, costumam

    ser maiores do que o benefcio, o que requer maior critrio e controle quanto a sua utilizao.

    O uso dos mais variados materiais de penso, como a vulgar gaze seca, hoje em desuso,

    j uma prtica antiga (Baranoski e Ayello, 2006), sendo que actualmente os profissionais de

    sade dispem de uma grande diversidade destes produtos, fabricados de acordo com outros

    princpios permitindo limitar a desidratao, diminuir a dor e proteger as leses com

    consequente aumento da taxa de cicatrizao e diminuicao dos custos associados ao seu

    tratamento (Pereira e Rodrigues, 2009). A diversidade existente possibilita uma seleco mais

    criteriosa, em funo das necessidades concretas das caractersticas presentes na ferida, mas

    dificulta a seleco do penso sobretudo face evoluo do mercado em consequncia do

    desenvolvimento cada vez mais rpido do conhecimento cientfico (Pereira e Rodrigues,

    2009). Assim, apresentam-se no s alguns dos remodelados materiais de penso como os

    chamados materiais de futuro.

    Penso transparente

    So membranas de poliuretano finas que constituem pelculas transparentes e que

    permitem ver atravs do penso (Baranoski e Ayello, 2006). Imitam a camada externa da pele

    para fornecer um ambiente hmido, semelhante a uma flictena permitindo s clulas epiteliais

    migrarem sobre a superfcie da ferida. No tm capacidade de absoro mas permitem ao

    oxignio passar atravs da membrana e transmitem vapor hmido. Desta forma, o fluido em

    quantidade escassa pode acumular-se sob o penso sendo um adjuvante til para criar um

  • 18

    Fig. 4 Actuao do penso Hydrocoll da marca Hartmann

    [Catlogo Hartmann, 2010 produto disponvel no endereo:

    http://www.medicalplus-

    pt.com/conteudo/uploaded/videos/pdfs/Trat_Feridas_Hartmann.

    pdf]

    ambiente autoltico, induzindo a limpeza sob a superfcie da ferida (Baranoski e Ayello,

    2006). Podem usar-se nas lceras de presso I e II, feridas superficiais, pequenas

    queimaduras, laceraes, suturas, locais de insero de cateteres, lceras drmicas e proteco

    contra a frico como penso secundrio.

    Existe disponvel o penso transparente Hydrofilm da marca Hartmann, que pode

    deixar-se sob a pele durante 7 dias, a menos que o fluido sob o penso seja excessivo. Ao

    remover o penso deve levantar-se o canto e puxar a pelcula em direco ao exterior da ferida

    para separar a barreira adesiva (Catlogo Hartmann, 2010).

    Hidrocolides

    Os pensos hidrocolides so compostos por misturas opacas de adesivo, polmeros

    absorventes, agentes de pectina glica e carboximeticelulose sdica (Baranoski e Ayello,

    2006). As partculas hidrfilas nos pensos reagem com o fluido da ferida para formar um gel

    suave sobre ela. De acordo com Choucair (2000 cit. por Baranoski e Ayello, 2006), alguns

    pensos hidrocolides fornecem um ambiente cido e alguns formam uma barreira bacteriana

    ou viral, alm disso, a sua aparncia translcida permite a visualizao da quantidade de

    exsudado absorvido e acumulao de fluido sob o penso.

    Este tipo de penso pode ser aplicado em feridas limpas, com mdia e pequena

    quantidade de exsudado, como preveno de lceras de presso, em queimaduras de segundo

    grau, como cobertura de incises, suturas cirrgicas e na fixao de tubos e drenos e ainda

    para feridas cavitrias em forma de pasta ou grnulos. A frequncia de mudana deste penso,

    deve ser definida de acordo com a sua saturao, ou seja, em mdia no 5/6 dia, altura em

    que o hidrocolide adquire uma colorao mais clara e consistncia menos densa. Para que

    haja uma aderncia ptima, o penso deve estender-se pelo menos 2,5cm na pele saudvel

    volta da ferida (Baranoski e Ayello, 2006).

    No mercado existem vrias marcas disponveis, destacando-se o Hydrocoll da marca

    Hartmann, (Fig. 4) mais frequentemente usado. Este penso absorve as secrees das feridas

    superficiais com exsudado ligeiro a moderado retendo-o de maneira segura na sua matriz de

    gel. Assegura um ambiente hmido e equilibrado essencial para a granulao.

  • 19

    Hidrogis

    um penso em forma de gel cuja sua forma polmera interna retm a gua e reduz a

    temperatura do leito da ferida at 5C (Kumarasinghe, 2000; Bernard e Duarte, 2000; cit. por

    Baranoski e Ayello, 2006). O ambiente hmido facilita a autlise e a remoo do tecido

    desvitalizado (Irion, 2005). Aplicam-se principalmente para hidratar leitos de ferida secos e

    amolecer e detritos de feridas necrticas, sendo que a sua capacidade de absoro reduzida

    pois possuem uma elevada concentrao de gua (Baranoski e Ayello, 2006). Podem ser

    usados em lceras de presso, feridas com perda parcial ou total da espessura da pele e lceras

    vasculares.

    Existem disponveis os hidrogis no adesivos simples: Hydrosorb gel e

    Hydrosorb comfort ambos da marca Hartmann e Instrasite gel da marca

    Smith&Nephew; o hidrogel adesivo Allevyn Lite da marca Smith&Nephew; e o

    hidrogel para cavidades Intrasite conformable tambm da marca Smith&Nephew.

    Hydrosorb gel um hidrogel amorfo utilizado frequentemente para desbridar tecido

    necrtico e fibrinoso. Pode ser deixado no leito da ferida at 48h e pode ser conjugado com

    outros tipos de pensos. Atravs da aplicao com a seringa pode ser deixado no leito da ferida

    dosagens especficas, uma vez que possui duas escalas, inclusive uma para determinar os

    milmetros. Tem vantagens ao nvel de custos, uma vez que a seringa pode ser tapada e

    guardada, caso o tratamento seja interrompido (Catlogo Hartmann, 2010).

    Hydrosorb comfort um penso de hidrogel transparente formado de

    aproximadamente 60% de gua e molculas de poliuretano em gel. Por ser transparente

    permite que se faam anotaes e facilita a documentao completa do processo de

    cicatrizao da ferida. O seu modo de actuao (Fig. 5) acontece principalmente por produzir

    humidade e ao mesmo tempo absorver as secrees, estimulando a formao de fibroblastos e

    epitelizao. Dispe de uma parte adesiva, no sendo por isso qualquer penso secundrio para

    fixao. Deve ser aplicado de forma a que no exceda 1 a 2 cm dos bordos da ferida. Quando

    existem secrees reduzidas o penso pode permanecer no leito da ferida at 7 dias. A

    absoro da secreo da ferida visvel por um escurecimento e/ou formao de bolhas no

    penso (Catlogo Hartmann, 2010).

  • 20

    Fig. 5 Penso Hydrosorb confort e a sua aco sobre o leito da ferida

    [Catlogo Hartmann, 2010 produto disponvel no endereo: http://www.medicalplus-

    pt.com/conteudo/uploaded/videos/pdfs/Trat_Feridas_Hartmann.pdf]

    Fig. 6 Penso Allevyn Lite e as suas camadas

    [Catlogo Smith&Nephew, 2010 produto disponvel no endereohttp://www.medicalplus.pt/conteudo/uploaded/videos/pd

    fs/Allevyn.pdf]

    Instrasite gel um gel amorfo e transparente composto por um polmero modificado

    de carboximetilcelulose, propilenoglicol e gua. Actua desbridando o tecido necrtico ao

    hidrata-lo e absorve o excesso de exsudado. Pode ser usado em todas as fases do processo de

    cicatrizao. indicado para tecido desvitalizado, em feridas superficiais e profundas (lceras

    de presso, lceras da perna, p diabtico, queimaduras, feridas cirrgicas, amputaes e

    feridas infectadas sob superviso). O sistema de aplicao torna mais simples, direccionvel e

    controlada a aplicao do gel e como este no adere ao leito da ferida pode ser facilmente

    removido com irrigao de soro fisiolgico (Catlogo Smith&Nephew, 2010).

    Allevyn Lite um penso hidrocelular com uma camada no aderente que resulta

    num perturbao mnima do tecido de cicatrizao aps a remoo. Pode permanecer no local

    at 5 dias uma vez que possui uma camada de contacto no aderente que permite que o

    exsudado viscoso passe para o penso e uma camada absorvente hidrocelular central que

    permite absorver o exsudado na sua estrutura microscpica, altamente adaptvel e para alm

    de manter um ambiente hmido ideal no leito da ferida tambm mantm absoro sob

    compresso. A cama exterior (Fig.6) a prova de gua e de microrganismos. Pode ser cortado

    para se adequar s formas das feridas nos variados locais. Pode ser usado em todos os tipos de

    feridas com tecido de granulao com uma quantidade de exsudado baixa a moderado. No

    deve ser usado juntamente com produtos como hipoclorito ou perxido de hidrognio, uma

    vez que estes quebram o seu componente hidrocelular (Catlogo Smith&Nephew, 2010).

  • 21

    Intrasite conformable um penso em no tecido com hidrogel usado

    preferencialmente para cavidades. Estimula o desbridamento do tecido necrtico ao mesmo

    tempo que os hidrata. Proporciona um ambiente hmido ideal e facilita o tamponamento

    suave das feridas de profundidade permitindo que cicatrizem a partir da sua base. indicado

    para feridas superficiais, profundas, cavitrias ou irregulares, lceras de presso, lceras

    venosas e feridas cirrgicas que fechem por segunda inteno (Catlogo Smith&Nephew,

    2010).

    Espumas

    Os pensos de espuma j sofreram grandes alteraes ao longo dos anos mas as

    caractersticas essenciais mantm-se, ou seja, o controlo da secreo por absoro, evaporao

    e ocluso (Irion, 2005). So os mais absorventes dos curativos oclusivos, pois retm grandes

    quantidades de lquido no interior da ferida, absorvendo a secreo excessiva em resultado

    das suas propriedades hidrfilas. Este tipo de pensos permite tambm em alguns casos o

    acolchoamento fisco das feridas e isolamento trmico para manter a temperatura da ferida

    prxima da temperatura ideal para o crescimento de fibroblastos e clulas epiteliais (Irion,

    2005). Os resultados dos estudos sobre os poliuretanos sugerem claramente a importncia da

    ocluso na recuperao da funo de barreira cutnea, sugerindo que esta se torna mais

    rpida nos stios tratados com este tipo de pensos (Pereira e Rodrigues, 2009). Esto indicados

    para feridas com exsudado moderado a elevado, proteco profiltica sobre as proeminncias

    sseas ou reas de frico, feridas com perda parcial a total da espessura da pele, leitos da

    ferida a granular ou necrtico, quebras cutneas, zonas dadoras, coberturas sob compresso

    feridas cirrgicas ou drmicas (Baranoski e Ayello, 2006). A maior parte deste tipo de pensos

    pode ser mantido durante 7 dias, dependendo da quantidade absoro e da quantidade de

    exsudado presente no leito da ferida (Baranoski e Ayello, 2006).

    Existem disponveis os pensos de espuma poliuretanos, Permafoam Cavity e

    Permafoam Confort e Hydrotul da marca Hartmann; Allevyn adhesive e Allevyn non

    adhesive da marca Smith&Nephew.

    O penso Permafoam Cavity um penso de espuma de poliuretano que pode ser

    recortado, dobrado e usado em ambos os lados sem perder a capacidade de absoro,

    controlando o exsudado e mantendo o leito da ferida um ambiente ptimo e potenciador de

    cicatrizao. Tem um formato fenestrado e est indicado para feridas cavitrias, com alto grau

    de exsudado, devendo ser trocado a cada 48 horas (Catlogo Hartmann, 2010).

    O penso Permafoam Confort (fig. 7) uma espuma de poliuretano altamente

    absorvente da cor da pele. A camada em contacto com a pele tem como compostos um

  • 22

    Fig. 7 Penso Permafoam e o seu modo de actuao.

    [Catlogo Hartmann, 2010 produto disponvel no endereo: http://www.medicalplus-pt.com/conteudo/uploaded/videos/pdfs/Trat_Feridas_Hartmann.pdf]

    polmero de poliuretano de grande porosidade retendo at 90% do exsudado absorvido. Como

    a sua cobertura semipermevel permite ao indivduo tomar banho de forma segura,

    mantendo o leito da ferida hmida e temperatura ideal, com elevado grau de transpirao de

    vapor de gua e constituindo uma barreira os germes. Est indicado para queimaduras de 1

    grau, abrases superficiais, lceras de presso e lceras venosas (Catlogo Hartmann,

    2010).

    O penso Allevyn adhesive uma almofada hidrocelular absorvente que est entre

    uma camada adesiva perfurada e uma pelcula externa impermevel. Na zona do sacro, deve

    colocar-se a extremidade do penso a uma distncia de 2cm acima do esfncter anal e depois

    alisar o penso at zona do osso do sacro. Este tipo de penso tem a capacidade de permanecer

    no local colocado at 7 dias, excepto na zona do sacro, onde os pensos podem permanecer no

    local at 5 dias, ou at o exsudado ser visvel e estiver a cerca de 2 cm da extremidade do

    penso (Catlogo Smith&Nephew, 2010). Para remover o penso deve levantar-se um canto e

    pux-lo para trs sobre o prprio penso, excepto na regio do sacro, que devem ser removidos

    puxando pelo bordo superior para baixo em direco ao nus para minimizar a possibilidade

    de transmisso de infeco (Catlogo Smith&Nephew, 2010). Est indicado para feridas a

    cicatrizar por segunda inteno, feridas superficiais com tecido de granulao, feridas

    exsudativas crnicas e agudas, feridas de espessura total e parcial, como lceras de decbito,

    lceras da perna, feridas infectadas, lceras do p diabtico, feridas malignas, feridas

    cirrgicas e queimaduras de primeiro e segundo grau (Catlogo Smith&Nephew, 2010).

    O penso Allevyn non adhesive um penso trilaminado de estrutura no aderente ao

    leito da ferida possuindo uma camada hidrocelular altamente absorvente, no adesivo e a

    sua camada exterior impermevel a bactrias. O penso pode permanecer no local da ferida

    at 7 dias devido s suas caractersticas principais, ou seja, a camada perfurada que fica

    directamente em contacto com a ferida permite que at mesmo o exsudado viscoso passe para

  • 23

    a espuma absorvente retendo-o nesse local, alm de que permite que o excesso de humidade

    se evapore atravs da sua camada externa. Como no tem adesivo pode ser aplicado um penso

    transparente que se pode revelar til para controlar a quantidade de exsudado (Catlogo

    Smith&Nephew, 2010).

    Pensos impregnados

    Gorduras (parafina/vaselina)

    Os pensos impregnados com vaselina ou parafina so utilizados por protegerem o leito

    da ferida sem que a compressa adira mesma, evitando dessa forma a destruio dos tecidos

    formados aquando da remoo do penso. Esto indicados especialmente para a fase de

    granulao com um exsudado escasso, quer sejam queimaduras de 1 e 2 graus, enxertos,

    lceras, entre outros. So aplicados directamente sobre o leito da ferida e podem permanecer

    entre 1 a 3 dias dependente das caractersticas presentes na ferida (Baranoski e Ayello, 2006).

    No mercado existem vrias marcas disponveis, destacando-se o Grassolind da

    marca Hartmann, mais frequentemente usado. Este penso composto por compressas

    neutras de gaze de algodo impregnada com uma pomada que tem nos seus constituintes

    vaselina, ster de diglicerol de cidos gordos monocarboxlicos e dicarboxlicos e cera. A

    larga camada de algodo permite que as secrees alcancem a camada secundria e

    absorvente da ferida, evitando-se assim a acumulao de secrees. A pomada gorda mantm

    os bordos da ferida lisos, promovendo a granulao e epitelizao evitando dessa forma que a

    compressa adira ferida. Est indicado para o tratamento geral de feridas, especialmente para

    feridas exsudativas superficiais (abrases, laceraes, feridas profundas, queimaduras,

    queimaduras cidas, cobertura das zonas dadoras e receptoras de pele enxertada, em cirurgia

    plstica, remoo de unhas, circuncises) (Catlogo Hartmann, 2010).

    Gorduras neutras

    Existe disponvel o penso Hydrotul da marca Hartmann, que um penso no

    aderente hidroactivo, composto por poliamida, impregnado numa pomada hidroactiva sem

    ingredientes activos baseada em triglicerideos (gorduras neutras). Em contacto com o

    exsudado da ferida, a pomada de triglicerideos forma um gel que mantm a ferida em

    condies ptimas de humidade estimulando o processo de cicatrizao. O princpio

    hidroactivo da pomada, a carboximetilcelulose ajuda a absorver o exsudado para a compressa

    secundria. Indicado para o tratamento de feridas crnicas e/ou agudas superficiais de

  • 24

    qualquer tipo. Os resduos do penso aps a remoo devero ser removidos com soluo de

    Ringer (Catlogo Hartmann, 2010).

    Alginatos

    Os alginatos so polmeros de cadeia longa so fibras de no-tecido impregnadas de

    alginato de clcio e sdio extradas das algas marinhas castanhas Laminaria, contendo cido

    algnico como princpio activo (Braun, 2001; Mandelbaum, Di Santis e Mandelbaum, 2003;

    cit. por Sousa e Santos, 2007).

    um material de penso que absorve grandes quantidades de exsudado por capilaridade

    (cerca de 20 vezes o seu peso), hidratando-se e produzindo um intercmbio de ies de clcio

    para ies de sdio que passam a ser solveis em soluo salina para a sua posterior limpeza

    (Baranoski e Ayello, 2006). Forma-se um gel viscoso, hidroflico, hemosttico e uniforme de

    alginato sdio clcio que permite a troca de gases e cria um meio hmido na superfcie da

    ferida que favorece a sua cicatrizao e proporciona um alvio da dor ao humidificar as

    terminaes nervosas (Irion, 2005).

    Normalmente estes tipos de penso mudam-se diariamente (Baranoski e Ayello, 2006)

    dependendo sempre das caractersticas especficas da ferida, podendo por exemplo ser

    mantido no leito da ferida at 7 dias, nos casos em que o exsudado estiver ser contido pelo

    alginato de clcio (Rocha et al., 2000 cit. por Sousa e Santos, 2007). Por poderem deixar

    resduos de fibras, necessria a sua remoo com irrigao de soro fisiolgico. Est

    particularmente indicado para feridas superficiais com perda parcial de tecido (placa) ou

    leses cavitrias profundas altamente exsudativas, com ou sem infeco. Alm disso, pode

    aplicar-se em feridas sangrantes, agudas ou crnicas, colonizadas ou infectadas. A sua

    utilizao encontra-se contra-indicada em feridas no exsudativas, lceras que necessitam de

    uma terapia antibitica tpica, lceras de origem infecciosa, ocluso venosa ou arterial e nos

    casos de alergia aos alginatos (Braun, 2001; Mandelbaum, Di Santis e Mandelbaum, 2003;

    cit. por Sousa e Santos, 2007).

    Existem alguns trabalhos cientficos que demonstram a capacidade dos alginatos

    estimularem o crescimento dos fibroblastos e que quando combinados com hidrocolides,

    aumentarem a sua capacidade de absoro (Braun, 2001; Rijswijk, 2003; cit. por Sousa e

    Santos, 2007).

    Existe disponvel o penso Sorbalgon da marca Hartmann, que um penso base

    de fibras de alginato de clcio (Fig. 8) macio e altamente absorvente que formam um gel no

    aderente hidroflico em contacto com os sais de sdio contido no sangue e exsudado da

    ferida., em placas ou fitas, estril e recortvel. Absorve o exsudado em contacto com a

  • 25

    Fig. 8 Apresentao e modo de actuao de Sorbalgon

    [Catlogo Hartmann, 2010 produto disponvel no endereo: http://www.medicalplus-

    pt.com/conteudo/uploaded/videos/pdfs/Trat_Feridas_Hartmann.pdf]

    secreo da ferida, transformando-se em gel. Cria um microclima propcio para a granulao e

    epitelizao do tecido presente na ferida. Pode permanecer no leito da ferida entre 24h a 72h

    conforme o nvel de exsudado, devendo ser trocado quando de transformar em gel. No

    apresenta filamentos tornando-o por isso macio, absorvente e indolor (Catlogo Hartmann,

    2010).

    Compostos

    Os pensos compostos so a combinao de dois ou mais produtos fisicamente distintos

    fabricados num nico penso que fornece mltiplas funes, podendo constituir uma barreira

    bacteriana, uma camada absorvente, espuma, hidrocolide ou hidrogel. Esto indicados como

    pensos primrios ou secundrios para feridas com perda parcial a total da espessura da pele,

    como lceras de presso I a IV (variando de acordo com o produto), feridas com drenagem

    mnima a elevada, lceras drmicas e incises cirrgicas.

    Existe disponvel um composto de poliacrilato com soluo de Ringer, o TenderWet

    24 Active da marca Hartmann, que possui uma camada externa de polipropileno

    hidrofbica (Fig. 9) que evita que o penso fique colado ferida e uma camada interna de

    poliacrilato super absorvente que liga e retm as metaloprotenases da matriz

    compartimentando-as e reduzindo a sua actividade no exsudado, alm disso, est impregnado

    de Soluo Ringer simples, exercendo alta aco de limpeza sobre a ferida, absorvendo e

    retendo na sua camada interna todo o exsudado e secreo da ferida, irrigando-a

    constantemente com a soluo de Ringer, estimula e favorece a angiognese assim como

    amolece e liberta o tecido necrtico (Catlogo Hartmann, 2010). Realiza desbridamento

    autoltico de leses necrticas, secas, hmidas ou com intensa exsudao. A aco

    bacteriosttica eficaz por 24h devido ao mecanismo "limpeza-absoro", que retm as

  • 26

    Fig. 9 Apresentao e modo de actuao de TenderWet 24 Active

    [Catlogo Hartmann, 2010 produto disponvel no endereo: http://www.medicalplus-

    pt.com/conteudo/uploaded/videos/pdfs/Trat_Feridas_Hartmann.pdf]

    bactrias no seu ncleo (Catlogo Hartmann, 2010). Pela sua conjugao com a soluo de

    Ringer, nutre o leito da ferida, preparando com maior rapidez o tecido de granulao. O

    tempo de permanncia do curativo de 24 horas. Alguns efeitos secundrios podem surgir

    como o aumento do tamanho da ferida devido reabsoro de tecidos j irreversivelmente

    lesados, podendo ser um sinal que a cicatrizao j se iniciou; tambm pode ocorrer

    ruborizao dos bordos da ferida, o que geralmente um sinal de reactivao da circulao

    sangunea devido ao incio da cicatrizao (Catlogo Hartmann, 2010). Pode ser usado em

    feridas de qualquer etiologia, infectada ou no. Estudos realizados revelaram que o

    poliacrilato tem mais afinidade para os fluidos proteicos e que na presena de uma cultura de

    Pseudomonas altamente eficaz (Bruggister et al, 2005).

    Colagnios

    O colagnio a maior protena do corpo e necessria para a cicatrizao e reparao

    de feridas. Os pensos de colagnio so derivados de pele bovina (couro). Os pensos de

    colagnio so 100% colagnio ou podem ser combinados com alginatos ou outros produtos.

    So pensos da ferida hidrfilos muito absorventes da humidade. Seaman (2000 cit. por

    Baranoski e Ayello, 2006) sugere que os ps de colagnio, partculas e almofadas so teis no

    tratamento de feridas muito exsudativas. Se a ferida tiver pouco exsudado, devem usar-se as

    folhas; se a ferida seca deve usar-se o gel. Este tipo de pensos pode ser usado em feridas a

    granular ou necrticas e feridas com perda parcial ou total de espessura da pele. Um penso de

    colagnio deve mudar-se pelo menos de 7 em 7 dias. Se a infeco estiver presente na ferida

    recomenda-se a troca diria (Baranoski e Ayello, 2006).

    No mercado existem vrias marcas disponveis, destacando-se o Promogran plus da

    marca Hartmann, (Fig. 10) mais frequentemente usado. Consiste num composto esterilizado

  • 27

    Fig. 10 Aco de Promogran plus no leito da ferida

    [Catlogo Hartmann, 2010 produto disponvel no endereo: http://www.medicalplus-

    pt.com/conteudo/uploaded/videos/pdfs/Trat_Feridas_Hartmann.pdf]

    Fig. 11 Aco antimicrobiana de Promogran

    plus demonstrada in vitro

    [Catlogo Hartmann, 2010 produto disponvel

    no endereo: http://www.medicalplus-

    pt.com/conteudo/uploaded/videos/pdfs/Trat_Feridas

    _Hartmann.pdf]

    de celulose regenerada oxidada e colagnio, submetido a secagem por congelao. Na

    presena de exsudado, o penso transforma-se num gel biodegradvel. Nas feridas secas dever

    ser usado uma soluo salina para hidratar o penso. Estas caractersticas so possveis devido

    a uma combinao de aces como a ligao e inactivao das proteases (ou seja, matriz de

    metalo-proteases, elastase e plasmina) que demonstraram ser prejudiciais quando se

    encontram em excesso nas feridas crnicas e a ligao e proteco dos factores de

    crescimento naturais contra a degradao causada por estas proteases em excesso (Catlogo

    Hartmann, 2010).

    Este penso vai assim actuar removendo os elementos destrutivos do fluido da ferida,

    proporcionando um ambiente de cicatrizao melhorado, vai destruir as bactrias clinicamente

    relevantes existentes no penso (Fig. 11), para ajudar a manter o equilbrio bacteriano, reduzir

    o crescimento de bactrias, o que pode ajudar a reduzir o risco de infeco, vai criar um

    ambiente que promove a formao de tecido de granulao, a epitelizao e a cicatrizao

    ideal das feridas (Catlogo Hartmann, 2010).

  • 28

    Para se obter um efeito mximo deve aplicar-se sobre toda a superfcie da ferida,

    devendo ser coberto com um penso no aderente ou com um penso de hidropolmero para

    manter o ambiente hmido, devendo ser trocado a cada 72h (Catlogo Hartmann, 2010).

    Pensos Antimicrobianos

    J h muitos anos se tem vindo a estudar o fenmeno da contaminao da ferida por

    microrganismos e de como isso pode atrasar ou mesmo estagnar o processo de cicatrizao.

    Vrias armas ao nvel na antibioterapia tm sido usadas para tentar minimizar esses

    problemas, mas vrios estudos tm demonstrado que os antibiticos administrados por via

    sistmica atingem nveis insuficientes no tecido da ferida (Robson, 1999; Bello, 2001), sendo

    por causa destas concluses que cada vez mais se assiste s recomendaes relativamente s

    NABTMs (Non Antibiotic Treatment Modalities - Modalidades de Tratamento Sem

    Antibitico) (Legerstee, 2005) que parecem ter resultados mais favorveis. Tambm o

    comportamento dos microrganismos tem sido estudado no sentido de desenvolver os

    melhores tratamentos para dar resposta a este fenmeno, constatando-se cada vez que na

    maior parte das vezes os microrganismos se organizam em biofilmes1 onde ficam protegidos

    da aco dos antimicrobianos (Pina-Grif, 2006). Assim para que se possa proceder ao controlo

    da sobrecarga microbiana (bioburden) necessrio em primeira instncia remover o tecido

    necrtico atravs de limpeza e desbridamento j que este fornece ao microrganismo o

    alimento necessrio para a sua proliferao; manter o ambiente hmido controlando o

    exsudado excessivo recorrendo aos pensos apropriados e utilizando pensos antimicrobianos

    para impedir a proliferao microbiana (Pina-Grif, 2006).

    Os pensos antimicrobianos podem conter prata, iodo, carvo entre outros.

    Os pensos impregnados em iodo j so usados h mais de 30 anos (Baranoski e

    Ayello, 2006) pois o iodo um elemento no metlico, com propriedades bactericidas, por

    ligao irreversvel a protenas e oxidao do protoplasma bacteriano. Quando o leito da

    ferida rico em exsudado ou em outros detritos orgnicos, o iodo forma ligaes com essas

    protenas e fica rapidamente inactivo. Concentraes elevadas de iodo so txicas para os

    fibroblastos (Irion, 2005). Contudo, o iodo presente nos pensos permite uma libertao

    gradual, controlada do antissptico, constituindo uma opo de tratamento local de feridas

    infectadas (Baranoski e Ayello, 2006).

    1 Biofilmes so comunidades biolgicas com um elevado grau de organizao, onde os microrganismos formam

    comunidades estruturadas, coordenadas e funcionais encontrando-se embebidas em matrizes polimricas

    produzidas por elas prprias.

  • 29

    Fig. 12 Aco da prata perante as bactrias

    [Legerstee,2005]

    Existe disponvel o penso Inadine da marca Systagenix, uma compressa no

    aderente impregnado com iodopovidona (10%) e glicol de polietileno assim como gua, que

    fornece um efeito anti-sptico duradouro, que ajuda a gerir a infeco provocada por

    bactrias, protozorios e organismos fngicos durante um perodo de tempo. o anti-sptico

    de mais largo espectro para utilizao humana e no existem casos registados de resistncia

    adquirida. Tem uma libertao contnua com iodopovidona (Langley, 2001) e a mudana da

    cor indica quando o penso deve ser substitudo. Se existir alguma dificuldade na substituio

    da compressa, a remoo pode ser facilitada distendendo suavemente os cantos diagonalmente

    opostos da compressa. A compressa pode ser mudada at duas vezes por dia na fase inicial,

    em feridas muito infectadas ou que produzam grande quantidade de exsudado. Est indicado

    para lceras na perna e lceras de presso, profilaxia em leses menores, queimaduras

    superficiais e ferimentos pequenos em que ocorreu perda de tecido (Catlogo Systagenix,

    2009).

    A utilizao de prata nos mais variados produtos est cada vez mais aceite como

    agente antimicrobiano contra os mais variados agentes patognicos causadores de infeco

    (Irion, 2005). Apesar da prata metlica ser relativamente inerte, a presena de humidade leva

    sua libertao na forma ionizada, activa (Baranoski e Ayello, 2006). Independentemente da

    forma de apresentao, a forma activa nos pensos sempre inica, uma vez que esta forma

    destri bactrias, fungos, vrus e protozorios (menor actividade: esporos, micobactrias,

    formaes qusticas de protozorios) (Legerstee, 2005; Lansdown, 2006), alm de apresentar

    uma actividade potente face a Pseudomonas (Gogia, 2003). Tambm impede a formao de

    biofilme, pois evita a sua reconstituio aps a limpeza da ferida (Irion, 2005; Pina-Grif,

    2006).

    A prata vai ter a sua aco antimicrobiana de modo inespecfica, ou seja, afectando

    todos os mecanismos que a bactria utiliza para se manter viva (Fig. 12) (Legerstee, 2005) ao

    unir-se com o grupo Tiol (-SH) e carboxilo (-COOH) das protenas funcionais e estruturais

    das bactrias, inibindo a actividade das mesmas e inactivando os cidos nucleicos, causando

    danos estruturais na parede celular bacteriana e alterando e danificando as protenas da

    membrana celular bacteriana e diminuindo a actividade das metaloproteinases.

  • 30

    Fig. 13 Actuao de Silvercel na bactria

    [Catlogo Systagenix, 2009 produto disponvel

    no endereo: http://www.medicalplus-

    pt.com/conteudo/uploaded/videos/pdfs/Trat_Ferid

    as_Hartmann.pdf]

    Apesar da forma de apresentao dos pensos ser varivel, a forma activa sempre a

    inica e pode ser devido a esse facto que os pensos possam ter um efeito mais rpido em

    comparao com outro tipo de antibacteriano, sendo eficazes ao fim de duas horas o que se

    considera satisfatrio j que eles so mantidos durante pelo menos 24 horas, havendo assim

    tempo suficiente para exercer a sua aco. O penso que mais rapidamente liberta prata o

    penso nanocristalino de prata que destri os microrganismos em 30 minutos (Legerstee,

    2005).

    Existem disponveis dois pensos com prata, o hidroalginato com prata, Silvercel da

    marca Systagenix e a compressa no aderente com prata, Atrauman Ag, da marca

    Hartmann.

    O penso Silvercel, um penso antimicrobiano de hidroalginato com prata no

    aderente traduzido numa compressa esterilizada no tecido, constituda por um teor elevado

    de fibras revestidas por um teor elevado de fibras revestidas por alginato G (cido

    gulurnico), carboximetilcelulose (CMC) e prata, com uma camada de contacto com a ferida

    de acrilato de metiletileno no aderente e perfurada. Esta juno de constituintes controla o

    exsudado em feridas moderadas a altamente exsudativas, criando um ambiente equilibrado de

    humidade para a cicatrizao (Catlogo Systagenix, 2009).

    As fibras de prata (Fig. 13) destroem

    um amplo espectro de microrganismos associados colonizao e infeco bacteriana de

    feridas e comeam a sua actuao logo aps 15 a 30 segundos de serem colocados no leito da

    ferida. Os resultados clnicos da avaliao deste penso (Naylor, 2001; Addison et al, 2005 in

    Catlogo Systagenix, 2009) demonstraram que o produto absorve o exsudado da ferida,

    adapta-se ao leito da ferida e eficaz no combate da sua infeco, alm de promover a

    formao de novo tecido de granulao. O penso super-absorvente (Teot et al, 2005;

    Addison et al, 2005 in Catlogo Systagenix, 2009), eficiente e fcil de utilizar, minimiza o

    potencial risco de macerao e fuga e est comprovado que absorve e retm o fluido, mesmo

    sob compresso (Rennison et al, 2006 in Catlogo Systagenix, 2009). Tem uma libertao

    contnua (Teot et al, 2005; Addison et al, 2005 in Catlogo Systagenix, 2009) de ies de

  • 31

    Fig. 14 Remoo do penso Silvercel

    [Catlogo Systagenix, 2009 produto disponvel no endereo:

    http://www.medicalplus-

    pt.com/conteudo/uploaded/videos/pdfs/Trat_Feridas_Hartmann.pdf]

    prata. Estudos in vitro demonstram que o nvel de prata libertada pelo penso se mantm

    durante mais de 36 horas.

    Permite uma remoo ntegra (Fig. 14), uma vez que a maioria dos agentes

    patognicos tm propriedades hidrofbicas, eles unem-se a este material do penso e na

    mudana do produto so retirados. Bactrias e fungos ligam-se s superfcies graas

    interaco hidrofbica que se gera devido juno de duas partculas hidrofbicas em

    contacto direito mais a presso das molculas de gua. Alm disso, estudos provam que a sua

    elevada fora tnsil (Teot et al, 2005; Clark, 2009 in Catlogo Systagenix, 2009) mantm o

    ambiente hmido na ferida, facilitando a remoo. Est indicado para feridas crnicas,

    profundas ou superficiais, moderada a altamente exsudativas incluindo: lceras de presso,

    lceras venosas, lceras do p diabtico, zonas dadoras, feridas traumticas e cirrgicas.

    O penso Atrauman Ag uma compressa no aderente com prata, composto por

    poliamida revestidos e est impregnada com uma pomada sem ingredientes activos baseada

    em triglicerdeos (gorduras neutras). A superfcie com prata e pomada impedem que a

    compressa adira ferida; por conseguinte, a remoo da compressa e efectuada sem dor. As

    bactrias so destrudas na superfcie da compressa devido aos ies de prata que se formam no

    ambiente hmido (Fig. 15). eficaz contra bactrias gram-negativo (por exemplo, Klebsiella

    pneumoniae) bem como bactrias gram-positivo (por exemplo Staphylococcus aureus,

    incluindo as linhagens de MRSA). Actua parcialmente contra micoses. Espcies como

    Candida albicans so eliminadas em 90% dentro de 24h. As eficcias microbiolgicas das

    compressas mantm-se, no mnimo, por sete dias. Deve aplicar-se um penso secundrio de

    modo a absorver o exsudado da ferida (Catlogo Hartmann, 2010).

  • 32

    Fig. 15 Aco antimicrobiana de Atrauman Ag

    [Catlogo Hartmann, 2010 produto disponvel no endereo: http://www.medicalplus-

    pt.com/conteudo/uploaded/videos/pdfs/Trat_Feridas_Hartmann.pdf]

    Hidrofibra

    O penso de hidrofibra um tipo de penso de fcil manipulao e altamente absorvente.

    Quando em contacto com o exsudado da ferida forma um gel que para alm de manter o

    ambiente hmido ideal no leito da ferida tambm favorece o desbridamento autoltico.

    Estudos indicam que pode absorver at 30 vezes o seu peso sem perder a integridade

    (Williams, 2002 cit. por Irion, 2005). Vai funcionar por aco hidroflica, absorvendo o fluido

    directamente para a sua estrutura fibrosa, aumentando o volume do exsudado e mantendo-o

    fora do alcance da pele circundante. Est indicado para laceraes, queimaduras de segundo

    grau, lceras venosas e feridas cirrgicas e traumticas.

    No mercado existem vrias marcas disponveis, destacando-se o Aquacel da marca

    Convatec, (Fig. 16) mais frequentemente usado. Na figura 16, podemos ver como aplicar

    este tipo de penso. Depois de limepar a rea em redor da ferida, aplica-se o penso mantendo

    1cm de margem em redor da ferida. Se for uma ferida cavitria, mantm-se at 2,5cm de

    margem para uma fcil remoo, referindo o preenchimento de 80% da cavidade, uma vez

    que o penso sofre expanso em contacto com o exsudado. A excepo neste caso, refere-se s

    queimaduras de II grau, cuja indicao refere uma margem de 5 cm ao redor da ferida e faz

    referncia aderncia do curativo ao leito da ferida, adquirindo uma cor marrom escura. Este

    penso deve ser coberto com um penso secundrio. Pode ser removido aps 7 dias ou quando

    clinicamente indicado sem dano, uma vez que este tipo de penso se vai desprendendo do leito

    com a reepitelizao (Catlogo Convatec, 2009).

  • 33

    Fig. 16 Instrues de uso de Aquacel

    [Catlogo Convatec, 2009 produto disponvel no endereo: http://www.medicalplus-

    pt.com/conteudo/uploaded/videos/pdfs/Trat_Feridas_Hartmann.pdf]

    Enzimas proteolticas tpicas

    O desbridamento enzimtico funciona pela aplicao de enzimas tpicas para remover

    o tecido desvitalizado, digerindo-o e dissolvendo-o. A sua utilizao deve ser limitada ao

    tecido necrosado ou desvitalizado, devendo ser evitada a sua aplicao no tecido circundante

    (Irion, 2005). A colagenase uma das enzimas proteolticas que decompe o colagnio e que

    tm sido encontradas em algumas bactrias do gnero Clostridium utilizadas no

    desbridamento enzimtico. altamente eficaz, uma vez que desbrida exclusivamente as fibras

    do colgenio natural, as quais esto envolvidas na reteno dos tecidos necrosados (Baranoski

    e Ayello, 2006). Alm disso, alguns estudos sublinham a sua aco excitante para o tecido de

    granulao , com estimulao do seu crescimento e preenchimento do vazio da

    descontinuidade de tecido, bem como a sua epitelizao (Baranoski e Ayello, 2006).

    Existe a colagenase Ulcerase, utilizado para limpeza enzimtica removendo

    necroses e restos de tecidos que impedem a cicatrizao. Estimula a granulao e no inibe a

    epitelizao. Est indicado para queimaduras superficiais de 1 e 2 grau, lceras varicosas e

    de decbito, assim como feridas superficiais da pele. Deve manter um contacto uniforme com

    a superfcie da ferida, sendo aplicada de forma homognea e com uma espessura de

    aproximadamente 2 milmetros, sendo as crostas secas amolecidas antecipadamente com a

    aplicao de um penso hmido. Deve aplicar-se uma vez por dia, podendo no entanto, ser

    aplicado at duas vezes por dia aumentando dessa forma o efeito enzimtico. aconselhado

    aplicar nos bordos da ferida uma pasta de zinco, uma vez que no est totalmente esclarecido

    se pode haver ou no irritao para os tecidos adjacentes. Se no ocorrer qualquer melhoria ao

    nvel do tecido necrtico ou desvitalizado no perodo de 14 dias, deve optar-se por mudar o

    tratamento (Catlogo Smith&Nephew, 2010).

    A fibrinolisina uma enzima que hidrolisa a fibrina e os exsudados fibrinosos, sendo

    que a sua aco fibrinoltica est direccionada contra protenas desnaturadas, como as

  • 34

    encontradas nos tecidos desvitalizados, mantendo os elementos proteicos das clulas vivas

    inalterados (Irion, 2005).

    Um dos produtos existentes no mercado que contm fibrinolisina a Fibrase, que faz

    a associao para alm da referida, a desoxirribonuclease que vai hidrolisar especificamente

    as molculas de desoxirribonuclico (DNA) e desoxirribonucleoprotenas e ainda o

    cloranfenicol (1%), formando uma pomada suave. Estas substncias so os principais

    componentes dos exsudados purulentos e por isso a quebra em polinucleotdeos mais simples

    ajuda a liquefaco no processo de necrose do exsudado purulento e facilita sua remoo dos

    ferimentos. indicada no tratamento de leses infectadas tais como queimaduras, lceras e

    feridas onde a dupla aco como agente desbridante e antibitico tpico requerida. Esta

    aco dupla especialmente benfica no tratamento de infeces causadas por organismos

    que utilizam um processo de deposio de fibrina como meio de proteco (por exemplo

    coagula estafilococos). A enzima deve ser aplicada no mnimo uma vez ao dia; sendo que a

    aplicao a cada 6 ou 8 horas proporciona um melhor resultado do tratamento (Baranoski e

    Ayello, 2006).

    A papana uma enzima proteoltica extrada dos frutos do mamo (Carica papaya),

    com aco proteoltica e anti-inflamatria, usada como agente desbridante tpico (em

    ferimentos de pele) (Irion, 2005). Proporciona alinhamento das fibras de colagnio,

    promovendo crescimento tecidual uniforme. A enzima possui amplo espectro de

    especificidade, os peptdeos, amidas, steres e tiosteres so todos susceptveis para hidrlise

    cataltica da papana. Est indicado como agente desbridante de tecido necrosado e

    liquefaco de material necrosado em leses crnicas e agudas como: lceras de presso,

    lcera varicosa, lcera diabtica, queimaduras, feridas ps operatrias, feridas traumticas ou

    infectadas, deiscncia de sutura. Aplicar a cada 12 24 horas, e cobrir com um curativo.

    Evitar lavar as leses com perxido de hidrognio em soluo, pois a papana pode ser

    inactivada. Pode sentir-se uma sensao de queimadura. O exsudado liquefeito da digesto

    enzimtica pode irritar a pele, sendo por isso aconselhado lavagens e limpezas frequentes da

    rea ao redor da leso pode aliviar o desconforto (Baranoski e Ayello, 2006).

    Substitutos de pele de engenharia tecidular

    A engenharia tecidular envolve o desenvolvimento de materiais que combinam novos

    materiais com clulas vivas, para produzir equivalente tecidulares funcionais, como os

    substitutos da pele. Actualmente, esto aprovados nos Estados Unidos dois produtos de

    engenharia tecidular contendo clulas vivas: o Apligraf e Dermagraft, ambos com clulas

    do cordo umbilical Baranoski e Ayello, 2006). Uma nica camada do cordo umbilical pode

  • 35

    produzir mais de 200000 unidades de produto (Tanuma, 2000 cit. por Baranoski e Ayello,

    2006).

    Apligraf um produto de pele bilaterada, consistindo no equivalente drmico

    composto por colagnio bovino tipo I, que contm fibroblastos drmicos humanos vivos

    como uma camada epidermal cornificada sobreposta de queratincitos humanos vivos. No

    contm clulas de Langerhans, melancitos ou clulas endoteliais, o que talvez explique

    porque no rejeitado Baranoski e Ayello, 2006).

    Dermagraft uma reposio drmica viva feita de malha de Vicryl e fibroblastos

    derivados do cordo umbilical e dos seus produtos. Contem fibroblastos humanos e muito

    testado para agentes infecciosos Baranoski e Ayello, 2006).

    O local do enxerto deve ser protegido da leso; o penso secundrio mudado sem

    perturbar o local do enxerto. Indicados para feridas com perda parcial a total da espessura da

    pele, lceras venosas e feridas a granular.

    Terapia tpica de presso negativa

    Por vezes, quando existem feridas muito profundas com um acmulo de secrees no

    interior da ferida elevado, opta-se por aplicar a terapia de presso negativa, uma vez que

    sabido que estes factores acima descritos vo retardar o fornecimento de nutrientes

    necessrios para a cicatrizao (Irion, 2005). A utilizao de presso negativa num

    determinado espao, ou seja, uma presso inferior presso atmosfrica normal consegue-se

    removendo molculas de ar da zona em tratamento, atravs da bomba de suco.

    Dessa forma, aplica-se dobre a ferida um equipamento com um sistema de drenagem

    que vai melhorar o ambiente da ferida ao remover a secreo excessiva, aliviar o edema

    intersticial, controlar a carga bacteriana, aumentar o fluxo sanguneo na ferida, aumentar a

    taxa de formao de tecido de granulao e estimular a proliferao de clulas endoteliais

    (Irion, 2005). As mudanas de penso podem ser realizadas entre 48h a 72h ou sempre que o

    selo estiver quebrado (Baranoski e Ayello, 2006).

    Como se pode verificar pela figura 17, o vcuo conseguido atravs de uma bomba,

    tudo, reservatrio e penso tipo espuma. A espuma recortada para se adaptar ferida e

    colocada na cavidade com uma cobertura de filme, para vedar o vcuo criado pela bomba.

  • 36

    Fig. 18 Sistema de terapia por vcuo Renasys plus

    [Catlogo Smith&Nephew, 2010 - produto disponvel no endereo:

    http://www.woundsource.com/files/woundsource/product-images/Renasys-

    EZ-unit-frosted-canister-smith-nephew_0.jpg]

    No servio da Cirurgia C, existe Renasys plus (Fig. 18), um sistema de terapia por

    vcuo que mant uma aspirao constante, aplicada ferida at que o seu tamanho diminua o

    suficiente para que o curativo de espuma no precise de ser mais colocado. O recipiente pode

    ser usado durante 1 semana ou at que esteja cheio (Irion, 2005) e o sistema possui 40 horas

    de bateria (Catlogo Smith&Nephew, 2010).

    Terapia biolgica com larvas

    Desde a dcada de 90, com os inmeros casos de multirresistncia aos antibiticos, as

    bioterapias tm vindo a ganhar nova fora. O ano de 2004 foi um marco na bioterapia,

    especialmente nos Estados Unidos e Reino Unido, uma vez que foi aprovada vria

    regulamentao sobre a terapia larval (Sherman, 2005).

    A terapia com larvas consiste na aplicao de larvas necrfagas esterilizadas em

    instalaes especializadas. Promove desbridamento, desinfeco e cicatrizao. A larva

    utilizada a espcie Lucillia sericata que vai actuar por trs mecanismos de aco:

    desbridando a ferida, removendo tecidos necrticos e infectados e desinfectando a ferida ao

    eliminar as bactrias, estimulando dessa forma a cicatrizao de feridas (Sherman, 2005).

    Na terapia larval so as larvas que, sendo necrfagas, desbridam instintivamente

    tecidos necrosados de tecidos saudveis, fazendo-o com mais preciso do que numa ci