Trajetória e Projetos Residenciais de Severiano Porto em Manaus
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MODERNO E REGIONAL: TRAJETÓRIA E PROJETOS RESIDENCIAIS DE SEVERIANO PORTO EM MANAUS (AM).
SiMÕES, ISABELLA D.B.S.
1. Escola da Cidade
Rua General Jardim, 65, Vila Buarque, 01223-011, São Paulo - SP [email protected]
RESUMO
A presente pesquisa foi formulada com a intenção de analisar a trajetória e a obra residencial construída pelo arquiteto Severiano Porto na cidade de Manaus. Severiano Mário Porto nasceu em Uberlândia em 1930, formou-se pela Faculdade Nacional de Arquitetura, em 1954, no Rio de Janeiro, onde morou até 1965, quando convidado pelo governador do Amazonas Arthur Reis, mudou-se para Manaus. Com a grande demanda de trabalho, Severiano acabou permanecendo em Manaus por mais de trinta e cinco anos, nos quais realizou mais de duzentos projetos. Severiano criou soluções inteligentes para responder às questões climáticas, culturais e da paisagem amazônica, sempre escolhendo bem os materiais e apreendendo os conhecimentos locais de construção. Desse modo, este projeto de pesquisa estuda sua trajetória do Rio de Janeiro a Manaus, procurando compreender a sua formação, a sua contribuição para a leitura sobre a arquitetura amazônica e a sua forma de aliar este conhecimento com os preceitos formadores da arquitetura moderna brasileira. Como material de análise foram escolhidas algumas casas construídas por Severiano, principalmente as localizadas no Condomínio Parque Residências e Praia da Lua, ambos loteamentos feitos pelo arquiteto em Manaus. A justificativa para esse recorte se baseia tanto na pertinência do objeto com relação às questões postas acima, quanto pelo fato de que essa produção ainda é pouco conhecida e documentada, podendo-se contribuir para a melhor compreensão de sua obra e também preencher uma lacuna sobre estudos da arquitetura amazonense. Os métodos que estão sendo aplicados são: levantamentos bibliográficos nas bibliotecas da FAU USP, FAU UFRJ e Escola da Cidade; visitas de campo na cidade de Manaus, onde venho conhecendo diversas obras do arquiteto e verificando seus estados de conservação (no caso das residências tenho tido conversas com os proprietários e tirado cópia de projetos originais); Pesquisas no acervo de Severiano Porto que atualmente pertence ao Núcleo de Pesquisa e Documentação da FAU UFRJ. O trabalho com o acervo tem sido imprescindível para essa pesquisa, uma vez que através dele pude quantificar a obra do arquiteto e assim começar o trabalho de campo, além de ter acesso a muitos projetos não publicados. Porém, olhando por outro viés, o modo como se dispõe as informações sobre o que está arquivado não ajuda a uma leitura mais rápida de questões importantes. No caso desta pesquisa, os endereços dos projetos pesquisados só constavam no carimbo das pranchas. Quando o acervo é muito grande, como no caso de Severiano que contém mais de duzentos projetos, o pesquisador precisaria de muito tempo para empreender esse tipo de levantamento. O fato dessa informação não está mais processada também inviabiliza uma relação mais direta dessas informações com órgãos de preservação como o IPHAN.
Palavras-chave: Severiano Porto, arquitetura residencial, Manaus.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
Trajetória do Rio de Janeiro à Manaus: da formação à prática projetual.
Severiano Mário Porto nasceu em Uberlândia, Minas Gerais, em 19 de fevereiro
de 1930, filho de pais educadores que tiveram grande importância na sua formação. Quando
Severiano possuía cinco anos de idade mudou-se para o Rio de Janeiro com a família que
permaneceu vinculada ao ensino, tendo seu pai chegado a ser proprietário do Colégio
Anglo-Americano. Dentro desse ambiente rico de conhecimento, Severiano teve desde
muito cedo contato com as artes, demonstrando talento tanto para música quanto para o
desenho. Após ter se formado no colégio de propriedade de seus pais, prestou vestibular
para a Faculdade Nacional de Arquitetura (FNA) da Universidade do Brasil onde se formou
em 1954.
A Faculdade Nacional de Arquitetura descendia da antiga Escola Nacional de
Belas Artes (ENBA), que havia formado desde 1930 os principais nomes da arquitetura
nacional: Oscar Niemeyer, Milton e Marcelo Roberto, Affonso Eduardo Reidy, Jorge Moreira,
entre outros. Foi nesse cenário progressista que se mostrou excelente tanto para o ensino
da arquitetura, que vinha se questionando e se readequando ao mundo contemporâneo,
como também para a própria produção da arquitetura brasileira, que Severiano Porto se
formou.
Durante a faculdade Severiano sempre estagiou e, diferente de seus colegas
que encontraram facilidade em trabalhar em escritórios de arquitetura renomados, como
Sergio Bernardes ou Jorge Machado Moreira, Severiano optou por estágios ligados à área
construtiva, pois para ele a arquitetura sempre foi o fazer. Assim, no segundo ano de
faculdade iniciou um estágio com o professor Maurício Sued que ministrava instalações
prediais e em seguida começou a trabalhar na construtora Ary C. R. de Britto, onde prestou
serviço por onze anos.
Em paralelo, Severiano criou junto ao colega e amigo, Ennio Passafini, a
Construtora Contemporânea, que para eles significava uma oportunidade de construir seus
próprios projetos. Desses trabalhos surgem os primeiros experimentos feitos no Rio de
Janeiro, que deram continuidade à formação de arquiteto, aprofundando seu conhecimento
sobre o fazer arquitetônico e lhe fornecendo um grande repertório construtivo. Nesses anos
1950 e 1960, o arquiteto atendia a encomendas do mercado imobiliário carioca,
notadamente de construções de prédios de habitação na zona sul da cidade.
Em 1964, Severiano foi convidado por Arthur Reis, na época governador do
estado do Amazonas, para fazer a obra de restauração do Palácio Rio Negro. Quando
chegou em Manaus Severiano vivenciou os reflexos dos quarenta anos de crise econômica
e viu uma cidade pequena e estagnada que estava prestes a se tornar uma zona franca de
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comércio e indústria. É inegável o impacto que a paisagem e o modo de morar do ribeirinho
causaram no arquiteto, que acabou por assimilar parte desta cultura, modificando seu olhar
e o seu modo de pensar e fazer arquitetura.
Os projetos que Severiano havia sido convidado para fazer acabaram não sendo
construídos e foi a demanda de acompanhar e detalhar o estádio de futebol de Manaus, que
estava em construção, o Vivaldo Lima, que permitiu a mudança definitiva de Severiano para
Manaus. O “Vivaldão”, como ficou conhecido, foi uma experiência de trabalho incrível para
Severiano, que até então não havia construído nenhum projeto para a esfera pública ou de
grande porte. O estádio foi demolido em 2010 para abrigar a Arena da Amazônia, o novo
estádio construído para a copa de 2014.
Em 1967 o arquiteto voltou a construir uma obra emblemática, o Restaurante
Chapéu de Palha, que tinha a estrutura em madeira e a cobertura feita por palha de
palmeira trançada. Este projeto teve grande importância na trajetória de Severiano, pois foi a
primeira vez que através dos materiais e técnicas locais o arquiteto criou uma poética, pois a
construção vai além da função e compõe o começo de uma linguagem plástica regional. O
restaurante também foi demolido.
Nos anos seguintes as demandas de Severiano só cresceram em função do
reconhecimento alcançado por sua arquitetura. Seus projetos possuíam programas
extremamente variados tendo o arquiteto feito hospitais, casas, secretarias municipais, lojas,
escolas, fábricas, entre outros. Estima-se que sua produção completa alcance cerca de 200
projetos. Nesse processo, é possível observar como a obra do arquiteto foi amadurecendo e
sua pesquisa se alastrando na direção das construções regionais e das técnicas em
madeira, porém sem nunca perder de vista sua formação moderna e o entendimento de que
os materiais deveriam ser empregados corretamente, nos locais, propostas e programas
mais adequados.
A partir de uma postura pouco dogmática e sensível às especificidades locais,
além da vivência continuada do canteiro de obras, Severiano pode aprender com os mestres
e pedreiros a cultura e as técnicas da Amazônia. É nesse contexto, que ele desenvolve a
preocupação em fazer uma arquitetura amazônica, adequada ao clima, cujas médias de
temperatura estão acima de trinta graus, ao entorno e ao modo de vida da região. Partindo
dessas preocupações, Severiano criou um sistema que norteia sua obra, mas que não se
fixa nesse ou aquele material ou técnica, cujas diretrizes básicas são: adaptação ao clima,
evitando-se o uso de ar condicionado; adaptação ao terreno e à vegetação pré-existente e a
escolha de materiais e técnicas que oferecessem melhores custos, maior agilidade e que
fossem mais coerentes com a encomenda realizada.
Nesse contexto, Severiano acabou criando uma arquitetura muito diversa do
ponto de vista plástico e técnico, mas que respondia às diretrizes acima, ou seja, mesmo
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uma obra feita em concreto podia responder aos desafios climáticos ali colocados. Um
exemplo disso é o projeto da SUFRAMA de 1971, sede da Zona Franca de Manaus, onde
ele lança mão de ventilações cruzadas calcadas no efeito chaminé. O projeto da SUFRAMA
foi pensado em módulos de 15x15m para criar espaços livres que pudessem ser
apropriados da melhor forma pelos usos da superintendência. A estrutura de concreto forma
uma espécie de chaminé que libera o ar quente de dentro do edifício.
Outro projeto que representa bem a diversidade na obra de Severiano Porto é a
Universidade Federal do Amazonas (UFAM), de 1973. O Campus da Universidade foi
construído dentro de uma reserva ambiental e Severiano propõe um projeto que se integra à
natureza do lugar, desmatando o mínimo possível. O projeto é composto por estrutura
metálica e de concreto, esquadrias de madeira e cobertura eternit, numa mescla de
materiais que dá conta da especificidade de seu raciocínio projetual. Tanto a SUFRAMA
quanto a UFAM são obras que não seguem uma linguagem regional mas dialogam
completamente com o contexto em que estão inseridas.
Já no Centro de Proteção Ambiental de Balbina de 1983, espaço para
acompanhamento do impacto ambiental causado pela construção da hidroelétrica de
Balbina, Severiano volta a experimentar uma estética regional e a aproveitar os materiais
locais. A área de alagamento da hidrelétrica foi superestimada o que fez com que o espaço
desmatado fosse muito maior que o necessário. Por conta disso, Severiano teve livre
acesso a madeira de qualidade para fazer a obra, o que deixou-o a vontade para criar sem
se preocupar com a viabilidade econômica do projeto. O madeiramento feito por Severiano é
sem precedentes, pois tendo acesso a quantidade de madeira que julgasse necessária, o
arquiteto fez com que a estrutura perdesse sua função puramente técnica para virar um
atributo estético importante. O partido do projeto é uma enorme cobertura serpenteante, de
estrutura de madeira e cobertura de cavaco, ao qual os programas se distribuem em
pequenos módulos de alvenaria.
A intenção em revisitar obras importantes de Severiano em Manaus foi a de
gerar a percepção do quanto a obra do arquiteto é diversa e mostrar um pouco da sua
trajetória do Rio de Janeiro até se tornar o grande arquiteto amazônico. Outra questão que
precisa ser problematizada foi a classificação do arquiteto como um regionalista. Pois, sua
obra é mais orientada pelo método de eleger a técnica mais pertinente para as
circunstancias, sendo essas regionais ou não, trabalhadas em conjunto ou isoladamente. A
questão para ele era sempre a de fazer um trabalho eficiente, com menos custos e com a
maior rapidez. Porém não se pode deixar de observar que em algumas obras Severiano
chega a uma poética que vai além da técnica, e que a sua melhor poética encontrou
inspiração na Amazônia.
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Imagem 1. Da esquerda para direira: Estádio Vivaldo Lima (1966), Restaurante Chapéu de Palha
(1967), SUFRAMA (1971), UFAM (1973), Centro de Proteção Ambiental de Balbina (1983). Fotos:
Acervo Pessoal de Severiano Porto.
Habitar a Amazônia: a arquitetura de morar de Severiano Porto.
O primeiro contato de Severiano com arquitetura residencial remontava aos
tempos de Rio de Janeiro, quando atuou na construtora Ary C. R. de Britto, e quando junto
ao amigo Ennio Passafini, criou a Construtora Contemporânea. Desse primeiro contato
advém os projetos de edifícios feitos na Zona Sul carioca na década de 50. São edifícios de
apartamentos que possuíam de dois a quatro quartos e que objetivavam atingir um público
de classe média. Os projetos são funcionais e seguem a estética moderna que prevalecia na
época, assim como o padrão de utilização máxima da área do lote.
Com a mudança para Manaus, Severiano se deparou com questões
completamente distintas das quais havia trabalhado até então. A cidade carecia de
infraestruturas básicas, oferecia muita área a ser ocupada, e possuía um clima
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completamente distinto. Como visto no capítulo anterior, as casas flutuantes e o modo de
fazer regional que dialogavam bem com o clima e o lugar, logo foram apreendidos pelo
arquiteto que os utilizou para repensar sua arquitetura. Desde sua primeira casa construída
em Manaus, podemos observar como o impacto da mudança influenciou a obra do arquiteto.
Questionar a casa, a habitação, os seus elementos construtivos e a região onde se situa, as pretensões e a necessidade de seus moradores é um tema importante e interessante. Abordaremos alguns aspectos do mesmo mais direcionados a nossa região e ao tema geral deste evento. Quando aqui chegamos cerca de vinte anos, chamou-nos a atenção de imediato, a casa, a morada que tem como necessidade maior abrigar a família. Era comum visitarmos pessoas de certa posição social, que moravam em casas simples de madeira, de duas águas, piso elevado de tábuas pintadas, etc. ,com aspectos semelhantes ao do homem ribeirinho ou do interior, Este fato nos chamou atenção, pois de um centro urbano maior, onde a ideia de casa sempre vem acompanhada das necessidades de ser duradoura, permanente, a fim de que significasse o futuro garantido juntamente com a aposentadoria, dinheiro em banco, joias e não simplesmente abrigo, morada. Este aspecto aliado a outros como por exemplo, dos homens que habitavam e habitam toda esta imensa Amazônia, nas regiões mais distantes, junto aos rios e igarapés, como também distante dos mesmos, no meio das matas (os caboclos de terra firme, seringueiros, mateiros, caçadores e outros), que nos impressionavam toda a vez que tínhamos oportunidade de voar para o interior de mono motor em vôos diretos de três e meia a quatro horas de viagem. E aí nos púnhamos a pensar sobre a coragem e autoconfiança deste homens, a certeza de obtenção de recursos para a sua subsistência, o conhecimento de plantas, raízes, que lhe permitia fazer chás e remédios caseiros como se fosse mais um dos seus sentidos, que os habitantes das cidades tivessem perdido por atrofia. E a imagem desse homem rapidamente muda de dentro de nós. De analfabeto e ignorante, imediatamente assume a postura de um gigante, de um profundo conhecedor da região, integrado a ela, sabedor de como construir a morada no local correto de acordo com as necessidades ecológicas e com os seus recursos técnicos. Nós que chegávamos precisávamos aprender. Substituir nossos conceitos, chegamos a dizer a um grande amigo em janeiro de 65, quando subíamos o rio Amazonas, que alfabetizar este homem naquele momento a nosso ver seria um mal maior de que deixá-lo ir absorvendo estes ensinamentos, transmitidos de geração a geração e que não constam em livros, pois estes eram tão importantes neste região quanto a necessidade do homem nas cidades ler, escrever, tirar cursos e ter diplomas. E aí encontramos as casas bem situadas e bem orientadas. Construídas de madeira, de palha e até mesmo de alvenaria. Encontramos a casa flutuante, construída sobre troncos de madeiras de balsas, exemplo de solução ecológica adequada às condições de nossos rios, onde a variação de seus níveis anualmente atingem a média de 10 a 12 metros, transportando as suas margens a centenas de metros de distância. E a casa se desloca e acompanha estas margens. Na cidade víamos e vemos bem forte a presença desse homem e dos seus recursos para trabalhar a madeira, afeito que é ao processo construtivo de embarcações e nos bairros de população ribeirinha e nos de menos recursos encontramos as soluções mais criativas, ricas de elementos construtivos importantes como varandas, treliças, passadiços, sanefas (fechando a noite áreas abertas durante o dia), etc. Em algumas casas vemos os seus proprietários desejando dentro de seus conceitos de "evoluir" atingir a primeira frase de transformação das casa de madeira para a de alvenaria, substituir a sua fachada principal antes de madeira por outra feita com tijolos e cimento. A criatividade, a espontaneidade, o domínio do processo construtivo torna o seu proprietário apto a qualquer momento e muitas vezes em horas, introduzir alterações na mesma, abrindo vãos, criando cômodos, evidenciando desse
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forma o domínio absoluto do espaço em que vive. Contrastando com essa flexibilidade construtiva, vemos todo o restante das habitações, cujo exemplo maior são os conjuntos habitacionais, onde os seus altos custos, as suas soluções e elementos construtivos são em sua maioria inadequados a região. Há que se questionar a habitação seriamente em todos os seus níveis e elementos componente de suas soluções. Grades, elementos vazados, brises verticais ou horizontais, treliças, venezianas fixas ou reguláveis, jalousie, devem ser usados fartamente e corajosamente sempre que necessário. A ventilação cruzada deve ser uma preocupação constante bem como a proteção das fachadas com beirais generosos, pérgolas, vegetação e outros elementos. Vamos tentar sacudir um pouco tudo que aprendemos e nos condicionamos a utilizar, para ver se conseguimos atirar longe conceitos de construção, soluções e espaços inadequados, substituindo-os com criatividade, segurança e coragem por outros adequados a nossa região para benefício das pessoas que aqui vivem e moram nas casas que aqui fazem. (PORTO, Severiano 1984).
Dentre todo o trabalho institucional produzido nos 35 anos que morou em
Manaus, que deram ao arquiteto muito prazer e reconhecimento, Severiano também
trabalhava fazendo obras mais voltadas para o mercado e que lhe ofertavam melhores
condições financeiras. Dentre esses trabalhos, que se voltavam a clientes comuns e ao
mercado imobiliário, se destacam lojas, loteamentos, prédios residenciais e residências
unifamiliares. Esses projetos são pouquíssimo conhecidos pela historiografia arquitetônica, e
são os que mais vem sofrendo demolições e descaracterizações.
Levando em consideração o que foi dito, encontramos na lista de obras do
arquiteto cerca de 60 residências. Essas residências foram projetadas, em sua maioria, para
a elite manauara que se consolidava através dos lucros obtidos com a Zona Franca. Nesse
contexto, observamos que essas casas obedeciam o padrão desse tipo de cliente, que
procuravam por casas confortáveis e bem divididas, que ofertaram pouco espaço para
Severiano empregar mais ousadia em termos de proposições espaciais e experiências
sobre o morar amazônico. Ao mesmo tempo, Severiano ficou reconhecido em Manaus por
ter um estilo que caracterizava suas obras, uma assinatura pessoal. Esse fato se dava por
uma estética construtiva que alçava mão do uso de: elementos vazados, vasto desenho de
caixilharia, brises, jelousies, telhados de duas águas com francos beirais, uso de madeira,
entre outros. Então, os clientes que contratavam Severiano tinham a intenção de dispor
desses elementos em suas moradias.
Dentre as casas que Severiano construiu em Manaus destacam-se pela grande
representatividade as construídas em condomínios fechados. O que contém a maior parte
dessas casas é o condomínio Parque Residências, em que o loteamento e os projetos das
áreas comuns foram feitos por Severiano em 1971.
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Imagem 2. Loteamento Condomínio Parque Residências, Projeto da Guarita do condomínio, Projeto
do muro externo. Fonte: NPD FAU-UFRJ.
As casas construídas no Condomínio Parque Residências atendiam uma clientela
de classe alta, o que fica claro nas obras construídas por Severiano lá, pois as casas
apresentam uma metragem quadrada extensa. Essa clientela aspirava por uma residência
comum em sua divisão interna o que direciona o raciocínio de Severiano a pensar mais em
detalhamentos de esquadrias, móveis e pisos do que em elaborar uma espacialidade
distinta ou criar uma poética mais amazônica. Grande parte das residências levantadas e
conhecidas no decorrer da pesquisa estão situadas no Condomínio Parque Residências,
algumas se encontrando em perfeito estado de conservação, outras já amplamente
modificadas. A primeira casa construída por Severiano no condomínio foi a do Sr. Heliandro
Maia, em 1972.
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Imagem 3. Da esquerda para direita, Implantação Residência Heliandro Maia (1973), Foto da
Residência, Planta Pavimento Térreo, Planta Segundo Pavimento, Corte BB. Fonte: NPD FAU-UFRJ.
Foto: da autora.
A Residência Heliandro Maia ocupa um lote de esquina, no pavimento térreo
encontramos a clara divisão entre o bloco social, que é constituído por uma ampla sala
avarandada e um escritório, e do bloco de serviço que se espraia a partir da cozinha criando
um novo volume. No pavimento superior se encontram uma suíte e mais quatro dormitórios.
A residência possui estrutura em concreto armado e vedações de tijolos, exceto pelos
dormitórios que possuem a vedação feita em madeira, que gera uma possibilidade maior de
se fazer modificações nessa modulação interna. O telhado de três águas possui estrutura de
madeira e é coberto por telha eternit. A estética da casa é realçada pelos cobogós feitos in
loco e o rico detalhamento de caixilharia e de brises. Essa residência não pertence mais a
família Maia, foi comprada e reformada com projeto do arquiteto Roberto Moita, porém as
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características originais da casa se encontram conservadas. Infelizmente não foi possível
fazer contato com o novo proprietário da casa o que inviabilizou fotos internas da residência.
Imagem 4. Da esqueda para direita, Planta Pavimento Térreo Residência Eduar Mousse (1979),
Planta pavimento Superior, Corte 2-2, Fotos da Residência. Fonte: NPD FAU-UFRJ. Fotos: da autora.
Outra residência projetada no condomínio Parque Residências por Severiano é a
da família Eduar Mousse. Essa residência é a que possui o programa mais extenso
contendo além das áreas sociais e de serviço, no pavimento térreo, também sala de costura
e música. Já no segundo pavimento ela contém quatro suítes, sala íntima para a família e
quarto de estudos. Esta residência se difere muito de outras projetadas por Severiano pelo
uso mais acentuado do concreto armado e pelo telhado plano, que não era recorrente em
sua obra residencial. As esquadrias de madeira criam um contrate com a estrutura de
concreto e fazem com que o projeto crie uma unidade com as demais obras de Severiano. A
casa ainda pertence a família Mousse e se encontra em um excelente estado de
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conservação, contendo todas as esquadrias e acabamentos originais.
Imagem 5. Da esquerda para direita, Implantação Residência Embratel (1980), Foto da residência,
Planta Pavimento Térreo, Planta Pavimento Superior, Detalhamento de Armário e Caixilharia. Fonte:
NPD FAU-UFRJ. Foto: da autora.
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Imagem 6. Corte 2.2 Residência Embratel (1980), Corte 1.1, Fachada Norte.
A residência Embratel também está no condomínio Parque Residências,
infelizmente esta residência passou muito tempo subutilizada e atualmente foi
completamente modificada, todas esquadrias e acabamentos em madeira foram trocados
por caixilhos de vidro. Esta casa foi construída como residência para funcionários de alto
escalão de empresas de telefonia, porém alguns anos depois foi vendida para outra família
que a deixou muito anos desocupada, após a última reforma ela voltou a ser habitada,
porém perdeu todas suas característica originais. A casa em sua divisão interna era
tradicional, contendo no primeiro andar sala, bloco de serviço e escritório; já no andar
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superior continha uma suíte, dois dormitórios, banheiro e sala de estudos. O diferencial
deste projeto está no detalhamento de esquadria, que é um traço importante na obra de
Severiano, e que muitas vezes gerava a identidade visual de suas obras. Em seus projetos
que hoje estão arquivados no Núcleo de Pesquisa e Documentação da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da UFRJ (NPD-FAU UFRJ) se encontram poucos que tenham
todos os desenhos de esquadria detalhados. Então o projeto da residência Embratel trás um
importante dado para análise, que evidencia o pensamento de Severiano que se voltava
para questões referentes ao conforto térmico.
Imagem 7. Planta Pavimento Térreo Residência Joaquim Margarido (1982), Planta Pavimento
Superior, Foto da Residência. Fonte: NPD FAU-UFRJ. Fonte: Revista Casa Cláudia n. 0446, p. 118.
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A residência do jornalista Joaquim Margarido, também localizada no Condomínio
Parque Residências, é construída a partir de diferentes níveis, que separam a área de
serviço e a garagem no nível mais baixo, da área social mais a cozinha no nível térreo, dos
dormitórios e o escritório que ficam um nível acima, da suíte do casal que fica no nível mais
alto. A casa está situada em um terreno amplo com piscina, onde posteriormente foi
projetado também por Severiano um anexo com área coberta com churrasqueira, uma sala
ampla de tv e uma outra suíte no andar de cima.
A casa é construída com estruturas de madeira, pilares, vigas e estrutura do
telhado, porém possui vedações hibridas, sendo algumas em tijolo cerâmico e outras em
painéis de madeira. Toda a madeira utilizada na residência é madeira de lei, contento as
espécies itaúba, cerejeira e sucupira amarela. O telhado é de duas águas e a telha utilizada
é eternit. A casa está em excelente estado de conservação contendo ainda todos os
acabamentos originais propostos por Severiano.
As casas comentadas acima são as que a pesquisa teve a oportunidade de obter
os desenhos no Núcleo de Pesquisa e Documentação da FAU-UFRJ, as que foram
conhecidas e fotografadas ou acessadas através de imagens do acervo pessoal de
Severiano. Dentro desse um ano e meio de processo de iniciação científica da Escola da
Cidade, as oportunidades de trabalhar com o acervo foram pequenas, pelo fato do NPD
FAU-UFRJ ter passado muito tempo fechado fazendo mudança de espaço físico, e depois
pela última greve. Por esse motivo houve um descompasso entre as pesquisas de campo,
que foram feitas no decorrer de três férias passadas em Manaus, e o trabalho de
levantamento do acervo, que permitiram obter informações cruciais para fazer as pesquisas
de campo, como endereços e nomes de residências. Consequentemente, grande parte do
levantamento feito no acervo só pode acontecer em setembro, o que impossibilitou que
essas últimas informações levantadas fossem utilizadas em pesquisas de campo. Assim, a
pesquisa dispõe de desenhos de obras que não puderam ser visitadas, fotografadas e
analisadas que serão utilizadas na próxima etapa deste projeto de pesquisa.
Um caso específico: o Condomínio Praia da Lua.
Em 1979 Severiano faz um loteamento para a construção de um condomínio
residencial, esse loteamento foi feito em um balneário próximo a cidade de Manaus, que
possui acesso de carro ou de barco, a Praia da Lua. Esse condomínio é um caso especial
pois desde o loteamento, as áreas comuns e as próprias unidades contam com projeto de
Severiano. A intenção era vender os lotes junto com o projeto das residências, que seguiam
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uma lógica de pré-fabricação. Por não ter um cliente direto, Severiano teve muita liberdade
ao propor esse projeto que foi enfatizada pelo belo lugar onde seria implantado, de frente
para o Rio Negro e próximo a áreas preservadas de floresta.
Assim, Severiano faz uma proposta de um condomínio com tipologias de
metragem reduzida, propícias para residências de fim de semana. O condomínio conta
ainda com a casa do zelador e um mirante que ficava localizado na parte mais alta do
terreno. A simplicidade das residências propostas evidenciam que a intenção de Severiano
era que os proprietários aproveitassem a paisagem e o lazer imposto pela linda natureza
circundante.
Imagem 8. Localização do Condomínio Praia da Lua (Manaus), Entorno do Condomínio Praia da Lua,
Planta Casa do Zelador, Planta Primeiro Nível do Mirante, Corte Casa do Zelador, Fachada do
Mirante. Fonte: Google Earth Manaus (04/11/15), NPD FAU-UFRJ.
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Imagem 9. Implantação Condomínio Praia da Lua (1979). Fonte: NPD FAU-UFRJ.
O condomínio se encontra em uma saliência da topografia que fica rodeada por
rio e faz frente pra extensa Praia da Lua, porém mantendo uma separação física da praia. A
estrada que possibilita o acesso de carro chega até a praia e para completar o trajeto até o
condomínio é necessária uma curta caminhada e uma pequena travessia de barco. Essa
condição geográfica de implantação do condomínio cria por si só uma segregação entre as
pessoas que utilizam a praia e os condóminos, sem se fazer necessária a presença de
muros.
Aproveitando a riquíssima condição geográfica do terreno Severiano projeta o
loteamento utilizando as margens e fazendo com que todos os lotes tenham frente para o
rio, podendo-se chegar de embarcação direto as residências. No miolo central do terreno,
Severiano prevê um bosque, que seria uma área comum recreativa do condomínio, onde
ficaria localizado o mirante e a residência do zelador. Na prancha de implantação está todo
o memorial descritivo do projeto que explica a implantação elegida pelo arquiteto.
O mirante possui como partido uma estrutura em módulos de triângulos
equiláteros com 4 metros de lado. No pavimento térreo essa estrutura cria um espaço
coberto que poderia ser utilizado para convivência dos condóminos ou como um pequeno
espaço para festas, pois possui uma área de 208 metros quadrados. No triângulo central do
pavimento térreo sai a escada que leva até o terceiro nível, onde é possível admirar toda a
vista espetacular do entorno. Os pilares são de seção circular e as vigas de 10x25 cm saem
de forma radial para gerar a triangularização da estrutura. Os caibros e as ripas teriam uma
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dimensão de 7,5x10 cm e fariam a sustentação do telhado que poderia ser de cavaco de
madeira ou palha.
Próximo ao mirante ficaria implantada a casa do zelador, uma pequena
residência de 2 dormitórios, com uma cozinha, um banheiro e uma sala, contendo uma
pequena área externa. Diferente das outras tipologias propostas e que serão estudadas
adiante, a casa do zelador não contava com ventilação e iluminação estilo chaminé. Os
pilares de madeira de 15x15 cm ficavam embutidos nas paredes exceto pelas áreas de
varanda, contando com um vão de 3,60 metros. As vigas de madeira também possuíam
uma modulação de 15x15 cm e os caibros do telhado eram de 15x10 cm. A vedação era
feita por tijolo comum e a cobertura era de palha. Uma vez que a casa do zelador estava
situada no bosque, que era uma área comum do condomínio, Severiano faz um murinho de
madeira que abriga e dá privacidade aos fundos da casa. A área total da residência é de
aproximadamente 52 metros quadrados.
Imagem 10. Da esquerda para direita, Planta Tipologia 1 Condomínio Praia da Lua (1979), Planta
Tipologia 2, Corte Tipologia 1, Corte Tipologia 2, Perspectiva interna Tipologia 1, Perspectiva interna
Tipologia 2. Fonte: NPD FAU-UFRJ.
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O condomínio contava com 30 lotes que foram vendidos junto ao projeto de duas
tipologias, os projetos eram executivos e contavam com várias opções de detalhamento que
ajudavam a compor residências únicas, esse material era entregue quase como um manual,
possibilitando que cada condómino construísse independentemente sua residência.
A tipologia 1 contava com sala, varanda, 1 dormitório, 1 banheiro e cozinha.
Severiano novamente separou a residência em dois blocos distintos, no da frente estava a
sala e a varanda, e seu fechamento era todo feito em painéis de madeira, já no bloco de
trás, onde ficavam o quarto, o banheiro e a cozinha, os fechamentos eram feitos em
alvenaria e apenas algumas paredes de abertura eram feitas com painéis. A residência
ficava elevada do solo, se adaptando a topografia natural do terreno e constituindo uma
linguagem de palafita. A residência contava ainda com iluminação e ventilação zenital feitas
por uma chaminé que ficava no ponto mais alto do telhado. No total a tipologia 1 contava
com 59 metros quadrados. Para essa tipologia Severiano desenhou um caimento com
angulação de 15 graus no beiral, que criava um movimento no conjunto do telhado.
A tipologia 2 contava com sala, varanda, 1 dormitório e 1 suíte, 1 banheiro e
cozinha. Como na tipologia 1 Severiano separou a residência em dois blocos distintos, no da
frente está a sala e a varanda, com fechamento em painéis de madeira, e no bloco de trás,
onde ficavam os quartos, os banheiros e a cozinha, os fechamentos eram de alvenaria e
algumas paredes de abertura contavam com painéis. A residência também ficava elevada
do solo, se adaptando a topografia. A residência contava também com a abertura zenital e o
efeito chaminé de ventilação. No total a tipologia 2 possuía 157 metros quadrados, sendo
70 metros só de varanda. Para essa tipologia Severiano desenhou também uma mudança
de angulação no caimento do telhado, mas diferente da tipologia 1, na 2 Severiano propõe
uma inclinação menor que gerou outro tipo de movimento para a cobertura.
Ambas as casas possuíam uma modulação de pilares de 15x15 cm de 2,50
metros de vão, esse tamanho de vão era recorrente em algumas residências projetas por
Severiano, sendo essas normalmente as que tinham estrutura em madeira, nessas casos,
como no caso de ambas as tipologias apresentadas acima, Severiano sempre coloca nas
plantas o desenho das redes, o que levanta a questão de que essa modulação estrutural
respeitava uma vontade de especializar um elemento cultural da Região Norte, que é dormir
na rede. Esse fator também adicionava um espaço para possíveis hóspedes na casa. As
vigas também eram de 15x15. A cobertura poderia ser revestida tanto de Eternit como de
cavaco de madeira.
Uma das questões que Severiano queria alcançar nesse projeto era a de
conseguir gerar variações para que todas as casas do condomínio pudessem ter uma
unidade entre si, mas que ao mesmo tempo pudessem atender ao gosto do proprietário.
Desse modo, Severiano propõe diversos tipos de detalhamentos para os painéis que
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comporiam a fachada da frente das residências. Por exemplo, os painéis de fechamento
simples, poderiam ser com bandeira e 3 folhas, com bandeira e quatro folhas; já as portas
poderiam ser com bandeira, 3 folhas sendo uma móvel, com bandeira, 3 folhas sendo uma
composta de veneziana com uma porta comum; as janelas poderiam ser veneziana fixa,
guilhotina, pivotante ou comum; sendo que as folhas poderiam ser de madeira crua ou
pintada. Desse modo o proprietário da residência poderia fazer uma combinação de
escolhas que comporiam a sua residência. Enquanto Severiano dá conta no detalhamento
de todo esse potencial de mudança, nas plantas o projeto não chega a esse nível de
riqueza, pois com o tipo de modulação estrutural que foi proposta seria simples fazer
adaptações para se obter salas maiores com varandas menores, um quarto a mais com
menos varanda lateral, menos um banheiro e uma área de serviço, entre outras soluções
que poderiam se adequar a cada tipo de família.
Imagem 11. Detalhamentos de portas e janelas para a tipologia 1 e 2 do Condomínio Praia da Lua
(1979). Fonte: NPD FAU-UFRJ.
Infelizmente este projeto não aconteceu como havia proposto Severiano, os
lotes não foram todos vendidos, a área comum não foi construída, a estrada que deveria
chegar até o loteamento não foi feita e as poucas residências que foram construídas não
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seguiram completamente o projeto, deixando de lado todo o detalhamento proposto. Hoje
quase nada se assemelha ao desenho original de Severiano, pois os poucos proprietários
dos terrenos acabaram comprando as áreas remanescentes e ficando com grandes lotes,
desmanchando o traçado original do condomínio. As poucas residências construídas foram
demolidas ou estão em péssimo estado de conservação, e os proprietários acabaram por
construir novas casas, com piscina e metragem muito superior as que Severiano havia
projetado. No decorrer do período dessa iniciação científica não foi possível levantar todas
as causas desse processo, porém o objetivo é continuar com o tema e ir consolidando as
leituras sobre a obra residencial de Severiano Porto na Amazônia.
imagem 12. Imagem de satélite atual do Condomínio Praia da Lua (1979), residência tipologia 1 em
ruínas, detalhe da janela construída, vista da varanda. Fonte: Google Earth (04/11/15). Fotos: da
autora.
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Referências Bibliográficas
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil/Anos 80. São Paulo, Projeto, 1988. LEE, Kyung Mi. Severiano Mário Porto: A produção do espaço na Amazônia. São Paulo: Dissertação de Mestrado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade de São Paulo, 1998. NEVES, Letícia de Oliveira. Arquitetura bioclimática e a obra de Severiano Porto: estratégias de ventilação natural. São Carlos: Dissertação de Mestrado. Departamento de Arquitetura da Escola de Engenharia de São Carlos. Universidade de São Paulo, 2006. LIMA, Mirian Keiko Ito Rovo de Souza. O lugar da adequação em Severiano Porto: Amazonas. Rio de Janeiro: Dissertação de Mestrado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006. ZEIN, Ruth Verde, PENTEADO, Silvia, YAMASHIRO, Denise. A longa trajetória da efervescência cultural do Rio a Manaus. Projeto. São Paulo, número 83, p. 44-5, jan/1986.
PORTO, Severiano. Transcrição da apresentação do arquiteto Severiano Porto para o Seminário "Artes Visuais na Amazônia", em 09 de novembro de 1984.