Textos auxiliares historia cmf

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Texto auxiliar Tempos Modernos Denomina-se Idade Média o período compreendido entre o fim do Império Romano do Ocidente, em 476 e o fim do Império Romano do Oriente, ou Império Bizantino, em 1453. Naquele período ocorreu no Ocidente o Feudalismo, cujas origens estão na decadência da expansão romana na Europa. A sociedade feudal predominou no velho mundo durante toda a Idade Média e surgiu devido às invasões dos povos bárbaros, que forçaram os nobres romanos a se afastaram das cidades levando consigo camponeses e escravos a eles subordinados, além de representantes da Igreja Católica, já que naquela época a sociedade romana já havia sido cristianizada. Como os vários povos bárbaros dominaram rapidamente a Europa, foi impossível àqueles nobres unirem-se entre si e com isso surgiu o modelo feudal, que tinha uma organização econômica baseada em relações servo-contratuais (servis), em que os grandes latifúndios daqueles senhores romanos e de suas descendências aproveitaram a mão-de- obra dos camponeses para que a agropecuária fosse a base das relações econômicas. Em troca da força de trabalho, os camponeses recebiam o direito a uma gleba de terra para morar, além da proteção contra ataques bárbaros. Seguindo aquele modelo de isolamento, predominavam nos feudos três classes sociais que conferiam seu perfil político, religioso e cultural: a nobreza que guerreava, o clero que orava e o servo que trabalhava. Portanto, o sistema feudal manteve durante os mil anos de Idade Média e durante parte da Idade Moderna uma organização econômica, política e religiosa estática baseada em relações servis e cujo teocentrismo afastou a possibilidade de qualquer manifestação cultural diferente daquilo que a Igreja Católica admitisse. A Idade Moderna foi o período compreendido entre a Tomada de Constantinopla pelos Turcos, em 1453 e o início da Revolução Francesa, em 1789. Apesar dessa visão eurocêntrica que definiu as eras nesse recorte temporal citado, a transição de hábitos e costumes que se iniciou ainda no Século X, fez com que a Europa fosse palco de vários fatos históricos que confirmaram a mudança dos perfis político, econômico, urbano, social e cultural que havia predominado nos últimos mil anos de Idade Média. Entre esses fatos que configuraram aquela mudança de hábitos e costumes temos a ascensão da burguesia mercantil, a formação das Monarquias Nacionais absolutistas em Estados Modernos (povo, território, soberania), a afirmação da cultura renascentista e a ruptura da unidade cristã católica na Europa ocidental em decorrência da Reforma Protestante.

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Texto auxiliar – Tempos Modernos

Denomina-se Idade Média o período compreendido entre o fim do Império Romano do Ocidente, em

476 e o fim do Império Romano do Oriente, ou Império Bizantino, em 1453. Naquele período ocorreu

no Ocidente o Feudalismo, cujas origens estão na decadência da expansão romana na Europa. A

sociedade feudal predominou no velho mundo durante toda a Idade Média e surgiu devido às invasões

dos povos bárbaros, que forçaram os nobres romanos a se afastaram das cidades levando consigo

camponeses e escravos a eles subordinados, além de representantes da Igreja Católica, já que naquela

época a sociedade romana já havia sido cristianizada. Como os vários povos bárbaros dominaram

rapidamente a Europa, foi impossível àqueles nobres unirem-se entre si e com isso surgiu o modelo

feudal, que tinha uma organização econômica baseada em relações servo-contratuais (servis), em que

os grandes latifúndios daqueles senhores romanos e de suas descendências aproveitaram a mão-de-

obra dos camponeses para que a agropecuária fosse a base das relações econômicas. Em troca da força

de trabalho, os camponeses recebiam o direito a uma gleba de terra para morar, além da proteção

contra ataques bárbaros.

Seguindo aquele modelo de isolamento, predominavam nos feudos três classes sociais que conferiam

seu perfil político, religioso e cultural: a nobreza que guerreava, o clero que orava e o servo que

trabalhava. Portanto, o sistema feudal manteve durante os mil anos de Idade Média e durante parte da

Idade Moderna uma organização econômica, política e religiosa estática baseada em relações servis e

cujo teocentrismo afastou a possibilidade de qualquer manifestação cultural diferente daquilo que a

Igreja Católica admitisse.

A Idade Moderna foi o período compreendido entre a Tomada de Constantinopla pelos Turcos, em

1453 e o início da Revolução Francesa, em 1789. Apesar dessa visão eurocêntrica que definiu as eras

nesse recorte temporal citado, a transição de hábitos e costumes que se iniciou ainda no Século X, fez

com que a Europa fosse palco de vários fatos históricos que confirmaram a mudança dos perfis

político, econômico, urbano, social e cultural que havia predominado nos últimos mil anos de Idade

Média. Entre esses fatos que configuraram aquela mudança de hábitos e costumes temos a

ascensão da burguesia mercantil, a formação das Monarquias Nacionais absolutistas em Estados

Modernos (povo, território, soberania), a afirmação da cultura renascentista e a ruptura da

unidade cristã católica na Europa ocidental em decorrência da Reforma Protestante.

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Todas aquelas importantes transformações, que na verdade demoraram séculos para se

consumarem, foram conduzidas pela burguesia, classe vocacionada para ofícios manuais,

formada a partir do Século X à margem da estratificação social feudal e que passou a fugir dos

muros dos castelos e se reunir em comunidades, que foram chamadas de burgos (dai o termo

burgueses). Aqueles burgos foram os embriões dos grandes centros populacionais existentes até

nossos dias. De pequenos trabalhos artesanais com couro, ferro, lã e outras matérias primas quase

sempre adquiridas em terras mais ao Oriente, os burgueses foram estabelecendo Corporações de

Ofício nos burgos visando à formação profissional de suas descendências e foram compondo grandes

feiras que eram montadas nos limites feudais, onde seus produtos eram vendidos em práticas

monetárias que, se inicialmente desafiaram o escambo feudal, aos poucos aquelas práticas foram sendo

assimiladas pelos habitantes das unidades feudais, até que um novo modelo de vida se estabeleceu e

pouco-a-pouco os grandes latifúndios feudais foram cedendo espaço para as cidades que se formaram

ao redor daquelas feiras e das corporações de ofício.

Daquele renascimento urbano e comercial (já que as cidades europeias e o dinheiro e moedas

existiam na época dos romanos), a mudança de relações entre os homens pavimentou a estrada

para o renascimento social e político, que concederam ao homem a sensação de que ele era um

ser importante, racional e que podia produzir, vender e comprar, aguçando a noção que ele era

o centro do processo humano e não Deus, conforme a Igreja Católica havia pregado nos últimos

mil anos. Aquela mudança de enfoque nas relações do homem com a natureza e com o princípio

divino foi chamada de humanismo, filosofia antropocentrista (homem no centro) que marcou a

cultura europeia entre os séculos XIV e XVI, e que, conjuntamente com outros fatores fez surgir

o Renascimento cultural.

O Renascimento Cultural foi um conjunto de transformações das artes e ciências que trouxe

personalidades geniais e revolucionárias em todas as esferas do conhecimento e das ciências, como

Leonardo da Vinci, Dante Allighieri, Michelangelo, Galileu Galilei, Erasmo de Roterdã e William

Shakespeare, entre outros. Aqueles intelectuais, filósofos e artistas expressaram o desejo de renascer

elementos da cultura greco-romana, de forma diferente da cultura medieval, onde as ideias foram

influenciadas pelo Cristianismo e pelos ensinamentos da Igreja. Com isso, criou-se o embasamento

cultural necessário para que a humanidade atingisse novos patamares de conhecimento. O

Renascimento urbano, comercial, social, político e cultural transformou a Europa e seus povos

continentais, peninsulares e insulares, representando uma profunda alteração das relações entre os

seres, que se impregnaram daqueles novos valores burgueses, a partir de novas concepções de vida e

de mundo, menos limitadas e menos monopolizadas pela religião. O Renascimento comercial e

urbano que começou no Século X, conviveu simultaneamente com o social, político, religioso e

cultural que começaram efetivamente no Século XV.

A mudança da mentalidade europeia fez-se presente também na esfera religiosa, fruto do movimento

humanista. Setores da sociedade tornavam-se cada vez mais críticos em relação à Igreja Católica,

principalmente a burguesia, que em ascensão necessitava de uma moral cristã que ao invés de

condenar, estimulasse o acúmulo de capital. A Igreja Católica condenava a cobrança de juros e a

acumulação de dinheiro como praticas pecaminosas, sendo que seus representantes eram donos de

grandes propriedades urbanas e rurais, face à milenar ligação que a instituição tinha com o poder

senhorial e real. O Humanismo renascentista estimulou em muito a Reforma Protestante, que foi

um movimento de contestação à autoridade e ao poder da Igreja de Roma e que levou a

profundas e traumáticas divisões regionais da cristandade ocidental entre católicos e

protestantes. Como a finalidade dos sacerdotes católicos (intermediários entre o homem e Deus)

e os dogmas da Igreja foram motivo de reflexão e crítica, surgiram seguintes movimentos

reformistas:

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Luteranismo: Proposto em 1534 pelo monge alemão Martinho Lutero, que elaborou 95 teses contrárias

à intensa comercialização de indulgências e que pregavam que a salvação somente se dava pela fé e

não pelas práticas religiosas que a Igreja Católica exemplificava.

Calvinismo: Proposto em 1536, pelo monge francês João Calvino, que diferente de Lutero, que

pregava a salvação pela fé, defendia a ideia de que o ser humano estava predestinado por Deus

para a salvação ou para a condenação e que apenas o trabalho honesto poderia alterar aquela

predestinação. A teoria calvinista legitimou a possibilidade do acúmulo de capital, pois a riqueza

material era um sinal da graça divina sobre o indivíduo, sem que ele precisasse tê-la com

remorsos ou sentimentos de culpa.

Anglicanismo: Articulado pelo Rei da Inglaterra Henrique VIII com características diferentes dos

outros movimentos reformistas, não teve motivações prioritariamente éticas ou doutrinárias, mas sim

questões políticas, econômicas, religiosas e pessoais.

Tentando conter aquelas rupturas regionais, a Igreja Católica criou um movimento chamado

Contrarreforma, que foi a tentativa de revigorar e restaurar a união da Europa em torno do

catolicismo. Para tentar barrar o avanço do protestantismo, após a Reforma Protestante, o Papa

Paulo III convocou um concílio na cidade italiana de Trento e que foi realizado entre os anos de

1545 e 1563. Vários assuntos foram discutidos, como a elaboração do catecismo, manutenção do

celibato, manutenção do culto às imagens e santos, criação de mecanismos disciplinares que

buscassem acabar com os desvios morais e administrativos dos sacerdotes, entre outros.

As principais medidas adotadas pela Contrarreforma, porém, foram a instituição da Santa

Inquisição, que tinha como objetivo vigiar, perseguir, prender e punir aqueles que não estavam

seguindo a doutrina católica e que fossem condenados após julgados pelo Tribunal do Santo

Ofício; a criação do Índice de Livros Proibidos (Index Librorum Prohibitorum), que era uma

relação de livros contrários aos dogmas e ideias defendidas pela Igreja Católica e a instituição da

Companhia de Jesus, fundada pelo monge espanhol Inácio de Loiola anos antes, como o braço

educacional da contrarreforma que realizaria a catequização dos não cristãos por intermédio de

escolas religiosas que funcionariam na Europa e missões jesuíticas que seriam enviadas nas

viagens de navegação. Algumas dessas escolas religiosas existem no mundo até os dias de hoje,

conhecidas como colégios Jesuítas. Aqui no Brasil, destacam-se os Colégios Santo Inácio e

Diocesano espalhados pelo país e a Universidade do Vale do Rio dos Sinos, no Rio Grande do

Sul.

Autoria: Maj Fabiano

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Texto auxiliar – Estado Nacional Moderno

A configuração moderna do Estado com seus três elementos característicos

(Soberania, Povo e Base geográfica) surgiu no Século X através do Renascimento

urbano e comercial e se consolidou na segunda metade do século XV, a partir do

desenvolvimento do capitalismo mercantil nos países da Europa centro-ocidental.

Entre as características do Estado Moderno estão a Soberania do Estado, a qual

confere independência em face de outra autoridade externa, a distinção entre

Estado e sociedade civil (o povo) e a existência de um Estado soberano com limites

geográficos (território). As monarquias absolutistas foram a primeira expressão do

Estado moderno e sua formação não seguiu um mesmo trajeto em todos os países

europeus, nem se deu por vias tão pacíficas, mas seguiu em todas as experiências

uma mesma linha de raciocínio: A concessão de um poder celeste aos monarcas e a

hierarquização humana de todas as camadas sociais a esse poder supostamente

divino.

O processo de centralização política que levou à formação dos Estados Modernos foi

longo e avançou com o apoio das classes sociais que existiam na Europa medieval e

moderna: o clero, a nobreza e a burguesia, as quais acreditavam que, com o poder

centralizado em uma só pessoa – o rei – o Estado teria melhores condições de

implementar medidas de seus interesses como uniformizar as moedas, melhorar a

segurança pública e estradas, criar leis de âmbito nacional. Cada um desses grupos era

movido por interesses próprios, muitas vezes convergentes, mas quase sempre

radicalmente opostos.

Vários fatores contribuíram para a formação daquela centralização política, social

e econômica nas mãos dos reis europeus, monarcas surgidos da aglutinação dos

feudos e cidades em pequenos, médios e extensos países peninsulares, insulares e

continentais. Entre esses fatores estão os socioeconômicos, personificados na

crescente e cada vez mais profunda aliança rei-burguesia, união que levou a Europa a

um vertiginoso desenvolvimento econômico calcado principalmente da atividade

comercial, que levou reis e burgueses a ansiarem por expandirem suas relações

econômicas. Além dos fatores socioeconômicos, os fatores políticos e religiosos que

emolduraram a perda de poder cada vez maior dos nobres e da Igreja Católica ao final

da Idade Média foi fundamental para que a expansão do Estado comercial fosse

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conduzido para os princípios que norteariam as práticas mercantilistas. Por fim, os

fatores culturais personificados no Renascimento cultural que levou as universidades a

absorverem cursos que não fossem somente do interesse da Igreja, como por exemplo,

Direito e Medicina que levaram as elites a agregarem interesses nacionalistas que

fortaleceram a personificação do rei como o herói nacional, defensor e protetor da

nação.

O absolutismo foi então a concentração de poder social, econômico e principalmente

político nas mãos de um monarca hereditariamente coroado e que era considerado um

ser divino, acima dos mortais. Toda essa configuração cultural foi legitimada pelo

engajamento da intelectualidade renascentista e por seus discursos literários. Esses

discursos foram importantíssimos para que o regime se consolidasse e fosse aceito

por todos. Dentre os principais pensadores que justificavam o poder real,

destacam-se Nicolau Maquiavel, que em sua obra O Príncipe enfatizou que os fins

justificavam os meios para o rei se manter no poder, Thomas Hobbes, favorável ao

estabelecimento de um “contrato social”, em que todos deveriam renunciar aos

seus direitos em favor do soberano e Jaques Bossuet, que em seus discursos e livros

caracterizava a condição supostamente divina das monarquias.

Como já dito, as monarquias absolutistas não seguiram um mesmo modelo de expressão

política. Na França, por exemplo, a centralização política iniciada no século X, foi

retardada devido à Guerra dos Cem Anos contra a Inglaterra, que durou de 1337

a 1453 e pela sangrenta guerra civil religiosa, entre 1562 e 1598, travada entre a

nobreza católica e a burguesia calvinista (que conduzia os negócios agrários e das

pequenas indústrias de transformação francesas), que se tornou distante dos

interesses do rei face à marginalização social que passou a sofrer.

Com o início da Dinastia Bourbon, um documento pacificador chamado Édito de

Nantes foi assinado concedendo liberdade religiosa à burguesia protestante, que

passou a ajudar na difícil missão de reconstruir o país desequilibrado após 250

anos de guerras. Essa reaproximação foi fundamental para consolidar o

absolutismo na França (que jamais renunciou à sua vocação católica), à medida

que o monarca passou a contar com o apoio do ouro burguês.

Já a Inglaterra, que também iniciou seu processo de formação monárquica a partir do

Século X, possuía uma característica particular que nenhum outro povo europeu tinha

na época: um Parlamento, fator que desde sempre representou limitação ao poder real.

O Parlamento inglês historicamente ficou nas mãos da burguesia, devido à nobreza estar

concentrada na área rural. Como na França, a concentração do poder na mão da

Coroa inglesa também demorou, face à falta de unidade no país, que só foi possível

devido à Guerra dos 100 anos contra a França e devido à unificação da nobreza

após a Guerra das Duas Rosas, que entre 1455 e 1485 dilacerou o território inglês.

A guerra das Duas Rosas terminou com a ascensão de Henrique Tudor, que com o

apoio do Parlamento burguês e da nobreza agrária fundou a Dinastia Tudor, que

representou o auge do absolutismo inglês, face ao rompimento da única força de

oposição que existia: a Igreja Católica, além de ter conseguido manter-se em

equilíbrio com todas as forças sociais e com o Parlamento. A Dinastia Tudor

representou o reequilíbrio que a Inglaterra precisava e durante pouco mais de 100 anos

sua passagem pela vida inglesa representou desenvolvimento e progresso.

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Depreende-se então que França e Inglaterra reuniram elementos comuns à

formação de seus Estados Nacionais Modernos. A Guerra dos 100 anos foi um

destes elementos, à medida que o citado conflito estimulou a delimitação

geopolítica dos territórios daqueles países, incentivou a identificação de seus

habitantes como povos comuns e culturalmente reunidos, além de ter fomentado a

centralização do poder monárquico em bases dinásticas hereditárias e

incontestáveis perante a hierarquização humana do povo nacional. A grande

influência da burguesia foi outro elemento aglutinador dessa marcha rumo à

formação monárquica absolutista. Na França, a presença burguesa mostrou-se

fundamental quando reaproximada do soberano após a pacificação religiosa pela

Dinastia Bourbon, considerada a mais centralizadora de todas, enquanto que na

Inglaterra a existência de um parlamento burguês, mesmo limitador das ações do

rei, contribuiu para que a Dinastia Tudor, a mais centralizadora, mudasse o traço

religioso de um povo milenarmente católico.

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Texto auxiliar

Mercantilismo, Grandes Navegações e Reflexos da expansão do mundo extra europeu

Ao consolidar a centralização política, econômica e social, os monarcas absolutistas da

Europa centro-ocidental sentiram a necessidade de expandir o comércio interno. Para

tal, um conjunto de medidas econômicas de Estado constaram das práticas comerciais

da Europa, tendo como objetivo obter e preservar riquezas, obter matérias primas que

fossem aproveitáveis pela indústria de beneficiamento cada vez mais presente e obter

compradores para os excessos da produção interna. Surgiu então o Mercantilismo,

prática de expansão comercial que vigorou entre os Séculos XV e XVIII e que assumiu

posturas diferentes nos diversos países que a experimentaram.

Qualquer que tenha sido, porém, a tendência mercantilista adotada, as monarquias

absolutistas tentaram, ao aprimorarem suas relações comerciais, superar a escassez de

ouro e prata que já caracterizava a Europa, achar rotas alternativas para a Ásia, em

virtude do bloqueio do Mar Mediterrâneo pelos turcos a partir da primeira metade do

Século XV e obter e preservar riquezas que eram consideradas limitadas.

O mercantilismo originou princípios doutrinários, alguns vigentes até os dias

atuais. Foram eles o metalismo, a balança comercial favorável, o monopólio, o

pacto colonial e o protecionismo. Aqueles princípios ou políticas mercantilistas

partilhavam a crença de que a riqueza de uma nação residia na acumulação de

metais preciosos (ouro e prata), advogando que aqueles metais que eram usados na

cunhagem de moedas seriam atraídos através do incremento das exportações e da

restrição das importações (procura de uma balança comercial favorável). Essa

crença era conhecida como bulionismo ou metalismo. Aliado ao princípio

metalista, outros princípios extremamente característicos do Mercantilismo foram

o monopólio e o pacto colonial, também conhecido como política do exclusivo

metropolitano, que consistia em que o comércio e a produção eram exclusividades

do Estado em relação a suas colônias, ou seja, tudo que fosse extraído das colônias

era monopólio (exclusividade) da metrópole, além de que as matérias primas não

poderiam ser beneficiadas e vendidas para outro país.

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As práticas mercantilistas agiram diretamente no fortalecimento do absolutismo

monárquico e da burguesia mercantil. A sua intensificação propiciou aos Estados

absolutistas reforçar o poder monárquico; promover a burguesia nacional,

provocando seu crescimento; expandir o erário real; viabilizar a aplicação de

recursos para a aquisição de armadas; mobilizar poderosos exércitos e custear

guerras. Cada país construiu sua própria vocação mercantilista, em face de uma série

de fatores, entre eles a pacificação de conflitos externos e internos, a capacidade de

navegar pelo Atlântico em busca de rotas para o Oriente (que ficou conhecido como

ciclo das Grandes Navegações), a descoberta de novas terras que estivessem aptas para

a exploração de metais preciosos, entre outros.

Neste contexto, a Espanha teve muita facilidade de praticar as políticas metalista e

comercial em virtude da grande quantidade de ouro e prata de suas colônias americanas,

enquanto que a França, a Inglaterra e a Holanda, por terem saído tardiamente para o

Atlântico (1520, 1580 e 1590 respectivamente) e com isso não terem encontrado opções

de metais preciosos, tiveram que se especializar em atividades de corso (pirataria),

indústrias de beneficiamento e comércio. Surgiram nesse contexto de cada um desses

países as Companhias de navegação, organizações responsáveis pelo comércio de saída

e entrada de especiarias e que representavam o Estado quer no mar, quer nas colônias.

Portugal, país pioneiro das Grandes Navegações, praticou o princípio mercantilista

comercial, mesmo quando a oferta de ouro no Brasil foi possível após o final do Século

XVII.

E como esses países fizeram para exportar seus excedentes de produção e como

encontraram as matérias primas que usavam em suas atividades fabris? Vejamos então o

que foi o ciclo das grandes navegações atlânticas:

As grandes navegações foram um conjunto de viagens marítimas de longa distância

realizadas pelos europeus, entre os Séculos XV e XVIII, mesmo período do capitalismo

mercantil, devido à necessidade inicial de encontrar um novo caminho para se chegar ao

Oriente e suas regiões produtoras de especiarias e metais preciosos, dentro de uma

realidade de que, pela segunda vez na história, no Século XV, o mar Mediterrâneo havia

sido bloqueado em função da expansão turco-otomana, freando o comércio de

especiarias realizado pelas milenares rotas terrestres traçadas a partir do Mediterrâneo.

Este bloqueio estimulou os europeus na busca de um novo caminho até os fornecedores

orientais, caminho esse que obrigatoriamente tinha que ser pelo Atlântico. Além da

questão comercial, caracterizada pela necessidade de novos mercados, outras questões

políticas empurraram os europeus às grandes navegações, sendo as mesmas razões que

apontaram a necessidade de novas práticas comerciais que dessem vazão à produção

comercial interna cada vez mais pujante. Foram elas a falta de metais preciosos na

Europa, o interesse das monarquias nacionais e seus burgueses em fortalecerem os

Estados e como pano de fundo, a necessidade de propagar o Cristianismo pelo mundo

afora.

Portugal, por sua vez, foi o primeiro país a empreender aquelas navegações

atlânticas que se mostravam tão imprescindíveis. A principal causa dessa

antecipação foi a criação do Estado Nacional português ainda no século XII, após a

expulsão dos muçulmanos. Além da prematura centralização administrativa,

outros fatores contribuíram para esse pioneirismo. Foram eles a necessidade de

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expansão comercial, a posição geográfica privilegiada, a criação da Escola de

Sagres e a ausência de guerras durante os séculos finais da Idade Média.

A expansão marítima de Portugal se deu então ainda no Século XV, em que foram

explorados o litoral da África e Ilha da Madeira, Açores, Cabo Bojador e Cabo Verde. Naquele percurso, os portugueses iam estabelecendo feitorias pelo litoral da África, de

onde obtinham matérias primas diversas, ao mesmo tempo em que escravizavam

africanos prisioneiros de tribos rivais. No final daquele Século XV, a África foi

contornada e um novo caminho para as Índias Orientais foi finalmente descoberto. Após

contornarem o Cabo da Boa Esperança, os portugueses chegaram à Índia e China, na

Ásia e ao Timor Leste, na Oceania. Em todas essas feitorias, Portugal praticou a

organização colonial exploratória. Mas foi o advento da descoberta da América pela

Espanha e posteriormente por Portugal que marcou aquele ciclo de viagens ao

desconhecido.

As práticas de expansão mercantilista e o ciclo das grandes navegações a que se

lançaram os países europeus a partir do Século XV tiveram uma consequência comum:

a dominação das terras que foram gradativamente se tornando possessões, onde foram

obtidas vantagens econômicas exclusivas e a obtenção de novos mercados comerciais

de saída e entrada foram conquistados e com isso os princípios econômicos vigentes à

época se converteram no máximo de lucros possível. Foi assim que surgiu, no contexto

do mercantilismo, o sistema de exploração colonial, que marcou a conquista e ocupação

da América e a exploração comercial de partes da África e Ásia. Com o sistema de

exploração colonial, diversas nações europeias formaram verdadeiros impérios

coloniais. Primeiro, foram Portugal e Espanha; depois, França, Inglaterra e Holanda. E

esses cinco países atuaram em momentos e locais distintos naquele novo e extenso

mundo chamado América.

Como foi formado o império colonial espanhol? A exploração espanhola na América

teve como principal atividade desenvolvida no continente a extração de metais

preciosos. Os espanhóis, logo após empreenderem um sangrento processo de dominação

das populações indígenas da América, efetivaram o seu projeto colonial nas terras a

oeste do Tratado de Tordesilhas. Com a descoberta de ouro no México (1519) e de prata

no Peru (1531), regiões exploradas, respectivamente por Hernán Cortez e Francisco

Pizarro, organizaram-se núcleos mineradores que aproveitaram a grande quantidade de

mão de obra indígena e que levaram cerca de 250 anos para se esgotarem. Este período

foi também o tempo que a Espanha precisou para construir um aparato de dominação

que teve como base a organização de 8 grandes repartições (4 vice-reinos e 4 capitanias

gerais).

Esses vice-reinos e as capitanias gerais eram entregues a uma elite colonial que para

compreendê-la temos que entender como a sociedade colonial espanhola funcionava. Os

critérios que definiam as classes sociais era o local de nascimento. O fato de ser

nascido e criado na Europa ou no Novo Mundo abria caminho para uma série de

privilégios, bem como estabelecia outro campo de restrições que ordenava a

posição dos homens naquele lugar. A pirâmide social extremamente estratificada

era composta por Chapetones, espanhóis que vinham para a América e atuavam

nos mais altos cargos burocráticos da administração e da política, ocupando as

mais privilegiadas posições na sociedade colonial hispânica, tais como cargos de

comando ligados à esfera executiva, legislativa e judiciária. Existiam também os

Page 10: Textos auxiliares historia cmf

Criollos, que eram descendentes de espanhóis, porém nascidos na América. Viviam

como representantes comerciais da metrópole nas colônias e detinham a

propriedade de terras e a exploração da força de trabalho nativa e escrava. Haviam

também os mestiços, indígenas e escravos negros, que eram considerados classes sociais

inferiores.

Pois era exatamente aquela elite colonial que possibilitava a dominação do

território e sua exploração econômica da melhor forma possível. Por mais que

existissem aqueles prepostos em solo americano, a Espanha centralizava todos os

seus planejamentos através de duas organizações que visavam garantir a

coordenação social e política, além do monopólio do comércio. Eram o Conselho

das Índias e a Casa de Contratação. O Conselho das Índias, a quem estavam

subordinados os Chapetones, regulava a administração das colônias e detinha o

poder político sobre as mesmas, orientando todas as atividades administrativas que

se praticavam. Os Vice-reis, Capitães gerais, autoridades militares e judiciais eram

por ele nomeados, sendo a instância final para decidir as divergências surgidas. Já

a Casa de Contratação, a quem estavam subordinados os Criollos, organizava e

controlava o comércio nas colônias e fiscalizava o recolhimento do quinto, que era

o imposto real sobre toda riqueza produzida. A Casa de Contratação se

encarregava do controle de todas as atividades alfandegárias e de transporte de

matérias primas extraídas nas colônias.

A atuação inglesa na América se deu a partir de 1584 com a formação de 13 colônias de

povoamento que inicialmente não atraíram a Coroa inglesa por inteiro devido à grande

extensão e difícil exploração. Aquelas colônias se transformariam nos Estados Unidos

da América. A França, por intermédio de sua Companhia das Índias Ocidentais invadiu

feitorias portuguesas e planejou saques aos domínios ibéricos na América. A Coroa

francesa criou a França Antártica e a França Equinocial em terras brasileiras,

respectivamente no Rio de Janeiro em 1555 e no Maranhão em 1612, ambas erradicadas

pelos governos gerais da colônia.

A Holanda, utilizando sua Companhia das Índias Ocidentais apoderou-se do

nordeste brasileiro entre 1603 e 1654 e manteve o controle sobre os lucrativos

negócios do açúcar, tendo sido expulsa por forças nacionais no episódio que hoje é

reconhecido como o berço da formação da nacionalidade brasileira e do Exército

Brasileiro, pois ao analisarmos a configuração de um Estado moderno, a

população brasileira daquele Século XVII dispunha de um povo já identificado

cultural, étnica e linguisticamente, vivendo em um território também definido,

faltando, contudo, a soberania que estava na coroa do Rei de Portugal. A expulsão

dos holandeses fez surgir um sentimento nativista que produziu 24 rebeliões

separatistas no período de 1650 a 1822, culminando com a conquista de nossa

independência.

Autoria: Maj Fabiano

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REVOLUÇÃO INGLESA

Desembarque do exército holandês de Guilherme de Orange-Nassau na Baia de Torbay em novembro de 1688,

no auge da Revolução Gloriosa

No início da Idade Moderna a Inglaterra era um país agrário, sua burguesia era urbana e a

nobreza era rural, revelando indícios que o Feudalismo inglês demorou muito a se dissolver.

O grande golpe naquele sistema socioeconômico foi o cercamento dos campos

promovido pela Rainha Elizabeth, da Dinastia Tudor, ao final do Século XVI, com o

objetivo de estimular a criação de ovelhas para a produção de lã, dentro do viés comercial das

práticas mercantilistas inglesas. Aquele cercamento não teria produzido grandes êxodos

populacionais do campesinato para os grandes centros urbanos não fosse o fato de que havia

muita terra nas mãos do Estado em virtude da confiscação das terras da Igreja Católica pelo

Rei Henrique VIII, pai de Elizabeth. E todas aquelas terras da Coroa Inglesa foram cercadas.

Consequência? Redução das terras agricultáveis, poucas colheitas no campo, migração de

milhares de camponeses famintos para as grandes cidades, causando a mendicância e a

criminalidade por parte dos desempregados daquela Inglaterra cuja economia radicalmente

mudara para bases em práticas comerciais e no beneficiamento de matérias primas, na maioria

das vezes pirateadas pela Companhia das Índias Orientais.

E como viviam os ingleses daquele final de Século XVI, fugitivos da nobreza rural e agora à

mercê da burguesia comercial das grandes cidades?

“Companheiras inseparáveis de corpos malnutridos e desprotegidos,

as doenças ajudaram a equilibrar o número de bocas e o alimento

escasso, as ofertas de emprego e o número de braços para o trabalho.

Todas as vezes que as colheitas eram insuficientes, seguia-se um

período de fome, vindo logo atrás as epidemias, dizimando pessoas e

fazendo „cair de cansaço‟ os braços dos coveiros... um terço das

Page 12: Textos auxiliares historia cmf

crianças morria antes de completar 1 ano de idade, apenas 58% das

pessoas chegavam aos 15 anos e a esperança média de vida era pouco

superior a 20 anos...”

Miceli, Paulo (As Revoluções Burguesas - Atual Editora, 22ª edição)

Aquele legado de Elizabeth I aponta para uma fundamental adequação da Inglaterra à

realidade mercantilista. Fundamental porque aquele país estava desequilibrado, face ao grande

abismo que existia entre a burguesia rica e a pobreza faminta. Face também aos conflitos

externos e internos (Guerra dos 100 anos e Guerra das duas rosas) que haviam gerado um

atraso na saída para o Atlântico. Tudo bem que esse nivelamento se deu 80 anos após as

primeiras conquistas portuguesas e espanholas, mas se deu. O problema que ele aconteceu

criando multidões de famintos pelas ruas das grandes cidades inglesas.

O estabelecimento de uma cultura comercial a e a expansão da produção por intermédio da

Companhia das Índias Orientais foram medidas fundamentais para trazer a Inglaterra para um

ponto de quase equilíbrio. Quase, porque o capitalismo nascente nas indústrias manufatureiras

das áreas portuárias não deu conta de gerar emprego para tantos camponeses que haviam

migrado para os grandes centros fugindo dos grandes latifúndios, outrora feudos, agora

campos cercados para a criação extensiva de ovinos visando à produção de lã, matéria prima

fundamental para a tecelagem. Mesmo assim, a Inglaterra crescera bastante com os

Tudor, que devido à grande harmonia com o poder político parlamentar são

considerados a Dinastia mais absolutista da história da Inglaterra.

A Inglaterra possuía naquele início de Século XVI um Parlamento, instituição secular que

exercia um poder mediador aos interesses da Coroa e que durante muito tempo apenas

legitimou os interesses das diversas dinastias que se alternaram no poder. E aquela relação de

mútuo respeito e civilizada interação teve um fim por ocasião da morte sem herdeiros de

Elizabeth, pondo um fim à Dinastia Tudor.

“... A riqueza, como se pode ver, estava se concentrando em outras

mãos. Como não poderia deixar de acontecer, o poder político também

deveria ser redistribuído na sociedade inglesa, principalmente para

que fossem eliminados os obstáculos que ainda restavam à expansão do

capitalismo, porque, depois, pouco importava se os reis voltassem a

enfeitar seus tronos... As mudanças que relacionamos ocorreram

quando reinava a dinastia Tudor (1485 – 1603) – época em que pouco

restava das grandes casas nobres que se destruíram reciprocamente

por conta de suas lutas constantes pelo poder. Encerrados os conflitos

internos, o poder dos grandes e tradicionais senhores feudais estava

comprometido na base. A cena política foi pouco a pouco sendo

tomada por novos personagens interessados em construir um país onde

melhor pudessem realizar seus anseios. Para que isso acontecesse,

muitas alianças eram feitas e desfeitas, ao sabor das conveniências.

Assim, enquanto no início do século XVI a Coroa parecia proteger a

burguesia, isso era feito para conseguir reforço contra as casas feudais

ainda existentes, o que explica o acordo inicial entre a Coroa e o

Parlamento – que representava principalmente os comerciantes

urbanos. Havia ainda os inimigos externos, principalmente a Espanha.

Pouco a pouco, contudo, todos eles foram sendo exterminados –

Page 13: Textos auxiliares historia cmf

interna e externamente – e a lua-de-mel entre a monarquia e o

Parlamento, que sob os Tudor raramente se reunia, aprovando sempre

a política real, chegou ao fim. Os interesses opostos das duas partes

vieram à tona e, quando teve início o reinado da dinastia Stuart, Jaime

I (1603 – 1625) e Carlos I (1625 – 1649) tiveram de enfrentar a forte

oposição do Parlamento.

Essa oposição à Coroa crescia à medida que o governo inventava

mecanismos para aumentar seus rendimentos. A primeira consistiu em

aumentar os impostos de alfândega, obter empréstimos forçados e criar

novos impostos. Isso atingiu principalmente a burguesia e deu origem a

violentas disputas... Assim, o Parlamento, que em tempos passados

pouco fazia além de referendar a política real, passou a ser palco de

disputas acirradas onde se misturavam questões religiosas, econômicas

e constitucionais... e o rei não se defendia? Obviamente, ele tentava,

mas faltavam-lhe coisas essenciais para enfrentar forças contrárias.

Em primeiro lugar faltava-lhe um exército permanente... Além disso,

faltava-lhe uma burocracia de funcionários organizada e dependente

do poder central... Finalmente, uma das mais importantes carências de

Sua Majestade: longe de ser pobre, o rei também não era tão rico, e

faltavam-lhe meios para organizar e manter um exército e a tão

necessária legião de funcionários... E foi para tentar conseguir

recursos que o rei imaginou uma última jogada:... tentou controlar a

exportação de tecidos, a principal indústria inglesa. A tentativa

fracassou e a monarquia sentiu em cheio o peso da força da pouco

numerosa burguesia (parlamentar): o Parlamento denunciou toda a

política econômica de Jaime I, que preferindo conservar a cabeça e

perder a Coroa, abdicou em favor de seu filho Carlos, que, com o nome

de Carlos I, subiu ao trono em 1625...

Nem mesmo aquecera o assento da cadeira real, Carlos I decretou a

obrigatoriedade de empréstimos à Coroa, mandando prender quem se

negasse a fazê-lo. Assim, enquanto seu pai se encarregara de por fim à

lua-de-mel com o Parlamento, Carlos I adotou medidas que levaram a

relação ao divórcio irreparável, seguido de violenta oposição. Em

consequência do que considerou abusos de Sua Majestade, o

Parlamento expediu a Petição de Direitos, de 1628, na qual declarava

que era ilegal estabelecer impostos sem o seu consentimento, bem como

prender quem se recusasse a pagá-los. Mais ainda, procurava

impossibilitar o rei a criação de um exército permanente, com o qual

Carlos I certamente se livraria de seus opositores. Um ano após a

Petição ter sido quase imposta ao rei, um golpe dissolveu o

Parlamento, e Carlos I reintroduziu na Inglaterra um governo pessoal,

numa tentativa de reeditar o Estado absolutista...

Carlos I restabeleceu e alargou os tributos, introduziu um imposto

marítimo... finalmente, como não poderia deixar de ser, os efeitos dessa

política despencaram em cheio sobre os pobres, pois à medida que

produziram grandes elevações de preços, tornaram os pobres mais

miseráveis ainda e, o que era pior, sujeitaram-nos à proteção do

Page 14: Textos auxiliares historia cmf

governo ou da Igreja. Rapidamente, em conjunto, todas as forças

sociais foram se pondo contra o rei... em 1642 a guerra civil teve

início...”

Miceli, Paulo (As Revoluções Burguesas - Atual Editora, 22ª edição)

Mas o que foi aquela guerra civil? Para compreendê-la faz-se necessário o entendimento de

alguns antecedentes. Jaime I, que sucedeu Elizabeth I e que se tornou em 1603 o primeiro rei

da Dinastia Stuart, unificou as Coroas irlandesa, escocesa e inglesa numa só Coroa. Quando

Jaime I foi sucedido em 1625, por seu filho, Carlos, que se intitulou Carlos I, essa união de

Coroas começou a ser contestada por irlandeses e escoceses que quiseram tomar caminhos

distintos da Inglaterra. O Parlamento inglês foi fechado em 1629 por Carlos I, após o rei

desconsiderar a Petição de Direitos, lei parlamentar que lhe impunha uma série de

limitações, entre as quais a exigência de que o controle da política financeira seria do

Parlamento. A Petição de Direitos surgira do apogeu de conflitos entre a Coroa e o

Parlamento, que não concordava com a exorbitância tributária a que os reis da família

Stuart quiseram impor aos ingleses. Como o rei precisava do apoio para formar um

exército permanente que lhe possibilitasse fazer frente à rebelião de escoceses e

irlandeses, a Petição de Direitos foi a moeda de troca imposta pelo Parlamento, que lhe

custou a dissolução.

Além de não concordar com as restrições, Carlos I dissolveu o Parlamento e passou a

governar com o apoio da Câmara Estrelada (tribunal formado por nobres de sua confiança).

Além disso, plenamente consciente que a burguesia não era anglicana, mas sim calvinista

puritana, imprimiu uma forte repressão religiosa aos não anglicanos, que causou uma

acentuada fuga de puritanos para a América. Além da burguesia, o dinheiro e o ouro dos

burgueses também fugiram para a costa leste da América do Norte. Os termos daquela

repressão visavam submeter também os irlandeses e escoceses ao anglicanismo promovendo

uma união religiosa, o que causou a invasão escocesa no norte da Inglaterra em 1640.

Aquela invasão apenas somou temperos à extrema crise materializada na miséria do povo, que

sofria com impostos abusivos. Aquela conjuntura forçou o Rei a novamente convocar o

Parlamento naquele ano de 1640. Aquela reconvocação parlamentar se deu face à total

ausência de apoio da burguesia às ações do rei, visto que o parlamento era

predominantemente formado por comerciantes e Carlos I pretendia trazer a burguesia e seu

dinheiro de volta aos interesses da Coroa. O Parlamento impôs o controle dos gastos da Coroa

e a burguesia parlamentar exigiu o comando do exército, bem como a regularidade na

convocação do Parlamento.

O Parlamento, tão logo recuperou o poder, destituiu a Câmara estrelada, despojou o rei de sua

autoridade e aprovou uma lei que tornava obrigatória a sua convocação a cada três anos,

independentemente de determinação do monarca. Enfraquecido, Carlos I concordou para

conter a revolta escocesa. Porém, em 1641, outra revolta agora na Irlanda católica foi o

estopim da Revolução Inglesa. O Parlamento se recusou a entregar o comando do exército

destinado à reconquista da Irlanda a Carlos I, que não se conformando em perder o comando

das forças armadas, saqueou o ouro dos banqueiros ingleses e invadiu o Parlamento a fim de

prender os líderes da oposição.

Não tendo conseguido o êxito na totalidade, pois nem todos os deputados haviam sido presos,

o Rei foi forçado a se retirar de Londres e refugiar-se em Oxford, onde durante um ano reuniu

Page 15: Textos auxiliares historia cmf

um exército de 20 mil homens, financiando-o com aquele ouro roubado. Aquele exército não

regular era formado por cavaleiros aristocratas que ainda usufruíam de benefícios feudais.

Uma violenta guerra civil teve início em 1642 e durou 3 anos. Esse exército particular do rei

lutou com cerca de 10 mil homens liderados por um parlamentar puritano de nome Oliver

Cromwell e financiados pela burguesia calvinista inglesa, escocesa e irlandesa. Estava

caracterizada a Revolução (burguesa) Puritana.

O exército do parlamento liderado por Cromwell foi intitulado de exército modelo (New

Model Army) e era uma organização flexível em que a ascensão se dava por mérito e os

soldados haviam se politizado, pois participavam de comitês que tomavam decisões. Eram os

chamados "cabeças redondas", devido ao modelo de corte de cabelo inspirado no corte

puritano. No rastro desse exército modelo surgiu o partido dos niveladores (Levellers),

pequenos proprietários de terras que defendiam a república, o direito de voto e de

representação no Parlamento a todos os homens livres, o livre comércio, a separação entre a

Igreja e o Estado.

Em 1645, Carlos I foi preso, fugiu para a Escócia e depois de recapturado permaneceu preso

em Londres ainda na condição de Rei, sendo o pomo da discórdia entre as lideranças da

Revolução Puritana, pois algumas queriam sua morte e, o Parlamento especificamente

defendia sua vida. E a permanência em vida do Rei levou a Inglaterra a nova guerra civil, pois

não atendendo às pretensões dos niveladores, que além da morte de Carlos, queriam a

materialização de medidas de igualdade social. A 2ª guerra civil acabou em 1649 e, apoiado

pelo exército, Cromwell criou uma república, que mais parecia um aparelho ditatorial,

tal era o seu poder absolutista sobre o Conselho de Estado (poder executivo) e sobre o

Parlamento, que era o poder legislativo. Em 1653, sob o título de Lorde Protetor,

Cromwell transformou-se em ditador vitalício e hereditário.

Sob a ditadura cromwelliana, as estruturas feudais ainda existentes na Inglaterra

foram eliminadas. Os partidários do rei foram assassinados e suas terras foram

confiscadas e vendidas aos produtores rurais, juntamente com as terras dos líderes da

Igreja anglicana. Legalizou-se a liberdade (não a tolerância) religiosa, a propriedade

absoluta da terra e o cercamento dos campos para produzir para o mercado. O

liberalismo econômico entrou em vigor na prática, o que fez o desemprego ser

minimizado.

Ao mesmo tempo que realizou perseguições políticas, Cromwell deu impulso ao

desenvolvimento comercial e marítimo da Inglaterra, manteve a conquista da Irlanda e da

Escócia e ampliou o império colonial britânico, graças aos Atos de Navegação. No entanto,

após sua morte em 1658, seu filho não conseguiu se manter à frente do governo, pois não

dispunha da mesma autoridade sobre o exército. A descontinuidade do poder carismático de

Cromwell ensejou o retorno da Dinastia Stuart.

Face à grande ameaça de um levante militar, que poderia ser desastroso para a consolidação

das conquistas internas e externas da revolução, o Parlamento burguês resolveu destituir

Richard e restaurar a monarquia, convocando o próximo representante da Dinastia Stuart.

Essa opção foi a mais próxima dos interesses dos militares e das classes econômicas

burguesas que vinham liderando a revolução nos últimos 18 anos.

Charles Stuart, o filho do rei decapitado Carlos I, assumiu então o trono inglês, escocês e

irlandês em 1659 como Carlos II e como não poderia deixar de ser, seu primeiro ato foi

Page 16: Textos auxiliares historia cmf

atritar-se com o Parlamento, ao declarar-se aliado de Luís XIV, da França, o Rei Sol, de quem

requisitou ajuda financeira para reequilibrar as contas do país, o que foi notado como blefe, já

que o período de 10 anos em que Cromwell governou os ingleses serviu para tornar o império

inglês um modelo de expansão capitalista. Logo a proximidade do novo Stuart com o

absolutismo francês tornou-o suspeito ao Parlamento, que se dividiu em duas tendências

partidárias: os liberais (whigs) contrários ao rei e os conservadores (tories), pró-rei. Como

havia equilíbrio entre as partes, Carlos II reinou por longos 26 anos, entre 1659 e 1685.

Como não deixou herdeiros, Carlos II foi sucedido por seu irmão Jaime, que procurou

restabelecer o catolicismo na Inglaterra. Mesmo havendo liberdade (não tolerância)

religiosa como um dos legados da Revolução Puritana, o catolicismo já estava abolido

das práticas culturais inglesas fazia mais de 150 anos, tendo sido reinstalado no curto

reinado de Maria I a duras penas, de uma forma tão traumática que era mal visto pelos

ingleses. Então, um rei católico afastou ambas as facções do Parlamento e novo conflito

surgiu, tornando o reinado de Jaime II mais breve do que ele mesmo esperava.

A questão se agravou quando o Rei teve um filho, que foi batizado nos ritos católicos e o

Parlamento passou a conspirar para que a filha do rei, Maria Stuart, anglicana e casada com o

príncipe holandês Guilherme de Orange-Nassau, assumisse o trono. Guilherme de Orange

desembarcou com suas tropas em 1688 na cidade portuária de Torbay, com um efetivo de 20

mil homens e como Jaime II não aceitou ser deposto, tentou opor-se militarmente ao

desembarque do holandês. Apesar da mobilização, o conflito transcorreu sem derramamento

de sangue entre as tropas holandesas e inglesas, no que ficou conhecido como Revolução

Gloriosa, que culminou com a derrota do monarca inglês e sua deposição.

Com o título de Guilherme III, Orange-Nassau assumiu o trono inglês, unificando as Coroas

inglesa, escocesa e irlandesa à Coroa holandesa. Entretanto, teve que assinar a Declaração

de Direitos, que limitava seus poderes. A declaração, que antes de tudo impunha uma

condição de que o rei deveria respeitar os poderes do Parlamento, previa que o rei não

poderia cancelar leis parlamentares, o Parlamento escolheria o sucessor do rei, o rei não

poderia manter-se no controle do exército e teria suas finanças controladas por

inspetores. Promulgou também o Ato de Tolerância, que oficializou a liberdade religiosa

aos ingleses. Ou seja, a partir da assinatura daquele documento, o Estado estava se

comprometendo a conceder, além da liberdade, a tolerância e a promessa de que nunca

mais nenhum súdito do Rei seria perseguido em nome de Deus. Após a Revolução

Gloriosa, estabeleceu-se a superioridade da lei sobre a vontade do rei, sepultando de vez

o absolutismo na Inglaterra. O parlamentarismo, como sistema de governo estabeleceu-

se definitivamente na Inglaterra, que se tornou, assim, uma monarquia parlamentar.

A Revolução Inglesa foi um longo processo de conflito de aproximadamente 50 anos. Foi

faseada em Revolução Puritana, Protetorado, Restauração da monarquia e Revolução

Gloriosa, divisão didática no tempo, em que os mesmos objetivos permaneceram acesos:

a luta do liberalismo burguês parlamentar contra o poder absolutista monárquico. Os

resultados da Revolução Inglesa foram o estabelecimento de uma monarquia

parlamentar constitucional que extinguiu o absolutismo na Inglaterra, o surgimento das

ideias de liberdade econômica, social e política que tanto influenciaram outras

revoluções burguesas pelo mundo afora, o avanço das práticas capitalistas, a noção de

que o Estado poderia conceder liberdade religiosa e o surgimento de condições

favoráveis para a revolução industrial.

Page 17: Textos auxiliares historia cmf

Texto auxiliar – Iluminismo

O Iluminismo foi um movimento intelectual surgido na França no século XVIII, herdeiro do

Renascimento, importante elo de libertação da razão humana. Com o Renascimento teve em

comum a rejeição ao misticismo, a crença na razão para o conhecimento e compreensão dos

fenômenos naturais e sociais. Até a crença religiosa deveria ser racionalizada. Os iluministas eram

deístas, isto é, acreditavam que Deus está presente na natureza, portanto, também no próprio

indivíduo, que pode descobri-lo por meio da razão, tornando, assim, a Igreja e seus dogmas

dispensáveis. Daí, então, vem a designação dada ao movimento, pois os filósofos desse período

pretendiam “iluminar” a mente das pessoas usando a “luz” da razão. Por isso o século XVIII costuma

ser denominado “Século das Luzes”.

Ao contrário do Renascimento, os iluministas assumiram uma postura contestatória em relação

a diversos aspectos do Absolutismo, entre os quais a centralização política e econômica, que já não

interessavam mais à burguesia, vocacionada a participar cada vez mais das questões políticas e

necessitada de desdobrar as práticas mercantilistas que impediam o livre comércio.

As ideias precursoras do Iluminismo foram o empirismo e o racionalismo, que orientaram o

Cientificismo do Século XVII. Juntamente com a crítica às verdades dogmáticas ressurgidas com

a Contrarreforma, aqueles valores renascentistas sinalizaram a estrada do conhecimento, que tinha

que ser adquirido pela experiência e pela dúvida para que tudo pudesse ter a existência provada de

forma racional. Os principais cientificistas e, portanto, percursores do Iluminismo foram René

Descartes e John Locke. Descartes é considerado o pai do Racionalismo e pregava a razão para se

chegar à verdade e buscava encontrar uma verdade que fosse indiscutível, tendo que duvidar de tudo

até provar a existência de forma racional. Locke, um pensador inglês considerado o “pai do

Iluminismo”, afirmava que o conhecimento era adquirido pela experiência (empirismo).

Os iluministas acreditavam que alguns princípios eram essenciais para a edificação de uma

sociedade mais justa e para a felicidade do ser humano. Eram eles a utilização da razão para a

Page 18: Textos auxiliares historia cmf

compreensão das coisas, a tolerância religiosa, o Liberalismo político e econômico, a igualdade

jurídica entre as pessoas, a liberdade de expressão e educação do povo e o individualismo.

Os pensadores iluministas eram divididos em duas classes: os filósofos, com mente voltada para os

problemas políticos; e os economistas, que estavam voltados para o lado financeiro, com intenções de

aumentar a riqueza da nação. Suas ideias transcenderam em muito as problemáticas filosóficas,

políticas e econômicas, repercutindo na educação e nos estudos sociais.

Para os filósofos iluministas, o homem era naturalmente bom, porém, era corrompido pela sociedade

com o passar do tempo. Eles acreditavam que se todos fizessem parte de uma sociedade justa, com

direitos iguais a todos, a felicidade comum seria alcançada. Por esta razão, eles eram contra as

imposições de caráter religioso, contra as práticas mercantilistas, contrários ao absolutismo

monárquico, além dos privilégios dados à nobreza e ao clero, sempre na orientação que as

monarquias absolutistas se transformassem em Estados constitucionais com poderes

independentes. Os principais filósofos foram Voltaire, Montesquieu, Rousseau e Diderot.

Todos eles influenciaram sobremaneira a sociedade francesa, europeia e colonial daquele final de

Idade Moderna, sendo muito difícil e até injusto estabelecer o que deixou marcas mais significativas.

Porém, os ensinamentos de Montesquieu conseguiram uma abrangência maior no tempo, em

função de sua teoria da separação dos poderes, atualmente consagrada em muitas das modernas

constituições internacionais. Dele foi a inspiração do célebre livro “O Espírito das Leis”, obra que

defendeu a monarquia constitucional inglesa, além de elaborar conceitos sobre formas de governo e

exercícios da autoridade política que se tornaram pontos doutrinários básicos do pensamento político

moderno. Esta obra inspirou os redatores da constituição francesa de 1791 e tornou-se a fonte das

doutrinas constitucionais liberais, que repousam na separação dos poderes legislativo, executivo e

judiciário, como a única maneira de garantir um Estado a serviço dos indivíduos.

Se os filósofos doutrinaram aspectos sociais e políticos, os economistas do Iluminismo nos

ensinaram a importância do livre mercado, que significa que a economia não deve ser dirigida e o

Estado só deve intervir para garantir o livre caminhar e o desenvolvimento da economia. As teses de

economia dividiram-se em duas correntes: a dos fisiocratas e a dos liberalistas. Eram os economistas

iluministas contrários à centralização econômica mercantilista. Seus tratados intelectuais se dividiram

em fisiocratas e liberalistas.

Fisiocracia significa “governo da natureza”. Até pelo fato da França não ser uma nação

mecanizada à época do Iluminismo, os fisiocratas pregavam que a riqueza das nações estava

baseada na implantação de um capitalismo agrário, com o aumento da produção agrícola e

industrial. François Quesnay e Vicent Gournay foram o expoentes daquela corrente de pensamento

que estimulou o entendimento que as atividades comerciais estavam intimamente ligadas às práticas

agrárias e industriais. Quesnay tornou-se um pensador célebre pela consagrada frase “laissez faire,

laissez aller, laissez passer », ou seja, deixe fazer, deixe ir, deixe passar.

A corrente liberalista acreditava que seria a circulação de capital que garantiria o destino de riqueza de

um povo. Para isso, o Estado precisava expandir as atividades econômicas capitalistas, concedendo

liberdade econômica e política para os indivíduos. Entre os liberalistas, Adam Smith foi o que mais se

notabilizou pelo livro A Riqueza das Nações, que pregava que o trabalho livre, sem a intervenção do

Estado era a verdadeira fonte de riqueza para as nações e deveria ser conduzido pela livre-iniciativa

popular. Em sua obra, criticou a política mercantilista, por meio do qual o Estado interferia na vida

econômica, e defendeu que a economia deveria ser dirigida pelo livre jogo da oferta e da procura de

mercado. Além de Smith, as ideias precursoras de Locke e as subsequentes de Malthus e Ricardo

foram essenciais para a formação dos processos que consolidaram o Capitalismo.

Page 19: Textos auxiliares historia cmf

Devido à grande capilaridade intelectual que existia desde o final da Idade Média, diversos monarcas

europeus se deixaram influenciar pelas ideias filosóficas e econômicas iluministas. Como a nobreza

buscava estudar em universidades já consagradas (Cambridge, Salamanca, Paris, Roma, Florença,

etc.), muitas vezes fora de suas fronteiras, acabavam por tomar contato com aquelas ideias de

liberdades, desenvolvimento e progresso. Com isso, ao retornarem aos seus reinos, impérios,

condados, ducados, etc, tentaram harmonizar seus governos com as ideias iluministas, a fim de

modernizarem as instituições sociais, políticas e econômicas, forçando o desenvolvimento de seus

países.

Quase sempre, porém, era impossível modificar as estruturas absolutistas vigentes a curto prazo, até

porque os jovens estudantes demoravam a assumir o trono ou estavam comprometidos com

casamentos políticos arranjados em outra nação. Contudo, quando eles conseguiram alterar a marcha

da história de suas nações, ficaram conhecidos por déspotas esclarecidos, ou reis filósofos, ao

governarem países atrasados economicamente e com uma aristocracia culta e refinada, apta a

ajuda-los a promover mudanças lentas e graduais. Outra característica em comum dos países

governados por déspotas esclarecidos é que nenhum deles contava com uma burguesia

partidária da liberdade de mercado e/ou com força suficiente para fazer prevalecer suas

opiniões, como acontecia principalmente na Inglaterra e, em menor escala, na França.

Os déspotas esclarecidos promoveram uma série de reformas públicas, como incentivo à educação

pública, por meio da construção de escolas, do apoio a academias literárias e científicas e o

aperfeiçoamento do sistema de arrecadação tributária, procurando tornar menos opressiva a carga de

tributos cobrados das classes populares. Destacaram-se Frederico II, da Prússia, discípulo de Voltaire,

Catarina II, da Rússia: amiga de iluministas como Voltaire e Diderot, José II, da Áustria e o Marquês

de Pombal, ministro do Rei José I, de Portugal, que estimulou o comércio e as manufaturas

portuguesas, reformou o ensino, expulsando os jesuítas de Portugal e do Brasil e harmonizou as

demandas por desenvolvimento com alguns privilégios que as classes sociais próximas ao rei

possuíam.

Autoria: Prof Fabiano

Page 20: Textos auxiliares historia cmf

Texto auxiliar – Revolução Industrial

A Revolução Industrial pode ser definida como o conjunto de transformações sociais e econômicas

ocorridas no período entre 1750 e 1860, relacionadas com a substituição da produção manufatureira

artesanal pela produção em série, realizada por trabalhadores assalariados, com o uso predominante de

máquinas. A Revolução Industrial ensejou o surgimento do capitalismo industrial e a redução

dos custos de produção, ampliando o mercado consumidor.

O processo de industrialização em série começou na Inglaterra, na segunda metade do século XVIII e

seu aparecimento se deve a três fatos históricos abrangentes à toda a Europa Centro-Ocidental:

a revolução comercial entre os Séculos X e XV, o acúmulo de capitais que se deu na livre circulação

das mercadorias, nesse mesmo período e a expansão comercial marítima iniciada no Século XV,

que dinamizou a produção industrial, face à grande e variada quantidade de matérias primas

advindas das colônias e que fez surgir novos mercados compradores dos excedentes de

produção.

Vejamos as três etapas iniciais do crescimento da produção econômica, revisando as duas primeiras. A

atividade de transformação de matérias-primas em bens passou por diferentes etapas no que se refere

aos aspectos técnicos e de organização do trabalho. A primeira delas foi a produção artesanal ou

artesanato, que predominou na Idade Antiga e Idade Média. Era realizada de forma manual, com o

auxílio de ferramentas e em pequena escala. O artesão trabalhava em casa ou oficina e tinha o

controle sobre as diversas fases da produção. Essa fase artesanal coincide com o Renascimento

Comercial, que causou o resgate das relações comerciais que ajudaram a sufocar o modelo de

isolamento feudal. A produção artesanal fez surgir o Capitalismo, na sua forma comercial.

A segunda etapa do crescimento econômico foi a da produção manufatureira ou manufatura, que

predominou na transição entre a Idade Média e a Idade Moderna, e por toda esta. As manufaturas

eram oficinas onde dois ou mais artesãos trabalhavam sob o controle do dono da manufatura. Começaram a produção em série e um sistema de divisão de trabalho, pelo qual cada artesão passou a

cumprir uma tarefa específica dentro do processo de fabricação de um mesmo bem. Essa fase

manufatureira correspondeu ao ciclo das grandes navegações mercantilistas e, por conseguinte,

Page 21: Textos auxiliares historia cmf

ao Capitalismo Mercantil, aquele da busca por novos mercados de matérias primas e

consumidores.

A terceira etapa do crescimento econômico (e última do atual objeto de estudo) foi a da produção

mecanizada ou maquinofatura: As máquinas foram gradativamente substituindo as ferramentas e o

trabalhador, que deixou de ser artesão para se tornar operário (trabalhador assalariado), passando a

realizar sua tarefa em linhas de montagem nas fábricas no processo que foi chamado Revolução

Industrial e que deu origem ao Capitalismo Industrial. Neste estágio da produção econômica, o

operário foi alienado do meio de produção. Mas o que é alienação do trabalho? O fenômeno da

alienação é o fato de o trabalhador não se enxergar na mercadoria por ele produzida, ou seja, o

trabalhador é separado do produto final do seu trabalho porque sua força de trabalho

produtora do meio de produção é vendida em troca do salário.

Essa dita mecanização da produção econômica se deu após a invenção do motor a vapor, movido a

carvão mineral e que possibilitou a dinamização dos processos industriais. As máquinas inventadas a

partir da invenção do motor a vapor, possibilitaram a economia de força física e a agilidade no

transporte e no manuseio das partes de um todo que era industrializado. Surgiram então a máquina de

fiar, o bastidor hidráulico, o barco a vapor e a locomotiva. Estas máquinas marcaram a substituição

da energia física pela energia mecânica no processo de produção de mercadorias e no

encurtamento de distâncias físicas, quer entre a produção e o mercado consumidor, quer entre a

produção e as matérias primas.

Vimos anteriormente que três fatores históricos estimularam o gradual surgimento da Revolução

Industrial: A revolução comercial, a circulação comercial e a expansão comercial. Vimos também que

foram abrangentes aos países que se lançaram ao capitalismo mercantil. Porém, o fenômeno

Revolução Industrial só foi possível face ao pioneirismo inglês. E esse pioneirismo foi composto por

fatores geográficos, econômicos, sociais e políticos. Surgiu, antes de tudo, do investimento

realizado pelos governantes ingleses na adequação da economia daquele país aos reclames do

capitalismo comercial e à grande massa de desempregados que havia nos grandes centros urbanos

da Inglaterra, devido à migração consequente do cercamento dos campos ocorrido cerca de 170 anos

antes. Aquela farta oferta de mão-de-obra, aliada ao aprimoramento do maquinário industrial ocorrido

na primeira metade do Século XVIII, acarretou o desenvolvimento dos meios de produção. Note-se,

porém, que mesmo que a grande massa de desempregados se devesse em parte à migração

econômica do cercamento dos campos, a Revolução Industrial foi um fenômeno urbano.

O pioneirismo da Inglaterra se deu em virtude a muitos fatores históricos próprios e que contribuíram

para que aquele pais saísse na frente no processo de mecanização industrial no século XVIII. Além

dos já mencionados fartura de mão-de-obra e investimento governamental que produziu o

expansionismo marítimo e colonialista, o mais fundamental de todos foi o surgimento do motor a

vapor, graças à invenção do britânico James Watt. Outros fatores também merecem destaque: A

liberalização da economia, a instalação da monarquia parlamentar e o triunfo das liberdades

sociais, produtos da Revolução Inglesa. A supremacia naval, a abundância de recursos naturais

em carvão mineral e minério de ferro, e a posição geográfica, que fez daquela ilha à margem da

Europa Ocidental um importante ponto de escoamento da produção, acesso ao comércio

marítimo e exploração dos grandes mercados ultramarinos.

O rápido processo de industrialização logo fez surgir grandes centros industrializados, entulhados de

cortiços onde residia o operariado. As demandas cada vez maiores da dinâmica industrial

contrastavam com as precárias condições de vida daqueles que trabalhavam nas fábricas, que aliadas à

inexistência de limites trabalhistas polarizaram os trabalhadores no lado oposto do intenso debate que

se deu entre as demandas econômicas dos donos dos meios de produção e as necessidades sociais da

classe trabalhadora. No centro desse debate estavam trabalhadores e empresários, com seus interesses

Page 22: Textos auxiliares historia cmf

conflitantes e polarizados: de um lado, as reivindicações por condições dignas de trabalho dos

operários; do lado oposto, a preocupação da burguesia industrial em aumentar seus lucros. A polêmica

decorrente desse conflito de interesses contribuiu para a elaboração de várias teorias sociais. Algumas

justificaram os rumos da nova sociedade industrial capitalista; outras, identificadas com os interesses

dos operários, denunciavam a exploração do trabalho e pregavam uma sociedade mais livre e justa. As

duas principais correntes que surgiram representando essa polarização foram o Liberalismo e o

Socialismo.

Entre as teorias que justificaram a sociedade industrial capitalista, destacou-se a corrente do

liberalismo econômico, cujos principais representantes foram os economistas britânicos Adam Smith,

Thomas Malthus e David Ricardo. Esses intelectuais pregavam o trabalho livre e a independência as

práticas econômicas perante o Estado. O Liberalismo econômico como teoria científica cunhou o

perfil do Estado Liberal, que hoje conforma a maioria dos Estados Nação que existem.

Entre as teorias que criticaram a exploração dos trabalhadores e as injustiças da sociedade industrial,

destacou-se o socialismo, que se opunha, de modo geral, ao liberalismo burguês e ao capitalismo. Suas

principais correntes foram o Socialismo Utópico, o Socialismo Científico e o Socialismo Cristão. O

utópico defendia uma sociedade ideal, com igualdade de classes, em que cada trabalhador

receberia seu salário de acordo com suas horas de trabalho. Foi assim denominado por ser uma

utopia (aquilo que é ideal, aceitável apenas no campo das ideias por não ser possível de ser

alcançado).

O Socialismo Científico, pensado pelos alemães Karl Max e Friedrich Engels, desenvolveu

posteriormente a corrente socialista conhecida como marxismo e resultou da observação crítica das

realidades socioeconômicas da Europa na fase da Revolução Industrial e no período

imediatamente posterior. Marx e Engels afirmaram que, ao longo da História, as sociedades

foram marcadas pelo conflito ou luta de classes, originada das condições em que as riquezas

eram distribuídas entre os homens. Eles propunham o fim da propriedade privada e a união do

operariado com o propósito de derrubar os capitalistas e instituir a ditadura do proletariado.

Instituindo um governo socialista, as desigualdades e as classes sociais deveriam ser abolidas. Os

meios de produção deveriam ficar nas mãos do Estado e toda riqueza deveria ser

igualitariamente dividia. Acreditavam que a luta de classes só terminaria com a construção da

sociedade comunista perfeita.

Não só no campo teórico ficaram as contestações e as inovações trazidas pela Revolução Industrial. Os

trabalhadores chegaram à conclusão que teriam que se organizar para lutar por melhores condições de

trabalho e reivindicar seus direitos. Os empregados das fábricas, então, formaram as Trade Unions

(entidades de auxílio mútuo entre os trabalhadores). Houve também o Ludismo que foi uma das

primeiras formas de luta dos trabalhadores. O movimento ludista era formado por grupos de

trabalhadores que invadiam as fábricas e quebravam as máquinas, por achar que as mesmas

eram as responsáveis pela sua infelicidade. Os ludistas conseguiram algumas vitórias, por exemplo,

alguns patrões não reduziram os salários com medo de uma rebelião.

As principais consequências do fenômeno industrial pairam no avanço social e econômico advindo da

mecanização dos meios de produção e da divisão social do trabalho. Entre as principais mudanças

ocorridas podem ser citadas a divisão técnica do trabalho, a utilização constante de máquinas, a

afirmação do capitalismo como modo de produção dominante, a redução dos custos de

produção, a ampliação dos mercados consumidores, o aumento da população urbana, a baixa

remuneração, carga excessiva de trabalho, desemprego e criação de reservas de mão-de-obra, a

alienação dos meios de produção e o surgimento de avanços científicos que possibilitaram a 2ª

Revolução Industrial que ocorreu cerca de 100 anos depois da primeira, no meio do Século XIX.

Autoria: Prof Fabiano

Page 23: Textos auxiliares historia cmf

Texto auxiliar – Revolução Francesa

A Revolução Francesa foi um movimento político e social, iniciado em 1789 e que

durou até 1799. Suas causas remontam à Guerra dos 100 anos, cerca de 400 anos antes.

Apesar de ter sido um levante popular, foi liderado pela chamada baixa burguesia ou

burguesia intelectual, formada por artesãos, industriais, escritores, professores e

pequenos comerciantes. Ao aniquilar a política mercantilista, os resquícios do

feudalismo ainda existentes na França, o poder do clero e da nobreza, e

temporariamente ter anulado o absolutismo monárquico, a Revolução Francesa propôs

um fim ao Antigo Regime e os resultados políticos da crise do estado monárquico

francês foram, ao final, capitalizados pela burguesia, que pôde assim dar início à

viabilização de seus interesses políticos e econômicos.

Por Antigo Regime (Ancien Régime) devemos entender o sistema social, econômico e

político aristocrático estabelecido na Europa, concebido em torno da nobreza e que

prosperou devido ao caráter dinástico das diversas monarquias europeias entre os

Séculos XIII e XIX. A difusão do modelo do Antigo Regime ou Absolutismo deveu-se

muito aos laços parentais que existiam entre os monarcas. Revisando, as características

daquele sistema eram:

O Antigo Regime possuía características econômicas, sociais e políticas distintas do

sistema feudal. No campo econômico, houve a transição do Feudalismo para o

Capitalismo comercial e dele para o mercantil. No campo social, as classes sociais eram

estamentais, sem mobilidade. No campo político, o poder estava na mão do rei, que o

conduzia de forma centralizada e autoritária.

Page 24: Textos auxiliares historia cmf

Várias e seculares foram as causas que levaram ao levante de 1789. São causas que

percorrem o tecido social, as práticas econômicas e a centralização política da nobreza

dinástica.

As causas sociais estão ligadas à profunda desigualdade que existia na população

francesa, que estava dividida em três estamentos ou classes sociais sem mobilidade,

caracterizadas pela condição de nascimento e pela vocação de servir ao Deus daquela

França exageradamente católica. As classes sociais ou Estados eram o 1º Estado,

composto pelo clero, o 2º Estado, composto pela nobreza e o 3º Estado, que

aglutinava o restante da população, quer tivessem dinheiro, como os burgueses, ou

não, como os camponeses e os populares urbanos, que por se trajarem

diferenciadamente dos nobres eram apelidados de Sans-culottes, como o que está

ilustrado no início de nosso texto auxiliar. O clero e a nobreza tinham vários

privilégios: não pagavam impostos, recebiam pensões do estado e podiam exercer

cargos públicos. Já o 3º Estado além de não ter benefícios, estava sujeito aos

pesados impostos que sustentavam a máquina administrativa francesa.

As causas econômicas remontam, como já foi dito, à Guerra dos 100 anos e os 400

anos de desequilíbrio econômico, minorado em alguns momentos como por exemplo o

período de tolerância religiosa após o Edito de Nantes, apresentava profundos sinais de

crise em vários setores naquele final de Século XVIII. A agricultura, base da economia

francesa, devido ao rigor do clima na década de 1780 provocaram fome e revolta na

população excluída. A indústria sofreu uma séria crise a partir de 1786, devido ao

Tratado de Eden com a Inglaterra. O comércio deteriorou-se a partir da 2ª metade do

Século XVIII, principalmente em virtude da Guerra dos Sete Anos, em 1756-63, que

fez a França perder suas colônias nas Antilhas, Canadá e Índia, diminuindo o fluxo de

matérias-primas para a sua indústria manufatureira. E, por último, as finanças do

governo francês atravessavam um colapso desde o reinado de Luís XIV, pois as

despesas do Estado eram muito superiores às receitas do Tesouro Público. Para

sustentar a máquina administrativa, somente o 3º estamento tinha que arcar com os

pesados impostos.

A influência dos ideais iluministas também foi uma considerável marca para as

mudanças que se processaram naquela França injusta e em profunda crise. O ideal

iluminista de Igualdade, Liberdade e Fraternidade reverberava em cada francês

oprimido. A Revolução Inglesa igualmente se mostrou um caminho para o povo

francês alcançar as tão necessárias liberdades políticas, sociais e econômicas. E a

Independência dos Estados Unidos, apoiada pelo Estado Francês soava como um

incompreensível antagonismo: Por que a independência das colônias inglesas na

América havia sido estimulada pelo Rei da França, se o povo francês padecia das

injustiças próprias dos regimes absolutistas?

A revolução teve cinco fases específicas. A Revolta da aristocracia, em 1789, a

Assembleia nacional constituinte, entre 1789 e 1791, a Monarquia constitucional,

entre 1791 e 1792, a Convenção, entre 1792 e 1795 e o Diretório, entre 1795 e 1799.

Para entendermos a Revolta da aristocracia, faz-se necessário regredir no tempo até a

revogação do Edito de Nantes, em 1685, quando a burguesia novamente se afastou dos

negócios do rei e a França retomou sua rota em direção ao caos. Os próximos 100 anos

seriam de profunda crise, em que o 3º Estado seria o pagador da conta. Ao recrudescer a

Page 25: Textos auxiliares historia cmf

crise econômica no final da década de 1780, Luís XVI promoveu uma severa reforma

tributária, por proposta de seus ministros das finanças, que aumentou a carga tributária

do 3º Estado, além de tentar cobrar impostos também da nobreza e do clero, que

historicamente eram isentos de tributação. Para tal, Luís XVI convocou em 1788 a

Assembleia dos Notáveis, composta por nobres, que se recusaram a apoiar a

universalização tributária.

Como a recessão econômica atingira seu ápice, até porque a aristocracia se negou a

contribuir com a reforma tributária e como não havia mais como extrair recursos dos

miseráveis, Luís XVI, por influência do ministro das finanças Jacques Necker,

convocou a Assembleia dos Estados Gerais, que era um órgão consultivo, que

agregava os três Estados e que não se reunia havia 175 anos, para discutir o aumento de

tributos. Para isso, fizeram-se eleições e o voto censitário elegeu uma quantidade de

membros do 3º estado maior do que estava prevista.

Os Estados Gerais sempre votaram por estado e, desta forma, o 1º e 2º Estados (clero e

aristocracia) se uniam e sempre derrotavam o 3º Estado por 2x1. Só que em 1789,

diferente de 1614, o 3º Estado exigiu, por possuir 578 representantes, 17 a mais que

o do 1º e 2º Estado somados, que a votação fosse por número de representantes e

não por representatividade dos Estados. Tal fato provocou uma forte reação dos

aristocratas e do alto clero, que boicotaram a reunião impedindo os integrantes do

3º Estado de entrar na Assembleia dos Estados Gerais.

Apoiados pelo rei, a nobreza e o clero recusaram a proposta do 3º Estado, que

revoltados, se proclamaram em Assembleia Nacional Constituinte, com o objetivo de

elaborar uma nova Constituição para a França. Paralelamente à insurreição dos

Deputados do 3º Estado, o povo se revoltou e a revolta se espalhou por toda França,

havendo massacre de nobres e retirada de seus bens, num período que ficou conhecido

como Grande Medo.

Luís XVI reagiu e organizou tropas para lutar contra os populares, mas a revolta

liderada pela burguesia, militarizada na chamada Guarda Nacional, já tomara conta das

ruas. Principalmente porque no dia 14 de julho de 1789, uma multidão invadiu a

prisão da Bastilha, símbolo do poder absoluto do rei e assaltou todo o suprimento de

pólvora da Coroa Francesa. Sem força para dominar a agitação, o rei foi obrigado a

reconhecer a legitimidade da Assembleia Nacional Constituinte.

A Assembleia Nacional Constituinte trabalhou por dois anos e, ao fim, promulgou uma

Constituição, decretou o fim dos direitos feudais sobre os camponeses, dos privilégios

tributários do clero e da nobreza e extinguiu o regime feudal na França. Também

aprovou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, uma espécie de Código

Civil, que, entre outras melhorias, estabeleceu a igualdade dos cidadãos perante a

lei e os direitos às liberdades individuais (expressão e pensamento) e à propriedade

privada. As terras da Igreja foram confiscadas e o Clero foi subordinando à autoridade

do Estado.

Uma das marcas daquela 1ª Constituição Francesa foi a instituição da Monarquia

Constitucional no país, nos moldes da vizinha Inglaterra. A Assembleia Constituinte

foi dissolvida e foi eleita a Assembleia Legislativa. Naquele ano de 1791, Luís XVI

Page 26: Textos auxiliares historia cmf

tentou fugir do país, mas foi preso e levado de volta a Paris, onde foi mantido sob

vigilância.

A Assembleia Legislativa passou a ser dominada pela alta burguesia, cujos

interesses de liberdade comercial, direito à propriedade privada, criação de três poderes

(Legislativo, Executivo e Judiciário) e manutenção da representatividade popular

pelo voto censitário foram contemplados na nova Constituição.

Face à prisão da família real após a fracassada tentativa de fuga, os Impérios Russo e

Austríaco e o Reino da Sardenha, temerosos de que a revolução se alastrasse para seus

territórios, criaram a Primeira Coligação militar, a fim de restaurar a monarquia

absolutista francesa, o que fez a França entrar em guerra contra aqueles países em 1792,

guerra que foi vencida com facilidade, exceto contra a Inglaterra que aderiu

posteriormente à Coligação e que, com sua entrada, fez o conflito se arrastar por

mais cinco anos. A Inglaterra, país liberal há 100 anos entrou na luta em 1793

contra os franceses, após a morte de Luís XVI, descontente que estava seu governo

com os rumos repressores que a Revolução Francesa já estava tomando.

Os líderes da Revolução decidiram proclamar a República em setembro de 1792. A

Assembleia Legislativa foi dissolvida e foi criada a Convenção Nacional, cuja

missão principal seria elaborar uma nova Constituição, agora, de caráter

republicano, inspirada nas ideias democráticas de Rosseau. Os deputados da

Convenção Nacional eram divididos em cinco organizações políticas: Girondinos,

representantes da alta e média burguesia, interessados em colocar a França em caminhos

de desenvolvimento e manter-se a paz com os vizinhos monarquistas; os Jacobinos,

representantes da pequena burguesia e sains-culottes, eram liderados por

Robespierre e defendiam posições mais radicais e de interesse popular; os

Pântanos, apoiadores dos girondinos; os Cordeliers, representantes das camadas

populares e, os Feuillants, representantes da burguesia financeira.

Em 1792, Luís XVI foi julgado e condenado à morte por influência dos jacobinos. A

execução do rei e da família real em 1793, provocou a ruptura entre Girondinos e

Jacobinos e, externamente, provocou o recrudescimento das lutas externas, pois vários

países até então neutros, como a Inglaterra, se juntaram à 1ª Coligação com o objetivo

de derrotar a França. Além da pressão externa, problemas internos como o agravamento

da crise econômica e as brigas entre as facções que compunham a Convenção provocam

uma insurreição popular em Paris. Para enfrentar essa reação, os Jacobinos

prenderam e eliminaram os principais líderes Girondinos e deram um golpe de

estado, criando o Comitê de Salvação Pública, responsável pela administração e

defesa do país e o Tribunal Revolucionário, encarregado de vigiar e punir os

opositores da revolução.

A partir do golpe de estado Jacobino, a recém-instalada ditadura espalhou um regime de

perseguição que ficou conhecido como Terror. A liderança desse modelo de

esmagamento da oposição foi conduzida por Robespierre, que teve alguns êxitos no

externos, ao conter o ataque das forças estrangeiras e, internos, adotando algumas

medidas populares, como sufrágio universal (voto), reforma agrária, aumento de

impostos para os mais ricos, tabelamento de gêneros alimentícios, apesar de espalhar

um repressor esquema de extermínio de opositores ao regime.

Page 27: Textos auxiliares historia cmf

Devido ao exagero das execuções arbitrárias e às sucessivas caracterizações de delírio

mental, Robespierre perdeu apoio popular e ficou isolado politicamente. Os Girondinos,

mesmo exilados, mas com o apoio dos Pântanos, o prenderam e guilhotinaram ele e

todos os demais líderes Jacobinos, finalizando aquele período de terror, totalmente na

contramão do que pretendera a Revolução Francesa e seus ideais de Liberdade,

Igualdade e Fraternidade.

Após a execução de Robespierre, a Convenção passou a ser controlada pela alta

burguesia Girondina, que votou uma nova Constituição e restabeleceu o voto

censitário. Em outubro de 1795, os monarquistas tentaram tomar o poder, sendo

sufocados por Napoleão Bonaparte, que recebeu a recompensa de comandar as forças de

ocupação militar na Itália. A Convenção foi então dissolvida para dar lugar ao

Diretório. O Diretório era composto por cinco membros eleitos pelo Poder Legislativo

e vigorou de 1795 a 1799, período em que tentou conter o descontentamento popular e

afirmou o controle político da burguesia sobre o país, apesar da grave crise pela qual o

país passava, devido à forte inflação e à corrupção administrativa generalizada.

Paralelamente, a França voltou a ser ameaçada pelas forças estrangeiras que formaram,

em 1798, a Segunda Coligação militar (Reino Unido, Império Russo, Reino de

Nápoles, Império Austríaco, Reino de Portugal e Império Otomano) e a situação

agravou-se. Foi então que Napoleão Bonaparte, de volta da campanha do Egito, dotado

de grande prestígio e contando com o apoio de Girondinos e do Exército, deflagrou um

golpe de Estado. Em 10 de novembro de 1799, dia 18 do mês revolucionário

Brumário, Napoleão dissolveu o Diretório e estabeleceu um novo governo,

denominado Consulado. Esse episódio ficou conhecido como Golpe de 18 do

Brumário.

A Revolução Francesa foi um marco para a história ocidental porque representou a

queda do Antigo Regime na França, mesmo que depois ele viesse a ser retomado. Para

a França, aquele movimento representou o fim da servidão e dos privilégios

feudais, a organização civil dos cidadãos, o confisco dos bens do clero e de parte da

nobreza, a reforma do Exército e da Justiça. Suas ideias iluministas nortearam os

movimentos de emancipação de colônias e geraram mudanças políticas, sociais e

econômicas no mundo.

Sua trajetória demonstrou de forma pioneira que o ideário liberal (mínima interferência

do Estado, igualdade de todos perante a lei, liberdades econômicas e políticas e defesa

da propriedade privada) não respeitado como havia sido na Inglaterra após a Revolução

Inglesa, levou a França a golpes de estado que a fizeram marcar passo por mais 80 anos.

Ela é considerada a mais importante dentre as revoluções burguesas ocorridas na Europa

e, historicamente, sua influência marcou o fim da Idade Moderna e o início da Idade

Contemporânea.

Autoria: Prof Fabiano

Page 28: Textos auxiliares historia cmf

Texto auxiliar – Era Napoleônica e Congresso de Viena

Denomina-se Era Napoleônica o período de aproximadamente 15 anos em que

Napoleão Bonaparte governou a França, comandando um processo que resultou na

conquista de boa parte da Europa pelas forças francesas. Utilizou-se, para isso, de sua

habilidade de estrategista e líder. Esse período pode ser dividido em três etapas

principais: Consulado, entre 1799 e 1804, Império, entre 1804 e 1814 e Governo dos

100 dias, em 1815.

Napoleão Bonaparte tornou-se General aos 24 anos e despontou para a política quando

em outubro de 1795 sufocou uma tentativa de tomada do poder pelos monarquistas que

durante todo o período da Revolução Francesa acalentaram o sonho de voltarem ao

comando da França. Napoleão recebeu a recompensa de comandar as tropas francesas

de ocupação na Itália. Após aquele incidente, a Convenção Nacional foi dissolvida e em

seu lugar surgiu o Diretório, composto por cinco membros eleitos pelo Poder

Legislativo.

O Diretório funcionou em aliança com o exército e tinha como missão conter o

descontentamento popular causado pela grave crise social e econômica pela qual o país

passava. O Diretório elaborou uma nova Constituição, que em suas linhas gerais buscou

fortalecer a burguesia e deixar a população francesa livre de duas grandes ameaças: do

terror Jacobino e das práticas absolutistas.

Durante o período em que vigorou, até 1799, a França voltou a ser ameaçada pelas

forças absolutistas vizinhas que formaram a Segunda Coligação militar e Napoleão

Bonaparte foi designado para comandar o Exército Nacional Francês na defesa da

Page 29: Textos auxiliares historia cmf

República ameaçada. Aproveitando a confusão da ameaça externa e a desestabilização

política, Napoleão deflagrou um golpe de Estado em 10 de novembro de 1799, golpe

totalmente apoiado pelos Girondinos. O episódio ficou conhecido como Golpe de

18 do Brumário, em alusão ao calendário revolucionário francês. Ato contínuo, o

Diretório foi dissolvido e um novo sistema de governo foi criado, o denominado

Consulado.

O Consulado caracterizou-se como um governo republicano burguês, centralizado

e controlado por três cônsules. No plano externo, Napoleão conseguiu neutralizar as

forças da 2ª Coligação (Inglaterra, Áustria, Rússia e Turquia), o que trouxe a

tranquilidade necessária para a reorganização do país. O período do Consulado

caracterizou-se pela reorganização jurídica e administrativa do Estado e pela

recuperação de sua economia.

Entre as diversas realizações do Consulado, podemos citar o saneamento financeiro,

com a criação de um corpo de funcionários para arrecadação de impostos; a criação

do Banco da França; a criação da Sociedade de Fomento à indústria, para incentivar

a industrialização e agricultura; a realização de obras de infraestrutura; a

reorganização do ensino com a implantação de escolas primárias, secundárias e

superiores; a elaboração do Código Civil ou Código Napoleônico, que normatizava os

direitos e deveres dos cidadãos franceses; a assinatura da Concordata de 1801, que

foi um acordo entre o Estado e a Igreja Católica, estabelecendo a oficialização do

catolicismo como religião oficial, porém subordinada ao Estado francês; entre outras.

Face às grandes realizações administrativas, econômicas e sociais, a opinião pública foi

mobilizada pelos apoiadores de Napoleão e dois plebiscitos centralizaram o poder em

suas mãos. O primeiro, de 1802, transformou-o em Cônsul Vitalício, e o outro,

realizado em 1804 tornou-o o 1º Imperador da França. Restituía-se, desta forma, o

regime monárquico na França, sendo Napoleão o ocupante do trono, sob o signo da

Dinastia Bonaparte.

Realizou-se uma festa em 2 de dezembro de 1804 para se formalizar a coroação do

agora Napoleão I na Catedral de Notre-Dame e um dos momentos mais notórios da

História francesa ocorreu naquela noite, quando com um ato surpreendente, Napoleão I

retirou a coroa das mãos do Papa Pio VII, que viajara especialmente para coroá-lo na

cerimônia. Napoleão queria estabelecer uma ligação com o 1º Imperador do Sacro-

Império Romano Germânico, de quem se dizia descendente. Ao se auto coroar,

Napoleão deixou explícita a noção de que não toleraria autoridade alguma

superior à dele.

Durante o império, Napoleão modernizou o Exército e liderou uma série de

guerras para expandir o domínio da França. O fortalecimento militar e econômico

francês, além de seu governo liberal, constituíam ameaças aos governos absolutistas

vizinhos. Por isso, Áustria, Prússia e Rússia, líderes das duas últimas coalizões militares

contra a França, empenharam-se em formar novas forças militares internacionais contra

o expansionismo francês.

O Império Napoleônico, considerado o Primeiro Império Francês, existiu entre

1804 e 1814. Seu projeto de expansão deu origem às Guerras Napoleônicas, que

geraram numerosas mudanças no mapa da Europa, como o fim do Sacro Império

Page 30: Textos auxiliares historia cmf

Romano-Germânico, que existia desde o Século IX. Em seu lugar, Napoleão

constituiu a Confederação do Reno. Em geral, nas regiões dominadas por Napoleão

acabavam se formando governos fiéis ao imperador. Assim sua área de influência se

tornava cada vez maior. Eram os Estados Vassalos.

Napoleão dominou em apenas dois anos quase toda a Europa, exceto a Inglaterra e os

países das coalizões. A Inglaterra foi, em todos os momentos, seu principal oponente.

Com uma poderosa marinha e uma economia desenvolvida, resistiu em todas as frentes

de combate, quer na terra, quer no mar. Tentando minar as forças de seu maior

adversário, Napoleão impôs, em 1806, o Bloqueio Continental, que decretou o

fechamento dos portos europeus ao comércio inglês, medida que ao mesmo tempo

buscava enfraquecer a economia inglesa, provocando uma crise em suas

indústrias, que beneficiaria a burguesia francesa e possibilitaria a dominação do

único adversário que a França tinha à altura das pretensões de Napoleão.

Portugal, que não aderiu ao Bloqueio, foi invadido pelas tropas francesas em 1807,

o que forçou a fuga da corte portuguesa para o Brasil.

O Bloqueio Continental não surtiu o efeito desejado porque a economia da maior parte

dos países sob influência francesa era basicamente agrícola, portanto, dependente dos

produtos industrializados do exterior e a indústria francesa não tinha condições de

substituir o comércio inglês. Alguns governos, então, romperam o bloqueio, como o da

Rússia, o que levou Napoleão a invadir aquele país, em 1812. As tropas francesas

foram derrotadas devido à tática utilizada pelos russos (terra arrasada) e ao forte

inverno.

A sistemática contestação que Napoleão passou a sofrer por parte da Liga anti-

napoleônica, além da profunda crise econômica interna e da desastrosa campanha na

Rússia que levou ao enfraquecimento das outrora poderosíssimas tropas francesas

fizeram com que, em 1814, Napoleão renunciasse ao poder e se exilasse na Ilha de Elba,

no Mar Mediterrâneo. Em março de 1815, Napoleão fugiu do exílio e retomou a

liderança das forças militares com o objetivo de vencer a 5ª Coalizão, permanecendo no

comando do exército por cerca de 100 dias. Em Waterloo, na Bélgica, foi novamente

derrotado e foi exilado na Ilha de Santa Helena, na Itália, onde faleceu em 1821.

As conquistas napoleônicas haviam modificado a divisão política de quase toda a

Europa Ocidental e Central. Com as primeiras derrotas de Napoleão, os dirigentes dos

países vencedores da coalizão (Inglaterra, Áustria, Rússia e Prússia), além da própria

França, organizaram o Congresso de Viena, cujo objetivo era restabelecer a antiga

divisão política do continente europeu.

O Congresso de Viena ocorreu no interregno entre as duas abdicações de Napoleão e

cada país vencedor e a França perdedora fizeram-se representar por um grande expoente

da política externa. O Império Austríaco foi representado pelo Ministro Klemenz

Meternich, o Império Russo pelo Czar Alexandre I, a Prússia pelo Diplomata Von

Humboldt, a Inglaterra pelo Secretário Duque de Wellington, Portugal, pelo Ministro

Saldanha da Gama e a França pelo Ministro Charles Talleyrand.

Talleyrand havia sido Ministro do Diretório e de Napoleão até 1807, quando divergiu

do Imperador quanto ao rumo do expansionismo francês. A partir de então compôs a

elite opositora, tendo sido importante artífice da restauração dos Bourbon, ao articular o

Page 31: Textos auxiliares historia cmf

estabelecimento de um governo provisório que declarou Napoleão deposto. O novo

governo foi formado no início de 1814 e a primeira providência foi convocar Luís

XVIII para governar a França. O novo Rei então nomeou Talleyrand como seu ministro

das Relações Exteriores.

O Congresso de Viena transcorreu conforme três princípios que o nortearam:

Legitimidade, Equilíbrio europeu e Solidariedade. Legítimo significa legal, justo.

Criado pelo ministro francês Talleyrand, o princípio da Legitimidade objetivava

restaurar as monarquias derrubadas por Napoleão, com a entrega dos tronos a

seus “legítimos donos e restabelecer as fronteiras dos países europeus como eram

antes da Revolução Francesa. A ideia de Talleyrand era proteger a França contra

grandes perdas territoriais. Com aquele princípio, Luís XVIII, irmão de Luís XVI, foi

reconhecido pelos vencedores como novo Rei da França.

Proposto pelo Ministro Metternich, da Áustria, o princípio do Equilíbrio europeu

visava dividir os territórios europeus e suas colônias, de modo a estabelecer um

equilíbrio de forças entre as grandes potências. Com esse princípio, a Rússia anexou

parte da Polônia, Finlândia e a Bessarábia; a Península Itálica e a Confederação

Germânica permaneceram divididas; a Inglaterra ficou com a estratégica Ilha de Malta,

no Mar Mediterrâneo, o Ceilão, na Ásia e a Colônia do Cabo, atualmente África do Sul,

além da Guiana, o que lhe garantiu o controle de importantes rotas marítimas de

comércio; a Prússia ficou com parte da Saxônia, da Westfália, da Polônia e com as

províncias do Reno; a Suécia e a Noruega uniram-se; a Bélgica se uniu à Holanda,

formando o Reino dos Países Baixos.

Por último, o Czar Alexandre I, da Rússia, propôs a formação de uma aliança política

entre as monarquias europeias cristãs, com o objetivo de reprimir a onda liberal e

democrática deflagrada pela Revolução Francesa e ampliada pelas conquistas

napoleônicas. Foi criada a Santa Aliança, que serviria como um exército de

intervenção em qualquer lugar onde surgisse algum processo revolucionário de

caráter liberal ou democrático.

Uniram-se à Rússia no acordo da Santa Aliança as nações vencedoras da campanha

contra Napoleão. A Inglaterra, embora tenha participado do Congresso de Viena,

rejeitou o suposto direito de intervir militarmente em outros países e negou-se a

participar da Santa Aliança. Foram dois os motivos que levaram o Governo Inglês

a recusar participar da Santa Aliança: já era um Estado liberal há cerca de 130

anos e tinha interesse em ampliar os mercados consumidores de seus produtos

industriais, necessitando com isso de mercados livres.

A Santa Aliança não deu certo, pois não conseguiu conter a libertação das colônias na

América Espanhola, nem impedir o desenvolvimento do Liberalismo, que se alastrou

por toda Europa a partir de 1830. Aquele organismo militar absolutista assistiu ao início

das revoluções liberais e nacionalistas, que irromperam em várias regiões da Europa e

que levaram à irrecorrível queda do absolutismo durante todo o Século XIX.

Autoria: Prof Fabiano

Page 32: Textos auxiliares historia cmf

Texto auxiliar – Estados Unidos da América

A partir de 1570, a Inglaterra iniciou seu ciclo de viagens atlânticas e abordou as Índias

Ocidentais, colonizando a costa litorânea atlântica do atual território dos Estados

Unidos de um modo bastante diferente daquele que os países ibéricos haviam adotado e

que, visava à exploração de riquezas naturais para o abastecimento de seus mercados.

.

A conturbada situação política e religiosa da Inglaterra naquele período, marcada por

violentas perseguições políticas e sociais provocou a fuga de dissidentes religiosos que

buscaram liberdade nas distantes terras da América e uma oportunidade de

enriquecimento. Aqueles calvinistas puritanos fugidos das perseguições religiosas

povoaram as terras mais ao Norte, que vieram a se chamar Nova Inglaterra,

enquanto que o território mais ao centro foi povoado por Quackers ingleses e

holandeses, e as do Sul foram povoadas por exilados da justiça. A colonização somente

teve início de modo efetivo a partir do século XVII, com a formação das treze colônias.

Face às particularidades políticas e econômicas que eclodiram na Revolução

Inglesa, a Inglaterra não exerceu qualquer tipo de fiscalização sobre aqueles

povoamentos, situação que veio a favorecer a autonomia política e econômica,

possibilitando a organização de elites que aglutinaram a liderança sobre os

colonos, de um modo que favoreceu o nascimento de um fundamental sentimento

de nacionalismo.

Os quadros sociais que povoaram o norte e o sul daquela vasta extensão de terra, além

do clima díspar, mais quente ao sul e temperado ao norte, foram fatores que

favoreceram o desenvolvimento desigual entre as colônias. Na região centro-norte

eram predominantes a pequena e a média propriedade com base na policultura,

enquanto que nas colônias do Sul predominavam os grandes latifúndios

monocultores movidos com trabalho escravo.

Devido à autonomia comercial, os excedentes da produção, tanto do norte, quanto

do sul eram escoados através de uma prática que ficou conhecida como comércio

Page 33: Textos auxiliares historia cmf

triangular, que fazia chegar à África bens diversos produzidos pelos colonos e que

eram comercializados por mão-de-obra escrava, fartamente aproveitada pelos

latifúndios agrários do sul. Os únicos itens que não eram comercializados eram o

tabaco e o algodão, por serem itens de grande valor comercial para a Inglaterra,

passíveis de fiscalização.

Durante muitos anos o comércio triangular proporcionou a consolidação política e

econômica da sociedade colonial de forma independente da Metrópole, até que Oliver

Cromwell criou, a partir de 1651, os Atos de Navegação, conjunto de leis que

protegiam o comércio exterior da Inglaterra visando a conter a expansão naval

holandesa. Os Atos de Navegação foram fundamentais para que a Inglaterra

conseguisse expandir sua frota mercante e militar, possibilitando uma maior

participação nos assuntos das distantes colônias americanas.

O conflito de interesses entre Inglaterra e colônias acirrou-se após as medidas

liberalizantes que a fase final da Revolução Inglesa propiciaram. Foi, então, a partir do

final do Século XVII, que o Governo Inglês passou a efetivamente fiscalizar e exigir

exclusividades comerciais que por mais de 100 anos não havia exigido. Outro fato

histórico que fez a Inglaterra focar suas atenções na América do Norte foi a Guerra dos

Sete Anos, entre Inglaterra e França, entre 1756 e 1763, conflito pela posse de colônias

ultramarinas e que obrigou a Inglaterra a precisar do apoio militar dos habitantes das 13

colônias, haja vista o comprometimento inglês em outros palcos do conflito. Portanto, a

defesa das possessões na América ficou a cargo dos colonos, que precisaram se unir na

luta contra os franceses e seus aliados indígenas. O sentimento de defesa da terra

despertou nos colonos uma forte consciência militar e nacionalista.

Pela primeira vez, as 13 colônias uniram-se em torno de um ideal comum. Embora

vitoriosa, a Inglaterra teve sua economia bastante abalada pelas grandes despesas

militares e para recuperarem-se do desequilíbrio financeiro, os governantes ingleses

ampliaram o recolhimento de impostos, provocando descontentamento entre as

lideranças coloniais. Além dessa reforma tributária, o governo inglês proibiu que

os colonos das 13 colônias ocupassem o Vale do rio Ohio, terras a oeste das 13

colônias que haviam sido tomadas da França após a Guerra dos Sete Anos. Essa

proibição fez com que todos os colonos, inclusive os do sul, se voltassem contra a

metrópole.

Os principais pacotes tributários que foram impostos às 13 colônias foram a Lei do

Açúcar, de 1764, Lei do Selo, de 1765 e Lei do Chá, de 1773, que representavam

medidas de controle e de capitalização dos cofres ingleses visando a saldar as dívidas

contraídas na guerra com a França. Aquela repressão fiscal elevou a temperatura social

e acabou por influenciar fortemente o episódio que ficou conhecido como Boston Tea

Party (Festa de Chá de Boston), ação de protesto executada pelos colonos ingleses

contra o governo inglês, no qual destruíram carregamentos de chá pertencentes à

Companhia Britância das Índias Orientais, atirando-os às águas do Porto de Boston. O

incidente, acontecido em 16 de dezembro de 1773, constituiu-se um evento chave no

desenrolar dos antecedentes da Revolução Americana e permanece como um emblema

da História dos Estados Unidos da América.

A Inglaterra reagiu de imediato com um conjunto de leis que os americanos chamaram

de Leis Intoleráveis, de 1774, que entre outras medidas repressoras incluíam o

Page 34: Textos auxiliares historia cmf

fechamento do porto de Boston, a cassação da autonomia comercial das colônias do

norte, a aplicação de indenizações à Companhia das Índias e o julgamento dos

envolvidos, na Inglaterra. As reações dos colonos foram pacíficas, mas levaram à

realização, em setembro de 1774, do Primeiro Congresso Continental da Filadélfia,

de caráter não separatista, em que foi redigida uma Declaração de Direitos, que

materializou o descontentamento contra as Leis Intoleráveis e que exigia o

restabelecimento da autonomia das colônias.

O Governo Inglês não aceitou as exigências e enviou forças militares para a América.

Foi deflagrado então um conflito bélico, que teve início com a Batalha de Lexington,

em abril de 1775. Ainda em 1775, reuniu-se o Segundo Congresso Continental da

Filadélfia, de caráter separatista, visando à independência. O encontro confirmou

George Washington no comando das tropas americanas e encarregou uma comissão,

liderada pelo iluminista Thomas Jefferson de redigir a Declaração de Independência,

que foi promulgada em 4 de julho de 1776, concretizando, assim, o ideal de liberdade

das 13 colônias, que passaram a chamar-se Estados Unidos da América. As lutas se

intensificaram e os americanos passaram a contar com a ajuda externa da França e da

Espanha, que pretendiam enfraquecer o poderio britânico. Em 1781, a guerra terminou

com a vitória americana na Batalha de Yorktown. A paz definitiva foi selada em 1783,

com a assinatura do Tratado de Versalhes, pelo qual a Inglaterra consagrou o

reconhecimento da independência americana e o direito de os estados colonizarem os

territórios situados a oeste do Rio Mississipi.

Influenciado pelos iluministas, o país promulgou sua Constituição em 1787, a qual

estabelecia uma república federativa presidencialista e a tripartição do poder em

legislativo, executivo e judiciário. Cada estado teria autonomia para tomar

decisões político-administrativas de acordo com seus interesses. Os Estados Unidos

elegeram George Washington para presidência da Federação.

Durante o seu mandato (1789-1797), Washington lançou um programa econômico para

desenvolver a indústria, o comércio e as finanças do país. Com as políticas adotadas, a

economia e a população começaram a crescer rapidamente. As autoridades

governamentais passaram então a incentivar a expansão territorial em direção ao oeste

na busca de terras agricultáveis, áreas de pastagens e fontes de matérias primas para a

industrialização cada vez mais dinâmica.

Esse desejo expansionista foi expresso pela doutrina “Destino Manifesto”,

pensamento que expressava a crença de que o povo dos Estados Unidos é eleito por

Deus para pacificar o mundo e por isso o expansionismo americano era apenas o

cumprimento da vontade Divina. Na busca de novas terras, diversos territórios foram

anexados por meio de três recursos principais: guerra, compra e cessão diplomática. Por

meio da compra foram anexados a Lousiania em 1803, que pertencia à França; a

Flórida em 1819, que era da Espanha e o Alasca em 1867, que pertencia à Rússia. Pela

diplomacia, foi incorporado o Oregon em 1846, cedido pela Inglaterra. Mas foi,

sobretudo depois da guerra contra o México, entre 1846 e 1848, que houve uma

significativa ampliação do território, que teve como consequência a ligação entre o leste

e o oeste.

Construíram-se, então, as primeiras ferrovias, que possibilitaram o encurtamento

de distâncias entre as matrizes energéticas e as matérias primas e os locais de

Page 35: Textos auxiliares historia cmf

industrialização, bem como das indústrias aos seus mercados consumidores. Com o

objetivo de expandir sua economia e sua influência na América Latina, o Presidente

James Monroe criou então a “Doutrina Monroe”, baseada nos princípios da rejeição

de novas colonizações europeias no continente, intolerância à interferência

europeia em questões internas e não participação norte-americana em conflitos

europeus. Aquela estratégia de afirmação política fez o mundo entender que a

América era para os americanos.

Em meados do século XIX, o território americano já dava acesso aos dois oceanos, o

que favoreceu o comércio externo. Houve, também, significativa expansão do mercado

interno, devido ao aumento populacional, desenvolvimento dos meios de transporte e

entrada de mão-de-obra qualificada e capitais estrangeiros, a partir da imigração

europeia. Entretanto, apesar do desenvolvimento, havia falta de sintonia econômica e de

projetos entre o norte industrializado e desenvolvimentista e o sul agrário e atrasado.

Sentindo-se pressionados pelos nortistas em favor da abolição da escravidão, até porque

Abraham Lincoln, candidato eleito para Presidente em 1860 era abertamente favorável à

abolição dos escravos, 11 estados sulistas decidiram separar-se da União e, em março

de 1861, fundaram os Estados Confederados da América. Lincoln, ao ser empossado,

não reconheceu o novo país e deu-se início uma guerra civil. As tropas confederadas,

como eram conhecidas as tropas rebeldes, obtiveram vitórias iniciais, mas ao longo do

conflito as forças federalistas da União foram impondo sua superioridade militar, pois

tinham mais habitantes e indústrias para fabricação de armas. Em 1863, Abraham

Lincoln proclamou a abolição da escravidão, fazendo com que os escravos do sul se

aliassem às tropas do norte. A guerra terminou em 1865 com a rendição do exército

sulista.

Várias foram as consequências da guerra civil americana, conhecida como Guerra de

Secessão. As principais foram a consolidação da unidade nacional; o

desenvolvimento do Capitalismo; a expansão das fronteiras, em especial para a

América Central, motivada pelo Corolário Roosevelt; o aumento do mercado

interno; o grande desenvolvimento industrial; o fim do escravagismo, que

influenciou o processo de industrialização, já que o escravagismo é incompatível

com o processo industrial; o racismo, devido à falta de programas de adaptação e

ajudas aos ex-escravos; e a formação de um sentimento crítico que levou à

emancipação e à independência em outras regiões do continente e do mundo,

como por exemplo a Revolução Francesa e o processo de independência das

colônias espanholas na América.

Autoria: Prof Fabiano

Page 36: Textos auxiliares historia cmf

Texto auxiliar – Liberalismo e Nacionalismo

A propagação do Liberalismo e do Nacionalismo como sistemas de influência socioeconômica, a

subprodução agrícola acarretando alta de preços de gêneros alimentícios, o subconsumo industrial

provocando falência de fábricas e o desemprego do operariado, o descontentamento do proletariado

urbano devido ao desemprego, aos baixos salários e à alta do custo de vida, o descontentamento da

burguesia, excluída do poder político e atingida pela crise econômica foram fatores comuns que

fizeram desencadear ondas revolucionárias liberais-nacionalistas na Europa a partir de 1830.

Iniciadas na França, varreram o continente europeu e singraram os oceanos, ocasionando revoltas

nas diversas monarquias nacionais absolutistas. Por Liberalismo entende-se a atitude dos que

defendem a propriedade privada, as reformas sociais graduais, as liberdades civis e a

liberdade de mercado, enquanto que por Nacionalismo, o movimento social de indivíduos que

tomam consciência de formar uma comunidade em virtude dos elos étnicos, linguísticos e

culturais que os unem.

Como dito, a Europa abrigou movimentos de transformação que tiveram a França como seu polo

difusor. Em 1830, a França vivia sob o comando dos Bourbon, reintegrados ao cenário político pelo

Congresso de Viena, de 1815. Com a morte de Luís XVIII, em 1824, seu sucessor foi seu irmão

Conde de Artois, que foi entronizado como Carlos X. Artois era o líder os Ultrarrealistas, que

assumiram o controle do governo ampliando uma política antiliberal que suprimiu em menos de 6

anos muitas das liberdades que o povo francês havia adquirido, previstas inclusive na Constituição

de 1815.

O descontentamento popular em relação ao regime conservador de Carlos X, aliado à crise

econômica, levaram a alta burguesia a reorganizar-se e deflagrar a Revolução de 1830. Carlos X foi

deposto e, em seu lugar, assumiu Luís Filipe de Orleans, líder da oposição liberal. Luís Filipe,

conhecido como o “rei burguês”, governou em sintonia com os interesses econômicos burgueses,

favorecendo industriais, banqueiros e grandes comerciantes, garantindo a implantação da tardia

revolução industrial francesa e o pleno desenvolvimento capitalista. A revolução de 1830

repercutiu em toda Europa, ocasionando uma profunda contestação das monarquias absolutistas dos

Estados Italianos, dos Estados da Confederação Germânica, da Bélgica, da Polônia, da Espanha e de

Portugal, cujos povos ansiavam por Estados menores, ou seja, maiores liberdades política, social e

principalmente econômica.

Page 37: Textos auxiliares historia cmf

A Bélgica se tornou independente, a Espanha e Portugal apresentaram lutas internas entre liberais e

absolutistas e surgiram as primeiras tentativas de unificação da Itália e Alemanha. O Liberalismo e,

mais tarde, o Nacionalismo triunfariam em quase toda a Europa. No Brasil, a revolução de 1830

também repercutiu em rebeliões que contestaram o período regencial. Foram a Cabanada,

Cabanagem, Sabinada, Balaiada e Farroupilha.

No decorrer de 1848, a Europa foi sacudida por uma nova onda de revoluções. Esse período,

conhecido como “Primavera dos Povos” teve como características comuns o Nacionalismo, o

Liberalismo e, devido ao agravamento das desigualdades sociais, o surgimento do Socialismo,

que baseado nas teorias do Marxismo Científico pregava a igualdade social e econômica

mediante reformas radicais. O polo difusor das rebeliões novamente foi a França, que passava por

uma grave crise política e econômica produzida pela Monarquia de Julho, nome como ficou

conhecido o reinado de Luís Filipe. A crise econômica foi provocada por uma descontrolada

migração de franceses do campo para os grandes centros urbanos, face ao processo de

industrialização estimulado a partir de 1830.

Aquele êxodo rural provocou o aumento da miséria, forte desemprego, greves operárias e

campanhas pela reformulação do sistema eleitoral. Foi então que a pequena burguesia e a classe

operária uniram-se temporariamente contra o governo e um levante derrubou Luís Filipe do poder

em final de fevereiro de 1848. Com a queda do Rei, organizou-se um governo provisório, que

tomou uma série de medidas, das quais a mais importante no campo político foi a

proclamação da Segunda República Francesa.

Foram feitas eleições para mobiliar os quadros da Assembleia Nacional Constituinte, que teria a

missão de elaborar nova Constituição. Derrotados nas eleições, as forças políticas que haviam

meses antes deflagrado a revolta que destituiu o Rei, estimularam a desobediência popular às

decisões da Assembleia Constituinte. E novamente o povo foi mobilizado para as ruas, só que desta

vez foi massacrado pelas tropas do general Cavaignac, que recebera do governo provisório a missão

de pacificar as ruas.

Após o massacre foram realizadas as eleições para Presidente da República, saindo-se

vitorioso Luís Bonaparte, sobrinho de Napoleão. O novo Presidente incentivou a indústria e

ampliou estradas de ferro, permanecendo até 1852 na condição de Presidente, quando através

de um plebiscito, proclamou-se imperador, com o título de Napoleão III. Surgiu então o 2º

Império, que durou até 1870, quando Napoleão foi derrotado pela Prússia na Guerra Franco-

Prussiana e surgiu a 3ª República Francesa.

No tocante à Primavera dos Povos, a revolução acontecida na França teve significativas

repercussões no resto da Europa. O ideal predominante nos demais países europeus onde

houve revolução não foi o Liberalismo, mas sim o Nacionalismo. Os revolucionários daqueles

países queriam libertar seus povos da dominação dinástica imposta pelas decisões do Congresso de

Viena. Por quê? As famílias dinásticas que se declararam as legítimas donas dos países não

representados no Congresso de Viena muitas vezes tinham ligações muito frágeis com a história dos

povos agora dominados, como por exemplo, o Ducado italiano da Toscana, fundado em 1569, que

pertenceu à Dinastia Médici até 1737, quando tornou-se Habsburgo. Não havia então mais do que

100 anos aquele território estava no comando dos Habsburgo, que eram considerados estrangeiros.

Os principais núcleos revolucionários foram os Estados Germânicos, os Estados Tchecos e os

Estados Italianos. A "Primavera dos Povos", como ficou conhecida aquela maré revolucionária,

marcou o despertar de nacionalidades, pois poloneses, dinamarqueses, germânicos, italianos,

húngaros, croatas e romenos passaram a exigir que seus impérios lhes concedessem autonomia. A

rebelião de 1848 foi uma revolta potencialmente global, tornando-se um paradigma de "revolução

Page 38: Textos auxiliares historia cmf

mundial" que alimentou rebeldes de várias gerações. Aquelas insurreições singraram os mares,

fazendo-se sentir no Brasil na Revolução Praieira.

Voltando à França, em 1871, revoltados com a derrota na Guerra Franco-Prussiana e vencidos pelas

graves consequências que a situação de perdedor havia lhes imposto, milhares de trabalhadores

franceses organizaram uma grande rebelião com barricadas. Tomaram a cidade de Paris e

implantaram um governo socialista denominado Comuna de Paris. O governo da Comuna

conclamou todos os trabalhadores franceses a seguirem o exemplo de Paris. Seus objetivos eram

criar uma federação de comunas livres e autônomas, eleger os funcionários do Estado pelo voto,

substituir o exército por milícias populares, congelar os preços e criar creches e escolas para os

filhos dos trabalhadores e o Estado deveria propiciar melhores condições de vida aos trabalhadores.

Apoiado pelo governo da vizinha Alemanha, interessado em que a rebelião não se alastrasse pelo

continente, o Governo Republicando combateu severamente a Comuna, que, ao seu final, teve

milhares de pessoas mortas, presas ou deportadas. A Comuna de Paris foi considerada a

primeira conquista do poder político pelos operários e a primeira tentativa de criação de um

governo socialista.

Das principais consequências da Primavera dos Povos, a unificação da Itália e da Alemanha, são as

mais expressivas. No tocante à Itália, desde o fim do Império Romano do Ocidente e o início da

Idade Média, a península itálica era uma região dividida em várias unidades políticas independentes

entre si, que após o Congresso de Viena, passou a ser dominada por austríacos e franceses, bem

como pela Igreja. Eram mais de 10 reinos e ducados subordinados aos Habsburgo, Bourbon e ao

Papa. Desses, destacava-se o Reino do Piemonte-Sardenha, que era governado por um monarca

liberal e do qual foi deflagrado o processo de unificação.

Com a reorganização da península e consequente exploração de suas riquezas, várias sociedades

secretas surgiram com o objetivo de unificar o povo da península, totalmente identificado por seu

passado comum que o levou a ter um só idioma originário do latim falado no Império Romano.

Várias organizações iniciaram uma cruzada no sentido de formar um Estado liberal. Essas

organizações eram na maioria maçônicas, como a ordem dos carbonários, que reunia republicanos e

monarquistas com o propósito de expulsar os austríacos germânicos e estrangeiros e unificar o povo

latino. Outro fator além dos antepassados comuns estimulou aquela junção. Foi o desenvolvimento

industrial do continente europeu a partir de 1830 que atingiu a península pelo norte. Para dar

continuidade ao processo de crescimento e expansão de suas atividades no mercado exterior, a

burguesia local desejava a unificação de toda região porque as boas jazidas de carvão estavam

no centro-sul da península.

Em 1848, em plena onda revolucionária nacionalista, aconteceu a primeira tentativa de

unificação, liderada por Giuseppe Mazzini, criador do movimento Jovem Itália. Mazzini

buscava criar uma república. 11 anos após, em 1859, fracassadas as investidas do Jovem Itália

e com o apoio da França de Napoleão III, o Rei Vitor Emanuel do Reino Sardo-Piemontês deu

início a uma guerra contra a dominação austríaca. Com expressivas vitórias, foram anexadas as

regiões da Lombardia, Toscana, Parma, Módena e Romagna.

Ao sul da península, o republicano Giuseppe Garibaldi, formou um exército de voluntários,

conhecido como camisas vermelhas e, contando com o apoio dos camponeses, ocupou o reino das

Duas Sicílias, afastando do poder o representante dos Bourbon, Francisco II. No final de 1860, a

unificação estava praticamente concluída e Vítor Emanuel II, dominando quase todo território

italiano, foi proclamado rei da Itália em 1861. Somente Veneza e Roma ainda resistiram por algum

tempo, sendo Veneza anexada em 1866 e Roma, em 1870. O papa Pio IX não aceitou a perda dos

territórios da Igreja Católica quando Roma foi anexada à Itália e permaneceu no palácio do

Vaticano, considerando-se prisioneiro. Surgiu, assim, a chamada Questão Romana, essa

Page 39: Textos auxiliares historia cmf

autoclausura a que se dedicou aquele Papa e seus sucessores por quase 60 anos. A situação

somente foi resolvida em 1929 com a assinatura do Tratado de Latrão, negociado entre o 1º

Ministro italiano Benito Mussolini e o Papa Pio XI, que criou o pequeno Estado do Vaticano,

sob o governo da Igreja Católica.

Da mesma forma que a Itália, até a primeira metade do século XIX, a Alemanha não existia como

país. A Alemanha foi por cerca de mil anos um ajuntamento de nações de origem germânica, que

eram subordinadas ou não ao Sacro Império Romano Germânico. Após o Congresso de Viena, a

Confederação Germânica foi criada no lugar do Sacro Império, tendo ficado dividida em 39 estados

independentes, liderada pela Áustria, que dominava o Parlamento da Confederação, e pela Prússia,

mais industrializada e com maior poder econômico. Em 1834, a Prússia deu o primeiro passo no

sentido de promover a unificação dos estados alemães. Sob influência de grupos de industriais, foi

criado o Zollverein, uma união aduaneira com o objetivo de eliminar os impostos alfandegários (de

importação) entre os estados da Confederação Germânica, permitindo a livre circulação de

mercadorias na região.

Além de possibilitar a integração da Confederação Germânica, o Zollverein contribuiu para

impulsionar o desenvolvimento econômico alemão. Com grandes reservas de carvão e uma extensa

malha ferroviária, a Prússia era a principal beneficiária do Zollverein. Essas características a

colocaram em condições de ingressar na Revolução Industrial e permitiram ao rei Guilherme I

aumentar e reequipar seus exércitos. A primeira tentativa de unificação fracassou devido à oposição

da Áustria. Em 1862, Guilherme I nomeou como seu primeiro-ministro Otto Von Bismark,

conhecido como “Chanceler de Ferro” e a Prússia passou a liderar firmemente o processo de

unificação. Bismark acreditava que a unificação da Alemanha não se concretizaria sem o uso

da força militar. Assim, usando de diplomacia, mas também de muita determinação,

organizou um poderoso exército e liderou a Prússia em guerras contra a Dinamarca, Áustria e

França.

A primeira guerra, contra a Dinamarca, teve por objetivo o domínio sobre os ducados

dinamarqueses de Schleswig e Holstein, de origem germânica. A segunda, contra a Áustria,

teve a finalidade de disciplinar a questão da liderança entre os principais no movimento de

união germânica, o chamado Pan-Germanismo. O Reino da Prússia, mais industrializado, tinha o

interesse na formação de uma Kleindeutschland (pequena, mas forte Alemanha), enquanto que o

Império Austríaco, aristocratizado e politizado, nutria o interesse em uma Grossdeutschland (grande

e expansionista Alemanha). Derrotado, o Império Austríaco separou-se da Confederação

Germânica, que passou a chamar-se Confederação Germânica do Norte. O Império Austríaco

anexou a Hungria e foi fundado então o Império Austro-Húngaro.

E contra a França, o objetivo foi anexar terras culturalmente germânicas na fronteira entre

os dois países, em especial a região carbonífera da Alsácia e Lorena. A situação social e militar

francesa era crítica e não foi difícil a vitória prussiana. Pelo Tratado de Frankfurt, a França

devolveu as regiões da Alsácia e Lorena, tomadas cerca de 250 anos antes, comprometeu-se a pagar

uma pesada indenização de guerra e aceitou que as tropas germânicas desfilassem triunfalmente

pelas ruas de Paris. A partir da guerra Franco-Prussiana, a unificação da Alemanha se

completou. Foi criado o 2º Império Alemão e o 2º Império Francês foi extinto, dando lugar à

3ª República.

Autoria: Prof Fabiano

Page 40: Textos auxiliares historia cmf

Texto auxiliar – 2ª Revolução Industrial e Imperialismo

A Primeira Revolução Industrial caracterizou-se pela invenção da máquina a vapor e sua utilização

na melhoria da produção industrial e no aprimoramento dos transportes. A dinamização da

produção têxtil aproveitou os últimos suspiros da colonização europeia na América, antes que o

sopro de liberdade levasse à independência todos os quadrantes daquele continente que por quase 4

séculos havia sido explorado pelo monopólio das monarquias absolutistas europeias. A partir de

1870, uma nova onda tecnológica fez surgir a chamada Segunda Revolução Industrial. Nessa nova

etapa, o uso do motor à explosão e o decorrente emprego da energia elétrica estimularam a

exploração de novos mercados e a aceleração do ritmo industrial, ofertando condições para o

desenvolvimento das ciências, que trouxe grandes curas, mas também o uso indiscriminado das

novas invenções para o mal.

Esse aprimoramento dos meios de produção e a demanda consequente por matérias primas

combustíveis e de transformação estimularam o surgimento de importantes conceitos, como

produção em série, controle de qualidade, ganho social, indústria de transformação, lucro e

aprimoramento científico da produção. Enfim, estavam lançadas as bases econômicas para a

expansão do capitalismo, tendo rompido as fronteiras das potências industrializadas, que precisaram

reinvestir seus capitais excedentes. As inovações tecnológicas e científicas que cercaram a segunda

revolução industrial possibilitaram, portanto, a expansão política e econômica do capitalismo que

fez surgir as práticas imperialistas.

Mas o que é o capitalismo? Capitalismo é um sistema socioeconômico baseado no reconhecimento

dos direitos individuais, em que a iniciativa privada e o Estado coexistem e este existe para fazer

cumprir os estamentos sociais e regula a ordem pública, em defesa do bem comum e dos interesses

individuais e coletivos. É um sistema moral baseado na universalidade das pessoas, dispostas em

classes sociais, mediante a herança de vida que seus antepassados conquistaram e que sua atual

existência tenha permitido. Sua lógica permite uma ascensão social baseada na aquisição e na

multiplicação de bens e rendas. O capitalismo é um sistema que proporciona uma distinção bem

rigorosa entre o homem e o Estado.

Page 41: Textos auxiliares historia cmf

Sua origem se prende aos ideais liberais burgueses que revolucionaram o ideário de liberdade dos

povos até meados do Século XIX e que, contraditoriamente após esse marco incentivaram a

industrialização, com a descoberta e o domínio de novas áreas de exploração econômica por meio

do processo de neocolonização. A partir de sua expansão, por ocasião da Segunda Revolução

Industrial, mostrou-se duplamente contraditório à medida que pregou o livre mercado e as

liberdades fundamentais e incentivou o domínio de novas áreas de exploração econômica por

meio do processo de neocolonização, impondo o que ficou conhecido como imperialismo e, em

um momento em que o mundo como um todo se libertava da cultura escravagista, os olhares

do mundo ocidental passaram a cobiçar a África.

Foi esse mesmo imperialismo promovido pelo capitalismo que estabeleceu uma produção de

riqueza com base na exploração da mão-de-obra, na dominação cultural e na formação de

grandes monopólios industriais alimentados pela matéria prima indiscriminadamente

extraída dos países submetidos. Mesmo tendo apoiado esse viés expansionista das grandes

potências pós-absolutistas, o capitalismo continua até nossos dias sendo prática relacionada à

prosperidade dos povos que o experimentaram, sem serem descartadas ações políticas que

ampliaram o acesso das camadas desfavorecidas aos bens de consumo e serviços que a sociedade

capitalista proporciona.

Mas em que consistiram as práticas imperialistas? Imperialismo ou neocolonialismo foi a maneira

através da qual as nações poderosas da Europa procuraram ampliar e manter controle ou influência

sobre povos ou nações mais pobres, na busca de uma dominação que desse resultados políticos além

de econômicos. E como surgiram as práticas imperialistas? O aumento significativo da produção

industrial a partir de 1870 levou os estados liberais europeus a enfrentarem a seguinte contradição:

como vender a produção industrial cada vez maior e reinvestir os lucros excedentes se a

concorrência entre as grandes potências capitalistas fazia com que seus governos adotassem

medidas protecionistas para dificultar a invasão de produtos importados? A solução encontrada foi

conquistar novos mercados, numa corrida colonial. E o principal alvo foram as nações ainda não

industrializadas da Ásia, da África e da Oceania. Assim, as grandes potências repartiram entre si

essas regiões e adotaram uma política imperialista, passando a dominar essas regiões territorial e

economicamente.

A grande diferença entre o colonialismo do Século XVI e o neocolonialismo dos Séculos XIX e

XX é que o primeiro baseou-se nas práticas mercantilistas, visando ao acúmulo de metais

preciosos, numa realidade em que o beneficiamento de matérias primas era rudimentar,

enquanto que o neocolonialismo, em um período em que as indústrias de transformação

careciam de matérias-primas as mais variadas, objetivou a busca de novos mercados

consumidores e o investimento de capitais excedentes. O capitalismo mercantilista do

colonialismo havia se transformado no capitalismo financeiro.

Em face de uma sociedade que gozava de princípios de liberdade política e econômica, em que as

rebeliões liberais haviam sepultado o absolutismo europeu, seria muito difícil a aceitação

incondicional de que era necessária a intervenção das grandes potências nos lugares mais ermos do

mundo em busca de dominá-las em função da garantia de um expansionismo de mercado. Portanto,

a justificativa para o neocolonialismo foi a “missão civilizadora” das grandes potências, que

tinham por obrigação “difundir o progresso pelo mundo”. Aquela pretensa superioridade da

civilização industrial do Ocidente estava fundamentada em três elementos: A superioridade

da “raça branca”; a necessidade de propagar o Cristianismo e pouca existência de matérias-

primas na Europa.

Com base nessas ideias de superioridade racial e cultural, criaram-se argumentos para justificar a

exploração brutal de diferentes povos africanos e asiáticos. A Partilha da África pode ser entendida

como a divisão de quase todo o território africano pelas potências europeias, que conflitantes em

Page 42: Textos auxiliares historia cmf

relação ao interesse em dominar regiões do mundo que ainda dispusessem de matérias-primas para

seus processos de industrialização, viram-se mediadas pela Conferência de Berlim. A Conferência

de Berlim realizada entre 1884 e 1885 teve como objetivo organizar, na forma de regras, a ocupação

da África pelas potências industrializadas. Proposta por Portugal, interessado em garantir a

manutenção de suas antigas feitorias, e organizada pela Alemanha, que não possuía colônias na

África, a Conferência de Berlim teve como resultado a dominação das diversas repartições do

continente africano pelas grandes potências, numa divisão arbitrária em que não foram respeitadas a

história, as relações étnicas e mesmo familiares dos povos que milenarmente ocupavam a África.

Apesar das iniciativas terem partido de Portugal e Alemanha, a Grã-Bretanha e a França foram as

grandes beneficiadas do processo.

Dos vários conflitos de ocupação da África, as Guerras dos Bôeres foram os mais violentos. Essas

guerras, travadas entre 1889 e 1902, consistiram na luta entre ingleses e africanos de origem

holandesa, os bôeres, que habitavam a região do rio Orange (África do Sul) em virtude da extração

de diamantes e de ouro.

Mas e a Ásia foi também partilhada? Podemos compreender o termo partilha da Ásia e da Oceania

como um equivalente à política colonial europeia promovida na África à mesma época, cerca de

final do século XIX. Porém, ao contrário do que ocorreu na África, não houve uma convenção

onde se delimitou a área de influência de cada potência europeia. A exploração da Ásia se deu

no Oriente Médio, Península Indostânica (atualmente, Índia, Paquistão, Bangladesh),

Península da Indochina (Atualmente Vietnã, Camboja e Laos) e China, seguindo uma linha de

continuidade ao que já havia se estabelecido a partir do Século XVI. Dentre as consequências

do imperialismo na Ásia e Oceania, os conflitos políticos e sociais causados pelas minorias

estrangeiras foram os mais lesivos. Esses conflitos geraram três grandes guerras entre dominadores

e dominados: Guerras do Ópio, Guerra dos Cipaios e Guerra dos Boxers.

Mesmo estabelecendo uma extensa gama de justificativas, as nações imperialistas foram

responsáveis pela criação de uma série de problemas nos países dominados. O tal “projeto

civilizatório” defendido pelos partidários do neocolonialismo acabou trazendo mudanças e

problemas que não se encerraram ainda hoje. Os países africanos e asiáticos ainda experimentam os

terríveis efeitos do controle desenvolvido no século XIX. Uma das mais delicadas questões pode

ser observada com relação ao processo de ocupação territorial. Muitas vezes, ignorando a

história e as diferenças dos povos de uma mesma localidade, os imperialistas fizeram com que

um mesmo território agrupasse etnias e tribos rivais. Com isso, mesmo após a saída das potências

industriais, estas regiões se mostram assoladas por conflitos, guerras civis e eventos genocidas de

razões diversas.

Devemos enfatizar que a presença estrangeira foi acompanhada por um desenfreado interesse de

se extrair ao máximo as riquezas naturais dos espaços colonizados. Dessa forma, nações que

hoje poderiam usufruir de uma situação econômica e social de maior estabilidade, enfrentam o

desafio de suportar a falta de recursos considerados fundamentais para a sustentação de seu povo.

Outra questão de grande importância foi a questão cultural, que girou em torno da

desarticulação de vários costumes e tradições que estavam arraigados por séculos entre os povos

dominados. Por se julgarem superiores às demais culturas existentes, os imperialistas perseguiram

determinadas práticas culturais que representavam a identidade dos povos dominados.

Por fim, a expansão capitalista firmada à luz da segunda revolução industrial, gerou uma

partilha desigual dos territórios, fazendo com que a necessidade crescente de mercados

aumentasse um quadro de tensões entre as potências industriais, cada vez mais militarizadas,

pavimentando o caminho para a eclosão da Primeira Guerra Mundial.

Autoria: Prof Fabiano

Page 43: Textos auxiliares historia cmf

Texto auxiliar – 1ª Guerra Mundial

A Europa nacionalista e imperialista finalizou o Século XIX e iniciou o Século XX

num clima de grande tensão. Vários conflitos ligados a rivalidades, disputas por

territórios e ressentimentos afetaram as relações entre os povos e seus governos.

Essas condições contribuíram para gerar um clima bélico sem precedentes, que

culminou no maior confronto armado até então, conhecido como a 1ª Guerra

Mundial.

Os conflitos que envolveram nações europeias podem ser enquadrados em

econômicos e político-sociais. Os conflitos econômicos remetem à 2ª corrida

colonialista iniciada na segunda metade do Século XIX na qual as principais

potências capitalistas travaram uma concorrência desmedida por territórios e novos

mercados. No início do século XX, essa disputa econômica envolvia principalmente

interesses ingleses e alemães, devido à partilha da África ter sido desvantajosa para a

Alemanha.

Page 44: Textos auxiliares historia cmf

Já os aspectos político-sociais mantiveram acesas antigas rivalidades e

ressentimentos, resultando em projetos expansionistas e revanchistas, carregados de

fervor patriótico. Alguns movimentos nacionalistas pretendiam agrupar, sob um

mesmo Estado, povos de etnia e cultura semelhantes, o que implicava um desejo de

expansão territorial. São exemplos desses movimentos nacionalistas o Pan-eslavismo,

o Pangermanismo e o Revanchismo francês.

O Pan-eslavismo buscava a união de todos os povos eslavos da região balcânica, sob

a liderança da Rússia e da Sérvia. O nacionalismo sérvio pretendia libertar os povos

eslavos do domínio do decadente Império Otomano e do Império Austro-húngaro e

constituir um Estado denominado Grande Sérvia. O interesse russo na região

encontrava justificativa no desejo de controlar os estreitos de Bósforo e Dardanelos,

entre o Mediterrâneo e o Mar Negro.

O Pangermanismo lutava pela anexação à Alemanha dos territórios da Europa Central

onde viviam povos de origem germânica. O Revanchismo francês, por sua vez,

defendia a recuperação dos territórios da Alsácia-Lorena, região rica em minério de

ferro, perdida para a Alemanha depois da Guerra Franco-Prussiana, em 1870.

Se o clima entre os povos foi de grande tensão, o período entre 1871 e 1914 na

Europa foi sem guerras, apesar do clima de disputas e rivalidades econômicas e

psicossociais. Esse período de paz conflituosa foi chamado pela historiografia de

Paz Armada, recorte de 43 anos em que, diante do risco de guerra, as potências

iniciaram uma corrida armamentista para fortalecer seus exércitos.

Para materializar o clima de animosidades, foram celebrados acordos político-

militares de caráter defensivo que tinham o objetivo de somar forças para enfrentar os

potenciais rivais. Esses acordos dividiram a Europa em dois grandes blocos: a

Tríplice Aliança ou Potências Centrais e a Tríplice Entente ou Entente Cordiale.

A Tríplice Aliança foi criada em 1882 pelos Impérios germânicos (Alemanha e

Áustria-Hungria) e pela Itália, cujo Rei tinha interesse na manutenção do processo de

industrialização em cooperação com a Alemanha, apesar dos laços parentais com a

França. A Tríplice Aliança tinha por objetivos isolar a França na Europa, estabelecer

o predomínio alemão no continente e evitar conflitos na região balcânica entre

Áustria e Rússia. A Tríplice Entente procurou fazer uma contenção à agressividade da

política externa alemã e era composta pelos parceiros comerciais Inglaterra e França e

pela Rússia, cujo Imperador tinha laços parentais com o Rei da Inglaterra.

As tensões entre os dois blocos aumentaram gradativamente, chegando a tal ponto

que qualquer incidente poderia ser o estopim de uma guerra. E duas grandes crises

contribuíram para o acirramento das tensões internacionais: a Crise do Marrocos e a

Crise dos Balcãs. A Crise do Marrocos se deu entre 1905 e 1911, França e Alemanha

quase chegaram à guerra devido à disputa pelo território do Marrocos, fornecedor de

Page 45: Textos auxiliares historia cmf

matérias primas necessárias ao funcionamento de suas indústrias, como ferro e

manganês.

Se a posse do Marrocos quase disparou o 1º tiro da guerra, foi um tiro que a

provocou. A região dos Bálcãs propiciou o choque entre o nacionalismo sérvio e o

expansionismo germânico. Em 1908, a Áustria-Hungria anexou a Bósnia-

Herzegovina, contrariando os interesses da Sérvia em constituir a Grande Sérvia. Em

consequência, os movimentos nacionalistas sérvios passaram a agir violentamente,

manifestando toda sua contrariedade e uma dessas atitudes de desagravo foi

exatamente tentar matar o filho do Imperador Austro-húngaro quando este fez uma

visita à recém incorporada Bósnia.

O herdeiro do trono austro-húngaro chamava-se Arquiduque Francisco Ferdinando e

sua morte fez a Áustria-Hungria acusar o governo sérvio de ter planejado o atentado.

Uma vez que a Áustria-Hungria declarou guerra contra a Sérvia, houve a entrada de

várias nações no conflito devido à política de alianças anteriormente citada,

iniciando-se um conflito que durou 4 anos e onde enfrentaram-se dois grandes blocos

rivais, que inicialmente baseados nas alianças firmadas antes do início do conflito,

tiveram posteriormente a adesão de outros.

De um lado lutaram o Império Alemão, o Império Austro-Húngaro, o Império

Otomano e o Principado da Bulgária, além do Reino da Itália, que mudou de lado em

1915. Antevendo a derrota, o Rei da Itália, Victor Emanuel III pactuou com a Entente

e mudou de lado por força do Tratado de Londres. Sob o acordo, a Itália receberia a

áreas habitadas por italianos na Áustria-Hungria, além de alguns outros territórios na

África. Do outro lado do conflito estavam a 3ª República Francesa, o Reino Unido, o

Império Russo, o Reino da Bélgica (inicialmente neutro), o Principado da Sérvia, o

Reino da Itália (a partir de 1915), o Reino da Grécia, o Reino da Romênia, a

Federação Australiana, o Reino da Nova Zelândia, o Império Japonês, os Estados

Unidos do Brasil, a 1ª República Portuguesa, o Reino da Espanha e os Estados

Unidos da América.

O Brasil foi o único país sul-americano a entrar efetivamente na guerra, contra a

Alemanha. Cooperando com os ingleses, patrulhou o Atlântico sul e enviou médicos

e aviadores à Europa. Além do Brasil, os Estados Unidos da América, a Costa Rica e

Cuba foram outros países americanos a lutarem na Grande Guerra.

A 1ª Guerra Mundial teve muitas particularidades, entre elas envolveu todas as

grandes potências, impôs o recrutamento obrigatório e a completa mobilização

econômica e militar. Outra característica foi o emprego de armas e equipamentos de

grande poder destrutivo, como aviões, carros de combate, submarinos e agentes

químicos. As ações militares desenvolvidas naquele conflito podem ser divididas em

três fases: a primeira fase chamada Guerra de Movimento, a segunda foi conhecida

Page 46: Textos auxiliares historia cmf

como Guerra de Trincheiras e a terceira fase que ficou marcada pela saída da Rússia e

entrada dos Estados Unidos.

A primeira fase foi marcada pela intensa movimentação das forças envolvidas nos

primeiros meses, principalmente pela rápida ofensiva alemã em território francês e na

organização de uma contraofensiva francesa, detendo o avanço germânico sobre Paris

na chamada Batalha do Marne. A Alemanha valeu-se do Plano Schlieffen, que era a

estratégia de guerra produzida anos antes e que previa um possível ataque da França,

da Inglaterra e da Rússia. O Plano Schlieffen previa que, em caso de guerra, seria

necessário derrotar o mais rapidamente possível a França. Assim, Inglaterra e Rússia

não seriam capazes de continuar guerreando com a Alemanha. Supondo que a Rússia

demoraria seis semanas para mobilizar seu exército, o Plano empregava inicialmente

90% das forças armadas alemã contra a França, em um ataque dirigido através da

Bélgica, Holanda e Luxemburgo, desviando das defesas francesas localizadas na

fronteira leste. Os 10% restantes das forças ficariam no leste da Alemanha, em

posição defensiva.

A segunda fase, a Guerra de Trincheiras, transcorreu entre 1915 e 1917 e foi marcada

pela substituição da intensa movimentação de tropas por uma guerra estática, de

pouco movimentação, em que cada lado procurou garantir suas posições, evitando a

aproximação do inimigo. Essa Guerra de Trincheiras foi um período extremamente

desgastante para as tropas e que fez com que a 1ª Guerra fosse conhecido até hoje

com esse nome. Durante essa fase surgiram as primeiras batalhas aéreas e o

submarino surgiu como uma formidável arma de guerra, sendo responsável pelo

afundamento de considerável suprimento logístico oriundo da América.

A terceira fase do conflito foi caracterizada pela saída da Rússia e pela entrada de

outros países na guerra, todos em apoio à Entente. Devido ao afundamento de seus

navios mercantes por submarinos alemães, EUA e Brasil entraram na guerra. Os

Estados Unidos também aderiram à causa da Entente Cordiale, interessados em

garantir que todo o apoio econômico concedido aos inimigos da Alemanha não fosse

perdido numa eventual derrota da França e da Inglaterra.

A entrada dos EUA, em 1917, foi decisiva para a vitória da Entente e seus aliados e

contrabalançou a saída da Rússia. Os recursos logísticos da Entente tornaram-se

muito superiores aos da Tríplice Aliança. No início de 1918, as forças lideradas pela

Alemanha já estavam isoladas e sem condições de sustentar os combates. Em 11 de

novembro daquele ano, o governo alemão assinou a rendição incondicional, pondo

fim, desse modo, à 1ª Guerra Mundial.

Após a rendição alemã e de seus aliados, realizou-se, no Palácio de Versalhes, de

janeiro de 1919 a janeiro de 1920, uma série de conferências com os representantes

das nações vencedoras. Durante a conferência, elaborou-se o Tratado de Versalhes,

que definiu os termos finais de paz com as nações derrotadas, determinando que a

Page 47: Textos auxiliares historia cmf

Alemanha havia sido a principal responsável pelo conflito, razão pela qual os alemães

sofreram as mais duras imposições.

As principais consequências da 1ª Guerra Mundial foram o declínio econômico

das grandes potências europeias, a consequente ascensão dos EUA em nível

mundial, o estabelecimento de um novo mapa europeu, a criação da Liga das

Nações e o surgimento do sentimento de revanchismo na Alemanha.

Uma grave crise socioeconômica assolou os países europeus, já abalados pelas perdas

materiais e humanas e pelos gastos com a guerra. Conservando-se neutro no início do

conflito, os produtores e empresários norte-americanos abasteceram as nações

envolvidas na guerra, ocasionando uma explosão do crescimento agrícola e industrial

do país. Ao final do conflito, os EUA tornaram-se credores da Europa arrasada e,

assim, projetou-se como grande potência mundial.

O sentimento de patriotismo evidenciado no início da guerra foi substituído por um

clima de profunda desolação e desesperança. O mapa político da Europa foi

redesenhado e foram desmembrados os Impérios Alemão, Austro-Húngaro e

Otomano e, com isso, foram criados novos países (Hungria, Polônia, Áustria,

Letônia, Estônia e Lituânia, Tchecoslováquia e Iugoslávia). Morreram,

aproximadamente, 9 milhões de pessoas, entre civis e militares e o número de feridos

passou dos 30 milhões.

A Liga das Nações criada durante a Conferência de Paz de Versalhes, por proposta do

presidente dos EUA, tinha por missão principal mediar os conflitos internacionais, a

fim de preservar a paz mundial. Sem a adesão dos EUA e outras potências, a Liga

não reuniu força política necessária para cumprir seu papel e acabou por tornar-se

joguete nas mãos da França e Inglaterra.

Quanto à Alemanha, o Tratado de Versalhes estipulou que aquele país deveria, entre

outras coisas, restituir a Alsácia-Lorena à França e ceder outras regiões à Bélgica,

Dinamarca e Polônia; pagar uma pesada indenização de guerra aos vencedores;

desarmar o seu exército. Muitos alemães consideraram injustas, vingativas e

humilhantes as condições do Tratado de Versalhes. Anos mais tarde, o ressentimento

e o desejo de mudar essas condições motivariam o ressurgimento do nacionalismo

alemão. Após a derrota alemã, houve a abdicação do Imperador Guilherme II e a

instauração da República de Weimar. Era o fim do Segundo Reich. Era o prenúncio

do surgimento do Terceiro.

Autoria: Prof Fabiano

Page 48: Textos auxiliares historia cmf

Texto auxiliar – Revolução Russa

A Rússia foi uma monarquia absolutista feudal até final do Século XIX.

Predominantemente agrária, a nobreza rural era a base do Estado e também a

proprietária da maior parte das terras cultiváveis do país. Naqueles tempos, a

industrialização do Império Russo foi viabilizada por iniciativa do Czar Nicolau II,

que ao abrir as fronteiras do país ao capital estrangeiro, fez introduzir também as

doutrinas socioeconômicas que há muitas décadas orientavam as relações entre a

burguesia e o proletariado europeus. Surgiu então naquela Rússia tardiamente

industrializada uma burguesia industrial de pouco peso econômico e politicamente

insignificante e uma classe operária forte, que logo começou a promover greves e

manifestações por melhores condições de vida e de trabalho.

Toda a agitação social produzida pelo impacto da industrialização estimulou a

politização do povo russo e surgiu então, em 1898, o Partido Operário

Socialdemocrata Russo, que foi desde o início destinado à clandestinidade, posto que

não havia interesse por parte do Czar em liberalizar as massas populares. Aquele

partido rachou, em 1903, em dois grupos de interesses distintos: Os Mencheviques e

os Bolcheviques.

Os Mencheviques (minoria) defendiam a implantação do socialismo de forma

gradual, em aliança com a burguesia, enquanto que os Bolcheviques (maioria)

defendiam a luta revolucionária e a conquista imediata do poder pelos operários

e camponeses. O principal líder bolchevique era Lenin, que em diversas ocasiões foi

preso e deportado para campos de prisioneiros na Sibéria, devido ao carisma com que

influenciava a população contra o absolutismo do Imperador.

Page 49: Textos auxiliares historia cmf

Em 1904, a Rússia travou uma guerra contra o Império Japonês, ambos os Impérios

interessados em regiões orientais da Ásia e aquele conflito representou o agravamento

das dificuldades econômicas para o povo russo, cujas forças armadas haviam sido

derrotadas. A caótica situação psicossocial provocou diversas manifestações dos

grupos sociais já articulados e a mais célebre levou centenas de milhares de

habitantes de São Petesburgo, então capital do Império, a reivindicarem

pacificamente ações governamentais que levassem à redução da fome, do desemprego

e da moradia, visto que o processo de industrialização havia gerado um êxodo rural

para os grandes centros populacionais.

Essa manifestação, ocorrida no dia 22 de janeiro de 1905 (8 de janeiro do calendário

russo), ficou conhecida como o Domingo sangrento, pois os milhares de

reivindicantes foram rechaçados pelas tropas do Czar e 92 vítimas fatais e mais de mil

feridos se fizeram, desencadeando uma série de greves urbanas por todo o Império,

além de violentas reações contra os senhores de terras. Face à radicalização social

originada pela indignação popular ao massacre de São Petesburgo, operários e

camponeses criaram os sovietes, conselhos políticos destinados a tomar decisões,

muitas vezes à revelia do Estado. Logicamente, os sovietes existiram de forma tão

clandestina quanto as agremiações partidárias que uniam o povo russo numa prática

política proibida.

Pressionado com as revoltas rurais e urbanas que se sucederam ao massacre do

Domingo sangrento, o Czar Nicolau II acenou com o fim do absolutismo e diversas

medidas liberalizantes que levassem à melhoria das condições de vida da

população. Prometeu reformas políticas e, com isso criou a Duma, uma espécie

de Parlamento subordinado ao Czar. Porém, além de não cumprir as promessas,

moveu violenta repressão contra os grevistas e os sovietes. Recuperando forças, o

Czar abandonou as promessas liberais que havia feito, perseguiu e exilou os líderes da

oposição e a Duma perdeu seus poderes efetivos. A Revolta de 1905 chegava ao fim,

por mais que ela tenha sido considerada pelos revolucionários de 1917 como um

―ensaio geral‖.

Não refeita da derrota contra o Japão, a Rússia lançou-se numa aventura contra o

exército alemão, equipado pela mais poderosa indústria bélica da época.

Patrocinadora da causa eslava, responsável pelo conflito mundial, a Rússia foi às

últimas consequências e aderiu a um feito que lhe rendeu efeitos catastróficos. Após

alguns sucessos iniciais contra o Império Austro-Húngaro em 1914, as deficiências

Russas — particularmente a falta de equipamentos e o uso de armas obsoletas — se

tornaram cada vez mais evidentes. Em 1916, o Czar Nicolau II decidiu tomar

pessoalmente o comando do exército, deixando a administração pública nas mãos de

sua esposa, que só tomava decisões após ouvir os conselhos do místico Grigori

Rasputin.

No início de 1917, a Rússia já contabilizava 5 milhões de mortos e feridos, na

maioria arrimos de família, o que desestabilizou a economia do vasto Império. O

exército russo tornou-se uma enorme massa de soldados cansados, maltrapilhos,

famintos e desarmados, desejosos da paz e que haviam deixado suas famílias

Page 50: Textos auxiliares historia cmf

passando pelas mesmas privações. Em março de 1917, aproveitando-se da situação

crítica, milhares de pessoas lideradas pelos mencheviques invadiram o palácio do

governo e depuseram a Imperatriz. Teve início, assim, a Revolução Russa. O

Imperador foi preso na frente de combate e os 5 séculos de domínio dos Czares

tiveram um fim.

Para fins didáticos, a Revolução Russa será dividida em nosso estudo em três

grandes fases: a Revolução Branca, a Revolução Vermelha e a Guerra Civil. A

deposição do Czar deu início à Revolução Branca, na qual um governo

provisório controlado pelos “brancos” mencheviques adotou medidas

liberalizantes exigidas pela população visando à retomada de níveis de

normalidade e combate aos males sociais e econômicos que afligiam as famílias

agora sem seus chefes, mortos ou tornados inválidos pela Grande Guerra. De

uma maneira geral, houve reduções da jornada de trabalho, anistia aos presos

políticos e restabelecimento de alguns direitos confiscados nos últimos anos de

repressão, como os direitos de reunião e de expressão. Entretanto, se no campo

social o novo governo branco havia melhorado a vida da população, não

conseguiu resolver problemas econômicos que afligiam os russos há séculos,

como necessidade de reforma agrária e combate à fome. Além disso, os

mencheviques cometeram o pior erro que podia ser cometido naquele momento

de desequilíbrio: mantiveram a Rússia na 1ª Guerra Mundial.

Entendendo que a Rússia só sairia da guerra se um fator de grande peso superveniente

se abatesse sobre a nova realidade revolucionária, o Império Alemão tramou a

reintrodução em solo russo do líder bolchevique Lenin, que estava exilado na Suiça.

Lenin chegou em São Petesburgo em abril de 1917 e liderando um contragolpe,

assumiu o poder em novembro (outubro no calendário russo – por isso a Revolução

Bolchevique é conhecida como a Revolução de Outubro) daquele ano, iniciando o

que a historiografia registrou como o governo vermelho, que tomou as seguintes

medidas: assinou um tratado de paz com a Alemanha (Brest-Litovski), retirando a

Rússia da 1ª Guerra Mundial, confiscou propriedades privadas, distribuindo-as aos

camponeses, estatizou a economia (bancos e fábricas) e desferiu intensa perseguição a

opositores.

Após a deposição dos mencheviques, forças políticas ligadas à monarquia russa,

contando com o apoio da Inglaterra, da França e do Japão, interessados na contensão

da revolução comunista, se organizaram contra o novo governo, iniciando uma guerra

civil entre brancos e vermelhos. Aquela guerra interna durou 3 anos e após conflitos

violentos, o governo bolchevique conseguiu a vitória graças à estratégia do

Comunismo de Guerra e à resistência militar do Exército Vermelho que, liderado

por Trotsky, saiu-se vitorioso.

A estratégia do Comunismo de Guerra foi uma estratégia adotada pelos

bolcheviques durante a guerra civil que ocorreu no país. Pautava-se na premissa

de que todas as forças produtivas do país deveriam ser orientadas no sentido de

combater os inimigos do povo, ou seja, os russos brancos e tropas de ocupação

estrangeiras. As principais medidas adotadas foram a requisição de cereais e de

Page 51: Textos auxiliares historia cmf

toda a produção agrícola, censura à imprensa, nacionalização da economia e das

terras, decreto do trabalho obrigatório, congelamento de preços e salários e

extermínio de toda força opositora ao novo regime proletário instituído. As

principais consequências do Comunismo de Guerra foram o surgimento da

Tcheka e a fome de 1921.

Mas o que foi a Tcheka? Após a queda do Czar Nicolau II, a primeira opção dos

russos foi por um esboço de democracia. O governo provisório, formado por liberais

e socialistas moderados, tentou colocar ordem na casa e convocou eleições que não

aconteceram por que aquele governo liberal foi deposto pelos bolcheviques. A

intenção bolchevique era inverter a pirâmide social, abolir a propriedade privada e

colocar todo o poder nas mãos dos trabalhadores. Eram ambições épicas, que

refletiam uma confiança quase religiosa nas teorias marxistas. Os revolucionários

acreditavam que o evangelho marxista podia ordenar o presente e determinar a

―história do futuro‖.

Mas como fazer isso em um regime democrático que se fundamenta na coexistência

de ideias opostas? Deflagrada a guerra civil, a solução foi criada pela própria teoria

marxista: a manutenção do poder só poderia existir nas mãos de um partido único,

que representava os interesses do povo. A solução, romantizada pela própria

revolução, acabou por se tornar o problema, pois a impossibilidade de coexistência

pacífica entre o novo regime e ideias contrarias (oposição) demandava um poder

coercitivo, que foi materializado na Tcheka, polícia secreta bolchevique criada por

Lenin em um decreto emitido em 20 de dezembro de 1917, cuja tarefa era "reprimir e

liquidar", com amplos poderes e quase sem qualquer limite legal, qualquer ato

"contrarrevolucionário".

Desde a sua fundação, a Tcheka foi um importante braço militar de segurança do

governo comunista bolchevique. Como exemplo de sua amplitude, já em 1921, as

Tropas para a Defesa Interna da República (um ramo da Tcheka) contavam com cerca

de 200.000 integrantes. Estas tropas policiavam os Gulags, que eram campos de

concentração para prisioneiros políticos, liquidavam os adversários políticos (de

direita e esquerda), derrubavam as rebeliões camponesas, tumultos por parte dos

trabalhadores, e motins no exército vermelho, que era atormentado por deserções. Em

suma, era o instrumento de repressão da revolução dita popular e foi o embrião da

temida KGB soviética.

E como surgiu a fome de 1921, a outra consequência do Comunismo de Guerra?

Entre 1918 e 1921 houve a expropriação das grandes indústrias e o confisco da maior

parte da colheita de cereais para alimentar o Exército Vermelho e os trabalhadores

urbanos. Tais medidas provocaram o colapso da economia predominantemente

agrária. Essas medidas de impacto no campo levaram à morte pela fome de 5 milhões

de russos. Lenin via na fome um meio de combater a Igreja Ortodoxa, pois, segundo

ele, o povo iria confirmar que o acesso à alimentação seria uma prerrogativa das

autoridades e não dos céus. O episódio da grande fome de 1921 consolidou a ruptura

entre o Estado e a igreja ortodoxa. O pensamento ateu se fez proeminente, a partir de

então, inserido como parte indissociável do Estado socialista.

Page 52: Textos auxiliares historia cmf

Em 1921 deu-se o fim da guerra civil e o triunfo do governo bolchevique. Lenin

programou então a Nova Política Econômica (NEP), estratégia que substituiu o

Comunismo de Guerra e que buscava incentivar a nascente economia estatizada. A

NEP consistiu no temporário restabelecimento da livre iniciativa e da pequena

propriedade privada, admitindo o apoio de financiamentos estrangeiros, visando ao

reequilíbrio da economia russa, duramente atingida por 6 anos de conflitos internos e

externos.

Em dezembro de 1922, foi fundada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

(URSS), cujo órgão máximo do governo era o Soviete Supremo, colegiado composto

por um presidente e por delegados de todas as repúblicas soviéticas. Logo após esse

marco histórico, Lenin se afastou do cenário político, em função de problemas

mentais, vindo a morrer em 1924. Ainda em 1922, o Soviete Supremo passou a ser

disputado por Stalin, secretário-geral do Partido Comunista e Trotsky, ministro da

guerra e responsável pela vitória do exército vermelho sobre o exército branco na

guerra civil finalizada em 1921.

A disputa foi vencida por Stalin e Trotsky exilou-se, tendo sido assassinado 18 anos

mais tarde no México a mando de Stalin. A história da URSS está intimamente ligada

à trajetória da ditadura stalinista. Em busca de uma rápida industrialização do país,

Stalin adotou Planos Quinquenais, que objetivaram a criação de uma indústria

pesada, que rapidamente colocasse o país nos trilhos da industrialização europeia.

Para atender aos reclames dessa industrialização que se mostrou dinâmica, Stalin viu

a necessidade de explorar os territórios vizinhos, deflagrando uma verdadeira corrida

imperialista. Moscou instituiu governos fantoches, que eram mantidos como satélites

orbitais orientados pela doutrina comunista e cujo esforço econômico passava a girar

totalmente em prol das necessidades soviéticas. Essa anexação imperialista ficou

conhecida como cortina de ferro e logo após a 2ª Guerra Mundial, já contava com 14

países vizinhos controlados totalmente pela URSS e outros tantos com vida política

própria, mas praticantes da doutrina comunista.

Enquanto viabilizava seus planos quinquenais, Stalin concentrou cada vez mais o

poder político em suas mãos, perseguindo cruelmente as oposições políticas.

Milhares de inimigos do governo foram presos, torturados e mortos. Se não fossem

mortos, os inimigos da ditadura soviética eram expurgados e condenados a trabalhos

forçados em campos de prisioneiros, os gulags. Stalin aprimorou cada vez mais a

extrema centralização do poder e, graças a um imenso controle policial sobre a

população, um metódico e doentio culto à sua personalidade, produziu uma ditadura

tirana e totalitária regida por um partido único. A ditadura soviética foi o principal

produto da Revolução Russa. Ambos os episódios foram considerados marcos na

história da humanidade e mostraram-se, desde o início, tão repressoras em relação às

liberdades políticas e econômicas e tão opressoras em relação aos direitos

fundamentais do ser humano. A Revolução Russa e o Império Soviético produziram

150 milhões de mortos ao longo dos quase 100 anos em que semeiam consequências

pelo mundo afora.

Autoria: Major Fabiano

Page 53: Textos auxiliares historia cmf

Texto auxiliar – Crise da sociedade liberal

Ao final da 1ª Guerra Mundial, a economia dos Estados Unidos da América havia se

tornado a mais poderosa do mundo, isso tudo porque a 1ª Guerra Mundial havia

gerado laços de uma profunda dependência europeia da economia e das finanças

norte-americanas. Os Estados Unidos haviam se tornado os grandes exportadores,

durante e no pós-guerra de tudo aquilo que os europeus precisavam, desde alimentos

a armas. Uma onda de euforia havia tomado conta da população norte-americana, que

vivia os chamados “anos felizes”.

Cada ano prometia ser melhor que o anterior. Uma sondagem de âmbito nacional sobre negócios

realizada em janeiro por uma agencia de propaganda de Manhattan (e devidamente entregue a

Coolidge (*), para seu grande deleite) concluiu que todos os indícios “apontavam para um próspero

1929”. Em seu pronunciamento final à nação, naquele ano, Coolidge se congratulou pelo “mais

alto pico de prosperidade em vários anos” e declarou que nenhum outro Congresso “jamais

encontrou uma perspectiva mais agradável como a que se manifesta neste momento. No campo

doméstico há tranquilidade e contentamento”. Em suma, o que poderia dar errado? Em termos

estatísticos, a renda real total dos americanos havia aumentado numa média de 3,4% (acima da

inflação) ao ano durante a maior parte da era Coolidge na presidência. Como observou o

economista Harold Bierman Jr, “os anos 1920 foram de fato um período de real crescimento e

prosperidade”. Embora os americanos mais ricos tivessem se saído muito melhor que o americano

médio – e que todos os demais – a maioria da nação estava, em maior ou menor grau, participando

dos benefícios do crescimento econômico. Nenhum desses benefícios era considerado mais

desejável que o automóvel, o reconhecido símbolo da prosperidade. Em 1929 os americanos

compraram, normalmente a crédito, 4,45 milhões de automóveis de passageiros a um preço de

varejo médio de US$ 876. Nada menos que 21,6 milhões de automóveis e 3,1 milhões de

caminhões foram registrados até 1928, atribuindo aos americanos 78% do estoque mundial de

veículos...

(*) Calvin Coolidge, Presidente dos Estados Unidos até 1928.

Parker, Selwyn (O crash de 1929, Editora Globo, 2009)

Os Estados Unidos produziam muito e o pujante mercado interno de todo o

continente americano assimilava parte considerável daquela imensa produção e, com

isso, estabeleceu-se naqueles anos 20 do século passado uma relação harmoniosa

entre as exportações de matérias primas da América do Sul para aquele país e as

importações europeias de produtos transformados. Os grandes e pequenos

empresários tinham adquirido um nível de liquidez financeira tal que era preciso

Page 54: Textos auxiliares historia cmf

investir o capital excedente. Assim também pensava o cidadão comum e todos os

níveis da sociedade investiam no mercado especulativo de ações. As bolsas de

valores, funcionando com níveis exorbitantes e irreais de rentabilidade haviam atraído

as reservas dos indivíduos e das corporações.

As ações continuavam subindo de forma ativa – uma boa prova para a maioria dos americanos de

que a riqueza estava realmente em via de ser democratizada por meio do mercado de ações. Após

20 meses da maior alta de mercado já registrada, a medida padrão das ações ordinárias em Nova

York alcançara 225, alta de 125%...

Parker, Selwyn (O crash de 1929, Editora Globo, 2009)

A gradativa recuperação da economia e das finanças europeias a partir de 1925,

aliada a uma distensão no pagamento de empréstimos fez com que os meios de

produção norte-americanos começassem a produzir acima da capacidade de

compra dos mercados interno e externo. Uma superprodução de mercadorias

passou então a não ter a mesma demanda, o que ocasionou, na segunda metade

do ano de 1929, uma violenta queda dos preços e dos lucros, redução da

atividade econômica, desemprego em massa e como consequência final, uma

tentativa desenfreada de venda das ações das bolsas de valores.

Investidores e acionistas passaram então a tentar negociar as ações que

possuíam, fosse porque precisavam do dinheiro ou porque o valor dessas ações

estava em frenética baixa. O movimento de venda de ações cresceu rapidamente,

até que a 24 de outubro de 1929 – dia conhecido como quinta-feira negra –

ocorreu a queda vertiginosa do valor de milhões de ações na Bolsa de Nova

York, que não encontraram compradores. O mercado financeiro quebrou e deu-

se início uma crise econômica que se alastrou e afetou consideravelmente todo o

país, levando inúmeras empresas e bancos à falência em questão de horas, dando

início a um período que ficou conhecido como Grande Depressão. A quebra do

mercado especulativo norte-americano abalou todo o mundo capitalista,

afetando todas as relações comerciais vinculadas à atividade industrial dos

Estados Unidos, ou seja, todos os níveis da produção agroexportadora da

América Latina e a Europa ainda débil em suas políticas econômicas sofreram a

crise que se estendeu durante boa parte da década de 1930.

A situação começou a mudar com a eleição do presidente Franklin Delano Roosevelt,

que governou entre 1933 e 1945 e que implementou um programa misto de reformas

denominado New Deal (Novo Acordo), que procurou desenvolver medidas de

estímulo à recuperação da economia e combate ao desemprego e às precárias

condições de vida de grande parte da população. E isso só foi possível face à

conciliação de medidas de intervenção do Estado na economia com a manutenção das

leis do livre mercado.

Apesar do bom propósito do New Deal, o programa não alcançou o êxito esperado,

com resultados pouco expressivos no soerguimento do PIB e no combate ao

desemprego. O que efetivamente reergueu pouco a pouco a economia nacional foi

a reativação da indústria bélica, a partir de 1937, em resposta ao rearmamento

Page 55: Textos auxiliares historia cmf

da Europa e devido também à incorporação de milhares de desempregados nas

Forças Armadas americanas.

A crise do capitalismo, a fragilidade das democracias liberais dependentes do fracasso

norte-americano, o triunfo da experiência comunista na Revolução Russa e a

insatisfação de vencedores e perdedores da 1ª Guerra com os acordos de paz criaram

condições para o surgimento de regimes totalitários na Europa. Os principais foram o

Fascismo italiano e o Nazismo alemão, que tinham algumas semelhanças

programáticas, como o caráter nacionalista, militarista, imperialista, antissocialista e

antiliberal. Defendiam a existência de um Estado forte e centralizador nos planos

político e econômico, um único partido, ideologia oficial e vigorosa propaganda

estatal, com promoção do culto à personalidade dos líderes do regime.

Quanto ao Fascismo, suas causas remontam à profunda insatisfação provocada pelas

reduzidas compensações territoriais recebidas pelo Tratado de Versalhes, que não

estiveram à altura do que havia sido prometido pelos líderes da Entente por ocasião

do Tratado de Londres de 1915, que empenhou a palavra do Governo Inglês de que a

Itália receberia colônias alemãs na África, receberia vantagens territoriais na Ásia

Menor e uma posição dominante no Mar Adriático, promessas que não se

concretizaram. A isso se somava o descontentamento social pela grave crise

econômico-financeira do pós-guerra, que veio a se agravar durante toda a década de

1930. Naquele contexto, o movimento sindical se radicalizou e o atuante Partido

Socialista conquistou milhares de adeptos. Nos anos de 1919/20, cerca de 2 milhões

de trabalhadores fizeram greve em todo país.

Temendo a incapacidade do Governo em controlar as greves e agitações, a burguesia

industrial italiana começou a apoiar o Fascio di Combattimento, uma organização

paramilitar, fundada em 1919, por Benito Mussolini, que viria a transformar-se, em

1921, no Partido Nacional Fascista. Em outubro de 1922, numa demonstração de

força para obrigar o governo a entregar o poder ao Partido Fascista, Roma foi

invadida por milhares de fascistas, que vestiam camisas negras, no episódio

conhecido como “Marcha sobre Roma”. Pouco depois, o rei Vitor Emanuel III

nomeou Mussolini para o cargo de 1º ministro.

No poder, Mussolini inicialmente procurou organizar um Estado autoritário e

nacionalista, marcado pela organização de milícias fascistas e pela perseguição e

anulação dos opositores políticos. A partir de 1925, Mussolini, agora chamado de

Duce (guia), implantou uma ditadura marcada pela intervenção socioeconômica

e pela repressão violenta aos trabalhadores. Restaurou a pena de morte e criou

os tribunais especiais para defender o Estado. Uma de suas principais medidas

foi a instituição da Carta Del Lavoro (Carta do Trabalho), um eficiente

instrumento de controle sobre a classe operária, combinando concessões aos

trabalhadores com medidas repressivas.

Para sustentar o regime, mobilizou a juventude e transformou as instituições

educacionais. Ao mesmo tempo, resolveu a disputa entre o Estado e a Igreja (Questão

Romana) e tornou o catolicismo a religião oficial do país. Essas decisões garantiram

Page 56: Textos auxiliares historia cmf

enorme popularidade para o fascismo. O período de crescimento econômico que vivia

o país foi duramente afetado pela crise de 1929. Uma das saídas adotadas pelo

governo foi ampliar seus domínios coloniais, tomando a Etiópia e a Albânia.

Durante a segunda guerra mundial, Mussolini foi importante parceiro de Hitler, mas

derrotado na Grécia em 1940 e na África em 1941 teve sua liderança repudiada pelo

Grande Conselho Fascista em 1943. Destituído e preso, foi libertado em 1944 pelos

alemães e tentou manter-se no poder no norte da Itália, mas, já desmoralizado e

isolado, foi preso por guerrilheiros italianos, os partigianes, ao tentar fugir para a

Suíça, quando foi sumariamente julgado e fuzilado.

O Nazismo teve a mesma essência de formação. Agremiação política radical, surgiu

no cenário mais desolador já vivido pela Alemanha desde sua formação sociocultural

ainda na Idade Média. Arrasada e humilhada pelas duras condições impostas pelo

Tratado de Versalhes, a Alemanha vivia uma inédita experiência republicana que

ficou conhecida como República de Weimar, sistema político que enfrentava o

desastre do pós-guerra, com elevados índices de desemprego, inflação galopante e

forte radicalização sindical, com greves e insatisfações de todos os matizes,

orquestradas pelos partidos socialistas e comunistas da Alemanha.

Em Face dessa situação geral sofrível, a sociedade alemã aderiu facilmente ao ideário

nazista e, em busca de líderes, trabalhadores e empresários viram em Adolf Hitler o

arauto que conduziria a Alemanha a um destino muito mais viável do que a repudiada

República de Weimar havia proporcionado naqueles anos iniciais da década de 1920.

Adolf Hitler, austríaco de nascimento e ex-combatente da 1ª Guerra Mundial, tornou-

se, em 1921, chefe do National-sozialistische Deutsche Arbeiterpartei - NSDAP ou

Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, também chamado de Nazi,

devido à contração do primeiro nome. O Partido Nazista era autoritário e

antidemocrático. Em 1923, Hitler tentou sem sucesso um golpe de estado e foi preso.

Na prisão, escreveu o livro Mein Kampf (Minha Luta), em que expôs as bases do

nazismo: pureza e superioridade da raça ariana, antissemitismo, totalitarismo e

expansionismo baseado na ideia de um espaço vital.

Hitler tornou o Partido Nazista o único partido político alemão e tratou de esmagar as

oposições e impor a ideologia nazista. Em 1934, com a morte do presidente

Hindenburg, o 1º Ministro Hitler assumiu também a Presidência do país, tornando-se

o chefe supremo (Führer) da Alemanha. Durante seu governo, além da censura

política, Hitler manteve rígido controle sobre diversos setores da sociedade alemã,

como a juventude e a educação, lhes impondo os padrões e ideias nazistas. No plano

econômico, Hitler dedicou-se à reabilitação do país, estimulando a agricultura e a

industrialização, principalmente na área de armamentos. No plano externo,

desrespeitando as proibições do Tratado de Versalhes, o governo nazista militarizou

rapidamente o país e, em 1938, iniciou sua política de expansão pela Europa

conquistando a Áustria sem luta militar. A política expansionista alemã desencadeou,

um ano depois, a Segunda Guerra Mundial.

Page 57: Textos auxiliares historia cmf

Doutrinas totalitárias de inspiração nazifascista surgiram em diversas partes do

mundo. Foi o caso da Espanha, de Portugal e mesmo do Brasil. Na Espanha, o

general Francisco Franco, apoiado por grupos representantes das mais tradicionais

instituições da sociedade espanhola – o latifúndio, a Igreja Católica e o Exército –

reuniu forças para lutar contra a República espanhola, instalada desde 1931 e de

maioria socialista. Em consequência, uma sangrenta guerra civil explodiu em 1936,

resultando na vitória das tropas franquistas, que haviam recebido apoio militar dos

governos de Mussolini e Hitler. Franco impôs, então, uma ditadura sustentada por

uma organização política denominada Falange, que passou a exercer um controle

autoritário sobre a educação, sindicalismo, meios de comunicação e órgãos de

segurança.

Esse regime totalitário foi mantido até sua morte, em 1975, quando então a

monarquia parlamentar na Espanha foi restaurada, com eleições democráticas e

disputadas por diversos partidos políticos. Por seu caráter de confronto entre a

democracia e o fascismo e pelo envolvimento da Itália e da Alemanha, a Guerra Civil

Espanhola é vista por alguns estudiosos como ensaio da 2ª Guerra Mundial. Hitler

teria utilizado a luta na Espanha para exibir seu poder e também para experimentar

armamentos e estratégias.

Em Portugal, Antônio de Oliveira Salazar assumiu, em 1932, a presidência do

Conselho de Ministros, equivalente ao cargo de primeiro-ministro. Concentrou,

então, todos os poderes, conduzindo a vida política do país até 1968, quando se

afastou por problemas de saúde. Salazar rejeitava o liberalismo, o socialismo e a

democracia. Apoiou-se no nacionalismo, no catolicismo e nas corporações. O ditador

acabou com a atividade dos partidos políticos existentes, instituindo a União

Nacional como partido único. A democratização política de Portugal desenvolveu-se

somente em 1974, quatro anos após a morte de Salazar, com a Revolução de Abril de

1974, conhecida como Revolução dos Cravos. No Brasil, a ideologia nazifascista

influenciou as frágeis estruturas democráticas, proporcionando ao presidente Getúlio

Vargas meios para a implantação do Estado Novo, uma ditadura que durou de 1937 a

1945, quando as desgastadas ações totalitárias do caudilho sucumbiram face à

antagônica participação brasileira na defesa da democracia mundial ao combater o

nazi-fascismo.

Autoria: Prof Maj Fabiano

Page 58: Textos auxiliares historia cmf

Texto auxiliar – 2ª Guerra mundial

E a cobra fumou

A 2ª Guerra Mundial foi um conjunto de confrontos bélicos que envolveu 58 países

de várias regiões do planeta entre os anos de 1939 e 1945. Nela lutaram dois blocos

antagônicos chamados Potências do Eixo (Alemanha, Itália, Japão, Finlândia,

Tailândia, Eslováquia, Croácia, Albânia, Manchúria, Sérvia, Montenegro e Vichy) e

Potências Aliadas (França, Inglaterra, Estados Unidos, União Soviética, China, Brasil

e outros 40 países). As Potências do Eixo foram assim chamadas pela fusão de dois

pactos de amizade – o Eixo Roma-Berlim e Pacto Anti-Comintern. As causas se

prendem às profundas feridas abertas pela 1ª Guerra Mundial e pela Grande

Depressão, fatos históricos que exacerbaram os nacionalismos econômicos e políticos

mundo afora, principalmente na Europa.

A 2ª Guerra Mundial foi, em vários aspectos, o resultado de disputas mal

resolvidas e que se acirraram no pós-1ª Guerra Mundial. A humilhação imposta

ao novo quadro geopolítico mundial pelas cláusulas do Tratado de Versalhes

conduziu a sociedade europeia a condições propícias de aceitar com docilidade o

surgimento de facções políticas radicais. Esses grupos se incrustaram no tecido

social europeu e foram se transformando pouco a pouco em regimes totalitários

que preencheram os vazios que os mecanismos de paz de 1919 haviam imposto

às populações. Além dos ressentimentos com o Tratado de Versalhes, outro fator

importante foi a fragilidade da Liga das Nações, organismo internacional criado

com o objetivo de mediar conflitos no pós-guerra e que se mostrou incapaz de

manter a paz mundial. Sem a adesão dos Estados Unidos, a Liga acabou sendo

controlada por Inglaterra e França, que aproveitaram as condições favoráveis

para fortalecer seus impérios coloniais.

Durante a década de 1930, os governos totalitários de Alemanha e Itália,

juntamente com o regime militarista do Japão, direcionaram seus esforços para

a recuperação econômica e o desenvolvimento militar. No campo externo,

Page 59: Textos auxiliares historia cmf

praticaram políticas expansionistas e militaristas, ao tempo em que tentaram

reequilibrar suas políticas econômicas. A Liga das Nações adotou uma efetiva

política de apaziguamento em relação a esse expansionismo, pois seus líderes

França e Inglaterra buscavam uma ordem internacional sem novos conflitos

bélicos e sem influência do comunismo soviético, motivo pelo qual a existência do

nazismo alemão, do fascismo italiano e do imperialismo japonês serviriam para

conter a nova ideologia, vitoriosa pela experiência bem sucedida na Revolução

Russa.

A experiência expansionista japonesa se deu então no leste asiático, local em que

conseguiu anexar possessões chinesas, quer em conflito com a Rússia no início do

Século XX, quer em conflito com a própria China já nos anos 30. A Itália lançou sua

rede de influência expandindo-se nos anos 30 sobre a África e os Bálcãs. A

Alemanha, com base na ideia do “espaço vital” (Lebensraum - espaço necessário para

a expansão territorial do povo germânico), militarizou suas fronteiras, em especial sua

área limítrofe com a França, firmou pactos de amizade e cooperação com a Itália -

eixo Roma-Berlim e com o Japão - Pacto Anti-Comintern e expandiu-se a partir de

1938, anexando a Áustria, a Tchecoslováquia e após assinar, em agosto de 1939, um

pacto de não agressão com a União Soviética, anexou a Polônia.

Esse pacto foi chamado de Tratado Ribentrop – Molotov ou Pacto Germano-

Soviético e foi construído como uma possibilidade de respeito mútuo pela linha

fronteiriça que surgiria entre Alemanha e União Soviética tão logo a Polônia fosse

invadida por Alemanha a oeste e pela União Soviética a leste. A invasão alemã e a

consequente tomada da região do corredor polonês se deu no dia 1º de setembro de

1939. Dois dias após, Inglaterra e França declararam guerra à Alemanha.

O início da guerra foi caracterizado por um momento inicial em que nenhum dos

contendores atacou. Esse período de 9 meses, entre setembro de 1939 e junho de

1940 ficou conhecido como Guerra de Mentira (Sitzkrieg) e foi um recorte do tempo

em que ambos os conflitantes mobilizaram-se e estudaram os possíveis próximos

passos do oponente. A partir de junho de 1940, a guerra caracterizou-se pela rápida

ofensiva das forças nazistas. Foi a chamada Guerra Relâmpago (Blitzkrieg),

momento em que Hitler conseguiu destruir as linhas de defesa adversárias, graças ao

avanço veloz dos veículos blindados Panzers, apoiados pelos bombardeios da força

aérea alemã, a Luftwaffe. Essa nova estratégia militar possibilitou a conquista da

Dinamarca, Suécia, Noruega, Holanda, Bélgica e Luxemburgo. Restavam a França e

a Inglaterra. Contornando a Linha Maginot (fortificações subterrâneas na fronteira

com a Alemanha, consideradas indestrutíveis pelo governo francês) graças a uma

grande mobilidade e apoio de artilharia, os alemães acuaram as tropas inglesas e

francesas em Dunquerque, no norte da França, no episódio conhecido como a Batalha

de Dunquerque. Esmagadas as tropas aliadas, a fuga pelo Canal da Mancha ficou

conhecida como a Retirada de Dunquerque.

Vencida a Batalha de Dunquerque, os alemães ocuparam Paris em junho de 1940.

Ainda naquele mês, Mussolini abandonou sua neutralidade e declarou guerra à

França e à Inglaterra. Após a rendição francesa, restaram apenas as forças da

Page 60: Textos auxiliares historia cmf

Inglaterra como obstáculo à expansão nazista. A partir de setembro de 1940, Londres

foi sistematicamente bombardeada pelos alemães e essa tentativa de dominar o Reino

Unido ficou conhecida como a Batalha da Inglaterra, em que a aviação inglesa, a

Royal Air Force – RAF conseguiu rechaçar os ataques da força aérea alemã.

Estendendo sua área de influência sobre o mundo, Hitler dominou o norte da África

ainda em 1940, lançando tropas alemãs e italianas, que comandadas pelo General

Rommel compuseram o Afrika Korps, que tinha como objetivo dominar o Mar

Mediterrâneo, conquistar espaços favoráveis para a conquista do Oriente Médio e

criar uma barreira para uma possível contraofensiva aliada partindo do sul da África

para a Europa.

A partir da conquista de boa parte da Europa e do norte da África, a história registrou

como a segunda fase da guerra o período entre 1941 e 1943, em que, quebrando o

Pacto Germano-Soviético ou Tratado Ribentrop – Molotov, a Alemanha invadiu a

União Soviética desencadeando a Operação Barbarossa (em alusão ao Imperador

Frederico Barbarossa, do Sacro Império, líder da 3ª Cruzada), buscando um acesso

privilegiado para uma expansão em larga escala pela Ásia, além de buscar concluir a

dominação do petróleo do Oriente Médio e iniciar a dominação das reservas

petrolíferas soviéticas. Em dezembro daquele ano de 1941, pressionados pelos

embargos econômicos e de fornecimento de petróleo por parte dos Estados Unidos, o

Japão atacou, com seus Kamikases (pilotos suicidas), a base militar americana de

Pearl Harbor, no Havaí, o que levou o governo norte-americano a sair da rentável

neutralidade e declarar guerra ao Eixo. Com a entrada dos Estados Unidos e da União

Soviética, formaram-se, efetivamente, dois grandes blocos rivais: os países que

apoiavam as potências do Eixo e os países que apoiavam as potências Aliadas.

No ano de 1942, as nações do Eixo ocuparam regiões estratégicas na Ásia, na África

e na Europa, o que obrigou as forças aliadas a abrir várias frentes de combate na

busca de tentar espaços para contraofensivas. Em 1942 aconteceu um importante

fator a favor dos aliados. Hitler, animado após os primeiros resultados da Operação

Barbarossa que o fizeram dominar com muita facilidade a Ucrânia, Letônia, Estônia,

Bielorrúsia, Moldávia, Lituânia e toda a península balcânica, devido à estratégia

soviética da terra arrasada, desejoso de dominar prioritariamente os campos

petrolíferos da região de Stalingrado, mudou a trajetória de ataque, prevista

inicialmente para dominar a capital Moscou.

Os nazistas então chegaram às portas de Stalingrado em julho de 1942 e estacionaram

devido à imensa capacidade de defesa do exército soviético, que conseguiu a duras

penas manter a investida alemã até a chegada do inverno, quando o frio intenso fez a

sorte mudar para o lado do defensor. Em fevereiro de 1943, pela 1ª vez na guerra,

houve a rendição de um general alemão e seu exército composto de 600 mil homens

feridos, famintos e doentes. Acabava, assim, o mito da invencibilidade alemã. A

partir daí, os soviéticos lançaram uma contraofensiva em direção a Berlim. Os 600

mil prisioneiros alemães foram encaminhados em marcha forçada para campos de

prisioneiros na Sibéria. Apenas 8 mil chegaram vivos.

Page 61: Textos auxiliares historia cmf

Na Ásia, a vitória americana na Batalha de Midway, em maio de 1942, possibilitou

aos Aliados iniciarem uma grande ofensiva contra o Japão. No norte da África, de

outubro de 1942 a março de 1943, forças anglo-americanas comandadas pelo General

inglês Montgomery e pelo General americano Eisenhower derrotaram o Afrika

Korps, do General alemão Rommel, que retornando a Berlim recebeu nova missão:

comandar a resistência da Normandia, missão que também fracassou e que o levou a

internação hospitalar por ferimentos em combate. Rommel deu fim à sua vida após

suspeitas de ter participado, mesmo que de forma passiva da Operação Valkíria.

Libertado o norte da África, deu-se início a terceira fase da guerra. Após

bombardearem as regiões litorâneas de Vichy e tendo total domínio da entrada do

Mar Mediterrâneo, o 5º Exército norte-americano invadiu a Itália, desembarcando na

Sicília, em junho de 1943. Dominadas as regiões litorâneas do sul da Europa, grande

mobilização e planejamentos estratégicos desencadearam a famosa invasão da

Normandia, ao norte da França, em 6 de junho de 1944, que entrou para a história

como o Dia D. Pressionado por todas as direções a partir do 2º semestre de 1944,

Hitler e o pesadelo do 3º Reich duraram até a rendição final que ocorreu em 8 de

maio de 1945.

A entrada do Brasil na guerra ocorreu em agosto de 1942. A decisão foi tomada

após o afundamento de vários navios brasileiros pela marinha alemã, o que

desencadeou em todo país uma série de manifestações públicas de indignação. A

Força Expedicionária Brasileira (FEB), com um efetivo de mais de 25 mil

militares, participou da luta contra o nazi-fascismo durante a campanha na

Itália em apoio ao 5º Exército de Campanha Aliado. Apesar da declaração de

guerra ter ocorrido em 1942, nossos Pracinhas, como ficaram conhecidos os

combatentes da FEB, tiveram seu batismo de fogo em setembro de 1944.

Durante 239 dias, entre setembro de 1944 e maio de 1945, a Força

Expedicionária Brasileira (FEB) participou de mais de 100 ações de combate e

capturou cerca de 20 mil soldados inimigos, saindo-se vitoriosa em oito batalhas.

Seu lema foi criado em réplica à incredulidade de setores influentes da sociedade

brasileira que afirmavam que era mais fácil uma cobra fumar que o Brasil

entrar na guerra. “E a cobra fumou...”.

Em nível de consequências da 2ª Guerra Mundial, estimam-se as perdas humanas em

55 milhões de mortos iniciais e mais de 30 milhões de feridos, 200 milhões de

refugiados e um sem número de consequências desastrosas para as nações que se

envolveram voluntaria ou involuntariamente no conflito. A guerra deixou em grande

parte da Europa e em algumas regiões da Ásia um rastro de destruição: estima-se que

tenham sido afetados pela violência da guerra cerca de 300 milhões de pessoas, entre,

feridos, órfãos, refugiados e mortos, que em médio prazo foram contabilizados em

cerca de 100 milhões. Em contraste com a maioria das nações, aquelas que não

tiveram seus territórios invadidos, além de se tornarem credores de guerra,

usufruíram de estabilidade e prosperidade econômica, como por exemplo, os

Estados Unidos da América e Canadá.

Page 62: Textos auxiliares historia cmf

O declínio europeu causou o afrouxamento das subordinações neocolonialistas,

resultando na independência política de várias nações africanas e asiáticas. Esse

término da supremacia político-econômica europeia possibilitou a divisão do

mundo em dois blocos antagônicos: o bloco capitalista, sob a hegemonia dos

Estados Unidos e o bloco comunista, liderado pela União Soviética, fazendo

surgir a Guerra Fria, que se estendeu entre 1945 e 1991. Essas duas forças

dividiram todo o mundo em duas áreas de influência. Foram criadas ainda, por

essas duas superpotências, duas alianças militares: a OTAN (Organização do

Tratado do Atlântico Norte), chefiada pelos EUA e o Pacto de Varsóvia,

chefiado pela URSS. Esses dois blocos promoveram uma corrida armamentista

com a proliferação de armas atômicas, gerando vários conflitos e guerras pelo

mundo afora, onde apareceram disputas por territórios entre povos de suas

áreas de influência que quase terminaram em uma Terceira Guerra Mundial.

Reunidos na Conferência de Potsdam, em agosto de 1945, os vencedores criaram

o Tribunal de Nuremberg para julgar os crimes de guerra dos nazistas e lá,

decidiram que a Alemanha teria que pagar pesadas indenizações de guerra, devolver

as áreas invadidas, ter seu território dividido e todos os seus recursos materiais e

econômicos deveriam ser controlados pelas quatro principais potências aliadas

(Estados Unidos, Inglaterra, França e União Soviética). Posteriormente, em 1949, o

mesmo território foi dividido em dois países: República Federal Alemã ou Alemanha

Ocidental, sob a influência dos Estados Unidos e República Democrática Alemã ou

Alemanha Oriental, sob a influência da União Soviética.

Foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU) em substituição à Liga das

Nações, em 26 de junho de 1945, após a Conferência de Yalta, com o objetivo de

manter a paz mundial, defender os direitos humanos e melhorar a qualidade de vida

no planeta. A ONU, da mesma forma que sua antecessora, manteve-se como mero

joguete nas mãos dos principais líderes. Apesar de estar longe do ideal, a ONU,

através de seus organismos internacionais têm contribuído para a melhoria da

qualidade da educação e saúde de populações carentes.

As tecnologias militares de destruição, como novos tanques, foguetes, radares,

aviões a jato, navios porta-aviões e a bomba atômica deram ensejo ao avanço da

industrialização e das inovações científicas. Esses avanços científicos e

tecnológicos propiciaram a consolidação da terceira revolução industrial e

proporcionaram grandes aprimoramentos na área da saúde. No plano econômico, a

recuperação dos países destruídos na Segunda Guerra se deu através do Plano

Marshall e pelo Plano Colombo, em um primeiro momento, e posteriormente pelo

FMI (Fundo Monetário Internacional) e Banco Mundial, formado pelo BIRD (Banco

Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento) e a AID (Associação

Internacional de desenvolvimento) todos os órgãos especiais da ONU.

Não apenas o conhecimento histórico sobre o 3º Reich, mas também a consciência pública do que

ele fez, tem aumentado com o distanciamento temporal do regime nazista. Contudo, o regime não

perdeu nem um pouco de seu poder de excitar o debate moral, pelo contrário. Não muito tempo

depois da Segunda Guerra Mundial ter terminado, o historiador Alan Bullock concluiu sua grande

biografia de Hitler citando as palavras inscritas no túmulo do arquiteto Sir Christopher Wren na

igreja que ele construiu em Londres, a Catedral de St. Paul: “Si monumentum requiris,

circumspice” – “Se necessitas de um memorial, olha ao redor de ti”. Em 1952, quando Bullock

Page 63: Textos auxiliares historia cmf

publicou seu livro, a destruição ocasionada pela guerra ainda poderia ser vista em quase todas as

partes da Europa. Mais de meio século depois, não é mais o caso. Locais bombardeados foram

limpos, campos de batalha foram nivelados, divisões foram cicatrizadas, a paz e a prosperidade

voltaram à Europa. A maior parte das pessoas que viveram durante o Terceiro Reich e lutaram em

suas guerras não está mais entre nós. Dentro de poucas décadas, não haverá mais ninguém que se

lembre desses fatos em primeira mão. Contudo, seu legado ainda está vivo de muitos modos. A

História não se repete: não haverá um Quarto Reich. O neonazismo ainda tem seus defensores,

mas em nenhum lugar ele deu sinais de sequer ter alcançado um poder político significativo. O

legado do Terceiro Reich é muito maior. Ele se estende muito além da Alemanha e da Europa. O

Terceiro Reich suscita da forma mais drástica as possibilidades e as consequências do ódio

humano e da destruição que existem, ainda que em pequena escala, dentro de cada um de nós. Ele

demonstra, com uma clareza terrível, as cruciais possíveis consequências do racismo, do

militarismo e do autoritarismo. Mostra o que pode acontecer se algumas pessoas forem tratadas

como menos humanas do que outras. Expõe da forma mais drástica possível os dilemas morais

com que todos nós deparamos em um momento ou outro da vida, conformidade ou resistência,

ação ou inação em situações específicas com as quais somos confrontados. É por isso que o

Terceiro Reich não vai desaparecer, mas continuará a chamar a atenção de pessoas conscientes em

todo o mundo muito tempo depois de ele ter passado para a História.

Evans, Richard J. (O Terceiro Reich em guerra, Editora Planeta, 2012)

Autoria: Prof Maj Fabiano

Page 64: Textos auxiliares historia cmf

Texto auxiliar – guerra fria

A Guerra Fria constituiu-se a prática da hegemonia política, econômica e militar dos Estados

Unidos sobre as nações que praticavam a economia de mercado e prezavam pela propriedade

privada e da União Soviética sobre as nações que abraçaram seu sistema socialista baseado

em uma economia planificada, no mando de um partido único (Partido comunista), igualdade

social para quem não fosse membro do governo e falta de democracia.

A confrontação entre essas forças contrárias e antagônicas durou da segunda metade da década de

1940 até 1989, quando os fundamentos políticos, econômicos e sociais do comunismo ruíram por

sobre 150 milhões de mortos e dezenas de nações em precárias condições de encararem o fim do

milênio se viram órfãs. O fim desse período também escancarou os antagonismos deixados pelo

capitalismo no rastro de desigualdades sociais tremendas nas nações que o praticaram cegamente,

condições essas que também levaram milhões à morte pela fome e pela falta de condições mínimas

de subsistência.

A Guerra fria pode ser entendida como o período em que o mundo viveu constantemente sob

a ameaça de uma nova guerra em nível mundial, que, se acontecesse seria muito mais severa,

de consequências incontroláveis e que, por ter sido conduzida apenas no campo ideológico, a

história a considerou fria, aguardando fatos novos que a esquentassem. Essa situação de

constante ameaça de um conflito internacional ficou apenas no campo ideológico, não tendo

ocorrido embates militares entre as duas grandes potências, os Estados Unidos e a União Soviética.

Até mesmo porque estes dois países estavam armados com centenas de mísseis nucleares. Um

conflito armado direto significaria o fim dos dois países e, provavelmente, da vida no planeta.

Porém, se não houve conflitos diretos, a guerra fria acabou alimentando conflitos em diversos

países que sofriam a influências das partes capitalista e comunista.

Essa hegemonia econômica, política e ideológica ficou caracterizada por mecanismos de

dominação usados pelos dois líderes do conflito. No campo econômico, a liderança dos Estados

Unidos se fez sentir pelos programas de reconstrução da Europa e da Ásia, personificados nos

planos Marshall e Colombo, enquanto que a União Soviética utilizou o Conselho de

Cooperação Econômica Mútua (COMECON). Já no campo político e militar, foram criadas

Page 65: Textos auxiliares historia cmf

duas alianças militares que propiciaram o equilíbrio que o clima de rivalidade da Guerra Fria

exigia: a OTAN e o Pacto de Varsóvia.

A OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte - , até hoje existente, foi fundada em abril de

1949 e era liderada pelos Estados Unidos, com suas bases nos países membros, principalmente na

Europa Ocidental. Já o Pacto de Varsóvia, criado em 1955 e extinto em 1991, era comandado pela

União Soviética e objetivava a defesa e segurança dos países comunistas, num contraponto à

OTAN.

A OTAN e o Pacto de Varsóvia mobiliaram seu poderio ideológico e militar pelo mundo e podemos

afirmar com segurança que todo o planeta professava alguma das vertentes – a capitalista ou a

comunista -, mesmo aqueles não-alinhados ou neutros, que não estavam diretamente afiliados a uma

das duas alianças militares. Aquela globalização de ideologias e o processo de descolonização da

África e Ásia, fruto do fim da 2ª Guerra Mundial, estimularam muita confusão pelo mundo, pois

não foram raros os casos de sociedades interessadas em seguirem modelos liberais que esbarraram

em lideranças que impuseram regimes comunistas, e vice-versa, o que fez surgir conflitos que quase

fizeram iniciar a temida guerra entre as grandes potências nucleares. O quadro de rivalidade

existente entre o mundo capitalista e o mundo comunista se fez sentir em todos os setores da vida

humana. Não só no campo diplomático e militar, mas nos esportes, na educação, na medicina e até

na corrida espacial que caracterizou os anos 50 e 60 do Século XX.

Três exemplos desses conflitos regionais foram a repartição da Alemanha, a Guerra do Vietnã e a

Guerra da Coreia. No caso da Alemanha, em maio de 1949, 1 mês após a criação da OTAN, foi

criada a República Federal da Alemanha (RFA), a Alemanha Ocidental capitalista, no espaço

que havia sido ocupado por Estados Unidos, França e Inglaterra ao término da 2ª Guerra

Mundial. Em outubro de 1949, os soviéticos conduziram os trâmites que deram origem à

República Democrática da Alemanha (RDA) exatamente no espaço alemão ocupado pelas

forças soviéticas ao término da citada guerra. Para reafirmar a legitimidade de sua nova

empreitada e barrar uma possível invasão ocidental, os soviéticos também promoveram a

detonação experimental de sua primeira bomba nuclear. Dessa forma, o território alemão

ficou dividido e o mundo enxergava com mais clareza a construção da ordem bipolar: a

Guerra Fria. A situação agravou-se consideravelmente quando, em 1961, foi construído um

muro dividindo Berlim Oriental da Ocidental, muro que ficou conhecido como Muro de

Berlim.

Graças à ajuda norte-americana, a RFA capitalista conseguiu organizar uma reforma econômica que

apresentou resultados positivos desde os primeiros anos da década de 1950. No lado oriental, a

RDA comunista passou por imensas dificuldades apesar de ter sido aquela região a parte mais

desenvolvida da Alemanha e que em função das planificações soviéticas, toda a pujante

industrialização dos tempos prussianos foi naufragada. Além desses problemas, os comunistas

locais pretendiam constituir uma nação livre da interferência soviética e guiada pelo regime

pluripartidarista. Contudo, a necessidade de recursos e a sistemática pressão soviética garantiram a

hegemonia comunista, principalmente após a assinatura do Pacto de Varsóvia, em 1955.

No caso da Coreia, com o fim da 2ª Guerra, aquele país foi liberto da influência japonesa e, tão logo

o governo japonês assinou o armistício, o país foi dividido em duas zonas de ocupação, com base

no paralelo 38 Norte: o Norte sob influência da União Soviética e o Sul, sob o domínio norte-

americano. Os interesses americanos e soviéticos, dentro do quadro da Guerra Fria, criaram

divergências entre as duas Coreias e, em 1950, fortemente influenciada pela China, a Coreia do

Norte invadiu a Coreia do Sul, dando início a uma guerra entre os dois lados antagônicos da Guerra

Fria. Sob pressão dos Estados Unidos, o Conselho de Segurança da ONU considerou a Coreia do

Norte nação invasora e enviou tropas de intervenção. A União Soviética e a China apoiaram a

Coreia do Norte, mas diante de uma guerra de maiores proporções, americanos e soviéticos

Page 66: Textos auxiliares historia cmf

estabeleceram as condições de paz, restabelecendo as fronteiras dos dois países como eram antes do

conflito. Esse armistício foi chancelado pela Conferência de Genebra.

A mesma Conferência de Genebra foi usada para mediar outro conflito: o da Indochina. A

Guerra da Indochina se deu entre forças nacionalistas vietnamitas que lutaram contra os

franceses, interessados em retomar os laços de colonização interrompidos pela 2ª Guerra

Mundial. A Indochina é uma região intermediária entre a Índia e a China e ocupava uma

península do sudeste asiático que era dividida entre o Vietnã, o Laos e o reino do Camboja.

Toda aquela região caiu sob domínio do colonialismo francês em 1883 e assim ficou até a

ocupação japonesa na 2ª Guerra. Com a derrota do Japão na 2ª GM, os franceses tentaram

recolonizar toda a Indochina, não conseguindo êxito graças às forças revolucionárias do Viet

Mihn, movimento de insurreição interessado na libertação da península. A Conferência de

Genebra de 1954 mediou os interesses da França e da frente nacionalista Viet Mihn,

concedendo a independência do Laos e do Camboja e mantendo o Vietnã momentaneamente

dividido em duas áreas de influência a partir do paralelo 17 Norte. Ao norte, sob o controle da

frente nacionalista que seguia a doutrina soviética e no Sul sob o controle capitalista francês.

A Conferência de Genebra previu a realização de eleições livres visando à unificação, eleições

que não aconteceram por causa do sul que prevendo a vitória comunista declarou sua

independência, criando o Vietnã do Sul sob influência norte-americana. Criou-se, porém, uma

ditadura que perseguiu os focos de resistência comunista, que ao invés de cederem, criaram

uma Frente de Libertação Nacional, conhecida como Viet Cong. Em pouco tempo o ditador

do sul, Ngo Dinh Diem, mostrou-se incapaz de vencer seus adversários e, a partir de 1963,

começou a receber reforços militares norte-americanos.

Até o fim da década de 60 os Estados Unidos já contavam com quase 600 mil combatentes

naquela região. Apesar de todo aparato tecnológico, os Estados Unidos tiveram dificuldades

em enfrentar os soldados vietcongues (apoiados pelos soviéticos) e, em 1975, tiveram que

abandonar o território vietnamita, derrotados. O Vietnã então se unificou e passou a ser um

Estado socialista.

A Guerra Fria possibilitou que o socialismo se expandisse por várias regiões do mundo, incluindo

vários países do Leste Europeu, da Ásia, da África e alguns poucos da América Latina. A partir da

década de 1980, os governos socialistas foram desmoronando e um dos grandes marcos desse

processo foi o fim da União Soviética, em 1991. O processo de desintegração do bloco socialista

ocorreu de dentro para fora e teve início a partir da União Soviética, durante o governo de Mikhail

Gorbatchev, que implementou, a partir de 1986, profundas reformas internas, como a Glasnost

(liberalização política) e a Perestroika (reestruturação econômica)

Embora o objetivo fosse a modernização e a democratização do país, a partir de 1989 houve um

processo sem volta de desligamento da União por parte das repúblicas que compunham a Cortina de

Ferro. A falta de democracia, o atraso econômico e a crise nas repúblicas soviéticas acabaram por

acelerar a crise do socialismo no final da década de 1980. Grande parte dessa derrocada deveu-se à

implosão da União Soviética, que possibilitou o terreno fértil para a radical mudança do socialismo

praticado desde a Revolução Russa até aqueles dias em que quase todos os regimes tirânicos

crescidos à sombra dos ensinamentos de Karl Marx desabaram num efeito dominó. O capitalismo

vitorioso, aos poucos, foi implantado e hoje caracteriza as relações econômicas na maioria dos

países do mundo.

Autoria: Maj Fabiano

Page 67: Textos auxiliares historia cmf

Texto auxiliar – Ásia

A Ásia é o maior dos continentes, tanto em área como em população. Ocupa um terço das terras de

todo o nosso planeta e abriga três quintos da população total do mundo. Dentre os 49 países da Ásia

encontram-se algumas das maiores e menores nações do mundo, tanto em área como em população.

As nações da Ásia têm diversos sistemas políticos. Os comunistas governam a China e alguns

outros países. A Arábia Saudita e a Tailândia, por exemplo, são governados por reis. Os xeques

controlam Bahrein, Catar e os Emirados Árabes Unidos. Dentre as nações asiáticas que seguem os

princípios democráticos, encontram-se Israel e Japão. Líderes militares assumiram o controle de

muitos países asiáticos em períodos conturbados.

A população da Ásia é tão variada quanto tudo o que diz respeito ao continente. O povo difere

enormemente em genealogia, costumes, línguas, crenças religiosas o modo de vida. A civilização da

Ásia começou há 4 mil anos, aproximadamente, muito antes de haver começado no Ocidente, em

termos de economia, cultura e desenvolvimento científico. Os asiáticos fundaram as primeiras

cidades, estabeleceram os primeiros sistemas de leis e foram os primeiros agricultores e

comerciantes. Os asiáticos inventaram a escrita e criaram as mais antigas literaturas. Os fundadores

de todas as principais religiões do mundo foram asiáticos: Buda, Confúcio, Jesus e Maomé. Os

asiáticos também inventaram o papel, a pólvora e a bússola. No presente estudo, particularizaremos

o Extremo Oriente ou Ásia Oriental e a Ásia Meridional, mais detidamente os aspectos históricos da

formação dos povos chinês, japonês e indiano.

A história da China está registrada em documentos que datam do século XVI A.C. em diante

e que demonstram ser aquele país uma das civilizações mais antigas do mundo com existência

contínua. Os estudiosos entendem que a civilização chinesa surgiu em cidades-Estado no vale

do Rio Amarelo e o ano 221 A.C. costuma ser referido como o momento em que a China foi

unificada na forma de um grande império, que foi mantido graças à imposição forçada de um

sistema de escrita comum e pelo desenvolvimento de uma ideologia estatal baseada no

confucionismo.

Entre 1644 e 1911, a China foi governada pela Dinastia Qing ou Manchu, período em que

procurou manter-se afastada da influência do Ocidente, não tendo as autoridades conseguido

deter a rápida deterioração das instituições sociais devido ao crescimento contínuo da pressão

estrangeira, proveniente do Ocidente e do Japão. A Inglaterra, maior interessada no vasto

Page 68: Textos auxiliares historia cmf

império chinês, passou a vender ópio aos chineses e o consumo dessa droga originou duas

guerras, que ficaram conhecidas como as Guerras do Ópio, conflitos que enfraqueceram o

governo, que teve que ceder a uma série de exigências impostas pelo governo inglês. A

intromissão inglesa a partir da segunda metade do Século XIX, fez surgir um crescente

processo de insatisfação nacionalista que desaguou em um período de grande contestação das

forças políticas imperiais.

Essa onda de revoltas nacionalistas propiciou, em 1911, a queda o Império e a proclamação de

uma República – a República da China, que desde o início passou por várias pressões internas

e externas. No campo externo ressalta-se o constante assédio japonês, que teve seu apogeu em

1937 com a Guerra Sino-Japonesa. No campo interno, uma grande convulsão social interna

promovida pelos comunistas levou a uma guerra civil que durou de 1927 até 1949. Os

nacionalistas, desde 1926 liderados por Chiang Kai-Shek, ao perderem a guerra civil, se

refugiaram em Taiwan, para onde conduziram a República da China, nome oficial de Taiwan.

Mao Tsé-Tung, o líder do movimento comunista, criou a República Popular da China e

implantou, nos anos 50, planos quinquenais nos moldes dos quinquenais da linha soviética, com

quem rompeu em 1956. Após várias tentativas fracassadas de alavancar o desenvolvimento

econômico chinês, tentativas essas que legaram milhões de mortos, a China conseguiu

industrializar-se graças à entrada de capital estrangeiro que se tornou possível após a morte de Mao

Tsé-Tung, quando o país se aproximou do ocidente, sem ter contudo abdicado de seu regime

político comunista até hoje fechado.

O Japão é um império desde 660 A.C. e o imperador sempre foi um supremo mandatário que era

visto pela população como um ser místico e celestial. Esse distanciamento das realidades mundanas

ocasionou a formação de um sistema político no Século XII, em que houve um chefe de governo.

Esse homem de decisões e que muitas vezes teve opiniões diferentes das do imperador era o Xogun,

uma espécie de comandante militar. Um desses xoguns – Tokugawa Ieyasu – promulgou no início

do Século XVII, alguns códigos legais que estabeleceram fortes alterações na vida da sociedade

japonesa, tendo sido a maior delas o fechamento dos portos para o comércio internacional, medida

essa que buscava preservar a cultura japonesa da já forte influência do ocidente, em pleno ciclo de

grandes navegações mercantilistas.

Esse isolamento foi vencido em 1858, cerca de 250 anos depois de decretado e, 10 anos após, uma

revolta recolocou o imperador na chefia do governo, terminando o período do xogunato. Foi a

Restauração Meiji. O Imperador aboliu o sistema feudal, modernizou o país, promulgou uma

constituição estabelecendo uma monarquia constitucional e fez o Japão entrar na era das revoluções

industriais e em uma fase imperialista e expansionista que o lançou de encontro à China ao final do

Século XIX. O resultado desse período de expansão foram conflitos, como a guerra contra a China e

contra a Rússia e após tornar-se aliado dos vencedores da 1ª Guerra Mundial, o Japão manteve um

status de nação próspera e poderosa até a 2ª Guerra Mundial, quando aliado no nazi-fascismo foi

derrotado e ocupado militarmente pelos Estados Unidos. De 1945 a 1952, o governo norte

americano comandou, com grande investimento de capitais, a reconstrução e recuperação

socioeconômica do Japão. O objetivo básico desse apoio era afastar a influência do bloco socialista,

que se expandia na Ásia com a Revolução Cultural de Mao Tsé-Tung. De inimigo derrotado, o

Japão transformou-se no mais importante aliado dos EUA no continente asiático e atualmente é a 3ª

economia do planeta.

A Índia é uma civilização milenar que originou-se da civilização do Vale do Rio Hindu e por

vários séculos foi identificada por sua riqueza comercial e cultural. O país foi durante muito

tempo cenário de uma rivalidade colonialista entre Inglaterra e França, tendo sido anexada e

colonizada pela Companhia Britânica das Índias Orientais e esse domínio que nunca foi bem

aceito pelos indianos. O mal-estar entre britânicos e indianos cresceu com um movimento

conspiratório entre os Sipaios, as tropas indianas empregadas pela Companhia Britânica das

Índias Orientais. Houve um levante geral, conhecido como a revolta dos Sipaios, que começou

Page 69: Textos auxiliares historia cmf

em 1857 e que foi considerada a primeira guerra de independência. Uma vez sufocada a

rebelião, o Parlamento britânico transferiu a administração da Índia da Companhia Britânica

das Índias Orientais diretamente para a Coroa britânica, em 1858. Em 1876 o governo

britânico proclamou a Rainha Vitória como Imperatriz da Índia.

Dos últimos anos do século XIX até a primeira metade do Século XX, o nacionalismo indiano

foi o grande inimigo da posição colonialista britânica. Esse nacionalismo fez surgir uma série

de associações dedicadas à luta pela independência. De todas, a mais influente foi o Congresso

Nacional Indiano (CNI), fundado em 1885 e que foi liderado por Mahatma Gandhi. Essa

organização, que contou com o apoio de muitos hindus e muçulmanos proeminentes, acelerou

a tendência para a independência política, que ocorreu efetivamente em 1947, quando o

Paquistão, culturalmente muçulmano aproveitou para se emancipar da Índia.

Atualmente, Índia e Paquistão mantêm-se em paz armada por causa da região da Caxemira. Este

território já foi motivo de três guerras entre Índia e Paquistão e nos últimos anos, o Paquistão vem

adotando o terrorismo como modalidade de inquietação, sendo o mais célebre dos atentados o que

destruiu alguns pontos da cidade de Mumbai, em 2008.

Autoria: Maj Fabiano

Page 70: Textos auxiliares historia cmf

Texto auxiliar – descolonização

Descolonização é o nome genérico dado ao processo pelo qual uma ou várias colônias adquirem ou

recuperam a sua independência política, geralmente por acordo entre a potência colonialista e um

partido político ou movimento de libertação, com ou sem mediação externa. O termo é atemporal e

se aplica a todos os episódios de independência política ocorridos em todos os tempos e a

descolonização que será apreciada neste estudo é a referente às colônias africanas e asiáticas

dominadas por países europeus e que se emanciparam no Século XX.

Como causa primordial do desgaste do processo imperialista está a 2ª Guerra Mundial e a

calamitosa situação que tomou conta da Europa na década de 1940. Aquele grande conflito

enfraqueceu os colonizadores europeus e esse enfraquecimento proporcionou o surgimento de

movimentos emancipacionistas e nacionalistas, que ganhou força na esteira de uma profunda

consciência anticolonialista e anti-imperialista, fazendo cair por terra os fundamentos da Missão

Civilizadora.

Das ruínas da 2ª Guerra Mundial foi construída então a consciência anti-colonialista, que favoreceu

um movimento independentista que se organizou na Conferência de Bandung. A Conferência de

Bandung foi um encontro realizado em 1955 na Indonésia, em que 23 países africanos e 6 asiáticos

propuseram o fim da dominação neocolonialista e buscaram promover uma cooperação econômica

e cultural de perfil afro-asiático, que fizesse frente à atitude imperialista ideológica das duas

grandes potências da Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética, bem como de seus liderados.

A maioria dos países participantes da conferência vinha da amarga experiência imperialista, em que

experimentaram o domínio econômico, político e social, além das consequências comuns daquele

modelo de dominação.

Bandung deu origem a uma política de não alinhamento - uma postura diplomática e geopolítica de

equidistância com as grandes potências nucleares, através da qual, dezenas de nações tentaram não

ser transformadas em joguetes dos titãs da Guerra Fria. Entre os diversos pontos levantados no

decorrer daquela reunião, os principais foram: rejeição à divisão mundial nos blocos socialista e

capitalista e defesa de uma política de não alinhamento automático com as superpotências;

proclamação do direito de autodeterminação política, reprovando-se, portanto, o imperialismo

político, econômico e ideológico; além de condenação do racismo e da corrida armamentista.

Na prática, o processo de ruptura dos países da África e da Ásia com as metrópoles deu-se

pela via pacífica e pela via violenta. As rupturas pacíficas se davam no momento em que as

Page 71: Textos auxiliares historia cmf

metrópoles reconheciam a emancipação política das colônias e procuravam preservar as

relações econômicas de dominação. Como exemplo, a Inglaterra, ao perceber que o

movimento de emancipação era irreversível, procurou preservar as novas nações sob sua

influência promovendo a descolonização gradual, procurando integrá-las em seu círculo de

relações econômicas, a exemplo da Comunidade Britânica (Commonwealth). Isso aconteceu,

entre outros, com a Índia e o Ceilão (atual Sri Lanka). Já as rupturas violentas eram

alcançadas mediante o conflito armado entre metrópole e tropas de libertação da colônia.

Como exemplo podemos citar a Indochina francesa e a Indonésia holandesa. Nessas regiões, a

luta gerou condições para a intervenção de grupos comunistas.

Serão abordados alguns mosaicos geopolíticos que ilustram os casos de ruptura pacífica e

violenta:

Ásia francesa:

A Indochina foi uma colônia francesa desde 1883 e compreendia o Vietnã, o Laos e o

Camboja. Aquela península foi ocupada pelos japoneses durante a 2ª Guerra Mundial e após

a derrota japonesa na guerra, a França tentou recuperar o controle sobre a região,

deflagrando a Guerra da Indochina (1946-54), em que se destacou a liderança de Ho Chi

Minh, do movimento de libertação vietnamita (Viet Mihn). A paz foi discutida na Conferência

de Genebra, na qual a Indochina foi dividida em seus três países primários. O Vietnã, por sua

vez, seria dividido em dois: Vietnã do Norte, comunista, capital Hanói e o Vietnã do Sul,

capitalista, capital Saigon. O acordo de Genebra decidiu que em 1956 seriam realizadas

eleições gerais para a unificação do país. A alta interferência comunista na região, rechaçada

pela influência norte-americana foi a causa da Guerra do Vietnã, já abordada anteriormente.

Ásia holandesa:

O vasto arquipélago indonésio foi uma colônia holandesa desde o século XVII. Em 1940 a

Indonésia foi ocupada pelo Japão. Após a capitulação japonesa foi proclamada uma república

por um ex-colaborador do Japão, república que não foi aceita pela ex-metrópole. Em 1947, a

República Indonésia tornou-se um protetorado holandês com o objetivo de ceder à intensa

pressão. A população não aceitou aquele regime de policiamento e retorno do controle

europeu e graves conflitos foram iniciados e que duraram até 1949, quando a Holanda aceitou

conceder a independência política. Assumiu então um governo comunista, que manteve-se no

poder até 1965, quando uma forte pressão da Guerra Fria fez o ditador comunista ordenar a

execução de seus generais. Um golpe de estado fez as forças alinhadas aos Estados Unidos

permanecerem no poder até 1999, tornando a Indonésia um país promissor.

África inglesa:

Os movimentos de independência das colônias inglesas caracterizaram-se, em geral, pela

ruptura pacífica. Foram os casos, por exemplo, de Gana, Nigéria, Serra Leoa e Gâmbia, entre

outros países que até final da década de 1960 já estavam livres e agregados à Commonwealth.

No Quênia, entretanto, a emancipação política foi precedida de conflitos violentos devido à

resistência da população branca local, que detinha 25% das terras mais férteis do país. Na

África do Sul, país mais rico do continente, a dominação secular dos representantes da

minoria branca de origem europeia, sobretudo de ingleses e holandeses, impôs à população

negra um regime de segregação racial, além da exploração das grandes reservas naturais

daquele país. Esse regime racista, conhecido como Apartheid, foi o grande entrave para que a

população local adquirisse sua emancipação. O Apartheid resistiu até 1993, quando a

realização de eleições multiétnicas levaram o líder Nelson Mandela a se tornar o primeiro

presidente negro da África do Sul.

África francesa:

Page 72: Textos auxiliares historia cmf

O governo francês procurou negociar formas pacíficas de ruptura com diversas colônias,

como Marrocos, Tunísia, Camarões, Costa do Marfim, Senegal e Madagascar. Em 1960,

estava praticamente desfeito todo império colonial da África. Houve, no entanto, intensa luta

armada na Argélia, onde a minoria de origem francesa controlava a vida política e econômica

do país e era contra a separação da França. Em 1954, tiveram início violentos conflitos pela

independência, liderados pela Frente de Libertação Nacional (FLN). Em 1962, a França

reconheceu a independência da Argélia.

África portuguesa:

O processo de independência das colônias portuguesas ocorreu tardiamente. A resistência

portuguesa à descolonização africana somente se desfez após a queda da ditadura salazarista,

provocada pela Revolução dos Cravos, em 1974, que pregava a democracia em Portugal e o fim do

colonialismo. Dessa maneira, abriu-se caminho para a independência de Guiné-Bissau, Cabo Verde,

São Tomé e Príncipe, Moçambique e Angola. Em Angola formaram-se três grupos armados que

disputaram o vácuo do poder: o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), de

orientação comunista e outros dois de orientação anticomunista. A disputa pelo poder entre esses

três movimentos guerrilheiros levou à luta armada. Em 1975, o país foi declarado independente,

com o MPLA no poder. Mas a guerra civil durou de forma descontínua até 2002, período em que

boa parte da população foi dizimada e o país foi reduzido a escombros. Em Moçambique, formou-

se a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), de orientação comunista, que chegou ao

poder em 1975 com a independência do país. A guerra civil prolongou-se por quase vinte anos,

período em que o país foi assolado pela fome e intermináveis lutas, que dizimaram a população e

destruíram a economia do país. Tanto em Angola, quanto em Moçambique, houve ajuda

humanitária da ONU, na qual o Brasil atuou com forças do Exército na atividade de desminagem

terrestre.

Mundo árabe:

Em 1918, consequência da fragmentação do Império Turco-Otomano, França e Inglaterra

estabeleceram a partilha do mundo árabe. À França coube a Síria e o Líbano e à Inglaterra, o Egito,

Emirados Árabes, Jordânia, Iraque e Palestina, o que dava a esses países acessos ao petróleo

daquela região. Durante esse período de dominação europeia, o fluxo de imigrantes judeus para a

Palestina tornou-se considerável, até porque havia uma necessidade premente de fugir da

perseguição nazista na Europa. Com o término da 2ª Guerra, franceses e ingleses abandonaram suas

colônias árabes criando um vácuo do poder e objetivando assentar a grande migração de judeus para

aquela região, a ONU, sem consultar a Liga Árabe (organização de estados árabes fundada em

1945, com o objetivo de reforçar e coordenar os laços económicos, sociais, políticos e culturais

entre os seus membros), resolveu em 1947 criar o Estado de Israel para abrigar os milhões de judeus

já instalados naquelas terras. Esse estado ocupou 53% da região não soberana da Palestina, o que

desagradou os povos árabes.

Por mais que o projeto de criação de Israel também tenha previsto um estado palestino, os árabes

recusaram-se a aceitar Israel, que no dia seguinte à sua oficialização, em 1948, viu-se

imediatamente atacado por Egito, Arábia Saudita, Jordânia, Iraque, Síria e Líbano no episódio que

ficou conhecido como 1ª Guerra Árabe-Israelense. Os árabes foram derrotados e Israel passou a

controlar 75% do território palestino. A partir daí, iniciou-se o êxodo dos palestinos para os países

vizinhos, o que foi chamado de “Questão Palestina”. A Questão Palestina levou a várias guerras

entre árabes e israelenses: Guerra do Canal de Suez em 1956, Guerra dos Seis Dias em 1967,

Guerra do Yon Kippur em 1973 e as duas Intifadas, que são revoltas populares e localizadas de

palestinos contra israelenses. Desde 1994, parte da Palestina está sob a administração da Autoridade

Nacional Palestina, instituição estatal que governa os territórios da Faixa de Gaza e Cisjordânia. A

Autoridade Nacional Palestina disputa espaço na pauta política com alguns grupos terroristas que

por seus atos extremistas têm sido decisivos para que a paz seja um artigo de luxo no mundo árabe.

Autoria: Maj Fabiano

Page 73: Textos auxiliares historia cmf

Texto auxiliar – globalização

Denomina-se Globalização o processo de integração econômica, política, social e cultural

caracterizado pela abertura dos mercados para o comércio internacional, circulação

instantânea de capitais de um país para outro e interligação mundial por meio de telemática,

garantindo a hegemonia dos países ricos no cenário mundial. Entre os fatores que

contribuíram para a aceleração desse processo destacam-se: a ampliação das fronteiras

econômicas do mundo por ocasião das práticas neocolonialistas, a abertura econômica dos países do

bloco socialista com o fim da Guerra Fria a partir de 1991 e os avanços constantes dos meios de

telemática (internet, celular, TV, etc.) e dos meios de transporte.

Esta nova ordem econômica capitalista é liderada pelos grandes conglomerados empresariais e pelas

alianças políticas entre os governos dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, entre as quais

se destacam o G8, grupo dos sete países mais desenvolvidos do planeta – EUA, Japão, Alemanha,

Inglaterra, França, Itália e Canadá – mais a Rússia e o BRICS, aliança política entre Brasil, Rússia,

Índia, China e África do Sul, países que se encontram no mesmo estágio de economia emergente e

que tentam converter seu crescente poder econômico em uma maior influência geopolítica.

No G8, esse grupo de elite que consolidou a nova ordem mundial chamada Globalização e que

garantiu a expansão do capitalismo, merecem destaque os Estados Unidos da América, país que

liderou todas as ações de desenvolvimento em nível mundial desde o término da 1ª Guerra Mundial,

mesmo tendo passado por graves crises, como o “Crash” do mercado de ações de 1929 e a Grande

Recessão de 2008. Os Estados Unidos constituem-se a nação mais desenvolvida econômica, social e

militarmente do planeta, sendo o grande regulador da economia mundial e o grande interventor nos

momentos de crises entre os povos desde o fim da guerra fria.

O término da Guerra Fria deu início a uma nova ordem internacional capitalista, baseada na

interligação econômica globalizada, fazendo com que o termo globalização passasse a ser usado

com frequência a partir do final da década de 1980. Se a terminologia Globalização é nova, suas

bases foram lançadas na necessária expansão do capitalismo por ocasião da 2ª Revolução Industrial,

quando as nações imperialistas se obrigaram a investir seus capitais excedentes nas colônias

africanas e asiáticas. Aquela medida possibilitou a abertura dos mercados para o comércio

internacional, a circulação instantânea de capitais de um país para outro e a interligação mundial por

meio de comunicação, fundamentos da Globalização, por mais que as práticas imperialistas tenham

criado uma expansão que visava antes de qualquer coisa a extração de matérias primas e o

reinvestimento de capitais excedentes e que, diferentemente do processo de globalização, conduziu

Page 74: Textos auxiliares historia cmf

parte do mundo a rupturas sociais e políticas que disseminaram regimes despóticos e, mais cedo ou

mais tarde, paralisaram as economias submetidas ao poder totalitário.

Há 130 anos, portanto, a Globalização vem exercendo significativa parcela de contribuição

para o progresso da humanidade, representando um entrelaçamento de culturas que vem

estimulando a tolerância entre os povos, a equilibrada marcha das nações em direção à paz, o

aprimoramento científico, tecnológico e multicultural e um forte apelo para o aprimoramento

coletivo dos povos e nações, à medida que o aprimoramento tecnológico tem dinamizando a

economia, tornando-a mais fluida quanto à circulação do capital financeiro. Porém, como

ainda não é um processo universal, até porque a autodeterminação dos povos tem

possibilitado a adesão voluntária, tem significado melhoria para alguns em alguns setores e

vários problemas para muitos.

As principais tendências negativas do processo de Globalização têm sido o aumento do

desemprego, o a xenofobia, a radicalização de intolerâncias e a concentração de riquezas.

A questão do desemprego interage com as demais, até porque há dois tipos básicos de

desemprego: o estrutural, quando as indústrias substituem mão-de-obra por máquinas

automatizadas e o conjuntural, quando empresas menos competitivas acabam dispensando

grande número de trabalhadores, ou seja, fatores totalmente relacionados ao aprimoramento

tecnológico que permite a capilização do capital.

O ressurgimento do nacionalismo na sua forma xenofóbica (aversão a estrangeiros) tem sido

algo muito comum não só em sociedades muito fechadas ao elemento de cultura diferente, até

porque essas sociedades ainda não aderiram na totalidade ao processo globalizatório. A

xenofobia tem sido retratada com muita frequência no continente europeu e tem sido

relacionada à presença de africanos e asiáticos originários de ex-colônias que, na busca de

melhores condições de vida tem competido com os europeus no mercado de trabalho e tem

aumentado as estatísticas do crescente desemprego, gerando insegurança, medo e violência. O

recrudescimento de intolerâncias geralmente se relaciona a questões religiosas e racialistas e à

presença de indivíduos de outras nacionalidades, muitas vezes inseridos na condição

assinalada no parágrafo anterior ou integrados em empresas transnacionais que prestam

serviços ou gerenciam as de bens de consumo.

A questão da concentração de riquezas está profundamente relacionada à questão dos baixos

salários e ambas as condições se originam no atraso tecnológico e social vigentes na maioria

dos países periféricos, devido ao fato de ainda serem exportadores de matérias-primas, cuja

comercialização é realizada por empresas transnacionais, pertencentes aos países

desenvolvidos que contam com mecanismos de proteção, como incentivos governamentais à

produção agrícola nacional.

Paralelamente, os mercados dos periféricos são invadidos por produtos mais baratos feitos em

outras partes do mundo, sem que suas exportações aumentem na mesma medida, o que

chancela o ciclo vicioso da falta de tecnologia para produzir e vender e para poder competir

com o que é produzido fora, ciclo que se realimenta com a participação da mão-de-obra local

em empresas transnacionais que, na busca de folhas de pagamento mais enxutas e com leis

trabalhistas que acresçam o mínimo de custo ao processo de produção, abrem unidades em

países de industrialização recente, ou seja, aqueles que não dispõem de tecnologia para

produzir e vender e para poder competir com o que é produzido fora.

Autoria: Maj Fabiano

Page 75: Textos auxiliares historia cmf

Texto auxiliar – países capitalistas centrais e periféricos

Após o fracasso comunista, firmou-se uma nova ordem mundial capitalista cujos principais

beneficiários são os Estados Unidos, a União Europeia e alguns países do leste e sudeste asiático.

Essa nova ordem capitalista é liderada pelos países capitalistas centrais citados anteriormente e que

são chamados assim por centralizarem os processos industriais, tecnológicos e financeiros do

mundo atual. Essa nova ordem também é movida pelos países capitalistas periféricos, que são os

grandes fornecedores e os grandes compradores dos produtos industrializados e transformados nos

países centrais.

Estados Unidos: Após a 2ª Guerra Mundial, os Estados Unidos da América consolidaram-se como

superpotência econômica e financeira, espalhando sua influência nos campos econômico, militar e

cultural por boa parte do planeta. Investindo na reconstrução da Europa com o Plano Marshall e do

Japão e sudeste asiático com o Plano Colombo, o governo e os banqueiros dos Estados Unidos

converteram-se nos maiores credores mundiais. Com base na supremacia econômica no pós-guerra,

sua moeda, o dólar, tornou-se a moeda padrão das transações internacionais. O país passou a

exercer enorme influência em organismos econômicos como o Fundo Monetário Internacional

(FMI) e é, atualmente, a maior economia do planeta.

Os Estados Unidos também são a principal potência militar do planeta. Desenvolvendo, desde o

pós-guerra, uma política internacional amparada em seu poderio militar, os sucessivos governos

norte-americanos negociaram ou impuseram sua presença em várias regiões do mundo. No plano

cultural, os Estados Unidos são os principais produtores de uma tecnologia de comunicação de

massa de penetração mundial presente no cinema, na música, na televisão, na internet, etc. Essas

poderosas tecnologias de informação ajudam a divulgar a cultura norte-americana e seus valores,

presentes em seu estilo de vida e padrões de consumo, promovendo a hegemonia cultural daquele

país sobre o planeta.

União Europeia: No período do pós-guerra, os países da Europa Ocidental receberam a ajuda

econômica dos Estados Unidos através do Plano Marshall e partícipes da doutrina do “Estado de

bem-estar” tentaram recuperar sua autoestima profundamente desgastada, consequência do

profundo desgaste que as instituições daqueles países sofreram no período da 2ª Guerra Mundial.

Os países comunistas do leste europeu, por sua vez, se uniram passando a atuar no sentido de

Page 76: Textos auxiliares historia cmf

adequar-se à realidade de forte intervenção estatal e liberdades controladas e, sob a influência de

uma concepção política antagônica ao Estado de bem-estar, surgiu o “Estado de bem-estar social”.

Aquele Estado de bem-estar social foi orientado por partidos socialdemocratas que procuraram

atender às reivindicações dos trabalhadores daqueles países e de seus sindicatos, desenvolvendo um

Estado promotor e defensor do atendimento das necessidades básicas de seus cidadãos. Esse Estado

de bem-estar social com foco predominante no campo econômico, sem ter conseguido garantir as

liberdades políticas e sociais que eram experimentadas no mundo capitalista, criou Estados imensos

e gastadores que, sem controle político e social foram sepultados dentro do contexto de fracasso da

experiência do bloco soviético.

O antagonismo entre o “Estado de bem-estar social” preconizado pelo comunismo e o “Estado

de bem-estar” patrocinado pelo capitalismo fez surgir na Alemanha Ocidental a teoria do

neoliberalismo, que a partir da década de 1950 buscou fazer ressurgir a liberdade de mercado

em uma Europa mergulhada na estagnação própria da regulação e da intervenção do Estado

na economia. O neoliberalismo defende a liberdade irrestrita do mercado, concentrando o

capital em grandes empresas, de modo a tornar a economia de seus países seguidores a mais

competitiva possível, preconizando o enxugamento do Estado através de privatizações e

desoneração da folha de pagamento e o total afastamento deste das ações que gerem direitos,

mesmo aqueles conquistados pela classe trabalhadora durante décadas, o que obriga aos

gestores do Estado a praticarem ações assistencialistas para que o capital retorne às camadas

mais pobres da população. Ou seja, o Estado neoliberal deve ser mínimo, mas ao contrário do

liberal, mexe mais com a mão invisível de modo a fazer circular melhor o capital. O problema

é que essa mexida da mão invisível muitas vezes gera laços de filantropia e dependência que

depois são difíceis de serem extirpados.

O neoliberalismo é, portanto, uma adaptação dos princípios do liberalismo clássico às

exigências de uma regulação e de uma intervenção na economia muito próprias daquele

período de Guerra Fria, principalmente após a crise do petróleo de 1973. Esse hibridismo, que

aqui no Brasil é seguido desde o início da década de 1990, orienta que as forças da sociedade

devem buscar incessantemente a absoluta liberdade de mercado e, mesmo convivendo com

um Estado assistencialista, devem buscar também e de forma incessante evitar a intervenção

estatal sobre a economia, o que demonstra ser um grande paradoxo, que tem legado mais de

uma década de programas de transferência de renda, que tentam compensar a omissão do

Estado na vida da população que contribui para a carga tributária.

A prática do neoliberalismo garantiu a recuperação econômica europeia a partir da adoção de uma

política de integração econômica e da criação de blocos supranacionais, como o Mercado Comum

Europeu (MCE), fundado em 1957, que se transformou, em 1992, na União Europeia. Faz parte

desse processo de unificação a implantação, em 2001, do euro, que substituiu as moedas nacionais

dos países membros, vindo a competir com o dólar. A UE conta hoje com 28 estados membros

independentes e atualmente 8 países tentam aderir àquela aliança política e econômica.

Japão: O desenvolvimento industrial do Japão nos primeiros anos do pós-guerra foi estimulado

com grandes investimentos de capital norte-americano. Após os Estados Unidos deixarem o Japão,

em 1952, a sociedade japonesa passou a exibir uma face inteiramente nova. Nas três décadas

seguintes, sua economia atingiu um espantoso ritmo de crescimento, que a transformou em uma das

mais importantes e competitivas do mundo, destacando-se nos setores eletrônico, automobilístico e

naval. Esse processo é conhecido como “milagre japonês”.

Tigres Asiáticos: Alguns países do Extremo Oriente que, a exemplo do Japão, exibiram uma

enorme capacidade para desenvolver e modernizar suas indústrias passaram a ser denominados

“Tigres Asiáticos”. Os primeiros países a receberem a alcunha foram a Coréia do Sul, Taiwan,

Cingapura, Hong Kong, que hoje são chamados de “Dragões Asiáticos”. Recentemente, outros

países daquela região incorporaram esse arrojo desenvolvimentista – Filipinas, Malásia, Indonésia,

Page 77: Textos auxiliares historia cmf

Tailândia e Vietnã, sendo chamados de “Novos Tigres Asiáticos”. A explicação para o rápido

desenvolvimento desses países é a combinação de altos índices de investimento e de expansão

econômica com baixos salários e baixos níveis de proteção social à população trabalhadora. Trata-

se, portanto, de uma experiência única, oposta ao mesmo tempo do modelo do “Estado de bem-

estar” instituído após a 2ª Guerra Mundial nos países desenvolvidos do Ocidente, sem constituir-se

contudo no “Estado de bem-estar social” comunista, nem no “Neoliberalismo” europeu.

De maneira geral, no Hemisfério Norte encontra-se a maior parte dos países centrais desenvolvidos,

enquanto que no Hemisfério Sul encontram-se os países periféricos em desenvolvimento e os

subdesenvolvidos. Como Austrália e Nova Zelândia, países do Hemisfério Sul, possuem esse alto

nível de industrialização e desenvolvimento, a tendência doutrinária atual é mapear o Norte como o

polo desenvolvido e o Sul, o subdesenvolvido. Esses países do Sul, que se encontram em fase de

desenvolvimento e na condição de subdesenvolvidos e que professam a economia de mercado e

outros fundamentos liberais são chamados periféricos. Esses países periféricos têm características

em comum, que são a elevada dívida externa, a dependência comercial e financeira, o atraso

tecnológico, os baixos níveis de educação, saúde e higiene, a baixa expectativa de vida, a

elevada taxa de natalidade e a baixa renda per capita.

Eles produzem e exportam matérias-primas com abundância e essa comercialização é realizada por

empresas multinacionais, cujas sedes e lucros pertencem aos países desenvolvidos. Na América

Latina, as elites predominaram na política e na economia dos países desde a época da

descolonização espanhola e portuguesa e a grande subordinação econômica aos países centrais

capitalistas também foi mantida e até ampliada. Buscando se fortalecerem no cenário internacional,

esses países latino-americanos periféricos se reuniram para formar blocos regionais como o

Mercosul, a Comunidade Andina (Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela) e o Mercado

Comum e Comunidade do Caribe (Caricom), constituído pelos países do Caribe, na América

Central. Tais associações buscavam ampliar os intercâmbios regionais, mas não reuniam forças

capazes de reverter a relativa subordinação às grandes economias capitalistas.

Page 78: Textos auxiliares historia cmf

TEXTO AUXILIAR – A CRISE DA SOCIEDADE SOCIALISTA

As expressões "comunismo" e "socialismo" recebem significados nem sempre muito precisos. Numa

explicação bem resumida, daria para dizer que, segundo a teoria marxista, o socialismo é uma etapa

para se chegar ao comunismo. Este, por sua vez, seria um sistema de organização da sociedade que

substituiria o capitalismo, implicando no desaparecimento das classes sociais e do próprio Estado. "No

socialismo, a sociedade controlaria a produção e a distribuição dos bens em sistema de igualdade e

cooperação. Esse processo culminaria no comunismo, no qual todos os trabalhadores seriam os

proprietários de seu trabalho e dos bens de produção", diz a historiadora Cristina Meneguello, da

Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Após a 2ª Guerra Mundial, o socialismo expandiu-se

por várias regiões do mundo, incluindo países do Leste Europeu, China e Cuba, criando Estados

comunistas. A partir da década de 1980, a grande e esmagadora maioria desses governos comunistas

desmoronou. O grande marco desse processo de dissolução foi o fim da URSS, em 1991.

União Soviética: O processo de desintegração do bloco comunista teve início a partir da União

Soviética, durante o governo de Mikhail Gorbatchev, que durou de 1985 a 1991 e que implementou

profundas reformas internas, como a Glasnost (liberalização política) e a Perestroika (reestruturação

econômica). Embora o objetivo fosse a modernização e a democratização do país, em 1991 diversas

repúblicas se desligaram da União, proclamando sua independência. Esse processo se tornou

irreversível quando a União Soviética foi oficialmente extinta em dezembro desse mesmo ano e os 15

Estados pós-soviéticos aderiram à recém criada Comunidade dos Estados Independentes (CEI).

Gorbatchev, que havia resistido a uma tentativa de golpe de estado em agosto de 1991, renunciou

naquele mês de dezembro e Boris Ieltsin tornou-se o principal líder da CEI e o primeiro Presidente da

Federação Russa. Pressionado pelo FMI, Ieltsin teve pressa em promover a passagem da economia

estatizada para a economia de mercado, praticando uma economia neoliberal. Já em 1992, Ieltsin deu

início à privatização das empresas estatais e por ter sido um processo muito rápido e o país não contar

com uma infraestrutura adaptada à economia de mercado, as privatizações acabaram levando a Rússia

à recessão econômica, à inflação, ao desemprego e à criminalidade. Atualmente, a Rússia encontra-se

numa situação de emergência econômica, flutuando entre a 8ª e 6ª economia do mundo, juntamente

com Brasil e Reino Unido.

Page 79: Textos auxiliares historia cmf

Leste Europeu: Nesses países, a instalação do comunismo baseado no modelo soviético teve como

ponto de origem comum a luta contra o nazismo. Com o tempo, entretanto, os regimes

comunistas da Europa Oriental foram se desgastando em consequência da falta de liberdade e da

crise econômica. Esse quadro gerou revoltas populares contra o comunismo soviético em alguns

desses países, como na Hungria, em 1956, na Tchecoslováquia, em 1968, e na Polônia, durante

toda a década de 1980. Aqueles movimentos reivindicaram modelos políticos menos fechados e

autoritários, mas as experiências húngara e tcheca foram sufocadas pela intervenção de tropas

soviéticas, enquanto que a experiência polonesa conseguiu os objetivos sem muitas perdas

humanas devido a ter ocorrido em um momento de fragilidade das forças soviéticas.

Hungria: Em outubro de 1956, um movimento estudantil que teve apoio de militares do exército

reivindicou um socialismo justo e democrático, mas foi sufocado pela intervenção de tropas

soviéticas. A revolta espalhou-se rapidamente e o governo caiu. Milhares de populares

organizaram-se em milícias, combatendo a Polícia de Segurança do Estado e as tropas soviéticas.

Comunistas pro-soviéticos e membros da polícia que eram aprisionados, eram executados e os

antigos prisioneiros foram libertados e armados. Um governo provisório foi criado e extinguiu o

Partido dos Trabalhadores Húngaros, dissolveu a Polícia de Segurança do Estado, declarou a

sua intenção de se retirar do Pacto de Varsóvia e prometeu eleições livres, com as quais Moscou

concordou. O líder soviético Nikita Krushev havia porém mentido e o anúncio de boa vontade foi

apenas um blefe. Em 4 de novembro, forças do Pacto de Varsóvia invadiram Budapeste e

deixaram um saldo de 22 mil mortos e feridos. A Hungria se libertou da União Soviética em

1991.

Tchecoslováquia: Em abril de 1968, um movimento conhecido como Primavera de Praga,

liderado por intelectuais ligados ao PC tentou promover mudanças na estrutura política,

econômica e social. A proposta tentou “desestalinizar” o país, removendo o alto grau de

despotismo e autoritarismo reinantes nas instituições tchecas. As reformas não foram bem

recebidas e o líder soviético Leonid Brejnev enviou, em agosto, tropas de ocupação do Pacto de

Varsóvia e produziu mil mortos. A Tchecoslováquia se desligou em novembro de 1989 da União

Soviética graças à Revolução de Veludo e em 1992 se separou em República Tcheca e

Eslováquia.

Polônia: A Polônia teve uma trajetória diferente da Hungria e da Tchecoslováquia. Os ditadores

que governaram o país entre 1944 e 1972 conseguiram estabelecer uma face liberal à sociedade, o

que possibilitou uma certa tolerância da população com o regime antidemocrático comunista. A

partir da crise mundial do petróleo e da forte recessão econômica advinda, a estagnação e o

desemprego levaram a população a clamar pela derrubada do estado de bem-estar social. Em

1980, surgiu um movimento contra o governo comunista liderado pelo sindicato Solidariedade,

liderado pelo eletricista Lech Valesa, que contava com o apoio da Igreja Católica que desde 1978

era liderada pelo Papa polonês Karol Wojtyla. A repressão do governo foi violenta, mas não

suficiente para esmagar as oposições, pois naquela época a União Soviética já estava sem forças

para intervir em seus satélites. Em 1989, o Solidariedade foi autorizado a transformar-se em

partido político, disputando e vencendo as eleições polonesas daquele ano, fazendo a Polônia

abandonar o regime comunista em abril de 1990, tornando-se uma das 25 maiores economias do

mundo na atualidade.

Depois da Polônia, as reformas democráticas espalharam-se por toda Europa Oriental: Hungria,

Romênia, Bulgária, Albânia, Tchecoslováquia (desmembrada em 1993 em República Tcheca e

Eslováquia), Iugoslávia (que, devido aos choques entre as diversas nacionalidades que viviam na

região, deu origem a seis países: Sérvia, Croácia, Macedônia, Eslovênia, Montenegro e Bósnia-

Herzegovina) e Alemanha Oriental (que se reunificou à Alemanha Ocidental).

China: Após consumar a vitória na guerra civil chinesa e instaurar um regime comunista naquele país,

Mao Tsé Tung estabeleceu um tratado de amizade, aliança militar e assistência mútua, adotando,

inclusive, o modelo econômico soviético com seus planos quinquenais. Essa aliança não durou muito

Page 80: Textos auxiliares historia cmf

tempo e o pacto foi abalado quando a URSS adotou a Coexistência Pacífica entre o comunismo e o

capitalismo, fato que desagradou aos dirigentes chineses, que romperam laços com a União Soviética.

Mao criou então o Movimento das Cem Flores, que teve o objetivo de estabelecer uma linha de

pensamento para o comunismo chinês, da mesma forma que rastrear possíveis correntes

antirrevolucionárias. Juntamente ao Cem flores, Mao estabeleceu um novo plano econômico

conhecido por Grande Salto Adiante, com o objetivo de diminuir a dependência do país em relação ao

comércio exterior. O plano fracassou, gerando fome e morte de milhões de chineses e custando a Mao

a contestação de seu poder na liderança do PCC.

Procurando retomar o controle sobre o Partido, Mao Tsé-tung promoveu um movimento conhecido

como Revolução Cultural, cujos objetivos declarados eram reativar o espírito revolucionário chinês

contra os privilégios de classes e o modo de vida burguês e livrar a sociedade chinesa da influência da

cultura ocidental. No entanto, assumiu feições autoritárias, mobilizando a Guarda Vermelha na

perseguição aos opositores políticos. Após a morte de Mao Tsé-tung, em 1976, seu sucessor Deng

Xiaoping passou a estimular a modernização do país, promovendo um processo de abertura econômica

para o mundo capitalista. Entretanto, os novos dirigentes pouco fizeram para criar instituições mais

democráticas. A China continua sob o governo do Partido Comunista, que ainda reprime brutalmente

as manifestações populares e a livre expressão.

Em 1989, na esteira da asfixia do comunismo mundial, jovens e intelectuais se reuniram durante

semanas em manifestações pacíficas com o objetivo de reivindicar por democracia. Essas

manifestações se concentraram na Praça Tian’ammen (Praça da Paz Celestial) e no dia 4 de junho,

cerca de 3 mil pessoas foram assassinadas pelas tropas do governo comunista. A China continua sob o

governo do Partido Comunista, que ainda reprime brutalmente as manifestações populares e a livre

expressão. A economia chinesa tem se mantido em níveis de desenvolvimento em virtude da grande

quantidade de mão-de-obra e de seus fundamentos de intervenção estatal. Essa economia estatal tem

crescido substancialmente nos últimos 10 anos e atualmente seu PIB de quase 10 trilhões de dólares o

alavancou à 2ª posição no ranking da riqueza mundial.

Cuba: Em 1959, em reação à situação de dependência e subordinação em relação aos EUA, um grupo

de guerrilheiros, comandados por Fidel Castro e Ernesto “Che” Guevara, implementou um movimento

político e militar que derrubou o governo ditatorial de Fulgêncio Batista. Após a tomada do poder, a

Revolução Cubana caminhou rumo ao comunismo, caracterizando-se pela implantação de uma

ditadura na qual evidenciou-se o confisco de propriedades pelo Estado, existência de um único partido

(Partido Comunista Cubano), perseguições políticas, o controle dos meios de comunicação e

inexistência de liberdade de expressão. Ao aderir ao comunismo, iniciaram-se os conflitos com os

EUA, que tiveram os seguintes marcos: Invasão da Baía dos Porcos, em 1961; Suspensão da

Organização dos Estados Americanos (OEA) e embargo econômico e Crise dos mísseis, de 1962.

Na economia, não houve diversificação da produção agrícola nem estímulo concreto à

industrialização, de tal modo que a economia cubana continuou dependendo, principalmente, das

exportações de açúcar e tabaco. Com o fim da URSS, em 1991, a situação econômica de Cuba ficou

bastante delicada, pois, a partir da adoção do comunismo e do bloqueio econômico imposto pelos

EUA, o governo soviético tornou-se o principal parceiro comercial de Cuba, comprando cerca de 60%

do açúcar produzido na ilha. Os soviéticos também forneciam aos cubanos petróleo, veículos,

máquinas, etc. por baixos preços. Assim, os cubanos passaram a enfrentar grave crise econômica, que

se traduziu na falta de gêneros alimentícios, combustíveis, máquinas e inúmeros outros artigos. Em

busca de dólares, o governo cubano passou a investir no turismo. Também flexibilizou a economia,

permitindo, dentro da estrutura socialista, a abertura para as atividades capitalistas. De positivo o

regime de Fidel Castro produziu melhorias nas áreas de educação e saúde.

Autoria: Maj Fabiano