Textos auxiliares historia cmf
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Texto auxiliar – Tempos Modernos
Denomina-se Idade Média o período compreendido entre o fim do Império Romano do Ocidente, em
476 e o fim do Império Romano do Oriente, ou Império Bizantino, em 1453. Naquele período ocorreu
no Ocidente o Feudalismo, cujas origens estão na decadência da expansão romana na Europa. A
sociedade feudal predominou no velho mundo durante toda a Idade Média e surgiu devido às invasões
dos povos bárbaros, que forçaram os nobres romanos a se afastaram das cidades levando consigo
camponeses e escravos a eles subordinados, além de representantes da Igreja Católica, já que naquela
época a sociedade romana já havia sido cristianizada. Como os vários povos bárbaros dominaram
rapidamente a Europa, foi impossível àqueles nobres unirem-se entre si e com isso surgiu o modelo
feudal, que tinha uma organização econômica baseada em relações servo-contratuais (servis), em que
os grandes latifúndios daqueles senhores romanos e de suas descendências aproveitaram a mão-de-
obra dos camponeses para que a agropecuária fosse a base das relações econômicas. Em troca da força
de trabalho, os camponeses recebiam o direito a uma gleba de terra para morar, além da proteção
contra ataques bárbaros.
Seguindo aquele modelo de isolamento, predominavam nos feudos três classes sociais que conferiam
seu perfil político, religioso e cultural: a nobreza que guerreava, o clero que orava e o servo que
trabalhava. Portanto, o sistema feudal manteve durante os mil anos de Idade Média e durante parte da
Idade Moderna uma organização econômica, política e religiosa estática baseada em relações servis e
cujo teocentrismo afastou a possibilidade de qualquer manifestação cultural diferente daquilo que a
Igreja Católica admitisse.
A Idade Moderna foi o período compreendido entre a Tomada de Constantinopla pelos Turcos, em
1453 e o início da Revolução Francesa, em 1789. Apesar dessa visão eurocêntrica que definiu as eras
nesse recorte temporal citado, a transição de hábitos e costumes que se iniciou ainda no Século X, fez
com que a Europa fosse palco de vários fatos históricos que confirmaram a mudança dos perfis
político, econômico, urbano, social e cultural que havia predominado nos últimos mil anos de Idade
Média. Entre esses fatos que configuraram aquela mudança de hábitos e costumes temos a
ascensão da burguesia mercantil, a formação das Monarquias Nacionais absolutistas em Estados
Modernos (povo, território, soberania), a afirmação da cultura renascentista e a ruptura da
unidade cristã católica na Europa ocidental em decorrência da Reforma Protestante.
Todas aquelas importantes transformações, que na verdade demoraram séculos para se
consumarem, foram conduzidas pela burguesia, classe vocacionada para ofícios manuais,
formada a partir do Século X à margem da estratificação social feudal e que passou a fugir dos
muros dos castelos e se reunir em comunidades, que foram chamadas de burgos (dai o termo
burgueses). Aqueles burgos foram os embriões dos grandes centros populacionais existentes até
nossos dias. De pequenos trabalhos artesanais com couro, ferro, lã e outras matérias primas quase
sempre adquiridas em terras mais ao Oriente, os burgueses foram estabelecendo Corporações de
Ofício nos burgos visando à formação profissional de suas descendências e foram compondo grandes
feiras que eram montadas nos limites feudais, onde seus produtos eram vendidos em práticas
monetárias que, se inicialmente desafiaram o escambo feudal, aos poucos aquelas práticas foram sendo
assimiladas pelos habitantes das unidades feudais, até que um novo modelo de vida se estabeleceu e
pouco-a-pouco os grandes latifúndios feudais foram cedendo espaço para as cidades que se formaram
ao redor daquelas feiras e das corporações de ofício.
Daquele renascimento urbano e comercial (já que as cidades europeias e o dinheiro e moedas
existiam na época dos romanos), a mudança de relações entre os homens pavimentou a estrada
para o renascimento social e político, que concederam ao homem a sensação de que ele era um
ser importante, racional e que podia produzir, vender e comprar, aguçando a noção que ele era
o centro do processo humano e não Deus, conforme a Igreja Católica havia pregado nos últimos
mil anos. Aquela mudança de enfoque nas relações do homem com a natureza e com o princípio
divino foi chamada de humanismo, filosofia antropocentrista (homem no centro) que marcou a
cultura europeia entre os séculos XIV e XVI, e que, conjuntamente com outros fatores fez surgir
o Renascimento cultural.
O Renascimento Cultural foi um conjunto de transformações das artes e ciências que trouxe
personalidades geniais e revolucionárias em todas as esferas do conhecimento e das ciências, como
Leonardo da Vinci, Dante Allighieri, Michelangelo, Galileu Galilei, Erasmo de Roterdã e William
Shakespeare, entre outros. Aqueles intelectuais, filósofos e artistas expressaram o desejo de renascer
elementos da cultura greco-romana, de forma diferente da cultura medieval, onde as ideias foram
influenciadas pelo Cristianismo e pelos ensinamentos da Igreja. Com isso, criou-se o embasamento
cultural necessário para que a humanidade atingisse novos patamares de conhecimento. O
Renascimento urbano, comercial, social, político e cultural transformou a Europa e seus povos
continentais, peninsulares e insulares, representando uma profunda alteração das relações entre os
seres, que se impregnaram daqueles novos valores burgueses, a partir de novas concepções de vida e
de mundo, menos limitadas e menos monopolizadas pela religião. O Renascimento comercial e
urbano que começou no Século X, conviveu simultaneamente com o social, político, religioso e
cultural que começaram efetivamente no Século XV.
A mudança da mentalidade europeia fez-se presente também na esfera religiosa, fruto do movimento
humanista. Setores da sociedade tornavam-se cada vez mais críticos em relação à Igreja Católica,
principalmente a burguesia, que em ascensão necessitava de uma moral cristã que ao invés de
condenar, estimulasse o acúmulo de capital. A Igreja Católica condenava a cobrança de juros e a
acumulação de dinheiro como praticas pecaminosas, sendo que seus representantes eram donos de
grandes propriedades urbanas e rurais, face à milenar ligação que a instituição tinha com o poder
senhorial e real. O Humanismo renascentista estimulou em muito a Reforma Protestante, que foi
um movimento de contestação à autoridade e ao poder da Igreja de Roma e que levou a
profundas e traumáticas divisões regionais da cristandade ocidental entre católicos e
protestantes. Como a finalidade dos sacerdotes católicos (intermediários entre o homem e Deus)
e os dogmas da Igreja foram motivo de reflexão e crítica, surgiram seguintes movimentos
reformistas:
Luteranismo: Proposto em 1534 pelo monge alemão Martinho Lutero, que elaborou 95 teses contrárias
à intensa comercialização de indulgências e que pregavam que a salvação somente se dava pela fé e
não pelas práticas religiosas que a Igreja Católica exemplificava.
Calvinismo: Proposto em 1536, pelo monge francês João Calvino, que diferente de Lutero, que
pregava a salvação pela fé, defendia a ideia de que o ser humano estava predestinado por Deus
para a salvação ou para a condenação e que apenas o trabalho honesto poderia alterar aquela
predestinação. A teoria calvinista legitimou a possibilidade do acúmulo de capital, pois a riqueza
material era um sinal da graça divina sobre o indivíduo, sem que ele precisasse tê-la com
remorsos ou sentimentos de culpa.
Anglicanismo: Articulado pelo Rei da Inglaterra Henrique VIII com características diferentes dos
outros movimentos reformistas, não teve motivações prioritariamente éticas ou doutrinárias, mas sim
questões políticas, econômicas, religiosas e pessoais.
Tentando conter aquelas rupturas regionais, a Igreja Católica criou um movimento chamado
Contrarreforma, que foi a tentativa de revigorar e restaurar a união da Europa em torno do
catolicismo. Para tentar barrar o avanço do protestantismo, após a Reforma Protestante, o Papa
Paulo III convocou um concílio na cidade italiana de Trento e que foi realizado entre os anos de
1545 e 1563. Vários assuntos foram discutidos, como a elaboração do catecismo, manutenção do
celibato, manutenção do culto às imagens e santos, criação de mecanismos disciplinares que
buscassem acabar com os desvios morais e administrativos dos sacerdotes, entre outros.
As principais medidas adotadas pela Contrarreforma, porém, foram a instituição da Santa
Inquisição, que tinha como objetivo vigiar, perseguir, prender e punir aqueles que não estavam
seguindo a doutrina católica e que fossem condenados após julgados pelo Tribunal do Santo
Ofício; a criação do Índice de Livros Proibidos (Index Librorum Prohibitorum), que era uma
relação de livros contrários aos dogmas e ideias defendidas pela Igreja Católica e a instituição da
Companhia de Jesus, fundada pelo monge espanhol Inácio de Loiola anos antes, como o braço
educacional da contrarreforma que realizaria a catequização dos não cristãos por intermédio de
escolas religiosas que funcionariam na Europa e missões jesuíticas que seriam enviadas nas
viagens de navegação. Algumas dessas escolas religiosas existem no mundo até os dias de hoje,
conhecidas como colégios Jesuítas. Aqui no Brasil, destacam-se os Colégios Santo Inácio e
Diocesano espalhados pelo país e a Universidade do Vale do Rio dos Sinos, no Rio Grande do
Sul.
Autoria: Maj Fabiano
Texto auxiliar – Estado Nacional Moderno
A configuração moderna do Estado com seus três elementos característicos
(Soberania, Povo e Base geográfica) surgiu no Século X através do Renascimento
urbano e comercial e se consolidou na segunda metade do século XV, a partir do
desenvolvimento do capitalismo mercantil nos países da Europa centro-ocidental.
Entre as características do Estado Moderno estão a Soberania do Estado, a qual
confere independência em face de outra autoridade externa, a distinção entre
Estado e sociedade civil (o povo) e a existência de um Estado soberano com limites
geográficos (território). As monarquias absolutistas foram a primeira expressão do
Estado moderno e sua formação não seguiu um mesmo trajeto em todos os países
europeus, nem se deu por vias tão pacíficas, mas seguiu em todas as experiências
uma mesma linha de raciocínio: A concessão de um poder celeste aos monarcas e a
hierarquização humana de todas as camadas sociais a esse poder supostamente
divino.
O processo de centralização política que levou à formação dos Estados Modernos foi
longo e avançou com o apoio das classes sociais que existiam na Europa medieval e
moderna: o clero, a nobreza e a burguesia, as quais acreditavam que, com o poder
centralizado em uma só pessoa – o rei – o Estado teria melhores condições de
implementar medidas de seus interesses como uniformizar as moedas, melhorar a
segurança pública e estradas, criar leis de âmbito nacional. Cada um desses grupos era
movido por interesses próprios, muitas vezes convergentes, mas quase sempre
radicalmente opostos.
Vários fatores contribuíram para a formação daquela centralização política, social
e econômica nas mãos dos reis europeus, monarcas surgidos da aglutinação dos
feudos e cidades em pequenos, médios e extensos países peninsulares, insulares e
continentais. Entre esses fatores estão os socioeconômicos, personificados na
crescente e cada vez mais profunda aliança rei-burguesia, união que levou a Europa a
um vertiginoso desenvolvimento econômico calcado principalmente da atividade
comercial, que levou reis e burgueses a ansiarem por expandirem suas relações
econômicas. Além dos fatores socioeconômicos, os fatores políticos e religiosos que
emolduraram a perda de poder cada vez maior dos nobres e da Igreja Católica ao final
da Idade Média foi fundamental para que a expansão do Estado comercial fosse
conduzido para os princípios que norteariam as práticas mercantilistas. Por fim, os
fatores culturais personificados no Renascimento cultural que levou as universidades a
absorverem cursos que não fossem somente do interesse da Igreja, como por exemplo,
Direito e Medicina que levaram as elites a agregarem interesses nacionalistas que
fortaleceram a personificação do rei como o herói nacional, defensor e protetor da
nação.
O absolutismo foi então a concentração de poder social, econômico e principalmente
político nas mãos de um monarca hereditariamente coroado e que era considerado um
ser divino, acima dos mortais. Toda essa configuração cultural foi legitimada pelo
engajamento da intelectualidade renascentista e por seus discursos literários. Esses
discursos foram importantíssimos para que o regime se consolidasse e fosse aceito
por todos. Dentre os principais pensadores que justificavam o poder real,
destacam-se Nicolau Maquiavel, que em sua obra O Príncipe enfatizou que os fins
justificavam os meios para o rei se manter no poder, Thomas Hobbes, favorável ao
estabelecimento de um “contrato social”, em que todos deveriam renunciar aos
seus direitos em favor do soberano e Jaques Bossuet, que em seus discursos e livros
caracterizava a condição supostamente divina das monarquias.
Como já dito, as monarquias absolutistas não seguiram um mesmo modelo de expressão
política. Na França, por exemplo, a centralização política iniciada no século X, foi
retardada devido à Guerra dos Cem Anos contra a Inglaterra, que durou de 1337
a 1453 e pela sangrenta guerra civil religiosa, entre 1562 e 1598, travada entre a
nobreza católica e a burguesia calvinista (que conduzia os negócios agrários e das
pequenas indústrias de transformação francesas), que se tornou distante dos
interesses do rei face à marginalização social que passou a sofrer.
Com o início da Dinastia Bourbon, um documento pacificador chamado Édito de
Nantes foi assinado concedendo liberdade religiosa à burguesia protestante, que
passou a ajudar na difícil missão de reconstruir o país desequilibrado após 250
anos de guerras. Essa reaproximação foi fundamental para consolidar o
absolutismo na França (que jamais renunciou à sua vocação católica), à medida
que o monarca passou a contar com o apoio do ouro burguês.
Já a Inglaterra, que também iniciou seu processo de formação monárquica a partir do
Século X, possuía uma característica particular que nenhum outro povo europeu tinha
na época: um Parlamento, fator que desde sempre representou limitação ao poder real.
O Parlamento inglês historicamente ficou nas mãos da burguesia, devido à nobreza estar
concentrada na área rural. Como na França, a concentração do poder na mão da
Coroa inglesa também demorou, face à falta de unidade no país, que só foi possível
devido à Guerra dos 100 anos contra a França e devido à unificação da nobreza
após a Guerra das Duas Rosas, que entre 1455 e 1485 dilacerou o território inglês.
A guerra das Duas Rosas terminou com a ascensão de Henrique Tudor, que com o
apoio do Parlamento burguês e da nobreza agrária fundou a Dinastia Tudor, que
representou o auge do absolutismo inglês, face ao rompimento da única força de
oposição que existia: a Igreja Católica, além de ter conseguido manter-se em
equilíbrio com todas as forças sociais e com o Parlamento. A Dinastia Tudor
representou o reequilíbrio que a Inglaterra precisava e durante pouco mais de 100 anos
sua passagem pela vida inglesa representou desenvolvimento e progresso.
Depreende-se então que França e Inglaterra reuniram elementos comuns à
formação de seus Estados Nacionais Modernos. A Guerra dos 100 anos foi um
destes elementos, à medida que o citado conflito estimulou a delimitação
geopolítica dos territórios daqueles países, incentivou a identificação de seus
habitantes como povos comuns e culturalmente reunidos, além de ter fomentado a
centralização do poder monárquico em bases dinásticas hereditárias e
incontestáveis perante a hierarquização humana do povo nacional. A grande
influência da burguesia foi outro elemento aglutinador dessa marcha rumo à
formação monárquica absolutista. Na França, a presença burguesa mostrou-se
fundamental quando reaproximada do soberano após a pacificação religiosa pela
Dinastia Bourbon, considerada a mais centralizadora de todas, enquanto que na
Inglaterra a existência de um parlamento burguês, mesmo limitador das ações do
rei, contribuiu para que a Dinastia Tudor, a mais centralizadora, mudasse o traço
religioso de um povo milenarmente católico.
Texto auxiliar
Mercantilismo, Grandes Navegações e Reflexos da expansão do mundo extra europeu
Ao consolidar a centralização política, econômica e social, os monarcas absolutistas da
Europa centro-ocidental sentiram a necessidade de expandir o comércio interno. Para
tal, um conjunto de medidas econômicas de Estado constaram das práticas comerciais
da Europa, tendo como objetivo obter e preservar riquezas, obter matérias primas que
fossem aproveitáveis pela indústria de beneficiamento cada vez mais presente e obter
compradores para os excessos da produção interna. Surgiu então o Mercantilismo,
prática de expansão comercial que vigorou entre os Séculos XV e XVIII e que assumiu
posturas diferentes nos diversos países que a experimentaram.
Qualquer que tenha sido, porém, a tendência mercantilista adotada, as monarquias
absolutistas tentaram, ao aprimorarem suas relações comerciais, superar a escassez de
ouro e prata que já caracterizava a Europa, achar rotas alternativas para a Ásia, em
virtude do bloqueio do Mar Mediterrâneo pelos turcos a partir da primeira metade do
Século XV e obter e preservar riquezas que eram consideradas limitadas.
O mercantilismo originou princípios doutrinários, alguns vigentes até os dias
atuais. Foram eles o metalismo, a balança comercial favorável, o monopólio, o
pacto colonial e o protecionismo. Aqueles princípios ou políticas mercantilistas
partilhavam a crença de que a riqueza de uma nação residia na acumulação de
metais preciosos (ouro e prata), advogando que aqueles metais que eram usados na
cunhagem de moedas seriam atraídos através do incremento das exportações e da
restrição das importações (procura de uma balança comercial favorável). Essa
crença era conhecida como bulionismo ou metalismo. Aliado ao princípio
metalista, outros princípios extremamente característicos do Mercantilismo foram
o monopólio e o pacto colonial, também conhecido como política do exclusivo
metropolitano, que consistia em que o comércio e a produção eram exclusividades
do Estado em relação a suas colônias, ou seja, tudo que fosse extraído das colônias
era monopólio (exclusividade) da metrópole, além de que as matérias primas não
poderiam ser beneficiadas e vendidas para outro país.
As práticas mercantilistas agiram diretamente no fortalecimento do absolutismo
monárquico e da burguesia mercantil. A sua intensificação propiciou aos Estados
absolutistas reforçar o poder monárquico; promover a burguesia nacional,
provocando seu crescimento; expandir o erário real; viabilizar a aplicação de
recursos para a aquisição de armadas; mobilizar poderosos exércitos e custear
guerras. Cada país construiu sua própria vocação mercantilista, em face de uma série
de fatores, entre eles a pacificação de conflitos externos e internos, a capacidade de
navegar pelo Atlântico em busca de rotas para o Oriente (que ficou conhecido como
ciclo das Grandes Navegações), a descoberta de novas terras que estivessem aptas para
a exploração de metais preciosos, entre outros.
Neste contexto, a Espanha teve muita facilidade de praticar as políticas metalista e
comercial em virtude da grande quantidade de ouro e prata de suas colônias americanas,
enquanto que a França, a Inglaterra e a Holanda, por terem saído tardiamente para o
Atlântico (1520, 1580 e 1590 respectivamente) e com isso não terem encontrado opções
de metais preciosos, tiveram que se especializar em atividades de corso (pirataria),
indústrias de beneficiamento e comércio. Surgiram nesse contexto de cada um desses
países as Companhias de navegação, organizações responsáveis pelo comércio de saída
e entrada de especiarias e que representavam o Estado quer no mar, quer nas colônias.
Portugal, país pioneiro das Grandes Navegações, praticou o princípio mercantilista
comercial, mesmo quando a oferta de ouro no Brasil foi possível após o final do Século
XVII.
E como esses países fizeram para exportar seus excedentes de produção e como
encontraram as matérias primas que usavam em suas atividades fabris? Vejamos então o
que foi o ciclo das grandes navegações atlânticas:
As grandes navegações foram um conjunto de viagens marítimas de longa distância
realizadas pelos europeus, entre os Séculos XV e XVIII, mesmo período do capitalismo
mercantil, devido à necessidade inicial de encontrar um novo caminho para se chegar ao
Oriente e suas regiões produtoras de especiarias e metais preciosos, dentro de uma
realidade de que, pela segunda vez na história, no Século XV, o mar Mediterrâneo havia
sido bloqueado em função da expansão turco-otomana, freando o comércio de
especiarias realizado pelas milenares rotas terrestres traçadas a partir do Mediterrâneo.
Este bloqueio estimulou os europeus na busca de um novo caminho até os fornecedores
orientais, caminho esse que obrigatoriamente tinha que ser pelo Atlântico. Além da
questão comercial, caracterizada pela necessidade de novos mercados, outras questões
políticas empurraram os europeus às grandes navegações, sendo as mesmas razões que
apontaram a necessidade de novas práticas comerciais que dessem vazão à produção
comercial interna cada vez mais pujante. Foram elas a falta de metais preciosos na
Europa, o interesse das monarquias nacionais e seus burgueses em fortalecerem os
Estados e como pano de fundo, a necessidade de propagar o Cristianismo pelo mundo
afora.
Portugal, por sua vez, foi o primeiro país a empreender aquelas navegações
atlânticas que se mostravam tão imprescindíveis. A principal causa dessa
antecipação foi a criação do Estado Nacional português ainda no século XII, após a
expulsão dos muçulmanos. Além da prematura centralização administrativa,
outros fatores contribuíram para esse pioneirismo. Foram eles a necessidade de
expansão comercial, a posição geográfica privilegiada, a criação da Escola de
Sagres e a ausência de guerras durante os séculos finais da Idade Média.
A expansão marítima de Portugal se deu então ainda no Século XV, em que foram
explorados o litoral da África e Ilha da Madeira, Açores, Cabo Bojador e Cabo Verde. Naquele percurso, os portugueses iam estabelecendo feitorias pelo litoral da África, de
onde obtinham matérias primas diversas, ao mesmo tempo em que escravizavam
africanos prisioneiros de tribos rivais. No final daquele Século XV, a África foi
contornada e um novo caminho para as Índias Orientais foi finalmente descoberto. Após
contornarem o Cabo da Boa Esperança, os portugueses chegaram à Índia e China, na
Ásia e ao Timor Leste, na Oceania. Em todas essas feitorias, Portugal praticou a
organização colonial exploratória. Mas foi o advento da descoberta da América pela
Espanha e posteriormente por Portugal que marcou aquele ciclo de viagens ao
desconhecido.
As práticas de expansão mercantilista e o ciclo das grandes navegações a que se
lançaram os países europeus a partir do Século XV tiveram uma consequência comum:
a dominação das terras que foram gradativamente se tornando possessões, onde foram
obtidas vantagens econômicas exclusivas e a obtenção de novos mercados comerciais
de saída e entrada foram conquistados e com isso os princípios econômicos vigentes à
época se converteram no máximo de lucros possível. Foi assim que surgiu, no contexto
do mercantilismo, o sistema de exploração colonial, que marcou a conquista e ocupação
da América e a exploração comercial de partes da África e Ásia. Com o sistema de
exploração colonial, diversas nações europeias formaram verdadeiros impérios
coloniais. Primeiro, foram Portugal e Espanha; depois, França, Inglaterra e Holanda. E
esses cinco países atuaram em momentos e locais distintos naquele novo e extenso
mundo chamado América.
Como foi formado o império colonial espanhol? A exploração espanhola na América
teve como principal atividade desenvolvida no continente a extração de metais
preciosos. Os espanhóis, logo após empreenderem um sangrento processo de dominação
das populações indígenas da América, efetivaram o seu projeto colonial nas terras a
oeste do Tratado de Tordesilhas. Com a descoberta de ouro no México (1519) e de prata
no Peru (1531), regiões exploradas, respectivamente por Hernán Cortez e Francisco
Pizarro, organizaram-se núcleos mineradores que aproveitaram a grande quantidade de
mão de obra indígena e que levaram cerca de 250 anos para se esgotarem. Este período
foi também o tempo que a Espanha precisou para construir um aparato de dominação
que teve como base a organização de 8 grandes repartições (4 vice-reinos e 4 capitanias
gerais).
Esses vice-reinos e as capitanias gerais eram entregues a uma elite colonial que para
compreendê-la temos que entender como a sociedade colonial espanhola funcionava. Os
critérios que definiam as classes sociais era o local de nascimento. O fato de ser
nascido e criado na Europa ou no Novo Mundo abria caminho para uma série de
privilégios, bem como estabelecia outro campo de restrições que ordenava a
posição dos homens naquele lugar. A pirâmide social extremamente estratificada
era composta por Chapetones, espanhóis que vinham para a América e atuavam
nos mais altos cargos burocráticos da administração e da política, ocupando as
mais privilegiadas posições na sociedade colonial hispânica, tais como cargos de
comando ligados à esfera executiva, legislativa e judiciária. Existiam também os
Criollos, que eram descendentes de espanhóis, porém nascidos na América. Viviam
como representantes comerciais da metrópole nas colônias e detinham a
propriedade de terras e a exploração da força de trabalho nativa e escrava. Haviam
também os mestiços, indígenas e escravos negros, que eram considerados classes sociais
inferiores.
Pois era exatamente aquela elite colonial que possibilitava a dominação do
território e sua exploração econômica da melhor forma possível. Por mais que
existissem aqueles prepostos em solo americano, a Espanha centralizava todos os
seus planejamentos através de duas organizações que visavam garantir a
coordenação social e política, além do monopólio do comércio. Eram o Conselho
das Índias e a Casa de Contratação. O Conselho das Índias, a quem estavam
subordinados os Chapetones, regulava a administração das colônias e detinha o
poder político sobre as mesmas, orientando todas as atividades administrativas que
se praticavam. Os Vice-reis, Capitães gerais, autoridades militares e judiciais eram
por ele nomeados, sendo a instância final para decidir as divergências surgidas. Já
a Casa de Contratação, a quem estavam subordinados os Criollos, organizava e
controlava o comércio nas colônias e fiscalizava o recolhimento do quinto, que era
o imposto real sobre toda riqueza produzida. A Casa de Contratação se
encarregava do controle de todas as atividades alfandegárias e de transporte de
matérias primas extraídas nas colônias.
A atuação inglesa na América se deu a partir de 1584 com a formação de 13 colônias de
povoamento que inicialmente não atraíram a Coroa inglesa por inteiro devido à grande
extensão e difícil exploração. Aquelas colônias se transformariam nos Estados Unidos
da América. A França, por intermédio de sua Companhia das Índias Ocidentais invadiu
feitorias portuguesas e planejou saques aos domínios ibéricos na América. A Coroa
francesa criou a França Antártica e a França Equinocial em terras brasileiras,
respectivamente no Rio de Janeiro em 1555 e no Maranhão em 1612, ambas erradicadas
pelos governos gerais da colônia.
A Holanda, utilizando sua Companhia das Índias Ocidentais apoderou-se do
nordeste brasileiro entre 1603 e 1654 e manteve o controle sobre os lucrativos
negócios do açúcar, tendo sido expulsa por forças nacionais no episódio que hoje é
reconhecido como o berço da formação da nacionalidade brasileira e do Exército
Brasileiro, pois ao analisarmos a configuração de um Estado moderno, a
população brasileira daquele Século XVII dispunha de um povo já identificado
cultural, étnica e linguisticamente, vivendo em um território também definido,
faltando, contudo, a soberania que estava na coroa do Rei de Portugal. A expulsão
dos holandeses fez surgir um sentimento nativista que produziu 24 rebeliões
separatistas no período de 1650 a 1822, culminando com a conquista de nossa
independência.
Autoria: Maj Fabiano
REVOLUÇÃO INGLESA
Desembarque do exército holandês de Guilherme de Orange-Nassau na Baia de Torbay em novembro de 1688,
no auge da Revolução Gloriosa
No início da Idade Moderna a Inglaterra era um país agrário, sua burguesia era urbana e a
nobreza era rural, revelando indícios que o Feudalismo inglês demorou muito a se dissolver.
O grande golpe naquele sistema socioeconômico foi o cercamento dos campos
promovido pela Rainha Elizabeth, da Dinastia Tudor, ao final do Século XVI, com o
objetivo de estimular a criação de ovelhas para a produção de lã, dentro do viés comercial das
práticas mercantilistas inglesas. Aquele cercamento não teria produzido grandes êxodos
populacionais do campesinato para os grandes centros urbanos não fosse o fato de que havia
muita terra nas mãos do Estado em virtude da confiscação das terras da Igreja Católica pelo
Rei Henrique VIII, pai de Elizabeth. E todas aquelas terras da Coroa Inglesa foram cercadas.
Consequência? Redução das terras agricultáveis, poucas colheitas no campo, migração de
milhares de camponeses famintos para as grandes cidades, causando a mendicância e a
criminalidade por parte dos desempregados daquela Inglaterra cuja economia radicalmente
mudara para bases em práticas comerciais e no beneficiamento de matérias primas, na maioria
das vezes pirateadas pela Companhia das Índias Orientais.
E como viviam os ingleses daquele final de Século XVI, fugitivos da nobreza rural e agora à
mercê da burguesia comercial das grandes cidades?
“Companheiras inseparáveis de corpos malnutridos e desprotegidos,
as doenças ajudaram a equilibrar o número de bocas e o alimento
escasso, as ofertas de emprego e o número de braços para o trabalho.
Todas as vezes que as colheitas eram insuficientes, seguia-se um
período de fome, vindo logo atrás as epidemias, dizimando pessoas e
fazendo „cair de cansaço‟ os braços dos coveiros... um terço das
crianças morria antes de completar 1 ano de idade, apenas 58% das
pessoas chegavam aos 15 anos e a esperança média de vida era pouco
superior a 20 anos...”
Miceli, Paulo (As Revoluções Burguesas - Atual Editora, 22ª edição)
Aquele legado de Elizabeth I aponta para uma fundamental adequação da Inglaterra à
realidade mercantilista. Fundamental porque aquele país estava desequilibrado, face ao grande
abismo que existia entre a burguesia rica e a pobreza faminta. Face também aos conflitos
externos e internos (Guerra dos 100 anos e Guerra das duas rosas) que haviam gerado um
atraso na saída para o Atlântico. Tudo bem que esse nivelamento se deu 80 anos após as
primeiras conquistas portuguesas e espanholas, mas se deu. O problema que ele aconteceu
criando multidões de famintos pelas ruas das grandes cidades inglesas.
O estabelecimento de uma cultura comercial a e a expansão da produção por intermédio da
Companhia das Índias Orientais foram medidas fundamentais para trazer a Inglaterra para um
ponto de quase equilíbrio. Quase, porque o capitalismo nascente nas indústrias manufatureiras
das áreas portuárias não deu conta de gerar emprego para tantos camponeses que haviam
migrado para os grandes centros fugindo dos grandes latifúndios, outrora feudos, agora
campos cercados para a criação extensiva de ovinos visando à produção de lã, matéria prima
fundamental para a tecelagem. Mesmo assim, a Inglaterra crescera bastante com os
Tudor, que devido à grande harmonia com o poder político parlamentar são
considerados a Dinastia mais absolutista da história da Inglaterra.
A Inglaterra possuía naquele início de Século XVI um Parlamento, instituição secular que
exercia um poder mediador aos interesses da Coroa e que durante muito tempo apenas
legitimou os interesses das diversas dinastias que se alternaram no poder. E aquela relação de
mútuo respeito e civilizada interação teve um fim por ocasião da morte sem herdeiros de
Elizabeth, pondo um fim à Dinastia Tudor.
“... A riqueza, como se pode ver, estava se concentrando em outras
mãos. Como não poderia deixar de acontecer, o poder político também
deveria ser redistribuído na sociedade inglesa, principalmente para
que fossem eliminados os obstáculos que ainda restavam à expansão do
capitalismo, porque, depois, pouco importava se os reis voltassem a
enfeitar seus tronos... As mudanças que relacionamos ocorreram
quando reinava a dinastia Tudor (1485 – 1603) – época em que pouco
restava das grandes casas nobres que se destruíram reciprocamente
por conta de suas lutas constantes pelo poder. Encerrados os conflitos
internos, o poder dos grandes e tradicionais senhores feudais estava
comprometido na base. A cena política foi pouco a pouco sendo
tomada por novos personagens interessados em construir um país onde
melhor pudessem realizar seus anseios. Para que isso acontecesse,
muitas alianças eram feitas e desfeitas, ao sabor das conveniências.
Assim, enquanto no início do século XVI a Coroa parecia proteger a
burguesia, isso era feito para conseguir reforço contra as casas feudais
ainda existentes, o que explica o acordo inicial entre a Coroa e o
Parlamento – que representava principalmente os comerciantes
urbanos. Havia ainda os inimigos externos, principalmente a Espanha.
Pouco a pouco, contudo, todos eles foram sendo exterminados –
interna e externamente – e a lua-de-mel entre a monarquia e o
Parlamento, que sob os Tudor raramente se reunia, aprovando sempre
a política real, chegou ao fim. Os interesses opostos das duas partes
vieram à tona e, quando teve início o reinado da dinastia Stuart, Jaime
I (1603 – 1625) e Carlos I (1625 – 1649) tiveram de enfrentar a forte
oposição do Parlamento.
Essa oposição à Coroa crescia à medida que o governo inventava
mecanismos para aumentar seus rendimentos. A primeira consistiu em
aumentar os impostos de alfândega, obter empréstimos forçados e criar
novos impostos. Isso atingiu principalmente a burguesia e deu origem a
violentas disputas... Assim, o Parlamento, que em tempos passados
pouco fazia além de referendar a política real, passou a ser palco de
disputas acirradas onde se misturavam questões religiosas, econômicas
e constitucionais... e o rei não se defendia? Obviamente, ele tentava,
mas faltavam-lhe coisas essenciais para enfrentar forças contrárias.
Em primeiro lugar faltava-lhe um exército permanente... Além disso,
faltava-lhe uma burocracia de funcionários organizada e dependente
do poder central... Finalmente, uma das mais importantes carências de
Sua Majestade: longe de ser pobre, o rei também não era tão rico, e
faltavam-lhe meios para organizar e manter um exército e a tão
necessária legião de funcionários... E foi para tentar conseguir
recursos que o rei imaginou uma última jogada:... tentou controlar a
exportação de tecidos, a principal indústria inglesa. A tentativa
fracassou e a monarquia sentiu em cheio o peso da força da pouco
numerosa burguesia (parlamentar): o Parlamento denunciou toda a
política econômica de Jaime I, que preferindo conservar a cabeça e
perder a Coroa, abdicou em favor de seu filho Carlos, que, com o nome
de Carlos I, subiu ao trono em 1625...
Nem mesmo aquecera o assento da cadeira real, Carlos I decretou a
obrigatoriedade de empréstimos à Coroa, mandando prender quem se
negasse a fazê-lo. Assim, enquanto seu pai se encarregara de por fim à
lua-de-mel com o Parlamento, Carlos I adotou medidas que levaram a
relação ao divórcio irreparável, seguido de violenta oposição. Em
consequência do que considerou abusos de Sua Majestade, o
Parlamento expediu a Petição de Direitos, de 1628, na qual declarava
que era ilegal estabelecer impostos sem o seu consentimento, bem como
prender quem se recusasse a pagá-los. Mais ainda, procurava
impossibilitar o rei a criação de um exército permanente, com o qual
Carlos I certamente se livraria de seus opositores. Um ano após a
Petição ter sido quase imposta ao rei, um golpe dissolveu o
Parlamento, e Carlos I reintroduziu na Inglaterra um governo pessoal,
numa tentativa de reeditar o Estado absolutista...
Carlos I restabeleceu e alargou os tributos, introduziu um imposto
marítimo... finalmente, como não poderia deixar de ser, os efeitos dessa
política despencaram em cheio sobre os pobres, pois à medida que
produziram grandes elevações de preços, tornaram os pobres mais
miseráveis ainda e, o que era pior, sujeitaram-nos à proteção do
governo ou da Igreja. Rapidamente, em conjunto, todas as forças
sociais foram se pondo contra o rei... em 1642 a guerra civil teve
início...”
Miceli, Paulo (As Revoluções Burguesas - Atual Editora, 22ª edição)
Mas o que foi aquela guerra civil? Para compreendê-la faz-se necessário o entendimento de
alguns antecedentes. Jaime I, que sucedeu Elizabeth I e que se tornou em 1603 o primeiro rei
da Dinastia Stuart, unificou as Coroas irlandesa, escocesa e inglesa numa só Coroa. Quando
Jaime I foi sucedido em 1625, por seu filho, Carlos, que se intitulou Carlos I, essa união de
Coroas começou a ser contestada por irlandeses e escoceses que quiseram tomar caminhos
distintos da Inglaterra. O Parlamento inglês foi fechado em 1629 por Carlos I, após o rei
desconsiderar a Petição de Direitos, lei parlamentar que lhe impunha uma série de
limitações, entre as quais a exigência de que o controle da política financeira seria do
Parlamento. A Petição de Direitos surgira do apogeu de conflitos entre a Coroa e o
Parlamento, que não concordava com a exorbitância tributária a que os reis da família
Stuart quiseram impor aos ingleses. Como o rei precisava do apoio para formar um
exército permanente que lhe possibilitasse fazer frente à rebelião de escoceses e
irlandeses, a Petição de Direitos foi a moeda de troca imposta pelo Parlamento, que lhe
custou a dissolução.
Além de não concordar com as restrições, Carlos I dissolveu o Parlamento e passou a
governar com o apoio da Câmara Estrelada (tribunal formado por nobres de sua confiança).
Além disso, plenamente consciente que a burguesia não era anglicana, mas sim calvinista
puritana, imprimiu uma forte repressão religiosa aos não anglicanos, que causou uma
acentuada fuga de puritanos para a América. Além da burguesia, o dinheiro e o ouro dos
burgueses também fugiram para a costa leste da América do Norte. Os termos daquela
repressão visavam submeter também os irlandeses e escoceses ao anglicanismo promovendo
uma união religiosa, o que causou a invasão escocesa no norte da Inglaterra em 1640.
Aquela invasão apenas somou temperos à extrema crise materializada na miséria do povo, que
sofria com impostos abusivos. Aquela conjuntura forçou o Rei a novamente convocar o
Parlamento naquele ano de 1640. Aquela reconvocação parlamentar se deu face à total
ausência de apoio da burguesia às ações do rei, visto que o parlamento era
predominantemente formado por comerciantes e Carlos I pretendia trazer a burguesia e seu
dinheiro de volta aos interesses da Coroa. O Parlamento impôs o controle dos gastos da Coroa
e a burguesia parlamentar exigiu o comando do exército, bem como a regularidade na
convocação do Parlamento.
O Parlamento, tão logo recuperou o poder, destituiu a Câmara estrelada, despojou o rei de sua
autoridade e aprovou uma lei que tornava obrigatória a sua convocação a cada três anos,
independentemente de determinação do monarca. Enfraquecido, Carlos I concordou para
conter a revolta escocesa. Porém, em 1641, outra revolta agora na Irlanda católica foi o
estopim da Revolução Inglesa. O Parlamento se recusou a entregar o comando do exército
destinado à reconquista da Irlanda a Carlos I, que não se conformando em perder o comando
das forças armadas, saqueou o ouro dos banqueiros ingleses e invadiu o Parlamento a fim de
prender os líderes da oposição.
Não tendo conseguido o êxito na totalidade, pois nem todos os deputados haviam sido presos,
o Rei foi forçado a se retirar de Londres e refugiar-se em Oxford, onde durante um ano reuniu
um exército de 20 mil homens, financiando-o com aquele ouro roubado. Aquele exército não
regular era formado por cavaleiros aristocratas que ainda usufruíam de benefícios feudais.
Uma violenta guerra civil teve início em 1642 e durou 3 anos. Esse exército particular do rei
lutou com cerca de 10 mil homens liderados por um parlamentar puritano de nome Oliver
Cromwell e financiados pela burguesia calvinista inglesa, escocesa e irlandesa. Estava
caracterizada a Revolução (burguesa) Puritana.
O exército do parlamento liderado por Cromwell foi intitulado de exército modelo (New
Model Army) e era uma organização flexível em que a ascensão se dava por mérito e os
soldados haviam se politizado, pois participavam de comitês que tomavam decisões. Eram os
chamados "cabeças redondas", devido ao modelo de corte de cabelo inspirado no corte
puritano. No rastro desse exército modelo surgiu o partido dos niveladores (Levellers),
pequenos proprietários de terras que defendiam a república, o direito de voto e de
representação no Parlamento a todos os homens livres, o livre comércio, a separação entre a
Igreja e o Estado.
Em 1645, Carlos I foi preso, fugiu para a Escócia e depois de recapturado permaneceu preso
em Londres ainda na condição de Rei, sendo o pomo da discórdia entre as lideranças da
Revolução Puritana, pois algumas queriam sua morte e, o Parlamento especificamente
defendia sua vida. E a permanência em vida do Rei levou a Inglaterra a nova guerra civil, pois
não atendendo às pretensões dos niveladores, que além da morte de Carlos, queriam a
materialização de medidas de igualdade social. A 2ª guerra civil acabou em 1649 e, apoiado
pelo exército, Cromwell criou uma república, que mais parecia um aparelho ditatorial,
tal era o seu poder absolutista sobre o Conselho de Estado (poder executivo) e sobre o
Parlamento, que era o poder legislativo. Em 1653, sob o título de Lorde Protetor,
Cromwell transformou-se em ditador vitalício e hereditário.
Sob a ditadura cromwelliana, as estruturas feudais ainda existentes na Inglaterra
foram eliminadas. Os partidários do rei foram assassinados e suas terras foram
confiscadas e vendidas aos produtores rurais, juntamente com as terras dos líderes da
Igreja anglicana. Legalizou-se a liberdade (não a tolerância) religiosa, a propriedade
absoluta da terra e o cercamento dos campos para produzir para o mercado. O
liberalismo econômico entrou em vigor na prática, o que fez o desemprego ser
minimizado.
Ao mesmo tempo que realizou perseguições políticas, Cromwell deu impulso ao
desenvolvimento comercial e marítimo da Inglaterra, manteve a conquista da Irlanda e da
Escócia e ampliou o império colonial britânico, graças aos Atos de Navegação. No entanto,
após sua morte em 1658, seu filho não conseguiu se manter à frente do governo, pois não
dispunha da mesma autoridade sobre o exército. A descontinuidade do poder carismático de
Cromwell ensejou o retorno da Dinastia Stuart.
Face à grande ameaça de um levante militar, que poderia ser desastroso para a consolidação
das conquistas internas e externas da revolução, o Parlamento burguês resolveu destituir
Richard e restaurar a monarquia, convocando o próximo representante da Dinastia Stuart.
Essa opção foi a mais próxima dos interesses dos militares e das classes econômicas
burguesas que vinham liderando a revolução nos últimos 18 anos.
Charles Stuart, o filho do rei decapitado Carlos I, assumiu então o trono inglês, escocês e
irlandês em 1659 como Carlos II e como não poderia deixar de ser, seu primeiro ato foi
atritar-se com o Parlamento, ao declarar-se aliado de Luís XIV, da França, o Rei Sol, de quem
requisitou ajuda financeira para reequilibrar as contas do país, o que foi notado como blefe, já
que o período de 10 anos em que Cromwell governou os ingleses serviu para tornar o império
inglês um modelo de expansão capitalista. Logo a proximidade do novo Stuart com o
absolutismo francês tornou-o suspeito ao Parlamento, que se dividiu em duas tendências
partidárias: os liberais (whigs) contrários ao rei e os conservadores (tories), pró-rei. Como
havia equilíbrio entre as partes, Carlos II reinou por longos 26 anos, entre 1659 e 1685.
Como não deixou herdeiros, Carlos II foi sucedido por seu irmão Jaime, que procurou
restabelecer o catolicismo na Inglaterra. Mesmo havendo liberdade (não tolerância)
religiosa como um dos legados da Revolução Puritana, o catolicismo já estava abolido
das práticas culturais inglesas fazia mais de 150 anos, tendo sido reinstalado no curto
reinado de Maria I a duras penas, de uma forma tão traumática que era mal visto pelos
ingleses. Então, um rei católico afastou ambas as facções do Parlamento e novo conflito
surgiu, tornando o reinado de Jaime II mais breve do que ele mesmo esperava.
A questão se agravou quando o Rei teve um filho, que foi batizado nos ritos católicos e o
Parlamento passou a conspirar para que a filha do rei, Maria Stuart, anglicana e casada com o
príncipe holandês Guilherme de Orange-Nassau, assumisse o trono. Guilherme de Orange
desembarcou com suas tropas em 1688 na cidade portuária de Torbay, com um efetivo de 20
mil homens e como Jaime II não aceitou ser deposto, tentou opor-se militarmente ao
desembarque do holandês. Apesar da mobilização, o conflito transcorreu sem derramamento
de sangue entre as tropas holandesas e inglesas, no que ficou conhecido como Revolução
Gloriosa, que culminou com a derrota do monarca inglês e sua deposição.
Com o título de Guilherme III, Orange-Nassau assumiu o trono inglês, unificando as Coroas
inglesa, escocesa e irlandesa à Coroa holandesa. Entretanto, teve que assinar a Declaração
de Direitos, que limitava seus poderes. A declaração, que antes de tudo impunha uma
condição de que o rei deveria respeitar os poderes do Parlamento, previa que o rei não
poderia cancelar leis parlamentares, o Parlamento escolheria o sucessor do rei, o rei não
poderia manter-se no controle do exército e teria suas finanças controladas por
inspetores. Promulgou também o Ato de Tolerância, que oficializou a liberdade religiosa
aos ingleses. Ou seja, a partir da assinatura daquele documento, o Estado estava se
comprometendo a conceder, além da liberdade, a tolerância e a promessa de que nunca
mais nenhum súdito do Rei seria perseguido em nome de Deus. Após a Revolução
Gloriosa, estabeleceu-se a superioridade da lei sobre a vontade do rei, sepultando de vez
o absolutismo na Inglaterra. O parlamentarismo, como sistema de governo estabeleceu-
se definitivamente na Inglaterra, que se tornou, assim, uma monarquia parlamentar.
A Revolução Inglesa foi um longo processo de conflito de aproximadamente 50 anos. Foi
faseada em Revolução Puritana, Protetorado, Restauração da monarquia e Revolução
Gloriosa, divisão didática no tempo, em que os mesmos objetivos permaneceram acesos:
a luta do liberalismo burguês parlamentar contra o poder absolutista monárquico. Os
resultados da Revolução Inglesa foram o estabelecimento de uma monarquia
parlamentar constitucional que extinguiu o absolutismo na Inglaterra, o surgimento das
ideias de liberdade econômica, social e política que tanto influenciaram outras
revoluções burguesas pelo mundo afora, o avanço das práticas capitalistas, a noção de
que o Estado poderia conceder liberdade religiosa e o surgimento de condições
favoráveis para a revolução industrial.
Texto auxiliar – Iluminismo
O Iluminismo foi um movimento intelectual surgido na França no século XVIII, herdeiro do
Renascimento, importante elo de libertação da razão humana. Com o Renascimento teve em
comum a rejeição ao misticismo, a crença na razão para o conhecimento e compreensão dos
fenômenos naturais e sociais. Até a crença religiosa deveria ser racionalizada. Os iluministas eram
deístas, isto é, acreditavam que Deus está presente na natureza, portanto, também no próprio
indivíduo, que pode descobri-lo por meio da razão, tornando, assim, a Igreja e seus dogmas
dispensáveis. Daí, então, vem a designação dada ao movimento, pois os filósofos desse período
pretendiam “iluminar” a mente das pessoas usando a “luz” da razão. Por isso o século XVIII costuma
ser denominado “Século das Luzes”.
Ao contrário do Renascimento, os iluministas assumiram uma postura contestatória em relação
a diversos aspectos do Absolutismo, entre os quais a centralização política e econômica, que já não
interessavam mais à burguesia, vocacionada a participar cada vez mais das questões políticas e
necessitada de desdobrar as práticas mercantilistas que impediam o livre comércio.
As ideias precursoras do Iluminismo foram o empirismo e o racionalismo, que orientaram o
Cientificismo do Século XVII. Juntamente com a crítica às verdades dogmáticas ressurgidas com
a Contrarreforma, aqueles valores renascentistas sinalizaram a estrada do conhecimento, que tinha
que ser adquirido pela experiência e pela dúvida para que tudo pudesse ter a existência provada de
forma racional. Os principais cientificistas e, portanto, percursores do Iluminismo foram René
Descartes e John Locke. Descartes é considerado o pai do Racionalismo e pregava a razão para se
chegar à verdade e buscava encontrar uma verdade que fosse indiscutível, tendo que duvidar de tudo
até provar a existência de forma racional. Locke, um pensador inglês considerado o “pai do
Iluminismo”, afirmava que o conhecimento era adquirido pela experiência (empirismo).
Os iluministas acreditavam que alguns princípios eram essenciais para a edificação de uma
sociedade mais justa e para a felicidade do ser humano. Eram eles a utilização da razão para a
compreensão das coisas, a tolerância religiosa, o Liberalismo político e econômico, a igualdade
jurídica entre as pessoas, a liberdade de expressão e educação do povo e o individualismo.
Os pensadores iluministas eram divididos em duas classes: os filósofos, com mente voltada para os
problemas políticos; e os economistas, que estavam voltados para o lado financeiro, com intenções de
aumentar a riqueza da nação. Suas ideias transcenderam em muito as problemáticas filosóficas,
políticas e econômicas, repercutindo na educação e nos estudos sociais.
Para os filósofos iluministas, o homem era naturalmente bom, porém, era corrompido pela sociedade
com o passar do tempo. Eles acreditavam que se todos fizessem parte de uma sociedade justa, com
direitos iguais a todos, a felicidade comum seria alcançada. Por esta razão, eles eram contra as
imposições de caráter religioso, contra as práticas mercantilistas, contrários ao absolutismo
monárquico, além dos privilégios dados à nobreza e ao clero, sempre na orientação que as
monarquias absolutistas se transformassem em Estados constitucionais com poderes
independentes. Os principais filósofos foram Voltaire, Montesquieu, Rousseau e Diderot.
Todos eles influenciaram sobremaneira a sociedade francesa, europeia e colonial daquele final de
Idade Moderna, sendo muito difícil e até injusto estabelecer o que deixou marcas mais significativas.
Porém, os ensinamentos de Montesquieu conseguiram uma abrangência maior no tempo, em
função de sua teoria da separação dos poderes, atualmente consagrada em muitas das modernas
constituições internacionais. Dele foi a inspiração do célebre livro “O Espírito das Leis”, obra que
defendeu a monarquia constitucional inglesa, além de elaborar conceitos sobre formas de governo e
exercícios da autoridade política que se tornaram pontos doutrinários básicos do pensamento político
moderno. Esta obra inspirou os redatores da constituição francesa de 1791 e tornou-se a fonte das
doutrinas constitucionais liberais, que repousam na separação dos poderes legislativo, executivo e
judiciário, como a única maneira de garantir um Estado a serviço dos indivíduos.
Se os filósofos doutrinaram aspectos sociais e políticos, os economistas do Iluminismo nos
ensinaram a importância do livre mercado, que significa que a economia não deve ser dirigida e o
Estado só deve intervir para garantir o livre caminhar e o desenvolvimento da economia. As teses de
economia dividiram-se em duas correntes: a dos fisiocratas e a dos liberalistas. Eram os economistas
iluministas contrários à centralização econômica mercantilista. Seus tratados intelectuais se dividiram
em fisiocratas e liberalistas.
Fisiocracia significa “governo da natureza”. Até pelo fato da França não ser uma nação
mecanizada à época do Iluminismo, os fisiocratas pregavam que a riqueza das nações estava
baseada na implantação de um capitalismo agrário, com o aumento da produção agrícola e
industrial. François Quesnay e Vicent Gournay foram o expoentes daquela corrente de pensamento
que estimulou o entendimento que as atividades comerciais estavam intimamente ligadas às práticas
agrárias e industriais. Quesnay tornou-se um pensador célebre pela consagrada frase “laissez faire,
laissez aller, laissez passer », ou seja, deixe fazer, deixe ir, deixe passar.
A corrente liberalista acreditava que seria a circulação de capital que garantiria o destino de riqueza de
um povo. Para isso, o Estado precisava expandir as atividades econômicas capitalistas, concedendo
liberdade econômica e política para os indivíduos. Entre os liberalistas, Adam Smith foi o que mais se
notabilizou pelo livro A Riqueza das Nações, que pregava que o trabalho livre, sem a intervenção do
Estado era a verdadeira fonte de riqueza para as nações e deveria ser conduzido pela livre-iniciativa
popular. Em sua obra, criticou a política mercantilista, por meio do qual o Estado interferia na vida
econômica, e defendeu que a economia deveria ser dirigida pelo livre jogo da oferta e da procura de
mercado. Além de Smith, as ideias precursoras de Locke e as subsequentes de Malthus e Ricardo
foram essenciais para a formação dos processos que consolidaram o Capitalismo.
Devido à grande capilaridade intelectual que existia desde o final da Idade Média, diversos monarcas
europeus se deixaram influenciar pelas ideias filosóficas e econômicas iluministas. Como a nobreza
buscava estudar em universidades já consagradas (Cambridge, Salamanca, Paris, Roma, Florença,
etc.), muitas vezes fora de suas fronteiras, acabavam por tomar contato com aquelas ideias de
liberdades, desenvolvimento e progresso. Com isso, ao retornarem aos seus reinos, impérios,
condados, ducados, etc, tentaram harmonizar seus governos com as ideias iluministas, a fim de
modernizarem as instituições sociais, políticas e econômicas, forçando o desenvolvimento de seus
países.
Quase sempre, porém, era impossível modificar as estruturas absolutistas vigentes a curto prazo, até
porque os jovens estudantes demoravam a assumir o trono ou estavam comprometidos com
casamentos políticos arranjados em outra nação. Contudo, quando eles conseguiram alterar a marcha
da história de suas nações, ficaram conhecidos por déspotas esclarecidos, ou reis filósofos, ao
governarem países atrasados economicamente e com uma aristocracia culta e refinada, apta a
ajuda-los a promover mudanças lentas e graduais. Outra característica em comum dos países
governados por déspotas esclarecidos é que nenhum deles contava com uma burguesia
partidária da liberdade de mercado e/ou com força suficiente para fazer prevalecer suas
opiniões, como acontecia principalmente na Inglaterra e, em menor escala, na França.
Os déspotas esclarecidos promoveram uma série de reformas públicas, como incentivo à educação
pública, por meio da construção de escolas, do apoio a academias literárias e científicas e o
aperfeiçoamento do sistema de arrecadação tributária, procurando tornar menos opressiva a carga de
tributos cobrados das classes populares. Destacaram-se Frederico II, da Prússia, discípulo de Voltaire,
Catarina II, da Rússia: amiga de iluministas como Voltaire e Diderot, José II, da Áustria e o Marquês
de Pombal, ministro do Rei José I, de Portugal, que estimulou o comércio e as manufaturas
portuguesas, reformou o ensino, expulsando os jesuítas de Portugal e do Brasil e harmonizou as
demandas por desenvolvimento com alguns privilégios que as classes sociais próximas ao rei
possuíam.
Autoria: Prof Fabiano
Texto auxiliar – Revolução Industrial
A Revolução Industrial pode ser definida como o conjunto de transformações sociais e econômicas
ocorridas no período entre 1750 e 1860, relacionadas com a substituição da produção manufatureira
artesanal pela produção em série, realizada por trabalhadores assalariados, com o uso predominante de
máquinas. A Revolução Industrial ensejou o surgimento do capitalismo industrial e a redução
dos custos de produção, ampliando o mercado consumidor.
O processo de industrialização em série começou na Inglaterra, na segunda metade do século XVIII e
seu aparecimento se deve a três fatos históricos abrangentes à toda a Europa Centro-Ocidental:
a revolução comercial entre os Séculos X e XV, o acúmulo de capitais que se deu na livre circulação
das mercadorias, nesse mesmo período e a expansão comercial marítima iniciada no Século XV,
que dinamizou a produção industrial, face à grande e variada quantidade de matérias primas
advindas das colônias e que fez surgir novos mercados compradores dos excedentes de
produção.
Vejamos as três etapas iniciais do crescimento da produção econômica, revisando as duas primeiras. A
atividade de transformação de matérias-primas em bens passou por diferentes etapas no que se refere
aos aspectos técnicos e de organização do trabalho. A primeira delas foi a produção artesanal ou
artesanato, que predominou na Idade Antiga e Idade Média. Era realizada de forma manual, com o
auxílio de ferramentas e em pequena escala. O artesão trabalhava em casa ou oficina e tinha o
controle sobre as diversas fases da produção. Essa fase artesanal coincide com o Renascimento
Comercial, que causou o resgate das relações comerciais que ajudaram a sufocar o modelo de
isolamento feudal. A produção artesanal fez surgir o Capitalismo, na sua forma comercial.
A segunda etapa do crescimento econômico foi a da produção manufatureira ou manufatura, que
predominou na transição entre a Idade Média e a Idade Moderna, e por toda esta. As manufaturas
eram oficinas onde dois ou mais artesãos trabalhavam sob o controle do dono da manufatura. Começaram a produção em série e um sistema de divisão de trabalho, pelo qual cada artesão passou a
cumprir uma tarefa específica dentro do processo de fabricação de um mesmo bem. Essa fase
manufatureira correspondeu ao ciclo das grandes navegações mercantilistas e, por conseguinte,
ao Capitalismo Mercantil, aquele da busca por novos mercados de matérias primas e
consumidores.
A terceira etapa do crescimento econômico (e última do atual objeto de estudo) foi a da produção
mecanizada ou maquinofatura: As máquinas foram gradativamente substituindo as ferramentas e o
trabalhador, que deixou de ser artesão para se tornar operário (trabalhador assalariado), passando a
realizar sua tarefa em linhas de montagem nas fábricas no processo que foi chamado Revolução
Industrial e que deu origem ao Capitalismo Industrial. Neste estágio da produção econômica, o
operário foi alienado do meio de produção. Mas o que é alienação do trabalho? O fenômeno da
alienação é o fato de o trabalhador não se enxergar na mercadoria por ele produzida, ou seja, o
trabalhador é separado do produto final do seu trabalho porque sua força de trabalho
produtora do meio de produção é vendida em troca do salário.
Essa dita mecanização da produção econômica se deu após a invenção do motor a vapor, movido a
carvão mineral e que possibilitou a dinamização dos processos industriais. As máquinas inventadas a
partir da invenção do motor a vapor, possibilitaram a economia de força física e a agilidade no
transporte e no manuseio das partes de um todo que era industrializado. Surgiram então a máquina de
fiar, o bastidor hidráulico, o barco a vapor e a locomotiva. Estas máquinas marcaram a substituição
da energia física pela energia mecânica no processo de produção de mercadorias e no
encurtamento de distâncias físicas, quer entre a produção e o mercado consumidor, quer entre a
produção e as matérias primas.
Vimos anteriormente que três fatores históricos estimularam o gradual surgimento da Revolução
Industrial: A revolução comercial, a circulação comercial e a expansão comercial. Vimos também que
foram abrangentes aos países que se lançaram ao capitalismo mercantil. Porém, o fenômeno
Revolução Industrial só foi possível face ao pioneirismo inglês. E esse pioneirismo foi composto por
fatores geográficos, econômicos, sociais e políticos. Surgiu, antes de tudo, do investimento
realizado pelos governantes ingleses na adequação da economia daquele país aos reclames do
capitalismo comercial e à grande massa de desempregados que havia nos grandes centros urbanos
da Inglaterra, devido à migração consequente do cercamento dos campos ocorrido cerca de 170 anos
antes. Aquela farta oferta de mão-de-obra, aliada ao aprimoramento do maquinário industrial ocorrido
na primeira metade do Século XVIII, acarretou o desenvolvimento dos meios de produção. Note-se,
porém, que mesmo que a grande massa de desempregados se devesse em parte à migração
econômica do cercamento dos campos, a Revolução Industrial foi um fenômeno urbano.
O pioneirismo da Inglaterra se deu em virtude a muitos fatores históricos próprios e que contribuíram
para que aquele pais saísse na frente no processo de mecanização industrial no século XVIII. Além
dos já mencionados fartura de mão-de-obra e investimento governamental que produziu o
expansionismo marítimo e colonialista, o mais fundamental de todos foi o surgimento do motor a
vapor, graças à invenção do britânico James Watt. Outros fatores também merecem destaque: A
liberalização da economia, a instalação da monarquia parlamentar e o triunfo das liberdades
sociais, produtos da Revolução Inglesa. A supremacia naval, a abundância de recursos naturais
em carvão mineral e minério de ferro, e a posição geográfica, que fez daquela ilha à margem da
Europa Ocidental um importante ponto de escoamento da produção, acesso ao comércio
marítimo e exploração dos grandes mercados ultramarinos.
O rápido processo de industrialização logo fez surgir grandes centros industrializados, entulhados de
cortiços onde residia o operariado. As demandas cada vez maiores da dinâmica industrial
contrastavam com as precárias condições de vida daqueles que trabalhavam nas fábricas, que aliadas à
inexistência de limites trabalhistas polarizaram os trabalhadores no lado oposto do intenso debate que
se deu entre as demandas econômicas dos donos dos meios de produção e as necessidades sociais da
classe trabalhadora. No centro desse debate estavam trabalhadores e empresários, com seus interesses
conflitantes e polarizados: de um lado, as reivindicações por condições dignas de trabalho dos
operários; do lado oposto, a preocupação da burguesia industrial em aumentar seus lucros. A polêmica
decorrente desse conflito de interesses contribuiu para a elaboração de várias teorias sociais. Algumas
justificaram os rumos da nova sociedade industrial capitalista; outras, identificadas com os interesses
dos operários, denunciavam a exploração do trabalho e pregavam uma sociedade mais livre e justa. As
duas principais correntes que surgiram representando essa polarização foram o Liberalismo e o
Socialismo.
Entre as teorias que justificaram a sociedade industrial capitalista, destacou-se a corrente do
liberalismo econômico, cujos principais representantes foram os economistas britânicos Adam Smith,
Thomas Malthus e David Ricardo. Esses intelectuais pregavam o trabalho livre e a independência as
práticas econômicas perante o Estado. O Liberalismo econômico como teoria científica cunhou o
perfil do Estado Liberal, que hoje conforma a maioria dos Estados Nação que existem.
Entre as teorias que criticaram a exploração dos trabalhadores e as injustiças da sociedade industrial,
destacou-se o socialismo, que se opunha, de modo geral, ao liberalismo burguês e ao capitalismo. Suas
principais correntes foram o Socialismo Utópico, o Socialismo Científico e o Socialismo Cristão. O
utópico defendia uma sociedade ideal, com igualdade de classes, em que cada trabalhador
receberia seu salário de acordo com suas horas de trabalho. Foi assim denominado por ser uma
utopia (aquilo que é ideal, aceitável apenas no campo das ideias por não ser possível de ser
alcançado).
O Socialismo Científico, pensado pelos alemães Karl Max e Friedrich Engels, desenvolveu
posteriormente a corrente socialista conhecida como marxismo e resultou da observação crítica das
realidades socioeconômicas da Europa na fase da Revolução Industrial e no período
imediatamente posterior. Marx e Engels afirmaram que, ao longo da História, as sociedades
foram marcadas pelo conflito ou luta de classes, originada das condições em que as riquezas
eram distribuídas entre os homens. Eles propunham o fim da propriedade privada e a união do
operariado com o propósito de derrubar os capitalistas e instituir a ditadura do proletariado.
Instituindo um governo socialista, as desigualdades e as classes sociais deveriam ser abolidas. Os
meios de produção deveriam ficar nas mãos do Estado e toda riqueza deveria ser
igualitariamente dividia. Acreditavam que a luta de classes só terminaria com a construção da
sociedade comunista perfeita.
Não só no campo teórico ficaram as contestações e as inovações trazidas pela Revolução Industrial. Os
trabalhadores chegaram à conclusão que teriam que se organizar para lutar por melhores condições de
trabalho e reivindicar seus direitos. Os empregados das fábricas, então, formaram as Trade Unions
(entidades de auxílio mútuo entre os trabalhadores). Houve também o Ludismo que foi uma das
primeiras formas de luta dos trabalhadores. O movimento ludista era formado por grupos de
trabalhadores que invadiam as fábricas e quebravam as máquinas, por achar que as mesmas
eram as responsáveis pela sua infelicidade. Os ludistas conseguiram algumas vitórias, por exemplo,
alguns patrões não reduziram os salários com medo de uma rebelião.
As principais consequências do fenômeno industrial pairam no avanço social e econômico advindo da
mecanização dos meios de produção e da divisão social do trabalho. Entre as principais mudanças
ocorridas podem ser citadas a divisão técnica do trabalho, a utilização constante de máquinas, a
afirmação do capitalismo como modo de produção dominante, a redução dos custos de
produção, a ampliação dos mercados consumidores, o aumento da população urbana, a baixa
remuneração, carga excessiva de trabalho, desemprego e criação de reservas de mão-de-obra, a
alienação dos meios de produção e o surgimento de avanços científicos que possibilitaram a 2ª
Revolução Industrial que ocorreu cerca de 100 anos depois da primeira, no meio do Século XIX.
Autoria: Prof Fabiano
Texto auxiliar – Revolução Francesa
A Revolução Francesa foi um movimento político e social, iniciado em 1789 e que
durou até 1799. Suas causas remontam à Guerra dos 100 anos, cerca de 400 anos antes.
Apesar de ter sido um levante popular, foi liderado pela chamada baixa burguesia ou
burguesia intelectual, formada por artesãos, industriais, escritores, professores e
pequenos comerciantes. Ao aniquilar a política mercantilista, os resquícios do
feudalismo ainda existentes na França, o poder do clero e da nobreza, e
temporariamente ter anulado o absolutismo monárquico, a Revolução Francesa propôs
um fim ao Antigo Regime e os resultados políticos da crise do estado monárquico
francês foram, ao final, capitalizados pela burguesia, que pôde assim dar início à
viabilização de seus interesses políticos e econômicos.
Por Antigo Regime (Ancien Régime) devemos entender o sistema social, econômico e
político aristocrático estabelecido na Europa, concebido em torno da nobreza e que
prosperou devido ao caráter dinástico das diversas monarquias europeias entre os
Séculos XIII e XIX. A difusão do modelo do Antigo Regime ou Absolutismo deveu-se
muito aos laços parentais que existiam entre os monarcas. Revisando, as características
daquele sistema eram:
O Antigo Regime possuía características econômicas, sociais e políticas distintas do
sistema feudal. No campo econômico, houve a transição do Feudalismo para o
Capitalismo comercial e dele para o mercantil. No campo social, as classes sociais eram
estamentais, sem mobilidade. No campo político, o poder estava na mão do rei, que o
conduzia de forma centralizada e autoritária.
Várias e seculares foram as causas que levaram ao levante de 1789. São causas que
percorrem o tecido social, as práticas econômicas e a centralização política da nobreza
dinástica.
As causas sociais estão ligadas à profunda desigualdade que existia na população
francesa, que estava dividida em três estamentos ou classes sociais sem mobilidade,
caracterizadas pela condição de nascimento e pela vocação de servir ao Deus daquela
França exageradamente católica. As classes sociais ou Estados eram o 1º Estado,
composto pelo clero, o 2º Estado, composto pela nobreza e o 3º Estado, que
aglutinava o restante da população, quer tivessem dinheiro, como os burgueses, ou
não, como os camponeses e os populares urbanos, que por se trajarem
diferenciadamente dos nobres eram apelidados de Sans-culottes, como o que está
ilustrado no início de nosso texto auxiliar. O clero e a nobreza tinham vários
privilégios: não pagavam impostos, recebiam pensões do estado e podiam exercer
cargos públicos. Já o 3º Estado além de não ter benefícios, estava sujeito aos
pesados impostos que sustentavam a máquina administrativa francesa.
As causas econômicas remontam, como já foi dito, à Guerra dos 100 anos e os 400
anos de desequilíbrio econômico, minorado em alguns momentos como por exemplo o
período de tolerância religiosa após o Edito de Nantes, apresentava profundos sinais de
crise em vários setores naquele final de Século XVIII. A agricultura, base da economia
francesa, devido ao rigor do clima na década de 1780 provocaram fome e revolta na
população excluída. A indústria sofreu uma séria crise a partir de 1786, devido ao
Tratado de Eden com a Inglaterra. O comércio deteriorou-se a partir da 2ª metade do
Século XVIII, principalmente em virtude da Guerra dos Sete Anos, em 1756-63, que
fez a França perder suas colônias nas Antilhas, Canadá e Índia, diminuindo o fluxo de
matérias-primas para a sua indústria manufatureira. E, por último, as finanças do
governo francês atravessavam um colapso desde o reinado de Luís XIV, pois as
despesas do Estado eram muito superiores às receitas do Tesouro Público. Para
sustentar a máquina administrativa, somente o 3º estamento tinha que arcar com os
pesados impostos.
A influência dos ideais iluministas também foi uma considerável marca para as
mudanças que se processaram naquela França injusta e em profunda crise. O ideal
iluminista de Igualdade, Liberdade e Fraternidade reverberava em cada francês
oprimido. A Revolução Inglesa igualmente se mostrou um caminho para o povo
francês alcançar as tão necessárias liberdades políticas, sociais e econômicas. E a
Independência dos Estados Unidos, apoiada pelo Estado Francês soava como um
incompreensível antagonismo: Por que a independência das colônias inglesas na
América havia sido estimulada pelo Rei da França, se o povo francês padecia das
injustiças próprias dos regimes absolutistas?
A revolução teve cinco fases específicas. A Revolta da aristocracia, em 1789, a
Assembleia nacional constituinte, entre 1789 e 1791, a Monarquia constitucional,
entre 1791 e 1792, a Convenção, entre 1792 e 1795 e o Diretório, entre 1795 e 1799.
Para entendermos a Revolta da aristocracia, faz-se necessário regredir no tempo até a
revogação do Edito de Nantes, em 1685, quando a burguesia novamente se afastou dos
negócios do rei e a França retomou sua rota em direção ao caos. Os próximos 100 anos
seriam de profunda crise, em que o 3º Estado seria o pagador da conta. Ao recrudescer a
crise econômica no final da década de 1780, Luís XVI promoveu uma severa reforma
tributária, por proposta de seus ministros das finanças, que aumentou a carga tributária
do 3º Estado, além de tentar cobrar impostos também da nobreza e do clero, que
historicamente eram isentos de tributação. Para tal, Luís XVI convocou em 1788 a
Assembleia dos Notáveis, composta por nobres, que se recusaram a apoiar a
universalização tributária.
Como a recessão econômica atingira seu ápice, até porque a aristocracia se negou a
contribuir com a reforma tributária e como não havia mais como extrair recursos dos
miseráveis, Luís XVI, por influência do ministro das finanças Jacques Necker,
convocou a Assembleia dos Estados Gerais, que era um órgão consultivo, que
agregava os três Estados e que não se reunia havia 175 anos, para discutir o aumento de
tributos. Para isso, fizeram-se eleições e o voto censitário elegeu uma quantidade de
membros do 3º estado maior do que estava prevista.
Os Estados Gerais sempre votaram por estado e, desta forma, o 1º e 2º Estados (clero e
aristocracia) se uniam e sempre derrotavam o 3º Estado por 2x1. Só que em 1789,
diferente de 1614, o 3º Estado exigiu, por possuir 578 representantes, 17 a mais que
o do 1º e 2º Estado somados, que a votação fosse por número de representantes e
não por representatividade dos Estados. Tal fato provocou uma forte reação dos
aristocratas e do alto clero, que boicotaram a reunião impedindo os integrantes do
3º Estado de entrar na Assembleia dos Estados Gerais.
Apoiados pelo rei, a nobreza e o clero recusaram a proposta do 3º Estado, que
revoltados, se proclamaram em Assembleia Nacional Constituinte, com o objetivo de
elaborar uma nova Constituição para a França. Paralelamente à insurreição dos
Deputados do 3º Estado, o povo se revoltou e a revolta se espalhou por toda França,
havendo massacre de nobres e retirada de seus bens, num período que ficou conhecido
como Grande Medo.
Luís XVI reagiu e organizou tropas para lutar contra os populares, mas a revolta
liderada pela burguesia, militarizada na chamada Guarda Nacional, já tomara conta das
ruas. Principalmente porque no dia 14 de julho de 1789, uma multidão invadiu a
prisão da Bastilha, símbolo do poder absoluto do rei e assaltou todo o suprimento de
pólvora da Coroa Francesa. Sem força para dominar a agitação, o rei foi obrigado a
reconhecer a legitimidade da Assembleia Nacional Constituinte.
A Assembleia Nacional Constituinte trabalhou por dois anos e, ao fim, promulgou uma
Constituição, decretou o fim dos direitos feudais sobre os camponeses, dos privilégios
tributários do clero e da nobreza e extinguiu o regime feudal na França. Também
aprovou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, uma espécie de Código
Civil, que, entre outras melhorias, estabeleceu a igualdade dos cidadãos perante a
lei e os direitos às liberdades individuais (expressão e pensamento) e à propriedade
privada. As terras da Igreja foram confiscadas e o Clero foi subordinando à autoridade
do Estado.
Uma das marcas daquela 1ª Constituição Francesa foi a instituição da Monarquia
Constitucional no país, nos moldes da vizinha Inglaterra. A Assembleia Constituinte
foi dissolvida e foi eleita a Assembleia Legislativa. Naquele ano de 1791, Luís XVI
tentou fugir do país, mas foi preso e levado de volta a Paris, onde foi mantido sob
vigilância.
A Assembleia Legislativa passou a ser dominada pela alta burguesia, cujos
interesses de liberdade comercial, direito à propriedade privada, criação de três poderes
(Legislativo, Executivo e Judiciário) e manutenção da representatividade popular
pelo voto censitário foram contemplados na nova Constituição.
Face à prisão da família real após a fracassada tentativa de fuga, os Impérios Russo e
Austríaco e o Reino da Sardenha, temerosos de que a revolução se alastrasse para seus
territórios, criaram a Primeira Coligação militar, a fim de restaurar a monarquia
absolutista francesa, o que fez a França entrar em guerra contra aqueles países em 1792,
guerra que foi vencida com facilidade, exceto contra a Inglaterra que aderiu
posteriormente à Coligação e que, com sua entrada, fez o conflito se arrastar por
mais cinco anos. A Inglaterra, país liberal há 100 anos entrou na luta em 1793
contra os franceses, após a morte de Luís XVI, descontente que estava seu governo
com os rumos repressores que a Revolução Francesa já estava tomando.
Os líderes da Revolução decidiram proclamar a República em setembro de 1792. A
Assembleia Legislativa foi dissolvida e foi criada a Convenção Nacional, cuja
missão principal seria elaborar uma nova Constituição, agora, de caráter
republicano, inspirada nas ideias democráticas de Rosseau. Os deputados da
Convenção Nacional eram divididos em cinco organizações políticas: Girondinos,
representantes da alta e média burguesia, interessados em colocar a França em caminhos
de desenvolvimento e manter-se a paz com os vizinhos monarquistas; os Jacobinos,
representantes da pequena burguesia e sains-culottes, eram liderados por
Robespierre e defendiam posições mais radicais e de interesse popular; os
Pântanos, apoiadores dos girondinos; os Cordeliers, representantes das camadas
populares e, os Feuillants, representantes da burguesia financeira.
Em 1792, Luís XVI foi julgado e condenado à morte por influência dos jacobinos. A
execução do rei e da família real em 1793, provocou a ruptura entre Girondinos e
Jacobinos e, externamente, provocou o recrudescimento das lutas externas, pois vários
países até então neutros, como a Inglaterra, se juntaram à 1ª Coligação com o objetivo
de derrotar a França. Além da pressão externa, problemas internos como o agravamento
da crise econômica e as brigas entre as facções que compunham a Convenção provocam
uma insurreição popular em Paris. Para enfrentar essa reação, os Jacobinos
prenderam e eliminaram os principais líderes Girondinos e deram um golpe de
estado, criando o Comitê de Salvação Pública, responsável pela administração e
defesa do país e o Tribunal Revolucionário, encarregado de vigiar e punir os
opositores da revolução.
A partir do golpe de estado Jacobino, a recém-instalada ditadura espalhou um regime de
perseguição que ficou conhecido como Terror. A liderança desse modelo de
esmagamento da oposição foi conduzida por Robespierre, que teve alguns êxitos no
externos, ao conter o ataque das forças estrangeiras e, internos, adotando algumas
medidas populares, como sufrágio universal (voto), reforma agrária, aumento de
impostos para os mais ricos, tabelamento de gêneros alimentícios, apesar de espalhar
um repressor esquema de extermínio de opositores ao regime.
Devido ao exagero das execuções arbitrárias e às sucessivas caracterizações de delírio
mental, Robespierre perdeu apoio popular e ficou isolado politicamente. Os Girondinos,
mesmo exilados, mas com o apoio dos Pântanos, o prenderam e guilhotinaram ele e
todos os demais líderes Jacobinos, finalizando aquele período de terror, totalmente na
contramão do que pretendera a Revolução Francesa e seus ideais de Liberdade,
Igualdade e Fraternidade.
Após a execução de Robespierre, a Convenção passou a ser controlada pela alta
burguesia Girondina, que votou uma nova Constituição e restabeleceu o voto
censitário. Em outubro de 1795, os monarquistas tentaram tomar o poder, sendo
sufocados por Napoleão Bonaparte, que recebeu a recompensa de comandar as forças de
ocupação militar na Itália. A Convenção foi então dissolvida para dar lugar ao
Diretório. O Diretório era composto por cinco membros eleitos pelo Poder Legislativo
e vigorou de 1795 a 1799, período em que tentou conter o descontentamento popular e
afirmou o controle político da burguesia sobre o país, apesar da grave crise pela qual o
país passava, devido à forte inflação e à corrupção administrativa generalizada.
Paralelamente, a França voltou a ser ameaçada pelas forças estrangeiras que formaram,
em 1798, a Segunda Coligação militar (Reino Unido, Império Russo, Reino de
Nápoles, Império Austríaco, Reino de Portugal e Império Otomano) e a situação
agravou-se. Foi então que Napoleão Bonaparte, de volta da campanha do Egito, dotado
de grande prestígio e contando com o apoio de Girondinos e do Exército, deflagrou um
golpe de Estado. Em 10 de novembro de 1799, dia 18 do mês revolucionário
Brumário, Napoleão dissolveu o Diretório e estabeleceu um novo governo,
denominado Consulado. Esse episódio ficou conhecido como Golpe de 18 do
Brumário.
A Revolução Francesa foi um marco para a história ocidental porque representou a
queda do Antigo Regime na França, mesmo que depois ele viesse a ser retomado. Para
a França, aquele movimento representou o fim da servidão e dos privilégios
feudais, a organização civil dos cidadãos, o confisco dos bens do clero e de parte da
nobreza, a reforma do Exército e da Justiça. Suas ideias iluministas nortearam os
movimentos de emancipação de colônias e geraram mudanças políticas, sociais e
econômicas no mundo.
Sua trajetória demonstrou de forma pioneira que o ideário liberal (mínima interferência
do Estado, igualdade de todos perante a lei, liberdades econômicas e políticas e defesa
da propriedade privada) não respeitado como havia sido na Inglaterra após a Revolução
Inglesa, levou a França a golpes de estado que a fizeram marcar passo por mais 80 anos.
Ela é considerada a mais importante dentre as revoluções burguesas ocorridas na Europa
e, historicamente, sua influência marcou o fim da Idade Moderna e o início da Idade
Contemporânea.
Autoria: Prof Fabiano
Texto auxiliar – Era Napoleônica e Congresso de Viena
Denomina-se Era Napoleônica o período de aproximadamente 15 anos em que
Napoleão Bonaparte governou a França, comandando um processo que resultou na
conquista de boa parte da Europa pelas forças francesas. Utilizou-se, para isso, de sua
habilidade de estrategista e líder. Esse período pode ser dividido em três etapas
principais: Consulado, entre 1799 e 1804, Império, entre 1804 e 1814 e Governo dos
100 dias, em 1815.
Napoleão Bonaparte tornou-se General aos 24 anos e despontou para a política quando
em outubro de 1795 sufocou uma tentativa de tomada do poder pelos monarquistas que
durante todo o período da Revolução Francesa acalentaram o sonho de voltarem ao
comando da França. Napoleão recebeu a recompensa de comandar as tropas francesas
de ocupação na Itália. Após aquele incidente, a Convenção Nacional foi dissolvida e em
seu lugar surgiu o Diretório, composto por cinco membros eleitos pelo Poder
Legislativo.
O Diretório funcionou em aliança com o exército e tinha como missão conter o
descontentamento popular causado pela grave crise social e econômica pela qual o país
passava. O Diretório elaborou uma nova Constituição, que em suas linhas gerais buscou
fortalecer a burguesia e deixar a população francesa livre de duas grandes ameaças: do
terror Jacobino e das práticas absolutistas.
Durante o período em que vigorou, até 1799, a França voltou a ser ameaçada pelas
forças absolutistas vizinhas que formaram a Segunda Coligação militar e Napoleão
Bonaparte foi designado para comandar o Exército Nacional Francês na defesa da
República ameaçada. Aproveitando a confusão da ameaça externa e a desestabilização
política, Napoleão deflagrou um golpe de Estado em 10 de novembro de 1799, golpe
totalmente apoiado pelos Girondinos. O episódio ficou conhecido como Golpe de
18 do Brumário, em alusão ao calendário revolucionário francês. Ato contínuo, o
Diretório foi dissolvido e um novo sistema de governo foi criado, o denominado
Consulado.
O Consulado caracterizou-se como um governo republicano burguês, centralizado
e controlado por três cônsules. No plano externo, Napoleão conseguiu neutralizar as
forças da 2ª Coligação (Inglaterra, Áustria, Rússia e Turquia), o que trouxe a
tranquilidade necessária para a reorganização do país. O período do Consulado
caracterizou-se pela reorganização jurídica e administrativa do Estado e pela
recuperação de sua economia.
Entre as diversas realizações do Consulado, podemos citar o saneamento financeiro,
com a criação de um corpo de funcionários para arrecadação de impostos; a criação
do Banco da França; a criação da Sociedade de Fomento à indústria, para incentivar
a industrialização e agricultura; a realização de obras de infraestrutura; a
reorganização do ensino com a implantação de escolas primárias, secundárias e
superiores; a elaboração do Código Civil ou Código Napoleônico, que normatizava os
direitos e deveres dos cidadãos franceses; a assinatura da Concordata de 1801, que
foi um acordo entre o Estado e a Igreja Católica, estabelecendo a oficialização do
catolicismo como religião oficial, porém subordinada ao Estado francês; entre outras.
Face às grandes realizações administrativas, econômicas e sociais, a opinião pública foi
mobilizada pelos apoiadores de Napoleão e dois plebiscitos centralizaram o poder em
suas mãos. O primeiro, de 1802, transformou-o em Cônsul Vitalício, e o outro,
realizado em 1804 tornou-o o 1º Imperador da França. Restituía-se, desta forma, o
regime monárquico na França, sendo Napoleão o ocupante do trono, sob o signo da
Dinastia Bonaparte.
Realizou-se uma festa em 2 de dezembro de 1804 para se formalizar a coroação do
agora Napoleão I na Catedral de Notre-Dame e um dos momentos mais notórios da
História francesa ocorreu naquela noite, quando com um ato surpreendente, Napoleão I
retirou a coroa das mãos do Papa Pio VII, que viajara especialmente para coroá-lo na
cerimônia. Napoleão queria estabelecer uma ligação com o 1º Imperador do Sacro-
Império Romano Germânico, de quem se dizia descendente. Ao se auto coroar,
Napoleão deixou explícita a noção de que não toleraria autoridade alguma
superior à dele.
Durante o império, Napoleão modernizou o Exército e liderou uma série de
guerras para expandir o domínio da França. O fortalecimento militar e econômico
francês, além de seu governo liberal, constituíam ameaças aos governos absolutistas
vizinhos. Por isso, Áustria, Prússia e Rússia, líderes das duas últimas coalizões militares
contra a França, empenharam-se em formar novas forças militares internacionais contra
o expansionismo francês.
O Império Napoleônico, considerado o Primeiro Império Francês, existiu entre
1804 e 1814. Seu projeto de expansão deu origem às Guerras Napoleônicas, que
geraram numerosas mudanças no mapa da Europa, como o fim do Sacro Império
Romano-Germânico, que existia desde o Século IX. Em seu lugar, Napoleão
constituiu a Confederação do Reno. Em geral, nas regiões dominadas por Napoleão
acabavam se formando governos fiéis ao imperador. Assim sua área de influência se
tornava cada vez maior. Eram os Estados Vassalos.
Napoleão dominou em apenas dois anos quase toda a Europa, exceto a Inglaterra e os
países das coalizões. A Inglaterra foi, em todos os momentos, seu principal oponente.
Com uma poderosa marinha e uma economia desenvolvida, resistiu em todas as frentes
de combate, quer na terra, quer no mar. Tentando minar as forças de seu maior
adversário, Napoleão impôs, em 1806, o Bloqueio Continental, que decretou o
fechamento dos portos europeus ao comércio inglês, medida que ao mesmo tempo
buscava enfraquecer a economia inglesa, provocando uma crise em suas
indústrias, que beneficiaria a burguesia francesa e possibilitaria a dominação do
único adversário que a França tinha à altura das pretensões de Napoleão.
Portugal, que não aderiu ao Bloqueio, foi invadido pelas tropas francesas em 1807,
o que forçou a fuga da corte portuguesa para o Brasil.
O Bloqueio Continental não surtiu o efeito desejado porque a economia da maior parte
dos países sob influência francesa era basicamente agrícola, portanto, dependente dos
produtos industrializados do exterior e a indústria francesa não tinha condições de
substituir o comércio inglês. Alguns governos, então, romperam o bloqueio, como o da
Rússia, o que levou Napoleão a invadir aquele país, em 1812. As tropas francesas
foram derrotadas devido à tática utilizada pelos russos (terra arrasada) e ao forte
inverno.
A sistemática contestação que Napoleão passou a sofrer por parte da Liga anti-
napoleônica, além da profunda crise econômica interna e da desastrosa campanha na
Rússia que levou ao enfraquecimento das outrora poderosíssimas tropas francesas
fizeram com que, em 1814, Napoleão renunciasse ao poder e se exilasse na Ilha de Elba,
no Mar Mediterrâneo. Em março de 1815, Napoleão fugiu do exílio e retomou a
liderança das forças militares com o objetivo de vencer a 5ª Coalizão, permanecendo no
comando do exército por cerca de 100 dias. Em Waterloo, na Bélgica, foi novamente
derrotado e foi exilado na Ilha de Santa Helena, na Itália, onde faleceu em 1821.
As conquistas napoleônicas haviam modificado a divisão política de quase toda a
Europa Ocidental e Central. Com as primeiras derrotas de Napoleão, os dirigentes dos
países vencedores da coalizão (Inglaterra, Áustria, Rússia e Prússia), além da própria
França, organizaram o Congresso de Viena, cujo objetivo era restabelecer a antiga
divisão política do continente europeu.
O Congresso de Viena ocorreu no interregno entre as duas abdicações de Napoleão e
cada país vencedor e a França perdedora fizeram-se representar por um grande expoente
da política externa. O Império Austríaco foi representado pelo Ministro Klemenz
Meternich, o Império Russo pelo Czar Alexandre I, a Prússia pelo Diplomata Von
Humboldt, a Inglaterra pelo Secretário Duque de Wellington, Portugal, pelo Ministro
Saldanha da Gama e a França pelo Ministro Charles Talleyrand.
Talleyrand havia sido Ministro do Diretório e de Napoleão até 1807, quando divergiu
do Imperador quanto ao rumo do expansionismo francês. A partir de então compôs a
elite opositora, tendo sido importante artífice da restauração dos Bourbon, ao articular o
estabelecimento de um governo provisório que declarou Napoleão deposto. O novo
governo foi formado no início de 1814 e a primeira providência foi convocar Luís
XVIII para governar a França. O novo Rei então nomeou Talleyrand como seu ministro
das Relações Exteriores.
O Congresso de Viena transcorreu conforme três princípios que o nortearam:
Legitimidade, Equilíbrio europeu e Solidariedade. Legítimo significa legal, justo.
Criado pelo ministro francês Talleyrand, o princípio da Legitimidade objetivava
restaurar as monarquias derrubadas por Napoleão, com a entrega dos tronos a
seus “legítimos donos e restabelecer as fronteiras dos países europeus como eram
antes da Revolução Francesa. A ideia de Talleyrand era proteger a França contra
grandes perdas territoriais. Com aquele princípio, Luís XVIII, irmão de Luís XVI, foi
reconhecido pelos vencedores como novo Rei da França.
Proposto pelo Ministro Metternich, da Áustria, o princípio do Equilíbrio europeu
visava dividir os territórios europeus e suas colônias, de modo a estabelecer um
equilíbrio de forças entre as grandes potências. Com esse princípio, a Rússia anexou
parte da Polônia, Finlândia e a Bessarábia; a Península Itálica e a Confederação
Germânica permaneceram divididas; a Inglaterra ficou com a estratégica Ilha de Malta,
no Mar Mediterrâneo, o Ceilão, na Ásia e a Colônia do Cabo, atualmente África do Sul,
além da Guiana, o que lhe garantiu o controle de importantes rotas marítimas de
comércio; a Prússia ficou com parte da Saxônia, da Westfália, da Polônia e com as
províncias do Reno; a Suécia e a Noruega uniram-se; a Bélgica se uniu à Holanda,
formando o Reino dos Países Baixos.
Por último, o Czar Alexandre I, da Rússia, propôs a formação de uma aliança política
entre as monarquias europeias cristãs, com o objetivo de reprimir a onda liberal e
democrática deflagrada pela Revolução Francesa e ampliada pelas conquistas
napoleônicas. Foi criada a Santa Aliança, que serviria como um exército de
intervenção em qualquer lugar onde surgisse algum processo revolucionário de
caráter liberal ou democrático.
Uniram-se à Rússia no acordo da Santa Aliança as nações vencedoras da campanha
contra Napoleão. A Inglaterra, embora tenha participado do Congresso de Viena,
rejeitou o suposto direito de intervir militarmente em outros países e negou-se a
participar da Santa Aliança. Foram dois os motivos que levaram o Governo Inglês
a recusar participar da Santa Aliança: já era um Estado liberal há cerca de 130
anos e tinha interesse em ampliar os mercados consumidores de seus produtos
industriais, necessitando com isso de mercados livres.
A Santa Aliança não deu certo, pois não conseguiu conter a libertação das colônias na
América Espanhola, nem impedir o desenvolvimento do Liberalismo, que se alastrou
por toda Europa a partir de 1830. Aquele organismo militar absolutista assistiu ao início
das revoluções liberais e nacionalistas, que irromperam em várias regiões da Europa e
que levaram à irrecorrível queda do absolutismo durante todo o Século XIX.
Autoria: Prof Fabiano
Texto auxiliar – Estados Unidos da América
A partir de 1570, a Inglaterra iniciou seu ciclo de viagens atlânticas e abordou as Índias
Ocidentais, colonizando a costa litorânea atlântica do atual território dos Estados
Unidos de um modo bastante diferente daquele que os países ibéricos haviam adotado e
que, visava à exploração de riquezas naturais para o abastecimento de seus mercados.
.
A conturbada situação política e religiosa da Inglaterra naquele período, marcada por
violentas perseguições políticas e sociais provocou a fuga de dissidentes religiosos que
buscaram liberdade nas distantes terras da América e uma oportunidade de
enriquecimento. Aqueles calvinistas puritanos fugidos das perseguições religiosas
povoaram as terras mais ao Norte, que vieram a se chamar Nova Inglaterra,
enquanto que o território mais ao centro foi povoado por Quackers ingleses e
holandeses, e as do Sul foram povoadas por exilados da justiça. A colonização somente
teve início de modo efetivo a partir do século XVII, com a formação das treze colônias.
Face às particularidades políticas e econômicas que eclodiram na Revolução
Inglesa, a Inglaterra não exerceu qualquer tipo de fiscalização sobre aqueles
povoamentos, situação que veio a favorecer a autonomia política e econômica,
possibilitando a organização de elites que aglutinaram a liderança sobre os
colonos, de um modo que favoreceu o nascimento de um fundamental sentimento
de nacionalismo.
Os quadros sociais que povoaram o norte e o sul daquela vasta extensão de terra, além
do clima díspar, mais quente ao sul e temperado ao norte, foram fatores que
favoreceram o desenvolvimento desigual entre as colônias. Na região centro-norte
eram predominantes a pequena e a média propriedade com base na policultura,
enquanto que nas colônias do Sul predominavam os grandes latifúndios
monocultores movidos com trabalho escravo.
Devido à autonomia comercial, os excedentes da produção, tanto do norte, quanto
do sul eram escoados através de uma prática que ficou conhecida como comércio
triangular, que fazia chegar à África bens diversos produzidos pelos colonos e que
eram comercializados por mão-de-obra escrava, fartamente aproveitada pelos
latifúndios agrários do sul. Os únicos itens que não eram comercializados eram o
tabaco e o algodão, por serem itens de grande valor comercial para a Inglaterra,
passíveis de fiscalização.
Durante muitos anos o comércio triangular proporcionou a consolidação política e
econômica da sociedade colonial de forma independente da Metrópole, até que Oliver
Cromwell criou, a partir de 1651, os Atos de Navegação, conjunto de leis que
protegiam o comércio exterior da Inglaterra visando a conter a expansão naval
holandesa. Os Atos de Navegação foram fundamentais para que a Inglaterra
conseguisse expandir sua frota mercante e militar, possibilitando uma maior
participação nos assuntos das distantes colônias americanas.
O conflito de interesses entre Inglaterra e colônias acirrou-se após as medidas
liberalizantes que a fase final da Revolução Inglesa propiciaram. Foi, então, a partir do
final do Século XVII, que o Governo Inglês passou a efetivamente fiscalizar e exigir
exclusividades comerciais que por mais de 100 anos não havia exigido. Outro fato
histórico que fez a Inglaterra focar suas atenções na América do Norte foi a Guerra dos
Sete Anos, entre Inglaterra e França, entre 1756 e 1763, conflito pela posse de colônias
ultramarinas e que obrigou a Inglaterra a precisar do apoio militar dos habitantes das 13
colônias, haja vista o comprometimento inglês em outros palcos do conflito. Portanto, a
defesa das possessões na América ficou a cargo dos colonos, que precisaram se unir na
luta contra os franceses e seus aliados indígenas. O sentimento de defesa da terra
despertou nos colonos uma forte consciência militar e nacionalista.
Pela primeira vez, as 13 colônias uniram-se em torno de um ideal comum. Embora
vitoriosa, a Inglaterra teve sua economia bastante abalada pelas grandes despesas
militares e para recuperarem-se do desequilíbrio financeiro, os governantes ingleses
ampliaram o recolhimento de impostos, provocando descontentamento entre as
lideranças coloniais. Além dessa reforma tributária, o governo inglês proibiu que
os colonos das 13 colônias ocupassem o Vale do rio Ohio, terras a oeste das 13
colônias que haviam sido tomadas da França após a Guerra dos Sete Anos. Essa
proibição fez com que todos os colonos, inclusive os do sul, se voltassem contra a
metrópole.
Os principais pacotes tributários que foram impostos às 13 colônias foram a Lei do
Açúcar, de 1764, Lei do Selo, de 1765 e Lei do Chá, de 1773, que representavam
medidas de controle e de capitalização dos cofres ingleses visando a saldar as dívidas
contraídas na guerra com a França. Aquela repressão fiscal elevou a temperatura social
e acabou por influenciar fortemente o episódio que ficou conhecido como Boston Tea
Party (Festa de Chá de Boston), ação de protesto executada pelos colonos ingleses
contra o governo inglês, no qual destruíram carregamentos de chá pertencentes à
Companhia Britância das Índias Orientais, atirando-os às águas do Porto de Boston. O
incidente, acontecido em 16 de dezembro de 1773, constituiu-se um evento chave no
desenrolar dos antecedentes da Revolução Americana e permanece como um emblema
da História dos Estados Unidos da América.
A Inglaterra reagiu de imediato com um conjunto de leis que os americanos chamaram
de Leis Intoleráveis, de 1774, que entre outras medidas repressoras incluíam o
fechamento do porto de Boston, a cassação da autonomia comercial das colônias do
norte, a aplicação de indenizações à Companhia das Índias e o julgamento dos
envolvidos, na Inglaterra. As reações dos colonos foram pacíficas, mas levaram à
realização, em setembro de 1774, do Primeiro Congresso Continental da Filadélfia,
de caráter não separatista, em que foi redigida uma Declaração de Direitos, que
materializou o descontentamento contra as Leis Intoleráveis e que exigia o
restabelecimento da autonomia das colônias.
O Governo Inglês não aceitou as exigências e enviou forças militares para a América.
Foi deflagrado então um conflito bélico, que teve início com a Batalha de Lexington,
em abril de 1775. Ainda em 1775, reuniu-se o Segundo Congresso Continental da
Filadélfia, de caráter separatista, visando à independência. O encontro confirmou
George Washington no comando das tropas americanas e encarregou uma comissão,
liderada pelo iluminista Thomas Jefferson de redigir a Declaração de Independência,
que foi promulgada em 4 de julho de 1776, concretizando, assim, o ideal de liberdade
das 13 colônias, que passaram a chamar-se Estados Unidos da América. As lutas se
intensificaram e os americanos passaram a contar com a ajuda externa da França e da
Espanha, que pretendiam enfraquecer o poderio britânico. Em 1781, a guerra terminou
com a vitória americana na Batalha de Yorktown. A paz definitiva foi selada em 1783,
com a assinatura do Tratado de Versalhes, pelo qual a Inglaterra consagrou o
reconhecimento da independência americana e o direito de os estados colonizarem os
territórios situados a oeste do Rio Mississipi.
Influenciado pelos iluministas, o país promulgou sua Constituição em 1787, a qual
estabelecia uma república federativa presidencialista e a tripartição do poder em
legislativo, executivo e judiciário. Cada estado teria autonomia para tomar
decisões político-administrativas de acordo com seus interesses. Os Estados Unidos
elegeram George Washington para presidência da Federação.
Durante o seu mandato (1789-1797), Washington lançou um programa econômico para
desenvolver a indústria, o comércio e as finanças do país. Com as políticas adotadas, a
economia e a população começaram a crescer rapidamente. As autoridades
governamentais passaram então a incentivar a expansão territorial em direção ao oeste
na busca de terras agricultáveis, áreas de pastagens e fontes de matérias primas para a
industrialização cada vez mais dinâmica.
Esse desejo expansionista foi expresso pela doutrina “Destino Manifesto”,
pensamento que expressava a crença de que o povo dos Estados Unidos é eleito por
Deus para pacificar o mundo e por isso o expansionismo americano era apenas o
cumprimento da vontade Divina. Na busca de novas terras, diversos territórios foram
anexados por meio de três recursos principais: guerra, compra e cessão diplomática. Por
meio da compra foram anexados a Lousiania em 1803, que pertencia à França; a
Flórida em 1819, que era da Espanha e o Alasca em 1867, que pertencia à Rússia. Pela
diplomacia, foi incorporado o Oregon em 1846, cedido pela Inglaterra. Mas foi,
sobretudo depois da guerra contra o México, entre 1846 e 1848, que houve uma
significativa ampliação do território, que teve como consequência a ligação entre o leste
e o oeste.
Construíram-se, então, as primeiras ferrovias, que possibilitaram o encurtamento
de distâncias entre as matrizes energéticas e as matérias primas e os locais de
industrialização, bem como das indústrias aos seus mercados consumidores. Com o
objetivo de expandir sua economia e sua influência na América Latina, o Presidente
James Monroe criou então a “Doutrina Monroe”, baseada nos princípios da rejeição
de novas colonizações europeias no continente, intolerância à interferência
europeia em questões internas e não participação norte-americana em conflitos
europeus. Aquela estratégia de afirmação política fez o mundo entender que a
América era para os americanos.
Em meados do século XIX, o território americano já dava acesso aos dois oceanos, o
que favoreceu o comércio externo. Houve, também, significativa expansão do mercado
interno, devido ao aumento populacional, desenvolvimento dos meios de transporte e
entrada de mão-de-obra qualificada e capitais estrangeiros, a partir da imigração
europeia. Entretanto, apesar do desenvolvimento, havia falta de sintonia econômica e de
projetos entre o norte industrializado e desenvolvimentista e o sul agrário e atrasado.
Sentindo-se pressionados pelos nortistas em favor da abolição da escravidão, até porque
Abraham Lincoln, candidato eleito para Presidente em 1860 era abertamente favorável à
abolição dos escravos, 11 estados sulistas decidiram separar-se da União e, em março
de 1861, fundaram os Estados Confederados da América. Lincoln, ao ser empossado,
não reconheceu o novo país e deu-se início uma guerra civil. As tropas confederadas,
como eram conhecidas as tropas rebeldes, obtiveram vitórias iniciais, mas ao longo do
conflito as forças federalistas da União foram impondo sua superioridade militar, pois
tinham mais habitantes e indústrias para fabricação de armas. Em 1863, Abraham
Lincoln proclamou a abolição da escravidão, fazendo com que os escravos do sul se
aliassem às tropas do norte. A guerra terminou em 1865 com a rendição do exército
sulista.
Várias foram as consequências da guerra civil americana, conhecida como Guerra de
Secessão. As principais foram a consolidação da unidade nacional; o
desenvolvimento do Capitalismo; a expansão das fronteiras, em especial para a
América Central, motivada pelo Corolário Roosevelt; o aumento do mercado
interno; o grande desenvolvimento industrial; o fim do escravagismo, que
influenciou o processo de industrialização, já que o escravagismo é incompatível
com o processo industrial; o racismo, devido à falta de programas de adaptação e
ajudas aos ex-escravos; e a formação de um sentimento crítico que levou à
emancipação e à independência em outras regiões do continente e do mundo,
como por exemplo a Revolução Francesa e o processo de independência das
colônias espanholas na América.
Autoria: Prof Fabiano
Texto auxiliar – Liberalismo e Nacionalismo
A propagação do Liberalismo e do Nacionalismo como sistemas de influência socioeconômica, a
subprodução agrícola acarretando alta de preços de gêneros alimentícios, o subconsumo industrial
provocando falência de fábricas e o desemprego do operariado, o descontentamento do proletariado
urbano devido ao desemprego, aos baixos salários e à alta do custo de vida, o descontentamento da
burguesia, excluída do poder político e atingida pela crise econômica foram fatores comuns que
fizeram desencadear ondas revolucionárias liberais-nacionalistas na Europa a partir de 1830.
Iniciadas na França, varreram o continente europeu e singraram os oceanos, ocasionando revoltas
nas diversas monarquias nacionais absolutistas. Por Liberalismo entende-se a atitude dos que
defendem a propriedade privada, as reformas sociais graduais, as liberdades civis e a
liberdade de mercado, enquanto que por Nacionalismo, o movimento social de indivíduos que
tomam consciência de formar uma comunidade em virtude dos elos étnicos, linguísticos e
culturais que os unem.
Como dito, a Europa abrigou movimentos de transformação que tiveram a França como seu polo
difusor. Em 1830, a França vivia sob o comando dos Bourbon, reintegrados ao cenário político pelo
Congresso de Viena, de 1815. Com a morte de Luís XVIII, em 1824, seu sucessor foi seu irmão
Conde de Artois, que foi entronizado como Carlos X. Artois era o líder os Ultrarrealistas, que
assumiram o controle do governo ampliando uma política antiliberal que suprimiu em menos de 6
anos muitas das liberdades que o povo francês havia adquirido, previstas inclusive na Constituição
de 1815.
O descontentamento popular em relação ao regime conservador de Carlos X, aliado à crise
econômica, levaram a alta burguesia a reorganizar-se e deflagrar a Revolução de 1830. Carlos X foi
deposto e, em seu lugar, assumiu Luís Filipe de Orleans, líder da oposição liberal. Luís Filipe,
conhecido como o “rei burguês”, governou em sintonia com os interesses econômicos burgueses,
favorecendo industriais, banqueiros e grandes comerciantes, garantindo a implantação da tardia
revolução industrial francesa e o pleno desenvolvimento capitalista. A revolução de 1830
repercutiu em toda Europa, ocasionando uma profunda contestação das monarquias absolutistas dos
Estados Italianos, dos Estados da Confederação Germânica, da Bélgica, da Polônia, da Espanha e de
Portugal, cujos povos ansiavam por Estados menores, ou seja, maiores liberdades política, social e
principalmente econômica.
A Bélgica se tornou independente, a Espanha e Portugal apresentaram lutas internas entre liberais e
absolutistas e surgiram as primeiras tentativas de unificação da Itália e Alemanha. O Liberalismo e,
mais tarde, o Nacionalismo triunfariam em quase toda a Europa. No Brasil, a revolução de 1830
também repercutiu em rebeliões que contestaram o período regencial. Foram a Cabanada,
Cabanagem, Sabinada, Balaiada e Farroupilha.
No decorrer de 1848, a Europa foi sacudida por uma nova onda de revoluções. Esse período,
conhecido como “Primavera dos Povos” teve como características comuns o Nacionalismo, o
Liberalismo e, devido ao agravamento das desigualdades sociais, o surgimento do Socialismo,
que baseado nas teorias do Marxismo Científico pregava a igualdade social e econômica
mediante reformas radicais. O polo difusor das rebeliões novamente foi a França, que passava por
uma grave crise política e econômica produzida pela Monarquia de Julho, nome como ficou
conhecido o reinado de Luís Filipe. A crise econômica foi provocada por uma descontrolada
migração de franceses do campo para os grandes centros urbanos, face ao processo de
industrialização estimulado a partir de 1830.
Aquele êxodo rural provocou o aumento da miséria, forte desemprego, greves operárias e
campanhas pela reformulação do sistema eleitoral. Foi então que a pequena burguesia e a classe
operária uniram-se temporariamente contra o governo e um levante derrubou Luís Filipe do poder
em final de fevereiro de 1848. Com a queda do Rei, organizou-se um governo provisório, que
tomou uma série de medidas, das quais a mais importante no campo político foi a
proclamação da Segunda República Francesa.
Foram feitas eleições para mobiliar os quadros da Assembleia Nacional Constituinte, que teria a
missão de elaborar nova Constituição. Derrotados nas eleições, as forças políticas que haviam
meses antes deflagrado a revolta que destituiu o Rei, estimularam a desobediência popular às
decisões da Assembleia Constituinte. E novamente o povo foi mobilizado para as ruas, só que desta
vez foi massacrado pelas tropas do general Cavaignac, que recebera do governo provisório a missão
de pacificar as ruas.
Após o massacre foram realizadas as eleições para Presidente da República, saindo-se
vitorioso Luís Bonaparte, sobrinho de Napoleão. O novo Presidente incentivou a indústria e
ampliou estradas de ferro, permanecendo até 1852 na condição de Presidente, quando através
de um plebiscito, proclamou-se imperador, com o título de Napoleão III. Surgiu então o 2º
Império, que durou até 1870, quando Napoleão foi derrotado pela Prússia na Guerra Franco-
Prussiana e surgiu a 3ª República Francesa.
No tocante à Primavera dos Povos, a revolução acontecida na França teve significativas
repercussões no resto da Europa. O ideal predominante nos demais países europeus onde
houve revolução não foi o Liberalismo, mas sim o Nacionalismo. Os revolucionários daqueles
países queriam libertar seus povos da dominação dinástica imposta pelas decisões do Congresso de
Viena. Por quê? As famílias dinásticas que se declararam as legítimas donas dos países não
representados no Congresso de Viena muitas vezes tinham ligações muito frágeis com a história dos
povos agora dominados, como por exemplo, o Ducado italiano da Toscana, fundado em 1569, que
pertenceu à Dinastia Médici até 1737, quando tornou-se Habsburgo. Não havia então mais do que
100 anos aquele território estava no comando dos Habsburgo, que eram considerados estrangeiros.
Os principais núcleos revolucionários foram os Estados Germânicos, os Estados Tchecos e os
Estados Italianos. A "Primavera dos Povos", como ficou conhecida aquela maré revolucionária,
marcou o despertar de nacionalidades, pois poloneses, dinamarqueses, germânicos, italianos,
húngaros, croatas e romenos passaram a exigir que seus impérios lhes concedessem autonomia. A
rebelião de 1848 foi uma revolta potencialmente global, tornando-se um paradigma de "revolução
mundial" que alimentou rebeldes de várias gerações. Aquelas insurreições singraram os mares,
fazendo-se sentir no Brasil na Revolução Praieira.
Voltando à França, em 1871, revoltados com a derrota na Guerra Franco-Prussiana e vencidos pelas
graves consequências que a situação de perdedor havia lhes imposto, milhares de trabalhadores
franceses organizaram uma grande rebelião com barricadas. Tomaram a cidade de Paris e
implantaram um governo socialista denominado Comuna de Paris. O governo da Comuna
conclamou todos os trabalhadores franceses a seguirem o exemplo de Paris. Seus objetivos eram
criar uma federação de comunas livres e autônomas, eleger os funcionários do Estado pelo voto,
substituir o exército por milícias populares, congelar os preços e criar creches e escolas para os
filhos dos trabalhadores e o Estado deveria propiciar melhores condições de vida aos trabalhadores.
Apoiado pelo governo da vizinha Alemanha, interessado em que a rebelião não se alastrasse pelo
continente, o Governo Republicando combateu severamente a Comuna, que, ao seu final, teve
milhares de pessoas mortas, presas ou deportadas. A Comuna de Paris foi considerada a
primeira conquista do poder político pelos operários e a primeira tentativa de criação de um
governo socialista.
Das principais consequências da Primavera dos Povos, a unificação da Itália e da Alemanha, são as
mais expressivas. No tocante à Itália, desde o fim do Império Romano do Ocidente e o início da
Idade Média, a península itálica era uma região dividida em várias unidades políticas independentes
entre si, que após o Congresso de Viena, passou a ser dominada por austríacos e franceses, bem
como pela Igreja. Eram mais de 10 reinos e ducados subordinados aos Habsburgo, Bourbon e ao
Papa. Desses, destacava-se o Reino do Piemonte-Sardenha, que era governado por um monarca
liberal e do qual foi deflagrado o processo de unificação.
Com a reorganização da península e consequente exploração de suas riquezas, várias sociedades
secretas surgiram com o objetivo de unificar o povo da península, totalmente identificado por seu
passado comum que o levou a ter um só idioma originário do latim falado no Império Romano.
Várias organizações iniciaram uma cruzada no sentido de formar um Estado liberal. Essas
organizações eram na maioria maçônicas, como a ordem dos carbonários, que reunia republicanos e
monarquistas com o propósito de expulsar os austríacos germânicos e estrangeiros e unificar o povo
latino. Outro fator além dos antepassados comuns estimulou aquela junção. Foi o desenvolvimento
industrial do continente europeu a partir de 1830 que atingiu a península pelo norte. Para dar
continuidade ao processo de crescimento e expansão de suas atividades no mercado exterior, a
burguesia local desejava a unificação de toda região porque as boas jazidas de carvão estavam
no centro-sul da península.
Em 1848, em plena onda revolucionária nacionalista, aconteceu a primeira tentativa de
unificação, liderada por Giuseppe Mazzini, criador do movimento Jovem Itália. Mazzini
buscava criar uma república. 11 anos após, em 1859, fracassadas as investidas do Jovem Itália
e com o apoio da França de Napoleão III, o Rei Vitor Emanuel do Reino Sardo-Piemontês deu
início a uma guerra contra a dominação austríaca. Com expressivas vitórias, foram anexadas as
regiões da Lombardia, Toscana, Parma, Módena e Romagna.
Ao sul da península, o republicano Giuseppe Garibaldi, formou um exército de voluntários,
conhecido como camisas vermelhas e, contando com o apoio dos camponeses, ocupou o reino das
Duas Sicílias, afastando do poder o representante dos Bourbon, Francisco II. No final de 1860, a
unificação estava praticamente concluída e Vítor Emanuel II, dominando quase todo território
italiano, foi proclamado rei da Itália em 1861. Somente Veneza e Roma ainda resistiram por algum
tempo, sendo Veneza anexada em 1866 e Roma, em 1870. O papa Pio IX não aceitou a perda dos
territórios da Igreja Católica quando Roma foi anexada à Itália e permaneceu no palácio do
Vaticano, considerando-se prisioneiro. Surgiu, assim, a chamada Questão Romana, essa
autoclausura a que se dedicou aquele Papa e seus sucessores por quase 60 anos. A situação
somente foi resolvida em 1929 com a assinatura do Tratado de Latrão, negociado entre o 1º
Ministro italiano Benito Mussolini e o Papa Pio XI, que criou o pequeno Estado do Vaticano,
sob o governo da Igreja Católica.
Da mesma forma que a Itália, até a primeira metade do século XIX, a Alemanha não existia como
país. A Alemanha foi por cerca de mil anos um ajuntamento de nações de origem germânica, que
eram subordinadas ou não ao Sacro Império Romano Germânico. Após o Congresso de Viena, a
Confederação Germânica foi criada no lugar do Sacro Império, tendo ficado dividida em 39 estados
independentes, liderada pela Áustria, que dominava o Parlamento da Confederação, e pela Prússia,
mais industrializada e com maior poder econômico. Em 1834, a Prússia deu o primeiro passo no
sentido de promover a unificação dos estados alemães. Sob influência de grupos de industriais, foi
criado o Zollverein, uma união aduaneira com o objetivo de eliminar os impostos alfandegários (de
importação) entre os estados da Confederação Germânica, permitindo a livre circulação de
mercadorias na região.
Além de possibilitar a integração da Confederação Germânica, o Zollverein contribuiu para
impulsionar o desenvolvimento econômico alemão. Com grandes reservas de carvão e uma extensa
malha ferroviária, a Prússia era a principal beneficiária do Zollverein. Essas características a
colocaram em condições de ingressar na Revolução Industrial e permitiram ao rei Guilherme I
aumentar e reequipar seus exércitos. A primeira tentativa de unificação fracassou devido à oposição
da Áustria. Em 1862, Guilherme I nomeou como seu primeiro-ministro Otto Von Bismark,
conhecido como “Chanceler de Ferro” e a Prússia passou a liderar firmemente o processo de
unificação. Bismark acreditava que a unificação da Alemanha não se concretizaria sem o uso
da força militar. Assim, usando de diplomacia, mas também de muita determinação,
organizou um poderoso exército e liderou a Prússia em guerras contra a Dinamarca, Áustria e
França.
A primeira guerra, contra a Dinamarca, teve por objetivo o domínio sobre os ducados
dinamarqueses de Schleswig e Holstein, de origem germânica. A segunda, contra a Áustria,
teve a finalidade de disciplinar a questão da liderança entre os principais no movimento de
união germânica, o chamado Pan-Germanismo. O Reino da Prússia, mais industrializado, tinha o
interesse na formação de uma Kleindeutschland (pequena, mas forte Alemanha), enquanto que o
Império Austríaco, aristocratizado e politizado, nutria o interesse em uma Grossdeutschland (grande
e expansionista Alemanha). Derrotado, o Império Austríaco separou-se da Confederação
Germânica, que passou a chamar-se Confederação Germânica do Norte. O Império Austríaco
anexou a Hungria e foi fundado então o Império Austro-Húngaro.
E contra a França, o objetivo foi anexar terras culturalmente germânicas na fronteira entre
os dois países, em especial a região carbonífera da Alsácia e Lorena. A situação social e militar
francesa era crítica e não foi difícil a vitória prussiana. Pelo Tratado de Frankfurt, a França
devolveu as regiões da Alsácia e Lorena, tomadas cerca de 250 anos antes, comprometeu-se a pagar
uma pesada indenização de guerra e aceitou que as tropas germânicas desfilassem triunfalmente
pelas ruas de Paris. A partir da guerra Franco-Prussiana, a unificação da Alemanha se
completou. Foi criado o 2º Império Alemão e o 2º Império Francês foi extinto, dando lugar à
3ª República.
Autoria: Prof Fabiano
Texto auxiliar – 2ª Revolução Industrial e Imperialismo
A Primeira Revolução Industrial caracterizou-se pela invenção da máquina a vapor e sua utilização
na melhoria da produção industrial e no aprimoramento dos transportes. A dinamização da
produção têxtil aproveitou os últimos suspiros da colonização europeia na América, antes que o
sopro de liberdade levasse à independência todos os quadrantes daquele continente que por quase 4
séculos havia sido explorado pelo monopólio das monarquias absolutistas europeias. A partir de
1870, uma nova onda tecnológica fez surgir a chamada Segunda Revolução Industrial. Nessa nova
etapa, o uso do motor à explosão e o decorrente emprego da energia elétrica estimularam a
exploração de novos mercados e a aceleração do ritmo industrial, ofertando condições para o
desenvolvimento das ciências, que trouxe grandes curas, mas também o uso indiscriminado das
novas invenções para o mal.
Esse aprimoramento dos meios de produção e a demanda consequente por matérias primas
combustíveis e de transformação estimularam o surgimento de importantes conceitos, como
produção em série, controle de qualidade, ganho social, indústria de transformação, lucro e
aprimoramento científico da produção. Enfim, estavam lançadas as bases econômicas para a
expansão do capitalismo, tendo rompido as fronteiras das potências industrializadas, que precisaram
reinvestir seus capitais excedentes. As inovações tecnológicas e científicas que cercaram a segunda
revolução industrial possibilitaram, portanto, a expansão política e econômica do capitalismo que
fez surgir as práticas imperialistas.
Mas o que é o capitalismo? Capitalismo é um sistema socioeconômico baseado no reconhecimento
dos direitos individuais, em que a iniciativa privada e o Estado coexistem e este existe para fazer
cumprir os estamentos sociais e regula a ordem pública, em defesa do bem comum e dos interesses
individuais e coletivos. É um sistema moral baseado na universalidade das pessoas, dispostas em
classes sociais, mediante a herança de vida que seus antepassados conquistaram e que sua atual
existência tenha permitido. Sua lógica permite uma ascensão social baseada na aquisição e na
multiplicação de bens e rendas. O capitalismo é um sistema que proporciona uma distinção bem
rigorosa entre o homem e o Estado.
Sua origem se prende aos ideais liberais burgueses que revolucionaram o ideário de liberdade dos
povos até meados do Século XIX e que, contraditoriamente após esse marco incentivaram a
industrialização, com a descoberta e o domínio de novas áreas de exploração econômica por meio
do processo de neocolonização. A partir de sua expansão, por ocasião da Segunda Revolução
Industrial, mostrou-se duplamente contraditório à medida que pregou o livre mercado e as
liberdades fundamentais e incentivou o domínio de novas áreas de exploração econômica por
meio do processo de neocolonização, impondo o que ficou conhecido como imperialismo e, em
um momento em que o mundo como um todo se libertava da cultura escravagista, os olhares
do mundo ocidental passaram a cobiçar a África.
Foi esse mesmo imperialismo promovido pelo capitalismo que estabeleceu uma produção de
riqueza com base na exploração da mão-de-obra, na dominação cultural e na formação de
grandes monopólios industriais alimentados pela matéria prima indiscriminadamente
extraída dos países submetidos. Mesmo tendo apoiado esse viés expansionista das grandes
potências pós-absolutistas, o capitalismo continua até nossos dias sendo prática relacionada à
prosperidade dos povos que o experimentaram, sem serem descartadas ações políticas que
ampliaram o acesso das camadas desfavorecidas aos bens de consumo e serviços que a sociedade
capitalista proporciona.
Mas em que consistiram as práticas imperialistas? Imperialismo ou neocolonialismo foi a maneira
através da qual as nações poderosas da Europa procuraram ampliar e manter controle ou influência
sobre povos ou nações mais pobres, na busca de uma dominação que desse resultados políticos além
de econômicos. E como surgiram as práticas imperialistas? O aumento significativo da produção
industrial a partir de 1870 levou os estados liberais europeus a enfrentarem a seguinte contradição:
como vender a produção industrial cada vez maior e reinvestir os lucros excedentes se a
concorrência entre as grandes potências capitalistas fazia com que seus governos adotassem
medidas protecionistas para dificultar a invasão de produtos importados? A solução encontrada foi
conquistar novos mercados, numa corrida colonial. E o principal alvo foram as nações ainda não
industrializadas da Ásia, da África e da Oceania. Assim, as grandes potências repartiram entre si
essas regiões e adotaram uma política imperialista, passando a dominar essas regiões territorial e
economicamente.
A grande diferença entre o colonialismo do Século XVI e o neocolonialismo dos Séculos XIX e
XX é que o primeiro baseou-se nas práticas mercantilistas, visando ao acúmulo de metais
preciosos, numa realidade em que o beneficiamento de matérias primas era rudimentar,
enquanto que o neocolonialismo, em um período em que as indústrias de transformação
careciam de matérias-primas as mais variadas, objetivou a busca de novos mercados
consumidores e o investimento de capitais excedentes. O capitalismo mercantilista do
colonialismo havia se transformado no capitalismo financeiro.
Em face de uma sociedade que gozava de princípios de liberdade política e econômica, em que as
rebeliões liberais haviam sepultado o absolutismo europeu, seria muito difícil a aceitação
incondicional de que era necessária a intervenção das grandes potências nos lugares mais ermos do
mundo em busca de dominá-las em função da garantia de um expansionismo de mercado. Portanto,
a justificativa para o neocolonialismo foi a “missão civilizadora” das grandes potências, que
tinham por obrigação “difundir o progresso pelo mundo”. Aquela pretensa superioridade da
civilização industrial do Ocidente estava fundamentada em três elementos: A superioridade
da “raça branca”; a necessidade de propagar o Cristianismo e pouca existência de matérias-
primas na Europa.
Com base nessas ideias de superioridade racial e cultural, criaram-se argumentos para justificar a
exploração brutal de diferentes povos africanos e asiáticos. A Partilha da África pode ser entendida
como a divisão de quase todo o território africano pelas potências europeias, que conflitantes em
relação ao interesse em dominar regiões do mundo que ainda dispusessem de matérias-primas para
seus processos de industrialização, viram-se mediadas pela Conferência de Berlim. A Conferência
de Berlim realizada entre 1884 e 1885 teve como objetivo organizar, na forma de regras, a ocupação
da África pelas potências industrializadas. Proposta por Portugal, interessado em garantir a
manutenção de suas antigas feitorias, e organizada pela Alemanha, que não possuía colônias na
África, a Conferência de Berlim teve como resultado a dominação das diversas repartições do
continente africano pelas grandes potências, numa divisão arbitrária em que não foram respeitadas a
história, as relações étnicas e mesmo familiares dos povos que milenarmente ocupavam a África.
Apesar das iniciativas terem partido de Portugal e Alemanha, a Grã-Bretanha e a França foram as
grandes beneficiadas do processo.
Dos vários conflitos de ocupação da África, as Guerras dos Bôeres foram os mais violentos. Essas
guerras, travadas entre 1889 e 1902, consistiram na luta entre ingleses e africanos de origem
holandesa, os bôeres, que habitavam a região do rio Orange (África do Sul) em virtude da extração
de diamantes e de ouro.
Mas e a Ásia foi também partilhada? Podemos compreender o termo partilha da Ásia e da Oceania
como um equivalente à política colonial europeia promovida na África à mesma época, cerca de
final do século XIX. Porém, ao contrário do que ocorreu na África, não houve uma convenção
onde se delimitou a área de influência de cada potência europeia. A exploração da Ásia se deu
no Oriente Médio, Península Indostânica (atualmente, Índia, Paquistão, Bangladesh),
Península da Indochina (Atualmente Vietnã, Camboja e Laos) e China, seguindo uma linha de
continuidade ao que já havia se estabelecido a partir do Século XVI. Dentre as consequências
do imperialismo na Ásia e Oceania, os conflitos políticos e sociais causados pelas minorias
estrangeiras foram os mais lesivos. Esses conflitos geraram três grandes guerras entre dominadores
e dominados: Guerras do Ópio, Guerra dos Cipaios e Guerra dos Boxers.
Mesmo estabelecendo uma extensa gama de justificativas, as nações imperialistas foram
responsáveis pela criação de uma série de problemas nos países dominados. O tal “projeto
civilizatório” defendido pelos partidários do neocolonialismo acabou trazendo mudanças e
problemas que não se encerraram ainda hoje. Os países africanos e asiáticos ainda experimentam os
terríveis efeitos do controle desenvolvido no século XIX. Uma das mais delicadas questões pode
ser observada com relação ao processo de ocupação territorial. Muitas vezes, ignorando a
história e as diferenças dos povos de uma mesma localidade, os imperialistas fizeram com que
um mesmo território agrupasse etnias e tribos rivais. Com isso, mesmo após a saída das potências
industriais, estas regiões se mostram assoladas por conflitos, guerras civis e eventos genocidas de
razões diversas.
Devemos enfatizar que a presença estrangeira foi acompanhada por um desenfreado interesse de
se extrair ao máximo as riquezas naturais dos espaços colonizados. Dessa forma, nações que
hoje poderiam usufruir de uma situação econômica e social de maior estabilidade, enfrentam o
desafio de suportar a falta de recursos considerados fundamentais para a sustentação de seu povo.
Outra questão de grande importância foi a questão cultural, que girou em torno da
desarticulação de vários costumes e tradições que estavam arraigados por séculos entre os povos
dominados. Por se julgarem superiores às demais culturas existentes, os imperialistas perseguiram
determinadas práticas culturais que representavam a identidade dos povos dominados.
Por fim, a expansão capitalista firmada à luz da segunda revolução industrial, gerou uma
partilha desigual dos territórios, fazendo com que a necessidade crescente de mercados
aumentasse um quadro de tensões entre as potências industriais, cada vez mais militarizadas,
pavimentando o caminho para a eclosão da Primeira Guerra Mundial.
Autoria: Prof Fabiano
Texto auxiliar – 1ª Guerra Mundial
A Europa nacionalista e imperialista finalizou o Século XIX e iniciou o Século XX
num clima de grande tensão. Vários conflitos ligados a rivalidades, disputas por
territórios e ressentimentos afetaram as relações entre os povos e seus governos.
Essas condições contribuíram para gerar um clima bélico sem precedentes, que
culminou no maior confronto armado até então, conhecido como a 1ª Guerra
Mundial.
Os conflitos que envolveram nações europeias podem ser enquadrados em
econômicos e político-sociais. Os conflitos econômicos remetem à 2ª corrida
colonialista iniciada na segunda metade do Século XIX na qual as principais
potências capitalistas travaram uma concorrência desmedida por territórios e novos
mercados. No início do século XX, essa disputa econômica envolvia principalmente
interesses ingleses e alemães, devido à partilha da África ter sido desvantajosa para a
Alemanha.
Já os aspectos político-sociais mantiveram acesas antigas rivalidades e
ressentimentos, resultando em projetos expansionistas e revanchistas, carregados de
fervor patriótico. Alguns movimentos nacionalistas pretendiam agrupar, sob um
mesmo Estado, povos de etnia e cultura semelhantes, o que implicava um desejo de
expansão territorial. São exemplos desses movimentos nacionalistas o Pan-eslavismo,
o Pangermanismo e o Revanchismo francês.
O Pan-eslavismo buscava a união de todos os povos eslavos da região balcânica, sob
a liderança da Rússia e da Sérvia. O nacionalismo sérvio pretendia libertar os povos
eslavos do domínio do decadente Império Otomano e do Império Austro-húngaro e
constituir um Estado denominado Grande Sérvia. O interesse russo na região
encontrava justificativa no desejo de controlar os estreitos de Bósforo e Dardanelos,
entre o Mediterrâneo e o Mar Negro.
O Pangermanismo lutava pela anexação à Alemanha dos territórios da Europa Central
onde viviam povos de origem germânica. O Revanchismo francês, por sua vez,
defendia a recuperação dos territórios da Alsácia-Lorena, região rica em minério de
ferro, perdida para a Alemanha depois da Guerra Franco-Prussiana, em 1870.
Se o clima entre os povos foi de grande tensão, o período entre 1871 e 1914 na
Europa foi sem guerras, apesar do clima de disputas e rivalidades econômicas e
psicossociais. Esse período de paz conflituosa foi chamado pela historiografia de
Paz Armada, recorte de 43 anos em que, diante do risco de guerra, as potências
iniciaram uma corrida armamentista para fortalecer seus exércitos.
Para materializar o clima de animosidades, foram celebrados acordos político-
militares de caráter defensivo que tinham o objetivo de somar forças para enfrentar os
potenciais rivais. Esses acordos dividiram a Europa em dois grandes blocos: a
Tríplice Aliança ou Potências Centrais e a Tríplice Entente ou Entente Cordiale.
A Tríplice Aliança foi criada em 1882 pelos Impérios germânicos (Alemanha e
Áustria-Hungria) e pela Itália, cujo Rei tinha interesse na manutenção do processo de
industrialização em cooperação com a Alemanha, apesar dos laços parentais com a
França. A Tríplice Aliança tinha por objetivos isolar a França na Europa, estabelecer
o predomínio alemão no continente e evitar conflitos na região balcânica entre
Áustria e Rússia. A Tríplice Entente procurou fazer uma contenção à agressividade da
política externa alemã e era composta pelos parceiros comerciais Inglaterra e França e
pela Rússia, cujo Imperador tinha laços parentais com o Rei da Inglaterra.
As tensões entre os dois blocos aumentaram gradativamente, chegando a tal ponto
que qualquer incidente poderia ser o estopim de uma guerra. E duas grandes crises
contribuíram para o acirramento das tensões internacionais: a Crise do Marrocos e a
Crise dos Balcãs. A Crise do Marrocos se deu entre 1905 e 1911, França e Alemanha
quase chegaram à guerra devido à disputa pelo território do Marrocos, fornecedor de
matérias primas necessárias ao funcionamento de suas indústrias, como ferro e
manganês.
Se a posse do Marrocos quase disparou o 1º tiro da guerra, foi um tiro que a
provocou. A região dos Bálcãs propiciou o choque entre o nacionalismo sérvio e o
expansionismo germânico. Em 1908, a Áustria-Hungria anexou a Bósnia-
Herzegovina, contrariando os interesses da Sérvia em constituir a Grande Sérvia. Em
consequência, os movimentos nacionalistas sérvios passaram a agir violentamente,
manifestando toda sua contrariedade e uma dessas atitudes de desagravo foi
exatamente tentar matar o filho do Imperador Austro-húngaro quando este fez uma
visita à recém incorporada Bósnia.
O herdeiro do trono austro-húngaro chamava-se Arquiduque Francisco Ferdinando e
sua morte fez a Áustria-Hungria acusar o governo sérvio de ter planejado o atentado.
Uma vez que a Áustria-Hungria declarou guerra contra a Sérvia, houve a entrada de
várias nações no conflito devido à política de alianças anteriormente citada,
iniciando-se um conflito que durou 4 anos e onde enfrentaram-se dois grandes blocos
rivais, que inicialmente baseados nas alianças firmadas antes do início do conflito,
tiveram posteriormente a adesão de outros.
De um lado lutaram o Império Alemão, o Império Austro-Húngaro, o Império
Otomano e o Principado da Bulgária, além do Reino da Itália, que mudou de lado em
1915. Antevendo a derrota, o Rei da Itália, Victor Emanuel III pactuou com a Entente
e mudou de lado por força do Tratado de Londres. Sob o acordo, a Itália receberia a
áreas habitadas por italianos na Áustria-Hungria, além de alguns outros territórios na
África. Do outro lado do conflito estavam a 3ª República Francesa, o Reino Unido, o
Império Russo, o Reino da Bélgica (inicialmente neutro), o Principado da Sérvia, o
Reino da Itália (a partir de 1915), o Reino da Grécia, o Reino da Romênia, a
Federação Australiana, o Reino da Nova Zelândia, o Império Japonês, os Estados
Unidos do Brasil, a 1ª República Portuguesa, o Reino da Espanha e os Estados
Unidos da América.
O Brasil foi o único país sul-americano a entrar efetivamente na guerra, contra a
Alemanha. Cooperando com os ingleses, patrulhou o Atlântico sul e enviou médicos
e aviadores à Europa. Além do Brasil, os Estados Unidos da América, a Costa Rica e
Cuba foram outros países americanos a lutarem na Grande Guerra.
A 1ª Guerra Mundial teve muitas particularidades, entre elas envolveu todas as
grandes potências, impôs o recrutamento obrigatório e a completa mobilização
econômica e militar. Outra característica foi o emprego de armas e equipamentos de
grande poder destrutivo, como aviões, carros de combate, submarinos e agentes
químicos. As ações militares desenvolvidas naquele conflito podem ser divididas em
três fases: a primeira fase chamada Guerra de Movimento, a segunda foi conhecida
como Guerra de Trincheiras e a terceira fase que ficou marcada pela saída da Rússia e
entrada dos Estados Unidos.
A primeira fase foi marcada pela intensa movimentação das forças envolvidas nos
primeiros meses, principalmente pela rápida ofensiva alemã em território francês e na
organização de uma contraofensiva francesa, detendo o avanço germânico sobre Paris
na chamada Batalha do Marne. A Alemanha valeu-se do Plano Schlieffen, que era a
estratégia de guerra produzida anos antes e que previa um possível ataque da França,
da Inglaterra e da Rússia. O Plano Schlieffen previa que, em caso de guerra, seria
necessário derrotar o mais rapidamente possível a França. Assim, Inglaterra e Rússia
não seriam capazes de continuar guerreando com a Alemanha. Supondo que a Rússia
demoraria seis semanas para mobilizar seu exército, o Plano empregava inicialmente
90% das forças armadas alemã contra a França, em um ataque dirigido através da
Bélgica, Holanda e Luxemburgo, desviando das defesas francesas localizadas na
fronteira leste. Os 10% restantes das forças ficariam no leste da Alemanha, em
posição defensiva.
A segunda fase, a Guerra de Trincheiras, transcorreu entre 1915 e 1917 e foi marcada
pela substituição da intensa movimentação de tropas por uma guerra estática, de
pouco movimentação, em que cada lado procurou garantir suas posições, evitando a
aproximação do inimigo. Essa Guerra de Trincheiras foi um período extremamente
desgastante para as tropas e que fez com que a 1ª Guerra fosse conhecido até hoje
com esse nome. Durante essa fase surgiram as primeiras batalhas aéreas e o
submarino surgiu como uma formidável arma de guerra, sendo responsável pelo
afundamento de considerável suprimento logístico oriundo da América.
A terceira fase do conflito foi caracterizada pela saída da Rússia e pela entrada de
outros países na guerra, todos em apoio à Entente. Devido ao afundamento de seus
navios mercantes por submarinos alemães, EUA e Brasil entraram na guerra. Os
Estados Unidos também aderiram à causa da Entente Cordiale, interessados em
garantir que todo o apoio econômico concedido aos inimigos da Alemanha não fosse
perdido numa eventual derrota da França e da Inglaterra.
A entrada dos EUA, em 1917, foi decisiva para a vitória da Entente e seus aliados e
contrabalançou a saída da Rússia. Os recursos logísticos da Entente tornaram-se
muito superiores aos da Tríplice Aliança. No início de 1918, as forças lideradas pela
Alemanha já estavam isoladas e sem condições de sustentar os combates. Em 11 de
novembro daquele ano, o governo alemão assinou a rendição incondicional, pondo
fim, desse modo, à 1ª Guerra Mundial.
Após a rendição alemã e de seus aliados, realizou-se, no Palácio de Versalhes, de
janeiro de 1919 a janeiro de 1920, uma série de conferências com os representantes
das nações vencedoras. Durante a conferência, elaborou-se o Tratado de Versalhes,
que definiu os termos finais de paz com as nações derrotadas, determinando que a
Alemanha havia sido a principal responsável pelo conflito, razão pela qual os alemães
sofreram as mais duras imposições.
As principais consequências da 1ª Guerra Mundial foram o declínio econômico
das grandes potências europeias, a consequente ascensão dos EUA em nível
mundial, o estabelecimento de um novo mapa europeu, a criação da Liga das
Nações e o surgimento do sentimento de revanchismo na Alemanha.
Uma grave crise socioeconômica assolou os países europeus, já abalados pelas perdas
materiais e humanas e pelos gastos com a guerra. Conservando-se neutro no início do
conflito, os produtores e empresários norte-americanos abasteceram as nações
envolvidas na guerra, ocasionando uma explosão do crescimento agrícola e industrial
do país. Ao final do conflito, os EUA tornaram-se credores da Europa arrasada e,
assim, projetou-se como grande potência mundial.
O sentimento de patriotismo evidenciado no início da guerra foi substituído por um
clima de profunda desolação e desesperança. O mapa político da Europa foi
redesenhado e foram desmembrados os Impérios Alemão, Austro-Húngaro e
Otomano e, com isso, foram criados novos países (Hungria, Polônia, Áustria,
Letônia, Estônia e Lituânia, Tchecoslováquia e Iugoslávia). Morreram,
aproximadamente, 9 milhões de pessoas, entre civis e militares e o número de feridos
passou dos 30 milhões.
A Liga das Nações criada durante a Conferência de Paz de Versalhes, por proposta do
presidente dos EUA, tinha por missão principal mediar os conflitos internacionais, a
fim de preservar a paz mundial. Sem a adesão dos EUA e outras potências, a Liga
não reuniu força política necessária para cumprir seu papel e acabou por tornar-se
joguete nas mãos da França e Inglaterra.
Quanto à Alemanha, o Tratado de Versalhes estipulou que aquele país deveria, entre
outras coisas, restituir a Alsácia-Lorena à França e ceder outras regiões à Bélgica,
Dinamarca e Polônia; pagar uma pesada indenização de guerra aos vencedores;
desarmar o seu exército. Muitos alemães consideraram injustas, vingativas e
humilhantes as condições do Tratado de Versalhes. Anos mais tarde, o ressentimento
e o desejo de mudar essas condições motivariam o ressurgimento do nacionalismo
alemão. Após a derrota alemã, houve a abdicação do Imperador Guilherme II e a
instauração da República de Weimar. Era o fim do Segundo Reich. Era o prenúncio
do surgimento do Terceiro.
Autoria: Prof Fabiano
Texto auxiliar – Revolução Russa
A Rússia foi uma monarquia absolutista feudal até final do Século XIX.
Predominantemente agrária, a nobreza rural era a base do Estado e também a
proprietária da maior parte das terras cultiváveis do país. Naqueles tempos, a
industrialização do Império Russo foi viabilizada por iniciativa do Czar Nicolau II,
que ao abrir as fronteiras do país ao capital estrangeiro, fez introduzir também as
doutrinas socioeconômicas que há muitas décadas orientavam as relações entre a
burguesia e o proletariado europeus. Surgiu então naquela Rússia tardiamente
industrializada uma burguesia industrial de pouco peso econômico e politicamente
insignificante e uma classe operária forte, que logo começou a promover greves e
manifestações por melhores condições de vida e de trabalho.
Toda a agitação social produzida pelo impacto da industrialização estimulou a
politização do povo russo e surgiu então, em 1898, o Partido Operário
Socialdemocrata Russo, que foi desde o início destinado à clandestinidade, posto que
não havia interesse por parte do Czar em liberalizar as massas populares. Aquele
partido rachou, em 1903, em dois grupos de interesses distintos: Os Mencheviques e
os Bolcheviques.
Os Mencheviques (minoria) defendiam a implantação do socialismo de forma
gradual, em aliança com a burguesia, enquanto que os Bolcheviques (maioria)
defendiam a luta revolucionária e a conquista imediata do poder pelos operários
e camponeses. O principal líder bolchevique era Lenin, que em diversas ocasiões foi
preso e deportado para campos de prisioneiros na Sibéria, devido ao carisma com que
influenciava a população contra o absolutismo do Imperador.
Em 1904, a Rússia travou uma guerra contra o Império Japonês, ambos os Impérios
interessados em regiões orientais da Ásia e aquele conflito representou o agravamento
das dificuldades econômicas para o povo russo, cujas forças armadas haviam sido
derrotadas. A caótica situação psicossocial provocou diversas manifestações dos
grupos sociais já articulados e a mais célebre levou centenas de milhares de
habitantes de São Petesburgo, então capital do Império, a reivindicarem
pacificamente ações governamentais que levassem à redução da fome, do desemprego
e da moradia, visto que o processo de industrialização havia gerado um êxodo rural
para os grandes centros populacionais.
Essa manifestação, ocorrida no dia 22 de janeiro de 1905 (8 de janeiro do calendário
russo), ficou conhecida como o Domingo sangrento, pois os milhares de
reivindicantes foram rechaçados pelas tropas do Czar e 92 vítimas fatais e mais de mil
feridos se fizeram, desencadeando uma série de greves urbanas por todo o Império,
além de violentas reações contra os senhores de terras. Face à radicalização social
originada pela indignação popular ao massacre de São Petesburgo, operários e
camponeses criaram os sovietes, conselhos políticos destinados a tomar decisões,
muitas vezes à revelia do Estado. Logicamente, os sovietes existiram de forma tão
clandestina quanto as agremiações partidárias que uniam o povo russo numa prática
política proibida.
Pressionado com as revoltas rurais e urbanas que se sucederam ao massacre do
Domingo sangrento, o Czar Nicolau II acenou com o fim do absolutismo e diversas
medidas liberalizantes que levassem à melhoria das condições de vida da
população. Prometeu reformas políticas e, com isso criou a Duma, uma espécie
de Parlamento subordinado ao Czar. Porém, além de não cumprir as promessas,
moveu violenta repressão contra os grevistas e os sovietes. Recuperando forças, o
Czar abandonou as promessas liberais que havia feito, perseguiu e exilou os líderes da
oposição e a Duma perdeu seus poderes efetivos. A Revolta de 1905 chegava ao fim,
por mais que ela tenha sido considerada pelos revolucionários de 1917 como um
―ensaio geral‖.
Não refeita da derrota contra o Japão, a Rússia lançou-se numa aventura contra o
exército alemão, equipado pela mais poderosa indústria bélica da época.
Patrocinadora da causa eslava, responsável pelo conflito mundial, a Rússia foi às
últimas consequências e aderiu a um feito que lhe rendeu efeitos catastróficos. Após
alguns sucessos iniciais contra o Império Austro-Húngaro em 1914, as deficiências
Russas — particularmente a falta de equipamentos e o uso de armas obsoletas — se
tornaram cada vez mais evidentes. Em 1916, o Czar Nicolau II decidiu tomar
pessoalmente o comando do exército, deixando a administração pública nas mãos de
sua esposa, que só tomava decisões após ouvir os conselhos do místico Grigori
Rasputin.
No início de 1917, a Rússia já contabilizava 5 milhões de mortos e feridos, na
maioria arrimos de família, o que desestabilizou a economia do vasto Império. O
exército russo tornou-se uma enorme massa de soldados cansados, maltrapilhos,
famintos e desarmados, desejosos da paz e que haviam deixado suas famílias
passando pelas mesmas privações. Em março de 1917, aproveitando-se da situação
crítica, milhares de pessoas lideradas pelos mencheviques invadiram o palácio do
governo e depuseram a Imperatriz. Teve início, assim, a Revolução Russa. O
Imperador foi preso na frente de combate e os 5 séculos de domínio dos Czares
tiveram um fim.
Para fins didáticos, a Revolução Russa será dividida em nosso estudo em três
grandes fases: a Revolução Branca, a Revolução Vermelha e a Guerra Civil. A
deposição do Czar deu início à Revolução Branca, na qual um governo
provisório controlado pelos “brancos” mencheviques adotou medidas
liberalizantes exigidas pela população visando à retomada de níveis de
normalidade e combate aos males sociais e econômicos que afligiam as famílias
agora sem seus chefes, mortos ou tornados inválidos pela Grande Guerra. De
uma maneira geral, houve reduções da jornada de trabalho, anistia aos presos
políticos e restabelecimento de alguns direitos confiscados nos últimos anos de
repressão, como os direitos de reunião e de expressão. Entretanto, se no campo
social o novo governo branco havia melhorado a vida da população, não
conseguiu resolver problemas econômicos que afligiam os russos há séculos,
como necessidade de reforma agrária e combate à fome. Além disso, os
mencheviques cometeram o pior erro que podia ser cometido naquele momento
de desequilíbrio: mantiveram a Rússia na 1ª Guerra Mundial.
Entendendo que a Rússia só sairia da guerra se um fator de grande peso superveniente
se abatesse sobre a nova realidade revolucionária, o Império Alemão tramou a
reintrodução em solo russo do líder bolchevique Lenin, que estava exilado na Suiça.
Lenin chegou em São Petesburgo em abril de 1917 e liderando um contragolpe,
assumiu o poder em novembro (outubro no calendário russo – por isso a Revolução
Bolchevique é conhecida como a Revolução de Outubro) daquele ano, iniciando o
que a historiografia registrou como o governo vermelho, que tomou as seguintes
medidas: assinou um tratado de paz com a Alemanha (Brest-Litovski), retirando a
Rússia da 1ª Guerra Mundial, confiscou propriedades privadas, distribuindo-as aos
camponeses, estatizou a economia (bancos e fábricas) e desferiu intensa perseguição a
opositores.
Após a deposição dos mencheviques, forças políticas ligadas à monarquia russa,
contando com o apoio da Inglaterra, da França e do Japão, interessados na contensão
da revolução comunista, se organizaram contra o novo governo, iniciando uma guerra
civil entre brancos e vermelhos. Aquela guerra interna durou 3 anos e após conflitos
violentos, o governo bolchevique conseguiu a vitória graças à estratégia do
Comunismo de Guerra e à resistência militar do Exército Vermelho que, liderado
por Trotsky, saiu-se vitorioso.
A estratégia do Comunismo de Guerra foi uma estratégia adotada pelos
bolcheviques durante a guerra civil que ocorreu no país. Pautava-se na premissa
de que todas as forças produtivas do país deveriam ser orientadas no sentido de
combater os inimigos do povo, ou seja, os russos brancos e tropas de ocupação
estrangeiras. As principais medidas adotadas foram a requisição de cereais e de
toda a produção agrícola, censura à imprensa, nacionalização da economia e das
terras, decreto do trabalho obrigatório, congelamento de preços e salários e
extermínio de toda força opositora ao novo regime proletário instituído. As
principais consequências do Comunismo de Guerra foram o surgimento da
Tcheka e a fome de 1921.
Mas o que foi a Tcheka? Após a queda do Czar Nicolau II, a primeira opção dos
russos foi por um esboço de democracia. O governo provisório, formado por liberais
e socialistas moderados, tentou colocar ordem na casa e convocou eleições que não
aconteceram por que aquele governo liberal foi deposto pelos bolcheviques. A
intenção bolchevique era inverter a pirâmide social, abolir a propriedade privada e
colocar todo o poder nas mãos dos trabalhadores. Eram ambições épicas, que
refletiam uma confiança quase religiosa nas teorias marxistas. Os revolucionários
acreditavam que o evangelho marxista podia ordenar o presente e determinar a
―história do futuro‖.
Mas como fazer isso em um regime democrático que se fundamenta na coexistência
de ideias opostas? Deflagrada a guerra civil, a solução foi criada pela própria teoria
marxista: a manutenção do poder só poderia existir nas mãos de um partido único,
que representava os interesses do povo. A solução, romantizada pela própria
revolução, acabou por se tornar o problema, pois a impossibilidade de coexistência
pacífica entre o novo regime e ideias contrarias (oposição) demandava um poder
coercitivo, que foi materializado na Tcheka, polícia secreta bolchevique criada por
Lenin em um decreto emitido em 20 de dezembro de 1917, cuja tarefa era "reprimir e
liquidar", com amplos poderes e quase sem qualquer limite legal, qualquer ato
"contrarrevolucionário".
Desde a sua fundação, a Tcheka foi um importante braço militar de segurança do
governo comunista bolchevique. Como exemplo de sua amplitude, já em 1921, as
Tropas para a Defesa Interna da República (um ramo da Tcheka) contavam com cerca
de 200.000 integrantes. Estas tropas policiavam os Gulags, que eram campos de
concentração para prisioneiros políticos, liquidavam os adversários políticos (de
direita e esquerda), derrubavam as rebeliões camponesas, tumultos por parte dos
trabalhadores, e motins no exército vermelho, que era atormentado por deserções. Em
suma, era o instrumento de repressão da revolução dita popular e foi o embrião da
temida KGB soviética.
E como surgiu a fome de 1921, a outra consequência do Comunismo de Guerra?
Entre 1918 e 1921 houve a expropriação das grandes indústrias e o confisco da maior
parte da colheita de cereais para alimentar o Exército Vermelho e os trabalhadores
urbanos. Tais medidas provocaram o colapso da economia predominantemente
agrária. Essas medidas de impacto no campo levaram à morte pela fome de 5 milhões
de russos. Lenin via na fome um meio de combater a Igreja Ortodoxa, pois, segundo
ele, o povo iria confirmar que o acesso à alimentação seria uma prerrogativa das
autoridades e não dos céus. O episódio da grande fome de 1921 consolidou a ruptura
entre o Estado e a igreja ortodoxa. O pensamento ateu se fez proeminente, a partir de
então, inserido como parte indissociável do Estado socialista.
Em 1921 deu-se o fim da guerra civil e o triunfo do governo bolchevique. Lenin
programou então a Nova Política Econômica (NEP), estratégia que substituiu o
Comunismo de Guerra e que buscava incentivar a nascente economia estatizada. A
NEP consistiu no temporário restabelecimento da livre iniciativa e da pequena
propriedade privada, admitindo o apoio de financiamentos estrangeiros, visando ao
reequilíbrio da economia russa, duramente atingida por 6 anos de conflitos internos e
externos.
Em dezembro de 1922, foi fundada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
(URSS), cujo órgão máximo do governo era o Soviete Supremo, colegiado composto
por um presidente e por delegados de todas as repúblicas soviéticas. Logo após esse
marco histórico, Lenin se afastou do cenário político, em função de problemas
mentais, vindo a morrer em 1924. Ainda em 1922, o Soviete Supremo passou a ser
disputado por Stalin, secretário-geral do Partido Comunista e Trotsky, ministro da
guerra e responsável pela vitória do exército vermelho sobre o exército branco na
guerra civil finalizada em 1921.
A disputa foi vencida por Stalin e Trotsky exilou-se, tendo sido assassinado 18 anos
mais tarde no México a mando de Stalin. A história da URSS está intimamente ligada
à trajetória da ditadura stalinista. Em busca de uma rápida industrialização do país,
Stalin adotou Planos Quinquenais, que objetivaram a criação de uma indústria
pesada, que rapidamente colocasse o país nos trilhos da industrialização europeia.
Para atender aos reclames dessa industrialização que se mostrou dinâmica, Stalin viu
a necessidade de explorar os territórios vizinhos, deflagrando uma verdadeira corrida
imperialista. Moscou instituiu governos fantoches, que eram mantidos como satélites
orbitais orientados pela doutrina comunista e cujo esforço econômico passava a girar
totalmente em prol das necessidades soviéticas. Essa anexação imperialista ficou
conhecida como cortina de ferro e logo após a 2ª Guerra Mundial, já contava com 14
países vizinhos controlados totalmente pela URSS e outros tantos com vida política
própria, mas praticantes da doutrina comunista.
Enquanto viabilizava seus planos quinquenais, Stalin concentrou cada vez mais o
poder político em suas mãos, perseguindo cruelmente as oposições políticas.
Milhares de inimigos do governo foram presos, torturados e mortos. Se não fossem
mortos, os inimigos da ditadura soviética eram expurgados e condenados a trabalhos
forçados em campos de prisioneiros, os gulags. Stalin aprimorou cada vez mais a
extrema centralização do poder e, graças a um imenso controle policial sobre a
população, um metódico e doentio culto à sua personalidade, produziu uma ditadura
tirana e totalitária regida por um partido único. A ditadura soviética foi o principal
produto da Revolução Russa. Ambos os episódios foram considerados marcos na
história da humanidade e mostraram-se, desde o início, tão repressoras em relação às
liberdades políticas e econômicas e tão opressoras em relação aos direitos
fundamentais do ser humano. A Revolução Russa e o Império Soviético produziram
150 milhões de mortos ao longo dos quase 100 anos em que semeiam consequências
pelo mundo afora.
Autoria: Major Fabiano
Texto auxiliar – Crise da sociedade liberal
Ao final da 1ª Guerra Mundial, a economia dos Estados Unidos da América havia se
tornado a mais poderosa do mundo, isso tudo porque a 1ª Guerra Mundial havia
gerado laços de uma profunda dependência europeia da economia e das finanças
norte-americanas. Os Estados Unidos haviam se tornado os grandes exportadores,
durante e no pós-guerra de tudo aquilo que os europeus precisavam, desde alimentos
a armas. Uma onda de euforia havia tomado conta da população norte-americana, que
vivia os chamados “anos felizes”.
Cada ano prometia ser melhor que o anterior. Uma sondagem de âmbito nacional sobre negócios
realizada em janeiro por uma agencia de propaganda de Manhattan (e devidamente entregue a
Coolidge (*), para seu grande deleite) concluiu que todos os indícios “apontavam para um próspero
1929”. Em seu pronunciamento final à nação, naquele ano, Coolidge se congratulou pelo “mais
alto pico de prosperidade em vários anos” e declarou que nenhum outro Congresso “jamais
encontrou uma perspectiva mais agradável como a que se manifesta neste momento. No campo
doméstico há tranquilidade e contentamento”. Em suma, o que poderia dar errado? Em termos
estatísticos, a renda real total dos americanos havia aumentado numa média de 3,4% (acima da
inflação) ao ano durante a maior parte da era Coolidge na presidência. Como observou o
economista Harold Bierman Jr, “os anos 1920 foram de fato um período de real crescimento e
prosperidade”. Embora os americanos mais ricos tivessem se saído muito melhor que o americano
médio – e que todos os demais – a maioria da nação estava, em maior ou menor grau, participando
dos benefícios do crescimento econômico. Nenhum desses benefícios era considerado mais
desejável que o automóvel, o reconhecido símbolo da prosperidade. Em 1929 os americanos
compraram, normalmente a crédito, 4,45 milhões de automóveis de passageiros a um preço de
varejo médio de US$ 876. Nada menos que 21,6 milhões de automóveis e 3,1 milhões de
caminhões foram registrados até 1928, atribuindo aos americanos 78% do estoque mundial de
veículos...
(*) Calvin Coolidge, Presidente dos Estados Unidos até 1928.
Parker, Selwyn (O crash de 1929, Editora Globo, 2009)
Os Estados Unidos produziam muito e o pujante mercado interno de todo o
continente americano assimilava parte considerável daquela imensa produção e, com
isso, estabeleceu-se naqueles anos 20 do século passado uma relação harmoniosa
entre as exportações de matérias primas da América do Sul para aquele país e as
importações europeias de produtos transformados. Os grandes e pequenos
empresários tinham adquirido um nível de liquidez financeira tal que era preciso
investir o capital excedente. Assim também pensava o cidadão comum e todos os
níveis da sociedade investiam no mercado especulativo de ações. As bolsas de
valores, funcionando com níveis exorbitantes e irreais de rentabilidade haviam atraído
as reservas dos indivíduos e das corporações.
As ações continuavam subindo de forma ativa – uma boa prova para a maioria dos americanos de
que a riqueza estava realmente em via de ser democratizada por meio do mercado de ações. Após
20 meses da maior alta de mercado já registrada, a medida padrão das ações ordinárias em Nova
York alcançara 225, alta de 125%...
Parker, Selwyn (O crash de 1929, Editora Globo, 2009)
A gradativa recuperação da economia e das finanças europeias a partir de 1925,
aliada a uma distensão no pagamento de empréstimos fez com que os meios de
produção norte-americanos começassem a produzir acima da capacidade de
compra dos mercados interno e externo. Uma superprodução de mercadorias
passou então a não ter a mesma demanda, o que ocasionou, na segunda metade
do ano de 1929, uma violenta queda dos preços e dos lucros, redução da
atividade econômica, desemprego em massa e como consequência final, uma
tentativa desenfreada de venda das ações das bolsas de valores.
Investidores e acionistas passaram então a tentar negociar as ações que
possuíam, fosse porque precisavam do dinheiro ou porque o valor dessas ações
estava em frenética baixa. O movimento de venda de ações cresceu rapidamente,
até que a 24 de outubro de 1929 – dia conhecido como quinta-feira negra –
ocorreu a queda vertiginosa do valor de milhões de ações na Bolsa de Nova
York, que não encontraram compradores. O mercado financeiro quebrou e deu-
se início uma crise econômica que se alastrou e afetou consideravelmente todo o
país, levando inúmeras empresas e bancos à falência em questão de horas, dando
início a um período que ficou conhecido como Grande Depressão. A quebra do
mercado especulativo norte-americano abalou todo o mundo capitalista,
afetando todas as relações comerciais vinculadas à atividade industrial dos
Estados Unidos, ou seja, todos os níveis da produção agroexportadora da
América Latina e a Europa ainda débil em suas políticas econômicas sofreram a
crise que se estendeu durante boa parte da década de 1930.
A situação começou a mudar com a eleição do presidente Franklin Delano Roosevelt,
que governou entre 1933 e 1945 e que implementou um programa misto de reformas
denominado New Deal (Novo Acordo), que procurou desenvolver medidas de
estímulo à recuperação da economia e combate ao desemprego e às precárias
condições de vida de grande parte da população. E isso só foi possível face à
conciliação de medidas de intervenção do Estado na economia com a manutenção das
leis do livre mercado.
Apesar do bom propósito do New Deal, o programa não alcançou o êxito esperado,
com resultados pouco expressivos no soerguimento do PIB e no combate ao
desemprego. O que efetivamente reergueu pouco a pouco a economia nacional foi
a reativação da indústria bélica, a partir de 1937, em resposta ao rearmamento
da Europa e devido também à incorporação de milhares de desempregados nas
Forças Armadas americanas.
A crise do capitalismo, a fragilidade das democracias liberais dependentes do fracasso
norte-americano, o triunfo da experiência comunista na Revolução Russa e a
insatisfação de vencedores e perdedores da 1ª Guerra com os acordos de paz criaram
condições para o surgimento de regimes totalitários na Europa. Os principais foram o
Fascismo italiano e o Nazismo alemão, que tinham algumas semelhanças
programáticas, como o caráter nacionalista, militarista, imperialista, antissocialista e
antiliberal. Defendiam a existência de um Estado forte e centralizador nos planos
político e econômico, um único partido, ideologia oficial e vigorosa propaganda
estatal, com promoção do culto à personalidade dos líderes do regime.
Quanto ao Fascismo, suas causas remontam à profunda insatisfação provocada pelas
reduzidas compensações territoriais recebidas pelo Tratado de Versalhes, que não
estiveram à altura do que havia sido prometido pelos líderes da Entente por ocasião
do Tratado de Londres de 1915, que empenhou a palavra do Governo Inglês de que a
Itália receberia colônias alemãs na África, receberia vantagens territoriais na Ásia
Menor e uma posição dominante no Mar Adriático, promessas que não se
concretizaram. A isso se somava o descontentamento social pela grave crise
econômico-financeira do pós-guerra, que veio a se agravar durante toda a década de
1930. Naquele contexto, o movimento sindical se radicalizou e o atuante Partido
Socialista conquistou milhares de adeptos. Nos anos de 1919/20, cerca de 2 milhões
de trabalhadores fizeram greve em todo país.
Temendo a incapacidade do Governo em controlar as greves e agitações, a burguesia
industrial italiana começou a apoiar o Fascio di Combattimento, uma organização
paramilitar, fundada em 1919, por Benito Mussolini, que viria a transformar-se, em
1921, no Partido Nacional Fascista. Em outubro de 1922, numa demonstração de
força para obrigar o governo a entregar o poder ao Partido Fascista, Roma foi
invadida por milhares de fascistas, que vestiam camisas negras, no episódio
conhecido como “Marcha sobre Roma”. Pouco depois, o rei Vitor Emanuel III
nomeou Mussolini para o cargo de 1º ministro.
No poder, Mussolini inicialmente procurou organizar um Estado autoritário e
nacionalista, marcado pela organização de milícias fascistas e pela perseguição e
anulação dos opositores políticos. A partir de 1925, Mussolini, agora chamado de
Duce (guia), implantou uma ditadura marcada pela intervenção socioeconômica
e pela repressão violenta aos trabalhadores. Restaurou a pena de morte e criou
os tribunais especiais para defender o Estado. Uma de suas principais medidas
foi a instituição da Carta Del Lavoro (Carta do Trabalho), um eficiente
instrumento de controle sobre a classe operária, combinando concessões aos
trabalhadores com medidas repressivas.
Para sustentar o regime, mobilizou a juventude e transformou as instituições
educacionais. Ao mesmo tempo, resolveu a disputa entre o Estado e a Igreja (Questão
Romana) e tornou o catolicismo a religião oficial do país. Essas decisões garantiram
enorme popularidade para o fascismo. O período de crescimento econômico que vivia
o país foi duramente afetado pela crise de 1929. Uma das saídas adotadas pelo
governo foi ampliar seus domínios coloniais, tomando a Etiópia e a Albânia.
Durante a segunda guerra mundial, Mussolini foi importante parceiro de Hitler, mas
derrotado na Grécia em 1940 e na África em 1941 teve sua liderança repudiada pelo
Grande Conselho Fascista em 1943. Destituído e preso, foi libertado em 1944 pelos
alemães e tentou manter-se no poder no norte da Itália, mas, já desmoralizado e
isolado, foi preso por guerrilheiros italianos, os partigianes, ao tentar fugir para a
Suíça, quando foi sumariamente julgado e fuzilado.
O Nazismo teve a mesma essência de formação. Agremiação política radical, surgiu
no cenário mais desolador já vivido pela Alemanha desde sua formação sociocultural
ainda na Idade Média. Arrasada e humilhada pelas duras condições impostas pelo
Tratado de Versalhes, a Alemanha vivia uma inédita experiência republicana que
ficou conhecida como República de Weimar, sistema político que enfrentava o
desastre do pós-guerra, com elevados índices de desemprego, inflação galopante e
forte radicalização sindical, com greves e insatisfações de todos os matizes,
orquestradas pelos partidos socialistas e comunistas da Alemanha.
Em Face dessa situação geral sofrível, a sociedade alemã aderiu facilmente ao ideário
nazista e, em busca de líderes, trabalhadores e empresários viram em Adolf Hitler o
arauto que conduziria a Alemanha a um destino muito mais viável do que a repudiada
República de Weimar havia proporcionado naqueles anos iniciais da década de 1920.
Adolf Hitler, austríaco de nascimento e ex-combatente da 1ª Guerra Mundial, tornou-
se, em 1921, chefe do National-sozialistische Deutsche Arbeiterpartei - NSDAP ou
Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, também chamado de Nazi,
devido à contração do primeiro nome. O Partido Nazista era autoritário e
antidemocrático. Em 1923, Hitler tentou sem sucesso um golpe de estado e foi preso.
Na prisão, escreveu o livro Mein Kampf (Minha Luta), em que expôs as bases do
nazismo: pureza e superioridade da raça ariana, antissemitismo, totalitarismo e
expansionismo baseado na ideia de um espaço vital.
Hitler tornou o Partido Nazista o único partido político alemão e tratou de esmagar as
oposições e impor a ideologia nazista. Em 1934, com a morte do presidente
Hindenburg, o 1º Ministro Hitler assumiu também a Presidência do país, tornando-se
o chefe supremo (Führer) da Alemanha. Durante seu governo, além da censura
política, Hitler manteve rígido controle sobre diversos setores da sociedade alemã,
como a juventude e a educação, lhes impondo os padrões e ideias nazistas. No plano
econômico, Hitler dedicou-se à reabilitação do país, estimulando a agricultura e a
industrialização, principalmente na área de armamentos. No plano externo,
desrespeitando as proibições do Tratado de Versalhes, o governo nazista militarizou
rapidamente o país e, em 1938, iniciou sua política de expansão pela Europa
conquistando a Áustria sem luta militar. A política expansionista alemã desencadeou,
um ano depois, a Segunda Guerra Mundial.
Doutrinas totalitárias de inspiração nazifascista surgiram em diversas partes do
mundo. Foi o caso da Espanha, de Portugal e mesmo do Brasil. Na Espanha, o
general Francisco Franco, apoiado por grupos representantes das mais tradicionais
instituições da sociedade espanhola – o latifúndio, a Igreja Católica e o Exército –
reuniu forças para lutar contra a República espanhola, instalada desde 1931 e de
maioria socialista. Em consequência, uma sangrenta guerra civil explodiu em 1936,
resultando na vitória das tropas franquistas, que haviam recebido apoio militar dos
governos de Mussolini e Hitler. Franco impôs, então, uma ditadura sustentada por
uma organização política denominada Falange, que passou a exercer um controle
autoritário sobre a educação, sindicalismo, meios de comunicação e órgãos de
segurança.
Esse regime totalitário foi mantido até sua morte, em 1975, quando então a
monarquia parlamentar na Espanha foi restaurada, com eleições democráticas e
disputadas por diversos partidos políticos. Por seu caráter de confronto entre a
democracia e o fascismo e pelo envolvimento da Itália e da Alemanha, a Guerra Civil
Espanhola é vista por alguns estudiosos como ensaio da 2ª Guerra Mundial. Hitler
teria utilizado a luta na Espanha para exibir seu poder e também para experimentar
armamentos e estratégias.
Em Portugal, Antônio de Oliveira Salazar assumiu, em 1932, a presidência do
Conselho de Ministros, equivalente ao cargo de primeiro-ministro. Concentrou,
então, todos os poderes, conduzindo a vida política do país até 1968, quando se
afastou por problemas de saúde. Salazar rejeitava o liberalismo, o socialismo e a
democracia. Apoiou-se no nacionalismo, no catolicismo e nas corporações. O ditador
acabou com a atividade dos partidos políticos existentes, instituindo a União
Nacional como partido único. A democratização política de Portugal desenvolveu-se
somente em 1974, quatro anos após a morte de Salazar, com a Revolução de Abril de
1974, conhecida como Revolução dos Cravos. No Brasil, a ideologia nazifascista
influenciou as frágeis estruturas democráticas, proporcionando ao presidente Getúlio
Vargas meios para a implantação do Estado Novo, uma ditadura que durou de 1937 a
1945, quando as desgastadas ações totalitárias do caudilho sucumbiram face à
antagônica participação brasileira na defesa da democracia mundial ao combater o
nazi-fascismo.
Autoria: Prof Maj Fabiano
Texto auxiliar – 2ª Guerra mundial
E a cobra fumou
A 2ª Guerra Mundial foi um conjunto de confrontos bélicos que envolveu 58 países
de várias regiões do planeta entre os anos de 1939 e 1945. Nela lutaram dois blocos
antagônicos chamados Potências do Eixo (Alemanha, Itália, Japão, Finlândia,
Tailândia, Eslováquia, Croácia, Albânia, Manchúria, Sérvia, Montenegro e Vichy) e
Potências Aliadas (França, Inglaterra, Estados Unidos, União Soviética, China, Brasil
e outros 40 países). As Potências do Eixo foram assim chamadas pela fusão de dois
pactos de amizade – o Eixo Roma-Berlim e Pacto Anti-Comintern. As causas se
prendem às profundas feridas abertas pela 1ª Guerra Mundial e pela Grande
Depressão, fatos históricos que exacerbaram os nacionalismos econômicos e políticos
mundo afora, principalmente na Europa.
A 2ª Guerra Mundial foi, em vários aspectos, o resultado de disputas mal
resolvidas e que se acirraram no pós-1ª Guerra Mundial. A humilhação imposta
ao novo quadro geopolítico mundial pelas cláusulas do Tratado de Versalhes
conduziu a sociedade europeia a condições propícias de aceitar com docilidade o
surgimento de facções políticas radicais. Esses grupos se incrustaram no tecido
social europeu e foram se transformando pouco a pouco em regimes totalitários
que preencheram os vazios que os mecanismos de paz de 1919 haviam imposto
às populações. Além dos ressentimentos com o Tratado de Versalhes, outro fator
importante foi a fragilidade da Liga das Nações, organismo internacional criado
com o objetivo de mediar conflitos no pós-guerra e que se mostrou incapaz de
manter a paz mundial. Sem a adesão dos Estados Unidos, a Liga acabou sendo
controlada por Inglaterra e França, que aproveitaram as condições favoráveis
para fortalecer seus impérios coloniais.
Durante a década de 1930, os governos totalitários de Alemanha e Itália,
juntamente com o regime militarista do Japão, direcionaram seus esforços para
a recuperação econômica e o desenvolvimento militar. No campo externo,
praticaram políticas expansionistas e militaristas, ao tempo em que tentaram
reequilibrar suas políticas econômicas. A Liga das Nações adotou uma efetiva
política de apaziguamento em relação a esse expansionismo, pois seus líderes
França e Inglaterra buscavam uma ordem internacional sem novos conflitos
bélicos e sem influência do comunismo soviético, motivo pelo qual a existência do
nazismo alemão, do fascismo italiano e do imperialismo japonês serviriam para
conter a nova ideologia, vitoriosa pela experiência bem sucedida na Revolução
Russa.
A experiência expansionista japonesa se deu então no leste asiático, local em que
conseguiu anexar possessões chinesas, quer em conflito com a Rússia no início do
Século XX, quer em conflito com a própria China já nos anos 30. A Itália lançou sua
rede de influência expandindo-se nos anos 30 sobre a África e os Bálcãs. A
Alemanha, com base na ideia do “espaço vital” (Lebensraum - espaço necessário para
a expansão territorial do povo germânico), militarizou suas fronteiras, em especial sua
área limítrofe com a França, firmou pactos de amizade e cooperação com a Itália -
eixo Roma-Berlim e com o Japão - Pacto Anti-Comintern e expandiu-se a partir de
1938, anexando a Áustria, a Tchecoslováquia e após assinar, em agosto de 1939, um
pacto de não agressão com a União Soviética, anexou a Polônia.
Esse pacto foi chamado de Tratado Ribentrop – Molotov ou Pacto Germano-
Soviético e foi construído como uma possibilidade de respeito mútuo pela linha
fronteiriça que surgiria entre Alemanha e União Soviética tão logo a Polônia fosse
invadida por Alemanha a oeste e pela União Soviética a leste. A invasão alemã e a
consequente tomada da região do corredor polonês se deu no dia 1º de setembro de
1939. Dois dias após, Inglaterra e França declararam guerra à Alemanha.
O início da guerra foi caracterizado por um momento inicial em que nenhum dos
contendores atacou. Esse período de 9 meses, entre setembro de 1939 e junho de
1940 ficou conhecido como Guerra de Mentira (Sitzkrieg) e foi um recorte do tempo
em que ambos os conflitantes mobilizaram-se e estudaram os possíveis próximos
passos do oponente. A partir de junho de 1940, a guerra caracterizou-se pela rápida
ofensiva das forças nazistas. Foi a chamada Guerra Relâmpago (Blitzkrieg),
momento em que Hitler conseguiu destruir as linhas de defesa adversárias, graças ao
avanço veloz dos veículos blindados Panzers, apoiados pelos bombardeios da força
aérea alemã, a Luftwaffe. Essa nova estratégia militar possibilitou a conquista da
Dinamarca, Suécia, Noruega, Holanda, Bélgica e Luxemburgo. Restavam a França e
a Inglaterra. Contornando a Linha Maginot (fortificações subterrâneas na fronteira
com a Alemanha, consideradas indestrutíveis pelo governo francês) graças a uma
grande mobilidade e apoio de artilharia, os alemães acuaram as tropas inglesas e
francesas em Dunquerque, no norte da França, no episódio conhecido como a Batalha
de Dunquerque. Esmagadas as tropas aliadas, a fuga pelo Canal da Mancha ficou
conhecida como a Retirada de Dunquerque.
Vencida a Batalha de Dunquerque, os alemães ocuparam Paris em junho de 1940.
Ainda naquele mês, Mussolini abandonou sua neutralidade e declarou guerra à
França e à Inglaterra. Após a rendição francesa, restaram apenas as forças da
Inglaterra como obstáculo à expansão nazista. A partir de setembro de 1940, Londres
foi sistematicamente bombardeada pelos alemães e essa tentativa de dominar o Reino
Unido ficou conhecida como a Batalha da Inglaterra, em que a aviação inglesa, a
Royal Air Force – RAF conseguiu rechaçar os ataques da força aérea alemã.
Estendendo sua área de influência sobre o mundo, Hitler dominou o norte da África
ainda em 1940, lançando tropas alemãs e italianas, que comandadas pelo General
Rommel compuseram o Afrika Korps, que tinha como objetivo dominar o Mar
Mediterrâneo, conquistar espaços favoráveis para a conquista do Oriente Médio e
criar uma barreira para uma possível contraofensiva aliada partindo do sul da África
para a Europa.
A partir da conquista de boa parte da Europa e do norte da África, a história registrou
como a segunda fase da guerra o período entre 1941 e 1943, em que, quebrando o
Pacto Germano-Soviético ou Tratado Ribentrop – Molotov, a Alemanha invadiu a
União Soviética desencadeando a Operação Barbarossa (em alusão ao Imperador
Frederico Barbarossa, do Sacro Império, líder da 3ª Cruzada), buscando um acesso
privilegiado para uma expansão em larga escala pela Ásia, além de buscar concluir a
dominação do petróleo do Oriente Médio e iniciar a dominação das reservas
petrolíferas soviéticas. Em dezembro daquele ano de 1941, pressionados pelos
embargos econômicos e de fornecimento de petróleo por parte dos Estados Unidos, o
Japão atacou, com seus Kamikases (pilotos suicidas), a base militar americana de
Pearl Harbor, no Havaí, o que levou o governo norte-americano a sair da rentável
neutralidade e declarar guerra ao Eixo. Com a entrada dos Estados Unidos e da União
Soviética, formaram-se, efetivamente, dois grandes blocos rivais: os países que
apoiavam as potências do Eixo e os países que apoiavam as potências Aliadas.
No ano de 1942, as nações do Eixo ocuparam regiões estratégicas na Ásia, na África
e na Europa, o que obrigou as forças aliadas a abrir várias frentes de combate na
busca de tentar espaços para contraofensivas. Em 1942 aconteceu um importante
fator a favor dos aliados. Hitler, animado após os primeiros resultados da Operação
Barbarossa que o fizeram dominar com muita facilidade a Ucrânia, Letônia, Estônia,
Bielorrúsia, Moldávia, Lituânia e toda a península balcânica, devido à estratégia
soviética da terra arrasada, desejoso de dominar prioritariamente os campos
petrolíferos da região de Stalingrado, mudou a trajetória de ataque, prevista
inicialmente para dominar a capital Moscou.
Os nazistas então chegaram às portas de Stalingrado em julho de 1942 e estacionaram
devido à imensa capacidade de defesa do exército soviético, que conseguiu a duras
penas manter a investida alemã até a chegada do inverno, quando o frio intenso fez a
sorte mudar para o lado do defensor. Em fevereiro de 1943, pela 1ª vez na guerra,
houve a rendição de um general alemão e seu exército composto de 600 mil homens
feridos, famintos e doentes. Acabava, assim, o mito da invencibilidade alemã. A
partir daí, os soviéticos lançaram uma contraofensiva em direção a Berlim. Os 600
mil prisioneiros alemães foram encaminhados em marcha forçada para campos de
prisioneiros na Sibéria. Apenas 8 mil chegaram vivos.
Na Ásia, a vitória americana na Batalha de Midway, em maio de 1942, possibilitou
aos Aliados iniciarem uma grande ofensiva contra o Japão. No norte da África, de
outubro de 1942 a março de 1943, forças anglo-americanas comandadas pelo General
inglês Montgomery e pelo General americano Eisenhower derrotaram o Afrika
Korps, do General alemão Rommel, que retornando a Berlim recebeu nova missão:
comandar a resistência da Normandia, missão que também fracassou e que o levou a
internação hospitalar por ferimentos em combate. Rommel deu fim à sua vida após
suspeitas de ter participado, mesmo que de forma passiva da Operação Valkíria.
Libertado o norte da África, deu-se início a terceira fase da guerra. Após
bombardearem as regiões litorâneas de Vichy e tendo total domínio da entrada do
Mar Mediterrâneo, o 5º Exército norte-americano invadiu a Itália, desembarcando na
Sicília, em junho de 1943. Dominadas as regiões litorâneas do sul da Europa, grande
mobilização e planejamentos estratégicos desencadearam a famosa invasão da
Normandia, ao norte da França, em 6 de junho de 1944, que entrou para a história
como o Dia D. Pressionado por todas as direções a partir do 2º semestre de 1944,
Hitler e o pesadelo do 3º Reich duraram até a rendição final que ocorreu em 8 de
maio de 1945.
A entrada do Brasil na guerra ocorreu em agosto de 1942. A decisão foi tomada
após o afundamento de vários navios brasileiros pela marinha alemã, o que
desencadeou em todo país uma série de manifestações públicas de indignação. A
Força Expedicionária Brasileira (FEB), com um efetivo de mais de 25 mil
militares, participou da luta contra o nazi-fascismo durante a campanha na
Itália em apoio ao 5º Exército de Campanha Aliado. Apesar da declaração de
guerra ter ocorrido em 1942, nossos Pracinhas, como ficaram conhecidos os
combatentes da FEB, tiveram seu batismo de fogo em setembro de 1944.
Durante 239 dias, entre setembro de 1944 e maio de 1945, a Força
Expedicionária Brasileira (FEB) participou de mais de 100 ações de combate e
capturou cerca de 20 mil soldados inimigos, saindo-se vitoriosa em oito batalhas.
Seu lema foi criado em réplica à incredulidade de setores influentes da sociedade
brasileira que afirmavam que era mais fácil uma cobra fumar que o Brasil
entrar na guerra. “E a cobra fumou...”.
Em nível de consequências da 2ª Guerra Mundial, estimam-se as perdas humanas em
55 milhões de mortos iniciais e mais de 30 milhões de feridos, 200 milhões de
refugiados e um sem número de consequências desastrosas para as nações que se
envolveram voluntaria ou involuntariamente no conflito. A guerra deixou em grande
parte da Europa e em algumas regiões da Ásia um rastro de destruição: estima-se que
tenham sido afetados pela violência da guerra cerca de 300 milhões de pessoas, entre,
feridos, órfãos, refugiados e mortos, que em médio prazo foram contabilizados em
cerca de 100 milhões. Em contraste com a maioria das nações, aquelas que não
tiveram seus territórios invadidos, além de se tornarem credores de guerra,
usufruíram de estabilidade e prosperidade econômica, como por exemplo, os
Estados Unidos da América e Canadá.
O declínio europeu causou o afrouxamento das subordinações neocolonialistas,
resultando na independência política de várias nações africanas e asiáticas. Esse
término da supremacia político-econômica europeia possibilitou a divisão do
mundo em dois blocos antagônicos: o bloco capitalista, sob a hegemonia dos
Estados Unidos e o bloco comunista, liderado pela União Soviética, fazendo
surgir a Guerra Fria, que se estendeu entre 1945 e 1991. Essas duas forças
dividiram todo o mundo em duas áreas de influência. Foram criadas ainda, por
essas duas superpotências, duas alianças militares: a OTAN (Organização do
Tratado do Atlântico Norte), chefiada pelos EUA e o Pacto de Varsóvia,
chefiado pela URSS. Esses dois blocos promoveram uma corrida armamentista
com a proliferação de armas atômicas, gerando vários conflitos e guerras pelo
mundo afora, onde apareceram disputas por territórios entre povos de suas
áreas de influência que quase terminaram em uma Terceira Guerra Mundial.
Reunidos na Conferência de Potsdam, em agosto de 1945, os vencedores criaram
o Tribunal de Nuremberg para julgar os crimes de guerra dos nazistas e lá,
decidiram que a Alemanha teria que pagar pesadas indenizações de guerra, devolver
as áreas invadidas, ter seu território dividido e todos os seus recursos materiais e
econômicos deveriam ser controlados pelas quatro principais potências aliadas
(Estados Unidos, Inglaterra, França e União Soviética). Posteriormente, em 1949, o
mesmo território foi dividido em dois países: República Federal Alemã ou Alemanha
Ocidental, sob a influência dos Estados Unidos e República Democrática Alemã ou
Alemanha Oriental, sob a influência da União Soviética.
Foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU) em substituição à Liga das
Nações, em 26 de junho de 1945, após a Conferência de Yalta, com o objetivo de
manter a paz mundial, defender os direitos humanos e melhorar a qualidade de vida
no planeta. A ONU, da mesma forma que sua antecessora, manteve-se como mero
joguete nas mãos dos principais líderes. Apesar de estar longe do ideal, a ONU,
através de seus organismos internacionais têm contribuído para a melhoria da
qualidade da educação e saúde de populações carentes.
As tecnologias militares de destruição, como novos tanques, foguetes, radares,
aviões a jato, navios porta-aviões e a bomba atômica deram ensejo ao avanço da
industrialização e das inovações científicas. Esses avanços científicos e
tecnológicos propiciaram a consolidação da terceira revolução industrial e
proporcionaram grandes aprimoramentos na área da saúde. No plano econômico, a
recuperação dos países destruídos na Segunda Guerra se deu através do Plano
Marshall e pelo Plano Colombo, em um primeiro momento, e posteriormente pelo
FMI (Fundo Monetário Internacional) e Banco Mundial, formado pelo BIRD (Banco
Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento) e a AID (Associação
Internacional de desenvolvimento) todos os órgãos especiais da ONU.
Não apenas o conhecimento histórico sobre o 3º Reich, mas também a consciência pública do que
ele fez, tem aumentado com o distanciamento temporal do regime nazista. Contudo, o regime não
perdeu nem um pouco de seu poder de excitar o debate moral, pelo contrário. Não muito tempo
depois da Segunda Guerra Mundial ter terminado, o historiador Alan Bullock concluiu sua grande
biografia de Hitler citando as palavras inscritas no túmulo do arquiteto Sir Christopher Wren na
igreja que ele construiu em Londres, a Catedral de St. Paul: “Si monumentum requiris,
circumspice” – “Se necessitas de um memorial, olha ao redor de ti”. Em 1952, quando Bullock
publicou seu livro, a destruição ocasionada pela guerra ainda poderia ser vista em quase todas as
partes da Europa. Mais de meio século depois, não é mais o caso. Locais bombardeados foram
limpos, campos de batalha foram nivelados, divisões foram cicatrizadas, a paz e a prosperidade
voltaram à Europa. A maior parte das pessoas que viveram durante o Terceiro Reich e lutaram em
suas guerras não está mais entre nós. Dentro de poucas décadas, não haverá mais ninguém que se
lembre desses fatos em primeira mão. Contudo, seu legado ainda está vivo de muitos modos. A
História não se repete: não haverá um Quarto Reich. O neonazismo ainda tem seus defensores,
mas em nenhum lugar ele deu sinais de sequer ter alcançado um poder político significativo. O
legado do Terceiro Reich é muito maior. Ele se estende muito além da Alemanha e da Europa. O
Terceiro Reich suscita da forma mais drástica as possibilidades e as consequências do ódio
humano e da destruição que existem, ainda que em pequena escala, dentro de cada um de nós. Ele
demonstra, com uma clareza terrível, as cruciais possíveis consequências do racismo, do
militarismo e do autoritarismo. Mostra o que pode acontecer se algumas pessoas forem tratadas
como menos humanas do que outras. Expõe da forma mais drástica possível os dilemas morais
com que todos nós deparamos em um momento ou outro da vida, conformidade ou resistência,
ação ou inação em situações específicas com as quais somos confrontados. É por isso que o
Terceiro Reich não vai desaparecer, mas continuará a chamar a atenção de pessoas conscientes em
todo o mundo muito tempo depois de ele ter passado para a História.
Evans, Richard J. (O Terceiro Reich em guerra, Editora Planeta, 2012)
Autoria: Prof Maj Fabiano
Texto auxiliar – guerra fria
A Guerra Fria constituiu-se a prática da hegemonia política, econômica e militar dos Estados
Unidos sobre as nações que praticavam a economia de mercado e prezavam pela propriedade
privada e da União Soviética sobre as nações que abraçaram seu sistema socialista baseado
em uma economia planificada, no mando de um partido único (Partido comunista), igualdade
social para quem não fosse membro do governo e falta de democracia.
A confrontação entre essas forças contrárias e antagônicas durou da segunda metade da década de
1940 até 1989, quando os fundamentos políticos, econômicos e sociais do comunismo ruíram por
sobre 150 milhões de mortos e dezenas de nações em precárias condições de encararem o fim do
milênio se viram órfãs. O fim desse período também escancarou os antagonismos deixados pelo
capitalismo no rastro de desigualdades sociais tremendas nas nações que o praticaram cegamente,
condições essas que também levaram milhões à morte pela fome e pela falta de condições mínimas
de subsistência.
A Guerra fria pode ser entendida como o período em que o mundo viveu constantemente sob
a ameaça de uma nova guerra em nível mundial, que, se acontecesse seria muito mais severa,
de consequências incontroláveis e que, por ter sido conduzida apenas no campo ideológico, a
história a considerou fria, aguardando fatos novos que a esquentassem. Essa situação de
constante ameaça de um conflito internacional ficou apenas no campo ideológico, não tendo
ocorrido embates militares entre as duas grandes potências, os Estados Unidos e a União Soviética.
Até mesmo porque estes dois países estavam armados com centenas de mísseis nucleares. Um
conflito armado direto significaria o fim dos dois países e, provavelmente, da vida no planeta.
Porém, se não houve conflitos diretos, a guerra fria acabou alimentando conflitos em diversos
países que sofriam a influências das partes capitalista e comunista.
Essa hegemonia econômica, política e ideológica ficou caracterizada por mecanismos de
dominação usados pelos dois líderes do conflito. No campo econômico, a liderança dos Estados
Unidos se fez sentir pelos programas de reconstrução da Europa e da Ásia, personificados nos
planos Marshall e Colombo, enquanto que a União Soviética utilizou o Conselho de
Cooperação Econômica Mútua (COMECON). Já no campo político e militar, foram criadas
duas alianças militares que propiciaram o equilíbrio que o clima de rivalidade da Guerra Fria
exigia: a OTAN e o Pacto de Varsóvia.
A OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte - , até hoje existente, foi fundada em abril de
1949 e era liderada pelos Estados Unidos, com suas bases nos países membros, principalmente na
Europa Ocidental. Já o Pacto de Varsóvia, criado em 1955 e extinto em 1991, era comandado pela
União Soviética e objetivava a defesa e segurança dos países comunistas, num contraponto à
OTAN.
A OTAN e o Pacto de Varsóvia mobiliaram seu poderio ideológico e militar pelo mundo e podemos
afirmar com segurança que todo o planeta professava alguma das vertentes – a capitalista ou a
comunista -, mesmo aqueles não-alinhados ou neutros, que não estavam diretamente afiliados a uma
das duas alianças militares. Aquela globalização de ideologias e o processo de descolonização da
África e Ásia, fruto do fim da 2ª Guerra Mundial, estimularam muita confusão pelo mundo, pois
não foram raros os casos de sociedades interessadas em seguirem modelos liberais que esbarraram
em lideranças que impuseram regimes comunistas, e vice-versa, o que fez surgir conflitos que quase
fizeram iniciar a temida guerra entre as grandes potências nucleares. O quadro de rivalidade
existente entre o mundo capitalista e o mundo comunista se fez sentir em todos os setores da vida
humana. Não só no campo diplomático e militar, mas nos esportes, na educação, na medicina e até
na corrida espacial que caracterizou os anos 50 e 60 do Século XX.
Três exemplos desses conflitos regionais foram a repartição da Alemanha, a Guerra do Vietnã e a
Guerra da Coreia. No caso da Alemanha, em maio de 1949, 1 mês após a criação da OTAN, foi
criada a República Federal da Alemanha (RFA), a Alemanha Ocidental capitalista, no espaço
que havia sido ocupado por Estados Unidos, França e Inglaterra ao término da 2ª Guerra
Mundial. Em outubro de 1949, os soviéticos conduziram os trâmites que deram origem à
República Democrática da Alemanha (RDA) exatamente no espaço alemão ocupado pelas
forças soviéticas ao término da citada guerra. Para reafirmar a legitimidade de sua nova
empreitada e barrar uma possível invasão ocidental, os soviéticos também promoveram a
detonação experimental de sua primeira bomba nuclear. Dessa forma, o território alemão
ficou dividido e o mundo enxergava com mais clareza a construção da ordem bipolar: a
Guerra Fria. A situação agravou-se consideravelmente quando, em 1961, foi construído um
muro dividindo Berlim Oriental da Ocidental, muro que ficou conhecido como Muro de
Berlim.
Graças à ajuda norte-americana, a RFA capitalista conseguiu organizar uma reforma econômica que
apresentou resultados positivos desde os primeiros anos da década de 1950. No lado oriental, a
RDA comunista passou por imensas dificuldades apesar de ter sido aquela região a parte mais
desenvolvida da Alemanha e que em função das planificações soviéticas, toda a pujante
industrialização dos tempos prussianos foi naufragada. Além desses problemas, os comunistas
locais pretendiam constituir uma nação livre da interferência soviética e guiada pelo regime
pluripartidarista. Contudo, a necessidade de recursos e a sistemática pressão soviética garantiram a
hegemonia comunista, principalmente após a assinatura do Pacto de Varsóvia, em 1955.
No caso da Coreia, com o fim da 2ª Guerra, aquele país foi liberto da influência japonesa e, tão logo
o governo japonês assinou o armistício, o país foi dividido em duas zonas de ocupação, com base
no paralelo 38 Norte: o Norte sob influência da União Soviética e o Sul, sob o domínio norte-
americano. Os interesses americanos e soviéticos, dentro do quadro da Guerra Fria, criaram
divergências entre as duas Coreias e, em 1950, fortemente influenciada pela China, a Coreia do
Norte invadiu a Coreia do Sul, dando início a uma guerra entre os dois lados antagônicos da Guerra
Fria. Sob pressão dos Estados Unidos, o Conselho de Segurança da ONU considerou a Coreia do
Norte nação invasora e enviou tropas de intervenção. A União Soviética e a China apoiaram a
Coreia do Norte, mas diante de uma guerra de maiores proporções, americanos e soviéticos
estabeleceram as condições de paz, restabelecendo as fronteiras dos dois países como eram antes do
conflito. Esse armistício foi chancelado pela Conferência de Genebra.
A mesma Conferência de Genebra foi usada para mediar outro conflito: o da Indochina. A
Guerra da Indochina se deu entre forças nacionalistas vietnamitas que lutaram contra os
franceses, interessados em retomar os laços de colonização interrompidos pela 2ª Guerra
Mundial. A Indochina é uma região intermediária entre a Índia e a China e ocupava uma
península do sudeste asiático que era dividida entre o Vietnã, o Laos e o reino do Camboja.
Toda aquela região caiu sob domínio do colonialismo francês em 1883 e assim ficou até a
ocupação japonesa na 2ª Guerra. Com a derrota do Japão na 2ª GM, os franceses tentaram
recolonizar toda a Indochina, não conseguindo êxito graças às forças revolucionárias do Viet
Mihn, movimento de insurreição interessado na libertação da península. A Conferência de
Genebra de 1954 mediou os interesses da França e da frente nacionalista Viet Mihn,
concedendo a independência do Laos e do Camboja e mantendo o Vietnã momentaneamente
dividido em duas áreas de influência a partir do paralelo 17 Norte. Ao norte, sob o controle da
frente nacionalista que seguia a doutrina soviética e no Sul sob o controle capitalista francês.
A Conferência de Genebra previu a realização de eleições livres visando à unificação, eleições
que não aconteceram por causa do sul que prevendo a vitória comunista declarou sua
independência, criando o Vietnã do Sul sob influência norte-americana. Criou-se, porém, uma
ditadura que perseguiu os focos de resistência comunista, que ao invés de cederem, criaram
uma Frente de Libertação Nacional, conhecida como Viet Cong. Em pouco tempo o ditador
do sul, Ngo Dinh Diem, mostrou-se incapaz de vencer seus adversários e, a partir de 1963,
começou a receber reforços militares norte-americanos.
Até o fim da década de 60 os Estados Unidos já contavam com quase 600 mil combatentes
naquela região. Apesar de todo aparato tecnológico, os Estados Unidos tiveram dificuldades
em enfrentar os soldados vietcongues (apoiados pelos soviéticos) e, em 1975, tiveram que
abandonar o território vietnamita, derrotados. O Vietnã então se unificou e passou a ser um
Estado socialista.
A Guerra Fria possibilitou que o socialismo se expandisse por várias regiões do mundo, incluindo
vários países do Leste Europeu, da Ásia, da África e alguns poucos da América Latina. A partir da
década de 1980, os governos socialistas foram desmoronando e um dos grandes marcos desse
processo foi o fim da União Soviética, em 1991. O processo de desintegração do bloco socialista
ocorreu de dentro para fora e teve início a partir da União Soviética, durante o governo de Mikhail
Gorbatchev, que implementou, a partir de 1986, profundas reformas internas, como a Glasnost
(liberalização política) e a Perestroika (reestruturação econômica)
Embora o objetivo fosse a modernização e a democratização do país, a partir de 1989 houve um
processo sem volta de desligamento da União por parte das repúblicas que compunham a Cortina de
Ferro. A falta de democracia, o atraso econômico e a crise nas repúblicas soviéticas acabaram por
acelerar a crise do socialismo no final da década de 1980. Grande parte dessa derrocada deveu-se à
implosão da União Soviética, que possibilitou o terreno fértil para a radical mudança do socialismo
praticado desde a Revolução Russa até aqueles dias em que quase todos os regimes tirânicos
crescidos à sombra dos ensinamentos de Karl Marx desabaram num efeito dominó. O capitalismo
vitorioso, aos poucos, foi implantado e hoje caracteriza as relações econômicas na maioria dos
países do mundo.
Autoria: Maj Fabiano
Texto auxiliar – Ásia
A Ásia é o maior dos continentes, tanto em área como em população. Ocupa um terço das terras de
todo o nosso planeta e abriga três quintos da população total do mundo. Dentre os 49 países da Ásia
encontram-se algumas das maiores e menores nações do mundo, tanto em área como em população.
As nações da Ásia têm diversos sistemas políticos. Os comunistas governam a China e alguns
outros países. A Arábia Saudita e a Tailândia, por exemplo, são governados por reis. Os xeques
controlam Bahrein, Catar e os Emirados Árabes Unidos. Dentre as nações asiáticas que seguem os
princípios democráticos, encontram-se Israel e Japão. Líderes militares assumiram o controle de
muitos países asiáticos em períodos conturbados.
A população da Ásia é tão variada quanto tudo o que diz respeito ao continente. O povo difere
enormemente em genealogia, costumes, línguas, crenças religiosas o modo de vida. A civilização da
Ásia começou há 4 mil anos, aproximadamente, muito antes de haver começado no Ocidente, em
termos de economia, cultura e desenvolvimento científico. Os asiáticos fundaram as primeiras
cidades, estabeleceram os primeiros sistemas de leis e foram os primeiros agricultores e
comerciantes. Os asiáticos inventaram a escrita e criaram as mais antigas literaturas. Os fundadores
de todas as principais religiões do mundo foram asiáticos: Buda, Confúcio, Jesus e Maomé. Os
asiáticos também inventaram o papel, a pólvora e a bússola. No presente estudo, particularizaremos
o Extremo Oriente ou Ásia Oriental e a Ásia Meridional, mais detidamente os aspectos históricos da
formação dos povos chinês, japonês e indiano.
A história da China está registrada em documentos que datam do século XVI A.C. em diante
e que demonstram ser aquele país uma das civilizações mais antigas do mundo com existência
contínua. Os estudiosos entendem que a civilização chinesa surgiu em cidades-Estado no vale
do Rio Amarelo e o ano 221 A.C. costuma ser referido como o momento em que a China foi
unificada na forma de um grande império, que foi mantido graças à imposição forçada de um
sistema de escrita comum e pelo desenvolvimento de uma ideologia estatal baseada no
confucionismo.
Entre 1644 e 1911, a China foi governada pela Dinastia Qing ou Manchu, período em que
procurou manter-se afastada da influência do Ocidente, não tendo as autoridades conseguido
deter a rápida deterioração das instituições sociais devido ao crescimento contínuo da pressão
estrangeira, proveniente do Ocidente e do Japão. A Inglaterra, maior interessada no vasto
império chinês, passou a vender ópio aos chineses e o consumo dessa droga originou duas
guerras, que ficaram conhecidas como as Guerras do Ópio, conflitos que enfraqueceram o
governo, que teve que ceder a uma série de exigências impostas pelo governo inglês. A
intromissão inglesa a partir da segunda metade do Século XIX, fez surgir um crescente
processo de insatisfação nacionalista que desaguou em um período de grande contestação das
forças políticas imperiais.
Essa onda de revoltas nacionalistas propiciou, em 1911, a queda o Império e a proclamação de
uma República – a República da China, que desde o início passou por várias pressões internas
e externas. No campo externo ressalta-se o constante assédio japonês, que teve seu apogeu em
1937 com a Guerra Sino-Japonesa. No campo interno, uma grande convulsão social interna
promovida pelos comunistas levou a uma guerra civil que durou de 1927 até 1949. Os
nacionalistas, desde 1926 liderados por Chiang Kai-Shek, ao perderem a guerra civil, se
refugiaram em Taiwan, para onde conduziram a República da China, nome oficial de Taiwan.
Mao Tsé-Tung, o líder do movimento comunista, criou a República Popular da China e
implantou, nos anos 50, planos quinquenais nos moldes dos quinquenais da linha soviética, com
quem rompeu em 1956. Após várias tentativas fracassadas de alavancar o desenvolvimento
econômico chinês, tentativas essas que legaram milhões de mortos, a China conseguiu
industrializar-se graças à entrada de capital estrangeiro que se tornou possível após a morte de Mao
Tsé-Tung, quando o país se aproximou do ocidente, sem ter contudo abdicado de seu regime
político comunista até hoje fechado.
O Japão é um império desde 660 A.C. e o imperador sempre foi um supremo mandatário que era
visto pela população como um ser místico e celestial. Esse distanciamento das realidades mundanas
ocasionou a formação de um sistema político no Século XII, em que houve um chefe de governo.
Esse homem de decisões e que muitas vezes teve opiniões diferentes das do imperador era o Xogun,
uma espécie de comandante militar. Um desses xoguns – Tokugawa Ieyasu – promulgou no início
do Século XVII, alguns códigos legais que estabeleceram fortes alterações na vida da sociedade
japonesa, tendo sido a maior delas o fechamento dos portos para o comércio internacional, medida
essa que buscava preservar a cultura japonesa da já forte influência do ocidente, em pleno ciclo de
grandes navegações mercantilistas.
Esse isolamento foi vencido em 1858, cerca de 250 anos depois de decretado e, 10 anos após, uma
revolta recolocou o imperador na chefia do governo, terminando o período do xogunato. Foi a
Restauração Meiji. O Imperador aboliu o sistema feudal, modernizou o país, promulgou uma
constituição estabelecendo uma monarquia constitucional e fez o Japão entrar na era das revoluções
industriais e em uma fase imperialista e expansionista que o lançou de encontro à China ao final do
Século XIX. O resultado desse período de expansão foram conflitos, como a guerra contra a China e
contra a Rússia e após tornar-se aliado dos vencedores da 1ª Guerra Mundial, o Japão manteve um
status de nação próspera e poderosa até a 2ª Guerra Mundial, quando aliado no nazi-fascismo foi
derrotado e ocupado militarmente pelos Estados Unidos. De 1945 a 1952, o governo norte
americano comandou, com grande investimento de capitais, a reconstrução e recuperação
socioeconômica do Japão. O objetivo básico desse apoio era afastar a influência do bloco socialista,
que se expandia na Ásia com a Revolução Cultural de Mao Tsé-Tung. De inimigo derrotado, o
Japão transformou-se no mais importante aliado dos EUA no continente asiático e atualmente é a 3ª
economia do planeta.
A Índia é uma civilização milenar que originou-se da civilização do Vale do Rio Hindu e por
vários séculos foi identificada por sua riqueza comercial e cultural. O país foi durante muito
tempo cenário de uma rivalidade colonialista entre Inglaterra e França, tendo sido anexada e
colonizada pela Companhia Britânica das Índias Orientais e esse domínio que nunca foi bem
aceito pelos indianos. O mal-estar entre britânicos e indianos cresceu com um movimento
conspiratório entre os Sipaios, as tropas indianas empregadas pela Companhia Britânica das
Índias Orientais. Houve um levante geral, conhecido como a revolta dos Sipaios, que começou
em 1857 e que foi considerada a primeira guerra de independência. Uma vez sufocada a
rebelião, o Parlamento britânico transferiu a administração da Índia da Companhia Britânica
das Índias Orientais diretamente para a Coroa britânica, em 1858. Em 1876 o governo
britânico proclamou a Rainha Vitória como Imperatriz da Índia.
Dos últimos anos do século XIX até a primeira metade do Século XX, o nacionalismo indiano
foi o grande inimigo da posição colonialista britânica. Esse nacionalismo fez surgir uma série
de associações dedicadas à luta pela independência. De todas, a mais influente foi o Congresso
Nacional Indiano (CNI), fundado em 1885 e que foi liderado por Mahatma Gandhi. Essa
organização, que contou com o apoio de muitos hindus e muçulmanos proeminentes, acelerou
a tendência para a independência política, que ocorreu efetivamente em 1947, quando o
Paquistão, culturalmente muçulmano aproveitou para se emancipar da Índia.
Atualmente, Índia e Paquistão mantêm-se em paz armada por causa da região da Caxemira. Este
território já foi motivo de três guerras entre Índia e Paquistão e nos últimos anos, o Paquistão vem
adotando o terrorismo como modalidade de inquietação, sendo o mais célebre dos atentados o que
destruiu alguns pontos da cidade de Mumbai, em 2008.
Autoria: Maj Fabiano
Texto auxiliar – descolonização
Descolonização é o nome genérico dado ao processo pelo qual uma ou várias colônias adquirem ou
recuperam a sua independência política, geralmente por acordo entre a potência colonialista e um
partido político ou movimento de libertação, com ou sem mediação externa. O termo é atemporal e
se aplica a todos os episódios de independência política ocorridos em todos os tempos e a
descolonização que será apreciada neste estudo é a referente às colônias africanas e asiáticas
dominadas por países europeus e que se emanciparam no Século XX.
Como causa primordial do desgaste do processo imperialista está a 2ª Guerra Mundial e a
calamitosa situação que tomou conta da Europa na década de 1940. Aquele grande conflito
enfraqueceu os colonizadores europeus e esse enfraquecimento proporcionou o surgimento de
movimentos emancipacionistas e nacionalistas, que ganhou força na esteira de uma profunda
consciência anticolonialista e anti-imperialista, fazendo cair por terra os fundamentos da Missão
Civilizadora.
Das ruínas da 2ª Guerra Mundial foi construída então a consciência anti-colonialista, que favoreceu
um movimento independentista que se organizou na Conferência de Bandung. A Conferência de
Bandung foi um encontro realizado em 1955 na Indonésia, em que 23 países africanos e 6 asiáticos
propuseram o fim da dominação neocolonialista e buscaram promover uma cooperação econômica
e cultural de perfil afro-asiático, que fizesse frente à atitude imperialista ideológica das duas
grandes potências da Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética, bem como de seus liderados.
A maioria dos países participantes da conferência vinha da amarga experiência imperialista, em que
experimentaram o domínio econômico, político e social, além das consequências comuns daquele
modelo de dominação.
Bandung deu origem a uma política de não alinhamento - uma postura diplomática e geopolítica de
equidistância com as grandes potências nucleares, através da qual, dezenas de nações tentaram não
ser transformadas em joguetes dos titãs da Guerra Fria. Entre os diversos pontos levantados no
decorrer daquela reunião, os principais foram: rejeição à divisão mundial nos blocos socialista e
capitalista e defesa de uma política de não alinhamento automático com as superpotências;
proclamação do direito de autodeterminação política, reprovando-se, portanto, o imperialismo
político, econômico e ideológico; além de condenação do racismo e da corrida armamentista.
Na prática, o processo de ruptura dos países da África e da Ásia com as metrópoles deu-se
pela via pacífica e pela via violenta. As rupturas pacíficas se davam no momento em que as
metrópoles reconheciam a emancipação política das colônias e procuravam preservar as
relações econômicas de dominação. Como exemplo, a Inglaterra, ao perceber que o
movimento de emancipação era irreversível, procurou preservar as novas nações sob sua
influência promovendo a descolonização gradual, procurando integrá-las em seu círculo de
relações econômicas, a exemplo da Comunidade Britânica (Commonwealth). Isso aconteceu,
entre outros, com a Índia e o Ceilão (atual Sri Lanka). Já as rupturas violentas eram
alcançadas mediante o conflito armado entre metrópole e tropas de libertação da colônia.
Como exemplo podemos citar a Indochina francesa e a Indonésia holandesa. Nessas regiões, a
luta gerou condições para a intervenção de grupos comunistas.
Serão abordados alguns mosaicos geopolíticos que ilustram os casos de ruptura pacífica e
violenta:
Ásia francesa:
A Indochina foi uma colônia francesa desde 1883 e compreendia o Vietnã, o Laos e o
Camboja. Aquela península foi ocupada pelos japoneses durante a 2ª Guerra Mundial e após
a derrota japonesa na guerra, a França tentou recuperar o controle sobre a região,
deflagrando a Guerra da Indochina (1946-54), em que se destacou a liderança de Ho Chi
Minh, do movimento de libertação vietnamita (Viet Mihn). A paz foi discutida na Conferência
de Genebra, na qual a Indochina foi dividida em seus três países primários. O Vietnã, por sua
vez, seria dividido em dois: Vietnã do Norte, comunista, capital Hanói e o Vietnã do Sul,
capitalista, capital Saigon. O acordo de Genebra decidiu que em 1956 seriam realizadas
eleições gerais para a unificação do país. A alta interferência comunista na região, rechaçada
pela influência norte-americana foi a causa da Guerra do Vietnã, já abordada anteriormente.
Ásia holandesa:
O vasto arquipélago indonésio foi uma colônia holandesa desde o século XVII. Em 1940 a
Indonésia foi ocupada pelo Japão. Após a capitulação japonesa foi proclamada uma república
por um ex-colaborador do Japão, república que não foi aceita pela ex-metrópole. Em 1947, a
República Indonésia tornou-se um protetorado holandês com o objetivo de ceder à intensa
pressão. A população não aceitou aquele regime de policiamento e retorno do controle
europeu e graves conflitos foram iniciados e que duraram até 1949, quando a Holanda aceitou
conceder a independência política. Assumiu então um governo comunista, que manteve-se no
poder até 1965, quando uma forte pressão da Guerra Fria fez o ditador comunista ordenar a
execução de seus generais. Um golpe de estado fez as forças alinhadas aos Estados Unidos
permanecerem no poder até 1999, tornando a Indonésia um país promissor.
África inglesa:
Os movimentos de independência das colônias inglesas caracterizaram-se, em geral, pela
ruptura pacífica. Foram os casos, por exemplo, de Gana, Nigéria, Serra Leoa e Gâmbia, entre
outros países que até final da década de 1960 já estavam livres e agregados à Commonwealth.
No Quênia, entretanto, a emancipação política foi precedida de conflitos violentos devido à
resistência da população branca local, que detinha 25% das terras mais férteis do país. Na
África do Sul, país mais rico do continente, a dominação secular dos representantes da
minoria branca de origem europeia, sobretudo de ingleses e holandeses, impôs à população
negra um regime de segregação racial, além da exploração das grandes reservas naturais
daquele país. Esse regime racista, conhecido como Apartheid, foi o grande entrave para que a
população local adquirisse sua emancipação. O Apartheid resistiu até 1993, quando a
realização de eleições multiétnicas levaram o líder Nelson Mandela a se tornar o primeiro
presidente negro da África do Sul.
África francesa:
O governo francês procurou negociar formas pacíficas de ruptura com diversas colônias,
como Marrocos, Tunísia, Camarões, Costa do Marfim, Senegal e Madagascar. Em 1960,
estava praticamente desfeito todo império colonial da África. Houve, no entanto, intensa luta
armada na Argélia, onde a minoria de origem francesa controlava a vida política e econômica
do país e era contra a separação da França. Em 1954, tiveram início violentos conflitos pela
independência, liderados pela Frente de Libertação Nacional (FLN). Em 1962, a França
reconheceu a independência da Argélia.
África portuguesa:
O processo de independência das colônias portuguesas ocorreu tardiamente. A resistência
portuguesa à descolonização africana somente se desfez após a queda da ditadura salazarista,
provocada pela Revolução dos Cravos, em 1974, que pregava a democracia em Portugal e o fim do
colonialismo. Dessa maneira, abriu-se caminho para a independência de Guiné-Bissau, Cabo Verde,
São Tomé e Príncipe, Moçambique e Angola. Em Angola formaram-se três grupos armados que
disputaram o vácuo do poder: o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), de
orientação comunista e outros dois de orientação anticomunista. A disputa pelo poder entre esses
três movimentos guerrilheiros levou à luta armada. Em 1975, o país foi declarado independente,
com o MPLA no poder. Mas a guerra civil durou de forma descontínua até 2002, período em que
boa parte da população foi dizimada e o país foi reduzido a escombros. Em Moçambique, formou-
se a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), de orientação comunista, que chegou ao
poder em 1975 com a independência do país. A guerra civil prolongou-se por quase vinte anos,
período em que o país foi assolado pela fome e intermináveis lutas, que dizimaram a população e
destruíram a economia do país. Tanto em Angola, quanto em Moçambique, houve ajuda
humanitária da ONU, na qual o Brasil atuou com forças do Exército na atividade de desminagem
terrestre.
Mundo árabe:
Em 1918, consequência da fragmentação do Império Turco-Otomano, França e Inglaterra
estabeleceram a partilha do mundo árabe. À França coube a Síria e o Líbano e à Inglaterra, o Egito,
Emirados Árabes, Jordânia, Iraque e Palestina, o que dava a esses países acessos ao petróleo
daquela região. Durante esse período de dominação europeia, o fluxo de imigrantes judeus para a
Palestina tornou-se considerável, até porque havia uma necessidade premente de fugir da
perseguição nazista na Europa. Com o término da 2ª Guerra, franceses e ingleses abandonaram suas
colônias árabes criando um vácuo do poder e objetivando assentar a grande migração de judeus para
aquela região, a ONU, sem consultar a Liga Árabe (organização de estados árabes fundada em
1945, com o objetivo de reforçar e coordenar os laços económicos, sociais, políticos e culturais
entre os seus membros), resolveu em 1947 criar o Estado de Israel para abrigar os milhões de judeus
já instalados naquelas terras. Esse estado ocupou 53% da região não soberana da Palestina, o que
desagradou os povos árabes.
Por mais que o projeto de criação de Israel também tenha previsto um estado palestino, os árabes
recusaram-se a aceitar Israel, que no dia seguinte à sua oficialização, em 1948, viu-se
imediatamente atacado por Egito, Arábia Saudita, Jordânia, Iraque, Síria e Líbano no episódio que
ficou conhecido como 1ª Guerra Árabe-Israelense. Os árabes foram derrotados e Israel passou a
controlar 75% do território palestino. A partir daí, iniciou-se o êxodo dos palestinos para os países
vizinhos, o que foi chamado de “Questão Palestina”. A Questão Palestina levou a várias guerras
entre árabes e israelenses: Guerra do Canal de Suez em 1956, Guerra dos Seis Dias em 1967,
Guerra do Yon Kippur em 1973 e as duas Intifadas, que são revoltas populares e localizadas de
palestinos contra israelenses. Desde 1994, parte da Palestina está sob a administração da Autoridade
Nacional Palestina, instituição estatal que governa os territórios da Faixa de Gaza e Cisjordânia. A
Autoridade Nacional Palestina disputa espaço na pauta política com alguns grupos terroristas que
por seus atos extremistas têm sido decisivos para que a paz seja um artigo de luxo no mundo árabe.
Autoria: Maj Fabiano
Texto auxiliar – globalização
Denomina-se Globalização o processo de integração econômica, política, social e cultural
caracterizado pela abertura dos mercados para o comércio internacional, circulação
instantânea de capitais de um país para outro e interligação mundial por meio de telemática,
garantindo a hegemonia dos países ricos no cenário mundial. Entre os fatores que
contribuíram para a aceleração desse processo destacam-se: a ampliação das fronteiras
econômicas do mundo por ocasião das práticas neocolonialistas, a abertura econômica dos países do
bloco socialista com o fim da Guerra Fria a partir de 1991 e os avanços constantes dos meios de
telemática (internet, celular, TV, etc.) e dos meios de transporte.
Esta nova ordem econômica capitalista é liderada pelos grandes conglomerados empresariais e pelas
alianças políticas entre os governos dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, entre as quais
se destacam o G8, grupo dos sete países mais desenvolvidos do planeta – EUA, Japão, Alemanha,
Inglaterra, França, Itália e Canadá – mais a Rússia e o BRICS, aliança política entre Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul, países que se encontram no mesmo estágio de economia emergente e
que tentam converter seu crescente poder econômico em uma maior influência geopolítica.
No G8, esse grupo de elite que consolidou a nova ordem mundial chamada Globalização e que
garantiu a expansão do capitalismo, merecem destaque os Estados Unidos da América, país que
liderou todas as ações de desenvolvimento em nível mundial desde o término da 1ª Guerra Mundial,
mesmo tendo passado por graves crises, como o “Crash” do mercado de ações de 1929 e a Grande
Recessão de 2008. Os Estados Unidos constituem-se a nação mais desenvolvida econômica, social e
militarmente do planeta, sendo o grande regulador da economia mundial e o grande interventor nos
momentos de crises entre os povos desde o fim da guerra fria.
O término da Guerra Fria deu início a uma nova ordem internacional capitalista, baseada na
interligação econômica globalizada, fazendo com que o termo globalização passasse a ser usado
com frequência a partir do final da década de 1980. Se a terminologia Globalização é nova, suas
bases foram lançadas na necessária expansão do capitalismo por ocasião da 2ª Revolução Industrial,
quando as nações imperialistas se obrigaram a investir seus capitais excedentes nas colônias
africanas e asiáticas. Aquela medida possibilitou a abertura dos mercados para o comércio
internacional, a circulação instantânea de capitais de um país para outro e a interligação mundial por
meio de comunicação, fundamentos da Globalização, por mais que as práticas imperialistas tenham
criado uma expansão que visava antes de qualquer coisa a extração de matérias primas e o
reinvestimento de capitais excedentes e que, diferentemente do processo de globalização, conduziu
parte do mundo a rupturas sociais e políticas que disseminaram regimes despóticos e, mais cedo ou
mais tarde, paralisaram as economias submetidas ao poder totalitário.
Há 130 anos, portanto, a Globalização vem exercendo significativa parcela de contribuição
para o progresso da humanidade, representando um entrelaçamento de culturas que vem
estimulando a tolerância entre os povos, a equilibrada marcha das nações em direção à paz, o
aprimoramento científico, tecnológico e multicultural e um forte apelo para o aprimoramento
coletivo dos povos e nações, à medida que o aprimoramento tecnológico tem dinamizando a
economia, tornando-a mais fluida quanto à circulação do capital financeiro. Porém, como
ainda não é um processo universal, até porque a autodeterminação dos povos tem
possibilitado a adesão voluntária, tem significado melhoria para alguns em alguns setores e
vários problemas para muitos.
As principais tendências negativas do processo de Globalização têm sido o aumento do
desemprego, o a xenofobia, a radicalização de intolerâncias e a concentração de riquezas.
A questão do desemprego interage com as demais, até porque há dois tipos básicos de
desemprego: o estrutural, quando as indústrias substituem mão-de-obra por máquinas
automatizadas e o conjuntural, quando empresas menos competitivas acabam dispensando
grande número de trabalhadores, ou seja, fatores totalmente relacionados ao aprimoramento
tecnológico que permite a capilização do capital.
O ressurgimento do nacionalismo na sua forma xenofóbica (aversão a estrangeiros) tem sido
algo muito comum não só em sociedades muito fechadas ao elemento de cultura diferente, até
porque essas sociedades ainda não aderiram na totalidade ao processo globalizatório. A
xenofobia tem sido retratada com muita frequência no continente europeu e tem sido
relacionada à presença de africanos e asiáticos originários de ex-colônias que, na busca de
melhores condições de vida tem competido com os europeus no mercado de trabalho e tem
aumentado as estatísticas do crescente desemprego, gerando insegurança, medo e violência. O
recrudescimento de intolerâncias geralmente se relaciona a questões religiosas e racialistas e à
presença de indivíduos de outras nacionalidades, muitas vezes inseridos na condição
assinalada no parágrafo anterior ou integrados em empresas transnacionais que prestam
serviços ou gerenciam as de bens de consumo.
A questão da concentração de riquezas está profundamente relacionada à questão dos baixos
salários e ambas as condições se originam no atraso tecnológico e social vigentes na maioria
dos países periféricos, devido ao fato de ainda serem exportadores de matérias-primas, cuja
comercialização é realizada por empresas transnacionais, pertencentes aos países
desenvolvidos que contam com mecanismos de proteção, como incentivos governamentais à
produção agrícola nacional.
Paralelamente, os mercados dos periféricos são invadidos por produtos mais baratos feitos em
outras partes do mundo, sem que suas exportações aumentem na mesma medida, o que
chancela o ciclo vicioso da falta de tecnologia para produzir e vender e para poder competir
com o que é produzido fora, ciclo que se realimenta com a participação da mão-de-obra local
em empresas transnacionais que, na busca de folhas de pagamento mais enxutas e com leis
trabalhistas que acresçam o mínimo de custo ao processo de produção, abrem unidades em
países de industrialização recente, ou seja, aqueles que não dispõem de tecnologia para
produzir e vender e para poder competir com o que é produzido fora.
Autoria: Maj Fabiano
Texto auxiliar – países capitalistas centrais e periféricos
Após o fracasso comunista, firmou-se uma nova ordem mundial capitalista cujos principais
beneficiários são os Estados Unidos, a União Europeia e alguns países do leste e sudeste asiático.
Essa nova ordem capitalista é liderada pelos países capitalistas centrais citados anteriormente e que
são chamados assim por centralizarem os processos industriais, tecnológicos e financeiros do
mundo atual. Essa nova ordem também é movida pelos países capitalistas periféricos, que são os
grandes fornecedores e os grandes compradores dos produtos industrializados e transformados nos
países centrais.
Estados Unidos: Após a 2ª Guerra Mundial, os Estados Unidos da América consolidaram-se como
superpotência econômica e financeira, espalhando sua influência nos campos econômico, militar e
cultural por boa parte do planeta. Investindo na reconstrução da Europa com o Plano Marshall e do
Japão e sudeste asiático com o Plano Colombo, o governo e os banqueiros dos Estados Unidos
converteram-se nos maiores credores mundiais. Com base na supremacia econômica no pós-guerra,
sua moeda, o dólar, tornou-se a moeda padrão das transações internacionais. O país passou a
exercer enorme influência em organismos econômicos como o Fundo Monetário Internacional
(FMI) e é, atualmente, a maior economia do planeta.
Os Estados Unidos também são a principal potência militar do planeta. Desenvolvendo, desde o
pós-guerra, uma política internacional amparada em seu poderio militar, os sucessivos governos
norte-americanos negociaram ou impuseram sua presença em várias regiões do mundo. No plano
cultural, os Estados Unidos são os principais produtores de uma tecnologia de comunicação de
massa de penetração mundial presente no cinema, na música, na televisão, na internet, etc. Essas
poderosas tecnologias de informação ajudam a divulgar a cultura norte-americana e seus valores,
presentes em seu estilo de vida e padrões de consumo, promovendo a hegemonia cultural daquele
país sobre o planeta.
União Europeia: No período do pós-guerra, os países da Europa Ocidental receberam a ajuda
econômica dos Estados Unidos através do Plano Marshall e partícipes da doutrina do “Estado de
bem-estar” tentaram recuperar sua autoestima profundamente desgastada, consequência do
profundo desgaste que as instituições daqueles países sofreram no período da 2ª Guerra Mundial.
Os países comunistas do leste europeu, por sua vez, se uniram passando a atuar no sentido de
adequar-se à realidade de forte intervenção estatal e liberdades controladas e, sob a influência de
uma concepção política antagônica ao Estado de bem-estar, surgiu o “Estado de bem-estar social”.
Aquele Estado de bem-estar social foi orientado por partidos socialdemocratas que procuraram
atender às reivindicações dos trabalhadores daqueles países e de seus sindicatos, desenvolvendo um
Estado promotor e defensor do atendimento das necessidades básicas de seus cidadãos. Esse Estado
de bem-estar social com foco predominante no campo econômico, sem ter conseguido garantir as
liberdades políticas e sociais que eram experimentadas no mundo capitalista, criou Estados imensos
e gastadores que, sem controle político e social foram sepultados dentro do contexto de fracasso da
experiência do bloco soviético.
O antagonismo entre o “Estado de bem-estar social” preconizado pelo comunismo e o “Estado
de bem-estar” patrocinado pelo capitalismo fez surgir na Alemanha Ocidental a teoria do
neoliberalismo, que a partir da década de 1950 buscou fazer ressurgir a liberdade de mercado
em uma Europa mergulhada na estagnação própria da regulação e da intervenção do Estado
na economia. O neoliberalismo defende a liberdade irrestrita do mercado, concentrando o
capital em grandes empresas, de modo a tornar a economia de seus países seguidores a mais
competitiva possível, preconizando o enxugamento do Estado através de privatizações e
desoneração da folha de pagamento e o total afastamento deste das ações que gerem direitos,
mesmo aqueles conquistados pela classe trabalhadora durante décadas, o que obriga aos
gestores do Estado a praticarem ações assistencialistas para que o capital retorne às camadas
mais pobres da população. Ou seja, o Estado neoliberal deve ser mínimo, mas ao contrário do
liberal, mexe mais com a mão invisível de modo a fazer circular melhor o capital. O problema
é que essa mexida da mão invisível muitas vezes gera laços de filantropia e dependência que
depois são difíceis de serem extirpados.
O neoliberalismo é, portanto, uma adaptação dos princípios do liberalismo clássico às
exigências de uma regulação e de uma intervenção na economia muito próprias daquele
período de Guerra Fria, principalmente após a crise do petróleo de 1973. Esse hibridismo, que
aqui no Brasil é seguido desde o início da década de 1990, orienta que as forças da sociedade
devem buscar incessantemente a absoluta liberdade de mercado e, mesmo convivendo com
um Estado assistencialista, devem buscar também e de forma incessante evitar a intervenção
estatal sobre a economia, o que demonstra ser um grande paradoxo, que tem legado mais de
uma década de programas de transferência de renda, que tentam compensar a omissão do
Estado na vida da população que contribui para a carga tributária.
A prática do neoliberalismo garantiu a recuperação econômica europeia a partir da adoção de uma
política de integração econômica e da criação de blocos supranacionais, como o Mercado Comum
Europeu (MCE), fundado em 1957, que se transformou, em 1992, na União Europeia. Faz parte
desse processo de unificação a implantação, em 2001, do euro, que substituiu as moedas nacionais
dos países membros, vindo a competir com o dólar. A UE conta hoje com 28 estados membros
independentes e atualmente 8 países tentam aderir àquela aliança política e econômica.
Japão: O desenvolvimento industrial do Japão nos primeiros anos do pós-guerra foi estimulado
com grandes investimentos de capital norte-americano. Após os Estados Unidos deixarem o Japão,
em 1952, a sociedade japonesa passou a exibir uma face inteiramente nova. Nas três décadas
seguintes, sua economia atingiu um espantoso ritmo de crescimento, que a transformou em uma das
mais importantes e competitivas do mundo, destacando-se nos setores eletrônico, automobilístico e
naval. Esse processo é conhecido como “milagre japonês”.
Tigres Asiáticos: Alguns países do Extremo Oriente que, a exemplo do Japão, exibiram uma
enorme capacidade para desenvolver e modernizar suas indústrias passaram a ser denominados
“Tigres Asiáticos”. Os primeiros países a receberem a alcunha foram a Coréia do Sul, Taiwan,
Cingapura, Hong Kong, que hoje são chamados de “Dragões Asiáticos”. Recentemente, outros
países daquela região incorporaram esse arrojo desenvolvimentista – Filipinas, Malásia, Indonésia,
Tailândia e Vietnã, sendo chamados de “Novos Tigres Asiáticos”. A explicação para o rápido
desenvolvimento desses países é a combinação de altos índices de investimento e de expansão
econômica com baixos salários e baixos níveis de proteção social à população trabalhadora. Trata-
se, portanto, de uma experiência única, oposta ao mesmo tempo do modelo do “Estado de bem-
estar” instituído após a 2ª Guerra Mundial nos países desenvolvidos do Ocidente, sem constituir-se
contudo no “Estado de bem-estar social” comunista, nem no “Neoliberalismo” europeu.
De maneira geral, no Hemisfério Norte encontra-se a maior parte dos países centrais desenvolvidos,
enquanto que no Hemisfério Sul encontram-se os países periféricos em desenvolvimento e os
subdesenvolvidos. Como Austrália e Nova Zelândia, países do Hemisfério Sul, possuem esse alto
nível de industrialização e desenvolvimento, a tendência doutrinária atual é mapear o Norte como o
polo desenvolvido e o Sul, o subdesenvolvido. Esses países do Sul, que se encontram em fase de
desenvolvimento e na condição de subdesenvolvidos e que professam a economia de mercado e
outros fundamentos liberais são chamados periféricos. Esses países periféricos têm características
em comum, que são a elevada dívida externa, a dependência comercial e financeira, o atraso
tecnológico, os baixos níveis de educação, saúde e higiene, a baixa expectativa de vida, a
elevada taxa de natalidade e a baixa renda per capita.
Eles produzem e exportam matérias-primas com abundância e essa comercialização é realizada por
empresas multinacionais, cujas sedes e lucros pertencem aos países desenvolvidos. Na América
Latina, as elites predominaram na política e na economia dos países desde a época da
descolonização espanhola e portuguesa e a grande subordinação econômica aos países centrais
capitalistas também foi mantida e até ampliada. Buscando se fortalecerem no cenário internacional,
esses países latino-americanos periféricos se reuniram para formar blocos regionais como o
Mercosul, a Comunidade Andina (Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela) e o Mercado
Comum e Comunidade do Caribe (Caricom), constituído pelos países do Caribe, na América
Central. Tais associações buscavam ampliar os intercâmbios regionais, mas não reuniam forças
capazes de reverter a relativa subordinação às grandes economias capitalistas.
TEXTO AUXILIAR – A CRISE DA SOCIEDADE SOCIALISTA
As expressões "comunismo" e "socialismo" recebem significados nem sempre muito precisos. Numa
explicação bem resumida, daria para dizer que, segundo a teoria marxista, o socialismo é uma etapa
para se chegar ao comunismo. Este, por sua vez, seria um sistema de organização da sociedade que
substituiria o capitalismo, implicando no desaparecimento das classes sociais e do próprio Estado. "No
socialismo, a sociedade controlaria a produção e a distribuição dos bens em sistema de igualdade e
cooperação. Esse processo culminaria no comunismo, no qual todos os trabalhadores seriam os
proprietários de seu trabalho e dos bens de produção", diz a historiadora Cristina Meneguello, da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Após a 2ª Guerra Mundial, o socialismo expandiu-se
por várias regiões do mundo, incluindo países do Leste Europeu, China e Cuba, criando Estados
comunistas. A partir da década de 1980, a grande e esmagadora maioria desses governos comunistas
desmoronou. O grande marco desse processo de dissolução foi o fim da URSS, em 1991.
União Soviética: O processo de desintegração do bloco comunista teve início a partir da União
Soviética, durante o governo de Mikhail Gorbatchev, que durou de 1985 a 1991 e que implementou
profundas reformas internas, como a Glasnost (liberalização política) e a Perestroika (reestruturação
econômica). Embora o objetivo fosse a modernização e a democratização do país, em 1991 diversas
repúblicas se desligaram da União, proclamando sua independência. Esse processo se tornou
irreversível quando a União Soviética foi oficialmente extinta em dezembro desse mesmo ano e os 15
Estados pós-soviéticos aderiram à recém criada Comunidade dos Estados Independentes (CEI).
Gorbatchev, que havia resistido a uma tentativa de golpe de estado em agosto de 1991, renunciou
naquele mês de dezembro e Boris Ieltsin tornou-se o principal líder da CEI e o primeiro Presidente da
Federação Russa. Pressionado pelo FMI, Ieltsin teve pressa em promover a passagem da economia
estatizada para a economia de mercado, praticando uma economia neoliberal. Já em 1992, Ieltsin deu
início à privatização das empresas estatais e por ter sido um processo muito rápido e o país não contar
com uma infraestrutura adaptada à economia de mercado, as privatizações acabaram levando a Rússia
à recessão econômica, à inflação, ao desemprego e à criminalidade. Atualmente, a Rússia encontra-se
numa situação de emergência econômica, flutuando entre a 8ª e 6ª economia do mundo, juntamente
com Brasil e Reino Unido.
Leste Europeu: Nesses países, a instalação do comunismo baseado no modelo soviético teve como
ponto de origem comum a luta contra o nazismo. Com o tempo, entretanto, os regimes
comunistas da Europa Oriental foram se desgastando em consequência da falta de liberdade e da
crise econômica. Esse quadro gerou revoltas populares contra o comunismo soviético em alguns
desses países, como na Hungria, em 1956, na Tchecoslováquia, em 1968, e na Polônia, durante
toda a década de 1980. Aqueles movimentos reivindicaram modelos políticos menos fechados e
autoritários, mas as experiências húngara e tcheca foram sufocadas pela intervenção de tropas
soviéticas, enquanto que a experiência polonesa conseguiu os objetivos sem muitas perdas
humanas devido a ter ocorrido em um momento de fragilidade das forças soviéticas.
Hungria: Em outubro de 1956, um movimento estudantil que teve apoio de militares do exército
reivindicou um socialismo justo e democrático, mas foi sufocado pela intervenção de tropas
soviéticas. A revolta espalhou-se rapidamente e o governo caiu. Milhares de populares
organizaram-se em milícias, combatendo a Polícia de Segurança do Estado e as tropas soviéticas.
Comunistas pro-soviéticos e membros da polícia que eram aprisionados, eram executados e os
antigos prisioneiros foram libertados e armados. Um governo provisório foi criado e extinguiu o
Partido dos Trabalhadores Húngaros, dissolveu a Polícia de Segurança do Estado, declarou a
sua intenção de se retirar do Pacto de Varsóvia e prometeu eleições livres, com as quais Moscou
concordou. O líder soviético Nikita Krushev havia porém mentido e o anúncio de boa vontade foi
apenas um blefe. Em 4 de novembro, forças do Pacto de Varsóvia invadiram Budapeste e
deixaram um saldo de 22 mil mortos e feridos. A Hungria se libertou da União Soviética em
1991.
Tchecoslováquia: Em abril de 1968, um movimento conhecido como Primavera de Praga,
liderado por intelectuais ligados ao PC tentou promover mudanças na estrutura política,
econômica e social. A proposta tentou “desestalinizar” o país, removendo o alto grau de
despotismo e autoritarismo reinantes nas instituições tchecas. As reformas não foram bem
recebidas e o líder soviético Leonid Brejnev enviou, em agosto, tropas de ocupação do Pacto de
Varsóvia e produziu mil mortos. A Tchecoslováquia se desligou em novembro de 1989 da União
Soviética graças à Revolução de Veludo e em 1992 se separou em República Tcheca e
Eslováquia.
Polônia: A Polônia teve uma trajetória diferente da Hungria e da Tchecoslováquia. Os ditadores
que governaram o país entre 1944 e 1972 conseguiram estabelecer uma face liberal à sociedade, o
que possibilitou uma certa tolerância da população com o regime antidemocrático comunista. A
partir da crise mundial do petróleo e da forte recessão econômica advinda, a estagnação e o
desemprego levaram a população a clamar pela derrubada do estado de bem-estar social. Em
1980, surgiu um movimento contra o governo comunista liderado pelo sindicato Solidariedade,
liderado pelo eletricista Lech Valesa, que contava com o apoio da Igreja Católica que desde 1978
era liderada pelo Papa polonês Karol Wojtyla. A repressão do governo foi violenta, mas não
suficiente para esmagar as oposições, pois naquela época a União Soviética já estava sem forças
para intervir em seus satélites. Em 1989, o Solidariedade foi autorizado a transformar-se em
partido político, disputando e vencendo as eleições polonesas daquele ano, fazendo a Polônia
abandonar o regime comunista em abril de 1990, tornando-se uma das 25 maiores economias do
mundo na atualidade.
Depois da Polônia, as reformas democráticas espalharam-se por toda Europa Oriental: Hungria,
Romênia, Bulgária, Albânia, Tchecoslováquia (desmembrada em 1993 em República Tcheca e
Eslováquia), Iugoslávia (que, devido aos choques entre as diversas nacionalidades que viviam na
região, deu origem a seis países: Sérvia, Croácia, Macedônia, Eslovênia, Montenegro e Bósnia-
Herzegovina) e Alemanha Oriental (que se reunificou à Alemanha Ocidental).
China: Após consumar a vitória na guerra civil chinesa e instaurar um regime comunista naquele país,
Mao Tsé Tung estabeleceu um tratado de amizade, aliança militar e assistência mútua, adotando,
inclusive, o modelo econômico soviético com seus planos quinquenais. Essa aliança não durou muito
tempo e o pacto foi abalado quando a URSS adotou a Coexistência Pacífica entre o comunismo e o
capitalismo, fato que desagradou aos dirigentes chineses, que romperam laços com a União Soviética.
Mao criou então o Movimento das Cem Flores, que teve o objetivo de estabelecer uma linha de
pensamento para o comunismo chinês, da mesma forma que rastrear possíveis correntes
antirrevolucionárias. Juntamente ao Cem flores, Mao estabeleceu um novo plano econômico
conhecido por Grande Salto Adiante, com o objetivo de diminuir a dependência do país em relação ao
comércio exterior. O plano fracassou, gerando fome e morte de milhões de chineses e custando a Mao
a contestação de seu poder na liderança do PCC.
Procurando retomar o controle sobre o Partido, Mao Tsé-tung promoveu um movimento conhecido
como Revolução Cultural, cujos objetivos declarados eram reativar o espírito revolucionário chinês
contra os privilégios de classes e o modo de vida burguês e livrar a sociedade chinesa da influência da
cultura ocidental. No entanto, assumiu feições autoritárias, mobilizando a Guarda Vermelha na
perseguição aos opositores políticos. Após a morte de Mao Tsé-tung, em 1976, seu sucessor Deng
Xiaoping passou a estimular a modernização do país, promovendo um processo de abertura econômica
para o mundo capitalista. Entretanto, os novos dirigentes pouco fizeram para criar instituições mais
democráticas. A China continua sob o governo do Partido Comunista, que ainda reprime brutalmente
as manifestações populares e a livre expressão.
Em 1989, na esteira da asfixia do comunismo mundial, jovens e intelectuais se reuniram durante
semanas em manifestações pacíficas com o objetivo de reivindicar por democracia. Essas
manifestações se concentraram na Praça Tian’ammen (Praça da Paz Celestial) e no dia 4 de junho,
cerca de 3 mil pessoas foram assassinadas pelas tropas do governo comunista. A China continua sob o
governo do Partido Comunista, que ainda reprime brutalmente as manifestações populares e a livre
expressão. A economia chinesa tem se mantido em níveis de desenvolvimento em virtude da grande
quantidade de mão-de-obra e de seus fundamentos de intervenção estatal. Essa economia estatal tem
crescido substancialmente nos últimos 10 anos e atualmente seu PIB de quase 10 trilhões de dólares o
alavancou à 2ª posição no ranking da riqueza mundial.
Cuba: Em 1959, em reação à situação de dependência e subordinação em relação aos EUA, um grupo
de guerrilheiros, comandados por Fidel Castro e Ernesto “Che” Guevara, implementou um movimento
político e militar que derrubou o governo ditatorial de Fulgêncio Batista. Após a tomada do poder, a
Revolução Cubana caminhou rumo ao comunismo, caracterizando-se pela implantação de uma
ditadura na qual evidenciou-se o confisco de propriedades pelo Estado, existência de um único partido
(Partido Comunista Cubano), perseguições políticas, o controle dos meios de comunicação e
inexistência de liberdade de expressão. Ao aderir ao comunismo, iniciaram-se os conflitos com os
EUA, que tiveram os seguintes marcos: Invasão da Baía dos Porcos, em 1961; Suspensão da
Organização dos Estados Americanos (OEA) e embargo econômico e Crise dos mísseis, de 1962.
Na economia, não houve diversificação da produção agrícola nem estímulo concreto à
industrialização, de tal modo que a economia cubana continuou dependendo, principalmente, das
exportações de açúcar e tabaco. Com o fim da URSS, em 1991, a situação econômica de Cuba ficou
bastante delicada, pois, a partir da adoção do comunismo e do bloqueio econômico imposto pelos
EUA, o governo soviético tornou-se o principal parceiro comercial de Cuba, comprando cerca de 60%
do açúcar produzido na ilha. Os soviéticos também forneciam aos cubanos petróleo, veículos,
máquinas, etc. por baixos preços. Assim, os cubanos passaram a enfrentar grave crise econômica, que
se traduziu na falta de gêneros alimentícios, combustíveis, máquinas e inúmeros outros artigos. Em
busca de dólares, o governo cubano passou a investir no turismo. Também flexibilizou a economia,
permitindo, dentro da estrutura socialista, a abertura para as atividades capitalistas. De positivo o
regime de Fidel Castro produziu melhorias nas áreas de educação e saúde.
Autoria: Maj Fabiano