Terapia de Vidas Ultra-Passadas - visionvox.com.br...muitas vidas passadas! Descobria problemas da...
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John FellinusJohn FellinusJohn FellinusJohn FellinusJohn Fellinus
- Coisas que...- Coisas que...- Coisas que...- Coisas que...- Coisas que...
Nem o VentoNem o VentoNem o VentoNem o VentoNem o Vento
Levou! -Levou! -Levou! -Levou! -Levou! -
TERAPIA DETERAPIA DETERAPIA DETERAPIA DETERAPIA DE
VIDAS ULTRA-VIDAS ULTRA-VIDAS ULTRA-VIDAS ULTRA-VIDAS ULTRA-
PASSADASPASSADASPASSADASPASSADASPASSADAS
TERAPIA
DE VIDAS
ULTRA-PASSADAS - Coisas que... Nem o Vento Levou! -
John Fellinus
TERAPIA DE VIDAS ULTRA-PASSADAS
- Coisas que...Nem o Vento Levou - John Fellinus
Literatura brasileira
Humor sobre tema suposto e controvertido
Todos os direitos reservados de acordo com a lei
Copyright © Nillo Gallindo - 1997
Parte desta narrativa é pura ficção
Mas alguns fatos ocorreram na vida do autor
Edição eletrônica exclusiva
iEditora - SP
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Gente, o mundo está tão doente que até
computador tem vírus.
Todos temos traumas na vida. Isso ge-
ralmente nos leva a buscar terapias diversas. E
aparece cada uma! Há até uma incrível terapia
alternativa que ensina seus pacientes beberem a
própria urina! Chamam-na de urinoterapia. Be-
ber xixi? Pasmem.
Também precisei de terapia.
Minha dicção era normal e fluente desde
criança até os meus dezoito anos. Mas dali em
diante foi afetada quando comecei tentar reali-
zar um sonho que tinha desde pequeno: ser es-
critor. Por mais de trinta anos enviei diferentes
originais às editoras. As respostas eram sempre
educadas, mas acompanhadas de um “não”. O
recebimento de tantos “nãos” - aliado à frustra-
ção de meu grande desejo - provocou em mim
um distúrbio nervoso. Me tornei, então, um ga-
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go. Um gago que precisava de tratamento. Mi-
nha gagueira era tão grande que até escrevi um
livro devido a ela. Intitula-se O DIÁRIO DE
UM GAGO.
Sou cepeilandês, nascido em Cepeilân-
dia. Trata-se de um reino onde o Sol não se
põe, de tão vasto que é. Terra única, introcável
por qualquer outra, rainha de todas as belezas e
abrigadora de um povo maravilhoso, alegre,
incomum, inigualável em todos os sentidos.
Terra de gente muito boa, amiga, pacífica. O
maior dom do cepeilandês é o bom-humor. Tu-
do é levado na gozação.
Como minha gagueira aumentava, deixei
minha terra natal, minha querida Cepeilândia, e
viajei para outro país em busca de tratamento
piscoterápico. Fui parar no imenso Brasil, o
país de todos os povos, acolhedor de todas as
raças. Lá, fui no consultório de um analista,
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num bairro chamado Butantã.
O Butantã é um bairro de São Pau-
lo famoso por suas cobras. Lá há um instituto
que se dedica, principalmente, à produção de
antídotos contra picadas de cobras.
No consultório ouvi uma
conversa estranha. Um cliente perguntou baixi-
nho a uma mulher ao lado dele:
- A senhora já foi alguém em vidas pas-
sadas?
Ela sorriu e respondeu orgulhosamente:
- Sim! Fui Cleópatra, aquela que se ma-
tou com a picada de uma cobra no Egito antigo.
Chegou a vez daquela senhora ser atendi-
da. Ela entrou numa sala e outra mulher ocupou
a cadeira dela. Esta, não ouvira a pergunta feita
à outra, e aquele cliente repetiu a pergunta a
esta nova senhora:
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- Madame, sabe se já foi alguém em ou-
tras vidas?
- Sim! Fui Cleópatra, rainha do Egito an-
tigo, aquela do caso da cobra.
"Duas? Duas Cleópatras...ao mesmo
tempo?" - pensei - "que negócio é esse?" - fi-
quei confuso - "que analista é esse ao qual eu
vim?”
Eu sabia que estava no bairro das cobras,
mas será que havia conversa sobre cobras até
na sala do analista?
Não era aquele tratamento que eu estava
procurando. Será que havia ido ao analista er-
rado? Fora lá porque me disseram que o ho-
mem analisaria minha infância e, após analisar
meus problemas sofridos desde pequeno, con-
sertaria minha cabeça afetada pelos traumas in-
fantís. Eu precisava que os ensinos de Freud
7
retirassem coisas alojadas em minha cabeça -
coisas que nem o vento conseguira levar.
Quando a mulher não estava mais na sala
perguntei ao cliente, discretamente:
- Moço, vim aqui porque me disseram
que o doutor analisa a infância da gente e resol-
ve os problemas que são gerados por ela duran-
te a vida, problemas que nem o vento leva. Que
história é essa de Cleópatra, cobra, Egito antigo
e vidas passadas? Pelo que sei, a Cleópatra vi-
veu umas cinco décadas antes de Cristo. Foi
mulher dos romanos Júlio César e Marco Antô-
nio. Mas hoje, há dois mil anos é apenas múmia
egípcia. Será que vim ao analista errado?
- Não, não. Veio ao homem certo. O ana-
lista cuida, também, disso que o senhor está
procurando. Acontece que nos últimos anos ele
se especializou em novas terapias nos Estados
Unidos. Agora, além desta vida ele vai mais
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para trás, analisa vidas passadas também. Ficou
craque nisso. Sabe como é, ele aprendeu aque-
las teorias que dizem: " alguém é sicrano e é
doente de algo por que já foi beltrano...", mais
ou menos isso.
- Então vou embora - eu disse assustado
ao cliente - não me interessa essa terapia, pois
ela ainda não é reconhecida nos anais da ciên-
cia médica. Segundo o Conselho Federal de
Psicologia aqui do Brasil, não é matéria ainda
cientificamente comprovada.
- Não! Não precisa ir. Se você quiser, o
doutor usa a terapia da regressão só até os
traumas desta infância apenas. Ele respeita a
escolha dos pacientes.
Assim, depois dessa garantia fiquei para
a consulta, mas meio ressabiado.
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Além das Cleópatras e outros casos, no
consultório havia outro cliente, e por concidên-
cia viera também de meu país, Cepeilândia. Era
um adulto jovem de apenas 37 anos. Ele era um
excelente técnico, profissional saudável e com-
petente, que ao procurar emprego as firmas lhe
diziam: "só pegamos até 35". “Mas eu tenho
espírito jovem”, dizia ele às empresas. “Mas
nós não recrutamos espírito, queremos corpo,
só”, as empresas respondiam.
O homem ficou maluco, pois o sistema
previdenciário de Cepeilândia lhe daria aposen-
tadoria só quando completasse 60 ou 65 anos!
O que ele faria nos outros mais de vinte anos à
frente? Iria expandir o universo do trabalho in-
formal? Quantos enlouqueciam assim! Pois
qual é a coerência que existia em que a aposen-
tadoria fosse só aos 60 anos de idade, mas por
outro lado houvesse liberdade para que as em-
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presas rejeitassem os homens dos 35 aos 60
como imprestáveis? Eram absurdos sociais que
nem o vento levava. Nem o vento e nem os psi-
canalistas.
Eu, naquele consultório, já era um orfão
da velhice. Contava mais de sessenta anos. Era
aposentado, mas recebia tão pouco que o di-
nheiro da aposentadoria acabava nas compras
da primeiras caixas de remédio. E era impossí-
vel eu arranjar emprego em Cepeilândia. De
nada adiantava, para me alegrar, os bondosos
organizadores de associações de idosos man-
darem eu dançar junto com os velhinhos da ter-
ceira idade, nem passear com eles naquelas ex-
cursões em que são levados como crianças de-
pois de tanta experiência acumulada na vida.
Isso era bom, mas não o que eu queria. Parecia
estar voltando à creche depois de uma vida in-
tensa. Não! Eu desejava desenvolver a profis-
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são que ainda não conseguira: ser escritor, de
qualquer jeito.
Sonhei até em montar uma editora e pu-
blicar meus próprios livros. O primeiro que eu
publicaria seria o meu inédito: ... “Nem o Vento
Levou!”
Mas como, se eu não tinha dinheiro nem
para comprar os medicamentos? Mas havia al-
guém que me animava constantemente:
“Ah, é fácil, ‘vô’! Compra uma estação
de TV e mostra o teu ‘Nem o Vento Levou!’
para todo mundo. Tudo que passa na TV o po-
vo compra.”
Essa foi a solução da minha única leitora
fanática, minha netinha de 9 anos.
Ri! Ri tanto que fez bem. É pena que este
meu pequeno grande amor tenha que crescer e
um dia se emaranhar nas teias das aranhas do
mundo adulto. Ela tinha até nome para a edito-
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ra se eu abrisse : "Editora de Bem com a Vida".
Onde vira isso? Na TV.
Pe-
di ao cliente que conversara com as Cleópatras
no consultório, que me dissesse como funcio-
nava a tal regressão do analista do Butantã. Ele
me deu alguns detalhes. Em resumo foi isso o
que entendi:
O analista do Butantã era um regressor,
um tipo de especialista em “vídeo-teipe mental”
do passado. Não só de um passado, mas de
muitas vidas passadas! Descobria problemas da
vida atual de pessoas que ele dizia terem vivido
muitas vezes antigamente. Funcionava mais ou
menos assim, como exemplos:
Se alguém tivesse hoje uma persistente
dor de cabeça, teria morrido na outra vida por
algum ferimento na cabeça. O regressor dizia
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que a cabeça doía até hoje na nova vida. Nem o
vento levava a dor.
Caso sofresse de dor no ombro, poderia
ter levado uma flexada ou paulada, martelada,
facada, tiro ou pedrada na vida passada, no om-
bro, ao morrer. Valeria o diagnóstico, também,
para qualquer outro ponto do corpo que doesse
na vida atual. Assim, naquele ponto, teria sido o
ferimento no passado. O regressor diria que o
ombro, ou outro ponto que tivesse sofrido o
ferimento mortal, doeria até hoje na nova vida.
Se o paciente tivesse problemas de respi-
ração, poderiam ter sido dois ou mais os tipos
de morte nas antigas vidas. Se a má respiração
provocasse calor, poderia ter morrido pelo fo-
go. Por exemplo, quem já foi Joana D’arc senti-
ria calor mesmo sem estar com febre. Caso a
má respiração produzisse frio, talvez tivesse
morrido afogado. Se não provocasse nem frio
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nem calor, poderia ter morrido só de “nariz en-
tupido" ou por variadas razões. O regressor po-
deria, assim, diagnosticar que a má respiração
hoje, na nova vida, viesse dessas causas mortis
passadas.
As existências antigas variariam no tem-
po, sendo na Pré-história, ou mais para cá AC.,
ou em qualquer ano DC. O diagnóstico seria
feito enquanto o cliente falasse dormindo, em
transe hipnótico induzido pelo analista do Bu-
tantã. Então, descoberta a causa mortis passada
da dor atual, ele aconselharia o cliente e a dor
que nem o vento levava, o abandonaria.
As duas mulheres que diziam terem sido
Cleópatra no consultório do analista do Butan-
tã, ambas, descobriram que sentiam dores ter-
ríveis bem no lugar em que a cobra as mordeu
lá no Egito, antes de Cristo. Até hoje, nessa no-
va vida, no ano 2000 depois de Cristo, as mor-
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didas doíam muito ainda. Souberam disso
quando, falando dormindo ao analista, ele lhes
dera os diagnósticos.
Estranho era que uma cliente disse que a
picada acontecera no lado direito do corpo. Já
na outra, a cobra tinha mordido no lado esquer-
do. Mas as duas “Cleópatras” já estavam livres
da dor pelo formidável método da terapia tão
democrática que permitia direita e esquerda ou
várias interpretações. A terapia nelas fora muito
boa, fora “o fim da picada”.
No caso do adulto jovem que não conse-
guira mais emprego aos 37 anos, o analista do
Butantã lhe disse que estava sofrendo com a-
quele problema porque, em vida passada, ocu-
para cargos públicos privilegiados. Poderia, por
exemplo, ter sido um político que, legalmente,
se aposentara com poucos anos de mandato,
fora outras benesses também legais. Mas nem
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tudo o que é legal aqui no aquém, - segundo o
analista do Butantã - é considerado legal lá no
além. Portanto, "nesta vida”, ele teria que expe-
rimentar o reverso da medalha para ver como é
difícil ser povo comum e se aposentar só aos
60 anos sem conseguir emprego desde os 35 até
os 60. O homem arranjou uma sacola, comprou
bugingangas e foi para a economia informal
tentar ganhar o pão no universo dos marretei-
ros, correndo da prefeitura por mais 23 longos
anos.
Me recordo quando cheguei ao analista
do Butantã pela primeira vez. O nome estava
numa placa bem grande: CLÍNICA DE ORI-
ENTAÇÕES ORIENTAL.
Entrei. Consultório lindo. Luzes multico-
res numa penumbra meio rosa. Já fiquei tonto
só com as luzes. Máscaras africanas por toda a
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parede. Também, cabeças de leões, alces e ti-
gres. Parecia que eu estava num safari. No ar,
um inebriante perfume. No chão, tantas almo-
fadas fofinhas que cobriam todo o tapete. O
lugar dava sono só de entrar. Bocejei. Me senti
calmo, com tanto sono! Uma musiquinha de
fundo fazia o resto. "Cadê o analista?", pensei.
Em meio à penumbra, lá no canto
estava sentado, me olhando, um velhote com
avental branco de terapeuta. Não era chinês,
mas parecia tanto que passei a tê-lo como um
chinês. Afinal eu encontrara o analista do Bu-
tantã, verdadeiro “cobra” em análise. O cava-
nhaque parecia o do velhinho do seriado de
filmes do Kung Fu. Os olhos eram tão puxados
que eu não via a menina do olho. Aliás, ali não
devia ter menina e sim uma senhora milenar-
mente idosa, pois o sorriso gentil e metálico do
chinês se parecia ao de uma múmia de três mil
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anos viva, que nem o vento levara. Pensei, “es-
se chinês entrou no Brasil três mil anos antes do
Cabral e nem usou passaporte pois os índios
não exigiam".
- Doutor - tomei a iniciativa
no diálogo - tudo dá errado comigo, tenho o
desejo escrever um livro...
O velhote me interrompeu e começou a
dialogar comigo com um sotaque oriental mui-
to confuso. Trocava R por L e L por R, era um
verdadeiro “lolo”, ou melhor, rolo. Não dá para
transcrever aqui o sotaque dele. Se você conhe-
ceu o “Hortelino troca-letras” do gibi ou o mo-
derno cebolinha, poderá imaginar as trocas. Ele
disse:
- Livro? Escritor?...Você deve estar louco
mesmo, gafanhoto.
O mestre me chamou de gafanhoto! En-
tendi que era um modo gentil daqueles mestres
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perdidos nas montanhas do fim do mundo trata-
rem seus discípulos. Logo simpatizei com o
chinês. Ele insistiu que em meu tratamento era
necessário usar a técnica da regressão a vidas
passadas. Disse-lhe que eu só aceitaria se a mi-
nha regressão fosse feita somente até a minha
infância, pois eu não acreditava em nada antes
de meu nascimento.
Como o doutor concordou com as minhas
exigências voltei para as próximas consultas.
Ele sempre mandava que eu deitasse e fechasse
os olhos. Eu deitava e fechava.
Deitado no sofá do chinês passei várias
horas por muitos dias relatando meu passado.
Contei da vida romântica e da solidão. Dos en-
contros, dos desencontros durante toda a vida,
desde criancinha até ali. Ah, quantas coisas!
Quantas coisas que nem vento levou. Falei so-
bre as alegrias, tristezas, prazeres, dores. Sobre
20
os momentos de satisfação, de frustrações.
Contei sobre as criações e as aspirações que na
maioria sempre deram em nada. Eu disse assim
a ele:
Mestre, além de tentar ser escritor sem-
pre tive a mania de ser um pouco inventor. In-
ventei uma tampa de frigideira que evitava que
os pingos de óleo espirrassem no chão e no fo-
gão. Era composta de duas tampas com furos
idênticos mas que, ao serem separadas por um
espaçador os furos não coincidiam. Enquanto
os pingos passavam pelos furos da primeira não
passavam pelos da segunda, pois descobri que
os pingos não sabiam fazer curvas e tinham as
trajetórias retas. A fritura não queimava, já que
a frigideira permanecia ventilada. Chamei-a de
Frigi-tamp. Eu fui o primeiro a pensar nisso em
Cepeilândia.
21
Mestre, antes de todos, inventei uma lei-
teira que não derramava leite ao fervê-lo. Fun-
cionava como o funil de uma fôrma de pudim,
aberto em cima e com furinhos na base. Quan-
do a lateral da fôrma adaptava-se na parte in-
terna da leiteira impedia que o leite saísse. Aí, o
leite subia como um chafariz pelo funil e caía
de volta desanimando o leite que tentava subir
pelos furinhos da base. Chamei de Stop-leite.
Mestre, enviei sugestão à Nasa propondo
uma viagem ao Sol. Sugeri que se tivessem pro-
blemas com o calor, efetuassem o pouso à
noite. E que nunca fossem à Lua em fase min-
guante ou de Lua nova, pois nessas fases ela
desaparece e eles não encontrariam nada. E que
evitassem ir a buracos negros sem checar bem
as pilhas das lanternas, pois neles a escuridão é
total. Disse-lhes que em qualquer viagem espa-
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cial, como segurança, colocassem um aviso
grande dentro das naves para os astronautas
dizendo: “Cuidado, se ficarem com dor de ca-
beça não tomem a ‘cápsula’; ela é para vocês
retornarem”. Também enviei um projeto de
fraldas descartáveis para os astronautas que fi-
cam muito tempo no espaço. Chamei-as de
“fraldas cósmicas". Com elas não precisariam
construir banheiros nas naves. Isso diminuiria o
peso delas economizando combustível. Para
livrarem-se das fraldas usadas, bastaria jogá-las
fora da nave em direção ao Sol. Seriam atraídas
pela força de gravidade dele, e lá, depois de
incineradas seriam devolvidas aos planetas em
forma de calor pela lei do "nem fralda se perde
e até fralda se transforma".
Também mandei sugestão à Boeing para
que fizesse seus aviões inteiros com o material
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da caixa preta, porque ela é a única que nada
sofre num acidente devido ao seu material. Por
que nunca pensaram nisso?
Certa vez, mestre, tentei provar que Eins-
tein estava errado. Ele afirmou que o tempo é
uma extensão do espaço formando o contínuo
espaço-tempo.
Mostrei que não era assim. Einstein se
enganou! O tempo é o próprio espaço e não ex-
tensão do espaço. Demonstrei que, se a Terra
voa uma distância de 30 Km em movimento
regular e constante, e os homens pegaram essa
distância que é só, repito, só espaço, e puse-
ram nessa distância o nome de "segundo", e
chamaram esse "segundo" de tempo, colocan-
do-o num pedacinho do mostrador do relógio;
se equivocaram, pois esse tal "segundo" é só
espaço voado pela Terra. O relógio é apenas
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uma maquininha que imita o movimento da
Terra. O relógio poderia ser chamado de "Terra
de pulso", pois só copia o espaço voado pela
Terra. Isso porque a locomoção, ou movimento
da Terra de 30 quilômetros, regular e constante,
serve como modelo, parâmetro, padrão de mo-
vimento para que, quando outros corpos quais-
quer se locomovam, tenham a sua própria
"quantidade de espaço" de sua locomoção -
comparada com a da Terra. Então logicamente
tempo é o que? É sinônimo de espaço, e só! Um
"segundo" é um espaço, uma distância, não ou-
tro ser chamado tempo. Tempo e espaço são
uma coisa só, por isso o tempo não é uma ex-
tensão do espaço. Einstein errou. Errou e ainda
mostrou a língua para todo mundo - eu já vi
uma fotografia dele assim. Mas a mim ele não
engana! Mestre, eu até fiz um versinho: "O
tempo é o espaço, assim como o laço é a corda,
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e a corda, também, é o próprio laço". Ora, mes-
tre, eu até argumentei: as latitudes e longitudes
- que são distância, espaço - são medidas em
segundos e minutos! E elas são tempo? Não!
São espaço, distância. Os físicos não falam na-
da porque têm medo de enfrentar Einstein. Eles
não "ousam". Mestre, sabe o que
ganhei com a minha grande descoberta de que o
tempo não é o que as pessoas pensam? Acabei
sendo processado pelas fábricas de relógios.
Elas me acusaram de eu estar querendo acabar
com o tempo, uma coisa, na qual, todo mundo
está acostumado a acreditar. Disseram que eu
queria prejudicar o negócio delas. E o juiz só
não me prendeu porque ficou na dúvida se eu
era um louco ou um gênio, pois no tribunal
perguntei a ele: “ Meretíssimo,
se a Terra parasse no espaço, como parou nos
dias de Josué, se Vossa Excelência estivesse lá,
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seu relógio marcaria o que com a Terra para-
da?” Fui solto na hora! O
Juíz ficou tão convencido da minha tese que
bateu o seu martelinho na mesa umas trinta ve-
zes seguidas, e com raiva. E proferiu a
sentença em Latim, dizendo: “Acusadus cor-
rectíssimus est. Safadus et enganádibus sunt
tótibus relógiuns produtóribus.”
Eu só en-
tendi a sentença porque fiz um cursinho de pós-
graduação com o aquele famoso frango gigante
que aparecia na TV, junto com um imperador
romano, ensinando Latim para todos.
Mestre, tive outro
trauma terrível. Foi por causa dos etês. Quando
li alguns livros de um autor que perguntava se
os deuses eram astronautas, fiquei abismado.
Então, escrevi um livro rebatendo e perguntan-
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do: Eram os deuses astronautas mesmo?
Resumindo, o autor dos etês
afirmava que a pirâmide principal do Egito a-
ponta sempre para uma estrela no céu. Isso -
disse ele -, foi devido a influência dos deuses
astronautas extraterrestres que ensinaram os
egípcios.
Respondi: Está errado, pois é impossível
apontar um dedo para o céu sem que você acer-
te numa estrela. O bico da pirâmide acertar uma
estrela, se não foi coincidência por ter muita
estrela no céu, foi um método dos egípcios pre-
verem as cheias do rio Nilo para programarem
sua agricultura nas margens, pois as cheias co-
incidiam com as variações da posição da estrela
- como pensam muitos cientistas.
O autor defensor dos deuses etês fez um
cálculo e mostrou que certas medidas da pirâ-
mide, se multiplicadas por outras medidas tam-
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bém da pirâmide, dão a distância da Terra ao
Sol, e que isso mostra a influência dos deuses
astronautas no passado na Terra.
Eu rebati: Olha, se eu pegar a medida do
tapete da minha sala e multiplicar por um nú-
mero "X" também dá a distância da Terra ao
Sol, e, mesmo assim, nunca um etê sentou na
minha sala.
O autor amante dos etês tinha mania de
dizer que os desenhos das cavernas insinuavam
capacetes de astronautas que vieram à Terra.
Escrevi que, piloto de corrida e motoqueiro,
usam capacete também. Capacete não foi feito
só para astronauta. E se o capacete que o defen-
sor dos etês supõe, fosse o desenho de algo na
cabeça do homem antigo para não ser mordido
pelas abelhas lá no passado, como fazem os a-
picultores hoje? Que diferença, não é, mestre?
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Aí a pergunta deveria ser: Eram os deuses api-
cultores?
Mestre, certa vez, mestre, vi um anúncio
num jornal informando que alguém precisava
de vendedor de cocadas. Fui lá.
O dono era um oriental. Perguntou se eu
tinha carro. Disse-lhe que eu tinha um Dauphi-
ne, preto, ano 60. Ele não ficou sabendo que
aquele carro só andava empurrado e só me dava
vexame. Tinha cavalos no motor, mas eu era o
burro de carga que o puxava sempre.
O empresário disse-me que meu carro
servia, mas me explicou que eu tinha de me a-
daptar ao sistema de vendas da fábrica: levar as
caixas escondidas no carro.
Comecei a vender. Vender não; comecei
a dar as caixas, porque se deixava de graça, em
consignação e, depois, na outra visita, se tives-
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sem sido vendidas, recebia o dinheiro e deixava
outras. Deixei umas mil caixas nos botecos. Era
de graça!
O negócio cresceu tanto que arranjei um
sócio nas vendas, mas sem consultar o japonês.
Meu sócio era muito ambicioso e quis
incrementar as vendas. Fez folhetos e tudo o
mais. Os folhetos diziam: “Cocada do Nepal,
você nunca viu algo igual, têm sabor de nirva-
na, é celestial!”
Mas os folhetos continham “um erro”
grave: indicavam o endereço da fábrica!
Meu sócio levava às vezes umas 100 cai-
xas de uma vez. Só que ele estragou tudo por-
que seu veículo era uma velha... “lambreta”.
Quando, certo dia numa avenida, não se
via nem o condutor nem a lambreta, mas apenas
umas duzentas caixas passando, um apito trilou.
Eram os fiscais e a polícia. Pronto! Fecharam a
31
fábrica do japonês. Culpa do meu sócio, aquele
ambicioso.
O fabricante das cocadas quase me tritu-
rou. Me chamou de burro, me disse:
“Como é que sinhôro vai arranjá sócio
com veícuro rambreta e num mi avisa? No veí-
curo rambreta, fiscaro vê tudo! Buro! Dexô eu
no miséria.”
O mestre se espantava. Continuei regre-
dindo. Conforme combinado, só “nesta vida”.
Ele analisava tudo. Fui afundando no passado.
Contei:
- Mestre, além de eu tentar ser escritor,
fui mascate. Vendi roupa, chinelo, pente, sapa-
to, escova de dente, doce de leite. Fiz todo tipo
de sabão, esmalte e perfume. Fui camelô. “Ca-
melo” nunca deixei de ser, pois sou apenas
um pobre da plebe de Cepeilândia. Entrei em
32
dezenas de cursos e não fiz nenhum. Tudo deu
em nada. O que eu toquei nunca deu certo. Se
eu punha a mão, falhava. Nada virava ouro,
nem prata...nem lata!
- Calma, - disse o mestre - seus proble-
mas vêm das outras vidas anteriores. O senhor é
muito antigo, conhecido na História. Acho que
já foi um rico rei antigo. Naquele tempo o se-
nhor teve de tudo e, sendo assim, agora, pela lei
da compensação não pode ter nada. Acho que o
senhor já foi o rei Midas!
- Eu já lhe disse, mestre, não quero saber
dessas teorias de terapeutas americanos.
O mestre não discutiu comigo. Apenas
recomendou que eu tinha que fazer mais alguns
dias de análise. Aceitei. Enquanto isso me lem-
brei que tinha feito um meio curso de detetive
particular por correspondência e, sem o chinês
33
saber, comecei a investigar todas as fichas dos
clientes atuais dele.
Fiquei pasmado quando terminei a inves-
tigação. Eu que sabia que Cleópatra, Marco An-
tônio e Júlio César, tinham sido personagens
únicos na História da humanidade, percebi que
os clientes do mestre, ainda todos vivos, efetu-
ando a regressão descobriram que: 1382 havi-
am sido Cleópatra, 327 tinham sido Marco An-
tônio, 56 foram Júlio César, e uns dez mil ti-
nham sido Calígula!
Ora, eu que já não entendia como duas
pessoas vivas ao mesmo tempo, podiam ter sido
o mesmo alguém no passado; imagine um mon-
te!
Voltei para a última consulta.
Eu estava deitado de olhos fechados no
divã. O mestre disse:
34
- Agora o senhor já está sessenta anos
para trás na sua vida. É um bebê. Chegue mais
longe... onde o senhor está agora?
- Estou no ventre de minha mãe.
- Afunde mais no passado...e agora?
- Sou feto.
- Mais!
- Sou embrião.
- Mais um poquinho...
- Sou agora uma mistura de duas células
sexuais humanas, o espermatozoide masculino
e o óvulo feminino, o chamado ovo humano ou
zigoto.
- Vai...vai mais, gafanhoto...vai!
- Sou espermatozoide, uma célula sexual
viva vinda de meu pai. Estou agora numa corri-
da acelerada e chegando em primeiro para na-
morar o óvulo, a célula sexual viva de minha
mãe.
35
- Afunde mais no tempo, já vamos saber
tudo o que o senhor foi. Quero saber sobre as
outras vidas, bem antigas!
- Não consigo, mestre. Não dá. A coisa
parou aqui. Não vai mais para trás. Parei no
espermatozoide namorando o óvulo. E ouça:
aqui, para mim, há a maior das descobertas:
óvulo e espermatozóide já são vivos. A vida
deles não veio de nenhum lugar místico para
entrar neles. Já eram vivos, sequências, pedaci-
nhos vivos de meu pai e de minha mãe. Ora, se
estas células não fossem vivas eu não teria nas-
cido. Minha regressão terminou aqui. Eu não
fui Cleópatra nem Marco Antônio ou outro. E
igual a eu nascem o boi, a vaca, o cão, o leão, o
gato, o jumento. Todos, eu e eles, somos produ-
tos da união de duas células já vivas que não
adquirem vida de nenhuma outra dimensão ou
lugar. E tal união de células, tanto se dá natu-
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ralmente pela relação sexual como por meio de
um tubo de ensaio na inseminação artificial.
Mesmo o moderno clone tem que ser produto
da fusão de duas células vivas, sendo uma se-
xual feminina e outra qualquer. Nem o vento
consegue levar este fato. Isto é verdade absolu-
ta! A “nova vida” vem de pedacinhos já vivos
que se juntam e através de processos físícos-
químicos continuam a viver sem nenhuma in-
terferência mística do além, do aquém, e de
mais ninguém.
Ouvi o mestre engasgar-se e murmurar,
“Será que o gafanhoto está tendo pesadelos?”
Ele estalou os dedos e me mandou acor-
dar.
O chinês pensava que eu tinha dormido
durante todas as análises que fizera em mim.
Por isso imaginava que eu não lembrava de na-
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da. Mas eu não dormira e sabia tudo o que dis-
sera o tempo todo. Como aconteceu? Assim:
Eu sou estrábico, totalmente caolho. Lá
em casa todo mundo é, desde neto até avô.
Quando parece que estou olhando bem nos o-
lhos de uma pessoa, na realidade estou vendo é
o canto direito a noventa graus como se meu
olho fosse o orifício da orelha. Quando o chinês
balançava o pêndulo na minha frente para que
eu dormisse, eu parecia estar olhando para ele,
mas só enxergava o que estivesse no meu lado
direito a noventa graus, como se visse com a
orelha. Não via o balanço da coisa. Aí, quando
ele falava..."agora durma"...eu só fechava o o-
lho e fingia dormir. Não sei se ele já tivera um
cliente caolho antes. Assim, caiu do cavalo.
Quando eu ia saindo pela última vez do
consultório do analista do Butantã para viajar
de volta à minha terra natal, a minha querida
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Cepeilândia, um novo cliente do doutor, eufóri-
co me disse:
- Eu já fui Alexandre Magno, O Grande,
conquistador do mundo no passado. Persona-
gem tão famoso que nem o vento levou da His-
tória. Ele morreu de febre, ainda jovem em ple-
na glória no Egito. E por eu já ter sido Alexan-
dre no passado, hoje - segundo disse o mestre
analista do Butantã - tenho muito calor e acordo
suado às noites. Meu calor e meus suores são
lembranças, vestígios da febre que matou Ale-
xandre e que carrego comigo nesta nova vida. E
você, velhinho, descobriu quem foi?
Respondi:
- Ah, filho. Eu fui coisa bem mais sim-
ples. Fui um espermatozoide, O Pequeno! Olha
aqui, nem o vento leva esta afirmação. Jamais
fui mais do que um espermatozoide. É pe-
queno, mas para vê-lo vivo, basta um micros-
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cópio. Quem lida com bebê de proveta ou qual-
quer tipo de inseminação artificial sabe disso.
Como posso negar essa minha vida passada?
O rapaz me olhou e franziu a testa como
se não tivesse entendido nada. Enquanto eu saí-
a, ouvi quando ele dizia baixinho para si mes-
mo, pensativo:
- Esp...esper...espermato...zoide? Já ouvi
falar em tantos reis, rainhas, heróis, vários per-
sonagens da História. Mas nunca ouvi falar nes-
se! O que terá sido esse...esse... grego?
***
Algum tempo depois voltei ao Brasil. Fui
fazer uma visita ao mestre para lhe dizer que eu
enviaria meu original, “...Nem o Vento Le-
vou!”, para uma editora. E já que eu não ficara
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curado da gagueira, queria perguntar ao mestre
o que ele achava sobre eu escrever um livro
com o título “O DIÁRIO DE UM GAGO”.
Mas tive uma terrível surpresa. O consul-
tório do mestre estava fechado e, na porta, uma
nota das autoridades dizia:
“CLÍNICA ORIENTAL DE ORIENTAÇÕES -
LACRADA PELA JUSTIÇA”.
Os vizinhos da clínica me disseram que a
polícia descobrira que o “Doutor” não tinha
diploma nenhum, e que nunca fora médico nem
terapeuta psicológico. Era um homem que se
fazia passar por analista. Mas que não havia
sido preso; fugira para as montanhas do Tibete,
lá perto do fim do mundo, antes que a polícia
chegasse.
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John Fellinus é pseudônimo de um autor brasileiro que escreve com
exclusividade para as publicações eletrônicas da
iEditora - SP
Os livros de John Fellinus são curtos, mas objetivos e
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