Tempo Livre Junho 2011

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TempoLivre N.º 227 Junho 2011 Mensal 2,00 www.inatel.pt Estreia no Trindade Rogério Samora regressa ao teatro Lugares Mouraria Paixões José Ruy Viagens Jordãnia Memória António Silva

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TempoLivreN.º 227Junho 2011Mensal2,00 €

www.inatel.pt

Estreia no Trindade

RogérioSamoraregressaao teatro

Lugares Mouraria Paixões José Ruy Viagens Jordãnia Memória António Silva

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Sumário

Revista Mensal e-mail: [email protected] | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: CarlosMamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Costa Santos, António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Humberto Lopes, JoaquimDiabinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lurdes Féria, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, MariaMesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, BaptistaBastos, Fernando Dacosta, Joaquim Letria, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA, Telef.210027000 Fax: 210027061 Publicidade: Direcção de Marketing (DMRI) Telef. 210027189; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA -Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade naD.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 157.390 exemplares

Na capaFoto: José Frade

20ENTREVISTA

Rogério SamoraMuito conhecido pelos seustrabalhos em televisão e nocinema, o actor RogérioSamora,depois de umafastamento de sete anos,regressa ao teatro. Divide opalco com CuchaCarvalheiro em 'Casamentoem jogo', uma comédiadramática. O pano sobe a17 de Junho, no Trindade.

5 EDITORIAL

6 CARTAS

8 NOTÍCIAS

16 CONCURSO

DE FOTOGRAFIA

42 PATRIMÓNIO

Património, Moinhode Papel de Leiria

44 INATEL CULTURA

“Sinfonia Imaterial”em circuito nacional

48 MEMÓRIA

António Silva

52 OLHO VIVO

54 A CASA NA ÁRVORE

79 O TEMPO E AS PALAVRAS

Maria Alice Vila Fabião

80 OS CONTOS

DO ZAMBUJAL

82 CRÓNICA

Fernando Dacosta

57 BOA VIDA

74 CLUBE TEMPO LIVRE

Passatempos, Novos livros e Cartaz

26LUGARES

Salvar a MourariaCriada em 2008, a partir de ummovimento de cidadãos e moradores,a “Associação Renovar a Mouraria”quer travar a degradação urbanística esocial do histórico bairro lisboeta.Objectivo central: a revitalizaçãourbanística, social e cultural daMouraria, onde o próprio autarca dacapital, António Costa, igualmenteempenhado na regeneração do bairro,instalou o respectivo gabinete.

30PAIXÕES

José Ruy, o Mestre BDJosé Ruy, um dos mais prestigiadosautores portugueses de BandaDesenhada, com ilustraçõespublicadas em 83 livros dos quais 46são de histórias aos quadradinhos,completou, no ano em que comemorao seu 81º aniversário, 50 anos deligação à Inatel

34VIAGENS

Nos caminhosde Lawrence da ArábiaA revolta árabe contra a ocupaçãootomana partiu dos territórios daactual Arábia Saudita e do desertojordano. Por aí, e com os revoltosos,andou o inglês Lawrence da Arábia,que escreveu sobre a rebelião em «OsSete Pilares da Sabedoria». Nessasparagens sobrevivem, também,testemunhos de arte e arquitecturaislâmica medieval, os chamados“castelos do deserto”.

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Editorial

Vítor Ramalho

Qualidade e competitividade

OConselho de Administração apresentoudurante a primeira quinzena de Maio aosConselhos Fiscal, Consul tivo e Geral orelatório e as contas de 2010 para obter

destes órgãos os respectivos pareceres que sãonecessários, nos termos estatutários, para a eventualhomologação da Senhora Ministra do Trabalho e daSolidariedade Social a quem o diploma foi enviadopara o efeito.

Dele resulta que as actividades projectadaspara 2010 nos vários domínios da Fundaçãoforam, no essencial, realizadas, inclusive nosprogramas inovadores que a tempo se anuncia-ram, apurando-se nas contas um desvio negativode 323.000 euros. Este desvio ficou muito aquémda previsão que a partir do momento em que osefeitos da crise mais se fizeram sentir passaram aser estimados.

O facto de o desvio negativo das contas de2010 ser significativamente inferior à estimativadeveu-se às medidas de contenção que, emtempo oportuno, foram tomadas, sem se afrouxa-rem as despesas de investimento, fundamentaispara o futuro da instituição e de todos quantosnela trabalham.

É por essa razão que no ano em curso asrequalificações nos vários equipamentos orçamuma verba de dez milhões e quinhentos mileuros, representando um esforço pouco comumna actual conjuntura. Não os regateámos a favordo futuro!

Atentos ao quadro existente, que afecta aprocura de bens e serviços por quebra no con-sumo, é vital que, já consolidados ou em curso,os objectivos traçados à data da tomada deposse do Conselho de Administração, priorize-mos agora a dinâmica comercial, em especialnas agências, conceito que foi adoptado em

detrimento de delegações exactamente comesse propósito. Este objectivo que se vai ence-tar agora com maior dinâmica não vai prejudi-car, nem tal faria sentido, a necessidade de per-sistirmos quer na defesa da qualidade dos ser-viços que prestamos quer na procura de novasoportunidades de negócios, fundamentais paraa defesa da nossa competitividade e indis-pensáveis para o aprofundamento do universodos nossos beneficiários que são a razão de serda Fundação Inatel.

Como disse na tomada de posse, Romae Pavia não se fizeram num dia.Porque os beneficiários são a nossarazão de existência, este número da

revista evoca o nome de um beneficiário commais de 50 anos de associado, José Ruy, persona-lidade que se tem caracterizado por uma activi-dade impar na banda desenhada do nosso país.

Ao falar de José Ruy falo da cultura, um domí-nio tão importante das nossas actividades.Aconselhamos o leitor a propósito a não perder apróxima peça produzida pelo Teatro daTrindade, “Casamento em Jogo”, que vai estrearno dia 17 do próximo mês de Junho e que terácomo únicos actores Cucha Cavalheiro e RogérioSamora, que são a garantia antecipada de êxito.

No mais, encontrará ainda neste número daTempo Livre razões de sobra para o privilégioque é ser associado da Inatel numa conjunturatão difícil.

Aproximando-se o início da época estival,aproveito ainda este editorial para o convidar noperíodo que se aproxima a usufruir das nossasinstalações hoteleiras, cada vez mais apelativas aum repouso efectivo com múltiplas ofertas. Valea pena. n

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Cartas

Viagens Inatel

“Sr. Provedor, recebi há dias a revista edebrucei-me sobre os programas de viagens,duvidando do que me parecia tratar-se dealguma incoerência e, porque me deslocoregularmente a Santarém, decidi contactar adelegação e esclarecer-me devidamente(…)sobre um programa de seis dias em Albufeira,na unidade da Fundação ou seis dias noperíodo da Páscoa em Marbelha. E a minhasuspeita confirmava-se: Marbelha em períodoPascal custa apenas mais 13 Euros queAlbufeira fora do período Pascal…

Atente-se:- A Fundação não tem fins lucrativos e

recebe apoio financeiro do Estado, leia-secontribuintes!

- Não sei as distâncias que separam a origemcada um dos destinos, mas creio que Marbelhaficará seguramente a mais do dobro dedistância de Albufeira!

- Desconheço as tabelas salariais dostrabalhadores de ambos os locais mas arrisco aapostar que os Espanhóis são, seguramente,mais bem pagos!

- A unidade hoteleira espanhola é privada!- Até o suplemento para quarto individual é

superior na unidade da Fundação: 107 cá, 100lá.

Palavras para quê? Efeitos da gestão VitorRamalho? O que se passa!

Sei que não o fará, mas adorava quemandasse publicar na próxima edição o meureparo!”

Silvestre Pedrosa – Assocº 263686

Resposta“Tenho presente o email que enviou ao SrProvedor a respeito da comparação com viagensa Marbella e à nossa Unidade Hoteleira doAlgarve e na qual tece considerações a respeitoda gestão assegurada pela minha pessoa naFundação Inatel, no que tem todo o direito.Permito-me, porém, informá-lo não ser exactodizer que a Fundação Inatel recebe hoje apoio dedinheiros públicos para a sua gestão.Os dinheiros que são concedidos à Fundaçãodestinam-se a programas governamentais e esses

apoios são de 1/5 das verbas globais despendi-das. Ainda assim, desde que iniciei funções atéhoje, a percentagem desses apoios diminuiu sig-nificativamente, os demais apoios, irrisórios, noconjunto das verbas que são afectas à gestão emconjunto com as que acima refiro diminuíramem três anos - os que levo de gestão - cerca de25%!Ainda assim, e como admito que saiba, é possí-vel este ano efectuarem-se investimentos nosequipamentos da Fundação (Parque de Jogos 1ºde Maio, Oeiras, Vila Nova de Cerveira,Manteigas, Porto Santo entre outros), de cerca dedez milhões e meio de euros e o edifício “velho”(de Albufeira) será reabilitado integralmente apartir de Outubro do corrente ano com umencargo aproximado de seis milhões de euros.Obviamente que todos os directores daFundação Inatel fizeram o seu melhor mas agra-deço-lhe que com objectividade avalie se não épor esta via que se prepara o futuro, procurandoconceder melhores condições aos associados.Sei que Roma e Pavia não se fizeram num dia,mas sei também que as duas viagens que refere,a Albufeira e a Marbella são preparadas pelaFundação e, no caso de Albufeira, há regime dereciprocidade com Espanha e os nossos vizinhosnão têm suscitado problemas.A explicação que precede serve ainda para infor-mar V. Exa. que hoje a Fundação Inatel é, por issomesmo, uma Fundação privada embora de utili-dade pública que tem de caminhar para a suaauto-sustentação.Vítor Ramalho,Presidente da Fundação INATEL

50 anos na INATEL Completaram, este mês, 50 anos de ligação àFundação Inatel os associados: Aníbal Sousa,Almada; José Carlos Carvalho, Cascais; AlbertoAlexandre Pires e Manuel V. Fonseca, Lisboa;José Joaquim Antunes, Porto; José AlbertoEsteves, Oeiras.

A correspondênciapara estas secções

deve ser enviadapara a Redacção de

“Tempo Livre”,Calçada de Sant’Ana,

nº. 180, 1169-062Lisboa, ou por e-mail:

[email protected]

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l A Fundação INATEL em colaboração

com José Prudêncio dinamiza, nos

meses de Junho e Julho, uma série de

quatro workshops sobre a temática da

Auto-Gestão e Desenvolvimento

Pessoal, denominados "Filosofia para

as Pessoas". Os quatro workshops

podem ser frequentados

individualmente ou em conjunto, como

um Curso Prático de Filosofia para a

Vida.

Esta acção está agendada para os

sábados, dia 25 de Junho e 2, 9 e 16 de

Julho, das 9h às 13h no Teatro da

Trindade, em Lisboa.

José Prudêncio é Professor de Filosofia

e Consultor de Astrologia & Filosofia,

com uma larga experiência na área.

Notícias

l Relatório e Contas referente ao anode 2010 da Fundação Inatel, depois deobtidos os pareceres favoráveis dosConselhos Fiscal, Consultivo e aaprovação do Conselho Geral, foienviado para homologação à SenhoraMinistra do Trabalho e daSolidariedade Social. No essencial,cumpriram-se com êxito em 2010 osobjectivos traçados para os váriosdomínios das actividades da Fundaçãoinclusive em programas inovadorescomo o Turismo Educativo Júnior, oTurismo da Natureza, o TurismoReligioso, as Escolas Desportivas, oCampeonato Mundial de Parapente, aadesão à UNESCO, a criação daAssociação CIOFF, entre muitas outrosprosseguindo a racionalizaçãoadministrativo-financeira, que nãoexcluiu actualizações salariaisnegociadas com os sindicatos.Procedeu-se, ainda, ao início da

uniformização da imagem dasAgências e prosseguiram osinvestimentos para a requalificaçãodos equipamentos adequando-se asactividades à legislação em vigor.

Estão neste momento em curso 26frentes de trabalho que vão desde aintegral requalificação da UnidadeHoteleira de Vila Nova de Cerveirapassando pela modernização dosapartamentos, como outras infra-estruturas em Oeiras até à conclusãodas obras de beneficiação da Foz doArelho e à remodelação do mobiliárioem Porto Santo entre muitas outras. Deigual modo a execução da empreitadapara a zona das crianças no Parque deJogos 1º de Maio está em vias deconclusão, já foi aprovado o projectode licenciamento para o inicio daexecução da Unidade Hoteleira dapraia de Albufeira, que se projectainiciar em Outubro próximo, foi

concluída a piscina de Manteigas eperspectiva-se a apresentação dacandidatura ao QREN da Unidade doLuso, uma vez que já se obteve olicenciamento da Câmara Municipal.

Prosseguem entretanto a bom ritmoos licenciamentos exigíveis pelosEstatutos e já se iniciaram os trabalhosdo Projecto Calypso da U.E. no qual aFundação é parte.

Quanto às contas, apurou-se umdesvio negativo de 323 mil euros,muito significativamente inferior aoestimado, em resultado da diminuiçãoglobal da procura determinada pelacrise. Este desvio, inferior ao estimadorepete-se, ficou a dever-se àracionalização dos custos e àreponderação do orçamento previstopara 2010 - com cortes atempadossignificativos em várias rubricas, quese vieram a revelar correctos - assimcomo à redução de passivos nãocorrentes.

O Conselho de Administraçãoreconhece, por outro lado, o esforço detodos os trabalhadores em geral nosresultados alcançados e reitera anecessidade de todos, sem excepção,reforçarmos a acção futura numalógica crescentemente comercial, queouse, em todos os domínios comimaginação, alargar a base deassociados, fazer crescer as vendas debens e serviços racionalizando aindamais os custos, com controlo dedesperdícios.

Relatório e Contas 2010

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"Filosofia para as Pessoas"

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l Promovido pela Inatel, no âmbitoda actualização de elementosrelativos à inscrição dos associado daFundação, realizou-se no passado dia16 de Maio, na presença de umarepresentante do Governo Civil deLisboa, o sorteio que contemplou osseguintes associados:Viagem aos Açores: estadia paraduas pessoas na Inatel Floresdurante 4 noites . Joaquim Branco Mourão, dePedrógão (sócio: 481270);Duas noites em unidades hoteleirasda Inatel (épocas Média ou Baixa). Vitor Francisco da Costa Nunes, deAveiro, (sócio:121930);. Ana Sofia Saleiro Mateus, de Póvoade Santo Adrião (sócia: 490106);. João José de Oliveira Elvas, de Ovar

(sócio: 372791); . Ana Isabel Martins Figueiras, deLoulé (sócia: 434411); . Maria de Lurdes Cunha S. Freitas, deFunchal, (sócia: 479100);. João Manuel de Jesus Gaspar Vieira,de Santarém, (sócio: 70551)Os prémios são válidos atéDezembro/2011 e os interessadosdeverão contactar a Direcção deMarketing e Relações Internacionais,e-mail: [email protected]

"A CulturaTradicional noEstado Novo"

l Decorreu no dia 27 de

Abril, no Teatro da Trindade,

o lançamento do livro " A

Cultura Tradicional no

Estado Novo" de João Lopes

Filho, escritor cabo-verdiano,

recentemente galardoado

com o Grande Prémio

Sonangol, e autor de

"Agrupamentos de Folclore,

ontem e hoje", também

editado pela Inatel. "A

Cultura Tradicional no

Estado Novo" é um estudo

que nos dá uma perspectiva

da vida cultural do País nos

anos 30, através da análise

do V Congresso do Instituto

do Vinho e da Vinha e do II

Congresso Médico para o

Estudo Científico do Vinho e

da Uva em Portugal. A obra

foi apresentada pelo Prof.

Luis Reis Torgal, da

Universidade de Coimbra.

Usou ainda da palavra, na

sessão, a vogal da

Administração da Inatel,

Cristina Baptista. A obra

pode ser adquirida através

da Fundação INATEL.

l No âmbito do programa de reabilitação de diversas agência e unidades hoteleiras

da Fundação - casos de Cerveira, Caparica, Foz do Arelho, Albufeira, Oeiras e

palácio do Barrocal, em Évora - está já a funcionar uma moderna e bem equipada

piscina coberta na Inatel Serra da Estrela, em Manteigas.

Sorteio INATELcontempla sete associados

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Manteigas

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l Lisboa tem um plátano descendentedo mais antigo e famoso plátano doMundo - uma árvore existente na Ilhade Cós (Grécia), debaixo da qualHipócrates, "pai da medicinamoderna", teria dado consultas.

Quando a cronista Susana Nevesescreveu "O Presente Grego" (A Casana Árvore, TL nº 183, Junho 2007)relatando a forma como descobriueste "Platanus Orientalis L." no Jardimdo Príncipe Real (perto da Rua doJasmim), oferecido nos anos 50 aLisboa, pelo Rei Paulo da Grécia (paida actual Rainha Sofia de Espanha), oespécime de grande porte, estavacheio de lixo e rodeado de fioseléctricos.

Hoje é "árvore classificada deInteresse Público", ou seja, éconsiderada "Monumento Vivo", tem"um estatuto similar ao do património

construído classificado" e está sujeitaa protecção legal específica,supervisionada pela AutoridadeFlorestal Nacional (AFN).

Tendo como documento de

fundamentação a crónica publicadapela "Tempo Livre" (única revista emPortugal que reserva mensalmenteduas páginas ao jornalismo deinvestigação botânica, igualmenteraro), Paulo Ferrero, António BrancoAlmeida e Júlio Amorim,representantes do Fórum deCidadania de Lisboa(http://cidadanialx.blogspot.com/),solicitaram a 2 de Dezembro de 2009,a classificação do plátano histórico,ao então Presidente, Eng. AntónioJosé Rego e ao Director-Regional, Eng.Paulo Mateus, da AFN. Decorridosmais de cinco meses, no dia 15 deJunho de 2010, a sua classificaçãoseria finalmente anunciada no "site"do Ministério da Agricultura(http://www.afn.min-agricultura.ptgestao-f/portal/aip/2010-avisos-n-9-2010).

TL defendeu plátano histórico de Lisboa

Notícias

l Na Sala Macau da FundaçãoOriente, teve lugar o lançamento dolivro de Mário Soares "No Centro doFuracão". Apresentada por ArturSantos Silva, que lembrou o decisivo

papel do antigoPresidente daRepública naconsolidação daDemocraciaportuguesa, a obraconstitui um lúcido eactualíssimo contributopara o debate sobre opresente e futuro de

Portugal enquanto naçãoeuropeia. Soares usou também dapalavra, acentuando a grave crise daEU e lamentando o papel das"famílias políticas que fizeram a

Europa". Segundo o histórico lídersocialista "os partidos que seassumem como democratas-cristãostornaram-se populistas ou populares,com uma estrutura neo-liberal muito

vincada"e os socialistas "deixaramtambém de ser socialistas, sobretudocom Blair e a terceira via, com umaestrutura que nada tinha a ver com osocialismo democrático".

"No Centro de Furacão"

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l Na Galeria de Arte do Casino doEstoril continuam patentes, até 21 deJunho, duas exposições individuais, umade Pintura, de Alfredo Luz e outra deEscultura, de Jorge Pé-Curto.

Alfredo Luz nasceu em Rio Meão( Stª Maria da Feira, 1951). Fez ocurso de Artes Visuais e leccionouEducação Visual de 1975 a 1985,ano em que passou a dedicar-seapenas à Pintura. É titular de umaescrita neofigurativa, em que umsurrealismo mágico sempre estápresente, com uma subtil mensagemde sentido humanista, de respeito

pela natureza e pelos seres que ahabitam. O título desta suaexposição é "Lavrando o Mar", nãocom os arados que rasgam a terra,mas com as proas dosbarcos que sulcam aságuas.

Jorge Pé-Curto, naturalde Moura (1955), resideem Almada desde 1965.Cursou escultura naEscola António Arroiocomo bolseiro daFundação Gulbenkian. Foiprofessor do ensino oficial

durante 17 anos e expõe na Galeria deArte do Casino Estoril desde 1972. Éum autor pluridisciplinar, comactividade desenvolvida nas áreas da

cerâmica, da pintura, docartaz e da gravura,sendo, porém, naescultura que, a partir dosanos oitenta, passou acentrar a sua actividadeartística, em trabalhos deformato normal, mastambém em obraspúblicas de grandedimensão.

Alfredo Luz e Jorge Pé-Curto na Galeria de Casino Estoril

l O Fado, um dos ícones dacultura nacional, candidatoa Património Imóvel daHumanidade, é o grandemote das Festas de Lisboa2011, a decorrer até final deJunho, em vários espaços dacapital.

"A linha do fado vaipassar por toda aprogramação das festas",incluindo concertos, comvários fadistas, no Castelode São Jorge, Chapitô ou naFábrica de Braço de Prata,proporcionando, desta forma, que "ofado chegue a novos públicos e atinjanovos horizontes", anunciou MiguelHonrado, da EGEAC, entidadeorganizadora do evento.

Mas nem só do Fado viveráLisboa durante todo o mês de Junho.A cidade contará com iniciativaspara todos os gostos e idades,incluindo exposições, concertos,mostras gastronómicas e deartesanato, espectáculos circenses de

rua, peças de teatro e dança, bailesou animação nos transportespúblicos, sem esquecer astradicionais e animadas MarchasPopulares que irão igualmentedesfilar no Pavilhão Atlântico, nosprimeiros dias de Junho, seguindo-se, dia 12, o desfile na Avenida daLiberdade, com Marrocos como paísconvidado.

A autarquia teve ainda apreocupação de que as festaschegassem a um maior número de

pessoas, disponibilizando oprograma do evento emBraille e tendo diversasiniciativas que irão decorrerem simultâneo comlinguagem gestual, tal comaconteceu na apresentação,que decorreu no cinema S.Jorge.

A sardinha é a imagemde marca das Festas deLisboa 2011, embora, esteano, com algumapeculiaridade: "Queremos a

tua sardinha!" foi o desafio lançadopela organização para quem quisesseparticipar e desenhar uma sardinhaao seu gosto. Das 2800 concorrentesforam seleccionadas 15 oriundas devários pontos do país.

O Turismo de Portugal e o Turismode Lisboa estão entre os parceirosinstitucionais. Na ocasião estiveramainda presentes a Vereadora daCultura da autarquia de Lisboa,Catarina Vaz Pinto, e a embaixadorade Marrocos, Karima Benaichy.

Lisboa festeja o Fado

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Notícias

l Évora recebeu, em Maio, uma dasmais prestigiadas provas de Ciclismode Estrada do Mundo, para Amadorese Veteranos, o GranFondo EddyMerckx Portugal.

Inserida num conjunto de setecompetições, espalhadas pelo mundo(duas nos EUA, e as restantes naAustrália, Suíça, Eslovénia e Bélgica)com fase final na Bélgica, a ediçãoportuguesa - 230 participantes - teveum percurso de 157km, com início echegada no Templo de Diana, epassagem por Reguengos deMonsaraz, Monsaraz, Redondo,Estremoz, Évora-Monte e Azaruja.

Destaque para a presença de umahistória figura do ciclismo mundial, ocampeoníssimo Eddy Merckx,padrinho do evento e que se fezacompanhar pela sua antiga equipa,Monteni.

l Duzentos atletas portugueses eespanhóis disputaram o "24 HorasBTT Estádio Algarve", iniciativa daAltimetria-Associação Desportiva,com o patrocínio da Inatel. Com umPrize Money de dois mil euros, aprova - um circuito de resistênciacom 9,5 quilómetros de extensão apartir do Parque das Cidades -teve a participação de 21ciclistas a solo (entre os quaisuma mulher), bem como seisduplas masculinas e trêsfemininas, dez quadrasmasculinas e uma feminina eainda 17 equipas de seiselementos masculinas e umafeminina.

Para Nuno Guerreiro,presidente da Altimetria, à

excepção das condiçõesmeteorológicas, "o pior adversário dosparticipantes", a primeira edição destaprova dedicada aos adeptos do BTTcumpriu as expectativas daorganização, com um "excelentenúmero de participantes, tantonacionais como de Espanha, o que

revela o crescente interesse por estamodalidade que associa o convívio àprática desportiva, num ambiente dealegria e competição saudável."

Caracterizado por single tracks etúneis, a exigirem grande perícia eresistência física, o circuitopercorrido pelos ciclistas, com

passagem obrigatória pelointerior dos dois torreõeslocalizados junto ao estádio,foi elogiado pelosparticipantes, tanto pelo seuelevado grau técnico, comopelas zonas onde era possível"relaxar e deixar a bicicletaandar tranquila". A prova teveo seu ponto alto amanhã coma realização de uma subida emespiral às bancadas do estádio.

A vitória coube ao português JoséSilva, campeão nacional de Masters,seguido do dinamarquês Fjord Keld e,em terceiro lugar, outro português,Rui Rodrigues.

A prova feminina foi ganha pelaciclista irlandesa Jane Kilmartin.

Organizada pelo Grupo Desportivodo Bairro de Santo António, a provateve o apoio da Fundação Inatel e dasautarquias eborenses que integravamo respectivo trajecto.

Grandfondo Eddy Merckx

24Horas BTT Algarve

12 TempoLivre | JUN 2011

"Desafiodo Coração 2011"

l O Estádio Universitário

foi palco, nos dias 12, 13 e

14 de Maio, do "Desafio do

Coração 2011", uma

iniciativa da Fundação

Portuguesa de Cardiologia

com o objectivo de alertar a

população em geral para a

adopção de estilos de vida

mais saudáveis assim como

para as doenças do coração

que assolam grande parte

da população portuguesa.

Com o apoio, uma vez mais,

da Inatel, que organizou

aulas de ginástica, o evento

registou a participação de

milhares de jovens e

adultos.

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Notícias

14 TempoLivre | JUN 2011

l A Fundação Inatel celebrou, em Maio,

com a Coração Delta - Associação de

Solidariedade Social um protocolo de

cooperação institucional mútua nas

actividades de lazer, cultura e desporto,

ligadas ao aproveitamento dos tempos

livres dos seus associados e beneficiários.

A Coração Delta esteve representada pelo

seu presidente, Manuel Rui Azinhais

Nabeiro, cujo exemplo de honorabilidade,

rigor e visão empresarial de dimensão

social foi salientado por Vítor Ramalho,

presidente da Inatel.

Coração Delta

l "A falta de planeamento e dearticulação" foi a razãoinvocada pelo Mestre emDesporto, Fernando Melo, emPonta Delgada, na conferênciaInatel "Factores deDesenvolvimento Desportivo",ao assinalar as carências naconstrução de equipamentosdesportivos na ilha de S.Miguel.

Baseado no estudo feitosobre as estruturas desportivasexistentes nos concelhos de RibeiraGrande, Ponta Delgada e de VilaFranca do Campo, Fernando Meloabordou os bons exemplos de muitosequipamentos, destacando anecessidade de ficarem adstritos àsescolas.

No período de debate, moderadopelo jornalista José Silva, algunsparticipantes falaram nas falhasexistentes nas construções recentesdos pavilhões das escolas de VilaFranca do Campo, Ponta Garça (aindapor inaugurar), do Colégio doCastanheiro e do multiusos de VilaFranca do Campo, sendo, também,

criticada a obra do complexo depiscinas da Povoação - que deveráreabrir ainda este mês, após quasedois anos encerrado - esperando queeste exemplo não ramifique para apiscina de Nordeste, que ainda nãoentrou em funcionamento poraguardar a chegada dosequipamentos.

Fernando Melo apresentou gráficosinteressantes acerca da disparidadeentre a prática desportiva no universomasculino e feminino, no números deatletas federados e não federados eainda na longa distância existenteentre o número daqueles que

praticam futebol e outrasmodalidades.

O prestigiado professor daEscola Secundária dasLaranjeiras lamentou, ainda,perante a centena de presentes,a preocupante tendência dosalunos para a fuga à actividadefísica. Entre o ano lectivopassado e o que está prestes afinalizar, verificou-se umacréscimo de nove por cento dealunos com o peso não

saudável, sendo este aumento de maisde 11 por cento no período de doisanos.

Os participantes foram recebidosao som das violas dos irmãos Rafael ede César Carvalho, que, no final,abrilhantaram a sessão com doisnúmeros do seu vasto reportório.

Presente na mesa da conferência, oadministrador da Fundação Inatel,Moreira Marques, presidiu, ainda, nofinal, à entrega das taças e asmedalhas às equipas e atletas que sedestacaram na época desportiva daINATEL nas modalidades de futsal ede ténis de mesa.

Torneio IbéricoMoniz Pereiral O Sporting venceu a III.ª edição do

Torneio Ibérico de Atletismo Professor

Mário Moniz Pereira, que contou com a

participação das equipas masculinas do

Sporting e do Playas de Castellón e

pequenas representações de vários clubes

nacionais, totalizando uma centena de

atletas. A equipa leonina venceu

colectivamente, com 47 pontos, um mais

que os espanhóis. De registar, ainda, os

triunfos individuais de Naide Gomes, em

comprimento, e Francis Obikwelu nos 100

metros.

AçoresConferência Inatel debateu equipamentos desportivos

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XV Concurso “Tempo Livre” Fotografia

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[ a ] Maria Correia, LisboaSócio n.º 55725

[ b ] Elisabete Teixeira, AmaranteSócio n.º 343708

[ c ] Maria Silva, CacémSócio n.º 493267

Menções honrosas

Regulamento

1. Concurso Nacional de Fotografia darevista Tempo Livre. Periodicidademensal. Podem participar todos osassociados da Fundação Inatel,excluindo os seus funcionários ecolaboradores da revista Tempo Livre.

2. Enviar as fotos para: Revista TempoLivre - Concurso de Fotografia, Calçadade Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.

3. A data limite para a recepção dostrabalhos é o dia 10 de cada mês.

4. O tema é livre e cada concorrentepode enviar, mensalmente, um máximode 3 fotografias de formato mínimo de10x15 cm e máximo de 18x24 cm., empapel, cor ou preto e branco.

5. Não são aceites diapositivos e asfotos concorrentes não serãodevolvidas.

6. O concurso é limitado aosassociados da Inatel. Todas as fotosdevem ser assina ladas no verso com onome do autor, morada, telefone enúmero de associado da Inatel.

7. A «TL» publicará, em cada mês, asseis melhores fotos (três premia das etrês menções honrosas),seleccionadas entre as enviadas noprazo previsto.

8. Não serão seleccionadas, nomesmo ano, as fotos de umconcorrente premiado nesse ano

9. Prémios: cada uma das três fotosse lec cio nadas terá como prémio duasnoi tes para duas pessoas numa dasunidades hoteleiras da Inatel, durantea época baixa, em regime APA(alojamento e pequeno almoço). Oprémio tem a validade de um ano. Opre miado(a) deve contactar a redacçãoda «TL».

10. Grande Prémio Anual: umaviagem a esco lher na Brochura InatelTurismo Social até ao montante de1750 Euros.A este prémio, a publicar na «TL» deSetembro de 2011, concorrem todasas fotos premiadas e publicadas nosmeses em que decorre o concurso.

11. O júri será composto por doisresponsáveis da revista T. Livre e porum fotógrafo de reconhecido prestígio.

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[ 1 ] José Gonçalves, Venda do PinheiroSócio n.º 284945

[ 2 ] Mafalda Pereira,Qta. do AnjoSócio n.º 236339

[ 3 ] João Vasco,QueluzSócio n.º 434109

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Entrevista

Como surgiu este regresso ao teatro, a esta peçano Trindade?No ano passado fiz um trabalho para televisãocom a Cucha Carvalheiro, e durante esse períodovárias vezes lhe disse: apetece-me tanto voltar aoteatro. Porque aqui estamos expostos, com muitomenos defesas: estamos nós, os que estão con-nosco, a nossa técnica e a nossa experiência eesse risco atrai-me. Estava a tentar dizer a mimpróprio: apetece-me voltar a ter aquele treinointensivo, pôr-me à prova.Há o músculo do teatro que precisa de sertreinado.Exactamente. E surgiu esta oportunidade. Estoucom problemas em fazer a gestão da energia e dosmeus tempos. Não sou de compreensão lentamas há alturas em que preciso de sozinho pensara personagem, analisar, perceber tudo paradepois ser mais fácil para mim brincar com ela.Não sou um actor rápido. Gosto de ir ao fundo da

personagem. Dá-me mais trabalho mas foi assimque me treinaram ou que eu me treinei. Gostodesse trabalho profundo. Às vezes saio daquiestoirado, quase nem consigo conduzir…É muito exigente, o teatro…Exige muita energia, temos os músculos todospreparados. Eu devia ter feito um treino prévioque não fiz, um treino de ginásio, de alta compe-tição. O actor é um atleta.Sim, desde o sensorial ao físico, ao mental, aomuscular, tem de estar tudo em forma, afinado,para naquela maratona de uma hora e vinte che-gar à meta, que é o fim da peça. Mas não estamoscom receio, e tem estado a correr muito bem. E émuito divertido trabalhar com a Cucha.'Casamento em jogo' é uma peça muito particu-lar…É de um autor controverso… Edward Albee temuma escrita muito inteligente. Tem momentos de

Rogério Samora"Ser actor enriqueceu-meenquanto ser humano…"

Muito conhecido pelos seus trabalhos em televisão e no cinema,o actor Rogério Samora está de volta ao palco, depois de umafastamento de sete anos. Não por falta de convites, que assegurater recebido. É bem - amado pela crítica e pelo público. Agora, em'Casamento em jogo', divide o palco com Cucha Carvalheiro,numa comédia dramática. O pano sobe a 17 de Junho e cai, pelaúltima vez, a 30 de Julho. No Trindade, claro.

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Entrevista

comicidade em que nós ficamos de boca abertacom a crueldade, que é cómica. A peça não é umdrama, não é uma comédia, mas faz rir, faz pen-sar, faz-nos ficar incrédulos: como é que se podedizer tal coisa, como é que durante 30 anos decasados se chega a esse limite? É um excelentetexto para os actores trabalharem, tem muitasportas abertas. E o caminho que a Graça Correianos está a indicar, a mim e à Cucha, está correc-to. Tudo ao longo de uma hora e vinte, sem inter-valo, só os dois em cena… É violento, não para oespectador, mas para nós. Exige uma atenção,uma concentração mas é o desafio da minha pro-

fissão. E desde que começou, já lá vãomais de 150 personagens…Estreei-me em 1978, numa comé-dia. Estava a acabar o Conse -rvatório. Fiz figuração numacomédia no Parque Mayer. Daípassei para o Teatro S. Luís, ondecomecei a ensaiar o 'Hamlet', quenão chegou a estrear, acabaramcom a companhia - coisas desecretários de Estado. Depois oMário Viegas aconselhou o meunome ao Filipe La Féria para pres-tar provas para um espectáculo efiquei na Casa da Comédia duran-te seis anos. Depois do teatro, ocinema e, depois, a televisão. É essencialmente um actor decinema?Gosto muito de cinema, talvez

porque domino a técnica.E já trabalhou com os principais realizadoresportugueses…Sim. Quase todos e com alguns da nova geraçãotambém. Mas isto de voltar ao teatro pode serbom. Talvez haja pessoas que nunca me viram noteatro, poderão ter curiosidade, querer ver-me aopé: ele é alto, é baixo, é gordo, é magro… E achoque o texto e o trabalho vai trazer pessoas, vaicorrer muito bem, de certeza absoluta. Foi uma boa opção ter escolhido a carreira deactor?Não escolhi, foi a vida que me levou. A minhaavó influenciou-me muito: começou a levar-memuito cedo ao cinema, ao teatro, à ópera, aoParque Mayer… Muitas vezes fui para o cinema

Royal, na Graça, porque a minha avó tinha quefazer e eu ficava a tarde toda no cinema, sozin-ho, com sete ou oito anos, porque o porteiro eraamigo da minha avó. E o cinema foi a melhorbaby-sitter que se poderia ter, o estar ali: actua-lidades internacionais, actualidades nacionais,um filme de cowboys e outro dramático, ou umfilme cómico e outro de cowboys. Eram dois fil-mes, era a tarde toda, era das 3 às 7 da tarde. Etudo isso me influenciou, só que nunca racio-nalizei. Fui levado pela vida, foi como se a vidame tivesse levado. Estou no liceu, começo afazer teatro na colectividade em Rio de Mouro,onde morava com os meus pais; depois noClube de Campismo do Concelho de Almada,depois no liceu de Queluz e depois foi umacoisa……Que se tornou avassaladora?Eu falava muito que queria ser arquitecto oumédico. Arquitecto devia ser por causa do lego;médico, devia ser por causa da minha avó, queeu gostava muito dela e ela era muito doente. E,de repente, sou levado para isto por colegas, poramigos, por esta tertúlia e o lado boémio que oteatro tinha. Hoje em dia já não consigo ser boé-mio, tenho que me levantar cedo, estar em forma,ter boa pele, ter cuidado com a voz, tenho quetentar dormir bem e fui levado.A família ficou surpreendida por esta escolha?A princípio, sim. Mas eu acho que foi por preo-cupação com o meu futuro, a preocupação eraassegurar um bom futuro para mim. Hoje, achoque têm orgulho. Mas contrariar-me não é muitobom e os meus pais sabiam disso. Se me contra-riam é coisa para eu fazer. A minha mãe já se foiembora e o meu pai tem orgulho, fica contente,gosta que as pessoas falem de mim. A carreira internacional nunca o estimulou?Não. Se calhar tudo o que eu mereço consigo tê-lo aqui. Portugal nunca me tratou mal. Nuncaestive desempregado e trabalho há 33. Já disseque não a alguns projectos, o que é difícil. Fizalguns filmes e telefilmes com produções com oestrangeiro mas fiz como faço tudo. Nunca tiveesse sonho de ser conhecido internacionalmente,de ganhar um Óscar, de fazer carreira internacio-nal, de ganhar mais dinheiro… Fui trabalhando,é uma profissão que me enriqueceu e continua aenriquecer enquanto ser humano. A cada trabalho que faço coloca-me muitas questões, sobre a

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“A peça não é umdrama, não é umacomédia, mas faz rir,faz pensar, faz-nosficarincrédulos…”“Não escolhi, foi avida que me levou. Aminha avóinfluenciou-memuito: começou alevar-me muito cedoao cinema, ao teatro,à ópera, ao ParqueMayer…”

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vida, sobre o ser humano. E eu gosto disso. Gosta desta vida e vê-se nestas artes de palco atéao fim?Às vezes apetece-me passar para o outro lado,para a realização, para a direcção, para a ence-nação. Mas depois digo: Não, sou mais feliz àfrente das câmaras, é muito chato estar atrás aaturar actores, é uma coisa insuportável (risos).Às vezes apetece-me mas gosto mais desta coisade estarmos disponíveis para o outro nos dirigir enos indicar o caminho, gosto. E quando é que descansa? Se calhar descanso pouco… Custa-me quandoparo. Há um vazio muito grande, fico um boca-dinho perdido, devo confessar-lhe. Criam-sefamílias, ritmos, amizades e depois tudo acaba derepente, foi tudo imaginário. No cinema dura setea nove semanas, numa novela dura 10 meses, no

teatro dura um a dois meses de ensaios e depoisdepende do tempo que estiver em cena. E nãoquero sentir esse vazio.É uma âncora que vai lançando?Sim, é como se fosse um barco, lanço a âncora,acosto naquele porto…E para lá do teatro?Uso a Internet mais como ferramenta de trabalho,de pesquisa, de leitura de jornais, não percomuito tempo, não gosto. Leio, sobretudo coisasrelacionadas com o meu trabalho e de cinemagosto muito - confesso que gosto mais de DVDs.Moro fora de Lisboa, no concelho de Sintra e che-gar a casa, àquela paz, depois é muito difícilsair… A paz é boa, dá-nos conforto, fico ali noninho e custa-me sair do ninho. Vou ao teatro,faço as coisas normais. n

Manuela Garcia (texto) José Frade (fotos)

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Lugares

“Era linda a Mouraria / Tinhaamor e sedução / Hoje vivenoite e dia / Com a triste com-panhia / Da droga da mal-dição”. Este verso de Fernando

Baguinho, de 76 anos, o sapateiro-poeta nascidoe criado na Mouraria, exemplifica a desgraça aque foi votado este bairro lisboeta com 900 anosde história.

A degradação urbanística e social e o esqueci-mento por parte do poder político são as princi-pais queixas de quem lá mora. “Uma das coisasque está mal é a droga. A falta de limpeza, as ruasmal arranjadas e os buracos de ratos também”,lamenta António Pais, de 58 anos, dono da tasca“Amigos da Severa”.

Cansados de promessas vãs, a cada dia quepassa a esperança é menor para aqueles que habi-tam na Mouraria. Contudo, há três anos, surgiuuma associação como um sinal de luz e espe-rança de reaparecimento do brilho perdido dobairro. “Dizem que querem renovar a Mouraria”,diz um morador. Criada em Março de 2008, a“Associação Renovar a Mouraria” partiu de ummovimento de cidadãos e de uma petição onlinecriada por moradores a exigir mais atenção paracom o bairro e conta com cerca de 40 voluntáriosque procuram fazer a diferença. Objectivo cen-tral: a revitalização urbanística, social e culturaldo bairro da Mouraria. Todavia, a desconfiançados moradores ainda é grande. “Existe algumaresistência das pessoas, pois elas foram vítimasde abandono durante décadas. Quando aparecealguém a dizer que vai fazer alguma coisa, achamque estão a ser enganados”, diz Inês Andrade, de38 anos, presidente da associação.

De um manifesto de intervenção, a associaçãopassou das palavras aos actos no EdifícioManifesto, a sede da organização e o seu maiorprojecto. Inaugurada a 26 de Fevereiro último,este é um local para toda a comunidade, com cur-sos, workshops e espaços culturais. Por outrolado, a associação quer fazer do edifício umexemplo em termos de reabilitação urbana abaixo custo. Em parceria com o gabinete dearquitectura Artéria, a recuperação desta antigacarpintaria será feita com patrocínios, numa obraestimada em 150 mil euros.

Os Mundos da Mouraria…“Temos ainda outros projectos a decorrer: As visi-tas guiadas pelo bairro, o festival “Há Mundos naMouraria”, o jornal “Rosa Maria”, “Rondas dasTascas”, “Há Fado na Mouraria”, um livro de gas-tronomia, assim como um guia turístico do bairroem banda desenhada, o programa “Da Mourariaao Museu, do Museu à Mouraria” (em parceriacom o Museu Berardo), e o lançamento de umáudio-livro de fado”, diz Nuno Franco, membrofundador da associação, referindo-se ao concursode fados no Teatro Trindade, com apoio daFundação Inatel.

Uma das formas de contar a história de umbairro que nasceu em 1170, com o foral quegarantiu a segurança da comunidade árabe, é arealização de visitas guiadas feitas por um mem-bro da associação, no sentido de atrair tambémmais turistas e desmistificar a imagem negativa.“Percebo que as pessoas tenham medo e se afas-tem, mas vindo uma ou duas vezes percebem quenão há mais perigo do que em qualquer outrosítio de Lisboa”, frisa Filipa Bolotinha, que inte-gra a associação.

A “TL” esteve numa dessas visitas, testemu -nhando a riqueza histórica da Mouraria, represen-tada por vestígios da Cerca Fernandina, o poço doBorratém, a casa de João das Regras ou o edifícioAmparo. «Gostei muito deste património ‘escondi-

“Há Festana Mouraria…”O esquecimento e abandono dohistórico bairro lisboeta tem os diascontados

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1 - Antonio Pais, donoda tasca “Amigos daSevera”.2 - Colégio dosMeninos Orfãos3 - Casa da fadistaSevera4 - Casa João dasRegras5 - Poço doBorratém6 - Vista sobre obairro da Mouraria

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Lugares

do’. É um bairro que nunca tinha explorado porcausa da sua fama», conta Carlos Lourenço, de 40anos, que participou numa destas visitas. A multi-culturalidade do bairro é outro traço que resiste àpassagem do tempo. “Em Londres, Nova Iorque ouBarcelona era difícil encontrar um bairro como aMouraria esquecido”, nota Maria Lencastre, outraassociada. A própria associação lida de perto comas comunidades imigrantes e ajudou uma famíliada Índia, com alimentos, roupa e acessórios paraum recém-nascido prematuro. Na altura essa famí-lia atravessava graves problemas financeiros como pai do bebé desempregado e a mãe doente.

Berço do fado, mas sem casas para o escutar, aMouraria honra esta tradição de forma ‘clandesti-na’. “Há muitos fadistas espontâneos. Passeamospelas ruas e ouve-se fado dos rádios das pessoas.Percebe-se que está na alma da gente que vive

aqui. Recuperar o fado é um dos nossos objecti-vos”, afirma Filipa Bolotinha. Quem sobe a famo-sa Rua do Capelão encontra a casa da mítica fadis-ta Maria Severa, uma referência do bairro e queserá recuperada como café, com actividades liga-das ao fado, um café-loja com esplanada no largoda Severa. Na porta em frente vivia FernandoMaurício, o ‘rei sem coroa’, que se habituou a cha-mar “ó miúda” a Mariza, que cresceu aqui.

É de um verso de um fado de AlfredoMarceneiro - “Há Festa na Mouraria” - que nasceo nome do jornal Rosa Maria, um dos principaisprojectos da Associação. “Queremos que seja umespelho do bairro, que tem imensas riquezas, mastambém problemas. O Rosa Maria é uma rosa quecheira bem e é bonita, mas tem espinhos parapicar quando é preciso”, diz Ana Luísa Rodrigues,jornalista e uma das editoras da publicação, queconta com cerca de 15 colaboradores. “O jornal édistribuído em todas as casas do bairro e tentamosleva-lo para fora da Mouraria. Quisemos fazer umjornal comunitário diferente”, acrescenta.

CML: presidência abertaA tentar marcar a diferença face ao passado estátambém António Costa. O presidente da CâmaraMunicipal de Lisboa mudou o seu gabinete parao Intendente, mesmo ao pé da Mouraria, numsinal de confiança nesta zona da cidade. A expec-tativa sobre o que poderá mudar é grande entre

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Inatel Mouraria

No Espaço Mouraria da Fundação INATEL funcionam os seguintes

cursos no âmbito das Oficinas dos Tempos Livres:

Tai Chi; Dança – Ritmos Latinos e Africanos; Fotografia; Pintura;

Workshops diversos, no âmbito das OTL.

A Inatel disponibiliza ainda o mesmo espaço, em regime de

aluguer, para actividades da Junta de Freguesia do Socorro (Futsal

e Hip Hop), Aulas de Capoeira e Futsal.

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os habitantes do bairro. “Com ele mais perto denós pode ser que isto tenha mais vigilância”,defende António Pais. Visão semelhante tem InêsAndrade. “A Câmara tem sido uma parceirafantástica e a vinda do presidente demonstra quehá interesse da Câmara em reabilitar esta zona”,diz a líder da Associação, confiante que a reabili-tação urbana será a primeira peça de um puzzleque irá mudar a face da Mouraria.

Em declarações à TL, o autarca da capitalsublinha que “uma das ideias que esteve na baseda decisão desta mudança do gabinete da pre-sidência da CML para o Intendente foi a de con-trariar e tentar inverter o estigma negativo queestá ligado a esta zona da cidade. Queremos queLisboa olhe com outros olhos para o Intendente epara todo aquele eixo que vai do Martim Moniz,segue pela Rua da Palma, Intendente e continuapela Almirante Reis. Acredito que esta mudançapoderá induzir novas dinâmicas sociais e atéeconómicas. Além disso, está programada umaintervenção, comparticipada por fundos comu-nitários que procura revitalizar todo o eixo que járeferi.”

António Costa destaca, entre outros, Programade Acção (PA) Mouraria: “As cidades dentro dacidade”, que é constituído por um conjunto deoperações com vista ao reforço dos aspectos posi-tivos do bairro, de que são exemplo o patrimóniomaterial e imaterial, a actividade económica, a

vitalidade populacional e a multiculturalidade.”“Além disso – acrescenta - estamos também a

elaborar o Plano de Desenvolvimento Social daMouraria, com parceiros como as Irmãs Oblatas,o IDT ou as juntas de freguesia que trabalham nasáreas da prostituição, toxicodependência ou dosidosos isolados.”

A reabilitação do Quarteirão dos Lagares e dealguns edifícios para instalar residências univer-sitárias e proporcionar maior segurança na zonaé outra das prioridades em que a autarquia estáempenhada, numa parceria com o Ministério daAdministração Interna.

O plano de acção da Mouraria – frisa aindaAntónio Costa - assenta num Protocolo deParceria Local, concebido como um processo decooperação entre entidades que se propõemimplementá-lo, sendo que cada parceiro deverádar um contributo concreto e relevante para a suaexecução. O protocolo de parceria local do QRENMouraria integra, a par da Associação Renovar aMouraria (ARM), entidades, sociais e institucio-nais como a Associação Casa da Achada - CentroMário Dionísio (CMD), Associação de Turismo deLisboa - Visitors and Convention Bureau (ATL),bem como a EPUL, Instituto da Droga eToxicodependência (IDT) e as juntas de freguesiados Anjos (JFA), da Graça (JFG), de Santa Justa(JFSJ), de São Cristóvão e São Lourenço (JFSCSL)e do Socorro (JFS). n

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7 - Filipa Bolotinha8- Inês Andrade9 - Ruas da Mouraria10 - Edifício Amparo -portal manuelino11 - Rua do Capelão

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Paixões

Discreto, afável e dotado de umestilo e traço peculiar, José Ruy éum dos mais prestigiados autoresportugueses de Banda Desenhada(BD), com ilustrações publicadas

em 83 livros dos quais 46 são de histórias aosquadradinhos.

A paixão pela Nona Arte transparece no por-menor, detalhe e rigor que incute em todos osseus trabalhos e numa vasta carreira artísticapara a qual desperta em tenra idade. Nasce na

Amadora a 9 de Maio de 1930 e cedo começa afazer garatujas “o meu pai levava-me à redacçãod’O Mosquito para receber conselhos de Tiotónio,o António Cardoso Lopes, director do jornal eautor de Zé Pacóvio e Grilinho”, recorda o artistaque surpreende a partir dos sete anos com fanzi-nes e um jornalinho em copiógrafo que vende ameio tostão.

Sensibilizado para o desenho ao natural porEduardo Teixeira Coelho “um desenhador de altoporte” como humildemente gosta de referir,

José RuyO Mestre BDUm dos mais prestigiados autores portugueses de Banda Desenhada, JoséRuy completa meio século de ligação à Inatel no ano em que comemora oseu 81º aniversário.

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começa a esboçar até à exaustão pormenores depessoas e animais e seus ambientes “ganhei umlivre trânsito de acesso ao Jardim Zoológico paraalém do horário de visita com um cartaz que fiz”,recorda o autor que chegou a capturar um ratopara servir de modelo para uma história adapta-da de Wenceslau de Morais.

Aos 14 anos e antes de concluir a formaçãoem Artes Gráficas e Belas Artes na prestigiadaescola António Arroio, onde encontra JoséGarcês, Rodrigues Alves e muitas outras figurasligadas às artes, José Ruy integra a redacção d’ OPapagaio e, em 1947, em substituição de ManuelVelez que partiu para África, assume responsabi-lidades litográficas em O Mosquito, que graças àsua boa reputação passa a editar e dirigir na 2ªfase da revista em 1960.

Rigor, criatividade e imaginaçãoA BD está-lhe no sangue, corre-lhe nas veiascomo o ar que respira e as histórias inventadas oureais recebem vida no estirador num longo eintenso processo de criação que vê compensadocom a publicação das suas histórias e ilustraçõesem revistas de referência, entre elas, CavaleiroAndante, Camarada, Pisca-Pisca, Mundo deAventura, BDN, Tintin, Spirou e ABC Criminal deArtur Varatojo. Também a nível gráfico José Ruypassa a ser uma referência desejada. A sua expe-riência aliada ao espírito auto-didacta muito con-tribuíram para a evolução das artes gráficas nopaís ao introduzir técnicas ágeis, embora exigen-tes, que reduziam o tempo e o custo de produção,como aconteceu na Europa-América, dirigida porLyon de Castro, nos anos setenta. Aí impôs a sipróprio uma metodologia que consiste em ter porprojecto apenas uma maqueta, em vez das trêsdos seus antecessores, viabilizando a produção

de centenas de capas de livros quedurante uma década desenha ouilustra, algumas para dissimular acensura “ o tipo de letra, a cor e umaboa ilustração ajudava a passar men-sagens imperceptíveis para a censura”relembra, divertido, o veterano artista.

A dedicação à BD surge a tempointeiro a partir de 1982, a convite doDiário de Notícias que desejava apostarna produção nacional para concorrercom a estrangeira e simultaneamentecombater a ideia de que as históriasaos quadradinhos “estupidificavam”os jovens. Um anseio partilhado peloautor que propõe trabalhar isolada-mente as três cores primárias parareduzir em quatro vezes o custofinal da obra e dar viabilidade àedição dos seus álbuns.

De Camões ao 25 de Abril…Superadas as dificuldades técni-cas, José Ruy sugere começar comuma história de domínio públicoe «Os Lusíadas», de Camões,adquire consenso entre especialistas comoJosé Hermano Saraiva “ observou com minúcia astrês ou quatro pranchas que lhe apresentei e con-siderou a ideia interessante e até aceitou apresen-tar o livro” refere o autor ao salientar o êxito ime-diato da obra, em três volumes, especialmente nomeio estudantil que tinha o poema épico como lei-tura obrigatória. Mas o rigor e a beleza do traçoaliado ao texto integral e às notas inseridas emtempo certo voam mais alto e atestam a magnitu-de do mestre que com a obra acessível além fron-teiras e sucessivamente reeditada, a última em

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Paixões

2009 pela Âncora Editora, deixa um legado funda-mental para a afirmação da BD no país e com ela omestre enceta uma profícua carreira de históriashabilmente adaptadas aos quadradinhos, de quesão exemplo, entre outras, Peregrinação de FernãoMendes Pinto, As Aventuras do Porto de Bomvento,Aristides de Sousa Mendes: Herói do Holocausto, OBobo, Autos de Gil Vicente, História da Amadora,Pêro da Covilhã e a Misteriosa Viagem, Sintra: OEncantado Monte da Lua, Almeida Garrett e aCidade Invicta, Nicolau Coelho: Um Capitão dosDescobrimentos, Ope ração Óscar: Outra maneirade Contar o 25 de Abril, O Mosteiro do Pombeiro, ACasa do Infante, A História da Cruz Vermelha e OMirandês: história de uma língua e de um Povo.

Presentemente, as suas histórias desenhadas atinta da china e em papel são digitalizadas para“aguarelar” em Photoshop e, sem perda de iden-tidade no seu traço, asseguram a qualidade esuporte essencial à editora e, desta forma, JoséRuy tira um invulgar partido das novas tecnolo-gias que domina com destreza.

Viajar na InatelAdora viajar e conhecer outras culturas e guar-da notas, croquis e muitos registos dos locaispor onde passa, alguns por intermédio da

Inatel, que são uma ajuda para assuas histórias.

“Em Maio de 1961 associei-me àFNAT para poder gozar férias naCaparica, quando trabalhava na revis-ta Cavaleiro Andante do DN”, relembrao artista que este ano celebra 50 anosde ligação à Fundação e que na com-panhia da esposa, Fernanda, visitoucom a Inatel a Hungria, capitais do

Báltico, Egipto, Israel, Jordânia, Palestina, Índia(Goa e Deli), Estados Unidos, Canadá, Brasil emuitas cidades em Espanha.

“A Inatel oferece maior confiança”, sublinha oautor que gosta de viagens com pacotes de pen -são completa. Das unidades hoteleiras da Funda -ção, manifesta preferência por Albufeira, Entre-os-Rios e Manteigas onde, sempre que é possível,escolhe o cantinho mais adequado para recolherelementos da região.

Homenageado em diversos municípios, esco-las e museus e com a distinção especial «OFigura» (zero figura), recebe da sua cidade natal,Amadora (a catedral da BD), a Medalha deOuro, Mérito e Dedicação, o Troféu Zé Pacóvio eGrilinho de Honra no Festival Internacional deBD, o nome numa avenida e, ainda, o nomenuma escola, à qual ofereceu pinturas em muralde grande dimensão sobre as mais emblemáti-cas e didácticas obras que podem ser admiradasna biblioteca e refeitório daquela escola.Espírito aberto e dinâmico, José Ruy continua,aos 81 anos, ocupado com as suas criações ecom os inúmeros colóquios e visitas a escolas,bibliotecas e museus para explicar aos maisnovos a magia dos quadradinhos. n

Glória Lambelho

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Murais que pintoupara a escola JoséRuy na Reboleira

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Viagens

“Castelos do deserto”Nos caminhos deLawrence da ArábiaA revolta árabe contra a ocupação otomana partiu dos territórios da actualArábia Saudita e do deserto jordano. Por aí, e com os revoltosos, andou oinglês Lawrence da Arábia, que escreveu sobre a rebelião. Nessas paragenssobrevivem, também, notáveis testemunhos de arte e arquitectura islâmicamedieval, os chamados "castelos do deserto".

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Odomínio otomano sobre omundo árabe terminou com aqueda de Damasco em 1918, nasequência de uma revolta gene-ralizada na região, em que os

árabes contaram com a participação do exércitoinglês, comandado pelo general Allenby. Para osÁrabes, era uma etapa há muito almejada, desdea emergência dos projectos nacionalistas no iní-cio do século XIX, sob o jugo otomano.

O tenente Thomas Edward Lawrence, queficou conhecido por Lawrence da Arábia, des-creve a revolta no seu famoso volume "Os SetePilares da Sabedoria", onde deixou clara a sua(e dos chefes militares ingleses) convicção deque "sem a ajuda dos Árabes, a Inglaterra nãopoderia garantir a vitória no sector turco".Lawrence, que granjeou a simpatia e a con-fiança do futuro rei Faisal, e de muitos líderes

tribais da região, teve consciência também, logono início, de que as expectativas dos Árabesseriam prontamente frustradas assim que arevolta findasse e, com, ela, o controlo turco daregião. Os interesses ingleses e europeus acaba-riam por se sobrepor às aspirações árabes deautonomia. A Síria e a Jordânia, por exemplo,só conquistariam a independência efectiva em1941 e 1946, tendo os respectivos territóriospermanecido mais duas décadas sob adminis-tração europeia. O sonho de um Estado árabeindependente, que Lawrence apoiava, duroudois anos, até à chegada do exército francês,que pôs termo ao reinado de Faisal.

O assalto final a Damasco foi preparado, emparte, na fortaleza de Azraq, em pleno desertojordano, a meio caminho das fronteiras do Iraquee da Arábia Saudita. Aí, no único oásis da vastaregião desértica que preenche quase todo o

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Viagens

território jordano, estabeleceu Lawrence, durantedois anos, o seu quartel-general.

O Qasr (forte) Azraq faz parte de um itineráriocircular - com partida de Amã, a capital daJordânia - que engloba uma série de construçõesislâmicas dos séculos VII e VIII, a maior parteerguidas durante o período omíada, entre os anosde 661 e 750. A fase final do reinado de Abd al-Malik constituiu um período de excepcional cria-tividade - data dessa época, justamente, a cons-trução da Cúpula da Rocha, a mais importanteedificação islâmica de Jerusalém. As construçõesislâmicas do deserto jordano têm suscitado váriasinterpretações sobre as suas funções - constitui-riam fortalezas, palácios para os príncipes omía-das, complexos de exploração agrícola (uma vezque se situavam em zonas com água e férteis) ou,de acordo com teorias mais recentes, correspon-deriam a uma "arquitectura de diplomacia", des-

tinada a reunir chefes tribais em negociações?Provavelmente, teriam, entre todas elas, estasdiferentes funções.

O "Forte Azul" Amã, a capital, é uma cidade sem grandes encan-tos, com alguma animação à volta da zona da mes-quita central e do anfiteatro romano. Mas é umbom ponto de partida para uma série de visitas.Madaba, conhecidíssima pelos seus formososmosaicos bizantinos, as praias do Mar Morto ou oscastelos islâmicos do deserto são os lugares maisinteressantes que se situam ao alcance de um dia -no máximo dois - de jornada. No caso dos "castelosdo deserto", a viagem de Amã a Azraq e regresso àcapital é exequível num único dia, com passagempor uma meia dúzia de sítios. A melhor forma defazer o circuito é alugar um automóvel ou contra-tar os serviços de um táxi na capital jordana.

A estrada segue sensivelmente, nos primeirosvinte quilómetros, a linha de caminho-de-ferroque vai para norte, para Mafraq e para a Síria. EmAz-Zarqa inflecte para leste e começa, então, a"monotonia" de um deserto amiúde marcado pelonegro do basalto e por impressiva aridez. A escas-sez de água é um dos grandes problemas daregião, com potencial para desencadear conflitosgraves - a disputa pelo rio Jordão é já um exem-plo. Mais tarde, numa tenda à saída de Azraq,entre dois copos de chá, um guia beduíno lem-brar-nos-á que depois das guerras do ouro branco(o sal), e do outro negro (o petróleo), sobrevirãoconflitos bélicos "por causa do ouro azul, o maisvalioso de todos, porque sem ele não há vida".

A primeira paragem é no Qasr al-Hallabat, 25

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km a nordeste de Az-Zarqa. É um conjunto deedifícios de origem romana, reconstruídos duran-te o período omíada. Um dos principais interes-ses é a série de mosaicos e frescos que se conser-vam nas zonas consignadas a palácio residencial.Uma centena e meia de inscrições em grego sus-citam, naturalmente, curiosidade ao viajante. Aexplicação de Abed, o guia local não surpreende:como em muitos outros lugares, foram utilizadaspedras de construções anteriores. As inscriçõesem causa reproduzem um édito da época doImpério Bizantino.

Menos de uma hora depois, chegamos aAzraq, logo a seguir a um cruzamento com viasque seguem para as fronteiras do Iraque e daArábia Saudita. A cidade é há muitos séculosponto de passagem nas rotas entre a Síria e aPenínsula Arábica. As reservas naturais deShaumari e de Azraq (zonas húmidas que se res-sentem cada vez mais da escassez de água) ficammuito perto, mas é a fortaleza que constitui aprincipal atracção local.

O Qasr Azraq (ou "Forte azul", como se lherefere Lawrence em "Os Sete Pilares daSabedoria"), totalmente construído em basalto,tem raízes que remontam a 300 d.C. e foi recons-truído no século XIII. A entrada principal, abertana base de um torreão, é franqueada por umamaciça - e pesadíssima - porta de pedra que girasobre gonzos de ferro. A seteira que se vê maisacima dá para os aposentos que foram deLawrence. A visita passa também por uma mes-quita, um vasto pátio e um museu.

A fachada ausenteNo retorno de Azraq a Amã, há, ainda, três caste-los na rota. O de Amra, a uma vintena de quiló-metros de Azraq, revela-se um pequeno e gracio-so palácio. O interior é deslumbrante, profusa-mente decorado com frescos, cujos temas variamentre a caça, a música, a dança. Algumas dastemáticas das representações, que incluem nusfemininos, são, verdadeiramente, uma surpresana ornamentação de um edifício islâmico.

Ao longo da estrada, no regresso a Amã, as fai-xas de cascalho negro de basalto vão-se alternan-do com extensões pedregosas mais claras, quereflectem de forma violenta a luz solar. Do ladodireito surge, a umas centenas de metros da estra-da, a mais imponente destas fortalezas medievais

e a edificação que ostenta uma fisionomia e umaconfiguração exterior expressivamente defensiva.O Qasr Kharaneh tem, ainda, outra singularida-de: é, entre todas as construções desta rota, a quese encontra em melhor estado de preservação.

A fortaleza está estruturada em torno de umpequeno pátio interior e todos os compartimen-tos dão para esse espaço aberto. Interpretado ini-cialmente como uma espécie de pousada utiliza-da pelos viajantes na antiga rota das caravanas, épossível, todavia, que o Qasr Kharaneh tivessesido utilizado como espaço de "conferência"entre os representantes das tribos árabes daregião.

Mushatta (o "Palácio de Inverno"), o últimocomplexo de construções, fica já muito perto deAmã e é, provavelmente, o expoente máximo daarquitectura desta série de palácios/fortalezas.Apesar de uma certa ruína, é possível adivinhar-lhe o esplendor perdido e reconhecer a sofistica-da estrutura em plano simétrico que permanecepara além da entrada monumental. A decoração

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Viagens

e a combinação de pedra e tijolo revelam a extra-ordinária e profícua miscelânea de influências,românicas, bizantinas, sassânidas e coptas. A jóia-mor do conjunto está, todavia, ausente - e essaausência é assaz simbólica das vicissitudes quemarcaram vida e a história dos povos árabes daregião. A fachada em pedra esculpida foi retiradano final da I Guerra Mundial e brilha, hoje, noMuseu Pergamon, em Berlim.

Dunas de fogo"No deserto do Wadi Rum, sob a cúpula celeste,não há senão calor e desolação". A sentença,breve mas assertiva quanto baste, vinha há tem-pos estampada numa revista de viagens francesa.Nada mais falso, na verdade. Se o estilo é, obvia-mente, o de valorização retórica de pseudo-aven-turas jornalísticas, um retrato mais honesto doWadi Rum dirá que o local - um deserto, bementendido - está longe de ser inóspito, desabitadoe território só acessível a intrépidos aventureiros.Não faltam fontes de água na zona e a aldeia deRum, que até há duas décadas atrás era um aglo-merado de tendas beduínas, é actualmente umpovoado cuja população e economia dependemfortemente das visitas dos turistas.

O Wadi Rum, por onde também Lawrence e os

revoltosos árabes se movimentaram - nomeada-mente para a conquista do porto de Aqaba -, temo estatuto de reserva natural, com acesso rigoro-samente controlado. As visitas têm que ser, por-tanto, previamente planeadas e a reserva de alo-jamento feita com antecedência. Há alguns acam-pamentos autorizados, de capacidade limitada,onde se pode pernoitar em tendas. As andançasfazem-se, preferencialmente, com um guia, dejipe, de camelo ou a pé. Essas jornadas fazemtransitar os viajantes por uma casa em ruínas, nosopé de uma montanha, supostamente habitadapor Lawrence nos tempos da revolta, e por umaformação conhecida por "Os sete pilares", que sediz ter sido a inspiração para o título do livro. Naverdade, a inspiração de Lawrence terá sidorecolhida numa passagem bíblica.

O Wadi Rum é um belíssimo deserto, comcenários que a luz faz variar continuamente aolongo do dia. As formações rochosas de granito ebasalto, cinzeladas pela imaginosa erosão de milé-nios, alternam com longos vales e grandes dunasde areia que, pela alvorada ou à hora do crepúscu-lo, se cobrem de uma tonalidade rubra, como se defogo fossem, semelhantes a brasas acesas entre osespectros acinzentados das penedias. n

Humberto Lopes (texto e fotos)

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Património

Hoje, precisamente 600 anos depois, no mesmolocal onde o empreendedor Gonçalo Gomesde Gomide pôs a funcionar a primeira manu-factura de papel em território português, vol-tou a fabricar-se papel. Certamente que os

objectivos agora são outros mas os métodos, em parte, conti-nuam a ser os mesmos. Não há documentos que nos digamquando terminou a produção de papel no moinho, manufac-tura posteriormente substituída pelo fabrico de azeite e pelamoagem de cereais, actividade que funcionou até meadosdos anos 90 do século passado.

A história do Museu do Moinho do Papel começou apóso edifício ter sido adquirido pela autarquia de Leiria e o pro-jecto de restauro, assim como de acrescento, ter sido entre-gue ao ateliê de Siza Vieira. Em 2009 o pioneiro engenho defazer papel deu lugar ao Museu do Moinho do Papel.

Situado na margem esquerda do rio Lis, não muito longedo centro da cidade, o Museu do Moinho do Papel, obser-vado por fora, é um edifício alongado mas discreto, com as

paredes pintadas num tom suave, que deixa dúvidas se serábranco sujo, ou creme desbotado. A fachada norte, paralelaao rio, é rasgada por janelas de diferentes tamanhos e temacoplada três grandes rodas hidráulicas verticais.

A Viagem do PapelMas vamos entrar, vamos entrar e conhecer este espaço

que tanto simbolismo encerra. O Museu está divido em dife-rentes zonas, nomeadamente a sala de exposições, instaladanum edifício novo, a sala de fabrico de papel e a moagem.

Na sala de exposições dois painéis traçam a evolução dopapel, seja a evolução em termos de inovação e tecnologia,seja a viagem desde o extremo oriente. Com a China comoponto de partida e o ano 105 dC como a data do início dofabrico, acompanhamos a lenta progressão deste inovadorproduto até chegar à Península Ibérica pela mão dos árabes, ácidade de Xátiva, em 1150. Em Portugal, já sabemos, o papelcomeçou a ser fabricado em 1411. Ainda nesta sala podemosver breves apontamento sobre a arte tipográfica e a cópia dumexemplar do Almanaque Perpétuo, de Abraão Zacuto, a pri-

Moinho do Papel:seis séculos de HistóriaEm 1411, D. João I, autorizou através de alvará Gonçalo Gomes de Gomide, bisavô de Afonso deAlbuquerque, a instalar em Leiria "engenhos de fazer ferro, serrar madeira, pisar burel e fazer papelou outras coisas que se façam com o artifício da água contando que não sejam moinhos de pão."

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meira obra científica publicada em Portugal, cuja impressãoocorreu na tipografia judaica, em 1496, sendo licito associar aexistência desta ao fabrico papel em Leiria. Brevemente a salairá acolher um projecto multimédia que visa tornar acessívelmais informação relacionada com osconteúdos científicos do Museu, essen-cialmente sobre o papel

Vamos agora ao coração do Museu, asala de fabrico de papel. Um grandemoinho de galgas e uma vetusta prensa,exemplos de tecnologias aqui usadas nopassado, impõe-se ao olhar logo que seentra. Aqui, na mais ampla sala domuseu, desenvolvem-se diferentes ate-liers incluindo fabrico de papel, desde a preparação da pastaaté à folha, tal como se fazia no século XV.

Caminhando em direção ao extremo do edifício, e assimao final da visita, uma espécie ronronar recebe os visitantes.

Este ruído cadenciado, esta toada monocórdica, é produzidopelo conjunto mós, quatro ao todo, que se encontram a moergrão, trigo, centeio e milho. Estamos na antiga moagem decereais, que assim continuou após as obras de recuperação.

A importância da recuperaçãodeste espaço está expressa no Catálogodo Museu, onde se pode ler: "A suarecuperação (do moinho) permitiu-nospreservar momentos relacionados coma arqueologia industrial, bem comofazer reviver técnicas e métodos tradi-cionais utilizados no decorrer destesprocessos ao longo dos tempos." Alémdisso o prémio de Melhor Trabalho de

Museografia, relativo ao ano de 2009, atribuído pelaAssociação Portuguesa de Museologia veio confirmar arelevância do projecto. n

José Luís Jorge

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GUIA

Museu do Moinho do Papel - Rua

Roberto Ivens, 1; Leiria; Tel: 244 839

672. Horário: terça a sexta-feira das

9h30 às 12h30 e das 14h30 às 17h00.

sábado e domingo por marcação.

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Inatel Cultura

Na apresentação feita no Trindade,Cristina Baptista, administradorada Fundação, lembrou a apostafeliz da Inatel na produção dodocumentário cuja importância e

qualidade assinalou. A responsável da área cul-tural da Fundação - que, em Abril último, partici-pou, no Quebeque-Canadá, numa ConferênciaInternacional sobre “Património Cultural

Imaterial” - frisou, ainda, a longa e histórica expe-riência da Inatel em matéria de salvaguarda edivulgação do património cultural imaterial emPortugal para acentuar que a produção do docu-mentário resultou de “uma feliz coincidência:por um lado a vontade do realizador TiagoPereira percorrer o país a registar as manifes-tações de música tradicional; e, por outro a von-tade da Fundação INATEL em promover a reali-zação de um filme que se centrasse no registo donosso património cultural imaterial.”

Presente, também, Elísio Sumavielle, secretá-rio de Estado da Cultura, louvou a iniciativa e opapel da Inatel na preservação da cultura tradi-cional portuguesa e considerou, sobre o docu-mentário, tratar-se de uma “excelente peça cine-matográfica, montada e realizada com grandemestria. O Património Imaterial de Portugalemerge num ritmo intenso, que nos prende (…) Acultura a sua divulgação e a Fundação INATELestão de parabéns”.

Para José Alberto Sardinha, investigador damúsica tradicional, o filme faz “uma abordageminteressante de uma realidade que está emmutação e que tendo raízes internacionais nempor isso deixa de ser um património vivo e musi-calmente participado pelas gerações mais novas.A opção estética é excelente e consegue simulta-neamente mostrar o património musical e moti-var a assistência”

“Despertar consciências”Única entidade portuguesa consultora da UNES-CO no âmbito da Convenção para a Salvaguarda

“Sinfonia Imaterial” em circuito nacionalApresentado em Maio no Teatro da Trindade, “Sinfonia Imaterial”, umdocumentário representativo do património tradicional oral portuguêsactual, realizado por Tiago Pereira, numa produção Inatel, teve estreiaexclusiva no Cinema City Classic Alvalade, de 26 Maio a 1 Junho, e seráainda exibido em diversas cidades do país, incluindo Açores e Madeira.

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À esquerda, Cristina Baptista,administradora da Fundação,na apresentação feita noTrindade. Na página anterior,Tiago Pereira, o realizador dodocumentário

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Inatel Cultura

do Património Cultural Imaterial, a FundaçãoInatel convidou, em 2010, Tiago Pereira para rea-lizar um documentário abrangente, representati-vo do património tradicional oral portuguêsactual.

A génese para “Sinfonia Imaterial” surgiu comuma ideia-base: a de que o património imaterialde Portugal é não só imenso como extraordina-riamente diversificado e disperso pelo territórionacional. Urgia mostrá-lo, celebrá-lo e necessáriae consequentemente preservá-lo.

Tiago Pereira, cujo percurso tem evidenciadouma ligação afectiva muito grande à cultura oralnacional e à sua divulgação, não faz, em“Sinfonia Imaterial”, uma recolha exaustiva daspráticas musicais e orais tradicionais, mas oresultado final é muito representativo dessas tra-dições.

”Sinfonia Imaterial”, como assinala aDirectora de Produção, Ana Xavier, é, sobretu-do,“um documentário que deseja despertar cons-ciências, estimular a atenção de um públicoabrangente para uma valorização de aspectosmenos óbvios da sua tradição e memória colecti-va”. Para tal – salienta – o objectivo foi sempre“mostrar exemplos deste património imaterialvivo mais do que falar dele”, e sempre em

espaços exteriores, porque o espaço públicomerece ser um espaço de referência para as acti-vidades musicais”.

DiversidadeA diversidade do nosso património oral é realça-da a cada instante. Os artistas filmados vão dosPauliteiros de Miranda ao Grupo de Bombos deErada, das Adufeiras de Monsanto a um tocadorde búzio de São Mateus, no Pico. Os instrumen-tos, esses, são a guitarra, o pífaro, o acordeão, agaita-defoles, as violas... Derrubar preconceitos ealertar a audiência para a riqueza da cultura –oral e não só – portuguesa é outro dos objectivosassumidos pelos responsáveis pelo projecto.

Tiago Pereira percorreu, durante vários meses,o país de uma ponta à outra, de Braga a PortoSanto, a convite da INATEL, recolhendo frag-mentos de um património imaterial riquíssimoque nos últimos anos tem tentado escudar e – emmuitos casos – resgatar do esquecimento. Odocumentário de cerca de uma hora, semnarração e sem entrevistas, procura fugir aoesquema convencional, do “documentário-tipo”,apenas os artistas, os seus instrumentos e oambiente que os rodeia. E, claro, a visão do reali-zador. n

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Memória

Mas era de facto muito engraça-do, «alguém com mãos quefalavam e com uma entoaçãoúnica», como disse Isabel deCastro. E é por isso que, quan-

do a RTP repõe os filmes em que o actor partici-pou, o seu público continua a rir a bandeiras des-pregadas. Um actor pobre, sem escola, quecomeçou a trabalhar muito cedo como emprega-do de retrosaria, depois marçano numa drogariaonde não era preciso nenhum curso para serviras freguesas que lhe pediam fita de nastro ousabão amarelo. Como? Como é que este rapazchega a primeira figura do teatro de revista e aprotagonista do cinema português dos anos 40 e50? É o que se conta nesta história de vida do «Sr.Silva».

De marçano a actorQuando lhe perguntavam de onde lhe vinha otalento, o actor não sabia responder. Ainda

marçano, costumava ir espreitar os actores doTeatro da Rua dos Condes (que já foi cinema ehoje é o «Hard Rock). E confirmou-se o ditado,«tantas vezes vai o cântaro à fonte…», e AntónioSilva acabaria por ser convidado para participarem algumas récitas de amadores. Em 1910estreia-se numa peça de Tolstoi, «O Novo Cristo».Começa aqui uma longa e bem sucedida carreiraque o levaria ao Brasil onde ficaria cerca de oitoanos. No Rio, conhece uma jovem de boas famí-lias e apaixona-se. E mesmo contra a vontade dospais da rapariga, António decide casar com ela.Ela chamava-se Josefina Barco, que conhecería-mos depois como Josefina Silva, que viveria maisde 50 anos ao lado do actor.

Enquanto houver Santo António…Mais de 30 filmes, dezenas de revistas (mais de50), alguma televisão, ele foi, parafraseandoArtur Semedo, «o contraponto das lágrimas, doadeus que não regresso, do Tarrafal, da Pide, dePeniche, do Limoeiro… fazendo rir, sorrir e gar-galhar um povo açaimado pela férrea ditadura».

Um António no cadeirão do poder, umAntónio nos palcos da revista, autores que nãoperdiam a ocasião de driblar a censura e aí temosAntónio Silva a interpretar «Salvador» na revista«Arraial» (1933), imitando Salazar: é o alfaiateOliveira e o Senhor Almeida (onde canta «umacasa e uma janela // fazer contas dentro dela…»)Noutra revista, «Enquanto houver SantoAntónio…» (1950) o actor dizia um texto directoao ditador com algumas brejeirices que tinhamescapado aos censores.

«Eu nunca me atrapalho…»Vocacionado para o teatro de revista, AntónioSilva foi também um talentoso actor de drama e

António SilvaA eterna gargalhada «Não nasci na Graça, o meu pai não era para graças… Porque é que souengraçado?», costumava dizer o grande actor, António Silva

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O “leão” AntónioSilva lado a lado como “portista” EricoBraga. A “eternagargalhada” em “OLeão da Estrela”, deArtur Duarte (1947)

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de comédia como o prova o seu trabalho empeças de Ramada Curto (A Fera), de Schwalbach(A Bisbilhoteira), de Somerset Maugham (LadyKitty) ou G. Bernard Shaw (Pigmaleão), para sóreferir algumas.

Teatro, sim, mas foi o cinema que lhe deu aimensa e justa popularidade de que ainda hojedesfruta quando a RTP decide transmitir os irre-sistíveis filmes que todos conhecem. Na verdade,«A Canção de Lisboa», «Maria Papoila», «O Pátiodas Cantigas», «O Costa do Castelo», «A Vizinhado Lado», «O Leão da Estrela» ou «Fado, Históriade uma Cantadeira» continuam a divertir-nos edão a conhecer às gerações actuais um fabulosoactor que «nunca se atrapalhava…».

Aldrabão, tímido, românticoHá anos, numa memória muito bem escrita porMarina Ramos para o jornal «Público», ficámos asaber que o cómico, meio aldrabão, meio tímido,era também um romântico e um galanteador comalgumas paixonetas discretas que, segundo ArturSemedo, o deixavam de rastos. Apesar disso,António Silva nunca deixou a mulher e viveramtranquilos até à morte da sua única filha, factoque alterou a rotina do casal e que transformou oactor num homem ainda mais taciturno.

Nos intervalos do seu trabalho no teatro corria

para o quartel de bombeiros da Praça da Alegriaonde chegou a comandante com direito a meda -lha de honra do governo.

Diz quem o conheceu que ele não gostava dese ver nos filmes que a Televisão transmitia erecusava-se mesmo a vê-los.

Mas quem se recusa a ver, uma e outra vez, oalfaiate que faz a «prova» nas costas do cliente ouo droguista que se passa da cabeça quando lheperguntam: «ó Evaristo, tens cá disto?» n

Maria João Duarte

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Em cima, JosefinaSilva, Erico Braga eAntónio Silva em “ONoivo das Caldas”,de Artur Duarte(1956).Em baixo, com LauraAlves no filme“Sonhar é Fácil”, dePerdigão Queiroga(1951)

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Olho Vivo

Neurónios dormem sestas

Os neurónios isolados podem fazer pequenas sestas intermitentes, quandoo organismo no seu todo está com falta de sono cérebro.Experiências feitas em ratos por cientistasamericanos mostram que, quando obrigados a nãodormir durante quatro horas e sendo sempreestimulados, os animais mostram emelectroencefalogramas alguns neurónios em sonoprofundo, por períodos de um segundo, enquantoque todo o cérebro está bem acordado. O estudovem na revista Nature.

Intestinogrupo A

Assim como podemos terum de três tipos de sangue,também há gruposintestinais, segundocientistas alemães. A floraintestinal divide-se em trêstipos distintos, chamadosBacteroides, Prevotella ouRuminococus, consoante abactéria, ou micróbio maisflorescente em cadaecossistema. A descobertaabre portas a novas terapiaspara as doenças do foroenterológico e deve-se abiólogos de Heidelberg, quepublicaram o seu estudo narevista Nature.

Saladasiluminadas

As folhas de espinafreexpostas mais tempo à luzdos balcões dossupermercados têm maisvalor nutritivo, segundoespecialistas do Texas. Porisso, escolher embalagensmais recentes do produto,como é costume fazermosnas prateleiras das lojas,pode não ser a receita. Oscientistas recomendam,pelo contrário, a escolhade embalagens mais"antigas", que estiverampor isso iluminadas maistempo.

Alzheimer encolhe o cérebro

Cientistas americanos de Chicago descobriram que o cérebro de doentes deAlzheimer mostravam uma redução da massa de neurónios nas zonasafectadas, dez anos antes de a doença ser diagnosticada. Compararamexames antigos de actuais doentes comimagens do cérebro já afectado epensam que esta descoberta podefacilitar o atraso da doença, pordetecção precoce. Os resultadossobre uma doença que afecta 26milhões de pessoas em todo omundo são publicados pelarevista Neurology.O lobo sobreviveÉ uma notícia polémica: osEstados Unidos retiraram da lista de espéciesameaçadas de extinção o lobo cinzento das Montanhas Rochosas. Apopulação de 1300 indivíduos é considerada "viável" pela administraçãonorte-americana. As organizações ambientalistas, porém, acham que ogoverno se precipita para poupar algum dinheiro na conservação dasespécies. A medida significa que os lobos podem ser caçados de novo nosestados de Idaho, Montana, Utah, Oregon e Washington.

O humor do atleta

Ao contrário das ideias feitas, o desporto de alta competição nãoprejudica a saúde mental dos atletas, submetidos a grande stress.Cientistas franceses estudaram mais de dois mil atletas e concluíram queos distúrbios mentais desta população de elite não são em médiasuperiores ao dos que não se submetem às modalidades mais exigentes.Problemas de depressão e ansiedade, distúrbios alimentares eperturbações do sono são tão frequentes entre os desportistas quanto napopulação em geral.

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António Costa Santos ( textos) André Letria ( i lustrações)

O tigre marsupial

Tinha cabeça e corpo de cão, pêlo de gato e transportava as crias numabolsa como um canguru. Chamava-se tilacino e é um animal mítico naAustrália e Tasmânia, onde se encontra extinto desde 1936. A dúvida

sobre se seria um "lobo marsupial" ou o "tigre da Tasmânia" parece estaragora resolvida, por cientistas da Universidade de Brown: era mais felino

que canídeo, porque caçava como os tigres, leões e panteras,isoladamente, e não em matilha, como os lobos.

Depressãopositiva

A depressão pode ter umefeito secundário positivo,segundo um estudopublicado no Journal ofAbnormal Psychology, daautoria de cientistas suíçose alemães. Os indivíduosdeprimidos são melhores aexecutar tarefas queimplicam decisões emcadeia. Os investigadorescrêem que a depressãopode aumentar ascapacidades para oraciocínio analítico e apersistência.

Uma mãocom meiomilhão de anos

No mundo há novedextros para cadaesquerdino e agoraantropólogos americanos,croatas, italianos eespanhóis concluíram quea divisão entre usoprioritário da mãoesquerda ou mão direitatem meio milhão de anos.Estudaram fósseis deantepassados do Homem econcluíram que a divisãose produziu por voltadesta época remota. Tudoisto foi deduzido doestudo de dentes deneandertais encontradosem Burgos, Espanha.

Trabalho e coraçãoQuem trabalha muitas horas seguidas pode aumentar significativamenteo risco de ataque cardíaco, segundo cientistas britânicos. Trabalhar maisde 11 horas por dia aumenta a probabilidade de ataque cardíaco em 67por cento, comparado com sete a oito horas diárias. Os investigadores

não sabem se o efeito é directo ou se deve antes ao facto de um horáriode trabalho muito prolongado aumentar outros factores de risco, como a

má alimentação ou a falta de exercício. O estudo seguiu 7100trabalhadores ao longo de 11 anos.

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Foi preciso agarrá-los pelos cabelos, impe-di-los de continuarem a comer aquelepequenino e delicioso fruto que levava aoesquecimento e ao sono profundo. Este

fruto, que atraía os companheiros de Ulisses, cha-mava-se "loto", e embora Lineu, no século XVII,tenha negado a sua identificação com a drupa oubaga do lódão (do latim "lotanus", derivado dogrego "lotos"), ela permaneceu e chegou a Portugal.

O Príncipe Discreto

O lódão deu-nos tudo, até varapauspara o defendermos como um dosmelhores elementos da nossafamília.

A Casa na árvore

Susana Neves

Enquanto o "astuto" guerreiro grego, Ulisses, eos seus companheiros de viagem, no relato deHomero, conhecem a árvore dos "Lotófagos"(povo que comia "loto") oriundo de uma ilha noNorte de África, segundo uma lenda duriense, acidade de Lamego foi invadida por um povo damesma região que junto ao Castelo plantou umlódão na esperança de vir a comer os seus frutose esquecer por completo a Pátria.

Segundo a mesma lenda, o povo invasor nãochegou a comer o "loto" ambicionado, eventual-mente por provir de uma espécie de lódãos gigan-tes que rivalizam em altura com certas palmeirastropicais, e a cujo fruto os africanos juntavamfarinha de maneira a confeccionarem uma pastareservada aos tempos de fome.

Apesar do lódão comum em Portugal ser deoutra espécie (Celtis Australis L.), também o seufruto, a "Ginjinha-do-Rei", era apreciada entre nós.As folhas usavam-se como forragem para alimen-tar os animais, da casca obtinha-se um coranteamarelo. Com o seu habitual sentido de aprovei-tamento dos recursos naturais, os nossos antepas-sados usavam ainda a madeira flexível e resisten-te do lódão na construção de socas, alfaias agríco-las, máscaras e varapaus, indispensáveis ao "Jogodo Pau", a "arte marcial" portuguesa.

No início do século XX, possivelmenteseguindo, com bastante atraso, a moda parisien-se, os lódãos passam a ser a "árvore topo de gama"dos arruamentos do nosso País: adaptava-se àpoluição, era soalheira e civilizada. Num interes-sante capítulo designado "As árvores da cidadede Lisboa" ("Floresta e Sociedade - Uma Históriaem Comum", 2007), Ana Luísa Soares e CristinaCastel-Branco defendem: "O lódão bastardoocupa desde 1929 sempre a posição cimeira (de14,8 a 19,5% do total das árvores de arruamen-to)", resultante dos seguintes factores: "(...) é umaespécie de altura média com uma copa volumosaque faz uma excelente sombra e que apesar desofrer com o calor excessivo que provoca o enro-lamento das folhas, resiste aos ataques dos insec-tos e apresenta raízes robustas, profundas e capa-zes de se desenvolver nos interstícios das cama-das rochosas".

Rua Pascoal de Melonum postal do iníciodo século XX (in “ALisboa de FernandoPessoa”, MarinaTavares Dias, Assírio& Alvim) e nos diasde hoje

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Fotos: Susana Neves

Comportando-se com uma discrição notável,digna de um Príncipe, o lódão (uma Ulmaceae)tornou-se um elemento indispensável da nossafamília. Estando por toda a parte, nos arruamen-tos e como bordadura dos jardins, ele é a nossamemória que, por razões fúteis ou por descuido,nos empenhamos em destruir, como aconteceurecentemente com o abate de dezenas de árvorescentenárias na Rua Dona Estefânia, em Lisboa,onde morou o poeta Fernando Pessoa.

Os lódãos é que nos dizem das "estações",como tão bem recorda o poeta Eugénio deAndrade, que nos anos 80, magoado com o abateda árvore a quem prodigalizava "desvelos denamorado", disse ao Presidente da Câmara doPorto preferi-la a qualquer medalha de ouro dacidade: "Se falei de árvores com ácida melancoliaé porque me derrubaram uma das que mais ameina vida, o velho lódão que me entrava pela varan-da (…). O móbil foi, naturalmente, atravancar arua com mais automóveis (...). Levei anos e anosa lamentar-me, até que, não há muito ainda,numa cerimónia em que, surpreendentemente,me fizeram cidadão honorário do Porto, disse aoPresidente da Câmara que preferia uma árvore àporta do que a medalha de ouro da cidade, com

que me distinguia e honrava toda avereação. Ele prometeu-me outrolódão e cumpriu a promessa, Deus sejalouvado. Agora a casa onde moro éfácil de descobrir: tem um troncozitodespido que lembra um poema meu,exíguo e desamparado".

Desamparadas e exíguas parecemas ruas onde outrora os lódãos cen-tenários, agora abatidos, poderiamatingir a longevidade máxima, cerca de600 anos, celebrando todas asPrimaveras com as suas copas de umverde subaquático e, todos osInvernos, vestindo a rigor os troncos com musgosluxuosíssimos.

Se os lódãos adoecem, se inclinam e ameaçamcair como acontece na Rua Pascoal de Melo, emLisboa, ou seja, não crescem em "esplendor",como a árvore de Eugénio de Andrade, é porquenão têm "a certeza de serem amados". Ao perdero privilégio da sua companhia, perdemostambém a possibilidade de nos enraizarmos comfelicidade no presente, o mesmo bem estar que,para além da amnésia e do sono profundo, pro-vocava o fruto dos Lotófagos. n

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l CONSUMO O Verão é tempo de lazer…mas tem os seus riscos:

intoxicações alimentares, afogamentos, acidentes com bicicletas,

etc…Saiba defender-se. Pág. 58 l LIVRO ABERTO O século XX terá sido dos

mais violentos de toda a história da humanidade. É o tema de “A Pior das

Guerras”, de Daniel Jonah Goldhagen, Pág. 60 l ARTES Na Cordoaria

Nacional, em Lisboa, até dia 26, está patente a exposição “Sim”, pintura e

desenho de Sofia Areal, que engloba a sua obra de 2000 a 2011. Pág. 62 l

MÚSICAS “The Most Incredible Thing”, recente duplo-álbum dos Pet

Shop Boys, marca de forma indelével a edição discográfica em 2011. Pág. 64

l NO PALCO Einstein e o Papa são temas das peças em cena, em Junho,

respectivamente em “A Barraca” e no teatro da Cornucópia. Pág. 66 l

CINEMA EM CASA Verão à vista, férias mais

longas, pretexto para uma selecção de quarto filmes

dos Estúdios Disney para os mais novos. Pág. 68 l

GRANDE ECRÃ "O Panda Kung-Fu 2" invade

festivamente em Junho as salas do país. Noutra

latitude, o regresso triunfal da actriz realizadora, Jodie Foster com Mel

Gibson em terapia com um castor. Pág. 69 l TEMPO INFORMÁTICO Os

nossos ficheiros, fotografias, vídeos e outros, necessitam cada vez de mais

mais espaço e os computadores ficam demasiado cheios… Pág. 70 l AO

VOLANTE O BMW X1: num primeiro olhar um modelo compacto; num

segundo olhar, o desafio de conhecer algo novo, a começar pelo design. Pág.

71 l SAÚDE Quando os estrogénios deixam de ser produzidos pelos

ovários, nas quantidades habituais, a mulher entra em sofrimento. Pág. 72 l

PALAVRAS DA LEI O trabalho suplementar integra “todas as situações de

desvio ao programa normal de actividade do trabalhador, tais como o

trabalho fora do horário em dia útil”. Pág. 73

BOAVIDA

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Boavida|Consumo

Carlos Barbosa de Oliveira

Osol é uma das melhores dádivas do Verão, mastambém um dos seus perigos. Os abusos daexposição solar que se verificam no períodoestival representam uma ameaça para a saúde.

Os raios ultravioleta penetram facilmente na nossa pele,causando prejuízos que podem ser fatais. Incidem emtodos os grupos etários, tendo, contudo, maior incidênciaentre os 14 e os 40 anos, e afectam particularmente o sexofeminino.

As costas, as pernas e o peito são as áreas do corpo demaior risco. Recorde-se que os últimos anos têm sido carac-terizados por um aumento do melanoma (cancro cutâneo),mas existem outros malefícios associados à excessivaexposição solar. É o caso do “golpe de sol”, que provoca febre,dor de cabeça, tonturas e, por vezes, vertigens e delírio. Porisso, certas precauções e um bom protector solar, podem con-stituir um verdadeiro seguro de vida para quem se expõe aosefeitos do astro-rei na praia, na piscina, ou no campo.

As crianças requerem cuidados especiais: defenda-asdo sol directo se tiverem menos de seis meses e quando aradiação for demasiado forte; mantenha-as à sombra, pro-tegidas com uma camisa folgada, e dê-lhes de beber comfrequência.

A ALIMENTAÇÃO

O Verão é propício a problemas alimentares. O mais fre-quente resulta da mais fácil deterioração de alguns produ-tos, devido às elevadas temperaturas. Consumimos mais ali-mentos crus – frutas, saladas -, que nem sempre estão bemlavados. Surgem então as diarreias, os vómitos, as cólicas e,em casos mais graves, as intoxicações, provocadas pormicroorganismos como a listeria e a salmonela. Cerca de50% das toxi-infecções alimentares ocorrem fora de casa.Quando se viaja, os riscos são redobrados. Segundo a OMS,entre 20 e 50 por cento dos turistas são vítimas de diarreia,provocada por alimentos contaminados. Mas estes podemtambém ser responsáveis por febres tifóides, poliomielite,hepatite A e infecções parasitárias diversas. Porém, querviaje quer fique em terra, não deixe que a comida lheestrague o descanso estival. Tome os seguintes cuidados:

l Lave bem os utensílios usados na preparação dos alimen-tos: facas, tábuas de cozinha, etc.l Os alimentos crus devem ser muito bem lavados.l Respeite, mais do que nunca, os prazos de validade dosprodutos.l Não deixe fora do frigorífico alimentos que têm de serrefrigerados.l O peixe, a carne, os ovos e os lacticínios só devem serretirados do frigorífico no momento de serem cozinhados.De preferência, descongele os alimentos no microondas oucoloque-os sob água corrente. Caso contrário, há riscos dedesenvolvimento de bactérias como a salmonela.l Consuma os alimentos bem “passados”, em particular acarne e os ovos.l Se fizer piqueniques ou levar alimentos para a praia, nãoos exponha ao sol.l Se tiver dúvidas sobre a proveniência ou a frescura deum alimento, não o consuma.l Atenção aos mariscos e bivalves, responsáveis pormuitas intoxicações nos meses de Verão. Lembre-se que osmariscos devem ser bem cozidos. Os vegetais e as frutasdevem ser cuidadosamente lavados.l Em viagem, evite o leite não pasteurizado, bebidas nãoengarrafadas e alimentos crus, excepto frutas e legumes,que podem ser descascados. l Atenção aos pratos confeccionados com ovos crus oumal cozidos, como as maioneses, certos molhos esobremesas.

NADAR EM SEGURANÇA

Associados ao Verão estão os banhos no mar, no rio ou empiscinas. Um elemento indispensável nas férias de muitagente, mas que tem os seus riscos, como demonstram ascifras dos afogamentos que todos os anos se registam emPortugal. São acidentes que podem ter múltiplas origens: obanhista afasta-se demasiado das margens sem sabernadar, é levado por uma corrente forte ou, pura e simples-mente, sofreu uma congestão. Tratando-se de crianças, sãovulgares as quedas em piscinas, que geralmente têm resul-tados funestos. De acordo com as estatísticas, 60% dosafogamentos ocorrem no mar e atingem pessoas de todasas idades; 10% sucedem em rios, lagoas ou albufeiras e

Perigos de VerãoO Verão é tempo de férias, de lazer e actividade ao ar livre. Mas tem os seus riscos: intoxicaçõesalimentares, afogamentos, acidentes com bicicletas, etc. Para umas férias bem passadas, não há comoconhecer estes perigos e defender-se deles.

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têm como principais vítimas crianças e adolescentes; 7%têm lugar em piscinas, sendo a queda de crianças commenos de três anos o acidente mais comum; 5% aconte-cem em poços sem muros de protecção e 2% em ban-heiras, dentro de casa, com crianças pequenas.

Aos afogamentos há ainda que juntar outro tipo de aci-dentes, como os ferimentos em rochas, as quedas na areia,etc. Caso especial é o dos parques aquáticos. Os equipa-mentos de lazer de que dispõem – escorregas, piscinas devários tipos - prestam-se à ocorrência de acidentes, espe-cialmente quando estão em causa crianças. Para que nadaensombre o seu Verão, lembre-se que “há mar e mar, há ire voltar” . Tome as seguintes precauções:l Prefira as praias vigiadas. Tratando-se de praias fluviais,lembre-se que certos rios escondem fundões, remoinhos eoutros perigosl Respeite os sinais das bandeiras, assim como asinstruções dos nadadores-salvadores;l Mesmo que nade bem, não se afaste demasiado da costal Após uma longa exposição ao sol, não entre repentina-mente na água;l Não mergulhe em locais que não conhece; l Tenha uma especial atenção às crianças, vigiando-as per-manentemente. Às mais pequenas, coloque-lhes, de prefer-ência, um colete insuflável. Lembre-se que as braçadeirasapenas são admissíveis em águas pouco profundas e sem-pre sob vigilância de adultos;

PREVENIR, PARA EVITAR ACIDENTES...

O bom tempo convida a passeios e brincadeiras em bicicle-tas, trotinetes, patins e skates. Como se tratam de veículoscom alguma instabilidade, exigem cautelas que nem sempresão observadas, como se prova pelo facto de o número deacidentes com bicicletas ter aumentado significativamenteem Portugal nos últimos anos. O ideal é não esquecer oequipamento de protecção e... ter cuidado com as curvas!l Se for ciclista, escolha cuidadosamente o capacete quevai comprar. Um estudo recente demonstrou que, em casode queda sem capacete, o risco de ferimentos na cabeça écerca de seis vezes superior e o de lesões cerebrais, cercade oito vezes maior.l Se andar de skate patins ou trotinete, use equipamentode protecção: capacete, joelheiras e cotoveleiras. Ocapacete deve ajustar-se bem à cabeça. Quando inclina ouabana a cabeça, deve manter-se no lugar. Assim terá acerteza que, em caso de queda ou colisão, o capacete oprotegerá. Por uma questão de conforto, prefira os modelosbem ventilados; l Use, de preferência, locais próprios para a prática destesdesportos. n

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Boavida|Livro Aberto

Da maldade humanaà crença nas fadas

nado em Auschwitz, que consegue construir o instru-mento que se encontra no centro desta história aomesmo tempo dramática, poética e de grande profundi-dade psicológica. Um livro tocante, que parece ter sem-pre música em fundo.

NUM OUTRO DOMÍNIO, o do ensaio teológico, o destaquevai para o livro "São Paulo, Dois Mil Anos Depois"(Editorial Presença), no qual o padre Carreira das Neves,da Academia das Ciências se debruça sobre a actuali-dade da figura e do pensamento de São Paulo, que nãotendo conhecido e convivido com Jesus Cristo, se con-verteu no mais empenhado, competente e eficaz difusorda sua doutrina e da sua mensagem nos vários lugaresonde catequizou homens e mulheres e lançou as basesorgânicas do que viria a ser o cristianismo e depois aIgreja Católica. Reler as suas epístolas continua a serum motivo sempre renovado de reflexão, mesmo paraos não crentes, como é o caso do autor desta crónica delivros.

TÍTULOS DE FICÇÃO narrativa de qualidade a mere-cerem destaque por serem leituras para todas asestações, não estando sujeitas às flutuações do gosto:as reedições de "Os Buddenbrook" (D.Quixote), doNobel da Literatura Thomas Mann, e de "A Paixão deJane Eyre" (Publicações Europa-América), um clássicode Charlotte Bronte, e o magnífico "Raposas de Fogo",da norte-americana Joyce Carol Oates (Casa dasLetras), também autor do brilhante ensaio sobre avocação para a escrita e a sua concretização intitulado"A Fé de um Escritor". Três livros que vale a pena levarpara o Verão, por serem mais profundos que todas ascrises.

OBRA DETERMINANTE no quadro da formação dos estu-dos sociológicos, "As Regras do Método Sociológico" (P.Europa-América), de Émile Durkheim, foi publicadonuma revista filosófica em 1894, autonomizando-se

José Jorge Letria

Dito de outra maneira: serão as guerras e asoutras formas de violência fruto de circun-stâncias ou resultantes da própria naturezahumana? Até ao fim dos tempos, as opiniões

dos filósofos e dos outros continuarão sempre a dividir-se sobre esta matéria. Uma coisa entretanto é certa: oséculo XX terá sido dos mais violentos de toda a históriada humanidade. É justamente disso que fala o notávelestudo "A Pior das Guerras" (Casa das Letras), de DanielJonah Goldhagen, também autor de "Os CarrascosInvoluntários de Hitler". Com o subtítulo "Genocídio,Extermínio e Violência no Século XX", este livro faz otrágico balanço das guerras e das múltiplas formas deextermínio que mancharam de sangue o século XX,desde a Europa à China, desde o Médio Oriente até aoDarfur.

Como disse acertadamente um crítico, estamos empresença de uma verdadeira "história natural do assas-sínio em massa". Ao longo de quase 800 páginas, o autordemonstra que, em todas as latitudes, o ser humano foi,durante o século XX, o maior e o mais cruel de todos ospredadores, bastando os 60 milhões de mortos daSegunda Guerra Mundial e os seis milhões de vítimas doHolocausto no mesmo período para nos fazer reflectir,individual e colectivamente, sobre aquilo que queremospara o século em curso, já de si marcado por tantasincertas, agressões, ameaças e catástrofes naturais. Umlivro que dá muito que pensar e, por isso mesmo, umlivro a não perder.

COM UMA TEMÁTICA próxima do livro anterior, mas emregisto de ficção, "O Violino de Auschwitz" (D. Quixote),de Maria Àngeles Anglada, tem a sua acção situada emCracóvia, em Dezembro de 1881, quando uma violinista,num concerto dedicado a Mozart, surpreende um colegacom o aspecto e a sonoridade do seu violino. É assimque começa a ser narrada a história de Daniel, um inter-

Um célebre diálogo epistolar entre Einstein e Freud sobre a inevitabilidade da guerra no quadro daspulsões humanas deixou em aberto esta grande questão: será o Homem capaz de viver sem a guerra esem a violência organizada?

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depois como texto referencial da Sociologia no séculoXX. Um texto sempre actual que nos ajuda a compreen-der as bases de uma das mais importantes ciênciashumanas, justamente aquela que estuda os comporta-mentos, as acções e as formas de organização dos sereshumanos em sociedade.

DA MESMA EDITORA e para quem acredita em fadas ouestá disponível para vir a acreditar nelas é o delicioso"Tratado das Fadas-Seguido de Vários Tratados Famosos

com a Mesma Temática", de Ismael Mérindol, traduzidoe adaptado por Edouard Brasey. Mais do que um merolivro sobre as fadas, estamos em presença de um ver-dadeiro tratado sobre o pensamento mágico que reflecteo que sobre este tema esotérico se sabia e pensava noséculo XV. O adaptador é um romancista contemporâ-neo que é conhecido por ser um estudioso dos mitos edas lendas nórdicos e do papel das fadas no imagináriocolectivo. Realce ainda para o sedutor grafismo destaedição. n

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Boavida|Artes

Rodrigues Vaz

Filha do celebrado pintor António Areal, a artistacresceu e viveu ligada à pintura, o que se evi-dencia no desembaraço das suas soluções decomposição e no domínio do grande formato,

próprio de quem está habituado a lidar com o espaço e assuperfícies.

Muito próxima da pintura minimal, acaba, no entanto,por demarcar-se desta corrente estética, ao utilizargradações nas cores planas que vai desfazendo em man-chas, as quais, apesar da imprecisão espacial, resultam emcertos elementos evocadores de sentimentos paisagísticosque adquirem, por sua vez, vibrações que transcendem opostulado "pintar por pintar" sem, paradoxalmente, deixarde lado o prazer da pintura.

CARLOS BARÃO NA GALERIA VALBOM

De certo modo na mesma linha mas evidenciando umpendor mais gestualista está Carlos Barão a mostrar naGaleria Valbom (até 30 de Junho),igualmente em Lisboa, as suasúltimas obras, subordinadas aotítulo "O Parentesco das Coisas".

Como dizia Rocha de Sousa hádois anos, "No seu pleno espaçode expressão, ele elabora formasatravés de linhas, tintas comoque rasuradas, colagens, manchasde recortes particulares,antropomórficos, ou caligrafiasnarrativas em torno dos person-agens do quotidiano, da família edos adereços construtivos." Porisso mesmo é que estes quadrosagora mostrados se apresentamcomo a confluência de sendasamiúde incompletas, de traçosque ascendem em círculos inde-terminados, como fantasmáticas

Sofia Areal na Cordoaria Nacional:

O prazer da pinturaAté ao próximo dia 26 do corrente mês é possível ver na Galeria Torreão Nascente da CordoariaNacional, Lisboa, a exposição "Sim", pintura e desenho de Sofia Areal, que engloba a sua obra de 2000 a2011 e com que faz uma pausa de reflexão nos seus 50 anos de vida.

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torres de Babel, que por sua vez compõem novos elemen-tos que se vão transformando em símbolos caligráficos,que por sua vez compõem egos e estes por sua vez, com-põem estórias…

ONIK E PAUL MATHIEU

Registo completamente diferente é o que Onik, artista irani-ano radicado há vários anos em Portugal, apresenta por suavez na Galeria Movimento Arte Contemporânea, Lisboa.Tendo como objectivo principal a representação do própriomovimento da energia, como núcleo central da vida, Onik,

que foi aluno do inefável Salvador Dali, revisita de novo oSurrealismo como movimento visionista que tomou as ima-gens oníricas como principal fonte de inspiração.

Caracterizando-se por um desenho meticuloso, numaminuciosidade quase fotográfica no tratamento dos deta -lhes, com um colorido muito brilhante e luminoso, Oniklança como que uma escada entre os mundos do real e doirreal, palmilhando a estrada dos homens, onde, por cam-inhos aparentemente perdidos, enfrentam uma belezaintraduzível.

Por outro lado, Paul Mathieu, artista plástico belga radi-cado há muito em Portugal, apresenta na novel GaleriaPaula Cabral, Lisboa, "Contraste Atmosférico", fruto dosseus dois últimos anos de trabalho.

São obras de grande pujança cromática pretendendorecriar um grande contraste entre uma atmosferacinzenta e os outros elementos basilares: água azul, fogoencarnado, e o amarelo da luz sola, utilizando a linhaou a composição diagonal, como base para realçar omovimento, onde a linha é utilizada enquanto elementogerador de superfície de forma subentendida ou expres-sa. n

O rinoceronte de D. Manuel I, de Onik. Em baixo, pintura de Carlos Barão

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Os britânicos Pet Shop Boys lançaram recentemente um duplo-álbumcom o título genérico “The Most Incredible Thing”.

Vítor Ribeiro

Uma obra de carácter sinfónico, de grandefôlego, que marca de forma indelével a ediçãodiscográfica em 2011.

Neil Tennant e ChristopherLowe, músicos e compositores queno início dos anos 80 do séculopassado fundaram os Pet ShopBoys e assumiram lugar dedestaque na vanguarda da chama-da pop electrónica, surpreendem-nos agora com um extraordináriotrabalho inspirado na obra “TheMost Incredible Thing”, uma dasúltimas histórias criadas pelo uni-versalmente conhecido escritordinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875).

“Atormentado” pelos acontecimentos políticos do seutempo, Andersen escreveu aquele texto a propósito daguerra franco-prussiana em 1870 e posteriormente entre aPrússia e a Dinamarca. De resto, aquela mesma obra foireeditada pela Resistência dinamarquesa, quando se regis-tou a ocupação do país pelos exércitos nazis, durante aSegunda Grande Guerra (1940-1945). Os patriotas dina-

Boavida|Músicas

marqueses tinham a noção de que “The Most IncredibleThing” era uma parábola da vitória do bem sobre o mal.

Talvez por serem também tormentosos os tempos emque nos obrigam a viver, os Pet Shop Boys retomaram aobra de Andersen com invulgar empenho e compuseramuma obra de carácter sinfónico, para a companhia de

bailado Sadler`s Wells deLondres.

Lançada a ideia em 2007,decorreram três anos de intensotrabalho, até que, no final de2010, o álbum foi gravado naPolónia pela Wroclaw ScoreOrchestra dirigida por DominicWheeler. As orquestrações foramda responsabilidade de SvenHelbig e Javier De Frutos assinoua coreografia.

O lirismo, a ironia, a tristeza e a alegria são-nos trans-mitidos por sonoridades em que se entrecruzam a músicasinfónica, a pop/rock, a electrónica e o minimalismo. “TheMost Incredible Thing” é uma obra imponente e extrema-mente bela.

Entretanto, a companhia de bailado Sadler`s Wells estájá a planear uma digressão para 2012. Com sorte, poderser que passem por Portugal. n

MAYRA EM LISBOA

A cantora cabo verdeana Mayra Andrade

efectua um concerto em Lisboa dia 3 de

Junho. Estará no Coliseu, a partir das

21h30. Os promotores afirmam: “O seu

último trabalho, Estúdio 105, coloca a

sua magnífica voz num cenário mais

despido em termos de arranjos,

permitindo-lhe obter um brilho ainda

mais intenso”.

ESTORIL JAZZ

Últimos dias da 30ª edição do Estoril

Jazz, a decorrer no auditório do Casino.

Dia 3 de Junho, Mário Laginha Trio,

pelas 21h30. Dia 4 de Junho, Hal Galper

Trio, às 18h00. Dia 5 deJunho, Joe

Lovano Quarteto, a partir das 19h00.

LAMB EM PORTUGAL

Os Lamb, projecto inglês dos músicos e

compositores Lou Rhodes e Andy

Barlow, estarão em Portugal em Junho

para três concertos: 10 de Junho no

Pavilhão do Arade, em Lagoa, no dia

seguinte no palco do Grande Auditório

do Centro Cultural de Belém, em Lisboa,

e 12 de Junho no Coliseu do Porto. A

partir das 21h00.

Pet Shop Boys:um “Incrível” regresso

CONCERTOS

64 TempoLivre | JUN 2011

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Page 65: Tempo Livre Junho 2011

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Page 66: Tempo Livre Junho 2011

Boavida|No Palco

Maria Mesquita

Avida de Einstein daria vários filmes, romances,debates, discussões. Um homem que passoupela História e ficou nela registado não sópelas suas descobertas científicas, mas também

pelo seu humor, pela sua personalidade dócil, extrava-gante, gentil, boémia também. E é dos relacionamentosde amizade que esta incrível personagem de carne eosso teve ao longo da sua vida que trata esta encenaçãod’A Barraca. Travou conhecimento com numerosas ou -tras grandes figuras que integram igualmente o nossoimaginário mais recente: políticos, cineastas, músicos eactrizes. Envolveu-se em lutas políticas e defendeu osinteresses que achava que deveria defender.Invulgarmente inteligente, Einstein foi um judeu avessoa fundamentalismos étnicos e que nunca tratou ninguémcom superioridade. Uma produção apaixonante eenriquecedora sobre o grande génio do século XX com aassinatura de Hélder Costa.

FICHA TÉCNICA: Texto, espaço cénico, encenação, guião

musical: Hélder Costa; Recolha musical e vídeo: Caio

Quinderé; Boneco Einstein: Yuri Yamamoto; Figurino: Rita

Fernandes; Execução de Figurino: Alda Cabrita e Inna Siryk;

Luz, Som e projecções: José Carlos Pontes; Montagem:

Fernando Belo, Ricardo

“ELA”, O PAPA…

A partir de 16 de corrente, a Cornucópia terá em cena“ELA”, obra póstuma em 1 acto de Jean Genet sobre oPapa, escrita na mesma altura de A Varanda, que abordade forma mais ligeira e humorística, e não menos cruel, atemática da imagem e da distância entre ela e o eu, pre-vista para Novembro e Dexembro próximos.

“ELA” é Sua Santidade o Papa, imagem vazia daautoridade religiosa. Na peça um fotógrafo vem fazeruma fotografia oficial ao Papa. Depois de uma primeiraparte em que o contínuo que guarda a porta dos aposen-tos pontificais constrói para o fotógrafo a imagem oficialdo papa, chega o papa, ser assexuado, afinal em cima depatins e vestido só da parte da frente, revelando-se emtudo diferente da imagem e chegando a dizer: ”eu sounada.”

Uma questão entre o Eu e os outros, o Ego dos queestão “acima” dos outros. Tanto, que a meio da sessãofotográfica oficial, central neste texto, o Papa pergunta aofotógrafo que o tenta retratar para a posterioridade: “Não

O século de EinsteinA vida e obra de Einstein servem de mote para a descrição geral do séc. XX, bem como para acaracterização de inúmeras personagens históricas que transformaram o século passado em algoúnico. No palco de A Barraca, até 10 de Julho.

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Page 67: Tempo Livre Junho 2011

sei se quando um homem se ajoelha perante mim, o fazpelo acto em si, ou pela veneração aos meus pés”.

Um ser assexuado que acaba por não perceber qual asua real importância, embora saiba bem como lidar com o“estrelato” e mediatismo que a sua personagem carregadesde os primórdios dos tempos.

FICHA TÉCNICA:Autor: Jean Genet; Tradução e encenação:

Luis Miguel Cintra; Cenário e figurinos: Cristina Reis; Desenho

de luz: Daniel Worm D’Assumpção; Interpretação: Ricardo

Aibéo, Luis Lima Barreto, Luis Miguel Cintra e Dinis Gomes.

CASAMENTO EM JOGO

De 17 de Junho a 31 de Julho o Teatro da Trindade apre-senta, na sala principal, a peça de Edward Albee,Casamento em Jogo”.

O que é o amor conjugal? Será possível manter o amorvivo durante trinta anos sem que haja lugar para ressenti-mentos e recriminações? Será que um casamento é feitopor dois seres que se complementam, ou por duas pessoasque afinal se desconhecem? Esta comédia dramática,

inédita em Portugal, expõe com intensidade as decepções,alegrias, memórias e traições que se revelam durante umanoite de conflito entre um homem e uma mulher. Aoamanhecer a separação parece inevitável, mas nenhumdos dois dá o primeiro passo.

FICHA TÉCNICA:De: Edward Albee; Encenação: Graça P.

Corrêa; Com: Cucha Carvalheiro e Rogério Samora; Figurinos:

Tenente; Cenografia: Ana Vaz; Luz: João Paulo Xavier;

Classificação: M/12

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Page 68: Tempo Livre Junho 2011

ENTRELAÇADOS

Encerrada pela mãe na Torre,

a princesa Rapunzel vive,

com o seu longo cabelo

dourado, distante do mundo

que a rodeia. Um dia, é sur-

preendida na

torre pelo bandi-

do mais procura-

do do Reino,

Flynn Ryder,

que é feito pri-

sioneiro pela

jovem. Esta faz um acordo

com ele: guiá-la na viagem

que ela quer fazer até ao local

onde todos os anos por altura

do seu aniversário surgem

umas luzes brilhantes no

céu…e aí começa a grande

aventura! Conto de fadas

alemão dos Irmãos Grimm,

foi adaptado pelos estúdios

Disney num formato de ani-

mação tradicional que encan-

tou crianças e famílias nas

salas portuguesas. Um clássi-

co imperdível graças à quali-

dade da imagem, do som e da

banda sonora, com a assinatu-

ra de uma dupla jovem com

créditos firmados no cinema

de animação, sobretudo de

Byron Howard, realizador de

Bolt (2008).

TÍTULO ORIGINAL: Tangled;

REALIZAÇÃO: Nathan Greno e

Byron Howard; VOZES: Mandy

Moore, Zachary Levi, Donna

Murphy, Ron Perlman, M.C.

Gainey; EUA, 100m, Cor, 2010;

EDIÇÃO: Zon Lusomundo

O APRENDIZ DE FEITICEIRO

Baltazar é um Mestre de Magia

na Nova Iorque dos dias de

hoje e que procura defender a

cidade do seu arqui-rival

Maxim. Para tanto, vai con-

vencer o jovem Dave, um estu-

dante universitário com

enorme potencial, a ajudá-lo.

Terá, porém, que lhe ensinar

tudo o que sabe da arte e ciên-

cia da Magia e esperar que o

jovem aprendiz se torne tão

poderoso quanto ele para, jun-

tos, derrotarem as forças do

Mal. A tarefa não é fácil para

Dave: terá de sobreviver ao

treino, defender a cidade e

ficar com a sua amada enquan-

to se torna no

Aprendiz de

Feiticeiro.

Baseado num

segmento de

Fantasia, um

clássico da

Walt Disney (1940), no qual o

ainda jovem Rato Mickey fazia

de aprendiz de feiticeiro, o

filme, recheado de magia e

poderes invulgares, tem elenco

de grandes estrelas: Nicholas

Cage, Alfred Molina, Monica

Bellucci e a jovem estrela em

ascensão Jay Baruchel.

TÍTULO ORIGINAL: The

Sorcerer's Apprentice; REALI -

ZADOR: Jon Turteltaub; COM:

Nicolas Cage, Jay Baruchel,

Alfred Molina, Teresa Palmer,

Monica Bellucci; EUA, 109m, Cor,

2010; EDIÇÃO: Zon Lusomundo

SECRETARIAT

Com o Pai doente, Penny,

uma dona de casa, assume a

gestão dos estábulos da

família apesar de não saber

nada sobre cavalos e respecti-

vas corridas. Com a ajuda do

experiente treinador Lucien,

ela consegue revolucionar o

negócio, tradicionalmente

masculino, ao alcançar a

primeira vitória na Triple

Crown e produzir o melhor

cavalo de corrida de todos os

tempos. Seguindo a tradição

do cinema americano de

filmes sobre desportos,

incluindo os de

corridas de ca -

valos - caso do

clássico "O

Cavalo Preto"

(1979) -,

Secretariat é um retrato origi-

nal e intenso deste mundo

exclusivo dos cavalos. Diane

Lane é a lindíssima protago-

nista, acompanhada pelo ver-

sátil John Malkovich, o

treinador. Realizado por

Randall Wallace, celebrizado

pelo argumento de

"Braveheart", é um filme para

apaixonados do mundo hípi-

co e não só.

TÍTULO ORIGINAL: Secretariat;

REALIZAÇÃO: Randall Wallace;

COM: Diane Lane, John

Malkovich, Dylan Walsh, Margo

Martindale, James Cromwell;

EUA, 123m, cor, 2010;

EDIÇÃO: Zon Lusomundo

TRON: O LEGADO

Sam é um jovem de 27 anos

atormentado com o desapareci-

mento misterioso do pai, Kevin

Flynn - um génio na criação de

jogos de vídeo. Ao investigar

uma estranha mensagem

proveniente do antigo

escritório do pai, o jovem entra

num mundo novo, digital e

futurista, e acaba por encontrar

o seu progenitor. Com a ajuda

da lutadora Quorra, eles vão

enfrentar uma série de desafios

perigosos e viver a aventura

das suas vidas num universo

totalmente digital. Remake de

um filme dos anos 80, Tron

(1982), que não teve grande

êxito junto do

público, o filme

foi, agora, um

sucesso de bi -

lheteira e bem

recebido pela críti-

ca, com nomeação para os

Óscares efeitos visuais e

sonoros. Estreado entre nós no

final de 2010, "Tron: o Legado"

foi um dos acontecimentos

cinematográficos marcantes do

ano, quer pela ousadia visual

quer pelo arrojo técnico e pela

banda sonora, feita à medida

do filme pela dupla Daft Punk.

TÍTULO ORIGINAL: Tron: Legacy;

REALIZAÇÃO: Joseph Kosinski;

COM: Jeff Bridges, Garrett

Hedlund, Olivia Wilde, James

Frain, Michael Sheen; EUA,

125m, cor, 2010; EDIÇÃO: Zon

Lusomundo

Solstício de veraneio com férias longas à vista, sobretudo para os mais pequenos, justificam estasquatro propostas dos Estúdios Disney: Entrelaçados, uma adaptação de um clássico dos IrmãosGrimm; O Aprendiz de Feiticeiro, com Nicholas Cage no papel de um Mestre de Magia; Secretariat e amagia do mundo hípico; e Tron: O Legado, remake feliz de um clássico dos anos 80. Sérgio Alves

Magia Disney

Boavida|Cinema em Casa

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Boavida|Grande Ecrã

Entretenimento e terapiaSob a batuta da Dreamworks, "O Panda Kung-Fu 2 " invade festivamente, no dia 9, as salas do país.Noutra latitude, o regresso triunfal da actriz realizadora, Jodie Foster com Mel Gibson em terapia comum castor. Junho promete, está visto.

Joaquim Diabinho

Vinte anos depois da sua estreia na realizaçãocom o surpreendente "Little Man Tate" ("MentesQue Brilham") sobre o caso de uma criançasobredotada oriunda de meio social adverso,

Jodie Foster reaparece em, "O Castor" (The Beaver) maissurpreendente ainda a revelar maior solidez narrativa nosmoldes clássicos a que nos habituara e, coisa rara,exibindo uma excelente e ousada ideia base de argumento-um homem em crise existencial profunda encontra numamarioneta em forma de castor o seu alter ego (de peluche!)com quem vai comunicar como se fosse um outro serhumano e recuperar a partir do "zero" o gosto pela vidaafastando os demónios interiores que o atormentam- ofe -rece também imensas potencialidades evocativas. Porexemplo, das realidades diversas (fracasso profissional,crise conjugal e familiar, desadaptação social e medoinclassificável do desconhecido - o futuro?) que ensom-bram o intímo de milhões de homens e mulheres de meia-idade nos países desenvolvidos. E fiquemos-nos por aqui.

Comédia dramática,de tom fortemente satírico,"OCastor" prima por uma mise-en-scène de grandesobriedade e descrição. E fá-lo através de uma forma,exemplar, cada vez mais hábil que vai da aparência natu-ralista ao absurdo;que é capaz de emocionar sem cair natentação fácil do sentimentalismo; que mostra mão firmeno tratamento dos diferentes níveis emocionais da

história. Em suma:o que surpreende em Jodie Foster é,apesar de um certo convencionalismo benigno, de resto,a sua capacidade de ilustrar a perturbação dramática comum olhar profundamente humano.

Bem recebido em Cannes, votado ao ostracismo nosEstados Unidos, "O Castor" deve ser visto também comoum exercício de terapia radical (Mel Gibson que o diga!) ede catarse. Colectiva, se possível, já agora.

LOUVADA SEJA A DREAMWORKS que tem a criançada naspalminhas das mãos para o reencontro divertido e emgrande estilo, a partir de quinta-feira, 9 com o ursopanda Po, grande mestre de kung-fu,e os amigos, entreos quais, Mestre Tigre, a Cobra e a Garça, o Mestre tar-taruga Oogway ou o Mestre Shifu também grandesexperts nas artes marciais, a viverem sossegados no Valeda Paz até à aparição ameaçadora de um vilão pérfidoque planeia usar uma arma secreta imbatível para destruiro kung -fu e conquistar a China. Imodéstia de propósitos àparte, trata-se, evidentemente, de "O Panda Kung-Fu 2" ofilme para todos mais aguardado do ano.Mescla de StarWars, Kill Bill, O Tigre e o Dragão, Karaté Kid, Bruce Lee,e até Matrix a novel coqueluche do estúdio criado porSteven Spielberg soma e segue na arte de entretenimentoa todo o vapor.

Nota: Falta é explicar por que é que o panda é filho deum pato e para mais empresário da restauração. n

JUN 2011 | TempoLivre 69

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Boavida|Tempo Informático

Os ficheiros cresceram

Gil Montalverne [email protected]

Parece obedecerem à célebre Lei deMoore, profecia que o Presidenteda Intel fez em 1965, afirmandoque o número de transístores dos

processadores duplicaria em cada períodode 18 meses, lei que tem sido alargada aosvários dispositivos, como CCD decâmaras digitais, cartões dememória e as diversas velocidadesa que trabalham. Ora os nossosficheiros, fotografias, vídeos e ou -tros, necessitam cada vez de maismais espaço e os computadoresficam demasiado cheios, prejudi-cando muitas das suas funções edesempenho, como aliás todossabem. Mas há sempre aquela ten-tação de nele guardar mais este ouaquele vídeo, esta ou aquelafotografia, para estarem mais rapi-damente acessíveis. Perante estesfactos, só existe uma solução queaté tem a vantagem de ser umarmazenamento mais seguro: autilização de dispositivos externos. Uma das variantes aconsiderar é a capacidade de armazenamento que varianaturalmente de acordocom o preço.

Se optarmos pela escolha unicamente em função davelocidade, não temos dúvidas em aconselhar os discos rígi-dos externos de 3,5 polegadas, dispositivos que possuem nointerior discos semelhantes aos que são usados nos com-putadores de secretária. Entre os discos deste tipo existentesno mercado possuindo já a ligação USB 3.0 com umavelocidade dez vezes mais rápida do que as anteriores por-tas USB 2.0, o StoreJet 35T3 da Transcend foi o maiseconómico que encontrámos. Com a capacidade de 1Terabyte ao preço de 113 Euros e com 2 Terabytes 177Euros. É de notar que estes discos da Transcend possuemum sistema de poupança de energia que reduz em 70 % oconsumo ao fim de 10 minutos de inactividade e trazem umsoftware de backup automático, que pode ser configurado e

Todos os utilizadores de informática têm notado o modo exponencial como os ficheirosaumentam de capacidade.

70 TempoLivre | JUN 2011

funciona com o simples carregar num botão. Se a nossa opção for a mobilidade e portanto

um transporte mais cómodo, escolheremos osdiscos mais pequenos de 2,5 polegadas, iguaisaos que são usados nos portáteis. Comparadosem características semelhantes aos de 3,5 pole-gadas, são mais caros. A comodidade paga-semas sempre foram mais caros que os desecretária. Ficámos bem impressionados com oPackard Bell Go, a mais recente unidade dedisco rígido de 2,5 polegadas. Cabe na palma damão e inclui a tecnologia PowerSave, que reduzo consumo de energia em 30% ao desligar-seautomaticamente (quando não está a ser utiliza-do ou quando o computador é encerrado). Alémdisso, a tecnologia PowerSave prolonga a espe -rança de vida efectiva da unidade, o que émuito importante.

Um armazenamento que permite ter os nossosficheiros de vídeo, audio ou fotografia com possibili-dade de serem reproduzidos por exemplo num televisoré a opção dos Media Players ou Discos Multimédia comcomando a distância. Destacamos o Western Digital TVLive Hub com 1 Terabyte de armazenamento, dispondode vídeo on line, reproduzindo praticamente todos osformatos de vídeo, mesmo em Full—HD de 1080p,audio digital ou imagem, permitindo ainda a utilizaçãode jogos. Além disso pode estar ligado em rede paraqualquer canto da casa. É uma boa solução dearmazenamento e entretenimento. n

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Page 71: Tempo Livre Junho 2011

Boavida|Ao volante

BMW X1: o prazer de conduzirA fórmula BMW X1. Num primeiro olhar um modelo compacto; num segundo olhar, o desafio deconhecer algo novo, começando pelo design: as linhas laterais elevadas conferem ao BMW X1 umaaparência dinâmica, enquanto as saliências curtas e o óculo traseiro inclinado criam uma silhuetaelegante e desportiva.

Carlos Blanco

Na dianteira, a capota de formas distin-tas e os faróis de óptica tripla causamum forte impacto, ao mesmo tempoque as luzes de presença em L e as

linhas horizontais fluidas ampliam visualmente atraseira. No conjunto, o design do BMW X1transmite uma mensagem muito simples: a mate-rialização do prazer de conduzir.

Reduzir as emissões e aumentar o prazer deconduzir. É este o princípio simples inerente aeste carro. Com o sistema "Efficient Dynamics" adinâmica máxima pode ser apreciada de con-sciência tranquila. Com componentes como afunção automática Start/Stop (de série em todasas versões diesel de quatro cilindros e no BMW X1Drive28i) e a função de regeneração de energia, a BMWestá a investir no futuro. Em conjunto com a construçãode baixo peso e outras medidas inovadoras, a BMW con-seguiu reduzir significativamente o consumo de com-bustível em todos os modelos.

O BMW X1 consegue manter-se na estrada sem pisar orisco graças a uma espantosa afinação da suspensão, dis-tribuição da carga sobre os eixos quase perfeita de 50:50 ebaixo centro de gravidade. Enquanto as versões sDrivecom tracção às quatro rodas traseiras impressionam pelasua agilidade e facilidade de manobra, as versões xDrivefazem-nos vibrar. Este sistema de tracção integralinteligente aumenta ainda mais a segurança da tracção e aestabilidade direccional do BMW X1, mesmo em pisosirregulares. O que também contribui para esta estabilidadeé o Performance Control, disponível como opcional emcombinação com o xDrive. Com este sistema, o automóveldescreve as curvas de forma activa e segue a trajectóriacom a máxima precisão. Ambas as versões, com um com-portamento em estrada típico da BMW, garantem o máxi-mo prazer de condução em cada curva.

No que respeita à segurança, os componentes do mode-lo experimentado cumprem a promessa da sua aparênciaconfiante. Os ocupantes estão protegidos por um total de

seis airbags numa célula de passageiros que dispõe dezonas de deformação definitivas. Estes altos níveis desegurança foram confirmados pelos resultados do teste decolisão Euro NCAP: o BMW X1 obteve a melhor classifi-cação, com cinco estrelas, relativamente à protecção dosocupantes. Obteve ainda o melhor resultado respeitante àprotecção de peões entre todos os veículos do segmentoSUV que realizaram o teste até agora. Para manter oessencial ao alcance do olhar depois de anoitecer, podemser encomendados faróis de xénon com controlo de ilumi-nação em curva opcional, incluindo luzes de curva e con-trolo dinâmico do alcance dois faróis.

Não restam dúvidas de que as grandes ideias serevêem nos pequenos detalhes. O ambiente relaxante abordo do BMW X1 é proporcionado pelos excelentesacabamentos e materiais de elevada qualidade e em coresque se complementam de forma perfeita. Ao mesmotempo, os vários compartimentos de arrumação dohabitáculo satisfazem as nossas necessidades práticas. Otecto de abrir panorâmico, opcional, acentua a sensaçãode espaço e, para uma visibilidade mais ampla durante oestacionamento, está disponível, também como opcionaluma câmara traseira.

Um único senão no modelo ensaiado: a falta de umGPS de série. n

JUN 2011 | TempoLivre 71

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Page 72: Tempo Livre Junho 2011

Boavida|Saúde

Quando os estrogénios diminuemQuando os estrogénios deixam de ser produzidos pelos ovários, nas quantidades habituais,a mulher entra em sofrimento. A esse período, que antecede a menopausa, chamamos"peri-menopausa". Pode durar 3 a 5 anos.

M. Augusta Drago medicofamí[email protected]

Esta fase da vida das mulheres, com duração eacuidade dos sintomas dependendo de múlti -plos factores (nem todos ainda esclarecidos),varia de mulher para mulher e caracteriza-se por

irregularidades menstruais e instabilidade psíquica e emo-cional.

Nas mulheres, a quem não foram retirados cirurgica-mente os ovários, diz-se que entraram na menopausaquando a menstruação deixa de aparecer por um períodode 12 meses. Isto acontece normalmente entre os 45 e os55 anos. Esta é uma fase crítica na vida das mulheres -deixam de ter a capacidade de ter filhos e simultanea-mente aparecem os primeiros sinais inequívocos de envel-hecimento. Em geral, as mulheres sentem-se mais inse-guras e muitas passam por períodos de depressão.

A menopausa é um processo durante o qual se agravamas doenças já existentes e surgem novos sintomas. As mu -lheres que à partida já sofriam de doenças cardíacas ou dediabetes sentem maior dificuldade em controlar essaspatologias e passam a ter de conviver com sintomas muitoincomodativos, como os calores súbitos ou afrontamentos.

Esta sensação de calor intenso principalmente nacabeça, pescoço e costas e, por vezes, em todo o corpo éangustiante, porque as mulheres acham que o rubor dacara é notado pelas outras pessoas em redor, o quecria situações embaraçantes. Nestas alturas, poucoou nada há para fazer senão esperar quepasse… A maior parte das mulheres só sen-tem este mal-estar no primeiro e segundoano após a menopausa, outras, porém, sen-tem-no até ao fim da vida, embora commenor frequência.

Um dos sintomas mais perturbadoresque surge depois da menopausa é a insó-nia. Esta resulta em grande parte dosafrontamentos nocturnos que, pela sua inco-modidade, acordam as mulheres a meio danoite e potenciam a ansiedade, contribuin-do para o aparecimento da depressão. Esta,por sua vez, vai agravar a insónia. A perda

da qualidade da vida destas mulheres torna-se real se nãoexistir uma intervenção terapêutica atempada.

Outros dos sintomas não menos gravosos são asqueixas urinárias e vaginais. Algumas mulheres sentemdificuldade em controlar a urina, sofrem de incontinên-cia urinária, sobretudo em situações de stress ou quan-do tossem ou espirram. As infecções urinárias, a sen-sação de urgência em urinar e o número de vezes quetêm necessidade de urinar também estão aumentadosna menopausa. As queixas vaginais, tais como odesconforto produzido pela secura vaginal, que nestaaltura se acentua, leva em geral à perda do desejo sexu-al e conduz a problemas no casal.

A perda de cálcio ósseo, osteoporose, não constituiuma queixa apresentada pelas mulheres, porque é umadoença grave que progride silenciosamente a partir damenopausa e só dá sintomas quando acontece uma frac-tura. Para termos uma ideia da sua importância, podemosdizer "grosso modo" que no nosso país, de 10 em 10 minu-tos, uma mulher sofre de uma fractura causada pela osteo-porose. Nem todas estas fracturas são sintomáticas, masalgumas são muito dolorosas e invalidantes.

É do conhecimento geral que apenas uma em cada dezmulheres recorre ao médico com queixas relacionadascom a menopausa. Também é sabido que um grandenúmero mulheres desvaloriza ou não passa por estes sin-

tomas. Porém, ainda subsistem muitas outrasque sofrem sozinhas, quer por pudor quer

porque ignoram que estão disponíveis trata-mentos que as podem ajudar a minoraresses sintomas.

A mensagem que quero deixar é que,nos tempos que correm, há sofrimentos

que podem ser evitados. Dispomos derecursos terapêuticos para melhorar

e até mesmo para resolver eficaz-mente a maior parte destes sintomasincomodativos da menopausa. Tratar ounão tratar é uma decisão que cabe aomédico, depois de tomar conhecimen-to da sua situação, e para isso vai terde o procurar. n

72 TempoLivre | JUN 2011 ANDRÉ LETRIA

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Page 73: Tempo Livre Junho 2011

Boavida|Palavras da Lei

? Trabalho como electricista. Como tenho jeito de

carpintaria, o meu patrão pediu-me para substituir um

colega, carpinteiro, numa obra que decorreu durante um

fim-de-semana inteiro.

Ao falar com o meu patrão sobre o pagamento deste

serviço, ele disse-me que foi um "favor especial" que me

pediu, e que me recompensaria. Tenho direito ao

pagamento, mesmo por "especial favor"?

Sócio devidamente identificado - Viana do Castelo

Pedro Baptista-Bastos

Quando substitui o seu colega, a pedido doseu patrão, este usou o chamado jus var-iandi, ou seja, direito de variação quecorres ponde ao poder que ele tem de,

excepcional e transitoriamente, exigir-lhe queefectuasse uma tarefa que não se encontra correspondi-da na sua categoria profissional.

E fê-lo, por ter tido necessidade de alguém quefizesse trabalho suplementar, isto é, que este sócioprestasse actos de trabalho compreendidos fora do seuhorário de trabalho. Nestes casos, não existem favoresespeciais, e tem direito, graças à excepcionalidade dasituação, ao pagamento da sua retribuição e a um des-canso compensatório, se for esse o caso.

Como devem calcular, a desculpa do "especial favor"não tem qualquer aplicação, para a justa retribuição epagamento daquilo a que tem direito.

Contudo, faço-lhe notar que, de acordo com oAcórdão do STJ de 18/02/2011, proc. nº 25/2007, reco -nhecendo o trabalho suplementar como "todas as situ-ações de desvio ao programa normal de actividade dotrabalhador, tais como o trabalho fora do horário emdia útil" , como é esta nossa situação, se quiser avançarpara a efectivação do pagamento da sua retribuição,terá que fazer a "prova dos dias e do número exacto dehoras que trabalhou", de modo a ver esclarecidas todasas situações de justo pagamento do que lhe é devido,enquanto traba lhador, junto das devidas instânciaslegais. n

Prestação de trabalho suplementar

JUN 2011 | TempoLivre 73

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Page 74: Tempo Livre Junho 2011

Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

N.º 27Preencha a grelha com osalgarismos de 1 a 9 semque nenhum deles serepita em cada linha,coluna ou quadrado

(HORIZONTAIS): 1-CORAL; ABA; OESTE. 2-ARO; ATRACAR; AOS.3-IA; AGRA; ERMA; MC. 4-X; TRAIR; NAUTA; O. 5-IF; AR; AMO; ZE;RN. 6-L; IM; A; A; A; SC; D. 7-HORA; CATAS; TEMI. 8-O; ADORME-CERAM; D. 9-SS; ATE; R; SER; PO. 10-ASSE; ANO; SAMA. 11-OPA;LABORAM; ANA. 12-CAIRO; R; A; ARMAS. 13-ALTE; FERRO

SOLUÇÕES

ClubeTempoLivre > Passatempos

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

N.º 27 SOLUÇÕES

Palavras Cruzadas | por José Lattas

HORIZONTAIS: 1-Vermelho; Abrigo; Ocidente. 2-Cincho;Abalroar; Junção de preposição e artigo (pl.). 3-Estava; Brejo;Desamparada; Ministério da Cultura (sigla). 4-Deltar;Mareante. 5-Pequena ilha no Golfo de Lyon, a 3 km deMarselha; Atitude; Proprietário; José (abrev.); Rádon (s.q.). 6-Forma do prefixo de negação, quando o radical começa por bou p; Escândio (s.q.). 7-Ensejo; Buscas; Duvidei. 8-Abrandaram. 9-Corpo criado por Hitler, para a sua segurançapessoal (sigla); Preposição; Criatura; Polónio (s.q.). 10-Abrase;Tempo de uma aparente revolução do Sol, em torno daeclíptica; Agulha do pinheiro. 11-Balandrau; Trabalham;Nome feminino. 12-Cidade egípcia; Escudo. 13-Freguesia doConcelho de Loulé; Âncora; Na mitologia grega, deusa domatrimónio e nascimento, equivalente à Juno romana.

VERTICAIS: 1-Molduras; Vazia. 2-Contudo; Lameiro. 3-Letragrega; Agastamento; Irmãs, do pai ou da mãe (inv.). 4-Guarnecidas de arame; Retaguarda. 5-Relego; Drama deShakespeare. 6-Elemento de composição de palavras, com osignificado de três; Corrosivo. 7-Logro; Antes do meio-dia(abrev.); Aclara. 8-Bário (s.q.); Afectuoso. 9-Convite; Queindica data anterior à era cristã; Discursar. 10-Pira; Um pontonos jogos de cartas, dominó ou dados (pl.). 11-Ilha à entrada doGolfo Pérsico, conquistada em 1507, por Afonso deAlbuquerque; Conjunto de quinhentas folhas. 12-Afirmara;Ródio (s.q.). 13-Apelido; Numerosos; Coma. 14-Aspecto;Cobrir de pão ralado. 15-Clandestino; Pegadeira.

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Page 76: Tempo Livre Junho 2011

ÂNCORA EDITORA

PRODUZIR E BEBER - A

QUESTÃO DO VINHO NO

ESTADO NOVO

Dulce Freire

Uma interessante obra que

revela como

foram

adoptadas

medidas

durante o

Estado Novo

para favorecer os vinhos

indiferenciados, contrariando

directivas que pretendiam

definir regiões demarcadas e

reduzir cepas.

DAS SOCIEDADES

HUMANAS ÀS SOCIEDADES

ARTIFICIAIS

Porfírio Silva

Esta investigação em

Filosofia das

Ciências do

Artificial

revela

existirem

ramos das

ciências

sociais que pensam os

humanos como se fossem

computadores, calculadores

impenitentes e moralmente

indiferentes.

ARCÁDIA

AROMA DE PITANGAS NUM

PAÍS QUE NÃO EXISTE

António Costa Silva &

Nicolau Santos

Um belíssimo livro de poesia

com fortes

evocações a

Angola. Os

poemas são

hinos à vida,

que

materializam a descoberta de

corpos, momentos, aromas e

lugares reais ou imaginários.

BANCO DE PORTUGAL

UMA ELITE FINANCEIRA -

OS CORPOS SOCIAIS DO

BANCO DE PORTUGAL 1846-

1914

Jaime Reis

Uma obra que reúne a

biografia das ilustres perso -

nalidades que

cruzaram o

destino do

Banco de

Portugal entre

1846 a 1914.

BERTRAND EDITORA

LOANDA - ESCRAVAS,

DONAS E SENHORAS

Isabel Valadão

Este romance histórico

transporta-nos a Luanda do

séc. XVII, através de Maria

Ortega e Anna

de São Miguel e

de muitas

figuras que

gravitaram à

sua volta. Em

ritmo narrativo surpreendente,

a autora cruza a história,

evidenciando o papel das

mulheres, enquanto retrata o

percurso, queda e ascensão

dos escravos e exilados do

reino português.

BOOKSMLE

ACADEMIA DAS FADAS

BRILHANTES: A VOAR BEM

ALTO

Titania Woods

Twink está excitadíssima

com o início das aulas na

Academia

das Fadas

Cintilantes, a

escola onde

aprenderá os

segredos das

fadinhas.

Será que conseguirá fazer

amizades e aprender a voar?

ANDRÉ CABELO-EM-PÉ: O

MONSTRO DA GARRA

Guy Bass

André inventa uma máquina

contra todas as coisas, tão

desconcertante que é

demasiado terrorífica para

ser usada. Um dia a

máquina é roubada pelo

monstro do sótão e André e

a Companhia dos Medos

terão de resgatar a invenção

do domínio do Monstro da

Garra antes de destruir o

mundo.

CENTAURO

OS MARES DA LUSOFONIA -

JORNADAS DO REI D.

CARLOS - 100 ANOS DEPOIS

A obra reúne intervenções de

diversas

persona -

lidades que

participaram

no I

Congresso

dos Mares da Lusofonia que

assinalou, em Lisboa em

finais do ano transacto, o

centenário da morte do Rei

D. Carlos.

EDITORIAL PRESENÇA

A SAGA DOS OTORI - O FIO

DO DESTINO

Lian Hearn

Shigeru o homem que

encarna o verdadeiro espírito

do clã Otori vai

arrastar os

Otori para uma

guerra

implacável ao

assumir o

comando e fazer frente ao

ambicioso Sadamu, chefe de

um clã rival. Uma das mais

extraordinárias séries do

fantástico inspirado no Japão

medieval.

O CASTELO DOS PIRENÉUS

Jostein Gaarder

Solrun e Steinn re -

encontram-se inespe -

radamente, trinta anos

depois, no mesmo hotel

onde viveram um intenso

amor. Mas o local que em

tempos testemunhou a sua

paixão pode esconder o

mistério do

seu fim. Após

o reencontro

iniciam uma

secreta troca

de emails que

reacende a antiga paixão e

faz questionar os seus

casamentos.

JULIA FELIX - FRESCOS DE

POMPEIA

Lívia Borges

Um romance histórico que

ClubeTempoLivre > Novos livros

76 TempoLivre | JUN 2011

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Page 77: Tempo Livre Junho 2011

percorre os governos de

Cláudio e de Trajano no séc.

I da era cristã.

A autora passa em revista

grandes acontecimentos

históricos relacionados

com a vida de Julia Felix,

uma mulher singular

que cativa pela beleza,

inteligência e tena -

cidade.

ESTRELA POLAR

PADRE MOTARD

Boas Curvas… Se Deus

Quiser

José Fernando Lambelho e

Rosa Ramos

A autobiografia do padre

José Fernando revela como

concilia o

sacerdócio

com a paixão

pelas motas

e, como a

comunidade

"motard" o

acolhe e

transformou em figura

pública. Um padre que

aprende a lidar com o

cancro, uma derrapagem da

vida nestes últimos anos que

o limita na acção mas não

inibe a crença em Deus e na

vida.

EUROPA-AMERICA

101 EXERCÍCIOS DE

FITNESS - DOS 7 AOS 11

ANOS

John Shepherd e Mike

Antoniades

Um manual com grande

variedade de

exercícios para

crianças com

idades entre os 7

e 11 anos. Ajuda

a desenvolver a condição

física com opções que vão

desde as técnicas de

aquecimento a jogos e

exercícios divertidos e

educacionais.

PRODUTOS BANCÁRIOS E

FINANCEIROS

José Luís Leitão, Jorge Alves

Morais e Maria Adelaide

Resende

Numa era de instabilidade

económica, esta edição

revista e aumentada

descreve o funcionamento

dos produtos bancários e

financeiros, bem como o

funcionamento dos

mercados e o seu regime

fiscal e jurídico.

AS CRÓNICAS DOS ELFOS

III - O SANGUE DOS ELFOS

Jean-Louis Fetjaine

O exército d'Aquele-Cujo-

Nome-Não-Deve-Ser-

Pronunciado prepara-se para

tomar de assalto a fortaleza

de Agor-Dôl e avançar sobre

as planícies. Só a união

entre os elfos

da floresta de

Eliande, os

anões da

Montanha

Negra e os

homens do reino de Logres

poderá contrariar o plano do

Inominável. A obra encerra a

"trilogia dos Elfos".

EMA

Jane Austen

Ema é uma herdeira rica,

inteligente e bela. Optimista

e consciente da

sua superioridade, passa o

tempo a combinar

casamentos entre amigos.

Até ao dia em que é ela

própria é pedida em

casamento pelo pretendente,

amado por uma

das suas

melhores amigas

que deseja ver

feliz e

"convenientemente" casada.

Entretanto, percebe que

também ela ama o

pretendente e acaba por

ceder a um amor que supera

a própria razão.

O VIZINHO

Lisa Gardner

Uma jovem mãe desaparece

da sua casa no sul de

Boston, deixando apenas a

filha de 4 anos e um marido

tão atraente

quanto

reservado,

como

principal

suspeito.

Enquanto o

detective Warren tem a

sensação que há algo errado

no pacífico casal, o marido

parece estar mais

interessado em destruir

provas e isolar a filha do que

em procurar a amada. Estará

ele a esconder a sua culpa

ou será a próxima vítima?

PAULUS EDITORA

BEATO JOÃO PAULO II -

MENSAGEIRO DA PAZ E

ESPERANÇA

O livro resgata

algumas das

mais

profundas

mensagens de

amor, fé e

esperança de João Paulo II, o

papa que deixou um

profunda marca na Igreja e

no Mundo.

OS MESTRES

A catequese do Papa Bento

XVI referente a grandes

mestres da história do

Cristianismo. Para entender

a tradição e a espiritualidade

cristã, destaca

elementos da

vida e obra de

padres e

escritores do

1.º milénio, da

Idade Média e de

Franciscanos e

Dominicanos.

ULISSEIA

NOVELAS EXEMPLARES

Miguel de Cervantes

Um clássico maior da

literatura universal daquele

que é

considerado o

pai do

romance

europeu. São

12 histórias

que expõem

as virtudes e fraquezas

humanas, servindo de

exemplo para o que se deve

e não deve fazer na vida.

Glória Lambelho

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Page 78: Tempo Livre Junho 2011

ClubeTempoLivre > Cartaz

COIMBRA

Feira: dia 11 às 9h - Feira

Medieval no Lgo da Sé Velha

em Coimbra

Folclore: dia 11 – festival em

Eira Pedrinha e Cabouco; dia

12 - folclore em Godinhela;

dia 18 - Marchas populares

no Lgo do Chafariz em Fala,

às 22h, Filarmónica União

Taveirense na Pça do

Comércio em Coimbra e

festas em Torre de Bera e

Casal de S. João; dia 19 -

festival em Sto Varão e

concerto no Auditório da

AFUV em Coimbra; dia 22 -

Serenata Futrica no Arco de

Almedina; dias 25 e 26 de -

Festa da Esteira, Doçaria e

outro Artesanato em Arzila;

dias 24 a 26 - festival em

Lavos; dia 25 - festival em

Ceira.

Cicloturismo: dia 5 às 9h -

Passeio em Vale de Açor

Pedestrianismo: dia 19 às 9h -

Caminhada em Oliveira do

Hospital

Atletismo: dia 25 - Nacional

de Atletismo em Luso

ÉVORA

Desfile: dia 26 - Mostra

Etnográfica na Feira de S.

João

Workshop: dia 4 – História

do Cinema no Auditório Soror

Mariana

Marchas: dias 10 e 11 -

Marchas Populares de “Santo

António” na Casa do Povo de

N. Srª de Machede

Malha: dia 12 às 9h – troféu

em Orada

GUARDA

Concertinas: dia 12 às14h -

Tocadores de Concertina no

Lgo Serpa Pinto em Figueira

de Castelo Rodrigo; dia 26 às

14h - Tocadores de

Concertina no Lgo da C.M. de

Almeida

VIANA DO CASTELO

Exposição: até ao dia 24 -

Exposição Documental “Os

Caminhos do Unhas” na

Agência Inatel Btt: dias 10 às

9h - III Peregrinação a

Santiago de Compostela.

Cicloturismo: dia 19 às 9h -

passeio entre Perre e Baiona

Pedestrianismo: dia 19 às

10h - Trilho em Cova do

Mouro

Rolamentos: dia 26 às 15 –

Carrinhos de Rolamentos em

Lordelo e Parada.

VISEU

Desfile: dia 19 às 9h - desfile

das Cavalhadas de Teivas em

Viseu; dia 24 às 8h - desfile

das Cavalhadas de

Vildemoinhos em Viseu.

Recital: dia 19 às 16h30 – “Os

Poetas de Viseu” pelo Orfeão

de Viseu no Auditório Mirita

Casimiro em Viseu.

Btt: dia 19 - Up and Down em

Cantanhede

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Page 79: Tempo Livre Junho 2011

Não há vez em que a porta se feche ou se abra semintervenção do vento ou de mão humana; em queo gás se acabe na botija precisamente quando ia pôro bife na grelha ou acabo de ensaboar a cabeça; em

que não dê três espirros consecutivos ou se me parta uma unhasem razão aparente, que voz condoída me não diga, com con-vicção ou simplesmente por dizer, que tenho de ir à bruxa, quenisso anda obra de feitiçaria, bruxedo, feitiço, praga, mau olha-do, inveja, quebranto, maldição familiar, etc., etc., etc., que paraas designações do mesmo malefício não chegariam várias pági-nas de um dicionário de português.

Os mais convictos, dão-me exemplos de casos como o meu,e das respectivas soluções ou curas miraculosas, a que assisti-ram ou que foram comprovadas medicamente, e não compre-endem que continue a correr o risco de a porta se abrir oufechar, de se acabar o gás em momento inoportuno, ou de se mepartir uma unha sem motivo aparente, quando com uma sim-ples imposição de mãos por um doutorado em Imposição deMãos, uma defumação por especialista em Defumações, ouuma varredela do quarto em cruz, poderia ficar, para todo osempre, ao abrigo de catástrofes desse género.

Relativamente a esses fenómenos, frequentemente conside-rados "sobrenaturais", mas que, com maior propriedade deviamser considerados "imaginários", mantenho uma atitude seme -lhante à de Mário Quintana em relação aos milagres: o que hojeme fascina, não são os fenómenos em si, por mais fascinantesque os considere, mas sim a possibilidade de alguém crer neles.

A crença na influência benéfica ou maléfica de seres ouobjectos a que são atribuídos poderes sobrenaturais jamais tevefronteiras no espaço ou no tempo: ela é um importante ele-mento do imaginário de todos os povos, em todas as épocas.

A Portugal coube ser a pátria linguística do feitiço. Um belodia, provavelmente do século XIV, alguém, com imaginação esaber linguístico, tomou o vocábulo latino factius [artificial,manufacturado] remodelou-o, transformando-o no adjectivoFEETISSO, com o mesmo sentido. José Pedro Machado trans-creve do Boletim de Segunda Classe da Academia das Ciências

de Lisboa o primeiro registo comprovativo da existência dotermo: há de ter o dicto samcristam huum cesto grande feitiçoem que andem os monges…

Fenómeno corrente na vida das palavras, o termo evoluiu naforma, semanticamente e nas suas funções, e tornou-se fértil,dando origem, como FEITIÇO, a FEITICEIRO e FEITIÇARIA, jádocumentados nos éditos em que, em 1385 e 1405, D. João Iproíbe os seus súbditos de "obrar feitiços ou ligamentos ou cha-mar diabos".

A história de FEITIÇO é uma história comum a muitos vocá-bulos: após dois séculos de vida no país, emigra para França em1605, sob a forma de FÉTISSO. De França a Inglaterra, um saltosobre o Canal, e FÉTISSO E FÉTISSERO instalam-se, sob amesma forma, no léxico inglês.

É comumente aceite a versão francesa da galicização dotermo, que, em 1669, se transformaria em FÉTICHE o qual, porsua vez, emigraria para Inglaterra, que se limitaria a anglicizar-lhe a grafia, para FETISH, e… para Portugal, em 1873.

Na realidade, outra palavra tinha nascido no léxico portu-guês, como no francês e no inglês.

FETICHE é agora, em português, um objecto a que se prestaculto, a que se dedica um interesse obsessivo ou irracional, gera-dor de atracção sexual compulsiva, objecto de perversão sexual.

Segundo o dicionário francês Petit Robert, porém, FÉTICHEera, já no século XVII, o nome dado pelos brancos aos objectosde culto das civilizações ditas primitivas. E acrescenta: "EmÁfrica, objecto, animal, vegetal ou mineral com poder sobrena-tural, benéfico ou malévolo".

Este novo sentido, justificaria a opinião dos que, sem expli-cações, defendem como origem de FETICHE a Guiné ondeFETISSO e FETISSERO, introduzidos no século XV pelos colo-nizadores portugueses, eram, no século XVII, respectivamenteo deus e o sacerdote da religião indígena o que comprovariaque, sem sombra de dúvida, o tão português FEITIÇO é, na ver-dade, também ele, um vocábulo das sete partidas. n

1 - Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, 2ª edição.

De feitiços, feiticeirose de um vocábulo das sete partidas[…] Se voltar aos inícios, / quem escutará os meus passos / nas pedras? […] Victor Sandoval, in: Las Ínsulas Distantes Trad. MAVF

O Tempo e as palavras

Maria Alice Vila Fabião

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APraceta dos Plátanos é apenas umareentrância na linha recta da rua,onde se perfilam, alinhados, prédiosvelhos e recentes. Dizem os morado-

res mais antigos que, no local onde se abriu a pra-ceta, existiu um armazém de sucata, em boa horademolido para se ganhar um espaço públicocoisa modesta, não mais de cinquenta metrosmedem os três flancos vedados por construções.Todavia, a placa arrelvada, a meia dúzia de árvo-res e, sobretudo, quatro bancos de jardim,impõem o lugar como logradouro de respiraçãopara os residentes na zona. Não só: também comoterra livre para fumadores afugentados do comér-cio em redor.

Num dos vértices entre a praceta e a rua longasitua-se o Salão de Beleza Ponta da Unha. Alininguém puxa fumaça e a própria dona, Josete,dá o exemplo, deslizando para a praceta quandolhe chega o apetite pelo cigarro.

Valter Dionísio também ali se recosta e fume-ga.

Quem quiser louvar qualidades de ValterDionísio tem por onde escolher: não lhe faltaamenidade no trato, garbo no porte físico, destre-za na escrita em que se aplica como cronista "fre-elancer" de um jornal diário.

Em contramão, poderá lamentar-se a suaextrema preguiça para trabalhos domésticos e osexcessos de fumador sem pausas. No pequenoapartamento onde residia só, a desordem seriatotal e a sujidade chegaria ao ponto da imundicese não contasse com os serviços da despachadaAvelina que, em três horas, duas vezes por sema-na, acudia a pôr ordem na casa, começando pelalimpeza de cinzeiros atulhados. Bastava-lheainda o tempo para cuidados de cozinha, sopa ealgum guisado, com que se alimentasse o indo-lente Valter Dionísio, incapaz de qualqueresforço no campo da culinária.

Sentado à secretária ou esparramado no sofádiante do televisor, a grande ocupação de ValterDionísio era fumar. Conselhos em contrário não

lhe faltavam, sobretudo os relacionados com asaúde mas também com os custos de tão desaba-lado vício em época de crise.

Crise maior lhe chegou quando viu reduzidosos rendimentos mas nem ponderou a possibilida-de de prescindir dos três maços diários de taba-co. O que fez foi dispensar os serviços de Avelina,sem os substituir por diligência própria. Em pou-cas semanas, o apartamento tornou-se um caos ea nutrição do morador um mero acto de matar afome. O seu único prazer era fumar.

Novo golpe nos rendimentos do trabalho colo-caram-no diante de um quadro desastroso: já nãolhe sobejava dinheiro para pagar a renda do apar-tamento. Pensou profundamente no assuntoenquanto fumava, cigarro após cigarro.

Pensando, pensando, lembrou-se de VâniaLuísa, talvez ela pudesse ajudá-lo a encontrar alo-jamento mais em conta e, quem sabe?, o soco-rresse, uma vez por outra, na arrumação. VâniaLuísa, bem o sabia, tivera uma intensa paixão porele, que, no entanto, preferira a volúvel DáliaSerafina. Má escolha. Não passou um mês atéDália Serafina se enfeitiçar pelo guitarrista deuma banda de rock.

A nova e grave situação parecia não ter saídamas quando telefonou a Vânia Luisa foi bomsaber que ela não o tinha esquecido. Ao fim datarde desse mesmo dia encontraram-se numaesplanada. Recordaram o passado mas ele estavapreocupado com o presente e o futuro. Confessouas dificuldades que o atormentavam, qualquerdia já nem dois maços poderia fumar.

Era verão, Vânia apareceu radiosa e fresca, osbelos ombros descobertos, e Valter admirou-se denão ter notado antes os encantos da menina. Nemse gastou tempo largo na conversa, cedo VâniaLuísa revelou que continuava doidinha por ele.Com tanto amor e um belo apartamento ondevivia sozinha, surgiu natural a ideia de coabita-rem lá.

Assim aconteceu e nenhuma nuvem ensom-brava a felicidade de Valter Dionísio. Ele pre-

O fumador indolente

80 TempoLivre | JUN 2011 ANDRÉ LETRIA

Os contos do

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guiçava e fumava, ela afadigava-se para que acasa estivesse sempre um brinquinho, higiene earrumação, mimos de culinária.

Até que chegou o malvado dia que Vâniaembirrou com o fumo que enevoava a sala e,subitamente cruel, determinou:

- Não se fuma mais nesta casa. Leva os teuscigarros para a praceta, longe dos meus olhos, domeu nariz, dos meus pulmões.

Para um fumador inveterado a sentença eraterrível. De hora a hora, Valter saía de casa paraacalmar o vício na Praceta dos Plátanos, onde nãofaltava gente banida das lojas, dos restaurantes,do salão de beleza, quiçá de suas próprias casas.

Foi numa dessas rodas de chupadores de taba-co que Valter conheceu Rosete e fizeram amizade.Amizade crescente. Quando lhe contou das suasamarguras, nascidas da intolerância de Vânia, elareagiu da forma mais inesperada:

- Querido, mude-se para minha casa, lápoderá fumar sempre que lhe der na gana.Viveremos juntos, com amor e fumo.

Assim Valter trocou de domicílio, em menostempo que leva um cigarro. Mas Josete marcouregras: fumar, podia; em compensação, cumpria-lhe cuidar da limpeza e arrumação da casa, decozinhar para ela e seus convidados, gente desa-tinada - não tardaria Valter a verificar - em quenão faltava menino capaz de cuspir carpete.

Três dias suportou o infeliz. Tão dura pena,até bater com a porta e voltar para Vânia Luísa,que o adora mas persiste em escorraça-lo para aPraceta dos Plátanos mal aperta o desejo defumar. Tudo como dantes. Excepto a surpresa deontem à noite, quando, no meio de uma entregade amor ela disse:

- Vou ter horários mais apertados. Tu, meuquerido, terás de cuidar da arrumação da casa epreparar refeições. Tá?

Valter não dormiu. Pela sua mente passam emdesfile as fumadoras da Praceta dos Plátanos, naesperança de encontrar quem lhe aprove o víciosem o compelir a trabalhos pesados. n

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Page 82: Tempo Livre Junho 2011

Omaior pe ri go que se põe actualmenteà hu ma ni da de não é o da explosãonu clear, é o da explosão de mo grá fi ca.Portugal tornou-se, porém (com a

Europa), excepçãoO nosso País tem a taxa de fertilidade mais

baixa do velho continente, continente onde elaentrou, nos últimos anos, em declinínio acentua-do. Felizmente.

Pro du to des va lo ri za do pe lo ex ces so, o ho memsó dei xa rá, como consequência, de ser um des -per dí cio quando es cas sear; só quan do os nas ci -men tos fo rem ac tos de se ja dos (por opção, pordis po ni bi li da de) ele atingirá o estatuto qualitati-vo a quem tem direito.

Políticos, economistas, comunicadores, ideó-logos repetem, porém, que estamos a en ve lhe cer,a escassear, e faz em dis so ca tás tro fe para ínviasmanipulações.

As suas men ta li da des formigueiras/coe lhei rasesquivam-se, no entanto, a dizer que o pro ble manão é o de fal ta de gen te no va no mun do (nas ceum mi lhão de pes soas em ca da 100 ho ras), mas odo seu de se qui lí brio. In sis tem mesmo em pro pa -gar que Por tu gal (a Eu ro pa) es tá em pe ri go, queno ano 2.020 doze por cento de nós te rão mais de65 anos; em di vul ga r a ideia de que um in di ví duo(um país, um con ti nen te) que en ve lhe ce é um in -di ví duo (um país, um con ti nen te) que es tio la;não cui dam de assumir que os ve lhos são ca davez me nos ve lhos, que tão fiável é premir bo tõesde má qui nas aos 80 anos co mo aos 20, que a sa -be do ria, a pers pi cá cia tra zi das pe la ida de com -pen sam a for ça, a des tre za le va das por ela.

Não cos tu ma ser, aliás, pe lo fac to de dis po -rem de po pu la ções re ju ve nes ci das que os estadosse de sen vol vem mais; o número de habitantes deum país não se revela indicador de progresso.

“As flo res tas pre ce dem as pes soas, os de ser tosacom pa nham –nas “, avisava Chateaubriand. Oho mem é um po lui dor por con di ção: as he ca tom -bes ocor ri das são con se quên cia da sua na ta li da -de in con tro lá vel, fo men ta da para ha ver cada vezmais mão de obra ba ra ta e far ta, car ne pa ra ca -nhões e ca mas, al mas para pastorear e sal var

Vamos ser, em 2100, apenas 6,7 milhões deportugueses (a mesma população de 1920), catas-trofizam demógrafos. E daí?

Quererão mais jovens para somar aos quedeambulam sem ocupação, sem saída, sem futu-ro? mais jovens a viver dos pais e avós (que nofinal da vida têm de subtrair ás cada vez maissubtraídas pensões o seu sustento?); mais jovenspara alargar o mercado dos prostitutos, dos delin-quentes, dos drogados, dos excluídos? Não lheschegam as centenas de crianças a dormir nasruas de Lisboa? Não lhes bastam os milhares deadolescentes a procurar, em vão, o primeiroemprego?

Líderes de opinião inculcam, entretanto,ideias segregacionistas entre asgerações. Insinuam que a culpa dosdesequilíbrios pertence aos mais idosos

por ocuparem lugares, monopolizarem privilé-gios, esgotarem recursos, bloquando os maisnovos. Lutas surdas larvam, na verdade, a váriosníveis, instigadas por semelhantes correntes deopinião, não se revelando que a instabilidadeafecta todos os estratos etários, que não são osséniores a barrar a ascenção dos jovens, mas osinteresses instituidos que desarticulam uns eoutros, hostilizam uns contra os outros por sehaverem tornado todos prescindíveis.

Ninguém especifica que a produtividade dei-xou de ser determinada pela participação doshumanos, para o ser pela afinação das tecnolo-gias. Está em campo uma mentalidade gerontofó-bica (racismo para com os idosos) de consequên-cias imprevisíveis.

Semelhantes posturas levam a apontar comocausa dos problemas o que são – despenalizaçãodo aborto, uso do preservativo, legalização dodivórcio e do casamento homossexual – , conse-quências deles. As conquistas que representamnão constituem ataques à família tradicional,mas mudanças ao seu paradigma, isto é, possibi-lidades para cada um escolher modelos de afec-tuosidade mais ajustados a si – o que significa umacentuado enriquecimento civilizacional. n

Somos menos, felizmente

Crónica

FernandoDacosta

82 TempoLivre | JUN 2011

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