Szondi Benjamin Tragico Hegel
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PETER SZONDIE WALTER BENJAMIN:
ENSAIOS SOBRE O TRÁGICO
YOlUme i
Kathrin Rosenfield [org.]
Traduçäo de
Kathrin Rosenfield e Christian Werner
I
UNIVERSDADE DO ESTADO DO RIO DE JANERO - UERJ
Rua Sao Francisco Xavier 524, Maracana, Rio, RJ
11 andar - P6s-Graduggoo em Letras
2 284.8322 ramal 7782
Nesse número, os Galernos do Mestodo contam com o colaboraçao da
professoro Kathrin Rosenfield, a quem muito agradecemos pelo seleçóo e
Reitor: H6sio Cordeirotradugno (realizada em conjunto com Christian Werner) de textos de
Peter Szondi e Walter Benjamin. Vale anotar que esta é a primeira vez
Vice-Reitor: Jos6 Alexandre Assed que ensaios de Peter Szondi suo publicados enire nós.
Sub-Reitor de Pós-Graduação· Roberto Bezerra
NSTITUTO DE 'ETRAS
Diretor: Jos6 Ricardo Rosa Devido ao volume do material organizado pela professora Kaihrin
Vice-Diretor: CIbudio Henriques Rosenfield, tivemos que distribul-lo em dois números. Desse modo, o
PÓS-GRADUAÇAOnúmero 13 dos Cademos do Mestrado deveró ser lido em conjunçóo
com o que ora se publica. Ainda no número 13, publicaremos um ensaio
Coordenaçóo da Pós-Graduagno Heloisa Toller de Kathrin Rosenfield: "Polesis, mimesis e methos irogikos como condição
e entrave do juizo stico". O ensaio é fundamental pargo entendimentoCoordenaçóo do Doutorado· Dirce Côrtes Riedel .
da coletónea por ela reahzada.
Coordenaçao do Mestrado: Maria Helena Rouanet
Capa' sobre detalhe de Erar e Psigue, de Jacopo Zucdii
Diagramação: Gustavo Bernardo Krause Lara Valentino da Costa
Editoraçäo: Joño Cezar de Castro Rocha e
Lara Valentina da Costa
APRESENTAÇAOKathrin Rosenfleid
Como apresentar um crítico como Peter Szondi, cujonome é bem conhecido. cuja obra, no entanto,permanece bastante inocessivel em virtude da barreira doidioma? Troto-se de traduzir seus trabalhos. evidentemente.Mas por onde começar?. e quais sbo os textos moisrepresentativos? Tudo depende do ótica, do interesseparticular de quem escolhe.
Quem apreclo duas qualidades particularmenteraras - o grande potencial teórico-filosófico e a minúcia dos
olhar filológico -, será tentado a traduzir o conjunto dosEstudos sobre Hð/derlin, seguido do Tratado sobre aconhecimento filológico. Mas esta opç ão terio duasgrandes desvantagens. Primeiro, são textos extensos demaispara este espaço; segundo. Holderlin é um autor poucofamilior ao público brasileiro, sua obro quase inacessível nalingua original e mais ainda em traduções.
Optamos, portanto, por apresentar Szondi nào comoo genial leitor de Hóiderlin, mas como pensador de umproblema literário-filosófico - o do trógico 1. A reflexão noencruzilhado entre ilteratura e filosofia teve uma grandetradiçào na filosofia do idealismo alembo. Ela se prolongadurante o século XIX. entre outras, na obra de Nietzsche esustento, em princípios do século XX, o pensamento deWalter Benjamin. Peter Szondi rastreio com grande precisàoesto tradiçào, no qual seu próprio modo de encarar aliteraturo se inscreve. Para dar ao leitor brasileiro uma idéiadesta tradiçäo surpreendentemente mal conhecida fora docírculo de especialistas (choma atenção, por exemplo, quefilósofos e historiadores helenistos quase nunca se sirvam depensadores como Hóiderlin e Benjamin como referência),resolvemos incluir neste volume, além dos comentários deSzondi sobre Schelling, Holderlin, Hegel. Nietzsche e
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momento dialético designa um movimento de afirmaçàoBenjamin, tres textos curtos deste último. Precursores da negativo que porte da 'Se/bstantzwelung", da divisäo do eu.Origem do Dromo Borroco Alemdo. Szondi se refere a eles Mas no uso que Szondi faz do conceito. fica claro que eleno parte intitulada 'Transiçào". que discute o concepçào atribul maior importóncia ao termo negado do que aoespecificamente benjaminiano do trógico. movimento do negaçào que constitui processualmente as
determinaçðes diferenciais do conceito. Retornando àO Ensolo representa uma espécie de sinopse, no idéia da 'Se/bstentzweiung (divisào do eu). Szondi faz como
qual Szondi faz o papel do historiador de um problema se o 'Selbst' (o termo da negaçào. sejo ele a reflexóocrucial que articula o pensamento filosófico ao literário. Seu subjetivo, a certezo da percepçào ou o objeto percebido)trabalho volta a ser, hoje. de particular relevância, dado o fosse algo dado.atual 'surto' de interesse por uma 'filosofia literária'. Estoexplora num campo mais restrito e especulativo os Szondi porece cair assim na ormodilha de um neo-trabalhos pioneiros da antropologia histórica (por exemplo, dito da Fenomenologia do Espírito de Hegel: a do enigma,os de Vernant, Vidal-Naquet. Détienne) e materializou-se, não temoteadopor Hegel, da primeira passagem quenas últimas décadas, em uma série de publicaçðes. levorio o Espírito do 'aquilo' (do opacidade impenetrável.Citando apenas Martho Nussbaum e Bemard Williams 2. Ininteligivel. do mundo) à representação, o uma forma queconstata-se um conhecimento muito seletivo (na primeira investe o 'aquilo' de uma significação. É este silêncio queaté um quase total desconhecimento) dos poetas e permite a Hegel 'ultrapassar' o dualismo kantiono,pensadores alembes que refletemsobre o trógico. O Ensaio substituindo a este as ardifosos figuraçòes históricas nas
sobre o Trágico representaria, neste sentido, um quois o conceito e a efetividade coincidem. Este ardilcomplemento importante para a reflexão sobre os hegeliano pode ser visto como proveitoso mas tambémconceitos estético-éticos da Grécia antigo que nos soo como custoso: ele faz perder de vista o sern-fundo da
representaçào o tara de arbitroriedade que todaindispensáveis para pensormos os nossos próprios. ·
figuração carrego e que lhe confere umo sombra mais ou
Isto näo significa, entretonto, que concordamos menos inquietante.com as conclusões às quais Szondi chega no final do'Transição'. Tendo mostrado que a essência do trógico Levando em consideração este ardil, que é a
escapa a definições näo contraditórias e tampouco se condiçào sine qua non da dialético hegeliana, chegamosesgota no 'momento dialético' que serve de eixo centrol ao à conclusbo que o problemo do trógico nào é o de nãoEnscio. Szondi afirma: De tudo isto näo se deve tirar
* existir, o de ser nada, mas, quem sabe, o de ser nonada,nenhuma outra consequêncio (...) olém do fato de que o 'quase nada'. Esta 'bagatelo'representa, na obro de J. G.
trágico, no verdade, não existe, pelo menos nào enquanto Rosa. a matéria vertente, o enigmático balancê daessenciafidade (Wesenheity. representacão de coisos que se recusam persistentemente
a aparecer tais como seriam °realmente'. Desdobror sem
Ora, esta sensação de repentino sumiço do objeto fim este nonada, movimentar-se sem trégua no fio dada investigação tem suas razões na ótico do investigador, novatha entre termos em si mesmos inacessíveis e sem
Szondi concentra seu olhar mais sobre o momento positivo. consistência é o arte perigosa - demoníaca - de todaconcilictório do trabalho dialético, e menos no próprio grande obra.movimentono qual o conceito se desdobra ao passar pelassuas determinações. O que Szondi chamo de dialética ou
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ENSAIO SOBRE O TRAGICO*
Nosso estudo do trógico em Holderlin e J. G. Roso 3. Peter Szondinos fez deslocar o enfoque, no final deste volume, poro aarticulaç ão do trógico em Aristóteles. Na PoétiCC, O Site nous fais du mal inous vient de nous-mêmes."
tragéÇIla aparece como apenas uma das manifestações (Se tu nos causas um mal, ele nos vem de nós mesmos.)
(embora a mais perfeita) da poiesise da mimesis. A análise AgrippadAubigné
do muthos fragikos constitui assim o núcleo de umainvestigaçào sobre uma das determinaçóes fundamentals "Enmecuidantaiser moimemejemenuis.·
do ser humano - sua propensão de imitar. de representar e ( Procurando meu bemetar, eu mesmo me prejudico.)
de inventar, que o distingue de todos os outros seres. Neste Jean de Sponde
sentido, questionaríamos também a afirmaçào de Szondi,segundo a qual Aristóteles nào falario do trógico mas de Introdução
obras de arte no sua concretude estética (p. 205)Desde Aristotéles, há uma poética da tragédia; desde ,
Nosso ensaio mostra os relações e as determinaçõesrecíprocas entre a Poética e Ética a Nicôrnaco que Schelling, apenas, uma filosofia do trágico 1. Como ensinamento
impedem ver o trógico cristotélico como conceito do fazer poético, o texto de Aristóteles pretende determinar os'estético'. Na nossa interpretaçào, a significaçào do trágicopode ser captada apenas neste limite entre o estético eo elementos da arte trágica; seu objeto é a tragédia, não a sua idéia.
ético que constitui o campo próprio da invençào e da Ainda quando ele vai além do objeto de arte concreto, quandoinstauraçóo do sentido
pergunta pela origem e pelo efeito da tragédia, permanece
empirico na sua psicologia, e as constataçðes a que chega destaNOTAS
forma - o impulso imitador como origem da arte, e a katharsis
(1) Os textos de Szondi são extraídos do Ensaio sobre o trágico que como efeito da tragédia - não têm sentido em si mesmas, mas naintegra o primeiro volume dos Schriften (Escritos), Frankfurt,Suhrkamp, 1978. Sua significaçã0 para a arte poética, cujos principios podem ser
(2) Martha Nussbaum, The Fragi#ty of Goodness, Cambridge University• derivados a partir .delas. A poética da época modema repousa.
Press, 1986; Bemard Williams, Shame and Necessity, 1993.(3) Cf., em particular, o capítuto "A propósito da Ode Coragem de Poeta essencialmente, sobre a obra de Aristóteles: a história daquela é a
de Holderlin" em A Unguagem liberada, São Paulo, Perspectiva, 1989,e "A. dimensâo trágica em Grande Serfão: Veredas" em Os hist6ria da recepção desta. Ela se deixa conceber como incorpo-Descaminhos do Demo, Imago/Edusp, 1993
ração, ampliação, sistematizaêão; como compreensão equivocada
Agradecemos ao CNPq e à FAPERGS, cujos respectivos e como critica. Sobretudo as prescriçöes sobre unidade e
programas de Iniciação à pesquisa viabilizaram os trabalhos- abrangencia da fábula tiveram, reconhecidamente, um grandeextra-curriculares de Chnstian Wemer. Aluno do Curso degraduação em Letras da UFRGS, ele teve assim a oportunidade papel na doutrina clássica das três unidades e na sua correção porde colaborar nesta tradução dos textos de Peter Szondi e WalterBenjamin.
do século XIX e a próxis dos séculos XVII e XVill, que também
Lessing, bem como a doutrina do temor e da compai×ão, de cujas sobre esta paisagem a coruja de Minerva só alça vôo quandoinúmeras e contraditórias interpretaçðes resultou uma poética - irrompe o crepúsculo 6. Mas a pergunta sobre em que medida
histórica - da tragédia 2.teriam as determinaçðes do trágico em Schelling e Hegel, em
Deste poderoso campo de influência aristotélico, que não Schopenhauer e Nietzsche tomado o lugar da poesia trágica, cuja
conhece fronteiras entre naçðes ou épocas, insularmente eleva-se hora teria chegado no tempo deles; em que medida estas
a filosofia do trágico. Fundamentadade modo completamente não- determinaçðes representam, elas mesmas, tragédias ou seus
programático por Schelling, ela atravessa o pensamento dos modelos, podem apenas ser respondidas pelos comentários que
períodos idealista e pós-idealista em uma forma sempre nova. Ela formam a primeira parte deste estudo.
permanece própria à filosofia alema, na medida em que se possa O que se segue são apenas comentários; não é uma
nela incluir Kierkegaard e desconsiderar seus alunos, como um - ·
exposição exaustiva ou, muito menos, uma critica. Os comentários
Unamuno 3. O conceito de trágico e tragicidade permanece, até referem-se a textos de doze pensadores e poetas do intelvalo entre
hoje, fundamentalmente alemão; nada é mais característico do que 1795 e 1915, que, pela primeira vez, como parece, aqui se
o parênteses da frase com a qual Marcel Proust inicia uma carta: encontram reunidos. Nestes esclarecimentos, não se trata de
"Vous aller voir tout le tragique, comme dirait le critique allemand penetrar criticamente nos sistemas dos quais as determinações do
Curtius, de ma situation. Por isso se encontram, na primeira parte trágico foram tomadas, nem de ser justo para com a singularidade
deste estudo, que se ocupa com as determinaçðes do trágico, deles. Eles precisam, muito mais, com algumas exceçöes,
apenas nomes de poetas e filósofos alemães, enquanto que na contentar-se com a pergunta sobre o valor que o trágico ocupa na
segunda parte são consideradas obras da antiguidade grega, do estrutura do pensamento do autor respectivo e, com isto, consertar,
barroco espanhol, inglês e alemão, do classicismo francês e'
em alguma medida, a injustiça que sofreu este pensamento quando
alemão e da sua dissolução dele foi extraido o trecho por nós citado. Posteriormente, eles
Todavia, não se deve censurar a poética de Aristóteles por devem esclarecer as diferentes determinações do trágico,
se desviar do exame do fenômeno trágico, nem tampouco deve ser formando um mais ou menos velado momento estrutural comum a
posta, de antemão, como indiscutível, a validade da teoria do todos e que alcança seu significado; não se pretende ler as
trágico (que conquista a filosofia alemã depois de 1800) para a definiçöes dos diversos pensadores em vista das suas filosofias,
composiçäo das tragédias antigas. Seria mais proveitoso supor, mas da possibilidade de analisar tragédias com a ajuda delas, na
para o entendimento da relação histórica que impera entre a teoria
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NOTASesperança, tainbém, de um conceito gerat do trágico. As exceçðes
1. Sobre isto, compare a referencia em Emil Staiger. Der Gerst der Liebe und dassão aqueles comentários que precisam forçar a significação de um Schicksal (O espirito do amor eo destino). Frauenfeld - Leipzig, 1935, p 41 Além
disso Fr. Th Vischer, Ober das Erhabene und homische (Sobre o subhme eotexto dificil, como o fragmento de Hölderlin, ou os que vão atrás de
, comico). Em: Kimsche Gange (Andamentos criticos), 2 ed , tomo IV, p 8 "Somentea partitt de seu jde Schelling) aparecimento, tomou-se possível um sistema deuma determinação, cuja origem é procurada onde, aparentementB'estética, pois ele primeiro retomou o ponto de vista da idéia
"
o trágico não è tematizado e, todavia, a explicação para a sua 2. Compare especialraente: Max Kommerell, Lessing und Anstoteles Untersuchungen
über de Theorie der Tragode (Lessing e Aristóteles Investigações sobre a teona da
definição posterior está presente. Este é o caso no comentário tragédia).FrankfurtaM.,I940.3. M de Unamuno. Das tra¢sche Lebensgefühl (O sentimento de vida trágico)
sobre Hegel, que constitui o fundamento para as interpretaçðeS München, 1925.4. A Sidney Schiff, Correspondance génèrale (Correspondencia geral), tomo ill, Pans
restantes, como se Hegel tivesse de ser citado antes de todos no 1932, p.31(°ireis ver todo o trdýco, como diria o crítico alemão Curdus, de minha
limiar deste estudo, porque este deve a ele e à sua escolasituaçao")
5. Cf. Hegel, Rechtsphiosophie (Filosofia do direito). Edição de jubileu, tomo Vil, p.37. •
conhecimentos sem os quais não poderia ter sido escrito.
* N.T.: esta tradução foi feita a partir do texto encontrado em SZONDI, Peter. Schriften1. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1978. Págs. 159-174, 193-195, 200-210: O indicecompleto do Ensaio sobre o trágico é o que se segue:
Introdução Poedca da tragédia e Bosoßa do fråger1. A filosofia do irigico
L Schelling 7. Friedrich Theodor Vischer2. Hðlderlin 8. Kierkegaard3. Hegel 9. Hebbel4. Solger 10. Nietzsche a
5. Goethe 1L Simmet6. Schopenhauer 12. Scheler
Ûberi,e/tung Geschichtsphilosophie der Tragodie und Analyse des Tra¢schenH. Analysen des Tragischen
I
1. Sophokles: König Ödipus 5. Racine: Phadra2. Calderón: Das Leben ein Traum 6. Schiller: Demetrius3. Shakespeare Othello 7. Kleist: Die Familie Schroffenstein .
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própria dogmatização. Neste tempo, escreve Schelling em uma
carta a Hegel: "A diferença especlMca entre MIosoña crítica e
SCHELLING dogmática parece encontrar-se no fato de que aquela parte do eu
"Muitas vezes se perguntou como a razão grega podia suportar as absoluto (ainda não condicionado por nenhum objeto); esta, docontradiçöes da sua tragédia um mortal: destinado ao crime [tornado objeto absoluto ou do não-eu " 3 A esta diferença corresponde acriminoso pela fatalidade}, lutando ele mesmo contra a fatakfade e sendo,todavia. terrivelmente castigado pelo enme, que fora obra do destino! O significação oposta, concedida, nas duas teorias, à tiberdade, na
fundo desta contradição, aquilo que a torna suportável, repousava em um qual Schelling vê a" essencia do eu", o 'heom de toda a
lugar mais profundo do que onde era procurado na luta entre a liberdadefilosoña" 4 Enquanto que no dogmatismo o sujeito paga a escolhahumana e a polência do mundo objetivo, no qual o mortal - se esta '
potência é uma potência supenor ("Übermacht" tem o sentido de do absoluto como objeto de seu conhecimento com "passividadefatalidade/fado) - necessanamente precisou ser derrotado e, porque ele
bsoluta o criticismo • que coloca tudo no sujeito e, assim, neganão foi derrotado sem combate, ainda devia ser punido pela sua derrota.O fato que o cominoso (ainda) fosse punido - embora apenas tivesse sido tudo do objeto - é "aspiração por ipseidade imutável, liberdadederrotado pela potência superior do destino - represente o reconhecimento
incondicional, atividade irrestr¡ta. * Tudo se passa como se oda liberdade humana, a honra que cabia à kberdade. A tragédia gregahonrava a liberdade humana através da permissão concedida aos seus próprio Schelling tivesse reconhecido que a potência do objetivo éheróis para lutarem contra a potência superior do destino: para não
meno rezada ainda lá onde ela vence graças à absolutaultrapassar os limites da arte, ela precisava derrotar o herói; contudo, para 60remediar a humilhação da uberdade humana, que a arte forçou, ela passividadedo sujeito - pois deve sua vitória ao próprio sujeito, eleprecisava fazè-lo padecer pelo crime cometido palo destino. (...) Foi uma
supõe, podanto, ao destinatário ficticio de suas cartas a evocaçãogrande idéia sofrer de bom grado a punição por um crime inevitável, a Emde assim demonstrar a liberdade exatamente através da perda desta de uma terceira possibilidade. Ela não procede mais das premissasmesma liberdade, e de soçobrar com uma declaração de vontade Hvre."
de um sistema filosófico, porém da vida e de sua apresentação na
Com esta interpretaçäo do Édipo Rei e da tragédia grega - arte. 'Vós tendes razão", inicia a décima carta, "mas uma coisa
em geral, inicia a história da teoria do trágico, cujo alvo não é mais ainda resta: sáber que há uma potencia objetiva que ameaça nossa
liberdade de destruição, e, com esta convicção firme e certa nodirecionado para o efeito, mas para o próprio fenômeno do trágico.
O texto girocede da última das Philosophischen Briefe über coração, combate-la, mobilizar toda vossa liberdade e soçobrar.'*
Dogmatismus und Kritizismus (Cartas filosóficas sobre dogmatismo Todavia, como que temendo o reconhecimento do objetivo, o
e criticismo), que Schelling publicou, em 1795, aos 20 anos. Nelas jovem Schelling admite o combate apenas na arte trágica, não na
são confrontadas as teorias de Spinoza e Kant, que já para Fichte vida: "ele não poderia se tornar um sistema do agir já porque um tal .
eram os dois únicos "sistemas perfeitamente rigorosos"; 2 elas se sistema pressupðe uma geração de Titas; sem este pressuposto,
esforçam, ao mesmo tempo, por preservar a filosofia crítica da sua
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"O conifito entre liberdade e necessidade é verdadeiroapenas onde ele mina a prðpria vontade e a liberdade é
porém, certamente redundaria na maior rulna da humanídade.* combatida no seu próprio terreno."
Esta fé idealista - que imagina dominar o trágico e só o reconhece
porque nele descobre um sentido: a afirmação da liberdade -
A interpretação que Schelling dá à tragédia nas
corresponde, para Schelling, ao fato que o processo trágico, emVoriesungen aber die Rhilosophie der Kunst (Lições sobre a
filosofia da arte), apresentadas pela primeira vez em 1802/1803,Édipo rei, não alcança significação em si mesmo, porém somente
em vista de seu telos. Apesar disso, sua estrutura própria torna-se-remetem expressamente aos escritos de juventude sobre
. dogmatismo e criticismo, tendo, todavia, como ponto de partida,Ihe transparente. Na medida em que o heról trágico, na
interpretação de Schelling, não é apenas derrotado pela potencianão uma terceira relação reservada à arte - ao lado das duas
relaçðes fundamentais entre sujeito e objeto -, mas desenvolve-sesuperior do objeto, mas é punido até pela sua derrota - pelo simples
a partir dos principios da "filosoña da identidade" de Schelling eaceitar a luta -, o valor positivo de seu ser-assim - a vontade de
liberdade, que é "a essencia de seu eu" - reverte-se contra eleocupa, na estética que esta fundamenta, uma posição central.
Enquanto que Schelling pöe Deus como "idealidade infinita, quepróprio. O processo poderá ser denominado dialético com Hegel 5.
encerra em si toda realídaded, ele determina, por outro lado, a
Na verdade, Schelling tinha em vista a afirmação da liberdadebeleza como "Rguração-em-um-so (Ineinsbildung) do real e do
obtida às custas da morte; a possibilidade de um processoideal", como "indiferença entre liberdade e necessidade, intuída em
puramente trágico lhe era estranha. Mas seu princípio fundador dealgo real (in einem Realen)*. Os três gêneros poéticos
todo esforço filosófico em torno do problema do trågico - segundo omanifestam-se como diferentes formas do aparecer desta
qual "foi uma grande idéia softer de bom grado a punição por umidentidade: na epopéia, Schelling vê "como que um estado de
crime inevitável para, através da perda de sua liberdade,inocencia, onde tudo o que ainda é con-junto e um-só (beisammen
comprovar exatamente esta liberdade"- já deixa soar aquele motivound eins), maís tarde existirá somente dispersado ou tornar-se-á
obscuro que nenhuma consciência de vitória do sublime abafará: ounidade (Einheit) apenas a partir da dispersão. Ao longo do
reconhecimento de que algo de mais alto foi aniquilado exatamenteprocesso da formação da cultura, esta ¡dentidade ace de-se e
através daquilo que o deveria ter salvo.transforma-se, na poesia Ilrica, em antagonismo; é apenas através
"O essencial da tragédia è (...) um conflito efet vo entre a do fruto mais maduro da cultura posterior, que, num estágio
liberdade no sujeito e a necessidade enquanto objetiva,connito que não termina na derrota de um ou do outro. O superior, a própria unidade se reconcilia com o antagonismo e
essencial é que ambos apareçam, ao mesmo tempo, como ambos tornam-se novamente um, através de uma cultura maisvencedores e vencidos na completa in-diferecça."*
17
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\
apurada. Esta Ídentidade syperior é o drama*. Assim, todo oHÖLDERLIN
sistema de Schelling - cuja essencia é a identidade de liberdade e "O modo mais fácd de compreender a significação das tragédias é a partir
necessidade - culmina na sua determinação do processo trágico do paredoxo. Pois todo o origináno. - uma vez que toda potðncia está
como restauração da indiferença no conflito. Com isso, mais umadividida de modo justo e eqüifativo - aparece não na força originária. mas
propriamente na sua fraqueza, de forma que, realmente, a luz da vida eo
vez o trágico è compreendido como fenomeno dialético, pois a aparecer pertencem proµiamenteà fraqueza de qualquer todo. Agora, no
indiferença entre liberdade e necessidade só é possível pagando-se itrágico, o signo é em si mesmo insignificante e som efeito, enquanto o
originário surge diretamente. O originário, portanto, pode aparecer
um preço: o vencedor é igualmente o vencido: o vencido, o somente em sua fraqueza, mas, na medida em que o signo é posto em si
vencedor. Além disso, a arena da luta não é um campomesmo como insignincante = 0, o originário, o tundamento ocuito de toda a
-natureza pode se apresentar também Se a natureza, quando efa se
mtermediârio, exterior ao sujeito que luta; ela é deslocada para a apresenta como aquilo que ela propriamente é, aparece através do seu
própria liberdade, que assim, como que decaindo por si mesma,dom mais fraco, entãolo signo, quando ela se apresenta através de seu *
dom mais forte, é = 0"toma-se seu próprio adversário.
NOTASProduzido entre 1798 e 1800, o fragmento tem o conceito
de natureza como ponto de partida, como os dois textos de
1. Briefe Ober Dogmatismus und Knlizismus (Cadas sobre dogmatismo e criticismo).H mbu sobre o trágico - o "Grund zum Empedokles", (Funda-
Hauptwerke der Phdosophie in o nalgetreuen Neudrucken (Principais obras da 0 FO
filosofia em novas ediçôens fiéis ao original). Tomo III, 1914. p.81 e segs. Conipare mento para Empédocles) e o artigo "Über das \/Verden imE. Staiger, Der Geist der Liebe und das Scincksal(O espirito do amor e do destino)
2. Grundlage der gesamten Wissenschaftstehre (Fundamento da completa teoria da Vergehen" (Sobre o devir no desaparecer). Ele surge, como estes,ciencia). Obras. Ed. F. Medicus. Leipzig, 1911, tomo I, p.295.
3 Aus Schellings Leben (Da vida de Schelling). Leipzig, 1869, tomo I, p.76 e seg do objetivo de dispor, em relação à natureza, uma posição para o
5 e PR nomem, a qual o mostraria como servo da natureza, mas esta, ao
mesmo tempo, necessitando daquele. Em uma carta de 4 de junho8 "Dialética"e "dialético", em todo o estudo, designam - de acordo com a utilização dos do doxo (...), que o
termos por Hegel, mas sem as implicações de seu sistema - og seguintes fatos e de 1799 a seu irmão, Höldedin fala "paraocesso :aunid dos opostos, mudança do um em seu contrário, negativação de
impulso pela affe e a educação com todas as suas modificaçðes e
9 Phitmosoph der Kunst (Filosofia da arte). Obras. Stu#gart, 1856-61. Primeira parteyg,¡g ges 4 propr¡amente um serviço que os homens prestam à
natureza.'* A partir deste paradoxo, o fragmerito esclarece o
significado da tragédia. Sua idéia basilar reencontra-se na carta a
Sinclair de 24 de dezembro de 1798: é qualificada de "condição
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primeira de toda a vida e de toda a organizaçðo" o fato "que quais o mundo apareceu diante de seus olhos. [Ele é) um homem
aenhuma força seja monárquica no céu e sobre a terra"* Uma vez no qual aqueles contrários se unem tão intimamente, que nele se
que, desta maneira, "toda capacidade eslá dividida de modo justo e tomam Um-sð."4 Todavia, sua tragicidade consiste no fato de que o
eqüitativo", o que é, na sua essencia, originário, a natureza, não herói deve soçobrar exatamente por causa da reconciliação que
pode, "ao mesmo tempo, aparecer na sua força originária, mas encama - e justamente porque ele a encama, ou seja, porque a
propriamente", quer dizer, na medida da sua própria possibilidade, representa de modo sensivel. Pois, por um lado, como expöe o
por sua própria força, "somente em sua fraqueza". Esta dialètica - Grund zum Empedokies, a reconciliação só se toma reconhecível
que o fode, a partir de si, só pode aparecer como fraco e necessita quando o que é unido numa intima unidade se separa na luta; por
de um fraco para que apareça sua força - funda a necessidade da outro, a união sensivel deve ser apenas aparente e temporária e
arte. Nela a natureza não aparece mais "propriamente", mas precisa ser suprimida, "porque senão o geral se perderia no
mediada por um signo. Este signo, na tragédia, é o herói. Na indMduo, e (...) a vida de um mundo deñnharia em uma
medida em que nada consegue realizar contra a natureza e vai ser particularidade.'' Assim, Empédocles é uma "vltima de seu
aniquilado por ela, ele é "insignißcante" e "sem efeito". Mas natempo*, cujo desaparecimento, todavia, possibilita um "devit, e
morte do herói trágico, quando o signo é = 0, a natureza ao mesmo este destino não é o seu pessoal, porém, como frisa Hölderlin, o
tempo se apresenta "em seu dom mais forte" e "o originário surge destino de "mais ou menos" todas NDS pOTSOnagens trág|COS".
diretamente". Desta forma, Hölderlin interpreta a tragédia como "A representaçðo do trágico repousa essencialmente sobre
o fato que o inaudito - como o deus se une ao homem, e
sacrificio que o homem oferece à natureza, a fim de viabilizar, como o poder da natureza eo mais Intimo do homem
assim, seu aparecer adequado. Sua tragicidade consiste em que atomam-se, na ira, inônitamente um só - pode ser
compreendido graças ao fato que o infinito tomar-se-um-só
ele pode realizar esta função, que confere significação à sua se purifica através do infinito separar-se.'*
existência, somente na morte, quando é colocado como signo "em Escritas por Höldertin em 1803, as Anmerkungen zum
si mesmo insignißcante = J'. De acordo com Hölderlin, este conflito Ödipus (Notas para o Édipo), junto com as para Antigone, sucedem
de natureza e arte - cujo objetivo é, de fato, a conciliação entre aos hinos tardios, da mesma forma que os ensaios de Homburg
ambos -, realiza-se na tragédia como tal; por outro lado, ela é acompanham a escritura do Empédocles. A determinaçâo da
tematizada naquela tragéaia [Empédocles), cuja produção tragédia que nelas se encontra está intimamente ligada à prece-
acompanha os escritos teóricos. Pois Empédocles, para Höldedin' dente, mas recebe, na proximidade dos hinos, uma nova signs-
é "um MIho das violentas contraposiçöes entre natureza e arte nas ficação. Sinat exterior para esta mudança já é a circunstância que a
21
ocupação de Hölderlin com o trágico não diz mais respeito à aaa
própria poesia, porém à tradução das duas tragédias de Sófocles. A Empédocles quando se precipitou no Etna. Assim, de acordo com a
solução trágica da tensão entre natureza e arte, que no Hðlderlin interpretação de Hölderlin, na tragédia de Sófocles a tensão não é
tardio é tomada de forma mais absoluta, tomando-se a relação supostada, mas canalizada para uma descarga. O futuro quiliástico
entre Deus eo homem, não aparece mais como tema da sua da proximidade dos deuses desmorona antes do tempo no
própria lirica Hölderlin, todavia, não abandona a dialética trágica, à presente, que não está à sua altura: a falsca salta, e, no incendio
qual procurou dar forma no Tod des Empedokles (Morte de que causa, a noite transforma-se em dia que vai se crestando. Na
Empédocles). Mas agora o trágico é como que imanente à sua medida em que Nipo "interpreta a sentença do oráculo num
representação da relação [que impera) entre Deus eo homem. sentido demasiadamente inünito - 10, ou seja, como exigência
Trata-se da idéia da "inMdelidade divina". Dentro da sua concepção religiosa, e realiza esta exigência, ele força, na visão de Hölderlin,
histórico-filosófica, Hölderlin compreende o tempo da ação de a unificação com Deus. Contudo, este "infinito tornar-se-um-só",
Èdipo eo seu próprio como momentos intermediários, como noite, dizem as notas, precisa passar para ohiinÑnitO SeparBT-Se", de
na qual "o deus eo homem - para que o curso do mundo não tenha forma que o inaudito, que apresenta, torne-se reconhecivel. O dia
lacunas e a memória dos celestes não se apague - se comunica(m) forçado reverte-se tragicamente em uma noite potenciada: nas
na forma "tudo-olvidante" {allvergessende} da inMdelidade, pois a trevas do Édipo cegado.
inMdelidade divina é o que melhor á lembrado.'* Esta dialética deNOTAS
fidelidade e infidelidade, do lembrar e esquecer são a base 1. Sam&che Welke (Obras completas). Grande edição de Stuttgart Ed. Fr. Beissner,tomo IV, p 274 = SW. SamŒche Werke. Edição hist6rico-critica. Ed.:L.v. Pigenot. Berlin,
temática dos poemas tardios de Hðldedin. Eles, ao mesmo tempO, 1943. Tomo III, P. 275. Linha I:"do parado×o "(leitura de Zinkernagel e Beissner), (Cf.
Zum H&detin-Text Neue Lesungen zu einigen theore#schen Aufsetzen (Para a obra
determinam e realizam a incumbencia do poeta em um tempo no de Holderlin.N os seminários para alguns ensaios teóricos). In: Dichtung und Voßtstuin(Poesia e ein ). 1938). De acordo com Pigenot, lia-se primeiramente: "O ("próprio
qual os deuses só podem estar próximos através de seu riscado) signMcedo de todas as tragdcías esclarece-se a partir dos parado×os, quetodo o origindlio, pois todo o bem está dvidido de modo justo e equ#advo, aparece,
afastamento. Hölderlin está determinado - na moite dos deuseS propriamente, apenas na sua kaqueza, não de modo efetivo (wirkäch)." (Cf. Werke(Obras) (Pigenot), tomo lli, p 589]Linha 4: "na verdade' (recht) teitura de Zinkemagel e
afastados, a qual, todavia, ainda 6 presenêa, e a única que não seissner,·pois"(wolh),teituradePigenoteBohm.
2 S½ Vil329destrói os homens - a perseverare a preparar o futuro regresso dos
deuses. Isto dá à sua poesia - ao Friedensfeier (Festejo de paz),e segs.
por exemplo - sua estrutura utópica e aquele ritmo de alta tensão SWiV/157
em que cada palavra se ergue contra a saudade à qual cedeu 8. Anmerkungen zum Öcipus (Notas para Édpo), SW Vil201.9. SW Vl202.10. SW Vl197.
22
HEGEL abstrato de eticidade, Hegel quer colocar um conceito real (real),
que apresente o geral eo particular na sua identidade, enquanto"A tragédia consiste nisto que a natureza ética separa de si, enquanto
destino. a sua natureza inorgânica, a Mm de que n&o se confunda com ela. que a oposição é causada pela abstração do formalismo 4. A
e a coloca defronte de si e que, através do reconhecimento do destino na eticidade absoluta real, como a compreende Hegel, é "eticidadeluta, ela está reconcßiada com a essencia dMna como unidade de
ambos -1 imediata do indivíduo e vice-versa", "a essencia da eticidade do
indivíduo [é], completamente, a eticidade absoluta real e, por isso,
A primeira interpretação de Hegel da tragédia se encontra geral."* Mas em oposição a Schelling, Hegel dirige sua atenção não
no escrito Über die wissenschaftlichen Behandlungsarten des somente para a identidade, mas também para o permanenteNaturrechts (Sobre os tipos de tratamento cientifico do direito .
combate entre as forças compreendidas na sua identidade, para o
natural), que apareceu em 1802-3 no Kritischen Journal der .movimento imanente à sua unidade, através do qual, só então, a
Philosophie (Jornal critico de filosofia), conjuntamente editado por identidade se toma possivel. A oposição entre norma inorganica e
Schelling e Hegel. Como toda a revista, também este artigo dirige- individualidade vivente, entre o geral eo particular não é, portanto,
se contra Kant e Fichte. A luta conduzida no campo da ètica é, ao 1
) bloqueada, mas suspendida (aufgehoben), como oposição
mesmo tempo, uma discussão de principios entre a dialética de dinamica no interior do conceito. Da mesma forma, mais tarde, na
Hegel, que começa a se delinear, eo formalismo dualista da Fenomenologia do espírito, Hegel compreende este processo como
filosofia de seu tempo, pois o que é aqui criticado na IGitik de" divisão do eu (Selbstentzweiung), como sacrifício. "A força do
praktische Vernunft (Crítica da razão prática), de Kant, e nosectifício consiste no contemplar e objetivar do enredamento com o
Grundlage des Naturrechts (Fundamento do direito natural), de inorgânico; attpvés desta contemplação, o enredamento é
Fichte, é a rigida oposição da lei e da individualidade, do geral e dod¡ssolvido, o inorgânico é separado e, como tal reconhecido e, com
particular. Fichte quer "ver todo o agir eo ser do indivíduo,isto, acolhido, ele mesmo, na indiferença: o vivente, contudo, na
enquanto tal, como vigiado, sabido e determinado pelo geral e pelamedida em que coloca à morte aquilo que ele mesmo sabe [ser]
abstração a ele opostos." 2 A ele Hegel opðe a "idéia absoluta daparte de si no inorgânico eo sacrißca à morfe, simultaneamente
eticidade", que contém, como "simplesmente identicos", o estadoreconheceu o direito do inorgânico e, simultaneamente, dele se
de natureza e a "majestade e divindade do todo do estado depurificou." Este processo, que ele identifica ao processo trágico
direito", que são estranhos ao individuo 3. No lugar do conceitocomo tal, Hegel o exemplifica no final da Oréstia de Ésquilo. A
discussão entre as Eumenides como Nforças do direito, que está na
25
1
diferença" - e Apolo, "face à organização moral e ao povo de
Atenas", conclui com a reconciliação trazida por Palas Atena: dali oposição que contrapðe o humano ao divino, o particular ao geral,
em diante as Eumenides seriam honradas como forças divinas, "dea vida à lei, opostos entre os quais nenhuma conciliação è possivel.
sorte que sua natureza selvagem acalmar-se-ía ao gozar - a partir Sua relação é um dominar e ser dominado. A este espírito
de seus altares erigidos embaixo, na cidade - da contemplação dedgorosamente dualista, opðe-se o espírito do cristianismo. A figura
Atena, cujo trono aftaneiro está na fortaleza em frente."I Na medida de Jesus lança a ponte sobre o abismo entre o homem e Deus;
em que o processo trágico, em Hegel, é interpretado como auto-enquanto filho de Deus e filho de homem, Jesus encama a
divisão e auto-reconciliação da natureza ética, manifesta-se, pelareconciliação, a unidade dialética das duas forças. Da mesma
primeira vez, sua estrutura dialética. Ao passo que naforma, ele medeia, como ressurreto, entre a vida e a mode. No
determinação do trågico, em Schelling, o dialético ainda precisava lugar do mandamento divino, ao qual está sujeito o homem, ele •
ser desvelado, pois Schelling se encaminhava muito facilmente coloca a atitude (Gesinnurg) individual, através da gual o próprio
para a harmonia - do que Hegel vai acusá-lo, disfarçadamente, noindividuo se põe-em-um (ineinsetzt) com a universalidade.
prefåcio da Fenomenologia -, em Hegel tragicidade e dialética Contudo, nem no seu escrito de juventude, nem, mais tarde, no
coincidem. O fato que esta não é uma identidade afirmada ensaio sobre o direito natural, Hegel vê a identidade como
posteriormente, mas que, muito mais, retrocede até a origem deharmonia assegurada. Ele considera, muito mais, como movimento
ambas as representaçðes em Hegel, demonstra o escrito de intemo desta identidade, o processo que vai receber, na
juventude dos anos 1798-1800, que se tomou conhecido pelo título Fenomenologia, sua forma definitiva como dialética do espírito. O
Der Geist des Christentums und sein Schicksal (O espírito do escrito de juventude dá nome aos graus da autodivisão e da
cristianismo e seu destino). A origem da dialética hegeliana é,conciliação no desenvolvimento de ser-em-si para o ser-em-e-para-
significativamente, uma história da dialética como tal.si: destino e amor. Em oposição ao judaismo - que não conhece o
Primeiramente, Hegel conduz a discussão Óom o formalismo destino, segundo Hegel -, porque entre homem e Deus s6 estå
kantiano, no âmbito de um estudo teológico-histórico, como amarrado o laço do domínio -, o espírito do cristianismo funda, ao
discussão na própria matéria, a saber, entre o cristianismo eo mesmo tempo, a possibilidade do destino. O destino "não é algo
judaismo. O espírito do judaísmo é caracterizado pelo jovem Hegel estranho como o castigo", que pertence à lei aiheia, porém é "a
quase da mesma maneira como ele caracterizarå, mais tarde, oconsciencia de si mesmo, mas como de um inimigo.'* No destíno, a
eticidade absoluta divide-se consigo mesma. Ela näo se encontraformalismo de Kant e Fichte. Ele é determmado pela rigida
diante de uma lei objetiva que ela teria violado, mas tem, no
26
27
destino, a lei diante de si, a lei que ela mesma erigiu através da acontecendo "esta unificação no amor . 12 Neste sentido, Hegelação * Através disto, é-lhe igualmente oferecida a possibilidadede .
mterpreta o destino de Maria Magoalena (e atribui a culpa de seu
se conciliar com a lei e, assim, restabelecer a unidade, enquanto erro ao próprio espirito do judaismo): ...o tempo de seu povo era,
que, na lei objetiva, a oposição sobrevive ao castigo . Destacom certeza, um daqueles no qual o belo caráter {schðne Gemüt:
forma. o escrito do jovem Hegel não trata apenas do destino donoção, cujo sentído oscila entre alma, espírito, enimo, caráter) não
cristianismo, como indica o titulo do editor, porém, ao mesmopode viver sem pecado, mas neste, como em qualquer outro
tempo, da gênese do destino como tal, a qual, para Hegel, coincidetempo, ele poderia retornar à mais bela consciencia através do
com a gênese da dialética, e isto, no espírito do cristianismo.amor Embora no escrito de juventude não apareçam as
Também aqui, no espaço cristão, o destino refere-se ao trágico, da palavras trágico e Tragédia", ele contém a origem da
mesma forma que, na definição de tragédia do escrito sobre o determinação do trágico tal como esta é dada no escrito sobre o
direito natural, aparece como momento da autodivisão da natureza direito natural, e ele a contém em unidade com a origem da
ética. Entre as folhas manuscritas do escrito de juventude, dialética hegeliana. Para o jovem Hegel, o processo trågico é a
acharam-se excertos sobre o fatum na IIIada e sobre adialética da eticidade, que ele primeiro procura mostrar como
especificidade do destino posto para fora de si pelo sujeito,espírito do cristianismo, postulando-o, mais tarde, como
especificidade que é iluminada através de uma tragédia, Macbeth.fundamento de uma nova doutrina ética. É a dialética da eticidade,
Depois do assassinato de Banquo, Macbeth não se encontra diante"do movens (Bewegers) de todas as coisas humanas"", que se
de uma lei estranha, existente independentemente dele, porém, nodivide consigo mesmo no destino, mas no amor retorna para si,
espectro de Banquo, ele tem, diante de si, a vida lesada em sienquanto que, no mundo da lei, a rigida divisäo através de crime e
mesma, que não é nada de estranho, mas, ao mesmo tempo, "suapunição prossegue imutável.
própria vida arruinada". "Só agora a vida lesada se mostra como"O verdadeiro tema da tragédia [è] o divino; mas não o
força inimiga contra o criminoso eo ultraja como ele a ultrajou;divino como conteúdo da consciencia religiosa, porém como
assí a puniçðo como destino é o mesmo efeito retroativo do divino que entra no mundo, no agir individual, sem perder,nesta efetividade, todavia, seu cardter substançial e sem se
próprio ato do criminoso, de uma força que ele mesmo armou; dereverter no seu contrário. Nesta forma, a substância
um inimigo que ele mesmo tornou seu inimigo."" Mas como o espiritual do querer e do realizar é o ético.[...] Através doprincípio de particularização, ao qual está submetido tudo
"próprio criminoso erigiu a lei, a separação que ele fez - emque se exterioriza na objetividade efetiva, tanto as forças
oposição ao simplesmente separado na lei - pode ser unificada, éticas quanto os caráteres agentes são distintos no que dizrespeito ao seu conteúdo e ao seu aparecer individual. Se,
2829
como requer a poesia dramática, estas potenciasparticulares são chamadas a aparecer efetivamente e concreção, pelas circunstâncias, podanto fortuita quanto aoefetivam-se como Mm determinado de um pathos humanoque passa à ação, então a sua harmonia (Einkglang) è conteúdo. Em oposição à primeira definição, a atual parece nãosuspendida e elas surgem como opostos, num fechamentorec/proco. O agir individual pode querer, entðo, sob
provir, de maneira imediata, de um sistema filosófico, porém -
determinadas circunstâncias, realizar um #m ou um cardter, como corresponde à sua localização em uma estética - pareceque, sob estas condiçðes - porque ele se Isolaunifateralmente na sua determinação acabada para si -,
querer englobar toda a variedade de possibilidades trágicas.
necessariamente e×cita, contra sí, o "pathos" oposto, e. Verifica-se, contudo, a partir das explicaçðes que se seguem naatravés disso, inevitavelmente, origina conflitos. O trágicooriginário consiste, pois, no fato que, no interior de tal Estética sobre o desenvolvimento histórico, que Hegel concede, a
colisão, ambos os lados da oposição, tomados em si contragosto, esta extensão formal de sua definição e, no fundo,mesmos, tem um certo direito (Berechtigung), enquanto, poroutro lado, eles só tem a capacidade de levar a cabo o gostaria de se apoiar em apenas uma forma de colisão trágica. O ,
verdadeiro valorpositivo de seu Mm e cardter como negação momento do acaso, que se imiscuiu na sua determinação, originou-e lesão do outro poder que tem direitos iguais, incorrendo,desta forma, em culpa diante da sua eticidade e, ao mesmo se, como é visível, do trágico dos modemos, culos heróis erguem-
tempo, através dela..1sse "no meio de uma ampla variedade de relações e condiçðes
Duas décadas separam esta determinação da Estètica defortuitas, que permitiriam de agir assim ou diferentemente - to Sua
. conduta é determinada pelo seu caráter próprio (eigentümlichen), oHegel da definiçäo do escrito sobre o direito natural. O trágico é
ainda compreendido como dialética da eticidade; mas algoqual não encama, necessariamente, um "pathos" ético como na
essencial mudou. O destino do herói trágico - o fato que o seuantiguidade. Por este motivo é que Hegel admite a nova tragédia
pathos o direciona, simultaneamente, para o direito (Recht) e parasó com restriçðes, ao mesmo tempo que privilegia, também no
. . âmbito da tragédia antiga, uma das possíveis colisöes: aquela quea injustiça (Unrecht) e pode, desta forma, incorrer em culpa
. . ele encontra em Iñgenia em Áulis, na Oréstia e na Electra dejustamente através de sua eticidade -, este fato é visto num
Sófocles, e, na sua forma mais perfeita, em Antigone, que elecontexto metafisico, o qual repousa sobre a introdução do divino na
.denomina "a mais excelente e satisfatória obra de arte entre todas
realidade, sujeita ao principio de particularização. Mas, comparada
ao artigo de 1802, esta relação ficou muito mais solta. O trágico as maravilhas do mundo antigo e moderno"." É a colisão entre
amor e lei, tal como se entrechocam nas figuras de Antigone enão pertence mais, essencialmente, à idéia do divino, que, na
Creonte. Atrás da aparente indeterminação da definição tardia,consciência religiosa, é dele libertada: e a autodivisão do ético
ainda que irremediåvel, no entanto é determinada, na suaencontra-se, portanto, ainda aquela mesma forma do trágico que
Hegel analisou na Fenomenologia do espirito. Com isto, entretanto,
31
não pode passar despercebido que a tragédia de Sófocles não é
examinada como tragédia, e nenhuma definição de tragédia é se opðe o mundo da lei, repousando sobre a rígida oposição entre
dada, da mesma maneira que os termos "trágico" e "tragédia" o geral eo particular, lei esta que não oferece nenhuma
absolutamente não aparecem na Fenomenologia. Hegel, muito possibilidade ao trágico. Na Fenomenologia, porém, o conflito
mais, alcança. no decorrer da exposição que faz sobre o processo trágico surge entre o mundo da lei eo do amor. Tem-se a
dialético do espírito, o estágio do "verdadeiro espírito", que ele impressão de que, em Creonte, o espírito do judaismo e da ética
determina como eticidade e faz se clivar em duas essências formalista, anteriormente excluído do trágico, aparece diante de
(Wesen): na lei divina e na humana. Uma se realiza na mulher e na Antigone, que encarda o mundo do amor, como herói trágico de
esfera familiar; a outra no homem e na vida do estado. O choque direitos iguais. Esta inflexão na concepção de Hegel, que ainda
entre estas duas formas do aparecer do ético - logo, na verdade, o sublinha que Hegel defende o pathos ético de Creonte, está ligadachoque do espírito absoluto consigo mesmo, uma vez que estå na à transformação que expenmenta a significação da dialética para
passagem do retomo a si mesmo, contra si mesmo - Hegel o ve Hegel. Nos anos entre o escrito sobre o direito natural e a
adquirir forma na ação de Antigone (Antigone-Handlung). Diferen- Fenomenologia, a dialética conhece uma transformação: de um
temente da Estética e em concordância com o escrito sobre direito aparecer histórico-teológico (no espírito do cristianismo) e de um
natural, a Fenomenologia coloca o trágico - sem, entretanto, postulado cientifico (para a nova fundação da teoria da eticidade),
nomeå-lo desta forma - no centro da filosofia hegeliana eo ela passa a ser a lei do mundo eo método de conhecimento.interpreta como a dialética, à qual está sujeita a eticidade, ou Através disto, a dialética - que é, ao mesmo tempo, o trágico e sua
melhor, o espirito no seu estågio de espírito verdadeiro. Mas é superação - estende-se além das fronteiras estabelecidas nos doisprecisamente a proximidade entre o escrito teológico do jovem escritos de juventude e abrange, agora, também a esfera da lei, da
Hegel, o ensaio sobre direito natural, a Fenomenologia (e ainda a qual outrora se distinguia rigorosamente. Erigida em princípio deEstética como seu eco formalizado), que tofna reconhecível a mundo, não tolera nenhum domínio que lhe permaneça fechado.diferença essencial entre eles, da qual pode-se deduzir uma Assim é reconhecido como conflito trágico exatamente aquele queinflexão velada na concepção hegeliana do trágico. Nos escritos precisa irromper a origem da dialética eo domínio do qual ela se
que antecedem a Fenomenologia, o trágico é o sinal caracteristico afastou na medida em que surgiu. Com isto, a oposição entrede um mundo da eticidade - dividindo-se consigo mesma no judaismo e cristianismo é suspendida na imagem da antiguidade dedestino e achando a reconciliação no amor - ao qual, por sua vez. Hegel U. Todavia, o fato de que esta unificaçäo dos mundos antes
claramente separados já esteja preparada no escrito de juventude,
33
e que a dialética se afirma à revelia de Hegel ainda antes que ele a10 id , p 393, nota.
chame pelo nome, pode-se deduzir da notável circunstancia, que
Hegel tança mão da mesma tragédia tanto para a caracterização do 13 Id , p 293.14 Ediçao de jublieu, tomo I, p.441.
cristianismo quanto para a do judaismo. Poucas páginas antes da 15 Asurem (Estética). Edição de jubileu, tomo XIV. p.528 e segs.
16 Id , p.567.
análise da cena entre Macbeth eo espectro de Banquo, que deVO 17. Id , p.556.16. A ela corresponde, na Estéfca, a posiêso da forma artistica clássica (grega), entre a
demonstrar a dialética do destino subjetivo, encontra-se a frase que simbolica (por exemplo, a hebraica) e a romantica (cnsta). Cf esp. Edição de
jubileu, tomo Xill, p.15.remete Macbeth ao mundo da abrupta oposição do objetivo: "O 19 Hegels theologsche Jugendscritten, p. 260.
destino do povo judeu é o destino de Macbeth, que retirou-se da20 Para Hegel, compare também p.203 deste trabalho.
própria natureza, ligou-se a seres estranhos e, a seu serviço,
precisou pisotear e assassinar todo o sagrado da natureza humana;
precisou ser finalmente abandonado pelos seus deuses {pois eles
eram objetos; ele, servo); e ser destruído na sua própria 14. * A
dupla interpretaçäo e utilização da figura de Macbeth, ela mesma
um testemunho da dialética hegeliana, antecipa, contra a intenção
do escrito de juventude, mas já no espírito do Hegel tardio, a
sintese que então será produzida na interpretação da Antigone da
Fenomenologia. 2
NOTAS
1. Ûber die wissenschaldichen Behandlungsatten des Naturrechts, seine State in derprakischen Phüosophie, und sein Verheltnis zu den pos&venRechtswissenschaften (Sobre os tipos de tratamento cientifico do direito natural,sua posiç8o na filosofia prática, e sua relação com as ciencias do direito positivas)Edição de jubileu, tomo I, p.501 e segs.
2 kf, p 525.3 Id , p. 452.4 td , p. 527.5 Id , p. 509 e segs.6. Id , p. 500.7. Id , p. 501.8. Hegels theologische slugendschriften ( Escritos de juventude de Hegel sobre
teologia9) Org H. Nohl, Tübingen, 1907, p.283.
I
(1)
NIETZSCHE em Nietzsche, transferida para o campo estético: "a existência eo"Quem não vivenciou isto ao mesmo tempo ter que olhar, observar e
mundo são justißcados apenas como lanômenos estéticos." A istodesejar ans¡osamente para além do olhar, dißcilmente vai conceber no corresponde sua exigêncla de esclarecer o mito trágico a partir daexame do mito trágico, quëo determinada e claramente estes dois
3esfera estética . Contudo, a interpretação do trágico de Nietzsceprocessos surgem conjuntamente e conjuntamente são sentidos; osespectadores verdadeiramente estéticos, ao contrário, concordarão parece originar-se da sua compreensão da tragédia ática, quecomigo que, entre os efeitos própnos da tragédia, aquele "conjuntamente"
compreende como a conciliação dos dois princípios adísticos - osé o mais notável Trans#ra-se, pois, este fenómeno do espectador estéticopara um processo análogo no artista trágico e ter-se-á entendido a genese quais combateram-se continuamente nos períodos anterior da artedo mito trágico. Ele divide com a esfera artística apollnea o completo
grega -, como "o coro d¡on/sico, que sempre de novo se descarregaprazer da aparéncia e do olhar e, ao mesmo tempo, nega este prazer etem uma satisfaçâo ainda mais elevada na destruição do mundo da em um mundo Egurativo apollneod. Mas, ao mesmo tempo, a
'
aparência visível .1
interpretação reflete, no detalhe, ainda que de forma invertida, a
Die Geburt der Tragödie (O nascimento da tragédia), dei imagem do processo trágico esquematizadapor Schopenhauer. Ao
1870/1, tem seu pathos na defesa contra a teoria da resignação de passo que Schopenhauer vislumbra nas potencias conflitantes da
Schopenhauer, mas é marcado até nos detalhes pelo sistema desta2 tragédia aquela vontade de que elas são apariçðes, Nietzsche
. entende que, até Euripides, Dionisio "nunca parou de ser o herðiúltima. Não apenas na interpretação da música, mas também na do
processo trágico, e até nos dois princípios fundamentais do escrito trágico, porém todas as famosas personagens da cena grega -
de juventude, trai-se o modelo de Schopenhauer que certamente Prometeu, Édipo,...- são apenas máscaras daquele herði originário,
no aspecto decisivo só aparece ainda como negativo. Podem ser Dion/sio.'* Ao seu destino transposto no mito - ser despedaçado -,
tidos como os ancestrais dos dois principios artísticos de Nietzsche celebrado sempre de novo em cada tragédia e que Nietzsche
os conceitos "vontade" (Wille) e "representação" (Vorstellung) de compreendecomo símbolo da individuação, de forma que pode ser
Schopenhauer. O impeto originário e cego de um foi reencontrado visto no "deus que experimenta em si os sokimentos dapor^Nietzscle
no mundo extático de Dionisio; a clareza eo auto- ¡ndividuação" -, corresponde, em Schopenhauer, a sorte que
conhecimento do outro, no mundo onirico e figurativo de Apolo, acomete, na tragédia, a vontade: os individuos, nos quais ela
cuja exigência aos mortais chama-se "conheça a ti mesmo'*. Os aparece, dilaceram-se a si mesmos. Exatamente nesta
conceitos metafisicos de Schopenhauer transformaram-se, assim, correspondência, mostra-se, de forma particularmente clara, o
em estéticos, da mesma forma que a metafisica como tal aparece, parentesco entre o conceito do "apolineoN, de Nietzsche, eo de"representação", de Schopenhauer. Enquanto que, para ki
36
Schopenhauer, a vontade se objetiva no seu mais alto estágio na
tragédia, Nietzsche designa o diálogo dramático como "objetivação NOTAS
de um estado dionIsico". Tanto no conceito de apolineo quanto no 1. Werke (Obras). Stuttgart, 1921, tomo I, p 194
de representação , a individuação contrapðe-se ao uno-originårio 2. Id., p 64
3. Id., p. 196.
(ao dionisico, ou melhor, à vontade). Mas nesta comparação 4Id..p.90.
aparece, ao mesmo tempo, a diferença entre as concepçðes de 5. Id., p. 101,
6 Id. Ib
Nietzsche e de Schopenhauer. Ao passo que em Schopenhauer a 7. Id., p 102.
vontade se suspende a si mesma através do processo trágico - no
qual suas apariçöes se dilaceram - e, graças ao reconhecimento,
provoca o abandono de si mesmo, a resignação no espectador,
para Nietzsche, Dionísio sai de seu despedaçamento na indivi-
duação, exatamente como o potente-indestrutível, no que consiste
o "consolo metaffsicoN QUe dá a tragédia. Frente à dialética
negativa de Schopenhauer, encontra-se, assim, uma positiva em
Nietzsche, que lembra a interpretação de Schelling nas Cartas.
Enquanto a vontade se nega a si mesma na sua objetivação, o
dionisico afirma-se exatamente na medida em que - apesa do seu
prazer na aparência apolinea, que é sua objetivação - nega este
prazer e esta aparência, e, da destruição do mundo-da-aparencia-
visivel, cria um prazer ainda mais elevado. Assim a ade não é mais
o espelho translúcido no qual o mundo da indlyiduação emite um
juízesobre a vontade, mas um signo que a inclividuação representa
"o fundo originário do mal-estar" e, ao mesmo tempo, a "aleye
esperança que o feitiço da individuação possa ser quebrado • o
pressentimento de uma unidade reestabelecida" 7.
38
39
CADERNOS DO MESTRADOvolumes publicados:
[ lj A Are/a do kadutor j9] Pbd Akoew:Walter Benjamin narroßv4 Isihro e norma en
Tenps el réa7 &(2) Ausrhoch e a häldro £4rko O que não se sa6e& Adagações quemas José Luis Jobin &Luiz Costo Limo & Gustavo BernardoIvo Barbieri
(10] Goes darepresenhçôo(3) thn näter de bolkdros Kerstin Behnke, Paolo Fabbri &Maria Helena Rouanet Luiz Costa Lina
14) A learà eo crHko semkel &
Teoro de SteroAra e c¡êncoLuiz Costa Limo &
Roberto Acizelo de Souza
[5] O corrpo whermeneviko, orea materoidade da comerkoçâoHans Ulrich Gumbrecht
[6] Espermdo por Kalla &
"SubjecArn coupwathno5as AcûAincka do sujeito no $scarsoVilém Flusser &
Wladimir Krysinski
(7] Italdro £1ertroDavid Perkins,Bernd Witte &
Ernst Ilehler
(8] E/hæroco en el ocasode h modernobd &Pós-moderno e barrocoIrlemar Chiampi &
Joäo Adolfo Hansen