Superguia sobre meditação

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Superguia sobre meditação Gilberto Coutinho 1) O que é meditação yogue? Resposta: Técnica desenvolvida pelos antigos sábios yogues da Índia, a meditação visa a acalmar a mente, que, quando se encontra serena e centrada, experimenta uma profunda sensação de paz, bem-estar e contentamento. No segundo sutra (*aforismo) do terceiro capítulo do Yoga Sutras (Aforismos do Yoga), o grande sábio e yogue Patañjali (autor do Yoga Sutras; pesquisadores modernos consideram que ele, provavelmente, tenha vivido no século II d.C., embora a tradição hindu o relacione ao gramático que viveu no século II a.C.) conceitua o termo meditação: Conceito de meditação “Tatra (eis) pratyaya (do empenho ou esforço mental) ekatanata (contínuo) dhyánam (meditação).” Ou seja: “Do contínuo empenho ou esforço mental (referindo-se à concentração, no sutra anterior), resulta a meditação.” O virtuoso e grande sábio Vyasa (atribui-se a ele a autoria da epopéia Mahábhárata; compilador de quatro hinos védicos, de muitos Puranas e de outros trabalhos, como o Yoga- Bhâshya e comentários sobre o Yoga Sutras de Patañjali) fez o seguinte comentário a respeito desse sutra: “Meditação é um estado de contínua e prolongada concentração no objeto de contemplação, intocável por qualquer outro pensar.” Dhyana (meditação) é a condição sob a qual se presta ininterrupta atenção ao objeto de contemplação. É a concentração mais profunda (mais aprimorada) e prolongada. Quando se vivencia o estado de profunda e prolongada concentração, alcança-se a meditação. Durante a meditação, o praticante pode manter a sua atenção (consciência) voltada apenas para um objeto, durante o tempo que desejar, e a distração não mais afeta a sua mente. Nesse estágio, entretanto, ainda existe uma dualidade: o indivíduo (a pessoa que medita) e o objeto de

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Superguia sobre meditação Gilberto Coutinho

1) O que é meditação yogue?

Resposta: Técnica desenvolvida pelos antigos sábios yogues da Índia, a meditação visa a acalmar a mente, que, quando se encontra serena e centrada, experimenta uma profunda sensação de paz, bem-estar e contentamento. No segundo sutra (*aforismo) do terceiro capítulo do Yoga Sutras (Aforismos do Yoga), o grande sábio e yogue Patañjali (autor do Yoga Sutras; pesquisadores modernos consideram que ele, provavelmente, tenha vivido no século II d.C., embora a tradição hindu o relacione ao gramático que viveu no século II a.C.) conceitua o termo meditação:

Conceito de meditação

“Tatra (eis) pratyaya (do empenho ou esforço mental) ekatanata (contínuo) dhyánam (meditação).” Ou seja: “Do contínuo empenho ou esforço mental (referindo-se à concentração, no sutra anterior), resulta a meditação.” O virtuoso e grande sábio Vyasa (atribui-se a ele a autoria da epopéia Mahábhárata; compilador de quatro hinos védicos, de muitos Puranas e de outros trabalhos, como o Yoga-Bhâshya e comentários sobre o Yoga Sutras de Patañjali) fez o seguinte comentário a respeito desse sutra: “Meditação é um estado de contínua e prolongada concentração no objeto de contemplação, intocável por qualquer outro pensar.”

Dhyana (meditação) é a condição sob a qual se presta ininterrupta atenção ao objeto de contemplação.

É a concentração mais profunda (mais aprimorada) e prolongada. Quando se vivencia o estado de profunda e prolongada concentração, alcança-se a meditação. Durante a meditação, o praticante pode manter a sua atenção (consciência) voltada apenas para um objeto, durante o tempo que desejar, e a distração não mais afeta a sua mente. Nesse estágio, entretanto, ainda existe uma dualidade: o indivíduo (a pessoa que medita) e o objeto de sua contemplação. Uma vez perdida a noção da dualidade, a meditação transforma-se em samádhi (êxtase ou estado de hiperconsciência). A meditação apresenta um efeito calmante e revitalizante sobre o sistema nervoso (hipotálamo) e sobre todo o organismo, desperta “insights”, a “luz” interior e alguns siddhis (poderes psíquicos).

2) Existem outros tipos de meditação?

Resposta: Sim. A Meditação Transcendental, criada pelo Maharishi Mahesh Yogi (em 1967, atraiu a atenção de George Harrison e dos Beatles); a Meditação Vedanta (tradição filosófica predominante no Hinduísmo, que ensina que a “Realidade” é não-dual); Vipassana (antiga técnica de meditação da Índia, praticada por Buddha Gautama); Zen (nesse tipo não existe um ponto focal, o praticante se volta para uma parede nua, que simboliza o vazio); da Medicina Tradicional Chinesa; dentre diversas outras.

O praticante deve optar por aquela técnica de meditação com a qual mais se identificar, que mais lhe aprouver, que lhe seja mais eficaz. Patañjali descreveu e conceituou de

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forma didática, profunda e muito sábia um caminho efetivo e seguro (dividido em oito partes) para se alcançarem os estados de concentração, meditação e samadhi.

Por 21 anos, utilizo com muita efetividade a metodologia de Patañjali e a ensino há 17 anos aos meus alunos. Aprendi a concentrar e a meditar com a técnica desse grande sábio e mestre yogue. Cultivo a profunda gratidão aos grandes mestres Shiva e a Shri Maharishi Patañjali pelos preciosos ensinamentos do Yoga. A técnica de meditação proposta por Patañjali no Yoga Sutras é tão antiga quanto o próprio nascimento do Yoga, considerada a mãe de todas as outras.

3) A prática regular e integral do Yoga auxilia na meditação?

Resposta: Sim. A meditação é o sétimo passo (anga) do Yoga, é um degrau importante dessa ciência milenar, consiste no próprio Yoga. Como foi explicado anteriormente, Patañjali sistematizou de forma sábia e concisa, em 194 aforismos (sutras, frases de caráter sentencioso que encerram, de modo conciso, um profundo conhecimento ou pensamento), os mais importantes ensinamentos do Yoga e, inclusive, o caminho para se atingir a meditação que passa pela prática sistemática e regular de ásanas (posições psicofísicas), pránáyámas (exercícios respiratórios que visam o controle da respiração e da energia vital) etc.

4) Quais as oito partes que constituem o Yoga segundo a sistematização de Patañjali?

(1). Yama (5 disciplinas) e (2). Niyama (5 deveres) constituem o chamado “Código de Ética Yogue”; (3). Ásana (posição psicofísica); (4). Pránáyáma (controle da respiração); (5). Prátyahára (desligamento dos sentidos); (6). Dharána (concentração); (7). Dhyána (meditação) e (8). Samádhi (êxtase, iluminação da consciência, estado de hiperconsciência).

A divisão do Yoga em oito partes ou degraus (Ashtânga-Yoga) parece ter sido uma compreensão inovadora de Patañjali e representa o clímax de um longo desenvolvimento da ciência e tecnologia yogue. A maior parte do Yoga Sutras dedica-se ao estudo do Kriya-Yoga (nome que Patañjali dá à prática da ascese (tapas), do estudo (svâdhyâya) e da devoção (ishvara-pranidhâna)).

5) Quais os requisitos necessários ao aprendizado da meditação?

Resposta: Disciplina, perseverança, determinação, interesse, devoção, estudo e prática sob a orientação de um mestre gabaritado, experiente e conhecedor do Yoga e da metodologia de Patañjali (que tenha estudado o Yoga Clássico como é ensinado e praticado na Índia pelas renomadas escolas, evitando-se que a sua essência e seus preciosos ensinamentos se percam), prática regular do Yoga e da meditação sem interrupções, levando-se em consideração o horário mais recomendado.

6) Como praticar a meditação?

(1). Num lugar tranqüilo, sente-se numa posição yogue que tenha dominado, ou numa cadeira, e mantenha a coluna vertebral alinhada, preservando a curvatura natural da coluna lombar. Feche os olhos e volte a atenção para o interior. Concentre-se na

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respiração e procure acalmá-la, respirando de forma lenta, suave e profunda, prolongando a entrada e a saída do ar dos pulmões, e relaxe todo o corpo, removendo as tensões. Adote esse procedimento durante toda a prática de meditação.

Após, una as palmas das mãos em Anjáli Mudrá (“gesto de saudação”, mãos justapostas na altura do peito; o que favorece a reflexão e a interiorização). Sinta que de seu interior emana uma bela luz azul (acalma as emoções, os pensamentos e auxilia no combate das tensões psíquicas e musculares) que se expande ao redor de seu corpo, formando um campo de energia e proteção.

Após alguns instantes visualizando o campo de luz azul ao redor de seu corpo, repouse os antebraços sobre os joelhos, mantendo as mãos em Jñana Mudrá (“gesto do conhecimento superior”, as palmas das mãos voltadas para cima, com as pontas dos dedos indicador e polegar unidas, do nascer ao início do pôr-do-sol; ou, voltadas para baixo, após o pôr-do-sol até o alvorecer); desligue-se, gradativamente, dos sentidos, interiorizando-se e silenciando a mente.

Então, dirija a atenção para o espaço entre as sobrancelhas (bhrumádhya drishti – fixação entre as sobrancelhas –, região onde se encontra a sede da mente e o Ájña Chakra; ao dirigir a atenção para essa região do corpo, torna-se mais fácil de a mente se concentrar), concentre-se, verbalizando ou mentalizando o mantra OM (som muito positivo que simboliza o Absoluto, o nascimento do universo e favorece a purificação da mente e a concentração). Nas primeiras semanas, o iniciante pode repetir o procedimento durante 10 minutos; com o hábito, pelo menos durante 20 minutos diários.

(2). Siga as recomendações preliminares do item (1). Quando o ritmo respiratório estiver calmo, regular e a mente calma e mais centrada, passe para o passo a seguir. Concentre-se na respiração e no espaço entre as sobrancelhas. Ao inspirar de forma lenta, suave e profunda, pelo nariz, mentalize prolongadamente o mantra OM (durante toda a inspiração) e, ao expirar (durante toda a expiração), o mantra SHAM. Nenhuma outra idéia ou pensamento deve ocupar a mente. Persista no exercício de concentração por alguns minutos; com a prática, dedique-se pelo menos 20 minutos diários.

(3) Siga igualmente as recomendações preliminares do item (1). Concentre-se na respiração e no espaço entre as sobrancelhas. Quando o ritmo respiratório estiver calmo, regular e a mente calma, mais centrada, e o corpo livre de tensões, concentre-se na repetição verbal e prolongada das vogais dos seguintes fonemas em ordem seqüencial: NA, MÁ, SHÍ, VÁ, YÁ. Repita o procedimento durante alguns minutos. Durante o exercício, nenhuma outra idéia ou pensamento deve distrair a mente. Com a prática, medite nesse poderoso mantra pelo menos durante 20 minutos diários.

(4) Quando o ritmo respiratório estiver sereno, regular e a mente calma, centrada, e o corpo relaxado, concentre-se para visualizar um pequeno ponto luminoso de cor violeta no espaço entre as sobrancelhas e concentre-se nele de forma prolongada. Nenhuma outra idéia, pensamento ou figura devem ocupar a mente.

7) Quais os benefícios que a meditação traz à saúde?

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Resposta: Modernos estudos científicos, realizados na Índia, China, Japão e em outras partes do mundo, demonstram inúmeros benefícios da prática regular da meditação e comprovam o que já afirmavam, há milhares de anos, os antigos sábios e yogues da Índia e Zen Budistas:

1º) - mente calma (desacelera as ondas cerebrais);

2º) - aumento da capacidade de concentração, produtividade e criatividade;

3º) - combate do estresse (neutraliza a produção de hormônios a ele relacionados) e as tensões musculares e psíquicas; relaxa a musculatura;

4º) - promove centralidade psicológica;

5º) - apresenta efeito tônico (revitalizador) sobre o sistema nervoso e órgãos;

6º) - diminui e regulariza os batimentos cardíacos (combatendo arritmias e taquicardia);

7º) - normaliza a pressão arterial (combatendo a hipertensão, pois durante o relaxamento e a meditação ocorre uma redução na produção de hormônios ligados ao estresse, tais como: angiotensina (de poder vasoconstritor) e vasopressina (favorece a reabsorção da água ao nível dos rins, contrai as arteríolas e artérias e eleva a pressão arterial);

8º) - combate a produção de radicais livres que predispõem o organismo ao envelhecimento precoce e a doenças degenerativas; fortalece a imunidade;

9º) - melhora a auto-estima e a autoconfiança; alivia as dores agudas e crônicas;

10º) - promove bem-estar e contentamento. Isso acontece devido ao aumento da produção de endorfina, que é um neurotransmissor e também hormônio – composto de 31 aminoácidos –, descoberto em 1975, produzido durante a prática de exercícios físicos, do Yoga, de relaxamento neuropsíquico e muscular – Yoganidrá – e de atividades prazerosas, cujos efeitos principais no organismo são: melhoria da memória e do estado de espírito – bom humor, elemento terapêutico indispensável para melhorar a saúde física, emocional e mental –; aumento da resistência e da disposição física e mental; estimula a imunidade; apresenta efeito antienvelhecimento, pois combate os radicais livres; apresenta propriedades analgésicas; e bloqueia possíveis lesões dos vasos sangüíneos.);

11º) - combate a irritabilidade, a agressividade, a depressão e as doenças de natureza psicossomáticas;

12º) - muito beneficia as pessoas que sofrem de insônia, síndrome de ansiedade e distúrbio do pânico;

13º) - promove economia da energia orgânica; diminui os níveis do mau colesterol sangüíneo;

14º) - aumenta o fluxo sangüíneo no coração;

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15º) - auxilia na regularização da glicose (açúcar no sangue) de diabéticos do tipo II;

16º) - melhora o controle respiratório (o que muito beneficia pessoas portadoras de problemas respiratórios e asmáticos);

17º) - auxilia no combate e na reversão das doenças coronarianas, etc.

* aforismos: frases de caráter sentencioso que encerram, de modo conciso, um profundo conhecimento ou pensamento

8) É possível prevenir e combater doenças através de prática regular da meditação?

Resposta: Sim. Os benefícios são reais, principalmente quando a meditação é associada à prática regular do yoga.

9) Por que a meditação se faz tão importante nos dias de hoje?

Resposta: Pelo ritmo de vida estressante e pelos problemas atuais do mundo contemporâneo (mudanças climáticas, destruição ambiental, crises políticas e sociais, instabilidade econômica, etc.), os seres humanos se predispõem cada vez mais a problemas como: insegurança, ansiedade, irritabilidade, nervosismo, tensão, dores generalizadas, agressividade, intolerância, angústia, depressão, neuroses, tristeza, problemas de ordem emocional, hipertensão arterial, enxaqueca, cardiopatias, insônia, etc. A prática regular do yoga e da meditação (Dhyána) são excelentes e efetivos remédios naturais que muito podem prevenir e combater todos esses males que afligem o corpo e a mente.

10) O que acontece com o cérebro e o organismo durante a prática de meditação?

Resposta: Durante as diferentes atividades das células nervosas (neurônios), o cérebro produz quatro tipos de ondas eletromagnéticas, que podem ser medidas através de aparelhos como o eletroencefalograma (EEG); são elas: Beta, Alfa, Teta e Delta. As freqüências dessas ondas são medidas em ciclos por segundo ou Hz (Hertz).

Cada pessoa apresenta um padrão e ritmo de ondas cerebrais. As ondas bioelétricas cerebrais alteram de freqüência, baseando-se na atividade dos neurônios e encontram-se relacionadas com as mudanças dos estados de consciência (trabalho, atividade física, sono, relaxamento, concentração, meditação, etc.). No estado de vigília, durante as atividades corriqueiras, como estudar e trabalhar, o cérebro produz ondas de baixa voltagem do tipo Beta – ritmo rápido e irregular (com 14 a 30 ciclos por segundo).

SERENIDADE - Durante o estado mental de serenidade e concentração, os neurônios produzem um tipo de onda cerebral diferente, conhecida como Alfa – muito mais lenta, rítmica, estável e de mais amplitude ou energia (cerca de 8 ciclos por segundo). Durante a meditação (Dhyána) profunda e prolongada, as ondas Alfa são gradualmente transformadas em ondas mais lentas, amplas e poderosas do tipo Teta (4 ciclos por segundo).

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Hiperconsciência e felicidade

Nesse estado de hiperconsciência, a mente é inundada de paz, felicidade e “insights” criativos, por se aproximar do limiar da freqüência da consciência cósmica (do universo). À medida que a meditação torna-se cada vez mais profunda, as ondas cerebrais desaceleram ainda mais, passando para o ritmo de ondas Delta (1 ciclo por segundo), estado compreendido como samádhi. Em decorrência da drástica mudança do estado das ondas cerebrais, ocorrem no organismo diversas e relevantes alterações psicofisiológicas. A questão 6, acima descrita, também ajuda ao leitor compreender as alterações que podem ocorrer no corpo humano.

11) Quais as metas que os yogues buscam alcançar durante a prática de meditação?

Resposta: Acalmar a mente, obter o controle respiratório, desenvolver o poder de concentração, alcançar o estado de completa supressão da instabilidade da consciência e a sua iluminação (samádhi) e, conseqüentemente, o mais elevado dos quatro objetivos humanos, a sua libertação (moksha).

12) A história de Gautama Buddha mostra que, além da meditação, ele também praticava yoga?

Resposta: Sim. Há registros de que Buddha, durante sua vida, estudou e praticou a filosofia do yoga e teve dois grandes mestres yogues: Arada Kalapa, de Magadha, e Rudraka Ramaputra, da cidade de Vaishali. Consta que ele tenha nascido no ano de 563 a.C. e morrido aos 80 anos de idade. Durante a sua peregrinação rumo à libertação (moksha) e à iluminação de sua consciência, Buddha tornou-se um exímio yogue e, através de sua infinita persistência, disciplina e compaixão, alcançou o estado de samádhi, numa noite de lua cheia do mês de maio, sentado numa posição yogue com as pernas cruzadas, sob uma figueira – conhecida como a árvore Boddhi (árvore da iluminação), próximo da cidade de Uruvela em Magadha (Bihar).

13) Qual o melhor horário para a prática de meditação?

Resposta: Na Índia, o melhor horário é conhecido como Brahma-muhurtha (período considerado sagrado, durante o alvorecer, entre 04h00 e 06h00, manhã). Esse tempo é recomendado no Yoga como sendo o mais favorável à prática de meditação, pois a mente encontra-se muito sutil. Alguns yogues consideram o período de 04h30 h às 04h50, manhã, como sendo o melhor horário para se meditar.

14) Com que frequência se deve meditar?

Resposta: Para que sejam alcançados resultados efetivos, o ideal é que essa prática seja diária, pelo menos durante 20 minutos.

15) O que é pránáyáma?

Resposta: Segundo o Sutra 49, do capítulo III – “Tasmin (tal, a postura) sati (existência) svasa (da inspiração) prasvasayoh (expiração) gati (dos movimentos) vicchedah (suspensão, interrupção) pranayamah (controle ou regulação da respiração).”

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Ou seja: “O controle da respiração (pránáyáma) compreende a interrupção dos movimentos de inspiração e expiração, que ocorre espontaneamente, de modo seguro (refere-se ao quarto e mais elevado dos pránáyámas).”

Consiste no controle da respiração e do prâna (bioenergia). Quando o yogue atinge esse estágio, além da inspiração e expiração, alcança a lucidez, e a quietude mental está mais próxima também de ser alcançada, pois a mente torna-se mais apta para a prática de concentração. O prâna (força vital, bioenergia ou energia da vida presente no universo que sustenta o corpo) passa a fluir e a nutrir o organismo além da respiração.

Na Índia, muitos yogues demonstram a capacidade de permanecer sem respirar (fisiologicamente) por um longo período. Existem relatos de que alguns foram enterrados vivos (como demonstração de seu controle) por algumas horas, ou até mesmo dias; ou, diante de cientistas, permaneceram serenos numa câmara hermeticamente fechada e completamente sem oxigênio por algumas horas, sem que os seus cérebros tivessem sofrido algum tipo de lesão; isso demonstra o completo controle da respiração e do prâna a que Patañjali se referiu no Yoga Sutras. Vyasa fez o seguinte comentário: “Quando o intento alcança a cessação dos movimentos de inspiração (beber o ar externo) e expiração (jogar para fora o ar interno), resulta o controle da respiração.”

16) Qual a importância do controle respiratório?

Resposta: O controle, ou a regularização da respiração (pránáyáma), é preliminar ao controle das faculdades mentais que envolvem prátyahára (desligamento dos sentidos), dhárana (concentração) e dhyána (meditação). Sua prática é indispensável para a mente alcançar o estado de concentração. Uma vez conquistado o domínio sobre a posição escolhida para a meditação (dhyanásana), o praticante poderá, então, dedicar-se ao controle da respiração e do prâna, através de exercícios respiratórios do Yoga.

17) Qual a razão de se desligar dos sentidos para se atingir a meditação?

Resposta: Os cinco sentidos reagem constantemente ao mundo exterior. O yogue deve aprender a desligar a atenção dos órgãos dos sentidos, para que a sua mente não seja afetada e se acalme, objetivando desenvolver a concentração e alcançar o estado de meditação. Segundo o Sutra 54, do capítulo II – “Sva (seus próprios) visaya (objetos) asamprayoge (não entrar em contato com) cittasya (da mente) svarupa (a natureza) anukarah (a continuação de) iva (como ele era) indriyanam (os sentidos) pratyaharah (é a abstração).” Ou seja: “Abstração (prátyahára) ocorre quando os sentidos não estão mais em contato com os seus objetos e assumem a própria natureza da mente.” Pratyahara confere o completo controle sobre os sentidos.

18) Como alcançar o estado prátyahára?

Resposta: Sente-se num lugar tranquilo, feche os olhos e volte a atenção para o interior. Concentre-se na respiração, respire de forma lenta, suave e profunda, prolongando a entrada e a saída do ar dos pulmões e, gradativamente, desligue-se dos sentidos. Ao se interiorizar, a atenção se distancia da percepção corporal, dos sentidos. Prátyahára é a abstração dos sentidos.

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19) O que é concentração?

Resposta: Dhárana é a técnica de concentração do yogue. No primeiro *aforismo do capítulo III do “**Yoga Sutras”, ***Patañjali, o conceitua da seguinte forma: “Desha-bandhah (fixação em um único lugar) chittasya (da mente) dhárana (concentração).” Ou seja: “Concentração é a fixação da mente em um único lugar ou objeto.” A concentração é a focalização da mente (da atenção) sobre um único objeto ou ideia; pode ser em um objeto externo ou interno. A concentração é uma forma ou um método de acalmar e estabilizar a mente, uma vez que ela é inconstante, oscilante, dispersa, muito facilmente influenciável (pelos sentidos, pensamentos, desejos e pelas informações) e, muitas vezes, distraída.

A princípio, pode ser mais fácil concentrar-se em objetos externos e concretos. Após um período de treinamento regular da concentração em um objeto concreto e externo, o praticante deve treinar a concentração interna e abstrata. A concentração pode conferir ao praticante disciplinado uma experiência única e muito interessante. Sua prática regular, disciplinada e perseverante pode conferir ao yogue o poder de conquistar uma mente disciplinada, serena, estável (sem muitas oscilações) e capaz de se concentrar profundamente. Nessas condições, o poder do pensamento torna-se extremamente poderoso. O perfeito domínio do controle respiratório (pránáyáma) e da concentração (dhárana) pode conferir certos siddhis.

20) Por que a concentração é indispensável para se alcançar o estado de meditação?

Resposta: Não se pode alcançar o estado de meditação se a mente não for capaz de se concentrar em um único objeto de contemplação de forma profunda e prolongada.

21) Cite uma técnica de concentração externa e interna.

Resposta:

Concentração externa

Sente-se num lugar tranquilo com as pernas cruzadas (posição de meditação yogue) e coluna vertebral alinhada, ou então numa cadeira. Durante o exercício, respire de forma lenta, suave, profunda e relaxe todo o corpo. Olhe atentamente, sem piscar os olhos, para um ponto ou objeto pequeno externo e concreto, durante um ou dois minutos, ou pelo maior tempo possível, sem tensionar os olhos e os músculos oculares. Quando sentir os olhos cansados, pisque-os algumas vezes (para lubrificá-los) e, depois, feche-os por alguns instantes para descansá-los.

Com a prática, a duração de cada período de contemplação pode ser aumentada gradativamente. Pode-se olhar também fixamente para a ponta do nariz (naságra drishti – fixação nasal), antigo método do yoga que fortalece os músculos dos olhos e beneficia a visão. Tal envesgamento temporário não prejudica a visão. Ou, então, olhar fixamente para o espaço entre as sobrancelhas (de frente para uma parede branca).

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Como esse exercício, no início, pode ser incômodo e cansativo para os músculos oculares, deve-se descansar os olhos logo que se fizer necessário. Ou, ainda, concentrar-se numa chama de vela (não muito próxima e nem muito distante, e num ambiente sem corrente de ar, para que a chama tenha uma forma mais uniforme e estável), tomando-se todos os cuidados preventivos contra incêndio.

No final do exercício, para descansar os olhos, pode-se friccionar as palmas das mãos durante alguns instantes até aquecê-las; quando estiverem quentes, feche os olhos e cubra-os rapidamente com as palmas das mãos, transferindo a energia calorífica para os olhos. Esse procedimento ajuda a relaxar a musculatura, descansa, nutre (pois aumenta a circulação sangüínea na região) e revitaliza os olhos.

Concentração interna

Siga as recomendações iniciais do item anterior. Sente-se num lugar tranqüilo, com as pernas cruzadas na posição de meditação yogue e mantenha a coluna vertebral alinhada, ou então numa cadeira. Respire de forma lenta, suave, profunda e relaxe todo o corpo. Olhe fixa e atentamente para a chama da vela, sem piscar os olhos, por um ou dois minutos. Observe atentamente o formato da chama, a cor e o seu tamanho. Tente extrair o máximo de detalhes a respeito da chama da vela (não pensando em mais nada, somente nela); depois, feche os olhos, concentre-se e tente reproduzir a chama da vela em sua mente, no espaço entre as sobrancelhas. À medida que a imagem da vela for desaparecendo de sua mente, volte abrir os olhos e, mais uma vez, concentre-se na chama da vela, repetindo o procedimento anterior.

Faça isso inúmeras vezes até conseguir reproduzir nitidamente a chama da vela em sua mente. Quando isso acontecer, ocorrerá um fenômeno muito interessante. Não se assuste, não interrompa o exercício e prossiga na concentração. Quando for capaz de reproduzir mentalmente a chama da vela em sua fronte, estará bem próximo de conquistar uma poderosa concentração. Após conquistar completamente essa técnica, o próximo passo é desenvolver a concentração interior num objeto abstrato. Volte a atenção para o espaço entre as sobrancelhas e visualize um ponto pequeno luminoso de cor violeta (é a cor do referido centro de energia ou chakra). Quando visualizar mentalmente esse ponto, não desvie a atenção e prossiga firmemente na concentração. A profunda concentração abre uma porta para uma nova dimensão e percepção da consciência.

22) O que é samádhi e quais os passos para alcançá-lo?

Resposta: Sutra 3, do capítulo III – “Tad (o mesmo) eva (o mesmo) artha (objeto, a luz do objeto) matra (sozinho/exclusivamente) nirbhasam (bilhar com) svarupa (si mesmo) sunyam (desprovido de) iva (de como era) samádhih (êxtase, contemplação).” Ou seja: “Aquele que brilha com a luz do objeto de contemplação e perde a noção de si próprio alcança o samádhi.”

Comentário de Vyasa: “Quando o objeto de contemplação assume completa posse da mente, a contemplação revela adiante apenas a luz da forma do objeto contemplado; desprovido de sua própria cognição; então, isso é chamado de êxtase (iluminação da consciência ou hiperconsciência).

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Samádhi

Samádhi é a condição na qual apenas há consciência do objeto da meditação e nenhuma consciência da mente (do eu) em si. É a concentração no mais elevado grau. Nesse estágio, não existe mais distração, e a mente perde a noção de sua própria natureza e torna-se consciente apenas do objeto de contemplação. Samádhi ocorre quando a mente assume a natureza do objeto sobre o qual se medita, esvaziando-se de sua própria natureza. É um fenômeno único; quando ele ocorre, transforma a vida do praticante. O item 4 desta entrevista descreve os 7 passos para se alcançar o samádhi.

*Aforismo: máxima ou sentença que, em poucas palavras, explicita regra ou princípio de alcance moral;

**Os Yoga Sutras (Aforismos do Yoga) são o texto clássico que codificou o conhecimento tradicional sobre o Yoga

***Patañjali foi o compilador do Yoga Sutras, um grande trabalho contendo aforismos sobre a sua prática e da sua filosofia, definindo a prática do Raja Yoga