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Sorria!
De
Amarildo José Martins
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(45) 99234561
Elenco de Personagens
: Eduardo de Oliveira
: Palhaço
: Adolfo de Oliveira
: Antônio Goulard
: Vanessa Goulard
ACTO I
Eduardo está desenhando, com raiva. Prende o
desenho na parede, é um palhaço estirado no
chão.
(Flash back)
PALHAÇO (EM OFF)
Vocês sabem por que o cachorro entrou na igreja???
Não? Porque a porta estava aberta!!!
Ahaaaahaaahhaaa... E sabem quantas voltas o cachorro
dá antes de dormir? Hein? Quantas? Como não sabe?
Quantas ele quiser! AhahahhhhhAaahh...
Enquanto o palhaço fala o menino vai ficando com
mais raiva.
EDUARDO
Chega!!!
PALHAÇO (EM OFF)
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh...
(som de pancada)
O palhaço está estirado no chão.
(Fim do flah back)
RODOLFO (EM OFF)
Vá dormir Eduardo.
EDUARDO
Mas ainda está cedo pai.
RODOLFO (EM OFF)
Não quero saber, vá dormir. Preciso trabalhar.
Eduardo olha para os lados. Procura algo. Pega
um CD e sai.
(Som de jogo)
RODOLFO (EM OFF)
Mas, o que foi eu te falei.
(Acaba som de jogo)
Rodolfo traz Eduardo, segurando-o pelo braço.
RODOLFO
Vá logo para a sua cama.
EDUARDO
Eu não quero dormir agora.
RODOLFO
Mas não precisa querer, você está de castigo. E eu
preciso terminar aquele relatório.
2.
EDUARDO
Mas pai eu...
RODOLFO
Chega! Vá dormir.
Eduardo olha para o pai, deita na cama. Rodolfo
desliga a luz e sai. Eduardo fica olhando para o
teto.
EDUARDO (EM OFF)
Vá dormir, vá dormir (imitando). Esse velho não deixa
eu fazer nada. Eu peço para ir a uma rave, e ele:-
Não! Peço para deixar eu assaltar um banco, e ele:-
Não! Para botar fogo na casa, e como sempre:- Não!
Não, não e não. É só isso que ele sabe falar?
(Boceja)
Vira para o lado. Começa a ficar com sono.
EDUARDO (EM OFF)
Depois ainda vem me deixando de castigo só porque
empurrei um palhaço sem graça do apartamento do
Juninho. Ele nem deve ter se machucado, era só o
terceiro andar. Mas a culpa também é daquele palhaço,
quem mandou ele vir contando aquelas piadas sem
graça. Mas ele vai ver.
(Boceja)
EDUARDO (EM OFF)
Ah se vai.
Eduardo fecha os olhos. O quarto que até então
era bem alegre, passa a ficar sombrio. Foco numa
cadeira de balanço, localizada no canto do
quarto. Música de suspense. A cadeira começa a
se mexer. O palhaço aparece, "do nada". Pega o
desenho feito por Eduardo, fica olhando. Não
gosta do que vê. Começa a chamar Eduardo, que
permanece dormindo. Vai aumentando o tom de
"voz" aos poucos. Impaciente, grita. Eduardo
senta na cama, assustado. Olha para os lados. O
palhaço não se deixa ser visto. Eduardo percebe
a falta de seu desenho. O palhaço toca no ombro
de Eduardo ele vira-se devagar. Sai correndo. Os
dois correm ao redor da cama.
EDUARDO
Ahhhhhhhh... Quem é você? O que você quer comigo? sai
daqui!
Eduardo sai do quarto, o palhaço segue. Eduardo
entra e fecha a porta.
EDUARDO
Se deu mal seu palhaço de merda! Quero ver você me
assustar agora. Seu idiota...
3.
Enquanto Eduardo fala o palhaço atravessa a
parede, sem ele ver, fica olhando para o mesmo.
O palhaço chama Eduardo, este abre a porta e sai
correndo. O palhaço respira fundo, faz expressão
de quem está de "saco cheio". Eduardo volta
correndo com uma espadinha, cutuca o palhaço.
EDUARDO
Vai encarar agora? Palhaço de merda.
O palhaço sai correndo, Eduardo vai atrás.
Eduardo volta fugindo, o palhaço está correndo
atrás dele com um espada bem maior que a
anterior. Eduardo derruba sua espadinha. Saem do
quarto. Eduardo volta correndo, o palhaço entra
andando de forma parecida com a personagem
Samara - de "O chamado". Saem. Eduardo volta,
tropeça na espadinha e cai.
EDUARDO
Calma, calma. Seja um palhaço bonzinho. Eu sei que
você não quer fazer isso. Eu, eu...
O palhaço apenas ri. Eduardo tenta se levantar.
O palhaço não deixa. Eduardo fica paralisado de
medo. O palhaço levanta a foice.
EDUARDO
Nããããããoooooo!!!!!!!
Eduardo cansa de gritar, descansa alguns
segundo.
EDUARDO
Nãããããããooooooo!!!
O palhaço mira a foice no pescoço de Eduardo.
Levanta bem alto. Quando a foice vai arrancar a
cabeça de Eduardo, BLACKOUT, ele está na sua
cama. Levanta gritando.
EDUARDO
Não!!! O paaaaaaai!
Adolfo entra assustado e preocupado.
ADOLFO
O que houve filho? A casa está pegando fogo, ou algo
parecido?!
EDUARDO
Quem me dera se fosse isso, pai.
ADOLFO
Então por que estava gritando?
4.
EDUARDO
É por causa daquele palhaço.
ADOLFO
Mas... que palhaço???
EDUARDO
Aquele um estava aqui e que queria me matar.
ADOLFO
Não tem nenhum palhaço aqui.
EDUARDO
Mas ele estava aqui agora pai. Ele tinha uma foice e
queria arrancar minha cabeça.
ADOLFO
Um palhaço? E com uma foice??? Eduardo de Oliveira,
você andou bebendo a minha cerveja?
EDUARDO
Que cerveja nada, eu estou falando sério.
ADOLFO
Sei falando sério. Você deveria levar uma surra por
me fazer perder tempo!
EDUARDO
Mas pai eu...
ADOLFO
Chega de brincadeira! Eu vou terminar aquele projeto.
Caso você volte a fazer barulho vai ficar um mês sem
videogame!
EDUARDO
Ah, tô nem ai. Eu já cansei de jogar mesmo.
ADOLFO
E o mais importante, sem orkut!
EDUARDO
Não!!! Eu paro de gritar, eu paro. Eu juro.
O palhaço aparece atrás de Adolfo, ameaça bater
nele.
EDUARDO
Não!!!
Adolfo vira-se lentamente. Fala bem devagar.
ADOLFO
Não, o que?
5.
EDUARDO
Não se preocupa comigo não pai. Eu, eu vou ficar bem.
Adolfo sai. O palhaço aproxima-se do menino.
Eduardo tenta não gritar. O palhaço
respira fundo, vai levantando a mão que está a
foice aos poucos. Eduardo começa a gritar
exageradamente. O palhaço espirra. Eduardo pára
de gritar aos poucos. O palhaço está com
expressão de quem estivesse mal, doente. Eduardo
aproxima-se do palhaço.
EDUARDO
Ei, você já tomou a vacina contra a H1N1?
Palhaço balança a cabeça para os lados.
EDUARDO
Então, você está ferrado! Uahaaaaaa!!!
Palhaço diz que não está preocupado.
EDUARDO
Não está nem ai? Você não tem medo de morrer não?!
Palhaço diz que já morreu.
EDUARDO
É mesmo, foi mal, esqueci que você já está morto.
O palhaço pega o desenho que o menino havia
feito. Mostra a ele. Derruba o papel "sem
querer" do outro lado do menino. Pede para ele
pegar. Eduardo vira-se para pegar o papel. O
palhaço levanta a foice, está com expressão
maligna. Eduardo abaixa-se, olha para trás.
EDUARDO
Ei, você não...
Eduardo vê o palhaço com a foice levantada,
pronto para ferí-lo. Começa a gritar. o palhaço
manda ele ficar quieto, mas Eduardo continua
gritando. Adolfo entra correndo. Pára entre o
menino e o palhaço.
ADOLFO
O que foi que houve agora?!
EDUARDO
É aquele palhaço palhaço de novo pai. Ele, ele está
querendo me matar!
ADOLFO
(pausadamente)
Eu já te falei que não existe palhaço palhaço algum
aqui nessa casa!!!
6.
EDUARDO
(quase chorando)
Mas, eu estou vendo ele pai.
ADOLFO
(Acalmando-se)
Está bem, onde está esse tal palhaço?
EDUARDO
Aí do seu lado.
ADOLFO
Sei. Se ele estivesse aqui do meu lado, levaria um
soco se eu fizesse isso.
Adolfo acerta um soco no palhaço, que cai no
chão.
ADOLFO
E se estivesse mesmo do lado, e tivesse levado o
soco, ele teria caído. E levaria um chute se eu
fizesse isso.
Adolfo acerta um chute na barriga do palhaço. O
palhaço levanta-se rapidamente e sai correndo.
ADOLFO
Você entendeu filho?
Eduardo balança a cabeça. para cima e para
baixo.
ADOLFO
Então você compreende que não existe palhaço algum
aqui nessa casa.
EDUARDO
Claro que existe.
ADOLFO
E onde ele está então, que eu não consigo ver?
EDUARDO
Ah, depois da surra que o senhor deu ele saiu
correndo.
ADOLFO
Entendo.
Adolfo senta na cama, faz sinal para Eduardo
sentar também.
ADOLFO
Já que existe esse tal palhaço, conta como ele é.
Enquanto fala o palhaço faz o que diz.
7.
EDUARDO
Ele dá muita risada, mas às vezes faz cara de mau. Às
vezes anda igual um cachorro, ás vezes anda só com
uma perna. Às vezes dança igual um louco, e às vezes
fica se arrastando pelo chão, às vezes...
palhaço olha para o menino, furioso.
EDUARDO
Ah, ele sempre fica fazendo assim.
Eduardo imita a risada do palhaço. Adolfo
levanta-se calmamente, respira fundo, caminha
até a cadeira e senta. Fica pensando. O palhaço
olha furioso para o menino. Eduardo sai correndo
e gritando. O palhaço vai atrás, calmamente.
Adolfo olha e volta a pensar.
ADOLFO (EM OFF)
O que eu faço? Será que eu estou me dedicando muito
ao trabalho e deixando ele de lado? E por causa disso
ele inventou inimigo imaginário. É, está parecendo
filme hollywoodiano. Se fosse um filme este seria o
final. Onde o pai vê que não esta dando a atenção
necessária ao filho, e decidi mudar. Só falta o
Eduardo aparecer e dizer que ama. E todos vive
felizes para sempre.
Enquanto Adolfo fala última frase Eduardo entra
e o abraça.
EDUARDO
Pai, eu só queria que o senhor soubesse que eu te amo
muito e que serei sempre grato por tudo que fez para
mim.
Adolfo fica olhando para Eduardo, que vai
sumindo aos poucos. Eduardo entra gritando,
fugindo do palhaço. Fica atrás do pai.
EDUARDO
Bate nele pai. Ele quer me matar. Bate nele, bate
nele...
ADOLFO
Eu não queria fazer isso, mas eu estou sendo
obrigado. Você vai ficar aqui, parado. Enquanto eu
realizo uma ligação. Ouviu?!
Adolfo deixa Eduardo em pé, bem no centro do
quarto.
EDUARDO
Mas pai ele...
8.
ADOLFO
Chega!
Eduardo abaixa a cabeça. Adolfo pega o celular,
senta na cadeira, tira vários cartões do bolso,
escolhe um e digita os números no celular. Ao
mesmo tempo, Eduardo começa a ser enforcado pelo
palhaço. Consegue escapar, sai correndo. Vanessa
está lixando as unhas. O telefone começa a
tocar, toca uma três vezes, Vanessa atende.
VANESSA
Você ligou para o consultório do doutor Antônio
Goulart. Para conhecer a história de vida do doutor
digite 1, para saber o nome dos parentes mais
próximos digite 2, para saber a data do aniversário
digite 3...
Adolfo está impaciente.
VANESSA
Para ouvir o horóscopo digite 4, para saber o resumo
da novela das sete digite 5, para saber que ficou no
paredão no B.B.B. digite 6, para saber o resultado da
última rodada do brasileirão digite 7, para saber que
dia você vai morrer digite 8, para falar com um de
nossos atendentes digite 9...
Adolfo aperta uma tecla.
VANESSA
Por favor, escolha uma das opções.
ADOLFO
Eu já digitei.
Adolfo aperta uma tecla novamente.
VANESSA
Digite um dos números para que o senhor possa ser
atendido.
ADOLFO
Mas eu já digitei!
Adolfo aperta uma tecla novamente, desta vez com
mais força.
VANESSA
Pela última vez, escolha uma das opções para ser
atendido.
ADOLFO
Eu já digitei! É o nove! É o nove!!!
Coloca o celular no chão. Usa o dedo do pé para
digitar.
9.
VANESSA
O senhor escolheu a opção falar com nossos
atendentes, espere um instante enquanto transferimos
a ligação..
Começa música de espera. Adolfo deita na
cadeira. Muda de posição algumas vezes, enquanto
isso o relógio gira mais rápido. Eduardo entra
começa a correr em círculo, está fugindo do
palhaço. Adolfo olha para Eduardo.
ADOLFO
Pare com isso!
EDUARDO
Mas ele vai me...
Eduardo começa a ser enforcado. A música de
espera pára.
VANESSA
Mais um instante senhor.
Música de espera. Eduardo consegue escapar do
palhaço. Sai correndo. Música de espera pára.
VANESSA
Oi...
ADOLFO
Oi eu...
VANESSA
Nossos atendentes estão todos ocupados, ligue mais
tarde.
ADOLFO
Porcaria!!!
Adolfo respira bem fundo.
ADOLFO
Calma, calma...
Adolfo tenta ligar novamente. Eduardo entra
arrastando o palhaço, larga ele num canto. Dá um
tapinha na cara dele.
EDUARDO
Seu palhaço de merda.
O palhaço levanta a cabeça. Olha para Eduardo.
Levanta-se e começam a brigar. Brigam de várias
maneiras, homenageando vários gêneros e técnicas
cinematográficas. Por fim o menino fica
estendido no centro do quarto, fica imóvel.
10.
ADOLFO
Alô, é do consultório do doutor Antônio Goulart?
VANESSA
Não. É da Santa Luzia, a sua morte é a nossa
alegria. Qual o tamanho do caixão que o senhor
gostaria?
ADOLFO
O que ?!
VANESSA
Brincadeirinha, só para passar o tempo. Qual o nome
do senhor e o que desejaria?
ADOLFO
Eu sou Adolfo de Oliveira e preciso marcar uma
consulta para o meu filho, é urgente.
VANESSA
Ah sim, claro. São R$ 150,00. Mais a gasolina.
ADOLFO
O que?! Isso é um roubo!
VANESSA
A culpa não é nossa senhor, é da inflação. Ainda mais
agora que é preciso comprar uma garrafa de álcool em
gel por semana, sem contar com as máscaras
descartáveis.
ADOLFO
Entendo.. Pode vir que eu pago os R$ 150,00.
VANESSA
Mais a gasolina.
ADOLFO
Sim. Eu moro na avenida JK 1258.
VANESSA
Está certo. Amanhã de tarde o doutor estará ai para a
consulta.
ADOLFO
Amanhã de tarde?! Eu pensei que o doutor viria agora!
VANESSA
Olha senhor, eu posso dar uma olhada aqui e...
ADOLFO
Eu aumento R$ 50,00 se a consulta for hoje.
VANESSA
Como eu disse senhor, eu posso até dar uma olhada
aqui na agenda. O senhor aguarda um instante?
11.
ADOLFO
Só não coloca aquela...
Começa música de espera.
VANESSA
Ohhh Antônio...
Antônio entra com um pedaço de papel higiênico
na calça.
ANTÔNIO
O que foi Vanessa? Eu estava lá recebendo um fax
importantíssimo e você começa a gritar do nada. O que
há de tão importante?
VANESSA
É um cliente.
ANTÔNIO
Mas, ele tem muito dinheiro.
VANESSA
Bem, eu disse para ele que a consulta era R$150,00 e
que seria para amanhã. Então ele disse que daria R$
50,00 a mais se fosse hoje.
ANTÔNIO
Hum, qual o nome dele?
VANESSA
Adolfo Oliveira.
Antônio atende o telefone.
ANTÔNIO
Alô, é o senhor Adolfo Oliveira.
ADOLFO
Não, é da funerária Santa Luzia. Sou eu.
ANTÔNIO
Então senhor, a Vanessa disse que o senhor precisaria
de uma consulta para hoje.
ADOLFO
Pra mim não, pro meu filho.
ANTÔNIO
Ah sim, entendo. Mas para hoje não seria possível.
ADOLFO
Por que não?
ANTÔNIO
É que eu estou cheio de compromissos hoje. Tenho que
terminar de receber um fax. E a minha cadelinha está
grávida, acho que os filhotinhos já vão nascer.
12.
ADOLFO
Eu dobro o valor.
ANTÔNIO
Pensando bem, a minha cadelinha pode esperar. Chego
ai em cinco minutos.
ADOLFO
Está bem, obrigado.
Antônio pega uma mala.
ANTÔNIO
Vanessa, eu vou lá enganar mais um besta. Se alguém
ligar você agenda para amanhã. E não esqueça eu sou o
que as pessoas precisarem.
VANESSA
Esta bem, doutor.
Antônio sai. Adolfo olha para trás, vê Eduardo
no chão. Vai a seu encontro rapidamente.
ADOLFO
Filho o que houve com você?
Eduardo não se mexe. Música triste. Adolfo quase
chora. Eduardo levanta-se rapidamente.
EDUARDO
Ah, eu estava imitando um morto para o palhaço ir
embora.
ADOLFO
Sei, o palhaço. Deita na cama e fica lá. Assim o
palhaço não te mata.
Eduardo deita na cama.
EDUARDO
Mas fica aqui pai. Não deixa ele me matar não.
Adolfo senta na cama.
ADOLFO
Eu vou ficar aqui sim. Não se preocupe.
Vanessa fica espantada com o que vê no
computador. Faz uma ligação. Está impaciente.
VANESSA
Atende vagabunda. Oi amiga!!! Você nem imagina o que
eu acabei de saber. Presta bem atenção. Sabe a prima
da tia do cunhado da vizinha do amigo da namorada do
irmão da...
Telefone toca.
13.
VANESSA
Espere um pouquinho.
Atende telefone.
VANESSA
Consultório do doutor Antônio Goulart boa noite. Só
um instante senhora, que eu estarei transferindo a
ligação. Obrigada.
Música de espera.
VANESSA
Como eu ia dizendo amiga. Sabe a prima da tia do
cunhado da vizinha do amigo da namorada do irmão da,
da...
Telefone toca.
VANESSA
Espere um pouquinho.
Atende telefone.
VANESSA
Clínica veterinária Au, au boa noite. Sim, sim. Não
senhora, damos banho apenas em animais domésticos. Eu
sei, mas a senhora tem que entender que nós não temos
culpa se o seu marido não quer tomar banho. Está bem,
mas só desta vez senhora. De nada.
Termina ligação.
VANESSA
Voltando ao nosso assunto. Sabe a prima da tia do
cunhado da vizinha do amigo da namorada do irmão da,
da, da... Como é o nome dela mesmo??? Ah, esqueci!
Outra hora te falo. Tchau amiga, beijos.
Termina ligação.
VANESSA
Cadela!
Vanessa volta a lixar suas unhas. Alguém bate na
porta da casa de Adolfo.
ADOLFO
Quem é?
Batida na porta novamente. Adolfo tenta levantar
para abrir a porta. Eduardo não deixa.
ADOLFO
É o doutor Antônio Goulart? Pode entrar. Eu estou
aqui, cuidando do meu filho.
14.
Batida na porta mais uma vez.
ADOLFO
Eu tenho que abrir a porta filho.
Adolfo levanta-se, tira Eduardo que está
"grudado" em seu braço. Batida na porta.
ADOLFO
Já vou!
Adolfo abre a porta. Antônio entra rapidamente
procurando o paciente. Aproxima-se de Eduardo,
este tenta esconder-se.
ANTÔNIO
Então este é o gênio indomado?
Eduardo começa a ficar com raiva do doutor.
EDUARDO
É a sua vó.
ADOLFO
O que é isso Eduardo?
ANTÔNIO
Pelo que vejo temos um caso sério. Precisarei ficar
ficar sozinho com o garoto.
Antônio gesticula para Adolfo sair do quarto.
ADOLFO
Por que eu deveria me retirar?
ANTÔNIO
Simplesmente porque eu uso técnicas milenares.
Passadas de geração em geração. Conhecidas apenas
pelos integrantes da PAUTEM.
ADOLFO
Integrantes do que?
ANTÔNIO
Da PAUTEM, Psicólogos Anônimos que Usam Técnicas
Exclusivamente Milenares. Técnicas que não podem ser
vistas por outras pessoas a não ser os pacientes. Na
realidade não verão, serão submetidos a elas. Dessa
maneira caracteriza-se uma...
ADOLFO
Sim, sim. Eu entendi. Pode deixar que eu saio. Não
precisar explicar.
Adolfo sai. Eduardo percebe que seu pai não está
mais ali.
15.
EDUARDO
Oh pai! Cadê você?! O palhaço vai voltar. Oh pai!!!
ANTÔNIO
Tenha calma menino, calma.
EDUARDO
Vai catar coquinho no pé-de-bananeira seu velho gagá!
E meu nome não é menino, é Eduardo.
ANTÔNIO
Está bem, Eduardo. E se você quer que eu te ajude, é
preciso que me trate melhor.
EDUARDO
Desculpa doutor.
ANTÔNIO
E meu nome não é doutor, é Antônio Goulart.
EDUARDO
Está bem, Antônio Goulart. E então, não vai começar a
consulta?
ANTÔNIO
Fique na minha frente. Concentre-se nos meus olhos.
Respire bem fundo. Repita todos os meu movimentos,
todos. Continue olhando nos meus olhos.
Fazem uma "coreografia".
ANTÔNIO
Eu vou contar até a cinco. Respire bem fundo. Um...
dois... três... Búúúúúhhh!!!
EDUARDO
Ahhhh... Você é louco!?
ANTÔNIO
Não. Se eu fosse louco, também seria corinthiano. Mas
vamos ao que interessa. Deite-se e conte o que está
te atormentando.
Eduardo deita na cama. Antônio senta numa
cadeira ao lado.
EDUARDO
Então doutor, o que está me atormentando é...
O palhaço aparece.
EDUARDO
É aquele palhaço lá!!!
Eduardo desespera-se. Antônio tenta controlá-lo.
16.
ANTÔNIO
Acalme-se. De que palhaço você está falando?
EDUARDO
Daquele ali.
Eduardo aponta para o palhaço.
ANTÔNIO
Ali não tem nada.
EDUARDO
Eu estou vendo. Ele está fazendo careta agora.
Antônio fixa o olhar na direção do palhaço.
ANTÔNIO
Espere, acho que estou vendo alguma coisa.
EDUARDO
Sério?
Antônio aponta para o palhaço.
EDUARDO
E, e o que o senhor está vendo?
ANTÔNIO
Não, eu não estou acreditando. É, é, é um.. é uma
barata!!! Ahhh...!!!
Antônio e o palhaço sobem em cima da cama.
Eduardo aproxima-se da suposta barata e a pega
na mão.
EDUARDO
É a Jhoh, minha barata de estimação. Ela não é de
verdade. Seus medrosos!
ANTÔNIO
Como assim seus medrosos, se só tem eu aqui?
EDUARDO
E o palhaço? Ele não conta!?
ANTÔNIO
Garoto, eu já disse que não existe palhaço algum
nessa casa. A não ser o seu a que está me pagando
para fazer isso. E se tivesse um palhaço por aqui,
ele levaria um soco se eu fizesse isso.
Antônio estica o braço e quase dá um soco no
palhaço, que segundos antes abaixa-se e sai
correndo.
17.
EDUARDO
Você só não acertou porque ele se baixou e saiu
correndo.
ANTÔNIO
Vem aqui menino, eu tenho que te explicar uma coisa.
Antônio senta na cama. Eduardo senta no lado.
ANTÔNIO
Não existe palhaço algum, isso é tudo imaginação.
EDUARDO
Mas eu...
ANTÔNIO
Eu sei como é isso. Eu também via quando era criança.
EDUARDO
Você também via esse palhaço?
ANTÔNIO
Não, eu via uma fadinha.
EDUARDO
Uma o que?!
ANTÔNIO
Uma fadinha.
EDUARDO
Desculpa doutor, mas eu não estou escutando direito.
Poderia falar mais alto.
ANTÔNIO
Uma fadinha!!! Mas isso não importa. O que você tem
que entender é que não passa de imaginação.
EDUARDO
Ah sim, é só imaginação. Eu estou começando a
entender.
O palhaço aparece próximo a Eduardo.
EDUARDO
Viu? Você é só imaginação, seu palhaço de merda!
O palhaço começa a incomodá-lo.
EDUARDO
Ahhhhhh...
ANTÔNIO
Chega!!!
O palhaço sai correndo.
18.
ANTÔNIO
Eu desisto. O que você que para fingir que está
curado. Te dou um real se ficar quieto.
EDUARDO
Você está querendo me subornar? E com um real? E
depois eu que sou louco.
ANTÔNIO
Dois reais.
EDUARDO
Faça uma proposta séria, de homem para homem.
ANTÔNIO
Então diga o que você gostaria.
EDUARDO
Quer dizer que você vai fazer o que eu mandar.
ANTÔNIO
É, mais ou menos.
EDUARDO
Igual uma fada dos desejos?
Eduardo ri. Antônio permanece sério.
EDUARDO
Desculpa. Então, eu sempre quis ser ator. Sabe, para
aprender a mentir e enganar bem as pessoas.
ANTÔNIO
Talvez eu posso te ajudar, eu conheço umas pessoas
que conhecem outras pessoas que são colegas de outras
pessoas que poderiam fazer um teste para você entrar
em alguma companhia de teatro. Mas para que isso
aconteça eu preciso de sua ajuda.
EDUARDO
Que ajuda?
ANTÔNIO
É só você fingir ao menos que não está vendo nenhum
palhaço.
EDUARDO
Mas não tem nenhum palhaço aqui mesmo.
ANTÔNIO
Assim mesmo, está aprendendo.
EDUARDO
Ele saiu correndo aquela hora.
O palhaço aparece, vai bem devagar em direção ao
menino.
19.
EDUARDO
Ei, ele voltou! Não!!!...
O palhaço vem em direção ao menino. Eduardo
começa a gritar, Antônio tapa a boca dele. Tudo
isso em "câmera lenta". Adolfo entra correndo,
parte pra cima de Antônio, quase dá um soco
nele.
ADOLFO
O que você está fazendo com o meu filho?!
Adolfo está segurando Antônio pelo colarinho. O
palhaço sai, com medo de Antônio.
ANTÔNIO
(gaguejando)
Nada.
ADOLFO
Verdade filho?
Eduardo balança a cabeça para cima e para baixo.
Adolfo larga Antônio.
ADOLFO
Desculpa. Acho que me descontrolei.
ANTÔNIO
Você acha?
ADOLFO
E então, curou meu filho?
ANTÔNIO
Na realidade não. Ele sofre de malignepagliaccifobia.
ADOLFO
Ah sim... malignepagli.. o que?
ANTÔNIO
Malignepagliaccifobia, um transtorno que faz com que
pessoas vejam um palhaço maligno e tenham muito medo
dele.
ADOLFO
E qual a cura disso?
ANTÔNIO
Nós poderíamos controlar esse medo com medicamentos.
Mas por eu ser um psicólogo não poderia receitar
nenhum. Entretanto, eu tenho um irmão que por míseros
R$ 100,00 poderia fazer esta receita.
ADOLFO
Vamos pegar esta receita então.
20.
ANTÔNIO
Bem, se for para pegar agora podem ocorrer alguns
acréscimos.
ADOLFO
Vamos logo.
Os dois vão saindo.
EDUARDO
E o palhaço pai? Ele vai me matar.
ADOLFO
Não vai não filho.
EDUARDO
Vai sim pai. Fica aqui para bater nele.
ADOLFO
Tive uma idéia.
Adolfo leva Eduardo até a cama. Coloca a coberta
até cobrir totalmente o rosto.
ADOLFO
Agora você não vai mais ver o palhaço. Eu já volto.
Adolfo e Antônio saem.
ADOLFO (EM OFF)
É longe?
ANTÔNIO (EM OFF)
Não, é aqui no prédio mesmo.
Toca um alarme no escritório.
VANESSA
Está chegando alguém, está chegando alguém...
Vanessa tenta arrumar as coisas. Eduardo e
Antônio chegam na entrada do escritório.
ANTÔNIO
Eu vou lá chamar o meu irmão e já volto.
ADOLFO
Mas eu não poderia...
Antônio bate a porta na cara de Adolfo.
ANTÔNIO
Faça uma receita e coloque o carimbo do psiquiatra,
rápido!
Antônio troca-se de roupa rapidamente, enquanto
Vanessa escreve uma receita.
21.
ANTÔNIO
Está pronta?!
VANESSA
Falta o carimbo.
ANTÔNIO
Rápido!
VANESSA
Estressadinho.
Antônio pega a receita e sai da sala.
Cumprimenta Adolfo.
ANTÔNIO
O senhor deve ser o Antônio, prazer em conhecê-lo.
Aqui está a receita. O dinheiro você pode entregar
para o Antônio.
Antônio entrega a receita.
ADOLFO
Ei, espere ai. Vocês são irmãos mesmos?
ANTÔNIO
Sim, claro.
ADOLFO
E tão diferentes.
ANTÔNIO
E que é só por parte de pai.
ADOLFO
E onde ele está?
ANTÔNIO
Ele, ele está lá dentro. No banheiro. Um senhor pode
aguardar um instante, que ele já vem. Foi um prazer
conhecê-lo.
ADOLFO
Diga a ele...
Antônio bate a porta novamente na cara de
Adolfo. Entra no consultório e põe a mesma roupa
de antes. Sai do consultório. Antônio e Adolfo
voltam a casa. Eduardo mexe-se na cama. Adolfo
vai até a cama para ver seu filho, ajeita a
coberta. Começa a ler a receita.
ADOLFO
Doutor, onde eu poderei comprar isso?
22.
ANTÔNIO
Deixa eu ver o que ele receitou.
Adolfo entrega a receita. Antônio tenta entender
o que está escrito, mas não consegue. Antônio
pega e tenta decifrar o que está escrito. Seu
esforço é em vão.
ADOLFO
Mas que letrinha.
O palhaço aparece, começa a puxar a coberta de
Eduardo. Dormindo, o menino a puxa novamente.
ANTÔNIO
Bem. Já que não conseguimos entender a letra eu
aconselharia o senhor a procurar uma forma
alternativa de cura. Como por exemplo rituais de
afastamento de espíritos.
O palhaço volta a puxar a coberta.
ADOLFO
O senhor está querendo dizer que o meu filho está
endemoniado?!
ANTÔNIO
Não, mas é que devido...
Eduardo acorda e vê o palhaço. Desespera-se.
Tenta espantá-lo usando o travesseiro. Adolfo
vai ao encontro do menino. Segura ele.
ADOLFO
Pode chamar um exorcista. O senhor conhece algum?
ANTÔNIO
Bem, eu até conheço uma pessoa que faz isso. Eu vou
ligar para ela. Você empresta o celular?
Adolfo entrega o celular. Antônio afasta-se e
digita alguns números rapidamente. No escritório
o telefone começa a tocar. Vanessa atende.
VANESSA
Você ligou para o consultório do doutor Antônio
Goulart. Para conhecer...
ANTÔNIO
Sou eu Vanessa. Não precisa tudo isso. Só preste
atenção no que eu vou te falar. Você está prestando
atenção.
Vanessa está distraída com o computador.
23.
VANESSA
Estou sim, pode falar.
ANTÔNIO
É o seguinte, pega a roupa de esquisita e aquelas
ferramentas estranhas que estão guardadas no armário
e vem aqui no apartamento do cliente que estou
atendendo. Está certo?
VANESSA
Pode deixar comigo.
Antônio termina a ligação. Vanessa desliga o
computador. Começa a olhar para os lados, a
procura de algo.
VANESSA
O que foi que ele pediu?
Vanessa veste uma roupa bem esquisita e sai.
Antônio aproxima-se de Adolfo e Eduardo.
ANTÔNIO
O senhor pode ficar tranquilo que a ajuda já está a
caminho.
ADOLFO
Obrigado.
ANTÔNIO
E tem outra notícia que vai deixar o senhor ainda
mais feliz. Eu consegui um desconto de 50% na
consulta dela.
ADOLFO
Deveria ter feito um plano de saúde.
ANTÔNIO
É, mas seria difícil o senhor encontrar um plano que
cobrisse exorcismo.
Batidas na porta.
ANTÔNIO
Deve ser ela.
Antônio vai abrir a porta. Vanessa e Antônio
entram. Antônio fala cochichando no ouvido de
Vanessa.
ANTÔNIO
Você vai ter fingir ser uma exorcista.
VANESSA
Ãh?
Os dois aproximam-se de Adolfo.
24.
ANTÔNIO
Esta é a Mãínha.
ADOLFO
Prazer, me chamo Adolfo.
Adolfo estende a mão. Vanessa faz um movimento
estranho.
VANESSA
Raum...Lalalala...
Vanessa olha lentamente para Eduardo. O menino
fica assustado.
VANESSA
Então você deve ser a vítima.
Vanessa aproxima-se de Eduardo.
VANESSA
Diga, o que está te atormentando?
O palhaço mexe a cabeça para os lados, dizendo
não. Eduardo fica calado.
VANESSA
Diga! O que está te atormenta?
EDUARDO
É aquele palhaço lá moça.
Eduardo aponta na direção do palhaço. Vanessa
vai até onde o palhaço está.
VANESSA
Ele está aqui?
Eduardo mexe a cabeça para cima e para baixo.
VANESSA
Você tem razão, eu posso sentir o cheiro.
ADOLFO
Desculpa, fui eu.
Todos olham para Adolfo, com cara de nojo.
VANESSA
Vamos ao trabalho. Começarei com o ritual vi estas la
knabo. Mas para isso é preciso que o menino deite-se.
Adolfo faz Eduardo ficar deitado.
ADOLFO
Fica deitado que a tia vai fazer o palhaço ir embora.
25.
VANESSA
Mas uma coisa. Também precisarei de um desentupidor.
Adolfo e Antônio estranham o que ela pediu.
Eduardo arregala os olhos. Adolfo sai.
ANTÔNIO
Desentupidor?
Adolfo entra com um desentupidor. Entrega a
Vanessa.
VANESSA
Seria bom que vocês se afastassem da cama.
Adolfo e Antônio distanciam-se da cama. Vanessa
começa uma dança ao redor da cama.
VANESSA
Cânt nimic. Nu stiu ce înseamna. Doar memorat ceea ce
a fost scris.
O palhaço começa a mexer rapidamente Eduardo. O
menino começa a gritar. Adolfo desespera-se, mas
tem medo de se aproximar.
ADOLFO
O que você fez?!
VANESSA
nada!
ANTÔNIO
Pare com isso Vanessa.
VANESSA
Como?
Adolfo, Antônio e Vanessa passam a falar ao
mesmo tempo. Eduardo continua tremendo e
gritando. Grande confusão. Um celular começa a
tocar. Adolfo pega o seu celular, olha. faz
sinal dizendo que não é ele que está tocando. O
celular continua tocando. Todos, exceto Eduardo
e o palhaço, são "puxados" para fora. A luz vai
abaixando. Fica tudo escuro. O celular ainda
está tocando.
EDUARDO
Ahhhhh!!!....
Acende a luz. Eduardo está sentado na cama. Olha
para baixo da cama. Pega o celular, que está
tocando o alarme, e desliga. Adolfo entra
correndo.
26.
ADOLFO
O que houve filho? A casa está pegando fogo, ou algo
parecido?!
Eduardo fica olhando para Adolfo, não responde.
ADOLFO
Brincadeira filho, vi essa frase na TV. Mas por que
estava gritando?
EDUARDO
É que eu tive um pesadelo, pai.
ADOLFO
Mas vamos levantar logo que daqui a pouco você tem
que ir a festa do seu amigo.
EDUARDO
Festa?
ADOLFO
Fiquei sabendo que vai ter até um palhaço.
EDUARDO
Palhaço???
ADOLFO
É. Vai dizer que você tem medo de palhaço?
EDUARDO
Mas pai.Eu, eu sonhei que tinha um palhaço do mal que
queria me matar, e arrancar a minha cabeça. E que
tinha uma mulher maluca fazendo um ritual esquisito.
E... e...
ADOLFO
Foi só um sonho filho. Só um sonho. Vamos tomar café
que está quase na hora.
Adolfo e Eduardo vão saindo do quarto.
ADOLFO
E pra que esta cara de medo, filho? Sorria!
O palhaço surge e começa a dar risada. BLACKOUT.
ESSA PEÇA DE TEATRO FOI FINALIZADA EM 30 DE MAIO DE 2010.