Sociologia 10º - Manual do Aluno
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Repblica Democrtica de Timor-LesteMinistrio da Educao
Manual do AlunoSOCIOLOGIA10.o ano de escolaridade
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Manual do AlunoSOCIOLOGIA10.o ano de escolaridade
Projeto - Reestruturao Curricular do Ensino Secundrio Geral em Timor-Leste
Cooperao entre o Ministrio da Educao de Timor-Leste, o Instituto Portugus de Apoio ao Desenvolvimento, a Fundao Calouste Gulbenkian e a Universidade de Aveiro Financiamento do Fundo da Lngua Portuguesa
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Os stios da Internet referidos ao longo deste livro encontram-se ativos data de publicao. Considerando a existncia de alguma volatilidade na Internet, o seu contedo e acessibilidade podero sofrer eventuais alteraes.
TtuloSociologia - Manual do Aluno
Ano de escolaridade10.o Ano
AutoresTeresa CarvalhoRui SantiagoZlia BredaMaria Johanna Schouten
Coordenadora de disciplinaTeresa Carvalho
Consultor cientficoJos Brites Ferreira
ColaboradoraAndreia FerreiraColaborao das equipas tcnicas timorenses da disciplina Este manual foi elaborado com a colaborao de equipas tcnicas timorenses da disciplina, sob a superviso do Ministrio da Educao de Timor-Leste
IlustraoFilipa Cruz
Design e PaginaoEsfera Crtica Unipessoal, Lda.Filipa Cruz
Impresso e AcabamentoInnova Star U. Lda
ISBN978 - 989 - 8547 - 19 - 4
1 Edio
Conceo e elaboraoUniversidade de Aveiro
Coordenao geral do ProjetoIsabel P. Martinsngelo Ferreira
Ministrio da Educao de Timor-Leste
2012
Este manual do aluno propriedade do Ministrio da Educao da Repblica Democrtica de Timor-Leste, estando proibida a sua utilizao para fins comerciais.
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O teu Manual de Sociologia est organizado com base num conjunto de indicaes que procuram orientar melhor as tuas aprendizagens.
Assim, em cada unidade temtica encontras o seguinte:
Sempre que surge este smbolo significa que tens um pequeno texto onde podes aprofundar os conhecimentos sobre o tema que est a ser tratado.
Este smbolo significa que tens tua disposio um conjunto de atividades prticas que podes desenvolver para verificar se compreendeste bem a matria.
Ao longo do teu manual surgem tambm, pequenas caixas de texto nas margens das pginas. Estas podem conter informao sobre alguns assuntos referidos na parte central do texto.
Outras servem para destacar a definio de conceitos importantes. No final do manual encontras um pequeno glossrio com a definio de todos estes conceitos.
No final de cada subtema encontras um pequeno resumo dos assuntos mais importantes abordados,
seguido de um conjunto de exerccios que te ajudam a consolidar o que aprendeste.
Este aviso, recorda-te que no deves escrever no teu livro, mas sim no teu caderno.
i As eleies e a democracia em Timor-Leste so factos sociais.
Realidade social Relaes que estabelecemos uns com
os outros na comunidade.
RESUMO
NOTA: Embora os autores estejam conscientes de que a linguagem no apenas um vnculo pelo qual as ideias so transmitidas, mas, tambm, um cdigo criador de significados que contribui fortemente para moldar as prticas e as representaes sociais, optaram pelo uso generalizado do masculino na linguagem. Esta opo prende-se com a necessidade de simplificar o texto e no traduz qualquer significado associado ao gnero.
No te esqueas que no deves escrever neste espao.
Copia este esquema para o teu caderno e preenche-o.
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Cultura e sociedade
Unidade Temtica
2
1Sociologia e Cincias Sociais10 1.1A realidade social 13 1.2A complexidade do social e das Cincias Sociais15 1.3A Sociologia e a Antropologia Social e Cultural
2A criao de conhecimento na Sociologia 19 2.1Senso comum e conhecimento cientfico26 2.2Conhecimento cientfico nas Cincias Sociais30 2.3Conhecimento cientfico nas Cincias Sociais na atualidade
3Metodologias de investigao em Cincias Sociais 33 3.1Tipos de investigao37 3.2Etapas de investigao42 3.3Tcnicas de investigao em Cincias Sociais
4A construo da Sociologia e da Antropologia em Timor-Leste52 4.1Sociologia e Antropologia em Timor-Leste55 4.2O objeto e os autores fundadores da Sociologia e Antropologia66 4.3Aplicao do conhecimento da Sociologia e da Antropologia a Timor-Leste
Unidade Temtica
A Sociologia como Cincia1
1A cultura na Antropologia 74 1.1O significado popular de cultura 75 1.2A cultura, os alimentos e proteo fsica do ser humano79 1.3A abordagem antropolgica de cultura81 1.4Os padres de cultura
2Usos, costumes e modos de vida tradicionais85 2.1A importncia dos hbitos e dos usos e costumes no comportamento dos indivduos86 2.2Tradies e rituais em Timor-Leste
3O ser humano como resultado e criador de cultura97 3.1Criao e transmisso da cultura: o indivduo, o grupo, o meio ambiente e a poca101 3.2Cultura dominante, cultura dominada e culturas de massas
ndice
4
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Unidade Temtica
Sociedade e indivduo31Socializao e interaco social
120 1.1O conceito de socializao 121 1.2Mecanismos de socializao123 1.3A interao e a integrao social
2Formas e agentes de socializao127 2.1Processo primrio e secundrio de socializao128 2.2Agentes de socializao
3Aculturao e etnocentrismo137 3.1Diversidade cultural138 3.2Os conceitos de aculturao, assimilao, desculturao e etnocdio143 3.3O etnocentrismo
4Preconceitos, esteretipos e representaes sociais146 4.1Preconceitos, esteretipos e comportamentos irracionais do ser humano150 4.2As representaes sociais
154 Glossrio 157 Bibliografia
2 4Valores e normas culturais105 4.1Definio de valores e normas culturais107 4.2Valores, prticas e coeso social109 4.3Movimentos sociais
5
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O B J E T I V O SNo final desta unidade temtica o aluno deve ser capaz de:
Compreender a forma como nasceram as Cincias Sociais e a importncia da Sociologia e da Antropologia no quadro destas cincias;
Interpretar as diferenas entre realidade social e realidade natural;
Compreender a complexidade da realidade social e a necessidade desta ser estudada por vrias disciplinas (entre as quais a Sociologia e a Antropologia).
Identificar as semelhanas e diferenas entre Sociologia e Antropologia.
Identificar os diferentes tipos de conhecimento e conhecer as especificidades do conhecimento cientfico nas Cincias Sociais.
Avaliar as diferenas entre conhecimento do senso comum e conhecimento cientfico.
Conhecer os diferentes tipos de investigao cientfica e a sua adequao a diferentes contextos no mbito das Cincias Sociais. Identificar as principais tcnicas de investigao utilizadas em Cincias Sociais.
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Unidade Temtica 1A Sociologia como Cincia
1 Sociologia e Cincias Sociais
2 A criao de conhecimento na Sociologia
3 Metodologias de investigao em Cincias Sociais
4 A construo da Sociologia e da Antropologia em Timor-Leste
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1Sociologia e Cincias Sociais
1.1A realidade social
No nosso dia a dia, enquanto seres humanos racionais, relacionamo-nos
uns com os outros na nossa comunidade. A existncia do ser humano de-
pende da sua capacidade de viver em grupo. Estas relaes, que estabe-
lecemos uns com os outros (relacionamento entre indivduos e grupos),
so aquilo a que chamamos realidade social. Podemos, ento, dizer que a
realidade social decorre da vida em sociedade.
O conceito de sociedade central na Sociologia. Uma sociedade pode ser
definida como um conjunto de pessoas que ao relacionarem-se uns com os
outros, partilham objetivos, gostos, preocupaes e costumes. um todo
constitudo por grupos que formam um sistema humano de relaes. Por
isso, uma sociedade uma rede de relacionamentos entre pessoas.
Por viverem em grupo, os seres humanos, ao relacionarem-se entre si
atravs do contacto e da comunicao, aprendem regras, valores e nor-
mas da vida em comum. Tudo o que aprendem influencia muito as suas
aes e comportamentos.
Os nossos comportamentos so, assim, o resultado do que nos transmi-
tido, desde o nosso nascimento, atravs da famlia, da escola, do grupo
de amigos, das pessoas com quem trabalhamos, dos meios de comunica-
o (televiso, rdio, internet, jornais, revistas, livros), entre outros. Estas
aes correspondem a prticas sociais que so influenciadas por diversos
fatores, entre os quais, a nossa origem social, a maneira de viver da nossa
comunidade, e at a religio que temos. As prticas sociais dependem da
relao muito forte que existe entre o ser humano e o meio natural.
A realidade social diferente da realidade do meio natural. A realidade
natural corresponde a um ambiente de natureza sem interveno huma-
na (ainda no tocada pelo ser humano). Esta formada por elementos
fsicos e naturais, como o clima, o relevo, o solo, os animais, a vegetao,
entre outros e influencia a realidade social. Por exemplo, em algumas re-
gies da sia, as fortes chuvas podem diminuir o cultivo e produo do
arroz e alterar o modo de vida das populaes.
Embora o meio natural deva ser considerado um fator que condiciona as
prticas sociais, importante no esquecer que os seres humanos tam-
bm podem atuar, e atuam, sobre este meio. Assim, se o meio natural
influencia a realidade social, esta tambm influencia o meio natural. Estas
Realidade natural Corresponde a um ambiente de
natureza sem interveno humana.
Sociedade Conjunto de pessoas que partilham
objetivos, gostos, preocupaes e costumes, e que se relacionam entre si.
Realidade social Relaes que estabelecemos uns com
os outros na comunidade.
Unidade Temtica 1 | A Sociologia como Cincia
8
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duas realidades complementam-se e influenciam-se uma outra.
O meio natural condiciona a realidade social. Quer isto dizer que os seres
humanos alteram os seus costumes e hbitos, adaptando-os ao meio natu-
ral onde vivem. Por exemplo, as pessoas que vivem beira mar tm costu-
mes e hbitos diferentes das pessoas que vivem nas zonas montanhosas.
Mas, a realidade social tambm condiciona o meio ambiente. Por exem-
plo, os seres humanos constroem pontes e barragens, modificando o ca-
minho natural dos rios. So tambm eles os responsveis pela construo
de estradas e casas. Ao longo dos tempos, tm construdo grandes obras
com o objetivo destas lhes facilitarem a sua vida do dia a dia. Por isso, so
muito poucas as reas, nos dias de hoje, que continuam sem serem alte-
radas pelos seres humanos.
Atividade
Responde s seguintes questes:
1. O que fazes habitualmente depois da escola?
2. Compara as atividades que fazes com as dos os teus colegas.
3. De que forma o meio em que vives influencia essas atividades? D exemplos.
A relao entre realidade natural e social nem sempre equilibrada. Nos
ltimos anos, os seres humanos tm sido responsveis pela destruio da
natureza. Esta destruio traz consequncias graves para a sua prpria
sobrevivncia.
Os seres humanos transformam a natureza atravs do desenvolvimento
de atividades econmicas (por exemplo, ao trabalhar a terra na prtica da
cultura do arroz) e da desflorestao (por exemplo, para obteno de ma-
deira). Ou, atravs de outras atividades como a queima de combustveis
MEIO NA
Meio naturalExemplo de uma paisagem timorense onde no existe
interveno do ser humano.
Meio socialExemplo de uma paisagem que traduz o meio social em
Timor-Leste.
Sociologia e Cincias Sociais | 9
A relao entre realidade social e natural nem sempre harmoniosa e equilibrada.
i
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fsseis (carvo, petrleo ou gs natural) e a grande explorao dos recur-
sos naturais. Estes so muito importantes para a vida da humanidade,
mas podem esgotar-se.
Todas estas atividades do origem a diferentes tipos de poluio. Esta po-
luio pode contribuir para a eliminao de espcies animais e vegetais
(devido destruio dos stios naturais onde vivem). Como resultado da
poluio, a Terra est a viver uma situao de aquecimento global que po-
der ter efeitos na sade das pessoas a nvel mundial (podem, por exem-
plo, provocar a disseminao de doenas).
Os efeitos da ao humana na realidade natural tm, depois, consequn-
cias nas prticas sociais. Assim, em resultado das mudanas no ambiente,
tm surgido vrios movimentos sociais que tentam chamar a ateno das
populaes para os problemas ambientais.
Tambm as aes desenvolvidas no dia a dia se vo alterando. Por exem-
plo, hoje as pessoas procuram separar o lixo para permitir a reciclagem
dos materiais. Muitos agricultores no mundo sabem, igualmente, que o
uso de adubos naturais ou orgnicos pode ser melhor para a natureza do
que o de adubos qumicos.
So estas relaes entre o meio social, ou seja, as relaes que os seres
humanos estabelecem uns com os outros, e o meio natural, que nos aju-
dam a compreender a complexidade da realidade social.
Ser Humano Ambiente
Modificao do ambiente e da relao entre o ambiente e o ser humano
Aes permanentes sobre o meio ambiente
10 | A Sociologia como Cincia
-
AtividadeL, com ateno, o texto seguinte:
Problemas que afetam a floresta em Timor-Leste
O estado em que se encontra hoje a floresta de Timor-Leste grave. As razes no so
nenhuma novidade. Mas devido complexidade dos problemas as respostas e aes
tardam a surgir. Segundo o relatrio Forestry Management Policies and Strategies of
Timor Leste, o pas tem uma mdia anual de 1,1% de floresta perdida, quatro vezes
maior do que a mdia global. Estes dados referem-se ao perodo entre 1972 e 1999,
onde se perdeu 114.000 ha de floresta densa e 78.000 ha de floresta mdia. Mas
quem esteve em Timor-Leste aps o referendo e a Independncia (2002) sabe que
estes nmeros no desceram. A perda das florestas em Timor-Leste est associada
a um perodo de chuvas muito fortes e ao relevo dada a forte presena das mon-
tanhas e s caratersticas geolgicas que provocam a eroso e a perda dos solos. As
causas desta enorme perda so a agricultura itinerante, as queimadas nas encostas na
poca seca, o consumo de madeira nas casas (na sua construo ou para fazer a co-
mida, por exemplo) e, por fim, o corte ilegal de rvores, nomeadamente do sndalo ().
Adaptado de Maio, P. (s.d.) A Floresta em Timor Leste e o Papel da Cooperao Agr-
cola Portuguesa no seu Desenvolvimento. Disponvel em http://naturlink.sapo.pt
Responde s seguintes questes:
1. Discute esta notcia com os teus colegas, tendo em conta as relaes entre o meio
fsico e a realidade social.
2. Pensas que ainda possvel travar a desflorestao em Timor-Leste? Na tua
opinio, que medidas devem ser tomadas para resolver esta situao?
1.2A complexidade do social e das Cincias Sociais
A realidade social e os fenmenos sociais, isto , os comportamentos em
sociedade, so o objeto de estudo das Cincias Sociais. Por causa da com-
plexidade da realidade social e dos fenmenos sociais so vrias e diferen-
tes as Cincias Sociais que os podem estudar.
De entre as vrias disciplinas que formam o grupo das Cincias Sociais
podemos referir a Histria, a Geografia, a Economia, a Cincia Poltica e,
claro, a Antropologia e a Sociologia.
A realidade social muito diferente, podendo ser estudada de vrias ma-
neiras. Vamos ver, por exemplo, o caso das emigraes. Para a Economia
importante analisar aspectos relacionados com o trabalho, salrios e
os contributos das pessoas para o desenvolvimento econmico do pas
para onde se deslocam. Para a Geografia importante estudar as zonas do
mundo de onde vm e para onde vo as pessoas (migraes). A Histria,
por sua vez, interessa-se, entre outros aspectos, por estudar os movimen-
tos de populaes entre pases (movimentos migratrios).
Sociologia e Cincias Sociais | 11
-
Para alm dos seus aspectos diversos, o objeto de estudo das Cincias
Sociais tambm interdisciplinar. As diversas disciplinas das Cincias So-
ciais complementam-se umas s outras. Ou seja, uma reunio de vrios
conhecimentos, cujo objetivo contribuir para uma melhor compreenso
do mundo que nos rodeia.
AtividadeDesenvolve as seguintes atividades:
1. D exemplos de alguns problemas sociais existentes em Timor-Leste.
2. Debate com os teus colegas e professor como um mesmo problema pode ser
analisado por diferentes cincias do grupo das Cincias Sociais.
O interesse pelas questes sociais comea a aparecer na Europa no sculo
XVIII, mas no sculo XIX que surge a maior parte das disciplinas das Cin-
cias Sociais. No sculo XX, as estas cincias conheceram um grande desen-
volvimento. Elas passaram a ser ensinadas nas universidades e, tambm,
nas escolas primrias e secundrias.
O nascimento das Cincias Sociais, nessa altura, e na Europa, justifica-se
pelos acontecimentos que, ento, se verificaram. Trs destes aconteci-
mentos devem ser destacados: o surgimento do Iluminismo, a Revoluo
Francesa e a Revoluo Industrial.
O Iluminismo surge como um movimento cultural que pretendia criar
uma nova forma de compreender o que o ser humano, procurando valo-
rizar as suas capacidades intelectuais. Este movimento acreditava no que
o ser humano era capaz de conseguir fazer com o poder do seu pensa-
mento e dos conhecimentos que ia aprendendo. Defendia que s atravs
do pensamento esclarecido (a razo) seria possvel resolver os problemas
da vida e da cincia pois havia uma confiana muito grande na intelign-
cia. Os pensadores desta altura (como Jean-Jacques Rousseau) viam que
o ser humano tinha vivido muito na ignorncia sobre o que se passava nas
suas sociedades. Assim, esta nova forma de ver a humanidade era, para o
Iluminismo, o nico caminho para resolver os problemas do mundo.
Um dos acontecimentos importantes na Europa no Sculo XVIII foi a Revolu-
o Francesa. Nesta altura, em Frana, havia fortes desigualdades sociais
e muita pobreza, em parte devido forma como a sociedade estava orga-
nizada. Por causa disso, grandes grupos de pessoas mais pobres iniciaram
uma revoluo que defendia a Liberdade, Igualdade e Fraternidade para
todos. Esta Revoluo deu origem Carta dos Direitos do Homem e do
Cidado (1789). Esta carta garantia direitos iguais para todos e uma maior
InterdisciplinaridadeCorresponde ao estudo de uma
mesma realidade por diferentes disciplinas que se completam.
Iluminismo Movimento cultural do sculo XVIII
que defende a possibilidade de se compreender os problemas humanos
atravs da razo.
Revoluo FrancesaMovimento iniciado em Frana
baseado nas ideias de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
12 | A Sociologia como Cincia
O nascimento das Cincias Sociais influenciado pelo surgimento do Iluminismo,
Revoluo Francesa e Revoluo Industrial.
i
-
participao do povo na vida poltica. O povo passou a ver os seus direitos
mais respeitados.
No entanto, um dos acontecimentos que mais transformaes trouxe para
as sociedades e economias, de ento, foi a Revoluo Industrial. Embora
tenha surgido num pas europeu a Inglaterra chegou a uma grande
parte do mundo e mudou muito as sociedades.
Com a descoberta de novas fontes de energia (vapor, eletricidade e pe-
trleo), e o desenvolvimento da tecnologia, verificou-se uma mudana no
modo como os produtos eram produzidos. As oficinas, onde os artesos
desenvolviam o seu trabalho, desde que obtinham a matria-prima at ao
produto final, so substitudas pelas fbricas. Nestas fbricas, a mquina
substitui a mo do homem.
Na Revoluo Industrial fabricavam-se mais produtos e de uma maneira
mais rpida. Isso permitiu baixar os preos e aumentar a venda dos produ-
tos. Mas trouxe, tambm, aspectos negativos. O trabalho nas fbricas era
feito por um grande nmero de trabalhadores num mesmo espao com
ms condies eram locais com pouca iluminao, muito apertados,
fechados, barulhentos e sujos. O trabalho durava muitas horas, era mal
pago e, por vezes existiam castigos fsicos para os trabalhadores.
Havia grandes grupos de pessoas que saam das suas aldeias para ir tra-
balhar para estas fbricas. Assim, enquanto que algumas regies ficaram
quase sem populao, noutras, esta aumentou muito, como foi o caso das
cidades. As condies em que as pessoas viviam nas cidades eram muito
ms porque estas no estavam preparadas para receber tanta populao.
A Revoluo Industrial permitiu que determinados grupos de pessoas ga-
nhassem mais poder. Novas relaes sociais surgiram, assim como novas
ideias polticas. Foi desta forma que as Cincias Sociais nasceram e os es-
tudos sobre as sociedades comearam a ser desenvolvidos.
O nascimento das Cincias Sociais inicia-se, ento, nesta altura (sculos
XVIII e XIX), embora nem todas tenham surgido ao mesmo tempo. Estava-
-se ainda longe da grande diviso que, mais tarde, se viria a verificar nas
Cincias Sociais. Os fundadores das Cincias Sociais (primeiros estudio-
sos) ainda no as dividiam em vrias disciplinas. A Sociologia e a Antropo-
logia eram estudadas em conjunto.
1.3A Sociologia e a Antropologia Social e Cultural
A Sociologia e a Antropologia so duas disciplinas muito prximas na
sua preocupao com o estudo do ser humano. Mas estas disciplinas es-
to ainda mais prximas quando estudam temas sociais e culturais nas
Jean Jacques Rousseau (1712-1778) foi um filsofo cujo pensamento influenciou o surgimento da Revoluo Francesa e da Revoluo Americana e os desenvolvimentos tericos modernos das Cincias Sociais.
Diego Rivera, Detroit Industry. Detroit, Institute of Arts, 1932-1933
Esta pintura de Diego Rivera d--nos uma ideia das pessoas que trabalhavam nas fbricas durante a revoluo industrial.
Sociologia e Cincias Sociais | 13
A Revoluo Industrial traduz mudanas na sociedade e na economia originadas pela alterao no modo de produzir os produtos.
i
A Sociologia e a Antropologia so disciplinas muito prximas.
i
-
diferentes sociedades. Podemos, por isso, dizer que os assuntos que estu-
dam so comuns. No entanto, a forma como tentam abordar a realidade
social diferente.
A Sociologia procura perceber as relaes entre os seres humanos, ten-
do em conta a forma como as sociedades esto organizadas. Ou seja, a
Sociologia estuda como que a sociedade influencia o comportamento,
costumes e cultura das pessoas e dos grupos. Mas, por sua vez, tambm
estuda como que as pessoas e os grupos influenciam a sociedade.
A Antropologia estuda o ser humano, principalmente naquilo que so as
suas relaes com a sua cultura. Procura conhecer o indivduo e os grupos
humanos, para, a partir desse conhecimento, alisar a realidade social mais
geral. Assim, o seu principal tema de estudo a cultura. Parte da ideia de
que compreendendo a cultura do indivduo ou do grupo pode, mais facil-
mente, tambm compreender a forma como a sociedade est organizada,
de acordo com um conjunto de valores e tradies.
No seu incio, a Antropologia centrava-se no estudo das sociedades tra-
dicionais e rurais, enquanto que a Sociologia se preocupava mais com os
problemas das sociedades industriais. Os estudos da Sociologia, na gran-
de maioria, eram feitos sobre o modo de organizao e a vida dos grupos
nas sociedades que se comeavam a industrializar. Por sua vez, os estudos
da Antropologia comearam por tentar compreender os grupos humanos
e os povos que, nas vrias regies do mundo, viviam num meio pouco
industrializado.
AtividadeL, com ateno, o texto seguinte:
A Antropologia e a Sociologia so as duas Cincias Sociais que, nos temas que es-
tudam, esto mais prximos. s vezes difcil separar as duas. Estas disciplinas que-
rem compreender todos os aspectos sociais e culturais de uma sociedade. Alguns dos
autores fundadores so comuns s duas disciplinas. Ambas utilizaram formas de pen-
sar e uma linguagem semelhantes. Tambm usam formas de recolher informaes
muito prximas umas das outras. H socilogos e antroplogos que estudam a mes-
ma coisa da mesma forma, com os mesmos interesses e temas, e utilizando meios de
recolha de dados relativamente idnticos.
Responde questo:
Neste texto fala-se, sobretudo, da proximidade entre a Sociologia e a Antropologia.
Partindo dos conhecimentos que adquiriste nas aulas, diz quais so as principais difer-
enas entre as duas.
14 | A Sociologia como Cincia
Sociologia Disciplina que tenta perceber as
relaes entre os seres humanos em sociedade.
Antropologia Disciplina que parte da anlise
da cultura que os seres humanos desenvolvem em sociedade.
-
RESUMO
A realidade social est ligada necessidade do ser humano viver em gru-
po e representa as relaes que estabelecemos uns com os outros no nos-
so dia a dia. A realidade social decorre da vida em sociedade. Esta pode
ser definida como um conjunto de pessoas que partilham formas de viver
e de se organizar em comum e que se relacionam entre si. A realidade so-
cial influenciada e tambm influencia a realidade natural que a envolve.
A realidade social muito complexa e tem sido estudada em vrias disci-
plinas das Cincias Sociais. As Cincias Sociais surgem na Europa no s-
culo XVIII e XIX a partir de trs acontecimentos: o Iluminismo, a Revolu-
o Francesa e a Revoluo Industrial. Estes acontecimentos alteraram
a forma de organizao econmica e social, at ento dominante, com
consequncias diversas para os seres humanos.
nesta altura que surgem, tambm, a Sociologia e a Antropologia. Ape-
sar das diferenas entre estas disciplinas, nomeadamente o facto da An-
tropologia se centrar mais no estudo da cultura e a Sociologia no estudo
da sociedade, existem algumas semelhanas, em particular nos temas
sobre os quais se interessam e nas metodologias que utilizam para desen-
volver os seus estudos.
A Sociologia interessou-se mais pelo estudo da sociedade e a Antropolo-
gia pelo estudo da cultura. Apesar destas diferenas existem entre estas
discipinas algumas semelhanas , em particular nos temas que tratam e
nas metodologias que utilizam para desenvolver os seus estudos.
Sociologia e Cincias Sociais | 15
-
EXERCCIOS
Escreve, no teu caderno, a opo mais correta (apenas uma)
1. A realidade social :
A. uma disciplina das Cincias Sociais
B. um conjunto de relaes entre diversos animais
C. um ambiente de natureza sem interveno humana
D. um conjunto de relaes que os indivduos estabelecem entre si
2. A realidade social e o meio ambiente so:
A. duas realidades independentes
B. duas realidades sem nenhuma ligao entre elas
C. duas realidades dependentes uma da outra
D. duas realidades que no existem
3. O iluminismo :
A. um movimento de defesa do meio ambiente
B. o nome de uma Cincia Social
C. um movimento cultural
D. o nome de uma sociedade
4. A Sociologia uma Cincia Social que procura:
A. desenvolver ideias acerca da Revoluo Francesa
B. compreender a organizao das sociedades
C. proceder a alteraes na poltica
D. estudar o ser humano individualmente
5. A Antropologia estuda:
A. as Cincias Sociais
B. o meio ambiente natural
C. as grandes sociedades
D. a relao do ser humano com a cultura
No te esqueas que no deves escrever neste espao.
Copia este esquema para o teu caderno e preenche-o.
16 | A Sociologia como Cincia
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2A criao de conhecimento na Sociologia
2.1Senso comum e conhecimento cientfico
Senso comum
Desde sempre, o ser humano procurou compreender a realidade natural
e social sua volta para poder intervir sobre ela. Ao contrrio dos animais
irracionais, o ser humano no se submete natureza, mas, antes, procura
meios e formas para a dominar, garantindo a sua sobrevivncia.
Em funo da relao que tem com o mundo em que vive, o ser humano
procura encontrar explicaes que lhe permita compreender a realidade.
Estas explicaes tm como objetivo resolver os problemas da vida do dia
a dia ou encontrar solues para os problemas da sociedade.
As explicaes encontradas, embora simples, so muito importantes. Per-
mitem perceber a realidade de uma forma mais acessvel. So, no entan-
to, primeiras impresses, que permitem, apenas, ter uma ideia do mundo
que nos rodeia. Esta ideia pode, s vezes, no ser a mais correta.
O conhecimento daqui resultante est dependente do contexto ou am-
biente em que surge. influenciado pela poca histrica, cultura, grupos
sociais de pertena, idade, profisso, entre outros. Este conhecimento
divulgado e aceite pelas comunidades, sendo transmitido de gerao em
gerao. Torna-se, assim, ao longo dos tempos, numa tradio partilhada
por todos.
Desde pequeno, o ser humano vai encontrando na famlia e na comuni-
dade, as explicaes para a realidade sua volta. Qualquer ser humano,
desde criana, tem j ao seu dispor um conjunto de explicaes, baseadas
na tradio, para a realidade complexa que o rodeia. Este conhecimento
corresponde ao senso comum.
O senso comum o tipo de conhecimento que todas as pessoas tm e
utilizam no seu dia a dia. Permite-lhes resolver problemas prticos de uma
forma fcil de entender. Dito de outra maneira, o senso comum represen-
ta um conjunto de pensamentos, comportamentos e experincias que os
seres humanos partilham ao longo da sua vida.
um conhecimento espontneo, obtido atravs das experincias sensi-
tivas (baseadas nos sentidos: tato, viso, olfato, audio e paladar)e da
transmisso social das crenas coletivas e dos preconceitos (ideias pr-
-estabelecidas) que vo surgindo numa comunidade. No entanto, este
Unidade Temtica 1 | A Sociologia como Cincia
17
Senso comumConjunto de ideias e prticas aceites por um dado grupo social a partir da vivncia do dia a dia.
-
conhecimento limitado. No fornece todas as explicaes, nem permite
a compreenso total da realidade.
O conhecimento do senso comum muito importante. No se pode viver
sem ele. este conhecimento que nos transmitido pela sabedoria popu-
lar, e que nos fornece a base para nos adaptarmos vida na sociedade. No
entanto, tambm possui aspectos menos positivos. Pode fazer com que as
crenas e opinies erradas durem muito tempo nas sociedades. Para as
ultrapassar necessitamos de recorrer ao conhecimento cientfico.
O senso comum uma forma de conhecimento superficial, porque nos d
um conhecimento leve e pouco profundo da realidade. Limita-se apa-
rncia, ao que se pode comprovar pela simples presena fsica do que
rodeia o ser humano.
Exemplo: Em certas zonas do sudeste asitico pensa-se que a malria tem a sua origem no consumo de determinados frutos e, por isso, as
pessoas no usam redes de proteo contra os mosquitos.
Todos ns temos opinies sobre o mundo em que vivemos e temos cer-
tezas acerca do que no conhecemos. Mesmo sem termos feito estudos,
sabemos como realizar as mais variadas tarefas no nosso dia a dia. este
nosso conhecimento da realidade que chamamos de senso comum.
Os provrbios so uma forma de conhecimento do senso comum. Estes
so exemplos de alguns dos muitos provrbios Timorenses:
Para se conhecerem as cobras, o melhor deitar fogo ao mato.
Em terra de cavalos, temos de agir como os cavalos, se no levamos
coices!
Em terra de cegos, quem tem olho rei!
Longe da vista, longe do corao!
Atividade
Pensa em outros provrbios que conheces e nas razes porque os podemos classificar como sendo conhecimento de senso comum.
O senso comum tambm sensitivo. Isto quer dizer que ele se baseia em
sensaes ligadas a estados de nimo que surgem na vida quotidiana.
constitudo por vrias ideias vagas e incertas.
Exemplo: Tradicionalmente os timorenses usavam o tarabandu (ce-rimnias realizadas pelos mais velhos) para ensinar os mais jovens a
respeitar a gua e as florestas, mesmo sem terem conhecimentos cien-tficos sobre ecologia.
18 | A Sociologia como Cincia
-
Estas ideias resultam tanto das experincias da realidade vividas e pensa-
das por cada ser humano, como do que outros vm ou dizem sobre essa
mesma realidade. Depende das condies de vida que no so iguais para
todos. Por isso o senso comum subjetivo.
Exemplo: Um rapaz que vive em Ataro, no Porto de Beloi, saber me-lhor praticar pesca linha (maktia nain) (ou conhece melhor os golfi-nhos) do que um que vive em Hatubuilico.
Trata-se de um conhecimento no sistemtico, isto , de uma forma de
pensar as nossas experincias e ideias sem fazer ligaes entre elas. Acon-
tece ao acaso e inclui saberes diversos e desorganizados.
Exemplo: Acredita-se, simultaneamente, que os crocodilos so peri-gosos e que ao fazermos coisas simples (como dizer as palavras certas
relembrando os antepassados) eles tornam-se pacficos.
Estes conhecimentos surgem na nossa mente sem pensarmos muito neles
de uma forma muito profunda. Por isso no duvidamos deles. Assim, diz-
-se que so acrticos.
Exemplo: As crianas tm certos comportamentos que so uma imi-tao do comportamento dos adultos, sem refletir sobre eles. Assim,
se uma criana v um adulto atirar lixo para o cho poder fazer o
mesmo.
O senso comum , ainda, abrangente e generalizador. Isto quer dizer que,
a partir do que acontece com frequncia na nossa vida do dia a dia, apli-
camos o que pensamos a todas as outras situaes. No refletimos sobre
as possveis diferenas entre elas.
Exemplo: Como os rapazes gostam de jogar bola tendemos a consi-derar que todos os rapazes gostam de futebol.
Superficial
Sensitivo
Subjetivo
No sistemtico
Acrtico
Abrangente
Generalizado
senso comumCaractersticas do
senso comum
A criao de conhecimento na Sociologia | 19
-
Atividade
Com a ajuda do professor, identifica as caratersticas do senso comum referidas no texto.
O professor de Sociologia pediu a um grupo de alunos para realizar um trabalho sobre
o tema: Senso Comum. O grupo reuniu-se para trabalhar e decidiu comear por ir
biblioteca. O Jlio procurou no dicionrio de Sociologia e leu que o senso comum
uma espcie de conhecimento atribudo aos seres humanos, sendo tambm identifi-
cado com a opinio pblica. No era muito, mas era, pelo menos, o comeo: aprender
o significado das palavras. A Isabel descobriu um livro onde estava uma frase de um
cientista social chamado Karl Popper, que afirmava A voz do povo a voz de Deus.
Ficaram sem perceber muito bem o que aquilo significava. Ainda assim mantiveram
a frase. Andr disse que se estava escrito num livro porque era verdade. Mas, o
Antnio que estava sempre a questionar tudo e todos resolveu pr em causa aquela
afirmao. Parecia-lhe demasiado ingnua e pouco crtica, dado que partia do
princpio que tudo o que estava escrito nos livros era verdadeiro. H livros e livros!. A
Isabel sentiu-se mais do que nunca confusa, sempre acreditara que o que est escrito
nos livros era verdadeiro, no sabia o que fazer. O Antnio disse aos colegas que esta-
vam presos a ideias feitas, preconceitos e at a tradies que lhes haviam sido
incutidos ou transmitidos desde a infncia e que agora os impediam de procurar o
conhecimento de uma forma objetiva. Isabel estava desesperada. Mais uma vez o seu
grupo no iria conseguir concluir o trabalho a horas. Resolveu, por isso, propor aos co-
legas que fosse escrito um texto com um ttulo, que era s por si um trabalho: Identifi-
cao dos obstculos do senso comum que impediram que o trabalho fosse concludo.
Adaptado de Fontes, C. (s.d.). Senso Comum. Disponvel em: http://afilosofia.no.sapo.pt/SComum.htm
Conhecimento cientfico
Ao contrrio do senso comum, a cincia parte dos factos e procura conhe-
c-los de uma forma distanciada. Isto , procura conhecer os factos, tal
como so, independentemente, dos seus aspectos ligados aos sentimen-
tos e emoes.
Para olhar para os factos desta forma necessrio, antes de mais, uma
constante desconfiana das ideias dominantes. Tem de se ter, igualmen-
te, curiosidade pessoal e abertura novidade. Pretende-se, assim, que a
anlise cientfica seja objetiva, ou seja, procura-se saber porque que um
acontecimento influencia outro conhecimento (relao causa-efeito).
Os cientistas no se limitam a observar uma experincia, mas, tambm,
procuram encontrar explicaes para ela. Ao tentar perceber o que est
por detrs dos factos que observa, cria conceitos que do conta das coi-
sas que no se veem de uma forma natural, mas que existem realmente
(como o tomo). Para compreender o mundo que o rodeia o cientista tem
de ter uma atitude cientfica, isto , fazer o estudo que pretende de uma
20 | A Sociologia como Cincia
Atitude cientficaAtitude, comum a todas as cincias que corresponde aplicao de um mtodo particular de pesquisa o
mtodo cientfico.
-
maneira cautelosa e controlada, atravs do uso do mtodo cientfico.
o uso do mtodo cientfico que distingue a cincia do senso comum. O
mtodo cientfico o caminho que os cientistas percorrem quando reali-
zam um estudo e criam conhecimento.
AtividadeResponde s seguintes questes:
1. Quais as ideias que tens sobre o que a cincia e o que faz um cientista?
2. Verifica se as tuas ideias so semelhantes s dos teus colegas.
3. Ser que estas ideias so senso comum ou conhecimento cientfico? Porqu?
Habitualmente, so definidas diversas caractersticas do conhecimento
cientfico. Entre elas, podemos destacar as que se seguem.
O conhecimento cientfico procura ser objetivo, isto , ser diferente no
estudo das situaes e acontecimentos, e no depender daquilo que o
cientista gosta e no gosta, ou do que sente. Ou seja, tenta fazer uma
separao entre quem faz o estudo o sujeito (cientista ou investigador)
e o que se procura saber o objeto (o que est a ser estudado).
Exemplo: Independentemente de quem a possa medir, a distncia entre o Distrito de Baucau e o sub-distrito de Vemasse ser sempre de 35 Km.
O conhecimento que resulta da investigao cientfica, ao ser objetivo, tam-
bm claro e preciso. Os problemas so subdivididos nos seus elementos
mais pequenos, estes, so, depois, analisados segundo o mtodo cientfico.
Exemplo: Ao medirmos os seis sub-distritos de Baucau (Vemasse =287,10 Km2; Venilale=269,23 Km2; Kelicai=272,17 Km2; Laga=210,67
Km2; Baguia=239,27 Km2; Bacau=321,56 Km2) chegamos concluso
que este distrito tem uma rea de 1.600 Km2.
Uma cientista a procurar analisar fenmenos que no so visveis a olho nu.
Os sub-distritos de Baucau podem ser vistos neste mapa.
A criao de conhecimento na Sociologia | 21
-
AtividadeL, comenta e discute o texto:
A cincia tem sempre defendido que, ao contrrio de outras formas de conhecimento
consideradas menos rigorosas, ela objetiva. No depende de quem faz, de quem
mede, de quem segue a demonstrao. O resultado da experincia, o nmero lido no
aparelho, a lgica da deduo matemtica so coisas objetivas, impessoais, podem
ser repetidas.
Deus, J. D. (1990). Cincia, Curiosidade e Maldio (2 ed.). Lisboa: Gradiva.
A investigao cientfica metdica. Parte daquilo que j se sabe, do co-
nhecimento que j existe, e procura melhorar este conhecimento, usan-
do regras e tcnicas que todos os investigadores conhecem. O progresso
cientfico resulta da acumulao de conhecimento pelos estudos j reali-
zados, nos quais, s vezes, h novas descobertas.
Exemplo: Com base em conhecimentos j existentes sobre o corpo dos ratos, o bilogo Australiano Ken Aplin descobre, ao analisar os fsseis
de um deles, que o maior rato do mundo viveu em Timor-Leste at h
dois mil anos atrs.
Numa perspetiva moderna da cincia espera-se que o conhecimento pos-
sa, tambm, ser verificvel. Isto , qualquer outro cientista, atravs de um
estudo semelhante, deve poder obter os mesmos resultados.
Exemplo: Dado que a descoberta de Ken Aplin foi realizada com base na anlise dos fsseis do rato qualquer outro cientista, em qualquer
parte do mundo, pode repetir esta anlise para verificar se estava
correta.
O conhecimento cientfico , tambm sistmico. Isto quer dizer que as
ideias que dele fazem parte esto muito ligadas entre si. A este conjunto
de ideias sobre a realidade estudada pode chamar-se teoria. A partir da-
quilo que o cientista vai descobrindo, ele pode explicar acontecimentos
mais gerais (leis gerais). Ou seja, a cincia, pode ser considerada como
um sistema de ideias racionalmente ligadas entre si. Neste sentido, o co-
nhecimento cientfico geral. Ignora o facto isolado e serve-se dele para
procurar leis gerais. O cientista procura, atravs do estudo dos factos sin-
gulares, descobrir as regras gerais ou leis de funcionamento da natureza
ou da sociedade.
Exemplo: Ken Aplin considera que a extino do maior rato do mun-do em Timor-Leste se deveu destruio de florestas para cultivar as
terras, levando-o a concluir que a interveno do ser humano sobre o
meio ambiente pode levar extino de espcies.
22 | A Sociologia como Cincia
-
A cincia no fechada. Est sempre aberta a novas ideias e descobertas
que vo surgindo e substituindo as antigas. Das interpretaes anteriores
do mundo surgem, assim, novas teorias que levam progresso da cin-
cia no mundo.
Se, no futuro, forem descobertos fsseis de ratos maiores a descoberta
anterior pode ser posta em causa. Tal acontece porque todo o conheci-
mento cientfico pode ser substitudo por outro mais recente. por isso
que se diz que a cincia aberta.
AtividadeO ser humano na tentativa de conhecer a realidade que o rodeia desenvolve vrios tipos de conhecimento. particularmente importante saber distinguir o conheci-mento cientfico do conhecimento do senso comum.
A. As frases escritas em baixo baseiam-se em vrios tipos de conhecimento. Identi-fica os que pertencem ao conhecimento cientfico e quais os que pertencem ao con-hecimento do senso comum.
1. Em Dli todos conhecem o Hotel Timor.
2. De acordo com um questionrio realizado s famlias timorenses em 2001, a
taxa de matrcula nos vrios graus de ensino em relao ao nmero de jovens
na correspondente classe de idades seria de cerca de 75% no primrio, 33% no
secundrio inferior, 18% no secundrio superior e 2,8% no ensino superior.
3. A seleo de sub-16 de Timor-Leste venceu o torneio internacional Mar de Timor
porque jogou em casa.
4. O ponto mais alto da ilha de Timor-Leste o Monte Ramelau (ou Tatamailau) que
possui 2.960 m de altitude.
5. No planeta Mercrio, que o mais prximo do Sol, chegam a registar-se
temperaturas de 430 graus (positivos).
6. Se trabalharmos muito conseguimos uma situao melhor na vida.
B. Que caractersticas permitem distinguir o conhecimento do senso comum do
conhecimento cientfico?
A cincia procura explicar os factos para encontrar as normas e regras de
funcionamento globais. A cincia explicativa. Ela no pretende, apenas,
descrever os factos, mas o que vai acontecer no futuro, como vai acon-
tecer e porqu. Diz-se, assim, tambm, que o conhecimento da cincia
preditivo. possvel, com base em informaes especficas e slidas,
analisar o presente e perspetivar o futuro.
Exemplo: Podemos calcular quanto tempo as espcies de recife de coral podero sobreviver se se mantiverem as ameaas ao Tringulo
Coral do Sudeste Asitico.
Todos estes aspectos partem da ideia de que a cincia racional. A cincia
A criao de conhecimento na Sociologia | 23
-
uma construo da mente, no se resumindo anlise de vrias experi-
ncias. Embora parta de dados empricos, a cincia , antes de mais, uma
tentativa de racionalizao do real.
Estas caractersticas esto muito ligadas conceo de cincia desenvolvi-
da na Europa, na poca moderna (Cincia Moderna). Foi a partir das ideias
expressas pelos cientistas das cincias fsicas e naturais que surgiram estas
caractersticas. Assim, acreditava-se que o conhecimento da cincia era:
Ilimitado: considerava-se que as capacidades e possibilidades de co-nhecimento humano eram infinitas.
Cumulativo: julgava-se que os resultados dos estudos cientficos eram definitivos, e que os conhecimentos que vinham das experin-cias que se faziam se iam juntando, pouco a pouco, uns aos outros.
Absoluto: como se pensava que a cincia era totalmente objetiva, acreditava-se que ela no falhava, que tinha um valor absoluto.
Mas, hoje, sabe-se que, na cincia, nem tudo pode ser controlado. Sur-
gem obstculos em relao ao que se quer estudar. Estes obstculos po-
dem ser mesmo a falta de conhecimento ou a falta de recursos para estu-
dar um assunto. Por exemplo, no se conhece ainda uma vacina que evite
que as pessoas tenham malria. Isto acontece porque os pases onde ela
existe no tm meios para fazer estudos que permitam a sua descoberta.
E nos pases desenvolvidos esta no uma grande preocupao, porque a
doena praticamente no existe.
2.2Conhecimento cientfico nas Cincias Sociais
Tal como o estudo do meio fsico e natural tambm o estudo das socie-
dades passou a ser orientado por critrios cientficos. Ou seja, com as
transformaes que se verificaram nas sociedades ocidentais, foi neces-
srio procurar teorias vlidas para interpretar ou explicar aquilo que se
observava no dia a dia da vida das sociedades.
Objetivo
Claro
Metdico
Verificvel
Sistmico
Geral
Aberto
Explicativo
Preditivo
Racional
conhecimento cientfico Caractersticas
do conhecimento cientfico
A Cincia Moderna o termo geralmente utilizado para
designar a cincia desenvolvida na Europa por cientistas das
Cincias Naturais como Galileu, Lavoisier, Descartes, Bacon e
Newton.
i
Mosquito Anopheles responsvel pela transmisso da malria.
24 | A Sociologia como Cincia
-
As Cincias Sociais, em geral, e a Sociologia e a Antropologia, em particu-
lar, copiam muitas vezes, os modelos das outras cincias (em particular,
das Cincias Naturais e da Matemtica).
Assim, a investigao cientfica da realidade social aplica o mtodo e as
tcnicas de pesquisa cientfica ao estudo dos problemas da sociedade,
para os quais se procuram respostas e novos conhecimentos.
No entanto, no foram apenas os mtodos e as tcnicas que as Cincias
Sociais foram buscar s Cincias Naturais e Matemtica. Tambm os pr-
prios conceitos foram importados pelas Cincias Sociais como, por exem-
plo, os conceitos de organismo (a Biologia diz que o nosso corpo um
organismo), meio ambiente ou evoluo, entre outros.
O senso comum constitui a fonte a partir da qual a investigao em Cin-
cias Sociais se desenvolve, mas , simultaneamente, um dos seus princi-
pais obstculos.
A Sociologia e a Antropologia so mais influenciadas pelo senso comum
do que as Cincias Fsicas e Naturais. Isto porque, ao estudar o ser huma-
no, os dados que se recolhem so, muitas vezes, as opinies das pessoas
e aquilo que se observa nos seus comportamentos.
Atividade Em grupo e com a ajuda do teu professor:
1. Procura na biblioteca da tua escola, ou na internet, livros e outras publicaes das
Cincias Sociais.
2. Identifica os temas que so abordados e a sua ligao com a realidade.
3. Discute com os teus colegas se estes problemas podiam ou no ser analisados na
tua regio.
Como vimos antes, no seu incio, a Antropologia dedicava-se ao estudo
dos usos, costumes, crenas, regras de comportamento de vrios grupos
humanos e povos espalhados pelo mundo. Alguns antroplogos tambm
estudaram esses grupos e povos no contexto do seu prprio pas.
Por outro lado, os socilogos sempre estudaram mais as sociedades in-
dustriais no seu pas, ou em pases prximos. Na realidade, o socilogo e o
antroplogo so, tambm, seres sociais. Isto , eles tambm fazem parte
de uma dada sociedade possuem uma famlia, um grupo de amigos, um
grupo religioso, etc. Neste sentido tambm so, desde a infncia, influen-
ciados pelo senso comum e pela cultura dos grupos a que pertencem.
Conhecimento cientfico nas Cincias Sociais Corresponde aplicao da atitude cientfica anlise da realidade social.
A criao de conhecimento na Sociologia | 25
-
O socilogo, e o antroplogo, fazem parte de grupos sociais que formam
uma realidade social muito prxima da que analisam. Assim, para que a
sua prtica seja cientfica tm de tentar distanciar-se das relaes sociais
em que participam. Mesmo quando o socilogo e o antroplogo estudam
sociedades em que no esto integrados, tm de procurar romper com
as ideias que tinham anteriormente (ideias pr-concebidas) sobre essa
realidade que no lhes familiar.
Na atualidade, tanto na Sociologia como na Antropologia, aquele que estu-
da (observador) e as pessoas que so estudadas (observado) confundem-
-se uns com os outros. Assim, os estudos que o socilogo e o antroplogo
fazem da realidade, colocam em causa, muitas vezes, os conhecimentos,
noes e certezas que tinham na sua mente, e que tinham aprendido atra-
vs das tradies do senso comum. A primeira atitude destes investigado-
res dever ser a de rutura com as ideias de senso comum que tm sobre a
realidade social que os rodeia.
Atividade L, com ateno, o texto seguinte:
Para compreendermos de que trata a Sociologia, temos de nos distanciar de ns mes-
mos, temos de nos considerar seres humanos entre os outros. Na verdade, a Sociolo-
gia trata dos problemas da sociedade, e a sociedade formada por ns e pelos outros.
Aquele que estuda e pensa a sociedade ele prprio um dos seus membros.
Adaptado de Elias, N. (1980). Introduo Sociologia. Lisboa: Edies 70.
Comenta o texto tendo em ateno os obstculos que se colocam ao cientista na sua investigao sociolgica.
A dificuldade de separao entre observador e observado levou a que, du-
rante muito tempo, as Cincias Sociais fossem acusadas de serem pouco
objetivas e, por isso, menos cientficas.
Para alm do senso comum, constituem, ainda, obstculos ao conhecimen-
to cientfico na Sociologia e na Antropologia: a iluso de transparncia do
social e as explicaes de tipo naturalista, individualista e etnocntrica.
Iluso da transparncia do social: As explicaes do senso comum es-to de tal forma presentes no nosso dia a dia que tendemos a considerar
a realidade social como clara e simples.
necessrio, no entanto, aprender a estudar o que no bvio e eviden-
te. importante que se procurem explicaes que vo alm do que nos
dado a perceber pelos outros e que ns aceitamos como sendo verdade.
Para conhecer no nos podemos ficar pelo que parece ser. Mesmo quan-
do produzem resultados semelhantes, os fenmenos sociais podem ter
Os socilogos e os antroplogos necessitam de romper com o conhecimento
do senso comum.
i
26 | A Sociologia como Cincia
-
causas diferentes e produzir diversos efeitos.
Os factos sociais surgem no nosso pensamento como sendo imediatamen-
te percebidos. Apresentam-se de tal forma transparentes e explicados
que parecem no necessitar de grande ateno para serem compreen-
didos. Como os factos sociais esto sempre muito prximos das pessoas,
estas erram ao considerar que as explicaes que j existem so claras e
que sabem tudo sobre os fenmenos sociais.
Explicaes de tipo naturalista: Existe a tendncia para explicar os fe-nmenos a partir de uma viso simples das coisas, ligadas a aspectos fsi-cos ou naturais. No entanto, as Cincias Sociais so tudo menos naturais,
dado que tudo o que constitui o seu objeto de estudo foi construdo pelo
pensamento e pela mo do ser humano.
Atividade L, com ateno, o texto seguinte:
Certas dimenses da vida, em especial as que tm forte componente de afetividade,
so aquelas que cada um de ns gosta de pensar que faz as opes verdadeiramente
livres, ditadas apenas pelos nossos sentimentos, as nossas apreciaes, os nossos va-
lores. o caso, por exemplo, da escolha do parceiro amoroso. A Sociologia mostra,
pela observao e pela explicao de regularidades sociais, como so diversas as in-
terferncias nesta escolha.
Adaptado de Almeida, J. F. (1995). Introduo Sociologia. Lisboa: Universidade Aberta.
Responde questo:
O que nos diz o texto acerca dos obstculos criao de conhecimento cientfico na
Sociologia?
Explicaes de tipo individualista: O individualismo constitui, tambm, um obstculo, pois impede-nos de ver o que coletivo nas decises que
tomamos e na nossa ao social. As aes sociais no so determinadas
pela vontade pessoal e individual de cada um, mas, antes, pelas normas
e valores existentes na sociedade. As pessoas comportam-se de acordo
com os modelos sociais dominantes, porque, caso contrrio, podem no
ser aceites pelos grupos onde esto inseridas. Apesar de os comporta-mentos serem influenciados por esses modelos, isso no significa que as
pessoas no tenham capacidade para agir sobre eles e alter-los.
Tendncia etnocntrica: Trata-se da tendncia de olhar para os outros atravs dos nossos prprios padres e tomar como normais e superiores
as nossas experincias de vida. Ao olhar para o outro desta forma tende-mos a desvalorizar tudo o que no nos familiar, classificando-o, geral-mente, como menos bom.
No entanto, a anlise objetiva da realidade social exige que nos coloque-
mos numa perspetiva de abertura a novas formas de agir e de pensar,
diferentes das nossas, mas adaptadas ao meio em que isso acontece.
Obstculos ao conhecimento cientfico na Sociologia Iluso e transparncia do social, explicaes de tipo naturalista,individualista, e etnocntrica.
i
A criao de conhecimento na Sociologia | 27
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AtividadeIdentifica os obstculos produo de conhecimento cientfico na Sociologia pre-sentes em cada uma das seguintes situaes:
A. O gosto dos rapazes por futebol natural.
B. As raparigas fazem o ikat (tecelagem tradicional) porque gostam.
C. H economias mais desenvolvidas porque os povos que habitam estas zonas gos-tam mais de trabalhar.
D. As mulheres como so mais sensveis, possuem mais capacidades para trabalhar
com pessoas doentes.
2.3Conhecimento cientfico nas Cincias Sociais na atualidade
Desde a poca moderna que a cincia passou a dominar o pensamento
ocidental. O conhecimento cientfico passou a ser reconhecido pelos as-
pectos positivos da racionalidade. Esta realidade permitiu o desenvolvi-
mento tecnolgico e, tambm, uma melhor compreenso da forma como
os fenmenos sociais surgiam e se desenvolviam nas sociedades.
No entanto, o conhecimento cientfico no trouxe apenas vantagens. Os
efeitos menos positivos da cincia surgiram, por exemplo, ao nvel da cria-
o de armas destruidoras do ambiente e do ser humano.
O progresso do conhecimento cientfico e os seus efeitos vieram alterar as
ideias dominantes sobre o que deveria ser a cincia. O desenvolvimento
das Cincias Sociais foi importante para estas alteraes.
A evoluo mais recente da cincia veio demonstrar que no possvel
eliminar, de forma definitiva, a distncia entre quem investiga e o que
investigado. Dizemos, assim, que a cincia intersubjetiva. Quer isto
dizer que ela continua a pretender atingir a objetividade, a qual est de-
pendente das caractersticas do meio social e cultural onde os estudos
cientficos so feitos. Est, tambm, dependente das opes pessoais que
o investigador tem de tomar.
Foi esta maneira da cincia se desenvolver que trouxe uma maior aber-
tura e aceitao para as Cincias Sociais. Hoje reconhecido o valor e o
contributo das Cincias Sociais para o conhecimento dos seres humanos
e das sociedades. As Cincias Sociais so consideradas como sendo to
importantes como as outras cincias.
Destruio da cidade de Hiroshima (Japo) provocada pela bomba
atmica durante a Segunda Guerra Mundial.
28 | A Sociologia como Cincia
Intersubjetivo
Forma como o conhecimento cientfico, apesar de ser objetivo, est dependente
do meio em que criado.
-
Atividade L, com ateno, o texto seguinte:
Os saberes comuns, as ideias feitas e correntes que todos ns utilizamos na vida quo-
tidiana nomeadamente aquelas que se referem s pessoas e sociedade entram
de duas maneiras na anlise sociolgica.
Por um lado, o estudo sociolgico precisa de se distanciar, de romper com as evidn-
cias que possumos. Para enfrentar os problemas de conhecimento que lhe colocam,
para procurar decifrar os diversos aspectos da realidade social, no se pode permitir
tomar, seja o que for, como certo a respeito da vida em sociedade. A anlise soci-
olgica precisa de tornar claro o que est escondido e invisvel nos fenmenos sociais,
de questionar o que parece bvio, de procurar ver alm das evidncias imediatas. Um
dos procedimentos bsicos da Sociologia a rutura com as explicaes muito simples
que circulam na sociedade a propsito dos fenmenos sociais.
Mas, por outro lado, as ideias e opinies que as pessoas tm e manifestam nas suas
relaes com os outros fazem parte, elas prprias, da realidade social. Constituem, por
isso, um dos principais temas de estudo sociolgico. A Sociologia pode recolh-las, ana-
lis-las e relacion-las com outros aspectos da vida social que podem ser muito variados.
Adaptado de Costa, A. F. (1992). O que a Sociologia. Lisboa: Difuso Cultural.
Com base na leitura do texto pensa porque que foi to importante para a Socio-logia o reconhecimento de que, em todas as cincias, o observador tem influncia sobre o observado.
RESUMO
Para compreender a Sociologia como uma disciplina cientfica impor-
tante, antes de mais, reconhecer a existncia de diversos tipos de conhe-
cimento. A este nvel temos de saber distinguir conhecimento do senso
comum e conhecimento cientfico.
O senso comum corresponde a um conjunto de ideias e de prticas acei-
tes por um dado grupo social, a partir da sua vivncia quotidiana.
A principal vantagem do senso comum a de nos permitir a adaptao
vida em sociedade. No entanto, este conhecimento tambm pode origi-
nar e reforar opinies e preconceitos menos verdadeiros.
O conhecimento que pertence ao senso comum superficial, sensitivo,
subjetivo, no sistemtico, acrtico, abrangente e generalizador.
A cincia analisa os factos de forma racional. Parte da desconfiana em rela-
o ao que mais visvel e dominante na vida dos seres humanos. Mas tam-
bm desenvolve a curiosidade pessoal e o esprito de abertura novidade.
O conhecimento cientfico objetivo, claro, preciso, metdico, verificvel,
A criao de conhecimento na Sociologia | 29
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sistemtico, geral, aberto, explicativo, preditivo e racional.
Tendo em conta os desenvolvimentos ao nvel da cincia, ao longo dos
tempos, tende a acreditar-se que o conhecimento cientfico limitado,
cumulativo e absoluto.
Quando procuramos aplicar os mtodos e as tcnicas de pesquisa cientfi-
ca a questes e problemas concretos da realidade social estamos perante
o conhecimento cientfico nas Cincias Sociais.
Existem vrios obstculos produo do conhecimento cientfico em
Cincias Sociais, nomeadamente: o senso comum, a proximidade entre
observador e observado, a que se juntam a iluso de transparncia do real
e as explicaes de tipo naturalista, individualista e etnocntrica.
Na atualidade reconhecida Sociologia a mesma cientificidade das res-
tantes cincias e para melhor compreender a realidade, tm surgido v-
rias especialidades no conhecimento sociolgico.
EXERCCIOS
A. Com base no que foste aprendendo at agora, distingue o conhecimento do senso comum do conhecimento cientfico e enumera as caractersticas de cada um destes tipos de conhecimento.
B. L com ateno o texto seguinte:
Para compreendermos o modo de funcionamento dos grupos humanos indispensvel
termos uma participao e um envolvimento ativos nas experincias humanas.
Eis o problema com que so confrontados todos aqueles que estudam um ou outro aspec-
to dos grupos humanos: como separar, evitando equvocos e contradies, as suas duas
funes, a de participante e a de investigador? Como que os socilogos, enquanto grupo
profissional, podem garantir no seu trabalho o domnio incontestado desta ltima funo?
Adaptado de Elias, N. (2000). A Neutralidade Axiolgica nas Cincias Sociais. In N. Heinich (Ed.) A Sociologia de Norbert Elias. Lisboa: Temas & Debates.
Elabora um comentrio ao texto, tendo em ateno os seguintes aspectos:
1. os obstculos produo do conhecimento cientfico nas Cincias Sociais;
2. as caractersticas da atitude cientfica.
30 | A Sociologia como Cincia
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3Metodologias de investigao em Cincias Sociais
3.1Tipos de investigao
A investigao cientfica na Sociologia tem como objetivo conhecer me-
lhor a realidade social. Procura-se dar resposta a questes colocadas por
socilogos ou a alguns pedidos de entidades pblicas ou privadas. Para
isso, recorre-se a um conjunto de instrumentos (teorias, mtodos e tcni-
cas) para criar conhecimento sobre os aspectos da realidade a estudar. A
utilizao desses instrumentos no pode ser feita de qualquer modo, ter
de obedecer a um tipo de investigao.
Como acontece noutro tipo de tarefas (por exemplo, a realizao de um
trabalho de grupo), necessrio decidir como que se deve fazer essa
tarefa. importante que as diversas atividades se encontrem combinadas
entre si e obedeam a um plano.
Uma vez que a Sociologia uma Cincia Social, os estudos que desenvolve
sobre a realidade devem ter valor cientfico. Por isso, diz-se que neces-
srio garantir a sua validade (os instrumentos utilizados devem garantir
que se atinjam sempre os mesmos resultados) e fiabilidade (os dados re-
colhidos devem corresponder realidade).
A escolha de um tipo de investigao depende:
dos objetivos da investigao, ou seja, do que interessa aos investiga-dores analisar, explicar e compreender (por exemplo, a contribuio
da educao para o desenvolvimento das sociedades);
da sua origem (a investigao da iniciativa do investigador ou resul-tou de um pedido de uma organizao?);
do pblico-alvo da investigao, isto , sobre quem feito o estudo (por exemplo, estudantes do ensino secundrio, trabalhadores agr-colas, comerciantes de produtos artesanais).
Os trabalhos de grupo, muitas vezes, so feitos sobre problemas que en-
contramos no dia a dia, dos quais, nem sempre, conhecemos as causas.
Na prtica, um trabalho de grupo um estudo de pequena dimenso.
Para este estudo deve-se definir um conjunto de procedimentos. Ao ini-
ciar o trabalho, preciso decidir sobre vrias questes como:
O que vamos fazer?
O que queremos aprender?
Como vamos fazer?
Quem nos pode ajudar?
Tipo de investigao Procedimento que facilita a explicao da realidade a ser estudada, em que a escolha, elaborao e organizao das etapas de investigao variam com a pesquisa que se pretende realizar.
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Unidade Temtica 1 | A Sociologia como Cincia
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Quanto tempo temos para a realizao do trabalho?
Que recursos temos e que materiais necessitamos?
Como vamos procurar informao?
Qual a natureza dessa informao?
Junto de quem vamos recolher a informao?
Que problemas podemos encontrar?
Deste modo, antes de iniciar o trabalho propriamente dito, necessrio
seguir um conjunto de etapas para que este seja concludo com sucesso.
a isto que se chama um tipo de investigao.
AtividadeL, com ateno, o texto seguinte:
A investigao em Cincias Sociais segue um procedimento parecido ao do pesquisa-
dor de petrleo. No perfurando ao acaso que este encontrar o que procura. Pelo
contrrio, o sucesso da pesquisa petrolfera depende das etapas seguidas. Primeiro o
estudo dos terrenos, depois a perfurao. Vrios tcnicos com competncias diferentes
participam neste estudo e perfurao. Os gelogos iro estudar as zonas geogrficas
onde maior a possibilidade de encontrar petrleo; os engenheiros iro estudar ma-
neiras de perfurar o terreno, que depois iro ser aplicadas pelos tcnicos. No se pode
exigir ao responsvel do projeto que conhea todas as tcnicas necessrias. O seu pa-
pel especfico ser o de fazer o projeto e coordenar as operaes com o mximo de co-
erncia e eficcia. ele que tem a responsabilidade de levar a bom termo a pesquisa
do petrleo. No que respeita investigao social, as etapas so semelhantes. Acima
de tudo, o investigador deve ser capaz de imaginar e de pr em prtica a maneira de
desenvolver um estudo. Isto , deve definir um mtodo de trabalho. Este nunca uma
simples soma de aplicao das tcnicas usadas para recolher e analisar a informao,
mas sim um caminho que a nossa mente inventa para cada trabalho.
Adaptado de Quivy, R. E. Campenhoudt, L. van (1992). Manual de Investigao em
Cincias Sociais. Lisboa: Gradiva.
Refere os aspectos que o texto indica como sendo importantes para desenvolver um estudo.
Existem trs tipos de investigao:
Intensiva;
Extensiva;
Investigao-ao.
Investigao intensiva
Chama-se investigao intensiva quando se pretende fazer um estudo em
profundidade. Isto , procura-se recolher o mximo de informao sobre
o tema que estamos a estudar. Obtm-se esta informao junto dos indi-
vduos sobre quem o estudo feito (habitualmente, grupos de pequena
Antes de os alunos desenvolverem um trabalho de grupo tm de planear
as atividades que vo realizar.
Tipos de investigao Intensiva
Extensiva Investigao-ao
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32 | A Sociologia como Cincia
Investigao intensiva usada em estudos em profundidade
e recorre a tcnicas que previligiam uma abordagem direta.
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dimenso). A investigao intensiva pode ser utilizada, por exemplo, para
conhecer a forma como os alunos se comportam numa escola e na sua
turma. O investigador pode contactar diretamente com os alunos, pode
fazer entrevistas e observar os seus comportamentos.
Neste tipo de investigao, o mais importante o estudo de cada caso
(uma ou vrias pessoas, instituies, aldeias, cidades, etc.). Neste estu-
do, utilizam-se, geralmente, tcnicas qualitativas. , portanto, uma forma
que se destina a tratar um tema concreto, observando todos os seus as-
pectos ao pormenor.
Vantagens Desvantagens
Permite a profundidade do estudo. Dificulta a generalizao da informa-o recolhida.
Valoriza o dia a dia das pessoas e das suas formas de falar e de se comportar.
Maior tendncia para simpatia e iden-tificao do investigador com o tema em estudo, podendo levar a uma perda de objetividade.
D ateno especificidade de cada caso.
AtividadeL, com ateno, o texto seguinte:
A investigao intensiva privilegia o contacto direto com as pessoas nos prprios s-
tios onde vivem e trabalham. Podem-se fazer entrevistas, de vrios tipos, observar
diretamente o comportamento das pessoas ou analisar documentos. O inqurito por
questionrio, ou outras tcnicas quantitativas, tambm podem ser utilizadas, mas
esta utilizao menos frequente.
Almeida, J. F. (1995). Introduo Sociologia. Lisboa: Universidade Aberta.
1. Comenta o texto.
2. Escolhe um objeto de estudo adequado a uma investigao de carter intensivo.
Investigao extensiva
A investigao diz-se extensiva quando se privilegia a quantidade de ele-
mentos recolhidos. Geralmente, utiliza-se quando o estudo envolve um
grande nmero de pessoas estudadas e quando se pretende obter res-
postas a perguntas semelhantes. Desta forma, recolhe-se o mximo de
opinies para analisar se as pessoas tm as mesmas atitudes, ou se estas
atitudes so diferentes em relao a acontecimentos na sua sociedade. A
investigao extensiva faz-se, habitualmente, com tcnicas quantitativas,
como o inqurito por questionrio.
Este tipo de investigao tem por alvo grandes populaes. Por isso, usa,
Tcnicas qualitativasInstrumentos eficazes para uma observao mais profunda dos problemas a investigar. Possibilitam uma maior compreenso de atitudes e comportamentos.
Tcnicas quantitativasMtodo de investigao social que utiliza tcnicas estatsticas. Normalmente implica a construo de inquritos por questionrio.
Investigao extensiva usada em estudos dirigidos a grupos de grande dimenso e recorre a tcnicas que privilegiam uma abordagem quantitativa.
Metodologias de investigao em Cincias Sociais | 33
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geralmente, tcnicas de amostragem. A sondagem de opinio uma tc-
nica que estuda um nmero elevado de pessoas, que pertencem a um
ou vrios grupos (por exemplo, para saber por que razo os timorenses
migram). Estas tm de ser representativas da populao, sob o ponto de
vista estatstico.
Vantagens Desvantagens
Permite o estudo de populaes numerosas e conhecer as suas caractersticas.
Superficialidade da informao recolhida.
Permite comparar os resultados e generalizar as concluses.
Dificuldade em estudar o que mais subjetivo nas opinies e atitudes das pessoas.
Permite descobrir regularidades ou padres nas prticas sociais estudadas.
Investigao-ao
Este tipo de investigao distingue-se das anteriores pela sua origem. Isto
, muitas vezes resulta de um pedido de alguma entidade, pblica ou pri-
vada, e procura solues para problemas. cada vez mais frequente a
participao de investigadores em projetos de interveno na sociedade.
Estes so trabalhos realizados em equipas, geralmente multidisciplinares,
ou seja, que integram pessoas de vrias disciplinas. Por exemplo, fazer um
estudo sobre as condies de vida das pessoas mais pobres pode envolver
socilogos, psiclogos e antroplogos. As tcnicas a utilizar so muito di-
versas, desde as extensivas s intensivas, estando, muitas vezes, limitadas
pelo tempo para fazer o projeto.
Por exemplo, vamos imaginar que pretendemos realizar um trabalho de
investigao sobre a tua escola. O primeiro passo ser definir qual o ob-
jetivo do estudo. Este determina os mtodos e tcnicas de investigao a
utilizar. Um objetivo poder ser, por exemplo, a identificao do meio fa-
miliar dos alunos da escola. Para isso, poderemos recorrer ao mtodo de
anlise extensiva, uma vez que o nmero de pessoas a inquirir elevado.
As tcnicas a utilizar podem ser o inqurito por questionrio e a entrevis-
ta. Se quisermos, estudar os mtodos de estudo dos alunos da escola, o
recurso a um mtodo de anlise intensiva seria o mais adequado para se
conhecer o problema em profundidade.
Investigao-ao
Mtodo de pesquisa em que o investigador participa ativamente,
com os investigados, na procura de solues para um determinado
problema, aplicando diretamente os conhecimentos que produz.
34 | A Sociologia como Cincia
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Atividade L, com ateno, o texto seguinte:
Foi realizado, h uns anos, um estudo junto de alunos de escolas secundrias dos dis-
tritos de Dili e Bobonaro, com o objetivo de conhecer as suas vises sobre a disciplina
de Qumica e de sua insero na sociedade. Em primeiro, foram realizados contactos
com as escolas, pblicas e privadas, para verificar o interesse e a disponibilidade dos
diretores e professores para a realizao da investigao.
Para a recolha de dados, foi elaborado e distribudo um questionrio em ttum. Par-
ticiparam neste estudo 464 alunos do 10 ao 12 anos de seis escolas secundrias (3
privadas e 3 pblicas). No entanto, para chegar a este planeamento metodolgico,
foi realizado um estudo prvio, de modo a verificar se o questionrio seria adequado.
Participaram neste teste sete alunos, que foram entrevistados em grupos, de acordo
com o ano de escolaridade.
Adaptado de Aguilar, M., Rezende, D. (2009). Vises de alunos secundaristas do Timor-
Leste sobre a presena da Qumica em suas vidas. In Encontro Nacional de Pesquisa
em Educao em Cincias. Florianpolis, 8 de novembro.
Responde s questes:
1. Analisa o texto e identifica quais os tipos de investigao utilizadas no estudo.
2. Imagina que ias colaborar na realizao de um estudo para conhecer a opinio
da populao timorense sobre a influncia do nvel de educao nos estilos de vida.
Justifica a escolha de um mtodo adequado para este estudo.
3. Se um socilogo estudar um bairro carenciado e as relaes entre os seus
moradores, e com o conhecimento adquirido tentar alterar as condies de vida,
levando-as, por exemplo, a realizar cursos de formao profissional, ter executado
que tipo de investigao? Justifica a resposta.
3.2Etapas de investigao
A investigao em Sociologia, tal como em qualquer outra cincia social,
segue um conjunto de etapas (uma metodologia). Isto significa que para
realizar uma determinada tarefa necessrio terem j sido realizadas ou-
tras tarefas. Os tipos de investigao, que vimos anteriormente, so dife-
rentes entre si. Por isso, quando temos um tema e um, ou mais, objetivos
para o nosso estudo devemos ver que tipo de investigao que vamos
usar intensiva, extensiva ou investigao-ao.
No entanto, podemos dizer que, em termos gerais, seguimos sempre ca-
minhos parecidos na organizao do estudo. A estes caminhos chamamos
etapas ou fases do estudo. Estas so as seguintes:
1. Definio do problema que queremos estudar;
2. Realizao do estudo exploratrio, para o qual vamos ler o que j foi
escrito sobre esse problema e entrevistar pessoas que sabem muito sobre
o assunto;
O projeto de investigao segue uma trajetria e composto por um conjunto de etapas.
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Metodologias de investigao em Cincias Sociais | 35
-
3. Definio de hipteses, na qual tentamos explicar possveis relaes
entre os principais conceitos do problema;
4. Seleo e a aplicao dos instrumentos de investigao, ou seja, como
que vamos recolher informao sobre o problema que vamos estudar
(pode ser um questionrio, uma entrevista ou observaes junto das
populaes);
5. Recolha de informao (distribuir os questionrios, fazer as entrevistas
ou viver com as populaes que vamos observar);
6. Anlise da informao que conseguimos recolher (interpretao da in-formao); os resultados e as concluses.
A seguir vais poder ver cada uma destas etapas, ou fases, de uma maneira
mais completa.
Definio do problema
Em primeiro lugar, temos de definir o que pretendemos estudar ou inves-
tigar. Comeamos, ento, pela definio do problema. Esta pode ser feita
atravs de uma pergunta de partida que dever ser, tanto quanto possvel,
clara (identificar o sentido exato que a investigao deve seguir), exequ-
vel (assegurar que existem todas as condies para a sua realizao) e
A pergunta de partida tem de ser formulada tendo em conta a sua clareza, exequibilidade e
pertinncia.
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36 | A Sociologia como Cincia
Estudo exploratrio
Definio do problema
RuturaEntrevistasLeituras
Definio de hipteses
Verificao
Recolha da informao
Anlise da informao
Resultado e concluses
Seleo e aplicao dos instrumento de observao
Construo
Definio do pblico-alvo
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pertinente (ser formulada da forma correta, sob pena da investigao no
ser possvel de realizar).
Desta forma, o problema poderia ser, por exemplo, o de compreender por
que razo alguns alunos faltam escola.
Atividade L, com ateno, o texto seguinte:
Exemplo de uma questo mal colocada a partir da qual seria impossvel comear:
Como melhorar a qualidade de vida na cidade? Comea-se logo por dever ques-
tionar: melhoria de vida para quem? Os critrios de qualidade de vida dependem de
inmeros fatores, a comear pela prpria definio de qualidade de vida. O que para
uns pode ser qualidade para outros pode no ser, dependendo das condies que cada
um tem. As condies de vida dos habitantes da cidade so diferentes.
Parece necessrio, ento, colocar a questo de outra forma. Pode entender-se que o
que se pretende saber o que os cidados desejariam ver melhorado na sua regio
para permitir a definio de melhores polticas.
A questo transforma-se ento. Que tipo de condies de habitao, de equipamen-
tos sociais (como jardins ou escolas), de transportes e de estradas, de equipamentos
culturais (museus, teatros, cinemas), locais de convvio, desejariam os habitantes ver
criados ou melhorados?
Adaptado de Almeida, J. F. (1995). Introduo Sociologia. Lisboa: Universidade Aberta.
Identifica os cuidados a ter na definio do problema de partida.
Estudo exploratrio
Aps a definio do problema, comeamos a recolher informao para o
compreendermos melhor e explic-lo, ou seja, a realizar um estudo ex-
ploratrio. A informao recolhida pode ser muito variada: dados estats-
ticos, outros estudos j feitos sobre o mesmo assunto ou um assunto pa-
recido, etc. Comeamos, tambm, a fazer os primeiros contactos diretos
com algumas pessoas que conhecem o assunto (especialistas ou outras
pessoas que tm um grande conhecimento sobre o assunto que estamos
a estudar). A conversa com estas pessoas ajuda-nos a tornar mais comple-
ta a informao que j temos das leituras feitas. Atravs das entrevistas
a essas pessoas, da leitura de textos e outras informaes consideradas
teis, o investigador comea a juntar os dados necessrios para fazer o
seu estudo.
Continuando com o exemplo do estudo sobre as faltas dos alunos esco-
la, nesta fase, seria importante fazer leituras sobre este tema e analisar os
dados, disponveis nas escolas, sobre as faltas. Para se perceber melhor
este tema, podiam ser realizadas algumas entrevistas aos diretores da es-
cola, aos professores e aos prprios alunos.
O estudo exploratrio realizado com a finalidade de recolher informaes sobre o tema em anlise para melhor adequar o instrumento de medida realidade em estudo.
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Metodologias de investigao em Cincias Sociais | 37
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Definio de hipteses
Com o conhecimento adquirido na fase anterior, passa-se definio das
hipteses. As hipteses so explicaes que comeamos a imaginar para
resolver o problema do nosso estudo. Nesta etapa, recorre-se aos conhe-
cimentos tericos j existentes, de modo a definir os conceitos relacio-
nados com o tema de investigao. Fazemos o estudo para ver se as hi-
pteses que imaginmos estavam certas ou erradas. E nas concluses do
estudo vamos responder a isso e explicar quais as razes porque estavam
certas ou erradas.
Em relao ao problema da falta dos alunos escola, h que clarificar
quais os conceitos que esto associados a este problema (idade, sexo, lo-
calizao da escola?). Seria interessante analisar se existe alguma relao
entre a localizao da escola e as faltas dos alunos. Neste caso a hiptese
do estudo seria que a localizao da escola influencia o nmero de faltas
que os alunos do.
Atividade L, com ateno, o texto seguinte:
A investigao exploratria, ou estudo exploratrio, tem por objetivo conhecer o pro-
blema em estudo, o seu significado e o contexto em que este se insere. Pressupe-
-se que o comportamento humano melhor compreendido no contexto social onde
ocorre. realizado durante a fase de planeamento da pesquisa e destina-se a obter
informao acerca do tema em estudo. A investigao exploratria leva o investiga-
dor, frequentemente, descoberta de temas novos para ele, contribuindo para que o
seu prprio modo de pensar seja modificado. Isto significa que ele, progressivamente,
vai adaptando as suas atitudes atitude dos entrevistados.
Adaptado de Piovesan, A., Temporini, E. R. (1995). Pesquisa exploratria: Procedimen-
to metodolgico para o estudo de fatores humanos no campo da sade pblica. Revis-
ta de Sade Pblica, 29 (4), pp. 318-325.
Identifica as vantagens da realizao do estudo exploratrio.
Definio do pblico-alvo
Pblico-alvo designa o conjunto de pessoas sobre as quais se faz o estu-
do, podendo ser, por exemplo, estudantes, professores, agricultores ou
artesos. Designamos por universo, ou populao, a totalidade das pes-
soas que constituem o nosso pblico-alvo. Neste exemplo, o universo diz
respeito a todos os estudantes, professores, agricultores e artesos. Fa-
cilmente se verifica que constitudo por um nmero muito elevado. Por
isso tem de ser definida uma amostra, constituda por menos pessoas, mas
representativa da totalidade, para se poder fazer um estudo mais vlido.
Pblico-alvoConjunto de pessoas sobre os quais
assenta a investigao.
UniversoNmero total de pessoas que fazem
parte do pblico-alvo.
AmostraSubconjunto representativo do
universo em estudo, ou seja, com as mesmas caractersticas deste.
A definio de hipteses permite a clarificao do
problema que se pretende estudar, e a definio da
relao que se prev existir entre os conceitos usados com
o fenmeno a estudar.
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38 | A Sociologia como Cincia
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Seleo e aplicao dos instrumentos de observao
Uma vez clarificado o problema de investigao, definidas as hipteses
e o pblico-alvo, inicia-se a recolha da informao. Aqui tem de haver
uma deciso sobre os instrumentos de observao a utilizar. Nesta etapa
da investigao, j possvel saber se se trata de um estudo extensivo,
intensivo, ou de uma investigao-ao. Deve-se, portanto, escolher os
instrumentos de observao adequados ao tema da investigao e ver o
tempo que se tem para fazer o estudo.
Mas qual ser ento a melhor maneira de recolher informao? A recolha
encontra-se dependente do tema do estudo e da maneira como se pensa
organiz-lo (tipo de investigao). Geralmente, se a populao a estudar
for numerosa, aconselhvel a utilizao de tcnicas quantitativas (por
exemplo, o inqurito por questionrio). Se o estudo pequeno, melhor
que ele seja de tipo intensivo (por exemplo, as entrevistas).
No exemplo das faltas escola, se o nmero de alunos de uma escola for
relativamente elevado, ser melhor construir uma amostra representa-
tiva, recolhendo informao apenas sobre um certo nmero de alunos,
por exemplo 10%. Se, pelo contrrio, o nmero de alunos for reduzido,
melhor fazer perguntas a todos.
Anlise da informao recolhida
A etapa de anlise da informao recolhida destina-se a verificar se os da-
dos correspondem s hipteses formuladas. A isto chama-se verificao
emprica. No exemplo atrs referido, para esta fase, poder-se-ia utilizar o
tratamento estatstico do questionrio.
Resultados e concluses
Os resultados e as concluses de um estudo podem ser apresentados, na
sua forma escrita, em livro, relatrio, artigo, documento de trabalho, etc.
Atividade
Imagina que vais realizar um estudo sobre a importncia das tradies para os jovens timorenses.
1. Identifica os procedimentos a seguir no estudo exploratrio.
2. Define hipteses de trabalho possveis.
3. Seleciona os instrumentos de observao.
Os resultados de estudos feitos na Sociologia so, por vezes, divulgados nos jornais.
A seleo dos instrumentos de observao influenciada pelo objeto e pela estratgia de investigao.
i
A utilizao de diversas tcnicas de anlise de dados permite a confirmao ou negao das hipteses formuladas, permitindo retirar algumas concluses.
i
As concluses podem ser apresentadas sob a forma de livro, relatrio, artigo, tese, dissertao, documento de trabalho, etc.
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Metodologias de investigao em Cincias Sociais | 39
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3.3Tcnicas de investigao em Cincias Sociais
Existe um conjunto de tcnicas de investigao, de entre as quais o inves-
tigador pode escolher a(s) melhor(es) para o seu estudo. Estas tcnicas
dividem-se em dois grandes grupos: tcnicas documentais e tcnicas no
documentais. Ou seja, existem duas maneiras para obter informao so-
bre a realidade a estudar: partir da documentao j existente ou partir
da observao dos fenmenos a estudar.
Tcnicas documentais
A pesquisa documental pode ser feita de vrias maneiras. Os documen-
tos importantes para um estudo so muito variados. Estes documentos
podem ser documentos escritos (arquivos pblicos ou privados, docu-
mentos oficiais, estatsticas, imprensa, publicidade, obras literrias, etc.)
ou documentos no escritos (imagens e sons: cinema, rdio, televiso,
gravaes, fotografia, pintura, desenhos, esculturas, etc.). Desta forma,
o investigador, ao iniciar um estudo, deve procurar reunir a informao
j existente relacionada com o que se est a estudar, utilizando para isso
uma variedade de fontes (escritas, orais, factuais).
A anlise de contedo a tcnica mais usada na anlise de documentos
e textos. Esta tcnica, muito utilizada em Cincias Sociais, permite ver os
aspectos e as ideias mais importantes de um documento ou de uma en-
trevista. A anlise de contedo pode ser realizada de diferentes formas:
quantificar a repetio de ideias (contando o nmero de vezes que estes
aparecem num texto) e selecionar partes de um texto para poderem ser
interpretadas por quem est a fazer o estudo.
40 | A Sociologia como Cincia
Exemplo de um documento escrito: o relatrio elaborado pela Comisso de
Acolhimento,