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2 Transformadores monofásicos 2.1 Introdução A bordo de navios mercantes encontramos várias aplicações de transformadores, tais como: transformadores de serviço que atendem aos sistemas elétricos cuja tensão de alimentação seja diferente da tensão de saída do gerador; transformadores monofásicos, componentes das fontes de alimentação de componentes eletrônicos; transformadores de ignição das caldeiras; autotransformadores das chaves de partida compensadas; transformadores de corrente e transformadores de potencial que alimentam os medidores de parâmetros elétricos e dispositivos de proteção dos grupos geradores e outros. 2.2 Transformador monofásico Vamos inicialmente estudar o transformador monofásico, com ênfase no de dois enrolamentos. Posteriormente abordaremos o transformador trifásico. 2.3 Transformador elementar O transformador é um equipamento utilizado para elevar ou reduzir tensões, tendo como princípio de funcionamento a indução mútua entre dois ou mais enrolamentos. Um transformador bàsicamente é constituído por um enrolamento primário, definido como aquele em que aplicamos a tensão de entrada; um enrolamento secundário, definido como aquele em que obtemos a tensão de saída; e um caminho para o fluxo magnético denominado núcleo, formado por material laminado,de alta permeabilidade magnética, que é o grande responsável pela transformação, conforme ilustrado na figura 7.

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2 Transformadores monofásicos

2.1 Introdução

A bordo de navios mercantes encontramos várias aplicações de

transformadores, tais como: transformadores de serviço que atendem aos sistemas

elétricos cuja tensão de alimentação seja diferente da tensão de saída do gerador;

transformadores monofásicos, componentes das fontes de alimentação de

componentes eletrônicos; transformadores de ignição das caldeiras;

autotransformadores das chaves de partida compensadas; transformadores de

corrente e transformadores de potencial que alimentam os medidores de parâmetros

elétricos e dispositivos de proteção dos grupos geradores e outros.

2.2 Transformador monofásico

Vamos inicialmente estudar o transformador monofásico, com ênfase no de

dois enrolamentos. Posteriormente abordaremos o transformador trifásico.

2.3 Transformador elementar

O transformador é um equipamento utilizado para elevar ou reduzir tensões,

tendo como princípio de funcionamento a indução mútua entre dois ou mais

enrolamentos.

Um transformador bàsicamente é constituído por um enrolamento primário,

definido como aquele em que aplicamos a tensão de entrada; um enrolamento

secundário, definido como aquele em que obtemos a tensão de saída; e um caminho

para o fluxo magnético denominado núcleo, formado por material laminado,de alta

permeabilidade magnética, que é o grande responsável pela transformação,

conforme ilustrado na figura 7.

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Figura 7- Tansformador elementar

2.4 Funcionamento do transformador

Conforme mencionado anteriormente, o funcionamento do transformador

baseia-se nos fundamentos do eletromagnetismo, especificamente na Lei de

indução de Faraday. Verifica-se que, ao movimentar um campo magnético diante de

um condutor, surge uma corrente induzida. Em outras palavras, poderíamos dizer

que um campo magnético variável produz um fluxo magnético variável, responsável

pela tensão induzida.

Observamos na figura 3 que o primário e o secundário são duas bobinas

isoladas uma da outra, porém, envolvendo um núcleo comum. Ao alimentar-se o

primário ou o secundário com sua respectiva tensão nominal, obteremos um fluxo

magnético no núcleo de ferro.

Se a fonte utilizada para a alimentação do primário, por exemplo, for de

corrente contínua, não teremos uma transformação de tensão constante no

secundário, pois o fluxo magnético gerado pela corrente contínua não é variável ao

longo do tempo.

Sendo o primário alimentado com tensão alternada, ele produzirá um fluxo

magnético variável, já que a corrente alternada oscila em 60 Hz. Esse fluxo

magnético variável percorrerá o núcleo de ferro, atingindo o secundário, provocando

o surgimento de uma tensão alternada nesse enrolamento, consequência da

indução magnética. A tensão que aparece no secundário, consequência da ação do

fluxo magnético variável gerado pelo primário recebe o nome de tensão induzida. A

tensão induzida é sempre proporcional ao número de espiras da bobina e de acordo

com a indução magnética que a provocou, podendo ser calculada pela relação de

transformação a seguir:

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Figura 8 - Princípio de funcionamento do transformador

E1/E2= N1/N2 (1), sendo:

E1= Tensão no primário;

E2= Tensão no secundário;

N1= Número de espiras do primário;

N2= Número de espiras no secundário.

Sabe-se que o transformador é a máquina elétrica de maior rendimento, pelo

fato de ser uma máquina estática, sendo suas perdas no cobre e no ferro bastante

reduzidas. Assim sendo, podemos considerar que no transformador ideal a potência

aparente do lado primário(S1) é igual à potência aparente do lado secundário(S2),

ou seja:

S1=S2

ou

E1.I1=E2.I2

E1/E2=I2/I1 (2), sendo:

I1= Corrente primária;

I2= Corrente secundária.

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Reunindo as equações (1) e (2), obteremos a equação fundamental dos

transformadores:

V1/V2=I2/I1=N1/N2

Analisando a equação fundamental, concluímos que quanto maior o número de

espiras, maior será a tensão e menor a corrente e, quanto menor o número de

espiras, menor será a tensão e maior a corrente.

É bom ressaltar que o transformador não funciona em corrente contínua, pois

seu princípio de funcionamento é baseado na variação de um fluxo magnético,

portanto é preciso alimentá-lo com C.A.

2.5 Perdas no transformador

Como mencionamos anteriormente, as perdas são mínimas em um

transformador, entretanto, elas são as responsáveis pelo rendimento um pouco

abaixo dos 100%. Estas perdas são denominadas perdas no cobre e perdas no

ferro.

As perdas no cobre são devidas às resistências ôhmicas dos enrolamentos

primário e secundário que são constituídos por fios condutores de cobre esmaltado.

A resistência total das bobinas, sob a influência de uma corrente elétrica é aquecida,

e este aquecimento significa potência desperdiçada. Para reduzir estas perdas. os

enrolamentos poderão estar imersos em óleo mineral isolante, no caso de

transformadores de distribuição e potência, ou, em ambientes refrigerados, em

contado com o meio ambiente, no caso de transformadores a seco. Os

transformadores de serviço utilizados em navios mercantes são do tipo a seco.

As perdas no ferro ou por correntes parasitas são devido à ação do fluxo

magnético variável no núcleo do transformador ao ser induzido no mesmo uma

tensão e, como o núcleo forma um circuito fechado, surgirá no mesmo uma corrente

elétrica que produzirá um campo magnético em oposição ao campo que deu origem

a esta corrente, ocasionando perda de rendimento e aquecimento.

Para minimizar os efeitos das correntes parasitas, não se deve utilizar um

núcleo de material ferromagnético maciço em um transformador. Na construção do

núcleo são utilizadas chapas de material ferromagnético, de espessura reduzida,

isoladas eletricamente uma das outras e justapostas, formando um bloco compacto.

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Por estarem isoladas eletricamente, não facilitam a circulação das correntes

parasitas, reduzindo o aquecimento e a influência negativa do campo magnético.

Você já observou que o núcleo dos transformadores e a parte interna dos motores

elétricos são fabricados com material laminado e não maciço?

Abaixo apresentamos diversos tipos de transformadores monofásicos utilizados

em diversos equipamentos de um navio mercante.

Figura 9 - Transformadores monofásicos

Fonte: www.wisetransformadores.com.br

Figura 10 - Transformadores monofásicos

Page 6: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Fonte: www.wisetransformadores.com.br

Figura 11 – Transformadores monofásicos

Fonte: www.wisetransformadores.com.br

Figura 12 - Transformadores monofásicos

Fonte: www.wisetransformadores.com.br

2.6 Polarização dos transformadores

Sabemos que dois ou mais indutores podem ser ligados, em série, de duas

formas distintas: série aditiva e série subtrativa. Na ligação em série aditiva, há um

reforço nos campos magnéticos criados em cada indutor, ao ser percorrido por

corrente elétrica; na ligação em série subtrativa, há um enfraquecimento entre os

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campos magnéticos de cada indutor.

A polaridade de um indutor é definida pelos sentidos de enrolamento e do fluxo

de corrente elétrica, conforme mostram as figuras 13 e 14.

Figura 13 - Polaridade de um indutor

Fonte:Física História & Cotidiano, Bonjorno & Clinton

Figura 14 - Regra da mão direita

Fonte:Física História & Cotidiano, Bonjorno & Clinton

Observe que na figura 13, o sentido de enrolamento é da frente para trás; e na

figura 14 é o inverso, sendo que em ambos os casos, o sentido de corrente é o

mesmo. A regra prática para a determinação da polaridade de um indutor é bastante

simples; estendendo a mão direita, a parte interna (palma) estará orientada no

sentido de como o condutor foi enrolado e as pontas dos quatro dedos (do indicador

ao mínimo) estarão orientadas no sentido da corrente elétrica. O quinto dedo, ou

seja, o polegar definirá a posição do polo norte. Observe atentamente a figura 15 e

aplique a regra da mão direita e confirme as respectivas polaridades.

Page 8: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Figura 15 - Regra da mão direita

Fonte:cwx.prenhall.com

Em um transformador, as bobinas ou enrolamentos nada mais são que

indutores que devem ser ligados em série aditiva, para que haja um reforço dos

campos magnéticos. Portanto, os enrolamentos que compõem o lado de alta-tensão

devem obedecer à regra da polarização aditiva; o mesmo critério deve ser

obedecido para os enrolamentos que compõem o lado de baixa-tensão.

Na prática, a polarização de um transformador é definida através de dois

métodos: Golpe Indutivo e Polarização em A.C. Tais métodos são complexos,

requerem instrumentos especiais e possibilitam riscos de descargas perigosas

durante os ensaios.

O Golpe Indutivo é mais simples e rápido de polarizar um transformador e é

aplicado separadamente em cada um dos três enrolamentos que formam o

transformador trifásico: consiste em aplicar uma tensão C.C. no primário e observar

a resposta em um galvanômetro conectado no secundário. A polaridade estará

correta quando o mesmo padrão de resposta for obtido para os três enrolamentos

que serão identificados de acordo com esta resposta.

O método de polarização em A.C. é mais complexo e trabalhoso, porém, exige

menos instrumentos e recursos de bancada, bastando uma fonte A.C. ajustável:

consiste em alimentar um dos enrolamentos com tensão reduzida e ligar os outros

enrolamentos em série até que tenhamos a soma das tensões de cada enrolamento.

A cada etapa, marcamos os terminais dos enrolamentos já polarizados.

Os transformadores são entregues pelos fabricantes com todos os

enrolamentos identificados e polaridades definidas. A placa de identificação do

transformador contém todas as orientações do fabricante para efetuar as ligações

desejadas. É importante manter visível a placa de identificação de um

transformador.

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2.7 Autotransformadores

Os autotransformadores são transformadores especiais, que possuem um

único enrolamento com várias derivações denominadas de TAP’s, como pode ser

visto na figura16.

Figura 16 - Autotransformador

Fonte: www.wisetransformadores.com.br

A aplicação de autotransformadores é indicada quando não se tem

necessidade de isolação elétrica entre primário e secundário, e a redução de tensão

não ultrapassa 50% da tensão primária, como, por exemplo, o autotransformador

trifásico utilizado em sistemas de compensação de partida de motores elétricos,

denominadas chaves compensadoras, que possuem tap’s de 50%, 65% e 85% da

tensão de entrada, muito utilizado em navios, como

ilustra a figura 17.

Page 10: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Figura 17- Chave compensadora

Fonte: www.wisetransformadores.com.br

2.8 Transformador de potencial

Os transformadores de potencial, conhecidos como TP’s, são utilizados para

alimentar as bobinas de potencial de instrumentos de medição e instrumentos de

proteção em sistemas de potência, conforme figura 18.

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Figura 18 - Transformadores de potencial

Fonte:Siemens

Os TP’s possuem como característica principal a tensão secundária de 115V,

sendo a tensão primária de valores elevadíssimos. Tomando como exemplo o

sistema de distribuição de energia de uma Concessionária, em que a tensão

primária seja de 13800 volts, e que se deseja medir o nível de tensão em um painel

de comando. É evidente que não podemos instalar um voltímetro que meça

diretamente os 13800 volts. O TP, neste caso, participa do sistema de medição

reduzindo o nível de tensão para ser aplicado ao voltímetro, de 13800V para 115V.

O transformador de potencial também pode ser utilizado para acionar as

bobinas de acionamento de disjuntores de alta tensão, pois é inviável comandá-los

em tensões elevadas.

Em navios mercantes, onde a tensão gerada é de 440 volts, os sistemas de

medição e de proteção são alimentados com TP’s de relação 440/115 volts.

2.9 Transformador de corrente

Os transformadores de corrente, conhecidos como TC’s, igualmente como os

TP’s, também são utilizados para alimentar instrumentos de medição e instrumentos

de proteção, sendo entretanto, conectados nas bobinas de corrente de tais

equipamentos. A figura 19 mostra transformadores de corrente.

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Figura 19 - Transformadores de corrente

Fonte:Siemens

Como característica principal, a corrente secundária de um TC é de 5A, sendo

a corrente primária determinada pelo barramento ou condutor elétrico envolvido pelo

mesmo.

Em navios mercantes, os TC’s são bastante empregados. Suponhamos que um

navio graneleiro seja alimentado por um gerador de 950KVA-440Volts, e no quadro

elétrico esteja instalado um medidor de potência ativa,denominado wattímetro. A

corrente nominal do gerador é de 1248A, corrente esta que danificaria as bobinas de

corrente do medidor.

Para eliminar este inconveniente, o medidor será alimentado por um TC de

relação 1250/5A, pois não são fabricados TC’s de relação 1248/5A.

O secundário de um TC, quando energizado, nunca deve ficar em aberto, pois

uma elevadíssima tensão será induzida em seus terminais, podendo ser fatal.

Portanto, em um TC instalado, quando não estiver alimentando um medidor ou um

relé, seus terminais deverão ser curto-circuitados.

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3 Transformadores trifásicos

3.1 Introdução

A bordo de navios são bastante utilizados transformadores de serviço, a seco, para

eliminar riscos de explosão; de emprego ecològicamente corretos, possuindo três

enrolamentos no primário e três enrolamentos no secundário.

Tais transformadores são os chamados trifásicos, com amplo emprego na indústria e

sistemas de distribuição. Nos navios, os transformadores trifásicos são utilizados para

alimentar cargas cujas tensões nominais são menores que 440volts, que é a tensão

padrão.Iremos abordar os seus aspectos construtivos mais importantes, tipos de

ligações e aplicações. A figura 20 mostra-nos o transformador de serviço de um navio.

Figura 20 - Transformador trifásico de serviço

Fonte navio Itaperuna

3.2 Aspectos construtivos

Basicamente os transformadores trifásicos são constituídos por um conjunto de

três transformadores monofásicos, conforme a figura 21.

Page 14: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Figura 21- Transformador trifásico constituído por três monofásicos

Os transformadores trifásicos, por serem constituídos por três transformadores

monofásicos que compartilham um núcleo comum de material ferromagnético, que

possuem as mesmas características construtivas, número de espiras, seção dos

condutores e potência, sendo correto afirmar que a potência de uma unidade trifásica é

três vezes a de uma unidade monofásica, ou seja:

S3ø=3.S1Ø, onde:

S3ø=Potência aparente do transformador trifásico

S1Ø= Potência aparente do transformador monofásico

Existem diversos tipos de transformadores trifásicos, conforme mostram as figuras

abaixo. Em todos os tipos construtivos de transformadores trifásicos há a necessidade

de dissipação do calor produzido pelo equipamento em operação.Em transformadores

trifásicos de médio e grande portes, geralmente os enrolamentos permanecem imersos

em óleo mineral isolante que está em contato com as aletas externas, melhorando a

dissipação de calor. Transformadores menores, tais como os utilizados em navios

mercantes, possuem seus enrolamentos em contato com o ar, que é suficiente para

dissipar o calor gerado.

Como observação, informamos que a restrição ao uso de transformadores a óleo

em navios, é devido à possibilidade de explosão por centelhamento nas espiras, em

virtude de acúmulo de gases inflamáveis no óleo isolante.

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Figura 22 - Transformador trifásico de potência

Fonte: www.wisetransformadores.com.br

Figura 23 - Transformador trifásico de distribuição.

Fonte: www.wisetransformadores.com.br

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Figura 24 - Transformador trifásico a seco

Fonte: www.wisetransformadores.com.br

Normalmente os transformadores trifásicos possuem uma caixa de ligação ou

bornes em que podemos efetuar as ligações e conexões. Para identificar os terminais

primários, é utilizada a letra H seguida do número do terminal, e, para identificar os

terminais secundários, é utilizada a letra X, também seguida do número do terminal.

Em transformadores de alta e média tensão, os bornes de ligação são sustentados por

isoladores que os mantêm a uma distância adequada da carcaça do transformador,

conforme a figura 13.

.

Figura 25 - Bornes de ligações de um transformador

Fonte: www.wisetransformadores.com.br

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3.3 Tipos de ligações de um transformador trifásico

Os transformadores trifásicos possuem enrolamentos primário e secundário

preparados para serem ligados, de acordo com o esquema de ligações fornecido pelo

fabricante. Os esquemas de ligações do fabricante trazem a identificação dos terminais

de alta e de baixa-tensão com as letras H e X respectivamente, e, as bobinas das fases

são identificadas com a numeração normalizada:

Fase R (1,4)/ (7,10)

Fase S (2,5)/(8,11)

Fase T (3,6)/(9,12)

Em em circuitos trifásicos temos dois tipos básicos de ligações: estrela e

triângulo. Os transformadores trifásicos de distribuição geralmente possuem ligação

triângulo no lado de alta-tensão e estrela no lado de baixa-tensão. A figura 26 ilustra o

fechamento de um transformador trifásico de distribuição de seis terminais.

Figura 26 - Tipos de ligações trifásicas para 6 terminais

A figura 27 ilustra os possíveis fechamentos de um transformador trifásico de

distribuição de 12 terminais.

Page 18: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Figura 27 - Tipos de ligações trifásicas para 12 terminais

Observe que o ponto comum das ligações estrela dos secundários é representado

por X0 e corresponde ao neutro do transformador.

3.4 Placa de Identificação de um transformador trifásico

Nos transformadores trifásicos, o fabricante deverá fornecer os dados nominais

em uma placa de identificação que deverá estar fixada em um ponto de fácil

visualização, contendo as seguintes informações:

1- Potência nominal em KVA;

2- Tensão nominal primária em KV;

3- Tensão nominal secundária em KV;

4- Corrente nominal primária em ampère. (A);

5- Corrente nominal secundária em ampère (A);

6- Freqüência nominal em Hertz (Hz);

7- Impedância percentual (Z%).

A figura 28 mostra a locação de transformadores de serviço instalados em um navio.

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Figura 28 - Locação de transformadores de serviço

Fonte: navio Itaperuna.

3.5 Perdas em um transformador Um transformador, além das perdas devido às correntes parasitas, possui outras perdas. A primeira que veremos é em função do enrolamento das bobinas. Como as bobinas são feitas de fio de cobre esmaltado e esse fio possui certa resistência ôhmica, é correto afirmar que a resistência total de uma bobina, sob influência de uma corrente elétrica, provoque aquecimento e isto significa potência desperdiçada. Essas perdas são denominadas de perdas no cobre. Outra perda no transformador está relacionada à histerese magnética. Ela provoca o atraso entre o campo magnético e a indução magnética. Como esta perda está relacionada com a qualidade do material utilizado na montagem do núcleo, ela é chamada de perda no ferro. As perdas no cobre e no ferro serão determinadas através de experiências que estudaremos na unidade de ensino 5. 3.6 Rendimento de um transformador Através das perdas no cobre e no ferro, determinadas através dos ensaios de curto circuito e de circuito aberto, que veremos na unidade de ensino 5, é determinado o rendimento de um transformador.

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6 Geradores de corrente alternada

6.1 Introdução

Os geradores de corrente alternada, também denominados de geradores

síncronos ou alternadores, são os responsáveis pela geração de energia

elétrica nos navios mercantes, portanto, de grande importância o estudo

dessas máquinas elétricas girantes.

Em um navio encontram-se instalados pelo menos três geradores síncronos,

sendo dois localizados na praça de máquinas, denominados de geradores

principais, e um no convés superior, denominado gerador de emergência. A

figura 59 mostra um gerador síncrono instalado em um navio mercante e a

figura 60 mostra seu respectivo painel elétrico, localizado no QEP (Quadro

Elétrico Principal).

Figura 59 - Gerador síncrono

Fonte: navio Itaperuna.

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Figura 60 - Painel do gerador síncrono

Fonte: navio Itaperuna.

Estas máquinas, juntamente com uma máquina primária acoplada ao seu

eixo, convertem energia mecânica em elétrica, através do movimento relativo

entre campo magnético e condutores elétricos.

O gerador elementar foi inventado na Inglaterra, em 1831 pelo físico

Michael Faraday. Este gerador elementar consistia basicamente por um ímã

que se movimentava no interior de uma espira, ou vice-versa, provocando o

aparecimento de uma força eletromotriz induzida(fem) na espira, registrado em

um galvanômetro, conforme mostra a figura 61.

Page 22: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Figura 61 - Lei de Faraday

Fonte: Acervo Saber

Observe que é necessário o movimento relativo entre campo magnético e

espira. Nos geradores utilizados em instalações marítimas, o condutor é fixo e

o campo é móvel, por razões que abordaremos posteriormente.

6.2 Princípio de funcionamento

Como citado anteriormente, a função de um gerador síncrono é a conversão

de energia mecânica em elétrica. Com finalidades didáticas, no estudo do

princípio de funcionamento iremos considerar inicialmente uma espira imersa

em um campo magnético produzido por um ímã permanente, conforme

mostrado na figura 62.

Page 23: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Figura 62 - Gerador elementar

Fonte: Acervo Saber.

Os terminais da espira são conectados a dois anéis ligados ao circuito

externo (carga) através de escovas de grafite. Este tipo de gerador é de

armadura móvel e de campo fixo.

Admitindo-se que a espira (bobina) se movimenta com velocidade uniforme

v, no sentido horário, no interior do campo magnético B, também uniforme.

Segundo a Lei de Indução de Faraday, o valor instantâneo da f.e.m. induzida

no condutor em movimento de rotação é determinado por:

E= B.l.v.senΦ ( Volts), onde:

E é a força eletromotriz induzida na armadura;

B é a indução do campo magnético;

l é o comprimento do condutor;

v é a velocidade linear; e

Φ é o ângulo formado entre B e v.

No gerador prático, a armadura é composta de n espiras, logo:

E=n.B.l.v.senΦ ( Volts).

Observe na figura 51, que o campo magnético é formado por um eletroímã

constituído por sapatas polares de material de alta permeabilidade magnética e

uma bobina que é alimentada por uma fonte de corrente contínua, necessária

para manter as polaridades magnéticas fixas. No gerador prático, a

alimentação do campo magnético com corrente contínua vem do próprio

gerador, através de um sistema de excitação denominado Regulador

Automático de Voltagem(AVR), conforme veremos posteriormente.

A variação da f.e.m. induzida no condutor, em função do tempo, é

determinada pela lei da distribuição da indução magnética sob um par de

polos. Esta distribuição tem um caráter complexo e depende da forma

Page 24: Sistemas Eletricos Maritimos 1

geométrica da sapata polar. Com um “designer” conveniente das peças

polares, poderemos obter uma distribuição senoidal de induções. Nesta

condição, a f.e.m. induzida no condutor também varia com o tempo sob uma

forma senoidal.

A figura 63 mostra somente um lado da bobina imersa no campo

magnético, em 12 posições diferentes, estando cada posição separada uma da

outra de 30º. A figura 64 mostra as tensões correspondentes a cada uma das

posições.

Figura 63 - Bobina imersa em campo magnético

Fonte: Acervo Saber.

Figura 64 - Forma de onda da tensão gerada

Page 25: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Fonte: Acervo Saber.

Nos geradores de capacidades elevadas, como é o caso de navios, é

utilizado o tipo construtivo em que o campo magnético é móvel. Neste caso, a

tensão de armadura é retirada diretamente, sem necessitar escovas. A

potência de excitação destes geradores normalmente é inferior a 5% da

potência nominal de saída; por este motivo, o tipo de armadura fixa , ou campo

girante, é o mais utilizado.Você já imaginou as dimensões das escovas

necessárias para retirar uma corrente de intensidade de 1000A de uma

armadura girante?

A figura 65 mostra um corte transversal de um alternador elementar de

armadura fixa.

Figura 65 - Corte transversal do gerador elementar

Fonte: Acervo Saber.

6.3 Frequência da tensão induzida em um alternador

Em um gerador elementar, a cada giro da espira teremos um ciclo completo

da tensão gerada. Na prática, as peças polares são construídas com um

número maior de pares de polos magnéticos que se distribuirão

alternadamente. Neste caso, o ciclo se completa a cada par de polos.

Considerando “N” a velocidade da máquina primária em RPM e “F” a

frequência da tensão induzida em ciclos por segundo(Hertz), teremos:

F= (NxP)/120 ( Hertz)

Page 26: Sistemas Eletricos Maritimos 1

As frequencias mundialmente padronizadas na geração de tensões elétricas

são nos valores de 50 Hz e 60 Hz. No Brasil, adota-se a frequência de 60 Hz. A

tabela 2 mostra as velocidades síncronas das máquinas primárias para as

freqüências e número de polos utilizados na prática.

Tabela 2

6.4 Componentes de um gerador síncrono

Os alternadores bàsicamente possuem uma parte fixa denominada estator e

uma móvel denominada rotor. Na parte estática estão localizados os

enrolamentos ou bobinas do induzido(armadura), alojados nas ranhuras de um

núcleo de ferro. Na parte móvel, encontram-se localizadas as peças polares ou

sapatas,constituídas por material ferromagnético de alta permeabilidade

magnética,envolvidas pelo enrolamento ou bobina de campo,cujas

extremidades são ligadas a dois anéis coletores que recebem, através de

escovas, corrente contínua de uma fonte externa ou do próprio induzido,

conforme veremos posteriormente.

Page 27: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Dependendo do tipo de excitação utilizado, temos os TC’s, retificador

trifásico, regulador automático de voltagem(AVR), excitatriz principal, excitatriz

auxiliar e alternador auxiliar. A figura 66 mostra os componentes de um gerador

síncrono.

Figura 66 - Componentes de um gerador síncrono

Fonte: WEG

6.5 Tipos construtivos do campo magnético

Os geradores síncronos podem ser construídos com rotores de polos lisos

(cilíndricos) ou polos salientes, dependendo da velocidade da máquina

primária.

O rotor de polos cilíndricos possui o entreferro uniforme ao longo de toda a

periferia do núcleo de ferro, podendo ser acionado em velocidades superiores a

1800 r.p.m., sem que os condutores possam romper por ação da força

centrífuga, pois os mesmos estão firmemente alojados nas ranhuras do núcleo

de ferro. A figura 67 mostra um rotor de polos lisos.

Page 28: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Figura 67 - Rotor de polos cilíndricos

Fonte: WEG.

Os rotores de polos salientes apresentam uma descontinuidade no

entreferro ao longo da periferia do núcleo de ferro, formando as denominadas

regiões interpolares, onde o entreferro é extenso, tornando visível a saliência

dos polos. Neste tipo de rotor, os condutores situados nas saliências estão

submetidos à ação considerável da força centrífuga, podendo romper. Por este

motivo, este tipo construtivo de rotor não é utilizado em alternadores acionados

em velocidades acima de1800 r.p.m. A figura 68 mostra um rotor de polos

salientes.

Figura 68 - Rotor de polos salientes

Fonte: WEG.

Page 29: Sistemas Eletricos Maritimos 1

6.6 Tipos de geradores quanto à natureza da máquina motriz

Quanto ao tipo de acionamentos, os geradores são classificados em:

a) grupo diesel: são geradores acionados por motores diesel com potências

nominais de até 1500KVA, rotação até 1800 r.p.m,IV polos, tensões nominais

de 220V, 380V ou 440V, frequências nominais de 50Hz ou 60Hz

b) turbogeradores: são geradores acionados por turbinas a vapor, com

potências nominais de até 20MVA, rotação até 1800 r.p.m., IV polos, tensões

nominais de 220V a 13800V, frequências nominais de 50Hz ou 60Hz

c) hidrogeradores: são geradores acionados por turbinas hidráulicas, com

potências nominais de até 20MVA, rotação entre360 a 1800 r.p.m., IV a XX

polos, tensões nominais de 220V a 13800V, frequências nominais de 50Hz ou

60Hz.

Em navios mercantes são utilizados grupos diesel e/ou turbogeradores. Os

hidrogeradores são utilizados em usinas hidrelétricas.

6.7 Geração de corrente trifásica

O sistema trifásico é obtido através da combinação de três sistemas

monofásicos de tensões U1, U2 e U3, tais que a defasagem entre elas seja

120º.

A armadura deste tipo de gerador é composta por três conjuntos de bobinas

dispostas simetricamente no espaço, formando entre sí também ângulos de

120°. Para que o sistema seja equilibrado, isto é, U1=U2=U3, o número de

espiras de cada bobina deverá ser igual. A figura 69ilustra as formas de ondas

de tensão em cada bobina do sistema.

Page 30: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Figura 69 - Formas de ondas trifásicas

Fonte: WEG.

A ligação dos três sistemas monofásicos para se obter o sistema trifásico é

feita usualmente através de duas formas distintas: estrela (Y) ou triângulo (∆).

6.8 Ligação estrela ou Y

Ligando uma das extremidades de cada enrolamento monofásico a um ponto

comum aos três, as extremidades opostas formarão um sistema trifásico em

estrela ou Y, conforme mostra a figura 70. O ponto comum ou quarto condutor

é denominado neutro.

Page 31: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Figura 70 - Ligação estrela ou Y.

Fonte: WEG.

Definem-se ‘’tensões e correntes de fase’’ as tensões e correntes de cada

um dos três sistemas monofásicos, indicados por VF e IF, ou seja, entre as

extremidades da estrela e o ponto comum. Como “tensões de linha” são

definidas as tensões entre as extremidades da estrela, e como correntes de

linha as que saem em cada extremidade do Y. A figura 71 mostra um sistema

trifásico a três condutores.

Figura 71 - Sistema trifásico a três condutores

Fonte: WEG.

Page 32: Sistemas Eletricos Maritimos 1

As relações entre os valores de linha e de fase em uma ligação Y são:

VL= √3xVF

IL= IF

Em um sistema trifásico em Y com quatro condutores, teremos:

IN= IA+IB+IC

Se o sistema for equilibrado, IA=IB=IC e IN=0; se o sistema não for

equilibrado, IN≠0.

6.9 Ligação triângulo ou delta

Se ligarmos os três sistemas monofásicos entre sí, como indica a figura 72,

formaremos um triângulo, em cujos vértices originam-se as fases do sistema

trifásico em ligação delta.

Figura 72 - Ligação delta ou triângulo

Fonte: WEG.

A tensão entre dois vértices do triângulo chama-se “tensão de linha”, que é a

tensão nominal do sistema trifásico. A corrente que sai de cada vértice é

chamada de corrente de linha.

Page 33: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Figura 73 - Sistema trifásico em delta

Fonte: WEG.

Examinando a figura 73, observamos que:

1) a cada carga é aplicada a tensão de linha VL, que é a própria tensão do

sistema monofásico correspondente, ou seja: VL= VF.

2) a corrente de linha (IL) é igual à soma das correntes das fases ligadas ao

vértice respectivo, ou seja: IL=IF1+IF3.

Como as correntes estão defasadas entre si, a soma deverá ser feita

graficamente como mostra a figura 74.

Figura 74 - Soma fasorial de correntes

Fonte: WEG.

Pode-se mostrar que:

IL=√3xIF

Page 34: Sistemas Eletricos Maritimos 1

6.10 Tipo de ligação dos alternadores de navios

Os alternadores ou geradores síncronos utilizados em navios possuem os

enrolamentos da armadura ligados em estrela, com o ponto comum

solidamente interligado à estrutura metálica do navio, originando o “terra”. No

quadro elétrico principal, não há barramento de neutro, sendo a tensão de linha

de 440v o único valor fornecido pelo gerador. Qualquer carga que necessitar de

tensão diferente de 440v será alimentada por transformadores de serviço.

Qualquer corrente de desequilíbrio no sistema ou de contatos acidentais

para a “massa” será dispersada no mar através do casco do navio.

6.11 Comportamento do gerador em vazio

Em vazio, ou seja, sem carga, a tensão de armadura depende do fluxo

magnético gerado pelos polos de excitação, ou da corrente contínua que

circula pelo enrolamento de campo. Isto somente é verdadeiro pelo fato de que

o estator (induzido) não é percorrido por corrente, portanto, é nula a reação da

armadura, cujo efeito é de alterar o fluxo total.

Ao gráfico que relaciona a tensão gerada e a corrente de excitação

denominamos de característica a vazio (fig. 75), no qual podemos observar o

estado de saturação da máquina.

Figura 75 - Característica a vazio

Fonte: WEG.

Page 35: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Em carga, a corrente que atravessa os condutores da armadura origina um

campo magnético, causando alterações na intensidade e distribuição do campo

magnético principal. Esta alteração depende da corrente, do fator de potência e

da característica da carga, como veremos a seguir.

6.12 Gerador alimentando carga puramente resistiva

Quando o gerador alimenta um circuito puramente resistivo, tal como uma

sauna, é criado pela corrente de carga, na armadura, um campo magnético

defasado de 90°, em atraso, em relação ao campo principal, conforme

mostrado na figura 76.

Figura 76 - Campos em quadratura

Fonte: WEG.

Os polos principais exercem sobre os polos de reação de armadura (no

induzido) uma força contrária ao movimento, necessitando-se de acréscimo de

potência mecânica para se manter o rotor girando. O diagrama da fig. 66

mostra a alteração do fluxo magnético principal em vazio (Фo) em relação ao

fluxo magnético de reação de armadura (ØR). A modificação de Фo é pequena,

não produzindo uma variação muito grande em relação ao fluxo resultante.

Devido à queda de tensão nos enrolamentos da armadura,será necessário

aumentar a corrente de excitação para manter a tensão nominal(ver fig.77).

Page 36: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Lembre-se que, em uma carga puramente resistiva, o fator de potência é

unitário, ou seja, tensão e corrente estão em fase.

Figura 77 - Tensão e corrente em fase

Fonte: WEG.

6.13 Gerador alimentando uma carga puramente indutiva

O fator de potência de uma carga puramente indutiva é zero, pois a tensão

está adiantando de 90° em relação à corrente, assim sendo, a carga puramente

indutiva apenas troca energia com o alternador, consequentemente, a injeção

de combustível é desmagnetizante, conforme mostra a figura 78.

Figura 78 - Carga puramente indutiva

Fonte: WEG.

Page 37: Sistemas Eletricos Maritimos 1

As cargas puramente indutivas armazenam energia no seu campo

magnético e a devolvem ao gerador, não exercendo nenhum conjugado

frenante sobre o induzido. Neste caso, somente será necessária energia

mecânica para compensar as perdas. Devido ao efeito desmagnetizante, será

necessário um grande aumento da corrente de excitação para manter a tensão

nominal.

6.14 Gerador alimentando uma carga puramente capacitiva

A carga puramente capacitiva possui comportamento oposto ao da carga

puramente indutiva, a corrente está adiantada de 90º em relação à tensão,

consequentemente, seu fator de potência é zero. O campo de reação da

armadura estará na mesma direção e mesmo sentido do campo principal; logo,

o campo induzido tem um efeito magnetizante, reforçando o campo principal.

Devido ao efeito magnetizante, será necessário reduzir a corrente de

excitação para manter a tensão nominal, conforme mostra a figura 79.

Figura 79 - Carga puramente capacitiva

Fonte: WEG.

Como o gerador, efetivamente, não entrega energia à carga, o motor

acionante não é solicitado e a injeção de combustível é a mesma requerida

para o funcionamento a vazio.

Page 38: Sistemas Eletricos Maritimos 1

A figura 80 mostra a variação da corrente de excitação para manter a

tensão de armadura constante para os três tipos básicos de cargas.

Figura 80 - Corrente de excitação para os tipos básicos de carga

Fonte: WEG.

Como sabemos que, na prática, a carga a ser alimentada por um alternador

possui características predominantemente indutiva, devido à presença de

bobinas de motores elétricos, reatores, lâmpadas de descarga, etc., na

variação da carga alimentada, deverá haver compensação na velocidade da

máquina primária e na corrente de excitação.

6.15 Controle de frequencia em um alternador

No item 6.3 foi visto que a frequencia da tensão gerada em um alternador é

diretamente proporcional ao número de polos e à velocidade da máquina

primária, ou seja: ƒ= .

Em um alternador, o número de polos é definido na construção da máquina,

ou seja, é um valor constante.Desta forma,a freqüência dependerá diretamente

da velocidade da máquina motriz.

Em um navio, a máquina primária pode ser um motor diesel, cuja

velocidade é controlada através da injeção de combustível, ou uma turbina cuja

velocidade é controlada pela quantidade de vapor, sendo o primeiro caso o

mais utilizado.

Page 39: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Admitindo a utilização de um motor diesel como máquina primária,

podemos ter as seguintes situações:

a) aumento de carga: nesta condição a máquina primária será submetida a

uma elevação de torque, tendo como consequência uma diminuição de

velocidade e consequentemente uma redução na frequência. Para restabelecer

o equilíbrio, o regulador de velocidade deverá atuar, e, através de um

servomotor, aumentar a injeção de combustível, aumentando a velocidade até

que a frequência atinja 60Hz.

b) redução de carga: ao ser reduzida a carga alimentada pelo alternador,

haverá uma redução no torque da máquina primária, ocasionando uma

elevação na velocidade com consequente aumento na frequência. Para

restabelecer o equilíbrio, o regulador de velocidade deverá atuar através do

servo-motor, diminuindo a injeção de combustível, reduzindo a velocidade até

que a frequência atinja 60Hz.

Os fabricantes de grupos geradores desenvolveram reguladores de

velocidade eficientes, de resposta rápida, de maneira que a frequência da

tensão gerada por um alternador permanece praticamente constante para

qualquer variação de carga. Existem reguladores hidráulicos, mecânicos,

eletrônicos e digitais.

6.16 Sistemas de excitação

Como sabemos em um alternador dois parâmetros devem ser controlados: a

frequência e tensão de saída. O controle de frequência, conforme visto no ítem

anterior,é efetuado através de um sistema eletrônico que iremos estudar.

O sistema de excitação age diretamente ou indiretamente no campo

magnético do alternador, mantendo constante, aumentando ou diminuindo a

intensidade de corrente contínua para o mesmo. Os sistemas de excitação têm

a sua atuação dependente do tipo de carga que o alternador alimenta.

Page 40: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Se a carga alimentada pelo alternador possuir características resistivas ou

indutivas, a tensão no barramento será menor que a nominal do gerador; logo,

o sistema de excitação, através do regulador automático de voltagem (AVR),

deverá aumentar a intensidade de corrente para o campo magnético, a fim de

que a tensão na armadura do gerador aumente e compense a queda de tensão

provocada pela carga.

Quando a carga alimentada pelo alternador possuir características

capacitivas (o que é pouco provável), a tensão no barramento será maior que a

tensão nominal do gerador, logo, o sistema de excitação, através do AVR,

deverá diminuir a intensidade de corrente para o campo magnético, a fim de

que a tensão diminua e compense o aumento de tensão provocado pela carga.

Quando a tensão no barramento for igual à corrente nominal, o sistema de

excitação deverá manter constante a intensidade de corrente para o campo

magnético do alternador. Lembre-se que em operação normal a tensão no

barramento deverá ser igual à nominal do gerador.

Na prática, a carga possui característica indutiva, porém, a resistência

elétrica dos condutores se faz presente na composição da mesma; logo,

quando aumentar a carga, a máquina motriz estará submetida a um torque

maior, tendo como conseqüência uma súbita redução em sua velocidade,

diminuindo a frequência , exigindo a ação imediata do regulador de velocidade.

Devido ao efeito desmagnetizante do campo da reação da armadura, haverá

uma queda de tensão no barramento, e o AVR aumentará a intensidade da

corrente para o campo magnético, ou seja:

Aumento de carga → acréscimo na corrente de campo.

Quando retira-se cargas do barramento, o regulador de velocidade

imediatamente diminuirá a injeção de combustível, mantendo a frequência do

sistema constante. Agora, o efeito desmagnetizante do campo da reação da

armadura será menor, e, consequentemente, haverá um aumento nas tensões

do barramento, e o AVR diminuirá a intensidade da corrente para o campo

magnético, ou seja:

Diminuição de carga → decréscimo na corrente de campo.

Page 41: Sistemas Eletricos Maritimos 1

6.17 Tipos de excitatrizes

A corrente contínua necessária para o controle de tensão poderá ser obtida

de uma fonte externa ao alternador ou do próprio gerador (autoexcitação). Os

alternadores utilizados na geração de energia elétrica em navios são auto-

excitados. A condição necessária para a autoexcitação é a existência do

magnetismo residual, retido nas peças polares após a última utilização do

gerador. Em caso de perda do magnetismo residual, torna-se necessário

restabelecer o campo magnético, através da aplicação de uma tensão

contínua, de polaridades corretas, nas escovas. A este procedimento

chamamos de “escorvamento”.

Existem dois tipos de sistemas de autoexcitação, sendo um estático e um

dinâmico.

6.18 Sistema de excitação estático

A excitatriz estática é formada basicamente pelos seguintes componentes e

respectivas funções:

a) transformadores de corrente (TC’s. A função dos TC’s é conduzir uma

parcela da corrente gerada pelo alternador para alimentar a excitatriz. É

conveniente lembrar que a potência de excitação varia de 1 a 5% da

potência nominal do alternador.

b) retificador estático trifásico. Retifica as correntes enviadas através

dos TC’s, pois a corrente de campo deverá ser do tipo contínua.

c) regulador automático de voltagem (A.V.R). É um componente

eletrônico, formado por circuitos lógicos que irão analisar as variações

de tensão no barramento devido às oscilações de carga, tendo como

set-point o valor da tensão nominal do gerador,formando um sistema de

controle de malha fechada. O AVR é a parte mais importante da

excitatriz.

Page 42: Sistemas Eletricos Maritimos 1

A excitatriz estática é um sistema de resposta rápida, pois o AVR atua

diretamente no campo do alternador, entretanto, é um sistema de baixa

confiabilidade, devido à resistência de contato entre escova e anéis coletores.

A manutenção de um sistema estático é bem simples, sendo que, se houver

uma boa manutenção preventiva, este sistema não irá causar problemas. A

figura 81 mostra o diagrama do sistema estático.

Figura 81 - Sistema de excitação estático

6.19 Sistema dinâmico ou brushless

Este sistema foi desenvolvido com a finalidade de aumentar a confiabilidade

na regulação de tensão de um alternador, visto que as escovas e anéis

coletores são eliminados.

No sistema brushless utiliza-se um alternador auxiliar com potência entre 1 a

3% da potência do alternador principal. Este alternador auxiliar está acoplado

ao eixo, estando localizado entre a máquina motriz e o alternador principal,

possuindo seu campo magnético no estator e armadura no rotor, ou seja, em

configuração oposta à do alternador principal.

O AVR atuará diretamente no campo estático do alternador auxiliar, através

de contatos fixos. Na armadura do alternador auxiliar é induzida uma tensão,

que será transformada em corrente contínua na ponte retificadora rotativa e

alimentará diretamente o campo rotativo do alternador principal, estabelecendo

RETIFICADOR ALTERNADOR

CAMPO

Page 43: Sistemas Eletricos Maritimos 1

o equilíbrio entre tensão na carga e tensão nominal do gerador síncrono

principal.

O sistema brushless possui uma resposta mais lenta que o sistema estático,

pois o AVR não atua diretamente no campo do alternador principal, entretanto,

a confiabilidade do sistema é quase 100%.

A manutenção de um sistema sem escovas é mais trabalhosa, pois, havendo

algum dano na parte rotativa do sistema, será necessário parar a máquina para

solucioná-lo. A fig.82 mostra o diagrama do sistema dinâmico.

Figura 82 – Sistema dinâmico

6.20 Operação em paralelo de geradores síncronos

A operação em paralelo entre alternadores consiste em colocar dois ou mais

alternadores em operação, de forma a constituírem uma única máquina com

características iguais às de um dos alternadores que compõem o sistema.

Nos navios mercantes, os geradores principais operam em paralelo nas

operações de carga e descarga, manobras de atracação e desatracação

quando o propulsor lateral for elétrico, e em situações em que estando um

gerador operando a carga ultrapasse 80% da sua capacidade.

Page 44: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Esta última condição é para que seja preservada a vida útil da unidade

geradora.

6.21 Condições necessárias para a operação em paralelo

A fim de ser garantida a operação paralela, ou sincronizada, entre dois ou

mais geradores síncronos, as seguintes condições deverão ser

simultaneamente verificadas:

1) os alternadores que irão operar em paralelo deverão estar com o

mesmo valor eficaz de tensão de linha;.

2) os alternadores deverão estar na mesma frequência de operação;

3) as formas de onda das tensões dos geradores deverão ser idênticas;

4) todos os alternadores deverão possuir a mesma seqüência de fases;

5) as formas de ondas das tensões dos geradores, para as fases de mesmo

nome, deverão estar em concordância.

As condições necessárias são justificadas da seguinte forma:

1) se um dos alternadores em operação sincronizada, por algum dano no AVR

ou no regulador de velocidade, ficar com tensão de linha menor que os

demais, irá caracterizar a operação motorizada do gerador avariado e, antes

que isto aconteça, atuará o relé de potência inversa, desconectando o

alternador do barramento;

2) esta condição assegura uma frequência única para o sistema. Deve-se

atuar nos reguladores de velocidade das máquinas motrizes;

3) esta condição assegura o eqüilíbrio do sistema;

5) esta condição é considerada como a mais importante de todas, pois, em

caso de não cumprimento, ocorrerá um curto-circuito entre fases de mesmo

nome, de alternadores diferentes.

6.22 Instrumentos de sincronização

Instalados em um painel do QEP, existem instrumentos que permitem a

visualização das condições necessárias à operação paralela de grupos

geradores; são eles:

Page 45: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Voltímetro duplo, que indica, em um único instrumento, os valores eficazes

das tensões de linha de dois geradores;

Frequencímetro duplo, que indica, no mesmo medidor, os valores das

frequências de dois geradores;

Voltímetro nulo, que mede o valor eficaz da diferença de potencial entre

fases de mesmo nome de dois geradores. No momento de

concordância este valor é zero;

4 Sincronoscópio de lâmpadas, que é um indicador do momento exato de

concordância de fases, mostrando, através

da sequência do brilho das lâmpadas, esta

condição. Em particular, se as lâmpadas

forem ligadas entre fases iguais, a

indicação será quando as mesmas

estiverem apagadas;

5 Sincronoscópio eletrônico, que Indica, através de um ponteiro que gira,o

momento de concordância de fases. Esta

indicação corresponde à indicação de

aproximadamente 12 horas em um relógio

analógico.

Você observou que para confirmação do momento exato de concordância de

fases, temos no painel de sincronismo três indicadores: voltímetro nulo,

sincronoscópio de lâmpadas e sincronoscópio eletrônico, portanto, esta é a

condição principal para o sincronismo. A figura 83 mostra o painel de

sincronismo, localizado no QEP de um navio.

Page 46: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Figura 83 - Painel de sincronismo

Fonte: navio Itaperuna.

6.23- Colocação de um gerador no barramento para operação singela

Vamos admitir que um navio esteja sem nenhum gerador no QEP, ou seja,

o navio está completamente apagado. Nesta situação, o sistema de energia

temporário (banco de baterias) deve está em condições de alimentar o sistema

de partida dos MCA’s, e o sistema de comando dos disjuntores principais dos

geradores.

Para colocarmos manualmente um gerador no barramento do QEP,

devemos primeiramente acionar o botão de partida do respectivo MCA. Após o

MCA atingir a rotação nominal, o gerador irá gerar a tensão e frequência

nominais (440v-60hz), visualizados através do voltímetro e frequencímetro

instalados no painel do gerador, localizado no QEP. Em seguida, aciona-se a

chave que energiza a bobina de fechamento do disjuntor e, neste instante, o

gerador é colocado no barramento.

Após a colocação do gerador no barramento, deve-se ligar as cargas que

devem ser alimentadas e, simultaneamente, aumenta-se através do

servomotor, a velocidade da máquina primária para manter constante a

frequência. O aumento de carga provocará um decréscimo na tensão, o que

Page 47: Sistemas Eletricos Maritimos 1

exigirá o aumento da corrente de campo, através da ação manual no reostato

de campo instalado no painel do gerador no QEP.

Se estiver selecionada a operação automática, todos os procedimentos

anteriores são realizados através de um controlador lógico programável.

6.24 Colocação um gerador para operar em paralelo com o barramento

O termo “em paralelo com o barramento” significa operação em paralelo com

outro gerador. O gerador que está no barramento alimenta uma determinada

carga que deverá, após o sincronismo, ser distribuída proporcionalmente com o

gerador que entrará em operação síncrona. Como os grupos geradores

principais de bordo são construtivamente idênticos, o operador irá atentar para

as condições de mesma tensão de linha, mesma freqüência e momento exato

de concordância de fases. Os procedimentos nesta operação são os seguintes:

1) acionar o sistema de partida do MCA do gerador que vai entrar;

2) ligar os instrumentos de sincronismo;

3) verificar no voltímetro duplo as tensões de linha dos geradores. Se não

tiver igualdade nos valores, atuar no reostato de campo que entrará, até

que a condição seja satisfeita;

4) verificar no frequencímetro duplo, a frequência das tensões de linha dos

geradores. Se não há igualdade nos valores, atuar no servomotor do gerador

que entrará, até que a condição seja satisfeita.

5) verificar no sincronoscópio o momento exato de concordância de fases;

6) acionar o disjuntor do gerador que entrará;

7) atuar simultaneamente, nos reguladores de velocidade, aumentando a

velocidade do gerador que entrou e reduzindo a do que já estava no

barramento, em sucessivos pequenos intervalos, verificando nos

kilowattímetros a distribuição proporcional da carga. Por exemplo, se antes

do paralelismo o gerador que estava em operação singela alimentasse uma

carga de 400kw, após a distribuição síncrona, passaria a alimentar 200kw, e

o gerador que entrou assumirá os outros 200kw, pois os dois alternadores

possuem idênticas capacidades.

Page 48: Sistemas Eletricos Maritimos 1

6.25 Retirando um gerador da operação síncrona

Para retirar um gerador da operação paralela, deve-se proceder da

seguinte forma:

a) passar a carga do gerador que sairá para o que ficará em operação singela,

atuando, simultaneamente, nos reguladores de velocidade, reduzindo a

velocidade do gerador que sairá ; aumentando a do que ficará no

barramento, verificando quando zerar a indicação do kilowattímetro do

gerador que sairá;

b) desligar o disjunto do gerador que sai;

c) acionar o botão de parada do MCA do gerador que sai; e

d) regular manualmente a tensão e a frequência do gerador que permanece

no barramento.

6.26 Proteções de grupos geradores

Os grupos geradores possuem níveis de proteções que dependem da

potência e tensão nominais dos mesmos. O grau de proteção de um grupo

gerador de uma hidrelétrica, por exemplo, é bastante diversificado e complexo

em relação a um grupo gerador que é utilizado em navios mercantes.

Os grupos geradores de navios possuem potência nominais compreendidas

entre 150kva e 2000kva, com tensão nominal de 440v, considerada baixa.

Para estes geradores, as proteções utilizadas são:

Disjuntor. É a proteção principal de um gerador, possuindo proteções

contra curto-circuito, através de sua unidade magnética; contra sobrecarga,

através de sua unidade térmica (par bimetálico); contra subtensão, através da

bobina de mínima e contra sobretensão,través da bobina de máxima.Estas

proteções são consideradas de ação direta, pois estão internas ao

equipamento, atuando diretamente em sua bobina de abertura.

Page 49: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Relé de potência inversa. É a proteção contra motorização do gerador, ou

seja, quando dois ou mais geradores operam em paralelo, e, se por alguma

avaria no AVR ou no regulador de velocidade, a sua tensão de saída diminuir,

este gerador passará a consumir ao invés de gerar, passando a ser carga. Esta

situação é caracterizada pela inversão do fluxo de corrente, que passará a ser

no sentido barramento para gerador na máquina avariada. Sendo o relé de

potência inversa do tipo direcional, o mesmo detectará a inversão do fluxo

de corrente, e, através de um contato auxiliar energizará a bobina de abertura

do disjuntor, retirando-o do barramento. Neste caso, a atuação do disjuntor é

de ação indireta.

Proteção contra curto-circuito no barramento. Trata-se de sensores

eletrônicos que supervisionam a resistência de isolamento das

fases em relação ao barramento. Se for detectado algum curto-circuito entre

fases e barramento, ou de uma fase para a estrutura

metálica(terra), a proteção interrompe o circuito

que comanda o fechamento do disjuntor, ou seja,

o disjuntor atua através de uma ação indireta. Esta proteção atua antes do

fechamento do disjuntor.

Relé de sincronismo. Esta proteção consiste em um relé cujos contatos

auxiliares estarão fechados somente quando os dois

geradores estiverem em concordância de fases;

desta maneira, sòmente nesta condição habilitará o

circuito de comando do disjuntor do gerador que

entrará no barramento.É uma outra forma indireta de

proteção através do disjuntor.

Relé de falta de fase. São portas eletrônicas ou “gates” que habilitam o

circuito de comando do disjuntor somente quando as três fases estão ativas, ou

Page 50: Sistemas Eletricos Maritimos 1

acionam a bobina de abertura do disjuntor quando da perda ou falta de uma

das fases. Esta proteção atua tanto na condição de disjuntor fechado como na

de disjuntor aberto.

Proteção contra alta temperatura no campo. Esta proteção consiste em

sensores de temperatura instalados no interior da bobina de campo e

produzem um alarme antes de comandar a abertura do disjuntor. Essa

proteção utiliza vários sensores distribuídos pelo enrolamento de campo

que atuam portas eletrônicas (gates) para energizar a bobina de abertura do

disjuntor ou impedir a ação do circuito de comando quando a temperatura no

campo magnético atingir o máximo valor permitido.Observe que o circuito de

comando do disjuntor é a parte vital da proteção dos geradores; logo, deve

utilizar voltagem contínua do sistema temporário de energia elétrica de bordo,

para que, mesmo na condição de navio apagado, o mesmo possa atuar.

6.27 Sistema de automação de grupos geradores

Os grupos geradores são dotados de sistemas microprocessados de

controle e alarme, dependendo do grau de importância do sistema elétrico a

ser atendido. No sistema elétrico de navios, o nível de automação dos grupos

geradores é de médio a alto. Neste item, iremos descrever a automação dos

três grupos geradores existentes na praça de máquinas e o grupo gerador de

emergência, abordando as seguintes situações:

* QEP desenergizado, partida do primeiro gerador e colocação do mesmo no

barramento.

* Partida do segundo gerador, sincronismo com o barramento e colocação do

mesmo em operação paralela.

* Ídem, utilizando o sincronismo manual de emergência.

As condições de “standby” e partidas possíveis são as seguintes:

* Definição da condição de “standby” para os geradores.

Page 51: Sistemas Eletricos Maritimos 1

* Partida automática de um gerador auxiliar em “standby”, em situação de

“black-out”.

* Partida automática de um gerador auxiliar em “standby” devido à alta carga

elétrica no gerador de serviço( acima de 80% de sua capacidade nominal).

* Partida automática de um gerador auxiliar em “standby” devido à alta/baixa

voltagem ou alta/baixa frequência no barramento.

* Partida automática de um gerador auxiliar em “standby” devido à

necessidade de entrada em operação de uma carga, como por exemplo,

propulsor lateral ou bomba de lastro de água salgada.

* Retransmissão do sinal de partida para o próximo gerador auxiliar em “stand-

by” no caso de falha na partida do primeiro gerador auxiliar em “standby”.

* Condições para que seja possível energizar os grupos demarradores da

planta de gás.

* Condições para que seja possível energizar os grupos demarradores do

sistema de gás inerte.

* Ídem, para o circuito de comando do compartimento dos motores elétricos.

* Corte preferencial dos consumidores não essenciais devido à sobrecarga no

gerador em serviço.

* Excitação de emergência para os alternadores.

* Parada automática de um dos geradores no caso de redução da carga

individual abaixo de 35%, quando em operação paralela.

* Desconexão automática entre o QEP e QEE em caso de black-out no

barramento principal.

* Partida automática do gerador de emergência e alimentação do QEE.

* Conexão automática entre QEP e QEE se houver retorno de tensão ao

barramento principal.

* Parada automática do gerador de emergência.

* Dispositivos de proteção do gerador de emergência.

* Proteção do barramento principal no caso de curto-circuito no QEE.

* Sequencia de partida automática dos consumidores após um”black-out”.

Page 52: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Existem dois níveis de automação nos grupos geradores dos navios

mercantes, que são:

* Automação da unidade em si e de seus equipamentos auxiliares, denominado

nível inferior, no qual o motor diesel e o gerador estão totalmente protegidos e

autocontrolados.

* Automação da operação do sistema de geração de energia, denominado nível

superior, no qual o motor diesel e o gerador também estão totalmente

protegidos e autocontrolados; além disso, a unidade é partida e parada

dependendo da demanda de potência do sistema.

Na automação em nível de unidade , o motor somente partirá no momento

em que a válvula solenóide de partida for energizada, o que permitirá que o ar

de partida penetre nos cilindros. As condições de partida e parada do motor

diesel são as seguintes:

a) O motor partirá e continuará funcionando quando:

* a rotação for superior a 300 r.p.m.

* o sensor de sobrevelocidade não houver detectado rotação superior a 1035

r.p.m.

* a pressão de óleo lubrificante não estiver abaixo de 2 bar.

* a temperatura de água doce não for superior a 90ºC.

* o botão de parada não for acionado.

b) O motor será parado automaticamente quando:

* a rotação for superior a 1035 r.p.m., o que caracteriza sobre-velocidade.

* a pressão de óleo lubrificante for inferior a 2 bar.

* a temperatura de água doce for superior a 90ºC.

O gerador, em nível de unidade, é controlado por um dispositivo de proteção

que deverá possuir, no mínimo, as seguintes funções:

Page 53: Sistemas Eletricos Maritimos 1

* monitoração da alimentação nas três fases.

* proteção contra subvoltagem.

* proteção contra curtocircuito.

* proteção contra sobrecorrente.

* proteção contra potência inversa.

* desligamento dos consumidores não essenciais.

* monitoração de sobrevoltagem.

* monitoração de subfrequência.

Além disso, as seguintes variáveis devem ser controladas:

* temperatura do ar de resfriamento.

* temperatura dos mancais.

* detector de vazamentos.

Estas últimas três funções apenas geram alarmes, não provocando a

parada automática do gerador. O oficial de serviço deve, portanto, estar atento

a este detalhe e tomar imediatamente as providencias necessárias.

Na automação em nível de sistema, o motor será partido e controlado

como descrito anteriormente. Além disso, ele pode agora ser partido e parado

automaticamente de acordo com as condições de demanda de potência do

sistema.

Em nível de sistema, o gerador é controlado como descrito em nível de

unidade. Além disso, torna-se agora necessário sincronizar a unidade com o

barramento e dividir carga. Em muitos navios mercantes, são utilizados na

automação de geradores os dispositivos GSK8, ASE3 e FLR4500, todos de

fabricação AEG.

Page 54: Sistemas Eletricos Maritimos 1

6.28 Dispositivos de controle automático de geradores

Em aplicações nos sistemas de geração elétrica de navios, temos diversos

microprocessadores de inúmeros fabricantes. Iremos evidenciar os de

fabricação da AEG.

* Sincronizador automático ASE3

Este dispositivo opera em conjunto com o FLR4500 e tem como função

sincronizar o gerador com o barramento. Basicamente o dispositivo efetua duas

funções:

a) regulagem e ajuste para a frequência de sincronismo, medindo e

transmitindo os desvios para o FLR4500; e

b) envio de sinais de comando para a bobina de fechamento do disjuntor.

Através de um dispositivo de medição de desvios, os desvios entre o

gerador a ser sincronizado e o barramento serão medidos e transmitidos como

desvios de controle. O sinal de comando para o disjuntor é determinado pelo

processamento das seguintes informações:

* as voltagens efetivas momentâneas dos dois sistemas geradores de energia

devem ser sempre maiores que 85% e menores que 110% da voltagem

nominal.

* os ângulos de defasagens elétricos entre fases iguais dos dois sistemas

devem ser menores do que um valor pré-fixado (0,1% a 1%).

* uma unidade de controle de sincronismo, completamente independente

destes sistemas de medição, verifica se o desvio limite foi ultrapassado de

1,2%, controla também o ângulo de defasagem e as diferenças de voltagem

entre o gerador e o barramento.

Se todas as condições forem satisfeitas, são emitidos sinais para as duas

chaves que operam o relé C. Se o gerador está na barra o relé C permanecerá

energizado, caso contrário, energizará. A figura 84 mostra o diagrama

esquemático do sincronizador ASE3.

Page 55: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Figura 84 - Sincronizador ASE3

Fonte: AEG.

* Divisor eletrônico de carga FLR4500

Este dispositivo tem por finalidade efetuar a distribuição de cargas entre

geradores que operam em paralelo e regular a frequência de um gerador em

operação singela. Seu modo de operação é o seguinte:

a) através das indicações de ”motor funcionando” e “gerador funcionando” é

determinado qual dos servomotores reguladores de combustível deverá atuar e

regular a freqüência do gerador desejado com respectiva distribuição de

potência ativa, utilizando os valores medidos de frequência e potência ativa.

Page 56: Sistemas Eletricos Maritimos 1

b) A frequência do barramento é verificada e convertida em um sinal de 0-4mA

através de um transdutor apropriado. A diferença entre as frequências do

gerador que se quer sincronizar e o barramento é medida pela unidade ASE3 e

informada ao sistema como um desvio de frequência. A potência ativa

fornecida por cada gerador é convertida em um sinal de 0-4mA através de um

outro transdutor apropriado. A potência ativa total fornecida pelo sistema é

igual ao somatório das potencias ativas individuais. A cada gerador é atribuído

um valor de referência de potência ativa, dependendo de sua capacidade

nominal.

c) se o motor de um grupo está em operação, porém, o correspondente

gerador ainda não estiver no barramento, se o sinal “sincronizar o grupo” é

dado para este grupo, a frequência do barramento será o input referência e a

freqüência do gerador será o valor para o regulador correspondente. Estes

valores são medidos como desvios de freqüência pelo ASE3.

d) se apenas um gerador estiver em operação, a freqüência de referência do

dispositivo de medição de freqüência do barramento servirá como input

referência e a freqüência do barramento servirá como valor real para o

correspondente regulador.

e) se vários geradores operam, e para nenhum deles é dado o sinal “reduzir o

fornecimento de potência ativa”, a média aritmética dos valores de potência

ativa fornecida servirá como input ou referência para todos os grupos em

operação, e as potencias ativas fornecidas por cada grupo servem como

valores reais. Além disso, todos os reguladores individuais recebem a

informação do desvio de freqüência conforme descrito no parágrafo anterior,

para que possam efetuar a divisão de potência, na freqüência desejada para o

barramento.

f) se vários geradores estão em operação e para um ou mais deles é dado o

sinal “reduzir a potência ativa fornecida”, o valor zero serve como “input” de

referência para os demais grupos e a potência ativa fornecida por cada grupo

seve como valor real. A média aritmética dos valores de potência ativa

fornecidas por cada grupo serve como valor real se a informação do desvio de

frequência for dada, para que possam efetuar a divisão de potência na

Page 57: Sistemas Eletricos Maritimos 1

frequência desejada para o barramento, independente do número de geradores

em operação.

g) cada desvio é enviado como “input” para o respectivo servomotor regulador

de injeção de combustível e, de acordo com o desvio, as bobinas dos relés

“Aumentar/+” ou “Diminuir/-“ serão energizadas. Através dos contatos destes

relés, todos os reguladores de velocidade serão acionados até o momento em

que a frequência desejada é atingida e cada gerador forneça a sua parte da

potência ativa requerida.

h) com a finalidade de evitar oscilações existe um “check back” no servomotor,

que faz com que os contatos dos relés, quando o valor de referência estiver

próximo de ser alcançado, não mais permaneçam fechados durante muito

tempo, mas em regime intermitente.Desta forma, o valor de referência é

atingido passo a passo.

i) para a entrada de um gerador do barramento, em função da demanda de

potência, é utilizada uma chave programável, na qual é pré-selecionado o valor

da potência diferencial, na qual outro gerador deverá ser colocado no

barramento. A potência diferencial é definida como sendo a diferença entre a

potência disponível e a carga, em percentagem, relacionada com a potência de

cada gerador. A potência disponível é a somação das potências nominais de

todos os geradores ligados ao barramento.

j) através de outra chave programável pode ser pré-selecionada a retirada de

barra de um dos geradores, em função da existência de uma “reserva de

potência”. A “potência de reserva” é definida como a diferença entre a potência

disponível após a retirada do respectivo grupo da barra e a carga instantânea,

em percentagem.

* Dispositivo verificador de sincronismo EPI

Este dispositivo monitora o momento exato em que a concordância é

verificada entre as fases iguais dos geradores que irão operar em paralelo. A

freqüência do gerador que entrará é ajustada automàticamente e gradualmente

até atingir uma diferença de 0,8Hz, em relação ao barramento. Após ser

alcançado um ângulo elétrico de fase de +/- 15º, o EPI transmitirá o sinal para a

Page 58: Sistemas Eletricos Maritimos 1

energização da bobina de fechamento do disjuntor. A figura 85 mostra o

diagrama de conexão do EPI.

Figura 85 - Diagrama de conexão do EPI

Fonte: AEG.

6.29 Características nominais de um alternador

Em um alternador, o fabricante deve fixar uma placa de identificação, em

local de fácil visibilidade, com as informações técnicas necessárias para a

correta aplicação da máquina. Estas informações são as que seguem:

a) Potência nominal→ é a potência aparente, expressa em kVA, significando

o carregamento máximo da máquina em regime contínuo.

b) Tipos de ligações→ são as maneiras de efetuar as ligações dos

enrolamentos do induzido( gerador trifásico), indicando os respectivos valores

de tensões e correntes nominais.Convém ressaltar que, em um gerador

trifásico de aplicação marítima, as bobinas do induzido devem ser ligadas em

estrela,

Page 59: Sistemas Eletricos Maritimos 1

com o ponto comum sòlidamente interligado à estrutura metálica da

embarcação.

c) Fator de serviço→ significa a sobrecarga máxima, em regime contínuo, que

um alternador poderá ser submetido, sem afetar sua vida útil.

d) Frequência nominal→ é o número de alternâncias da forma de onda da

tensão gerada em ciclos por segundo. No Brasil, a frequência padronizada é de

60 Hertz.

e) Fator de potência→ corresponde ao cosseno do ângulo entre a potência

aparente e a potência ativa do gerador, devido unicamente a sua reatância

interna.

f) Regime de serviço→ é o grau de regularidade da carga a que o gerador é

submetido.

g) Classes de isolamento→ o limite de temperatura que assegura que o isolamento de um determinado material depende da constituição física do mesmo.Para fins de normalização, os materiais isolantes e os sistemas de isolamento (cada um formado pela combinação de vários materiais) são agrupados em classes de isolamento, cada qual definida pelo respectivo limite de temperatura, ou seja, pela maior temperatura que o material pode suportar continuamente sem que seja afetada sua vida útil. As classes de isolamentos utilizados em máquinas elétricas e os respectivos limites de temperatura conforme a Norma NBR 7094 são as seguintes: Classe A(105ºC) - Classe E(120ºC) – Classe B(130ºC) - Classe F(155ºC) - Classe H (180ºC). As classes B e F são as comumente utilizadas em motores; já para geradores; as mais comuns são a F e H. h) Graus de proteção→ os invólucros dos equipamentos elétricos,conforme as características do local em que serão instalados e de sua acessibilidade, devem oferecer um determinado grau de proteção. Assim, por exemplo, um equipamento a ser instalado num local sujeito a jatos de água deve possuir um invólucro capaz de suportar tais jatos,sob determinados valores de pressão e ângulo de incidência, sem que haja penetração de água.

Page 60: Sistemas Eletricos Maritimos 1

As normas IEC e NBR 6146 definem os graus de proteção dos equipamentos elétricos por meio das letras características IP seguidas por dois algarismos. 1º algarismo: indica o grau de proteção contra penetração de corpos sólidos estranhos e contato acidental. 0 - sem proteção 1 - corpos estranhos de dimensões acima de 50mm 2 - idem, acima de 12mm. 4 - idem, acima de 1mm. 5 - proteção contra acúmulo de poeiras prejudiciais ao gerador. 2º algarismo: Indica o grau de proteção contra penetração de água no interior do gerador 0 - sem proteção 1 - pingos de água na vertical 2 - pingos de água até a inclinação de 15º com a vertical 3 - água de chuva até a inclinação de 60º com a vertical 4 - respingos de todas as direções 5 - jatos de água de todas as direções 6 - água de vagalhões 7 - imersão temporária 8 - imersão permanente As combinações entre os dois algarismos, isto é, entre os dois critérios de proteção, estão resumidos na tabela 3. Note que, de acordo com a norma, a qualificação do gerador em cada grau no que se refere a cada um dos algarismos, é bem definida através de ensaios padronizados e não sujeita a duplas interpretações.

Page 61: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Tabela 3 - Graus de proteções de geradores

Fonte: WEG.

6.30 Resistência de isolamento de um gerador Quando o gerador não é colocado imediatamente em serviço, ou quando ficar fora de operação, deve-se protegê-lo contra umidade,temperatura elevada e sujeiras, evitando assim que a resistência de isolamento sofra com isso. A resistência de isolamento do enrolamento deve ser medida antes da entrada em serviço. Se o ambiente for muito úmido, é necessário uma verificação periódica durante a armazenagem. A tabela 4 indica a ordem de grandeza dos valores que podem ser esperados ao utilizar o meghômetro em uma máquina limpa e seca, a 40ºC,quando a tensão de ensaio (1000 V) é aplicada durante 1 minuto.

Page 62: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Tabela 4 - Resistências de isolamento de geradores Fonte: WEG.

O valor mínimo admissível para a resistência Rm do isolamento de um gerador é dada por:

Onde: Rm - resistência de isolamento mínima recomendada em MΩ, com o enrolamento à temperatura de 40ºC. Un - tensão nominal da máquina, em kV. Se o ensaio for feito em temperatura ambiente diferente de 40ºC, será necessário corrigir a leitura para 40ºC, utilizando-se uma curva de variação da resistência do isolamento em função da temperatura.

6.31 Geradores de eixo

Os geradores de eixo ou “shaft generator”, ou GE são máquinas síncronas

acionadas, através de engrenagens multiplicadoras, pelo MCP, sendo uma

opção para a economia de combustível durante as viagens.

Page 63: Sistemas Eletricos Maritimos 1

6.32- Justificativa da utilização dos GE’s

Durante as viagens normais, em regime de cruzeiro, um gerador de eixo pode

suprir o navio de toda potência elétrica requerida, trazendo inúmeras vantagens

como: a) os custos com combustíveis são reduzidos, pois a máquina primária é

o M.C.P. que consome óleo pesado, enquanto que os MCA’s utilizam óleo

diesel, b) os custos de manutenção são menores, levando-se em consideração

a redução no tempo de operação dos geradores diesel; e c) devido ao fato de

os geradores de eixo operarem em baixas velocidades, há uma redução no

nível de ruídos na praça de máquinas.

6.33 Operação do gerador de eixo

Sendo os geradores de eixo máquinas elétricas síncronas com excitação em

separado, acionados pelo MCP, fornecendo corrente CA a uma frequência que

depende da velocidade deste motor, e, sendo esta velocidade variável, visando

a eliminar este efeito, a tensão de saída é convertida em CC por um retificador

conectado em ponte trifásica. Esta tensão CC é convertida de volta em CA na

mesma frequência de alimentação do sistema do navio, através de um inversor

tiristorizado de comutação de linha (conversor CC do tipo cascata).

Dependendo da capacidade do equipamento, a corrente de curto-circuito CC

pode ser reduzida através de um reator série denominado “choque

intermediário”.

O inversor pode fornecer apenas potência ativa, porém, o sistema necessita

também de potência reativa, sendo esta fornecida pelo compensador síncrono

conectado em paralelo. Este compensador síncrono é um gerador do tipo

“brushless” com tensão controlada, que é levado à sua velocidade nominal por

um motor que é, então, desligado, passando a operar girando livremente com

ele. Este compensador síncrono também absorve alguns harmônicos do

inversor e realiza, junto com o reator do sistema, a atenuação da tensão de

alimentação.

O inversor e o compensador síncrono são conectados ao sistema através

dos seus respectivos reatores. A tensão que alimenta o sistema é mantida

constante pelo regulador de voltagem do compensador síncrono, e, assim,

Page 64: Sistemas Eletricos Maritimos 1

também é conseguida a divisão da carga reativa durante a operação de

paralelismo.

Este regulador de tensão tiristorizado é localizado junto ao equipamento de

excitação denominado “thyripart”, montado sobre espaçadores antivibratórios,

do compensador síncrono.

O controle de frequência constante da tensão de alimentação do sistema é

realizado de modo similar àquele utilizado nos geradores diesel auxiliares.

Quando a carga ativa no sistema aumenta, a velocidade do compensador

diminui. No instante em que isto ocorre, o controlador de velocidade aumenta a

excitação do gerador de eixo, correspondendo aproximadamente à operação

da cremalheira da bomba de combustível em um motor diesel.

Quando há uma redução na carga ativa do sistema, a ação do controlador é

similar a esta, porém invertida.

6.34 Operando o gerador de eixo

Um gerador de eixo é capaz apenas de suprir a potência que o navio

necessita em regime de cruzeiro, e não em manobras que façam com que a

velocidade do motor principal atinja um valor abaixo do mínimo para o qual o

mesmo foi projetado. Assim, o gerador de eixo só poderá ser ligado ao sistema

quando:

a) o sistema já estiver sendo alimentado pelos geradores diesel auxiliares;

b) a posição do telégrafo da máquina (TM) e a velocidade do motor principal

estiverem acima do valor mínimo; e

c) nenhum sinal de grupo (alarme ou desarme) estiver sendo enviado.

Operando a botoeira de partida (“start”), é iniciada uma sequência

automática de partida, terminando em “pronto para sincronizar” (“ready to

synchronize”). A lâmpada “potência disponível” (“power available”) apaga-se.

No modo de sincronização automática, os ângulos de fase são equalizados

e o disjuntor principal é fechado por um sinal do equipamento de sincronização

(não alimentado pelo gerador de eixo). Esta operação pode ser realizada

também através do recurso de sincronização manual. Os ângulos de fase são

Page 65: Sistemas Eletricos Maritimos 1

equalizados por ajuste manual do gerador síncrono ou das unidades de

geração auxiliares.

A aceitação automática de carga acarretará na queda de velocidade do

gerador de eixo e do gerador diesel; deste modo, a distribuição de carga pode

ser efetuada com o ajuste da frequência do gerador de eixo, ou,

respectivamente, pela velocidade do gerador diesel.

Se o gerador de eixo puder suportar a carga do sistema, então os geradores

auxiliares conectados ao sistema poderão ser desligados; caso contrário, após

a distribuição de carga abrirá o “tie-breaker”, seccionando o barramento.

Convém lembrar que geradores diesel e geradores de eixo são máquinas de

características diferentes, não sendo, portanto, recomendável a operação em

paralelo, à não ser durante o pequeno intervalo de passagem de carga.

O gerador de eixo é desconectado do sistema, operando-se a botoeira de

parada (“stop”) após, primeiro, ter sido dada a partida e sincronizados os

geradores auxiliares.

6.35 Função das partes componentes do gerador de eixo

Seção de potência: a figura 86 mostra o diagrama da seção de potência de

um gerador de eixo.

Page 66: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Figura 86- Seção de potência de um GE

A corrente alternada de frequência variável produzida pelo gerador de eixo é

retificada, atenuada pelo reator de ligação (3) se necessário, e convertida em

corrente alternada de frequência constante pelo inversor tiristorizado (4). O

conversor, constituído por um retificador e por um inversor, é do tipo “Ligação

CC”.

O gerador de eixo pode apenas alimentar de potência ativa o sistema através

do conversor. A potência reativa requerida pelo sistema é alimentada pelo

compensador síncrono (6). Ele também alimenta a comutação e o controle do

inversor, da potência reativa de que necessitam.

O compensador síncrono opera em paralelo com o inversor. A corrente de

excitação do gerador de eixo é ajustada pelo conversor de excitação, de

acordo com os sinais de controle.

Page 67: Sistemas Eletricos Maritimos 1

6.36 Função do sistema de controle

A figura 87 mostra a seção de controle de um gerador de eixo.

Figura 87 - Seção de controle de um GE

Os valores imediatos (instantâneos) da frequência (1) e (15), corrente (10)

e (14), e ângulos de corte (5) que o sistema de controle necessita são obtidos e

convertidos em tensões CC proporcionais.

Geradores de função para amortecimento (8) e limitação do ângulo de

disparo (4), fornecem os sinais de entrada de “set point” da freqüência e do

ângulo de corte.

As unidades de controle (2) e (13) fazem com que haja ligação entre o

sistema de controle, inversor e o conversor da excitação (11). Eles convertem

os sinais de controle em adequados pulsos de disparo para os tiristores dos

dois conversores.

Page 68: Sistemas Eletricos Maritimos 1

6.37 Controle de frequência

Esta descrição do princípio de funcionamento tem por hipótese que o sistema

esteja alimentado exclusivamente pelo gerador de eixo.

O compensador síncrono, que está conectado como um gerador de tensão

constante, encarrega-se da estabilização da tensão, do suprimento de potência

reativa e do controle da frequência do sistema. Ele opera como um trocador de

fases e não transmite potência mecânica nesta troca.

Mudanças na potência ativa do sistema produzem variações na energia

cinética de rotação do compensador síncrono, que irá provocar alterações na

frequência de alimentação do sistema. O desvio na frequência é sentido pela

entrada do controlador de frequência (7) e convertido em mudanças

correspondentes na excitação do gerador de eixo por ação do controlador da

corrente de excitação (6), da unidade de controle (13) e do conversor de

excitação (11).

Uma queda na frequência produz um correspondente aumento na excitação

do gerador e, deste modo, no suprimento de potência ao sistema, bem como

da velocidade de rotação do compensador síncrono. Então, a frequência

cresce novamente.

Um aumento na frequência causa uma correspondente redução na excitação

do gerador e, assim, uma redução na potência que alimenta o sistema e na

rotação do compensador síncrono, logo, a frequência reduzirá novamente.

A limitação de carga para o gerador é feita pelo controlador de limitação (9),

que age no controlador de corrente de excitação (7) e modula o “set-point” da

corrente de excitação do gerador de eixo. O controlador da corrente de

excitação é limitado assim que a corrente de carga, retirada através do

transdutor (10), atinge ou excede seu valor máximo permitido devido a um

aumento na demanda de potência do sistema. Como resultado, a última

corrente de excitação é também retida ou reduzida, de acordo com o controle

do desvio da corrente de carga. A carga do gerador é, assim, mantida em seu

nível permitido. A demanda extra de potência do sistema, agora, só pode ser

satisfeita pela energia cinética de rotação do compensador síncrono, causando

uma queda na freqüência de alimentação do sistema. A redução na velocidade

Page 69: Sistemas Eletricos Maritimos 1

do eixo do hélice tem o mesmo efeito de redução de frequência, se o

controlador de limitação (9) estiver operando.

6.38 Controle do ângulo de corte

O valor mínimo do ângulo de corte do inversor, devido à sobreposição e ao

intervalo de atraso do tiristor, não varia quando o gerador de eixo está

produzindo uma saída constante e, desta forma, é mantido um valor constante

para o controlador de ângulo de corte (3) e para a unidade de controle (2).

Este controle do valor mínimo do ângulo de corte previne falhas de

comutação inversa e reação à proteção de sobrecarga.

A potência manterá sua amplitude constante, com a velocidade variando

entre o valor nominal e valor máximo de eixo de hélice. Se a velocidade cair

abaixo do valor nominal, a plena excitação do gerador não será mais suficiente

para manter o gerador na tensão nominal, conseqüentemente, a fim de

equalizá-la com a tensão do sistema, o ângulo de disparo ajustado no inversor

deve ser reduzido, isto é, o ângulo de corte deve ser apropriadamente

incrementado. O gerador de função (4) fornece uma relação adequada entre o

set-point e a velocidade. Assim, abaixo do valor nominal de velocidade, o

gerador de eixo opera com uma característica de saída proporcional à

velocidade.

6.39 Sistema híbrido de geração

Com a finalidade de economizar os gastos com combustíveis durante as

viagens, muitos navios utilizam o sistema híbrido de geração elétrica, que

consiste na utilização de geradores auxiliares, “shaft generator” e turbogerador

de gases de escape. O TGGE utiliza como máquina primária uma turbina de

alta velocidade que é acionada pelos gases provenientes da combustão do

MCP, que são superaquecidos, ganhando maior energia cinética. Estes gases,

em navios que utilizam o sistema tradicional de geração de energia elétrica são

lançados na atmosfera.

Page 70: Sistemas Eletricos Maritimos 1

O sistema de controle de um TGGE é bastante complexo comparado a um

gerador auxiliar e menos complexo quando comparado a um GE.

Em se tratando de um sistema com três máquinas de características

diferentes, torna-se bastante complicada a operação em paralelo. Portanto, em

navios que utilizam o sistema híbrido, obrigatòriamente, o barramento principal

do QEP deve ser do tipo separado, ou seja, as seções correspondentes à cada

máquina devem ser interligadas nas extremidades por disjuntores que poderão

estar abertos ou fechados, dependendo da situação em que o sistema esteja

operando. A figura 88 ilustra a configuração básica de um sistema híbrido de

geração elétrica.

Figura 88 - Sistema híbrido de geração elétrica

Page 71: Sistemas Eletricos Maritimos 1

4 Máquinas elétricas de corrente contínua

4.1 Introdução

As máquinas elétricas de corrente contínua, geradores e motores, possuem atualmente aplicações reduzidas nos navios mercantes. Os geradores cc não são mais utilizados nos modernos navios e a aplicação dos motores cc são em sistemas de acionamento que exigem alto torque de partida e controle de velocidade tais como guindastes, em que a utilização de motores trifásicos torna-se economicamente inviável. 4.2 Construção de uma máquina c.c A máquina elétrica cc poderá ser utilizada como gerador ou como motor. No primeiro caso, converterá energia mecânica em energia elétrica, e no segundo, energia elétrica em energia mecânica. Construtivamente, a máquina cc, possui uma parte estática denominada estator e uma girante denominada rotor, necessárias para que ocorra o movimento relativo entre campo magnético e condutores, condição básica para a Lei de indução de Faraday, que é o princípio de funcionamento das máquinas elétricas. A figura 29 mostra as partes internas de uma máquina de corrente contínua básica e sua representação.

Figura 29 – Partes de uma máquina cc básica

Fonte: Acervo Saber.

O rotor é composto por: a) eixo da Armadura: responsável pela transmissão de energia mecânica para o meio externo ao motor, pelo suporte dos elementos internos do rotor e pela fixação ao estator, por meio de rolamentos e mancais; b) núcleo da armadura: composta de lâminas de Fe-Si, isoladas umas das outras,com ranhuras axiais na sua periferia para abrigar os enrolamentos da armadura; c) enrolamento da armadura: são bobinas isoladas entre sí e eletricamente

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ligadas ao comutador; e d) comutador: consiste de uma anel com segmentos de cobre isolados entre sí, e eletricamente conectados às bobinas do enrolamento da armadura. O estator é composto por: a) carcaça: serve de suporte ao rotor, aos polos e de fechamento de caminho magnético; b) enrolamento de campo: são bobinas que geram um campo magnético intenso nos pólos; c) polos ou sapatas polares: distribuem o fluxo magnético produzido pelas bobinas de campo; e d) escovas: são barras de carvão e grafite que estão em contato permanente com o comutador. A figura 30 mostra uma máquina elétrica de cc comercial.

Figura 30 - Construção da máquina cc

Fonte:www .oficinaecia.com.br

4.3- Geradores cc Conforme descrito anteriormente, o gerador cc converte energia mecânica de rotação em energia elétrica através do movimento relativo entre condutores e

Page 73: Sistemas Eletricos Maritimos 1

um campo magnético. O campo magnético de uma máquina cc está localizado em sua parte estática, sendo que uma máquina comercial apresenta duas bobinas de campo identificadas por F1- F2( campo principal ou shunt) e S1-S2(campo auxiliar ou série),conforme veremos posteriormente. A armadura através do eixo é posta em movimento de rotação por uma fonte de energia mecânica, por exemplo, uma turbina hidráulica ou eólica. Os condutores da armadura, ao entrarem em movimento de rotação, cortarão as linhas de força do campo magnético estático e neles será induzida uma tensão segundo a lei de indução de Faraday; entretanto, sabemos que esta tensão gerada é do tipo alternada, logo, como o gerador é de corrente contínua? A resposta a esta pergunta está na ação do comutador, a qual, no gerador, é a de um retificador mecânico.Os bornes que ligam as escovas aos anéis do comutador e estes aos terminais do enrolamento da armadura são identificados por A1-A2.. 4.4 Classificação dos geradores cc quanto à excitação Os geradores de corrente contínua classificam-se quanto à excitação, ou seja, a forma como o campo magnético é alimentado, em geradores de excitação independente e geradores autoexcitados. 4.5 Geradores cc com excitação independente Os geradores de excitação independente ou separada possuem o campo magnético alimentado por uma fonte adicional independente da máquina elétrica que irá operar.Em geral, o enrolamento de campo que produz a excitação é constituído de condutores que não suportam grandes correntes, pois a excitação, em geral, utiliza correntes baixas para produzir o campo magnético em comparação com as correntes que circulam no enrolamento de armadura.A figura 31 mostra o circuito equivalente de um gerador cc com excitação indepentente.

Figura 31 - Gerador cc com excitação independente

Fonte: Acervo Saber.

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4.6 Geradores cc autoexcitados Os geradores cc autoexcitados utilizam uma parcela da tensão gerada para alimentar o seu campo magnético. Como citado no item 4.2, as máquinas cc possuem duas bobinas de campo identificadas respectivamente por F1-F2(constituída por muitas espiras de fino) e D1-D2(constituída por poucas espiras de fio grosso), sendo a primeira a bobina de campo principal ou “shunt” e a segunda a bobina de campo auxiliar ou série. Dependendo da configuração como estas bobinas são ligadas em relação à armadura, podemos ter os seguintes tipos: a) gerador série Neste tipo de gerador o campo auxiliar é ligado em série com a armadura, daí a necessidade das espiras serem constituídas por fios grossos, pois toda a corrente fornecida pela armadura para a carga passará pelo campo magnético. Observe na figura 32 que neste tipo de gerador somente haverá a excitação se houver carga para completar o circuito.

Figura 32 - Gerador série Fonte: Acervo Saber.

Onde:

E→ Tensão gerada na armadura; V→ Tensão fornecida à carga; Ri→ resistência ôhmica interna da armadura; Rs→resistência ôhmica do enrolamento do campo série; e Ic→ corrente elétrica de carga. A figura 33 mostra a curva característica de um gerador cc tipo série. No início de operação, se o circuito estiver fechado, uma pequena tensão é induzida devido ao magnetismo residual( A). Quando o gerador passa à condição de alimentação de carga, a corrente de campo aumenta, aumentando a tensão gerada na armadura. Aumentando-se a carga, a tensão nos terminais de carga aumentará até chegar no intervalo entre os pontos B e C, onde o campo magnético atingirá seu ponto de saturação e qualquer novo aumento na

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corrente de carga não provocará um incremento na tensão gerada. Após o ponto C, qualquer aumento na corrente de carga provocará maiores quedas de tensão nas resistências ôhmicas da armadura e do campo, causando acentuada diminuição na tensão de saída do gerador. O gerador série funciona na região entre C e E,de modo que a corrente na carga permanece constante, mesmo quando a resistência da carga varia, sendo portanto, um gerador de corrente constante. Atualmente os geradores cc tipo série não possuem aplicações em navios.

Figura 33 - Curva característica do gerador série

Fonte: Acervo Saber.

b) gerador “shunt” ou derivação Quando o campo principal é ligado em paralelo com a armadura, teremos o gerador “shunt”. Neste tipo de gerador, uma pequena parcela da corrente de armadura passará pelo campo principal, sendo controlada pelo reostato de campo, sendo que, mesmo sem carga, haverá corrente de excitação, pois o circuito de campo é independente do circuito de armadura. A figura 34 mostra o circuito equivalente de um gerador derivação ou “shunt”.

Figura 34 - Gerador “shunt”

Fonte: Acervo Saber.

Onde: E→ Tensão gerada na armadura;

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V→ Tensão fornecida à carga; Ri→ resistência ôhmica interna da armadura; Rsh→resistência ôhmica do enrolamento do campo “shunt”; Ic→ corrente elétrica de carga; Ii→ corrente elétrica de armadura; e Ie→ corrente elétrica de excitação do campo “shunt”. Em um gerador “shunt”, o crescimento da tensão entre os terminais é rápido, pois a excitação existirá mesmo com o circuito de carga aberto.À medida que a carga aumenta, a tensão entre os terminais externos diminuirá, devido ao aumento da queda de tensão na resistência ôhmica da armadura.

Figura 35 - Curva característica do gerador “shunt”

Fonte: Acervo Saber.

Observe na figura 35 que a queda de tensão entre os terminais de carga, quando a corrente de carga aumenta desde a condição a vazio até a condição de plena carga, é relativamente pequena. O gerador “shunt” é utilizado em aplicações onde desejamos uma tensão praticamente constante, independentemente da variação de carga. A tensão entre os terminais de um gerador “shunt” é controlada através de um reostato ligado em série com o enrolamento de campo. c) gerador composto ou misto Combinando-se os geradores série e “shunt”, obteremos o gerador composto (compound) ou misto. Quando o campo em série é ligado com polaridade aditiva em relação ao campo “shunt”, ou seja, quando os campos reforçam-se, dizemos que o gerador é do tipo composto cumulativo. Quando a polaridade do campo série é oposta à do campo “shunt”, dizemos que o gerador é do tipo composto diferencial. Se o campo “shunt” for ligado em paralelo com o campo série e a armadura, dizemos que é composto de longa derivação; se for ligado em paralelo somente com a armadura, dizemos que é composto de curta derivação. Em ambos os tipos de ligação do campo “shunt”, as características são praticamente iguais, conforme mostra a figura 36.

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Figura 36 - Gerador misto

Fonte: Acervo Saber.

Onde: E→ Tensão gerada na armadura; V→ Tensão fornecida à carga; Ri→ resistência ôhmica interna da armadura. Rsh→resistência ôhmica do enrolamento do campo “shunt”; Ic→ corrente elétrica de carga; Ii→ corrente elétrica de armadura; e Ie→ corrente elétrica de excitação do campo “shunt”.

Figura 37 - Curva característica do gerador misto

Fonte: Acervo Saber.

Os geradores de excitação composta eliminam a queda de tensão de saída dos geradores “shunt” quando a carga é aumentada, pois a adição do campo série reforça o campo magnético total quando a corrente de carga aumenta, compensando a queda de tensão na resistência ôhmica da armadura, obtendo--se uma tensão de saída praticamente constante.

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4.7 Ação do comutador na máquina cc No item 4.2 verificamos a construção de uma máquina cc que pode funcionar como gerador ou motor, dependendo da conversão de energia: mecânica em elétrica ou vice-versa. Verificaremos neste item que, no gerador, a função do comutador é de retificação mecânica da tensão gerada e, no motor é de dar continuidade no movimento de rotação. a) ação do comutador em um gerador cc Sabemos que, em um gerador elementar, a tensão gerada possui forma senoidal e é transferida para uma carga através de dois aneis coletores ligados nas extremidades da espira imersa em um campo magnético, conforme mostra a figura 38.

Figura 38- Gerador elementar Fonte: www.joseclaudio.eng.br

Aplicando a regra da mão esquerda aos dois lados da espira, verifica-se que as duas escovas fazem contato com condutores que nos primeiros 180º deslocam-se para cima e nos 180º restantes deslocam-se para baixo, pois sabemos que a espira está em movimento circular uniforme. A forma de onda da tensão gerada é mostrada na figura 39.

Figura 39 - Forma de onda do gerador elementar

Fonte: www.joseclaudio.eng.br

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Se eliminarmos um anel coletor e dividirmos o outro em dois segmentos e ligarmos cada um deles nas extremidades da espira, conforme a figura 40, verificamos que a escova do lado esquerdo está em contato com um condutor que está em movimento para cima e a escova do lado direito com um condutor em movimento para baixo. Aplicando a regra da mão esquerda, verificamos que as polaridades das escovas não são alteradas durante uma volta completa da espira, ou seja, uma escova terá sempre polaridade positiva e a outra polaridade negativa.Desta forma, a tensão de saída do gerador é retificada mecanicamente e cada metade do anel coletor é denominado de segmento do comutador. A figura 41 mostra a forma de onda da tensão retificada em um gerador elementar.

Figura 40 - Gerador cc elementar

Fonte: Hyperphysics.

Figura 41 - Forma de onda de um gerador cc elementar. Fonte: Hyperphysics.

b) ação do comutador em um motor cc

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A ação do comutador em um motor c.c. é dar continuidade ao movimento de rotação, conforme verificaremos nos itens seguintes. 4.8 Motores cc Os motores de corrente contínua têm sua principal aplicação nas condições que exijam elevado conjugado de partida, como na tração elétrica, ou quando se deseja controle de velocidade sobre amplas faixas, ou ainda quando se deseja grandes potências com velocidades ajustáveis. Além disso, as máquinas de corrente contínua possuem aplicações onde a fonte de tensão disponível seja de corrente continua. Nos navios mercantes antigos, os motores de corrente contínua eram bastante empregados. Nos navios atuais, devido ao avanço da eletrônica de potência, os motores trifásicos estão sendo empregados em larga escala, pois a velocidade dos mesmos pode ser controlada através dos inversores de frequência, e, através de “soft-starter” consegue-se partidas suaves com altos torques. Os motores cc possuem altos custos de aquisição e necessitam de manutenção rigorosa em relação aos motores trifásicos. 4.9 Princípio de funcionamento dos motores cc Quando a máquina cc for utilizada como motor, alimentam-se os circuitos de armadura e de campo, obtendo-se através de efeitos eletromagnéticos a rotação da armadura. Para entendermos o funcionamento do mesmo, utilizaremos o motor elementar mostrado na figura 42, na qual a armadura é representada pelo corte transversal de uma única espira.

Figura 42 - Motor elementar cc Linhas de força do campo magnético das peças polares.

Na figura acima, são representadas as linhas de força do campo magnético das peças polares devido à corrente contínua que circula na bobina de campo, não sendo representadas as linhas de força do campo magnético ao redor da espira que representa a armadura. A figura 43 representa somente as linhas de força do campo magnético ao redor da espira.

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Figura 43 - Motor elementar cc Linhas de força do campo magnético da armadura.

Observando as figuras 42 e 43 e fazendo a composição dos campos magnéticos das peças polares e da armadura, acima do condutor do lado esquerdo há um reforço das linhas de força, pois as mesmas( peça polar e armadura) estão no mesmo sentido; abaixo do mesmo há um enfraquecimento do campo,pois as linhas de força estão em sentidos contrários. No condutor do lado direito ocorrerá o inverso, ou seja,um enfraquecimento do campo magnético acima e um reforço abaixo do mesmo, conforme mostra a figura 44. Observe que a configuração do campo magnético no interior da máquina, devido à interação dos campos magnéticos das peças polares e da armadura, atua de forma a empurrar o condutor do lado esquerdo para baixo e o do lado direito para cima, originando um binário que tende a deslocar a armadura no sentido anti-horário

Figura 44 - Motor elementar cc Linhas de força no interior da máquina.

Na figura 45 mostramos a armadura do motor elementar, em corte transversal em todos os condutores e não somente em uma espira, como na figura 42. Observamos que a armadura forma um ímã de polos N’ e S’ que são atraídos pelos polos N e S das peças polares, dando origem ao movimento de rotação.

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Figura 45 - Motor elementar cc Interação entre os campos magnéticos das peças polares e da armadura.

Na figura 46, observamos que, após um deslocamento de 90º da armadura, seu polo S’ será firmemente atraído pelo polo N da peça polar, o mesmo acontecendo com seu polo N’ em relação ao polo S da peça polar. Neste instante, o movimento de rotação da armadura irá parar. Entretanto, neste momento é invertido o sentido da corrente da armadura, através dos segmentos do comutador; consequentemente, é invertida a polaridade da armadura e será mantida a continuidade do movimento de rotação. Observe que os condutores da armadura do lado direito, que estavam em contato com a escova positiva, passarão a entrar em contato com a escova negativa; já os condutores do lado esquerdo, que estavam em contato com a escova negativa, passarão a entrar em contato com a escova positiva, invertendo o sentido da corrente na armadura, ou seja, o comutador em um motor cc tem a finalidade de manter a continuidade de movimento, conforme mostram as figuras 46 e 47.

Figura 46 - Motor elementar cc Interação entre os campos magnéticos das peças polares e da armadura.

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Figura 47 - Motor elementar cc

Ação do comutador para continuidade de movimento.

4.10 Equação fundamental dos motores cc Através da figura 48, que representa o circuito equivalente de um motor cc, iremos obter suas equações básicas:

Figura 48 - Circuito equivalente de um motor cc

Fonte: Acervo Saber.

Aplicando a lei de Kirchhoff ao circuito da armadura, teremos: U= R.I + E, onde: U é a tensão aplicada na armadura; R é a resistência ôhmica da armadura; I é a corrente da armadura ou fornecida pela fonte; e E é a força eletromotriz desenvolvida na armadura. a) velocidade(n) do motor cc E= K.n.Ф ( lei de Faraday). U= R.Ia + K.n.Ф n= (U- R.Ia)/(K.Ф) ( r.p.m ) b) torque(T) ou conjugado de um motor c.c. E.Ia = T.W K.n.Ф.Ia = T.2.п.n T= (K.n.Ф.Ia)/(2.п.n) T= K’.Ф.Ia ( N.m )

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4.11 Tipos de motores cc Igualmente aos geradores de corrente contínua, os motores cc classificam-se de acordo com as ligações do campo magnético em relação à armadura, ou seja, série, ‘shunt” e “compound”. a) motor série A figura 49 mostra o circuito equivalente de um motor cc tipo série, em que o campo magnético é ligado em série com a armadura. Convém lembrar que é o campo auxiliar (poucas espiras de fio grosso) que está ligado e não o campo auxiliar (muitas espiras de fio fino).

Figura 49 - Circuito equivalente do motor cc série

Fonte:Prof. Ivan Camargo. Equacionando, teremos: Va= (ra + rf)xIa + E, onde: Ia=if→ corrente de armadura ou de campo; Va→ tensão aplicada na armadura; ra→ resistência ohmica da armadura; rf→ resistência ohmica do campo; e E→ força contra-eletromotriz desenvolvida na armadura. Nos motores cc tipo série, quando a carga aumenta, a corrente de armadura (ou de campo) aumentará, a velocidade diminuirá, pois, como sabemos, a velocidade de um motor cc é inversamente proporcional à intensidade do campo magnético. O torque aumentará bastante, já que dependerá diretamente do quadrado da corrente de armadura, ou seja: T= KΦIa Φ= K’Ic If=Ia Então: T=K’’(Ia)²

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O motor cc tipo série possui velocidade variável, isto é, sua velocidade varia bastante com a variação de carga. Ele gira lentamente com pesadas cargas e, muito rapidamente, com cargas leves. Se a carga for retirada completamente, o motor irá disparar perigosamente, podendo até despedaçar, pois a corrente de armadura será muito pequena e o campo muito fraco e, para recuperar o equilíbrio, as linhas de força deverão ser cortadas rapidamente. O motor série é conveniente quando parte com cargas pesadas ligadas a ele como, por exemplo, guindastes e guinchos, porque com altas correntes na armadura, ele produz um torque elevado e funciona em baixa rotação. Os grandes motores série são geralmente ligados diretamente à carga e não através de correias ou polias. A figura 50 mostra as curvas características de um motor série.

Figura 50 - Características de um motor série

Fonte: Eletricidade Básica – Coleção Schaum.

b) motor “shunt” Este é o tipo mais comum de motor cc. Ele é ligado da mesma forma que o gerador “shunt” ou gerador em derivação, conforme mostra a figura 51.

Suas curvas características de velocidade carga e torque carga ( figura 52) mostram que o torque aumenta linearmente com o aumento na corrente da armadura, enquanto a velocidade cai ligeiramente, à medida que a corrente da armadura aumenta. A velocidade básica é a velocidade com carga máxima. O ajuste de velocidade é feito inserindo-se uma resistência no campo usando um reostato. Em uma determinada posição do reostato, a velocidade do motor permanecerá praticamente constante para todas as cargas. Os acionadores ou dispositivos de partida usados com os motores cc limitam a corrente de partida da armadura em 125 a 200 por cento da corrente de carga máxima (nominal). Deve-se tomar cuidado para não se abrir o circuito do campo de um motor “shunt” que está em operação, porque a velocidade do motor aumenta descontroladamente até o motor danificar.

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Figura 51 - Circuito equivalente do motor cc “shunt”. Fonte: Prof. Ivan Camargo.

Equacionando, teremos: Va= Vf=ra.Ia + E=rf.If I= Ia + If, onde: Ia→ corrente de armadura ou de carga; If→ corrente de campo;. Va→ tensão aplicada na armadura; Vf→ tensão aplicada no campo; ra→ resistência ôhmica da armadura; rf→ resistência ôhmica do campo; e E→ força contraeletromotriz desenvolvida na armadura.

Figura 52 - Características de um motor “shunt”

Fonte: Eletricidade Básica – Coleção Schaum.

c) motor “compound”.

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Este tipo de motor cc associa as características operacionais dos motores “shunt” e dos motores série, utilizando simultaneamente as bobinas de campo principal e de campo auxiliar, conforme mostradas na figura 52. O motor composto funciona com segurança sem carga. À medida que se adicionam as cargas, a sua velocidade diminui, e o torque é maior se comparado com o do motor “shunt”, conforme a figura 53.

Figura 52 - Circuito equivalente do motor cc “compound” Fonte: Prof. Ivan Camargo.

Os fluxos dos dois enrolamentos de campo podem se somar no entreferro (compound aditiva) ou se subtrair (compound subtrativa). Por outro lado, visto dos terminais da máquina, o enrolamento de campo série pode estar depois do enrolamento paralelo (compound longa), ou antes (compound curta). As equações em regime permanente de cada um destes modelos podem ser facilmente obtidas a partir dos seus respectivos diagramas.

Figura 53 - Características de um motor “compound”

Fonte: Eletricidade Básica – Coleção Schaum. Na figura 54, são comparadas as curvas características de torque e velocidade em função da corrente de armadura dos motores cc tipo série,

Page 88: Sistemas Eletricos Maritimos 1

“shunt” ou derivação e “compound”. Os motores cc podem também ser excitados por um imã permanente; neste caso, se comportam como uma máquina de excitação independente. Normalmente estas máquinas são pequenas.

Figura 54 - Comparação das características dos tipos de motores cc

Fonte: Eletricidade Básica – Coleção Schaum.

4.12 Controle de velocidade dos motores cc Em diversas aplicações práticas, torna-se necessário controlar a velocidade de um motor de corrente contínua, em função da variação da carga acionada. Através do circuito equivalente de um motor cc mostrado na figura 55, equacionaremos este parâmetro e analisaremos os fatores que o determinam.

Figura 55 - Circuito equivalente de um motor cc Fonte: Eletricidade Básica – Coleção Schaum.

Através do circuito acima, temos que: Ua= Ia.Ra + E (1), onde, Ua é a tensão aplicada na armadura; Ia é a corrente circulante na armadura;

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Ra é a resistência ôhmica do enrolamento da armadura; e E é a tensão gerada (força eletromotriz) na armadura, através da lei de Faraday, pois seus condutores cortam o campo magnético das peças polares. A força eletromotriz gerada na armadura é diretamente proporcional à velocidade (N) com que os condutores da armadura cortam o fluxo(Ф) do campo magnético, ou seja: E= k.Ф.N (2), onde k é uma constante construtiva do motor. Substituindo a equação (2) na equação (1), teremos: N= k.( Ua-ia.Ra)/Ф (3) Admitindo-se na equação (3) que Ra.Ia=0, pois a resistência da armadura possui valor baixíssimo, teremos: N= k.Ua/Ф (4) Através da equação (4), observamos que a velocidade atingida por um motor cc varia diretamente com o valor da tensão aplicada na armadura e inversamente com o fluxo magnético das peças polares, sendo que um circuito de campo aberto provocará uma altíssima velocidade que poderá danificar permanentemente a máquina, pois o fluxo magnético é diretamente proporcional à corrente de campo. O controle de velocidade até ao valor nominal é feita através da variação da tensão aplicada na armadura do motor, mantendo-se o fluxo magnético constante. Velocidades superiores à nominal podem ser conseguidas pela diminuição do fluxo magnético, mantendo-se constante o valor da tensão aplicada na armadura. 4.13 Acionamentos com velocidade variável Conforme visto anteriormente, a velocidade dos motores de corrente contínua pode ser controlada através da tensão de armadura ou através da intensidade do campo magnético das peças polares. Controlar a velocidade de motores torna-se necessário para manter a boa qualidade de determinadas aplicações e pode ser efetuado utilizando-se um microprocessador PIC programável em linguagem C ou C++, as quais são aplicáveis na maioria dos processos automatizáveis. Um outro método utiliza o microcontrolador Intel 8051 através de um controle de velocidade em malha fechada. Nos navios mercantes, os pequenos motores cc utilizados em diversos acionamentos específicos de equipamentos de navegação, empregam os citados controladores, podendo-se alterar parâmetros durante o funcionamento.

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4.14 Resistência de partida de um motor cc Através da equação (1) do item anterior, verificamos que Ia= (Ua – E)/Ra, ou seja, a corrente de armadura depende diretamente da diferença entre a tensão aplicada na armadura e a força eletromotriz que surge na mesma quando o motor está em movimento, e, inversamente do valor da resistência ôhmica da armadura. No instante da partida do motor E=0, pois não há movimento relativo entre o campo magnético das peças polares e os condutores que formam a armadura, e, sendo a resistência ôhmica da armadura de valor baixíssimo, a corrente de partida atingirá um valor elevado que poderá danificar o motor. Para evitar este inconveniente, é introduzido um reostato em série com a armadura. No momento da partida, o reostato deverá estar no seu valor máximo, sendo gradativamente retirado, com o motor entrando em movimento lentamente. Após o motor entrar em movimento, surgirá a força eletromotriz na armadura, limitando a corrente de partida. 4.15 Inversão do sentido de rotação de um motor cc Para inverter o sentido de rotação de um motor cc existem duas possibilidades: inverter as polaridades da tensão aplicada na armadura ou inverter as polaridades da tensão aplicada ao campo magnético. Inverte-se um ou outro parâmetro, nunca os dois ao mesmo tempo. É importante observar que, para inverter o sentido de rotação utilizando-se o campo magnético, há a necessidade de interromper o circuito de campo, o que em um motor tipo “shunt” ou em um de excitação independente, ocasionará sobrevelocidade. Portanto, o método seguro de inversão do sentido de rotação de um motor cc é fazê-lo invertendo-se as polaridades da tensão aplicada na armadura.

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7 Motores de Corrente Alternada

7.1 Introdução

A carga elétrica alimentada pelos geradores síncronos de um navio, em sua maior parte, é composta por motores elétricos de corrente alternada, também denominados motores de indução ou assíncronos. Há ainda o motor de indução síncrono, porém, este tipo de motor ac possui aplicação reduzida em instalações elétricas marítimas. Atualmente, os sistemas de acionamento dos motores de indução utilizam componentes eletrônicos tiristorizados através de equipamentos denominados “soft starter” e conversores de frequência; entretanto, em grande parte da frota mercante mundial encontramos os sistemas de acionamento que utilizam componentes eletromecânicos. A compreensão do princípio de funcionamento e do acionamento destas máquinas será de grande utilidade na solução de prováveis defeitos que você vivenciará no navio.

7.2 Classificação dos motores ca

Os motores de corrente alternada. classificam-se quanto ao funcionamento em síncronos e assíncronos. Um motor é classificado como síncrono quando seu eixo gira na mesma velocidade do campo magnético girante da rede elétrica na qual está ligado, ou seja, o motor gira em sincronismo com a geração de energia elétrica(alternadores). O motor elétrico é classificado como assíncrono quando seu eixo gira em uma velocidade menor que a do campo magnético girante da rede elétrica na qual está ligado, podendo ser alimentado trifasicamente ou monofasicamente.Nesta classificação, podemos ter:

a) Motores de corrente alternada trifásicos:

* motores assíncronos ( de indução) tipo gaiola;

* motores assíncronos de rotor bobinado; e

* motores síncronos.

b) motores de corrente alternada monofásicos:

* motores assíncronos (de indução) tipo gaiola;

* motores assíncronos de rotor bobinado; e

* motores síncronos.

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c) motores especiais:

* motores universais;

* motores de passo; e

* servomotores.

O fluxograma abaixo mostra os diversos tipos de motores existente atualmente.

Figura 89 - Tipos de motores elétricos

Fonte: Acervo Saber.

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7.3 Princípio de funcionamento dos motores AC – campo girante

Quando uma bobina é percorrida por uma corrente elétrica, é criado um campo magnético dirigido conforme o eixo da bobina e de valor proporcional à corrente.

Na figura 90 é mostrado um enrolamento monofásico atravessado por uma corrente I, sendo H o campo magnético criado por ela. O enrolamento é constituído de um par de polos (um polo “norte” e um polo “sul”), cujos efeitos se somam para estabelecer o campo H. O fluxo magnético atravessa o rotor entre os dois polos e se fecha através do núcleo do estator.Se a corrente I é alternada, o campo H também é, e inverte seu sentido em cada meio ciclo.O campo H é pulsante, pois sua intensidade varia proporcionalmente à corrente, sempre na “mesma” direção norte--sul.

Figura 90- Campo criado em um enrolamento manofásico

Fonte: Acervo Saber.

Na figura 91 é mostrado um enrolamento trifásico, composto por três monofásicos espaçados entre si de 120 graus. Se este enrolamento for alimentado por um sistema trifásico, as correntes I1, I2 e I3 criarão, do mesmo modo, os seus próprios campos magnéticos H1, H2 e H3. Estes campos são espaçados entre si de 120 graus. O campo total H resultante, a cada instante, será igual à soma dos três campos H1, H2 e H3, naquele instante.

Page 94: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Figura 91 - Campo criado em um enrolamento trifásico

Fonte: Acervo Saber.

A figura 92 mostra as três formas de ondas de tensão U1, U2 e U3, defasadas de 120º, em um ciclo de 360º, originando a composição dos campos magnéticos H1, H2 e H3, mostrados em seis posições, gerando a sequência de fases de sentido horário do campo resultante H, como mostrado na figura 82. Este campo magnético girante, aplicado nos enrolamentos do estator, é o responsável pelo funcionamento dos motores de indução. Quando permuta-se duas fases, inverte-se o sentido do campo magnético girante, conseqüentemente invertendo-se o sentido de rotação do motor.

Figura 92 - Tensões trifásicas

Fonte: WEG.

Page 95: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Figura 93- Composição de um campo magnético girante

Fonte: WEG.

7.4 Construção do motor trifásico síncrono

Construtivamente um motor síncrono é idêntico a um alternador, estudado na unidade de ensino 6. Teóricamente, a máquina síncrona pode ser utilizada como gerador, convertendo energia mecânica em energia elétrica ou como motor em conversão inversa.

O motor síncrono é formado pelos seguintes componentes:

a) estator:

a.1) carcaça: sua função principal é apoiar e proteger o motor, servindo de alojamento para os enrolamentos do estator ou da armadura, em ranhuras localizadas nas chapas metálicas de aço silício,de baixas perdas magnéticas. A carcaça forma um conjunto sólido e robusto, sendo a base estrutural da máquina. A figura 94 mostra o estator de um motor síncrono de grande porte.

Page 96: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Figura 94 - Estator de um motor síncrono

Fonte:WEG.

a.2) enrolamentos ou bobinas de armadura: os enrolamentos da armadura são alojados em ranhuras localizadas nas chapas de aço silício que formam o núcleo, defasados de 120º, ligados em estrela ou em triângulo, e, quando alimentados através de uma fonte trifásica, irão gerar o campo magnético girante necessário ao funcionamento do motor. A figura 95 mostra os enrolamentos ou bobinas da armadura de um motor síncrono.

Figura 95 - Enrolamentos ou bobinas de armadura

Fonte: WEG.

a.3) excitatriz: tem como função fornecer corrente contínua magnetizante para a bobina de campo do motor. Tal como o gerador síncrono, o motor congênere possui um dos dois tipos de excitatrizes, ou seja, a excitatriz “brushless” (sem escovas) ou a excitatriz estática.

Page 97: Sistemas Eletricos Maritimos 1

A excitatriz “brushless” (sem escovas) é composta pelo rotor, estator, diodos retificadores e circuito de disparo. A excitatriz estática é composta de anéis coletores e escovas e depende de uma fonte externa para alimentação do campo do motor. A figura 96 mostra a excitatriz dinâmica de um motor síncrono. Motores síncronos com sistema de excitação brushless possuem uma excitatriz girante, normalmente localizada em um compartimento na parte traseira do motor. A excitatriz funciona como um gerador de corrente alternada onde o rotor que fica localizado no eixo do motor, possui um enrolamento trifásico e o estator é formado por polos alternados norte e sul alimentados por uma fonte de corrente contínua externa.O enrolamento trifásico do rotor é conectado a uma ponte de diodos retificadores. A tensão gerada no rotor é retificada e utilizada para a alimentação do enrolamento de campo do motor.

A amplitude desta corrente de campo pode ser controlada através do retificador que alimenta o campo do estator da excitatriz. Os motores síncronos com excitação brushless possuem um custo de manutenção reduzido. devido ao fato de não possuirem escovas.

Por não possuirem contatos elétricos deslizantes, eliminando a possibilidade de faiscamento, os motores síncronos com excitação do tipo brushless são recomendados para aplicações em áreas especiais com atmosfera explosiva.

Motores síncronos com excitatriz do tipo estática são constituidos de anéis coletores e escovas que possibilitam a alimentação de corrente dos polos do rotor através de contato deslizante. A corrente contínua para alimentação dos polos deve ser proveniente de um conversor e controlador estático CA/CC.

A excitatriz estática atualmente está sendo muito utilizada em aplicações com variação de velocidade através de inversores de freqüência.

Figura 96 - Excitatriz “brushless”

Fonte: WEG.

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A figura 97 mostra uma excitatriz estática de um motor síncrono.

Figura 97 - Excitatriz estática

Fonte: WEG.

A figura 98 mostra, em diagrama simplificado,um sistema de excitação estático.

Figura 98 - Sistema estático simplificado

Fonte: WEG.

A figura 99 mostra, em diagrama simplificado,um sistema de excitação dinâmico.

Page 99: Sistemas Eletricos Maritimos 1

Figura 99- Sistema dinâmico simplificado

Fonte: WEG.

7.5 Princípio de funcionamento do motor síncrono trifásico

O motor síncrono possui o estator idêntico ao do alternador estudado na unidade de ensino 6, e,ao ser alimentado por tensão alternada trifásica, produz o campo girante constante, girando na velocidade síncrona. Existe um outro campo no rotor, criado pela alimentação das bobinas das sapatas polares por tensão contínua través dos anéis coletores. Conforme veremos a seguir, o motor síncrono por si só não tem torque de partida, devendo ser acelerado por algum meio auxiliar. Uma maneira é utilizar o enrolamento amortecedor ou de compensação ou ainda em gaiola de esquilo para a partida, que consiste de barras sólidas embutidas na superfície da face polar e curto-circuitadas em cada extremidade por meio de anéis conforme mostra a figura 100.

Figura 100 - Peça polar e enrolamento amortecedor de um motor síncrono

Fonte: Fitzgerald.

Seja uma tensão trifásica aplicada ao estator de um motor síncrono, num instante em que as correntes em cada bobina são mostradas na figura 101, com a corrente na bobina a-a’ na posição1da figura 102.

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Figura 101 - Campo magnético parado

Fonte: Fitzgerald.

Figura 102 - Corrente na bobina a-a’

Fonte: Ftzgerald.

Devido aos polos criados pelo campo (motor de 2 polos) um condutor se encontra sobre o polo N e outro sob o polo S. Da interação entre a corrente nos condutores (superior e inferior) e os campos, como o condutor é fixo, a face polar superior fica sujeita a um torque para a direita, enquanto que a face polar inferior fica sujeita a um torque para a esquerda, como mostra a figura 103.

Portanto, o rotor fica sujeito a um torque que tenderia a move-lo no sentido horário. Para a corrente na posição 2 da figura 102 se tem a inversão da corrente e o rotor fica sujeito a um torque que tenderia a move-lo no sentido anti-horário, em conseqüência das interações mostradas na figura 104.

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Figura 103 - Interações entre linhas de campo(1)

Fonte: Fitzgerald.

Figura 104 - Interações entre linhas de campo(2)

Fonte: Fitzgerald.

Devido à inércia do rotor, o torque produzido em um segundo é nulo, pois o rotor foi efetivamente atraído alternativamente, nos sentidos horário e anti-horário, 60 vezes naquele segundo, para a frequência de 60 Hz.Se o rotor for levado até a velocidade síncrona, no momento em que se inverter o sentido da corrente, inverte-se o campo, o que fará que se tenha um torque líquido.

Os polos N e S do rotor,girando a uma velocidade síncrona, entram em sincronismo com o campo magnético girante. Se for adicionada uma carga ao eixo da máquina, o contratorque criado por ela fará com que o rotor se atrase momentaneamente; porém, se uma carga excessiva for adicionada a ponto de o rotor sair do sincronismo, o motor para de funcionar. Logo, um motor síncrono ou funciona à velocidade síncrona ou não funciona.

7.6 Métodos de partida de motores síncronos

É evidente, então, que se deve trazer o rotor a uma velocidade suficiente próxima da síncrona, para ocorrer o sincronismo com o campo girante. Alguns dos meios para que isto aconteça são: a) utilizar um motor acoplado ao eixo do motor síncrono, que se for de indução deve ter, no mínimo, um par de polos a menos que os do motor síncrono; e b) a utilização dos enrolamentos de compensação. Na partida com enrolamentos de compensação, deve-se curto-circuitar o enrolamento de CC enquanto se aplica CA ao estator, trazendo o motor até sua velocidade a vazio como um motor de indução. Em seguida remove-se o curto-

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circuito do campo e aplica-se tensão CC a este enrolamento, ajustando-se a corrente (pode-se variar o nível de tensão CC ou o valor da resistência de campo) para que ela seja mínima. Na partida sob carga, a melhor técnica é utilizar um rotor bobinado em lugar do enrolamento em gaiola nas faces polares, ou seja, o chamado enrolamento de compensação tipo rotor bobinado. A figura 105 mostra um diagrama esquemático, onde se utiliza, acoplado ao enrolamento de campo, uma resistência trifásica. O motor parte com toda a resistência externa por fase e com o enrolamento de campo curto-circuitado. À medida que se diminui a resistência, o rotor se aproxima da velocidade síncrona e, após ela ser atingida, aplica-se uma tensão contínua ao campo.

Figura 105 - Partida do motor síncrono bobinado sob carga

Fonte: Fitzgerald.

7.7 Características de funcionamento do motor síncrono O motor síncrono tem duas fontes de excitação possíveis: a da fonte trifásica CA na armadura e a de CC no enrolamento de campo. Se a corrente de campo é exatamente suficiente para produzir a fmm necessária, não se necessitando de corrente de magnetização ou potência reativa, o motor funciona com fator de potência unitário. Quando a corrente de campo é menor que a suficiente, se diz que o motor está subexcitado, a deficiência em fmm precisa ser suprida pela armadura; o motor funciona com fator de potência atrasado. Se a corrente de campo é maior que o necessário, se diz que o motor está sobreexcitado, o excesso de fmm deve ser contrabalanceado na armadura e uma componente de corrente adiantada está presente; o motor funciona com fator de potência adiantado.

O motor síncrono, quando funcionando na condição de sobreexcitado e a vazio, recebe o nome de condensador síncrono e desempenha a mesma função de um banco de capacitores, sendo mais eficientes que os capacitores estáticos.

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7.8 Aplicações dos motores síncronos

Nos navios mercantes, os motores síncronos estão presentes em acionamentos de elevadores, em sistemas híbridos de geração de energia elétrica, recuperando a energia reativa perdida na operação de geradores de eixo, elevando o fator de potência da instalação.

7.9 Motores de indução trifásicos- princípio de funcionamento

O princípio de funcionamento de um motor trifásico de indução está baseado na formação de um campo magnético girante(como no motor síncrono), na parte estática do motor. Este campo magnético girante induzirá, na parte rotativa do motor que, como veremos posteriormente, pode ser do tipo gaiola ou bobinado, um campo magnético que, pela Lei de Lenz, estará em oposição ao campo indutor. O campo girante do estator desloca-se com velocidade constante, denominada velocidade síncrona, dada por:

Ns= 120.F/P, onde:

Ns é a velocidade síncrona em r.p.m.

F é a frequência da rede elétrica em hertz.

P é o número de polos magnéticos do motor.

O campo magnético induzido no rotor tenderá inicialmente a caminhar em sentido oposto ao do campo indutor, porém, será arrastado pelo mesmo. Devido à inércia, a velocidade com que o campo magnético girante do rotor caminhará será menor que a do campo magnético girante do estator. Esta defasagem de velocidades entre os campos magnéticos girantes do estator e do rotor é o fator principal para que o motor mantenha-se em rotação, pois, se as velocidades fossem iguais, não haveria movimento relativo entre os campos magnéticos girantes do estator e do rotor. O motor de indução é também denominado de assíncrono devida sua velocidade ser menor que a do campo magnético girante da rede elétrica na qual está sendo energizado.

7.10 Deslizamento ou escorregamento de um motor de indução

À diferença de velocidades entre os campos magnéticos girantes do estator e do rotor dá-se a denominação de deslizamento ou escorregamento de um motor trifásico assíncrono. O escorregamento é dado em percentual, sendo que a velocidade a plena carga pode ser de 5 a 10% menor que o valor da velocidade do motor a vazio. A relação que define o deslizamento é:

s=(Ns-Nr)/Ns, onde:

s → escorregamento (%); Ns→ velocidade síncrona (r.p.m.); e Nr→ velocidade do motor (r.p.m.)

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A velocidade do motor é dada por: Nr=Ns(1- s ).

7.11 Construção do motor assíncrono Os motores assíncronos possuem uma construção simples.Este tipo de construção leva a muitas vantagens, indicando-se sua aplicação em localizações remotas, e sua operação em situações severas de trabalho, onde a poeira e outros materiais abrasivos sejam fatores a serem considerados. Se compararmos dois motores com características nominais idênticas, sendo um deles do tipo cc e outro do tipo assíncrono, o tipo cc possuirá maior torque, entretanto, o motor de indução terá menor variação de velocidade desde a condição a vazio até a condição de plena carga.O motor de indução trifásico é composto fundamentalmente de duas partes: estator e rotor.

O estator é formado por: carcaça, núcleo de chapas magnéticas e enrolamento trifásico, ou seja, três conjuntos iguais de bobinas, uma para cada fase, defasadas de 120º, ligados à rede elétrica através de bornes localizados na caixa de ligações. A figura 106 mostra o estator de um motor assíncrono.

Figura 106 - Estator de um motor trifásico assíncrono

Fonte: WEG.

O rotor é formado pelo eixo, o qual transmite a potência mecânica desenvolvida pelo motor; núcleo de chapas magnéticas, enrolamento trifásico, fechado sobre si mesmo, isto é, possui um ponto comum ou em curto-circuito através de um reostato trifásico externo. O enrolamento do rotor também pode ser substituído por um conjunto de barras de alumínio.

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O que caracteriza o motor de indução é que somente o estator é ligado à rede de alimentação. O rotor, não sendo alimentado externamente, será induzido pelo estator, daí o seu nome de motor de indução. Construtivamente, podemos ter em um motor assíncrono os seguintes tipos de rotores:

a) rotor tipo gaiola de esquilo: este tipo de rotor possui uma construção bastante simples. Constitui-se de um eixo, um núcleo laminado que possui ranhuras, nas quais são introduzidas barras de alumínio, em curto-circuito em ambas extremidades. Estas barras não são isoladas do núcleo e do eixo, entretanto, as correntes induzidas ficarão limitadas a circular nas barras e nos anéis de curto-circuito devido à baixa resistência elétrica dos mesmos em relação ao núcleo e eixo.

Os motores de indução que utilizam rotores tipo gaiola possuem baixo torque de partida devido à baixa resistência rotórica; entretanto, existem motores que utilizam rotores de dupla gaiola, sendo que a gaiola externa é utilizada apenas na partida, após a máquina atingir uma velocidade próxima da nominal o motor passará a funcionar com a gaiola interna. As barras condutoras são deslocadas de um pequeno ângulo em relação ao eixo com a finalidade de produzir um torque mais uniforme e para reduzir o zumbido magnético característico da operação do motor. A figura 107 mostra um rotor tipo gaiola.

Figura 107 - Rotor tipo gaiola de um motor trifásico assíncrono

Fonte: WEG.

b) Rotor bobinado ou de anéis: neste tipo de rotor, as barras condutoras são substituídas por um enrolamento trifásico, que poderá está ligado em estrela ou em triangulo. Os terminais do enrolamento trifásico são levados a três anéis coletores, que através de escovas são ligados a um reostato trifásico externo, ligado da mesma maneira como está ligado o enrolamento rotórico. Na partida do motor, o reostato deverá estar com o máximo de resistência inserida, com a

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finalidade de reduzir a impedância, aumentando a corrente rotórica, e,consequentemente, o torque de partida. Após o motor adquirir velocidade próxima da nominal, o rotor é curto-circuitado, passando o motor a funcionar com o rotor bobinado original. A figura 108 mostra um rotor bobinado de um motor trifásico assíncrono.

Figura 108 - Rotor bobinado de um motor trifásico assíncrono

Fonte: WEG.

7.12 Tipos de ligações de motores trifásicos

Os motores trifásicos de indução são fabricados com possibilidades de ligações em múltiplas tensões nominais. Para que isso seja possível, os fabricantes fornecem os mesmos com seis, nove ou doze bobinas no estator. Sabemos que as ligações básicas em um sistema trifásico são em estrela ou em paralelo; logo, devemos sempre mentalizar os conceitos de tensões de linha e de fase. As múltiplas tensões nominais de um motor são valores de linha. Vamos admitir que cada bobina seja projetada para a tensão nominal de 220V; então, teremos as seguintes possibilidades para a ligação de um motor trifásico assíncrono:

a) motor de seis terminais acessíveis

a.1) Ligação em estrela:

Na ligação em estrela (380 V) os terminais 4, 5 e 6 são interligados e os terminais 1, 2 e 3 são ligados à rede.

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Figura 109 - Ligação dos terminais do motor em estrela

a.2) Ligação em delta ou triangulo:

Na ligação em triângulo (220V), o início de uma fase é fechado com o final da outra e essa junção é ligada à rede.

:

Figura 110 - Ligação dos terminais do motor em delta ou triangulo

Um motor trifásico de seis terminais acessíveis(220V para cada bobina) pode ser ligado em redes de alimentação cujos valores nominais de tensão de linha sejam de 220V ou 380V; logo, não é possível a ligação deste motor diretamente do QGBT de um navio mercante(440V). No caso de aplicação marítima, o fabricante deverá fornecer o motor de seis terminais com tensão nominal de 440V por bobina e a ligação de seus terminais deve ser em triângulo. A figura 100 mostra a placa de ligação de um motor de seis terminais.

Figura 111 - Placa de ligação dos terminais de um motor de seis terminais

b) motor de nove terminais acessíveis

Os motores com nove terminais tem possibilidade de ligação em três tensões nominais: 220/380/440V.

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c) motor de doze terminais acessíveis

Os motores com doze terminais têm possibilidade de ligação em quatro tensões nominais: 220/380/440/760V. A figura 112 mostra o esquemático dos grupos de ligações de um motor de 12 terminais, que o fabricante deve fornecer na placa de identificação do motor, juntamente com outros dados nominais do mesmo.

Figura 112- Esquemas de ligações de um motor de doze terminais

Na figura 101, o primeiro grupo de ligações corresponde a uma ligação em triangulo paralelo(220V); a segunda em estrela paralela(380V); a terceira, em delta série(440V); e a quarta em estrela série(760V). O último grupo(760V) somente é utilizado na partida estrela/triângulo de um motor que será alimentado por uma rede trifásica de tensão nominal de linha de 440V, como é o caso de um navio. Em todas as múltiplas possibilidades de ligação dos terminais de um motor de indução trifásico, devem ser obedecidas as polaridades corretas das bobinas. Para inverter o sentido de rotação de um motor trifásico, permuta-se duas fases de alimentação do motor; com isso, é invertido o sentido de rotação do campo magnético girante aplicado ao rotor.

7.13 Corrente de partida de um motor trifásico assíncrono

Para retirar da inércia o rotor de um motor elétrico, é solicitado da rede de alimentação uma corrente elétrica proporcional a massa rotórica, podendo alcançar até 7 vezes o valor nominal. Esta corrente não depende da carga aplicada ao eixo do motor, ou seja, a corrente de partida de um motor trifásico assíncrono a vazio possui a mesma amplitude da atingida, se o motor partir com carga acoplada ao seu eixo. A influência da carga é a de prolongar o tempo de partida. A figura 113 mostra a corrente de partida de um motor em função do tempo.

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Figura 113 - Curva corrente versus tempo de um motor trifásico

Fonte:www.editoraerica.com.br

Se a partida do motor for a plena tensão, o motor solicitará da rede de alimentação uma elevada corrente, que causará queda de tensão no sistema elétrico. As normas técnicas das concessionárias permitem partidas direta para motores de até 5cv para tensão de linha de 220v, e até 7,5cv para 380v. Nas instalações marítimas (440v), é permitida a partida direta para potencias de até 10cv.

7.14 Corrente nominal de um motor trifásico assíncrono

A corrente nominal de um motor assíncrono trifásico é dado por

onde:

K→ constante igual a 1,73 para os motores trifásicos;

V→ tensão de linha da rede de alimentação, em Volts;

FP→ fator de potencia do motor; e

η→ rendimento do motor.

7.15 Partida direta de um motor trifásico de indução

Conforme mencionado no item anterior somente motores de pequena inércia no rotor podem ser acionados a plena tensão, pois a corrente de partida dos mesmos não causará grandes distúrbios na rede elétrica. O motor deverá ser fechado (ligado) para a tensão de linha da rede local, obedecendo o esquemático de placa e ligado através de uma chave trifásica manual ou de

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uma chave magnética. A figura 114 mostra os diagramas de força e comando de uma chave magnética de partida direta.

Figura 114 - Partida direta

7.16 Partida estrela-triângulo de um motor trifásico de indução

A partida estrela-triângulo é um método utilizado que reduz a corrente de partida para um terço, tendo como consequência a redução para o mesmo valor do torque ou conjugado de partida. Para que o motor seja acionado através de uma chave estrela-triângulo, é necessário que o motor possua no mínimo seis terminas acessíveis e que a tensão nominal do motor na ligação triângulo coincida com o valor nominal da tensão de linha da rede de energia na qual era ligado. A carga a ser acionada não deve exigir alto torque de partida.

Na partida, o motor será ligado em estrela à rede de suprimento. Como o motor está preparado para ser alimentado com tensão 1,73 vezes o valor da tensão de alimentação, partirá com subtensão que implicará na redução da corrente de acionamento. Após decorrido o intervalo de tempo de partida a

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ligação do motor passará a ser em triângulo, coincidente com à da rede de alimentação. A figura 104 mostra o diagrama de força e a figura 115 o de comando de uma chave magnética de partida estrela-triângulo

Figura 115 - Partida Y/∆ - circuito de força

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Figura 116 - Partida Y/∆ - circuito de comando

7.17 Partida compensada de um motor trifásico de indução

Na partida compensada, o artifício utilizado para redução da corrente de partida do motor, é o emprego de um autotransformador trifásico ligado em estrela. Este autotransformador possui derivações (tap’s) de 100,95,90,85,80, 75,70,65 e 60% da tensão nominal do motor. Na partida, o motor será energizado pelo autotransformador, no tap pré-selecionado; após decorrido o intervalo de tempo de partida, o motor será desconectado do auto-transformador e receberá alimentação nominal. A corrente de partida será reduzida e o torque de partida será mantido suficiente para acionar cargas exigentes. A figura 117 mostra o circuito de força de uma chave compensadora.

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Figura 117 - Circuito de força de uma chave compensadora

7.18 Placa de identificação de um motor trifásico assíncrono

Os motores elétricos possuem uma placa identificadora, colocada pelo fabricante, onde são informados os dados nominais dos mesmos . Para se instalar adequadamente o motor é imprescindível que saibamos interpretar os dados da placa. A placa de identificação contém as informações que determinam as características normais e de desempenho dos motores; que são definidas pela NBR-7094.A figura 118 mostra a placa de identificação de um motor.

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Figura 118 - Placa de identificação de um motor trifásico

Fonte: WEG.

Os dados de placa informados na placa são os seguintes:

Linha 1 → indica que o motor é de corrente alternada, trifásico, 132S é o

modelo, de carcaça, data de fabricação, nº. de série do motor;

Linha 2→ Tipo de motor, frequência nominal, categoria de conjugado;

Linha 3→ Potência nominal do motor: 7.5kW (10cv), rotação nominal do

motor;

Linha 4→ Fator de serviço, classe de isolamento, elevação de temperatura,

relação de corrente de partida pela nominal, grau de proteção;

Linha 5→ Tensões e correntes nominais de operação;

Linha 6→ Regime de serviço, máxima temperatura ambiente e altitude máxima

Linha 7→ Rendimento do motor em condições nominais, fator de potência do

motor em condições nominais, SFA corrente no fator de serviço, quando

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maior que 1,15;

Linha 8→ Esquemas de ligações;

Linha 9→ Tipo de rolamento dianteiro, tipo de rolamento traseiro,tipo de

graxa utilizada nos rolamentos e peso do motor

Observação: o fator de serviço de um motor significa a máxima sobrecarga permitida em regime contínuo, sem afetar sua vida útil.

7.19 Motores de indução assíncronos monofásicos

Nos navios mercantes, inúmeros equipamentos possuem em suas instalações motores monofásicos alimentados com tensões inferiores a 440 v, a partir dos transformadores de serviço.

Construtivamente, os motores monofásicos são semelhantes aos trifásicos estudados anteriormente, com a diferença de possuírem um único enrolamento no estator.Sua grande vantagem é a de poderem ser ligados em tensões monofásicas,normalmente utilizadas em equipamentos auxiliares dos sistemas elétricos marítimos. Entretanto, possuem o inconveniente de serem incapazes de partir sem a ajuda de um circuito auxiliar, o que não ocorre com os motores trifásicos.

O princípio de funcionamento dos motores monofásicos é similar ao do motor trifásico assíncrono. Como só existem uma fase e um neutro, várias técnicas são utilizadas para produzir o campo magnético girante necessário para a partida dos mesmos. Iremos apresentar algumas delas. Uma vez que o rotor de um motor monofásico começa a girar, acionado pelo campo girante provocado, continuará a funcionar com a alimentação monofásica.

7.20 Partida de motores monofásicos

A figura 119 mostra a formação do campo magnético devido a uma só fase. Este campo é pulsante, tendo sempre a mesma direção, não permitindo indução de correntes significativas no rotor.

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Figura 119 - Campo magnético pulsante

Fonte: Editora Erica.

Através de artifícios que veremos posteriormente, um campo auxiliar com defasagem de 90° em relação à alimentação é formado gerando um sistema bifásico, com a conseqüente formação de um campo girante capaz de promover a partida, como mostra a figura 120. Existem várias técnicas empregadas com o objetivo de proporcionar esta defasagem. Cada uma delas corresponde a um determinado tipo de motor monofásico, como se veremos nos próximos itens.

Figura 120 - Campo magnético girante provocado

Fonte: Editora Erica.

Após o motor atingir a velocidade entre 65 a 80% de sua velocidade nominal, o dispositivo auxiliar utilizado na partida pode ser retirado e o motor continuará em movimento. Apresentamos nos itens posteriores alguns tipos de motores monofásicos.

Page 117: Sistemas Eletricos Maritimos 1

7.21 Motor monofásico de fase dividida

Este motor possui um enrolamento principal e um auxiliar, ambos defasados de 90 graus. O enrolamento auxiliar cria um deslocamento de fase que produz o torque necessário para a rotação inicial e a aceleração. Quando o motor atinge uma rotação predeterminada, o enrolamento auxiliar é desligado da rede através de uma chave que normalmente é atuada por uma força centrífuga. Como o enrolamento auxiliar é dimensionado para atuar apenas no arranque, se não for desligado logo após o arranque, danifica-se. O ângulo de defasagem que se pode obter entre as correntes do enrolamento principal e do enrolamento auxiliar é pequeno e, por isso, estes motores têm torque de partida igual ou pouco superior ao nominal, o que limita a sua aplicação a potências fracionárias e a cargas que exigem pouco torque de arranque, tais como ventiladores e exaustores, compressores herméticos, bombas centrífugas, e outros.

A figura 121 mostra o circuito equivalente de motor monofásico de fase dividida.

Figura 121 - Motor de fase dividida

Fonte: Editora Erica.

7.22 Motor monofásico com capacitor de partida

Em determinadas situações, o binário fornecido pelos motores com enrolamentos de divisão de fase é insuficiente para a partida com carga. Nestas condições, utiliza-se o reforço de um capacitor.

O capacitor é colocado em série com o enrolamento auxiliar, sendo dimensionado de maneira que seja obtido um maior defasamento entre os campos principal e auxiliar e cinsequentemente um maior torque de partida. Através deste artifício é consegue-se um torque de partida aproximadamente quatro vezes maior que o nominal. A figura 122 mostra o circuito equivalente de um motor monofásico com capacitor de partida.

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Figura 122 - Motor com capacitor de partida

Fonte: Editora Erica.

7.23 Motor monofásico com capacitor permanente

Neste tipo de motor, o enrolamento auxiliar e seu capacitor em série ficam permanentemente conectados, não sendo necessária a chave centrífuga. Isto é bom, pois a ausência de partes móveis facilita a manutenção. O conjugado máximo, o rendimento e o fator de potência desses motores são melhores que os de outros tipos, aproximando-se aos valores obtidos em motores trifásicos.Em contrapartida, seu conjugado de partida é menor que o dos motores de fase dividida (entre 50% e 100% do conjugado nominal), limitando sua utilização a equipamentos como pequenas serras, furadeiras, condicionadores de ar e máquinas de escritório. São fabricados normalmente para potências entre 1/5 a 1,5 cv. A figura 123 mostra o circuito equivalente de um motor com capacitor permanente.

Figura 123 - Motor com capacitor permanente

Fonte: Editora Erica.

7.24 Motor monofásico com dois capacitores

É uma "mistura" dos 2 anteriores: possui um capacitor de partida, desligado através de chave centrífuga quando o motor atinge cerca de 80% de sua rotação síncrona, e um outro que se encontra permanentemente ligado. Com isso, possui todas as vantagens daqueles motores: alto conjugado de partida,

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alta eficiência e fator de potência elevado; no entanto, seu custo é elevado e só é fabricado para potências superiores a 1 cv.

Figura 124 - Motor com dois capacitores

Fonte: Editora Erica.

7.25 Motor monofásico de campo distorcido

Também chamado de motor de polos sombreados, este motor consegue criar um campo girante através de modificações feitas em seus polos, o que pode ser feito de várias maneiras, caracterizando 3 tipos de motores:

* pólos salientes;

* "esqueleto"; e

* de enrolamentos distribuídos.

Um dos mais comuns é o de polos salientes, mostrado na figura 125, onde uma parte da cada polo (entre 25% e 35%) é enlaçada por uma espira de cobre em curto-circuito. O fluxo magnético produzido nesta espira fica atrasado em relação ao fluxo da parte não abraçada pela mesma, resultando num campo girante que sempre se move na direção da parte não enlaçada para a parte enlaçada do polo.

Estes motores apresentam um único sentido de rotação. A maneira mais prática de obter-se rotação no sentido oposto é mudar a posição da ponta do eixo em relação ao estator; outros métodos são possíveis, porém muito onerosos.

Devido ao seu método de partida, é o motor mais simples, confiável e econômico, porém, seu conjugado de partida é bastante baixo, na faixa de 15% a 50% do valor nominal, apresentando fator de potência e rendimento baixos. Por este motivo é fabricado para pequenas potências (tipicamente de alguns milésimos de cv até 1/4 cv), podendo ser usado em processos de movimentação de ar (ventiladores, exaustores, secadores de roupa e de

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cabelo), pequenas bombas, compressores, projetores de slides, toca-discos e outros eletrodomésticos.

Figura 125 - Motor de campo distorcido

Fonte: Editora Erica.

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1 Acumuladores

1.1 Introdução

A forma de energia elétrica gerada em grande quantidade nos navios é do tipo alternada, obtida através de efeitos eletromagnéticos nos geradores auxiliares, se o sistema for do tipo tradicional, ou no gerador de eixo e turbogeradores de gases de escape, se o sistema for do tipo híbrido, conforme estudaremos na unidade de ensino 6. Porém, em qualquer dos tipos de sistemas de geração elétrica empregado a corrente do tipo contínua é imprescindível para manter permanentemente ligados diversos tipos de consumidores, em situação de operação normal dos geradores síncronos, ou ainda, alimentar consumidores que não podem ficar sem alimentação elétrica, em situação de falha de operação dos geradores síncronos, incluindo o gerador de emergência.

1.2 Importância da corrente contínua a bordo

Conforme explicado no item anterior, a corrente contínua (cc) possui grande utilidade nos navios mercantes, sendo utilizada para a alimentação permanente dos sistemas de automação do QEP (Quadro Elétrico Principal) e QEE (Quadro Elétrico de Emergência), Global Maritime Distress Safety Sistem(GMDSS), Geographic Positioning System(GPS), Alarmes de Incêndio, Telefonia, sistemas de partida dos motores das baleeiras, do DGE (Diesel Gerador de Emergência) e de MCA’s (Máquinas de Combustão Auxiliares).

O sistema elétrico de um navio deve possuir uma fonte de energia temporária ( “provisional energy” ) formada por um grupo de acumuladores com baterias de 24 volts, do tipo chumbo ácido, com carregadores permanentemente em flutuação, para assegurar a operação quando necessário. A figura 1 mostra um grupo de baterias em flutuação de carga, prontas para entrarem em operação em condição emergencial.

O sistema de energia temporário entrará em operação na falha de alimentação elétrica proveniente dos geradores auxiliares e do gerador de emergência, para garantir a energização dos seguintes sistemas:automação das máquinas principais, automação do QEP, automação do QEE, alarmes gerais, automação das caldeiras e MCA’s, comunicações, luzes e instrumentos de navegação.

A energia em corrente contínua de 24 volts não pode faltar, pois haverá a desativação dos sistemas de segurança e, consequentemente, a paralisação de toda a geração de energia proveniente dos MCA’s e a propulsão do navio; portanto, devemos ter cuidados especiais de manutenção preventiva das baterias e dos respectivos carregadores para que não sejamos surpreendidos em uma situação emergencial.

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Figura 1- Grupo de baterias em flutuação

Fonte: navio Itaperuna

1.3 Pilhas e baterias A energia elétrica em grande escala geralmente é obtida através de efeitos eletromagnéticos em alternadores ou geradores síncronos em forma alternada. A energia elétrica em forma contínua utilizada em navios é obtida através da associação de baterias, que denominamos de acumuladores. Nas baterias uma reação química interna produz energia elétrica, formando uma força eletromotriz (fem). A fem produz uma tensão final nos terminais da bateria que chamamos simplesmente de ddp (diferença de potencial). A invenção foi feita pelo físico italiano Alessandro Volta e, em sua homenagem, a unidade de medida de fem é o volt. As baterias são formadas por duas ou mais unidades de produção de tensão, denominadas células voltaicas ou pilhas. Cada célula é formada basicamente por dois eletrodos de diferentes tipos de metal, imersos em um eletrólito, que é uma solução contendo íons. Isto é fácil de ser obtido. O sal comum ou sal de cozinha é um composto químico de cloro e cloreto de sódio. Dissolvido em água, o cloreto de sódio se divide em íons positivos (sódio) e íons negativos (cloro). Existem muitos outros exemplos de soluções que contêm íons. A reação química entre os eletrodos e o eletrólito produz a tensão. Quando o eletrólito é líquido, temos a pilha úmida. Quando o eletrólito é em forma de pasta ou gel, temos a pilha seca.

1.4 Tipo de acumulador utilizado a bordo

Nos navios mercantes utilizam-se as baterias de chumbo- ácido, por serem as de melhor desempenho para as condições adversas da navegação marítima. Os procedimentos de manutenção resumem-se na verificação periódica do nível e da densidade do eletrólito, limpeza e reaperto nos

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terminais, bem como verificação diária do funcionamento do carregador/retificador.

1.5 Baterias de chumbo-ácido

A bateria de chumbo-ácido foi desenvolvida por Gaston Planté em 1860, período que remonta aos primórdios das células galvânicas.Durante estes 141 anos esta bateria sofreu aprimoramentos tecnológicos os mais diversos possíveis, fazendo com que a bateria de chumbo-ácido continue sendo uma das baterias mais confiáveis,atendendo a aplicações diversificadas, incluindo as marítimas. Ela é usada como bateria de arranque (sistemas de partida de baleeiras) e iluminação de emergência, como fontes alternativas em “no- breaks”, em sistemas de automação de máquinas elétricas, etc.

A composição básica da bateria é essencialmente chumbo, ácido sulfúrico e materiais plásticos.O chumbo está presente na forma de chumbo metálico,ligas de chumbo, bióxido de chumbo e sulfato de chumbo. O ácido sulfúrico se encontra na forma de solução aquosa com concentrações variando de 27% a 37% em volume. O funcionamento da bateria se baseia na seguinte reação:

Pb + PbO2 + 2H2SO4 2PbSO4 + 2H2O

que, por sua vez, é resultado das duas semireações:

Pb + H2SO4 PbSO4 + 2H+ + 2e-

PbO2 +2H+ + H2SO4 +2e- PbSO4 + 2H2O

Sendo assim, na bateria existe um ânodo de chumbo e um cátodo de bióxido de chumbo. Durante a descarga, tanto o ânodo quanto o cátodo são convertidos em sulfato de chumbo. No processo de recarga, o sulfato de chumbo é convertido em chumbo e bióxido de chumbo, regenerando o ânodo e o cátodo,respectivamente. Nas baterias marítimas, este material é suportado em grades de ligas de chumbo. A figura 2 mostra os componentes de uma bateria de chumbo ácido.

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Figura 2 – Componentes de uma bateria de chumbo-ácido Fonte: www.battery.co.za

1.6 Tipos de Baterias de chumbo-ácido As baterias de chumbo ácido são fabricadas em três grupos : a) baterias de chumbo-ácido com solução líquida, dos tipos automotivas e estacionárias, que possuem o inconveniente de vazamento se forem viradas de posição, pois o ácido é liquido e envolve a parte elétrica (eletrólito),e as caixas plásticas possuem respiros; b) baterias de chumbo-ácido tipo VRLA (Valve Regulated Lead Acid Battery) AGM (Absorved Glass Mat) ; não vazam se forem viradas de posição, pois o ácido está impregnado no tecido que envolve a parte elétrica (eletrólito); e c) baterias de chumbo-ácido tipo VRLA GEL; não vazam se forem viradas de posição, pois o ácido é uma gelatina que envolve a parte elétrica (eletrólito). As baterias de Gel contêm um aditivo de sílica que envolve o eletrólito. No gel, que envolve o eletrólito, formam-se micro fendas que permitem as reações e recombinações entre a placa positiva e a placa negativa. Estas baterias usam a tecnologia VRLA, ou seja, são seladas e possuem um mecanismo de válvula de regulação que permite o escape dos gases,hidrogénio e oxigénio, durante o processo de carga. A tensão de carga, neste tipo de baterias, é mais baixa que nos outros tipos de baterias ácidas.

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As baterias AGM, são o último passo na evolução das baterias ácidas. Em vez de usarem gel, as AGM usam fibra de vidro a envolver o eletrólito, o que contribui para que sejam mais resistentes aos impactos. Estas baterias também utilizam a tecnologia VRLA, porém, com melhor eficiência. 1.7 Processo de carga em uma bateria À medida que a bateria chumbo-ácido é descarregada, o ácido sulfúrico é consumido e água é produzida.Consequentemente, a composição do ácido sulfúrico no eletrólito e sua densidade variam desde 40% (m/m) e 1,30 g/cm3, no estado completamente carregado, até cerca de 16% (m/m) e 1,10 g/cm3, no estado descarregado. Dado que o potencial de circuito aberto depende da concentração de ácido sulfúrico no eletrólito e da temperatura, o valor deste potencial para um único par de eletrodos varia de 2,15 V, no estado carregado, até 1,98 V, no estado descarregado, à temperatura ambiente. A medida da densidade do eletrólito ao longo do processo de descarga da bateria é usada, portanto, para avaliar seu estado de carga. No processo de carga, o sulfato de chumbo é reconvertido a chumbo no anodo e a dióxido de chumbo no catodo. Os principais tipos de baterias chumbo-ácido são as automotivas,industriais e seladas,com um predomínio marcante das primeiras. As automotivas são usadas em veículos em geral para alimentar os sistemas de partida, iluminação e ignição e consistem de seis conjuntos de eletrodos na forma de placas, contidos em vasos independentes. Um vaso pode conter, por exemplo, 6 anodos e 5 catodos arranjados de forma alternada, começando e terminando com um anodo. Estes onze eletrodos são conectados em paralelo e, portanto, cada vaso fornece um potencial de cerca de 2 V. Os seis vasos são então conectados em série e a bateria fornece um potencial de aproximadamente 12 V. As baterias industriais são utilizadas para tracionar motores de veículos elétricos e também em serviços que não podem ser interrompidos em caso de queda de energia elétrica (companhias telefônicas, hospitais etc.). Já as seladas, de menor tamanho, são usadas para alimentar computadores, luzes de emergência etc., em caso de queda de energia. As baterias automotivas e industriais requerem adição periódica de água no eletrólito. Isso ocorre porque, no processo de carga da bateria chumbo-ácido, parte da água é decomposta nos gases hidrogênio e oxigênio. As baterias automotivas de baixa manutenção, além de serem projetadas para consumir menos água, contêm um volume de eletrólito em excesso, calculado de maneira a compensar a perda de água ao longo de sua vida útil (2 a 5 anos). Como visto, as baterias chumbo-ácido funcionam à base de chumbo,um metal pesado e tóxico e, portanto, representam sério risco ao meio ambiente. Na realidade, a grande maioria das baterias exauridas já é recolhida pelos fabricantes nacionais para recuperar o chumbo nelas contido, uma vez que o Brasil não dispõe de minas deste metal e o seu preço é relativamente alto no mercado internacional. 1.8 Métodos de carregamento de baterias Carregar ou dar carga a uma bateria significa recuperar a energia perdida durante a descarga da mesma, sendo necessário carregar com mais de 100%

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da energia perdida, para que o processo seja eficiente. O carregamento depende da quantidade de energia descarregada, da temperatura ambiente, do método de carga e do tempo de recarga. Os métodos de carregamento são os seguintes: a) carregamento com tensão constante, que é o método mais rápido e eficiente de carregamento para as baterias de chumbo-ácido VRLA. A figura 3 mostra o gráfico corrente de carga versus tempo à tensão constante de 2,45V por célula.

Figura 3 – Gráfico corrente de carga versus tempo

Fonte: www.battery.co.za

b) carregamento rápido, método que retorna a capacidade completa em menos de 4 horas, sendo que em muitas aplicações o carregamento requer 1 hora ou menos. A figura 4 mostra o gráfico carregamento versus tempo (1 hora).

Figura 4 – Gráfico carregamento versus tempo

Fonte: www.battery.co.za

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c) carregamento com corrente constante, método que carrega igualmente todas as células, pois independe das tensões das mesmas. A figura 5 mostra o gráfico deste tipo de carregamento.

Figura 5 – Gráfico do carregamento com corrente constante

Fonte: www.battery.co.za

d) carregamento em flutuação, utilizado para aplicações em “standby”, como por exemplo os sistemas ininterruptos de energia de bordo. O carregador deve manter tensão constante entre 2,3V e 2,4V por célula, para a máxima vida útil da bateria. 1.9 Ciclo de vida de uma bateria de chumbo ácido Designa-se por ciclo completo de carga e descarga de uma bateria quando esta se encontra a 100% da sua capacidade, sofre uma determinada descarga e torna a recarregar até aos 100%. Quanto menor for a descarga maior é o número de ciclos da bateria, logo maior é a sua vida útil. Se a percentagem de descarga de uma bateria for de 50%, esta dura duas vezes mais do que uma de descarga de 80%, como se pode ver na figura 6. Daí que o recomendado seja uma percentagem de descarga na ordem dos 50%, pois é o valor que proporciona um melhor fator custo/armazenamento, o que confere a este tipo de baterias uma vida útil entre os 500 e os 800 ciclos.

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Figura 6 – Ciclo de vida de uma bateria de chumbo ácido

Fonte: www.battery.co.za

1.10 Efeito da temperatura na vida útil da bateria A tensão de saída da bateria, aumenta com a elevação da temperatura, devido à ocorrência de reações químicas que originam a redução da densidade do eletrólito. Por outro lado, as altas temperaturas causam a destruição das placas e diminuem a vida das baterias. A baixa temperatura tem o efeito oposto, isto é, o ácido torna-se mais denso, o que provoca um decréscimo de tensão nos elementos. A percentagem de descarga, causada pelo efeito da temperatura, na capacidade das baterias é apresentada na tabela 1. Acima dos 20ºC, a capacidade das baterias aumenta 4% em cada 10ºC. Abaixo dos 10ºC, a capacidade das baterias diminui à medida que a temperatura decresce, quando a temperatura atinge -35ºC, metade da capacidade das baterias é perdida.

Tabela 1- Capacidade em função da temperatura

Fonte: http://geopubs.wr.usgs.gov/open-file/of00-128/

1.11 Precauções na utilização de baterias de chumbo-ácido As baterias foram concebidas para ter uma certa durabilidade, dependendo da frequência do ciclo de carga/descarga e da sua utilização. Os seguintes cuidados devem ser aplicados quando da utilização de baterias de chumbo-ácido:

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a) as baterias devem ser carregadas em áreas ventiladas, pois sofrem reações químicas e consequentemente libertação de hidrogênio, e este em contacto com o oxigênio forma uma atmosfera explosiva; b) a bateria e o local de instalação devem estar sempre limpos, mantendo o acesso ao local das baterias limitado a pessoal qualificado; c) a limpeza das baterias não pode ser feita com solventes ou químicos e não devemos utilizar panos sujos nas partes elétricas, para evitar as descargas eletrostáticas; d) não fumar ou fazer chama junto ás baterias; e) a bateria deve ser carregada corretamente e totalmente; f) a bateria deve manter o eletrólito com o nível de água correto. A verificação deste deve ser feita pelo menos de 12 em 12 meses; é necessário ter em consideração que a água em excesso pode provocar uma má regulação da tensão.Caso seja adicionado ao eletrólito outra substância que não água destilada pura irão ser introduzidas impurezas que vão causar reações químicas adversas e interferir com o normal funcionamento da bateria; g) a bateria não deve ser exposta a choques e vibrações; e h) não devem ser ligadas entre si baterias diferentes tanto ao nível da capacidade como do tipo.