SERVIÇO SOCIAL -...

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0 SERVIÇO SOCIAL _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ ALESSANDRA SALLET LUNKES O CADASTRO ÚNICO PARA PROGRAMAS SOCIAIS DO GOVERNO FEDERAL NO MUNICÍPIO DE TOLEDO - PR NA VISAO DOS TRABALHADORES QUE O OPERACIONALIZAM _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ TOLEDO-PR 2012

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SERVIÇO SOCIAL

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ALESSANDRA SALLET LUNKES

O CADASTRO ÚNICO PARA PROGRAMAS SOCIAIS DO GOVERNO FEDERAL

NO MUNICÍPIO DE TOLEDO - PR

NA VISAO DOS TRABALHADORES QUE O OPERACIONALIZAM

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

TOLEDO-PR

2012

1

ALESSANDRA SALLET LUNKES

O CADASTRO ÚNICO PARA PROGRAMAS SOCIAIS DO GOVERNO FEDERAL

NO MUNICÍPIO DE TOLEDO - PR

NA VISAO DOS TRABALHADORES QUE O OPERACIONALIZAM

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao

Curso de Serviço Social, Centro de Ciências

Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do

Oeste do Paraná, como requisito parcial à obtenção

do grau de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Profa. Ms. India Nara Smaha

TOLEDO-PR

2012

2

ALESSANDRA SALLET LUNKES

O CADASTRO ÚNICO PARA PROGRAMAS SOCIAIS DO GOVERNO FEDERAL

NO MUNICÍPIO DE TOLEDO - PR

NA VISAO DOS TRABALHADORES QUE O OPERACIONALIZAM

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao

Curso de Serviço Social, Centro de Ciências

Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do

Oeste do Paraná, como requisito parcial à obtenção

do grau de Bacharel em Serviço Social.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________

Profa. Ms. India Nara Smaha

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

____________________________________________

Profa. Dra. Esther Luiza de Souza Lemos

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

____________________________________________

Profa. Ane Bárbara Voidelo

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Toledo, 20 de novembro de 2012.

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Aos meus pais, João e Anadélia, e a minha

irmã Daniela, minhas fontes de inspiração e

força em todos os momentos da minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pois acredito que tudo que acontece em nossa vida

tem um propósito, obrigada por me proteger em todos os momentos da minha vida e por todas

as graças que já obtive. Sei que se não fosse a crença em um Pai maior este processo de

construção do Trabalho de Conclusão de Curso seria ainda mais difícil.

À minha família, mãe, pai, irmã, avós tios e primos que eu tanto amo, obrigada pelas

orações e todo apoio. Cito em especial meus pais e irmã que sempre me apoiaram e lutaram

junto comigo para que eu conseguisse alcançar meus sonhos, ao Vanderlei e Cecilia, pelos

almoços maravilhosos e todo o carinho que recebi de vocês, me alegrando ainda mais com o

nascimento da Natália e ao Cláudio e a Anelise, que me acolheram em sua casa logo quando

me mudei para o Paraná mesmo tendo um filho de apenas 2 anos, o Gustavo, e que

concederam a honra de ser madrinha da Beatriz, pequenos que eu amo muuuuito.

Aos amigos verdadeiros, sejam de longa data ou que conheci a pouco tempo, mas

aqueles que levarei para vida toda, obrigada pelo apoio! Cito aqui, em especial, as

colegas/amigas/irmãs de casa, Mabile e Paty, que nestes dois últimos anos, em especial,

dividiram comigo, além das angústias e alegrias que a Universidade proporciona, muitos

chimarrões, percalços domésticos e festas, me levando a perceber que sim, nós tivemos uma

vida para além da Universidade da qual eu também sentirei muita saudade, obrigada por

aturarem às minhas crises e a dividirem comigo os momentos de alegria. E quando se trata de

amigas da faculdade eu não poderia deixar de citar as lindas, queridas e amadas, agregadas

desta casa: Andressa, Ivonete, Jessica Renata, Sandra e Taís.

À equipe de gestão do Cadastro Único e Programa Bolsa Família do município de

Toledo, em especial a Raquel e Tiago, que muito me ensinaram no decorrer desses 4 anos.

À orientadora e supervisora de campo Índia Nara Smaha, pela paciência comigo e por

todo o seu ensinamento e exemplo de mulher e profissional.

Às professoras Esther Lemos e Marli Roesler, duas apaixonadas pela profissão que

exercem, obrigada pela oportunidade de trabalhar com vocês, sendo a primeira no projeto de

extensão “Controle Social e Gestão do Cadastro Único e do Programa Bolsa Famíla em

Toledo - Paraná” e a segunda no Programa de Educação Tutorial - PET.

À todos os professores e colegas da Unioeste!

O meu mais sincero obrigadaaa!!

5

O direito ao delírio

"Mesmo que não possamos adivinhar o tempo que virá, temos ao menos o direito de imaginar o que queremos

que seja.

As Nações Unidas tem proclamado extensas listas de Direitos Humanos, mas a imensa maioria da humanidade

não tem mais que os direitos de: ver, ouvir, calar.

Que tal começarmos a exercer o jamais proclamado direito de sonhar?

Que tal se delirarmos por um momentinho?

Ao fim do milênio vamos fixar os olhos mais para lá da infâmia para adivinhar outro mundo possível.

O ar vai estar limpo de todo veneno que não venha dos medos humanos e das paixões humanas.

As pessoas não serão dirigidas pelo automóvel, nem serão programadas pelo computador, nem serão

compradas pelo supermercado, nem serão assistidas pela televisão.

A televisão deixará de ser o membro mais importante da família.

As pessoas trabalharão para viver em lugar de viver para trabalhar.

Se incorporará aos Códigos Penais o delito de estupidez que cometem os que vivem por ter ou ganhar ao invés

de viver por viver somente, como canta o pássaro sem saber que canta e como brinca a criança sem saber que

brinca.

Em nenhum país serão presos os rapazes que se neguem a cumprir serviço militar, mas sim os que queiram

cumprir.

Os economistas não chamarão de nível de vida o nível de consumo, nem chamarão qualidade de vida à

quantidade de coisas.

Os cozinheiros não pensarão que as lagostas gostam de ser fervidas vivas.

Os historiadores não acreditarão que os países adoram ser invadidos.

O mundo já não estará em guerra contra os pobres, mas sim contra a pobreza.

E a indústria militar não terá outro remédio senão declarar-se quebrada.

A comida não será uma mercadoria nem a comunicação um negócio, porque a comida e a comunicação são

direitos humanos.

Ninguém morrerá de fome, porque ninguém morrerá de indigestão.

As crianças de rua não serão tratadas como se fossem lixo, porque não haverá crianças de rua.

As crianças ricas não serão tratadas como se fossem dinheiro, porque não haverá crianças ricas.

A educação não será um privilégio de quem possa pagá-la e a polícia não será a maldição de quem não possa

comprá-la.

A justiça e a liberdade, irmãs siamesas, condenadas a viver separadas, voltarão a juntar-se, voltarão a juntar-se

bem de perto, costas com costas.

Na Argentina, as loucas da Praça de Maio serão um exemplo de saúde mental, porque elas se negaram a

esquecer nos tempos de amnésia obrigatória.

A perfeição seguirá sendo o privilégio tedioso dos deuses, mas neste mundo, neste mundo avacalhado e maldito,

cada noite será vivida como se fosse a última e cada dia como se fosse o primeiro."

Eduardo Galeno

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LUNKES, Alessandra Sallet. O Cadastro Único para Programas Sociais do Governo

Federal no município de Toledo – PR na visão dos trabalhadores que o operacionalizam. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Serviço Social). Centro de Ciências Sociais

Aplicadas. Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Toledo - PR, 2012.

RESUMO

A política social surge como resultado às reivindicações da classe trabalhadora ou antecipação

a estas, servindo como estratégia do governo para manter este sistema funcionando e

expressando as relações sociais e econômicas presentes em uma sociedade. Dentre as políticas

sociais, destaca-se aqui a política de Assistência Social, designada, a partir da Constituição

Federal de 1988, como política pública, direito do cidadão que dela necessitar e como política

integrante da Seguridade Social, juntamente com as políticas de Saúde e Previdência Social.

No atual contexto da política de Assistência Social brasileira, em seu nível de Proteção Social

Básica, têm-se como importante ferramenta de mapeamento das famílias de baixa renda e de

integração do programas, projetos, benefício e serviços ofertados pelo governo federal, o

Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico). Partindo deste

contexto, o presente Trabalho de Conclusão de Curso tem por objetivo conhecer a

compreensão dos trabalhadores que operacionalizam o CadÚnico sobre este sistema no

município de Toledo – Paraná, objetivo este que partiu da seguinte problemática: qual a

compreensão dos trabalhadores que operacionalizam o CadÚnico sobre este sistema no

município de Toledo – Paraná? Para responder tal problemática e chegar ao objetivo exposto

uma das estratégias adotadas foi o levantamento bibliográfico, por meio do qual pode-se

identificar que: o CadÚnico está regulamentado pelo Decreto 6.135 estabelecendo como

critério para a família estar cadastrada renda de até três salários mínimos ou meio salário

mínimo per capita, ou ainda, podem ser cadastradas famílias acima desta renda desde que

vinculadas a algum programa ou projeto governamental que justifique sua inscrição,

comparando-se os relatórios gerados pelo sistema do CadÚnico e os dados do Censo do IBGE

também foi possível notar que, no município de Toledo, a estimativa de famílias cadastradas é

menor do que o número de famílias inscritas (embora entre estas muitas estão com o

CadÚnico desatualizado). Por meio da fala dos entrevistados, pode-se perceber que nem todos

os trabalhadores que operacionalizam o CadÚnico têm acesso as informações dos relatórios

gerados por este, sendo consenso entre estes trabalhadores o fato de que, embora todos

considerem o CadÚnico ser um sistema com grande potencial, ainda há muito que precisa ser

melhorado neste.

Palavras chave: Cadastro Único, Política de Assistência Social, direitos sociais

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LISTA DE SIGLAS

CadÚnico Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal

CF/88 Constituição Federal de 1988

CFESS Conselho Federal de Serviço Social

CRESS Conselho Regional de Serviço Social

CIB Comissão Intergestora Bipartite

CIT Comissão Intergestora Tripartite

CNAS Conselho Nacional de Assistência Social

CRAS Centro de Referência de Assistência Social

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

LOAS Lei Orgânica de Assistência Social

MDS Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome

NOB/SUAS Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social

NOB-

RH/SUAS

Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema Único de

Assistência Social

ONG Organização Não-Governamental

PBF Programa Bolsa Família

PNAS Política Nacional de Assistência Social

PSB Proteção Social Básica

PSE Proteção Social Especial

SUAS Sistema Único de Assistência Social

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SUMÁRIO

RESUMO.................................................................................................................................06

LISTA DE SIGLAS................................................................................................................07

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................09

1 INTRODUÇÃO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO DIREITO SOCIAL.................11

1.1 LEI ORGÂNICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (LOAS): CAMINHO PARA A

EFETIVAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988..................................................16

2 O CADASTRO ÚNICO EM TOLEDO.............................................................................34 2.1 ANÁLISE DE DADOS......................................................................................................41

2.1.1 Participação em Capacitações.......................................................................................43

2.1.2 Conhecimento dos Programas, Projetos, Benefícios e Serviços Vinculados ao

CadÚnico..................................................................................................................................44

2.1.3 Motivos que Levam as Famílias a Fazer o Cadastro Único.......................................44

2.1.4 Quem são os Sujeitos que Procuram o Setor do Cadastro Único..............................47

2.1.5 Validade do Cadastro Único.........................................................................................49

2.1.6 Acesso ao Serviços Vinculados ao CadÚnico...............................................................52

2.1.7 Dificuldades para realizar o Cadastro.........................................................................55

2.1.8 Percepção sobre o Acesso a Política de Assistência Social em Toledo......................59

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................65

REFERÊNCIAS......................................................................................................................67

APÊNDICES............................................................................................................................70

ANEXOS..................................................................................................................................75

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INTRODUÇÃO

A Constituição Federal de 1988 é um marco no que tange aos direitos sociais e

políticos conquistados pelos brasileiros no decorrer da sua história. A partir desta, em seus

artigos 203 e 204, a Assistência Social obtém pela primeira vez o caráter de política pública,

direito do cidadão que dela necessitar, compondo o tripé da Seguridade Social (Saúde,

Previdência Social e Assistência Social). Antes desta Constituição a Assistência Social era

vista como benesse, ajuda aos mais necessitados, geralmente ligada a Igreja e/ou as primeiras

damas.

Porém, esta política somente foi regulamentada e institucionalizada em 1993, por meio

da Lei nº 8.742 – Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). Conforme esta, em seu artigo

2º, a Assistência Social visa o enfrentamento da pobreza, a universalização dos direitos

sociais e estabelece a garantia de mínimos sociais a partir de uma relação integrada com

outras políticas setoriais, como as de saúde, habitação e educação.

Atualmente, têm-se como uma importante ferramenta de acesso à Política de

Assistência Social, em seu nível de Proteção Social Básica, o Cadastro Único para Programas

Sociais do Governo Federal (CadÚnico), regulamento pelo Decreto 6.135/07, este Cadastro é

requisito para acessar os programas, projetos, benefícios e serviços socioassistenciais

ofertados pelo governo federal, como o famoso Programa Bolsa Família, e tem, cada vez

mais, servido como critério para acessar os programas, projetos, benefícios e serviços também

nos níveis estadual e municipal. Para além disso, o CadÚnico apresenta uma base de dados

bastante completa acerca da situação sócio-econômica das famílias cadastradas, podendo

apoiar gestores na formulação de políticas sociais às famílias de baixa renda.

Os programas, projetos, benefícios e serviços aos quais o CadÚnico possibilita o

acesso, são direitos dos usuários, conforme os critérios estabelecidos por cada um. É

imprescindível no processo de consolidação de uma política social sólida e no reconhecer-se

dos usuários desta política como sujeitos de direitos, uma vez que a acadêmica entende que o

usuário não tem como se entender como sujeito de direito se as informações que lhe forem

passadas mostrarem-se como benesse.

Para responder ao problema da pesquisa, qual seja: qual a compreensão dos

trabalhadores que operacionalizam o CadÚnico sobre este sistema no município de Toledo –

Paraná? elencou-se como objetivo geral: conhecer a compreensão dos trabalhadores que

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operacionalizam o CadÚnico sobre este sistema no município de Toledo – Paraná. Para

atender a esta meta foi eleito como objetivos específicos: contextualizar o CadÚnico dentro da

Política de Assistência Social; identificar as legislações que respaldam a operacionalização do

CadÚnico; e mapear a população de Toledo usuária do CadÚnico.

O interesse em realizar tal pesquisa surgiu da experiência da acadêmica na gestão do

Cadastro Único e do Programa Bolsa Família neste município, do qual passou a fazer parte

por meio do Projeto de Extensão “Controle Social e Gestão do Cadastro Único e do Programa

Bolsa Família em Toledo – PR” no ano de 2009, sendo este o local onde realizou as

atividades de Estágio Supervisionado em Serviço Social I e II, nos anos de 2011 e 2012.

Com o intuito de tornar mais clara a apresentação do conteúdo deste trabalho, o

mesmo foi dividido em dois capítulo: No primeiro consta-se um breve histórico acerca do

processo que originou as políticas sociais, pontuando-se alguns momentos históricos

fundamentais para entendê-la tal como constitui-se hoje, momentos estes, faz-se importante

destacar, de fortalecimento, como no período do Welfare State, destacando-se no Brasil a

CF/88, e de desmonte, marcado mais recentemente pela expansão da ideologia neoliberal,

enfoca-se neste capítulo a política de Assistência Social pós CF/88, apresentando o tratamento

dado a mesma pelos diferentes governos desde então e o processo de aprovação dos

documentos que a normatizam; No segundo será apresentado o processo que levou a atual

forma de organização do CadÚnico no município de Toledo, bem como alguns dos sujeitos

que fizeram parte deste processo, enfatizando a importância deste sistema no atual contexto

da política de Assistência Social e as instâncias que lhe dão suporte, a partir deste aparato

teórico parte-se para a análise das entrevistas, as quais buscam responder o objetivo geral

desta pesquisa.

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1 INTRODUÇÃO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO DIREITO SOCIAL

Partilhando da idéia de Evaldo Vieira (1992) ao falar sobre política social é necessário

ter ciência de que a mesma não se limita a planos, projetos, programas ou documentos em

distintas áreas (como saúde, educação, habitação, previdência social, assistência social, entre

outras), ela expressa relações sociais e econômicas resultantes do sistema produtivo,

funcionando como estratégia do governo para manter este sistema funcionando. A política

social é, antes de mais nada, fruto das reivindicações da classe trabalhadora ou antecipações a

estas.

Segundo o mesmo autor, é a partir do século XIX que se têm, de forma mais

exacerbada, as condições que tornam imprescindível o surgimento da política social no

capitalismo. A relação contraditória e opressora entre capital e trabalho torna-se mais

expressiva, resultando no que se tem chamado de “questão social”, fruto das significativas

mudanças no modo de produzir, acumular e pensar acarretadas pelas primeiras revoluções

industriais1.

Durante a Primeira Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra no final do século

XVIII, o capitalismo passa a assumir uma nova característica, deixou de ser caracterizado

como comercial ou mercantil para pregar a livre concorrência, sistema em que as pessoas são

“livres” para vender os seus produtos para aqueles que oferecerem mais, gerando uma

acumulação acelerada de capital. Esta fase concorrencial do capitalismo também tem como

características um emprego maior de força de trabalho e o uso de máquinas. Nesta época

prepondera o liberalismo econômico, o qual defendia a não intervenção do Estado na

economia, porém, no processo de evolução do capitalismo, o liberalismo se alia ao Estado

criando ideologias em que prega a importância do Estado contribuir para fazer a economia

crescer e, assim, expandir tal sistema econômico (VIEIRA, 1992).

1Diversos autores costumam dividir a Revolução Industrial em cerca de três fases, conforme Arruda (1988)

tendo como ponto de partida a utilização de diferentes formas de energia foi adotada a seguinte demarcação:

Primeira Revolução Industrial compreende o final do século XVIII e início do século XIX - nesta época

descobre-se o carvão como meio de gerar energia e desenvolve-se a máquina a vapor. Segunda Revolução

Industrial, final do século XIX – marcada pelo motor de explosão e utilização da energia elétrica. Terceira

Revolução Industrial a partir do século XX até os dias atuais – caracterizada pela difusão da energia atômica.

Arruda (1988) ainda reforça que para ele existiu efetivamente apenas uma Revolução Industrial (compreendida

entre 1750 e 1850), a qual tem como reflexos do desenvolvimento da indústria a migração de milhares de

pessoas do campo para a cidade, culminando em um crescimento acelerado e desorganizado das mesmas.

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Sobre a base da grande indústria (a indústria moderna), que provocará um

processo de urbanização sem precedentes, o capitalismo concorrencial criará

o mercado mundial: os países mais avançados (e, nesse período, a liderança

está com a Inglaterra) buscarão matérias brutas e primas nos rincões mais

afastados do globo e inundarão todas as latitudes com as suas mercadorias

produzidas em larga escala [...]. Povos, nações e Estados situados fora da

Europa, que se mantinham isolados resistindo com recursos de força são

agora integrados mais pela via da invasão comercial [...]. (NETTO, 2008, p.

172, grifos do autor).

Logo, com a evolução do capitalismo, impulsionado não só pela primeira como pelas

demais Revoluções Industriais, também agravam-se os problemas da relação capital X

trabalho. Para que os donos dos meios de produção tenham cada vez mais lucro os

trabalhadores devem trabalhar dobrado, com menores salários e em condições cada vez mais

precárias, submetendo-se muitas vezes a estas condições por temer o fantasma do

desemprego, pois a sociedade de pleno emprego não convém dentro deste sistema de

produção. Neste contexto multiplicam-se as expressões da “questão social” explicitando a

fome, a falta de moradia, a violência, o desemprego, entre outras. Diante dessa desigualdade

os trabalhadores lutam pela garantia de direitos, condição que reflete na aprovação de

algumas políticas sociais.

O período de maior proteção e garantia de direitos à população por parte do Estado foi

o Welfare State, ou Estado de Bem-Estar Social, o qual é indispensável tratar ao discutir

política social. O Welfare State esteve presente em vários países e em diferentes épocas, não

havendo um modelo único, mas caracterizando-se, em linhas gerais, por garantir renda e

acesso a recursos e serviços básicos de modo universal, assemelhando-se, assim, a política

social (PEREIRA, 2008). Tal Estado surgiu após a Segunda Guerra Mundial, sendo que esta

havia deixado o mundo todo abalado e com medo devido a enorme violência resultando em

inúmeros mortos e famílias destroçadas, e culminou também com o fim da denominada

Grande Depressão, a qual se iniciou com a crise de 1929, com a quebra da Bolsa de Valores

de Nova Iorque. Esta crise foi considerada o período de maior recessão econômica do século

XX, causando alto índice de pobreza principalmente nos Estados Unidos, mas que teve

reflexos negativos em vários outros países.

Assim, com o Welfare State houve grandes avanços no mundo todo com relação as

leis que ampliam os direitos sociais, sendo formuladas políticas sociais (ou setoriais) que

atendiam aqueles que já não podiam mais trabalhar, devido a traumas ou mutilações do

período de guerra. Consolidam-se neste período em muitos países as políticas de saúde e

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educação, com serviços especializados, permitindo a ampliação da garantia de certos direitos,

a partir da inclusão social de sujeitos historicamente excluídos. (FALEIROS, 2007)

Contudo a proposta de Bem-Estar Social não se efetiva por muito tempo, não há uma

data exata para o colapso do Welfare State, o que se tem é o fato de que, a partir da crise

capitalista de 1969, a ideologia neoliberal “começa a ganhar terreno” culminando no

enfraquecimento deste Estado de Bem-Estar Social na medida em que tal ideologia toma

força. “Os reduzidos índices de crescimento com altas taxas de inflação foram um fermento

para os argumentos neoliberais criticarem o Estado social e o „consenso‟ do pós-guerra, que

permitiu a instituição do Welfare State.” (BEHRING; BOSCHETTI, 2007, p. 125)

Para os neoliberais tal crise era resultante do poder dado aos sindicatos e movimentos

operários neste período de bonança, fator que, segundo Anderson (1995) apud Behring e

Boschetti (2007), culminou em menor produção, maior gasto estatal e, assim, altos processos

inflacionários. Os neoliberais ainda defendiam a não intervenção do Estado nas relações de

trabalho, pois tal intervenção era vista como negativa ao crescimento econômico e criação de

empregos 2.

“[...] a partir dos anos 1980 a política social e o Estado de Bem-Estar Social sofreram

mudanças não lineares, cuja dinâmica contempla contenções, retrocessos, reorientações e,

principalmente, transformações.” (PEREIRA, 2008, p.192). Nesta época a política neoliberal

começa a ganhar força no mundo todo contrária a ideologia do Welfare State a qual tinha o

Estado como força maior e que restringe as livres forças do mercado. Ainda segundo a mesma

autora, é a partir desta década que a política social passa a incorporar tal ideologia neoliberal

na medida em que o Estado de Bem-Estar Social é excluído, implicando em retrocessos no

campo da política social e incentivando a competição em todos os âmbitos que envolvem o

ser humano.

A Ditadura Militar perdurou 20 anos (1964-1984) e foi marcada por violentas

repressões a qualquer forma de manifestação contrária ao Regime Militar e ao sistema

capitalista de produção. A derrubada deste regime deveu-se a intensos movimentos populares,

universitários e sindicais, que organizavam passeatas, greves e manifestações, para denunciar

2Argumento este que fica somente no campo ideológico uma vez que o Estado será chamado a intervir na

economia sempre que favorável aos interesses neoliberais. Tal política econômica, ou seja, neoliberal, também

visa reduzir ao máximo o número de trabalhadores, utilizando para tal novas tecnologias, como o emprego cada

vez maior de máquinas, buscando, deste modo, o aumento dos lucros da empresa (o qual não será dividido com

os trabalhadores como o jargão neoliberal difunde - “deixar o bolo crescer para depois dividir”.). O que se vê

com a entrada do neoliberalismo é, antes de mais nada, a desregulamentação dos direitos até então adquiridos

pelos trabalhadores. (MONTAÑO, 1997) e (VIEIRA, 1992)

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a violência que sofriam todos aqueles que lutavam contra o militarismo e os salários

baixíssimos que recebiam por extenuantes jornadas de trabalho.

Com o fim da Ditadura Militar e em vista da efervescência política da população

brasileira, animada com o fim da repressão e objetivando ampliar e garantir direitos sociais

tornou-se imprescindível a atualização da Constituição Federal, sendo que neste período

vigorava a Constituição Federal de 1974, conteúdo elaborado dentro do contexto do Regime

Militar. Após diversos embates a nova Constituição Federal foi promulgada em 05 de outubro

de 1988 (CF/88), sendo considerada um grande avanço no que tange aos direitos sociais,

políticos e civis conquistados pelos brasileiros no decorrer de sua história.

O título VIII da CF/88 que trata da Ordem Social traz entre os artigos 194 a 204 a base

da regulamentação da Seguridade Social no Brasil - tendo como tripé as políticas de Saúde,

Previdência Social e Assistência Social - e estabelece as diretrizes que as políticas sociais que

a compõem devem contemplar, quais sejam: universalidade, municipalização,

descentralização, irredutibilidade, equidade, caráter democrático, participação da comunidade

e controle social. Vale salientar que é apenas com a Constituição Federal de 1988 que os

municípios passam a ter “autonomia” política e financeira. (BRASIL, 1988)

A partir desta Constituição, em seus artigos 203 e 204, a Assistência Social obtém

pela primeira vez o caráter de política pública, direito do cidadão que dela necessitar,

retirando-se assim, conforme Sposati (2003) a concepção do usuário desta política como

sujeito marginal ou carente, uma vez que se entende que o mesmo encontra-se nesta situação

devido ao contexto sócio-econômico em que está inserido e não devido a sua falta de esforço

pessoal para alcançar condição melhor. Antes desta Constituição a assistência social era vista

como benesse, ajuda aos mais necessitados e as ações eram geralmente ligadas a Igreja e/ou

as primeiras damas3.

Faz-se importante lembrar que historicamente a Assistência Social é vista de forma

preconceituosa, sendo seus usuários taxados de acomodados e preguiçosos e tendo estratégias

que visam mais a adaptação do indivíduo ao meio do que as reais causas da precariedade de

sua situação (FALEIROS, 2007). Tal visão embora não esteja totalmente superada na prática,

teve um grande avanço para tal com a CF/88.

A política de Assistência Social, conforme artigo 203, tem por objetivos:

3 Para mais informações sobre a Assistência Social no Brasil ver o livro Relações Sociais e Serviço Social no

Brasil: Esboço de uma interpretação histórico-metodológica de Marilda Villela Iamamoto e Raul de Carvalho.

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I - à proteção social à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à

velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção

da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das

pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida

comunitária; V - e a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à

pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir

meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família,

conforme dispuser a lei.[4] (BRASIL, 1988, s.p.)

A Política de Assistência Social, assim como a de Saúde, tem característica não

contributiva, porém o acesso às mesmas dá-se de forma diferenciada. A Assistência Social é

universalizante, na medida em que garante o acesso aos direitos sociais a todos os cidadãos,

porém o acesso a esta está condicionado a alguma necessidade, atendendo apenas a população

em situação de risco ou vulnerabilidade social5. Já a Saúde, conforme art. 196 da CF/88, é

universal, devendo atender a toda população independente da condição financeira e/ou social,

com ações não apenas curativas mas também preventivas. Conforme o mesmo artigo da

CF/88 a Saúde é direito de todos e dever do Estado sendo garantida pelo Sistema Único de

Saúde (SUS). A Previdência Social, diferentemente das outras duas políticas, só é garantida

mediante contribuição, visando à garantia de renda a estes segurados/contribuintes em

momentos que não podem trabalhar, como em casos de doença, velhice ou desemprego.

Assim, o trabalhador desprotegido pela política de Previdência Social - na maioria das vezes

trabalhadores informais - em momentos que não consegue prover o seu sustento e de sua

família recorre à Assistência Social.

Quanto a não proteção ao grande número de trabalhadores informais e a questão do

preconceito que recai sobre os mesmos Sposati (2003) relata:

Nunca fomos uma sociedade de pleno emprego. Lembremos as barreiras

criadas aos negros para sobreviver e trabalhar no pós libertação da

escravidão. No pensamento idealizado liberal permanecia a idéia moral pela

qual atribuir benefícios ao trabalhador formal era um modo de disciplinar e

incentivar a trabalhar o trabalhador informal, tido por vadio. Sempre no

Brasil os informais foram em maior número do que os formais. (SPOSATI,

2003, p. 5)

4Tais objetivos cinco anos depois são elementos do art. 2. da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS).

5A Assistência Social se divide em Proteção Social Básica (PSB) e Proteção Social Especial (PSE), como será

visto mais adiante neste trabalho. Atualmente, no primeiro nível de proteção são atendidas famílias com renda de

até três salários mínimos ou meio salário mínimo per capita, conforme critério do Cadastro Único para

Programas Sociais (CadÚnico), já no segundo nível são atendidas famílias e/ou indivíduos que se encontram em

situação de risco pessoal e social, decorrente de situações de abandono, violência física, psicológica, sexual,

negligência, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas sócio-educativas, situação de rua, de

trabalho infantil, entre outros, independente da renda.

16

Como já retratado anteriormente esta sociedade de pleno emprego nunca irá acontecer

dentro do modo de produção capitalista pois ele necessita desse Exército Industrial de

Reserva6 para manter os trabalhadores submetidos a condições precárias de trabalho, sem

reivindicar por melhores condições por medo de ser despedido, pois tal trabalhador sabe que

sua força de trabalho pode ser facilmente substituída no contexto desta sociedade. Como

alternativa para sustentar suas famílias muitos trabalhadores então buscam o trabalho

informal, fazem “bicos”, seja de forma autônoma, seja trabalhando para outra pessoa, tal

alternativa torna-se muitas vezes a mais viável, quando não é a única. Porém, nesta condição

de informalidade o trabalhador fica sem o amparo legal do Estado em casos de contingências

sociais7. Assim, ao mesmo tempo em que este modo de produção não dá as condições para

que o trabalhador esteja empregado formalmente, ainda permanece o preconceito - como

anteriormente citado por Sposati (2003) - sobre tal trabalhador, culminando em uma

contraditória relação.

Porém, as políticas de Saúde, Previdência Social e Assistência Social, bem como os

artigos contemplados pela CF/88 que constituem a base da Política Social brasileira, somente

ganham institucionalidade e podem ser regulamentas a partir de suas Leis, no caso da Política

de Assistência Social com a aprovação da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS)

promulgada apenas em 1993, por meio da Lei nº 8.742. Esta Lei reafirma em seu artigo 2º os

objetivos da Assistência Social presentes na CF/88 e estabelece a necessidade de ações

conjuntas entre as demais políticas setoriais, como as políticas de saúde, habitação, educação,

entre outras.

1.1 LEI ORGÂNICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (LOAS): CAMINHO PARA A

EFETIVAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

A Lei Orgânica da Assistência Social foi a última dentre as Leis que regulamentam as

políticas que compõem a Seguridade Social a ser aprovada, sendo a da Saúde e da Previdência

Social aprovadas em 19/09/1990 e 27/09/1991, respectivamente. O processo de

implementação da LOAS não foi fácil, fruto de diversos estudos e discussões da categoria

para formulação de propostas, sendo alvo de críticas por conservadores e por grupos

6Termo utilizado por Karl Marx para designar a população com capacidade de trabalhar mas que se encontra

desempregada. 7O termo contingências sociais para a Previdência Social refere-se a eventualidades que impedem uma pessoa de

trabalhar, tais como desemprego, doença, maternidade, velhice. O mesmo termo está também presente no

parágrafo único do artigo 2. da LOAS ganhando um sentido mais amplo e podendo significar qualquer

dificuldade tal como a fome e a falta de moradia.

17

socialistas ortodoxos8 que não vêem avanços enquanto a economia for capitalista (SPOSATI,

2003).

Ainda conforme Sposati (2003), a luta pela regulamentação da Assistência Social, ou

seja, pela LOAS, envolveu a articulação de diversos sujeitos, entre eles a categoria dos

profissionais de Serviço Social - por meio do Conselho Regional de Assistentes Sociais

(CRAS) e Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS)9 - a Associação Nacional dos

Servidores da LBA (ANASSELBA), Frente Nacional de Gestores Municipais e Estaduais,

Movimentos pelos Direitos das Pessoas com Deficiência, dos Idosos, das Crianças e

Adolescentes e pesquisadores de universidades, sujeitos estes que representam as

necessidades dos mais vulneráveis, seja social e/ou econômica, comprometidos com a luta em

defesa dos direitos destes.

O IPEA, através de comissão própria, inicia o trabalho de construção do

projeto de lei orgânica da assistência social. Aqui uma das parteiras da

LOAS, Potyara Pereira, analista de políticas sociais, elabora os princípios e

diretrizes da assistência social até hoje vigentes em texto legal. (SPOSATI,

2003, p. 17)

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) constitui-se em uma fundação

pública destinada a fornecer suporte técnico e institucional, através de suas pesquisas, para

que o governo possa traçar estratégias de ação para as políticas públicas e programas de

desenvolvimento brasileiro (IPEA, 2012). O fato de Potyara Pereira, uma assistente social,

fazer parte da elaboração do projeto que cria a LOAS revela-se de grande importância para a

Política de Assistência Social, para o curso de Serviço Social e em especial para os usuários

desta política. Entende-se que sua formação, aliada a sua caminhada de pesquisadora e

analista de políticas sociais levam-na a conhecer os anseios dos usuários desta política,

possibilitando a Potyara fazer uma leitura crítica da realidade, pautada no Código de Ética dos

Assistentes Sociais, que a partir de 1986 concretiza a posição de defender a classe

trabalhadora, resultando na elaboração de um projeto de Lei consistente na defesa dos

8A crítica dos socialistas mais ortodoxos está pautada na defesa de que não é possível avançar na área social

enquanto a economia for capitalista tendendo tais propostas, nas palavras de Sposati (1993), a “resultado zero”,

já o grupo dos conservadores representa todos aqueles sujeitos que defendem o modo de produção capitalista,

utilizando-se do preconceituoso discurso de que as políticas sociais facilitam a acomodação da população que,

segundo este grupo conservador, “prefere viver às custas do governo do que trabalhar”. 9Tais Conselhos foram criados em 15 de maio de 1962, por meio do Decreto 994. Com a Lei 8.662 que

Regulamenta a Profissão e revoga a 1. Lei de Regulamentação da Profissão, Lei 3.252/57, tais Conselhos passam

então a ser denominados Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) e Conselho Federal de Serviço Social

(CFESS). (CFESS, 2012)

18

usuários da Política de Assistência Social. Esta participação de Potyara dá visibilidade e

revela a posição desta categoria profissional na luta pela garantia e ampliação dos direitos da

classe trabalhadora.

Contudo, a Assistência Social sofreu grande golpe quando, em 1990, o então

presidente Fernando Collor veta o primeiro projeto da LOAS aprovado pelo Legislativo 10

,

por entender que o mesmo não compreendia uma Assistência Social responsável e que não

seria possível bancar todos os benefícios previstos na Lei. (LONARDONI et al., 2006)

“Novo momento sacode a sociedade em 91 e 92. Os escândalos da Era Collor que

provocaram o desmonte da esperança e adota a opção neoliberal quando o país esperava pela

democracia social e política.” (SPOSATI, 1993, p. 18). Com o impeachment de Collor,

resultado de manifestações da população brasileira que se encontravam revoltosa com as

inúmeras denúncias de corrupção neste governo, a aprovação da LOAS é novamente adiada.

Itamar Franco assume a Presidência da República em 02/10/1992 e Juthay Magalhães assume

o Ministério de Bem-Estar Social, o qual foi criado em 1989, ou seja, logo após a

promulgação da CF/88.

Como o primeiro projeto para aprovação da LOAS havia sido vetado, o executivo

entendeu que não poderia aprovar outro que partisse do legislativo. Assim, já com Itamar

Franco na Presidência da República, o executivo elabora novo projeto para a regulamentação

da Assistência Social, sendo este enviado por Juthay ao Presidente em julho de 1993.

(SPOSATI, 2003)

Após o envio do Projeto de Lei n. 100/93, emitido em caráter de urgência pelo

presidente Itamar Franco à Câmara Federal, ocorre em Brasília a Primeira Conferência de

Assistência Social, conhecida como “Conferência Zero”, com o objetivo de debater e negociar

emendas ao texto constitucional (SPOSATI, 2003).

Assim, após muita luta, com avanços em alguns itens e retrocessos em outros, a LOAS

é aprovada em 07 de dezembro de 1993 como Lei n. 8742, iniciando a construção de uma

gestão pública, participativa e descentralizada de Assistência Social, por meio da instituição

de conselhos deliberativos e paritários11

nas três esferas do governo. Faz-se imprescindível

10

Apresentado pelo deputado Raimundo Bezerra por meio do projeto de Lei n. 3099/89. 11

A paridade refere-se a igual composição entre membros representantes da sociedade civil (como associações,

por exemplo) e do governo. Porém, muitas vezes, os representantes da sociedade civil trabalham em órgãos

governamentais, fato este que em alguns casos os leva a decidir levando mais em consideração o local em que

está trabalhando do que efetivamente os interesses do grupo da sociedade civil que representa.

19

salientar que esta é a primeira vez que legalmente é dada voz aos usuários da política de

Assistência Social.

No parágrafo único do artigo 2º da LOAS é explicitado que “[...] Para o enfrentamento

da pobreza, a assistência social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais,

garantindo mínimos sociais e provimento de condições para atender contingências sociais e

promovendo a universalização dos direitos sociais.”12

(BRASIL, 2011a, s. p. grifos nossos).

A incorporação legal da discussão sobre mínimos sociais no Brasil foi trazida pela

primeira vez por meio da LOAS, a qual já em seu artigo 1º trata da provisão destes mínimos,

os quais são direitos de toda população garantidos quando colocados em prática. Ao se tratar

de mínimos sociais deve-se ter em mente tudo aquilo que é básico para a sobrevivência sadia

dos indivíduos, ou seja, saúde, habitação, educação, alimentação, entre outras, para tal

ressalta-se mais uma vez a necessidade de ações integradas. Porém, ao formularem-se

políticas é necessário ter claro que cada região tem sua particularidade, bem como há

diferenças das necessidades de uma família para outra, logo as políticas ao serem formuladas

devem levar em consideração tais questões. Com o avanço do neoliberalismo, cada vez mais

tais direitos tem-se reduzido a ser apenas mínimos mesmo (YWATA; MORCELI; SANTOS,

2004).

Ainda neste contexto, faz-se importante salientar que a LOAS Anotada (2009) ao

tratar sobre a integração entre as políticas públicas setoriais, destaca o Cadastro Único para

Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) como ferramenta essencial para

integração dos programas sociais do governo, cadastro este criado em 2001 sendo substituído

pelo Decreto 6.135/07, como será explanado no segundo capítulo.

Quanto aos princípios a LOAS rege-se da seguinte forma:

I - supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de

rentabilidade econômica; II - universalização dos direitos sociais, a fim de

tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas

públicas; III - respeito à dignidade do cidadão, a sua autonomia e ao seu

direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência

familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de

necessidade; IV - igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem

discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às

populações urbanas e rurais; V - divulgação ampla dos benefícios, serviços,

programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo

Poder Público e dos critérios para sua concessão. (BRASIL, 1993, s. p.)

12

Redação dada pela Lei n. 12.435 de 2011.

20

Logo, pode-se perceber que mais uma vez é ressaltado o acesso a Assistência Social

como direito universal não contributivo que independe da classe econômica do sujeito, mas

que será concedido apenas aqueles em situação de risco social ou vulnerabilidade, ou seja,

como descrito pela LOAS, mediante necessidades sociais (fome, moradia, transporte,

violência e/ou negligência doméstica). Ainda destaca-se o objetivo da LOAS em tornar tal

usuário alcançável pelas demais políticas setoriais, buscando atendê-lo em todas as suas

necessidade, espera-se, assim, que ele não tenha apenas “comida à mesa”, mas que acesse a

moradia, a saúde, a educação, a informação, ao trabalho, a cultura e tantos outros serviços,

fazendo jus ao seu direito como cidadão no sentido mais amplo da palavra.

Por muito tempo houve a necessidade da população ter que comprovar a pobreza para

ter acesso a um determinado benefício ou serviço, o mesmo se dava por meio de atestado de

pobreza, o qual era gerado por terceiro e representava muitas vezes, no contexto desta

sociedade, uma situação vexatória para a pessoa que solicitou. A LOAS por meio do artigo 4º

inciso III representa um grande avanço também neste sentido, pois proíbe qualquer

comprovação vexatória de necessidade, estando a mesma em consonância com o artigo 5º

Inciso X da CF/88 “[...] são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das

pessoas, assegurando o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua

violação”. (BRASIL, 1988, s.p.)

Com relação a esse documento irregular o Conselho Regional de Serviço Social do

Paraná se posiciona

[...] atrelar a concessão de benefícios à elaboração de „atestado de pobreza‟,

burocratiza as vias de acesso aos direitos já conquistados e legitimados,

nesta perspectiva temos orientado os Assistentes Sociais, que quando

procurados pelos usuários, informem amplamente sobre as legislações que

justificam a dispensa de tal documento, esclarecendo também, que as

declarações deles mesmos, bastam para comprovar sua situação econômica,

não estando o acesso ao benefício atrelado à apresentação deste tipo de

atestado, assim como que a prestação de informações inverossímeis poderá

acarretar em penalidades. (CRESS-PR, 2009, s. p.)

Assim, o assistente social pautado em seu Código de Ética e orientado pelas demais

legislações vigentes, não concede atestados de pobreza e orienta os usuários, das diversas

políticas que atende, a procurar os órgãos competentes, tal como Ministério Público, em casos

21

de lhe ser exigido esse documento para acesso a algum benefício ou serviço, fato que mesmo

depois de 19 anos de vigência da LOAS ainda ocorre.

Do mesmo modo, o usuário é informado que em caso de apresentar informações

incorretas para o acesso de algum benefício ou serviço também poderá responder

judicialmente.

Quanto ao inciso IV dos princípios da LOAS, da igualdade de acesso das populações

rurais e urbanas, ainda têm-se muito a avançar porque o que se percebe empiricamente no

Brasil, é a maior facilidade de acesso para a população que mora na área urbana, devido aos

locais em que a população busca por seus direitos localizarem-se normalmente neste

perímetro, aliada também a dificuldade de chegar a informação para a população que mora na

área rural.

Já o inciso V ressalta que é direito do cidadão conhecer quais os benefícios, serviços,

programas e projetos da área da Assistência Social, ofertados pelo Poder Público, bem como

os recursos e critérios para acessá-los. Sendo assim, faz-se imprescindível a necessidade de

ampla divulgação destes, por meio de rádios, televisões, jornais, reuniões e cartazes, partindo

da primazia que para acessar seus direitos a população precisa primeiramente conhecê-los.

Ainda neste contexto, o artigo 5º do Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais, de

15 de março de 1993, na alínea c coloca que é dever do assistente social em sua relação com o

usuário “[...] democratizar as informações e o acesso aos programas disponíveis no espaço

institucional, como um dos mecanismos indispensáveis à participação dos usuários;”.

(CFESS, 1993, s.p.)

Nas diretrizes da LOAS estão estabelecidas em consonância com o artigo 204 da

CF/88

Art. 5º A organização da assistência social tem como base as seguintes

diretrizes: I - descentralização político-administrativa para os Estados,

Distrito Federal e Municípios, e comando único das ações em cada esfera de

governo; II - participação da população, por meio de organizações

representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos

os níveis; III - primazia da responsabilidade do Estado na condução da

Política de Assistência Social em cada esfera de governo. (BRASIL, 1993,

s.p.)

A descentralização político-administrativa vem, entre outros fatores, qualificar o

processo de gestão e fiscalização da aplicação dos recursos públicos, além de possibilitar a

22

criação de programas que estejam de fato alinhados às necessidades de determinada região.

Num país do tamanho do Brasil a descentralização é fundamental.

Dar voz a população é imprescindível neste processo de consolidação da Política de

Assistência Social e por meio do inciso II do artigo 5º, a LOAS dá um grande salto neste

sentido, trazendo também os espaços de participação na mesma. Porém, embora prescrito em

lei ainda há muito o que avançar neste sentido pois devido a organização política e econômica

desta sociedade cada vez mais tal participação é mascarada, sendo as decisões previamente

tomadas e espaços de Conferências e Conselhos servindo apenas para dar legalidade ao

processo, aonde a população participa apenas para aprovar aquilo que já foi determinado por

quem está no poder, na maioria das vezes sem entender o que está sendo discutido, o que

observa-se ao participar de tais reuniões, é o uso de um palavreado bastante técnico,

dificultando até mesmo para quem já possui nível superior, quanto mais aos usuários da

política de Assistência Social que na maioria das vezes não o possuem.

Ter em foco que é o Estado o responsável por conduzir a Política de Assistência Social

faz-se de suma importância para não retroceder às origens de tal política, quando a mesma

não era vista como direito mas como benesse. Embora esteja previsto em lei a ação conjunta

com setores privados e não governamentais é do Estado que se deve cobrar pelo atendimento

integral às necessidades dos cidadãos.

Como pode-se perceber, o processo para consolidação da LOAS, e com ela da política

de Assistência Social, deu-se em meio a diversos entraves com as classes dominantes, as

quais tinham como ideologia norteante a neoliberal. A tensa relação entre a política de

uniformização, universalização e unificação do Welfare State e o capitalismo em ascensão em

meados de 1980 resultou em uma relação conflituosa entre as garantias universalizantes das

políticas sociais promulgadas pela Constituição Federal de 1988 e as “reformas” ocorridas no

Brasil em prol do desenvolvimento econômico, tendo como consequências o crescimento das

expressões da “questão social” acompanhada da privatização e mercantilização da política

social, processo este iniciado no governo Collor de Mello. Tais características da política

neoliberal vêm, no Brasil, descaracterizar, fragmentar e, assim, enfraquecer as políticas

regulamentas pela CF/88.

Segundo Behring e Boschetti (2007), a incorporação da ideologia neoliberal foi

possível devido a crise econômica dos anos 1980 (pela qual mais uma vez o Estado foi

responsabilizado) e movimentos contraditórios que ora apontavam para a democratização do

país e ora para retrocessos neste campo. Conforme as mesmas autoras, o país presenciou, a

23

partir da década de 1990, um processo de “contra-reforma”13

, o qual ganhou força com a

instituição do Plano Real em 1994.

Tal Plano Real foi instituído no governo de Itamar Franco quando Fernando Henrique

Cardoso (FHC) era então Ministro da Fazenda – em 1993 e 1994 – com o objetivo de

estabilizar a economia. Em seis meses o Plano alcançou seu objetivo tornando-se o principal

motivo para a eleição de FHC ainda no 1º turno das eleições em outubro de 1994. (SINGER,

1999)

Este novo governo manteve praticamente a mesma equipe econômica do seu

antecessor e o Plano Real tornou-se justificativa para tudo que FHC fazia de bom ou de ruim

em seu governo.

[...] o próprio êxito do Plano Real, enquanto instrumento antiinflacionário,

suscitou condições inteiramente novas para o enfrentamento dos problemas

econômicos, a partir de 1995. FHC presidente pôde se aproveitar destas

condições para redefinir a inserção do país no processo de globalização e a

delimitação de atividades entre setor público e privado na esfera da União

assim como, por pressão indireta, nos estados e municípios. Ele promoveu

mudanças estruturais no aparelho de estado federal e no sistema

previdenciário. E alterou a repartição do bolo fiscal entre as três esferas de

poder de federação, que a recém-promulgada Constituição de 1988 tinha

viezado a favor das esferas de baixo. Tudo isso tem pouco a ver com a

estabilidade dos preços, mas foi justificado e defendido como sendo

indispensável para impedir o retorno da inflação. (SINGER, 1999, p. 26)

Embora a política econômica e a política social não serem dissociadas, sendo ambas

fundamentais para manutenção do capitalismo, comumente o Estado deixa de investir na

política social para investir na política econômica e impõe para a sociedade tal condição como

necessária (VIEIRA, 1992). Como se pode perceber no texto de Singer, mediante tal

alienação a sociedade considera positiva e até defende tal remanejo do recurso,

principalmente, como têm-se visto no decorrer deste texto, se este recurso estava destinado à

política de Assistência Social, sendo esta historicamente é vista de forma preconceituosa e

como meio de incentivar a acomodação dos indivíduos.

Como bem se pode perceber o governo de FHC estava em perfeita sintonia com a

ideologia neoliberal. Vale ainda salientar que esta ideologia busca reduzir ao máximo a

13

Termo utilizado pelas mesmas autoras na obra Políticas Sociais: fundamentos e história e que faz alusão ao

Plano Diretor de Reforma do Estado (PDRE/ MARE, 1995), criado com o objetivo de “modernizar” o Estado, o

mesmo tem como foco o mercado e como conseqüência o enfraquecimento dos direitos conquistados através da

CF/ 88.

24

garantia de direitos sociais à população, desqualificando tudo aquilo que é estatal e almejando

a privatização das empresas geridas pelo Estado. Logo, para a população poder acessar os

serviços que até então pagava ao Estado para obter - devendo tal valor voltar aos cofres

públicos - passa a ter que comprá-los do setor privado gerando lucro apenas para os donos

destas empresas. Sem este recurso, a receita do Estado diminui consideravelmente e têm-se a

necessidade de redução dos gastos públicos, implicando diretamente na “[...] diminuição dos

recursos destinados às políticas sociais.” (MONTAÑO, 1997, p.112, grifo do autor).

Behring e Boschetti (2007), baseadas em estudos de Biondi (2000), retratam que após

a privatização de empresas estatais de telefonia, energia elétrica e combustíveis, ocorridas no

governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) com a justificativa de equilibrar a economia

brasileira, as mesmas, contraditoriamente, passaram a obter desempenhos lucrativos. Tal fato,

porém, não tem a ver com o mau gerenciamento dos serviços/espaços públicos, mas pelo

aumento das tarifas e do número de trabalhadores que foram demitidos e devido ao fato de tal

governo ter assumido as dívidas dessas empresas bem como compromissos com os fundos de

pensão e aposentadoria. Desta forma percebe-se que o setor privado apenas assume aquilo que

é lucrativo, ficando a cargo do Estado gerenciar o restante.

A política social passa a ser subordinada a política econômica na medida em que se

diminuem os gastos com programas universalizantes e flexibiliza-se o trabalho com a

introdução cada vez maior do uso de novas tecnologias e a descentralização das atividades

produtivas14

, culminando em aumento do desemprego estrutural e na desmobilização dos

sindicatos (ANTUNES, 2000). Os programas de caráter emergencial têm prevalecido dentro

deste contexto, como estratégia dos governos para conter a classe oprimida, ou seja, a classe

trabalhadora. (PEREIRA, 2008)

Ainda sobre o governo FHC (1995-2003) Netto (1999) esclarece que o mesmo tem

como um de seus traços constitucionais o desmonte da Seguridade Social (Saúde, Assistência

Social e Previdência Social), pois não era interessante para a elite que Fernando Henrique

representava a implementação de tais políticas sociais de forma integrada e, para tal, tratou de

aplicar a lógica mercantil às mesmas, retirando, assim, a responsabilidade do Estado e

passando-a para a sociedade civil.

14

A descentralização das atividades produtivas refere-se a divisão entre várias empresas dos componentes de um

mesmo produto. Por exemplo, na produção de um tênis em uma empresa é produzida a palminha, na empresa de

outro país é produzido o cadarço e assim sucessivamente, como forma de baratear a produção deste produto e

tendo como conseqüência prejuízos a classe trabalhadora.

25

A lógica mercantil, conforme Netto (1999), refere-se a privatização e a

mercantilização das políticas sociais. A política de assistência social integram-se as “redes de

proteção social” ou de “instituições de solidariedade social” a cargo principalmente das

Organizações Não-Governamentais (ONGs). Fator que acaba por retirar o caráter de direito e

conduz a política social a refilantropização. Na área público-estatal, no âmbito da assistência

social, o Estado intervém como uma espécie de pronto-socorro social, para enfrentar a

“questão social” com ações focalizadas e sem continuidade, como no caso do Comunidade

Solidária, criado em 1995 e substituído pelo Programa Fome Zero em 2002.

[...] cuja função básica deveria ser aprimorar os programas federais

direcionados para regiões mais vulnerabilizadas, bem como coordenar e

focalizar suas ações com base em critérios técnicos de necessidade e

eficácia, diminuindo os riscos de pulverização e clientelismo e promovendo

uma adequada articulação entre os diferentes níveis de governo. (TIEZZI,

2004, p.50)

Já a saúde e a previdência social passam a ser ainda mais sucateadas e mercantilizadas,

ficando a cargo do grande capital a organização e gestão dos seguros sociais e dos serviços de

saúde. Sendo de grande valia para estes a desqualificação dos serviços oferecidos

“gratuitamente” pelo Estado, pois, assim, a população sentirá a necessidade de buscar no

âmbito privado tais atendimentos, se quiser um serviço rápido e de qualidade. Neste processo

de sabotagem das políticas sociais, o governo utilizou-se não só do corte de verbas, mas

também do desvio dos recursos destinados às políticas sociais.

Porém, faz-se importante salientar que o que ocorreu no governo FHC não foi a

exclusão das políticas sociais, mas sim o emprego de uma lógica diferente daquela presente na

CF/88, a qual tinha como eixo uma política social pública, imperativa e que restringia o

avanço voraz do capital. (NETTO, 1999)

Porém, mesmo com este avanço do capital aliado a ideologia neoliberal que busca o

enfraquecimento dos direitos sociais, diversos sujeitos políticos, aliados a luta da classe

subalterna, movimentam-se, fazendo avançar, entre outras políticas, a da Assistência Social.

Conforme informações obtidas no site do assistente social e ex-Secretário Nacional de

Assistência Social (2000-2002) Marcelo Garcia, neste processo de luta pela consolidação da

Política de Assistência Social ocorre em 1995 a Primeira Conferência Nacional de Assistência

Social, realizada em Brasília, a qual foi precedida por Conferências municipais, regionais e

26

estaduais, obedecendo, assim, o artigo 5º da LOAS, a mesma contou com intensa participação

popular.

A partir de 1996 teve-se grande avanço no que se refere a ampliação e reconhecimento

pelo Estado dos direitos das crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência, sendo

implementados o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) – para crianças e

adolescentes até 16 anos em situação de risco - e o Benefício de Prestação Continuada (BPC)

- para idosos e pessoas com deficiência que não possuem condições de garantir sua própria

subsistência ou de tê-la provida por sua família. O valor do BPC é de um salário mínimo e sua

garantia encontra-se na CF/88 no artigo 203 inciso V, estando regulamentado pela LOAS no

capítulo IV seção I.

Para responder a toda essa demanda incorporada pela Assistência Social em 25 de

agosto de 1995 foi regulamentado o Fundo Nacional de Assistência Social e em 1997, após

experiências estaduais no ano anterior, inicia-se o processo de municipalização das ações e

dos recursos para a Assistência Social por meio do Fundo de Assistência Social, o qual é

gerido e fiscalizado pelo seu respectivo Conselho (federal, estadual e municipal). (GARCIA,

s.d.)

Em dezembro de 2003, já no contexto do governo Lula, acontece a IV Conferência

Nacional de Assistência Social, na qual deliberou-se pela necessidade de construir e

implementar o Sistema Único de Assistência Social (SUAS). A LOAS já demonstrava que a

Política de Assistência Social deveria ser gerida por um Sistema Único, devido a Assistência

Social ser organizada em um sistema descentralizado e participativo, como apresenta o artigo

6º desta Lei:

[...] As ações na área de assistência social são organizadas em sistema

descentralizado e participativo, constituído pelas entidades e organizações de

assistência social abrangidas por esta lei, que articule meios, esforços e

recursos, e por um conjunto de instâncias deliberativas compostas pelos

diversos setores envolvidos na área. (BRASIL, 2009a, s.p.)

Neste processo de consolidação da Política de Assistência Social e do Sistema Único

de Assistência Social em 15 de outubro de 2004 foi aprovada a reformulação da Política

Nacional de Assistência Social (PNAS)15

, pela Resolução n. 145 do CNAS, tal documento

representa a materialidade das diretrizes da LOAS. (BRASIL, 2009a)

15

O primeiro texto da Política Nacional de Assistência Social é de 1998.

27

A PNAS/2004 visa dar maior clareza aos problemas sociais presentes na sociedade

brasileira, identificando suas diretrizes e tomando para si esta responsabilidade, reafirmando,

assim, a Assistência Social como política pública de direito e dever do Estado. A mesma traz

como características o trabalho descentralizado, a padronização dos serviços, a identificação

das desigualdades sócio-territoriais, o enfrentamento destas, a garantia dos mínimos sociais e

a universalização dos direitos sociais, requisitos estes que somente serão alcançados com o

trabalho em rede, estando a PNAS atrelada às demais políticas setoriais, e com ampla

divulgação (BRASIL, 2010a). A Política Pública de Assistência Social, conforme a PNAS,

item 2.3 objetiva:

Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e,

ou, especial para famílias, indivíduos e grupos que deles necessitarem;

Contribuir com a inclusão e a eqüidade dos usuários e grupos específicos,

ampliando o acesso aos bens e serviços socioassistenciais básicos e

especiais, em áreas urbana e rural; Assegurar que as ações no âmbito da

assistência social tenham centralidade na família, e que garantam a

convivência familiar e comunitária; (BRASIL, 2010a, p. 33)

A PNAS prevê o ordenamento dos programas, projetos, serviços e benefícios

socioassistenciais16

em rede, conforme o nível de complexidade, podendo ser Proteção Social

Básica (PSB) ou Proteção Social Especial (PSE) - estando este último subdividido em Média

Complexidade ou Alta Complexidade. A PSB tem caráter preventivo, atendendo a população

em situação de vulnerabilidade social proveniente da pobreza, privação (de renda e de acesso

aos serviços públicos) e/ou com fragilização dos vínculos afetivos, suas ações são

desenvolvidas pelos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e outras unidades,

entidades e organizações da rede de atendimento socioassistencial. Já a PSE tem caráter

protetivo tendo suas ações desenvolvidas pelos Centros Especializados de Assistência Social

(CREAS). A PSE atende a população que se encontra em situação de risco pessoal e social,

decorrente de situações de abandono, violência física, psicológica, sexual, negligência, uso de

substâncias psicoativas, cumprimento de medidas sócio-educativas, situação de rua, de

trabalho infantil, entre outros, diferindo-se da Proteção Social Básica por tratar-se de um

atendimento direcionado às situações de direitos violados.

16

Os programas, projetos, benefícios e serviços encontram-se estabelecidos no Capítulo IV da LOAS.

28

Conforme o artigo 23 da LOAS os serviços representam ações continuadas de

atendimento às necessidades básicas da população com o intuito de melhorar a qualidade de

vida desta.

Já os programas estão previstos no artigo 24 da mesma Lei caracterizando-se por ter

“[...] ações integradas e complementares, com objetivo, tempo e área de abrangência definidos

para qualificar, incentivar e melhorar os benefícios e os serviços assistenciais.” (BRASIL,

2009a, s.p.).

Os projetos buscam apoiar famílias em situação de pobreza através de recursos

financeiros e tecnológicos para que incentivem as mesmas a qualificar-se na perspectiva de

melhorar sua condição geral de subsistência, seu padrão de qualidade de vida, a preservar o

meio ambiente e a organização social. Tal incentivo envolve a participação do governo

articulado a Organizações Não Governamentais (ONGs) e sociedade civil e podendo ser

financiado pelo Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, disposto pela Lei

Complementar n. 111/01 conforme a LOAS Anotada (2009).

Os benefícios caracterizam-se pela possibilidade de transferência direta de renda ao

usuário que atende aos critérios estabelecidos para tal, podendo tais benefícios ter natureza

continuada (como é o caso do BPC) ou eventual (auxílio natalidade, funeral e material).

O conceito de família para a PNAS refere-se ao grupo de pessoas que se encontra

unido seja por laços sanguíneos, afetivos ou de solidariedade. A centralidade na mesma deve-

se ao fato de recair sobre ela às pressões postas pela sociedade, sendo mediadora entre os

sujeitos e a coletividade e espaço primeiro e insubstituível de proteção e socialização.

(BRASIL, 2004)

A Legislação, em específico a LOAS, define que a instância que deve coordenar a

Política Nacional de Assistência Social (PNAS) é o Ministério do Bem-Estar Social,

atualmente Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Contudo não é

o Ministério quem aplica e fiscaliza todas as ações, pois o Conselho Nacional de Assistência

Social (CNAS), instância implementada em 1995 a partir do artigo 33 da LOAS e que

substituiu o Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS), também realiza muitas ações, entre

essas está a Normatização de tal Política. O CNAS, no entanto não é o único

Art. 16. As instâncias deliberativas do sistema descentralizado e

participativo de assistência social, de caráter permanente e composição

paritária entre governo e sociedade civil, são: I - o Conselho Nacional de

Assistência Social; II - os Conselhos Estaduais de Assistência Social; III - o

29

Conselho de Assistência Social do Distrito Federal; IV - os Conselhos

Municipais de Assistência Social. (BRASIL, 1993, s.p.)

O CNAS é o órgão superior de deliberação colegiada e sua composição é apresentada

no artigo 17 da LOAS, sendo a mesma paritária entre governo e sociedade civil17

e tendo seus

membros mandato de dois anos. Tal órgão, baseado nos incisos II e V do artigo 18 da LOAS e

por intermédio da Resolução n. 130, de 15 de julho de 2005, foi responsável também pela

aprovação da Norma Operacional Básica18

, instituindo de fato o SUAS. (BRASIL, 2009a).

Conforme o texto apresentado na LOAS Anotada (2009) a implementação do SUAS

integra um conjunto de iniciativas do governo no intuito de estabelecer uma rede de proteção

e promoção social, requisito necessário para o cumprimento da legalidade, estando previsto na

LOAS e na PNAS. Este sistema possibilita tornar, de fato, integral as ações na área da

Assistência Social, a qual historicamente tem sido marcada pela fragmentação, fortalecendo

tal setor na instituição de políticas públicas e na garantia do direito.

O SUAS organiza de forma descentralizada e participativa os serviços

socioassistenciais no Brasil, articulando os três entes federativos no provimento das ações e

do financiamento da Política de Assistência Social. Sendo coordenado pelo MDS tal Sistema

organiza as ações da Assistência Social nos níveis de PSB ou PSE e rege a vinculação de

entidades e organizações de Assistência Social ao Sistema. (BRASIL, 2012)

Os eixos estruturantes da NOB/SUAS objetivam selar o pacto efetuado entre as três

esferas governamentais e os setores de articulação, pactuação e deliberação, na busca da

implementação e consolidação do SUAS no Brasil. Quanto aos eixos de gestão do SUAS,

base deste modelo, pode-se perceber que os mesmos incorporam diversos eixos da PNAS.

São eixos estruturantes da gestão do SUAS: a. precedência da gestão pública

da política; b. alcance de direitos socioassistenciais pelos usuários; c.

matricialidade sociofamiliar; d. territorializaçao; e. descentralização político-

administrativa; f. financiamento partilhado entre os entes federados; g.

fortalecimento da relação democrática entre estado e sociedade civil; h.

valorização da presença do controle social; i. participação popular/ cidadão

usuário; j. qualificação de recursos humanos; k. informação, monitoramento,

avaliação e sistematização de resultados. (BRASIL, 2010b, p. 82)

17

A sociedade civil é composta por membros de organizações, instituições cívicas e sociais que formam a base

de uma sociedade em funcionamento. Como por exemplo, organizações não governamentais (ONGs), entidades

filantrópicas, associações profissionais, sindicatos, grupos de ajuda, movimentos sociais, entre outros. (OEA,

s.d.) 18

Houve também aprovações de Normas Operacionais Básicas nos anos de 1997 e 1998. Para mais informações

consultar a NOB-SUAS/2005 no item 1: Justificativa da Norma Operacional Básica do SUAS.

30

A NOB prevê três níveis de gestão municipal do SUAS: Inicial, Básica e Plena,

cabendo aos municípios desenvolvê-las de acordo com as suas realidades19

. Quanto a

negociação e pactuação das ações e da aplicação de recursos do SUAS compete às Comissões

Intergestoras Bipartite (CIBs) e Comissões Intergestoras Tripartites (CITs) sua gestão, sendo

acompanhadas e aprovadas pelo CNAS e instancias locais, contando ainda com o importante

sistema de monitoramento e avaliação de atividade Rede SUAS. (BRASIL, 2012)

As CIBs são compostas por representantes estaduais e municipais e têm um importante

papel na pactuação de procedimentos de gestão no intuito de melhorar a oferta ou de

referenciar serviços de qualidade aos usuários da política de Assistência Social. Já as CITs são

espaços “[...] de expressão das demandas dos gestores da Assistência Social nas três esferas

de governo [...]” (COGEMASPR, 2012, s.p.), ou seja, composta pela União, estados e

municípios20

.

Porém, ainda fazia-se muito importante definir a política de gestão para execução da

Política Nacional de Assistência Social dentro do SUAS, estabelecendo equipes mínimas de

trabalho21

. Trabalho este que cada vez mais vem sendo precarizado como já apontava a

PNAS/2004

Como conseqüência da concepção de Estado mínimo e da política pública

restritiva de direitos, deu-se a precarização do trabalho e a falta de renovação

de quadros técnicos, criando enorme defasagem de profissionais

qualificados; com um enorme contingente de pessoal na condição de

prestadores de serviços, sem estabilidade de emprego, sem direitos

trabalhistas e sem possibilidade de continuidade das atividades. Essa é uma

realidade geral, encontrada tanto em nível nacional, estadual e municipal.

(BRASIL, 2010a, p. 14)

Para tal, em 13 de dezembro de 2006 foi aprovada a Norma Operacional Básica de

Recursos Humanos do SUAS (NOB-RH/SUAS), por meio da Resolução n. 269, tendo seu

texto publicado em 25 de janeiro de 2007 pela Secretaria Nacional de Assistência Social. Tal

Norma Operacional aponta “[...] as primeiras diretrizes para a política de gestão do trabalho

do SUAS [...], propõe mecanismos reguladores da relação entre gestores e trabalhadores e os

19

A descrição de cada nível de gestão consta no item 2.1 da NOB/SUAS. 20

As competências específicas a cada uma destas Comissões constam na NOB/SUAS item 4: Instâncias de

Articulação, Pactuação e Deliberação. 21

Tais equipes são descritas na NOB-RH/SUAS como equipes de referência, sendo constituídas por

trabalhadores efetivos da Proteção Social Básica e Especial, levando-se em conta o número de famílias/usuários

atendidos e o tipo de atendimento. (BRASIL, 2007)

31

prestadores de serviços socioassistenciais [...]” (BRASIL, 2007, p. 09), além de ter integrada

uma Política de Capacitação dos trabalhadores da rede e a criação de um Plano de Carreira,

Cargos e Salários (PCCS).

A IV Conferência Nacional de Assistência Social já havia deliberado a necessidade de

tipificar e consolidar a classificação nacional dos serviços socioassistenciais. Com base em tal

Conferência e nas resoluções concernentes a Assistência Social, em 11 de novembro de 2009

foi aprovada pelo CNAS a Resolução n. 109 que institui a Tipificação Nacional dos Serviços

Socioassistenciais. A mesma classifica os serviços socioassistenciais existentes no Brasil por

nível de complexidade do SUAS: Proteção Social Básica e Proteção Social Especial de Média

e Alta Complexidade buscando denominar de forma padronizada os serviços oferecidos pelas

mesmas. (BRASIL, 2009b)

Conforme o artigo 1º da Tipificação, a PSB integra os serviços de Proteção e

Atendimento Integral a Família (PAIF), de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, e de

atendimento no domicílio para idosos e deficientes usuárias deste nível de proteção. Já na PSE

de Média Complexidade estão os serviços Especializados em Abordagem Social, de Proteção

e Atendimento Especializados a Famílias e Indivíduos (PAEFI), de Proteção Social a

Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA) e de

Prestação de Serviço a Comunidade (PSC), de Proteção Social Especial para Pessoas com

Deficiência, Idosas e suas Famílias e serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua.

E na Alta Complexidade os serviços de Acolhimento Institucional, Acolhimento em

República, Acolhimento em Família Acolhedora e de Proteção em Situações de Calamidades

Públicas e de Emergências. (BRASIL, 2009b)

A PNAS, NOB/SUAS, NOB-RH/SUAS, são documentos essenciais para o processo

de consolidação da Política de Assistência Social tal como se constitui atualmente, sendo este

documentos aprovados no período governado pelo Sr. Luíz Inácio Lula da Silva (Lula), o qual

assumiu a Presidência da República em 2003 sendo substituído em 2011.

Lula é considerado um dos presidentes com maior índice de aprovação da população

brasileira, terminando seu mandato em 2011 com 87% de aprovação popular, conforme

pesquisa realizada pelo IBOPE. O presidente dos Estados Unidos Barack Obama descreveu

Lula como “o político mais popular no mundo”, expressando, assim, o reconhecimento do

mesmo também no exterior. A imagem positiva de Lula com os trabalhadores deve-se, em

grande parte, pelo fato de o mesmo ser ex-sindicalista e ex-metalúrgico, porém, ao assumir a

presidência, Lula soube também agradar muito bem os interesses da direita. Segundo Netto

32

(2010), o primeiro mandato do governo Lula manteve a orientação macro-econômica iniciada

pelo seu antecessor Fernando Henrique Cardoso, diminuindo o número de privatizações e

buscando efetivar a reforma previdenciária.

Em seu segundo mandato, ainda conforme o mesmo autor, Lula criou uma espécie

de neoliberalismo soft 22

, sendo o mesmo mais aparente a partir de 2007/2008 quando, por

meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o governo

passa a oferecer recursos a grupos capitalistas com o objetivo de centralizar e concentrar

capital, podendo os mesmos investir tanto no Brasil como no exterior. O salário mínimo teve

uma pequena recuperação neste período e houve ampliação do crédito para toda a população,

característica da fase imperialista instalada em vários países.

O mais “famoso” programa do governo Lula, foi, sem dúvidas, o Programa Bolsa

Família (PBF), sendo o mesmo alvo de muitas críticas e elogios. O Bolsa Família foi criado

pela Lei n. 10.836, de 09 de janeiro de 2004, unificando os Programas de Transferência de

Renda do Governo Federal: Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Cartão Alimentação e Auxílio

Gás em um único programa. O mesmo é concedido à famílias em situação de pobreza - com

renda de até R$140,00 per capita - e extrema pobreza - com renda de até R$70,00 per capita -

tornando-se uma das estratégias do governo no combate à fome - inserida como direito

fundamental na Constituição Federal brasileira em 2010, por meio da Emenda n. 64. O Bolsa

Família é gerido em âmbito federal pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à

Fome (MDS), criado também no governo Lula, e em âmbito municipal é gerenciado pelas

Secretarias de Assistência Social.

O Bolsa Família caracteriza-se como um programa condicionado de transferência

direta de renda, o qual busca garantir, por meio deste repasse em dinheiro e das

condicionalidades específicas do programa, o acesso à direitos básicos do indivíduo como

alimentação, saúde e educação.

As condicionalidades do PBF, além da renda, consistem em:

No âmbito da saúde a família deve estar com as vacinas em dia, as crianças

menores que 7 anos devem estar sendo acompanhadas no seu crescimento e desenvolvimento

(pesadas, vacinadas e fazendo exames freqüentemente), as gestantes devem estar fazendo pré-

natal e as mães que amamentam devem ser acompanhadas.

22

Termo utilizado por José Paulo Netto e que, conforme o mesmo, é designado pelo professor Marcelo Braz de

“novo desenvolvimentismo”.

33

No âmbito da educação crianças e adolescentes entre 6 e 15 anos devem ter

freqüência escolar mínima de 85% e para adolescentes de 16 e 17 anos a freqüência não pode

ser inferior a 75%.

No âmbito da assistência social, crianças e adolescentes até 16 anos em

situação de trabalho infantil devem ter freqüência mensal de 85% nas atividades sócio-

educativas desenvolvidas de combate a esta situação e as famílias devem estar cadastradas no

Cadastro Único.

O custo de tal programa quando “[...] comparado ao conjunto orçamentário da União,

é muito baixo [...]” (NETTO, 2010, p. 27). Netto ainda ressalva que embora tal programa

sacie a necessidade básica do ser humano à alimentação o mesmo possui caráter

eminentemente assistencialista, pois não retira tal ser de sua condição de miserabilidade.

34

2 O CADASTRO ÚNICO EM TOLEDO23

A Política Municipal de Assistência Social em Toledo é regida atualmente por meio da

Lei n. 2.003 de 16 de julho de 2009 tendo como órgão gestor a Secretaria Municipal de

Assistência Social. Tal política conta com uma importante ferramenta de integração dos

programas sociais do governo federal e de mapeamento das necessidades sócio-econômicas

das famílias cadastradas, é o Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal

(CadÚnico), o qual, por meio do Decreto 6.135/07, que o regulamenta, estabelece como

público-alvo famílias com renda de até três salários mínimos ou meio salário mínimo per

capita. Sendo os procedimentos para a gestão deste estabelecidos pela Portaria do MDS n.

177, de 16 de junho de 201124

.

Faz-se importante ressaltar que o CadÚnico de 2007 está em consonância com o

preconizado pela PNAS/2004, constituindo-se em um importante sistema de informação,

monitoramento e avaliação acerca da população de baixa renda com a possibilidade de, por

meio dos relatórios gerados pelo CadÚnico, serem traçadas estratégias de atendimentos às

mesmas.

[...] a Política Nacional de Assistência Social na perspectiva do Sistema

Único de Assistência Social ressalta o campo da informação, monitoramento

e avaliação, salientando que as novas tecnologias da informação e a

ampliação das possibilidades de comunicação contemporânea têm um

significado, um sentido técnico e político, podendo e devendo ser

consideradas como veios estratégicos para uma melhor atuação no tocante às

políticas sociais e a nova concepção do uso da informação, do

monitoramento e da avaliação no campo da política de assistência social.

(BRASIL, 2010a, p. 14)

O CadÚnico teve sua primeira versão formulada em 2001 com o objetivo de cadastrar

as famílias participantes do Programa Bolsa Escola, o qual consistia em um incentivo

financeiro para que as crianças continuassem na escola. Em tal cadastro constavam, em geral,

somente os nomes dos alunos e de seu responsável direto, não se caracterizando um benefício

da Assistência Social, mas sim da educação, tanto é que este programa era gerenciado pelas

Secretarias Municipais de Educação. Neste mesmo ano foi criado em Toledo o Conselho de

23

Informações obtidas na construção aproximativa da gestão do Cadastro Único (2011), formulada por esta

acadêmica com base no Trabalho de Conclusão de Curso em Serviço Social de Érica Giseli Fidelis (2007) e

conversas informais com sujeitos que já passaram por este setor. 24

A Portaria n. 177/11 revoga a Portaria n. 376 de 16 de outubro de 2008.

35

Controle e Acompanhamento do Bolsa Escola, tendo como primeira presidente a Sra. Inês

Terezinha Pastório, que permaneceu no cargo durante três anos25

.

Quanto ao processo de organização do Cadastro Único no município de Toledo têm-se

como um dos pontos a ser observados a questão dos recursos humanos. No início, em 2003,

só havia a Sra. Odete, e a urgência maior de material foi a de computadores com internet,

visto que o preenchimento das informações dos usuários necessitavam ser digitadas.

A partir de 2004 com a unificação dos programas de transferência de renda do

Governo Federal: Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Cartão Alimentação e Auxílio Gás em

um único programa (o Bolsa Família), unificação esta que ocorreu a partir da Lei n. 10.836,

de 09 de janeiro de 2004, foi possível gerenciar melhor tais programas, pois os mesmos

ocorriam de forma descentralizada, sendo que o Bolsa Escola era gerido pelo Ministério da

Educação, o Bolsa Alimentação pelo Ministério da Saúde, o Cartão Alimentação pelo

Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome e o Auxílio Gás pelo

Ministério de Minas e Energia.

Com a unificação, o Bolsa Família passou então a ser gerido por um novo ministério,

o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS), o qual centralizou as

iniciativas do Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Nutricional (Mesa), o

Ministério da Assistência Social (MAS) e a Secretaria Executiva do Conselho Gestor

Interministerial do Programa Bolsa Família. Nos municípios o PBF ficou a cargo da

Secretaria de Assistência Social, inserindo-se na Central do Cadastro Único, sendo que em

Toledo a primeira coordenadora do Cadastro Único foi a senhora Odete Ravache.

Para melhorar a gestão deste Programa era necessário um cadastro unificado e

informatizado, e o Cadastro mais avançado neste sentido era o Cadbes (Cadastro do Bolsa

Escola), então foram feitas melhorias no mesmo e foi montada uma base única para o

Programa Bolsa Família (PBF).

Com a unificação, as famílias beneficiárias de um ou mais desses programas, tiveram

seus cadastros transferidos para o CadÚnico (ainda formatado em lei como Cadbes), e aquelas

que ainda se encontram em situação de vulnerabilidade, em conformidade com os critérios de

inclusão do PBF, passaram a receber tal benefício.

A Lei do Bolsa Família impõe a obrigatoriedade de haver alguém nomeado em cada

município para coordenar este Programa, porém, em Toledo historicamente entende-se a

25

Tal Conselho foi extinto em 2004 com a unificação dos chamados programas remanescentes (Bolsa Escola,

Bolsa Alimentação, Cartão Alimentação e Auxílio Gás) em um único Programa denominado Bolsa Família.

36

necessidade de haver alguém na coordenação do CadÚnico, uma vez que este engloba o PBF.

Em 2004 foi também contratada, via concurso público, uma assistente administrativa para

operacionalizar o software do Cadastro Único. Em 2005 uma assistente social já concursada,

estagiários de Serviço Social e um estagiário de Sistema de Informação26

.

A partir do ano de 2005 a Secretaria de Assistência Social precisou criar um

departamento específico para gerir o Programa Bolsa Família, sendo este o Departamento de

Benefícios, o qual só foi extinto por meio da Lei n. 1.947, em 31 de janeiro de 2007 (visando

diminuir o número de cargos comissionados, conforme exigência do Ministério Público), que

criou uma Coordenadoria do Cadastro Único e Bolsa Família, dentro da Secretaria de

Assistência Social, para gerir este sistema.

Esta nova coordenadoria foi vinculada ao Departamento Técnico e contava então

com o coordenador do Programa, Sr. Luiz Dalberto Ferreira (Riti) e com a assistente

administrativa, assistente social e estagiários já mencionados na nota de roda pé n. 25. As

atividades desta equipe consistiam em cadastrar e recadastrar os usuários a partir de

entrevista, na qual os dados eram preenchidos em formulário impresso e posteriormente

digitados no sistema do Cadastro Único, e encaminhar diversos benefícios - embora nesta

época os mesmos ainda não fossem vinculados ao CadÚnico, somente ocorrendo a vinculação

dos demais programas, projetos, benefícios e serviços da Assistência Social, para além do

Bolsa Família, no final de 2007.

Como já citado anteriormente, é somente a partir do Decreto 6.135/07 que o público-

alvo do CadÚnico foi definido. A partir deste Decreto, todas as políticas públicas que

envolvem o governo federal têm como critério de elegibilidade a inscrição da família no

citado cadastro.

Sempre houve muitas denúncias em Toledo, seja por descumprimento de

condicionalidade ou por renda superior ao limite estabelecido pelo Programa (sendo esta

última a mais comum de casos de denúncias). Durante o período em que a Secretaria de

Assistência Social era estruturada em Departamento de Benefícios e o setor do Cadastro

Único possuía uma assistente social, a Sra. Elizabete Medeiros Backes, era esta a responsável

por averiguar os casos de denúncias, realizando entrevistas e visitas domiciliares. Com a

exclusão deste departamento em 2007, a responsabilidade de acompanhar as famílias

26

A auxiliar administrativo era a Sra. Juliana Cangirana e a assistente social era a Sra. Elizabete Medeiros

Backes. Quanto aos estagiários, do Sistema de Informação era o Sr. Cleverson Carlos Comin e de Serviço Social

eram as discentes Ana Débora Marcante, Erica Fidelis e Josiane Camacho.

37

beneficiárias e de averiguar as denúncias, quando necessários, ficou sendo dos Centro de

Referência de Assistência Social (CRAS).

Em 2009 assumiu o cargo de gestora do Cadastro Único e do Programa Bolsa Família

a Sra. Andressa Caroline Müller permanecendo neste posto até março de 2010, quando a

assistente social Raquel Cassol da Silva assumiu o mesmo permanecendo no cargo até o

presente momento, faz-se importante salientar que esta foi a primeira vez que um funcionário

concursado assume o cargo de gestor do setor do Cadastro Único e Programa Bolsa Família

em Toledo, sendo tal fato considerado ainda mais positivo pela pesquisadora por ser também

a primeira vez que uma assistente social assume tal posto.

Além da Sra. Raquel, a gestão do Cadastro Único e Programa Bolsa Família possui

atualmente em seu quadro funcional um operador do CadÚnico e dois funcionários

responsáveis por conferir todos os cadastros enviados pelos CRASs e realizados em

atividades como a ação concentrada e posteriormente armazená-los, alimentando

constantemente o sistema específico com informações de onde se encontram cada cadastro e

qual a situação do mesmo, criado pelo operador do CadÚnico, recém citado, e denominado

por este de “xinforinfola”, além de contar com duas estagiárias do curso de Serviço Social da

Unioeste27

.

O Cadastro Único possibilita o acesso a diversos programas, projetos, benefícios e

serviços das três esferas governamentais (federal, estadual e municipal), entre eles destacam-

se:

Programa Bolsa Família,

Programa Tarifa Social da Água,

Programa Luz Fraterna,

Carteirinha de passe livre para pessoas com deficiência para viagem

intermunicipal,

Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI),

Programa Bem-Toledo, Programa Pró Jovem,

Programa Agente Jovem,

Programa Florir Toledo,

27

O operador do Cadastro Único é o Sr. Tiago Henrique Godoy da Silva (formado em Tecnologia em

Desenvolvimento de Software e contratado como assistente administrativo) e os dois funcionários responsáveis

pela conferência, armazenamento e alimentação dos cadastros no sistema são o Sr. Eli Schmidtke (auxiliar

administrativo) e a Srta. Gabriela Fernanda Simão Walko (estagiária do curso de Recursos Humanos). As

estagiárias são Alessandra Sallet Lunkes e Jessica Renata de Souza, acadêmicas do 4. ano de Serviço Social que

realizam atividades de estágio por 8hs/semanais.

38

Telefone Social,

Contribuição com alíquota diferenciada no INSS para donas/donos de casa,

Carteirinha do Idoso para viagem interestadual,

Benefícios eventuais (auxilio natalidade, auxílio funeral, auxílio material,

DNA),

Isenção da taxa de inscrições em Concursos públicos Federais,

Inscrição no Programa Minha Casa Minha Vida,

Participação nos cursos profissionalizantes oferecidos pela Secretaria

Municipal de Assistência Social.

Sendo que cada um dos programas, projetos, benefícios e serviços que o CadÚnico

possibilita o acesso têm os seus próprios critérios de seleção.

Faz-se importante ressaltar que o CadÚnico, conforme o Decreto 6.135/07, deve ser

atualizado a cada dois anos ou quando houver alguma alteração na situação cadastral da

família. No município de Toledo, para evitar que as famílias se esqueçam de atualizar os seus

cadastros, as mesmas são orientados a atualizá-lo uma vez por ano.

Em 2011 tomou posse a candidata de Lula à presidência, Dilma Vana Rousseff, sendo

a primeira mulher no Brasil a ocupar tal cargo. Sua plataforma de governo baseia-se na

erradicação da pobreza extrema no Brasil e tem o Plano Brasil sem Miséria como estratégia

principal, sendo o mesmo criado em maio de 2011. “É objetivo geral do Plano: promover a

inclusão social e produtiva da população extremamente pobre, tornando residual o percentual

dos que vivem abaixo da linha da extrema pobreza.” (YAZBEK, 2012, p. 315). Para tal, entre

outras atividades é dado incentivo às famílias que se encontram nesta situação a fazer cursos

que as capacitem para o mercado de trabalho, sendo os mesmos realizados com as unidades

do sistema nacional de aprendizagem (SENAI e SENAC) e a Rede Federal de Educação

Profissional e Tecnológica em todo Brasil.

Tais cursos são desenvolvidos pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e

Emprego (PRONATEC), o mesmo consiste em uma iniciativa do Ministério da Educação

(MEC) visando ampliar o numero de ingressos na educação profissionalizante bem como

melhorar as condições de inserção no mundo do trabalho. Uma das modalidades deste

Programas é o PRONATEC/ Brasil Sem Miséria, voltado prioritariamente aos inscritos no

CadÚnico.

39

O procedimento de inserção ou atualização do CadÚnico, bem como o de

encaminhamento para programas, projetos, benefícios ou serviços relacionados ao mesmo,

sempre foi realizado apenas na Vila Pioneiro, anexo ao prédio do CRAS I.

Considerando que a descentralização e a territorialização constituem-se como eixos

estruturantes da gestão do SUAS, a partir de janeiro de 2011 iniciou-se o processo de

descentralização do CadÚnico para os quatro CRAS do município de Toledo, sendo que os

mesmos localizam-se na Vila Pioneiro (CRAS I), Jardim Europa (CRAS II), Jardim Coopagro

(CRAS III) e Jardim Panorama (CRAS IV), regiões consideradas de maior vulnerabilidade no

município. Faz-se importante ressaltar neste contexto que todos estes CRAS localizam-se no

perímetro urbano, dificultando a população rural de acessá-los.

A descentralização do CadÚnico, além de atender o que prima a NOB/SUAS, visa

tornar o acesso da população usuária ao CadÚnico mais fácil e as equipes dos CRASs terem

maior proximidade com a população em situação de vulnerabilidade social de sua região.

Para que houvesse a descentralização foi indispensável a instalação de internet nos

CRASs e que fossem disponibilizados recursos humanos suficientes para o atendimento

destes usuários que necessitam fazer, atualizar ou requerer algo relacionado ao CadÚnico,

conforme a demanda de cada CRAS. A demanda dos CRASs após a descentralização

somente foi estabilizada em 2012, quando foi realizada ação concentrada com estagiários da

Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) para atualizar e fazer os cadastros de

famílias que se encontravam na fila de espera dos CRASs e também foi reordenado o fluxo de

atendimento do CadÚnico, diminuindo consideravelmente a fila de espera em todos os

CRASs do município.

Sendo que, atualmente, Toledo possui 119.313 habitantes (Censo 2010), considerado

um município de grande porte pelo SUAS e que está habilitado no nível de Gestão Básica.

Para municípios habilitados a este tipo e nível de gestão, o SUAS requisita no mínimo quatro

CRAS, sendo que os mesmos, segundo a NOB/SUAS-RH devem possuir uma equipe mínima

para a execução de suas atividades, critério este atendido por Toledo mas percebido como

insuficiente. Esta equipe deve ser constituída de quatro técnicos com nível médio e quatro

técnicos com nível superior - dois assistentes sociais, um psicólogo e um profissional que

componha o SUAS.

O Censo 2010 estima que 6.790 famílias tenham perfil de CadÚnico em Toledo, sendo

que, conforme relatório gerado pelo CadÚnico, em agosto de 2012 haviam 4.226 famílias

cadastradas na versão 7 e o relatório do site do MDS aponta que há 9.331 famílias com renda

40

de até meios salário mínimo per capita inscritas no CadÚnico neste mesmo mês (entre

cadastros atualizados e desatualizados). Tal fator deve-se ao fato que a Portaria 177/2011

preconiza que somente podem ser excluídos os cadastros após quatro anos que a família não

procura o setor responsável para atualizá-lo e depois de ser procurada esta família por duas

vezes neste período ou em casos de que a própria família solicite a exclusão.

Conforme relatório do CadÚnico de agosto de 2012 as famílias cadastradas na versão

7 do CadÚnico estão da seguinte forma divididas nos CRASs:

Gráfico 1 – População usuária do CadÚnico agosto 2012- Versão 7

Fonte: Relatório CadÚnico, 2012

Dentre os programas que compões o CadÚnico o mais famoso, sem dúvidas, é o Bolsa

Família o qual tem como instância de extrema relevância e apoio a Comissão Municipal do

Cadastro Único e Bolsa Família, criada em 2005, a qual, juntamente com o Conselho

Municipal de Assistência Social é responsável pelo planejamento, fiscalização,

acompanhamento e avaliação da execução deste Programa, constituindo-se em Instância de

Controle Social (ICS).

O exercício da função de conselheiro da Comissão Municipal do Bolsa Família é

considerado serviço público relevante e não recebe remuneração, sendo composto por

diversos membros da sociedade civil atualmente representada pelos membros dos seguintes

órgãos e entidades: Secretaria Municipal de Educação, Secretaria Municipal de Assistência

Social, Secretaria Municipal de Saúde, Secretaria Municipal da Indústria, Comércio e

Turismo, Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Conselho Municipal

41

de Saúde, Conselho Municipal de Assistência Social, Conselho Municipal de Educação,

Conselho de Segurança Alimentar (CONSEA), Núcleo Regional de Educação, Vigésima

Regional de Saúde e beneficiários do Programa Bolsa Família, sendo dois membros de cada

instituição. (TOLEDO, 2012)

A ICS também avalia em que irá ser aplicado o recurso do Índice de Gestão

Descentralizada (IGD), propiciando maior transparência da utilização deste recurso e

confiabilidade à Gestão do Programa Bolsa Família.

O IGD foi regulamentado por meio da Lei n. 12.058/09 com o objetivo de motivar

Estados, municípios e o Distrito Federal a investir na Gestão do Programa Bolsa Família e do

CadÚnico, a partir do repasse de recursos financeiros da União aos entes federados, variando

de 0 a 1 os índices de gestão. É por este recurso que pode ser viabilizada a compra de

equipamentos para melhor execução do PBF e CadÚnico, confecção de material informativo

para divulgação do programa na mídia, postos de saúde e escolas; investimento em cursos de

capacitação para os beneficiários e a contratação de estagiários para levantamento e/ou

pesquisa de dados com as famílias. (BRASIL, 2011b)

Atualmente a Comissão Municipal do Cadastro Único e Bolsa Família tem como

presidente o Sr. Tiago Henrique Godoy da Silva, como vice-presidente Josiane Marcela de

Oliveira e como secretária Eleonora Matheus Ramos Serafim.

2.1 ANÁLISE DE DADOS

A pesquisa realizada envolveu os trabalhadores do SUAS em especifico, aqueles que

atuam diretamente com o CadÚnico: os trabalhadores que realizam as inclusões, atualizações

e encaminhamentos de algum benefício que esteja relacionado ao CadÚnico e a equipe da

gestão deste sistema no município de Toledo. Sujeitos necessários para que haja compreensão

sobre informações do CadÚnico em Toledo.

Ao entender a realidade como social e historicamente construída, tal pesquisa teve

abordagem tanto quantitativa quanto qualitativa. Quantitativa, pois nas entrevistas foram

trabalhados com dados referentes aos registros no CadÚnico em Toledo e demais informações

que expressaram como está formatado o CadÚnico neste município. Qualitativa, pois podem-

se extrair dos números do CadÚnico e das falas dos sujeitos, informações que na maioria das

vezes rebatem nas relações sociais destes sujeitos e na própria Política de Assistência Social.

42

Neste sentido, concorda-se com o pensamento de Minayo (2004), ao apontar que as

abordagens qualitativa e quantitativa não se opõem e sim se complementam.

Tal pesquisa caracterizou-se como exploratória, pois trata da primeira aproximação

da pesquisadora com o seu objeto de análise e também por não haver nenhum outro trabalho

que explore tal objeto. Para desenvolver a pesquisa foi necessário fazer levantamento

bibliográfico e documental buscando desta forma conhecer, minimamente, as legislações

que dão suporte ao tema pesquisado, bem como as produções que os autores trazem acerca

deste assunto. Para completar este processo metodológico a pesquisa de campo tornou

possível a aproximação da pesquisadora com os sujeitos da pesquisa e efetivando-se a

necessidade da indissociabilidade entre teoria e prática para uma pesquisa que leva em conta

os aspectos objetivos e subjetivos do objeto em questão.

Para realização da pesquisa foi solicitado que o responsável pelas informações do

CadÚnico assinasse o Termo de Ciência do Responsável pelo campo de Estudo (anexo A), a

partir do momento que foi apresentado o Termo de Compromisso para Uso de Dados em

Arquivos (apêndice A) . Com a documentação apresentada o CEP aprova o projeto, conforme

consta na folha de aprovação (anexo B).

Para desenvolver este trabalho foi realizada a pesquisa de campo e documental, por

meio da qual foram coletadas as informações necessárias, referentes ao CadÚnico e que

tornaram possível a elaboração das entrevistas, as quais deveriam abranger qualitativamente

questões que buscam responder a problemática deste trabalho e somente foram aplicadas

mediante autorização do entrevistado por meio da assinatura do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido – TCLE (apêndice B)

O universo desta pesquisa constitui-se em 11 trabalhadores que trabalham diretamente

com o sistema do CadÚnico no município de Toledo – PR. A escolha da amostra para

realização de tal pesquisa é intencional tendo em vista o conhecimento a partir da experiência

neste campo de estágio. Nesse sentido extraiu-se a amostra de 6 sujeitos, trabalhadores dos

CRASs e da gestão do CadÚnico, contudo, as entrevistas foram realizadas somente com 5 em

virtude de um destes trabalhadores ter pedido exoneração no período em que foram realizadas

as entrevistas. O fomulário utilizado para coleta de dados foi semiestruturado (apêndice C),

para possibilitar ampliação de alguma questão, caso houvesse necessidade. Para realização

das entrevistas foram utilizados o roteiro da entrevista e um gravador, tendo seu uso

autorizado pelos entrevistados para garantir a fidedignidade das falas.

43

O processo de análise dos dados compreende o estabelecimento, a tabulação e a

sistematização dos dados coletados no decorrer da pesquisa e, para tal.

Para desenvolver essa metodologia, primeiramente foram sistematizado as

informações publicadas em legislações e textos que se referem ao tema. Posteriormente foram

organizadas as falas dos sujeitos a partir das questões elaboradas, que visam responder ao

problema desta pesquisa, qual seja: Qual é a compreensão dos trabalhadores que

operacionalizam o CadÚnico, sobre este serviço, no município de Toledo-PR.?

Para tanto apresenta-se o perfil dos sujeitos, os quais serão identificados por

Entrevistados 1, 2, 3, 4, 5, isto para garantir o sigilo da fonte das informações obtidas.

Dos cinco entrevistados três são concursados e dois são estagiários, com idade entre

23 e 27 anos e tempo de trabalho no setor entre sete meses e cinco anos. No intuito de

responder ao problema desta pesquisa foram realizadas às seguintes questões para os sujeitos:

2.1.1 Participação em Capacitações

Alguns treinamentos mas bem curtos.[...] Sobre o Cadastro Único, como

fazer, foi passado um vídeo e a gente leu bastante sobre isso. E algumas

informações a gente tirava aqui no CRAS mesmo e com [pessoa].

(Entrevistado1)

Participei de uma capacitação de uma semana e daí constantemente a gente

tem capacitações básicas, dúvidas a gente liga para o pessoal responsável,

eles sempre tão tirando as nossas dúvidas. [...] como atender as pessoas que

chegam para fazer o Cadastro, sobre todos os benefícios que tem o Cad e

como funcionava. (Entrevistado 2)

[...] teve uma capacitação algumas semanas depois que eu entrei no

Cadastro com os coordenadores do Cadastro Único e, bom, capacitação do

Cadastro Único foi só isso, eu tive uma outra capacitação foi já pela

prefeitura [...] Bom, ela instruía a gente a marcar corretamente os dados e

nos instruía na hora de fazer as perguntas para o entrevistado, como

abordar, notar sinais de divergência na informação que a pessoa tá dando

com os documentos que ela tá trazendo. (Entrevistado 3)

[...] nós participamos de capacitação de implementação do novo sistema,

por exemplo, que teve em Cascavel, teve encontros também, é seminários,

conferências, algumas coisas nesse sentido, mas assim é capacitação

específica pro Cadastro Único a gente teve duas até hoje, uma do

formulário impresso e outra do sistema em Curitiba por conta da nova

versão, fora isso a gente não teve capacitação. (Entrevistado 4)

Participei sobre o Cad 7 de duas e anterior à ele acho que... sobre o online

todas as capacitações?

Isso!

44

Nossa foram várias, eu acho que chega perto de 10. [...] Uma foi da nova

atualização no sistema que é a do Cadastro Único versão 7, uma foi online

que era sobre a Política de Assistência Social, sobre CRAS, sobre o

Cadastro Único dentro da Política a nível de Brasil, que esse era online, daí

teve algumas online, sobre alguns sistemas, em agosto agora acabou uma

que era em relação a LDO, ao PPA, a LOA, também sobre a Lei de

Responsabilidade Fiscal, que é a Lei 101 de 2001 se não me engano, ah daí

teve algumas outras capacitações eu não lembro todas, [...]. (Entrevistado

5)

A necessidade de constante capacitação está prevista na NOB-RH/ SUAS, percebe-se

nas respostas à questão 1 que o governo federal ou a gestão municipal do CadÚnico tem

garantido no mínimo uma capacitação inicial para estes trabalhadores do SUAS, sendo estas,

em sua maioria, mais no sentido de como proceder cotidianamente em seu serviço.

2.1.2 Conhecimento dos Programas, Projetos, Benefícios e Serviços Vinculados ao

CadÚnico

Quatro respostas foram positivas e uma resposta negativa.

O conhecimento de todos os programas, projetos, benefícios e serviços que o

CadÚnico possibilita o acesso no município de Toledo faz-se de suma importância para que o

trabalhador possa informar o usuário que procura o CadÚnico. Ao ter como resultado 80% de

respostas sim pode-se considerar como um item positivo da capacitação destes trabalhadores.

Mesmo que a maioria dos sujeitos entrevistados tenha dito que conhece os demais serviços,

no plano do ideal para uma afetividade da política, todos deveriam ter a compreensão dos

serviços e da rede socioasssitencial.

2.1.3 Motivos que levam as famílias a fazer o Cadastro Único

As pessoas fazem o Cadastro Único para ter mais acesso aos benefícios

como Baixa Renda e porque é um direito deles daí eles ficam sabendo e vem

atrás para saber quais os outros programas que eles podem ser inseridos.

(Entrevistado 1)

Os benefícios que o Cadastro oferece e as dificuldades que as famílias

passam, acho que leva elas a fazer o Cadastro justamente por causa dos

benefícios que elas vão adquirir depois. (Entrevistado 2)

Olha eu acho que tem vários motivos. O primeiro eu acho que é a

necessidade, o segundo, às vezes para algumas famílias, para algumas

pessoas, o que leva elas a fazer o Cadastro é... como é que eu posso

colocar... é querer tirar vantagem sem necessidade, tem muitas famílias que

fazem isso, e tem pessoas que não fazem a mínima idéia de porque estão

45

fazendo o Cadastro Único, tem vários casos de pessoas que a gente

entrevista e eles pedem para nós o porquê que eles estão fazendo o Cadastro

Único, porque simplesmente instruíram eles a vir até aqui. (Entrevistado 3)

Claro por conta dos programas e serviços que ele oferece, [então agora,] só

que a gente tem assim, [é a gente tem], alguns boom no Cadastro Único que

são de época [...], por exemplo, no início desse ano foi por conta da isenção

do IPTU, porque tem um prazo ali até março de cada ano que as pessoas

têm para encaminhar a isenção, então vêm muita gente procurando isso;

abril questão de seleção de novos novas casas, então a procura muito

grande por conta da habitação; então tem muito assim, surgiu um programa

novo a nível nacional as famílias buscam por conta disso, então depende,

têm épocas assim que tem uma procura maior ou menor de algum ou outro

serviço ou programa. (Entrevistado 4)

Ah aí varia, depende de cada família, normalmente o que a gente percebe é

que a família faz por alguma necessidade mais imediata, por exemplo, ela

foi se inscrever na habitação daí eles falam que tem que ter o Cadastro

Único, daí eles vem; foi pedir a Baixa Renda da Água e falam que tem que

ter o cadastro Único daí vem fazer o Cadastro Único, então assim, a

maioria das vezes é mais por uma necessidade imediata nesse mês, no mês

que vem ou que mesmo que não seja nesse mês ou mês que vem que precise

tá comprovando que tem o Cadastro nesse período normalmente,

[dificilmente,] apesar de algumas famílias estar começando a ter essa

cultura de atualizar constantemente os dados a maioria ainda vem só

quando precisa. (Entrevistado 5)

É comum na fala de todos os entrevistados o fato de que quem procura o CadÚnico

quer obter algum benefício atrelado a este, sendo os mesmos afirmados pelo entrevistado 1

como direitos da população.

O entrevistado 3 ressalta que nem todos os que procuram o CadÚnico de fato

necessitam do benefício, cabe ressaltar que ao final da entrevista de atualização ou inserção

no CadÚnico o usuário assina um termo assinalando que suas informações são verídicas e de

que está ciente que pode ser processado e obrigado a devolver todo o valor recebido

indevidamente aos cofres públicos em caso de ser comprovado que o sujeito passou

informações incorretas ao entrevistador do CadÚnico. Este mesmo entrevistado ainda revela

que outro motivo para buscar o CadÚnico é apenas porquê foram instruídos para tal não

sabendo do que se trata este Cadastro ou do porquê foram instruídos a fazê-lo o entrevistado 3

acrescenta:

Têm algumas famílias que vêm do CERTI, que nem é o caso dos idosos, têm

algumas famílias que recebem uma cartinha em casa por causa do BPC,

porque toda família que tem um membro que recebe o BPC tem que ter o

Cadastro Único então eles recebem uma cartinha em casa, têm algumas

famílias que é para habitação, que elas são encaminhadas pela habitação,

46

então eles são instruídos a comparecer ao CRAS e fazer o Cadastro Único

mas eles não sabem o que é, para quê serve, apesar de aqui a gente faz uma

reunião antes da entrevista ainda sim eles não sabem o pra quê eles estão

fazendo. (Entrevistado 3)

A reunião citada pelo entrevistado é realizada para todas as famílias que vem fazer o

CadÚnico pela primeira vez ou que não o atualizam há muitos anos. Tal reunião é realizada

por algum dos funcionários do CRAS, trazendo informações sobre o que consiste o

CadÚnico, quais os programas, projetos, benefícios e serviços que ele possibilita o acesso,

quais os documentos necessários para realizá-lo e, ao final da reunião, esclarecem-se as

dúvidas dos usuários. Ao pontuar que mesmo após a reunião algumas famílias ainda não

sabem o porquê de estar fazendo o CadÚnico foi questionado ao entrevistado 3 se as mesmas

estariam sendo pouco informativas, ao que este entrevistado esclareceu:

A reunião ela é informativa, ela informa bem, o problema é que eles não

prestam atenção, não por não querer prestar atenção é que eles não

entendem o conteúdo da reunião, então o problema é bem esse, a maioria, a

grande parte das pessoas que a gente faz a entrevista têm baixa

escolaridade, nenhuma escolaridade ou no máximo até 6., 8. Série, e a

reunião ela é muito técnica, então eles não assimilam e não guardam toda

informação da reunião, porque na reunião eles colocam como funciona o

Cadastro, para que serve, colocam todos os benefícios, entendeu? Então

[...] para mim mesmo que sou entrevistador, [...] eu não consigo lembrar de

todos os benefícios de cabeça imagina uma pessoa mal instruída e que

recebe uma palestra ali, uma reunião de 1 hora, 1 hora e pouquinho, ela

não assimila toda essa informação, então o problema não é a reunião, a

reunião é muito informativa para uma pessoa assim, vamos dizer, com uma

instrução mínima, a pessoa sai dali entendendo tudo sobre o Cadastro

Único, sobre os benefícios, só que para o nosso público-alvo eu acho que

não tá adiantando. (Entrevistado 3)

Pontuando que talvez seria necessário mudar a metodologia utilizando algo mais

áudio-visual. Quanto a reunião de Cadastro Novo cabe aqui apresentar a opinião do

entrevistado 5:

A reunião de Cadastro novo é muito boa a essência dela que é passar a

informação para o usuário, que é para ele saber porquê que ele tá fazendo o

Cadastro Único que a maioria das pessoas não sabem, não tem nem noção,

pensam ah quero fazer o cadastro do Bolsa Família, só que tem o bônus e o

ônus, então você se informa, daí tem outra coisa, a reunião de Cadastro

novo ela tinha que ser enxugada [...], no inicio ela não colocava todos os

critérios, mas quando foi para os CRAS, aquilo que eu tava falando de

descentralizar, então foi para os CRAS, hoje eles listam todos os benefícios

47

e serviços e falam cada critério, ninguém vai sair claro sabendo nenhum

critério porque é muita informação, nem se o entrevistador fizer três meses,

quatro meses, cinco meses, às vezes um ano, não lembra, a pessoa que vai tá

em uma reunião de uma hora ela não vai lembrar de todos os benefícios [...]

(Entrevistado 5)

Pode-se perceber na fala do entrevistado 5 que, embora a Lei 6.135/07 delibere a

necessidade de atualização do CadÚnico no mínimo a cada dois anos ou sempre que houver

alguma mudança com relação aos dados prestados pela família na última atualização do

CadÚnico, sendo que em Toledo a instrução é de que as famílias atualizem seus cadastros ao

menos uma vez por ano, a maioria das famílias ainda não tem este hábito, procurando o setor

do CadÚnico para fazer ou atualizar o cadastro somente quando faz-se de extrema

necessidade para obtenção de algum, programa, projeto, benefício ou serviço. Fato este que

tem sido trabalhado com às famílias e que aos poucos vem mudando.

A atualização do cadastro das famílias é essencial para garantir que os dados

cadastrais retratem fielmente a realidade das famílias de baixa renda e

permitam às famílias do Programa Bolsa Família ser acompanhadas no

cumprimento de condicionalidades ou possam ser localizadas para inserção

em outras políticas públicas. (BRASIL, s.d.)

Os trabalhadores que já estão há alguns anos em contato com o CadÚnico percebem

que há bem pouco tempo os usuários referiam-se ao Cadastro Único apenas como o “Cadastro

do Bolsa”, “Cadastro das casinhas”, ou referindo-se a ele como o Cadastro do programa,

projeto, benefício ou serviço que buscam acessar, sendo o termo Cadastro Único também

desconhecido pela população em geral. Porém, tem se percebido nas reuniões, entrevistas e

conversas que, em Toledo, uma pequena, mas crescente parcela destes sujeitos já utilizam o

termo Cadastro Único ao referir-se aos Cadastros dos programas, projetos, benefícios e

serviços, fato este que pode decorrer da reunião de Cadastro Novo citada.

2.1.4 Quem são os Sujeitos que Procuram o Setor do Cadastro Único

São muitos, na verdade vem até mesmo aqueles que não se enquadram, aí a

gente tem que tá passando a informação para eles que é até três salários

mínimos, então, são muitas pessoas que vem e querem os benefícios, que por

ser um programa de governo pensam que todos têm direito mas o Cadastro

Único é para pessoas que têm até três salários mínimos [então... é isso].

(Entrevistado 1)

48

São famílias que têm renda baixa, têm uma renda bem baixa, outras que

nem tem renda. (Entrevistado 2)

Os sujeitos que procuram o Cadastro Único geralmente são mulheres, na

faixa de 18 a 35, 40 anos, [...] homens só quando a mulher não pode vim,

têm alguns casos de homens que cuidam sozinhos da casa e dos filhos,

geralmente são pessoas, que nem eu já falei, de baixa escolaridade, a

maioria delas é desempregada ou trabalha informalmente, a grande maioria

delas não têm casa própria, paga aluguel ou vive de favor na casa de outras

pessoas e a maioria dos benefícios que eles procuram é habitação, para

conseguir a casa própria, Bolsa Família e esse benefício novo do INSS, da

alíquota menor para donas de casa. (Entrevistado 3)

São famílias [...] geralmente de baixa renda, talvez até algumas que tem um

conhecimento no sentido de ter acesso à informação, porque a gente sabe

que tem muita gente [ou tem pessoas também] que [elas] tem digamos o

perfil, mas talvez a informação ainda nem chega até ela, [então a gente,] dá

para gente pensar que quem acessa o Cadastro Único já são pessoas que

têm um conhecimento um pouquinho maior ou melhor questão de direitos,

têm acesso a informação, então, não são assim todos digamos os de baixa

renda, aquelas famílias que seriam talvez [ainda] as que mais precisariam

porque não têm acesso a informação, a questão de direitos, mas às vezes

elas não procuram nesse sentido da busca ativa, por não conhecer, por não

saber como fazer, [por não... não tem essa procura]. (Entrevistado 4)

Tá! Ah eu acredito que seja a população de baixa renda, às vezes tem

algumas exceções, mas a maioria das vezes é população de baixa renda, a

maioria das vezes também são mulheres, [que a gente percebe muito que o

público maior é mulher] até talvez porque o Cadastro pede que o

responsável familiar seja mulher. (Entrevistado 5)

A partir das repostas acima pode-se traçar um perfil geral dos sujeitos que procuram o

setor do CadÚnico: os cinco entrevistados citam, seja de forma explicita ou implícita (como

nos casos dos entrevistados 1 e 3), que são famílias de baixa renda, embora o entrevistado 1

cite que famílias com renda superior a estabelecida também procuram o setor por acreditar

que uma vez que é público é para todos, o que pode ser causado pelo desconhecimento deste

sujeito que procura o setor do CadÚnico acerca da Política de Assistência Social, definida

pela CF/88 por meio do artigo 203 como direito daquele que dela necessitar.

O entrevistado 4 ressalta que é possível que essas famílias que procuram o setor do

CadÚnico sejam famílias que acessam às informações e possuem conhecimento um pouco

maior na questão de acesso aos direitos, ressaltando ainda a necessidade de realizar busca

ativas constantes a essas famílias, pois às vezes as mais necessitadas são aquelas que menos

tem acesso a informação e consequentemente não tem os seus direitos garantidos, elencando

como estratégias, para além da busca ativa, a necessidade de trabalhar no sentido da

informação por meio de rádios, tevês, folders, mandar bilhetes via escolas e pelos agentes

49

comunitários de saúde, revelando, assim, a importância da aproximação com outras políticas

na busca da efetivação dos direitos.

O entrevistado 3 ainda ressalta que em sua maioria são sujeitos de baixa escolaridade,

desempregados ou trabalhando informalmente e sem casa própria. Este mesmo entrevistado e

o entrevistado 5 destacam também que a maioria das pessoas que vem fazer o CadÚnico ou

realizar sua atualização são mulheres. Tanto o CadÚnico, artigo 6o inciso III, quanto o Bolsa

Família, artigo 2o parágrafo 14. ressaltam em suas legislações a preferência por mulheres

como responsáveis legais, uma vez que estas geralmente são responsáveis por cuidar da

família.

2.1.5 Validade do Cadastro Único

Sim. Porque ele auxilia muito assim, igual para a casa própria, para quem

tem uma renda bem pequena pode ter mais acesso, a gente pode tá ajudando

melhor, passando informações como Baixa Renda de Água e Luz, Bolsa

Família, então ele traz mais benefícios, igual aqui no município tem o Bem-

Toledo que através do Cadastro Único é feita uma coleta de dados e

verificado se eles estão se enquadrando. (Entrevistado 1)

Considero. Na minha opinião através desse Cadastro as pessoas têm um

acesso hoje a coisas que elas não teriam se não tivesse esse sistema, elas

conseguem comprar, elas conseguem viver melhor, elas conseguem comer,

então elas têm um gasto maior e que ajuda na economia, eu acho que isso é

muito válido. (Entrevistado 2)

Não. Como a gente trabalha muito com a questão auto declaratória fica

complicado de você garantir a veracidade da informação e também a

questão social eu acho que a gente deveria trabalhar mais ativamente na

parte, vamos dizer assim, de fiscalização, do que na parte de trazer e fazer

esses novos Cadastros [...], o limite máximo que o Ministério Público fala é

dois anos para a pessoa recadastrar, nós temos uma norma interna de

preferencialmente pedir para a pessoa fazer o Cadastro todo ano, em um

período de seis meses muita coisa pode acontecer na vida dessa família, em

um período de um ano mais coisas ainda, então nem sempre elas vêm fazer

esse recadastro, muitas vezes elas vem fazer esse recadastro, mas não por

conta própria, veio porque teve o benefício cortado, veio porque ela

precisou de um novo benefício e quando a gente vai fazer a atualização nós

percebemos que essa pessoa, essa família teve várias alterações e elas não

vieram informar, entendeu, não vieram falar absolutamente nada, às vezes

elas mudam de emprego, aumenta o salário e elas não vêm, elas não

comunicam, então eu acho que o Cadastro Único ele te dá uma base muito

boa do que tá acontecendo na cidade, nas famílias, mas ele não é 100%, eu

acho que ele não pode ser considerado de maneira nenhuma uma fonte de

informação 100%, por se tratar de ser uma sistema de respostas auto

declaratórias, não tem como você comprovar o que a pessoa tá dizendo a

não ser com visita domiciliar e como a demanda de visita domiciliar é muito

grande não tem como você dar aquela certeza, então por isso eu acho que

não é uma boa fonte de informação. (Entrevistado 3)

50

Eu acho que sim. Assim, a gente têm na política de Assistência Social a

questão de ações focalizadas ou critérios de renda para acesso em todos os

programas, benefícios e serviços, [assim] a gente tem que às vezes cuidar

para que o Cadastro não tenha um fim em si só, e a gente vê que acontece

muito [sabe], a pessoa veio fazer o Cadastro por conta de um programa,

benefício ou serviço, [veio] até se encaixou, vai acessar o programa ou não

e [daí vai por ali e] o Cadastro encerra-se em si mesmo, a gente não pensa

na possibilidade que o Cadastro pode dar de fornecer subsídios pra gente

repensar políticas, pensar estratégias diferentes de coisas que precisam ser

realizadas que a gente não têm ou de encaminhar pra outros programas,

benefícios, que às vezes falta, a gente se limita ao Cadastro por si só e aí ele

não serviu para o objetivo dele que é de fazer com que a gente tenha dados

dessa família para pensar uma política diferente, para pensar estratégias de

ação para essa família sair dessa condição, então eu preciso encaminhar

ela para outros serviços e se eu parei por aí só dificilmente ela vai saí com o

que eu faço com esse Cadastro. (Entrevistado 4)

Com certeza, eu acho assim, quando a gente [fazia, a gente] iniciou em

2009 as reuniões de cadastro novo a gente percebeu, e eu sempre dizia isso,

que o Cadastro Único é um instrumento de justiça social! [...] a gente

trabalha no setor público, muitas vezes a gente, como funcionário, tem que

obedecer ordens da diretoria e afins, e eu nunca gostei de injustiça então

para mim é para todos que tem aquele critério ou não é, e de preferência

que [seja, que] tenha o critério, porque se não tem critério é por ter mais dó

de um ou por ser conhecido do outro ou por ter padrinho político ou coisa

assim, [...] mesmo tendo poder político e político partidário dentro da

administração pública que influenciam muitas vezes nos benefícios, nos

direitos que as pessoas acessam, o Cadastro Único ele é uma barreira em

relação a isso, inclusive eu vejo que assim, alguns políticos, as vezes, eles

não querem que as coisas funcionem dessa maneira, pelo Cadastro tipo, por

coisa assim, porque justamente eles vão perder um pouco o poder de

barganha, o poder de prometer um negócio na época da campanha e depois

cumprir, dar aquele assistencialismo, aquela coisa assim que a gente sabe

que acontece, então eu considero o Cadastro Único muito importante e ele é

um gigantesco avanço nas políticas sociais, na minha opinião. (Entrevistado

5)

Pode-se perceber que 80% dos entrevistados consideram o CadÚnico um sistema

válido. O único entrevistado que respondeu não a esta questão o fez por afirmar que as

respostas auto-declaratórias não possibilitam garantir a veracidade das informações contidas

no Cadastro e considerando que ao invés de buscar fazer novos cadastros deveria haver

fiscalização por meio de visitas domiciliares, as quais já costumam acontecer tendo uma

demanda bastante grande. Cabe ressaltar que o artigo 4o inciso III da LOAS proíbe qualquer

comprovação vexatória de necessidade e, como já citado, ao final da entrevista para

preenchimento do CadÚnico o usuário assina um termo se responsabilizando pelas

informações prestadas.

51

O entrevistado 3 ainda destaca que ao fazer o CadÚnico as famílias costumas colocar

gastos enormes com gás, alimentação e mercado pois não tem como o entrevistador do

CadÚnico pedir para elas o comprovante desses gastos. Acrescenta, “[...] as pessoas elas vêm

aqui e elas sabem que quanto mais a renda delas estiver prejudicada, vamos dizer assim, com

despesas, mais as chances de ela conseguir o benefício [...]” (Entrevistado 3). Faz-se

importante esclarecer que para o recebimento de um determinado benefício, entre outros

critérios, é contabilizada a renda da família, nuca a despesa. Logo, percebe-se que as famílias

desconhecem os critérios para recebimento de um determinado benefício declarando altas

despesas que nem sempre refletem a sua realidade. Ao ser questionado sobre elas não ser

informadas destes critérios no momento em que fazem o CadÚnico o entrevistado 3 esclarece:

Não é informado, a gente ficou até para discutir isso, mas eu acho que não

deveria ser informado porque você poderia tá dando uma informação para

alguma pessoa com má fé, porque vamos dizer assim, na hora da reunião em

momento algum é informado a renda para se obter o Bolsa Família, porque

a reunião é feita antes da entrevista então se você começar a colocar essas

informações pessoas mal intencionadas podem vir aqui preparadas para

obter informação para obter o beneficio, então certo tipo de informação não

é nem interessante você dar para o usuário, que nem assim critérios para

obtenção deste tipo de benefício eu acho que não deveria ser informado,

apesar da informação ser gratuita e se ela pedir a gente ser obrigado a

fornecer eu acho que não é interessante porque você, vamos dizer assim, tá

treinando as pessoas de má fé para enganar o sistema, que já não é perfeito.

Os entrevistados 1 e 2 tem uma análise comum acerca do CadÚnico ser um sistema

válido, pontuando que, por meio deste, as famílias beneficiárias dos programas e projetos

atrelados a ele podem acessar bens de consumo que não acessariam sem este sistema.

O entrevistado 4 ressalta a necessidade de pensar em estratégias, a partir das

informações contidas no CadÚnico28

, as quais possibilitam mapear quais as principais

necessidades sócio-econômicas das famílias cadastradas para, então, desenvolver estratégias

de atendimento às mesmas, buscando retirá-las da condição de sua condição de

vulnerabilidade social.

Este entrevistado ainda coloca os diversos alterações que ocorreram bem recentemente

na base do CadÚnico no município de Toledo:

28

O CadÚnico contém inúmeras informações acerca das condições de moradia, sobre os indivíduos que

compõem o grupo familiar, documentação, trabalho e renda, entre outras.

52

[...] se a gente pensar que o SUAS é de 2005, que o último CRAS aqui em

Toledo começou em 2010, é recente também a questão dos CRAS

descentralizado, o CadÚnico descentralizado foi ano passado, fez um ano

agora, então assim, a gente tem muita coisa pra avançar, mas muita coisa a

gente já viu e viu que não dá certo, que a gente tem que repensar [...]

Destacando que embora o CadÚnico não esteja 100% (como foi também afirmado

pelo entrevistado 3) tem se trabalhado para tal, acompanhando e realizando capacitações com

os entrevistadores do CadÚnico e reeditando estratégias que não deram certo, objetivando

desta forma ter um sistema confiável que possa ser cada vez mais utilizado.

Já o entrevistado 5 designa o CadÚnico como instrumento de justiça social e um

gigantesco avanço nas políticas sociais, ressaltando que este impede que os programas sociais

funcionem como moeda de troca ou favorecimento de uns ou outros, destacando

qualitativamente os critérios de acesso estabelecidos para cada um dos programas, projetos,

benefícios e serviços nas três esferas governamentais e buscando romper, desta forma, com as

antigas práticas assistencialistas.

2.1.6 Acesso ao Serviços Vinculados ao CadÚnico

Ele abre a porta para muitos benefícios igual concurso público, quem está

no Cadastro Único que não tem condições de pagar uma taxa de inscrição

já pode tá fazendo, ele dá acesso a várias coisas então eu acho que é muito

importante, eu acho que as pessoas tem que buscar ter mais informações,

que às vezes fica um pouco vago, então é bom essa pessoas se dirigirem ao

CRAS que ali elas vão obter mais informações. (Entrevistado 1)

Considero válido porque se não fosse certos programas têm pessoas que

nem teriam, nunca conseguiriam comprar uma casa, ter uma habitação na

vida, eu acho que ajuda bastante as famílias. (Entrevistado 2)

Alguns eu acho muito válidos, outros nem tanto, deveriam ser melhor

trabalhados.

Você pode citar alguns?

Posso, posso sim, por exemplo, o Bolsa Família, o Bolsa Família ele faz um

repasse para as famílias na condicionalidade de que a criança ou as

crianças estejam estudando e sendo acompanhadas pelo posto de saúde,

elas têm que ter uma freqüência na sala de aula, na minha opinião o

Cadastro Único deveria também fazer o seguinte, como critério de acesso

não só a presença da criança na escola mas o aproveitamento, porque se a

criança estiver indo para a escola tanto faz tanto fez se ela está aprendendo

ou se ela está tirando boas notas, o que importa é que a criança está indo

para a escola, então você tá dando peixe mas não tá ensinando a pescar,

não adianta a criança ir para a escola se ela não tá tendo aproveitamento,

se o Bolsa Família viesse entrelaçado nisso seria muito mais interessante.

Deveriam existir também programas de, como é que eu posso colocar, de

incentivo ao trabalho formal, que você vê que as pessoas não têm trabalho

53

formal, algumas pessoas que vem fazer o Cadastro Único não trabalham é,

vamos dizer assim, porque não quer mesmo, porque não tem doença

nenhuma, não tem criança pequena em casa, acho que deveria existir assim,

não um critério, mas pelo menos um incentivo à pessoa buscar trabalhos

formais entendeu, vamos dizer assim, um oferecimento de alguns tipos de

trabalho para pessoas que possuem o Cadastro Único, eu acho que isso

ajudaria a família, junto com o Bolsa Família tendo como condicionalidade

o aproveitamento na escola também você taria dando a criança uma base

muito melhor do que simplesmente tá mandando ela para escola, alguns

outros projetos eu acho muito bom, é como Baixa Renda de Água e de Luz,

tem muitas pessoas que realmente a água e a luz pesam no orçamento e esse

desconta ajuda e ajuda muito, outro programa muito bom é BPC, que é para

pessoas idosas, tem muito idoso que não tem como comprovar que trabalhou

na roça, nunca trabalhou de carteira assinada e que agora precisa de uma

renda e através do Cadastro Único ele pode tentar conseguir esse benefício

ao idoso, também eu acho muito válido é o programa muito bom, tem muitas

outras idéias que poderiam surgir mas eu acho que o Cadastro Único ele

deveria ser melhor trabalhado, o Cadastro Único tem um potencial muito

grande, ele já tá aí a muitos anos e é uma coisa que na minha opinião tá

sendo utilizado só como arma política do que realmente para você ajudar a

população brasileira, as famílias assim de baixa renda, ele tem muito

potencial mas ele tem que ser melhor trabalhado. (Entrevistado 3)

Bom, eu vejo que a gente tem, assim, alguns que necessariamente são

obrigatórios porque tem a questão da lei de criação do programa que já

coloca lá de ta inserido no Cadastro Único, e [eu vejo assim] que tem uns

que foi um avanço, que são programas municipais, benefícios como a

carteirinha de passe-livre interestadual que o critério não era o Cadastro

Único e [a gente] sentamos os CRAS, inclusive da carteirinha

intermunicipal a gente sentou com a associação que tem em Toledo, com

representantes de todos os tipos de deficiência e conversamos e vimos a

necessidade [que a gente entendeu, da importância] de passar pelo

Cadastro Único porque são famílias que estão no perfil de renda [porque]

para elas tarem sendo inseridas em outros programas pra além do que elas

procuraram e também como uma forma de a gente mapear, de a gente

conhecer a realidade desse usuário, então é nesse sentido que eu vejo que a

gente avançou no município, ou assim, da gente tá tentando pensar apara

além daqueles que a lei institui ou acessar por acessar, que a família tenha

outros programas ou projetos, nesse sentido. (Entrevistado 4)

Olha, eu vejo assim que o Bolsa Família é um programa muito bom, as

dificuldades que eu vejo que o Bolsa Família tem são principalmente na

operacionalização de auxiliar na reestruturação das famílias, acho que isso

é uma das coisas que falta muito, avançar na estruturação que eu digo é ver

se a família se vê como cidadã, cada um do grupo familiar se vê como

cidadão, saber que tem direitos e deveres, até a questão sócio-econômica

mesmo de, vamos dizer assim, ter perspectiva de melhoria, ou pelo menos de

salário, de profissão, uma perspectiva mais a longo prazo, a médio prazo,

eu vejo que ainda falta nesse sentido, porque eu vejo assim, na minha

opinião, o Bolsa Família é um programa que ele vem também pagando uma

dívida histórica do país com a população que sempre foi explorada e foi

retirado dessa população para uma minoria e agora tá sendo recolhido de

todos para devolver, de alguma forma, aquilo que já foi retirado muito mais,

historicamente a dívida ainda é muito grande [...], e os resultados não são

54

só econômicos, são muito mais profundos do que isso, então eu vejo o Bolsa

Família como um grande programa e que realmente foi acertado fazer o

Bolsa Família, essa transferência de renda condicionada a saúde e a

educação, acho que isso foram duas coisas muito boas também, são dois

direitos básicos que muitas vezes, [principalmente] a população [...] não

acessa, [a gente percebe,] que nem agora a gente fez recente um batimento

com a questão das creches, são um pouco mais 600 crianças que são do

Bolsa Família de 0 a 4 anos e destas menos de 150 estão nas creches, então

assim, não é só esse dado, são vários dados que comprovam que realmente a

população de baixa renda é a população que menos acessa serviços que,

vamos dizer assim, seriam dela, seriam de direito da população, então

realmente são elas que tem que ser buscadas mesmo, a busca ativa acho que

é uma coisa que tem que melhorar assim, os CRAS, os outros programas eu

considero, a maioria deles muito bons no sentido de contemplar essa

população, os critérios também acho muito importante tipo cada um ter o

seu critério porque vai ter diferenças naquilo que é a proposta do próprio

benefício, do próprio direito, [...] o Cadastro Único hoje, eu vejo [...], posso

tá errado nisso, mas até a nível de mundo, são poucos os governos, os

países, que têm dados de quem são as pessoas, qual que é o endereço, qual é

o nome das pessoas que passam necessidade no seu país, que estão abaixo

da linha da pobreza, que estão em dificuldades financeiras, econômicas e de

outros direitos também, lógico, ainda não estão todas as pessoas que

precisariam estar inseridas, isso é um trabalho que atingir 100% muito

difícil de conseguir mas, mais de 90% tranquilamente tá dentro do Cadastro

Único, então eu vejo que os programas, que os direitos que estão vinculados

ao Cadastro Único por si só eles já tem seu mérito, mas estando vinculados

ao Cadastro Único eles ganham porque evita duplicidade, atinge quem

precisa atingir, melhora muita coisa só por tá com o Cadastro Único, então

eu acho que essa relação é muito importante. (Entrevistado 5)

Pode-se perceber pelas respostas obtidas a esta questão que todos os entrevistados

consideram positivo haver programas e projetos socioassistenciais. O entrevistado 2 avalia

que se não fossem alguns dos programas inseridos no CadÚnico muitas pessoas não poderiam

acessar direitos delas como à habitação (incluída como direito social por meio do artigo 6o da

CF/88), justificando (em questão realizada fora deste roteiro aqui exposto) a necessidade da

indissociação destes programas ao CadÚnico por este ser uma base de dados bastante ampla,

possibilitando ter ciência da situação de cada família, concordando com o que foi expresso

pelo entrevistado 1 ao também ser questionado sobre a necessidade de tais programas estar

vinculados ao CadÚnico. O entrevistado 1 ainda acrescenta que a população deve procurar

informa-se e, para tal, deve dirigir-se ao CRAS.

O entrevistado 3 acredita que o CadÚnico tem sido utilizado mais como arma política

do que para ajudar população de baixa renda, sendo que tal Cadastro, na opinião desse

entrevistado, tem muito potencial, mas deveria ser melhor trabalhado. Considera ainda, que o

Bolsa Família deveria ter como critério, para além dos já existentes, o rendimento escolar e

que deveriam existir mais programas de incentivo ao trabalho formal.

55

O entrevistado 4 destaca a importância de outros programas, projetos, benefícios e

serviços, mesmo que não instituído por Lei, com sua concessão vinculada ao CadÚnico, isto

porque tal fator amplia o mapeamento da situação sócio-econômica das famílias. O

cadastramento de tais famílias oportuniza às mesmas conhecer o CadÚnico e os programas,

projetos, benefícios e serviços vinculados a ele, podendo vir a acessá-los. Ainda salienta que

ampliando o mapeamento têm-se uma aproximação maior com a realidade sócio-econômica

das famílias de baixa renda no município de Toledo, possibilitando criar políticas embasadas

em um sistema com dados de base mais sólida.

O entrevistado 5 considera a maioria dos programas e projetos muito bons, bem como

o fato de haver critérios diferenciados para poder acessá-los e de os mesmos estar vinculados

ao CadÚnico, evitando duplicidades e atingindo quem precisa atingir. Este entrevistado citou

o Bolsa Família como uma forma de pagar uma dívida histórica com a população mais

explorada, apontando que as dificuldades do mesmo consistem em auxiliar as famílias a ver-

se como cidadãos dotados de direitos e deveres e a auxiliá-las na melhoria da renda, sendo

indispensável a vinculação deste Programa com a saúde e a educação. Ainda salienta que a

população mais vulnerável normalmente é a que menos acessa direitos que seriam delas,

citando como exemplo o baixo número de crianças de 0 a 4 anos, pertencentes as famílias

beneficiárias do Bolsa Família, que estão nas creches, cerca de somente 25%, ressaltando a

necessidade da busca ativa.

2.1.7 Dificuldades para realizar o Cadastro

A dificuldade são os documentos, porque eles exigem uma série de

documentos e muitas vezes as pessoas não têm mais e porque ela tem que

reunir toda aquela documentação para trazer e muitos não têm mais

documentação então tem que correr atrás, é essa que é a maior dificuldade.

(Entrevistado 1)

O desconhecimento que as famílias têm a respeito do que é o CadÚnico, têm

pessoas que por mais que você explica, explica o que é, para que serve elas

não conseguem entender, então eu acho que essa é a dificuldade.

Tem como você explicar melhor como isso se aplica?

Elas participam de uma reunião onde é explicado para que serve o Cad, as

rendas que as famílias devem ter para participar de certos benefícios e as

pessoas, a maioria, não consegue entender, não sei se é por falta de estudo

que a maioria tem estudo baixo, então tem dificuldade para entender para

que serve, outras querem entrar em um certo benefício que a renda não

proporciona, que não tem direito, então essa é a dificuldade que a gente

tem. (Entrevistado 2)

Eu acho que a desinformação da própria pessoa, algumas mulheres vêm

para fazer a entrevista e elas não sabem a renda do marido, elas não têm

56

uma média de quanto elas gastam em alimentação, algumas até tem que

verificar o próprio comprovante de água e luz para saber quanto que elas

tão gastando porque elas não sabem assim de cabeça, então eu acho que a

falta de informação da própria pessoa em não conhecer a própria família, já

teve casos de mães que não sabiam o nome da escola em que os filhos

estavam matriculados, então eu acho que essa é uma dificuldade muito

grande. Tirando isso eu não tenho nenhuma dificuldade na hora da

entrevista. (Entrevistado 3)

Eu acredito que tanto pro entrevistador como pra família a questão da

demora com certeza, porque ele é um cadastro extenso, então se é uma

família numerosa já leva um tempo maior. Uma outra questão que eu acho

que dificulta ainda muito com certeza é o sistema, nós entramos [aqui]

nessa versão que a gente utiliza hoje, a versão 7, em fevereiro do ano

passado, mas assim, todos os município do Brasil tão entrando aos poucos,

realizou-se um escalonamento pra aderir a essa versão e aí a gente tem

municípios no Brasil que não têm essa versão, então essa é uma das

explicações da Caixa Econômica porque é ela quem operacionaliza o

sistema, quem arruma, quem põe coisa nova, do porque o sistema ainda tem

muita falha, porque ele ainda tá em período de implantação, muitos em

período experimental, então tem coisas que a gente vai percebendo que eles

vão percebendo que não dá certo então eles tiram, por exemplo, logo no

início era necessário obrigatoriamente informar nome da pessoa que

constava na conta de luz e hoje já não é um item obrigatório, então alguns

campos nesse sentido, assim a lentidão do sistema, sistema indisponível, é o

sistema que branqueia campos que a gente já preencheu, então isso com

certeza dificulta muitíssimo o trabalho porque cadastro que você mexeria

uma vez, duas vezes talvez, a gente mexe cinco, seis vezes e aí causa um

retrabalho para os entrevistadores, para [...] gestão, para o usuário que

procurou lá e daí o cadastro tá demorando para ele ficar válido no sistema

e aí algum benefício que necessariamente depende estar com o cadastro ok

tá retardando, então eu vejo [que hoje eu acredito] que mais [ainda tarde] é

a questão do sistema porque a gente vê que quando têm dias que o sistema

tá ágil, sem problemas, o trabalho rende muito mais, eu acredito que são

esses. (Entrevistado 4)

Olha eu vejo que assim, talvez as dificuldades, pela maneira com que a

gente trabalha aqui em Toledo, é a questão da documentação, outra coisa

que a gente sabe empiricamente aqui em Toledo, não temos dados sobre

isso, é a omissão dos cônjuges, [do marido], às vezes do avô/da avó que

mora na casa e recebe uma aposentadoria, do filho as vezes também que

mora na casa, [então assim,] mas eu vejo que a maior omissão mesmo é das

mulheres omitindo o esposo ou companheiro que está na casa porque tem

medo de perder benefício, porque quer dar o jeitinho brasileiro, então isso

ainda é uma dificuldade que a gente tem, a questão da documentação, trazer

toda a documentação também é uma outra dificuldade, na questão da

atualização do Cadastro e de Cadastro novo eu vejo que a gente tem

dificuldade no número de pessoas para fazer isso, estrutura né, isso a nível

de Toledo nos outros lugares eu não sei, e a forma de organização, tem

coisas que a gente tá melhorando [a organização,] a gente agora pouco fez

um novo Plano de como proceder o atendimento nos CRAS, mas depende

muito dos CRAS, [como] a gestão descentralizada ela é muito boa só que

ela também traz problemas, traz o ônus e o bônus, então ela é

descentralizadas mas daí vai ter as dificuldades que às vezes em um lugar tá

57

funcionando direitinho mas daí no outro eles querem fazer desse jeito, daí

no outro perde a informação, daí constantemente tem que estar coletando

como que estão as coisas, voltar no lugar é ó assim, assim e assado, volta no

outro assim, assim e assado [...], porque como é descentralizado o controle

fica um pouco mais difícil, ainda mais quando você tem várias pessoas

envolvidas, as pessoas mudam, a mentalidade das pessoas é diferente, a

questão do atendimento tudo, eu vejo então que uma das dificuldades é

manter o padrão do atendimento, do cadastro, fazer com que a coisa tenha

um fluxo que seja também padrão, até para não confundir a população,

porque assim, aí vai em um lugar é de um jeito, vai no outro é de outro, vai

no outro é de outro, aí a pessoa quando mudou de CRAS, por exemplo,

perde toda a referência, então se o CRAS é para ser referência tem que ter

várias coisas que tem que ser padronizadas, tem coisas que é características

do CRAS mas tem coisas que não, então o Cadastro Único mesmo, a

atualização do Cadastro Único não vai mudar, a entrevista é a mesma, o

formulário é o mesmo, o fluxo de atendimento também tem que ser muito

parecido, mudar uma coisa e outra, talvez algum dia de atendimento, mas

também o que eu vejo assim é a questão da documentação que as pessoas

esquecem de trazer, não trazem, a omissão de dados, principalmente quando

omite a pessoa, também tem a questão da omissão de serviço, de quanto que

recebe, e as pessoas que estão no Cadastro Único muitas vezes procuram

serviços informais, porque elas já perceberam que o formal depois de um

tempo corta o benefício, e essa questão da padronização do atendimento, de

gente para atender e padronização no fluxo do atendimento na atualização e

no Cadastro Único. (Entrevistado 5)

Percebe-se pela fala do entrevistado 5 que são várias as dificuldades, este entrevistado

cita que muitos omitem algum membro da família que está trabalhando, normalmente a

mulher omite o cônjuge, por medo de perder o benefício, ainda neste contexto o entrevistado

sinaliza que os beneficiários de algum programa ou projeto do CadÚnico costumam buscar

mais comumente o trabalho informal, sem declarar esta renda que não tem como ser

comprovada, pois com o trabalho formal acontece das famílias ter que apresentar o holerite no

momento da atualização e, nos casos que ultrapassa o critério estabelecido, tem os seus

benefícios cortados, fato este bastante comum não apenas em Toledo, como aponta estudo do

MDS:

O estudo revela que tanto beneficiários quanto não beneficiários igualmente

pobres trabalham, em média, o mesmo número de horas. Mas, no caso dos

que recebem o Bolsa Família, as atividades no setor informal predominam,

com eles trabalhando, em média, oito horas a mais do que os demais em

ocupações sem carteira assinada. (O GLOBO, 2012)

O entrevistado 5 ainda destaca que o número de entrevistadores do CadÚnico nos

CRASs não é suficiente para atender a demanda e que com a descentralização deste sistema

58

para os CRASs houve uma dificuldade maior em manter a padronização tanto de atendimento

quanto de fluxo, destacando que os serviços dos CRASs em sua maioria também devem ser

padronizados para não confundir a população que muda de uma região parta outra, embora

haja este apontamento faz-se importante destacar que o entrevistado considera a

descentralização positiva. Também ressalta que muitas pessoas esquecem de trazer toda a

documentação solicitada, dificuldade esta também presente na fala do entrevistado 1, este

último destaca que são muitos os documentos requisitados para a pessoa fazer ou atualizar o

CadÚnico, documentos estes que muitas vezes já foram extraviados. Ao ser questionada sobre

não ser necessário toda esta documentação o entrevistado 1 analisa:

Eu penso assim, para fazer o Cadastro deveria ter toda essa documentação,

mas depois quando for feita a atualização eu acho que só o comprovante de

endereço para comprovar onde mora mesmo e onde estuda porque muita

coisa não vai mudar, certidão de nascimento continua a mesma, CPF e RG,

só se for em caso de casamento, se a pessoa casar e precisou trocar os

documentos, se não acho que só seria isso. (Entrevistado 1)

A exigência de todos os documentos que a pessoa possui é uma norma do município

de Toledo, a Portaria do MDS n. 177/2011 estabelece em seu artigo 7o os seguintes

documentos que a família deve apresentar no momento da entrevista e da coleta de dados:

I - obrigatoriamente para o RF, à exceção dos casos de cadastramento

diferenciado definidos no Capítulo VI desta Portaria: a) o número de

inscrição no Cadastro de Pessoa Física - CPF; ou b) o número do Título de

Eleitor. II - para os demais componentes da família, qualquer documento de

identificação previsto no formulário de cadastramento. § 1º Caso algum

componente da família não possua documento de identificação ou a Certidão

de Nascimento, o município e o Distrito Federal deverão encaminhá-lo aos

serviços de registro civil de pessoas naturais ou para os serviços de emissão

de documentação civil. § 2º Além dos documentos indicados no caput, deve

ser solicitada ao RF a apresentação de comprovantes de endereço e de

matrícula escolar das crianças e adolescentes entre 06 (seis) e 17 (dezessete)

anos, caso algum componente esteja frequentando escola. § 3º A ausência

de quaisquer dos comprovantes mencionados no parágrafo anterior

não impedirá o cadastramento da família. (BRASIL, 2011c, s.p.)

O entrevistado 2 considera como maior dificuldade fazer o usuário entender (mesmo

depois deste passar pela reunião de Cadastro Novo) o que é para quê serve o CadÚnico,

esclarecendo que tem benefícios que ele não poderá acessar devido ao critério de renda,

59

pontuando que tal dificuldade pode advir da baixa escolaridade destas famílias que procuram

o CadÚnico, fato este que também já havia sido exposto pelo entrevistado 3 na questão n. 3.

O entrevistado 3 pontua como dificuldade a desinformação do usuário quanto às

respostas para as perguntas do formulário do CadÚnico, como até mesmo a escola onde os

filhos estudam, neste sentido a obrigatoriedade da documentação no momento de fazer ou

atualizar o CadÚnico é considerada positiva, ter o dado correto no CadÚnico de onde as

crianças estudam facilita em estratégias como a de entrar em contato com as famílias inscritas

no CadÚnico, ou beneficiários de algum programa ou projeto, por meio de bilhetes enviados

via escola.

Já o entrevistado 4 coloca a questão da demora no momento da entrevista, dificuldade

que se apresenta tanto para o usuário quanto para o entrevistador, fato que decorre do

CadÚnico ser bastante extenso. Outra dificuldade coloca-se no fato do CadÚnico versão 7 ser

um sistema online ainda em experimentação, branqueando campos que já foram digitados e

ficando por muitas vezes indisponível.

Quanto ao CadÚnico versão 7 o entrevistado 4 situa:

[...] a gente entende que é um grande avanço, quem vivenciou antes a versão

6 agora a versão 7, porque o primeiro de tudo é que esse, versão 7, é um

cadastro de base nacional então a versão 6 cada município tinha a sua base

de dados, [agora na versão 7 é uma base só a nível de país,] então uma

pessoa veio aqui, cadastrou, eu consigo ver se ela já teve Cadastro em

qualquer lugar do país, qual a composição familiar, então eu consigo ter

dados dessa família. Uma outra questão é que o Cadastro ele guarda

histórico, então eu consigo ver quem mexeu nesse Cadastro, que itens foram

alterados, o CPF da pessoa que mexeu nesse cadastro, que entrevistou,

então também isso pra gente é muito bom, agora tem a questão de relatórios

que ele tá possibilitando que também é muito bom, é digamos que [a gente

tem uma uma...] pra gente perder essa base é mais difícil também, porque

antes a gente tinha uma base no município então era muito fácil você perder

a base, [dá algum problema no computador,]. Ele permite agora a questão

da atualização de quando a família já tem cadastrado na versão 7 [ela vem

só atualizar] de você preencher direto no sistema os campos que alterou,

então isso é uma possibilidade que agiliza também atendimento e economiza

inclusive papéis preenchidos, então a gente entende assim que é um avanço

muito grande. O próprio cadastro já te dá a per capita então você não

precisa ir lá ficar calculando [a per capita], algumas coisas muito boas que

a gente entende que com certeza foi um avanço. (Entrevistado 4)

2.1.8 Percepção sobre o Acesso a Política de Assistência Social em Toledo

Eu acho que tem bastante gente ainda que não tá.

Por que você acha?

60

Porque igual eu falei questão de documentação. Muita gente não tem

dinheiro para ir lá arrumar o documento, não tem mesmo pela realidade

que a gente vê, presencia ali todo dia, têm gente que não têm dinheiro para

nada. Então às vezes casou, tá no nome do marido, aí a mulher já não mora

mais com o marido, não tem como fazer uma separação, às vezes até ela não

consegue fazer o Cadastro Único por isso, por causa da documentação eu

acho. (Entrevistado 1)

Muitas pessoas acho que ainda não entendem, elas não têm a noção do que

realmente é, para que serve realmente esse tipo de serviço, então falta

bastante informação. (Entrevistado 2)

O acesso ao Cadastro Único eu acho que é mais, vamos dizer assim,

desinformação, eu acho que o Cadastro Único deveria ser mais divulgado,

deveria ser mais trabalhado na parte da divulgação. Quanto ao acesso a

Assistência Social eu acho que assim, a pessoa ela vem atrás quando ela

necessita, qualquer órgão público hoje em dia sabe que se uma pessoa tiver

passando dificuldade ela tem que procurar o CRAS, até órgãos não públicos

como por exemplo igrejas, ONGs, quando a pessoa vai lá e precisa de

alguma ajuda eles sabem que a pessoa deve ser encaminhada para o CRAS,

às vezes até vizinhos e amigos que já são beneficiários ou que já têm acesso

a Assistência Social indicam outras pessoas para procurarem o CRAS, então

eu acho que o acesso a política de Assistência Social ele tá bem, o problema

é que as pessoas ainda não sabem do Cadastro Único apesar de ele já ter

uma certa vivência as pessoas desconhecem o Cadastro Único.

(Entrevistado 3)

Então, na verdade a gente tinha dados do Censo de 2000 [que a gente tinha]

uma média de 9.600 famílias no município com perfil de Cadastro Único, e

aí [agora], acho que faz uns dois meses [por aí], saiu dados do Censo de

2010 onde o IBGE aponta no município uma estimativa de 6.000 e poucas

famílias com perfil de Cadastro Único. Hoje a gente tá com quase 9.000

famílias inseridas no Cadastro Único, então digamos que [a gente], só

pensar no dado ali que o IBGE tem de estimativa, a gente já inseriu mais

duas mil famílias para além disso. Agora o que tem também é a situação de

cadastros desatualizados que ainda estão na nossa base então, uma das

próximas coisas [ou] que a gente vai ter que se debruçar [depois, agora]

depois dessa capacitação que a gente passar dos entrevistadores, [tem

algumas listagens de revisão cadastral] que a gente tem que dá conta esse

ano de fazer vai ser uma... e aí a gente já conversou algumas coisas de

pensar em algumas estratégias para gente tentar atualizar esses cadastros

antigos, porque embora a gente tenha 8 mil e pouco têm muitos cadastros

que estão desatualizados e aí já não tão retratando mais a nossa realidade

[de hoje] no município, então a gente tem essas duas questões que se

pensar: digamos a nível de dados a gente já passou de famílias que o IBGE

estima do CadÚnico, mas a gente sabe que tem ali famílias que estão com o

Cadastro desatualizado e que aí não estão mais retratando e que precisaria

tá atualizando, muitos talvez continuam no critério de renda do CadÚnico

mas muitos também já superaram a condição, já não residem no município,

a realidade é outra e a gente precisa tá mudando esses dados, mas aí a

gente precisa fazer uma busca dessas famílias, um cadastro, por exemplo,

pode ser excluído só depois de um intervalo ali de quatro anos que eu fizer

pelo menos duas tentativas de busca da família e não encontrar, eu não

posso então também simplesmente sair excluindo cadastro, tem que ter uma

61

busca dessas famílias, seja para quem tem criança na escola mandando

cartinha, que é uma coisa que a gente fez e é uma tentativa que dá bastante

resultado, fazendo visita no endereço antigo, divulgando talvez em meios de

comunicação o nome, na UBS do bairro, para atualizar essa base.

(Entrevistado 4)

[...] a questão do acesso eu percebo que a maioria acessa, então eu acho

que o problema não é o acesso, eu acho que o problema, igual eu falei, está

no fluxo, da maneira como estão organizados os benefícios, da questão

burocrática mesmo interna, então eu vejo que a gente tem que melhorar

nesses 5/10%, não sei qual que é a porcentagem aqui em Toledo mas eu

acredito que menos de 10%, a gente tem que ir atrás desses 10%, porque as

vezes esses 10% que não estão recebendo o Bolsa Família precisavam

muito, ou os 10% que não estariam no Cadastro Único e que teriam que

estar, porque a gente tem na verdade hoje mais famílias cadastradas do que

o IBGE estima que a gente realmente tenha, isso, lógico, se deve a vários

fatores igual eu falei que nem a questão da omissão de dados, das pessoas

que não procuram desses 10%, então aí vai ter distorções, lógico vai ter a

mudança de pessoas, a mudança de renda também, porque a gente coloca

assim... ah o IBGE estima que em Toledo tem 6.701 famílias com perfil de

Cadastro Único, mas a gente sabe que isso muda de um mês para o outro,

porque em um mês a família estava recebendo bem o salário, saiu daquele

serviço e começou a receber o seguro-desemprego já é menor do que o

salário que ela recebia, [...] aí vão acontecendo coisas que quando vê a

família já tá com renda de Cadastro Único que antes ela não tava. Aí a

outra família que não tava com renda veio morar alguém que tem uma

renda maior, daí o outro também conseguiu um emprego, o outro já

conseguiu um bico e aí de repente a família já tá com renda [...], então essa

questão numero de família é volátil, então eu acredito que as 7.000 que

estejam pode ser realmente que sejam estas que estão, então assim eu vejo

que o acesso das famílias não tem grandes dificuldades, fora uma e outra

família do interior que eu estimo que não chega a 5%, na minha opinião,

famílias do interior que tenham alguma dificuldade em acessar, pela

questão da distância, pela questão de que o CRAS é na cidade então elas

tem que vir pra cidade e assim, a maioria das coisas a família do interior

tem que resolver na cidade, então fora uma coisa e outra a maioria das

coisas ela tem que vim para cidade para resolver, então essa questão [do

atendimento do Cadastro também no meio rural,] do acesso das famílias

rurais ao Cadastro é uma questão que precisa ser melhorada, talvez tá

trabalhando até com a questão de visitas por que são um número menor de

famílias que estão nesse aspecto, mas a questão do acesso eu vejo que o

grande problema às vezes é o fluxo mesmo igual eu disse antes, tanto dos

benefícios quanto do Cadastro, às vezes é o fluxo de atendimento, então na

verdade é uma questão organizacional, de gestão mesmo, de gestão da

forma de trabalho, a gente tá tentando melhorar isso mas assim, serviço

público é aquele negócio se na área privada você morre em 15 minutos no

serviço público você demora uma semana, então aquilo que a gente ia fazer

em uma empresa a gente chega e fala ó a gente vai fazer e faz pronto e

começa a fazer no serviço público você tem que fazer reunião com um, aí o

diretor tem que concordar, aí a secretária tem que concordar, aí não pode

ter empecilho político partidário, aí volta para base, daí a base, o pessoal

que vai fazer mesmo já tem que estar ciente do que vai fazer e fazer, aí um

não gosta de fazer aquilo por questão pessoal, ou questão profissional, ou

porque acha que o outro jeito é melhor e daí tem todas essas coisas que você

62

vai fazendo, porque assim, as questões legais, e aí vai um monte de coisas. A

questão do acesso eu acho que o grande empecilho é o fluxo, apesar do

fluxo, vamos dizer assim, ele ser o nó, o nó hoje é o fluxo de atendimento,

mas não é um nó que impeça o acesso, tanto é que 90% do pessoal tá

cadastrado, na minha opinião, então eu vejo que o acesso das famílias ao

Cadastro, aos benefícios, não é difícil mas ele fica um pouco lento [assim] a

concepção, o recebimento [...]. Os 10% que a gente tem que ver onde que

estão e aí, às vezes, esses 10% são algumas pessoas, igual eu falei antes da

mudança, são algumas pessoas e amanha vão ser outras, então também é

uma questão que a gente não chegou ainda e falar: não essa fórmula aqui,

isso que a gente tem que fazer para conseguir alcançar todo mundo, porque

não vem pronta, porque a sociedade muda, as famílias mudam e isso não é

um processo fácil conseguir atingir toda, por mais que você despeje

informação na mídia, no rádio, na tevê, no que quiser, ainda não é simples

de atingir a todo mundo, mas eu vejo que a maioria tá sendo atingida, na

minha opinião. (Entrevistado 5)

Dois dos entrevistados consideram que a maioria da população no município de

Toledo que necessita acessa dos programas, projetos, benefícios e serviços relacionados ao

CadÚnico de fato os acessa, opinião contraria a dos outros três entrevistados que acreditam

que boa parte da população que precisaria, ainda não está inscrita CadÚnico.

O entrevistado 1 acredita que a maior parte da população conhece o CadÚnico, porém

não o acessa, colocando como um empecilho para haver mais famílias inscritas no CadÚnico

o grande número de documentos exigidos em Toledo no momento de fazer ou atualizar o

CadÚnico, documentos estes que muitas vezes já foram extraviados e a famílias não tem

condições financeiras de solicitar 2a via. Enquanto o entrevistado 2 acredita que o maior

empecilho está no fato de elas não conseguir entender o que é o CadÚnico e para quê serve,

destacando o CadÚnico como importante instrumento de mapeamento das regiões mais

fragilizadas.

Já o entrevistado 3 acredita que a maioria da população não está cadastrada no

CadÚnico, conhecem apenas a política de Assistência Social e os programas

socioassistenciais, porém desconhecem o CadÚnico e a necessidade de inscrever-se neste para

poder acessar os demais (no caso da política de Assistência Social para poder acessar o seu

nível básico), salientando em sua resposta que o CadÚnico deveria ser mais divulgado.

O entrevistado 4 traz dados do Censo 2010, apontando que há mais famílias

cadastradas no CadÚnico do que o IBGE estima que teriam perfil, ressalva que embora

acredite que de fato a maioria da população que necessita está cadastrada nesta base de dados

encontram-se muitos cadastros desatualizados, devendo-se realizar busca ativa a essas

famílias com cadastros desatualizados. Vale ressaltar que no parágrafo 3o do inciso VI do

63

artigo 18 da Portaria 177/2011, está estabelecido que somente podem ser excluídos estes

cadastros desatualizados quando “[...] a família foi procurada por pelo menos duas vezes

durante o período de quatro anos contados da inclusão ou da última atualização cadastral, sem

ter sido localizada, o que motivou a exclusão de seu cadastro.” (BRASIL, 2011c, s.p.). Para

localizar tais famílias várias iniciativas ocorrem como mandar cartinha para as famílias que

tem criança na escola e a contratação de acadêmicos de Serviço Social da Unioeste para

buscar estas famílias por meio de visitas domiciliares e averiguar a situação destas.

O entrevistado 5, embora acredite que a maioria das famílias já acesse o CadÚnico,

ressalta que a dificuldade em haver mais famílias cadastradas no CadÚnico está no fluxo de

atendimento e dos benefícios, ou seja, nas inúmeras vezes que a pessoa tem que vir até o

CRAS para fazer o CadÚnico e receber o seu benefício, ou seja, vir para reunião de Cadastro

novo, vir agendar atendimento, se faltou algum documento ela tem de marcar outro horário

para retornar, depois de pronto o Cadastro têm pessoas que retornam muitas vezes ao CRAS

para verificar se o seu benefício já foi concedido, destacando que esse processo de organizar o

fluxo não é fácil

[...] o fluxo não tá pronto, não tem uma fórmula que é mágica de dizer é

esse. O ideal seria assim, a pessoa chega alguém tá disponível para passar a

informação sobre o Cadastro Único para ela, passa toda a informação que

seria da reunião, aí depois essa pessoa retorna, já traz todos os documentos

e já pega uma senha para fazer o Cadastro, por exemplo, seria uma idéia,

mas se não tem pessoal para isso, não tem tempo, [...] não é simples de

resolver, não é ai só fazer isso ou vamos “implantacá” tal modelo de gestão

que resolve, então é uma coisa que tem que ser discutida, pensada com a

gestão, talvez os conselhos participar mais desse fluxo dos CRAS [...], então

tá melhorando, mas é naquele passo de formiga, às vezes a gente quer que

as coisas vão mais rápido, mas não tem como. (Entrevistado 5)

Para o entrevistado 5 a dificuldade está no fluxo e embora este apresente muitos

problemas não impede o acesso ao CadÚnico. A demora no fluxo de atendimento o

entrevistado apresenta como um problema organizacional, salientando que o serviço público

normalmente apresenta muitos empecilhos para uma efetivação ágil.

O entrevistado 5 acredita que menos de 10% das famílias não estariam cadastradas,

sendo necessário realizar busca ativas a estas famílias. Quanto ao acesso, tal entrevistado

pontua que os únicos que teriam dificuldade seriam as famílias do interior, não chegando a

5%, devendo ser buscadas formas de não haver esta dificuldade, como por meio de visitas

uma vez que o número de famílias é menor, sendo a coleta por meio de visitas domiciliares

64

prevista pela Portaria 177/2011 de forma prioritária. Faz-se importante salientar que o

princípio da igualdade de acesso das populações rurais e urbanas está previsto na LOAS em

seu inciso IV.

65

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se ao final deste trabalho, o qual não está concluído uma vez que entende-se a

sociedade em constante transformação e o tema com inúmeras possibilidades para serem

trabalhadas, podendo servir de base para futuras pesquisas, que o problema, o qual foi base

desta pesquisa, foi respondido, obtendo-se por meio da fala dos entrevistados o entendimento

de que embora todos considerem o CadÚnico um sistema com grande potencial ainda há

muito que precisa ser melhorado neste.

Quanto aos objetivos de contextualizar o CadÚnico dentro da Política de Assistência

Social com enfoque no município de Toledo, identificar as legislações que dão respaldo a

operacionalização do mesmo e mapear a divisão dos usuários do CadÚnico por CRAS,

entende-se que os mesmos foram alcançados, embora estes possam ser ainda mais

aprofundados, como já relatado o CadÚnico é uma base de dados que contém inúmeras

informações acerca das famílias de baixa renda, além de este sistema possibilitar a geração de

relatórios com freqüência, fato que facilita mapear quais as principais necessidades sócio-

econômicas dos mais vulneráveis no município e traçar estratégias de atendimento às mesmas

por meio da formulação de políticas sociais, possibilidade para novos pesquisadores.

Conhecer a visão destes trabalhadores do CadÚnico sobre o sistema que

operacionalizam e sobre os usuários que procuram o mesmo foi de suma importância para

também perceber o quanto a Política de Assistência Social no município tem se fortalecido,

percebendo-se que a maioria dos trabalhadores já concebem tais usuários como sujeitos de

direitos e o CadÚnico como um importante instrumental para a efetivação destes. Embora,

perceba-se que muitos destes entrevistados, sujeitos que operacionalizam o CadÚnico,

inscritos como trabalhadores do Sistema Único de Assistência Social, não tem total

conhecimento acerca da política em que atuam, mesmo trabalhando para a efetivação da

mesma, poucos acessam aos relatórios anteriormente citados, trabalhando dia a dia com o

CadÚnico mas, não tendo acesso aos resultados de sua ação.

Espera-se por meio deste trabalho contribuir na ampliação da discussão acerca do

CadÚnico, ampliando a divulgação do mesmo tanto para a população com renda de até 3

salários mínimos ou meio salário mínimo per capita que poderá vir a acessá-lo para obter

algum benefícios, quanto aos formuladores de programas e projetos, que podem encontrar no

CadÚnico uma importante ferramenta de apoio. Ainda, espera-se que a discussão sobre a

66

Política de Assistência Social suscite aos trabalhadores desta área discuti-la mais em seu

cotidiano na perspectiva de fortalecê-la.

Faz-se importante salientar que o objetivo inicial deste trabalho: Conhecer a

concepção de direito dos usuários inscritos no CadÚnico não foi alcançado devido ao fato de

não haver tempo hábil para realizar as entrevistas com a amostra elencada no projeto,

mudando-se assim o objetivo.

67

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Social de Presidente Prudente. Presidente Prudente – SP, 2004.

70

APÊNDICES

71

APÊNDICE A

TERMO DE COMPROMISSO PARA USO DE DADOS EM ARQUIVO

Título do projeto: ___________________________________________________

Pesquisador Responsável: _____________________________________________

Pesquisador Colaborador: _____________________________________________

O(s) pesquisador(es) do projeto acima identificado(s) assume(m) o compromisso de:

1. Preservar a privacidade dos sujeitos da pesquisa cujos dados serão coletados;

2. Que as informações serão utilizadas única e exclusivamente para a execução do projeto em

questão;

3. Que as informações somente serão divulgadas de forma anônima, não sendo usadas iniciais

ou quaisquer outras indicações que possam identificar o sujeito da pesquisa.

4. Que serão respeitadas todas as normas da Resolução 196/96 e suas complementares na

execução deste projeto.

Local, _____ de __________ de 2012.

___________________________________

Nome e Assinatura do Pesquisador Responsável

____________________________________

Nome(s) e Assinatura(s) do pesquisador colaborador

72

APÊNDICE B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE

Título do Projeto: A concepção de direito dos usuários da Política de Assistência Social

inseridos no Cadastro Único do município de Toledo – Paraná.

Pesquisadora responsável: Profa. Ms. India Nara Smaha

Telefone: (45) 9931-7129

Pesquisadora Colaboradora: Acadêmica Alessandra Sallet Lunkes

Telefone: (45) 3054-6037

Convidamos (você) para participar de nossa pesquisa que tem o objetivo de analisar

se os usuários, inscritos no Cadastro Único no município de Toledo, de fato se identificam

como sujeitos de direitos, compreendendo ser de suma importância neste processo conhecer

também a concepção da equipe que operacionaliza tal cadastro no município. Para isso será

realizada entrevista com perguntas abertas e fechadas acerca do objetivo exposto

anteriormente.

Toda responsabilidade com o tratamento da aplicação dos questionários será dos

pesquisadores, neste sentido o risco de exposição dos sujeitos esta salvaguardado pela Lei que

Regulamenta a Profissão de Assistente Social (Lei nº 8.662/93) e pela Resolução 196/96 do

CEP. Desta forma, os dados levantados a partir dos formulários serão destinados somente

para fins científicos.

Através do conhecimento da concepção dos usuários acerca dos direitos sociais será

possível um maior amadurecimento da Política de Assistência Social Municipal, visa-se

também que mais sujeitos que possuem renda de até três salários mínimos ou meio per capita,

façam o Cadastro Único, o que possibilita aos mesmos inserir-se em programas, projetos e

benefícios, conforme os critérios de cada um e espera-se contribuir para a ampliação da

discussão dentro do curso de Serviço Social da Unioeste, acerca das políticas e programas

sociais vigentes no Brasil hoje.

73

No final da pesquisa há o comprometimento de retorno dos resultados obtidos para os

sujeitos participantes, como orienta o Código de Ética do Assistente Social de 1993, Título

III, Capítulo I, Artigo 5º, Alínea D, “[...] devolver as informações colhidas nos estudos e

pesquisas aos usuários no sentido de que estes possam usá-los para o fortalecimento dos seus

interesses [...]”. (CFESS, 2006, p.19).

Neste sentido cabe esclarecer:

Este termo será entregue em duas vias, uma será destinada ao sujeito que participou da

pesquisa.

Não há fins lucrativos com este trabalho, portanto não será efetivada nenhuma espécie de

remuneração.

Para algum questionamento, dúvida ou relato de algum acontecimento os pesquisadores

poderão ser contatados a qualquer momento.

O sujeito poderá cancelar sua participação a qualquer momento.

Caso necessite de maiores informações poderá fazer contato telefônico com o comitê de ética

no número: (45) 3220-3270.

Declaro estar ciente do exposto e desejo participar do projeto.

Nome do sujeito de pesquisa:________________________________________.

________________________________________

Assinatura

Eu, India Nara Smaha, declaro que forneci todas as informações do projeto ao participante.

Toledo, 06 de Junho de 2012.

74

APÊNDICE C

FORMULÁRIO DE ENTREVISTA COM TRABALHADORES DO SETOR

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE

CURSO: SERVIÇO SOCIAL – 4º ANO

PROFESSOR(A) ORIENTADOR(A) DE TCC: ACADÊMICO (A): Alessandra Sallet Lunkes

OBJETIVO GERAL DA PESQUISA: Analisar se os usuários, inscritos no Cadastro Único, de

fato se identificam como sujeitos de direitos.

INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS: Entrevista semi-estruturada

SUJEITOS DA PESQUISA: Trabalhadores do setor do Cadastro Único

DATA DA ENTREVISTA:

____/____/2012

Nº DA ENTREVISTA: _____________

Nome:_______________________________________________________Idade:____

Telefone: ( ) _____________________

Região do CRAS: ______________________________

Função/Cargo:_________________________________________________________

Formação:____________________________________

Tempo de serviço neste setor:_________

1. Você participou de alguma capacitação neste período? Quais?

2. Você tem conhecimento de todos os programas, projetos, benefícios e serviços que

o Cadastro Único possibilita o acesso no município de Toledo?

( ) Sim

( ) Não

3. Quais os motivos que você acredita que leva as famílias a fazer o Cadastro Único?

4. Na sua opinião quem são os sujeitos que procuram o setor do Cadastro Único?

5. Você considera o Cadastro Único um sistema válido? Explique.

6. E os programas e projetos que ele possibilita o acesso, como você vê? Explique.

7. Quais são as dificuldades no momento de realizar o cadastro ou atualização do Cad?

8. Como você percebe o acesso aos serviços da Política de Assistência Social, tendo em

vista que nosso município tem muito mais pessoas que possuem perfil, mas ainda não

estão cadastrados?

75

ANEXOS

76

ANEXO A

77

ANEXO B