Senado e Bicameralismo

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  • 8/19/2019 Senado e Bicameralismo

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    O bicameralismo importa? Uma análise da produção legislativa no Brasil a

    partir do Senado Federal

    Paulo Magalhães Araújo1

    Resumo

    O texto apresenta um estudo das propostas de lei e de emenda constitucional que deflagraramo processo legislativo no Senado Federal entre 1! e "##$% O o&jetivo da an'lise ( comparar)com &ase na modelagem institucional do &icameralismo &rasileiro) o desempenho legiferantedo Senado com o *xecutivo) o +udici'rio e) especialmente) a ,-mara dos .eputados%Sustenta/se que) a despeito de tra0os comuns na produ0ão legislativa das referidas inst-ncias)o Senado se distingue das demais devido ao seu papel especfico no processo &icameral%

    Palavras chave: Produ0ão 2egislativa) Senado) 3icameralismo%

    ntrodução

    A questão central que se coloca no presente estudo ( a seguinte4 o &icameralismo

    importa para a produ0ão leis no -m&ito federal5 *m outros termos) o Senado demonstra

    alguma especificidade enquanto inst-ncia proponente de leis5

    Para responder essa questão) o texto inicialmente avalia os incentivos institucionais e polticos para a atua0ão legiferante dos senadores% *m seguida) analisam/se) em termos

    agregados) as propostas de lei e de emenda constitucional que) independentemente da origem)

    deflagraram o processo legislativo no Senado entre 1! e "##$%

    O o&jetivo ( comparar o desempenho legislativo do Senado com o das demais

    inst-ncias legisladoras no -m&ito federal) em especial com a ,-mara dos .eputados% O

    tra&alho parte da hip6tese geral de que) em converg7ncia com a orienta0ão estrat(gica do

    comportamento parlamentar e com a estrutura funcional do &icameralismo &rasileiro) aatua0ão legiferante do Senado apresenta pontos comuns com as demais arenas) mas tam&(m

    revela especificidades) devido a sua posi0ão e suas fun08es na cadeia decis6ria &icameral%

    ! " Bicameralismo e produção legislativa: análise do caso brasileiro

    Segundo a perspectiva do neoinstitucionalismo) o car'ter unicameral ou &icameral do

     poder legislativo deve ser um fator institucional influente nas estrat(gias de atua0ão

    1 .outor em ,i7ncia Poltica pela 9FM:) professor de ,i7ncia Poltica e pesquisador do 2a&orat6rio de *studosPolticos ;2*P< da 9niversidade Federal do *sprito Santo ;9F*S

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     parlamentar% .este ponto de vista) a moldura institucional do &icameralismo deve ter 

    influ7ncia relevante) e diferenciada) no comportamento de senadores e deputados% *m&ora

     pesquisas com esse enfoque estejam em ascensão ;cf% 2emos) "##!o

    3rasil) at( então) as an'lises so&re a produ0ão legislativa do ,ongresso não tem dado pouco

    tratamento sistem'tico a esses incentivos diferenciados) indu?indo ao raciocnio de que os

    senadores não desempenham papel especfico na produ0ão de leis%

    9ma an'lise da produ0ão legislativa do ,ongresso >acional deve levar em conta que o

    Poder 2egislativo federal ( &icameral) composto pela ,-mara e pelo Senado% O padrão de

    articula0ão entre essas casas) e seus efeitos na produ0ão de leis) pode ser avaliado segundo a

    tipologia de 2ijphart ;"##@

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    representa0ão diferenciada dos partidos numa e noutra casa) mas tam&(m promove diferentes

    vnculos entre os parlamentares e seus apoiadores) sejam eles partidos ou eleitores% *m todo

    caso) se produ? uma forte incongru7ncia na representa0ão &icameral%

    Duadro B

    Eari'veis que afetam a incongru7ncia legislativa no 3rasil

    %ariáveisRegras para composição das casas

    &'eitoSenado ()mara

    amanho das c-maras !1 cadeiras G1@ cadeiras Bncongru7nciaSistema eleitoral Majorit'rio Proporcional Bncongru7nciaipo de lista 9m ou dois candidatos 2ista a&erta Bncongru7ncia,ircunscri0ão eleitoral *stado federado *stado federado ,ongru7nciaMagnitude m(dia @H 1 Bncongru7nciaIenova0ão eleitoral Parcial otal Bncongru7ncia.ata das elei08es ,oincidentes ,oincidentes ,ongru7ncia.ura0ão do mandato ! anos $ anos Bncongru7ncia

    Bdade mnima exigida @G anos "1 anos Bncongru7nciaIegras para supl7ncia >omea0ão HH 2ista de espera Bncongru7nciaOutros requisitos para ser candidato Mesmas regrasHHH Mesmas regras ,ongru7ncia

    *la&ora0ão Pr6pria) "##!%  H ,onsiderando a disputa eleitoral) a magnitude ( 1 ou ") conforme a renova0ão seja de 1J@ e "J@ da ,asa% O

    número de candidatos por partido ou coliga0ão ( igual ao número de vagas em disputa na elei0ão em questão%  HH >o Senado a nomea0ão ( feita pelo candidato a Senador% Se ele ganha as elei08es) seus suplentes tam&(m

    vencem) muito em&ora eles dificilmente se exponham nas campanhas eleitorais% >a ,-mara) os suplentes saemde uma Klista de esperaL dos deputados mais votados) mas que não conseguiram votos suficientes para seremeleitos na distri&ui0ão de cadeiras que ( feita imediatamente ap6s as elei08es%HHH O @N do art% 1$ da ,onstitui0ão Federal di? que4 KSão condi08es de elegi&ilidade para qualquer cargo) naforma da lei4 B / a nacionalidade &rasileira BB / o pleno exerccio dos direitos polticos BBB / o alistamentoeleitoral BE / o domiclio eleitoral na circunscri0ão E / a filia0ão partid'ria %%% $N4 São inelegveis os

    inalist'veis e os analfa&etos%L

    A lista a&erta adotada nas elei08es para a ,-mara ( muito criticada porque) em tese)

    incentiva os vnculos pessoais entre o deputado e sua clientela e indu? ao comportamento

     parlamentar individualista) clientelista e prejudicial C necess'ria fun0ão de coordena0ão

     poltica dos partidos ;Ames) "### MainQaring) 1R "##1asunidades da Federa0ão onde o número de lugares na ,-mara dos .eputados não passa de vinte) cada partido

     poder' registrar candidatos a .eputado Federal e a .eputado *stadual ou .istrital at( o do&ro das respectivas

    vagas havendo coliga0ão) estes números poderão ser acrescidos de at( mais cinqTenta por cento%@ Atualmente) est' em voga a import-ncia dos recursos financeiros ;ou conversveis em moeda< controlados pelos partidos% >o 3rasil) esses recursos podem resultar de doa08es pú&licas ou privadas os candidatos tam&(m

    @

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    tra0os institucionais) com&inados) incentivariam os deputados a um comportamento

     paroquialista) ao inv(s de partidariamente orientado ;Shugart e ,areU) 1"

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    fun0ão de se contrapor aos eventuais arrou&os primeira c-mara) normalmente mais passional e

     propcia a escolhas intempestivas%

    *m suma) consideradas em conjunto) as regras para a composi0ão da representa0ão

     &icameral &rasileira fomentam a incongru7ncia entre as casas% >os termos do referencial

    analtico aqui adotado) significa reconhecer o grande potencial do Senado para intervir nas

    decis8es polticas federais% Iesta sa&er em que medida isso se manifesta na produ0ão de leis

    ou no processo legislativo) tendo em vista que a incongru7ncia se com&ina com outros tra0os

    do sistema) tais como as prerrogativas de cada ,asa) as regras da intera0ão &icameral) a

    organi?a0ão parlamentar e o padrão de intera0ão 2egislativo/*xecutivo% Os dois primeiros

     pontos tam&(m são definidores do &icameralismo e são a&ordados no pr6ximo t6pico%

    !#* " Bicameralismo e simetria no Brasil

    Por determina0ão da ,onstitui0ão de 1!!) incluindo as mudan0as su&seqTentes) as

    fun08es do ,ongresso) atinentes C prote0ão das institui08es) ao controle das autoridades e C

     produ0ão legislativa) são distri&udas de forma sim(trica entre Senado e ,-mara% O quadro BB

    enfoca a distri&ui0ão &icameral das fun08es diretamente relacionadas à produção de leis) para

    uma melhor avalia0ão da simetria &icameral segundo o pro&lema analtico aqui colocado%

    Duadro BB

    .istri&ui0ão das atri&ui08es constitucionais que afetam a simetria do &icameralismo+tribuiç,es -ue a'etam o poder de gerar leis Prerrogativas

    SF (.

    +tribuiç,es legi'erantes

    Prop8e projeto de lei e emenda constitucional Sim SimParticipa da produ0ão de legisla0ão financeira Sim SimParticipa da produ0ão de legisla0ão não/financeira Sim Sim VIejeita definitivamente projeto de lei Sim SimIejeita definitivamente veto do Poder *xecutivo >ãoH >ãoH.eli&era so&re emenda constitucional Sim SimParticipa da aprova0ão de 2eis .elegadas Sim Simem exclusividade para deli&erar so&re certas mat(rias >ão >ão

    em poder de veto so&re medidas provis6rias Sim SimRegras para deliberação con/unta e solução de impasses entre as casas

    ,onvoca sessão extraordin'ria do ,ongresso Sim V Sim  oma decisão terminativa em caso de impasses Sim Sim VParticipa das comiss8es mistas em condi0ão de igualdade Sim SimParticipa das sess8es conjuntas em condi0ão de autonomia Sim SimAs sess8es conjuntas são presididas pelo presidente da ,asa Sim >ãoPode utili?ar a passagem do tempo em seu favor Sim V Sim  

    Fonte4 ela&ora0ão pr6pria) a partir de 2lanos ;"##"eiva ;"##$< e da ,onstitui0ão Federal ;1!!

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    san0ão presidencial) mat(rias financeiras e não/financeiras) ou) ainda) decis8es que percorrem

    o rito &icameral e aquelas apreciadas em sess8es conjuntas%

    ,onsideradas as medidas que dependem da san0ão do *xecutivo) a &alan0a do

     &icameralismo equipara as duas casas% Dualquer que seja a forma da tramita0ão) conjunta ou

    seqTencial$) o Senado participa das deli&era08es com o direito de alterar ou vetar as propostas%

    W') no entanto) grande mudan0a no equil&rio &icameral conforme a mat(ria esteja sujeita a

    aprecia0ão conjunta ou a tramita0ão com ida e volta%

    No tocante a matérias votadas em sessões conjuntas do Congresso, a distribuição do

    poder é bem mais simétrica e, portanto, mais favorável ao Senado, se comparado às propostas

    sujeitas à   tramitação seqüencial (Backes, 1999; 2008). Um indicador da simetria nas

    atividades conjuntas é a composição paritária das comissões mistas, formadas para dar parecer

    sobre as matérias a serem votadas em sessões do Congresso – incluindo as MPs, mesmo

    depois da Emenda 325. Diz o art. 62 da Constituição Federal (posteriormente à Emenda 32),

    que “Caberá à comissão mista de Deputados e Senadores examinar as medidas provisórias e

    sobre elas emitir parecer, antes de serem apreciadas, em sessão separada, pelo Plenário de

    cada uma das Casas do Congresso Nacional”. Al(m de deverem ter) por norma regimental) o

    mesmo número de senadores e deputados) o art% 1$ do Iegimento ,omum do ,ongresso

    determina que as comiss8es mistas deli&erem por maioria de votos determina ainda que os

    votos de senadores e deputados sejam tomados em separado sempre que não haja paridade

    num(rica em sua composi0ão%

     >o caso da Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO))

     para a qual h' um regulamento especfico) as sucessivas altera08es regimentais não afetaram o

    artigo que disp8e so&re as decis8es da comissão4 KAs deli&era08es da CMO iniciar/se/ão

     pelos representantes da ,-mara dos .eputados) sendo que o voto contr'rio da maioria dos

    representantes de uma das ,asas importar' em rejei0ão da mat(ria”X% 

     >o tocante aos tra&alhos do ,ongresso) h' mais um fator que aumenta o cacife

     poltico do Senado4 enquanto na tramita0ão seqTencial os desacordos são resolvidos com a

    imposi0ão da vontade da primeira ,asa) nas decis8es conjuntas as mat(rias s6 são

    transformadas em lei com o acordo simult-neo de deputados e senadores. .efinida a pauta das

    $ Bsto () conforme o tradicional m(todo &icameral de idas e voltas4 shuttle system ou navette system) na literaturaestrangeira% Por esse m(todo) diferentemente do de tramita0ão conjunta) cada casa aprecia a mat(ria a seu tempo%G A emenda @" de "##1 transformou a aprecia0ão de MPs de conjunta em seqTencial%X A ,omissão Mista Permanente de Planos) Or0amento Pú&lico e Fiscali?a0ão ;,MO

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    um poder decisivo so&re MPs ;a partir de "##1< e so&re projetos de lei ordin'ria ou

    complementar que tramitam pelo rito &icameral tpico estes últimos comp8em $#Y das leis

     produ?idas entre 1! e 1!) conforme Figueiredo e 2imongi ;14G#

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    autores) o desempenho legiferante do Senado est' longe de espelhar seu poder% Para eles) a

    ,asa atua essencialmente como arena de revisão e) ainda assim) Knão parece desempenhar um

     papel aut[nomo como inst-ncia deli&erativaL nem mesmo no que respeita ao seu papel de

    c-mara revisora ;Figueiredo e 2imongi4 1X) p% #!/1#acional% >o que respeita Cs proposi08es visadas neste artigo proposta de

    emenda constitucional ;P*,este texto) daqui por diante) para redu?ir a variedadede siglas) se usar') como na ,-mara) P2 para todo projeto de lei ordin'ria e P2P para todo projeto de lei

    complementar%11 Segundo Iicci ;"##!4 "$@/"$$

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    *sse fator institucional ajuda a entender os números da ta&ela 14 o volume

    relativamente grande de proposi08es iniciadas no perodo por deputados e) so&retudo)

    senadores% Para dar uma id(ia mais precisa do volume de proposi08es apreciadas pelos

    senadores) a ta&ela a&range todas as propostas ingressadas Senado) inclusive as que não serão

    analisadas em detalhes neste tra&alho) isto () as iniciadas no Senado) mas rejeitadas ou ainda

    em tramita0ão na ,asa%

    a&ela 1

    P2s) P2Ps e P*,s que deflagaram o processo legislativo no Senado entre 1! e "##$

    AnoOrigem

    otalSenado ,-mara *xecutivo +udici'rio1! $"X @@ $" 1! G11# "GR RG $X R @!G11 $@ $" XR @X G!$

    1" 1@ !# $1 @! @G"1@ 1X 1!1 X# ! $1!1$ 1#$ @G 1# "$!1G @$ !X G@ G$"1X @"! X $# $ $$11R @@" $R @" $ $1G1! "@R "! "G R "R1 R!" @@ @$ " !G1"### @"# R# $" $$1"##1 @$ 11$ $1 " G#X"##" @#" ! "1 X $1!"##@ X@$ R" @X ! RG#"##$ $@1 X$ "X ! G"

    otal GXR 11!" X$1 1RX RXX  *la&ora0ão pr6pria) a partir de dados do Senado "##R

    Devido aos baixos custos da iniciativa e ao grande número de

    legisladores, vê-se que o Legislativo é, de longe, o maior responsável pelo

    montante de propostas de lei e PECs que ocuparam a pauta do enado no

    per!odo" #as as $acilidades $ormais para a iniciativa de leis n%o

    correspondem &s possibilidades de aprova'%o" O grá(co ) distingue as

    proposi'*es entre +aprovadas e +retidas e mostra que o número ./ de

    iniciativas, por inst0ncia, está inversamente relacionado ao percentual de

    sucesso legislativo" .ota-se também o enado se distancia muito das

    demais inst0ncias em termos do percentual de +reten'%o das suas

    propostas"

    :r'fico B

    Percentual de projetos aprovados e retidos no Senado) por origem ;1!/"##$H<

    1#

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    1,2

    33,3

    4),5

    ),)

    6),4

    71,3

    61,6

    88,5

      Senado

    (N = 5697)

      Câmara

    (N = 1182)

      Executivo

    (N = 641)

      udici!rio

    (N = 176)

    "etido# $%rovado#

      *la&ora0ão pr6pria) a partir de dados do Senado "##R  H Bngressados no Senado entre 1! e "##$) tramita0ão acompanhada at( #J"##R%

    obre isso, cabem algumas observa'*es $undadas nas normaslegislativas e na posi'%o do enado na tramita'%o bicameral" Em rela'%o

    &s normas para proposi'%o, vale ressaltar os incentivos $ormais para a

    iniciativa individual e ilimitada, que indu9em a proposi'*es

    despreocupadas com as c:ances reais de aprova'%o, pois, do ponto de

    vista eleitoral, a simples apresenta'%o do pro;eto ;á implica uma presta'%o

    de contas &s bases de apoio < a(nal, o dever da iniciativa é do

    representante, mas a responsabilidade pela re;ei'%o cabe & legislaturacomo um todo" e os parlamentares condicionassem a proposi'%o de lei &s

    suas c:ances de sucesso, di(cilmente proporiam algo, pois, so9in:os, tem

    poucas c:ances de in=uenciar decisivamente na aprova'%o" Em

    contrapartida, ao propor uma lei, o parlamentar alivia-se do peso de suas

    promessas eleitorais, mesmo se seu pro;eto é sabidamente destinado ao

    $racasso"

    >utra observa'%o a ser $eita é que os dados apresentadosexpressam a din0mica da produ'%o de leis con$orme a l?gica do processo

    bicameral no @rasil" > grande volume de pro;etos de senadores < se

    comparado ao da C0mara, do Executivo e do Audiciário < re=ete a posi'%o

    do enado na cadeia decis?ria, em que a delibera'%o na primeira Casa

    opera como (ltro para a Casa revisora" Depois da sele'%o interna corporis

    no enado, a contribui'%o dessa Casa no total da produ'%o bicameral n%o

    destoa do número de pro;etos dos deputados que c:egam & revis%o < s%o

    ))18 propostas de deputados e )83B de senadores"

    11

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    Da mesma $orma, parte signi(cativa dos pro;etos iniciados na

    C0mara, especialmente os de deputados, n%o vai & revis%o dos senadores"

    t!tulo de exemplo, vale comentar que apenas do ano de )616

    tramitaram na C0mara 5B87 pro;etos de autoria parlamentar igueiredo e

    Limongi, )662 )666/" Descontados os )68 pro;etos que os senadores

    remeteram & C0mara naquele ano, restam 8155F um número bem distante

    dos ))18 pro;etos de deputados enviados ao enado nos )2 anos que

    comp*em o per!odo )616-8BB4" Gsso indica que os deputados eliminam

    um alt!ssimo percentual dos pro;etos apresentados peles mesmos"

    > Poder Executivo e o Audiciário também $uncionam como (ltros, e

    s%o ainda mais e(cientes devido a suas estruturas :ierarqui9adas" >

    Executivo tem grande poder legi$erante, mas, com a centrali9a'%o que l:e

    é pr?pria, avalia a conveniência e as c:ances de sucesso de suas

    proposi'*es, antes de apresentá-las ao Congresso" Di$erentemente das

    casas legislativas, o Executivo opera como um único ator, consumindo

    menos es$or'os que os parlamentares para selecionar seus pro;etos

    igueiredo e Limongi, )666/"

     Hratando-se de um sistema bicameral, os pro;etos do Executivo s%o

    duplamente (ltrados antes de c:egarem ao enado, porque depois de

    serem escol:idos no 0mbito do pr?prio Executivo, precisam ser aprovados

    na C0mara" ssim também é o processo seletivo do Audiciário, que avalia

    por si mesmo a viabilidade constitucional e o mérito das suas proposi'*es,

    que ser%o também avaliadas pela C0mara antes c:egar aos senadores" >

     Audiciário, porém, tem direitos de iniciativa mais restritos que os do

    Executivo, pois s? pode propor medidas relacionadas com sua pr?pria

    organi9a'%o" Da! seu redu9ido número de proposi'*es" Em suma, :á dois

    (ltros institucionais entre as iniciativas de lei do Executivo e do Audiciário e

    a aprecia'%o do enado" Essa estrutura decis?ria explica a di$eren'a

    quantitativa entre os pro;etos dos senadores e os demais pro;etos

    revisados na Casa"

    * " O per'il da produção legislativa e os incentivos institucionais 5 atuação das casas

    1"

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     >este t6pico a produ0ão ser' analisada com &ase em tipologias e modelos de an'lise

    correntes na literatura especiali?ada% O o&jetivo ( comparar as inst-ncias proponentes)

    especialmente ,-mara e Senado) em termos de suas propens8es legislativas e tentar entender 

    os resultados C lu? das conseqT7ncias esperadas do &icameralismo na produ0ão legislativa de

    cada ,asa% O destino das proposi08es) se aprovadas ou rejeitadas em última inst-ncia) não

    ser' considerado) dado o fim estrito de captar as prefer7ncias legislativas de senadores e

    deputados% Sustenta/se que o conjunto das iniciativas aprovadas ;selecionadas< em cada

    inst-ncia ( um &om indicador de tais prefer7ncias% Bnicia/se a an'lise pela ta&ela "%

    A ta&ela discrimina as mat(rias por inst-ncia proponente e por tipo) se P*,) P2P ou

    P2% Ao contr'rio da tipifica0ão por temas e por a&rang7ncia) a codifica0ão do tipo de

     proposi0ão não carece de ar&trio do pesquisador) porque ( uma distin0ão formal) utili?ada

     pelo sistema de registros do ,ongresso >acional% >esse aspecto) os dados revelam

    especificidades importantes da produ0ão do Senado) frente Cs da ,-mara e do *xecutivo%

    a&ela @

    Projetos que tramitaram no Senado) por origem e tipo de proposi0ão ;1!/"##$

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    mnimo) um ter0o dos parlamentares da ,asa iniciadora% O fato ( que P*,s e P2Ps são usados

     para propostas de legisla0ão superior que visam estruturar o funcionamento do *stado no

     plano das institui08es polticas e da administra0ão pú&lica e isso fa? com que sejam

    instrumentos legislativos mo&ili?ados com maior parcim[nia%

    \ interessante notar que) em termos agregados) não h' diferen0as entre *xecutivo e

    2egislativo% .ada a import-ncia das P2Ps e) so&retudo) das P*,s na agenda dos governos

     p6s/1!!) ( de se esperar que o *xecutivo fosse respons'vel pelo maior número desse tipo de

     propostas% Some/se a isso o fato de o governo) com seus recursos para construir maiorias

     parlamentares) tem mais for0a que o 2egislativo para levar adiante tais tentativas ;vale

    ressaltar que se tratam de mat(rias aprovadas em pelo menos uma das casas

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    Projetos ingressados no Senado) por origem e 'rea tem'tica da mat(ria ;1!/"##$eto e Santos ;"##"4 X

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    contr'rio) os resultados das an'lises j' feitas) &em como os da an'lise aqui desenvolvida)

    evidenciam que a maior parte da produ0ão legislativa de iniciativa parlamentar gera impacto

    so&re toda a sociedade ;cf% 2emos) "##1 Amorim >eto e Santos) "##" Iicci) "##!

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    #Y de confia&ilidade1X% Portanto) em conformidade com as expectativas acerca da din-mica

     &icameral no 3rasil) perce&e/se que as casas pendem para um padrão de representa0ão

    condi?ente com suas fun08es constitucionais4 o Senado mostra maior envolvimento com

    interesses dos estados) das regi8es e da união federativa) enquanto a ,-mara atua) com um

    empenho relativamente maior) em favor de interesses de setores que comp8em a sociedade

     &rasileira) perpassando as fronteiras das unidades su&nacionais%

    Fica) no entanto) uma questão em a&erto% .e acordo com a perspectiva da conexão

    eleitoral) o efetivo cumprimento da fun0ão das casas na estrutura &icameral precisa ser 

    interpretado com &ase nos microfundamentos do comportamento poltico de seus mem&ros% \

     preciso) pois) verificar se o cumprimento do dever constitucional por parte das duas c-maras

    reflete as estrat(gias individuais dos seus mem&ros) que agem orientados pelas conseqT7ncias

    eleitorais esperadas de suas a08es%

     >o caso do Senado) a fun0ão de representar os estados converge com os incentivos

     propiciados pelas regras eleitorais apresentadas no incio deste texto% Por essa via) ( possvel

    entender o pendor KestadualistaL dos senadores j' que eles se elegem por regra majorit'ria) em

    distritos estaduais% O peso dos partidos nas elei08es para o Senado e a grande quantidade de

    votos necess'ria para se reeleger ;.esposato) "##"

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     percentual de propostas de impacto restrito no Senado e na ,-mara ( tão inferior ao de

    alcance mais amplo%

    9ma explica0ão possvel ( que os parlamentares tentam promover &enefcios

    exclusivos para suas clientelas) mas seus projetos não o&t7m sucesso% ,ontudo) essa hip6tese

    ( refutada pela an'lise das mat(rias não aprovadas) pois elas tam&(m são majoritariamente

    nacionais% Amorim >eto e Santos ;"##@

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    Iegional 1) )R 1)! 1)" ")! X)1 11)1 ")! 1)" #)# 1)G ")! )" 1)@ #)# #)# #)# @)XSetorial @#)R @G)$ "$)! 1$)G ")$ ")@ $$)$ G1)R "")" G)@ @")" @G)G X#)1 $R)G 1")G )1 @") $G)"2ocal 1R)G !)# !)@ #)# #) $) 11) 1)$ ")G #)# 1)! ") 1G)$ @)" 1")G #)# #) X)Pessoal #)# #)# GX)# #)# 1)G G)X @)# #)G G!)# #)# #)R $)! ")" 1) GX)@ #)# 1@)X R)GY 1## 1## 1## 1## 1## 1## 1## 1## 1## 1## 1## 1## 1## 1## 1## 1## 1## 1##

     >1XX ""X 1# !@ X!X

    1"R#

    1@G "11 !1 @! R1R11!

    """! 1G! 1X 11 ""! X$1

    *la&ora0ão pr6pria) a partir de dados do Senado 1!/"##$%;1< apenas projetos iniciados e aprovados no Senado e enviados C ,-mara%

    As ta&elas X e R mostram clara rela0ão entre a 'rea tem'tica e a amplitude dos efeitos

    dos projetos% As mat(rias econ[micas são) na maioria) nacionais ou setoriais as honorficas

    ou sim&6licas são majoritariamente individuais as poltico/institucionais se voltam) no mais

    das ve?es) para a na0ão ou para a federa0ão as propostas administrativas são) so&retudo)

    setoriais% odavia) o destaque da ta&ela ( a forte conexão entre projetos sociais e efeitos em

    escala nacional interessante notar que as propostas federais) que tam&(m prev7em impactos

    nacionais) são diferentes4 em geral são polticas e administrativas) sendo pequeno o percentual

    de mat(rias de conteúdo social% A despeito das varia08es nos percentuais) a ordem dos valores

    revela similaridades nas prefer7ncias legiferantes da ,-mara) do Senado e do *xecutivo%

     >ota/se) contudo) &em mais semelhan0a entre as duas casas do que entre elas e o *xecutivo%

    Amorim >eto e Santos ;"##" "##@< partem da conexão socialJnacional para explicar 

    o alto ndice de projetos sociais de largo escopo iniciados por parlamentares &rasileiros% Os

    autores mencionam a gradativa concentra0ão de poderes legislativos nas mãos do *xecutivo  

    discutida por ,ox ;1!R< e Pessanha ;"##"eto e Santos sustentam que) em am&os os casos) existe uma justificativa racional

     para a delega0ão de direitos legislativos para o *xecutivo% Os parlamentares) que avali?am as

    regras formais do jogo) reconhecem que o uso descentrali?ado do poder de legislar implica

    inefici7ncia no uso dos recursos pú&licos) devido C maior propensão do legislador individual

     para priori?ar a transfer7ncia de &ens privados em detrimento da oferta de &ens pú&licos% Os

     parlamentares entendem) ademais) que o *xecutivo tem incentivos para fa?er o oposto e) por 

    isso) lhe transferem os poderes necess'rios para tal%

     >o que respeita C distri&ui0ão do tra&alho legislativo) a conseqT7ncia poltica dessa

    concentra0ão de prerrogativas ( que o *xecutivo se torna a fonte predominante de legisla0ão)

    respons'vel por leis de amplo e forte impacto) especialmente leis voltadas para o desempenho

    da economia nacional ;,ox) 1!R Amorim >eto e Santos) "##" "##@

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    concretos e cotidianos dos cidadãosL ;Amorim >eto e Santos) "##"4 1#Ro 3rasil) a

    demanda por regula0ão nessas 'reas1) com&inada com as restri08es constitucionais C atua0ão

    dos congressistas nas 'reas administrativa e or0ament'ria) permite entender o car'ter nacional

    da produ0ão parlamentar ;Amorim >eto e Santos) "##@o entanto) do ponto de vista eleitoral) as normas que geram

    efeitos difusos tam&(m podem ser muito vantajosas) se promovem uma intera0ão propcia

    entre cidadãos) parlamentares e lderes de coali?ão ;Arnold) 1#a ,-mara h' maiscomiss8es para temas sociais) pois h' mais comiss8es no todo) permitindo maior su&divisão por temas%

    ""

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    for0as parlamentares e sociais para criar repercussão positiva ou evitar repercussão negativa

    em torno de sua aprova0ão%

    endo em vista os efeitos concretos das propostas de a&rang7ncia nacional) lem&rados

     por Amorim >eto e Santos ;"##" "##@

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    Senado) com projetos j' de&atidos na ,-mara) especialmente os do +udici'rio e do *xecutivo)

     pois estes apresentaram um percentual de reten0ão muito menor% Pela l6gica &icameral) a

    maior chance de sucesso) no Senado) de projetos externos decorre do fato de que as escolhas

    na inst-ncia de origem antecipam em grau relevante as prefer7ncias da ,asa Ievisora)

    diminuindo as chances de rejei0ão na etapa de revisão%

    So&re o conteúdo das proposi08es analisadas) h' dois tipos de conclus8es% .e um lado)

    o Senado) como a ,-mara) sofre restri08es C iniciativa de leis de cunho clientelista) por isso)

    os senadores) como os deputados) &uscam reconhecimento poltico num campo legislativo

    importante e a&erto C interven0ão parlamentar4 a legisla0ão regulat6ria de amplo alcance

    ;Amorim >eto e Santos) "##"o tocante Cs diferen0as)

    mostrou/se que os senadores aprovaram) interna corporis) um percentual de proposi08es de

    impacto regional e federal maior que o dos deputados% *sse desempenho legiferante (

    caracterstico da fun0ão representativa do Senado no sistema &icameral e) ademais) converge

    com os incentivos eleitorais que recaem so&re os senadores% Os deputados) por sua ve?)

    aprovaram ;em seu pr6prio -m&ito< e enviaram ao Senado um percentual significativo de

     proposi08es que afetam setores sociais não recortados territorialmente% A prefer7ncia por esse

    tipo de legisla0ão tam&(m converge com a divisão &icameral das fun08es) pois a ,-mara tem)

     precisamente) a missão de representar setores sociais conforme sua propor0ão no demos%

    *m suma) a despeito de certa impressão geral mesmo entre especialistas de que

    não h' distin0ão entre Senado e ,-mara) a presente an'lise permite concluir que) em fun0ão

    da l6gica da a0ão parlamentar e da din-mica do processo decis6rio &icameral) senadores e

    deputados dão contri&ui08es distintas na produ0ão de leis no -m&ito federal%

    Bibliogra'ia

    A3I_,BO) F% 2% #s +ares da -ederação% São Paulo4 Wucitec) 1!%

    AM*S) 3% Deadloc o* Democracy in +ra/il % Ann Ar&or4 Michigan 9niversitU Press) "###%

    AMOIBM >*O) O% ` SA>OS) F% A Produ0ão 2egislativa do ,ongresso4 *ntre a Par6quia

    e a >a0ão% 0n 2ui? ernecZ Eianna ;org%

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    AMOIBM >*O) O% ` SA>OS) F% Segredo Bneficiente Ievisto4 o que prop8em e o que

    aprovam os deputados &rasileiros% .A.OS  3evista de Ci!ncias %ociais) Iio de +aneiro) Eol%

    $X) no $) "##@) pp% XX1 a X!%

    AIA_+O) P% M% A ,-mara Alta no Presidencialismo 3rasileiro4 o desempenho legislativo no

    Senado entre 1! e "###% Bn4 2*MOS) 2eanU 3arreiro ;org:B) F% e FB:9*BI*.O) A% KProcesso or0ament'rio e ,omportamento 2egislativo4

    emendas individuais e apoio ao *xecutivoL% Dados) Eol% $!) no% $) "##X%

    22A>OS) M ` >O2*) .% 3icameralism in the Americas4 Around the *xtremes of 

    SUmmetrU and Bncongruence% 1he 9ournal o* 5e)islative %tudies) vol% ) n% @) "##@) p% G$/!X%

    MAB>AIB>:) S% Sistemas Partid'rios4 o caso do 3rasil% Iio de +aneiro4 *d% F:E) "##1%

    MAbW*) .% I% Divided :e )overn4 partU control) laQmaZing) and investigations) 1$X/

    1#% >eQ Waven4 bale 9niversitU Press) 11%

    "G

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    P*SSA>WA) ,% O Poder *xecutivo e o Processo 2egislativo nas ,onstitui08es 3rasileiras4

    eoria e Pr'tica% Bn4 A Democracia e os 1r!s 2oderes no +rasil % Eianna) 2ui? ernecZ ;org%OS) F% 1eoria das decises le)islativas; os micro*undamentos do clientelismo político

    no +rasil % Iio de +aneiro4 Buperj) 1$% ;ese de doutorado em ,i7ncia Poltica