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A abertura do Ibirapuera, o fim do bonde, a inauguração do primeiro shopping. Muita coisa Aconteceu

Nos últimos 60 anos, e os moradores acompanharam tudo de perto. Eles contam o que viram e sentiram, e voltam aos lugares que os marcaram, numa espécie de

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u tinha menos de 3anos quando entreino Estádio do Pa-caembu pela primei-ra vez. Senti o chãotremer sob a turbu-lência da multidão.

Quis fugir, mas não pude. Pareide respirar, ouvi meu coraçãoaos golpes, fechei os olhos qua-se chorando, e me deixei levarpela mão que me puxava comforça. Um minuto depois, eu es-quecia completamente o medoe participava de uma das maio-res aventuras que a cidade jáviveu, a comemoração do 4.ºCentenário.”

A memória do evento, em 11de julho de 1954, foi tão intensa,que é assim, com flashes de ta-to, cor e som, que Domício Pa-checo e Silva, hoje advogado de64 anos, reconta a primeira me-mória de sua vida.

O anúncio publicado no dia 8de julho de 1954 no Estado jáadiantava que os próximostrês dias seriam históricos:“Tudo pronto para as festas dacidade em homenagem ao 4.ºCentenário”, que também ho-menagearia a Revolução de1932. No dia 9, uma esquadri-lha da Força Aérea despejaria30 milhões de triângulos de pa-pel prateado. No dia 10, festasinfantis em todos os bairros. E,no dia 11, o evento que ficariamarcado como a primeira me-mória de Pacheco: um grandecirco seria montado no Está-dio do Pacaembu.

Pacheco lembra bem dos tam-bores e trombetas que acompa-nharam os trapezistas e palha-ços. Mas ele conta que o pontoalto da festa foram os globos damorte, nos quais motociclistasexecutaram manobras “que dei-xaram todos sem respiração”.

Como recordação, guardoupor muitos anos os triângulosde papel prateado jogados dosaviões. “No jardim de infância enos primeiros anos do curso pri-

mário, eu e meus colegas de clas-se trocávamos figurinhas no re-creio e muitas vezes negociáva-mos as papeletas prateadas,muito valorizadas naquele nos-so comércio infantil.”

Mesmo com só 3 anos na épo-ca, a memória é forte. “Achoque a explicação é simples: qualé a criança pequena que não gos-ta de festas de aniversário? De-vo ter ficado em expectativa aoaguardar o grande aniversárioda cidade, que em seguida serevelou o maior, o mais espeta-cular e o mais festivo aniversá-rio que já presenciei em toda aminha vida.”

Além disso, há uma ligação es-pecial com o Pacaembu. Seuavô, de quem herdou o nome,foi o idealizador do estádio. Eleainda lembra de ouvir o outroDomício Pacheco e Silva con-tar: “De um estalo percebi queseria possível aproveitar o valepara servir de campo de espor-tes e a encosta das montanhaspara as arquibancadas. Evitariagrandes movimentações de ter-ra e dispensaria boa parte dascaríssimas estruturas de con-creto para as arquibancadas”,dizia o avô. “Ele não só acompa-nhou os levantamentos topo-gráficos como desenhou as cur-vas de nível e preparou, mesmonão sendo arquiteto, o projetopreliminar”, lembra o neto.

O presente do avô de Pache-co à cidade, inaugurado em1940, foi utilizado em finais decampeonato, jogos da Copa de1950, shows e até na visita dopapa Bento XVI, em 2007. Hoje,é sede do Museu do Futebol, su-cesso de público na cidade. Maso futuro é incerto. Desde 2005,uma liminar veta apresenta-ções musicais no local, a pedidodos moradores do bairro. E,com a inauguração da Arena Co-rinthians e do Allianz Parque,do Palmeiras, resta saber qualvai ser o uso que será dado parao Pacaembu. / DANIEL TRIELLI

DomícioPacheco eSilva. ‘Sentio chãotremer sob aturbulênciada multidão.Quis fugir’

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m uma manhã de 1992,o analista de sistemasAndré Zelenkovas, ho-je com 41 anos, estavaprestes a chegar ao Blo-co B do Instituto de Ma-temática e Estatística

(IME) da USP, para as aulas deCiência da Computação. Nementrou no prédio. Foi paradona porta por colegas, que avisa-ram de uma passeata na Aveni-da Paulista para exigir o impea-chment do presidente Fernan-do Collor. “Arrumamos uma ca-rona na Brasília de alguém ru-mo à Paulista.”

Zelenkovas conta que, naaglomeração de milhares de ma-nifestantes, foi “empurradopor uma senhora baixinha”,que fez com que ele perdesse oequilíbrio e pisasse no pé da mu-lher. “Só então me dei conta deque era a prefeita Luiza Erundi-na. Mal pude esboçar reação oupedir desculpas, veio um segu-rança de mais de 2 metros dealtura, uma verdadeira paredede músculos, e me enxotou dalicomo uma mosca. Fui parar naoutra pista da avenida”, conta.

Dias depois, Zelenkovas esta-va na aula de álgebra “desespe-rado para ficar acordado, bri-gando contra o efeito da feijoa-da do Crusp (Conjunto Residen-cial da USP)”, quando um alu-no entrou na sala e convocoutodos para um comício no Valedo Anhangabaú. “A professora,dona Marli, foi muito simpáti-ca: ‘Vocês estão aqui fazendo oquê? Vão defender o seu futu-ro!’”. Ele foi e, assim, participoude dois atos históricos da rede-mocratização do País. / D.T.

omeçou pe-queno, mascom barulho.Em 6 de junhode 2013, basta-ram cerca de

mil pessoas para fechar as Ave-nidas Paulista, 23 de Maio e 9 deJulho. Era o Movimento PasseLivre (MPL), que queria barrara alta da tarifa de ônibus, quepassava de R$ 3 para R$ 3,20.Alguns encapuzados, os blackblocs, depredavam lojas e incen-diavam sacos de lixo. A PolíciaMilitar respondeu com bombasde gás e balas de borracha.

Nos dias seguintes vierammais protestos. O número departicipantes aumentava, e aresposta da PM ficava mais in-tensa. Até que em 13 de junhohouve a repressão mais violen-ta, na Consolação. “Paulistanofica refém de bombas e tiros deborracha”, relatou o Estado.Nas redes sociais, apareciam re-latos de excessos dos policiais.

A violência da repressão foium dos motivos que levaram adesigner Mariana Eller, de 33anos, e o empresário EduardoSuga, de 46, na época namora-dos e hoje casados, a participardo ato marcado para o dia 17.Eles ainda não sabiam, mas par-ticipariam da maior manifesta-ção de junho de 2013.

Como muitos dos mais de50 mil manifestantes (segun-do a PM) que apareceram noLargo da Batata no dia 17, Ma-riana e Eduardo não estavamali para defender, necessaria-mente, o passe livre de ônibusou que a tarifa voltasse a R$ 3.“Meu anseio era por uma mu-dança na representatividade enão pela manutenção das tari-fas, ainda que considerasse is-so uma reivindicação justa”,diz Eduardo.

Mariana nunca tinha ido auma manifestação. Eduardo foia um comício pró-Lula em 1989,na Sé. “Me arrependo de ter par-

ticipado da campanha do PT,mas não das manifestações dejunho de 2013.”

No dia 17 de junho, Mariana eEduardo pegaram o metrô lota-do até a Estação Faria Lima. As-sim que saíram na rua, viramque o que acontecia naquele diaera diferente. “Percebemos queo protesto era muito maior doque as reivindicações do MPL”,

conta Eduardo. “Quando al-guém ameaçava quebrar algu-ma coisa, as pessoas ao redor de-saprovavam”, lembra Mariana.

No fim, a tarifa não aumen-tou em 2013 e ficou em R$ 3 até ocomeço deste ano, quando su-biu para R$ 3,50. Agora, o Movi-mento Passe Livre organiza no-vas manifestações.

O único ato que atraiu o casal

desde então foi o organizadoem prol da eleição de Aécio Ne-ves (PSDB) no segundo turnodo ano passado, na Avenida Pau-lista. Eles garantem que junhode 2013 valeu a pena. “Percebe-mos que, diante de uma mani-festação como essa, a classe po-lítica treme e a mudança podeacontecer”, completa Eduardo./ DANIEL TRIELLI

Mariana eEduardo.‘Nosso anseioera pormudança’

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