Sample Filhos do Vácuo: Cartas ao homem-Deus
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Sérgio Canarim
Sérgio CanarimFilhos do Vácuo
Filhos do VácuoCartas ao homem-Deus
Cartas ao hom
em-D
eus
SÉRGIO KROEFF CANARIM nasceu em 1980. Formou-se em Direi-to, porém procurava algo mais fundamental. Morou na Europa e escreveu muito lá, mas houve um acidente com as obras desse período. Ao final da aventura europeia escreveu os primeiros esboços do que viria a ser uma nova forma de pensar. No retor-no ao Brasil, cursou Filosofia e descobriu que todos os princí-pios fundamentais que buscam alicerçar o conhecimento são, na verdade, incertos. Baseiam-se na lógica do pensamento e não na realidade do mundo.
sentindo desse livro é abrir novas possibilida-
des de se pensar, de se construir a linguagem e até mesmo de se viver.
Quando a linguagem cruza com a poesia e a filosofia, explode e implode a si mesma.
A obra traz à tona pensa-mentos e escritos poético-filosóficos que vêm sendo desenvolvidos pelo autor nos últimos 15 anos. Nas cartas e poesias escolhidas existe a abertura seminal de uma nova filosofia, as quais levarão o leitor ao próximo livro.
www.facebook.com/SergioKCanarim
QUANDO SE DERRUBA MITOS O VÁCUO É O NOSSO CHÃO
ssim como na tradição de Heráclito, Epicuro, Nietzsche e Pessoa aqui nasce
uma nova poesia-metafísica ou será uma nova metafísica-poética?
O autor dialoga intensamente com os pen-sadores, dos pré-socráticos aos dias de hoje, parando principalmente diante de Nietzsche e Heidegger nesse novo arrombo tautológico.
O homem-Deus supera a si mesmo na lite-ratura de Sérgio Canarim.
© Sérgio Canarim 2015
Editor: Rafael Martins TrombettaRevisão/copydesk: Arthur Beltrão Telló
Capa: Editora BuquiImagens de capa: Shutterstock permissão Gustavo Lima
Ilustrações: Jana InaEditoração: Cristiano Marques
www.buqui.com.brwww.editorabuqui.com.br
www.autopubli.com.br
C221f
Canarim, Sérgio Filhos do vácuo / Sérgio Canarim
1. ed. | Porto Alegre, RS | Buqui, 2015. 128p. | 21 cm
ISBN 978-85-8338-170-9
1. Literatura brasileira. 2. Poesia. 3. Cartas. 4. Conto. I. Título.
15-20738 | CDD: 869.91 | CDU: 821.134.3(81)-1
06/03/15 | 09/03/15
CIP-Brasil, Catalogação na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
Agradecimento
Às Zazás da minha vida,
Maria José Kroeff Canarim e
Alexandra Letícia Zanela.
Agradeço ao Arthur B. Telló
pela lapidação árdua que fizemos nos textos.
Filhos do Vácuo | 9
Etapas da percepção
Passei pelo consumismo Matrix.
Parei no humanismo por um tempo de três primaveras
[na idade convencionada para os homens serem “livres”
[dentro dos limites da fazenda
– com feitores e capitães do mato a postos.
Tive a visão da Unidade:
só a liberdade vale a pena
rejeito qualquer doutrina que não seja a razão
não devemos nem um níquel a quem nos deu de comer
não devemos nem um segundo a ninguém
somos flechas rumo ao super-homem
cada vez mais longe, a distância amplia a visão
é assim na física e na metafísica.
Portanto, desordenadamente marchem!
10 | Sérgio Canarim Filhos do Vácuo | 11
Como se chega nela?
Transcendendo todas as coisas espaço tempo
tudo que pode ser universo
tudo que pode ser dimensão a não-existência
E aí olha-se para trás.......ela estará lá
A própria beleza a própria abonança geral de todas as coisas
que trasbordam em si mesmas
Quem são os nós-deuses?
A vida inteligente no futuro mais longínquo
que se pôde vislumbrar se ela futuro possuir
cujo cérebro é o ponto que é tudo e vê tudo e pode tudo
e sabe tudo e interage com tudo
ao mesmo tempo todo real e virtual
que não pode ser vislumbrado por nós
o todo além de regras-limites-fraquezas,
a-própria-intensidade-pura-concreta-palpável,
a-própria-luz-geral-de-todas-as-coisas,
a-própria-escuridão-geral-de-todas-não-coisas
A verdade geral de todas as coisas
Eu a vislumbrei num estado de vácuo além do espaço tempo
Só nós dois...
Ela ia vinha girava em todas as direções e depois se fechava
mas eu não a vi fechar
Nem ninguém verá antes do futuro longínquo
onde ela se fecha
Só os nós-deuses verão onisciente onipresente onipotente
todas as cores
mas eu a vi branco-cinza que fosforesce
Tudo isso significa que eu concretizei
o super-homem de Nietzsche
O que para ele era o abstrato para mim é o concreto
O caminho ficou claro
Ela é além dos métodos
Dialética não a explica
Dialética é só o começo
São todas as direções
É a semântica que não foi inventada
além de qualquer alphaville
Quais os instrumentos para vislumbrá-la?
Intuição sentimento razão
A união de todas as coisas
dos nossos pobres e primitivos cérebros
Filhos do Vácuo | 1312 | Sérgio Canarim
Visão
Eu também tive a visão do trabalho novo de Rimbaud
com os sentidos encrapulados.
O super-homem coordenando o circo bizarro
ao fundo a música (dor prazerosa).
A consagração do prazer e repúdio do sofrimento gratuito.
O vento e seus filhos passando sem parar
tirando tudo do lugar
no eterno movimento das ideias novas.
A união mundial do fim das pátrias
e só a unidade mantendo as diversidades
que compõem a realidade
O macro O fora e O dentro do circo.
Uma inexorável mutação de aceitação rápida
levando aos picos dos picos onde o ar é gelado e rarefeito.
Mas os sentidos voltam do desconhecido
e a visão se dissipa como deve ser.
Cheguei, caro Aldous
Eu já cheguei em um lugar alto na colina
e profundo na fossa gigantesca da imaginação.
Agora posso tudo!
Percorrer todos os cantos da minha amada e odiada Matrix.
Mijar tomar o veneno de cada dia como uma gota de sangue
no dente do mitológico vampiro do eterno retorno.
É o estado: the Doors of Perception are open.
As portas estão abertas e sendo analisadas pela razão.
Just suck my integrity and you will see the truth,
the little truth,
never the old ugly truth.
Sou maculadamente chapado pela natureza
me fizeram já assim vivendo no ar insólito dos voos loucos
pela tal realidade possível de ser vista.
Tanto faz
é minha doutrina de desacreditar um sentido para existência.
14 | Sérgio Canarim Filhos do Vácuo | 15
A guerra do ser
As covardias são mães do fracasso
da infelicidade
da falta de prazer
da alienação
do sofrimento
da dor.
A consciência das bobagens feitas condena o soldado ao
perecimento moral.
Por isso a luta interior é a guerra eterna onde dificilmente há
vencedores
são muitas batalhas muitos mortos muitas mutilações.
Ao futuro pertence o remoer de derrotas em átimos
ora na melancolia da insônia,
ora nas ocasiões mais impróprias.
O que torna a vida dificilmente interessante
nos eternos movimentos de estratégias sutis ou complicadas
de dor lancinante.
Mesmo que haja tréguas o soldado sofre por suas memórias de
guerra.
E o que fazer? Não lutar?
A pior covardia é acovardar-se diante da guerra contra a
covardia.
A utopia das utopias
A verdade nos tornará livres Mas ela virá?
Uma carga gigantesca de fogo Aguentaremos?
Uma teia de eterna direções Compreenderemos?
Uma punhalada de veneno Sobreviveremos?
O quase paraíso Quereremos?
16 | Sérgio Canarim Filhos do Vácuo | 17
O Samadhi da pele contra pele
A pele nua toca a pele nua
num instante a mente muda
os olhos fecham
arco-íris moldam na mente formas elípticas,
geometria encantada,
porque os acordes rasgam o peito
as sinapses entram em colapso
toda a matéria escura brilha
todo o rosto esvaece num devaneio febril.
Joga-se a vida nas cartas do presente
que é um futuro quebrado a cada instante
passado.
Rever os rostos antigos transformados pelo tempo
a chaga imortal de cada ego
resvalando na relva
e tornando-se ar areia úmida selvagens leopardos.
Montanhas de espíritos nos trouxeram até aqui
Daqui pra onde vamos?
Suportamos, somos eternamente a mutação do mesmo
porque as partes não formam o todo nesse rosto antigo.
Acreditar que a unidade supera as partes;
nosso novo evangelho é o caos.
As moedas eram de ouro
agora são conjuntos binários de zero e um.
Infinitas combinações de dois dígitos.
Nesse mar elétrico eu brilhando quando eu penso em eu.
Soluços e gargalhadas lágrimas entrecortadas.
A serpentina serpenteia espirais sem nunca tocar o palpável.
Venham todos de um só trago,
a montanha de espíritos para ser o hoje,
muito sangue, muitos estandartes,
muitos evangelhos foram construídos
como no jogo de lego
e desmontados pelo o que veio a ser o vir a ser.
Encantados, relembramos que deus era o fogo, o sol,
a água e agora nem mesmo abstrato,
o ser vem do nada e não existem mais deuses,
só o choro de crianças esperançosas,
sonhando com um homem pós-orgânico,
pós-fraquezas, pós-medo do escuro.
Pós-necessidade de crenças pós-escrita pós-amor pós-apego.
E os soldadinhos finalmente largarão a bandeira
que os move inexoravelmente para o abismo.
Ou, lá sem sentir, pois não ser é não sentir também,
já estão sem dor sem prazer sem nada
ser nada já é alguma coisa.
18 | Sérgio Canarim Filhos do Vácuo | 19
Verdade
Nietzsche,
quando pude refutá-lo
tive uma luz de ida até
o meu fim atual:
A verdade é finita.
Ao longo da história descobrem-se novos caminhos
tudo vai volta gira em todas as direções
mas ao final se fecha.
Só que o homem é mais finito.
Portanto, duvido de nós.
Não existiremos o suficiente
para conhecer toda essa teia.
Um espírito elevado de um espaço-tempo
é o somatório dos espíritos elevados que vieram antes.
Mas não vai dar tempo.
A verdade é finita, porém infinitamente gigantesca.
Construção
O passado já foi destruído.
As tábuas antigas serviram de armas
contra o Deus que insiste em viver.
O presente é destruído a cada instante.
Quero dar apenas o golpe de misericórdia.
Quebrar os restos do instante que passou.
Destruir, mas com esmero dos engenheiros mais lógicos,
calculistas de um capitalismo que exige
cada vez mais
pessoas-engrenagens-azeitadas
Manter a estrutura,
Como sempre,
os cálculos básicos estão corretos.
Senão o que passou não teria existido,
muito menos o que se passa.
Mas minha arquitetura não é esta que substitui o presente.
Minha arquitetura constrói o futuro longínquo.
O futuro das grandes
aventuras-racionais-sensorias-de-intensidade.
20 | Sérgio Canarim Filhos do Vácuo | 21
Edgar Allan Poe
Havia algo nebuloso
Havia um enigma não resolvido
Um paradoxo:
Unidade versus Profundidade
Sabe quando uma informação derruba um muro?
Foi assim...
Poe pôs mais um muro
para minha visão da unidade
abaixo!
A verdade... Todas as minhas reflexões são baseadas na
distância e no contexto global (totalidade); por isso enxergo
com clareza.
Quando me referia à profundidade, não significava se ater
a detalhes, escolher um pequeno objeto e ir até o fundo
do poço. Isso é trabalho para cientistas e, mesmo assim,
nem eles devem se manter ligados nos detalhezinhos da
renda vermelha do papai Noel, e sim sempre unificar os
conhecimentos existentes para encaminhar seus estudos,
à distância deles, é bem verdade, é o espaço que separa os
pintores orientais de grandes planos do objeto a ser retratado
− um palmo.
Os amantes da verdade, da unidade devem ver o mundo como
um todo sempre. Formar sua argumentação visando toda
a paisagem. Caminhar até um ponto no espaço infinito e
olhar para trás; tudo ficará claro.
Sendo assim, talvez o erro dos conservadores não seja
exatamente superficialidade, mas especificações, examinar
um argumento sem perceber tudo que o cerca: O
Universo, seus lançamentos de dados, sua bizarra, incrível,
aparentemente infinita matéria.
Quando se está longe, percebe-se por que a verdade é
gigantesca. Ela vai, volta, gira em todas as direções e depois
se fecha, pois tem que interligar tudo, toda a gigantesca
absurda paisagem da existência.
Então, a distância é uma espécie de metafísica, pressuposto
para qualquer conhecimento, principalmente filosófico.
OBS: mas como não tenho certeza sobre a necessidade da
metafísica, e minha ideia pode estar errada ou incompleta,
talvez esse pressuposto possa ser quebrado em algumas
hipóteses, principalmente científicas.
Filhos do Vácuo | 2322 | Sérgio Canarim
Verdade
A lógica pode tanto
fazer o caminho para verdade
quanto pode fazer qualquer caminho.
Os caminhos falsos
não duram
para sempre.
Só até que surja um criador com a vontade de potência gerada
por uma ideia nova,
que levará a outro caminho
errado ou
incompleto.
Ou se juntará com as ideias que se acumulam juntas no final
da verdade,
esperando o um ou uns,
tradutores e unificadores derradeiros.
Serão os pós-androides?
A montanha mágica
Os espíritos superiores ao concretizarem suas almas em obras,
tornam-se montanhas. E convidam-me a escalar-lhes os
corpos, suavemente dão suas mãos criadoras como apoio.
Subo, quero mais. Quero usar esses meus amigos mortos
para ultrapassá-los. Quero subir sobre seus ombros e saltar
para o voo infinito.
Voar
voar
voar
Depois construir uma casa sobre o topo de todas as
montanhas reunidas. Até que um amigo
que ainda não vive , meu amigo do amanhã,
construirá um arranha- céu sobre minha casa.
24 | Sérgio Canarim Filhos do Vácuo | 25
História
Talvez seja apenas linear
mas a história humana não.
Essa é ciclicamente linear
1. Na pré-história o sexo era livre
2. Na passagem para a história repressão em prol da
civilização.
3. Agora, o sexo volta a ser livre
Evolução cíclica
1. Atitude livre e instintiva
2. Atitude cerceada por necessidade
3. Atitude livre e pensada
História (II)
Profecia de um futuro longínquo:
1. Criamos Deus
2. Matamos Deus
3. Somos Deus
É o ciclo
1. Deus existe − nas nossas cabeças
2. Deus não existe − atualmente
3. Deus existe − nos transformamos nele
1. Ideia mítica
2. Ideia racional
3. Ideia racional concretizada cientificamente1
1 Historia e História (II) se complementam independente da ordem
26 | Sérgio Canarim Filhos do Vácuo | 27
Chamada ao futuro
Cidadãos do universo
Espíritos livres
Libertadores
Criadores
Amorais na análise
Cumes da existência
EM FRENTE, MARCHEM!
A intensidade
A doação ao Universo
Deixar-se levar até os confins das trevas
A dor e o prazer
A paixão
O encrapulamento sensorial
Tem que ir até o fim
Só até o fim
Só lá
A verdade mostra seu caminho
Abre-se como uma mulher irracionalmente apaixonada
Tudo fica claro mas indizível
É tanta luz que fico tonto
Tonto extasiado apaixonado por ela
A existência...
Estressado exausto é ela
A intensidade que consome a vida
Mas a vida é feita para ela
e ela é feita para vida
É o sentido consumir tudo
As células até a última gota de DNA
Finalmente saber alguma coisa
e exausto das eternas viagens
morrer satisfeito em paz.
28 | Sérgio Canarim Filhos do Vácuo | 29
... Atrevesse?
e se eu dissesse que não existe infinito
que eu sou o Universo e de mim ele prescinde
que eu sou um grão dos Universos bebês
e que haverá uma teoria única
(a união de todas as teorias)
que é todas e contradiz todas numa dialética alucinada
mas não se assustem a verdade é assim mesmo...
ela de tão complexa é quase caótica
ela de tão caótica só pode ser gigantesca
para um leigo, a paixão pela busca
essa fera cheia de tentáculos
simplesmente não existe
ou não pode ser alcançada
e se eu dissesse que no futuro teremos tudo
ou não existiremos,
e a sorte quântica terá sido jogada por água a baixo
[por meras crianças doutrinadas pelo medo
e se eu ainda dissesse que jamais,
nesse devaneio de futuro longínquo,
[precisaremos mover um dedo
Que seremos literalmente donos do espaço infinito que é finito
mas tudo bem...
alguém há de me dizer:
“porque perdes tempo buscando o que será superado?”
e eu logo direi:
“porque é divertido e me faz poder tudo!”
ou, para ser humanista, eu cuspirei:
“todos que puderem pôr um grão de areia
[nesta bendita verdade, a verdade bendita,
[serão bem vindos, pois o tempo é curto!?!”
30 | Sérgio Canarim Filhos do Vácuo | 31
Ouvindo beethoven com a testa na escrivaninha
e chorando por dentro
por motivos que não quero expressar
ou sou fraco demais pra expressar
ao mesmo tempo tenho boas novas!
Os antigos discípulos vêm na marcha desgovernada de sangue
[escorrendo na boca por um lugar mais alto do que o sol
Eu devia estar feliz
mas não estou
Eles me perseguem por motivos incompletos e errados
enquanto me preocupo com fraquezas mundanas de dois dias
de dor
pierre boulet que mal conheço continua me assombrando
como quem não olha direito pra coisa nova da esquina
[do estado vizinho
A gramática é necessariamente quebrada
Não é aqui no verso anarquicamente &
simetricamente
assimétrico
& livre
que hei de expressar minha filosofia
Só meus sonhos visionários de um futuro possível e impossível
Horas de quebras morais
Sentidos do que é bom
A falta de uma explicação perfeita me absolve na poesia?
Não sei mas quem se importa
O vento me espera para rompê-lo num voo até a não-existência
Enquanto vivo fugindo desse voo
encontro tempo pra filosofar
[mas não pra registrar de modo preciso a minha filosofia
32 | Sérgio Canarim Filhos do Vácuo | 33
Evolution Baby
Curvas quânticas
Pré-existência
Big bang
Oi planeta bizarro da essência
Viva os homos
Carnificina
– Brincadeira
Sapiens sapiens
– Extermínio
E o homem criou Deus
– Civilização
E o homem matou Deus
– Mas ele é Fênix renasce das cinzas
Evolução
Carnificina
Filosofia
Psicodelia
Brincadeira
Arte
– Sonhos
Deus permanece morto-vivo
Guerra dos sexos
Sexo livre
Camisa de vênus
Caos carnificina Deus psicodelia
Vitória dos bêbados
Vida longa
Comida à vontade
Desnutrição
Guerra guerrilha paz e amor
Doors
Tecno
Extasy
Workaholic
Vagabundos da nova geração
In out
Velhos de sobra
Jovens mesquinhos e loucos de vontades
Jovens idealistas e loucos de vontades
Álcool
Álcool
Álcool
U.S.A polícia terrena
Emergentes
Mari Juana
Mescalina
Dostoievski
Trotsky
Homero
Chico Cience Buarque da Rosa
34 | Sérgio Canarim Filhos do Vácuo | 35
Amazônia em chamas!
Festa na floresta
Queimam na fogueira desvairada as verdades simples
Dança incandescente de luz e calor
lembrando as visões dos antípodas da mente
Queimam os animaizinhos indefesos
Quem se importa!
Queimaremos tudo se for necessário!
Acabaremos com a beleza natural do mundo!
A nossa sobrevivência é nossa única opção
Mas nossa sede por beleza poderá poupar a natureza?
E se não pudermos poupar a estética aleatória?
Não se preocupem faremos obras faraônicas
e assim aliviaremos a secura dos olhos humanos
e quem sabe não-humanos.
Tive prazer ontem, um prazer necessário
Proporcionei um prazer superfluamente necessário
Aliviei minha culpa, que não é minha culpa
Fui feliz, ó fui, melancolicamente, hipocritamente
Acreditem ou não
Ninguém virá nos salvar
Os filósofos os profetas ninguém
Abriram aumentam e aumentarão as trilhas
O caminho é infinito
36 | Sérgio Canarim Filhos do Vácuo | 37
Volto na tarefa cotidiana do meu vício de nicotina à janela
de meu quarto. A paisagem estática do meu jardim não
me diz quase nunca muita coisa. Ao contrário, o céu e Ca-
mus me inspiram, o primeiro na sua estática e o segundo
na sua filosofia.
O céu neste fim de tarde de outono está livre de nuvens.
Sobre minha cabeça, o céu é turquesa e vai mudando seu
matiz à medida que se aproxima do horizonte, tornado-se
cada vez mais claro até assumir um branco acinzentado.
Camus, por outro lado, me relembra o total absurdo de viver,
a indiferença inexorável do mundo, a falta de sentido
original e, finalmente, a mais sombria das questões, o
único medo verdadeiramente terrível e invencível: a
finitude que nos espreita para um dia marcado sem volta.
Mas há muito tempo conheço tais questões, e também há
muito tempo dei-me o prazer e o luxo de elaborar um
sentido para minha existência. Não contente com isso,
ainda me permiti elaborar um sentido para a existência de
toda humanidade.
Os dois sentidos se ligam como tudo o mais se analisado com
a medida distância.
O sentido da vida pessoal só pode ser viver ao máximo
possível, buscar a intensidade. A mim busco no
pensamento e na vida prática. Sinto muito dos dois
modos, assim como também reflito igualmente.
Porém, ao contrário de outros pensadores racionais, os
que têm coragem para não crer em certezas falsas como
outra vida depois desta ou na existência de Deus para
nos salvar; ou dos demais que não aguentam a incerteza
de viver e se apegam a dogmas por medo do mistério e
do fim, eu descobri uma esperança para nós, racional
e possível, embora, como deve ser, sem certezas de seu
sucesso.
Este é o meu sentido para a humanidade como um todo:
uma chance para nos salvarmos através de nós mesmos
nesta vida, e não em sonhos de mitologias perdidas,
chama-se a busca pelo conhecimento nas suas últimas
consequências. Isto é, objetivar e dominar toda a verdade.
Eu sei, o quanto a qualquer consumidor da livre razão parece
ingênuo julgar possível conhecer toda verdade. Mas eu
conto com as novas descobertas. No ponto histórico
no qual nos encontramos, esta possibilidade surge no
horizonte, como que quebrando o necessário encontro
entre o céu e a terra onde enxergamos o fim da ilusão de
ótica. Então, encarar a limitação do homem atual como a
limitação do conhecimento possível é como crer na ilusão
onde o céu encontra a terra. É o que vemos, mas quem
disse que vemos tudo?
Quem disse que não podemos usar toda nossa capacidade
para chegar aos nossos limites e criarmos os seres que irão
além de nós?
Se nós não podemos chegar a todas as respostas de todas
as perguntas, isso não significa duas coisas: a primeira,
pelo fato de não sermos capazes de conhecer a verdade de
todas as coisas, não significa, absolutamente, que ela não
exista; segunda, não importa também, na impossibilidade
de seres mais avançados genética e ciberneticamente, os
Filhos do Vácuo | 3938 | Sérgio Canarim
quais podem ser criados pelos nossos conhecimentos se
não pararmos de buscar, de serem eles capazes de chegar
ao conhecimento absoluto.
Ou seja, podemos, indo ao nosso máximo, criar nossos
sucessores, e estes, por sua vez, chegando ao seu limite,
poderão criar seus sucessores, e assim sucessivamente, até
o dia da compreensão e do domínio total do universo e
do que houver além dele. Isso, cabe sempre ressaltar, não é
um dogma, pois não é uma certeza e sim uma chance.
Mas, se a única certeza é que só podemos contar com esta
vida, então vale a pena tentar dominar a verdade para
dominar esta vida.
Se através dos tempos se chegar a esse fim, tudo será possível:
poderemos dominar as leis do universo e não mais nos
sujeitarmos a elas. O que resolve o nosso maior dilema: o
fim da vida. Uma vez dominado todos os segredos, tudo
pode ser feito. A imortalidade, a ressurreição se tornam
alternativas racionais e possíveis.
Então, o que nós intermediários dessa chance de salvação
poderemos fazer para ajudar a meta?
Simplesmente buscarmos os nossos limites.
O absoluto, diz Hegel, “só no final será o que ele é na
realidade”.
O pior da loucura
Os fantasmas não existem
O sexo nos comanda
Maldita natureza nos prega peças
A vida acaba
NIETZSCHE teve alguma razão
40 | Sérgio Canarim Filhos do Vácuo | 41
A janela pro mundo
Estava na janela de meu quarto e de repente olhei a
imensidão da cidade, o horizonte do céu.
Percebi que existia e que ia existir por muito tempo! Na
verdade, não o percebi como se fosse a primeira vez,
já que há muito iniciei meus questionamentos sobre a
realidade e a verdade. Mas eu senti naquele instante a
existência se concretizando no meu pensamento.
Que o mundo estava aí imenso para mim e que eu iria
concretizar minhas obras e que iria aumentar minha
transcendência e veria mais claramente meus vislumbres!
Então, um arrepio percorreu todo meu corpo, e uma
felicidade invadiu minha essência meu cérebro meu ser.
E foi efêmera como um instante, é assim que eu sinto
o mundo, é assim que acontece o meu estar-aí, num
turbilhão de sensações que variam a todo instante de
sentido e intensidade. Estranho é que um sentimento que
significa o inverso, o antípoda ao movimento que um
turbilhão representa – o tédio – também ocorra de eu o
sentir!
Mas eu já encarei a finitude de frente, já admiti a não
existência como o fim inevitável que não pode ser
descartado.
Depois disso, não existem mais questões que não se possa
tentar resolver.
Quando se parte da premissa de que se pode não existir
algum dia, a coragem invade os pulmões como se as
fraquezas fossem questões temporais.
A liberdade escorre pela boca e não há mais volta, não há
como esquecer.
Quando se inicia o livre pensamento, toma-se a pílula
da visão da Matrix de fora, a caverna fica lá atrás com
suas sombras, o circo toma forma, a visão do todo fica
clara, mas não dizível, mas não compreensível, mas não
totalmente explicável. O que importa é que ela está lá e
não há nada que se possa fazer para impedir a unidade de
todas as coisas.
Sempre à frente, mesmo que humanamente limitado, sempre
à frente!
42 | Sérgio Canarim Filhos do Vácuo | 43
O amor [second revolution of the mind (segunda revolução da
consciência)]
primeiro nível de transcendÊNCIA
AHHHHHHHHHHHHHHHHHH ........................................
...............................................................................................
...............................................................................................
..............................................................................................
Asçldka~dlçkas~dlçaskdãsklçdas~dlçkasdõçEIR[OPIER-
PWOERICM[]WE´RIOQW]E´R
ERDWERWEFRWERFWERWER
WER
WER
SDFSADGASDFG
Está descoberto!!!!!!!!!!!!!
Ficou claro de uma maneira espantosa
neste momento em que escrevo
Pode-se amar um número ilimitado de pessoas
ao mesmo tempo!!!!!!!!!
Pode-se ver quem se ama amando
um número ilimitado de pessoas
ao mesmo tempo
Sem ciúmes
Só sendo feliz pelo amor que faz flutuar
e que faz quem tu amas flutuar
mesmo quando estamos a amar outras pessoas.
O amor no sentido mais pleno de todos,
além de Jesus, compreendem isso!?
Além de Jesus!
Eu disse além de Jesus!!
Eu disse além do que já foi dito sobre o amor!!!
Eu disse além!
Eu disse além!
Eu disse além!
Eu disse além
Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
hhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhh
hhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
hhhhhhhhhhh.......................................................................
...............................................................................................
...............................................................................................
...............................................................................................
............................................................................................
Estou fraco.........
Transbordando deste amor por um instante
Second Moment of the second revolution of the mind (segundo
momento da segunda revolução da coNSCiência)
Já sóbrio daquele momento do amor absoluto, volto a escrever....
No futuro longínquo as pessoas poderão já nascer para amar
a todos assim como descrevi:
este amor completo (em todas suas formas, em todo seu
desapego) poderá vir impresso nos seres.
44 | Sérgio Canarim Filhos do Vácuo | 45
A janela para a academia e
correção à poesia de Macintyre
Novamente, na mesma janela de meu quarto, súbito me veio
a certeza de que posso comprovar minhas teses diante da
inquisição da banca.
Partindo desta ideia, meu coração partiu acelerado para
batidas fortes e rápidas. Um arrepio percorreu o meu ser a
respiração tornou-se ofegante meus olhos encharcarem-se
embotados de cimento e lágrimas.
Enquanto lia minha tese, as últimas peças do quebra-cabeça
encontraram repouso no fechamento da figura que
presumia já estar completa, agora me sinto seguro e cheio
de potência e medo.
Descobri, também, que na minha última incursão poética
houve um pequeno erro quando afirmei que meus
vislumbres do futuro longínquo não me chegaram
pela linguagem. O que quis dizer, na verdade, é que
não partiam da tradição, pelo menos não diretamente
da tradição, ou seja, a história acumulada no mundo
serviu de comprovação, ou melhor, vem servindo de
comprovação, vem enchendo de sentido minhas ideias,
mas elas não existiam completamente fora de mim,
ou, como disse na outra poesia, não me chegaram
integralmente pela linguagem. É claro que as formulei
com a linguagem, apesar de haver pontos em que a
linguagem atual não consegue explicar os seus jogos de
sentido, e, assim, eu também não consigo explicá-los além
da minha intuição criativa.
Estou prestes a defender minha primeira tese filosófica. Não é
o fim do caminho, mas a primeira entrada acadêmica para
além do senso comum. Agora nada poderá me deter
o voo transcende
o espaço-tempo
o céu não é o limite!
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Eu sou um maldito metafísico
que gosta, além de buscar o Absoluto,
de percorrer todos os cantinhos do pensamento.
Tornando, assim, a coisa mais interessante!
Sempre adiante numa busca interminável dos limites do Ser
A mente vive numa sinapse sem limite, onde algo,
que não posso expressar plenamente pela linguagem, acontece.
Chamarei esse algo de turbilhão por problemas linguísticos
O que posso dizer... quando se vive assim,
nada é importante,
nada é realmente importante
apenas a finitude vez que outra bate a minha porta
com seus dentes ferozes de noite, de nada.
Aí, a(o) maldita(o) costuma assustar-me por algum tempo.
Aos que vivem percorrendo o abismo do Ser e não Ser,
de tudo e de cada coisa,
as desgraças são questões temporais.
E a única verdadeira desgraça definitiva é:
a morte ou o fim da consciência.
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Sérgio Canarim
Sérgio CanarimFilhos do Vácuo
Filhos do VácuoCartas ao homem-Deus
Cartas ao hom
em-D
eus
SÉRGIO KROEFF CANARIM nasceu em 1980. Formou-se em Direi-to, porém procurava algo mais fundamental. Morou na Europa e escreveu muito lá, mas houve um acidente com as obras desse período. Ao final da aventura europeia escreveu os primeiros esboços do que viria a ser uma nova forma de pensar. No retor-no ao Brasil, cursou Filosofia e descobriu que todos os princí-pios fundamentais que buscam alicerçar o conhecimento são, na verdade, incertos. Baseiam-se na lógica do pensamento e não na realidade do mundo.
sentindo desse livro é abrir novas possibilida-
des de se pensar, de se construir a linguagem e até mesmo de se viver.
Quando a linguagem cruza com a poesia e a filosofia, explode e implode a si mesma.
A obra traz à tona pensa-mentos e escritos poético-filosóficos que vêm sendo desenvolvidos pelo autor nos últimos 15 anos. Nas cartas e poesias escolhidas existe a abertura seminal de uma nova filosofia, as quais levarão o leitor ao próximo livro.
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QUANDO SE DERRUBA MITOS O VÁCUO É O NOSSO CHÃO
ssim como na tradição de Heráclito, Epicuro, Nietzsche e Pessoa aqui nasce
uma nova poesia-metafísica ou será uma nova metafísica-poética?
O autor dialoga intensamente com os pen-sadores, dos pré-socráticos aos dias de hoje, parando principalmente diante de Nietzsche e Heidegger nesse novo arrombo tautológico.
O homem-Deus supera a si mesmo na lite-ratura de Sérgio Canarim.