RISCO MECÂNICO - CONCEITO

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CONCEITO São de sete ordens os grupos de energias produtoras do dano: mecânica, física, química, físico-química, bioquímica, biodinâmica e mista. ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA São as energias que, atuando mecanicamente sobre o corpo, modificam, completa ou parcialmente, o seu estado de repouso ou de movimento. São agentes de energias: 1) armas naturais- mãos, pés, cotovelos, joelhos, cabeça, dentes, unhas; 2) armas propriamente ditas- armas de fogo, punhal, soco-inglês, cassetete, pejeuzeira, peixeira, tacape, bordura; 3) armas eventuais- navalha, lâminas de barbear, canivete, faca, barra de ferro, balaústre, bengala, tijolo, foice, facão-de-mato, podão; 4) maquinismos ou peças de máquinas; 5) animais- cão, gato, leão, macaco, onça, lobo, tigre-de-bengala; 6) meios diversos- quedas, explosões, precipitações. As energias de ordem mecânica atuam por pressão, percussão, tração, compressão, torção, sucção, explosão, contrachoque, deslizamento e distensão. As lesões internas ou externas podem ser produzidas pelas energias mecânicas de forma ativa, em que o agente vulnerante, possuído de força viva, ou “força de choque”, cujo efeito é proporcional a seu peso e velocidade, projeta-se contra o corpo que está parado; passivamente, quando o corpo em movimento é lançado contra o agens vulnerans, que está sem movimento aparente; ou mista, quando o corpo e o instrumento, ambos em movimento, ambos em movimento, chocam-se mutualmente. CLASSIFICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS MECÂNICOS Segundo o contato, o modo de ação e as características que imprimem às lesões, classificam-se os instrumentos mecânicos em: cortantes, contundentes, perfurantes, perfurocortantes, cortocontundentes e perfurocontudentes. Destarte, eles produzem, respectivamente, feridas, incisas, contusas (e contusões), punctórias, perfuroincisas, cortocontusas e perfurocontusas.

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CONCEITO

São de sete ordens os grupos de energias produtoras do dano: mecânica, física, química, físico-química, bioquímica, biodinâmica e mista.

ENERGIAS DE ORDEM MECÂNICA

São as energias que, atuando mecanicamente sobre o corpo, modificam, completa ou parcialmente, o seu estado de repouso ou de movimento.

São agentes de energias:

1) armas naturais- mãos, pés, cotovelos, joelhos, cabeça, dentes, unhas;2) armas propriamente ditas- armas de fogo, punhal, soco-inglês, cassetete, pejeuzeira, peixeira, tacape, bordura;3) armas eventuais- navalha, lâminas de barbear, canivete, faca, barra de ferro, balaústre, bengala, tijolo, foice, facão-de-mato, podão;4) maquinismos ou peças de máquinas;5) animais- cão, gato, leão, macaco, onça, lobo, tigre-de-bengala;6) meios diversos- quedas, explosões, precipitações.

As energias de ordem mecânica atuam por pressão, percussão, tração, compressão, torção, sucção, explosão, contrachoque, deslizamento e distensão.

As lesões internas ou externas podem ser produzidas pelas energias mecânicas de forma ativa, em que o agente vulnerante, possuído de força viva, ou “força de choque”, cujo efeito é proporcional a seu peso e velocidade, projeta-se contra o corpo que está parado; passivamente, quando o corpo em movimento é lançado contra o agens vulnerans, que está sem movimento aparente; ou mista, quando o corpo e o instrumento, ambos em movimento, ambos em movimento, chocam-se mutualmente.

CLASSIFICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS MECÂNICOS

Segundo o contato, o modo de ação e as características que imprimem às lesões, classificam-se os instrumentos mecânicos em: cortantes, contundentes, perfurantes, perfurocortantes, cortocontundentes e perfurocontudentes. Destarte, eles produzem, respectivamente, feridas, incisas, contusas (e contusões), punctórias, perfuroincisas, cortocontusas e perfurocontusas.

Não existem instrumentos dilacerantes, contusodilacerantes, perfurodilacerantes, cortodilacerantes; dessa forma, não há de falar o perito em feridas dilacerantes, contusodilacerantes, perfurodilacerantes, cortodilacerantes, teoricamente produzidas por esses inexistentes instrumentos.

Desse modo, ferimento lacerocontuso nada mais é que solução de continuidade em meio a uma ação contundente, ou seja, ferida contusa.

INSTRUMENTOS CORTANTES

São os que, agindo por um gume afiado, por pressão e deslizamento, linear ou obliquamente sobre a pele e os órgãos, produzem soluções de continuidade

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chamadas feridas incisas.

Não existem feridas cortantes; cortantes são os instrumentos que as produzem.

A despeito de impropriedade semântica, reserva-se na prática o nome incisão ou abscisão à ferida provocada por médico em ato operatório.

Os instrumentos cortantes não serão confundidos com os instrumentos cortocontundentes, como a foice, o machado, o podão, o espadagão, a roda de trem, que agem mais pelo peso e pala força com que são empregados do que pelo gume.

A aplicação perpendicular à superfície corporal de instrumento cortante, de gume afiado, produz lesão incisa linear, salvo quando compromete pregas cutâneas, in exemplis, o cotovelo, o pulso, em que resultará lesão em ziguezague. Uma das margens será em biesel, a outra formando retalho agudo, se a incidênciado instrumentum se fizer obliquamente.

Pouco profundas, habitualmente as feridas incisas não penetram as grandes cavidades torácica e abdominal. No tórax, amiúde, os ossos detêm a marcha do instrumento. Pode ocorrer lesão das grandes articulações. No abdôme, o emprego de instrumento cortante, como a navalha, notadamente em indivíduos magros, com intensa força agressora, pode ocasionar evisceração.

Caracterizam feridas incisas:

1) Margem nítidas e regulares, quanto mais afiado seja o corte do instrumento utilizado.2) Ausência de lacínia de tecidos no fundo da lesão, explicada pelo afiamento do instrumento.3) Ausência de contusão em torno da lesão, porque o gume se limita a seccionar os tecidos, sem mortificá-los.4) Predomínio sobre a largura e a profundidade, que se mostra sempre mais acentuada na parte média da ferida.5) Extremidade distal habitualmente mais superficial que a extremidade proximal e em forma de cauda de escoriação. A cauda de escoriação ou cauda de saída é produzida na epiderme no instante que precede a ação final do instrumento sobre a pele. Desse modo, é a cauda de escoriação observada na extremidade distal do ferimento inciso, onde o instrumento cortante foi afastado do corpo. Tem importância para indicar a causa jurídica de morte e a postura adotada pelo agressor. Importa saber que a cauda de escoriação pode faltar.6) Vistas, teoricamente, em corte perpendicular, teriam aspecto angular em V, de abertura externa, se o instrumento cortante agiu linearmente.7) Hemorragia geralmente abundante, consoante o grau de vascularização da região anatômica lesada.8) Secção perpendicular às linhas de força da pele e dos órgãos determina pronunciado afastamento das margens da ferida incisa.

Interessa ao cirurgião e ao legista conhecer a ordem de sucessão de duas lesões que se entrecruzam ou coincidem em alguns pontos, o que se faz pela coaptação dos bordos da ferida incisa que se presume ter sido produzida por primeiro. Supondo ocorra coaptação concomitante dos bordos da outra lesão- embora com

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uma interrupção ao atingir a anterior- , o fato indicará que ela foi provocada posteriormente, quando a primeira estava de margens abertas.

Nas melanodermas, as feridas incisas e as incisões tendem a proliferar exuberante e a constituir quelóide.

Os ferimentos incisos, com perda de substâncias, em certas regiões do corpo, como orelha, o nariz, as mamas e o pênis, amiúde geram lesões deformantes, indicativas da intenção do agressor de estigmatizar (animus deformandi) de modo permanente o ofendido.

LESÕES PRODUZIDAS POR INSTRUMENTOS CORTANTES

Os instrumentos cortantes produzem lesões no pescoço chamadas esgorjamento, degolamento e decapitação.

Esgorjamento são as lesões produzidas por instrumentos cortantes (eventualmente, por instrumentos cortocontundentes) nas regiões anterior, lateral, anterolateral, ou laterolateral do pescoço.

INSTRUMENTOS CONTUNDENTES

Instrumento contundente é todo agente mecânico, líquido, gasoso ou sólido, rombo, que, atuando violentamente por pressão, explosão, flexão, torção, sucção, percussão, distenção, compressão, descompressão, arrastamento, deslizamento, contragolpe, ou de forma mista, traumatiza o organismo.

São instrumentos contundentes: as armas naturais (mãos, pés, cabeça, joelhos), as armas ocasionais (bengala, barra de ferro, tijolo, balaústre, mão-de-pilão), as saliências obtusas e as superfícies duras (solo, pavimentos), os desabamentos, as explosões, os acidentes de veículos, os atropelamentos.

LESÕES PRODUZIDAS POR INSTRUMENTOS CONTUNDENTES

Todos eles podem agir de forma ativa, de forma passiva ou de modo misto, determinando lesões superficiais e profundas, denominadas contusão e ferida.

Contusão é a denominação genérica do derramamento de sangue nos intertícios tissulares, sem qualquer afração dos tegumentos, conseqüente a uma ação traumática sobre o organismo.

Contusão é lesão fechada com comprometimento do tecido celular subcutâneo e integridade real ou aparente de pele e das mucosas.

Ferida contusa é contusão que sofre solução de continuidade pela ação traumática do instrumento vulnerante; é contusão aberta.

CONTUSÕES

1 – ESCORIAÇÃO – a pele é formada por duas túnicas: a epiderme e a derme. Essas duas túnicas básicas de pele formam, na realidade, um sistema interligado e único. Dessa sorte, qualquer agressão comprometedora de uma das camadas terá efeito

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também na outra.

2 – EQUIMOSE – é o nome que se dá à infiltração e coagulação do sangue extravasado nas malhas dos tecidos, sem efração deles. O sangue hemorrágico infiltra-se nos interstícios íntegros, sem aninhamento, originando a equimose.

A equimose é superficial quando resulta da ruptura, geralmente, da capilares cutâneos, e profunda, se consequentemente a lesão de casos mais calibrosos das víceras, dos músculos ou dos ossos.

A forma das equimoses é muito variável. Em geral, mais ou menos circulares, se examinadoras decorrido pouco tempo após o trauma, podem reproduzir a forma do instrumento contundente.

Puntiformes, recebem o nome de petéquias. Serão chamadas víbeces quando tomam a forma alongada, em estrias. Sugilação é um aglomerado de petéquias; sufusão, ampla área de efusão sangüínea.

A equimose tem extraordinária importância médico-legal, pois, na maioria das vezes, permite ao legisperto:

a) precisar a sede da contusão.b) Determinar a data provável da violência.c) Indicar o instrumento: são sempre alongadas, em faixa ou estrias, as equimoses provocadas por cassetete, varas, correias; arredondadas, se produzidas pelas polpas digitais.d) Afirmar a natureza do atentado: as resultantes da aplicação violenta da polpa digital, no pescoço, sugerem esganadura, e na face interna das coxas, tentativa de estupro ou atentado ao pudor.e) Traduzir fenômeno vital: fala a favor de traumatismo no vivo a firme aderência do sangue infiltrado e até coagulado, se recente, nas malhas dos tecidos. As equimoses posteriormente à morte mostram fluidez do sangue ou fraca coagulação, não aderente às malhas tissulares.

3- HEMATOMA – é uma coleção hemática, um thrombos traumatikos produzido pelo sangue extravasado de vasos mais calibrosos, não-capilares, que desloca a pele e afasta a trama dos tecidos formando cavidade circunscrita, onde se aninha.

4- BOSSA SANGUÍNEA - é hematoma em que o derrame sangüíneo, impossibilita de se difundir nos tecidos moles em geral, por planos ósseos subjacentes, como na cabeça, coleciona, determinando a formação de verdadeiras bolsas, pronunciadamente salientes na superfície cutânea. No couro cabeludo é conhecida vulgarmente como galo.

5- BOSSAS LINFÁTICAS – denominadas derrames subcutâneos de serosidade, são coleções de linfa, provenientes dos linfáticos traumatizados, produzidas por contusões tangenciais, como acontece nos atropelamentos em que os pneus, por atrição, deslocam a pele formando grandes bolsas linfáticas entre o plano ósseo e os tegumentos.

B) – ferida contusa é solução de continuidade dos tecidos produzida por tração, explosão, arrastamento, compressão, percussão, pressão, de intensidade suficiente

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para vencer a resistência e a elasticidade dos tecidos moles.

É contusão aberta.

Tem caracteres próprios que permitem distingui-la das demais feridas:

a) forma, fundo e vertentes irregulares;b) bordos escoriados;c) deslocamento de pele próxima;d) ângulos obtusos;e) derrame hemorrágico externo manos intenso do que na ferida incisa;f) aspecto tormentoso em seu interior.

INSTRUMENTOS CORTOCONTUNDENTES

São os instrumentos que, agindo sobre a pele, músculos, tendões, órgãos ou esqueleto, por pressão, percussão e deslizamento, mais pelo próprio peso e intensidade de maneio do que pelo gume de que são dotados, produzem lesões chamadas feridas contundentes.

Integram essa classe de instrumentos a foice, o facão, o espadagão, o podão, a enxada, a motosserra, a serra elétrica, as rodas de trem, os dentes, as unhas, o zargunho, a zagaia, a moenda, o mondador.

Lesões produzidas por instrumento cortocontundentes a forma das feridas cortocontusas varia conforme a região comprometida e a intensidade de manejo, inclinação, peso e o fio cortante do instrumento. Sendo o corte afiado, preponderam as propriedades distintivas das feridas incisas; caso contrário, prevalecem, nos tecidos, as características próprias de um ferimento contuso.

Habitualmente de prognóstico grave, profundas, não raro comprometem os planos subjacentes gerando hemorragias copiosas, por secção de vasos calibrosos e, inclusive, fraturas. Nos membros ocasionam mochadura. A mordida do mamilo, nariz, orelha, muitas vezes, produz por pressão e secção, deformidade permanente, conseqüente à perda de substância. A dentada no pescoço, nas mamas, na região suprapúbica, na face interna da coxa próximo aos genitais, nas costas, características dos assaltos sexuais, costuma deixar estampadas as impressões dos dentes em forma de suas linhas equimóticas em parênteses, sem efração dos tecidos ou com eles desgarradamente em bloco.

INSTRUMENTOS PERFURANTES E PERFUROCORTANTES

São perfurantes os instrumentos puntiformes, finos, cilíndricos ou cilindrocônicos, com o comprimento predominado sobre a largura e a espessura, como alfinetes, agulhas, pregos, furador de gelo, estoque, estilete agulhado, espinhos etc. agem simultaneamente por percussão ou pressão por um ponto, afastando fibras, sem seccioná-las. Os instrumentos perfurantes de forma excessivamente cilindrocônica podem, muito raramente, dilacerar algumas fibras do tecidos.

São chamados perfurocortantes os instrumentos puntiformes, com o comprimento predominando sobre a largura e a espessura, dotados de gume ou corte. O contato desses instrumentos é feito por um ponto que atua simultaneamente por percursão

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ou pressão, afastando fibras, e por corte, seccionando-as. Existem ainda os instrumentos de ponta e de arestas, contendo várias faces e múltiplos ângulos diedros, cortantes ou não, como a lima, a baioneta, o florete.

LESÕES PRODUZIDAS POR INSTRUMENTOS PERFURANTES E PERFUROCORTANTES

Os instrumentos perfurocortantes propriamente ditos determinam lesões em forma de ponto na pele, chamadas feridas punctórias, quase imperceptíveis, quando o instrumento for muito fino, com diminuto orifício de entrada, raro sangramento e um trajeto que, geralmente, termina em fundo de saco. O trajeto poderá aparentar desvios quando o instrumento compromete órgãos dotados de movimentos, como os pulmões, por exemplo.

Em feridas transfixante é possível orifício de saída em tudo similar ao de entrada, porém, com os bordos evertidos, quando a agressão se assesta nas mãos, braços, pernas, coxas.

Quando o instrumento for cônico e mais calibroso, o orifício de entrada e, quiçá, o de a saída tomam forma de botoeira.

O aspecto dos ferimentos na pele é definido pelas leis de Filhos e pela lei de Langer.

Primeira Lei de Filhos- As soluções de continuidade são feridas que se assemelham às produzidas por instrumentos perfurocortantes de dois gumes e de lâminas achatadas.

Segunda Lei de Filhos- Os instrumentos cilíndricos ou cilindrocônicos determinam direção constante para cada região do corpo onde as linhas de força tenham um só sentido.

Lei de Langer- Um instrumento cilíndrico, exercendo ação perfurante em um ponto da pele onde convergem linhas de força de sentidos diferentes, produz ferida triangular, ou em ponta de seta, ou mesmo em quadrilátero.

As lesões produzidas pelos instrumentos perfurantes e perfurocortantes caracterizam-se pelo predomínio da profundidade sobre a dimensão externa, podendo o agente vulnerante penetrar parcialmente no interior do corpo ou completamente, lesando paredes ósseas e vísceras ocas e/ou maciças. Pode, também, acontecer de armas relativamente pequenas, de lâminas curtas, produzirem trajetos grandes, por compressão e depressão da parede abdominal pela violência do golpe, determinando as chamadas lesões em acordeão de Lacassagne.