Revista Viração - Edição 69 - Fevereiro/2011
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capa_69:Layout 1 19/1/2011 15:53 Page 33
Sexo e Saúde
Associação Imagem ComunitáriaBelo Horizonte (MG)
www.aic.org.br
Universidade Popular – Belém (PA)www.unipop.org.br
Rede Sou de Atitude MaranhãoSão Luís (MA)
www.soudeatitude.org.br
Avalanche Missões Urbanas UndergroundVitória (ES)
www.avalanchemissoes.org
Casa da Juventude Pe. Burnier – Goiânia (GO)www.casadajuventude.org.br
Centro de Refererência Integralde Adolescentes – Salvador (BA)
blogdocria.blogspot.com
Cipó Comunicação InterativaSalvador (BA)
www.cipo.org.br
Jornal O Cidadão – Rio de Janeiro (RJ)
ocidadaonline.blogspot.com
Movimento de Intercâmbiode Adolescentes de Lavras – Lavras (MG)
Bemfam - Recife (PE)www.bemfam.org.br
Gira Solidário Campo Grande (MS)
www.girasolidario.org.br
Instituto de Estudos SocioeconômicosBrasília (DF)
www.chamadacontrapobreza.org.br
Ciranda – Curitiba (PR) Central de Notícias dos Direitos
da Infância e Adolescência www.ciranda.org.br
Catavento Comunicação e Educação Fortaleza (CE)
www.catavento.org.br
Agência Fotec – Natal (RN)
Projeto Juventude, Educaçãoe Comunicação Alternativa
Maceió (AL)
União da Juventude Socialista – Rio Branco (AC)ujsacre.blogspot.com
Grupo Cultural EntrefaceBelo Horizonte (MG)
gcentreface.blogspot.com
Grupo Makunaima Protagonismo Juvenil (RR)
grupomakunaimarr.blogspot.com
Taba - Campinas (SP)
www.espacotaba.org.br
Veja quem faz a Vira
pelo Brasil
Apôitcha - Lucena (PB)
www.apoitcha.org
2a capa_apoios_69:Layout 1 18/1/2011 15:21 Page 33
Apoio Institucional
Revista Viração • Ano 8 • Edição 68 03
Copie sem moderação! Você pode:
• Copiar e distribuir• Criar obras derivadas
Basta dar o crédito para a Vira!
Conteúdo
“
”
ODepartamento Nacional de Trânsito (Denatran) divulgou no
ano passado que o número de novos veículos que passam a
circular por ruas e avenidas do Brasil ultrapassa os 4.500 por dia.
Em cidades como São Paulo, é comum ouvir moradores dizerem que gastam até
duas horas para ir de casa ao trabalho por conta do trânsito. Se continuarmos
nesse ritmo, estará cada vez mais próximo do dia em que se deslocar de uma região
a outra acontecerá somente por extrema necessidade. Hoje, cresce o número de
empresas e organizações que passaram a adotar o sistema “home office”, ou trabalho
de casa, para seus funcionários, como forma de fugir do congestionamento, além de
permitir que o colaborador possa passar mais tempo com a família e possa realizar
suas atividades pessoais.
Outra solução, uma das mais viáveis, seria a expansão do metrô. Mas todo
esse assunto você irá conferir na reportagem de capa desta edição da Vira,
que traz também uma matéria sobre dislexia, síndrome que dificulta o
aprendizado de algumas pessoas, mas que pode ser tratada com
auxílio médico. Tem ainda todas as novidades da última
edição da Feira Preta e outros assuntos bem irados.
Uma ótima leitura e até breve!
AViração é um uma organização nãogovernamental (ONG), de educomunicação,
sem fins lucrativos, criada em março de 2003.Recebe apoio institucional do Fundo das NaçõesUnidas para a Infância (Unicef), da Organizaçãodas Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), do Núcleo de Comunicaçãoe Educação da Universidade de São Paulo e daAgência de Notícias dos Direitos da Infância(Andi). Além de produzir a revista, oferececursos e oficinas de capacitação emcomunicação popular feita para jovens, porjovens e com jovens em escolas, grupos e comunidades em todo o Brasil.
Para a produção da revista impressa e eletrônica (www.viracao.org),contamos coma participação dos conselhos editoriais jovensde 22 Estados, que reúnem representantes deescolas públicas e particulares, projetos emovimentos sociais. Entre os prêmiosconquistados nesses seis anos, estão PrêmioDon Mario Pasini Comunicatore, em Roma(Itália), o Prêmio Cidadania Mundial, concedidopela Comunidade Bahá'í. E mais: no ranking daAndi, a Viração é a primeira entre as revistasvoltadas para jovens. Participe você tambémdesse projeto. Veja, ao lado, nossos contatosnos Estados.
Paulo Pereira de lima Coordenador Executivo da Viração – MTB 27.300
Conheça os Virajovens em 22 Estadosbrasileiros e no distrito FederalBelém (PA) - [email protected]
Belo Horizonte (MG) - [email protected]
Boa Vista (RR) - [email protected]
Brasília (DF) - [email protected]
Campinas (SP) - [email protected]
Campo Grande (MS) - [email protected]
Curitiba (PR) - [email protected]
Fortaleza (CE) - [email protected]
Goiânia (GO) - [email protected]
João Pessoa (PB) - [email protected]
Lavras (MG) - [email protected]
Maceió (AL) - [email protected]
Manaus (AM) - [email protected]
Natal (RN) - [email protected]
Porto Velho (RO) - [email protected]
Recife (PE) - [email protected]
Rio Branco (AC) - [email protected]
Rio de Janeiro (RJ) - [email protected]
Sabará (MG) - [email protected]
Salvador (BA) - [email protected]
S. Gabriel da Cachoeira - [email protected]
São Luís (MA) - [email protected]
São Paulo (SP) - [email protected]
Serra do Navio (AP) - [email protected]
Teresina (PI) - [email protected]
Vitória (ES) – [email protected]
Quem somos
Rua Augusta, 1239 - conj. 11 - Consolação
01305-100 - São Paulo - SP
Tel./Fax: (11) 3237-4091 / 3567-8687
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Das 9h às 13h e das 14h às 18h
E-mail da REdação E assinatuRa
atendimento ao leitor
Com 12 edições anuais, a Revista
Viração é publicada mensalmente em
São Paulo (SP) pela ONG Viração
Educomunicação, filiada ao Sindicato
das Empresas Proprietárias de Jornais
e Revistas de São Paulo (Sindjore).
Por onde andar?
Associazione Jangada
editorial_69:Layout 1 20/1/2011 18:02 Page 3
10
Sempre na ViraManda vê . . . . . . . . . . . . . 06Imagens que Viram. . . . . . 12No Escurinho . . . . . . . . . . 31Rango da Terrinha . . . . . . 32Sexo e Saúde . . . . . . . . . . 33Parada Social . . . . . . . . . . 34Rap Dez . . . . . . . . . . . . . . 35
Preço da assinatura anualAssinatura Nova R$ 58,00Renovação R$ 48,00De colaboração R$ 70,00Exterior US$ 75,00
RG VÁLIDO EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL
Para pensarÀs vezes, ouvir a história de uma pessoa pode fazercom que as coisas mudem, como aconteceu com a vidade um jovem da antiga Febem (atual Fundação Casa)
26 Mídia verdeNa Itália, estudantes utilizam a educomunicação para alertar
sobre os desafios da preservação do ambiente
27 O melhor do BrasilO programa Quarto Mundo, realização da Vira com a TV USP,
vence prêmio de Melhor Programa de TV Universitária de
2010, concedido pelo Festival do Audiovisual Brasileiro
8 Caso sérioSiderúrgica instalada no município de Turmalina (MG)causa desmatamento e seca dos rios, deixandomoradores dependentes da empresa
20
16 Ritmo diferenciadoA Organização Mundial da Saúde estima que de 10 a
15% das crianças no mundo têm dislexia. Saiba como
identificá-la e quais os tratamentos indicados
28 Intervenção urbanaJá incorporado no cenário urbano, o graffiti aindaenfrenta preconceitos pela sua forma de mensagem
18 30 mil desaparecidosJuanita de Pargament, da Associação Mães da Praça de Maio, falasobre os 33 anos de atividades do movimento que buscainformações dos filhos sumidos durante o golpe militar argentino
24 Mais do que o black powerEspecializada em produtos para negros, Feira Pretarealiza sua 9ª edição com exposições artísticas emuitas apresentações culturais
Conselho EditorialEugênio Bucci, Ismar de Oliveira, Izabel Leão,Immaculada Lopez, João Pedro Baresi, Mara
Luquet e Valdênia Paulino
Conselho FiscalEveraldo Oliveira, Renata Rosa e Rodrigo Bandeira
Conselho ConsultivoDouglas Lima, Isabel Santos,Ismar de Oliveira e Izabel Leão
Presidente
Juliana Rocha Barroso
Vice-Presidente
Cristina Paloschi Uchôa
Primeiro-Secretário
Eduardo Peterle Nascimento
Direção ExecutivaPaulo Lima e Lilian Romão
EquipeAna Paula Marques, Carol Lemos,Elisangela Nunes, Eric Silva, Gisella Hiche,Manuela Ribeiro, Rafael Stemberg, SâmiaPereira, Sonia Regina e Vânia Correia
Administração/Assinaturas
Douglas Ramos e Norma Cinara Lemos
Mobilizadores da ViraAcre (Leonardo Nora), Alagoas (Jhonathan Pino),Amapá (Camilo de Almeida Mota), Amazonas(Cláudia Ferraz e Délio Alves), Bahia (NiltonLopes), Ceará (Amanda Nogueira e Rones Maciel),Distrito Federal (Pedro Couto), Espírito Santo(Jéssica Delcarro e Leandra Barros), Goiás (ÉrikaPereira e Sheila Manço), Maranhão (Sidnei Costa),Mato Grosso do Sul (Fernanda Pereira), MinasGerais (Maria de Fátima Ribeiro e Pablo
Abranches), Pará (Alex Pamplona), Paraíba(Niedja Ribeiro), Paraná (Cláudia Fabiana),Pernambuco (Maria Camila Florêncio),
Piauí (Anderson Ramos da Luz), Rio de
Janeiro (Gizele Martins), Rio Grande doNorte (Alessandro Muniz), Rondônia(Luciano Henrique da Costa), Roraima(Cleidionice Gonçalves) e São Paulo (AnaLuíza Vastag, Dam iso Faustino, SâmiaPereira e Virgílio Paulo).
ColaboradoresAntônio Martins, Beth Kok, Clarissa Barbosa,Emilia Merlini, Franco Hoff, Heloísa Sato, InêsCalixto, Karina Lakerbai, Lentini, MárcioBaraldi, Monica Torresani, Natália Forcat,Novaes, Sérgio Rizzo, Vanessa Ramos e
Vivian Ragazzi .
Consultor de Marketing
Thomas Steward
Projeto GráficoAna Paula Marques e Cristina Sayuri
Desenvolvimento do SiteNatsuo Slater e Orlando Libardi
Jornalista ResponsávelPaulo Pereira Lima – MTB 27.300
Divulgação
Equipe Viração
E-mail Redação e [email protected]@viracao.org
Intransitável!Todos os dias, as ruas do Brasil ganham mais de 4.500 novoscarros. Se continuar assim, será praticamente impossível sair decasa. Para evitar esse caos, o transporte público ainda é a alternativa
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A Vira pela igualdade. Diga lá. Todas e todos Mudança, Atitude e Ousadia jovem.
Diga lá
Para garantir a igualdade entreos gêneros na linguagem da Vira,onde se lê “o jovem” ou “osjovens”, leia-se também “a jovem”ou “as jovens”, assim como outrossubstantivos com variação demasculino e feminino.
Parceiros de Conteúdo
Direto do portal da Vira Siga a Vira no Twitter! Nosso perfil é
http://twitter.com/viracao
A nossa colaboradora DedêPaiva, da turma das ilustras,
mandou um e-mail pra gente muitolegal. Em uma de suas viagens, elaencontrou uma pintura, do artistaCarybé, chamada Nossa Senhora
da Viração!
Fale com a gente!
Agora você pode acessar, de graça,as edições anteriores da revista na internet.É só acessar www.issuu.com/viracao
Ops! Erramos!
Perdeu algumaedição da Vira?Não esquenta!
@Ben_Oliveira,pelo twitter
Lendo a revista @viracao :)Achei as pautas interessantes.
@Jorgeanderson13,pelo Twitter
A edição de novembro edezembro ... muito bem feita^^!
Mande seus comentários sobre a Vira, dizendo o que achou de nossasreportagens e seções. Suas sugestões são bem-vindas!Escreva para nosso endereço: Rua Augusta, 1239 - Conj. 11Consolação - 0135-100 - São Paulo (SP) ou para o e-mail: [email protected] sua colaboração!
Ponto G
Qual foi o maior acontecimento de 2010? A Vira
listou alguns fatos importantes do ano passado eperguntou aos leitores do Portal o que foi maismarcante. Muita coisa ficou de fora da enquete, como oterremoto que atingiu o Haiti e as conquistas políticas dajuventude no Brasil. Mas confira, entre as notícias queentraram, o que a galera optou como destaque.
O principal acontecimento de 2010 para 35 % dosinternautas foi a eleição de uma mulher (Dilma Rousseff)para a Presidência do Brasil, seguido do conflito armadono Rio de Janeiro entre o governo estadual e o crimeorganizado, que teve o voto de 22 % dos leitores. Aterceira posição ficou com o caso Wikileaks (organizaçãointernacional que vazou documentos secretos dosEstados Unidos), na preferência de 16 %. O soterramentode 33 mineiros no Chile e o vazamento de barris depetróleo no Golfo do México ficaram com 11% cada um.Já a conquista pela Espanha do mundial de futebol,ocorrido na África, ganhou o gosto de 5% dos leitores.
Pisamos na bola na ediçãonº 67, especial sobre Ensino
Médio. Na reportagem “A mídiadentro da sala de aula”, o nome
correto do município onde está a Escola AnaBezerra é Eusébio, e não Osébio, como citado.
Já na revista nº 68, esquecemos o nomede Alisson Rodrigues como um dos autores damatéria “Mão na Massa”
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Manda Vê
* Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal([email protected] e [email protected])
06 Revista Viração • Ano 8 • Edição 69
A Ciência deveinvestir empesquisas forada Terra?
Agatha Araújo, 16anos, São Paulo (SP)
“Sim. Mesmo que a chance de vida forado nosso planeta atualmente seja um
tanto remota, podemos descobrir muito.Quem sabe conhecer o passado dessesplanetas e aprender com base nisso. Ou
até conseguir recursos, mesmo queainda desconhecidos, mas úteis
para nossa vida.”
Leonardo Lucas daSilva, 16 anos, Fortaleza (CE)
“Eu acho que sim, porque seriaignorância dizermos que somos osúnicos seres vivos. E investir em
pesquisa pode ser uma opção, casoaconteça algum desastre na Terra,
para sobrevivermos deoutra forma.”
Nos início dos anos 1960, a antiga União Soviética e osEstados Unidos disputavam as primeiras explorações fora daTerra. Nesse período, foram lançados satélites e foguetestripulados por animais, homens e mulheres. Só que o primeirohomem a pisar na Lua, em 1969, foi enviado pelos EstadosUnidos (leia o “Não é de hoje”).
Apesar de pouco divulgado, o Brasil está entre os poucospaíses que desenvolvem um dos programas espaciais maisavançados, iniciado em 1961, segundo o Ministério da Ciência eTecnologia. Atualmente, o governo brasileiro investe mais de 300milhões de reais por ano em pesquisas espaciais, construção desatélites para previsão do tempo, estudos climáticos emonitoramento ambiental. Mas foi em março de 2006 que o Paísteve seu primeiro astronauta em missão fora da Terra.
Esse representante da missão brasileira foi o paulistaMarcos Pontes. Na época, o governo federal gastou 10 milhõesde dólares para o feito, em uma parceria firmada com a Rússiae os EUA. A bordo da nave Soyuz TMA-8, Marcos levouexperimentos brasileiros, de universidades e centros depesquisas, para serem testados no espaço, como projetos paraanalisar o efeito da gravidade nas enzimas e nas proteínas. Aaventura de Pontes despertou o interesse de muitos jovenspela Astronomia. Mas como opções de cursos superiores,apenas a Universidade de São Paulo (USP) e a UniversidadeFederal do Rio de Janeiro (UFRJ) oferecem essa especialização.
Só que falar de pesquisas e atividades no espaço sem tocarno assunto “vida extraterrestre” é quase difícil. Mas deixamosessa questão para a galera que participa deste “Manda Vê”...
Rones Maciel, do Virajovem Fortaleza (CE)*, e Sâmia Pereira, do Virajovem São Paulo (SP)
Stella Iulliano,16 anos, Taboão da Serra (SP)
“É importante sim, pois o universo émuito grande. E em meio a todo esse
espaço deve sim haver fontes e até vidasalternativas. É meio egoísta pensar que
só a humanidade foi 'premiada' coma capacidade de respirar,
de pensar.”
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Patrícia Caroline Souza,15 anos, Fortaleza (CE)
“Não. Ao invés da Ciência estarinvestindo em pesquisas fora do
planeta, deveria investir mais na Terra,em coisas que precisamos,
principalmente na áreada saúde.”
No último mês de 2010, a agência Nasa anuncioua descoberta de um novo ser vivo, diferente de
qualquer outro organismo já encontrado na Terra.Apesar dessa descoberta ter acontecido neste planeta, no
lago da Califórnia, Estados Unidos, a notícia do novoorganismo (uma bactéria que substitui o fósforo pelo arsênico,um dos seis elementos até então essenciais para a vida)causou expectativa pelo mundo, principalmente entreinternautas e cientistas, no que poderia ser o primeiro contatocom um ET, graças à forma como a Nasa divulgou o fato: commega coletiva de imprensa e notas informativas mencionando“impacto na busca de vida extraterrestre” . O “alien”, naverdade, é um novo micróbio que muda a forma como oscientistas definiam a vida e que está em estudo.
FazParte
Nátalia SousaPinheiro, 18 anos,
Fortaleza (CE)
"Sim. Acho que é importante porquepode existir vidas em outros planetas.
E isso pode servir de informação para a humanidade e ajudar em
novas descobertas."
João Milson dosSantos, 16 anos,Fortaleza (CE)
“Se deve investir em pesquisasporque nós precisamos saber o queexiste fora do nosso planeta, por
exemplo, se tem seres vivosou não.” André Bayeux, 17
anos, São Paulo (SP)
“Sim, pois se houver algumacoisa além da Terra, cedo outarde iremos encontrar. Ouvão nos achar primeiro...”
O primeiro habitante da Terra a viajarpelo espaço foi um animal. Em 1957, a
extinta União Soviética enviou a cadelaLaika no foguete Sputinik 2, um mês após o
lançamento do primeiro satélite artificial naórbita terrestre. Já o primeiro homem a exploraro espaço foi o russo Yuri Gagarin, em 1961. Eleretornou com segurança à Terra, mas morreu
sete anos depois durante um teste de pilotagem. Em1969, o estadunidense Neil Armstrong torna-se aprimeira pessoa a pisar na Lua. Ex-piloto da Marinha,o astronauta da Nasa (Administração Nacional doEspaço e da Aeronáutica, traduzido do inglês) teveseu feito transmitido pela TV em todo o mundo.
Não é de hoje
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08 Revista Viração • Ano 8 • Edição 69
O saldodos eucaliptos
Inês Calixto, colaboradora da Vira
Moradores de comunidades, em Turmalina (MG), reclamam de empresa que se instalou no
local prometendo emprego e desenvolvimento, mas que trouxe apenas muita dor de cabeça
Vivendo apertados nas grotas, convivendo com a escassezde água, terra e alimentos, acusados de roubo e incêndio.É essa a vida que levam os moradores das comunidades
que vivem próximo do rio Fanado, no município de Turmalina,Vale do Jequitinhonha (MG). Eles tentam negociar com aArcelorMittal Bioenergia (empresa que atua na região complantação de eucaliptos e produção de carvão), o retorno doCerrado, a recuperação de nascentes e rios, além do direito auma vida digna.
Na década de 1970, o desconhecimento do bioma do Cerrado
e a ânsia por trazer desenvolvimento ao Vale do Jequitinhonhafez com que o governo militar considerasse as terras daschapadas de propriedade coletiva dos moradores, comodevolutas (terrenos públicos), entregando-as para empresasprodutoras de carvão e celulose, com a desculpa de“reflorestamento”.
Seu M. A., de 60 anos, morador da comunidade de CampoAlegre, é quem conta o que aconteceu: “Foram chegando.Meu pai não recebeu nada (das terras). Invadiram tudoe cultivaram as nascentes d’água, que secaram. Depoisjogaram veneno por todo o lado”. Seu M. A. entroucom processo na Justiça para recuperar uma parte desua propriedade, hoje em posse da ArcelorMittal.
Trinta anos se passaram desde a chegada dasempresas reflorestadoras e o que se vê no Vale é umtapete imenso de eucaliptos cobrindo a chapada enenhum desenvolvimento. A população que antes erapobre, mas conseguia viver da agricultura familiar edos frutos do Cerrado, atualmente vive nas grotas,sem terra, sem água e com pouco alimento.
Deserto verde
O plantio descuidado de eucaliptos nas cabeceiras derios e próximo de nascentes, somado ao desmatamentodas chapadas, aberturas de estradas e amplo uso deinseticidas, fez com que os rios secassem. No limite dessascomunidades, não se veem rios de água corrente, o únicoque ainda corre é o rio Fanado que insiste em viver apesardas águas baixas.
Seu P., de 80 anos, mora na comunidade do Buritie lamenta tudo isso. “Antes aqui era bem diferente.Ninguém podia entrar na parte do ribeirão, senão ficava ládentro, morria afogado. A gente fazia a lavoura no lugaronde podia. Se fosse estragar um pé de árvore, fazíamosa roça em outro canto. Tinha plantação de pequi, fruta detoda qualidade; bicho de toda espécie passava. Quando acompanhia chegou, acabou com isso tudo. Até as aves depenas sumiram, assim como cotia, catingá, guará e tatucanastra, que tinha muito. No início, a empresa trouxe
empregos. Mas agora estamos semágua, sem bicho e sem nossa terra.”
Atualmente, a sobrevivência daregião é mantida pelo corte decana, trabalho nas lavouras de caféou gasodutos. Jovens pais de famíliamigram para as grandes cidades embusca de melhores condições devida, deixando para trás a mulher,os filhos e um pequeno pedaço deterra. Os que permanecem, lutampara que a empresa devolva o que
Por dentro:
Bioma é um conjunto deecossistemas comvegetação característica efisionomia típica. O Cerradoé o segundo maior do Brasil,com uma área de 2.045.064km², abrangendo oitoEstados do Brasil Central:Minas Gerais, Goiás,Tocantins, Bahia, Maranhão,Mato Grosso do Sul, Piauí e
o Distrito Federal.
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Revista Viração • Ano 8 • Edição 69 09
lhes é de direito: a água e a terra. Paraisso, insistem que a cabeceiras de riose nascentes sejam reflorestadas, amata ciliar e o Cerrado recuperados ea terra devolvida em oportunidadesde trabalho.
Boas perspectivas
No ano passado, a ArcelorMitaliniciou um processo de escuta enegociação com a comunidade. A Viraentrou em contato com a empresapara saber detalhes, que solicitou oenvio de perguntas por e-mail. Mas atéo fechamento desta edição, não houveretorno da ArcelorMittal. Por telefone,representantes da comunidadedisseram à reportagem que a empresae os moradores estavam em constatesconversas e havia “boas perspectivasde melhoras”.
V
Historias de Alice,
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Com a seca dos rios e o desmatamento
de florestas, causados pela siderúrgica,
moradores de Turmalina ficam sem
opções de trabalho
Esta reportagem foi produzida durante a passagem do projetoHistórias de Alice em Minas Gerais. A pedagoga Inês Calixto e ofotógrafo Franco Hoff permaneceram oito dias em uma das seiscomunidades do município de Turmalina situadas próximas ao rioFanado. Eles conversaram com os líderes da região e acompanharamuma reunião de negociação com a ArcelorMittal.
Histórias de Alice é um projeto que consiste em viajar pelo Brasilpara registrar as narrativas orais e fotográficas de comunidadespopulares. Alice é o nome dado ao automóvel Kombi que, equipadocom computadores, narra no blog (www.historiasdealice.com.br)as experiências vividas no decorrer das viagens.
meio_ambiente:Layout 1 18/1/2011 11:04 Page 11
10 Revista Viração • Ano 8 • Edição 69
Sabe aquelas histórias que se passam com a gente e que marcamnossa vida para sempre? Essa é daquelas: mexeu comigo e mexeaté hoje. É por isso que, mesmo passados cinco anos, resolvi
colocá-la em texto. Registrá-la. Até agora ela tinha sido contada apenasoralmente, em conversas íntimas com os amigos e em momentos detroca de experiências com os colegas de trabalho. E por que eu não voudireto à história? Porque esta fala justamente do registro, do texto e daimportância de partilharmos histórias.
Era mais uma terça-feira, duas da tarde. Mais uma terça em que eurespirava fundo e ia até lá: uma das unidades de internação da FundaçãoEstadual do Bem-Estar do Menor (Febem) – atual Fundação Casa.Respirava fundo porque tinha de passar por todas aquelas trancas,revistas, olhares frios e desconfiados, mas ia feliz porque apesar dissotudo havia eles: os adolescentes. Com 13, 14, 17 anos. Adolescentes que,naquele momento, se encontravam em conflito com a lei.
Fazia pouco mais de seis meses que dois amigos da faculdade deJornalismo e eu estávamos conduzindo oficinas de Educomunicação naFebem. Começamos como Trabalho de Conclusão de Curso da faculdadee seguimos como voluntários. Toda semana nos reuníamos com cerca dequinze adolescentes internados para montar um jornal impresso. Oobjetivo era contar um pouco sobre a vida deles para quem nunca tinhaentrado em uma Febem e só ouvia falar pelos noticiários; para quem nãoconhecia, mesmo tendo contato diário, esses meninos e meninas. Contarnão pelo texto de jornalistas, mas com as palavras de quem viveessa realidade.
Durante a faculdade, questionávamos constantemente o modo de fazer jornalismo que nos era ensinado e o que era praticado.As notícias que víamos na mídia colocavam as crianças e adolescentesem conflito com a lei como marginais, bandidos, assassinos.
Lembro-me de uma reportagem que tinha como título: “Menormata criança em SP”. Espera aí: não foi uma criança que matou outracriança? Por que a criança que foi morta é vista e nomeada comocriança e a que matou não? Por termos essa visão, cada dia de oficinaera especial para nós. Descobríamos o outro lado da notícia, e o quemais nos encantava: a oportunidade de partilhar, de ouvir e de estarcom o outro lado.
Lá dentro, as histórias saíam mais fácil quando escritas. O olho do Márcio, agente de segurança, fitava e marcavacada gesto. Essa tensão constante era motivo de diversasargumentações que tínhamos com a Pedagogia e geravaem mim e nos meus amigos muita preocupação em como ojornal ia ser recebido quando ficasse pronto.
Tentávamos envolver o Márcio nas atividades, mas ele,impassível, sempre optava por ficar de braços cruzados,sentado ao lado da porta, observando. “Este é o meupapel”, justificava.
Do porquê ou para quecontar históriasCarol Lemos, da Redação*
IvoSousa De olho no ECA
eca_69:Layout 1 18/1/2011 11:00 Page 14
Revista Viração • Ano 8 • Edição 69 11
V
Ao final das oficinas vinha ainda um comentário do tipo:– Vocês não têm mais o que fazer não?! Dar atenção pra
esse bando...A gente se incomodava, mas isso não era motivo para parar.
Após três meses de oficina com esse grupo, o único adolescenteque ainda não havia pegado em um lápis era o Rodrigo.
Rodrigo, escreve alguma coisa, vai! Não quer falar, sei lá,de futebol?
Nada. Nem um rabisco. Meu amigo Cláudio, o outroeducomunicador, veio com a ideia já na mochila: passar o filme“Narradores de Javé”. Arrumamos a TV, o DVD e pronto: láestava a galera vidrada na telinha. História sobre a populaçãode uma cidade que vai ser submergida por uma represa epercebe que pode reverter a situação se comprovar suaimportância. Fazem, então, um documentário com seus“causos” mais marcantes, para que a cidade seja tombadacomo patrimônio histórico.
Acabado o filme, organizamos a sala e fizemos a proposta:– Que tal vocês contarem as suas histórias? Elas também
são importantes, como as histórias dos moradores de Javé.Foi aí que o Rodrigo veio. Pediu lápis, papel, nem quis
borracha: estava decidido. Ao entregar o texto no final daoficina, disse: “A minha história não é muito bonita não. Temmuita dor, mas toda história merece ser contada, não é?”. Dissepara ele que sim. E que toda história tem direito a ter um espaçopara ser ouvida.
Nas semanas que se passaram os adolescentes produziramtextos, fotos, desenhos e fizeram coberturas de eventosrealizados na unidade. Certo dia, conversamos sobre ofechamento do jornal e o grupo decidiu que o texto do Rodrigonão podia faltar. Um dos adolescentes argumentou: “Essa
No site da Vira você pode ler o comentário deste texto
feito pela jornalista Amiga da Criança Andréia Peres, autora
de publicações na área social e diretora da produtora Cross
Content Comunicações: http: //tinyurl.com/olhonoeca.
Além disso, no canal do Pró-Menino no YouTube, também
é possível assistir ao curta produzido do “causo”:
http://tinyurl.com/video-eca
história não é só dele não, mudando alguns detalhes fala pormuitos de nós”. Fechamos a edição, rodamos e distribuímos.
Terça-feira seguinte, jornal fresquinho na mão, fomos fazera avaliação no último dia de oficina. Chego à sala e o agente desegurança, balançando o jornal na mão direita e com o braçoesquerdo impedindo a minha entrada pela porta, manda:
– Temos que conversar. Tremendo, respirei fundo, como já me acostumara, e disse:
– Fala.– Estas histórias são reais? Esta daqui é do Rodrigo, né?
– perguntou, apontando para a contracapa.– São sim. E essa é a do Rodrigo, por quê? – falei baixo, com
as palavras meio sem espaço para sair da garganta.De repente, aquele homem gigante, que pode esmagar você
com um mindinho, desabou. E se emocionou muito ao falar:– Todos os dias eu pego no pé dele. Maltrato. Todos os dias!
Não sabia que ele tinha uma história de vida assim. Eu não sabia!E eu, sem saber o que falar, só consegui olhar nos olhos
dele. O agente de segurança continuou:– E sabe o que é pior? Acho que cada um deles aqui tem
uma história. E eu nunca tinha pensado nisso antes.Terminou a frase e saiu andando, com o jornal meio
amassado grudado no peito. Saiu da minha vista, mas nuncamais da minha vida.
As histórias mexem com a gente, modificam a gente,transformam. Elas têm esse poder. Ter espaço e tempo paracontar nossas histórias, para partilhá-las, para sermos vistos pormeio delas, faz com que nos reconheçamos, com que a nossahumanidade apareça e se multiplique. Essa história fez isso peloRodrigo. Fez isso pelo Márcio. Faz isso por mim.
* Este texto foi publicado originalmente no livro Causos do
Eca – muitas histórias, um só enredo (http://tinyurl.com/livro-
eca), que reúne os contos finalistas do 6º Concurso Causos do
Eca, promovido pelo portal Pró-Menino/Fundação Telefônica
(http://tinyurl.com/6concurso).
O Portal Pró-Menino, parceiro da Vira, é uma iniciativa da FundaçãoTelefônica em conjunto com o Centro de Empreendedorismo Social eAdministração em Terceiro Setor (Ceats/FIA).
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Ko
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12 Revista Viração • Ano 8 • Edição 69
OBrasil é um dos poucos países que consegue
reunir no mesmo território diferentes religiões.
Majoritariamente formado por católicos, a nação
se divide entre pentecostais, protestantes, espiritas,
seguidores de religiões e cultos de origem africana e
indígena, budistas, mórmons... e, claro, os que não
possuem crença religiosa.
Mas uma religião presente desde o século 17 é o
candomblé, trazida com a chegada dos escravos ao
País. Na época, os rituais de candomblé chegaram a
ser considerados feitiçaria pelos colonizadores, mas
com o passar do tempo se tornou uma das mais
influentes crenças brasileiras. Tradição que já se
espalhou por outros países da América Latina, como
Argentina e Uruguai.
Os espaços onde os seguidores do candomblé se
reúnem são chamados de terreiros e, por lá, os orixás
(entidades ligadas à natureza e à humanidade) são
celebrados. Não há números exatos de praticantes da
religião no País, mas estima-se que 70 milhões de
pessoas participam eventualmente de algum culto,
segundo a Federação Nacional de Tradição e Cultura
Afro-Brasileira (Fenatrab). Uma das dificuldades de se
ter dados exatos sobre o candomblé é o fato de ainda
existir preconceito sobre a prática, fazendo com que
seus participantes omitam a religião.
“A energia que 'rola' dentro de um
terreiro é muito forte. Meu grande anseio é
que futuramente as pessoas aprendam a
respeitar e aceitar todas as religiões, pois
no final de tudo acreditamos sempre na
mesma coisa e temos o mesmo objetivo de
melhorar o mundo”, afirma Marcel Fialho
Branco, que frequenta um terreiro há um ano.
Vale lembrar que por essa grande
diversidade religiosa, constitucionalmente o
Brasil é um Estado considerado laico, ou seja,
nenhum governo pode defender ou se posicionar
a favor de determinada religião. A seguir, você
confere uma seleção de imagens de um culto
realizado em Rio Branco, no Acre. Confira!
Texto e fotos: Leonardo Nora, José Luis, Pamella
Miranda e Victória Sales, do Virajovem Rio
Branco (AC)*
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Todos os deuses
Em todo o Brasil, estima-se que 70
milhões de pessoas participam
eventualmente de algum culto
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Revista Viração • Ano 8 • Edição 69 13
* Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no DistritoFederal ([email protected])
e orixás
Os praticantes do candomblé se reúnem
em espaços chamados de terreiros
Apesar de popular no País, religião
ainda enfrenta preconceitos
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V
*A cada edição você acompanha as histórias de um dos jovensparticipantes do Encontro Laços Sul-Sul Jovem, que ocorreu emBrasília (DF). A Vira esteve presente a convite do UNICEF.
14 Revista Viração • Ano 8 • Edição 69
Laços Sul-Sul Jovem
Rumo àfaculdade
Onome dele já e osuficiente para puxarpapo – Zigui Marley
Francez Silva, remetendo ao filho doícone jamaicano de mesmo nome, Bob
Marley. Este Zigui, no entanto, tem sotaqueportuguês e nasceu na aldeia Praia Branca,
localizada em uma das dez ilhas do arquipélago deCabo Verde, na África ocidental. O nome foi sugestão de
uma prima de segundo grau, que mora em Roma, na Itália. “Gosto deouvir as músicas dele, mas não sou fanático”, sublinha Zigui, arespeito do ídolo do reggae.
Aos 19 anos, ele mora na ilha de São Vicente e está terminandoo ensino secundário. É integrante de uma família numerosa: tem seisirmãos e uma irmã. Diz que é “fã” de um dos irmãos, dois anos maisvelho que ele, que está sempre cantando. “Ele só não canta seestiver na faculdade, ou dormindo.” Os outros irmãos estãoespalhados pelas ilhas, trabalhando.
Os pais moram com a irmã de Zigui em Portugal, país de quemCabo Verde conquistou a independência em 1975. Zigui costumavisitá-los nas férias. Agora, pretende morar em Portugal para fazerfaculdade de Engenharia Química. “Acho que seria maisconveniente ficar com minha família.” Oensino superior é recente em Cabo Verde,existe há apenas uma década. Até então, oscabo-verdianos frequentavam cursos noexterior, principalmente no Brasil.
É por esse motivo que, tempos atrás, osjovens não viam muitas possibilidades de futurono país. “Terminavam os estudos e não sabiam oque fazer. Hoje, os jovens querem autonomia,uma profissão, e não ficar dependendofinanceiramente dos pais”, destaca. Apreocupação com a melhoria na educação do CaboVerde vem mobilizando os adolescentes e jovens,tanto que, quatro dias antes de ir para o Encontro Laços Sul-SulJovem, Zigui participou de um encontro de diversas escolas com oprimeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, para discutir
Jovem de Cabo Verde se prepara para a vida universitáriae quer colaborar com uma educação melhor para seu país
Vivian Ragazzi, em Brasília (DF)*
temas relacionados à educação. Segundo dados da Direção Geral daAlfabetização e Educação de Adultos (DGAE), de 2005, o índice depessoas não alfabetizadas no país diminuiu de 60%, em 1975, para 25%,graças a campanhas de alfabetização.
O Encontro Laços Sul-Sul Jovem, promovido pelo Fundo das NaçõesUnidas para a Infância (UNICEF), aconteceu em junho de 2010, em Brasília.Ao lado de outros 14 adolescentes vindos de países da América Latina,África e Ásia, Zigui representou Cabo Verde na criação da rede decooperação juvenil para o enfrentamento do HIV/aids, uma açãocomplementar à Rede Laços Sul-Sul, criada em 2004, num acordoconjunto entre os governos do Brasil, Bolívia, Paraguai, Nicarágua, TimorLeste, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Guiné-Bissau para promover oacesso universal à prevenção, tratamento e cuidados na área de HIV/aids.
Muito otimismoComo seu grande objetivo é entrar na faculdade e aprender uma
profissão, Zigui vem se esforçando muito. Acorda às 6h, vai à escola,almoça e estuda a tarde toda. Às vezes, visita amigos e parentes. Pararelaxar, costuma jogar vídeogame.
Com mais de 1,90 metro, Zigui parece ser um bom atleta. Ele diz quepratica esportes, mas nas aulas de Educação Físicaapenas, não profissionalmente. “Tínhamos um bomtime de handebol no bairro, mas as pessoas nãolevavam a sério e a equipe acabou”, lamenta.
Perguntado se tem algum medo, Zigui disseque tinha um, mas que aparentemente superou:andar na rua sozinho, à noite. “Atualmente nemdiria que é um medo, e sim uma precaução”, diz.
Em um país com maioria da populaçãocatólica (90%), Zigui afirma que não seguenenhuma religião, apesar de acreditar naexistência de algo maior. “A vida é feita desurpresas, mas sou um otimista”, conclui.Zigui pretende morar em Portugal
para cursar Engenharia Química
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Alessandro Muniz, Daísa Alves, Philipe Barros, Bruna Lopes e Nadjara Martins, do Virajovem de Natal (RN)*
Dificuldade de leitura e escrita na infância pode ser dislexia; é importante pais identificarem sintomas
nos filhos, ainda crianças, para auxiliá-los na alfabetização e evitar possíveis preconceitos na escola
Leonardo da Vinci, Albert Einstein, Thomas Edison eWalt Disney foram nomes que marcaram a história.A capacidade intelectual e criativa dessas personalidades
proporcionou ao mundo a realização de obras de relevânciaincontestável até os nossos dias. Mas todos possuíam umobstáculo pouco conhecido: a dislexia.
A dislexia “é uma dificuldade acentuada da aquisição daleitura e escrita que ocorre apesar de inteligência normal,oportunidade de aprendizagem, motivação e capacidade depercepção sensorial”, explica a psicopedagoga Ana Maria LeiteCavalcanti. Completa que decorre de herança genética, emcaso de falta de oxigênio no cérebro do feto ou quando apessoa sofre lesão cerebral.
É uma dificuldade no sistema de linguagem do cérebro deler e interpretar sons, que implica diretamente noreconhecimento das palavras, afirma Sally Shaywitz, doutoraem Medicina, neurocientista, pediatra e co-diretora do Centrode Estudos da Aprendizagem e da Atenção da Universidade deYale, no livro Entendendo a Dislexia (Editora Artmed, 2006).Sendo assim, não se trata de uma dificuldade de compreensãonem significa menor inteligência.
Pré-conceitos“Sempre fui muito hiperativa e tinha dificuldades na leitura
e na escrita”, diz a estudante Hana Quaresma, de 20 anos.Mesmo apresentando grau leve de dislexia, a estudante sabe
muito bem as barreiras que o disléxico enfrenta para seraceito na escola e pela própria família. Muitas vezes taxadade preguiçosa ou desinteressada, a criança costuma serexcluída do sistema de ensino, pois não acompanha o“ritmo” da escola.
A frustração cotidiana gera na pessoa baixa autoestimae pode também levar a diversas reações, desde comportamentode revolta até a apatia pelos seus interesses anteriores.Acaba sendo uma violência psicológica o que aconteceno modelo de ensino ao não reconhecer a diversidadee as potencialidades individuais. “Acho que a piordiscriminação que sofri foi o preconceito comigo mesma,pois nunca conseguia acompanhar meus colegas de classe”,confessa Hana.
O filme indiano Como Estrelas na Terra: toda criança éespecial (2007) retrata a história de Ishaan Awasthi, umgaroto de 9 anos. Ele era animado e sorridente, mas apóssucessivos fracassos em escolas que exigiam melhoria deseu desempenho sem observar sua singularidade, desiste detudo, inclusive do que mais gostava: a pintura.
Os pais de Ishaan queriam que seu filho fosse preparadopara competir e vencer no mundo contemporâneo eacreditavam que ele era simplesmente descompromissado comos estudos. Muitos pais, por desconhecimento, acabam nãocompreendendo seus filhos e isso somente agrava a situação,reduzindo o problema aos rótulos negativos.
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Revista Viração • Ano 8 • Edição 69 17
V
Não saber lidar com a aparente preguiça e falta deinteresse da filha também fez parte da vida de SamiraTavares, professora do Ensino Infantil. Mesmoincentivando a criança com livros sobre temas que ainteressavam e buscando acompanhar o cotidiano deleituras, essas dificuldades pareciam não diminuir. “Mesentia insegura e não sabia se eu estava pressionandodemais ou a protegendo. Minha filha já estava no 3º ano ealém de sentir desprazer ao ler, era chamada de lenta emsua antiga escola. Eu compreendia seu ritmo diferenciadomas temia não prepará-la adequadamente.”
Quando a menina foi encaminhada para a psicóloga danova escola (pois Samira não aceitou a postura daanterior), depois para uma neurologista e finalmente paraa psicopedagoga, esclareceu-se que ela poderia terdislexia e, assim, a mãe pôde compreender melhor asituação e saber como acompanhar a filha.
Percebendo a dislexiaDe 10 a 15% das crianças do mundo sofrem de dislexia,
segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).Os primeiros relatos foram descritos no Jornal MédicoBritânico em 1896 e era chamadade “cegueiraverbal”, mas“cada caso dedislexia é único ecomo tal deve sertratado”, diz AnaMaria Leite.
Segundo apsicopedagoga, emgeral, os sintomasda dislexia tornam-se evidentes já naalfabetização, 1º
ano do EnsinoFundamental ou mesmo na Educação Infantil, quando acriança apresenta dificuldade para ler e escrever. Quandoo diagnóstico só acontece mais tarde, por volta do 3º ou4º ano do Fundamental, acarreta em comprometimentoemocional do indivíduo.
Após observar a dificuldade, o diagnóstico é feito poruma equipe multidisciplinar formada por psicólogo,fonoaudiólogo, psicopedagogo escolar, clínico e,dependendo do caso, até neurologista, geneticista,pediatra e oftalmologista. Avalia-se então todas aspossíveis causas que estejam comprometendo o processode aprendizagem e só quando são excluídos os outrospossíveis fatores, chega-se à conclusão da dislexia.
A psicopedagoga Fabíola Jucá esclarece que “nãoé uma doença. Trata-se apenas de uma disfunçãoneurológica em que a informação no cérebro se processade forma diferente”, influenciando não só nocomprometimento da linguagem, mas tambémno aspecto motor.
Livro: Entendendo a Dislexia. SallyShaywitz (Editora Artmed, 2006)Filme: Como Estrela na Terra: Toda Criançaé Especial (Direção: Aamir Khan, 2007)
O acompanhamentoCada caso é único e não existe uma cartilha pronta
para acompanhar a dislexia. Mas fonoaudiólogo epsicopedagogo deverão focar o trabalho nas dificuldadesmais severas observadas no processo de alfabetização eestabelecer parceria com a escola, afirma Ana Leite. Elaconclui que, de todo modo, “o método de ensino maisindicado é o multissensorial (aprendizado que trabalhasimultaneamente com o uso dos olhos, ouvidos, órgãos dafala, dedos, músculos). Como exemplo, a criança pode serestimulada a escrever as letras com massinha de modelar,na areia, com a ponta do dedo, cada assunto abrangendodiversos sentidos.
Com a compreensão e acompanhamento apropriado,além do estímulo a diversas maneiras de aprender a lere se expressar, a criança pode superar as dificuldadessatisfatoriamente. Mas é preciso lembrar que a dislexiaé congênita, algo com que se aprende a conviver. “Éprimordial a aceitação dos familiares, acreditarem que eleou ela é capaz, incentivar sem haver superproteção,valorizar sem subestimar”, afirma Fabíola.
Laíse Gabriel tem 20 anos e descobriu a dislexia aos11. A jovem conta que sempre confundia letras parecidascomo “b” e “d”, “m” e “n”. “Isso prejudicava a minhaescrita e ler também era bastante complicado, mas hojenão acontece muito, eu até já faço faculdade.”
Atualmente ela cursaServiço Social e dizque nunca sofreu
qualquer tipode discriminação.
Segundo aautora SallyShaywitz, “aspessoas disléxicasadultas utilizamoutras regiões docérebro para ler.”Afirma que “omaior obstáculoque impede umacriança disléxica
de explorar seu potencial e perseguir seus sonhos éa ampla ignorância sobre a verdadeira naturezada dislexia”.
Ishaan é um garoto de 9 anos que épressionado a melhorar seu desempenhoescolar no filme Como Estrelas na Terra
* Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e noDistrito Federal ([email protected])
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Aos 96 anos e meio, como gosta de ressaltar, Juanita de
Pargament não demonstra cansaço ao contar, por mais uma
vez ao longo de 33 anos, todos os detalhes do surgimento de
um movimento reconhecido mundialmente pela luta e busca de
informações das pessoas desaparecidas durante a ditadura militar,
instaurada na Argentina (1976-1983).
Registros apontam que 30 mil pessoas, que se opunham ao
regime, teriam desaparecido. Na época, carregando fotos dos filhos,
as mães percorriam diferentes cidades do país para encontrar algum
indício sobre o desaparecimento desses jovens. Sem sucesso,
resolveram unir-se para recorrer pessoalmente ao governo e, assim,
cobrar notícias. Atitude que custou, inclusive, a vida de muitas dessas
mulheres, taxadas de “loucas” pelos militares, mas que se fortaleceu
com a chegada de outras mães.
Mesmo sem aprofundamento político, essas mulheres passaram a
organizar, na década de setenta, encontros escondidos para articular
ações de protesto pela Argentina. A mais marcante, e que persiste
fortemente até hoje, foi a ocupação da Praça de Maio, onde está a
Casa Rosada, sede do governo argentino, realizada numa quinta-feira
de 1977. Atualmente, essa manifestação acontece como forma de
lembrar a história, “para que não aconteça novamente”. Em 18 de
novembro de 2010, a Associação Mães da Praça de Maio completou
1.700 marchas de luta.
Caracterizadas pelos lenços brancos que carregam em suas
cabeças, as Mães da Praça de Maio foram se consolidando como um
importante movimento político e de luta social. Desde o surgimento,
a Associação das Mães da Praça de Maio se manteve crítica aos
governos que se seguiram na Argentina após o golpe das Forças
Armadas. No entanto, com a entrada de Néstor Kirchner (presidente
de 2003-2007) e de sua mulher Cristina Kirchner (atual presidenta),
parte das mães têm declarado apoio formal ao governo – a
Associação está em campanha pela reeleição da presidenta -,
situação que está rendendo muitas críticas de outros movimentos
sociais. “(Néstor) Kirchner foi o primeiro presidente que recebeu o
nosso movimento, compreendendo a nossa luta”, justifica Juanita,
que integra a Comissão Diretiva da Associação.
Na tarde de uma dessas quinta-feiras, a última de dezembro de
2010, Juanita recebeu a reportagem
para falar de política e juventude. No
início da conversa, ela elogia os
jovens do Brasil pelo seu
engajamento em causas sociais e diz
estar contente com o esforço que a
juventude da Argentina tem dado
pela preservação da memória.
Viração: O que significou não
se calar diante da ditadura militar?
Juanita de Pargament: Os
militares não queriam que
reclamássemos. Mas nós, mães,
não queríamos nos calar e, por
isso, vieram as perseguições. Nos
dias 8 e 10 de dezembro de 1977, a repressão
levou muitas pessoas importantes de nossa luta. Entre elas estava
Azucena Villaflor de Devicenti, uma mãe que foi quem sugeriu que
ocupássemos a Praça de Maio para pressionar o governo ditatorial
que sabia onde estavam os nossos filhos. Essas pessoas
desapareceram para sempre. Depois, ficamos sabendo que foram
terrivelmente torturadas antes de serem mortas.
Vanessa Ramos, colaboradora da Vira, e Rafael Stemberg, de Buenos Aires, na Argentina
Linha do Tempo
RepórterGalera
Mulheres de luta
2003 2006 2009
Um golpe das Forças Armadas
depõe a então presidenta Isabelita
Perón no dia 24 de março, dando
início a uma ditadura militar.
1976 1977
18 Revista Viração • Ano 8 • Edição 69
Muitos jovens que protestavam contra o regime
começaram a “desaparecer”, misteriosamente,
sem nenhuma explicação. Com isso, surge em 30
de abril um movimento formado pelas mães em
busca de seus filhos desaparecidos.
Chega ao fim a ditadura na
Argentina com a eleição do
presidente Raúl Alfonsín
1983
Conhecidas mundialmente pela luta contra a ditadura, em busca de informações dos
filhos que foram levados pela repressão e que desapareceram durante o golpe militar
argentino, as Mães da Praça de Maio completam 1.700 marchas de protesto
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podem ser levadas”. Porém, nós mães que estamos aqui nunca
tivemos medo, nos entregamos a essa luta em nome de nossos filhos.
E os pais desses filhos desaparecidos, seus maridos, como viam
toda essa luta? Eles participaram?
Assim como existiam mães que não queriam lutar, que ficaram em
suas casas, que não queriam caminhar conosco, havia homens que
diziam: “Eu quero ficar em casa, vou esperar nossos filhos aqui”.
Outros diziam: “Não quero perder meu emprego”, e vários tinham
medo. Os pais não lutaram como nós, éramos nós mulheres que
enfrentávamos todos os desprezos, medos e lutas.
Vocês têm recebido muitas críticas, de diferentes setores, sobre o
apoio que estão dando ao atual governo...
Não pretendemos que todos nos entendam. (Néstor) Kirchner foi o
presidente que recebeu o nosso movimento, compreendendo nossa
luta, oferecendo apoio abertamente. Durante anos, os governos como
o de Raúl Ricardo Alfonsín (1983-1989), Carlos Saúl Menem (1989-
1999) e Fernando de La Rúa (1999-2001) não nos receberam e foram
lamentáveis em relação à nossa luta. Já Kirchner recebeu 20 mães
durante o seu governo e teve um posicionamento diferente. Disse que
compreendia nossas dores. Ele e Cristina (Cristina Fernández de
Kirchner, atual presidenta), aceitaram ajudar em nossa luta. Cristina
compreende que nossos filhos não queriam uma sociedade dividida
em ricos e miseráveis.
E a juventude argentina?
Queremos ajudar a juventude de hoje a conhecer a história e
saber que nada deve repetir-se. O grande perigo é existir jovens que
não conhecem a sua própria história e que não percebem a
necessidade de mudança. Se isso ocorrer, a repressão poderá vir a
acontecer de novo.
Por meio da vida de uma professora que adota uma criança(possível filha de presos políticos), o filme A História Oficial, do diretor Luis Puenzo,apresenta importantes acontecimentos da ditadura Argentina. Vale a pena assistir!
V
Revista Viração • Ano 8 • Edição 69 19
2008
No antigo prédio da Escola Superior de Mecânica
da Armada, local onde funcionava o maior centro
clandestino da ditadura militar, foi criado o Espaço
Cultural Nossos Filhos (Ecunhi, na sigla em
espanhol) para a exposição de materiais da época.
Em 18 de novembro, as Mães da
Praça de Maio marcharam pela
1700ª vez em frente à Casa Rosada,
sede do governo argentino.
2010
E depois que essas pessoas do movimento foram levadas, vocês
pensaram em parar?
Isso nos afetou muito. Seguimos conversando, refletindo e nos
reunindo nos espaços possíveis. Decidimos que a nossa luta não
pararia. Um dia, tiramos a faixa da frente da Casa de Governo e
começamos a caminhar. As mães começaram a falar e o povo não
queria escutar, olhava para o outro lado. As mães caminhavam
algumas vezes chorando pelas ruas e algumas pessoas começaram
a perguntar o porquê daquilo, e questionavam o pensamento de
nossos filhos de ir contra o governo. Mas estávamos decidas a
recuperá-los. Assim, seguimos essa luta, sempre caminhando.
Viajamos ao exterior para contar ao mundo o que a Argentina estava
passando e dizíamos que teriam que escutar o que estávamos
falando porque isso poderia se repetir em qualquer outro país.
E o seu filho, quantos anos tinha quando “desapareceu”?
Eu vou dizer algo: - nós socializamos a maternidade. Para nós,
todos os filhos são iguais e temos um compromisso, o de não falar
de um único filho. A história de cada um, nós temos que ter
guardada com a vida. Temos que falar de todos, das qualidades, das
ideias, da luta revolucionária para fazer a mudança, da entrega de
cada um. Isso é que temos que valorizar e comentar. Não falamos da
morte. Lutamos para defender a vida, o nome de nossos filhos e a
luta revolucionária pela qual desapareceram.
Na época, muitas mães aderiram à luta?
Saibam que não foram todas as mães que disseram “Temos que
lutar”. Somente algumas aceitaram a luta. Umas diziam: “Eu não vou
sair para a rua, vou ficar em casa”. Muitas mães tinham medo,
inclusive existia um organismo internacional de ajuda
ao Golpe Militar e às famílias afetadas, que
mantinham um cartaz que dizia: “Não vão à
Praça de Maio, não as acompanhe, porque
“Não falamos da morte. Lutamos para defender a vida, o nome de
nossos filhos e a luta revolucionária pela qual desapareceram”
Juanita de Pargament, da Comissão Diretiva da Associação das Mães da Praça de Maio
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Mobilidade urbana exige ideias criativas e mudança de hábitos
Capa
Alessandro Muniz, Daísa Alves, Philipe Barros, Bruna Lopes e Nadjara Martins, do Virajovem Natal (RN)*,
Michele Torinelli, do Virajovem Curitiba (PR), e Sâmia Pereira, do Virajovem São Paulo (SP)
Cidade,pra quete quero?
De dezembro de 2009 até agosto de 2010, o DepartamentoNacional de Trânsito (Denatran) contabilizou 1 milhão, 652 mil,838 novos carros nas ruas. São 4.528 novos carros diariamenteem todo o País. Um carro é capaz de levar até cinco pessoas. Masno dia-a-dia, geralmente é ocupado por apenas um motorista eocupa a metade do espaço de um ônibus, que leva uma média de40 pessoas. Esse aumento assombroso deixa dúvidas: por ondetrafegarão todos esses carros novos? Como sustentar o sonho detodo adolescente ou usuário de transporte coletivo de comprarseu próprio carro? Em que estacionamentos os veículos ficarão?Deverão ocupar casas, praças e o lugar de árvores?
O veículo privado transforma nosso relacionamento com oambiente. Uma rua é um espaço público, mas no momento em queestá engarrafada, o carro se torna um loteamentoambulante. As ruas tomadas de carros estacionados éigualmente um lugar invadido pelos sem espaço! Nãotendo onde jogar sua tonelada de metal, os motoristasroubam o espaço coletivo e fazem dele pontode parada.
Correria, trânsito, sinais fechados, engarrafamento. Fechea janela para abafar o barulho e a fumaça e manter o arcondicionado e a segurança. Afinal, nunca se sabe, se
são flanelinhas ou... Acelera, costura para chegar mais rápido.O que é que tem na rua mesmo? Nem vi, estou com pressa!Aonde quero chegar? Não sei, só sei que quero ir rápido! Nãovivo na cidade. Passo por ela.
A atualidade exige cada vez mais rapidez. As novastecnologias aceleram a vida cotidiana e ninguém conseguebrecar. O automóvel, além de ser símbolo de status social, évisto como uma das poucas soluções para o caos dotransporte coletivo no Brasil. Essa ideia tem a ver com oprojeto de industrialização na década de 1960, de acordo comAureliano Biancarelli e Roberto Pellin, em artigo publicado nolivro Apocalipse Motorizado: A tirania do automóvel em umplaneta poluído (Editora Conrad, 2004).
Nossas práticas de consumo estãosendo cada vez menos aprovadas pelanatureza e pela nossa própria sociedade.
20 Revista Viração • Ano 8 • Edição 69
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Revista Viração • Ano 8 • Edição 69 21
Essetrecho do
poema Motivo,de Cecília Meireles, ilustra um pouco o espíritomotorizado das cidades do mundo, a ânsia porvelocidade, a vontade de fuga dosengarrafamentos, do tempo perdido, do espaçourbano. Não há tempo para desfrutar, gozar asatisfação da rua, das árvores, dos detalhes daarquitetura urbana e humana. Quando parado, omotorista também está irritado com a demorae o estresse não permite apreciar nada. Não hátempo, nem paciência, para olhar e não háespaço para passar...
No documentário Sociedade do Automóvel,dirigido por Branca Nunes e Thiago Benicchio,vários motoristas são abordados com apergunta: O que há de mais interessante no seucaminho? E a resposta é: “Nada”. O carro nãopermite o olhar, apenas o “ver” o trânsito. Umestudo elaborado pelo Citigroup intitulado Offthe Beaten Path (Longe do Caminho Batido),mostra que o brasileiro passa duas horas e 36minutos por dia no trânsito. Se este valor formultiplicado por 22 dias úteis e por dozemeses, o resultado é 26 dias por ano dentro docarro. Quando multiplicado por 30 dias ao invésde 22, a estatística aumenta para um mês ecinco dias o tempo que um cidadão passadentro de um veículo todo ano. Considerandoque quem anda de ônibus passa um temposemelhante dentro do coletivo, constata-se queo transporte urbano toma uma enormequantidade da vida de todos.
Atualmente, fala-se muito em mobilidade enquanto melhoria dos transportes:
Planejamento de Mobilidade, Secretarias de Mobilidade etc. Quando se trata de
acessibilidade, todos lembram da rampa para cadeirante, dos acessos para aqueles
que têm dificuldade de locomoção. O professor Enilson Santos, engenheiro civil, doutor em engenharia de
transporte e participante do Núcleo de Estudos em Transporte da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte explica que esta percepção está equivocada. Para
ele, o que chamamos de “acessibilidade” é apenas a micro-acessibilidade, que são
as formas de acesso a edifícios e veículos. No atual planejamento de Mobilidade o
que se leva em conta são os movimentos realizados dentro do espaço, isto é,
observa-se para onde as pessoas precisam ir e, a partir daí, são planejadas as rotas
de ônibus, de outros transportes coletivos e as vias de acesso. O planejamento mais avançado de transporte é o que os europeus chamam de
Acessibilidade, que leva em consideração duas áreas: as características pessoais
dos usuários, ou seja, se há crianças, mulheres, idosos, pessoas com dificuldade de
locomoção. E a outra questão é o acesso às oportunidades sociais, como emprego,
educação, saúde, cultura, lazer etc. Ou seja, o que importa é avaliar e planejar para
que seja fácil se chegar aos lugares. Afinal, é mais fácil chegar a um hospital no
meu bairro do que do outro lado da cidade. É mais rápido trabalhar nas
proximidades do que na cidade vizinha. E a gestão pública, partindo desse princípio,
deve agir tanto distribuindo melhor os serviços públicos, quanto fomentando de
diversas maneiras o emprego de forma também distribuída.Um exemplo dado pelo professor foi o de Macaíba, cidade da grande Natal (RN),
que transformou os postos de saúde em centros de desenvolvimento comunitário.
Nos horários em que o posto não estaria funcionando, aquela estrutura física foi
potencializada para incentivar o desenvolvimento social, seja como um espaço de
lazer, cultura ou economia solidária. Há também os casos da constituição de pólos
culturais descentralizados em Recife (PE), entre outros exemplos.O valor social em questão agora é o acesso, pois “o transporte precisa
aproximar os cidadãos”, afirma o professor. Nessa perspectiva, o planejamento
deixou de ser setorial: setor do transporte, da educação, saúde etc., ele passa a
compreender todos os setores. Construir uma escola ou centro de saúde em uma
região reduz um fluxo de pessoas para escolas e clínicas em outros lugares.
Outro exemplo citado pelo professor foi de Belo Horizonte (MG), que criou
Conselhos Comunitários de Transporte, que permitem aos cidadãos contribuírem
nas tomadas de decisão para a resolução dos problemas.
Irmão das coisas fugidias,não sinto gozo nem tormento.Atravesso noites e dias no vento.Se desmorono ou se edifico,se permaneço ou me desfaço,- não sei, não sei.Não sei se ficoou passo. Mobilidade x AcessibilidadeE
spaço
para quê?
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Capa
resistência contra adegradação do mundopelo homemmoderno”, argumenta.
Os ativistasapontam que aspolíticas curitibanasatendem mais aosapelos de marketingque à necessidadeda população. Nocaso das ciclovias, a jornalista AnaToledo acredita que elas sãorestritas a atividades de lazer.“Nenhuma ciclovia temfuncionalidade no dia-a-dia, para irao trabalho ou à faculdade”, acusa.
Otávio Rocha, estudante degeografia da UFPR, acredita que osbenefícios culturais e ecológicos dacidade estão disponíveis somente parauma classe social definida. “Um amigomeu sempre fala que se no Rio deJaneiro tem o Complexo do Alemão, emCuritiba temos 'Complexo DE Alemão'”,ironiza o estudante, referindo-se à famade “capital européia” da cidade.
Ana aponta que a Câmara Municipal já aprovou váriasemendas para ciclofaixas que não são implementadas porindisposição política. “Ações simples como faixas de ciclovias econstrução de bicicletários em pontos de grande fluxo não têmsido pauta dos órgãos competentes pela mobilidade urbana”,denuncia Otávio. Enquanto isso, congestionamentos tornam-separte do cotidiano curitibano e o transporte público não dá contado contingente populacional.
22 Revista Viração • Ano 8 • Edição 69
Bicicleta como evoluçãoOs pedestres, ciclistas e usuários dos sistemas coletivos são vistos
como excluídos ou menores na “cadeia evolutiva” da sociedadeurbana. Martins França, de 31 anos, trabalhador de construção eusuário de ônibus, afirma que andar a pé não é agradável. “Há muitosburacos nas ruas, lixos nas calçadas, elas não são arborizadas”.Judson Themístodes, estudante de 24 anos, concorda: “A cidade nãofoi pensada para os pedestres”. E confessa ainda que não anda deônibus porque considera que eles não funcionam.
Mas é inegável que buscar soluções para a vida nas cidadesnecessita mudança de hábitos, atitudes e pensamentos de cada um.Assim, na cidade do futuro, não serão apenas engenheiros earquitetos os responsáveis pela mobilidade. Será cada cidadão, seumodelo de vida e seu padrão de consumo.
Pensando nisso, incontáveis movimentos surgem, questionando omodelo de mobilidade urbana nas cidades brasileiras e apontandoalternativas sustentáveis de transporte. Curitiba (PR), por exemplo, éinternacionalmente conhecida como capital ecológica e cidademodelo – slogans tantas vezes repetidos nas propagandas políticaslocais. Contudo, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística) de 2009, a capital paranaense possui o maioríndice de carros por habitantes no País. Iniciativas reivindicam aimplantação de uma real política pública de sustentabilidade, e vãoalém: buscam construir alternativas e atuar como agentes demudança de consciência.
Foi justamente a incompatibidade entre propaganda erealidade que atraiu a geógrafa estadunidense Nicole Di Sante paraCuritiba. Ela ouviu falar muito do planejamento urbano da cidade eresolveu desenvolver uma pesquisa na Universidade Federal doParaná. “Escolhi o tema da bicicleta porque o discurso de 'cidadedo povo' é muito hipócrita”, explica.
O resultado dos dez meses de pesquisa de Nicole pode serconferido no documentário O veículo fantástico, lançado emdezembro. O filme aborda a mobilidade sustentável - sob asperspectivas social, econômica e ambiental - a partir deentrevistas com grupos de estudos universitários, coletivosartísticos, movimentos políticos e diversos cidadãoscuritibanos sensibilizados com a temática.
Mais bicicletas, menos carrosPelas ruas da cidade, é possível encontrar
intervenções artísticas que abordam aquestão da bicicleta. “Às vezes ainda ficaalgum resquício”, provoca FernandoRosenbaum, integrante do coletivoartístico Interlux, referindo-se àilegalidade de sua arte urbana. “Pramim, andar de bicicleta é um ato de
Além de permitir melhor mobilidade noespaço urbano, o movimento Bicicletada éum momento para fazer novos amigos
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Revista Viração • Ano 8 • Edição 69 23
O movimento sempre“perturba” o poder público, como dizFrancisco Fabiano da Silva, 27 anos,membro da Bicicletada, e graças a isso jáobteve algumas conquistas, como o Pedal Livre, umprojeto da Prefeitura de Natal que interdita uma faixa deuma rua para transformá-la em ciclovia de lazer aos domingos. Não é oobjetivo da Bicicletada, mas já é um espaço ocupado. E outro espaçoocupado pelos “bicicletados” são as manifestações contra o aumento dastarifas de ônibus, pois acreditam que o transporte público de qualidade e aum preço acessível é uma importante alternativa e solução.
Mais do que um participante, Fabiano aderiu ao transporte alternativo.Ele deixa o carro em casa e vai para o trabalho em sua bicicleta. Os 8,6quilômetros que ele percorre para ir e voltar são uma batalha diária, pois aavenida que utiliza tem pouco espaço tanto para bicicletas, como para ospedestres. Uma das grandes vantagens é o tempo: com sua bicicletaFabiano demora 13 minutos para chegar ao trabalho. Se fosse de carro, omesmo percurso lhe custaria 26 minutos. Esta ação influencia, inclusive, emseu trabalho, com mais disposição e atenção. Segundo ele, quando nãoutiliza a bicicleta sente-se mais cansado.
A Bicicletada é também uma celebração do espaço urbano. Reunindocerca de 100 a 120 ciclistas todos os meses, a Bicicletada Natal é ummomento de conhecer pessoas, fazer amigos, conhecer a cidade. Afinal,todos os meses o grupo ruma para um destino diferente. Já foi para osquatro cantos da capital, desde os bairros mais afastados, até os lugaresturísticos e simbólicos.
Mobilização criativaPara propor um novo modelo de mobilidade urbana,
grupos e movimentos têm encontrado maneiras criativasde mobilizar e protestar. Um exemplo é aBicicletada, na qual ativistas ocupam ruas centraisda cidade reivindicando espaço e exercendo seudireito de ir e vir – mesmo sem automóvel.Também conhecida como “Massa Crítica”, aBicicletada acontece mensalmente em 23
Estados e no Distrito Federal,somando mais de 80 cidades emtodas as regiões do País, além devários países do mundo.
Em Natal (RN), a Bicicletadaacontece todo último sábado domês, mas o dia tradicional noPaís é a última sexta do mês, nohorário de pico. Do grupoparticipam pessoas de todas asidades, de crianças a idosos quelutam por meios de transportecoletivo e também pelos não-motorizados (bicicleta, patins,skate etc.), pensando sempreem atitudes mais ecológicase sustentáveis.
Por uma vida sem catracas
O Movimento Passe Livre (MPL) é outra manifestação capaz de interferir na mobilidade urbana. Seu objetivo é reivindicar umtransporte público fora da iniciativa privada, com a migração para o sistema público de transportes, de forma que garantatransporte de qualidade para toda a população.
A ideia do movimento surgiu de uma revolta popular em 2003, em Salvador (BA). Milhares de jovens, estudantes etrabalhadores ocuparam as vias públicas da cidade para protestar contra o aumento da tarifa. O evento, conhecido como a“Revolta do Buzu”, gerou um documentário de mesmo nome, sobre como os estudantes lideraram um movimento que nãohaviam iniciado. Em 2004, um grupo de estudantes de Florianópolis (SC), inspirados na revolta de Salvador, realizaram a“Revolta da Catraca”. Os eventos destas cidades não passariam despercebidos. Na quinta edição do Fórum Social Mundial foiorganizada uma plenária na qual diversas pessoas contaram suas experiências em busca de uma outra forma de transporte.Desta reunião nasceria o MPL, que hoje está presente em todas as regiões do Brasil.
As ações do movimento incluem estudos e análises dos sistemas de transporte urbanos e sua divulgação. Porém, as ações que maiscaracterizam o grupo são os protestos diretos, realizados nas capitais dos Estados, que reúnem estudantes e a população em geral.
* Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal ([email protected], [email protected] e [email protected])
A foto de capa desta revista foi cedida pelo ColetivoExperiência Imersiva Ambiental (EIA).Visite o site do movimento Bicicletada: www.bicicletada.org
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Em dois dias, a 9º Feira Preta reuniu pessoas de todas as raças,crenças e cores, para falar sobre o movimento negro no Brasil.O evento ocorreu de 18 a 19 de dezembro de 2010, no Centro
de Exposições Imigrantes, na capital paulista. Contou com váriasmostras de artes plásticas, shows musicais, cinema, teatro, literatura,moda, gastronomia e turismo.
A iniciativa da feira veio da jovem Adriana Barbosa, que até entãoera gestora de eventos e se mantinha à frente do Brechó da Troca,bazar improvisado de troca de roupas. Com o arrastão (investida dosfiscais da Prefeitura) que o bazar sofreu, Adriana teve de iniciar umnovo empreendimento. Juntando a necessidade de se manter e apercepção da ausência de negros nas feiras que frequentava, surgiu aideia da Feira Preta.
Os contatos vieram com o tempo. Adriana e uma amigapercorriam diversas feiras procurando expositores. A primeiraparceria veio de uma empresa de cosméticos voltados apenas para apele negra. Assim, a feira começou a ser organizada em 2002 eacontecia na Praça Benedito Calixto, zona oeste de São Paulo.
A iniciativa mescla tanto questões culturais quanto comerciais.Adriana diz que, “muito mais do que um evento cultural, a feira éresultado de um conjunto de iniciativas colaborativas, coletivas einclusivas, num ambiente de encontro e valorização da cultura e dopotencial de mercado desse segmento".
Barbie NegraAinda assim, a proposta é que existam atividades ao longo do
ano que excedam os dois dias do evento, de forma a criar umaplataforma de difusão e divulgação da cultura da populaçãoafrodescendente. Para isso, foram criadas iniciativas como as Pílulasde Cultura, encontros mensais para exibição de documentários,promoção de debates e oficinas culturais.
O evento fortaleceu-se ao longo dos anos e se tornou a maiorfeira de cultura negra da América Latina e já reuniu 400 artistas, 500expositores, mais de R$ 2 milhões de circulação monetária e 40 mil
Uma feiradiferente
Douglas Ramos, Eric Silva, Liliane Alves, Lilian Romão, Michel
Sanabio, Nádia Oliveira, Sâmia Pereira, Thays Vidal, Wesley Thiago,
da Agência Jovem de Notícias
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Revista Viração • Ano 8 • Edição 69 25
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visitantes. Na edição de 2009, realizada no Anhembi, foram 12mil visitantes, 100 expositores, 150 artistas e 190 empregosdiretos e indiretos gerados.
Nessa feira de 2010 os expositores foram bemdiversificados. Andando pelos corredores e estandes, erapossível encontrar roupas, livrarias especializadas, artesanato,escolas de idiomas e até cabeleireiros. O evento também contoucom mostras de filmes com temáticas relacionadas aomovimento negro e também uma exposição de bonecas Barbiesnegras, as Black Barbies, do colecionador Carlos Keffer. Porém, aatração que mais agitou a galera foi o show do rapper Emicida.A seguir, você confere as impressões da galera, coletadas pelaAgência Jovem de Notícias, sobre o que rolou na feira.
As crianças que sofrem racismo na infância terão
problemas no futuro? Quais? Qual a solução para isso?
Elizabete, 67 anos
“Com certeza! A criança se torna introspectiva. Ninguémnasce racista; torna-se de acordo com o seu meio de vida.O racismo, na verdade, vem da educação que as criançasrecebem e também é daí que se origina a solução.”
Rodrigo, 33 anos
“Sim. A autoestima fica comprometida e a criançatambém tem problemas de convivência. A solução seriaeducar esta criança tanto em casa quanto na escola, paraque possa ser incentivada a todo tipo de diversidade.”
Miriam, 38 anos
“Não. Crianças conseguem superar traumas com maisfacilidade que adultos, se forem orientadas pelos pais e porpsicólogos.”
Wellington, 36 anos
“Sim. Pode causar diversos distúrbios emocionais, alémde não reconhecer-se como negro. Acredito que apenas odiálogo com os pais já ajude.”
Fala, povo da Feira Preta!
“Por uma Infância semRacismo.” É esse o mote dacampanha nacional do Fundo dasNações Unidas para a Infância(UNICEF), lançada em dezembro de2010, para “sensibilizar a sociedadesobre os impactos do racismo nainfância em todo o Brasil, além dearticular e promover atividadessociais, culturais e de cidadania nocombate à discriminação racialcontra crianças e adolescentes”.
Baseada na ideia de ação em rede, a campanha convidapessoas, organizações e governos a garantir direitos de cadacriança e de cada adolescente no Brasil.
Estudos socioeconômicos e análises do UNICEF mostram que os avanços alcançados pelo Brasil nãoconseguiram ainda gerar impactos suficientes nas situações de desigualdades da população, sobretudo decrianças, adolescentes e mulheres negras e indígenas. A falta de acesso a serviços impõe obstáculos anegros e indígenas mesmo antes do nascimento. Veja como participar da campanha, acessando o site:www.infanciasemracismo.org.br
Infância sem Racismo
A ideia da Feira Preta surgiu em 2002pela gestora de eventos Adriana Barbosa
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26 Revista Viração • Ano 8 • Edição 69
Texto e fotos: Monica Torresani e Paulo Lima, de Cles, na Itália
Iniciativa de educomunicação ambiental numa escola do norte da Itália ganha reconhecimento regional
V
Fique por dentro das ações que a Viração
faz pelo mundo: www.viracaoworld.tk
(selecione o idioma no topo da página)
Green Team vencePrêmio Ambiente 2010
meio de duas grandes
campanhas de mobilização
para que eles e suas
famílias possam usar
produtos com menos
embalagens e fazerem coleta
seletiva”, conta a estudante Linda
Provano. “Também estamos propondo
colocar uma máquina de distribuição de
merenda com produtos
biológicos no pátio da escola.”
Afinal, como bem disse o secretário
ambiental do Trentino, Alberto Pacher,
durante a entrega do Prêmio Euregio
Ambiente 2010: “Iniciativas como essa são
de fundamental importância para criar uma
forte cultura ambiental nas novas gerações.
O desafio gerado pelas mudanças
climáticas passa por meio da
cooperação e do compromisso de
cada um de nós”.
O secretário afirmou ainda que os
temas da sustentabilidade e o
respeito pelo ambiente devem
caracterizar nossa vida no dia a dia.
Liceu Bertrand Russel, de Cles, região do Trentino, norte da
Itália. Aqui, um grupo de 20 estudantes com no máximo
15 anos e quatro professores de diversas disciplinas estão
desenvolvendo um projeto de educomunicação ambiental que
acaba de dar seus primeitos passos, mas que já está ganhando
reconhecimento. O grupo se chama Green Team e o
reconhecimento veio dias
antes do Natal, com o
Prêmio Euregio Ambiente
2010, como melhor
projeto ambiental entre
as escolas da região,
entre quase cem
inscritos. O prêmio é
promovido pelos
governos das regiões
do Trentino, Alto
Adige e Tirolo.
O Green Team começou suas
atividades em setembro de 2010,
dando continuidade às atividades locais
que foram realizadas no âmbito da
Conferência Internacional Vamos Cuidar
do Planeta, promovida pelo governo
brasileiro e realizada em Brasília (DF) em
junho do ano passado. Este evento
internacional contou com a participação
de mais de 500 adolescentes de 43
países. Entre os delegados italianos
estavam Michele Catani e Roberto Sandri,
ambos do Liceu de Cles.
Logo após as férias de fim de ano escolar, os estudantes e
professores se mobilizaram para dar continuidade à conferência
local realizada com a colaboração da Viração Educomunicação e
do Conselho Nacional de Pesquisa de Bolonha.
O Green Team tem até um blog (www.greenteam.tk), os
integrantes se encontram toda semana e realizam ações de
defesa do ambiente por meio de produtos de comunicação e
mobilização social.
“Nosso principal objetivo é sensibilizar o maior número
possível de jovens na escola e na comunidade, sobretudo por
Roberto Sandri e Michele Catani
foram os representantes da Itália
na conferência brasileira
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Revista Viração • Ano 8 • Edição 69 27
Quarto Mundo
e o primeiroProjeto educomunicativo da Viração em parceria com a TV USP ganha
prêmio de melhor programa do circuito audiovisual universitário
afirma que o prêmio é o reconhecimento da importância que oprojeto desenvolve enquanto espaço de desenvolvimento deprotagonismos e emancipação de jovens dentro da universidadepública. “O prêmio é uma valorização da extensão universitária, doretorno do conhecimento gerado na academia para a sociedade.Significa também um incentivo para o crescimento do projeto epara a busca por novos parceiros e colaboradores“, fala.
Na redeAssim que o anúncio do prêmio foi feito, os integrantes e ex-
integrantes do QM espalharam a notícia nas redes sociais, como oTwitter. Carolina Timoteo, de 16 anos, participa atualmente doprojeto e diz estar satisfeita com o resultado. “É muito gratificantever que todo o trabalho dos jovens 'quartomundenses' éreconhecido e que o programa está evoluindo a cada temporada!”.Já Rafael Biazão, de 20 anos, acredita que não é apenas umreconhecimento. “Este prêmio é também um incentivo para que osjovens busquem alternativas para construir uma mídia de qualidadee, quem sabe, ser exemplo para outros programas", comenta oestudante que esteve nas três primeiras temporadas do programa.
O Quarto Mundo é apresentado em diferentes horários pela TVUSP (canal 11 da NET, 71 da TVA e 187 da TVA Digital) e na internet,
pelo Canal Universitário.Acesse o site www.usp.br/tv
e confira! V
Eric Silva e Sâmia Pereira, da Redação
Oprograma Quarto Mundo, projeto da Viração
Educomunicação em parceria com a TV USP, canal daUniversidade de São Paulo, ganhou o prêmio de Melhor
Programa de TV Universitária durante o 6º Fest Aruanda (Festivaldo Audiovisual Brasileiro), que aconteceu em dezembro de 2010,em João Pessoa (PB).
O Fest Aruanda é um evento aberto à participação deestudantes universitários de todo o País, além de ex-estudantesque tenham produções realizadas durante o período letivo. Oobjetivo do festival é reconhecer e contemplar novos profissionaise talentos na área do audiovisual nos circuitos universitáriosestadual, regional e nacional. Além das premiações, a iniciativa
ainda conta com seminários, oficinas e palestras.Exibido toda semana pela TV USP, o Quarto
Mundo (QM) existe há três anos e está em suaquarta temporada. Integrado por jovens e
adolescentes de escolas públicas e particularesda grande São Paulo, que recebem formação em
audiovisual e jornalismo, o programa é produzidode forma educomunicativa e colaborativa, além de
abordar temáticas relacionadas à juventude. Os participantesdo projeto têm de 14 a 21 anos, são estudantes do Ensino
Médio e constroem o programa desde a pauta, apresentação,gravação e edição.
Luiz Prado, jornalista da TVUSP que começou
a participar doQM nestatemporada,
'Quartomundenses' da atualtemporada (4ª); programa é exibidosemanalmente na TV USP
Blog do Quarto Mundo:http://quartomundotvusp.blogspot.com/Assista a todos os episódios do QM:http://tinyurl.com/quartomundo
Robe
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Lott
i/TV
USP
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28 Revista Viração • Ano 8 • Edição 69
Carolina Gutierrez, colaboradora da Vira*
transeuntes e o poder público. Levanta questões sobre de quemé a cidade. Resgata o verdadeiro conceito de público”, explica agrafiteira Ziza de São Paulo.
É sempre muito curioso como as pessoas se relacionam comas imagens. O graffiti ocupa o espaço e interage o tempo inteiro.Desde pautar olhares transgressores e reflexivos até situaçõesengraçadas. Quem nunca, por exemplo, ao indicar um caminho,disse “olha só! pega a primeira esquerda e vira na quarta à direita,na rua onde tem um graffiti bem colorido na esquina”.
“Toda a cultura hip-hop, incluindo o graffiti, é atoresistente numa cidade que sonega direito, sonega a voz. Elaocupa, traz visibilidade, dá voz. Além disso, o graffiti tem umpapel de revitalização – dá vida ao que não tem cor”, diz PauloCarrano, professor da Faculdade de Educação da UniversidadeFederal Fluminense (UFF) e coordenador do Observatório Jovemdo Rio de Janeiro.
Nesse sentido, o graffiti humaniza e transforma o espaçourbano. Embeleza, ao mesmo tempo em que defronta a cidade esuas contradições, obrigando-a a contemplar sua própria miséria.Projeta imagens dialéticas. Reflete outro lado da organização socialda metrópole. Em cada mensagem, a denúncia pelo direito à cidade– o direito fundamental à dignidade dentro desse mosaico social.
Que estilo cola
Para começo de conversa é graffiti! Grafite é aquele bastãofininho que tem dentro do lápis que serve para escrever. Masgraffiti também é escrita. Escrita inscrita nas paredes da cidade.
É cor, linguagem, textura, arte, intervenção, protesto, provocação.A história, as lendas e a Wikipédia dizem que o graffiti deriva lá
do Império Romano, onde os muros eram utilizados como um dossuportes de diálogo com a esfera pública. Cristo foi crucificado,Maria Antonieta perdeu a cabeça, o muro de Berlim foi derrubado, oCorinthians foi para a Libertadores e o graffiti continua sendointervenção, arte e denúncia urbana.
Generalizou-se pelo mundo a partir de maio de 1968, quando, nocontexto de revolução política e cultural, os muros de Paris foramtomados por inscrições de caráter poético-político. Tornou-sepopular e adquiriu forma nas ruas de Nova York. No Brasil, maisfortemente em São Paulo, surgiu na década de 1970. Primeiro pelaspichações poéticas e depois com a stencil art (com reproduçãoseriada). Já nos anos 1990, o graffiti ampliou sua presença para asperiferias no rastro do movimento hip-hop.
Hoje, está incorporado de tal forma na vida urbana que faz parteda identidade das cidades. Em São Paulo, todo dia 27 de março,saúda-se o dia do graffiti (não oficializado nacionalmente). A data écelebrada desde 1988, em homenagem a Alex Vallauri, um dospioneiros da arte de rua no País. O grafiteiro, pintor, artista gráfico,desenhista, cenógrafo e gravador nasceu na Etiópia, mas adotou oBrasil. Criou personagens célebres reproduzidos em stencil por todaa Paulicéia, como a enigmática botinha preta de couro.
As histórias dos graffitis se entrelaçam, se recriam. Numa paletade cores, assumem novas formas e matizes. Os muros são osuporte, a morada de todos esses grafismos, ícones, histórias ememórias de uma metrópole. O graffiti é assim. Nasce danecessidade de passar uma mensagem. Caminha em cores por ruascinzas. Provoca o olhar para a cidade. Em cada símbolo, torna osmuros sociais visíveis. É poético. É ácido. É metáfora. É antítese.
Arte que humaniza
Embora autoral, o graffiti é arte intrinsecamente democrática.O desenho fica exposto a toda população sem distinção ourestrição – basta olhar a cidade. O fato de ser passageiro lheinsere um sentido de desprendimento. A noção de posse da obraé eliminada. “O graffiti mantém um diálogo muito rico entre os
Arte de ruA, poesiA e
O graffiti nasce da necessidade de passar uma mensagem, ao
mesmo tempo que humaniza e transforma o espaço urbano
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Revista Viração • Ano 8 • Edição 69 29
O grafiteiro e artista plástico Zezão, por exemplo, procurasempre locações vazias, abandonadas, com backgroundsdeteriorados. É conhecido mundialmente por seus graffitis azuisnas galerias subterrâneas. Ele dá cor aos intestinos e vísceras deSão Paulo.“Enxergo minha arte como um curativo da cidade. Esseé o sentido do graffiti para mim. Levar arte para as pessoas quehabitam os rincões esquecidos da metrópole. É quase umexorcismo do lugar”, contou.
No Rio de Janeiro, vários coletivos de graffiti, dentre eles oComando da Selva, se reuniam para decorar o morro. As casas dascomunidades cariocas ganhavam cor, desenho, textura e vida numambiente de desigualdade aparente – fratura exposta dasociedade. “A ação era toda esquematizada pelo fotolog e nosencontrávamos no dia combinado. Mas antes mobilizávamos osmoradores. A ideia era sempre promover os mutirões envolvendoa comunidade para se criar a noção de pertencimento do graffiti”,lembra Muleka, grafiteira do coletivo.
Para Mateus Subverso, do coletivo Suatitude (SindicatoUrbano de Atitude), de São Paulo (SP), o graffiti assume um papelchave na externalização da cultura periférica. “Ao ocupar acidade, ele volta o olhar para a quebrada. Existem os murosinvisíveis e os que são bem visíveis – onde está dito, aqui vocênão entra. O graffiti é a quebra desses muros”.
A arte que liberta
Ao falar de graffiti, não se pode esquecer sua origem: a rua.Arte transgressora e proibida, contracultura, cultura da periferia.Se, na maioria das vezes, é associado ao movimento hip-hop, nãoé à toa. O hip-hop como palavra da periferia, o grafite comoexpressão gráfica desta palavra. Considerado as artes plásticas dohip-hop, o graffiti possui grande potencialidade de comunicaçãoda quebrada. ”O graffiti pode ser encarado como uma mídia(pintura) e o muro como suporte (veículo). É por meio dele, dobreak, da poesia do MC e da musicalidade do DJ que a periferiapode espraiar sua mensagem”, enfatiza Mateus.
Fruto da necessidade de afirmação, resgata a identidade evalorização da comunidade. Os desenhos, as tags (assinaturastanto do graffiti quanto da pichação) sempre fazem referências àquebrada. “Temos de entender porque vários jovens começam aescrever nos espaços públicos. Para mim faz parte da construçãoda identidade. O boom das tags, por exemplo, expressa a
elaboração dessa identidade pelo seu local. A tag conter o localda comunidade é muito significativo. É a construção pelocoletivo. Estamos sempre nos vendo e vendo o nosso coletivo”,continua Mateus.
Com grande apelo entre os jovens, a arte dos muros é,inclusive, mobilização social. Para Satão, do coletivo DF-Zulu, deCeilândia, em Brasília (DF), o graffiti traz uma ideologia paratransformação social da comunidade. “Ensina a pensar; ensina queo pensamento vale à pena. É uma cultura que dá alternativas!”.
Existem centenas de projetos sociais que utilizam o graffiticomo forma de inclusão, geração de renda, educação e cidadania.Em Brasília, a associação e coletivo DF-Zulu, na ativa há 21 anos,trabalha para a transformação social da comunidade. São mais de80 jovens envolvidos nas oficinas de break, DJ e graffiti. “O DF-Zulu surgiu em 1989. Dos trabalhos que promovíamos, nasceu ocoletivo os3s (Satão, Sowto, Supla). Fomos um dos primeirosgrupos de graffiti de Brasília. E a partir de 1993, começamos atrabalhar nas ruas e becos da Ceilândia. A ideia sempre foitrabalhar a transformação nos jovens”, explica Satão.
Em São Paulo, destacam-se o Projeto Quixote, ONG vinculadaa Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o Centro de Defesada Criança e do Adolescente (Cedeca) de Interlagos, a ONG EscolaAprendiz, Rede Ivoz e a Ação Educativa. Todas mantêm iniciativasligadas ao graffiti como transformação social.
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Ao falar de graffiti, não se pode esquecersua origem: a rua. Arte transgressora eproibida, contracultura, cultura da periferia
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30 Revista Viração • Ano 8 • Edição 69
Que estilo cola
Educação: graffiti e atitude
Dentro ou fora da escola, a maioria dos coletivos de graffitidesenvolve ações educativas. Seja na educação formal ou não-formal, os grupos procuram criar cotidianamente novos meios eespaços para se debater a arte de rua em sua cultura.
Muitas escolas, sobretudo públicas, oferecem oficinas de graffitipara os alunos. A associação DF-Zulu, por exemplo, trabalha com arevitalização dos muros da escola por meio de atividades de graffiticom os alunos. “A escola faz parte da comunidade, e promovera revitalização gera um retorno a valorização deste espaço.Procuramos transformar a escola em um ambiente que os jovens sesintam bem e empoderados do espaço de aprendizagem. No final, éuma valorização da própria comunidade”, pondera Satão.
Para Guilherme Marin, da Rede IVoz, a escola é um espaço deconvivência de alto valor simbólico na comunidade. O graffiti, emsua capacidade de envolver o jovem, devolve o lúdico, a identidade eo respeito à comunidade. “Hoje, a maioria das escolas parecemverdadeiros presídios, perdendo o valor simbólico. A revitalizaçãocausa identidade no jovem. O fato do graffiti ser usadoem sala de aula devolve e demonstra valor pelo
conhecimento gerido pela comunidade. É a valorização da culturaperiférica – criada na comunidade”, explica.
Porém, o uso do graffiti como instrumento pedagógico podeser perigoso, se desvinculado de sua origem e história. Ocoordenador do Observatório Jovem do Rio de Janeiro, PauloCarrano, argumenta que dependendo da abordagem em sala deaula, corre-se o risco de descontextualização da cultura hip-hopem que o graffiti está inserido. “O graffiti é um mosaico de açõese sentidos; tem origem e contexto. Se usado na escola, não devedistanciar-se de sua origem”.
“O professor tem que ser um desbravador, levar os alunos à rua,ver o real, observar cores, técnicas, superfícies. Chega de criarambientes de reprodução”, completa a grafiteira Ziza.
O educador é, muitas vezes, referência para os alunos. Eleinquieta, provoca, cria verdades. Carrano defende que as mensagenscolocadas em sala de aula nunca devem ser impostas, masnegociadas. Os debates e atividades em torno do graffiti devemcontemplar e valorizar a sua origem – cultura periférica. Uma culturaaltiva, consciente de sua condição social e do quanto lhe foi negado. V
* Reportagem publicada originalmente na revista Escrevendo Juntos,da AlfaSol (Alfabetização Solidária): www.alfasol.org.br
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No Escurinho
Sérgio Rizzo, crítico de cinema
Desmundonasce�o�Brasil
V
Conheça um pouco mais da vida cotidiana brasileira do século 16, para entender o Brasil de hoje
Você já ouviu frases e diálogos em português arcaico, a
língua falada no Brasil durante os primeiros séculos da
colonização? Uma boa maneira de conhecer a melodia
muito peculiar do idioma de nossos antepassados é assistir a
Desmundo, longa-metragem dirigido por Alain Fresnot (o mesmo
da comédia Ed Mort) com base no romance de mesmo nome de
Ana Miranda.
A trama começa em 1570, quando chega ao Brasil um navio
trazendo moças órfãs e virgens enviadas pela rainha de Portugal
para casar com portugueses que viviam aqui. Oribela (Simone
Spoladore) é uma delas. Embora se recuse inicialmente a ser
tratada como objeto, ela acaba dobrando-se diante das
circunstâncias e concordando em tornar-se esposa de Francisco
(Osmar Prado), um homem rude que, no entanto, resolve tratá-la
com respeito.
Apesar disso, a situação da moça vai se tornando cada vez
mais difícil. Além de enfrentar as dificuldades naturais de
adaptação a uma terra estranha e bruta, Oribela é objeto do ciúme
da mãe de Francisco, Dona Branca (Berta Zemel), com quem o filho
parece manter uma relação incestuosa. Um comerciante judeu,
Ximeno (Caco Ciocler), entra em cena para formar um triângulo
amoroso e ajuda a complicar um pouco mais o quadro. O roteiro
de Desmundo toma diversas liberdades em relação ao livro de Ana
Miranda, sobretudo quanto ao destino da personagem. O
cuidadoso trabalho de reconstituição de época tem início com o
uso do português arcaico (o que obriga o filme a trazer legendas
em português contemporâneo) e passa pela cenografia (o engenho
de Francisco foi inteiramente construído para as filmagens), pelos
figurinos e pelos usos e costumes do período.
O empenho em reproduzir a vida cotidiana no Brasil durante
o século 16 gera uma forte (e inédita) sensação no espectador.
Não seria demais supor que, ao ver um pouco como se formou a
nação, muitos passem a entender melhor por que o Brasil é hoje
o que é, para o bem e para o mal.
Desmundo é baseado na obra
da escritora Ana Miranda
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32 Revista Viração • Ano 8 • Edição 69
Rango da terrinha
Gilmara Moreira, Leonardo Nora e Victória Sales, do Virajovem Rio Branco (AC)*
Prato característico nas zonas rurais, iguaria teve influência indígena
A Baixaria do Acre
Ingredientes para uma porção:
250 gramas de pão de milho150 gramas de carne moída1/2 xícara de cheiro verde picado1/2 xícara de cebola picada1 ovoSal a gosto
Pimenta a gosto
Modo de fazer:
Em uma panela, junte a carne moída, o cheiro verde e a cebola. Leve ao fogo baixo, não deixando osingredientes ficarem muito umedecidos. Em seguida, acrescente o sal e a pimenta. Frite os ovos separadamente.Enquanto isso, faça um moído com o pão de milho em uma panela para cuscuz. Depois de tudo pronto, montetodos os ingredientes em um prato (como na foto acima). Agora é só deliciar esta bela culinária acreana!
Como fazer a baixaria
* Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal ([email protected])
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Aculinária acreana possui forte influência dos povos indígenase dos moradores da região Nordeste que vieram trabalharcom a exploração da borracha no final do século 19. E uma
das comidas de grande sucesso é a Baixaria, prato simples,constituído por pão de milho, ovos fritos mexidos e carne moídatemperada com cheiro verde e cebola.
Por conta do forte vínculo rural-urbano no Acre em tempospassados, a Baixaria se popularizou entre os moradores das V
cidades. Inicialmente era o prato principal dos trabalhadores queexerciam tarefas braçais, como os encarregados do embarque edesembarque de mercadorias às margens do Rio Acreano. Mashoje virou uma receita popular entre todos os moradores.
É também muito característico da zona rural, onde écostume os trabalhadores realizarem reforçadas refeiçõesmatinais. Esse é o caso da Baixaria, que possui ingredientesricos em vitaminas A e B. Veja como prepará-la.
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Sexo e Saúde
V
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Uma das doenças que podem ser transmitidas durante o sexo sem
proteção é o papiloma vírus humano, conhecido como HPV (na sigla
em inglês), que pode provocar lesões de pele ou mucosa. Se não for
tratado com acompanhamento médico, há chances de se contrair
um câncer na região infectada. Para responder as dúvidas sobre o
HPV, Jéssika Delcarro, do Virajovem Pinheiros (ES)*, consultou Eliane
Gonçalves Pina, enfermeira do município de Linhares.
* Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal ([email protected])
ao colo do útero, podendo ocasionar umcâncer, quando não tratado. Então, é precisoconsultar o ginecologista regularmente paradetectar o vírus. Já nos homens é mais fácilperceber o HPV ainda no início.
E como se prevenir? Existe tratamento?
A melhor maneira de se prevenir do HPVé usando camisinha durante o sexo,inclusive na prática oral, mesmo comparceiro fixo. É comum que as pessoasinfectadas desenvolvam anticorpos paracombater o vírus. No entanto, nem sempreeles são suficientes para acabar totalmentecom a doença. Por isso, ao serdiagnosticado com o HPV, o médico iráorientar tratamento clínico.
Mande suas dúvidas sobre Sexo e Saúde, que a galera da Vira vai buscar asrespostas para você! O e-mail é [email protected]
No portal do Instituto Nacional doCâncer (Inca) tem mais informaçõessobre o HPV: http://tinyurl.com/hpv-inca
Como ocorre a transmissão do vírus HPV?
A transmissão do vírus acontecedurante a relação sexual sem o uso decamisinha, quando uma das pessoas possuio HPV de característica genital (vagina,pênis ou ânus). Segundo o portal doInstituto Nacional do Câncer, existem maisde 200 tipos de HPV, que podem sercontraídos por meio de contato direto coma pele de alguém que tenha o vírus.
Homens também podem pegar o HPV?
Diferente do que muitos pensam, oshomens também podem pegar o vírus. Asverrugas genitais aprecem no ânus, nopênis, na região da boca (quando feito sexooral) ou em qualquer área da pele se houvercontato direto com uma pessoa que possuio HPV.
Quais são os sintomas do vírus?
Na região genital tem o aparecimento deverrugas ou “crista de galo”, como é maisconhecida. Nas mulheres, por conta dacaracterística da vagina, o HPV pode seespalhar na parte interna da vagina e chegar
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Avanny Oliveira, do Virajovem Maceió (AL)*
A parceria com a Vira acontece desde 2009
e possibilitou a troca de muitos conhecimentos
na forma de produzir mídia jovem. Os
integrantes do Jeca de Maceió também já
participaram de dois encontros nacionais
realizados pela Viração em São
Paulo (SP). O último, que
ocorreu em outubro de 2010,
os estudantes Alan Fagner,
Daniel Silva, e o jornalista
Jhonathan Pino representaram
o conselho no evento.
Na ocasião, o professor
coordenador do projeto
destacou a importância
desse encontro. “A atividade vem reforçar
a educomunicação e a ‘troca de olhares’
culturais entre os jovens, fortalecendo
os valores dos envolvidos na
comunicação”, disse Antônio Freitas.
Ferramentas digitaisNas oficinas realizadas com
os alunos do Ensino
Médio, a prioridade é
a utilização das redes
sociais e dos blogs. Uma
forma de aproveitar o potencial que esses
espaços oferecem para a divulgação de
notícias. Os jovens também produzem um
jornal mural na escola onde estudam,
convidando novos estudantes a participarem
de todo o processo de produção. E, para 2011,
muita coisa promete!
Parada Social
Juventude plugadaEspalhados pelo Brasil, os Conselhos Jovens da Vira
realizam ações que envolvem a juventude local. Nesta
edição, você fica por dentro do núcleo de Alagoas
Para entrar em contato com o Conselho Jovem
de Maceió, mande um e-mail: [email protected]
OConselho Jovem da Vira em Maceió (AL) é
formado pela galera que participa do
projeto Interação Jovem – Juventude,
Educação e Comunicação Alternativa (Jeca), da
Universidade Federal de Alagoas (Ufal), baseado
em princípios da educomunicação e
visando o estímulo da produção midiática
por jovens de uma comunidade local.
Participam do projeto estudantes
voluntários de diferentes cursos da Ufal e
da Escola Estadual de Ensino Médio Ovídio
Edgard, localizada no bairro Tabuleiro dos
Martins. Entre as oficinas de comunicação
realizadas ao longo de 2010, estavam a
de redação, novas mídias, jornal mural e
rádio, com o intuito de despertar nos alunos a
produção de
conteúdo jovem e
com uma
linguagem própria.
O Jeca é
reconhecido pela
Ufal como atividade
de extensão
universitária e
conta com a coordenação do professor
Antônio de Freitas e a orientação do
jornalista Jhonathan Pino. Para completar essa
iniciativa, a Rádio Comunitária Martins FM 87,9
e o Grupo de Estudos, Pesquisa e Extensão em
Comunicação e Multimídia (Comulti) também
participam do projeto.
* Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal ([email protected])
Estudantes da Ufal e da escola
Ovídio Edgard produzem Jornal
Mural Interação Jovem
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Fez história por ser uma criança vencedora contra a escravidão infantil no Paquistão e no mundo.
Um garoto morto apenas aos 12 anos de idade por lutar pelo que pensava.
Novaes
Iqbal Masih (1983-1995)
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