Reuso e aproveitamento de água em lava jatos - Rev005
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REUSO E APROVEITAMENTO DE ÁGUA EM LAVA JATOS
Kelly Ribeiro Mundim1
Makey Stvenson Costa Ribeiro2 2Ângela Helena Silva Mendes3
Bárbara Gomes Ferreira4
Resumo
Este estudo possui como objetivo principal discorrer sobre o uso de sistemas de aproveitamento de água de lava jatos como alternativa viável no combate à erradicação dos recursos hídricos e preservação do meio ambiente. Em segundo plano, objetiva-se analisar soluções adotadas com funcionalidade e viabilidade econômica pelos engenheiros civis. A aquisição de informações sobre esse tema é de extrema relevância devido à relação que a Engenharia Civil assumiu com o meio ambiente e com projetos que visem diminuir impactos ambientais com o tratamento e reutilização das águas utilizadas nos lava jatos. O método empreendido foi pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo, cuja meta é basicamente avaliar em qual medida o tema tem sido abordado no Brasil. Bases de dados como Scielo e Bireme foram consultadas para efeito de avaliação panorâmica e generalizada sem critérios pré-estabelecidos. Os resultados demonstraram que a Engenharia Civil e os trabalhos acadêmicos estão palidamente empenhados em criar projetos inovadores e economicamente viáveis na reutilização de água dos lava jatos. Emendada na lei dos postos de gasolina, pode ser que novas recomendações e regulamentações venham favorecer processos de reutilização, mas até o momento o assunto é escasso de estudos. Palavras-chave: Lava jato. Meio ambiente. Efluentes. Reutilização de água. Engenharia Civil.
1 Graduanda em Engenharia Civil, pela Universidade de Gurupi. Endereço eletrônico: [email protected].
2 Graduando em Engenharia Civil, pela Universidade de Gurupi. Endereço eletrônico: [email protected].
3 Professora orientadora, graduada em Engenharia Civil, pelo Centro de Ensino Superior de Uberaba (2011); Especialista em Gestão Pública com Ênfase em Desenvolvimento de Projetos, pela Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Marabá; Mestranda em Ciências Florestais e Ambientais, pela Universidade Federal do Tocantins. Endereço eletrônico: [email protected].
4 Professora, graduada em Engenharia Civil, pela Universidade Alves Faria em Goiânia-GO; Especialista em Gestão Pública com Ênfase em Desenvolvimento de Projetos, pela Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Marabá; Mestranda em Ciências Florestais e Ambientais, pela Universidade Federal do Tocantins. Endereço eletrônico: [email protected].
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Abstract
This study has as main objective to discuss the use of systems of exploitation of lava water jets as a viable alternative in the fight against the eradication of water resources and preservation of the environment. In the background, the objective is to analyze solutions adopted with functionality and economical feasibility by civil engineers. The acquisition of information on this topic is extremely relevant due to the relationship that Civil Engineering has assumed with the environment and with projects aimed at reducing environmental impacts with the treatment and reuse of the water used in the jet washes. The method used was qualitative bibliographical research, whose goal is basically to evaluate to what extent the subject has been approached in Brazil. Databases such as Scielo and Bireme were consulted for general and panoramic evaluation without pre-established criteria. The results demonstrated that Civil Engineering and academic work are piously committed to creating innovative and economically viable projects in the reuse of water from the lava jets. Amended by the law of gas stations, it may be that new recommendations and regulations will favor reuse processes, but so far the subject is scarce. Keywords: Car wash. Environment. Effluents. Water reuse. Civil Engineering.
INTRODUÇÃO
A água é um recurso limitado e precioso. Este recurso natural ocupa cerca de
3/4 da superfície terrestre, e apenas 3% desta quantidade é de água doce.
Entretanto, 80% da água doce estão congeladas nas calotas polares ou geleiras, ou
em lençóis subterrâneos muito profundos. Logo, 20% do volume total de água doce
do planeta encontra-se imediatamente disponível para o homem. A distribuição
desigual da água pelas diferentes regiões do planeta faz ainda com que haja
escassez deste recurso em vários países (SILVEIRA, 2008). Villiers (2002 apud
MAY, 2004) aponta que 20% da água de escoamento global originam-se
exclusivamente na Bacia Amazônica, que é uma das maiores bacias hídricas do
planeta e corresponde a 1/5 de toda a reserva global. Tomaz (2001 apud MAY,
2004), por sua vez, descreve que o Brasil contém 12% da água doce do mundo,
porém tal porcentagem é distribuída de forma desigual em seu território. Em alguns
estados do Brasil – como Alagoas, Paraíba, Pernambuco, Sergipe e Rio Grande do
Norte –, a disponibilidade hídrica per capita é insuficiente para atender a demanda
necessária.
O uso exacerbado da água favorece para a atual crise hídrica vivida em todo
o mundo, precisando-se de alternativas mais eficazes para um melhor
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aproveitamento deste valioso bem. Uma delas é o reuso de água pluvial em
canteiros de obras da construção civil.
Diante desse contexto, faz-se necessário a ampliação dos conhecimentos
referentes à conservação de água. Sendo assim, este estudo possui como objetivo
principal discorrer sobre o uso de sistemas de aproveitamento de água de lava jatos
como alternativa viável no combate à erradicação dos recursos hídricos e
preservação do meio ambiente. Em segundo plano, objetiva-se analisar soluções
adotadas com funcionalidade e viabilidade econômica. A aquisição de informações
sobre esse tema é de extrema relevância devido à relação que a Engenharia Civil
assumiu com o meio ambiente e com projetos que visem diminuir impactos
ambientais com o tratamento e reutilização das águas utilizadas nos lava jatos.
1 UMA QUESTÃO AMBIENTAL
Indubitavelmente, os riscos inerentes aos impactos que as ações humanas
podem causar no meio ambiente sofreram expressivo aumento nas últimas décadas.
Talvez pelo ritmo acelerado na contemporaneidade. Diante disso, os debates em
torno do tema foram vertiginosamente intensificados, e em escala mundial. O mais
surpreendente é que o assunto não tem recebido apenas atenção restrita aos
especialistas, ecologistas e engajados. Ao contrário, atualmente, são vários
segmentos da sociedade abraçando as causas ambientais e pressionando diversos
setores – industriais, comerciais e outros – a realizarem suas atividades em
consonância com a preservação do meio ambiente.
Os lava jatos, cujas atividades são potencialmente poluidoras, devido
efluentes e resíduos decorrentes da lavagem, devem estar impreterivelmente em
conformidade com padrões e leis para garantir a minimização de riscos e a
segurança efetiva aos seus colaboradores e clientes, bem como da comunidade
onde está alocado. Exposto de outro modo, adaptar-se estritamente às
regulamentações ambientais é uma das principais medidas de precaução para
reduzir os impactos ambientais gerados pelas atividades concernentes aos lava
jatos.
A Política Nacional do Meio Ambiente – prevista na Lei nº 6.938, de 1981 –
estabelece que atividades efetiva ou potencialmente poluidoras devem ser
submetidas ao licenciamento ambiental. Portanto, os empreendimentos cujas
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atividades se encaixam nos parâmetros da PNMA, estão sujeitos ao procedimento
administrativo do Licenciamento Ambiental, regulado pelo Conselho Nacional de
Meio Ambiente (CONAMA) por meio de suas resoluções.
É de importância capital ampliar o interesse pela sustentabilidade, na medida
em que, por meio dele, medidas efetivas para formar uma sociedade saudável e
produtiva em todas as suas modalidades possam ser empreendidas. Desse modo,
como se verá mais à frente o presente estudo, aceitando a natureza dinâmica e
jamais estática de qualquer averiguação científica, mostrar-se-á relevante por
somar-se a outras investigações equivalentes e patenteadas por pesquisadores que
fizeram a mesma escolha temática. Em resumo, a abundância de produção científica
em educação ambiental, ao invés de representar um esgotamento supostamente
prescrito no aumento, cria uma propensão ao desencadeamento de convergências
inovadoras.
2 SOBRE A IMPORTÂNCIA DA ÁGUA PARA A SOBREVIVÊNCIA
A água é tão essencial que só pode ser comparada ao ar, em nível de
importância para a vida na terra. Não por acaso, a maior parte da superfície terrestre
e do corpo humano são compostos por água. De acordo com Silveira (2008), 97%
dos oceanos é constituído por água salgada e 2% de gelo. Apenas 3% da água do
planeta é água doce que porventura é a única classe efetivamente útil para a raça
humana. A água doce está disponível tanto na superfície quanto em áreas
subterrâneas e sua extração e uso são mais antigos que o próprio homem.
Quanto aos benefícios, estes são incalculáveis: consumo de água potável,
irrigação, serviços, geração de hidreletricidade, recreação, comodidade, agricultura,
indústria e agregados familiares e onde mais pudermos supor, já que este benefício
natural está direta ou indiretamente interacionado com quase toda forma de vida,
tornando a gestão de uso consciente indispensável em todos os países e setores da
sociedade.
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3 REUSO DE ÁGUA
3.1 Demanda de água
Muitos fatores são responsáveis pela demanda de água, dentre eles,
podemos citar o crescimento populacional e, consequentemente, a ampliação das
atividades agrícolas, as necessidades das indústrias, eletricidade, produção,
consumo exacerbado em muitos setores etc. O crescimento urbano e seus hábitos
que crescem paralelamente estão indiscutivelmente entre as razões que
potencializaram a necessidade hídrica.
O problema é que a demanda de água é consoante com a poluição e
problemas que usos indevidos ou excesso de uso podem gerar para o meio
ambiente, para o qual os efeitos são adversos e até imensuráveis. Foram justamente
os riscos de uma crise hídrica mais extremada que suscitou intervenção legislativa e
mobilizou programas municipais e estaduais e até movimentos ativistas que se
inclinavam para a conscientização de tais aspectos. Não é para menos, com o
crescimento tecnológico desenfreado as nações crescem exigindo mais demanda
por água no suprimento de múltiplas atividades e consumidores. O conflito está na
discrepância entre demanda e oferta, pois os recursos hídricos cada vez mais
limitados exigindo o uso consciente da água que abarca todas as esferas da
sociedade.
3.2 Reciclagem e reutilização de água
Explicitado de forma sucinta, reciclar ou reutilizar a água significa tratar e
processar as águas residuais para remover impurezas e servindo-se de métodos e
medidas para reaproveitamento industrial, doméstico, agrícola e outras finalidades.
Os benefícios da reutilização incluem a eliminação de efluentes propensos a
danificar e poluir ecossistemas. Contudo, a água reciclada pode satisfazer a maioria
das demandas desde que seja adequadamente tratada. A empresa que adota este
tipo de ação sustentável também tende angariar recursos e economia financeira.
Todo país voltado para projetos e programas de reutilização de águas residuais
conquista ganhos incontáveis para o seu desenvolvimento.
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Por mais surpreendente que pareça, a reutilização de água não é uma prática
que surgiu com a crise global envolvendo a preservação do meio ambiente. Não
foram os ativistas contemporâneos que alçaram ideais elevados de economia dos
recursos naturais. Documentos históricos relatam que a Grécia Antiga, com a
disposição de esgotos utilizava para efeitos de irrigação. Em várias nações como
Estados Unidos, Austrália, Chipre, Israel, Japão e México, a prática da reutilização é
amplamente difundida e aplicada por meio de tratamentos simples ou mais
sofisticados.
O reuso da água gera benefícios ambientais (como redução do lançamento de efluentes industriais em cursos d’água, redução da captação de águas superficiais e subterrâneas), econômicos (como mudanças nos padrões de produção e consumo, redução dos custos de produção) e sociais (ampliação da oportunidade de negócios para empresas fornecedoras de serviços e equipamentos, aumento na geração de empregos diretos e indiretos). (DANTAS; ANANIAS, 2017, p. 4).
De acordo com Rezende (2016),
O crescimento populacional e as consequentes mudanças no uso e ocupação do solo, associados aos fenômenos climáticos tem exacerbado os desafios do abastecimento de água pelo mundo. Cada vez mais os efluentes de estações de tratamento de esgotos vêm sendo considerados como uma fonte alternativa de água, em vez de simplesmente algo a ser descartado. Neste contexto, o reuso da água tem se tornado mais importante em diversos países que sofrem com secas, disponibilidade de água doce em quantidade e qualidade, e ainda elevadas demandas nos grandes centros urbanos. (REZENDE, 2016, p. 1).
A Usepa (2012 apud REZENDE, 2016) destaca que aumentar o suprimento
de água está longe de ser o único benefício da sua reutilização. Segundo o órgão, a
produção agrícola é extremamente favorecida, pois há nutrientes na água depois de
tratada que são impreteríveis para o cultivo. Sem contar a redução no custo e
consumo de energia. Sem tratamento, é certo que o aporte de nutrientes fica
comprometido, afetando os organismos receptores.
Embora o Brasil detenha em torno de 12% das reservas de água doce do
mundo, desde 2014 enfrenta uma crise hídrica sem precedentes, que atingiu
sobretudo o sudeste e o centro-oeste (REZENDE, 2016). Desde então, alguns
municípios desenvolveram programas de racionamento, visando solucionar
problemas da geração de energia hidroelétrica. A autora destaca que São Paulo,
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uma das maiores cidades do mundo, consta como uma das regiões mais alvejadas
pela crise hídrica.
O sistema de reservatórios da Cantareira, principal manancial da região e responsável pelo abastecimento de 8,8 milhões de pessoas, esgotou o seu volume útil chegando a utilizar o volume morto, levando a cidade a passar por um forte esquema de racionamento, reduzindo cerca de 75% do abastecimento durante a noite. (THE GUARDIAN, 2014 apud REZENDE, 2016).
Rezende (2016, p. 5), citando o The Guardian (2014), comenta que “além do
racionamento, outras medidas foram tomadas como incentivos financeiros em
programas de conservação e uso racional de água”.
Contudo, Silveira (2008) adverte que reaproveitamento não ocorre apenas
quando a água é tratada. Para o autor, a reutilização está estreitamente relacionada
com a finalidade e uso da água reaproveitada. Por exemplo, de acordo com o autor,
na agricultura, devido aos nutrientes, o tratamento é indispensável. O mesmo autor,
salienta que reuso pode ser direto ou indireto, planejado ou não, quer seja, existem
inumeráveis métodos bem elaborados e improvisados de promover a reutilização.
A reutilização indireta é sem planejamento e acontece quando descarregada
no meio ambiente, além de ser “utilizada à jusante, em sua forma diluída, de
maneira intencional e não controlada” (DANTAS; ANANIAS, 2017, p. 4). Também
existe a reutilização planejada, quando a água, tratada e descarregada conforme
planejamento nos corpos de águas superficiais ou subterrâneas para ser utilizada a
jusante de maneira manipulada para suprir determinada necessidade. No reuso
direto, citado pelos mesmos autores, a água não é descarregada no meio ambiente,
o processo é todo planejado, a água é submetida ao tratamento recomendado para,
somente depois, ser encaminhada diretamente do ponto de descarga para o local no
qual será reutilizada. A reciclagem “é um caso particular do reuso direto planejado,
pois acontece como reuso interno, antes da descarga da água em um sistema geral
de tratamento ou outro local de disposição” (DANTAS; ANANIAS, 2017, p. 4).
4 CONSIDERAÇÕES SOBRE LAVA JATO
Em grandes centros urbanos é comum a existência do Negócio Lava Jato.
Nem sempre com o nome “Lava Jato“ – pois em algumas regiões também se usa o
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nome de Lava Rápido, ou o termo inglês car wash. Estes são empreendimentos
dedicados à lavagem de veículos automotores, e tem como principal insumo a água,
infelizmente, potável.
Tendo em vista figurar como atividade que polui os recursos hídricos, é um
empreendimento que necessita de regulamentação e fiscalização do poder público
em todas as etapas de seu processo (desde fiscalizações que contemplem seu uso
rotineiro, seu uso em escala industrial até o tratamento de reciclagem e reuso).
Considerando esta realidade presente na maioria das grandes cidades, algumas
cidades no Brasil adotaram projetos de tratamento e reuso dos efluentes dos lava
jatos.
Os processos elementares consistem primeiramente em fazer análises
laboratoriais dos resíduos, para num segundo momento, após a devida
caracterização dos elementos poluentes, traçar a estratégia de tratamento mais
adequada para abrandar os riscos ambientais. Vale ressaltar que existem projetos
com aquisição de equipamentos adequados para tratamento dos efluentes, de baixo
custo, que não implica um desfalque financeiro expressivo para a empresa.
No âmbito do empreendimento lava jato, que diferentemente do setor
agropecuário, é considerado uma atividade poluidora direta, pois despeja produtos
de extremo potencial danoso ao ambiente, como surfactantes, graxa, gasolina e todo
tipo de resíduo produzido pelos automotores, acontece o mesmo: falta de
qualificação profissional e ausência do controle e de ações públicas e
governamentais que mirem a redução da poluição ambiental refletem em uma maior
aceitação da água de reuso e de reciclagem por parte dos grandes consumidores,
como pequenas, médias e grandes empresas. Estes passam a ter esta “nova” água
reaproveitada com uma alternativa de insumo, sobretudo em cadeias de produção
que não necessitem de uma água com qualidade elevada.
A modalidade de reuso e reciclagem de água para lavagem de veículos tem
ganhado grande destaque em muitos países, visto ser notório o desperdício de água
– potável – que é causado na lavagem de um único veículo.
Zaneti, Rubio e Etchepare (2012) realizam um estudo de reciclagem de águas
residuais utilizando-se de uma nova tecnologia que compreende um novo processo
de flotação de coluna de floculação, filtração de areia e uma cloração final. Depois
de 22 semanas de estudo e auditoria o autor atestou que era possível recuperar até
70% da água, sendo que não são necessários mais de 40 litros por lavagem.
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A análise de águas residuais e água recuperada caracterizaram-se pelo monitoramento de parâmetros químicos, físico-químicos e biológicos. Os resultados foram discutidos em termos de qualidade estética (clarificação da água e odor), saúde (patológica) e química (ZANETI; RUBIO; ETCHEPARE, 2012, p. 7).
À frente de muitos países, sobretudo por já terem legislação específica,
destacam-se os Estados Unidos, alguns países europeus e o Japão. Além de leis,
nesses lugares já existem equipamentos – capazes de lavar veículos de pequenos e
grandes portes – altamente especializados e que contemplam o uso de dispositivos
de tratamento de efluentes e a recirculação da água (OLIVEIRA, 2005).
Cabe destacar, portanto, que esta tecnologia de reuso, não se resume
apenas a remoção de poluentes para lavagens de veículos, ela também pode ser
aplicada na simples circulação de água de enxague da máquina de lavar roupas,
com ou sem tratamento, aos vasos sanitários, ou ainda a uma remoção em alto nível
de poluentes (OLIVEIRA, 2005).
5 ENGENHARIA CIVIL E SUSTENTABILIDADE: ESTREITA RELAÇÃO
Pela ótica de Araújo (2018), citando os dados do Banco Mundial até 2050,
mais de um bilhão de pessoas viverão em cidades sem água suficiente. E a razão,
em concordância com outros autores consultados, a necessidade de abastecimento
eclode justamente do aumento da população e das tecnologias. O Relatório Mundial
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos adverte que a
estimativa é que o planeta enfrente um déficit hídrico de 40% em 2030. Para o
Ministério do meio ambiente, o desperdício e a poluição das águas superficiais e
subterrâneas por esgotos domésticos e resíduos tóxicos provenientes da indústria e
da agricultura, segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA) são os causadores
diretos deste futuro hídrico nada promissor.
Mundialmente, a agricultura é responsável por cerca de 70% do total do consumo de água doce e, na maioria dos países subdesenvolvidos, esse índice chega a 90%. O Brasil registra também elevado desperdício: de 20% a 60% da água tratada para consumo se perde na distribuição, por causa das condições de conservação das redes de abastecimento. (ARAÚJO, 2018, s.p.).
O Brasil encontra-se em meio a uma crise hídrica, e muitos especialistas
acreditam que esta ainda será a causa de conflitos internacionais. Há diversos locais
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no mundo em que a carência de recursos hídricos é motivo da emigração da
população e alvo de políticas públicas. Em termos gerais, a água para consumo
humano corre o risco de entrar em uma escassez profunda. A insuficiência de água
afeta não só a saúde da população, mas também o desenvolvimento sócio
econômico da sociedade (OLIVEIRA, 2005).
5.1 Tendência da Engenharia Civil para reaproveitamento de água
Este cenário conseguiu mobilizar a Engenharia Civil que, por meio dos
profissionais da área, está explorando alternativas que tornem possível a economia
de água nas atividades agrícolas, industriais, comerciais, de serviços e residenciais.
Araújo (2018) cita que entre as ações estão: aproveitamento de água na construção
civil, educação e conscientização ambiental e econômica e racionalização de
consumo planejada com aparelhos mais eficientes e econômicos para o reuso de
água. Atualmente vários engenheiros civis estão desenvolvendo aparelhos que
diminuam o consumo de água nas obras como, por exemplo, a bacia sanitária com
caixa acoplada (três e seis litros), torneiras e chuveiros com aeradores,
pressurizadores etc.
Engenheiros conscientes do seu papel vêm desenvolvendo projetos para o
reuso de água por meio de captação, direcionamento, armazenamento e distribuição
de água de chuva para uso em atividades que não exijam água potável, como
limpeza de pisos e veículos, rega de jardins, descarga em bacia sanitária, entre
outros (ARAÚJO, 2018).
Martins (2018 apud ARAÚJO, 2018), engenheiro civil dos Correios, comenta
que “o princípio do reuso de água de chuva está no aproveitamento através da
captação da água que cai na cobertura (telhado) e calhas”. O engenheiro explica
que depois de captada a água é direcionada imediatamente para um filtro de sólidos
que separa alguns sedimentos e as folhas. Após esta etapa, a água é armazenada
em caixas ou tanques apropriados para este fim. O Engenheiro Civil dos Correios
arremata dizendo que “depois, essa água é distribuída conforme as necessidades
nas bacias sanitárias, torneiras para regar plantas e limpeza de pisos e veículos”
(MARTINS, 2018 apud ARAÚJO, 2018). Martins (2018 apud ARAÚJO, 2018) analisa
que uma casa com quatro pessoas tem um consumo aproximado de 600 litros de
água diariamente. Desse total, 40% das atividades não demanda água potável. Em
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suma, 240 litros da água de chuva podem ser reutilizados. Se o imóvel tiver 100m²
de cobertura é possível estocar até 5.000 litros no reservatório.
5.2 Reutilização da água na lavagem de veículos
Morelli (2005) realizou uma investigação que comprova que um dos métodos
de reaproveitamento de água que mais cresceu no mundo todo é para lavagem de
veículo. A comprovação da tese do autor é atestada em muitos países nos quais já
existe uma legislação voltada para a regulamentação para a instalação dos sistemas
de lavagem, que inclui a obrigatoriedade de instalar dispositivos de tratamento dos
efluentes oriundos de todo processo de lavagem. Sem contar a adoção de
equipamentos que proporcionem a recirculação da água utilizada.
Teixeira (2003) confirma esta vertente quando relata que nos Estados Unidos
a escassez de água na operação de lavagem de veículos é impactante obrigando a
instauração de regulamentações cada vez mais exigentes no que tange ao descarte
de efluentes. O autor também destaca que a conscientização dos americanos é
digna de nota, pois, como apoio popular, a proteção dos recursos naturais conta
com reforços de todas as categorias: do legislativo ao popular.
Dantas e Sales (2009) argumentam que, no Brasil, a legislação que aborda o
reuso da água não contempla as medidas necessárias para o efetivo uso racional da
água, a mesma está limitada a servir como opção de destinação de esgotos
domésticos ou de práticas para reuso não potável.
Na contraparte, Rodrigues (2005), comenta que a difusão da necessidade do
reuso da água teve expressivo aumento no Brasil e que esta visibilidade de algum
modo influenciou a implantação da Política Nacional de Recursos Hídricos.
Entretanto, o crescimento da popularidade não ocorre no mesmo ritmo de uma
regulamentação mais direcionada que ampliar a possibilidade de consequências
indesejáveis pela ausência de medidas. É neste sentido que
[...] surge a necessidade de uma regulamentação adequada à prática do reuso de forma a promovê-la, ampliando os benefícios aos usuários, minimizando os riscos associados e possibilitando o equacionamento dos conflitos potencialmente existentes. (RODRIGUES, 2005, p. 17).
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O autor ainda salienta que noutros países as experiências com reuso de água
contribuiu para aprimorar as diretrizes nacionais e regionais, criando padrões legais
específicos, dando condições de implementações seguras e benéficas. Tomando
por base estes resultados, o autor defende que a mesma política deve ser adotada
no Brasil, porque a realidade brasileira, diferentemente de outros países da Europa e
Estados Unidos, anda a passos lentos no caminho desta regulamentação.
Já com uma visão um tanto otimista, Rodrigues (2005) aponta o profícuo
crescimento da conscientização por parte das corporações. Para o autor, os estudos
que avultam a viabilidade econômica são os principais incentivadores. Com eles, as
empresas perceberão que adotar o reuso da água como prática na utilização para a
lavagem de veículos e limpeza de instalações não representa desfalque econômico
para seu fluxo de caixa. É por esta razão que companhias no Brasil estão se
sentindo motivadas a testar e buscas tecnologias que facilitem o processo do reuso.
Há a necessidade da aplicação deste tipo de tecnologia à realidade do país para tornar a sua aplicação viável às pequenas empresas. Por isso, é um grande desafio aprimorar técnicas de reciclagem de água em estabelecimentos de pequeno porte. Estas devem diminuir os riscos de contaminação e ao mesmo tempo privilegiar um baixo custo de implantação e operação (TEIXEIRA, 2003, p. 3).
Neste contexto, a escolha de um sistema de tratamento adequado não é uma
tarefa simples. Cada situação requer uma análise particular e específica (TEIXEIRA,
2003). A seleção adequada das técnicas aplicadas e dos equipamentos instalados
devem propiciar uma reciclagem ao menor custo possível e uma água de qualidade
aceitável. Para Leão et al. (2010), o reuso da água evoluiu para uma forma direta de
reuso, ou seja, “é o processo de utilização por mais de uma vez, tratada ou não,
para o mesmo ou outro fim”.
Podendo ser direta ou indireta, decorrente de ações planejadas ou não.
A atividade de lavagem de veículos utiliza uma grande quantidade de água que
normalmente não é reaproveitada, sendo simplesmente descartada na rede de
drenagem municipal. Nos últimos anos, aumentou a preocupação com esse fato
que, além de representar um custo elevado para algumas empresas, pode causar
impactos no ambiente aquático, com sólidos suspensos totais, detergentes e
produtos químicos (LEÃO et al., 2010).
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Morelli (2005) define que, o propósito final para a destinação da água
recuperada, influencia no tipo de tratamento e quais serão os níveis de qualidade
que deverão ser aplicados em cada caso específico. Sendo que, a escolha do
processo a ser adotado é requisito básico para o efetivo sucesso do
empreendimento.
De acordo com o memorial descritivo e de cálculo do sistema de tratamento
efluente de lavagem de veículos, da empresa Fibratec, da cidade de Chapecó-SC,
de responsabilidade do engenheiro Rafael Celuppi, o sistema de tratamento é
composto por: tanque pulmão, misturador estático, bomba dosadora de coagulante,
bomba dosadora de polímero, decantador Dortmund; filtro de areia e leito de
secagem.
No seu estudo, Morelli (2005) define:
[...] sistema de tratamento, do ponto de vista de solução tecnológica adotada, é uma sequência de operações unitárias e processos definidos em razão de três requisitos: - das características do líquido a ser tratado; - dos objetivos pretendidos com o tratamento; - da capacidade de remoção de cada processo unitário. (MORELLI, 2005, p. 29).
Em se tratando de sistema de tratamento para reuso na lavagem de veículos
o autor relata que, dada a grande variabilidade do efluente final desejada e o tipo de
reuso pretendido, a variedade de sistemas ou a sequências de processos possíveis
serão grandes.
6 EFLUENTES GERADOS NO PROCESSO DE LAVAGEM DE VEÍCULOS
O efluente gerado na atividade de lavagem de veículos pode conter
quantidades significativas de óleos e graxas, além de outras substâncias do gênero.
Por isso a sua composição é bastante complexa, constituindo uma fonte significativa
de Demanda Química de Oxigênio (DQO) (JÖNSSON; JÖNSSON, 1995 apud
TEIXEIRA, 2003).
Para Teixeira (2003, p. 28) “o tratamento de despejos contendo detergentes é
um dos grandes problemas da engenharia sanitária”. Estes compostos contêm
substâncias que afetam as propriedades da água, podendo causar a formação de
emulsões estáveis, dificultando a sua remoção, provocando a formação de espumas
disformes no efluente. Contudo, os autores relatam que, apesar de tradicionalmente
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serem utilizados desengraxantes a base de derivados de petróleo, na operação de
lavagem de veículos, tende-se a uma substituição por produtos formulados que
causem menos danos ao meio ambiente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Cabe ressaltar que o objetivo deste trabalho é minimamente ambicioso, uma
vez que pretendia, desde sua idealização, apenas observar por via digital como a
engenharia civil está se comportando perante os problemas ambientais que os lava
jatos trazem e a reutilização da água utilizada como solução economicamente viável
para essas empresas que geralmente são de pequeno porte e não contam com
estrutura suficiente para acolher projetos de alto custo.
Os resultados demonstraram que a engenharia civil e os trabalhos
acadêmicos estão palidamente empenhados em criar projetos inovadores e
economicamente viáveis na reutilização de água dos lava jatos. Emendada na lei
dos postos de gasolina, pode ser que novas recomendações e regulamentações
venham favorecer processos de reutilização, mas até o momento o assunto é
escasso de estudos.
A relevância do estudo é puramente temática, uma vez que não coube ao
escopo do trabalho valer-se de uma bibliografia mais vasta devido à precariedade de
trabalhos acerca do assunto. Diferente do número de estudos sobre a reutilização de
água dos lava jatos notou-se uma farta literatura nacional e internacional sobre
reutilização de água de chuva em canteiros de obras e licenciamento ambiental em
postos de gasolina que, não raramente, têm acoplado aos seus serviços a lavagem
de veículos.
Sobre a contribuição desta investigação para o cenário da engenharia civil e
sua aliança com o meio ambiente, fica a sugestão de estudos de caso mais
aprofundados e construção de projetos viáveis que consigam solucionar o problema.
O efluente gerado na atividade de lavagem de veículos pode conter quantidades
significativas de óleos e graxas, além de outras substâncias do gênero. Por isso a
sua composição é bastante complexa, constituindo uma fonte significativa de
Demanda Química de Oxigênio (DQO) e o tratamento exige acompanhamento e
perícia por parte dos engenheiros civis. Não há como improvisar projetos cuja
eficácia não foi rigorosamente atestada.
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REFERÊNCIAS
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