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editorial

Ano 2 - nº 08- out/nov/dez 2010A Revista RETS é uma publicação trimestral editadapela Secretaria Executiva da Rede Internacional deEducação de Técnicos em Saúde.E-mail: [email protected]

Conselho EditorialConselho EditorialConselho EditorialConselho EditorialConselho EditorialAna Maria Almeida (ESTeSL � Portugal)Carlos Einisman (AATMN � Argentina)Isabel Duré (MS-Argentina)Julio Portal (Fatesa/ISCM-H � Cuba)Olinda Yaringaño Quispe (MS � Peru)

Jo rna l i smoJo rna l i smoJo rna l i smoJo rna l i smoJo rna l i smoEditora: Ana Beatriz de Noronha - MTB25014/RJEstagiária: Samantha Chuva

PPPPProdução gráficarodução gráficarodução gráficarodução gráficarodução gráficaDesigner: Zé L uiz FonsecaDiagramador: Marcelo Paixão

TTTTTr a d u ç ã or a d u ç ã or a d u ç ã or a d u ç ã or a d u ç ã o�Espaço sem fronteiras� (Jean-Pierre Barakat)

TTTTT iragemiragemiragemiragemiragem2 mil exemplares

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SECRETSECRETSECRETSECRETSECRETARIA EXECUTIVARIA EXECUTIVARIA EXECUTIVARIA EXECUTIVARIA EXECUTIV A DA DA DA DA DA RETSA RETSA RETSA RETSA RETSEscola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio

Di re to r aDi re to r aDi re to r aDi re to r aDi re to r aIsabel Brasil

Coordenadora de Cooperação InternacionalCoordenadora de Cooperação InternacionalCoordenadora de Cooperação InternacionalCoordenadora de Cooperação InternacionalCoordenadora de Cooperação InternacionalAnamaria D�Andrea Corbo

Equipe da Coordenação de Cooperação InternacionalEquipe da Coordenação de Cooperação InternacionalEquipe da Coordenação de Cooperação InternacionalEquipe da Coordenação de Cooperação InternacionalEquipe da Coordenação de Cooperação InternacionalAna Beatriz de NoronhaAnakeila StaufferKelly Robert

EndereçoEndereçoEndereçoEndereçoEndereçoEscola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, sala 303Av. Brasil, 4365 - Manguinhos - Rio de Janeiro - RJ - 21040-360.Telefone: 55(21)3865-9730 - E-mail: [email protected]

Apo ioApo ioApo ioApo ioApo ioTC41 - Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde/Ministério da Saúde do Brasil e Opas/Brasil

Com o lançamento desta edição da revista, encerramos nosso trabalho em 2010e começamos a nos preparar para o próximo ano. Não temos dúvidas de que, ao longodos últimos 12 meses, nos esforçamos muito para oferecer aos nossos leitores, infor-mações de qualidade e relevantes para os universos da formação e atuação dos técni-cos em saúde e da cooperação técnica internacional, abordando questões comointerculturalidade, cooperação em situações e crise e, agora, Educação a Distância.Por outro lado, temos certeza de que muito ainda precisa ser feito para tornar arevista, o boletim eletrônico e o site da RETS mais adequados aos propósitos daRede e aos interesses de todos.

Educação a distância (EaD) é o tema central deste número da revista. Longe dealimentar uma visão distorcida e irreal dessa modalidade de ensino, que algunsainda vêem como uma panacéia miraculosa para todos os males sociais enquantooutros condenam sem direito a julgamento, nosso objetivo foi o de incentivar areflexão e o comportamento crítico diante de uma proposta educativa que, a cadadia, vem se impondo com mais força e poder a nossa realidade.

A matéria de capa inclui uma entrevista com a socióloga e educadora brasileiraMaria Luiza Belloni, pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina(UFSC) e uma das maiores especialistas em Educação a Distância no país, na qualela discute importantes aspectos sobre a questão e aponta as potencialidades e osdesafios que a EaD traz para o âmbito da Educação.

Ainda dentro dessa temática, a seção �Fique de Olho�, apresenta alguns peque-nos cursos livres, voltados, em sua maioria, para os trabalhadores da saúde, que os

interessados podem acessar gratuita-mente pela Internet.

Para finalizar, a edição dá continui-dade a apresentação dos temas abor-dados no Fórum on-line sobre Técni-cos em Saúde � �Mid-level HealthWorkers� � realizado pela Aliança Glo-bal para a Força de Trabalho em Saúde(GHWA, do inglês), em maio desteano, e dá, na seção �Notícias da Rede�,boas vindas aos dois membros maisrecentes da RETS: a Escola Superiorde Saúde da Cruz Vermelha Portugue-sa (ESSCVP) e o Instituto de Higienee Medicina Tropical (IHMT), tam-bém de Portugal.

Boa leitura!

Secretaria Executiva da RETS

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capa

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Das cartas à Internet, transmissão de conhecimentos para quem está distante

respondência, tendo como principalmeio de comunicação os materiais im-pressos, geralmente um guia de estudo,com tarefas ou outros exercícios envia-dos pelo correio. O segundo, de 1970 a1990, quando surgem as primeiras Uni-versidades Abertas e começam a seremimplementados cursos que utilizam,além do material impresso, transmissõespor televisão aberta, rádio e fitas deáudio e vídeo, com interação por telefo-ne, satélite e TV a cabo. Por fim, o ter-ceiro ciclo, a partir de 1990, cuja marcasão as redes de conferência por compu-tador e as estações de trabalhomultimídia.

E se há sempre algumas dúvidasquanto ao início da história moderna daEaD, uma das certezas é quegradativamente a modalidade vira obje-to de interesse de especialistas e autori-dades de educação. Em 1883, ao autori-zar o Chatauqua Institute a conferir

Por sua própria natureza, de pro-cesso educativo no qual professor eestudante estão separados no espaço egeralmente também no tempo, a Edu-cação a Distância (EaD) só pode exis-tir na presença dos meios técnicosda comunicação. Sua história, no en-tanto, tem uma razão bastanteespecífica, desde os seus primórdios:a necessidade de disseminar conheci-mentos para um número crescentede pessoas.

Para alguns, como CláudiaLandim, em seu livro �Educação a Dis-tância: algumas considerações�, ouFrancisco Lobo Neto, pesquisador daEscola Politécnica de Saúde JoaquimVenâncio, (EPSJV/Fiocruz), ela teriacomeçado no século XVIII, mais pre-cisamente em 1728, quando o jornalA Gazeta de Boston publicou o anún-cio de um professor oferecendo um cur-so de taquigrafia por correspondência.

A partir daí, várias outras iniciativassurgiram, aliando os avanços proporcio-nados pelo desenvolvimento dastecnologias da comunicação a outrosinúmeros fatores, como, por exemplo, obarateamento das tarifas postais, apopularização do rádio, cuja primeira�estação-estúdio� foi criada em 1916, e anecessidade de capacitar em larga esca-la trabalhadores para a reconstrução so-cial e econômica dos países europeus edos Estados Unidos após a II GuerraMundial.

Nesse sentido, os norte-americanosMichael Moore e Greg Kearsley, no livro�Distance Education: A Systems View�,dividem a história da EaD em três ci-clos evolutivos, lembrando, no entanto,que, entre os ciclos, novos meios nãosubstituem os anteriores, mas vão se in-corporando aos demais para permitir acriação de novos modelos.

Segundo eles, o primeiro ciclo vai até1970 e é marcado pelo estudo por cor-

No início, eram apenas cursos de idiomas e de algumas poucas técnicas,como datilografia, corte e costura e mecânica de automóveis, entre outras.Depois, as ofertas foram crescendo em importância e se diversificando até

que, em 1969, segundo vários estudiosos no assunto, a criação da Universidade Aber-ta da Inglaterra [Open University], colocou a Educação a Distância (EaD) no cená-rio mundial e determinou grande parte das feições que essa modalidade assumeatualmente. Naquela época, um acordo com a emissora BBC permitiu que a institui-ção passasse a oferecer, por meio do uso integrado de material impresso, rádio, televi-são e de contato pessoal, realizado em centros de atendimento espalhados pelo Rei-no Unido, formação de nível superior, para alunos cujo único pré-requisito era sermaior de 21 anos.

Hoje, transcorridos mais de 40 anos dessa iniciativa inglesa e quase 300 anos doque alguns consideram a primeira experiência com EaD (ver box), não há mais dúvi-das sobre o fato de que a educação a distância se constitui numa nova modalidade deensino que tem sido cada vez mais utilizada � de acordo com alguns por representaruma possibilidade de ampliação do acesso à educação �, e, como tal, deve ser alvo deconstante reflexão por parte de especialistas e da sociedade.

Para a pesquisadora Maria LuizaBelloni, no artigo �Educação à distânciae inovação tecnológica�1, há alguns anosduas grandes tendências vêm se deline-ando no cenário global: a convergênciados modelos presencial e a distância deensino, por conta das transformações so-ciais, sobretudo no mercado de trabalho,e a integração das Tecnologias de Infor-mação e Comunicação (TIC) à vida co-tidiana e aos processos culturais. Nessecontexto, segundo ela, a EaD surge comouma modalidade de oferta de educaçãoque atende simultaneamente à lógicacapitalista atual, de globalização, exclu-são, uniformização e padronização, e a umnovo modo de acesso à educação, que atrai

EaD: Em que contextos?Em que medida?

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diplomas em cursos por correspondên-cia, o estado de Nova Iorque dácredibilida-de acadêmica ao ensino adistância.

Em 1938, é realizada, na cidade deVitória, no Canadá, a Primeira Confe-rência Internacional sobre Educação porCorrespondência e, aos poucos, com aajuda das tecnologias de informação ecomunicação (TIC), inúmeras iniciati-vas de EaD começam a ser implantadasem todo o mundo. Em nível secundário,é possível destacar a Hermods­NKISkolen, na Suécia; a Rádio ECCA, nallhas Canárias; a Air CorrespondenceHigh School, na Coréia do Sul; aTelesecundária, no México; e a NationalExtension College, no Reino Unido. Emnível universitário, algumas das maisconhecidas são: a Open University, noReino Unido; a FernUniversität, na Ale-manha; a Indira Gandhi National Open

University, na Índia; a UniversidadeEstatal a Distância, na Costa Rica; aUniversidade Nacional Aberta, daVenezuela; Universidade Nacional deEducação a Distância, da Espanha; oSistema de Educação a Distância, daColômbia; a Universidade de Athabasca,no Canadá.

Mas... se, entre os especialistas, nãohá dúvidas de que a EaD depende daexistência dos meios técnicos da comu-nicação, também há a certeza de queela não pode se resumir a eles. Se a ino-vação pedagógica não acompanhar a ino-vação técnica, corre-se o risco, como dizMaria Luiza Belloni (ver entrevista napáginas 8 e 9), de se aumentar o fossoentre os modos de ensinar, baseadas nacultura da escrita e da imprensa, e osnovos modos de aprender, desenvolvidospelas crianças e adolescentes �nativos�da era digital, no contato com as novasmídias.

diferentes clientelas, especialmente osmais jovens. �O importante, do ponto devista da sociologia da educação e das po-líticas públicas do setor, é compreenderas inovações pedagógicas e educacionaisexigidas pela combinação explosiva en-tre aquelas demandas crescentes e as in-críveis possibilidades de comunicação einteração a distância oferecidas pelo avan-ço técnico das TIC�, afirma.

�Nesse quadro de mudanças, já nãose pode considerar a educação a distân-cia apenas um meio para solucionar pro-blemas emergenciais ou para remediaralguns fracassos do sistema educacionalem dado momento de sua história�, res-salta Maria Luiza, lembrando que amodalidade tende a se tornar um ele-mento regular nos sistemas educativos,com um importante papel na educaçãodos adultos, principalmente por causada crescente necessidade de formaçãocontínua resultante da rápidaobsolescência da tecnologia e da gera-ção acelerada de novos conhecimentos.

Embora concorde que, em algunscasos, o uso da EaD se justifique, MariseRamos, professora e pesquisadora daUniversidade do Estado do Rio de Ja-

neiro (Uerj) e da Escola Politécnica deSaúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), afirma que alguns aspectosnão devem ser esquecidos quando sepensa em adotar o ensino a distância noscursos de graduação e pós-graduação. �Ademocratização do acesso, de forma ge-ral, e, em alguns casos específicos, a ex-tensão territorial e a falta de professorespara a educação básica, geralmente for-mados nos cursos de licenciatura, têmsido algumas das principais justificati-vas para o uso da EaD nos cursos de gra-duação. Nesse sentido, as possibilida-des geradas pelas tecnologias são legíti-mas e devem ser consideradas, não comosubstitutivas da educação presencial,mas como complementares a ela�, pon-dera, completando: �A questão é que ouso da EaD na graduação e na pós-gra-duação incide sobre o conceito de Uni-versidade, como espaço onde se reúne amultiplicidade da ciência e das artes eonde se tem acesso ao conhecimento�universal�, ou seja, em suas múltiplasdimensões e em diversas áreas�.

De acordo com Marise, a EaD não su-pre essa função da Universidade, que de-pende da presença física e das interações

pessoais que ocorrem especialmente du-rante os cursos de graduação e pós-gradu-ação. �Até que ponto os espaços virtuaiscriados nas experiências de EaD e os co-nhecimentos objetivados nos suporteseletrônicos, por exemplo, podem dar con-ta da cultura e de tudo mais que é produ-zido no âmbito das relações subjetivas,ou seja, da multiplicidade e damultidimensionalidade do conhecer, dofazer, do ser e do relacionar-se humano?�,pergunta.

Definindo EaD

• �Educação a Distância (EaD) éum processo educacional em que amaior parte da comunicação é me-diada por recursos tecnológicos quepossibilitam superar a distância fí-sica.� (Rosa Maria Esteves da Costa,UERJ-Brasil)

• �Educação a Distância: modalida-de educacional na qual a mediaçãodidático-pedagógica nos processos deensino e aprendizagem ocorre com autilização de meios e tecnologias deinformação e comunicação, com estu-dantes e professores desenvolvendo

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atividades educativas em lugares outempos diversos�. (Decreto Nº. 5.622/2005, regulamenta o art. 80 da Lei nº 9.394,de 20 de dezembro de 1996 � Brasil)

• �O ensino a distância é um siste-ma tecnológico de comunicaçãobidirecional, que pode ser massivo eque substitui a interação pessoal, nasala de aula, de professor e aluno,como meio preferencial de ensino,pela ação sistemática e conjunta dediversos recursos didáticos e peloapoio de uma organização e tutoriaque propiciam a aprendizagem in-dependente e flexível dos alunos�.(Lorenzo Gracia Aretio, Uned-Espanha)

Em meio a essas e outras tantas con-cepções e visões, não é fácil definir exa-tamente o que seja a EaD, ainda queseja possível destacar alguns de seus ele-mentos constitutivos, dentre os quais:a separação entre professor e aluno noespaço e/ou no tempo; a centralidadena aprendizagem (aluno) e não no en-sino (professor); e a mediaçãotecnológica entre aluno/professor e en-tre alunos/alunos.

Essa dificuldade de se definir EaDacaba também causando certa confusãonas ações desenvolvidas sob esse rótu-lo, como explica Milta Torrez, pesqui-sadora da Escola Nacional de SaúdePública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz)que coordenou o Curso de Formação Pe-dagógica em Educação Profissional naÁrea da Saúde, no artigo �Educação àDistância e a formação em saúde: nemtanto, nem tão pouco� 2: �Essas açõesabrangem desde processos formativosseriamente concebidos, implantados,avaliados e parcial ou totalmentemidiatizados por recursos tecnológicos,até um conjunto extenso de atividadesque só poderiam ser chamadas deeducativas em um sentido extremamen-te lato e banalizado do termo�.

Uma primeira pista para se tentardesvelar esse universo é dada por MariaLuiza Belloni, no mesmo artigo citadoanteriormente. De acordo com ela, épossível identificar dois grandes con-ceitos usados tanto como se fossem con-traditórios quanto como se fossem si-nônimos ou complementares: a �edu-cação à distância� e a �aprendizagemaberta�. �A educação a distância é umconceito que enfatiza a dimensão es-pacial, ou seja, a separação física entre

concepção classificatória, privilegia a memorização do conteúdo e a ação individuale competitiva, se apresenta como um fim em si mesma, é realizada em momentospontuais e resulta em punição (reprovação, notas baixas) ou reforço positivo(aprovação, bons conceitos).

concepção investigativa e reflexiva, privilegia a compreensão do conteúdo e a açãocoletiva e consensual, atua como mecanismo de diagnóstico da situação, é realizadacontinuamente e resulta em aprimoramento do processo.

o professor e o aluno, e a dimensão demassa da produção e distribuição demateriais. Já a aprendizagem aberta éum conceito que coloca a ênfase naadequabilidade de um processo de edu-cação mais autônomo e flexível, demaior acessibilidade aos estudantes, oque significa, sobretudo, a expansão denovas modalidades de ensino e de no-vas regras de acesso e pré-requisitos deingresso�, afirma, complementando:�Deve-se compreender a EaD como umtipo distinto de oferta educacional, queexige inovações ao mesmo tempo pe-dagógicas, didáticas e organizacionais.A aprendizagem aberta, por sua vez, éum modo de aprendizagem que requerum processo de ensino centrado no�aprendente�, considerado um ser autô-nomo, gestor de seu processo de apren-dizagem�.

A flexibilidade e a liberdade do es-tudante � que pode aprender a qual-quer hora, em qualquer lugar e num rit-mo próprio � bem como a oferta volta-da para os seus interesses � comflexibilização do acesso, dos procedi-mentos de ensino e de avaliação � são,segundo ela, as principais característi-cas da aprendizagem aberta.

Avaliação, evasão e tutoria:pontos a considerar

No que diz respeito à avaliação emEaD, a pesquisadora Liane RockenbachTarouco3, da Universidade Federal do RioGrande do Sul (UFRGS), acredita ha-ver inúmeras razões para que um alunoda modalidade a distância não possa seravaliado apenas por meio de estratégiascomumente utilizadas na educaçãopresencial � provas, testes e trabalhos.Nesse sentido, ela afirma a necessidadede se substituir a avaliação de enfoquetradicional por uma avaliação deenfoque progressista e ressalta a impor-tância do estudo e do desenvolvimentode metodologias que, ao serem empre-gadas na avaliação à distância, possibi-

De acordo com a Associação Brasileirade Educação a Distância (Abed), dadosdo Censo EaDbr 2008, mostram queenquanto 18,5% dos alunos queingressam nos cursos de EaD nãoconcluem a graduação, o índice dadesistência nos programas presenciaisdas instituições privadas de ensinosuperior é de 19,1%.Segundo números divulgados peloInstituto Nacional de Estudos ePesquisas Educacionais AnísioTeixeira (Inep), instituição vinculadaao Ministério da Educação, não há, noentanto, muito para comemorar, pois oíndice de evasão na EaD no Brasil, pelomenos no que se refere ao ensinosuperior, tem crescido, passando de8,3% em 2002 (20.685 ingressos para1.712 concluintes) para 16,3% em2008 (430.259 ingressos para apenas70.068 concluintes).

litem avaliações mais dinâmicas einterativas.

�Quando se pensa em avaliação naeducação a distância, percebe-se clara-mente que um longo caminho aindadeve ser construído, pois outras pers-pectivas como a autoavaliação e os tes-tes adaptativos (teste que se adaptamao conhecimento do aluno) se tornammais efetivos na educação de alunosmais críticos, criativos e com maior au-tonomia�, diz, sugerindo que aimplementação de salas de bate-papo,listas de discussão e correio eletrônicopodem proporcionar subsídios para oprocesso de avaliação via WEB, cujosobjetivos devem ser os de identificar ospontos fortes e fracos e ajudar o apren-diz a aprender, entre outros.

Apesar de alguns considerarem queos altos índices de evasão � desistênciadefinitiva do estudante em qualqueretapa do curso � nas iniciativas de EaDsejam um mito que vem sendo destruídopor pesquisas recentes no setor, muitos

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ainda colocam a evasão como um dos desafios a seremsuperados pela educação à distância.

Com o intuito de buscar soluções para o proble-ma, muitos estudos vêm buscando diagnosticar mi-nuciosamente as causas da evasão, especialmentequando ela ocorre em cursos gratuitos, ofertadospor instituições públicas, nos quais o fator econô-mico, representado pelo pagamento das mensalida-des, pode ser descartado.

De acordo com pesquisas realizadas em várias insti-tuições4, as principais causas da evasão na EaD estão re-lacionadas à falta ou ao excesso de encontros presenciais, àduração dos cursos, à baixa adequação dos cursos às necessi-dades dos alunos, ao nível de complexidade e à quantidade deatividades propostas, à falta de tempo para o estudo, às condiçõesdeficientes de estudo no trabalho e em casa, à inabilidade no uso dastecnologias e às consequentes dificuldades em acompanhar as ativida-des propostas pelos cursos, como: receber e enviar e-mail, participar dechats, de grupos de discussão e fazer links sugeridos. A evasão tambémé atribuída a questões pessoais dos estudantes � doença na família emudança ou perda de emprego, entre outros � e ao desempenhodo tutor.

Nesse sentido, a qualidade do trabalho exercido pelos tutores epelo serviço de gestão acadêmica, responsável, entre outras coisas,pelo controle das atividades e monitoramento dos alunos duranteo curso, acaba sendo de fundamental importância para o sucesso dequalquer iniciativa na área.

Uma das particularidades da EaD com relação à educação con-vencional é a substituição da figura do professor � do latim professore,aquele que ensina � pela do tutor � também do latim tutore, aqueleque protege, ampara ou dirige.

A adoção desse termo busca reforçar a ideia de educação baseada no�caminhar junto� e reforça o sentido de uma função docente centrada noprocesso de aprendizagem. Dentre as atividades desenvolvidas pelos tuto-res estão: o esclarecimento de dúvidas dos alunos a respeito do conteúdo,dos processos e dos materiais de curso, o acompanhamento da aprendiza-gem, a correção de trabalhos, a motivação dos estudantes e a avaliação dedesempenho. Dessa forma, segundo os norte-americanos Mauri Collins eZane Berge5, os tutores devem estar preparados para exercer funções peda-gógicas, gerenciais, técnicas e sociais, tendo sempre em mente que osalunos são agentes ativos do processo de construção do conheci-mento, respeitando as experiências prévias e reconhecen-do o progresso feito pelos estudantes.

A EaD e a Saúde Pública

Umas das grandes indagações entre aquelesque trabalham na área da educação e da forma-ção em saúde é sobre a possibilidade de a EaDconseguir responder as demandas criadasno âmbito da saúde pública.

De alguns anos para cá, maisprecisamente após a confe-rência de Alma-Ata (em1978), a saúde pú-blica vem en-frentando

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Considerado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como uma dasexperiências de formação de técnicos de nível médio de maior êxito no mundo, oProfae, criado em 2000, fez parte da estratégia do Ministério da Saúde para melhorara qualificação, em todo o país, de cerca de 230 mil trabalhadores � atendentes eauxiliares de enfermagem � que já atuavam no sistema de saúde � visando melhorara qualidade dos serviços. Mesclando EaD com momentos presenciais, o �Curso deFormação Pedagógica em Educação Profissional na Área da Saúde: Enfermagem� foidesenvolvido pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) em parceriacom 45 instituições de ensino em todas as regiões brasileiras do país e habilitou, de2001 a 2005, mais de 13 mil enfermeiros para a função docente nos cursos dequalificação profissional do Profae.

do. Também já está sendo pensado o in-cremento no uso dos telefones móveispara facilitar o acesso dos alunos.

Para Bimla Kapoor, diretor da Facul-dade de Ciências da Saúde da IndiraGandhi National Open University(Ignou), na Índia, o sucesso da iniciati-va em seu país está diretamente relaci-onado ao fato de que o trabalho vem sen-do realizado em estreita colaboraçãocom as administrações de saúde nacio-nais e regionais, bem como hospitais eclínicas locais. Isso, segundo ele, tornapossível atender cerca de três milhõesde alunos e garante que os programasatendam prioridades locais.

Entre os problemas identificados,destacam-se além da baixa taxa de con-clusão dos cursos e do uso excessivo detecnologias, o que pode ser inadequadoem certos contextos, a falta de avalia-ção dos programas de EaD em si e doimpacto que o processo formativo reali-zado causa nos sistemas de saúde e namelhora das condições de saúde da po-pulação. Nesse sentido, a recomenda-ção final da oficina foi de que a questãoda avaliação, em todos os sentidos, este-ja no centro dos programas, deixando deser vista como uma ação final ou com-plementar.

O alerta final dos especialistas, noentanto, foi quanto à falsa crença de queo incremento da formação em saúde seja

nos cursos disponíveis gratuitamente naInternet, a modalidade vem se firman-do e, gradativamente, gerando debates.

No último mês de novembro, espe-cialistas de várias nacionalidades parti-ciparam de uma oficina organizada peloLondon International DevelopmentCentre (LIDC)7 para discutir o uso daEaD na formação em saúde nos paísesem desenvolvimento.

Na ocasião, foram apresentadas ex-periências consideradas de sucesso,como programas de formação de enfer-meiros no Quênia e na Índia. Tambémforam identificadas algumaspotencialidades da modalidade, como oestímulo à criação das comunidadesnacionais e internacionais de práticas �que vêm sendo consideradas ferramen-tas importantes para o fortalecimentodos sistemas �, e analisados alguns dosproblemas mais recorrentes.

De acordo com Caroline Mbindyo,gerente do programa da Fundação Afri-cana para a Medicina e Pesquisa (Amref,do inglês African Medical and ResearchFoundation) no Quênia, mais de 7 milenfermeiros estão matriculados em 34escolas e há 108 centros e-learning emtodo o país, incluindo os centros que fun-cionam com energia solar, e isso já estátrazendo ganhos para o sistema de saú-de. Segundo ela, no início das ativida-des houve certa dificuldade no uso dastecnologias, mas que isso já está mudan-

grandes mudanças, como explica o sani-tarista e atual diretor da Escola Nacio-nal de Saúde Pública Sergio Arouca(Ensp/Fiocruz), Antonio Ivo de Carva-lho, no texto �A Educação à Distância e anova saúde pública�6: �As mudançasprogramáticas e organizacionais propos-tas pela nova saúde pública, envolven-do a construção de um campointerdisciplinar de conhecimentos eintersetorial de práticas, assim como aemergência de novos atores e responsa-bilidades sociais, geram um conjunto dedemandas educacionais de magnitudee perfil inéditos no campo sanitário�.

Na atualidade, segundo ele, no quediz respeito ao público alvo, não é maispossível pensar apenas na formação dosprofissionais de saúde. Também é preci-so considerar a necessidade de �capaci-tar� cidadãos usuários, para que eles pos-sam assumir seu papel na saúde pública,praticando o autocuidado e exercendo ocontrole social, entre outras coisas. Emtermos de magnitude, ambos os casosacabam, na opinião de Antonio Ivo, de-mandando programas educacionais de�larguíssima escala�, até porque, no casodos trabalhadores da saúde, as mudançasna saúde pública requerem tanto umaformação inicial de qualidade quantouma formação continuada que dê contado acelerado desenvolvimento dastecnologias e dos saberes envolvidos emsuas práticas profissionais e sociais.

A educação permanente de profissio-nais que já atuam no sistema, sobretudoem países nos quais o conhecimento pre-cisa chegar a um público disperso emuitas vezes localizado em áreas de di-fícil acesso, e a necessidade de forma-ção massiva de determinados segmen-tos de trabalhadores � enfermeiros, agen-tes de saúde, entre outros � têm sidoalgumas das motivações para o uso daEaD na área da saúde. Seja em grandesprojetos, como o de PPPPProfissionalizaçãorofissionalizaçãorofissionalizaçãorofissionalizaçãorofissionalizaçãodos Tdos Tdos Tdos Tdos Trabalhadores da Área da En-rabalhadores da Área da En-rabalhadores da Área da En-rabalhadores da Área da En-rabalhadores da Área da En-fermagem (Pfermagem (Pfermagem (Pfermagem (Pfermagem (Profae)rofae)rofae)rofae)rofae), seja em peque-

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o único ou o melhor caminho para amelhoria dos sistemas. Segundo eles,o melhor desempenho profissional nãodepende apenas da formação, mas tam-bém das condições de trabalho e dapolítica salarial, entre outras coisas.

Mercantilização da EaD: épossível lutar contra isso?

�A educação é um bem público e aEaD pode representar a desconstruçãodaquilo que sempre compreendemospor Ensino Superior. As relações hori-zontais, entre os alunos, e as relaçõesverticais, entre alunos e professor, quese dão no ensino presencial, fazem comque a �turma�, o todo, seja muito maisdo que a soma das partes. Isso tudo seperde no ensino a distância�. A decla-ração do ex-reitor da Universidade Fe-deral do Rio de Janeiro (UFRJ) CarlosLessa, dada à Revista Radis8, mostraque ainda há aqueles que se opõem àadoção indiscriminada da EaD e ficampreocupado com o quê isso pode repre-sentar, especialmente para as institui-ções públicas de ensino, uma vez quea EaD tem um cunho fortementemercadológico.

Os que defendem a prática, por suavez, argumentam que a EaD pode re-presentar uma alternativa de democra-

tização do ensino, uma vez que permi-te atender segmentos populacionaisque não têm acesso a estudospresenciais de maneira contínua e sis-temática.

Para muitos estudiosos, no entanto,ainda que o ensino a distância tenhavindo para ficar e que, além de serpraticamente impossível, possa serimprodutivo e até mesmo perigosoignorá-lo, é preciso estar atento à suaforte tendência de mercantilização eaos resultados negativos que isso podetrazer para a sociedade.

A pesquisadora argentina MartaSusana Brovelli9, por exemplo, alega queessa questão tem a ver com um dosgrandes desafios da EaD: ofereceroportunidades reais de formação eeducação de qualidade em todas asiniciativas. �Não há outro caminho senãobuscar melhorar a qualidade na EaD, epara ele devem apontar todos os nossosesforços. Essa será também a forma delutar contra a mercantilização dessamodalidade de educação e contra asofertas rápidas e superficiais queatendem demandas artificiais esupérfluas e que são vistas pelos alunoscomo capacitações profissionais rápidase fáceis�, enfatiza.

O fato de, nas sociedadescontemporâneas, a formação inicial

tornar-se rapidamente insuficiente,gerando a necessidade de uma �educaçãoao longo da vida� [lifelong education],mais integrada aos locais e demandas dotrabalho, bem como às expectativas enecessidades dos indivíduos não implica,na opinião de Maria Luiza Belloni1, quea educação seja necessariamenteorientada para as exigências do mercado.Segundo ela, em uma concepção ideal, aformação continuada deve visar àemancipação crescente do indivíduo,tornando-o capaz de agir politicamente,tanto como cidadão quanto como umprofissional apto a atuar de modocompetente em situações novas ecomplexas.

O alerta final, fica por conta de MiltaTorrez2. Ao advertir para o fato de que abanalização do processo educativo, quesubjaz nas tão propaladas �facilidades� daEaD, pode servir de alerta sobre a fortepossibilidade de mercantilização dessamodalidade de ensino, cujascaracterísticas proporcionadas pelas TIC� velocidade e �massividade�� tendem afavorecer esse processo, ela é incisiva:�Mais do que nunca, é preciso saber fazerescolhas a partir das respostas às perguntasque fizermos sobre a educação quequeremos, para a formação de quenecessitamos, em todos os níveis�.

Notas:Notas:Notas:Notas:Notas:1 Revista Trabalho, Educação e Saúde (EPSJV/Fiocruz, mar/2005, p. 187)2 Revista Trabalho, Educação e Saúde (EPSJV/Fiocruz, mar/2005, p. 171)3 O processo de avaliação na educação à distância (UFRGS, 1999)4 Evasão na Educação a Distância: identificando causas e propondo estratégias de prevenção (Elaine Maria dos Santos e outros. Projeto depesquisa, 2008)5 Facilitating Interaction in Computer Mediated Online Courses (Background paper for our presentation at the FSU/AECT Distance EducationConference, Tallahasee FL, June, 1996): http://www.emoderators.com/moderators/flcc.html6 Revista Olho Mágico � Edição Especial sobre EaD (UEL, jun/2001): http://www.ccs.uel.br/olhomagico7 Distance Learning for Health: Potential and Problems Explored at Workshop (LIDC, nov/2010): http://www.lidc.org.uk/news_detail.php?news_id=1048 Revista Radis. �Educação a Distância: estratégia importante para formação permanente� (Ensp/Fiocruz, jan/fev 2003)9 �La Educación a Distancia: una invitación a la construcción conjunta� (Revista Trabalho, Educação e Saúde - EPSJV/Fiocruz, mar/2005, p. 199)

RETS out/nov/dez 201088 RETS out/nov/dez 2010

Há mais de 20 anos, a socióloga Maria Luiza Belloni se dedica a pesquisas nasáreas da comunicação e da educação ou, mais precisamente, na interface entreesses saberes. Autora de vários livros e inúmeros artigos, foi professora e

pesquisadora das Universidades Federais da Bahia, de Brasília e de Santa Catarina, poronde se aposentou em 2005, mas na qual continua atuando. Nessa entrevista, MariaLuiza compartilha um pouco do enorme conhecimento adquirido em seus estudos noBrasil, mas também na França e em Portugal, onde realizou seus cursos de Mestrado,Doutorado e Pós-Doutorado.

Na sua opinião, qual a melhor definição para EaD?A educação a distância é uma modalidade de oferta de ensino baseada na aprendizagemautônoma do estudante realizada sem a presença de um professor. A rigor, a expressãocorreta é ensino a distância, já que a tarefa do professor é ensinar. Na ausência damediação direta do professor, a aprendizagem na EaD necessita mais da mediação demeios técnicos, que hoje podem incluir os materiais impressos e as técnicas de informa-ção e comunicação (TIC). Evidentemente, essa mediação exige metodologias de ensi-no adequadas, diferentes das metodologias de ensino utilizadas no ensino presencial.

O que diferencia EaD de e-learning, por exemplo?

O e-learning (aprendizagem eletrônica) é uma expressão bastante polêmica e polissêmicaque, segundo o contexto, pode significar tanto a oferta de cursos à distância utilizandomeios eletrônicos quanto novos modos de aprender com esses meios, dentro e fora dasala de aula, por exemplo, com os �games�.

Frequentemente, a EaD é vista como uma �panaceia milagrosa�,capaz de resolver vários problemas nas áreas da educação e dasaúde, por meio da formação profissional. Nesse sentido, quaisseriam, na sua opinião, as indicações e a posologia para o uso daEaD, bem como as �contraindicações�?

Considerar a EaD como panaceia milagrosaé equivocado, pois o ensino a distância dequalidade exige grandes investimentos emtecnologias e em formação específica deprofessores. Não há, portanto, economia derecursos financeiros nem de tempo de tra-balho desses profissionais. Por outro lado, o ensino a distância pode seruma solução muito proveitosa e adequadapara a formação continuada de profissionaisde todas as áreas por razões óbvias de orga-nização do tempo e do espaço de aprendiza-gem e também por razões propriamentepedagógicas decorrentes da especificidadedessa modalidade: a EaD exige doaprendente grande motivação e uma cultu-ra escolar consolidada que lhe permita gerenciar seu próprio processo de aprendizagem,além da experiência profissional que possibilita um melhor aproveitamento dos conhe-cimentos a construir.Nesse sentido, a EaD não é adequada para aqueles que não têm cultura escolar ouexperiência na área de formação, sendo desaconselhada para educação popular de cará-ter supletivo (alfabetização de adultos, por exemplo) e, evidentemente, para a educaçãobásica de crianças e adolescentes. No entanto, campanhas de educação popular temáticas(cidadania, violência, preservação do meio ambiente, trânsito, saúde etc.) podem terresultados excelentes a distância se forem utilizados mídias e materiais adequados.

Como resistir à tentação de in-corporar mais inovação técni-ca do que o necessário à EaD,por conta apenas da disponibi-lidade crescente de novastecnologias? Esse processonão tenderia a aumentar as de-sigualdades que existem entreos países (regiões e até mesmoindivíduos) mais ricos e maispobres?

Confundir inovação técnica com inova-ção pedagógica significa ensinar velhosconteúdos com velhos métodos através demeios técnicos novos. A utilização de no-vas TIC exige novos métodos de ensinoque ainda não foram desenvolvidos nocampo da educação. Há um enorme fossoentre os modos de ensinar (presos a ve-lhas fórmulas baseadas na cultura da es-crita e da imprensa) e os novos modos deaprender, desenvolvidos pelas crianças eadolescentes �nativos� da era digital, nocontato com as novas mídias, que nóspesquisadores chamamos �autodidaxia�,ou seja, uma nova habilidade deautoaprendizagem.A integração das novas TIC aos processoseducacionais em todos os níveis e moda-lidades é condição para a melhoria daqualidade da educação, desde que sejarealizada com uma perspectiva de mídia-educação, ou seja, de modo crítico e cria-tivo. A apropriação dessas tecnologias écondição sine qua non da formação de qual-quer cidadão. É justamente o acesso desi-gual às tecnologias que agrava as desigual-dades sociais e não o contrário.As desigualdades não são tanto regionais(países pobres versus países ricos), massociais: o Brasil tem mais telefones celu-lares do que habitantes, recorde que eraexclusivo, até pouco tempo, de paísescomo Finlândia e Estados Unidos, e o aces-so à internet cresce vertiginosamente.Nossas crianças favorecidas têm prova-

�O ensino adistância dequalidade exigegrandesinvestimentos emtecnologias e emformação específicade professores�

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velmente mais acesso às TIC do que cri-anças pobres dos países ricos. Então cabeà escola formar o usuário competente, crí-tico e criativo dessas tecnologias.

Qual a importância de se trans-ferir o foco da discussão sobrea EaD da �modalidade� para o�método�? O que muda quandose opera esse deslocamento?Deslocar o foco da modalidade para ométodo significa investir na produção deconhecimento sobre os modos de apren-der com as TIC e promover sinergias po-sitivas entre as modalidades presencial ea distância, para que as inovações técni-cas, metodológicas e pedagógicas produ-zidas na EaD sejam integradas na educa-ção presencial, adequando-a às novas ge-rações, e que a qualidade acadêmica doensino convencional contribua para amelhoria da qualidade do ensino a dis-tância. A maioria dos estudiosos apontapara o futuro uma convergência dos dois�paradigmas de educação�, ou para umaintegração das duas modalidades. As no-vas gerações já estão aprendendo com asTIC, cabe à escola integrá-las a seus mé-todos de ensino.

Há uma tendência crescente dese colocar toda a responsabili-dade do sucesso pessoal sobreo indivíduo? De que forma aspropostas de educação a dis-tância ajudam a reforçar essaideia e a minimizar a respon-sabilidade da sociedade e dasinstituições?

Trata-se de uma tendência da sociedadecontemporânea e a educação não escapaa essa lógica individualista e consumista.O capitalismo globalizado exige cada vezmais dos indivíduos, precarizando o tra-balho e utilizando as inovações técnicaspara aumentar a produtividade de cadatrabalhador. Como já dizia Marx, no fa-moso capítulo XV de O Capital, �o em-prego capitalista das máquinas (�) é um

método particular para fabricar mais va-lia relativa�. Além disso, a enorme influ-ência cultural e ideológica das mídias demassa tem como função desmobilizar apopulação e evitar reflexão crítica. A rea-lidade social, no entanto, é altamentecontraditória. As mesmas TIC, que am-pliam a jornada de trabalho e alienam asconsciências dos indivíduos, podem fun-cionar também como poderosos meios dedemocratização do acesso ao conhecimen-to e à cultura, desde que apropriadas cri-tica e criativamente pelos cidadãos. For-mar as novas gerações para essa apropria-ção crítica é papel da escola em todos seusníveis. Por isso, a formação de professoresvia EaD pode ser ocasião daquelassinergias positivas, pois o professor queaprendeu com as TIC estará mais bempreparado para ensinar com elas.

E sobre a questão da evasão?Há alguma característica deproduto ou processo em EaDque tende a aumentar o índicede evasão dos estudantes?A evasão é um dos maiores problemas daEaD em qualquer tipo de experiência.Suas causas são múltiplas e complexas etêm a ver tanto com a qualidade do ensi-no oferecido � adequabilidade dasmetodologias e acessibilidade aos mate-riais (principalmente questões técnicas),por exemplo � quanto com aspectos rela-cionados ao próprio estudante � proble-mas de tempo, de acesso, de capacidadede autoaprendizagem e de motivação parao estudo, entre outros.

Como reduzir esse problema?

Atividades presenciais coletivas periódicase polos de atendimento ao estudante bem

equipados e estruturados com monitorespara atendimento presencial podem con-tribuir para minimizar a evasão.

Em que medida as dificuldadesque a EaD enfrenta para avaliaro rendimento dos alunos po-dem afetar a credibilidade daformação ou a legitimidade dacertificação?Mais grave na formação inicial do que nacontinuada, esse é o maior desafio para aEaD, sobretudo em um país como o nossode dimensões continentais (dificultandoa realização de exames presenciais) e comuma cultura permissiva quanto à obedi-ência e aplicação de regras (onde o jeiti-nho brasileiro é considerado um valor enão uma anomalia). Dispositivospresenciais de avaliação e a qualidade dainteração entre a instituição (professores,tutores e monitores) e os estudantes sãoos mecanismos mais utilizados para re-solver esse problema.

Há algum outro desafio impor-tante para a EaD?Ainda não temos soluções para as ativida-des práticas de laboratório ou de estágios,que devem ser obrigatoriamentepresenciais, e isso reforça a ideia de con-vergência de paradigmas ou modalidadese de sinergias positivas entre ensinopresencial e a distância. Acredito que, nofuturo, as novas gerações de indivíduos emáquinas vão gerar novas soluções e tam-bém novos problemas, com mudanças sig-nificativas de culturas, mentalidades edispositivos técnicos. São esses cenáriosde mudança que interessa imaginar. E,para tal, é preciso ouvir os jovens e as cri-anças que já sabem mais sobre TIC doque seus professores.

�Confundir inovação técnica com inovaçãopedagógica significa ensinar velhosconteúdos com velhos métodos através demeios técnicos novos�

Livros:Livros:Livros:Livros:Livros: �O que é Sociologia da Infância�(Autores Associados, 2009); �Educação a Distância�(Autores Associados, 1999); �A formação na sociedade doespetáculo�(Loyola Edições, 2002); �O que é Mídia-Educação� (Autores Associados, 2001); �Crianças e mídias no Brasil: cenários de mudanças� (Papirus, 2010).

Alguns artigos:Alguns artigos:Alguns artigos:Alguns artigos:Alguns artigos:�Educação a distância e inovação tecnológica� (Trabalho, Educação e Saúde, v. 3 n. 1, p. 187-198, 2005): http://www.revista.epsjv.fiocruz.br�Infância, mídias e aprendizagem: autodidaxia e colaboração� (Belloni & Gomes, Revista Educação e Sociedade, n°104, 2008): www.scielo.br/pdf/es/v29n104/a0529104.pdf�Mídia-educação: conceitos, histórias e perspectivas� (Beloni & Bévort , Revista Educação e Sociedade, n°109, 2009): www.scielo.br/pdf/es/v30n109/v30n109a08.pdf�Ensaio sobre a Educação a Distância no Brasil (Revista Educação e Sociedade, n° 87, 2002): www.scielo.br/pdf/es/v23n78/a08v2378.pdf

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Fórum GHWA:o técnico em saúde (Parte 2)

fórum

De 4 a 18 de maio deste ano, a Aliança Global para a Força de Trabalho emSaúde (GHWA, do inglês Global Health Workforce Alliance) realizou umfórum on-line sobre os trabalhadores de nível médio, segundo nomenclatura

utilizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O objetivo da iniciativa foiestimular o debate sobre o tema, facilitando a troca de experiências e percepçõessobre o assunto. O Fórum foi dividido em nove tópicos sobre os quais todos osinscritos receberam um texto de referência e sugestões de leituras. Ao fim de cada diade discussão, um especialista resumia as sugestões enviadas e apresentava suasconclusões sobre o assunto.

Esta matéria dá continuidade à iniciada na edição anterior e visa trazer para oâmbito da Rede as discussões realizadas. Todo material do Fórum está disponível napágina da RETS (http://www.rets.epsjv.fiocruz.br), em: �Biblioteca�> �Eventos�>�Mid-Level Health Workers (Online Forum)�.

A atualidade como reflexo da história

No terceiro dia do Forum, mediado pelos professores David Sanders e UtaLehmann, da Escola de Saúde Pública da Universidade do Cabo Ocidental, o propó-sito foi discutir como as diferenças nos processos históricos do surgimento dos técni-cos em saúde nos diversos países acabaram resultando no panorama atual de grandediversidade nessa área. Além disso, também se buscou listar ações, em nível local,nacional e internacional, capazes de garantir a perfeita integração dos técnicos emsaúde em um continuum de prestação de serviços à população.

De acordo com Sanders e Lehmann, a função dos técnicos de saúde nos sistemasde saúde, suas habilidades, o tempo de formação e as práticas de gestão relativas aesses quadros variam muito de acordo com as necessidades e com o contexto históri-co de cada país. Segundo eles, há mais de cem anos, diferentes categorias de técnicosvêm prestando, com sucesso, cuidados de saúde ao redor do mundo, sendo que, nospaíses mais pobres, eles geralmente são responsáveis pela ampliação da coberturados sistemas e do acesso da população aos serviços de saúde.

Historicamente, a existência desses profissionais mantém estreita ligação com abaixa oferta de profissionais de nível superior, principalmente nos países periféricos.A associação do surgimento desses trabalhadores com políticas coloniais de saúde ecom estruturas de trabalho extremamente hierarquizadas, no entanto, acabam, se-gundo vários participantes do Fórum, conferindo aos técnicos da saúde uma imagemque não condiz com o papel crucial que eles desempenham nos sistemas nacionaisde saúde.

Se nos países mais pobres, os técnicos em saúde muitas vezes são empregados parasuprir a falta de profissionais mais qualificados, nos países mais desenvolvidos elessurgem, principalmente por conta da diversificação de funções a serem desempenha-das no setor. A formação desses técnicos, portanto, está bastante atrelada às necessida-des de cada país, o que resulta em uma quantidade e diversidade de perfismuito grande.

Como incorporar esses trabalhadores nos sistemas de saúde?

Para Cecilia Acosta e Felisa Fogiel, do Instituto Superior de Tecnicaturas para laSalud, órgão de formação ligado à Direção Geral de Capacitação e Investigação, doMinistério de Saúde da Cidade de Buenos Aires, vários fatores determinaram osurgimento dos profissionais ditos de nível médio, dentre os quais o próprio desenvol-vimento da medicina, ou seja, a especialização crescente dessa área e a necessidadede diferenciação de tarefas no âmbito das práticas das equipes de saúde, sob o pontode vista da divisão entre trabalho manual e intelectual. Atualmente, no entanto,esse contexto é outro. �Hoje em dia, essas necessidades mantêm a relação com odesenvolvimento da medicina, mas também com as questões econômicas�, afirmaCecília, que explica: �Estudos diagnósticos, por exemplo, podem ser feitos por traba-

lhadores com formação técnica. Ainda que asupervisão e validação do trabalho de váriosdesses técnicos estejam a cargo de um profissi-onal mais qualificado, isso acaba gerando umaeconomia no custo dos recursos humanos�.

Felisa, por sua vez, lembra que o desenvol-vimento e a complexidade da tarefa técnica re-querem profissionais mais autônomos e capa-zes de se adaptar ao uso de novas tecnologias, oque demanda a educação permanente como fer-ramenta para que esses técnicos possam se in-tegrar a um sistema de saúde que, dia a dia,representa novos desafios a serem superados.

Para os debatedores, o uso desses trabalha-dores como substitutos provisórios de profissio-nais de nível superior e a criação de novos perfisapenas para suprir necessidades temporárias di-ficultam a incorporação dos técnicos pelos sis-temas de forma adequada e, consequentemente,prejudicam o monitoramento desses quadros ea avaliação dos serviços prestados por eles.

�No passado colonial, profissionais de saúdede nível médio eram empregados geralmentecom o intuito de se fornecer alguns serviços,mesmo que de baixa qualidade, para aspopulações nativas. Hoje, a ideia principal égastar menos do que se gasta com a formaçãoe com os salários de médicos�. (MwangiJohnson, Quênia)

�Mais do que pensar as razões pelas quais ostécnicos em saúde surgiram, devemos pensarporque alguns países relutam em introduziresses trabalhadores ou formalizar o seu papelnos sistemas de saúde, por meio deregulamentação adequada. (...) Devemosanalisar as percepções criadas em diversospaíses africanos de que esses trabalhadoressão de segunda classe, uma herança ruim dostempos coloniais. (...) Muitos países daAmérica e do Reino Unido estão usandoprofissionais de nível médio. Então por quenão na África?� (Jasmine Toure, Mali)

�Um fator importante para a integração dostécnicos em saúde na cadeia de cuidados é aconstrução do conceito de trabalho em equipe,no qual os médicos não se sintam ameaçadospelos trabalhadores de nível médio e ostrabalhadores de nível médio, por sua vez, nãosejam menosprezados pelos profissionais maisqualificados�. (Alfonso Tavares, Angola)

�Eu diria que devemos, primeiramente, criaruma definição padrão para o trabalhadortécnico em saúde. Em seguida, verificar quecategorias de trabalhadores de saúde jáexistentes se encaixam nessa definição,considerando a formação, a complexidade doseu trabalho e sua responsabilidade�.(Abdurahman Ali, Etiópia)

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O consenso entre os que participa-ram da discussão é de que um dos prin-cipais caminhos para a solução doimpasse atual seria o aprimoramento dagestão do trabalho técnico na saúde,envolvendo aspectos de regulamentaçãoprofissional, suporte, formação, estabe-lecimento de planos de carreira, entreoutros. Nesse sentido, segundo eles, éimportante que os gestores do sistemadefinam as funções necessárias em cadanível de atendimento, os conhecimen-tos e habilidades requeridas para o de-sempenho dessas funções e qual o perfilprofissional mais adequado para com-por o quadro geral da saúde.

Sem dados adequados, hápouco a se fazer

No quarto dia do debate, que estevesob responsabilidade da inglesa BarbaraMcPake, do Instituto para a Saúde eDesenvolvimento Internacional da Uni-versidade Rainha Margaret, as discus-sões foram sobre as consequências dafalta de informação sistematizada sobreos técnicos de saúde e sobre as medidasque podem melhorar a distribuição geo-gráfica desses trabalhadores, a fim deampliar a cobertura dos sistemas nacio-nais de saúde.

Segundo os participantes do Fórum,alguns países produzem dados confiáveis,enquanto outros não. Por conta disso, hou-ve muitas sugestões para que seja feitoum esforço internacional para o aprimo-ramento da coleta de dados sobre os pro-fissionais de nível médio. De acordo comBarbara, o debate mais animado, no en-tanto, foi sobre a necessidade de se defi-nir efetivamente o objeto a ser investiga-do: �Muitos reafirmam a necessidade dese conhecer a atual distribuição dos téc-nicos, por meio da coleta de dados, parapoder melhorá-la, mas todos concordamque �se vamos contar algo, precisamosprimeiramente definir o que estamoscontando��, explicou.

A falta de dados confiáveis, na opi-nião dos debatedores, dificulta tanto adefinição do panorama atual quanto oestabelecimento de futuras políticaspara esses trabalhadores, inclusive paraas que visam à realocação dos quadrosexistentes. Muito pouco se sabe a res-peito do número de técnicos que atuamnos países, bem como sobre o seu localde trabalho (setor público ou privado,área urbana ou rural etc).

Sobre as medidas de atração e reten-ção que poderiam tornar a distribuiçãodos trabalhadores técnicos mais eficazpara as necessidades dos sistemas, uma

das sugestões dadas foi sobre avinculação das iniciativas de formaçãocom o local de exercício profissional, ouseja, a oferta de cursos de formação acandidatos que se comprometam a per-manecer em determinada localidade, oumesmo no país, por algum tempo após aconclusão do curso.

A questão é que, apesar de essa es-tratégia estar surtindo efeito em algunspaíses no caso da migração internacio-nal de técnicos da área de enfermagem,há dúvidas se ela conseguiria resolver aquestão no âmbito interno, no qual ésempre muito difícil restringir a mobi-lidade das pessoas. A solução, nesse sen-tido, seria oferecer aos profissionais queatuam em regiões pouco atrativas umaremuneração adequada, boas condiçõesde trabalho e oportunidade de ascensãona carreira, entre outras coisas.

Como agir numa situação quenão é a ideal?

Para finalizar as discussões do dia, aquestão era saber o que as pessoas pen-

sam da possibilidade de técnicos, aindaque com o devido apoio, assumirem fun-ções mais complexas e que normalmen-te requerem qualificação específica, emque circunstância isso seria possível eque papel eles poderiam desempenharnessa situação.

Conforme os participantes, essa si-tuação muitas vezes ocorre por conta daescassez de profissionais de nível supe-

rior, especialmente em determinadasregiões. Nesse sentido, todos concordamcom a necessidade de supervisão dessestrabalhadores por profissionais hierarqui-camente superiores ou até mesmo portécnicos mais experientes, o que pode-ria minimizar a questão da supremaciahistórica de algumas formações sobreas demais.

Isabel Duré e Alejandro Valitutti, daDireção Nacional de Capital Humanoe Saúde Ocupacional do Ministério deSaúde da Argentina, concordam com ofato de que, em alguns casos específicose dependendo da especialidade, o téc-nico ou mesmo o auxiliar acaba exercen-do algumas tarefas atribuídas original-mente a trabalhadores com outros ní-veis de formação. �Nesse sentido, é pos-sível que na falta de outros profissionaisse encontre, por exemplo, um agentesanitário, cujo papel, segundo anormativa de uma província, seja reali-zar controles básicos de saúde, atuandona vacinação da população, ou que umaauxiliar de enfermagem realize algumasfunções de um enfermeiro profissional�,

lembra Valitutti. �O ideal, no entanto éque isso não ocorra e que não se tornenormal�, enfatiza Isabel.

Felisa confirma que casos como es-ses acontecem, embora isso não devesseocorrer. �Isso é um claro sintoma daprecarização do trabalho num sistemade saúde�, justifica, com total concor-dância de Cecilia.

�A existência de informações de qualidade sobre os técnicos de saúde só seria possívelse os dados sobre esses quadros também fossem coletados rotineiramente. Isso nãoocorre até porque muitos desses trabalhadores não estão adequadamentecategorizados. Com isso fica difícil ter um banco com boas informações. Muitosgovernos mantêm registros com base nas folhas de pagamento, mas essas nemsempre são precisas ou atualizadas regularmente. A OMS deveria apoiar a definiçãode normas globais e apoiar os países na coleta dessas estatísticas vitais. É verdade oditado que diz: �não se pode gerenciar aquilo que você não pode medir��. (KumarGopal, Índia)

�A migração de trabalhadores da saúde da área rural para a urbana, do setor públicopara o privado está evidentemente relacionada à questão econômica e à falta de umambiente favorável à prática profissional. Um pacote justo de itens como: salário,incentivo, oportunidade de educação continuada, entre outras coisas, ajudaria areter os profissionais e, eventualmente, a melhorar sua distribuição�. (AbdurahmanAli, Etiópia)

�Informações sobre estratégias e histórias de sucesso, bem como lições aprendidasdevem ser reunidas e disseminadas. Há grande necessidade de pesquisas sobreavaliação, planejamento, políticas e programas na área de recursos humanos emsaúde. A formação de uma rede colaborativa internacional e uma agenda de pesquisacoordenada e alinhada com outras pesquisas no âmbito dos sistemas de saúdeevitariam o desperdício de tempo e de recursos. Autoridades de Saúde e organizaçõesinternacionais deveriam ser encorajadas a transformar resultados de pesquisas emações�. (Hela Kochbai, Tunísia)

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notícias da rede

RETS agrega dois novos membros de Portugal: IHMT e ESSCVP

os cursos foram interrompidos, sendoretomados em 1947/1948, com cursosde auxiliares para a área de ProntoSocorro. Em 1950, para atender asdemandas da Cruz VermelhaPortuguesa, foi criado o Curso deEnfermagem Geral.

Em maio de 1993, a Escola deEnfermeiras da Cruz VermelhaPortuguesa se transformou em EscolaSuperior de Enfermagem, criando o cursode Bacharelado e, posteriormente, o deLicenciatura em Enfermagem.

Em março de 2003, a antigainstituição passa a se chamar EscolaSuperior de Saúde da Cruz VermelhaPortuguesa, com a função de prestarEnsino Superior Politécnico nosdomínios da Enfermagem e dasTecnologias da Saúde.

Hoje, no âmbito da CooperaçãoInternacional, a Escola atua tanto comos países da Comunidade Europeiacomo com os de Língua Portuguesa.�Além de colaborar na realização decursos em Angola, Cabo Verde, GuinéBissau, Moçambique, São Tomé ePríncipe e Timor Leste, nós temos, como apoio da Fundação CalousteGulbenkian, procurado dar umparticular apoio na questão dadocumentação científica, através denossa Plataforma Informática, e namelhoria das bibliotecas locais da áreada saúde�, disse o diretor da ESSCVP,Luís Aires de Sousa, destacando oimportante papel da Rede de EscolasTécnicas de Saúde da CPLP para omundo da língua portuguesa.

IHMT

E-mail: [email protected]: www.ihmt.unl.pt

ESSCVP

E-mail: [email protected]: http://www.esscvp.eu

No mês de novembro, duas novas instituições de formação em saúde de Portugalpassaram a integrar a Rede de Escolas Técnicas da Comunidade de Países de LínguaPortuguesa (RETS-CPLP) e, consequentemente, a RETS: o Instituto de Higiene eMedicina Tropical (IHMT) e a Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa(ESSCVP).

O IHMT foi criado em 24 de abril de 1902, porCarta de Lei do então Rei D. Carlos, com o nome deEscola Nacional de Medicina Tropical. Desde 1958funciona nas instalações atuais e em 1980 passou a seconstituir como uma Unidade Orgânica daUniversidade Nova de Lisboa (UNL). Ao longo dosseus mais de cem anos de existência, teve comoobjetivos fomentar o conhecimento científico dosproblemas de saúde ligados ao meio tropical eintertropical, por meio da formação pós-graduada, dainvestigação científica e da cooperação para odesenvolvimento.

Dirigida atualmente pelo médico e professor DoutorPaulo Ferrinho, o IHMT tem sido reconhecido nacionale internacionalmente, pela relevância e qualidade deseu trabalho, centrado, sobretudo, na Medicina Tropicale em áreas de saúde consideradas problemáticas dospaíses em desenvolvimento.

No que se refere à cooperação para o desenvol-vimento, o IHMT, por suacapacidade de conceber, programar, executar e avaliar projetos de cooperação naárea da saúde, tem atuado como interlocutor privilegiado dos governos dos paísesde língua portuguesa, no contexto da Universidade, integrando diversas ações decooperação com diferentes instituições nacionais e organismos internacionais, dentreos quais, o Secretariado Executivo da CPLP, as Escolas de Medicina TropicalEuropeias, as Instituições de Saúde e de Ensino dosPaíses Africanos de Língua Portuguesa (Palop), aOrganização Mundial de Saúde (OMS), a UniãoEuropeia e o Banco Mundial.

Para o diretor do IHMT, Paulo Ferrinho, o ingressona RETS ajudará o Instituto a estreitar os laços com osPalop e com o Brasil, estabelecendo um esforço maisafinado para a melhoria da qualificação dos recursos humanos da saúde e,consequentemente, para a consecução de mais e melhor saúde para as populações.�Além disso, também poderá ampliar a realização de ações conjuntas com outrasinstituições de formação, no que diz respeito ao intercâmbio de docentes e àrealização de Mestrados e doutoramentos�, completa Ferrinho, lembrando aindada possibilidade de contribuição efetiva com o site e com a Revista RETS, para apublicação de artigos de interesse comum.

A história da Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa (ESSCVP)começa com o �Regulamento das Damas Enfermeiras da Sociedade Portuguesa daCruz Vermelha�, publicado em 1917, que faz referência à criação de escolas centraise elementares de enfermagem, estabelecendo condições de admissão e disposiçõescom respeito ao ensino, aos professores, aos exames e diplomas. Depois de um tempo,

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Brasil: reiniciadaa publicação daRevista RET-SUS

O mês de setembro marcou a reto-mada da publicação da Revista daRede de Escolas Técnicas do SistemaÚnico de Saúde (RET-SUS), que ha-via sido interrompida em junho de2008, após a 37ª edição. A RET-SUS,cuja Secretaria Executiva de Comuni-cação está instalada na Escola Politéc-nica de Saúde Joaquim Venâncio(EPSJV/Fiocruz), foi criada no ano2000, pelo Ministério da Saúde do Bra-sil, com o objetivo de facilitar a articu-lação entre as 36 escolas técnicas dosistema nacional de saúde e,consequentemente, fortalecer a edu-cação técnica em saúde no país.

Na RETS, a RET-SUS é represen-tada pela Coordenação de Ações Téc-nicas do Departamento de Gestão daEducação na Saúde (Deges), da Secre-taria de Gestão do Trabalho e da Edu-cação na Saúde (SGTES) do Ministé-rio da Saúde.

Editada em português, a revistaestá disponível em versão eletrônicano site da RET-SUS (http://www.retsus.epsjv.fiocruz.br). Os inte-ressados em receber a revista impressadevem entrar em contato pelo telefo-ne +55 (21) 3865-9779 ou por e-mail([email protected]).

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publicações

Salud, interculturalidad y derechos - Claves para lareconstrucción del Sumak Kawsay-Buen Vivir

Editada pelo professor Gerardo Fernandez-Juárez, a publicação traz as contribuições dosparticipantes de um seminário realizado peloMinistério da Saúde Pública do Equador e peloFundo de Populações das Nações Unidas (Unfpa-Equador), de 10 a 13 de novembro de 2009. Oevento reuniu especialistas, representantes deinstituições públicas, da academia e de organi-zações não governamentais, e líderes indígenaspara compartilhar experiências, discutir a ques-tão do ponto de vista conceitual e metodológicoe traçar estratégicas para fazer da

interculturalidade uma realidade nas políticas públicas de saúde.No âmbito internacional, o seminário visou à discussão de aspectos culturais na

saúde pública que podem facilitar o acesso universal aos serviços, particularmentedas mulheres que na região andina têm mais dificuldades, como as indígenas e asafrodescendentes, tendo como foco os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio,especialmente as metas que dizem respeito à saúde materno-infantil.

A publicação �Salud, interculturalidad y derechos - Claves para la reconstruccióndel sumak kawsay - Buen vivir � (Ministerio de Salud Pública del Ecuador. EdicionesAbya-Yala, maio/2010) está disponível no site da Unfpa-Ec (http://www.unfpa.org.ec),em: Multimedia > Documentos > �Interculturalidad y Género�

Objetivos de desarrollo del Milenio - La progresión haciael derecho a la salud en América Latina y el Caribe

Sob a coordenação da Comissão Econômica para aAmérica Latina e Caribe (Cepal), todas as agências, fun-dos e programas das Nações Unidas presentes na regiãose uniram em 2005 para realizar uma análise sistemáti-ca, integrada e compartilhada das conquistas e dos obs-táculos para o alcance das metas do milênio relaciona-das à saúde. A proposta era identificar as causas das difi-culdades � práticas protecionistas no comércio interna-cional e políticas referentes à gama dos determinantessociais da saúde (educação e infraestrutura básica, entreoutros) e tentar avaliar que medidas adicionais poderi-am ser tomadas para que cada país conseguisse cumpririntegralmente os compromissos assumidos.

Entre 1990 e 2007, período que cobre dois terços dotempo estipulado para alcançar os Objetivos do Milênio, a América Latina e oCaribe mostraram um grande progresso na área da saúde, especialmente materno-infantil. O documento, no entanto, mostra que as metas regionais acabam masca-rando a grande disparidade que existe entre os países isoladamente. Além disso, orelatório apresenta o custo estimado para a implantação de medidas adicionais naárea da saúde, levando em consideração os princípios da solidariedade e da universa-lidade e tendo em mente a questão da proteção social e da progressividade fiscal.

A publicação está disponível no site da Cepal (http://www.eclac.org), em: http://www.eclac.cl/id.asp?id=33064

RETS out/nov/dez 201014

Apesar de ser objeto de grandes debates (ver matéria de capa), a Educação a Distância tem sido constantemen-te usada na formação em saúde em diferentes níveis e em diferentes contextos. Os cursos livres, por exemplo,têm sido cada vez mais utilizados para difundir informações que podem auxiliar os profissionais de saúde no

desempenho de suas funções.Os cursos livres, também chamados de cursos de autoaprendizagem, estão disponíveis a qualquer um que se

interesse pelo tema abordado, podendo ou não oferecer um certificado de conclusão. Geralmente de curta duraçãoe gratuitos, esses cursos não contam com tutores ou orientadores. Eles funcionam como um estudo dirigido, no qualos profissionais têm, por conta própria, acesso a materiais de referência, relatos de experiências ou, até mesmo,possibilidade de desenvolver algumas experiências práticas sobre o tema.

fique de olho

Cursos on-line contribuem para aformação em saúde

Criado em junho de 1992, em resposta à Resolução Nº 46/182 da Assembleia Geral da ONU sobre o fortalecimento daajuda humanitária, o Comitê Permanente Interagências (Iasc)reúne 21 organizações humanitárias, ligadas ou não à ONU.O Comitê atua como um fórum interinstitucional decoordenação, desenvolvimento de políticas e de tomada dedecisão em situações de crise.

Men�] é baseado no Manual de Gênero, publicado peloIasc, em 2006. A iniciativa visa proporcionar aos estu-dantes o conhecimento necessário à integração das ques-tões de gênero aos serviços prestados em momentos decrise, principalmente os relacionados à saúde.

Disponível apenas em inglês, o curso é gratuito etem duração prevista de cerca de três horas. Ao comple-tar as atividades, que abrangem aspectos da saúde, nu-trição, educação, entre outros, os inscritos recebem cer-tificado emitido pelo Iasc.

A inscrição para o curso é feita no portal de ensinoon-line do Iasc (http://www.iasc-elearning.org/home).O Manual de Gênero para Ações Humanitárias do Iasc,por sua vez, está disponível em vários idiomas, em: http://www.humanitarianreform.org/Default.aspx?tabid=656.

Planejamento hospitalar emsituações de desastres

Criado pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS),o curso �Planejamento hospitalarpara resposta ao desastre�[�Planeamiento hospitalario para larespuesta a desastres�] visa fornecer

Curso básico de Direitos Humanos e Saúde

Oferecido pela OrganizaçãoPan-Americana em Saúde(Opas/OMS), em parceria coma Agência Espanhola de Coope-ração Internacional para o De-senvolvimento (Aecid), o cur-so básico de aprendizado on-

l ine em Direitos Humanos e Saúde [Basic E-Learning Course on Human Rights and Health] évoltado para todos que trabalham para a promoção eproteção da saúde. O conteúdo inclui inúmeros do-cumentos de referência, além de exercícios de veri-ficação da aprendizagem.

Disponível atualmente apenas em inglês, o curso égratuito e pode ser acessado diretamente pelo link:http://www.xceleratemedia.com/clients/TATC/clients/PAHO_7_23_2010 ou pelo menu lateral do site da Opas(http://www.new.paho.org), em: �Derechos Humanos &Salud� > �Curso a distancia em línea de la OPS�

Equidade de gênero, saúdee ações humanitárias

Lançado pelo Comitê Perma-nente Interagências (Iasc), o cur-so �Necessidades diferentes �oportunidades iguais: aumentan-do a efetividade de ações huma-nitárias para mulheres, meninas,meninos e homens� [�Different

Needs - Equal Opportunities: Increasing Effectivenessof Humanitarian Action for Women, Girls, Boys and

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ao pessoal responsável pela gestão hospitalar,metodologias e conteúdos que facilitem a ação nas situ-ações emergenciais decorrentes de desastres. Divididoem cinco lições, o conteúdo apresenta procedimentosespecíficos para cada tipo de emergência que pode ocor-rer e ações que devem ser executadas para que os danossejam os menores possíveis.

Disponível apenas em espanhol, o curso é gratuito epode ser acessado diretamente pelo link: http://www.planeamientohospitalario.info ou pelo menu late-ral do site da Opas (http://www.new.paho.org), em: �De-sastres y Asistencia Humanitaria� > �Planeamientohospitalario�. Não é necessária inscrição prévia.

Prevenção e respostas a desastres químicos

O curso de autoapren-dizagem �Prevenção, prepa-ração e resposta a emergên-cias e desastres Químicos� éfruto de uma parceria entrea Organização Pan-America-na da Saúde (Opas/OMS),

a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb)e os Ministérios da Saúde do Brasil e da Argentina.

A proposta considera que qualquer emergência quí-mica � de origem natural ou tecnológica, que ocorradurante a extração, produção, manuseio, transporte,armazenamento e destinação de produtos químicos �pode afetar, direta ou indiretamente, a segurança e asaúde da população, bem como levar a desastresambientais. Nesse sentido, o curso proporciona elemen-tos teóricos e práticos, assim como meios adequados paraa prevenção, preparação e resposta de maneira rápida eeficiente, diante de situações de emergências e desas-tres químicos, em âmbito local, regional e nacional empaíses da América Latina e Caribe.

Gratuito e com conteúdo em português e espanhol,o curso pode ser feito por todos que se interessam pelotema. Para participar, basta acessar a página do curso(http://www.bvsde.paho.org/cursode/p/index.php) eefetuar a inscrição. Após o término das leituras, soluçãodos exercícios propostos e avaliação final, atividades paraas quais não há limite de tempo, o candidato receberáum certificado de conclusão do curso.

Campus Virtual de Saúde Pública

O Campus Virtual de Saúde Pública (CVSP), que seconstitui como uma ferramentade cooperação técnica da Orga-nização Pan-Americana de Saú-de (Opas/OMS), é uma rede depessoas, instituições e organiza-ções que compartilham cursos,

recursos, serviços e atividades de educação, informaçãoe gestão do conhecimento. O objetivo do CVSP é cola-borar para a formação inicial e continuada da força detrabalho em saúde, a fim de aprimorar as práticas da saú-de pública. Em seu portal (http://portal.campusvirtualsp.org), o CVSP mantém uma pági-na onde é possível encontrar oito cursos livres em dife-rentes idiomas e sobre diferentes temas, dentre os quais:Influenza A/H1N1, saúde ocupacional e princípios deepidemiologia para controle de enfermidades. Paraacessar a página, clique em �Aula Virtual Salud� (no menusuperior) > �Cursos libres (autoaprendizaje)�.

Management Science for Health (MSH)

Criada em 1971, a Management Sciences forHealth (MSH) é uma orga-nização não governamentalde saúde internacional queconta com mais de 2 milmembros de 73 países. Seuobjetivo é difundir o conhe-cimento em saúde pública,a fim de contribuir para ofortalecimento dos sistemas

nacionais de saúde, em especial nos países maispobres.

No portal da MSH, há uma página sobre e-learning, na qual é possível encontrar links para qua-tro cursos gratuitos de autoaprendizagem [�Self-Instructional Learning Programs�]. Esta página podeser acessada pelo menu lateral do portal MSH (http://www.msh.org), em �Resource Center � > �eLearning�.Atualmente, estão disponíveis quatro links, para cur-sos em vários idiomas:

• O �Guia do Provedor de Qualidade e Cultura� [TheProvider�s Guide to Quality & Culture�]: apresentaa questão da interculturalidade na saúde e o quepode ser feito no sentido de melhorar a qualidadedos serviços em contextos multiculturais.• �Kit de ferramentas para o gestor de saúde� [TheHealth Manager �s Toolkit]: oferece fácil acesso aferramentas práticas de gestão.• O �Guia Internacional de Preços de Medicamen-tos� [�The International Drug Price IndicatorGuide�]: apresenta informações que podem melho-rar a aquisição de medicamentos de qualidade ga-rantida pelo menor preço possível. Disponível eminglês, francês e espanhol.• Centro global de aprendizado on-line da Usaid[Usaid Global Health E-Learning Center]: a páginaoferece cursos auto-instrucionais que combinam con-teúdo técnico com estudos de caso a fim de melho-rar as práticas em saúde.

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ODM

dores de saúde, o aumento quan-titativo e qualitativo da forma-ção profissional em todos os ní-veis, o controle da migração edo recrutamento internacionale o desenvolvimento de siste-mas eficazes de coleta earmazenamento de dados sobrea força de trabalho em saúde, in-dispensáveis ao estabelecimen-to de programas e políticas parao setor.

Em uma das apresentações, o ministro da Saúde de Ca-marões, André Mama Founda, falou sobre a situação dramá-tica vivida por seu país, no qual existem apenas quatro traba-lhadores da saúde para cada 10 mil habitantes e que essestrabalhadores recebem, em média, 331 dólares por ano. Oexemplo positivo ficou por conta da experiência de Malaui,país do interior da África, que há seis anos adotou um planoemergencial de saúde, com foco nos recursos humanos. A re-dução, ao mínimo, do fluxo de migração, a recontratação dediversos profissionais já aposentados, o aumento salarial dequadros selecionados e maiores investimentos na gestão re-sultaram, entre outras coisas, no providencial aumento de66% no número de trabalhadores e colocou o país muito pró-ximo de seus objetivos na área da saúde materno-infantil.�Hoje, estamos quase alcançando a meta estabelecida para oODM 4 e já conseguimos providenciar serviço de atendimen-to pré-natal para 68% das mulheres. Em seis anos, 13 milvidas foram salvas�, destacou o ministro da Saúde de Malaui,David Mande.

No encerramento do evento, foi apresentada a petição�Hands Up for Health Workers� [�Mãos ao alto pela força detrabalho em saúde�], com 12 mil assinaturas, com um apeloveemente aos lideres mundiais para que ajam contra a crisedos trabalhadores em saúde e garantam que eles estejamaptos a atender às necessidades dos indivíduos e das comu-nidades. O gesto levou os membros da mesa e as cerca de100 pessoas presentes a levantarem suas mãos em apoio aostrabalhadores de saúde ao redor do mundo.

Samantha Chuva (RETS)

Leia mais:�Hands Up for Health Workers� Campaign: http://www.handsupforhealthworkers.org/Site da RETS (www.rets.epsjv.fiocruz.br) > �Biblioteca� > �Temasde interesse�: Malawi Emergency Human Resources Programme

Força de trabalho em saúde:indispensável para a realização dos

Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM)

Em setembro do ano 2000, chefes de Estados e de Governode 189 países, reunidos na ONU, assinaram a Declaração doMilênio, na qual assumiram o compromisso de atingir oitoobjetivos (ODM), no período de 15 anos, em prol do futuro dahumanidade:

1. Erradicar a pobreza extrema e a fome;2. Alcançar o nível primário universal;3. Promover igualdade de gênero e capacitar as mulheres;4. Reduzir a mortalidade infantil de crianças com menosde cinco anos em dois terços;5. Melhorar a saúde das mulheres, reduzindo amortalidade materna em 75%;6. Combater AIDS, malária e outras doenças;7. Assegurar a sustentabilidade ambiental; e8. Promover uma parceria mundial para o desenvolvimento.

D iscutir a relevância dosrecursos humanos parao alcance das metas de

saúde dos Objetivos de Desenvolvi-mento do Milênio (ODM). Esse foio objetivo do seminário �No HealthWorkforce, No Health MDGs. Is thatacceptable?� [Sem força de trabalho nasaúde, sem saúde nos ODM. Isso éaceitável?], promovido pelos gover-nos do Brasil, da Noruega e de Ca-marões, e organizado pela AliançaGlobal para a Força de Trabalho em Saúde (GHWA, do inglêsGlobal Health Workforce Alliance). O evento integrou a progra-mação da Cúpula (plenária de alto nível) dos Objetivos de De-senvolvimento do Milênio, convocada pela Organização dasNações Unidas (ONU), e ocorrida de 20 a 22 de setembro, emNova Iorque.

Durante o painel, diversos palestrantes reafirmaram a crí-tica relação entre o trabalho em saúde e, em especial, os ODM4, 5 e 6, que estão ligados diretamente ao setor (ver box). Deacordo com os especialistas, atualmente há mais recursos nosorçamentos nacionais para apoio à força de trabalho em saúdedo que havia há cinco anos. Segundo eles, os governos se torna-ram mais dispostos a investir na saúde quando perceberamque isso não representa uma despesa, mas um investimentono desenvolvimento do país.

Dentre as ações consideradas fundamentais para fortaleceros sistemas nacionais de saúde estão: o aprimoramento dagestão de RH, a criação de planos de carreiras para os trabalha-