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Para entender a importância da revista SENHOR e assimilar a sua irreverência é preciso que pri-
meiro se tenha conhecimento de base do design edi-torial.
O trabalho editorial gira em torno de darmos formas a páginas, isto se inicia ao escolhermos o formato do suporte a ser trabalhado e só termina depois que to-dos os elementos exigidos componham a página. Mas como fazemos isso? Quer dizer, basta encarar o espa-ço em branco por algum tempo e voilà? Não é bem assim, é preciso reflexão e fidelidade a algumas regras, mesmo que essas sejam bem flexíveis e possam ser criadas pelo próprio designer.
O tamanho e formato da página são escolhidos a juízo do designer gráfico, alguns preferem ousar e utilizar algo completamente diferente do usual, outros preferem seguir proporções mais comuns e que pos-
“A fórmula para se criar uma página perfeita não difere da fórmula para se escrever a página perfeita: comece pelo canto superior esquerdo e vá seguindo para a direita e para baixo; depois vire a pagina e tente de novo.” (cap.8, pág.186).
sibilitam um melhor aproveitamento da folha de impressão, normalmente 660 X 960 mm. Independentes do estilo do profissional existem critérios aos quais ele deve se ater:
Conceito: se o projeto é criar um menu para um restaurante clássico não faz sentido formar uma peça muito ousada e moderna, pois esta não irá condizer com o ambiente a ser retratado.
Tamanhos pré-determinados: existem algumas peças que já têm o formato rigidamente determinados, tais como encartes de CDs, e outras que têm que obedecer a um limite, como um folheto comercial, que precisa caber dentro de um envelope comercial padrão (119 X 224 mm.
Orçamento do cliente: não adianta fazer um projeto maravilhoso se o seu cliente não pode pagá-lo, portanto ao escolher o tamanho da página deve-se pensar uma forma de aproveitar ao máximo possível à folha de impressão.
Algumas proporções são utilizadas com maior freqüência por serem agra-dáveis à mente e alguns tamanhos são mais recorrentes por serem confor-
1:1
8:9 ; 15:16
4:5 ; 5:6
2:3 ; 3:4
3:5 ; 5:8
8:15 ; 9:16
1:2
táveis à mão. Por este motivo é sempre bom que um designer gráfico esteja acostumado a calcular com exatidão, até que isso seja feito inconscientemente fa-cilitando o seu trabalho. Por este motivo coloquei tabelas de proporções às quais devemos nos acostumar.
Tamanhos de papel das séries A, B e C, da norma ISO 216 (em milímetros)
série A4A0 1682 × 23782A0 1189 × 1682A0 841 × 1189A1 594 × 841A2 420 × 594A3 297 × 420A4 210 × 297A5 148 × 210A6 105 × 148A7 74 × 105A8 52 × 74A9 37 × 52A10 26 × 37
série B
B0 1000 × 1414B1 707 × 1000B2 500 × 707B3 353 × 500B4 250 × 353B5 176 × 250B6 125 × 176B7 88 × 125B8 62 × 88B9 44 × 62B10 31 × 44
série C
C0 917 × 1297C1 648 × 917C2 458 × 648C3 324 × 458C4 229 × 324 C5 162 × 229C6 114 × 162C7 81 × 114C8 57 × 81C9 40 × 57C10 28 × 40
No mundo das artes, A Divina Proporção, teve um lugar de destaque. Leonardo da Vinci, com o seu famoso desenho de Anatomia mais bem elaborado da história do desenho, Michelangelo, Albrech Dürer, e muitos outros a utilizavam de maneira deliberada e rigorosa.
Na música temos notícias das estruturas básicas das sonatas de Mozart, Beethoven, Bartók, Debussy, Schubert, como signo da beleza e da harmonia.
A uma proporção áurea considerada como símbolo de perfeição, é conhecida, também, como a divina proporção. Ela é encontrada na Série de Fibonacci, matemático que descobriu uma seqüência aritmética de crescimento presente recorrentemente na natureza, podendo ser calculada a partir da equação:
[a : b = b : (a + b )] = 1,618...
Tomando conhecimento da proporção áurea, e de seu significado no mun-do da arte, alguns designers gostam de realizar todos seus trabalhos em cima de variações dela, indo do formato da página ao grid utilizado. Outros, por sua vez acham que se prender a essa proporção é obstruir o processo criativo logo no início, podendo levar o trabalho final ao fracasso.
A verdade é que não existem proporções ideais, dependendo do contexto uma proporção pode ser perfeita ou um perjúrio, intima ou distante, receosa ou majestosa. Mas é sempre bom saber alguns critérios que podem te ajudar a tomar um rumo na hora da escolha:
a b
Formatos mais estreitos precisam de uma espinha mais suave ou aberta, para que a peça gráfica seja folheada com facilidade;
Textos de tamanho regular cabem em uma variação proporcional de uma pagina leve e ágil (5:9) até uma pesada e solene (4:5);
Tamanhos menores destinam-se a textos que possam se compostos em colunas fi-nas; paginas mais largas do que 1: raiz de 2 são utilizadas em projetos que necessitam de excesso de largura; uma pagina estreita adapta-se melhor em tamanhos maiores;
Quando um trabalho contém ilustrações de suma importância elas é que definem o formato a ser utilizado; etc.
Uma outra maneira de escolher a proporção a ser utili-zada é adequá-la a associações históricas que se ajustem ao seu projeto, isso leva a uma pesquisa mais profunda sobre a qual parte da história você pretende conectar seu trabalho e depois a quais formato se adequam a par-te escolhida. Sua escolha pode ser obvia como decidir dar uma proporção egípcia a um menu de um restau-rante com tema egípcia, ou subjetiva, escolher a década de vinte por ela se conectar com a atmosfera trabalhada no projeto.
Após escolhido o tamanho da página o próximo passo é definir as margens, que de acordo com Timothy Sama-ra, em Grid Construção e Desconstrução p. 25, “são es-paços negativos entre o limite do formato e o conteúdo que cercam e definem a área onde ficaram as imagens”. As margens precisam amarrar o bloco de texto a pagina e amarrar as páginas opostas uma à outra; emoldurar
o bloco de texto de um modo que se ajuste ao seu desenho e protegê-lo, facilitando a visualização e tornando o manuseio da página conveniente. O interessante é que não elas passam de um espaço livre de impressão em todas as páginas, e sua importância se dá pelo equilíbrio formado no vazio. É rele-vante lembrar que ao dispor o texto dentro da margem ele deve ser projetado de forma a dar vida à página.
Além do texto fluente temos dois elementos que compõem a página e criam um interessante problema tipográfico os fólios e os títulos correntes, ambos inúteis se disponibilizados de maneira que o leitor tem que caçá-los pela pá-gina. Importantes para ajudar o leitor a se situar se diferem pela forma de distinção: os fólios, paginação, podem ocupar qualquer lugar agradável que potencialize a sua função e os títulos correntes devem obter certo destaque do texto regular, seja através de jogos tipográficos ou de cor.
Para subdividir a página é possível o uso de malhas ou escalas modulares, estas são mais flexíveis do que as primeiras. Existem vários tipos de escalas modulares, mas se utilizarmos relações proporcionais para desenvolvê-las te-remos resultados mais maleáveis e interessantes. Ao se determinar a malha
ou escala modular determina-se, também, as colunas a serem ocupadas pelo bloco de texto. É importante saber que colunas mais altas do que largas dão uma maior comodidade ao leitor quando o texto trabalhado é muito grande, mas evite colunas muito estreitas, pois isso remete a jornais e revistas o que leva o leitor a julgar o texto como corriqueiro.
“A trama do texto e a alfaiataria da página são profundamente interdependentes. É pos-sível discuti-las separadamente e resolver seus problemas individuais formulando uma série de perguntas simples. No entanto, as respostas a essas questões devem confluir para uma única resposta no final.”(cap.8, pág.186).
Após esta breve pincelada sobre o assunto editorial, convido-o a viajar em um mundo criado por uma revista quando o design gráfico ainda estava por nascer no Brasil. Munida de artistas plásticos, jornalistas e literários empe-nhados em fazer do editorial experimental algo concreto e sensível, a revista Senhor encanta até hoje quem se atreve a folheá-la. Então siga em frente e surpreenda-se.