Repórter do Marão

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Considera Sobrinho Simões em entrevista ao RM O director do IPATIMUP , que não tem telemóvel e é pouco adepto das novas tecnologias, considera que o país deu um salto na ciência mas ainda falta “transformar o conhecimento em valor acrescentado”. De todo o seu percurso na investigação da oncologia e do cancro da tiróide assinala que a sua maior conquista “foi perceber que há muitos cancros provocados mais porque as células são imortais [e resistentes] do que por se proliferarem muito”. p. 6-7 PAÇOS DE FERREIRA Desporto social movimenta milhares DOURO Rectificação da EN101 pode avançar em 2010 AMARANTE EIA “aprova” barragem de Fridão à cota 160 CULTURA Delegação Norte mantém-se em V. Real Nº 1228 | Quinzenário | 1€ | Ano 25 | Director: Jorge Sousa | Director-Adjunto: Alexandre Panda | Subdirector: António Orlando | Edição:Tâmegapress | Redacção: Marco de Canaveses | 910 536 928 Ciência cresceu muito em Portugal repór ter do marão do Tâmega e Sousa ao Nordeste 28 Dez a 11 Jan’10 Municípios do Tâmega prometem reactivar projecto em que investiram 75 mil euros p.12 Netmóvel parado desde Agosto Quase 11 mil novos inscritos em 2009 nos Distritos de Vila Real e Bragança Futuros estão hipotecados mas há quem consiga vingar p. 2-4

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Considera Sobrinho Simões em entrevista ao RM

O director do IPATIMUP, que não tem telemóvel e é pouco adepto das novas tecnologias, considera que o país deu um salto na ciência mas ainda falta “transformar o conhecimento em valor acrescentado”. De todo o seu percurso na investigação da oncologia e do cancro da tiróide assinala que a sua maior conquista “foi perceber que há muitos cancros provocados mais porque as células são imortais [e resistentes] do que por se proliferarem muito”. p. 6-7

PAÇOS DE FERREIRA

Desporto socialmovimenta milharesDOURO

Rectificação da EN101pode avançar em 2010

AMARANTE

EIA “aprova” barragemde Fridão à cota 160CULTURA

Delegação Norte mantém-se em V. RealN

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Ciência cresceu muito em Portugal

repórterdomarãodo Tâmega e Sousa ao Nordeste

28 Dez a 11 Jan’10

Municípios do Tâmega prometem reactivar projecto em que investiram 75 mil euros

p.12

Netmóvel parado desde Agosto

Quase 11 mil novos inscritosem 2009 nos Distritos deVila Real e Bragança

Futuros estão hipotecados mas há quem consiga vingar

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repórterdomarão02 08 Dez a 28 Dez’09

Jovens chegam a questionar se a formação superior não terá sido a ‘fundo perdido’

Patrícia Posse | [email protected] | Fotos P.P. e Arquivo

São jovens com sonhos e passam pelos dias em-balando a esperança de oportunidades que tar-dam em chegar. Para alguns, o encontro dá-se

por casualidade e persistência. Para quem ainda o procura, o desalento anda de mãos dadas com as ex-pectativas resistentes. André, Liliana, Hélder e Pa-trícia são alguns dos rostos das estatísticas do desem-prego na região transmontana que o RM foi conhecer.

Os números mais recentes do Instituto de Em-prego e Formação Profissional (IEFP) mostram que, no fim de Novembro, havia 523 680 indivíduos desem-pregados em todo o País, o que representa um acrés-cimo de mais de 29% em relação a igual período de 2008. O distrito de Bragança regista 5 918 desempre-gados e o de Vila Real, quase o dobro, com 10 711.

Hélder Magalhães faz parte das estatísticas do IEFP de Vila Real, mas já não conta “com muita coi-sa, muito menos na área”. Quando se inscreveu, afir-ma, torceram logo a cara perante a sua condição de licenciado. “Aqui funciona a nível local, onde é que achas que te vamos encaixar?”, disseram-lhe. “É mais centro de desemprego”, considera o jovem de 25 anos.

Desempregado desde o término do curso de co-municação e multimédia, em 2008, Hélder recebeu uma única proposta de emprego, em Julho último. Contudo, as condições oferecidas não lhe permitiram aceitar o trabalho no Porto.

Os dias são passados em casa dos pais, a maior parte do tempo no computador. “Olho para a janela, vou lá fora ou fico aqui?” é a dúvida que o assola. Às vezes, vai até ao café para “não parecer que o dia tem 50 horas”.

| Tempo passado a mandar currículos | Hélder questiona-se se a formação superior não terá sido um investimento a fundo per-dido. “Tens tempo para pensar se foi perda de tempo e de dinheiro tirar o curso, sentes maior frustração.” Ainda assim já investiu na formação pedagógica ini-cial de formadores para “criar mais uma ferramenta e ocupar o tempo de ócio que é enorme”.

Do currículo de Liliana Arada consta um bacha-relato em secretariado de direcção pela Universida-de de Aveiro, um estágio profissional nessa área, um curso de especialização para desempregados qualifi-cados, um trabalho activo numa associação florestal, entre outras qualificações. Está desempregada des-de Maio, sendo que essa já não é uma situação nova. “O meu primeiro período de desemprego foi de dez meses, logo a seguir a terminar o curso. Na altura, a principal dificuldade era a falta de experiência”, ex-plica.

A jovem de Mondim de Basto envia uma média

de 30 currículos por mês e “no máximo” obtém uma a duas respostas. “Dizem que, de momento, não procu-ram ninguém, ou que tenho demasiadas habilitações para o cargo que quero, ou que sou jovem. Depois, hoje em dia, mais do que um CV importa ter uma boa rede de contactos.” Duas a três vezes por semana, percorre Vila Real “de cima a baixo”. “Procuro tudo, vou a lojas, escritórios, vejo panfletos ou anúncios que peçam colaboradores. O meu trabalho agora é procu-rar emprego.” As investidas pela Internet acontecem todos os dias. “Vou à biblioteca procurar em vários si-tes, nomeadamente da Bolsa de Emprego Público e no Diário da República, e leio também toda a impren-sa escrita para me actualizar.”

| Faltam apoios aos jovens que saem das universidades | Já lhe ofe-receram 100 euros para trabalhar num café, duas horas diárias nos sete dias da semana, ou 200 euros mensais por 25 horas semanais a distribuir catálogos, sendo que as deslocações ficavam por sua conta. Li-liana queixa-se de não existir qualquer apoio para os jovens que saem das universidades ou que fazem um estágio profissional, obrigando-os a sobrecarregar os pais. “O estágio profissional é uma mais-valia a ní-vel de experiência, CV e oportunidade para ingressar nos quadros da empresa, mas não há nada a nível so-cial que, no fim, nos ampare.”

Da parte do IEFP, não vê “medidas efectivas” desde Maio. “Não me chamaram para nenhuma ini-ciativa (entrevista, formação), não têm feito coisa al-guma.” Aos 27 anos, enveredar pelo mundo do em-preendedorismo implica “um risco muito grande” e, apesar das comparticipações do IEFP e da possibi-lidade de recorrer ao micro-crédito, “é preciso ter já uma base financeira por trás, que não tenho”.

Vive em Bragança desde os nove anos e vê-se, agora, empurrado para sair da região. André Pires, 27 anos, é licenciado em ensino básico e está desem-pregado há cinco meses. “É profundamente desola-dor ter vontade de trabalhar e não conseguir, é sentir-me inútil por não estar a produzir”, confessa.

Não tendo sido colocado para dar aulas, traba-lhou num call center mais de um ano com contratos de trabalho renováveis de 3 em 3 meses. “Foi uma so-lução para remediar, uma forma de ganhar dinhei-ro.” Surgiu, então, a possibilidade de fazer um está-gio profissional na área administrativa e, mais tarde, ministrou 150 horas de formação em oito meses, sen-do os recibos verdes o regime acordado.

André procura emprego na Internet, envia can-didaturas espontâneas pelos CTT, às quais “nunca houve resposta”. Quando há feedback, “aumentam os níveis de expectativa e de confiança, mas sempre com pé atrás”. De todos os CV’s enviados, teve ape-

Helder Magalhães

André Pires

Futuros estão hipotecados

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Nos meandros do desemprego, há também quem faça pela sorte e chegue a bom porto. O per-curso de Mara Sampaio, 31 anos, é disso exemplo. Licenciada em português-inglês pela UTAD, a jo-vem flaviense ficou desempregada após o estágio curricular, em 2002. “Nunca desisti de procurar e procurei em todos os meios, pesquisava imenso na Internet e nos jornais locais e nacionais. Man-dei milhares de CV’s para tudo, fiz até um levanta-mento de colégios da região norte e enviei currícu-los por correio”, relembra.

Sem baixar os braços, fez uma pós-graduação em legendagem, no Porto, e, em paralelo, dava ex-plicações e fazia traduções. Foi justamente com esse trabalho que se tornou na responsável pelo de-partamento internacional de revisão e tradução de uma empresa alemã. “Um dos trabalhos precários que fiz foi a revisão de textos em português para uma empresa internacional. Ganhava pessimamen-te, mas como não tinha outras coisas continuei a fa-zer.” Pagavam-lhe 1,5 euros por cada revisão, mas “não foi por ganhar pouco que negligenciei o meu trabalho”, reitera. Ao fim de quatro meses, foi con-vidada a integrar os quadros da empresa e, desde então, já foi aumentada duas vezes, o que lhe per-mite auferir agora um rendimento acima da média e a partir de casa.

Nos cinco anos em que esteve desempregada, Mara nunca foi contacta pelo IEFP para cursos de

valorização profissional nem para entrevistas de emprego. “Fui chamada para fazer formações de como preencher um CV”, lembra com tom iróni-co. A ajuda dos pais foi crucial para subsistir, em-bora durante dois anos tenha recebido subsídio de desemprego, em virtude da única experiência pro-fissional na área de formação.

Mara sempre apostou na formação, porque, como diz, se tivesse ficado só com a licenciatura tal-vez continuasse desempregada. “Quem quer traba-lhar na área tem que se sujeitar às ofertas que há, ou arranjar alternativas, fugindo à formação base.” Para responder à necessidade de “estar sempre a aprender”, Mara pretende tirar um mestrado em espanhol, abrir a sua própria empresa e conciliar com o teletrabalho que actualmente desenvolve.

Já Carla Baptista, engenheira zootécnica de 39 anos, criou o seu posto de trabalho em Outubro. “Pensei em criar qualquer coisa para mim e come-cei a ver programas e ajudas que havia.” Foi junto da Glocal – Empresas Locais com Orientação Glo-bal (projecto de apoio ao empreendedorismo em Vila Real, lançado em 2003) que conseguiu apoio para uma ideia que surgiu “por acaso” e que termi-nou com quase três anos de desemprego.

É na cozinha de Ferreiros, aldeia onde resi-de, que Carla passa os dias a desenformar os seus bombons de chocolate. Mais tarde, coloca-os à venda em Vila Real, naquela que é a primeira cho-

Perseverançacontra a fatalidade

Dificuldades em encontrar trabalho servem de trampolim para novos rumos

nas uma entrevista para um estágio do PEPAL (Pro-grama de Estágios Profissionais na Administração Local) e fora do distrito. “Na cidade, as propostas de emprego escasseiam e a tendência é piorar, porque muitas lojas estão a fechar. As pessoas tem cada vez menos possibilidades de arranjar emprego aqui.”

| Família é a porta de abrigo para os jovens | Sem direito a subsídio de desemprego, é a família que o socorre. “A minha situ-ação é idêntica há de muitos jovens. As famílias aju-dam com comida e algum dinheiro, se não muita gen-te estaria a passar fome.”

Natural de Mogadouro, Patrícia Cangueiro tem 26 anos e uma licenciatura em ensino básico (1º ciclo)

pelo Instituto Politécnico de Bragança. Findo o cur-so, trabalhou num hipermercado de Bragança, onde permaneceu um ano. Fazia 20 horas semanais e viu o contrato de seis meses ser renovado uma única vez, por igual período de tempo.

“Gostava de trabalhar em Bragança porque gos-to da cidade, cresci cá, considero-a a minha cidade, tem boa qualidade de vida e é acolhedora, mas em questão de emprego não tem mesmo nadinha”, de-sabafa. Em dois anos foi a cinco entrevistas em lojas, mas nunca ficou com o lugar.

“No meu dia-a-dia só há desânimo e mal-estar. Consigo sobreviver porque vivo em casa dos meus pais”, refere. O IEFP nunca lhe propôs trabalho al-gum e ir trabalhar para Espanha é uma hipótese.

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Mara Sampaio

Carla Baptista

mas há quem consiga vingar

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colateria transmontana. Para já, a afluência das pessoas é um si-nal auspicioso, apesar de ainda não existir “aquele consumo con-tinuado”.

Ao chocolate belga, Carla adiciona os produtos da região (amên-doas, mel, nozes, figos, entre outros) e vai explorando as proprie-dades gustativas das suas criações.

No fim de 2006, Carla perdeu o emprego no Instituto de Finan-ciamento e Apoio ao Desenvolvimento da Agricultura e das Pescas (IFADAP), onde fazia análise de projectos. “Estive lá três anos, sempre a recibos verdes.” Daí nunca ter tido subsídio de desem-prego. Valeu-lhe a ajuda do marido.

Quando saiu da UTAD, Carla percebeu que “não havia grandes saídas”, por isso trabalhou “em todas as áreas e mais algumas”. “Logo que me aceitassem, ia para tudo. Como eram trabalhos tem-porários, uns meses trabalhava-se, noutros estava-se em casa.” Havia empregos em que lhe diziam que tinha “habilitações a mais” ou que não se enquadravam. Só durante uns meses é que traba-lhou na sua área de formação, no Parque Natural do Alvão. “Hoje se fizesse um curso tinha que ter saídas, porque a gente pode gos-tar muito mas depois não chega.”

Fora de Vila Real, de onde é natural, Carla deu aulas em Valpa-ços e trabalhou “uns meses” como administrativa em Lisboa. “Se o trabalho é longe e precário, não vale a pena sair. Depois, chega-se a certa altura em que uma pessoa fica farta de tudo ser tão pro-visório, quer-se ter uma base, quer-se constituir família e não dá”, sublinha.

Embora os filhos lhe ocupassem o tempo, Carla estava “deses-perada” por estar em casa. “A gente vai-se muito abaixo, fica-se desanimado, porque se passa-se de uma vida laboral, com horários para entrar e sair, para ficar em casa. Às vezes, só saia para ir le-var o lixo e ir às compras.”

De modo que abrir o seu próprio negócio foi “a única saída”, apesar das dificuldades. “Exigem muita papelada, é declaração para isto e para aquilo, depois não é fácil entrar no mercado e a época de crise também afecta muito.”

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vidas

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Há quemconsiga resistir ao infortúnio

Por uma questão de identidade e ligação às raízes ou de maior qualidade de vida, muitos dos desempregados procuram trabalho na região, mesmo com a consciência de que ficar limita as opor-tunidades.

Mara Sampaio admite que se sente “muito” o factor da inte-rioridade, mas isso não é suficiente para a fazer desistir da sua re-gião. “Já estive noutras cidades e não troco. Queria ficar cá, por-que tem muito mais qualidade de vida. Ir a outras cidades vou quando quero.”

Vila Real, Braga, Guimarães e zona de Basto são as áreas ge-ográficas em que Liliana Arada procura emprego e alguma esta-bilidade. “Gostava de ficar por Vila Real para não ter que andar a fazer e a desfazer malas como na Universidade, pelo menos, para poder planear a minha vida por um ou dois anos.” Além de que as propostas que surgem no litoral oferecem condições que “não chegam para te manteres lá”.

“Não é que os jovens não queiram fixar-se no interior, mas mesmo com os programas de apoio é 90% de sorte e 10% de CV e trabalho”, considera.

Mesmo com vontade de permanecer por Bragança, André Pi-res é “obrigado a sair”. “Sinto-me bem a viver aqui, mas há fal-ta de alternativas e a gente vê-se empurrada a procurar fora e ter que abandonar a região para ir para o litoral ou estrangeiro.” A falta de perspectivas de emprego na região deve-se, no entender de André, à falta de investimento no interior. “A região tem sido alvo de um desmantelamento progressivo nos últimos anos. As pessoas não encontram razões para continuar a viver no distrito e há também passividade por parte de algumas entidades públi-cas que, apesar de não poderem criar milagres, podiam tentar fi-xar alguns daqueles que querem ficar aqui.”

Região notopo daspreferências

VILA REAL E BRAGANÇA

Quase 11 mil novosdesempregados este ano

De acordo com os dados do IEFP relativos ao último mês, dos 10 711 desem-pregados do distrito de Vila Real, 6 767 estão inscritos há menos de um ano. Já no distrito de Bragança, dos 5 918 desempregados, 4 095 estão nessa situação.

Em ambos os distritos, as pessoas mais afectadas pelo desemprego têm ida-des compreendidas entre os 35 e os 54 anos e a maioria procura um novo empre-go. No distrito vila-realense, 8 836 dos desempregados já trabalharam, enquanto no de Bragança, são 4 842. Neste distrito, estão inscritos 667 indivíduos com for-mação superior, enquanto no de Vila Real são 998.

O total do número de ofertas de emprego disponível no fim de Novembro, nos centros de emprego do nordeste, foi de 440, sendo que mais de metade (294) foram no distrito brigantino. Também aí o número de colocações foi superior, com 172 indivíduos a conseguirem emprego, comparativamente com o vila-rea-lense, que registou 86 ofertas de emprego satisfeitas. Tanto no distrito de Bra-gança como no de Vila Real, foi o sexo feminino que conseguiu arranjar mais empregos com 96 e 53 colocações, respectivamente.

No distrito de Bragança, os concelhos de Vimioso (138 inscritos), Miran-da do Douro (199) e Freixo de Espada à Cinta (199) são os menos afectados pelo desemprego, enquanto no de Vila Real, há menos desempregados em Boticas (195), Murça (268) e Sabrosa (309).

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M anuel Sobrinho Simões nasceu no Porto em 1947 mas já correu o mun-do todo (falta-lhe a Nova Zelândia) em trabalho. O director do IPATI-MUP (Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade

do Porto) tem um extenso currículo na medicina e anatomia patológica, tendo-se especializado em oncologia, concretamente no cancro da tiróide. Não porque a área o tenha fascinado particularmente mas porque as circunstâncias o levaram por esse caminho. Cedo percebeu que não queria ser clínico “sobretudo por medo da insegurança” mas não por qualquer problema em relações interpessoais. De facto, é não só professor na Faculdade de Medicina do Porto mas também na Fa-culdade de Medicina da Thomas Jefferson University em Filadélfia (EUA). Gosta de dar aulas. É essa a actividade que desenvolve, que considera a “mais engraça-da entre ser professor, médico e investigador”. Em entrevista ao Repórter do Ma-rão, Sobrinho Simões revelou que podia estar neste momento a trabalhar na No-ruega, de onde recebeu um convite “muito bom”, mas a família e o sol que tem em Portugal falaram mais alto.

| Chineses e japoneses são alunos preferidos | “Sou muito sensível à luz. A minha grande aspiração ao fim-de-semana é ter um bo-cadinho de sol”, contou o investigador. Todos os fins-de-semana escapa-se para Vila Praia de Âncora e no Verão reserva três semanas de férias em Arouca onde gosta de caminhar e pedalar na bicicleta. Todas as restantes saídas são sempre em traba-lho, sendo que este ano conta já com 16 viagens para o estrangeiro, o que considera “mais do que suficiente para ficar de gatas”. Com frequência é convidado para dar aulas, conferências e palestras na China e no Japão, mas já passou pelo Brasil, Tur-quia, Grécia, entre muitos outros. Prefere os alunos chineses aos japoneses porque no final das aulas “fazem perguntas” e vão ter com os professores, o mesmo não su-cedendo no país do sol nascente onde há “uma barreira absoluta”. No Brasil obser-vou “uma evolução enorme e extraordinária na ciência nos últimos anos”, com alu-nos “mais preparados para perguntar e comunicar” que os portugueses.

| Investigador do cancro | Mas como chegou Sobrinho Simões a este patamar do ensino? “É preciso reconhecimento dos pares”, explica. No do-mínio da ciência é-se conhecido pelos artigos que se publica, havendo uma “compe-tição internacional muito grande e uma avaliação permanente”. O ponto de parti-da foi a licenciatura em Medicina no Porto. Não por vocação ou particular atracção mas “pela família”. “O meu pai, o meu avô e bisavô eram médicos pelo que nunca pensei ser outra coisa que não médico, nem tive alternativa”, lembrou. Para fugir à prática da medicina clínica optou pelo lado da investigação, pela patologia huma-na. Em 1971 licenciou-se com 19 valores e mais tarde especializou-se com 20 va-

lores. “Adorava estudar”, admitiu, classificando-se mesmo como um “aluno mui-to empenhado”. Em 1979/80 ruma, com a família já de três filhos, para a Noruega para fazer o pós-doutoramento no Instituto do Cancro. O diagnóstico de doenças oncológicas era então o seu trabalho principal, numa altura em que “começaram a aumentar as neoplasias” (vulgarmente designadas tumores que podem ser benig-nos ou malignos). O cancro da tiróide mostrou ser uma “patologia muito frequen-te em Portugal” especialmente por duas razões: “no interior do País, como na área do Marão, havia falta de iodo e por isso havia muitos bócios. Por outro lado, junto ao mar a quantidade excessiva de iodo provocava um tipo especial de cancro da ti-róide”. Sobrinho Simões viu assim “uma possibilidade muito boa de estudar dois ti-pos de patologias médicas”, acabando por ser esta a área que optou por investigar ao longo de todo o seu percurso.

| Sem telemóvel e pouco adepto das novas tecnologias | Com todo o trabalho que vai desenvolvendo, não lhe sobra muito tempo para actividades ditas de lazer. No escritório encontramos vários livros, desde “A mensagem” de Pessoa à “Origem das Espécies” de Darwin. A revista Nature, também na mesa, terá de “levar para casa” para conseguir folhear e o cinema, de que tanto gosta (é fã de Godard), tem estado adiado para dias mais calmos. O curioso em Sobrinho Simões – cientista e investigador – é o facto de não se dar com tecnologias. Não tem telemóvel e é a secretária quem responde aos e-mails que recebe. “Prefiro mandar cartões personalizados”, sorri. Na música admite que ficou nos tempos de Jacques Brel. Ao mesmo tempo, Simões já publicou cerca de 300 artigos científicos em revistas internacionais, foi co-autor de 20 livros e capítulos de livros, recebeu o Prémio Pessoa (2002), foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique e à nossa chegada ao IPATIMUP despedia-se com um abraço do “amigo” Mário Soares.

repórterdomarão06 28 Dez a 11 Jan’10

I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I entrevista

“Nunca pensei ser outra coisaque não médico”Sobrinho Simões é professor no Porto, Filadélfia, China e Japão

Liliana Leandro | [email protected] | Fotos Estela Silva | Lusa

Liderou o grupo que criou, em 1989, o IPATIMUP que dirige desde essa altura.

É, desde 1990, Professor Associado de Patologia e Biologia Celular da Faculdade de

Medicina da Thomas Jefferson University em Filadélfia (EUA).

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repórterdomarão0708 Dez a 28 Dez’09

“A ciência foi a área que mais se desenvolveu em Portu-gal nos últimos 30 anos. Primeiro porque partimos de um ní-vel muito baixo, logo mais fácil de fazer crescer. Depois, os ministros da ciência foram bons a impulsionar a avaliação ex-terna e internacionalização necessárias”, destacou o director do IPATIMUP, Manuel Sobrinho Simões. Porém, contrapôs, a “cultura portuguesa não é muito de perguntas” e será mes-mo a curiosidade e essa capacidade de perguntar que está na origem de um cientista. “Há pessoas que são geneticamente muito curiosas, mas são fundamentalmente os professores da instrução primária, os pais, os avós e os amigos que no fundo ensinam o gosto em perguntar”, sublinha.

Quanto à evolução da investigação em Portugal, conside-ra que o “problema do País é ter uma grande oferta da parte científica de base e de conhecimento mas faltar ainda bastan-te na área da transformação de conhecimento em valor acres-centado, produtos ou serviços”. Sobrinho Simões acredita que quando Portugal for capaz de “preencher o intervalo” entre a produção de ciência e o produto final de valor acrescentado, poderá “dar um salto muito maior”.

De todo o seu percurso na investigação da oncologia e can-cro da tiróide considera que a sua maior conquista “foi perce-ber que há muitos cancros provocados mais porque as células são imortais do que por se proliferarem muito”. No cancro, ex-plicou, há “um tecido a mais”, sendo que “havia a noção de que as células desse tecido se proliferavam muito”. No seu traba-lho, Sobrinho Simões demonstrou que muitos cancros da tirói-de se desenvolvem “não porque as células proliferam mais que as normais mas porque são imortais e ganharam uma grande resistência”.

Actualmente, e no seguimento de um consórcio do IPATI-MUP com o IPO (Instituto Português de Oncologia), o mé-dico encontra-se a desenvolver um trabalho de levantamento de todos os casos diagnosticados de cancro ou lesões suspei-tas na tiróide de doentes vistos e tratados nos últimos 30 anos no Hospital de São João e no IPO do Porto. “Queremos saber se podíamos ter diagnosticado mais precocemente e saber se, uma vez diagnosticado, poderíamos ter seleccionado uma te-rapêutica mais eficiente”.

Com 62 anos, Sobrinho Simões não se imagina sem ser a trabalhar. Por se considerar um “workaholic típico” admite ter “pavor de pensar” no que irá acontecer assim que tiver que se reformar. “Vou-me ver aflito. Dependo muito do meu mundo profissional”.

Ciência foi a“área que maisse desenvolveu” em PortugalDirector do IPATIMUP considera que curiosidade “é a alma do cientista”

Sobrinho Simões já publicoumais de 300 artigos científicos em revistas

internacionais indexadas que deram origema cerca de 6000 citações. Foi autor ou co-autorde 20 livros e capítulos de livros publicados na

Europa, EUA e Japão.

Presidiu à Sociedade Europeia de Patologia de 1999 a 2001, depois de ter

sido Secretário-Geral de 1989 a 1997. Criou as Divisões de Moscovo (2001),

Ankara (2003), Craiova (2005) e Hradec-Kralové – Charles University (2006) da

Escola Europeia de Patologia.

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I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

O projecto do primeiro troço do Itinerário Complementar (IC) 26, entre Padronelo (Amarante) e Mesão Frio, que aproveita glo-

balmente o corredor da EN 101, está “numa fase re-lativamente adiantada” devendo ficar “concluído em 2010”, anunciou ao Repórter do Marão o vice-presi-dente da Estradas de Portugal (EP), Eduardo Gomes.

O projecto, explica aquele responsável, “assenta na premissa de aproveitar o mais possível a plataforma existente [da Estrada Nacional 101], corrigindo aque-las curvas mais complicadas. É uma obra com alguns viadutos importantes, mas que de alguma forma mini-miza também a afectação daquelas encostas e vales”.

O processo está “em muito boa marcha e quase em fase de conclusão”, afirmou Eduardo Gomes.

A construção da nova estrada e o aproveitamento do corredor da actual EN 101 para o lanço entre Ama-rante e Mesão Frio tinha sido comunicado recente-mente ao novo presidente da Câmara de Mesão Frio, Alberto Pereira, após uma reunião na direcção de Vila Real da Estradas de Portugal.

Alberto Pereira, eleito em Outubro presidente da Câmara de Mesão Frio pelo PS, é acérrimo defensor da construção do IC 26 e assumiu como uma das suas prio-

ridades a melhoria das acessibilidades para concretizar o desenvolvimento do concelho. A construção do IC 26, que vai ligar Amarante ao Peso da Régua, é encarada como a solução para a resolução desse problema.

| Problemas ambientais entre Mesão Frio e Régua | O vice-presiden-te da Estradas de Portugal reconhece que o IC 26 vai ter “um impacte ambiental muito sério e um custo de construção brutal”. A ideia é que a nova estrada cru-ze com a A24. “A questão é de facto o ponto de cruza-mento e como é que se faz a chegada à A24 porque é uma estrada que neste troço é contrária à orografia, ao terreno, são montes e vales atravessados de for-ma transversal”.

O traçado sinuoso e com imenso tráfego “vai pas-sar a ser mais fácil um bocadinho e será mais rectilí-neo”. A estrada ficará “com outro conforto de circula-ção” assegura o vice-presidente da EP afirmando ter sido uma das preocupações da empresa “fazer menos estragos possíveis naquelas encostas”.

Em termos de plano de investimento, a obra “pode ser equacionada a mais curto prazo”. A definição des-se calendário fica fora da competência da EP, mas tra-

ta-se de “uma obra que estará em condições de se pro-mover mais cedo”, assegura Eduardo Gomes.

Ainda não está definido, mas existem opções em cima da mesa: desenvolvimento de uma sub-conces-são ou realização da obra por ajuste directo. Essa de-cisão é política e compete ao Governo.

O segundo troço do IC 26, entre Mesão Frio e Peso da Régua, “está ainda numa fase muito embrionária de discussão, até porque é uma zona de grande sensi-bilidade ambiental”, com classificação de património mundial. “Temos em curso algumas discussões com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regio-nal do Norte e que também cruzam com uma avalia-ção ambiental estratégica que está em curso pelo Ins-tituto das Infra-Estruturas Rodoviárias (INIR) e que ainda está numa fase de definição de opções”.

Eduardo Gomes diz que a Estradas de Portugal tem “quatro opções em cima da mesa”, mas este pro-cesso está “numa fase mais atrasada”.

Relativamente ao lanço do IC26 entre Lamego e Trancoso, como consta do PRN (Plano Rodoviário Nacional), o INIR lançou em meados de 2008 um con-curso para a elaboração de um Estudo de Avaliação Estratégica. J.S./P.C.

IC 26 entre Amarante e Mesão Friopoderá ser lançado ainda em 2010

douro

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repórterdomarão10 28 Dez a 11 Jan’10

I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

‘Equipamentos culturais têm que funcionar em rede e atrair novos públicos’

Paula Lima | [email protected]

A arquitecta Paula Silva é a nova directora da Cultura Regional do Norte, substituindo Helena Gil. A desempenhar funções desde o

início de Dezembro, a responsável ainda está a conhe-cer os dossiers e os projectos mas sossega os trans-montanos: a sede da DRCN vai permanecer em Vila Real.

Com a sua vinda do Porto para Vila Real, levan-taram-se algumas vozes com receio de que a direc-ção regional transitasse para a Invicta. Paula Silva garantiu ao Repórter do Marão que a DRCN anda à procura de novas instalações, de um “sítio mais qua-lificado do ponto de vista institucional”, e que, para o efeito, estão a decorrer conversações com diversas instituições da cidade. “Está fora de questão a sede sair de Vila Real”, sublinhou.

| Trabalho em rede | A DRCN possui uma área de intervenção que abrange os cinco distri-

tos do Norte do país, desde o Porto a Vila Real, Bra-gança, Viana do Castelo e Braga. Um território onde nos últimos anos foi feito um “enorme esforço de in-vestimento em equipamentos”, desde museus, bi-bliotecas ou centros culturais. Desses equipamentos, Paula Silva destaca os museus do Douro, aberto há um ano no Peso da Régua e o de Arte e Arqueolo-gia do Côa, que deverá abrir até à Primavera em Vila Nova de Foz Côa.

Agora, de acordo com a responsável, é preciso po-tenciar essas estruturas e pô-las a funcionar em sin-tonia. No fundo, diz, é valorizar aquilo que já existe.

Paula Silva defende o trabalho em rede e com uma maior articulação entre as diversas valências da cultura.

“Acho absolutamente fundamental criar redes que permitam que a massa criativa circule pela re-gião, pois é isso que vai valorizar e potenciar as estru-turas criadas”, sublinhou.

O passo mais difícil será talvez levar as pessoas

ao teatro, cinema ou visitar exposições, por isso, Pau-la Silva, garante que é fundamental começar a traba-lhar com as crianças de tenra idade. “É absolutamen-te primordial que as crianças desde a pré-primária se habituem a visitar e a conhecer os sítios”, afirmou.

Por isso mesmo, diz que nas candidaturas apre-sentadas pela DRCN aos fundos comunitários exis-te “uma proposta de interligação aos meios escolares das regiões para atrair as crianças aos sítios e tornar esses mesmos sítios apelativos para as crianças”. É preciso, segundo referiu, criar documentos dirigidos ao público infantil e que lhe dê vontade de visitar es-ses locais.

Paula Silva foi nomeada para directora regional da Cultura do Norte em Dezembro e garante que a sede vai permanecer em Vila Real

Museu de Arte e Arqueologia do Côa deverá abrir até à

Primavera

Fonte do Milho

Tarouca

cultura

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entrevista I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I repórterdomarão1128 Dez a 11 Jan’10

Com um orçamento do Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central (PIDDAC) de cerca de 1,5 a dois milhões de euros, a DRCN de-senvolve grande parte da sua actividade recorrendo a candidaturas aos fundos comunitá-rios. Segundo Paula Silva, foram entregues 16 candidaturas ao actual Quadro de Referen-cia Estratégico Nacional (QREN), algumas das quais já estão em execução enquanto outras aguardam aprovação.

Projectos para continuar nos próximos tempos são o “Viajar Com…”, que guia os visi-tantes pelos locais emblemáticos e de inspiração de autores que nasceram ou têm ligações ao Douro.

Ou então, a série de documentários em DVD sobre esses mesmo escritores.

| Tarouca e o vale do Varosa | A decorrer está também o projecto de va-lorização do Vale do Varosa, um afluente do rio Douro, onde estão localizados os “dois mos-teiros mais imponentes e mais significativos” de toda esta região, o de São João de Tarouca e o de Salzedas, concelho de Tarouca. Cada um destes mosteiros será alvo de intervenções de cerca de 600 mil euros. Paralelamente, será feita uma intervenção no mosteiro de Ferrei-rim e valorizada a Torre do Ucanha, de forma a criar um Roteiro Turístico do Vale do Varosa.

Como forma de promover esta iniciativa, serão ainda criados produtos de marketing, como livros e outros objectos, ligados à figura de João Cirita, um monge piedoso que terá fundado o mosteiro de São João de Tarouca em 1139.

Um projecto que aguarda aprovação é a Rede de Monumentos do Douro, que pretende evidenciar 15 monumentos, desde igrejas a castelos, que estão espalhados ao longo do vale do rio Douro, até Miranda do Douro, Moncorvo e Freixo de Espada à Cinta.

“É um conjunto de monumentos classificados e património do Estado que se pretende valorizar e se constituem como pontos de referência do património que existe na região”, sa-lientou.

| Fonte do Milho | Já aprovada está a recuperação da Fonte do Milho, localiza-do em Canelas, Peso da Régua. Este é um dos projectos mais acarinhados pela nova direc-tora já que naquele monumento se encontram vestígios com 2000 anos da produção de vinho no Douro. Trata-se de uma iniciativa conjunta entre Ministério da Cultura e a Câmara da Régua, que prevê um investimento de cerca de um milhão de euros.

A Fonte do Milho, monumento nacional e afecto ao Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR) desde 1992, foi uma “villa” romana fortificada com vestígios de ocupação entre o século I e o Baixo-Império, ocupando uma área superior a um hectare.

Para além do estudo e valorização das ruínas, o projecto prevê a construção de um núcleo museológico interpretativo da Fonte do Milho na aldeia de Canelas.

| Guimarães Capital da Cultura 2012 | A DRCN está envolvida na organização de Guimarães Capital da Cultura em 2012. Paula Silva destacou a importância deste evento que, defende, deve ser aproveitado como pólo de atracção turística para todo o Norte do país. “Deve constituir um momento importante de divulgação de Portugal e espe-cificamente do Norte de Portugal”, sublinhou.

QREN financiaparte substancial da actividade da DelegaçãoRede de Monumentos do Douro aguarda aprovação

“Viajar Com…” autores que nasceram ou têm ligações ao Douro vai continuar

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repórterdomarão12 28 Dez a 11 Jan’10

I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I tamega

Netmóvel parado desde Agosto

Jorge Sousa | [email protected]

O posto móvel de internet (Netmóvel) do projecto Tâmega Digital está parado há quatro meses – desde o fim de Agosto, quando terminou o contrato com a técnica – e o seu regresso à actividade está ainda por agendar, apurou o Repórter do Marão.

São 75 mil euros que estão parados, um investi-mento na viatura e em equipamento informático que foi realizado no âmbito do projecto Tâmega Digital, acção financiada pelo POS Conhecimento que abran-geu cinco municípios – Amarante, Baião, Marco de Canaveses, Celorico de Basto e Mondim de Basto.

Com a extinção da Comunidade Urbana do Tâ-mega o Netmóvel passou a propriedade da Associa-ção de Municípios do Baixo Tâmega enquanto ou-tros bens foram distribuídos pelos municípios, disse ao RM o anterior presidente de ambos os órgãos, Manuel Moreira, também presidente da Câmara do Marco de Canaveses.

Além do Netmóvel, a acção mais conhecida por ter sido pioneira no norte do país, o Tâmega Digital financiou ainda as plataformas digitais dos municí-pios, sites autárquicos e um portal regional, que terá sido iniciado mas não chegou a ver a luz do dia (ou

seja, a ficar on-line), segundo uma fonte que esteve envolvida no projecto.

Manuel Moreira – que foi substituído por Armindo Abreu (Amarante), em 10 de Dezembro, na presidência da Associação de Municípios do Baixo Tâmega (AMBT), que junta também o de Cabeceiras de Basto aos cinco que integravam a ComUrb do Tâmega – disse ao RM que o projecto Tâmega Digital “foi cumprido”, mas ter-minou com a extinção da comunidade urbana.

Segundo o autarca, o portal regional financiado

“era o portal da Comunidade Urbana que foi extinta” e que o Netmóvel, que passou a ser propriedade da AMBT, voltará em breve à actividade, de acordo com a decisão já tomada pelos municípios.

Por seu lado, o autarca de Amarante, que há al-gum tempo admitia estar interessado em ter o Net-móvel ao serviço do seu concelho, assegurou que o posto móvel de internet voltará à estrada “em bre-ve”, sob a tutela da AMBT.

“Vamos definir o quadro de pessoal da associação de municípios e nesse âmbito encontraremos uma so-lução para o Netmóvel”, referiu o autarca, sem pre-cisar quanto tempo mais o veículo vai ficar recolhido num armazém do Tâmega Park, em Amarante.

O Netmóvel, que entre Julho de 2008 e Agosto de 2009 percorreu as festas e romarias da região, além de feiras, exposições e outros eventos e atendeu mi-lhares de utentes, foi criado com o objectivo de “pro-mover a inclusão e a literacia digital junto da popula-ção dos cinco municípios”.

Além disso, dois dos 10 postos do Netmóvel es-tão preparados para receber cidadãos com mobilida-de reduzida.

Investimento de 75 mil euros do Tâmega Digital ainda sem data de reactivação

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repórterdomarão1328 Dez a 11 Jan’10

I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I Iamarante

Pediatria fecha ou não em Amarante?

Jorge Sousa | [email protected]

O eventual encerramento do internamento de Pediatria no Hospital de S. Gonçalo (HSG) voltou neste final de ano à ordem do dia, mas

o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS) as-segura que o serviço “se manterá até ao final de 2010”, quando termina o plano de gestão traçado pela actu-al administração.

Um ano e meio depois da falhada tentativa de encerrar o serviço nos meses de Verão por falta de recursos humanos – que originou uma abertura de concurso depois da intervenção de um membro do Governo junto da ARS Norte – o assunto volta a pre-ocupar dirigentes políticos da oposição e a própria autarquia.

| PSD acusa CHTS de quer fe-char unidade de Amarante | A dete-rioração do serviço de pediatria no HSG (e de outras valências, nomeadamente da medicina interna), se-gundo o líder do PSD Amarante, “é notória” e José Luís Gaspar, que, recordemos, já foi administrador daquela unidade de saúde durante o período de go-vernação social-democrata (2002-2005), é directo na

acusação à administração do CHTS.“Há decisões que são danosas e são tomadas cla-

ramente para criar mau ambiente e pôr pessoas a in-surgirem-se contra os médicos”, afirmou o vereador esta segunda-feira, em plena reunião camarária.

Segundo José Luís Gaspar “há muita forma habi-lidosa para dar a volta” e “o CA [Conselho de Aminis-tração do CHTS] tem tomado decisões para acabar com o hospital de Amarante”.

Perante a insistência do vereador para que a autar-quia tome uma posição, o presidente da Câmara aca-bou por dizer que ia interpelar a administração do cen-tro hospitalar, presidida por José Alberto Marques.

| Não fecha até fim de 2010 | O Repórter do Marão sabe que o internamento de Pe-diatria em Amarante é de 10 camas desde que o hos-pital de S. Gonçalo foi integrado no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, mas a taxa de internamento tem vindo a descer nos últimos dois anos, sobretudo desde a desactivação da maternidade e do serviço de obste-trícia, concentrados na unidade de Penafiel.

Fonte oficial do CHTS disse esta segunda-feira ao

RM que “é falso que o serviço de Pediatria tenha sido encerrado”.

“Por uma questão de optimização de recursos hu-manos foi decidido na quadra natalícia transferir a única criança que se encontrava internada na unida-de de S. Gonçalo para a unidade de Penafiel, situação que de resto já foi ultrapassada, estando a Unidade de São Gonçalo em Amarante a internar, com normalida-de, as crianças que apresentem indicação de interna-mento”, acrescentou a fonte.

Entretanto, o RM apurou que a ARS Norte aler-tou este mês a Câmara de Amarante de que o plano de contingência para a Gripe A H1N1 organizado pelo CHTS pode deixar “pontualmente sem pediatras” o internamento do hospital de Amarante, obrigando à transferência das crianças para a unidade de Penafiel.

O ofício da administração regional de saúde envia-do a 18 de Dezembro à autarquia de Amarante – ori-ginado após uma comunicação do CHTS para a tutela –, além de salientar a insuficiência de recursos huma-nos que afecta o centro hospitalar (leia-se, pediatras), também chama a atenção para a “baixa taxa de inter-namento” do serviço no hospital de S. Gonçalo.

Centro Hospitalar garante que se manterá até fim de 2010 mas ARS Norte alerta que a taxa de internamento é diminuta

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I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I economia / ambiente

Estudo de Impacte Ambiental “aprova”barragem de Fridão à cota 160

Jorge Sousa | [email protected]

Consulta pública decorre até 15 de Fevereiro

O Estudo de Impacte Ambiental (EIA) das duas barragens de Fridão, no rio Tâmega, a montante de Amarante, em discussão pública até 15 de Fevereiro, é “globalmente favorável” à sua construção, do ponto de vista ambiental, consideração que dificultará a posição dos ambientalistas na sua luta contra o empreendimen-to hidroeléctrico.

“Globalmente e tendo em conta as vantagens e des-vantagens e os impactes positivos e negativos identifi-cados, a construção do empreendimento é ambiental-mente favorável, não se identificando qualquer aspecto crítico relevante que não possa ser minimizável para ní-veis aceitáveis e controláveis”, apregoa o EIA, elabo-rado pela empresa AgriProAmbiente, Consultores, SA e aprovado pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que o está a submeter a consulta pública até me-ados do mês de Fevereiro.

| Impactes negativos | Como referimos no edição anterior, a EDP, que tem a concessão do em-preendimento, desistiu de instalar um grupo reversí-vel (que poderia fazer de bomba para levar a água de volta à albufeira depois de turbinada) no escalão princi-pal e também de montar grupos geradores de energia eléctrica no escalão de jusante, uma barragem de me-nor dimensão – 30 metros de altura – que servirá para modular os caudais turbinados, regularizando o leito do Tâmega sobretudo na zona urbana de Amarante, onde, no verão, funciona uma praia fluvial (apesar de não ser oficial) e circulam embarcações de recreio.

Refere o EIA que os impactes negativos mais rele-vantes “residem na afectação de solos e usos na área a ocupar pelas albufeiras e barragens, e nos impactes so-cioeconómicos e patrimoniais aí existentes”, bem como na “alteração do rio para um sistema lagunar, com alte-rações no ecossistema existente que, no entanto, já se apresenta alterado devido à existência da barragem do Torrão a jusante, e à submersão da vegetação e habi-tats existentes nessa mesma área”.

Relativamente aos aspectos positivos do empreen-dimento, o documento assinala a “maior disponibilida-de de água, a produção de energia renovável e limpa,

contribuindo para a redução da poluição atmosférica e o uso turístico e económico da albufeira pelos concelhos a montante da barragem – Celorico de Basto e Mon-dim de Basto.

A equipa que elaborou o EIA realça também as novas acessibilidades criadas pelas duas barragens, em suma, duas novas travessias no rio Tâmega, bene-ficiando a mobilidade da população das freguesias de Fridão e Gatão, em Amarante e Codessoso, em Celo-rico de Basto.

“Serão [as duas novas estradas, bem como os res-tabelecimentos de vias] elementos que também contri-buirão para o melhor aproveitamento desta oportuni-dade de desenvolvimento regional e local”, sublinha o estudo. É igualmente valorizado “o elevado impacte po-sitivo no emprego” – estimado em cerca de um milhar de empregos directos no pico da construção (2014) – e a animação da actividade económica dos concelhos en-volvidos pela presença muito elevada de trabalhadores durante os cinco anos de construção.

A EDP, como assinala o EIA, vai ter de executar um conjunto de medidas compensatórias, nomeada-mente “estruturas de valorização recreativas e turísti-cas a construir nos regolfos dos rios Cabril e Veade com praias, ancoradouros e áreas de lazer”, equipamentos a construir nos concelhos de Mondim de Basto e Celori-co de Basto.

A hidroeléctrica propõe-se ainda construir uma pis-ta de águas bravas na cidade de Amarante, dotada de condições para a prática de actividades náuticas diver-sas (em substituição da estrutura de canoagem/águas bravas que a autarquia construiu em Fridão e que vai ficar inutilizada) e repor várias infraestruturas, como praias fluviais, pista de motocross de Celorico de Basto, parque de campismo de Mondim de Basto, áreas de la-zer e zonas de pesca desportiva.

Apesar de a EDP já ter desistido da cota máxima NPA 165 (Nível de Pleno Armazenamento) em Fridão, o EIA vem também apoiar a opção por uma cota infe-rior em cinco metros.

“A alternativa de cota mais baixa, ao NPA 160, se apresenta como mais vantajosa ambientalmente, não só

porque minimiza impactes negativos significativos, mas também porque potencia de forma mais favorável os impactes positivos do Aproveitamento Hidroeléctrico”.

| Câmara de Amarante prome-te debate esclarecedor | Entretanto, o presidente da câmara de Amarante disse ao RM “que promoverá um debate sobre a barragem com pessoas descomprometidas [com a EDP]”, admitindo que pre-tende realizá-lo até ao final de Janeiro.

Armindo Abreu confessou ao nosso jornal alguma dificuldade em encontrar técnicos qualificados que não estejam directa ou indirectamente ligados à empresa concessionária da barragem, mas garantiu que não de-siste de realizar esse debate.

O debate, ao contrário do realizado há meses, não versará apenas aspectos técnicos da barragem e da sua segurança, mas também os impactes ambientais sobre a região e em particular sobre o curso de água.

Devemos salientar, entretanto, que um dos mapas do EIA contém dois erros, no mínimo, “estranhos”: o plano da albufeira do Torrão é apresentado à cota 65, quando desde a sua construção nunca foi além da 62, depois de uma resolução do Governo de então, e tam-bém o rio Olo é colocado dentro da alfufeira da barra-gem de jusante [desagua 400 metros abaixo, directa-mente no Tâmega], lapso injustificável quando o EIA foi executado por uma das empresas nacionais com mais experiência em estudos de impacte ambiental.

Fica uma dúvida: o erro da cota do Torrão e que afectará sobretudo a cidade de Amarante se ultrapas-sar o nível 62, não esconderá outras intenções da EDP, sobejamente [e historicamente] contestadas pelos amarantinos?

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paços de ferreira I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I repórterdomarão1728 Dez a 11 Jan’10

A lista de modalidades é longa e junta desportos muito diversos, alguns até inesperados: boccia, atle-tismo, pesca, matraquilhos, dominó, futebol ou sueca. Esse leque de desportos e a participação massiva de crianças e jovens contribuem decisivamente para a festa em Paços de Ferreira volte a acontecer na quar-ta edição dos jogos concelhios.

Para a autarquia, os jogos são um exemplo de “verdadeira democratização do desporto para todos independentemente da classe social, género e grupo etário, visando uma melhoria da qualidade de vida e da promoção da saúde”.

O calendário de provas começa a 09 de Janeiro e conta com três novas modalidades: mini-pólo, street basket e gira vólei, as duas últimas num espaço aber-to ainda por definir.

| Grupo Martins patrocina | A Câ-mara de Paços de Ferreira espera a participação de 2 200 atletas, número que representa 4 por cento da população do concelho, envolvendo de forma voluntá-ria o movimento associativo e a generalidade das 16 juntas de freguesia, salienta o presidente da Câma-

ra, Pedro Pinto.O Grupo Martins volta a patrocinar os jogos con-

celhios (fornecendo os equipamentos que vão ser usados pelos atletas), manifestando dessa forma as “preocupações sociais” afirmou Adelino Martins, ad-ministrador do Grupo durante a apresentação dos jogos na Câmara de Paços de Ferreira.

A quarta edição dos jogos concelhios de Paços de Ferreira tem um calendário pré-definido que se es-tende até ao Verão. O encerramento vai ocorrer em Julho, mês em que se vão realizar os jogos finais e a

gala que vai decorrer em Sanfins, a freguesia vence-dora dos últimos jogos concelhios.

| Clubes e escolas envolvidos |Para a câmara, os jogos contribuem para a dina-

mização desportiva e do lazer no concelho de Paços de Ferreira e permitem que atletas não federados prossigam a prática desportiva federando-se, o que resulta numa “boa sobrecarga para os clubes e asso-ciações”.

Coordenados pelo Gabinete de Apoio ao Asso-ciativismo da empresa municipal Gespaços, os jogos concelhios traduzem a política municipal de formação desportiva e são vistos como “uma festa que tem ri-gor, condições técnicas e disciplina”, procurando pro-porcionar divertimento e aprendizagem aos jovens atletas.

A calendarização de algumas modalidades foi al-terada com o objectivo de “as tornar mais competiti-vas e participativas”, procurando “maior envolvência e visibilidade”. A autarquia procura abranger as es-colas, clubes, entidades privadas e associações de to-das as freguesias do concelho.

Desporto social em Paços de Ferreiraenvolve milhares de jovensJogos permitem que atletas não federados prossigam prática desportiva

Paula Costa | [email protected]

Page 18: Repórter do Marão

paredes I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I Irepórterdomarão18 28 Dez a 11 Jan’10

Como a maioria das mulheres do seu tempo Ma-ria Madalena Moreira casou muito jovem, aos 21 anos. Tem 13 filhos, 19 netos, sete bisnetos e três tri-netos, mas a imensa prole não lhe diminuiu a solidão, contou a idosa ao Repórter do Marão no dia em que recebeu em casa, na freguesia da Vandoma, o equipa-mento de teleassistência a idosos, entregue pela Câ-mara de Paredes.

Aos 80 anos, Maria Madalena vive os dias sozinha. Os filhos seguiram as suas vidas. Uns estão mais per-to, outros mais longe (na Alemanha). “É a vida!”, de-sabafa resignada a idosa que ocupa o dia-a-dia de for-ma distinta consoante o estado do tempo: “Estando sol ainda dou uma volta até lá acima”, diz. Nos dias de chuva, a cama ou a cadeira junto ao aconchego do fo-gão-a-lenha são poisos certos.

| Experiência arrancou em Van-doma | No concelho de Paredes, Maria Madale-na Moreira foi das primeiras a receber o equipamen-to gratuito de teleassistência a idosos, uma medida de acção social que é pioneira na região. Numa primei-ra fase a autarquia vai entregar 50 aparelhos (25 da empresa Hepphone e outros tantos da Portugal Tele-

com). Nos próximos meses vão ser distribuídos mais 200 aparelhos que se destinam a ajudar “a resolver problemas do dia-a-dia dos idosos mais sozinhos e ne-cessitados”, afirmou o vice-presidente da Câmara de Paredes, Pedro Mendes. Trata-se de uma medida de “combate à solidão”, que é a resposta à constatação de “que era urgente equacionar novas formas de in-tervenção nesta área”.

O equipamento, que custa à autarquia cerca de 15 euros por mês, é accionado por um botão de contro-lo remoto à prova de água que pode ser colocado num fio ao pescoço (o que permite, por exemplo, ser usado durante o banho), e ao ser accionado faz com que na central de assistência um operador, que tem forma-ção na área, responda à chamada do idoso.

A solidão e até o abandono em que vivem muitos idosos são problemas que resultam da organização social moderna. O serviço de teleassistência preten-de minorar os efeitos negativos do isolamento. E, por outro lado, ser também um meio de ajuda em situa-ções de segurança, no caso de ruídos estranhos, ou da presença de intrusos; quando o idoso se sente mal em termos de saúde (numa indisposição ou dor aguda), ainda no caso de haver uma queda ou ferimento, en-tre outras situações.

| Central acciona meios | Mediante o tipo de emergência, a central de assistência accio-na os meios necessários: bombeiros, polícia, familia-res ou vizinhos para prestação de auxílio.

No levantamento feito pela Câmara de Paredes verificou-se que são cerca de 300 os idosos a precisar deste serviço, mas como há quem não tenha telefone fixo, lembrou a vereadora da Acção Social, Hermínia Moreira, os casos vão ser analisados e por enquanto vai receber o equipamento quem já tem telefone fixo. Depois de ser analisado o “grau de satisfação alcança-do” a câmara irá optar por um dos dois fornecedores do equipamento alargando o serviço em 2010.

Reduzir solidão dos idosos custa 15 euros por mês à Câmara de ParedesTele-assistência abrange 50 pessoas, mas as necessidades apontam para 300 aparelhos

Paula Costa | [email protected]

Page 19: Repórter do Marão

Câmara de Baião criou unidade de biodiesel

Foi a “afinidade com Baião” que se manifesta nas visitas regulares que faz ao concelho, onde a pé ou de bicicleta se dedica a conhecer montes e serras, que levou o engenheiro portuense Eduardo Leite a sugerir a criação de uma unida-de de produção de biodiesel. A ideia foi apresentada há cerca de três anos e pre-tendia associar um combustível amigo do ambiente (feito a partir de óleos vege-tais usados) às potencialidades naturais características de Baião.

A Câmara resolveu avançar com o processo. Resultado: no final de 2009 co-meçaram a circular em regime experimental as três primeiras viaturas movi-das a biodiesel. A pequena unidade de produção de biodiesel, que resultou do “processo de parceria e cooperação” com a empresa Enercalis, funciona nos ar-mazéns da Câmara de Baião. Após um demorado processo burocrático, o novo combustível começou a ser usado a dez por cento, misturado com gasóleo con-vencional. Durante 2010 a percentagem de biodiesel deverá aumentar até aos trinta por cento e a utilização vai ser alargada à restante frota da Câmara, num total de 60 viaturas, incluindo máquinas. As viaturas que estão a ser usadas em sistema de teste estão a ser monitorizadas, explicou Celso Ferreira, engenheiro mecânico da Câmara de Baião, salientando que a nível técnico, à partida, “não haverá contra-indicações” à utilização do biodiesel.

O primeiro passo do processo de produção é a limpeza e filtragem dos óleos recolhidos. Depois é feita a substituição da glicerina por outro álcool, o metanol.

Uma das vantagens da recolha dos óleos domésticos é evitar serem envia-dos para a rede de saneamento onde acabam por causar a ruptura e outros da-nos nas condutas.

Satisfeito com o resultado da “preserverança” necessária ao longo do pro-cesso que levou à produção de biocombustível, o presidente da Câmara de Baião, José Luís Carneiro, salienta o interesse já manifestado por câmaras de concelhos vizinhos, o que poderia levar a um aumento significativo do biodiesel a produzir pela nova unidade. A venda livre do novo combustível não é permi-tida. O biodiesel só pode ser usado em veículos a gasóleo de frotas cativas pro-priedade de empresas, escolas, autarquias ou Instituições Particulares de So-lidariedade Social.

Cada litro de biodiesel está a ser vendido a 0,84 euros. Se a procura aumen-tar, poderá haver uma diminuição no preço de venda. Para já oitenta por cen-to dos custos de produção de biodisel são com a matéria-prima (óleos vegetais já usados) que é recolhida gratuitamente por uma empresa especializada que a vende à Enercalis a 0,30 euros por quilo.

Eduardo Leite, que é proprietário de duas pequenas empresas que pro-duzem biodiesel na Suíça e na Roménia, lembra que a produção de sementes “pode ser uma oportunidade para a região”. As sementes de abóbora ou de nabo/nabiça (conhecidas no estrangeiro por colza) são indicadas para a produ-ção deste biocombustível. Paula Costa

outras terras I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I repórterdomarão1928 Dez a 11 Jan’10

Novo hotel de Mesão Frio já pode avançar

O Plano de Pormenor da Rede (PPR) foi aprovado, depois de se ar-rastar por seis anos impedindo a construção do Douro Marina Hotel, junto ao rio Douro, em Mesão Frio, anunciou esta semana a autarquia.

Fonte da Câmara de Mesão Frio disse, em comunicado, que a Assem-bleia Municipal (AM) “aprovou final-mente”, com 18 votos a favor e duas abstenções, o PPR dando assim o úl-timo passo que faltava para a sua pu-blicação final em Diário da República.

Segundo a autarquia, com a apro-vação deste plano de pormenor, “os promotores do Douro Marina Hotel têm assim via aberta para iniciar o empreendimento”.

O PPR estabelece novas regras de construção na Rede, junto ao rio Douro, potenciando uma melhor in-tegração paisagística das novas cons-truções mediante o uso correcto de materiais, requalificação dos espaços públicos em geral, dotação de todas as edificações de infraestruturas bá-sicas e criação de condições favorá-veis a investimentos privados no pa-

trimónio edificado actual.O plano nasceu do interesse do

empresário Mário Ferreira, proprie-tário da Douro Azul, em construir no lugar da Rede um empreendimen-to de luxo e um campo de golfe, ten-do este projecto sido classificado como Projecto de Interesse Nacional (PIN), pela Agência Portuguesa para o Investimento.

Posteriormente o projecto foi ad-quirido, conjuntamente com os terre-nos e o Solar da Rede, pela CS Ho-téis, que reformulou o projecto para ser integrado no PPR.

O presidente do grupo CS Hotéis, Carlos Saraiva, já disse que o Douro Marina Hotel vai começar a ser cons-truído em 2010.

O CS Douro Marina Hotel, que terá 175 quartos, SPA, piano bar, restaurante gourmet e um campo de golfe com 18 buracos espalhados pe-las duas margens do rio, representa um investimento de 54,5 milhões de euros e vai criar 175 postos de tra-balho.

Page 20: Repórter do Marão

repórterdomarão20 28 Dez a 11 Jan’10

I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I outras terras

O Plano Estratégico de Mobilidade da Cidade de Penafiel para os próximos dez anos prevê a constru-ção de quatro parques de estacionamento público: o siloauto, junto à Rua Relógio do Sol, dois parques pe-riféricos à cidade e outro de apoio ao pavilhão de feiras e exposições. O Plano foi publicamente apresentado e a autarquia espera contributos, críticas e sugestões da sociedade civil.

“O espaço público é para todos”, afirmou Alberto Santos, presidente da Câmara de Penafiel ao propor a reflexão e participação de cidadãos, políticos, associa-ções num “plano dinâmico” que contou com a “inter-venção transversal de toda a câmara”.

Apresentado sob a forma de livro (com cerca de 150 páginas), o Plano Estratégico de Mobilidade de Penafiel é o primeiro da região Norte e o segundo a nível nacional. O que, para o presidente da Câmara, vem confirmar que Penafiel é uma “cidade pioneira nestas matérias da mobilidade”. As políticas que têm sido implementadas no concelho seguem as tendên-cias modernas “de integração social através da mobi-lidade”, disse Alberto Santos na cerimónia em que es-teve o galego Xoán Vázquez Mao, secretário-geral do Eixo Atlântico, organização a que pertencem 34 cida-des da Galiza e do Norte de Portugal.

“ Os planos de mobilidade são instrumentos que

nós [Eixo Atlântico] prevemos, defendemos e consi-deramos fundamentais ”, explicou Xoán Mao frisan-do que “não se pode fazer uma cidade contra as pes-soas”. O envolvimento dos vários agentes sociais é fundamental para evitar a perda de sinais de identida-de e mesmo a morte das cidades.

Referindo-se às orientações da União Europeia para o período 2014-2020, Xoán Mao afirmou que o que vai acabar “são os fundos para o cimento”. O fi-nanciamento para projectos de inovação, desenvolvi-mento social e desenvolvimento sustentável, “esses não acabam” assegurou em Penafiel o secretário-ge-ral do Eixo Atlântico.

Por se tratar de “matéria transversal” a mobilida-de tem ligações muito próximas a áreas como o sane-amento, obras municipais, turismo, tratando-se por isso de “uma matéria estruturante para o desenvolvi-mento de uma cidade”, considerou Paula Teles, verea-dora do pelouro da Mobilidade da Câmara de Penafiel e especialista nesta área.

O Plano Estratégico de Mobilidade de Penafiel dá a conhecer as principais orientações e medidas pro-postas nas áreas da circulação rodoviária, estaciona-mento, transportes públicos, e nas redes pedonal e ci-clável (utilização de bicicleta). P.C.

Plano Estratégico de Mobilidadeprevê novos parques em Penafiel

Alguns presidente de junta eleitos em lista so-cial-democrata estragaram sábado passado a es-tratégia do PSD na última assembleia municipal de Amarante e viabilizaram o orçamento aprovado an-teriormente pela maioria socialista.

Os vereadores do PSD já tinham votado contra o orçamento em reunião do executivo e a expectati-va de os documentos previsionais serem chumbados no órgão deliberativo, de maioria laranja, permane-ceu durante toda a sessão.

Na contagem dos votos, contudo, registaram-se três abstenções (duas delas também de autarcas de freguesia), 38 votos contra (PSD) e 39 a favor.

A principal crítica do PSD ao orçamento socialis-ta é a falta de protocolos com as juntas de freguesia (como se verificou em anos anteriores), mas o presi-dente da Câmara argumentou que não há, em 2010, condições financeiras para o fazer.

“Não proporei nenhum protocolo para juntas e não me vão obrigar a fazer propostas que eu sei que não posso cumprir”, sustentou Armindo Abreu.

Autarcas do PSD viabilizaram orçamento socialista em Amarante

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O orçamento da Câmara do Marco de Canaveses para 2010 ronda os 28 milhões de euros e foi aprovado por maioria pelo PSD, quer na Câmara quer na Assembleia Municipal.

A oposição votou contra ou absteve-se.Comparativamente a 2009, o investimento vai diminuir 28 por cento, facto que o presidente da Câmara, Ma-

nuel Moreira, explica, em parte, com o aumento da despesa com a amortização do empréstimo de 45 milhões de euros contraído pelo executivo que cessou funções em 2005.

Apesar dos constrangimentos financeiros, a Câmara prevê gastar em 2010 cerca de três milhões de euros em obras, com destaque para o início do processo de requalificação urbana.

Dívida vai condicionar por muitos anosdesenvolvimento no Marco de Canaveses

O escritor António Manuel Pires Cabral venceu o Prémio de Poesia Luís Miguel Nava 2009 com o li-vro “As Têmporas da Cinza”.

Para o júri, de que fizeram parte Carlos Mendes de Sousa, Fernando Pinto do Amaral, Gastão Cruz, Luís Quintais e António Carlos Cortez, “a limpidez e a precisão da escrita de A. M. Pires Cabral, a sua pe-netrante e austera visão dum mundo cuja expressão encontra numa espécie de imitação da terra o mo-delo para uma linguagem poética de invulgar inten-sidade” fazem do autor “um dos casos mais repre-sentativos da nossa melhor poesia contemporânea.»

Nascido em Chacim, Macedo de Cavaleiros, em 1941, A. M. Pires Cabral é licenciado em Filologia Germânica pela Universidade de Coimbra e foi ven-cedor por unanimidade do Prémio D. Dinis 2006, atribuído pela Fundação Casa de Mateus pelos seus livros “Douro: Pizzicato e Chula” e “Que Comboio é Este”. Em 1983 tinha ganho o Prémio Círculo de Leitores com o romance “Sancirilo”.

A. M. Pires Cabral é cronista regular do Repór-ter do Marão, onde assina “Cesto da Gávea”.

Pires Cabral ganha prémio de poesia

Page 21: Repórter do Marão

Formação em primeiros socorros paraapoiar idosos nas aldeias de Bragança

Em três aldeias do concelho de Bragança há pe-los menos uma pessoa com conhecimentos para pres-tar primeiros socorros e poder acudir, sobretudo a idosos que vivem sós e com dificuldade de acesso aos serviços de saúde.

A iniciativa é da Cruz Vermelha e do Centro de Saúde de Bragança que esperam por mais meios fi-nanceiros e humanos para fazerem funcionar o pro-jecto em pleno e alargá-lo a todas as aldeias do con-celho.

Para já, há 26 socorristas em Gondesende, Parâ-mio e Espinhosela, no âmbito do projecto formação de socorristas na área rural.

Maria Emília Pires e Teresa Diz fazem parte do grupo e mais de um ano depois de receberem forma-ção dão “Graças a Deus” porque ainda não precisam de aplicar os conhecimentos.

“É bom sinal”, dizem, mas elas, funcionárias do centro de dia de Espinhosela, mais do que ninguém reconhecem a importância desta iniciativa porque li-dam com idosos.

Distribuem todos os dias pelas localidades da fre-guesia e vizinhas o almoço a utentes que vivem sós, sem condições de se deslocarem e com muitas neces-sidades de acompanhamento.

Acreditam que ficaram com “algumas luzes” para

saber identificar o estado da vítima, como abordá-la e tratá-la até chegar o apoio necessário.

“É difícil dizer sem ver. Se nos aparecer um caso, se calhar vamos ficar todas atrapalhadas, mas vamos ver”, confessa Teresa.

Quem não tem dúvidas da importância desta for-mação é Abílio Rodrigues, da direcção do centro de dia de Espinhosela, embora corrobore que “ainda não precisaram de utilizar os conhecimentos”.

Para além da formação, foi também entregue a cada freguesia uma mala de primeiros socorros com diverso material como compressas, luvas, gaze, beta-dine, e aparelhos para medir a tensão arterial e gli-cemia.

A de Espinhosela encontra-se na sede da fregue-sia e ainda não foi utilizada de emergência, mas já serviu de apoio aos peregrinos da romaria de Santa de Rita.

O presidente da junta, Telmo Afonso, é enfermei-ro e entende que seria “mais útil” entregar a cada so-corrista um kit para poder utilizar quando necessá-rio.

Aplaude a iniciativa e defende mesmo que “toda a gente devia ter formação de primeiros socorros”.

O “presidente-enfermeiro”, eleito nas últimas au-tárquicas é agora “o doutor” para muitos dos fregue-

ses como o casal José Afonso e Laurinda Gil que, com mais de 80 anos, bem sabem “o que custa ter de ir a Bragança”.

Eles ainda podem deslocar-se em viatura pró-pria, mas outros esmorecem perante a dependência dos transportes públicos e as voltas que têm de dar na cidade para ir ao centro de saúde.

Os idosos, sobretudo do meio rural, são a princi-pal preocupação da delegação de Bragança da Cruz Vermelha, como disse à Lusa o presidente Joaquim Queirós.

A direcção está apostada em dinamizar iniciativas para preencher o tempo destas pessoas e em conse-guir apoios, nomeadamente financeiros para dar con-tinuidade ao projecto dos socorristas.

De apoios está também dependente outro projec-to para a criação de uma loja do cidadão móvel que leve às aldeias serviços como pagamentos automáti-cos de facturas.

Iniciativa é do Centro de Saúde e da Cruz Vermelha

nordeste I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I repórterdomarão2128 Dez a 11 Jan’10

Formados 26 socorristas para três freguesias da

área rural.

Page 22: Repórter do Marão

Um empresário de Vila Real promete cons-truir o primeiro parque ecológico de Portugal, reunindo parques de campismo, aquático, aven-tura, pistas de gelo e quinta pedagógica, num in-vestimento de 10 milhões de euros, adiantou à Lusa.

O “Natur Water Park” – Parque de Diversões do Douro, que poderá criar até 100 postos de em-prego directos, é uma ideia do casal Ana Fáti-ma Anjo, 34 anos, e Eduardo Rodrigues, 37 anos, que se arrasta há já seis anos mas que só agora reuniu as condições para começar a ser constru-ído, na zona de Andrães, nos arredores da cida-de de Vila Real.

| Área de 15 hectares | O em-presário Eduardo Rodrigues disse à agência Lusa que o “primeiro parque ecológico do país” vai ocupar uma área de 150 mil metros, ao longo dos quais vão ficar dispersos um parque de cam-pismo de quatro estrelas com uma capacidade para 150 lugares.

Haverá ainda um parque aquático com diver-sas piscinas e capacidade para 2.000 pessoas para o Verão e uma pista de gelo para o Inverno.

Estas estruturas estarão concluídas na pri-meira fase do projecto que, segundo o empresá-rio, tem abertura prevista para Junho de 2011.

Um ano depois, deverá estar pronto o par-que aventura, com as mais diversas actividades, e uma quinta pedagógica, uma espécie de zooló-gico com animais de quinta.

A tudo isto juntam-se ainda campos de golfe

e de ténis, sala de jogos, supermercado ou a ven-da de produtos regionais.

A parte ecológica vai ser consolidada com o recurso à produção de energias renováveis, como a solar, e a reciclagem das águas para rega e au-toclismos dos sanitários.

Durante a construção serão ainda utilizados materiais biodegradáveis.

Quando estiver em pleno funcionamento, o “Natur Water Park” vai dar emprego a 100 pes-soas diariamente, mas, segundo o responsável, o projecto vai criar 500 postos de trabalho indirec-tos.

| Mercado do Norte mas também da Galiza | Eduardo Rodri-gues salientou ainda que está a ser dada prio-ridade às empresas da região para a cons-trução do projecto, recorrendo apenas a uma empresa espanhola para o fornecimento dos equipamentos.

A aposta vai ser feita nos mercados espanhol, francês, inglês, italiano e alemão, precisamen-te as línguas em que o site na Internet (www.na-turwaterpark.pt) do parque vai estar traduzido.

Eduardo Rodrigues referiu que projecto vai custar 10 milhões de euros e possui uma compar-ticipação de fundos comunitários na ordem dos 50 por cento.

Referiu ainda que a ideia nasceu da constata-ção de que “não há nenhum equipamento do gé-nero ao longo de uma área que vai desde o Porto até à Galiza, em Espanha”.

Empresário promete parque ecológico em Vila RealInvestimento previsto é de 10 milhões de euros e pode criar até 100 postos de trabalho directos

repórterdomarão22 28 Dez a 11 Jan’10

I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I nordeste

Um grupo de amigos do sacerdote transmonta-no Padre Fontes está a organizar na internet uma pe-tição em defesa da atribuição de um dos graus das Ordens Honoríficas Portuguesas por parte do Pre-sidente da República. O sacerdote é conhecido pela organização do Congresso de Medicina Popular de Vi-lar de Perdizes.

Segundo os organizadores, a inicitiva já recolheu depoimentos de pessoas das mais diversas áreas, des-de o meio académico, religioso ou político, até de admi-radores do Padre Fontes provenientes da Galiza.

Segundo o texto da petição, publicado no endere-ço www.peticaopublica.com, os subscritores conside-ram que seria “justo e merecido” que Cavaco Silva lhe atribuísse um dos graus das Ordens Honoríficas Por-tuguesas.

Os impulsionadores da iniciativa enaltecem as iniciativas e actividades que, “ao longo de toda a sua vida, o padre António Lourenço Fontes, de Vilar de Perdizes, levou a efeito em prol da defesa das tra-dições sociais e culturais de Trás-os-Montes, em ge-ral, e dos usos e costumes de Barroso, em particular, atraindo meios académicos e mobilizando a impren-sa nacional e internacional para dar visibilidade à sua região”.

António Fontes nasceu em Cambezes do Rio, em 22 de Fevereiro de 1940, tendo ingressado no Seminá-rio de Vila Real em 1950, de onde saiu em 1960. Foi or-denado sacerdote em 1963.

O sacerdote ficou conhecido pela organização do Congresso de Medicina Popular de Vilar de Perdizes, onde em Setembro se junta o sagrado ao profano e se reúnem curandeiros, bruxos, adivinhos ou ervanários.

Os amigos do sacerdote salientam a sua “obra so-cial” na ajuda a muitas famílias da região, ainda a sua obra literária ou no conhecimento e preservação de ervas e chás da região, muito procurados para comba-ter as mais diversas doenças.

As assinaturas serão posteriormente remetidas ao Conselho de Ministros, a quem cabe depois propor o reconhecimento à Chancelaria das Ordens.

Condecoração para o Pe. Fontes

Page 23: Repórter do Marão

património I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I repórterdomarão2328 Dez a 11 Jan’10

É no centro histórico de Bragança, no antigo Paço Epis-copal, edifício do século XVIII, que se situa o Museu Abade de Baçal. O espaço foi alvo de sucessivas remodelações, a úl-tima das quais da autoria dos arquitectos António Portugal e Manuel Maria Ramos.

O acervo original do Museu era constituído por co-lecções de arqueologia, numismática e peças que perten-ciam à diocese e estavam no Paço Episcopal de Bragança. O Museu Abade de Baçal foi fundado em 1915, então com a designação de Museu Regional de Obras de Arte, Peças Ar-queológicas e Numismática de Bragança. Em 1935, data da jubilação do Abade de Baçal, nome por que ficou conheci-do o padre Francisco Manuel Alves (1865-1947), passa a de-signar-se Museu Abade de Baçal, em homenagem ao padre que se dedicou à recolha e investigação etnográfica e histó-rica e que foi também director do Museu entre 1925 e 1935.

Para o Instituto de Museus e da Conservação, foi de grande importância para o Museu o trabalho de Raul Tei-xeira, director do Museu do Abade de Baçal entre 1935 e 1955. Raul Teixeira foi “grande impulsionador da cultura da região e defensor do seu património”, tendo desempenhado “um papel decisivo na projecção do Museu e na angariação de parte significativa do seu acervo”, sobretudo pelas “exce-lentes relações que tinha junto dos meios culturais e artís-ticos da época”.

Ao longo dos anos as colecções foram aumentando, es-pecialmente com as dádivas de Abel Salazar e da família Sá Vargas nos anos 30, o legado de Guerra Junqueiro, nos anos 50 e o de Trindade Coelho no início dos anos 60 do século XX.

Actualmente, o Museu Abade de Baçal reúne um conjunto ecléctico de colecções, com obras de grande valor documen-tal, artístico e histórico. As principais colecções que integram o acervo do museu são de Arqueologia, Epigrafia, Arte Sa-cra, Pintura, Ourivesaria, Numismática, Mobiliário e Etno-grafia. Da colecção de pintura fazem parte quadros de Ma-lhoa, Abel Salazar e um conjunto de cerca de 70 desenhos de Almada Negreiros, escultura, ourivesaria e mobiliário. O espólio do Museu foi sendo gradualmente enriquecido através de doações, legados e aquisições. Uma importante colecção de máscaras transmontanas foi adquirida em 2001. Marcos miliários e peças de cerâmica do período romano, ourivesaria e mobiliário dos séculos XVIII e XIX, e uma es-cultura quatrocentista da Virgem com o Menino, estão en-tre as peças que justificam uma visita.

O Museu Abade de Baçal está aberto ao público de ter-ça a sexta-feira das10:00 às17:00. Ao sábado e domingo, en-tre as 10:00 e as18:00. Encerra à segunda-feira e nos feria-dos de 1 de Janeiro, domingo de Páscoa, 1 de Maio e 25 de Dezembro.

O bilhete normal de ingresso custa dois euros. Professores dos vários graus de ensino, reformados e

jovens entre os15 e os 25 anos pagam um euro. Portadores do Cartão jovem, 0,80 euros. Crianças até aos 14 anos en-tram gratuitamente. Aos domingos e feriados até às 14:00 a entrada gratuita.

Além de um serviço educativo, o Museu Abade de Baçal disponibiliza visitas guiadas a grupos organizados (a partir de 25 pessoas).

Museu Abade de BaçalSituado no centro histórico de Bragança, apresenta um grande espólio de arqueologia e numismática

Redacção | [email protected] | Fotos M.A.B.

Page 24: Repórter do Marão

repórterdomarão24 28 Dez a 11 Jan’10

I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I opinião

Que podemos esperar de 2010N ão se esperam facilidades nos tempos mais

próximos, nem creio, motivo para grandes sorrisos.

Os Portugueses sentem todos os dias a crise, que é profunda e teima em não se afastar de nós. Diaria-mente tomamos conhecimento de empresas a des-pedir trabalhadores. Empresas que encerram aqui, para abrir, mais a leste, porque o custo de mão-de-obra é 50% mais baixo na Eslováquia e 80% mais bai-xo na Bulgária e Roménia, do que em Portugal. A taxa de desemprego já chegou à barreira psicológica dos dois dígitos.

Portugal continua a crescer menos do que a União Europeia, divergindo, cada vez mais, dos nossos par-ceiros Europeus. Continuamos a cavar o nosso empo-brecimento.

Os relatórios do Banco de Portugal dão-nos con-ta que o País perde quota de mercado nas exporta-ções. Sem exportar, não criamos riqueza e não sere-mos competitivos com os nossos parceiros comerciais.

Um número significativo de famílias, outrora de-nominada de “classe média”, vive hoje com enormes dificuldades, e muitas destas, abaixo do limiar da po-breza. Temos hoje uma nova pobreza: A daqueles que sentem vergonha social por terem caído em tal situa-ção e que por isso a escondem.

Os impostos, dizem os especialistas vão ter de au-mentar e a despesa pública, apesar de todas as pro-

messas, continua descontrolada e a crescer. Continuamos a ter despesa a mais. O País gasta mais do que pode e o Estado continua a gastar mais do que deve.

O aumento dos impostos, a acon-tecer, para além de não resolver o problema das finanças do Estado, que é estrutural, vai agravar ainda mais a vida das empresas, obrigan-do-as, nuns casos, a fechar as portas e, noutros, a saírem de Portugal.

É inaceitável exigir mais sacri-fícios aos portugueses. Cobrar-lhes mais impostos, sem que o Estado im-ponha a si próprio regras de contenção, cortando des-pesas onde podem e devem ser cortadas, diminuindo o peso e as funções do Estado, dando mais espaço à Sociedade.

Portugal continua sem rumo, sem norte, com me-didas ao acaso, na maioria das vezes em função dos ca-lendários eleitorais e dos seus interesses partidários. Enquanto outros países têm uma politica económica voltada para a produção, para o crescimento económi-co e do tecido empresarial, com apoios reais às expor-tações, Portugal continua a virar as costas ao empre-endedorismo nacional, sem criar mecanismos legais que os torne mais competitivos internacionalmente.

Para além do factor geográfico, que à partida é um

obstáculo à competitividade nacional, quando nos comparamos com os em-presários espanhóis ou franceses, as taxas do IVA, a carga fiscal ou a le-gislação laboral nacionais, são facto-res que tornam muito difícil a com-petitividade, obrigando muitos dos nossos empresários a procurar a pro-dução além fronteiros.

Em 2010 os Portugueses vão con-tinuar a viver em crise e a arcar com mais sacrifícios, sem qualquer espe-rança de melhoria de vida. Em 2010, o governo, agora sem maioria parla-mentar, não vai além do “serviço mí-nimo”, gerir apenas “o prejuízo”, à

espera de uma vaga de fundo ou uma qualquer des-culpa que lhe permitia vitimizar-se e provocar elei-ções antecipadas à espera de uma nova maioria ab-soluta. E para depois governar o quê, e como? Para governar como o fez nos últimos 5 anos? Ou terá, fi-nalmente esse governo, seja ele de que partido for, abençoado pelos Deuses, coragem para tomar as me-didas que os especialistas reputam como necessárias e imprescindíveis e que nos permita acalentar a espe-rança, a única que nos resta, que Portugal ainda pode ter futuro.

Com este pessimismo para 2010, pensemos então no que poderá ser 2011. E se podermos, saltemos de ano. Poupávamos, todos, um ano de sacrifício.

Até lá, e dentro do possível, endereço a todos vo-

Carlos Sousa Pinto Penafiel

N ão é novidade para ninguém, penso eu, que muitas vezes as palavras proferidas a quente, como se costuma dizer, ultrapas-

sam o que se quer transmitir como mensagem.Todos nós teremos telhados de vidro nessa ma-

téria.Mas não deixa de ser também verdade que há

quem se aproveita do facto de se poder aproveitar dessa desculpa para proferir frases insensatas, em-bebidas muitas vezes de segundos sentidos ou até in-sinuações que em condições normais não teriam a coragem, ou disfarce de soltarem cá para fora…

Há contudo ocasiões onde esse fenómeno acon-tece e, convenhamos, nem sempre com más inten-ções… O exemplo que me vem à mente nesse as-pecto são os panegíricos que se ouvem aquando do desaparecimento de alguém que se considera que deve ser elogiado: do pecador se faz um santo, do mentiroso, o exemplo de rigor, etc.

Mas sem dúvida que as ocasiões por excelência para esses desvarios são os períodos eleitorais.

Tudo é permitido, da provocação à afirmação dú-bia, do elogio oco à descoberta de qualidades que nunca ninguém tinha vislumbrado, ou pior ainda, na desvalorização gratuita do adversário, como se todas as virtudes só pudessem estar dum lado…

Há também o frequente emprego de vocábulos

desvirtuando, ou abusando do seu verdadeiro signi-ficado.

Foi o caso nas passadas autárquicas, com a pala-vra ‘peso’.

Etimologicamente essa palavra tem dois signifi-cados principais: o que resulta da força da gravida-de, com algumas declinações mais ou menos lógicas,

e no sentido figu-rado mas ampla-mente usado, que é de influência, au-toridade, sensatez, notoriedade.

Claro que es-tas noções são subjectivas e con-sequentemente muitas vezes não consensuais.

Daí o cuida-do que se devia ter quando se preten-de ‘avaliar pesos’.

Por isso achei altamente deselegante um comentário veiculado pelo JN onde se pretendia comparar pesos entre os dois candidatos à Presidência da Assembleia Muni-

cipal de Amarante. Claro que já devíamos estar ha-bituados a essas ‘derrapagens verbais’, mas ainda assim dizer que «Amarante perde em termos de re-presentatividade porque tal candidato tem um peso em Amarante que o opositor (que afinal ganhou por margem confortável) não tem».

Ligam-me aos dois então candidatos sólidos la-ços de amizade e consideração forjados noutros cam-pos, e por isso estou à vontade neste caso para emitir a minha opinião que é de ter sérias e fundamentadas dúvidas nesse julgamento, no mínimo, repito, desele-gante e altamente duvidoso.

Não será aliás, longe disso, a opinião generaliza-da, até pela actividade profissional pelos dois exerci-da, com alta e reconhecida qualidade, mas uma mais ‘abrangente’ e geradora da tal noção de peso no sen-tido de “influência” ou “notoriedade”…

E que dizer da publicidade feita a um grupo, e passo a citar, de «figuras de peso de Amarante que apoiam» determinada candidatura…

Duvido que tenham sido os próprios, «que cir-cunstâncias da vida levaram a outras paragens (…) mas sempre com Amarante no coração» que se te-nham ‘auto- pesado’, até porque, nos casos que co-nheço, são pessoas de sensatez.

Eleições, pesos e medidas (2)

Luís MagalhãesEngenheiro

Page 25: Repórter do Marão

repórterdomarão

Uma prenda com História

opinião

25I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

28 Dez a 11 Jan’10

Ser cuidador de doentes terminaisO fenómeno do envelhecimento,

as múltiplas formas de apoiar os seniores e os cuidados com

doentes terminais ganharam amplitu-de já que a dependência, o carinho com o doente sénior, a medicina do bom en-velhecimento, os cuidados geriátricos, por exemplo, estão em permanente adaptação.

Os serviços de proximidade têm constituído uma alternativa útil aos cuidados familiares (mesmo quando se tornou proverbial existirem famílias de quatro gerações obrigadas a reexami-nar as relações dentro da esfera desse grupo), dão apoio e conforto ao sénior, prestando-lhe por vezes cuidados con-tinuados e nalguns casos até cuidados terminais. O envelhecimento activo, por outro lado, tem sido uma resposta a este envelhecimento demográfico em que os seniores não podem ficar sem prés-timo e exclusivamen-te entregues à Segu-rança Social. Por isso, se procura incentivar o sénior a estar ocupa-do muito para além do tempo da reforma e a saber envelhecer me-lhor prestando ser-viços sociais e dando solidariedade aos ou-tros. Os auto-cuidados e a vida activa podem contribuir para enve-lhecer melhor e cada vez mais lentamen-te. Não é novidade para ninguém que agora aos 60 anos podemos ainda pen-sar em ter 20 a 30 anos de vida autóno-ma. Hoje, a resistência dos seniores, 75 anos, é proporcional à resistência dos seniores de 60 anos do século XIX. Mas também sabemos que o nosso corpo e mente não envelhecem de uma só vez mas em peças separadas. Daí, as estra-tégias de prevenção de envelhecimen-to terem obrigatoriamente um forma-to personalizado.

A despeito deste envelhecimento activo e de uma longevidade franca-mente mais saudável, até uma doen-ça precoce pode derrubar um sénior cheio de sonhos. O aspecto que pre-tendemos agora focar tem a ver com os doentes terminais (aqueles que, fru-to de uma doença terrível, aguardam uma morte inexorável, com ou sem quimioterapia, ou cujo definhamen-to seja igualmente irreversível). Es-tes doentes terminais eram acompa-nhados no passado por profissionais de saúde e familiares cuidadores. Hoje

o doente terminal carece à mesma de cuidados de saúde mas precisa de cui-dadores e cuidadoras que lhe ajudem a saber franquear a passagem da vida para a morte.

“Caminhando com Doentes Ter-minais”, por Joyce Rupp e Joyce Hu-tchison (Editora Sinodal, distribuí-da em Portugal pela Editora Vozes) é um pungente e experimentado relato acerca da nossa caminhada final. Ser cuidador destas pessoas pressupõe um investimento afectivo fortíssimo, uma grande preparação e disponibilidade.

A obra acolhe diferentes relatos de coragem e consolo e mostra como por vezes a simples presença de al-guém pode capacitar o paciente termi-nal a vencer as suas angústias e pre-conceitos. Um cuidador tanto pode ser um profissional de clínica ou hospital

como qualquer mem-bro da família. Os as-sistentes sociais aju-dam os doentes e as famílias a lidar com o stress emocional e te-mos evidentemente a questão delicada dos aportes morais e re-ligiosos já que cami-nhando para a morte a despedida tem sem-pre um determina-do sentido ou é aceite sem sentido. No fun-do, o cuidador enco-raja o doente terminal a descobrir um deter-

minado sentido para o fim da vida, li-berta ansiedades, orienta o sofrimen-to para o amor de Deus, reforça a fé, toma a família do doente terminal co-esa, esbate ressentimentos, faz revelar segredos, fomenta dádivas de humor, unindo ainda mais aqueles que julga-vam que só havia vida até que a mor-te os separasse.

Não se esconde que este livro de coragem e consolo para cuidadores não esteja dominado por uma tóni-ca ética e religiosa, porque o está. São histórias comoventes, que falam na es-perança do amor divino. Mas igual-mente são relatos cheios de alegria que nos conclamam a termos esperan-ça e paz nos momentos dolorosos da partida, nossa ou dos entes queridos que nos rodeiam.

Para muitos este livro será uma bênção. E nenhum cuidador de doen-tes terminais ficará indiferente a estes relatos. Por isso propomos esta leitura sem hesitar, independentemente da fé de cada um.

Beja Santos Assessor Inst. Consumidor

E ra um homem sempre sorridente, sempre com um gesto simpático, na

casa dos 60 e picos, com traços bem compostos, ex-combatente, ex-emigrante, um bom conver-sador. Era um “expert” na sueca, lembro-me de o ouvir dizer, “nun-ca perco, simplesmente posso fi-car em segundo”.

Era o meu bom amigo Sr. Fer-nando. Ao ver a sua fotografia no Jornal, vi que tinha falecido. Re-cordei então o momento em que ele me ofereceu uma prenda. A prenda era um livro que tinha em sua posse há muitos anos e, aten-dendo a que não tinha filhos, con-siderou ser eu a pessoa ideal para ficar com ele. O gesto emocionou-me e responsabilizou-me.

O livro é de facto uma obra úni-ca, datado de 1802. Tem, portan-to, 207 anos e o autor é, simples-

mente, Bocage.Do livro retiro algumas qua-

dras que passo a transcrever na ín-tegra, pois considero que possuem um mensagem sempre actual.

Escolhi esta rima porque me faz lembrar as histórias do Sr. Fer-nando com a subtileza e ironia a elas adjacentes.

Como tal, resta-me fazer neste Natal o que ele gostava, um BRINDE À VIDA!

Hernâni Pinto Marco de Canaveses

In Rimas de Manoel Maria DeBarbosa Du Bocage,

Dedicadas A’ Amizade

No tempo, em que inda fallavãoOs animaes como a gente,He tradição que tiverãoConferencia em caso urgente.

O burro, que, não sei como,Se introduzio no conselho,Quis, fingindo-se estadista,Tambem metter seu bedelho.

Eis n`um tom, que differiaBem pouco do que hoje he zurro,Foi revolvendo a questão,Discreteou como hum burro.

Depois de lhe ter ouvidoAlguns conceitos de arromba,O carrancudo elefanteLhe disse, torcendo a tromba:

“ Esse tempo, que tens gasto“ Inutilmente em clamar,“ Insensato, não podias“ Aproveitallo em pastar? “ Vens affectar eloquencia,“ Animal servil, e adjecto!“ Hum tolo nunca he mais tolo,“ Que quando quer ser discreto.

“O ELEFANTE, E O BURRO”

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Page 26: Repórter do Marão

Das muitas alterações constantes do Novo Acordo Ortográfico, as que respei-tam ao hífen figuram entre as mais vezes citadas, com destaque para o «desbaste» a que é sujeito nas formas monossilábi-cas do presente do indicativo do verbo haver.

Hei de, há de, hás de e hão de são as novas grafias daquele que é talvez um dos mais maltratados verbos da língua portuguesa.

Ocorre perguntar porquê o corte do hífen? Ajudará a pôr cobro a atropelos do tipo «hádes» (em vez de hás-de) ou «hádem» (no lugar de hão-de)?

Nada disso. A razão, como se lê na Nota Explicativa do Acordo, é a seguin-te: «nestas formas verbais, o uso do hí-fen não tem justificação, já que a pre-posição ‘de’ funciona ali como mero elemento de ligação ao infinitivo com que se forma a perífrase verbal (cf. hei de ler, etc.), na qual ‘de’ é mais proclítica do que apoclítica».

Não é tudo: o hífen cai mais ve-zes. Cai, por exemplo, quando o prefi-xo de uma palavra termine em vogal e o elemento seguinte comece por r ou s - casos em que se dobra a consoan-te (contrarregra, semirracional, mi-crossistema) - e cai quando o prefixo termina em vogal e o elemento inicial da segunda palavra é uma vogal dife-rente (antiaéreo, extraescolar).

Mas não cai sempre. Continua, por exemplo, com a abóbora-menina, a er-va-doce, o bem-estar, a sem-cerimónia, o pé-de-meia...

Também muito citadas, pelo seu «peso» no Acordo, têm sido as consoan-tes mudas ou não articuladas, c e p, em sequências consonânticas como cc, cç, ct, pc, pç, pt.

Há quem fale de «massacre» para qualificar a razia a que são sujeitas. E há quem a este argumento contraponha o de «limpeza», de «cosmética» pura e simples.

Na verdade, há, no tratamento apli-cado, soluções «para todos os gostos e dizeres». Assim:

1 - Conservam-se «nos casos em que são invariavelmente proferidas nas pro-núncias cultas da língua» (ex: compacto, friccionar, pacto, adepto).

2 - Saem de circulação «nos casos em que são invariavelmente mudas nas pro-núncias cultas da língua» (abstracionis-mo, otimismo, objeto, ação, coleção, ati-vo, excecional).

3 - Saem ou não, facultativamente, «quando se proferem numa pronúncia culta» ou «quando oscilam entre a prola-ção e o emudecimento» (aspecto/aspeto, cacto/cato, recepção/receção).

As duplas grafias - para os oposito-res, uma das áreas de maior debilidade e perigo do Acordo - acontecem ainda noutros passos. Na acentuação gráfica, por exemplo.

Atentas as variações de pronúncia de um lado e do outro do Atlântico, são aceites duas variantes. Entre muitos exemplos possíveis: em Portugal, «aca-démico», «gémeo», «polémico», no Bra-sil, «acadêmico», «gêmeo», «polêmico».

Do lado brasileiro, desaparecem o trema, usado em palavras como «aguen-tar» e «frequente», o acento agudo em palavras com o ditongo «ei» como síla-ba tónica («plateia», «assembleia») e o acento circunflexo em palavras como «abençoo» e «voo».

A facultatividade é um dos «cavalos de batalha» dos opositores do Acordo, que preveem e temem uma geral confu-são no reino da escrita e lembram que o Acordo de 1945 rejeitava liminarmente as «grafias duplas ou facultativas».

Não deixando de recusar a nova Norma no seu todo, perguntam os opo-sitores se a rejeição expressa no Acor-do de há 64 anos não seria a opção mais razoável, a que mais contribuiria para «unidade essencial da língua» que se aponta como objectivo.

Os dados estão lançados. A seu tem-po se saberá o que mais vai pesar na ba-lança: os benefícios que os apoiantes dão como certos ou os danos que os oposito-res temem como prováveis. Até um pró-ximo (des)acordo.

repórterdomarão26 28 Dez a 11 Jan’10

I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I crónica|diversos

Maria e JoséEste é último Natal, José

Manuel. Juro que este é último ano que vou à tua terrinha pas-sar o Natal .

Estás farto de saber, José Manuel , que eu sempre fiz esse sacrifício por causa das meni-nas. Aquilo é um frete de todo o tamanho. Ai, José Manuel aqui-lo é um suplício que dura há tan-to tempo e custa tanto a passar.

Todos os anos, mal vem o De-zembro, lá começas tu com a la-dainha: temos de lá ir, temos de lá ir, se não parece mal, é feio, é muito desagradável.

E todos anos, para que não pareça mal, e para que reine a paz na tua família, eu, que de-testo aquela casa, aquela ter-ra e aquela gente, tenho de sair de minha casa, tenho de me me-ter num carro que nos leva por aquelas curvas e contra-curvas que me fazem uma dor de cabe-ça horrorosa e põem as meninas enjoadas. A mais nova, coitadi-nha, fica tão mal que só não vo-mita as tripas porque não pode.

É bem desgraçada a terra onde nasceste, José Manuel. É fria, é desagradável, nos cami-nhos há montanhas de bosta das vacas, ou dos bois, ou das cabras, ou esses animais todos, e chei-ra mal. É bem atrasada a ter-ra onde nasceste, José Manuel. Sinceramente, não consigo per-ceber como é que tu ainda gos-tas disto. Impressionante, sin-ceramente. Eu quando ponho os pés naquele chão fico logo a tremer de frio. E a casa dos teus pais é tão fria, é tão antiga, é tão desagradável. Cheira a mofo e a naftalina, e a velas acesas, é um cheiro estranho. E o quartinho onde nós ficamos naquela noite é tão pequenino, tão húmido, tão frio. Um horror.

Eu chego lá e as tuas ir-mãs põem-se a olhar para mim de esguelha, manhosas, mui-to caladas, cochicham nas mi-nhas costas, sorriem umas com as outras, e eu bem percebo que estão a gozar com a minha rou-pa, com os meus sapatos mui-to caros, com o corte e a cor do meu cabelo, com a minha ma-neira de estar. Dá-me vonta-de de lhes dizer; não cochichem que parece mal, os vossos sor-risos estoiram-me com os ner-vos. Por vossa causa, suas ton-tas, vou ter de tomar um valium para cair na cama e dormir como uma pedra.

Eu sei que estão nos vossos terrenozinhos patuscos, eu sei que estou a mais no vosso cas-telo, eu sei que não gostam de mim porque ganho bem, vivo bem, faço férias onde quero, já estive no México, em Cuba, no Brasil, na Tunísia, em Cabo Verde, no Dubai. E viajo sem-pre em executiva, porque tem outro conforto, muito mais es-paço para estender as pernas, mais classe. E tenho um car-ro que arranca suspiros a mui-ta gente.

Entro naquela casinha e penso para os meus botões: que estás aqui a fazer, Maria! Vai embora, Maria. Mas nunca vou, por causa das meninas conhece-rem alguma família. Por isso ali fico à espera que o tempo passe. Sorrio para toda a gente, tento ser prestável, muito educada, mostrar-me atenta e interessa-da. O que aquela gente papa-gueia. Falam de coisas que não me interessam, que nem conhe-ço.

Depois, sentam-se à mesa, enchem os pratos até ao tecto, e comem como alarves, e bebem como esponjas.

Cada vez falam mais alto, bebem vinho do Porto, bebem champanhe, bem whisky, be-bem bagaço, e voltam a comer e voltam a beber, e depois arro-tam, riem-se muito, e mostram os dentes cariados. E se eu não te beliscasse tu fazias o mesmo, voltas a ser troglodita.

As meninas olham para mim, e eu mando-lhes um sorriso. Elas, como são inteligentes, en-tendem muito bem que lhes es-tou a dizer para terem paciên-cia. Faltam poucas horas para que tudo volte à normalidade.

[email protected]

António Mota

Fico à espera que o tempo passe. Sorrio

para toda a gente, tento ser prestável, mostrar-

me atenta e interessada. O que aquela gente

papagueia. Falam de coisas que não

me interessam,que nem conheço.

Acordo Ortográfico - O hífen, os acentos, as duplas grafias

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cartoon | nós repórterdomarãoI I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

2728 Dez a 11 Jan’10

Cartoons de Santiagu[Pseudónimo de António Santos]

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José Saramago2009

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