Releituras de Jane Austen nos Mangás Femininos Japoneses
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Prof.ª Dr.ª Valéria Fernandes da Silva
Releituras de Jane Austen no Mangás Femininos Japoneses
Jane Austen no Japão
O Japão começou sua abertura para o Ocidente com a chamada Restauração Meiji (1868).
A nova era trouxe um impulso à modernização tecnológica e cultural nos moldes ocidentais.
Autores europeus e norte americanos foram traduzidos para o japonês ainda no século XIX com grande sucesso.
Jane Austen, no entanto, esperou até 1926 para ser traduzida e a obra escolhida foi Orgulho & Preconceito.
Jane Austen no Japão
Orgulho & Preconceito já gozava de prestígio entre as elites intelectuais japonesas antes da sua tradução, graças ao trabalho do escritor e especialista em literatura inglesa Natsume Sōseki.
Sōseki associou Jane Austen ao ideal de “boa esposa, mãe sábia” que servia de diretriz para a educação feminina durante a Era Meiji e Taishō.
Nogami Toyoichirou, o tradutor, e sua esposa, a escritora Nogami Yaeko, foram discípulos de Sōseki.
Jane Austen no Japão
Nogami Yaeko (1885-1985) foi a primeira a trazer Austen para o grande público japonês. Seu romance Machiko é considerado uma releitura politizada de Orgulho & Preconceito.
Em Machiko, uma jovem moderna questiona o sistema de casamentos arranjados e deseja uma carreira.
Como Elizabeth Bennet, Machiko precisa lidar com três pretendentes: um rico e orgulhoso; outro revolucionário e libertino; e o último formal e frio.
Jane Austen na Cultura Pop Japonesa
Após a II Guerra (1939-45), multiplicaram-se as traduções de obras de Jane Austen, assim como suas adaptações serializadas em revistas populares e outras mídias.
No entanto, de todas as obras da autora, é Orgulho & Preconceito a mais conhecida no Japão.
Suas adaptações e releituras para a TV, cinema e teatro, garantiram ampla difusão tanto da história original, quanto das suas protagonistas, Darcy e Elizabeth.
Jane Austen na Cultura Pop Japonesa
Sucesso com o público feminino, Orgulho & Preconceito foi transportado para dois formatos muito populares no Japão: o shoujo mangá (quadrinhos femininos) e o Teatro Takarazuka.
O Japão é o único mercado de quadrinhos no mundo no qual uma fatia considerável é voltada para o público feminino de todas as idades.
Outra singularidade é que boa parte dos mangás produzidos para este público é feito por mulheres e publicado em revistas femininas.
Jane Austen na Cultura Pop Japonesa
Houve dois tipos de apropriação de Orgulho & Preconceito pelas autoras de quadrinhos japoneses.
A mais comum é a que utiliza as linhas gerais da história, especialmente o relacionamento entre Darcy e Elizabeth, e algumas personagens.
A outra forma é a transposição da obra original para o formato mangá.
Neste caso, percebe-se, também, o diálogo com as adaptações de Orgulho & Preconceito para cinema e TV da obra.
Referências, Releituras e Homenagens Orgulho & Preconceito
(Kouman to Henken) foi adaptado para mangá por Reiko Mochizuki em 2009.
Em dois volumes, a obra tenta transpor o original, para mangá, utilizando como referência visual a série da BBC de 1995 e o filme de 2005.
Referências, Releituras e Homenagens
A releitura em formato mangá mais conhecida e bem sucedida de Orgulho & Preconceito é Hana Yori Dango (1992-2003).
A série foi adaptada para animação, novela televisiva e cinema.
Hna Yori Dango, de Yoko Kamio, é o shoujo mangá mais vendido de todos os tempos.
Em forma de romance escolar, temos uma heroína pobre e corajosa, que se torna alvo da atenção e, depois do afeto, de um rapaz rico e arrogante.
Referências, Releituras e Homenagens
Hana Yori Dango permite identificação imediata com Orgulho & Preconceito: a heroína, Tsukushi Makino, é Elizabeth Bennet; Tsukasa Doumyouji é um Mr. Darcy; a mãe de moça é a Sr.ª Bennet, interessada em um casamento vantajoso, já a mãe de Tsukasa é Lady Catherine De Burgh capaz de tudo para separar o casal.
Referências, Releituras e Homenagens
Outras referências são menos explícitas, em Glass Mask, de Suzue Miuchi, série iniciada em 1976, a relação entre a protagonista, Maya Kitajima, e Masumi Hayami é em Orgulho & Preconceito.
Glass Mask já vendeu milhões de cópias e foi adaptado para animação e novela mais de uma vez.
Referências, Releituras e Homenagens
A relação entre as obras foi percebida de imediato quando a primeira animação foi exibida na França, e o nome de Masumi foi mudado para Maxime Darcy.
Maya e Masumi se desentendem em público, ela o considera arrogante e cruel, ele a trata com desdém, mas, em segredo, a protege e auxilia sua carreira como atriz.
Referências, Releituras e Homenagens
Em 2012, o teatro Takarazuka, encenou uma adaptação de Orgulho & Preconceitocom o nome de Angel’s Ladder (Tenshi no Hashigo).
O Takarazuka Revue foi fundado em 1913. Em suas peças todos os papéis são interpretados por mulheres. Orgulho & Preconceito foi a primeira obra de Jane Austen adaptada pela Revue.
Considerações Finais Orgulho & Preconceito fascina os japoneses desde o
início do século XX sendo identificado, ora, com a propaganda estatal da mulher ideal, ora, às mulheres modernas que buscavam novos horizontes.
Dos círculos intelectuais a obra migrou para a cultura pop, conseguindo grande êxito entre as produções feitas para o público feminino.
Mesmo 200 anos depois de seu lançamento, Orgulho & Preconceito se mantém capaz de romper barreiras culturais permitindo múltiplas interpretações e apropriações.