Reformador Outubo / 2008 (revista espírita)
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R$ 5,00
ISSN 1
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F E D E R A O E S P R I T A B R A S I L E I R A
Ano 126 N 2.155 Outubro 2008D EUS , CR I S TO E CAR I D ADE
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Fundada em 21 de janeiro de 1883
Fundador: Augusto Elias da Silva
Revista de Espiritismo CristoAno 126 / Outubro, 2008 / N o 2.155
ISSN 1413-1749Propriedade e orientao daFEDERAO ESPRITA BRASILEIRADiretor: NESTOR JOO MASOTTIEditor: ALTIVO FERREIRARedatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO
CESAR PERRI DE CARVALHO, EVANDRONOLETO BEZERRA E LAURO DE OLIVEIRA SO THIAGO
Secretrio: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRAGerente: ILCIO BIANCHIGerente de Produo: GILBERTO ANDRADEEquipe de Diagramao: SARA AYRES TORRES, AGADYR
TORRES PEREIRA E CLAUDIO CARVALHOEquipe de Reviso: MNICA DOS SANTOS E WAGNA
CARVALHO
REFORMADOR: Registro de publicao no 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Pol-cia Federal do Ministrio da Justia),CNPJ 33.644.857/0002-84 I. E. 81.600.503
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Projeto grfico da revista: JULIO MOREIRA
Capa: AGADYR TORRES PEREIRA
Editorial
Bons e maus pensamentos
Entrevista: Rosa Maria da Silva Arajo
O Espiritismo no Piau
Presena de Chico Xavier
Fixao mental Francisco de Menezes Dias da Cruz
Esflorando o Evangelho
Na cruz Emmanuel
A FEB e o Esperanto
Rssia Espiritismo nas asas do Esperanto...
Affonso Soares
Viso do cimo Amaral Ornellas
Seara Esprita
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SumrioExpediente
PARA O BRASIL
Assinatura anual R$ 39,00Nmero avulso R$ 5,00
PARA O EXTERIOR
Assinatura anual US$ 35,00
Assinatura de Reformador: Tel.: (21) 2187-8264 2187-8274
E-mail: [email protected]
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Religio e Cincia Juvanir Borges de Souza
A fora da psicologia pr-natal Carlos Abranches
A misso e o missionrio
Para lidar com obsessores Richard Simonetti
Causas da obsesso Allan Kardec
Telepatia (Capa) Christiano Torchi
Subsdios para o aperfeioamento das Instituies
do Movimento Esprita Antonio Cesar Perri de Carvalho
Em dia com o Espiritismo A criao dos seres vivos
e do homem Marta Antunes Moura
Divina slaba Americano do Brasil
As moradas do Pai luz do Consolador
A. Merci Spada Borges
Lanamento do filme Bezerra de Menezes
Divaldo Franco na FEB-Rio
FEB na 20 Bienal do Livro de So Paulo
Cristianismo Redivivo O candidato a discpulo
Haroldo Dutra Dias
Notcias do III Encontro Nacional de Coordenadores
do ESDE
Importncia e objetivo do ESDE Ceclia Rocha
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Editorial
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studando o assunto relacionado com a influncia oculta dos Espritos em
nossos pensamentos e atos, na questo 467 de O Livro dos Espritos (Ed.
FEB), Allan Kardec pergunta: Pode o homem eximir-se da influncia dos Es-
pritos que procuram arrast-lo ao mal? E os Espritos superiores respondem: Pode,
visto que tais Espritos s se apegam aos que, pelos seus desejos, os chamam, ou aos
que, pelos seus pensamentos, os atraem.
Em seguida, na questo 469, indaga: Por que meio podemos neutralizar a influn-
cia dos maus Espritos?, recebendo a seguinte resposta: Praticando o bem e pondo
em Deus toda a vossa confiana, repelireis a influncia dos Espritos inferiores e
aniquilareis o imprio que desejem ter sobre vs. Guardai-vos de atender s suges-
tes dos Espritos que vos suscitam maus pensamentos, que sopram a discrdia
entre vs outros e que vos insuflam as paixes ms. [...].
Observa-se, com base neste dilogo de Allan Kardec com os Espritos superiores,
que a causa dos problemas decorrentes da influncia dos Espritos em nossas vidas
est em ns mesmos. E a soluo desses problemas, tambm. Depende, apenas, do
pensamento correto e da atitude adequada que nos cabe adotar.
Quando soubermos direcionar o nosso pensamento sempre no sentido da prti-
ca do bem, cultivando permanentemente a fraternidade, o amor ao prximo, o res-
peito ao nosso semelhante e o propsito sincero de nos aprimorar cada vez mais,
intelectual e moralmente, estaremos pela lei de afinidade que rege o relaciona-
mento entre Espritos encarnados e desencarnados , atraindo a presena dos Es-
pritos superiores e bons e afastando os Espritos inferiores e maus.
exatamente em razo desta realidade que Jesus asseverou em seu Evangelho:
Vigiai e orai, para no cairdes em tentao. (Marcos, 14:38.)
E
Bons e mauspensamentos
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s estudiosos e seguidoresda Doutrina Esprita sa-bem que ela, em sua gran-
de abrangncia, contm ensinosreligiosos e outros de carter cien-tfico e filosfico.
natural que a Nova Revelao,oriunda da Espiritualidade supe-rior, abranja todos os aspectos re-presentativos tanto dos sentimen-tos mais elevados dos seres huma-nos, quanto de seus mais variadosconhecimentos sobre si mesmos esobre todas as coisas que os cercam.
Mas a Doutrina Consoladora foimuito mais alm, comprovando acontinuidade da existncia nosmundos espirituais, onde a vidasegue, aps a denominada morte,que apenas a cessao da ligaoda essncia espiritual com a mat-ria orgnica, no mundo material.
Ficaram assim confirmadas: aimortalidade dos seres espirituais,aceita por diversas religies; a li-gao das esferas espirituais comos mundos materiais; e uma sriede conseqncias ensinadas pelasreligies, mas s comprovadas pe-lo Espiritismo.
Cita Carlos Imbassahy, em seu
livro Religio, um trecho retiradodo opsculo intitulado El Cristia-nismo afrontando los problemas
de la humanidad, escrito por umadepto protestante, que bem ilus-tra a concordncia de diversasidias religiosas, e a confirmao
ou a retificao de algumas delaspelo Espiritismo, o Consoladorprometido e enviado por Jesus.
Eis o trecho referido:
Damos as boas-vindas e acei-
tamos qualquer qualidade no-
bre de pessoas ou sistemas no
cristos, como uma nova prova
de que o Pai Celestial, que en-
viou o seu Filho a este mundo,
no permitiu, em parte alguma,
que deixem de existir testemu-
nhos que testifiquem dele.
Sem procurar fazer uma snte-
se desses sistemas e s para de-
monstrar como apreciamos os
valores espirituais de outras re-
ligies e crenas, reconhecemos
como parte da verdade supre-
ma esse sentido da majestade
de Deus e, como conseqncia,
essa reverncia no culto, que so
to notveis no islamismo; a
profunda simpatia pela dor que
fustiga a humanidade, assim co-
mo os esforos altrusticos por
dela se libertar, que constitui o
cerne do budismo; o desejo de es-
tar em contato e comunho com
a Realidade suprema e ltima,
OJU VA N I R B O RG E S D E SO U Z A
CinciaReligio e
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concebida como algo espiritual,
que to predominante no hin-
dusmo; a crena em uma ordem
universal e moral e, como resul-
tado, a insistncia na conduta
moral, que to eficazmente incul-
ca o confucionismo; as investiga-
es desinteressadas e os esforos
por encontrar a verdade e por au-
mentar o bem-estar humano, que
soem ser to evidentes em todos
aqueles que se dedicam civiliza-
o secular, mas que no aceitam
o Cristo como Salvador e Senhor.
Fazemos em especial um cha-
mamento ao povo judaico, cujas
escrituras fizemos nossas, dos
quais nos veio o Cristo segundo
a carne, para que abram seus
coraes e volvam o olhar para
esse Senhor, em quem se cum-
pre a esperana de sua nao, sua
mensagem proftica e seu zelo
pela santidade. (Op. cit., Pala-
vras preliminares, Ed. FEB.)
Quem escreveu o texto acimatranscrito no era esprita, masum adepto da Reforma protestan-te, que acreditava nos ensinos eexemplos do Cristo e tinha seucorao aberto para os mais ele-vados sentimentos em relao atodas as criaturas, independente-mente da religio que professam.
Entendeu ele o amor ao prxi-mo como a si mesmo, conformeas lies de Jesus, sem excluso denenhuma criatura humana, pormais diferentes sejam sua crena,seus princpios, sua nacionalidade.
a solidariedade, o amor, na suamxima significao e amplitude, talcomo aprendemos no Evangelho.
tambm a expresso daqueleque busca o Espiritismo, em ummundo que ainda est longe de en-tender a mensagem do Consolador,em toda a sua significao e pure-za com que os Espritos revelado-res o apresentaram aos homens.
lgico e intuitivo que as reli-gies que buscam entender e pra-ticar as leis de Deus, o Criador doUniverso, tm como objetivo, an-tes de tudo, conhec-las para vi-venci-las.
Entretanto, as imperfeies hu-manas levam muitos religiosos sinterpretaes infelizes e presun-o de certeza e infalibilidade, dis-torcendo a realidade e a verdade.
O que se observa neste mundo o exclusivismo, o combate deidias e a incompreenso entre osadeptos de diferentes crenas, oque torna difcil, impossvel mes-mo, o cumprimento de suas fina-lidades essenciais.
No se pode negar que j tem ha-vido algum progresso nas relaese no entendimento entre religiososde diferentes cultos. Mas est aindalonge o ideal a ser atingido, em quepredomine o amor, a solidariedade,a compreenso, a humildade, sobrea ignorncia, os interesses imediatis-tas e a presuno de superioridade.
No que compete ao Espiritis-mo, como religio, sua tarefa estexpressa no conjunto da DoutrinaConsoladora, cabendo-lhe os es-clarecimentos de ordem moral-in-telectual, dirigindo-se ao coraohumano e apelando aos sentimen-tos nobres de cada ser, sem preju-zo da preocupao constante coma educao, em seu sentido amplo,
e com os conhecimentos teis e va-riados de todas as cincias que seocupam da matria e do esprito.
Sem presuno infundada, arealidade que a Doutrina Esprita o Consolador que, em seu con-junto, projeta claridades nos que acompreendem e, sem dvida, elaa revelao divina prometida porJesus h dois mil anos.
Como ensina Kardec, a crena um ato de entendimento que, porisso mesmo, no pode ser imposta.
Cada religio pretende ter ex-clusividade sobre a verdade.
O Espiritismo preconiza o co-nhecimento como base da verda-deira f, unindo-a razo esclare-cida, excluindo assim a f cega.
Para a Doutrina Esprita, Deus o Criador incriado, eterno, a in-teligncia suprema, causa prim-ria de todas as coisas. Deus Esp-rito, como afirmou Jesus.
Cincia o conhecimento or-ganizado obtido mediante a ob-servao e a experincia dos fatos,atravs de mtodos apropriados.
Pode ser entendida tambmcomo a soma dos conhecimentosque servem a determinada finali-dade, ou o conjunto dos conheci-mentos humanos.
Dois so os elementos constituti-vos do Universo: esprito e matria.
Em um mundo material, como aTerra, era natural que seus habitan-tes se impressionassem e se interes-sassem, antes de tudo, pelo elemen-to material, por ser ele facilmenteperceptvel aos rgos do corpo hu-mano, tambm da mesma natureza.
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J o elemento espiritual, no im-pressionando diretamente os sen-tidos materiais, pela sua sutileza,seno em situaes especiais, sem-pre foi de muito mais difcil per-cepo e por isso negado e des-prezado, atravs dos milnios.
Ainda na atualidade subsistemcincias e cientistas, assim como fi-losofias, que no admitem a exis-tncia do Esprito, apesar do pro-gresso alcanado pela Humanida-de, que trouxe a comprovao ine-gvel no somente da existncia doelemento espiritual, mas tambmde sua importncia superior damatria, j que o elemento quesubsiste sempre na eternidade.
Infelizmente, a maioria doscultores das diversas cincias, emnosso mundo, so materialistas,mas se nota que pelo menos umaminoria deles j despertou para arealidade do esprito presente emtodo o Universo.
O progresso, lei divina, abran-gente de toda a Criao, modificar,com certeza, o equvoco do mate-rialismo, que foi muito mais domi-nante no passado que na atualidade.
So chegados os tempos emque religies e cincias, as duasalavancas dos bons sentimentos,da inteligncia e dos conhecimen-tos dos homens, em campos dife-rentes mas visando ambas a con-quista das verdades, unir-se-o pa-ra o aperfeioamento equilibrado,individual e coletivo.
Os que crem somente no quepertence ao mundo material aindavo negar, por algum tempo, umacincia nova que explica e comprovaa existncia de uma realidade porta-
dora de conhecimentos comprova-dos, os quais nenhuma filosofia pu-dera compreender e explicar: o Espi-ritismo ou Doutrina dos Espritos.
Essa Doutrina revelada pelosEspritos, tendo frente o Espri-to da Verdade, abre, com seus en-sinos e comprovaes, uma novaperspectiva de extrema amplitudepara toda a Humanidade, atual efutura, pelas novas revelaes quetraz a respeito da vida.
Como tudo que consideradonovidade, a Doutrina Esprita, reve-lada nos meados do sculo XIX, en-controu muitos opositores nas re-ligies tradicionais, nos materialis-tas e niilistas, e nos cientistas que saceitam a matria como realidade.
Entretanto, a prevalncia da ver-dade sobre os enganos e iluses,de acordo com as leis naturais, uma questo de tempo, uma vezque a Humanidade se renova cons-tantemente, no somente em de-corrncia da lei da reencarnao,mas tambm em virtude do pro-
gresso e da evoluo das idias,com a prevalncia do superior so-bre o inferior, conforme demonstraa histria do homem no mundo.
Como adverte Allan Kardec, naIntroduo, item VII, de O Livrodos Espritos:
Quando as crenas espritas se
houverem vulgarizado, quando
estiverem aceitas pelas massas
humanas [...] com elas se dar o
que tem acontecido a todas as
idias novas que ho encontra-
do oposio: os sbios se rende-
ro evidncia. L chegaro,
individualmente, pela fora das
coisas. [...] Enquanto isso no
se verifica, os que, sem estudo
prvio e aprofundado da mat-
ria, se pronunciam pela negati-
va e escarnecem de quem no
lhes subscreve o conceito, es-
quecem que o mesmo se deu
com a maior parte das grandes
descobertas que fazem honra
Humanidade. [...]
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pequeno Olivier tem ape-nas dois meses, mas jenfrenta a angstia de se
ver no meio de uma deciso dra-mtica.
Sua me tem muitos filhos e,por no dispor de meios paracriar mais um, decidiu do-lo. Obeb aguarda numa instituiofrancesa a data legalmente estabe-lecida pela legislao do pas paraque a adoo seja feita.
O prazo de espera correspon-de a um tempo definido pelasautoridades para que a me bio-lgica possa mudar de idia e vol-tar atrs em sua deciso, o que,no caso de Olivier, acaba noacontecendo.
Desde o momento em que foiconsiderado adotvel, comea-ram a aparecer sintomas estra-nhos no corpo do pequeno. Cros-tas impressionantes surgiram em
seu rosto e couro cabeludo. A pe-le comeou a descamar e as viasrespiratrias, a chiar fortemente.
Por no conseguirem lidar como novo quadro clnico do beb, osmdicos decidem chamar umapsicanalista. quando entra emcena Caroline Eliacheff, que vaimudar a existncia de Olivier, nomomento grave dos primeiroscontatos dele com a vida.
Este caso est narrado no livroCorpos que gritam.1 Eliacheff uma das psicanalistas mais reco-nhecidas dentro de um movimen-to que h cerca de trinta anos vemmudando o perfil do tratamentode crianas em fase pr e ps-natal.
A psicanlise de bebs e de re-cm-nascidos tem crescido sobre-tudo na Frana. Alm de Caroli-ne, outros profissionais, que tam-
bm integram o time de especia-listas nessa abordagem diferencia-da, so Myriam Szejer2 e Catheri-ne Druon na Frana, e RomanaNegri, na Itlia.
No Brasil, uma das maiores es-tudiosas do assunto a psiclogaclnica polonesa Joanna Wilheim,que veio para o pas ainda na in-fncia com os pais, durante a Se-gunda Guerra Mundial. Seu inte-resse por psiquismo pr-natal co-meou na dcada de 1960. Nosanos seguintes, a partir de umaexperincia pessoal com o psica-nalista indiano Wilfred Bion, pas-sou a investigar a presena de ins-cries traumticas pr-natais namente de crianas, adolescentese/ou adultos.
Seu interesse pelo tema levou-aa fundar, em 1991, a AssociaoBrasileira para o Estudo do Psi-quismo Pr e Perinatal (ABREP).
A fora dapsicologia
pr-natal
OCA R LO S AB R A N C H E S
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autora do livro O que Psicolo-gia Pr-natal,3 no qual me baseiopara escrever este artigo.
A chamada psicanlise de be-bs consiste em utilizar a palavrafalada com recm-nascidos, quan-do estes manifestam algum tipode sofrimento.
Nesta abordagem, o psicana-lista procura apreender, atravsdo relato que lhe fazem os paisou aqueles que cuidam do beb,o que em sua histria seja du-rante a vida intra-uterina, ou nahistria de sua famlia antes delevir-a-ser teria constitudo asmatrizes dos sintomas que eleapresenta.
Ao conversar com o beb, oprofissional d nome memriainstalada no seu corpo. Como oque existe na vivncia do recm--nascido uma dor, o psicanalistacoloca em seu lugar um significa-do, onde antes s existia o nodito, uma falta de palavras.
Entre os pressupostos mais im-portantes para a realizao dessetrabalho, esto a crena de que ocorpo guarda a memria de tudoque lhe ocorre, de que cada clulado corpo registra toda vivnciapr e ps-natal, e que os recm--nascidos (incluindo prematuros)sentem dor e merecem ser respei-tados em seus limites.
A Doutrina Esprita ressalta aimportncia de se considerar a me-mria prvia do ser como estru-tura fundamental de sua condio
existencial. O inconsciente deFreud a parte da atividade mentalque inclui os desejos e as aspiraesprimitivas ou reprimidas.
O Esprito Joanna de ngelisafirma que para a PsicologiaTranspessoal esse inconsciente oesprito, que se encarrega do con-trole da inteligncia fisiolgica esuas memrias campo perispiri-tual , as reas dos instintos e dasemoes, as faculdades efunes paranormais,abrangendo as me-dinicas.4
O EspritoAndr Luiz ana-lisa essa ques-to com pro-fundidade nolivro No MundoMaior,5 quandodialoga com o instru-tor Calderaro. O Benfeitorexplica que o ser humanotem, em sua constituio ce-rebral, como que um castelocom trs regies distintas, oucom trs andares, para me-lhor entendimento: [...] noprimeiro [esclarece Caldera-ro] situamos a residncia denossos impulsos automti-cos, simbolizando o su-mrio vivo dosservios realiza-dos; no segun-do, localizamos
o domiclio das conquistas atuais,onde se erguem e se consolidamas qualidades nobres que estamosedificando [no presente]; no ter-ceiro, temos a casa das noes su-periores, indicando as eminnciasque nos cumpre atingir [...].
Calderaro esclarece que [...]distribumos, deste modo, nos trsandares, o subconsciente, o cons-ciente e o superconsciente. Como
vemos, possumos, emns mesmos, o passado, o
presente e o futuro.5
Pode-se intuir comisso que o beb
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efetivamente car-rega em si, em suas
clulas, em seu corpo, o que trazno Esprito imortal, ou seja, todaa sua carga de verdades pessoaisque lhe evidenciam a evoluo. Sea Cincia est se instrumentali-zando para acessar esses dados,tanto melhor para todos, que fica-ro face a face cada vez mais rapi-damente com a verdade da pre-existncia do Esprito e sua totalinfluncia nas condies de sadedo corpo, tanto no aspecto fsicoquanto no emocional.
Olivier chegou para a consultacom Eliacheff nos braos da ber-arista que cuidava dele. Depoisde se inteirar mais a fundo do ca-so, a doutora disse a ele o quantosua me lhe queria bem. Ressaltouque a opo que ela tomou de dei-x-lo para adoo foi para ofere-cer-lhe oportunidades de vidamelhores do que as que ela lhepoderia dar.
A terapeuta afirmou ain-da que, para que ele fosseaceito pela sua famlia de ado-o, precisava mudar de pe-
le a fim de recuperar a sadee iniciar uma nova etapa na
vida.Aps uma semana desse con-
tato, Olivier retornou ao atendi-mento. Sua pele estava totalmen-te curada, mas a respirao haviase tornado mais ruidosa do queantes. Caroline se dirigiu ao be-b, acariciando o seu umbigo edizendo-lhe:
Quando voc estava noventre de sua me, voc no res-pirava. Sua me o alimentavaatravs da placenta qual vocestava ligado pelo cordo umbi-lical. Esse cordo chegava a nolugar onde est a minha mo. Elefoi cortado quando voc nasceu.Voc est respirando muito mal,talvez para reencontrar a suame de antes da separao,quando voc estava dentro dela e no respirava.
Depois de uma breve pausa,carregada de carinho e respeitopela condio do beb, a psicana-lista retomou a fala:
Se voc decidiu viver, nopode viver sem respirar. A suame de antes, voc a traz dentrode si, dentro de seu corao. No por voc ter respirado que a per-deu. No deixando de respirarque ir reencontr-la.
Quando terminou sua fala,Eliacheff constatou, abismada,tanto quanto a berarista, que arespirao do beb estava absolu-tamente normalizada!
Esse tipo de relato refora aprofunda sintonia da DoutrinaEsprita com as mais avanadaspesquisas da Cincia, sobretudoas que consideram a delicadaquesto da vida intra-uterina.
Em breve tempo, esperamosque os cientistas constatem que amemria, que por enquanto, pa-ra eles, mora no corpo, residena verdade em local mais pro-fundo, nas entranhas da consti-tuio espiritual.
Ela tem sua matriz no Espritoe se espraia clula a clula, comoimpacto direto das emanaes doperisprito.
Enquanto aguardamos o dom-nio dessa conscincia, aplaudimosos avanos cientficos da Psicolo-gia, inegavelmente importantespara a Humanidade, em que seresgata a grandeza do momentode chegada do Esprito a uma no-va encarnao.
Referncias:1ELIACHEFF, Caroline. Corpos que gritam.
So Paulo: Ed. tica, 1995.2WILHEIM, Joanna. O que psicologia
pr-natal. So Paulo: Ed. Casa do Psic-
logo, 1997.3SZEJER, Miriam. Palavras para nascer: a
escuta psicanaltica na maternidade. So
Paulo: Ed. Casa do Psiclogo, 1999.4FRANCO, Divaldo Pereira. Autodescobri-
mento: uma busca interior. Pelo Esprito
Joanna de ngelis. Salvador: LEAL, 1995.
p. 62.5XAVIER, Francisco C. No mundo maior.
Pelo Esprito Andr Luiz. 26. ed. Rio de
Janeiro: FEB, 2006. Cap. 3, p. 54; e cap. 4.
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Reformador: O Movimento Esp-
rita se estende por todo o Estado do
Piau? H quantos centros adesos
Federao?
Rosa: O Movimento Esprita sedesenvolve em 27 cidades doPiau, incluindo a Capital. H noEstado 57 centros espritas, dentreestes, 22 so unidos FederaoEsprita Piauiense (FEPI). H ain-da, na Capital, 2 Entidades Espe-cializadas (Associao Mdico--Esprita (AME-PI) e a Cruzadados Militares-Espritas (CME)), noInterior, mais 8 grupos de Estu-dos Espritas.
Reformador: Desde quando h
Movimento Esprita no Piau?
Como ele se desenvolve no
Estado?
Rosa: Existe Movimento Es-prita no Piau desde 1903,quando foi fundada, na ci-dade de Amarante, a primeiraInstituio Esprita do Esta-do, denominada Cen-tro Esprita F,
Esperana e Caridade. No Piau,o Movimento Esprita, que j con-ta com 105 anos, tem-se desen-volvido de forma lenta, em ter-mos de expanso no nmero decentros espritas; no entanto, vemcrescendo muito nos ltimostempos a preocupao pelo estu-
do e pela formao do trabalha-dor esprita. Temos intensificadoo trabalho federativo, realizando,na Capital e no Interior, reu-nies, cursos, seminrios, ofici-nas e encontros destinados aosdirigentes e trabalhadores espri-tas, para atualizao de conheci-mentos doutrinrios e aprimo-ramento das atividades bsicas
do Centro Esprita, de acordocom a nova edio de Orienta-o ao Centro Esprita.
Reformador: Existe alguma
caracterstica especial do Mo-
vimento Esprita no Piau?
Rosa: No Piau, no entendi-mento da maioria dos cen-tros espritas, unir-se Fe-derao Esprita Estadual
no constitui uma necessi-dade imprescindvel para o
desenvolvimento das ativida-des de Unificao do Movi-
mento Esprita. Os centros esp-ritas participam normalmen-
te das atividades federativas,
RO S A MA R I A DA S I LVA AR A J OEntrevista
O Espiritismono Piau
Rosa Maria da Silva Arajo, presidente da Federao Esprita Piauiense,comenta os esforos para se ampliar o trabalho pela unio e
fortalecimento do Movimento Esprita no Piau
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inclusive das reunies do Con-selho Federativo Estadual, e bus-cam, na FEPI, apoio e orientaopara o desenvolvimento de suasatividades. Mesmo respeitando es-sa idia, desenvolvemos um traba-lho de conscientizao e de con-quista junto a esses centros espri-tas, mostrando que, adesos Fe-derao Estadual, podemos nostornar mais unidos e mais fortale-cidos para garantir que o desen-volvimento das atividades de Uni-ficao do Movimento Esprita noEstado se torne mais eficaz e efi-ciente.
Reformador: E como anda a difu-
so do Espiritismo no Estado?
Rosa: A difuso do Espiritismo noPiau tem melhorado considera-velmente. Tem-se intensificado arealizao de eventos voltados pa-ra o estudo das obras da Codifica-o Esprita e para a divulgao daDoutrina nas casas espritas e emlocais pblicos no espritas. Te-mos conseguido mais espao nosmeios de comunicao. Em 2007implantamos um Programa deRdio na Capital, denominadoMensageiro de Luz, que vai ao arsemanalmente; firmamos conv-nio com a TV Assemblia do Piau Canal 16 (TV aberta) , para aexibio semanal, e retransmissodo Programa Terceira Revelao,da FEB, por um perodo de cincoanos. Na Internet, reativamos o si-te prprio da Federativa e criamosuma coluna esprita no Portal AZ.Para divulgar as atividades federa-tivas e dos centros espritas, im-plantamos um Boletim Informa-
tivo, com publicao bimestral edistribuio gratuita.
Reformador: Tem havido come-
moraes dos Sesquicentenrios no
Piau?
Rosa: Em comemorao ao Ses-quicentenrio de O Livro dos Esp-ritos, realizamos uma programa-o com atividades diversificadas,possibilitando o envolvimento detodos os que compem o Movi-mento Esprita no Piau, como:Ciclo de Palestras, Sesso Solenena Assemblia Legislativa do Esta-do, Distribuio de material dedivulgao, Exposio de bannerse posters sobre Kardec, Jesus e OLivro dos Espritos, encerrando ascomemoraes na FEPI com umTributo a Allan Kardec. Estamos,tambm, desenvolvendo, nos cen-tros espritas, um Ciclo de Pales-tras com o tema 150 anos da Re-vista Esprita e do Primeiro CentroEsprita do Mundo. Na oportuni-dade, divulgamos a promoo daColeo Revista Esprita, feita pe-la FEB, e efetuamos distribuio decartazes e folhetos alusivos ao Ses-quicentenrio da Revista Esprita.
Reformador: Como esto atuando
com o Plano de Trabalho para o
Movimento Esprita Brasileiro?
Rosa: Logo aps o Encontro sobreo Plano de Trabalho, realizado emFortaleza, com a equipe do Con-selho Federativo Nacional daFederao Esprita Brasileira, reu-nimos na FEPI os dirigentes e tra-balhadores dos centros espritas eapresentamos o Plano de Traba-lho para o Movimento Esprita
Brasileiro (2007-2012), aprovadopelo CFN. Orientamos os centrosespritas para elaborarem Projetosde adequao de suas atividadescom base no novo Orientao aoCentro Esprita. Estamos realizan-do um trabalho de acompanha-mento, visitando as casas espritase, na oportunidade, fornecemosmais orientaes e apoio para odesenvolvimento dos seus traba-lhos. No Plano de Ao 2008 daFederativa, programamos nossasaes fundamentadas nas Diretri-zes do Plano de Trabalho para oMovimento Esprita Brasileiro.
Reformador: Alguma mensagem
ao leitor de Reformador?Rosa: Agradecemos a oportuni-dade oferecida FEPI para apre-sentar nesta entrevista algumas in-formaes acerca do trabalho de-senvolvido pelo Movimento Es-prita do Piau. Continuamos fir-mes no propsito de trabalhar pe-la unio e pelo fortalecimento doMovimento Esprita em nosso Es-tado, respeitando sempre a auto-nomia administrativa e as pe-culiaridades das casas espritas.Consideramos sempre atual a li-o contida na mensagem Uni-ficao, de Bezerra de Menezes:O servio da unificao em nos-sas fileiras urgente, mas noapressado. Uma afirmativa pare-ce destruir a outra. Mas no as-sim. urgente porque define ob-jetivo a que devemos todos vi-sar; mas no apressado, porquan-to no nos compete violentar cons-cincia alguma (Reformador, dez.//1975, p. 11(275)).
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uando o Prof. HippolyteLon Denizard Rivail pre-senciou, pela primeira
vez, em maio de 1855, na casa daSra. Plainemaison, os fenmenosdas mesas girantes e de escritamedinica numa ardsia, sentiua seriedade do assunto e, depois,passando a freqentar as reuniessemanais na residncia da fam-lia Baudin, comeou a estud-loscom critrio cientfico, aplicando--lhes o mtodo experimental.
Compreendi, antes de tudo[afirma em suas memrias], agravidade da explorao que iaempreender; percebi, naqueles fe-nmenos, a chave do problemato obscuro e to controvertidodo passado e do futuro da Huma-nidade, a soluo que eu procura-va em toda a minha vida. Era, emsuma, toda uma revoluo nasidias e nas crenas [...].1
O Prof. Rivail questionou osEspritos, atravs da mediunida-de das Srtas. Baudin, acerca dosproblemas relacionados com a
Filosofia, a Psicologia e o mun-do espiritual, e quando o mate-rial reunido constitua um todoe ganhava as propores de umadoutrina, teve a idia de publicaros ensinos recebidos, para ins-truo de toda a gente.2 Desco-nhecia, contudo, a dimenso e osignificado do trabalho que vi-nha executando.
Somente em abril de 1856 cerca de um ano aps o incio desuas experincias , quando fre-qentava, tambm, as reuniesna casa do Sr. Roustan e da m-dium sonmbula Srta. Japhet,foi-lhe feita a primeira revelaode sua misso, ratificada, dias de-pois, pelo Esprito Hahnemann.
O Esprito Verdade confirma--lhe a misso, em 12 de junho de1856, fala-lhe do seu significadoe alerta-o sobre os percalos queenfrentar: [...] a misso dos re-formadores prenhe de escolhose perigos. Previno-te de que ru-de a tua, porquanto se trata deabalar e transformar o mundo in-teiro. No suponhas que te baste
publicar um livro, dois livros, dezlivros, para em seguida ficarestranqilamente em casa. Tens queexpor a tua pessoa.3
O Prof. Rivail no vacila diantedo quadro de dificuldades, perse-guies, calnias, traies, de queser alvo; aceita sem titubear amisso que lhe confiada e seentrega humildemente orao:Senhor! pois que te dignastelanar os olhos sobre mim paracumprimento dos teus desg-nios, faa-se a tua vontade! Estnas tuas mos a minha vida; dis-pe do teu servo.4
assim que o ilustre cidado eemrito educador Prof. Rivail saide cena, emergindo a figura not-vel de Allan Kardec, Codificadorda Doutrina Esprita o Conso-lador prometido por Jesus.
Fonte: Reformador Editorial da Edio
Comemorativa do Bicentenrio de Nas-
cimento de Allan Kardec (1804-2004)
de outubro de 2004, p. 4(362).
A misso e omissionrio
Q
1KARDEC, Allan. Obras pstumas. 34. ed.Rio de Janeiro: FEB, 2004. p. 268. 2Idem, ibidem. p. 270.
3Idem, ibidem. p. 282.
4Idem, ibidem. p. 283.
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o item 6, captulo X, de O Evangelho segundo o Es-
piritismo, comenta AllanKardec:
[] A morte, como sabemos,
no nos livra dos nossos inimigos;
os Espritos vingativos perseguem,
muitas vezes, com seu dio, no
alm-tmulo, aqueles contra os
quais guardam rancor; donde de-
corre a falsidade do provrbio que
diz: Morto o animal, morto o ve-
neno, quando aplicado ao ho-
mem. O Esprito mau espera que o
outro, a quem ele quer mal, esteja
preso ao seu corpo e, assim, menos
livre, para mais facilmente o ator-
mentar, ferir nos seus interesses,
ou nas suas mais caras afeies.
Nesse fato reside a causa da maio-
ria dos casos de obsesso [].
Essa observao de Kardec si-tua-se por incisivo libelo contraa pena de morte.
O condenado, transferido com-pulsoriamente para o mundo es-piritual, simplesmente se revesti-
ria de invisibilidade e passaria aperseguir os responsveis porsua condenao.
Embora sofrendo os horroresde uma morte violenta para aqual no tinha nenhum preparo,e apresentando desajustes varia-dos relacionados com seu com-portamento criminoso enquantovivo, ele tender a permanecerjungido vida fsica, predispostoa iniciativas de vingana, pr-prias de seu carter.
O ideal seria aplicar a sbiaorientao de Jesus (Mateus, 9:12):
No necessitam de mdico os
sos, mas, sim, os doentes.
O criminoso um doente moral.Deve ser tratado e no supos-
tamente eliminado.
Nas reunies medinicas dedesobsesso, causa perplexidadeo grande nmero de Espritosque exercem vingana por pre-juzos sofridos em pretrita exis-
tncia. Perseguem os respons-veis, impondo-lhes variados pro-blemas de sade fsica e psquica.
Parecem ter perdido o contatocom a realidade, dominados pelodesejo de revide, sem atentaremao passar do tempo, contabili-zando, no raro, dezenas de anose at sculos.
Localizam e assediam seus de-safetos com a inteno de sub-met-los a toda sorte de sofri-mentos e desajustes.
E quem mais digno de comi-serao?
O obsidiado, pela inconseqn-cia criminosa do passado, ou o ob-sessor, pela agressividade feroz dopresente?
O obsidiado, que ofendeu, ou oobsessor, que no soube perdoar?
O obsidiado, que colhe espi-nhos que semeou, ou o obsessor,que se dilacera nos propsitos devingana?
difcil lidar com um Espritonessa condio, fixado na idiade que seus desafetos, que tantoo fizeram sofrer, devem experi-
NR I C H A R D S I M O N E T T I
Para lidar comobsessores
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mentar sofrimentos mil vezesacentuados.
Intil racionalizar, dizendo-lheque responder por seus atos, queest sendo insensvel, que no estagindo de conformidade com asleis divinas.
impermevel aos apelos darazo.
Melhor evocar o corao.Lidei h pouco com uma si-
tuao dessa natureza.O obsessor mostrava-se irre-
dutvel na perseguio que exer-cia sobre um desafeto. Pretendiainduzi-lo ao suicdio.
O caso viera parar no atendi-mento fraterno do Centro, poriniciativa de um familiar, preo-cupado com o estado de abati-mento e desnimo do obsidiado.
E ali estava o algoz, conversan-do conosco no processo medini-co, alheio nossa argumentao.
De nada adiantou falar-lhedas conseqncias de seus atos,do crime que estava cometendo,dos sofrimentos que estava im-pondo a toda uma famlia, emnome do dio.
Em certo momento, justifi-cando-se, explicou:
Aquele de quem voc se com-padece um criminoso sem per-do. Na existncia passada ele foium coronel nordestino. Movidopela ambio, invadiu minhasterras, exterminou a mim e a todaa minha famlia, esposa e trs fi-lhos, e apossou-se de todos osmeus haveres. Estive a vagar semsossego por muito tempo. Agorao localizei nesta nova existncia epretendo fazer justia. Vou indu-
zi-lo ao suicdio e provocarei adesagregao de sua famlia.
A experincia ensinou-me queem situaes assim o primeiropasso captar a simpatia do ma-nifestante, concordando comseus propsitos.
Foi o que fiz. Sua revolta justa. O crime
que seu desafeto cometeu im-perdovel.
Ainda bem que concorda co-migo, porquanto no descansa-rei enquanto o miservel no pa-gar pelos seus crimes!
Desculpe, mas fico imagi-nando se valeu a pena ficar tantotempo dominado pelo dio, aponto de perder a prpria noodo tempo. Pelo que voc relatou,aquela tragdia aconteceu hmais de um sculo
Ainda que se passem muitossculos, no importa! Querovingana!
Ento, amigo leitor, veio o ape-lo do corao.
E a sua famlia? O que tem minha famlia? Mantm contato com a es-
posa e filhos? No, nunca mais os vi. No acha estranho, j que
desencarnaram juntos? Nada disso importa! Apenas
a justia! No sente saudades? No quero pensar nisso! Nunca procurou definir por
que no os encontra? Certamente esqueceram de
mim, seguiram seu caminho. E se eu lhe disser que men-
tores espirituais querem coloc--lo em contato com eles?
No acredito! Voc quer en-ganar-me!
verdade! Seus familiares tmprocurado aproximar-se, mas vo-c no os v, porquanto seus olhos
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esto obscurecidos pelo dio. Ago-ra meu irmo, surgiu a grande chan-ce. Aproveite! Esquea o passado!
O obsessor sensibilizou-se. Voc tem certeza de que os
reencontrarei? Fique tranqilo. O que devo fazer? Mentores espirituais conver-
saro com voc e lhe prometo queem breve reencontrar a famlia.Rendamos graas a Deus, cuja mi-sericrdia nos oferece infinitasoportunidades de reabilitao.
Em seguida orei, naquela evo-cao que parte do imo da almaquando nos sensibilizamos comas misrias alheias, rogando a Je-sus amparasse aquele nosso irmono seu propsito de renunciar vingana.
O mdium chorava, extrava-sando a emoo da entidade.
Mais uma vez o amor triunfa-ra sobre o dio.
A partir daquele dia a situaocomeou a mudar no lar do ex--obsidiado, livre da presso dotenaz perseguidor.
Sempre imagino, amigo leitor,como seria maravilhoso se puds-semos ter milhes de grupos me-dinicos, mundo afora, em condi-es de ajudar Espritos pertur-bados e perturbadores que enxa-meiam nosso mundo.
Teramos prodigioso sanea-mento em nossa psicosfera, me-lhorando em muito as condiesde vida na Terra.
Para os companheiros que li-dam com Espritos dessa natu-
reza, a recomendao de Jesus(Marcos, 9:29):
Esta casta no pode ser afasta-
da a no ser com orao e jejum.
A orao contrita e pura dequem est imbudo dos propsi-tos de servir e o jejum dos mauspensamentos, dos sentimentosinferiores, das ms palavras soiniciativas que sustentam a sin-
tonia vibratria com mentoresespirituais, fundamental ao su-cesso da doutrinao.
Vem deles a inspirao parauma ao capaz de sensibilizar emodificar as disposies dessesnossos irmos desajustados e in-felizes, mergulhados em vende-tas cruis.
Isso porque no sabem queo dio a negao do amor, leisuprema de Deus.
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16 Reformador Outubro 2008 374
s causas da obsesso variam, de acordo com o carter doEsprito. , s vezes, uma vingana que este toma de um indi-
vduo de quem guarda queixas da sua vida presente ou do tempode outra existncia. Muitas vezes, tambm, no h mais do que odesejo de fazer mal: o Esprito, como sofre, entende de fazer queos outros sofram; encontra uma espcie de gozo em os atormen-tar, em os vexar, e a impacincia que por isso a vtima demonstramais o exacerba, porque esse o objetivo que colima, ao passo quea pacincia o leva a cansar-se. Com o irritar-se e mostrar-se des-peitado, o perseguido faz exatamente o que quer o seu persegui-dor. Esses Espritos agem, no raro, por dio e inveja do bem; dao lanarem suas vistas malfazejas sobre as pessoas mais honestas.Um deles se apegou como tinha a uma honrada famlia do nossoconhecimento, qual, alis, no teve a satisfao de enganar.Interrogado acerca do motivo por que se agarrara a pessoas dis-tintas, em vez de o fazer a homens maus como ele, respondeu:estes no me causam inveja. Outros so guiados por um senti-mento de covardia, que os induz a se aproveitarem da fraquezamoral de certos indivduos, que eles sabem incapazes de lhes resis-tirem. Um destes ltimos, que subjugava um rapaz de intelignciamuito apoucada, interrogado sobre os motivos dessa escolha, res-pondeu: Tenho grandssima necessidade de atormentar algum;uma pessoa criteriosa me repeliria; ligo-me a um idiota, que nenhu-
ma fora me ope.
A
Fonte: O livro dos mdiuns. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. XXIII,
item 245.
Allan Kardec
Causas da obsesso
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nalisando, superficialmente embora, o pro-blema da fixao mental, depois da morte,convm no esquecer que a alma, quando
encarnada, permanece munida do equipamento fi-siolgico que lhe faculta o atrito constante com a na-tureza exterior.
As reaes contnuas, hauridas pelos nervos da or-ganizao sensorial, determinando a compulsriamovimentao do crebro, associadas aos mltiplosservios da alimentao, da higiene e da preservaoorgnica, estabelecem todo um conjunto vibratriode emoes e sensaes sobre as cordas sensveis damemria, valendo por impactos diretos da luta evo-lutiva no esprito em desenvolvimento, obrigando-oa exteriorizar-se para a conquista de experincia.
Esse exerccio incessante, enquanto a alma se de-mora no mundo fsico, trabalha o cosmo mental,inclinando-o a buscar no bem o clima da atividadeque o investir na posse dos recursos de elevao.
Como sabemos, todo bem expanso, crescimen-to e harmonia e todo mal condensao, atraso edesequilbrio.
O bem a onda permanente da vida a irradiar-secomo o Sol e o mal pode ser considerado comosendo essa mesma onda, a enovelar-se sobre si mes-ma, gerando a treva enquistada.
Ambos personalizam o amor que libertao e oegosmo, que crcere.
E se a alma no conseguiu desvencilhar-se, en-quanto na Terra, das variadas cadeias de egosmo,como sejam o dio e a revolta, a perversidade e a de-linqncia, o fanatismo e a vingana, a paixo e ovcio, em se afastando do corpo de carne, pela impo-sio da morte, assemelha-se a um balo eletromag-
ntico, pejado de sombra e cativo aos processos davida inferior, a retirar-se dos plexos que lhe garan-tiam a reteno, atravs da dupla cadeia de gngliosdo grande simptico, projetando-se na esfera espiri-tual, no com a leveza especfica, suscetvel de al-laa nveis superiores, em circuito aberto, mas sim com adensidade caracterstica da fixao mental a que seafeioa, sofrendo em si os choques e entrechoquesdas suas prprias foras desvairadas, em circuitofechado sobre si mesma, revelando lamentvel dese-quilbrio que pode perdurar at mesmo por sculos,conforme a concentrao do pensamento na desar-monia em que se compraz.
Nesse sentido, podemos simbolizar a vontade comosendo a ncora que retm a embarcao do espritoem seu clima ideal.
necessrio, assim, consagrar nossa vida ao bemcompleto, a fim de que estejamos de acordo com aLei Divina, escalando, ao seu influxo, os acumes daVida Superior.
E por isso que, encarecendo o valor da reencar-nao, como preciosa oportunidade de progresso,lembraremos aqui as palavras do Senhor, no verscu-lo 35, do captulo 12, no Evangelho do ApstoloJoo: Avanai enquanto tendes luz para que as tre-vas no vos alcancem, porque todo aquele que cami-nha nas trevas marchar fatalmente sob o nevoeiro,perdendo o prprio rumo.
Fonte: XAVIER, Francisco C. Instrues psicofnicas. 9. ed. Rio
de Janeiro: 2006. Cap. 60.
Fixaomental
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A
Presena de Chico Xavier
Pelo Esprito Francisco de Menezes Dias da Cruz
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ransmisso oculta dopensamento: esta foia expresso utilizada
por Allan Kardec (1804-1869)para designar o fenmeno datelepatia, termo que provavel-mente ainda no existia na pocaem que lanou O Livro dos Esp-ritos (1857), terminologia estaque teria sido proposta por Fre-deric W. H. Myers (1843-1901)em 1882, e adotada nos traba-lhos da Society for Psychical Re-search, de Londres. Myers, consi-derado um dos fundadores damoderna psicologia e psiquia-tria, assim a definiu:
Entendo por telepatia a trans-
misso do pensamento e das
sensaes feitas pelo Esprito de
um indivduo sobre outro sem
que seja pronunciada uma pa-
lavra, escrito um vocbulo ou
feito um sinal.1
Os Espritos, ao responderem auma indagao de Kardec, desig-
nam-na como telegrafia humana,profetizando que [...] ser umdia um meio universal de corres-pondncia.2
A telepatia pode dar-se, es-tando o Esprito acordado oudormindo. Acontece de encar-nado para encarnado, de de-sencarnado para desencarnado,de encarnado para desencarnadoe de desencarnado para encar-nado, dependendo da sintoniaou do tipo de pensamento ema-nado do Esprito.
Sem o pensamento fontecausal das manifestaes do Esp-rito, fenmeno por meio do qualeste cria e se relaciona com os de-mais seres no haveria telepatia.
Quem pensa no o crebroou o corpo fsico, mas sim o Es-prito, que alguns denominammente (psique, do grego), quefunciona maneira de estaoemissora e receptora, uma esp-cie de poderosa antena.
Sem o Esprito ou a alma bem disseram os benfeitores doespao , o corpo seria apenassimples massa de carne seminteligncia [...].3
O pensamento no um enteilusrio como costumamos ima-ginar; ele muito real. Ele a
fora sutil e inexaurvel do Esp-rito.4 Pensar irradiar... Quan-do pensamos, geramos [...] in-fracorpsculos ou [...] linhas defora do mundo subatmico,criador de correntes de bem oude mal, grandeza ou decadncia,vida ou morte, segundo a von-tade que o exterioriza e dirige.[...].5 Portanto, o pensamentopode ser nossa asa libertadora ounossa priso, pois somos o quepensamos.
O Esprito Andr Luiz, emmuitos de seus livros, reporta-se matria mental de baixa qua-lidade que prevalece na psicos-fera terrestre, produto da ema-nao coletiva dos pensamentosdos habitantes de nosso globo,ainda atrasado moralmente. Emuma dessas obras, colhemos asseguintes observaes, resultan-tes do dilogo entre dois Espri-tos, em visita crosta terrestre,numa grande cidade:
Esto vendo aquelas manchas
escuras na via pblica? [...]
....................................................
So nuvens de bactrias varia-
das. Flutuam quase sempre
tambm, em grupos compac-
tos, obedecendo ao princpio
Telepatia
T
CH R I S T I A N O TO RC H I
18 Reformador Outubro 2008 376
Capa
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das afinidades. Reparem aque-
les arabescos de sombra...
....................................................
[...] So zonas de matria men-
tal inferior, matria que expe-
lida incessantemente por certa
classe de pessoas. [...]6
Conscientes de que o pensamen-to fora criadora, estas informa-es no nos causam estranheza,justificando-se, com razo, o ad-gio: [...] quem pensa, est fazen-do alguma coisa alhures. [...].7
Muitas experincias cientfi-cas j demonstraram a realidadedos pensamentos e a possibili-dade de transmiti-los, telepati-camente, isto , independentedos rgos da fala ou indepen-dente da escrita ou de qualqueroutro meio de comunicao os-tensivo.
Se formos um pouco mais ob-servadores, constataremos que,freqentemente, estamos exerci-tando esta faculdade, mesmosem perceber, isto , de formainconsciente.
A propsito, Kardec perguntouaos imortais: Como se comuni-cam entre si os Espritos?. E a res-posta no se fez esperar:
Eles se vem e se compreen-
dem. A palavra material: o
reflexo do Esprito. O fluido
universal estabelece entre eles
constante comunicao; o ve-
culo da transmisso de seus
pensamentos, como, para vs, o
ar o do som. uma espcie de
telgrafo universal, que liga to-
dos os mundos e permite que
os Espritos se correspondam
de um mundo a outro.8
Lon Denis (1846-1927), oapstolo do Espiritismo, conti-nuador de Kardec, identifica ofenmeno da telepatia como re-bentos isolados da vida superiorno seio da Humanidade:9
A ao teleptica no conhece
limites; suprime todos os obst-
culos e liga os vivos da Terra aos
vivos do Espao, o mundo vis-
vel aos mundos invisveis, o ho-
mem a Deus; une-os da manei-
ra mais estreita, mais ntima.
Os meios de transmisso que ela
nos revela constituem a base das
relaes sociais entre os Espritos,
o seu modo usual de permuta-
rem as idias e as sensaes. [...]
....................................................
[...] O pensamento e a vontade
so a ferramenta por exceln-
cia, com a qual tudo podemos
transformar em ns e roda de
ns. Tenhamos somente pensa-
mentos elevados e puros; aspi-
remos a tudo o que grande,
nobre e belo. Pouco a pouco
sentiremos regenerar-se o nosso
prprio ser, e com ele, do mes-
mo modo, todas as camadas so-
ciais, o globo e a Humanidade!
E, em nossa ascenso, chegare-
mos a compreender e a praticar
melhor a comunho universal
que une todos os seres. [...].9
No poderamos deixar de citaraqui a prece, tida por Denis comouma das mais altas expresses datelepatia:
A prece uma invocao, me-
diante a qual o homem entra,
pelo pensamento, em comuni-
cao com o ser a quem se di-
rige. [...]
O Espiritismo torna com-
preensvel a ao da prece, ex-
plicando o modo de transmis-
so do pensamento, quer no
caso em que o ser a quem ora-
mos acuda ao nosso apelo,
quer no em que apenas lhe
chegue o nosso pensamento.
Para apreendermos o que ocor-
re em tal circunstncia, preci-
samos conceber mergulhados
no fluido universal, que ocupa
o espao, todos os seres, encar-
nados e desencarnados, tal qual
nos achamos, neste mundo,
dentro da atmosfera. Esse
fluido recebe da vonta-
de uma impulso; ele
o veculo do pen-
samento, como o
ar o do som,
com a dife-
rena de que
as vibraes
do ar so
circuns-
19Outubro 2008 Reformador 377
Capa
reformador Outubro 2008 - a.qxp 2/17/aaaa 09:34 Page 19
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critas, ao passo que as do flui-
do universal se estendem ao in-
finito. Dirigido, pois, o pensa-
mento para um ser qualquer,
na Terra ou no espao, de en-
carnado para desencarnado,
ou vice-versa, uma corrente
fludica se estabelece entre
um e outro, transmitindo de
um ao outro o pensamento,
como o ar transmite o som.
A energia da corrente guarda
proporo com a do pensa-
mento e da vontade. assim
que os Espritos ouvem a pre-
ce que lhes dirigida, qual-
quer que seja o lugar onde se
encontrem; assim que os
Espritos se comunicam entre
si, que nos transmitem suas
inspiraes, que relaes se
estabelecem a distncia entre
encarnados.10
Resumindo, a base da tele-patia repousa sobre a sintoniamental entre pessoas que pen-sam ou vibram na mesma faixa,estejam elas encarnadas ou de-sencarnadas.
Quando pensamos, emitimosondas mentais, que podem ouno ser sintonizadas por outrosEspritos. Isso vai depender dograu de afinidade ou sintonia en-tre os seres pensantes.
A telepatia, como faculdade detransmisso direta dos pensa-mentos, um dia ser praticadapor toda a Humanidade terrena,quando tivermos ascendido a pa-tamares superiores, ocasio emque poderemos ler as mentes unsdos outros, sem qualquer tipo de
constrangimento ou receio, co-mo se fosse um livro aberto, semque consigamos dissimular nos-sos pensamentos.11
Este tempo ainda est muitolonge, entretanto, nada obsta queprossigamos nos esforando, comvistas transformao moral,agora mais conscientes de nossasresponsabilidades, o que nos per-mitir, no futuro, o desabrocharcompleto de nossas faculdadessublimes, denunciadoras de senti-mentos elevados.
Avaliemos a qualidade de nos-sas criaes mentais. Que tipode pensamentos estamos emi-tindo? Eles esto contribuindopara melhorar ou piorar a psi-cosfera terrena?
Com o objetivo de melhor re-fletirmos sobre as respostas aestas questes, encerramos estemodesto artigo com a mensa-gem atribuda a um poeta an-nimo, de grande significaopara ns, Espritos em processode aprendizagem:
Vigiemos nossos pensamentos,
porque eles se convertero em
[palavras.
Vigiemos nossas palavras,
porque elas se transformaro
[em atos.
Vigiemos nossos atos, porque
eles formaro os nossos
[hbitos.
Vigiemos nossos hbitos,
porque eles moldaro o nosso
[carter.
Vigiemos nosso carter, porque
ele formar o nosso
DESTINO.12
Referncias:1BORGES, A. Merci Spada. Doutrina esp-
rita no tempo e no espao. 800 verbetes
especializados. 2. ed. So Paulo: Panora-
ma, 2001. p. 348.2KARDEC, Allan. O livro dos mdiuns. 80.
ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Parte se-
gunda, cap. XXV, item 285.3______. O livro dos espritos. 91. ed. Rio
de Janeiro: FEB, 2007. Parte segunda,
cap. II, questo 136b.4XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. Me-
canismos da mediunidade. Pelo Esprito
Andr Luiz. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2006. Cap. 9, item Corrente do pensa-
mento, p. 82.5XAVIER, Francisco C. Roteiro. Pelo Espri-
to Emmanuel. 12. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2007. Cap. 30, p. 128. Apud O Espiritismo
de A a Z (FEB), verbete Pensamento.6______. Os mensageiros. Pelo Esprito
Andr Luiz. 45. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2007. Cap. 40, p. 248-249.7______. Nosso lar. Pelo Esprito Andr
Luiz. 59. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007.
Cap. 12, p. 83.8KARDEC, Allan. O livro dos espritos. 91.
ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Parte se-
gunda, cap. VI, questo 282.9DENIS, Lon. O problema do ser, do
destino e da dor. Rio de Janeiro: FEB,
2007. Primeira parte, cap. VI, p. 121,
129 e 132.10KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
espiritismo. 127. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2007. Cap. XXVII, itens 9 e 10.11______. O livro dos espritos. 91. ed.
Rio de Janeiro: FEB, 2007. Parte segunda,
cap. VI, questo 283.12TORCHI, Christiano. Espiritismo passo
a passo com Kardec. 2. ed. 1a reimpres-
so. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 9,
p. 481-482.
20 Reformador Outubro 2008 378
Capa
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21Outubro 2008 Reformador 379
Esf lorando o EvangelhoPelo Esprito Emmanuel
Na cruzEle salvou a muitos e a si mesmo no pde salvar-se.
(MATEUS, 27:42.)
im, ele redimira a muitos...
Estendera o amor e a verdade, a paz e a luz, levantara enfermos e ressuscita-
ra mortos.
Entretanto, para ele mesmo erguia-se a cruz entre ladres.
Em verdade, para quem se exaltara tanto, para quem atingira o pinculo, suge-
rindo indiretamente a prpria condio de Redentor e Rei, a queda era enorme...
Era o Prncipe da Paz e achava-se vencido pela guerra dos interesses inferiores.
Era o Salvador e no se salvava.
Era o Justo e padecia a suprema injustia.
Jazia o Senhor flagelado e vencido.
Para o consenso humano era a extrema perda.
Cara, todavia, na cruz.
Sangrando, mas de p.
Supliciado, mas de braos abertos.
Relegado ao sofrimento, mas suspenso da Terra.
Rodeado de dio e sarcasmo, mas de corao iado ao Amor.
Tombara, vilipendiado e esquecido, mas, no outro dia, transformava a prpria
dor em glria divina. Pendera-lhe a fronte, empastada de sangue, no madeiro, e res-
surgia, luz do Sol, ao hlito de um jardim.
Convertia-se a derrota escura em vitria resplandecente. Cobria-se o lenho
afrontoso de claridades celestiais para a Terra inteira.
Assim tambm ocorre no crculo de nossas vidas.
No tropeces no fcil triunfo ou na aurola barata dos crucificadores. Toda vez
que as circunstncias te compelirem a modificar o roteiro da prpria vida, prefere
o sacrifcio de ti mesmo, transformando a tua dor em auxlio para muitos, porque
todos aqueles que recebem a cruz, em favor dos semelhantes, descobrem o trilho da
eterna ressurreio.
S
Fonte: XAVIER, Francisco C. Fonte viva. 36. ed. 1a reimpresso. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 46.
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22 Reformador Outubro 2008380
s propostas de planejamen-to e de organizao admi-nistrativa e doutrinria das
instituies vm se intensificandono Movimento Esprita. Oportunocomentrio de Allan Kardec refe-renda estas providncias: [...] oque caracteriza a revelao esprita
o ser divina a sua origem e da ini-
ciativa dos Espritos, sendo a sua
elaborao fruto do trabalho do
homem.1 O Codificador lega-nosainda orientaes sobre o funcio-namento de grupos espritas esuas experincias na Sociedade Pa-risiense de Estudos Espritas, naRevista Esprita, em O Livro dosMdiuns e Obras Pstumas.
Esses assuntos so abordados,tambm, nas obras psicogrficas deFrancisco Cndido Xavier.
Setencia Emmanuel:
Na essncia, cada homem ser-
vidor pelo trabalho que realiza
na obra do Supremo Pai, e, si-
multaneamente, administrador,
porquanto cada criatura huma-
na detm possibilidades enor-
mes no plano em que moureja.2
Andr Luiz esclarece:
[...] Nossos servios so distri-
budos numa organizao que
se aperfeioa dia a dia [...].
A colnia, que essencialmen-
te de trabalho e realizao, di-
vide-se em seis Ministrios,
orientados, cada qual, por do-
ze Ministros.3
Em outra obra alerta:
Examinar os temas de servio
que lhe digam respeito para
no estagnar os prprios recur-
sos na irresponsabilidade des-
trutiva ou na rotina perniciosa.
Da busca incessante da perfeio,
procede a competncia real.4
E, em entrevista com o EspritoWilliam James, este comenta:
Temos aprendido que no sur-
gem construes estveis ao
impulso do improviso. A seara
esprita pede plantao de prin-
cpios espritas. E no existe
plantao eficiente sem cultiva-
dores dedicados. Ampliemos a
rea de nosso concurso indivi-
dual e elevemos o nvel de com-
preenso das nossas responsa-
bilidades para com a obra do
Espiritismo. [...] Cada compa-
nheiro, cada agrupamento e ca-
da pas tero do Espiritismo o
que dele fizerem. [...]5
As informaes espirituais so-bre o compromisso das pessoascom o planejamento e as aesso explcitas.
Nos ltimos anos, alguns proje-tos se desenvolvem no ConselhoFederativo Nacional da FederaoEsprita Brasileira. Em conse-qncia de proposta inicial daUnio das Sociedades Espritas doEstado de So Paulo, como desdo-bramento, houve a formao deComisso Temporria com o obje-tivo de analisar propostas visandoo aperfeioamento do trabalho deunificao com base no Pactoureo e estudar o seu aprimora-mento,6 gerando projetos aprova-dos pelo citado CFN na sua Reuniode 2001,7 como o da Atividade de
Movimento Espritadas Instituies e do
Subsdios para o aperfeioamento
AAN TO N I O CE S A R PE R R I D E CA RVA L H O
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Preparao de Trabalhadores Esp-ritas, que redundou no curso Ca-pacitao Administrativa da CasaEsprita, aprovado em Reunio Or-dinria realizada em novembro de2002.8 Esta proposta foi analisadanas Reunies das Comisses Regio-nais do CFN durante o 1o semestrede 2003 e, no semestre seguinte,foram efetivados onze seminriosem microrregies com os represen-tantes das Entidades Federativas Es-taduais, que se incumbiram de im-plantar o Curso em seus Estados.
Tambm ocorreram reflexosinternacionais. A partir de semi-nrio desenvolvido pelo Conse-lho Esprita Internacional, duran-te reunio do Conselho Espritados Estados Unidos, em 2004, sur-giu a proposta para a promoo,de um Seminrio mais detalhado,que evoluiu para a realizao doCurso Internacional para Forma-
o do Trabalhador Esprita, pro-movido pelo CEI em parceriacom a FEB, em Braslia, no ms dejulho de 2005. Da em diante, comoprograma de trabalho do CEI, osseminrios de Gesto Doutrinriae Administrativa foram desenvol-vidos em vrios pases.
Simultaneamente, iniciava-se areviso de Orientao ao CentroEsprita, cuja primeira verso foiaprovada em Reunio do CFN de1980. O referido documento foireanalisado em Comisses Regio-nais do CFN, aprovado na Reu-nio do CFN de 2006 e lanadoem Reunio Especial do CFN nodia 12 de abril de 2007, na vspe-ra da abertura do 2o CongressoEsprita Brasileiro.
O Orientao ao Centro Espri-ta apresentado:
A ttulo de sugesto e de subs-
dio [...] de orientaes e material
de apoio, [...] para as atividades
dos Centros e demais institui-
es espritas, visando facilitar
as tarefas de seus trabalhadores,
no encaminhamento de assun-
tos doutrinrios, administrati-
vos, jurdicos e de unificao.9
A nova verso contm orienta-es para as atividades: PalestrasPblicas; Estudo Sistematizado daDoutrina Esprita; AtendimentoEspiritual no Centro Esprita; Es-tudo e Educao da Mediunidade;Reunio Medinica; EvangelizaoEsprita da Infncia e da Juventu-de; Divulgao da Doutrina Esp-rita; Servio de Assistncia e Pro-moo Social Esprita; AtividadesAdministrativas; Participao doCentro Esprita nas Atividades deUnificao do Movimento Esprita;Recomendaes Jurdicas (Obriga-es Legais); e Recomendaes eObservaes Gerais.
Um pouco antes, na Reunio de2005, o CFN aprovou o projetode Comemoraes do Sesquicen-tenrio de O Livro dos Espritos,incluindo a elaborao de um Pla-no de Trabalho para o Movimen-to Esprita Brasileiro. Iniciaram-seos dilogos para coleta de subs-dios e, na Reunio acima citada,de 2007, o Conselho aprovou o
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Plano de Trabalho para o Movi-mento Esprita Brasileiro (2007--2012).10 Este Plano compostopor: 1) Diretrizes: definem as prio-ridades institucionais de cartergeral e abrangente, que so: a difu-so da Doutrina Esprita; a pre-servao da unidade de princpiosda Doutrina Esprita; a divulgao daDoutrina Esprita; a adequao emultiplicao dos Centros Espri-tas; a unio dos espritas e a unifi-cao do Movimento Esprita; acapacitao do trabalhador espri-ta; a participao na sociedade; 2)Objetivos: estabelecem o que oMovimento Esprita deve alcanarao longo do perodo proposto; 3)Aes e Projetos: propem as ati-vidades operacionais para a im-plementao do Plano de Traba-lho. As aes e projetos poderoser realizados pelas instituies es-pritas do Brasil, especialmente asEntidades Federativas Estaduais,com o apoio do Conselho Federa-tivo Nacional da FEB.10 Com esteobjetivo, a Secretaria-Geral do CFNvem promovendo seminrios jun-to s Federativas.
Como a base do Movimento oCentro Esprita, em funo des-
te que devem serelaborados os pro-jetos de ao. Da aimportncia de sedinamizar as ativi-dades previstas emOrientao ao Centro
Esprita, em coern-cia com as diretrizes eobjetivos do Plano
de Trabalho.Ao final da Reunio do CFN
que aprovou o Plano de Traba-lho, Bezerra de Menezes opinou:
A programao que estabele-
cestes para este qinqnio
bem significativa, porque ver-
teu do Alto, onde se encontrava
elaborada, e vs a vestistes com
as consideraes hbeis e apli-
cveis a esta atualidade.
Este o grande momento, fi-
lhos da alma.11
No conjunto, as aes decor-rentes do Curso de CapacitaoAdministrativa, de Orientao aoCentro Esprita e do Plano de Tra-balho representam um esforo sig-nificativo para a integrao, a di-namizao e o aperfeioamento dasinstituies e do Movimento Esp-rita, coerentes com o contexto denossa poca e com a misso defi-nida em O Livro dos Espritos: [...]instruir e esclarecer os homens,abrindo uma Nova Era para a re-generao da Humanidade.12
Referncias:1KARDEC, Allan. A gnese. 52. ed. 1a reim-
presso. Traduo Guillon Ribeiro. Rio de
Janeiro: FEB, 2008. Cap. I, item 13.
2XAVIER, Francisco C. Fonte viva. Pelo
Esprito Emmanuel. 36. ed. 1a reimpres-
so. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 75.3______. Nosso lar. Pelo Esprito Andr
Luiz. 59. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007.
Cap. 8, p. 56.4VIEIRA, W. Conduta esprita. Pelo Esp-
rito Andr Luiz. 31. ed. 1a reimpresso.
Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 8, p. 41.5XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, W. Entre
irmos de outras terras. Por Espritos
Diversos. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2004. Cap. 5, p. 30.6Smula da Ata da Reunio Ordinria do
Conselho Federativo Nacional, realizada
em Braslia, no perodo de 10 a 12 de
novembro de 2000. Reformador, maio
de 2001, p. 28(154)-30(156).7Smula da Ata da Reunio Ordinria do
Conselho Federativo Nacional, realizada
em Braslia, no perodo de 9 a 11 de no-
vembro de 2001. Reformador, junho de
2002, p. 28(186)-33(191).8Smula da Ata da Reunio Ordinria do
Conselho Federativo Nacional, realizada
em Braslia, no perodo de 8 a 10 de no-
vembro de 2002. Reformador, Edio
Especial, maio de 2003, p. 4-5.9Orientao ao Centro Esprita. Federao
Esprita Brasileira Conselho Federativo
Nacional. Rio de Janeiro: FEB, 2007. 4
capa.10
Plano de Trabalho para o Movimento
Esprita Brasileiro (2007-2012). In: Refor-
mador, Edio Especial, julho de 2007.11
FRANCO, DIVALDO P. O Mdio-dia da
Era Nova. Pelo Esprito Bezerra de Me-
nezes. In: Reformador, junho de 2007,
p. 8(214)-9(215).12
KARDEC, Allan. O livro dos espritos.
Traduo de Evandro Noleto Bezerra.
Edio Comemorativa do Sesquicenten-
rio. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Proleg-
menos.
24 Reformador Outubro 2008382
reformador Outubro 2008 - b.qxp 2/17/aaaa 09:36 Page 24
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xistem atualmente duas prin-cipais teorias sobre a criaodo homem: Criacionismo e
Evolucionismo. A primeira, funda-mentada no livro Gnesis, da B-blia, defende a idia de que Deuscriou o homem e os demais seresvivos h menos de 10 mil anos. Asegunda prega que o homem e osdemais seres vivos resultam de umalenta e gradual transformao queremonta h milhes de anos.
Ambas as teorias esto subdividi-das em diferentes correntes interpre-tativas, ou escolas. No Criacionismoas mais conhecidas so: a) Teoriado Intervalo: estabelece que entre acriao dos cus (Gn., 1:8), da Ter-ra, (Gn., 1:9-10), dos seres vivos(Gn., 1:11-25) e do homem (Gn.,1:26-27) ocorreu um longo interva-
lo de tempo, simbolicamente repre-sentado nos seis dias da Criao. uma escola que conjuga evidnciasgeolgicas e cosmolgicas criaodivina; b) Teoria do Dia-Era: ensinaque cada dia da Criao um sm-bolo que pode compreender mi-lhes de anos, no o perodo de 24horas; c) Teoria Progressiva: aceitao Big Bang (grande exploso que te-ria originado o Universo, segundo aCincia) e a maioria das teorias daFsica Moderna, vistas como meiosauxiliares para o entendimento dacriao divina. Essa teoria afirmaque todos os seres vivos foramcriados de modo progressivo e se-qencial por Deus, mas sem rela-o de parentesco ou ancestralida-de; d) Design Inteligente: a versocriacionista de maior repercusso
nos crculos acadmicos e cientfi-cos, tendo como base as orienta-es da Qumica e da Gentica.
Na Teoria Evolucionista identifica-mos duas grandes correntes de pen-samento: as que associam idiasfilosficas, cientficas e religiosas, eas que so exclusivamente materia-listas. A escola denominada evolu-cionista-testa pertence ao primeirogrupo. No geral, admite que a des-crio do Gnesis simblica e que oprocesso criativo de Deus deve bus-car apoio nos postulados cientficosda evoluo. Os seus seguidores noencontram oposio entre a Cin-cia e a F. O outro grupo, conheci-do como evolucionista-materialista,
E
Em dia com o Espiritismo
A criao dosseres vivos
e do homemMA RTA AN T U N E S MO U R A
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no aceita a interferncia de Deus oude qualquer expresso sobrenaturalna criao dos seres vivos. Investigaa Natureza por meio de mtodoscientficos, apresentando conclusesconsideradas racionais e lgicas.
Em geral, podemos dizer que asreligies (catolicismo e protestan-tismo) e algumas filosofias espiri-tualistas ocidentais, como o Espi-ritismo, so evolucionistas-testas.
A Doutrina Esprita ensina que acriao dos seres vivos, includa a es-pcie humana, realizada por Deus.Esclarece que h dois elementos ge-rais do Universo: esprito e matria:
[...] Deus, esprito e matria
constituem o princpio de tudo o
que existe, a trindade universal.
Mas, ao elemento material se tem
que juntar o fluido universal, que
desempenha o papel de interme-
dirio entre o esprito e a matria
propriamente dita, por demais
grosseira para que o esprito pos-
sa exercer ao sobre ela. [...]1
Estas informaes, prestadas pe-los Espritos orientadores da Codi-ficao Esprita, contm dados queimplicam anlises adicionais, con-siderando a importncia do bomentendimento do assunto. Assim, preciso no esquecer que o ele-mento material forma as diversasmatrias, ponderveis e imponde-rveis, existentes no Universo, queso identificadas como subprodu-tos do fluido csmico universal,inclusive o fluido vital que fornecevitalidade aos seres vivos. Por ou-tro lado, preciso fazer distinoentre as expresses esprito (pala-
vra escrita em minscula) e Esp-rito (escrita em letra maiscula),citadas nas obras da Codificao.Tais palavras no so sinnimas.
Ensina a Doutrina Esprita queo esprito o princpio inteligentedo Universo,2 sendo a intelign-cia seu atributo essencial.3 O prin-cpio inteligente, ou espiritual, pas-sa por um processo de elaboraonos reinos inferiores da Natureza,principalmente no reino animal,em ambos os planos da vida (o es-piritual e o fsico), at transformar--se no ser denominado Esprito:
[...] Os Espritos so a individua-
lizao do princpio inteligente,
como os corpos so a individuali-
zao do princpio material [...].4
A individualizao do princpiointeligente, ou esprito, efetua-senuma srie de existncias que pre-cedem o perodo a que chamais Hu-manidade,5 esclarecem os Orien-tadores da Vida Maior. So exis-tncias nas quais [...] o princpiointeligente se elabora, se individua-liza pouco a pouco e se ensaia paraa vida [...].6 A passagem do princ-pio inteligente nos reinos da Natu-reza, em ambos os planos da vida,sob os cuidados dos Seres Anglicos,prepostos do Cristo, representa ex-perincias teis aquisio de co-nhecimentos que, mais tarde, seroutilizados pelo ser em sua condiode Esprito, propriamente dito:
[...] de certo modo, um traba-
lho preparatrio, como o da ger-
minao, por efeito do qual o
princpio inteligente sofre uma
transformao e se torna Esprito.
Entra ento no perodo da huma-
nizao, comeando a ter cons-
cincia do seu futuro, capacida-
de de distinguir o bem do mal e a
responsabilidade dos seus atos.
Assim, fase da infncia se segue
a da adolescncia, vindo depois a
da juventude e da madureza. [...]6
O Esprito Andr Luiz nomeia demnada o princpio espiritual, infor-mando que, nos primrdios da for-mao da Terra,[...] os MinistrosAnglicos da Sabedoria Divina, coma superviso do Cristo de Deus,lanaram os fundamentos da vidano corpo ciclpico do planeta:7
[A mnada], [...] atravs do nas-
cimento e morte da forma, sofre
constantes modificaes nos dois
planos em que se manifesta, razo
pela qual variados elos da evo-
luo fogem pesquisa dos na-
turalistas, por representarem
estgios da conscincia fragmen-
tria fora do campo carnal pro-
priamente dito, nas regies extra-
-fsicas, em que essa mesma cons-
cincia incompleta prossegue ela-
borando o seu veculo sutil, en-
to classificado como protoforma
humana, correspondente ao grau
evolutivo em que se encontra.8
Entretanto, sempre oportunorecordar: depois que o princpiointeligente adquire a soma de apren-dizados em sua passagem pelos rei-nos da Natureza, nos planos fsicoe espiritual, encontra-se ento ap-to para o processo de humanizao.Este processo, porm, no se realiza
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de imediato, nem de forma autom-tica.A humanizao do princpio in-teligente acontece em mundos apro-priados, onde o novo ser prepara-do para a sua primeira encarnaocomo Esprito, entidade humana,esclarecem os Espritos orientadores:
[...] O perodo da humanizao
comea, geralmente, em mun-
dos ainda inferiores Terra. Is-
to, entretanto, no constitui re-
gra absoluta, pois pode suceder
que um Esprito, desde o seu in-
cio humano, esteja apto a viver
na Terra. No freqente o ca-
so; constitui antes uma exceo.9
Vemos assim que a longa jor-nada do princpio inteligente, ini-ciada no momento de formaoda Terra e concluda na fase de hu-manizao, exigiu milnios de tra-balho incessante:
[...] alcanando os pitecantro-
pides da era quaternria, que
antecederam as embrionrias ci-
vilizaes paleolticas, a mnada
vertida do Plano Espiritual so-
bre o Plano Fsico atravessou os
mais rudes crivos da adaptao
e seleo, assimilando os valores
mltiplos da organizao, da re-
produo, da memria, do ins-
tinto, da sensibilidade, da per-
cepo e da preservao prpria,
penetrando, assim, pelas vias da
inteligncia mais completa e la-
boriosamente adquirida, nas
faixas inaugurais da razo.10
Tudo isso reflete, de forma ine-quvoca, a manifestao da sabe-
doria e misericrdia divinas, sem-pre intermediadas por Jesus, a fimde que o ser em processo ascen-sional possa alcanar a plataformaevolutiva humana, j possuidorde pensamento contnuo, neces-srio implementao da mem-ria, do raciocnio e dos processosintelectivos, e base da razo. Comesses talentos, o homem desenvol-ve a capacidade de discernir o maldo bem, de usar corretamente olivre-arbtrio, de desenvolver sen-timentos, e de perceber a si mes-mo, o prximo e a Deus.
Referncias:1KARDEC, Allan. O livro dos espritos. 91
ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Questo 27.
2Idem, ibidem. Questo 23.
3Idem, ibidem. Questo 24.
4Idem, ibidem. Questo 79.
5Idem, ibidem. Questo 607.
6Idem, ibidem. Questo 607a.
7XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo.
Evoluo em dois mundos. Pelo Esprito
Andr Luiz. 25. ed. 1 reimpresso. Rio de
Janeiro: FEB, 2008. Primeira parte, cap. 3,
item Primrdios da Vida, p. 37.8Idem, ibidem. Item Elos desconhecidos
da Evoluo, p. 42.9KARDEC, Allan. O livro dos espritos. 91. ed.
Rio de Janeiro: FEB, 2007. Questo 607b.10
XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. Evo-
luo em dois mundos. Pelo Esprito An-
dr Luiz. 25. ed. 1a reimpresso. Rio de Ja-
neiro: FEB, 2008. Primeira parte, cap. 3,
item Faixas inaugurais da Razo, p. 41.
27Outubro 2008 Reformador 385
Fonte: XAVIER, Francisco Cndido. Poetas redivivos. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB,
1994. Cap. 57, p. 87.
Americano do Brasil
Divina slabaSempre o Nome Sagrado a Slaba Divina Dos astros recordando algeras galeras,Nas correntes do Azul, s supremas esferasOnde o jorro da luz se represa e esborcina...
Das alturas do Cu ao bojo das crateras,Do mar em vagalhes fonte pequenina,Dos cimos da montanha s entranhas da mina,Do claro do presente sombra de outras eras...
Da relva pisoteada ao tronco erguido a prumo,Da brisa bonanosa ao furaco sem rumo,Da leveza da palha ao peso do granito...
Do gnio angelical bactria no solo,De vida em vida, passo a passo, plo a plo,Tudo fala de Deus na glria do Infinito!...
reformador Outubro 2008 - b.qxp 2/17/aaaa 09:37 Page 27
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verso em esperanto do livro Suicdio e suasConseqncias, de Gerson Simes Montei-ro, recebeu importante e objetiva acolhida
no conceituado peridico esperantista russo LaOndo de Esperanto (A Onda do Esperanto).
Nikolaj Pen/ukov, crtico de literatura da revis-ta, analisa em seu nmero de julho passado o tex-to de Memmortigo kaj 1iaj Konsekvencoj, em tra-duo de Givanildo Ramos Costa, criteriosamenterevisado pelos escritores Paulo Srgio Viana e Be-nedicto Silva e editado pela Sociedade Editora Es-prita F. V. Lorenz.
Pen/ukov no esprita, mas como crtico cons-ciencioso pe em foco o contedo sem induzir oleitor a qualquer posio com juzos facciosos.
Alguns trechos de sua crtica evidenciam tantoa excelncia da compilao de Gerson Monteiroquanto o valor da traduo:
Como as outras reli-
gies, o Espiritismo
tem no suicdio um
pecado, mas, ao
contrrio do Cris-
tianismo, afir-
ma no se tra-
tar de pecado
sem remisso.
O autor apresenta
muitos relatos de espritos que, tendo desencarna-
do por suicdio, contactam o mundo dos vivos
atravs de mdiuns.
Sobre esses relatos, Pen/ukov prope um resumoque revela seu perfeito entendimento acerca de algu-mas conseqncias comuns nos casos de suicdio:
A primeira decepo que os aguarda a realidade
da vida espiritual... e esta vida se lhes apresenta
pior pelos speros tormentos causados por sua
deciso de extrema rebeldia.
[...] Durante longos anos, sen-
tem as impresses terrveis do
Rssia Espiritismonas asas do Esperanto...
A
28 Reformador Outubro 2008386
A FEB e o Esperanto
AF F O N S O SOA R E S
reformador Outubro 2008 - b.qxp 2/17/aaaa 09:37 Page 28
-
txico que lhes aniquilou as
energias; a perfurao do c-
rebro pelo projtil disparado
pela arma usada no gesto
horrvel; a presso das pesa-
das rodas sob as quais se jo-
garam na nsia de abando-
nar a vida; a passagem, sobre
seus despojos, da gua em
que se afogaram, na crimi-
nosa fuga dos seus deveres
no mundo. Mas, geralmente,
a pior impresso de um sui-
cida experimentar, minuto
aps minuto, o processo de
desintegrao do corpo dei-
xado no seio da terra, cheia
de vermes e podrides.
E prossegue em abordagens seguras sobre asconseqncias do suicdio em futuras encarna-es: doenas congnitas, acidentes graves commutilaes, perturbaes mentais; acerca do pe-
rigo de se cultivar idias de sui-cdio, considerando as influn-cias obsessoras provenientes domundo invisvel; acerca da con-figurao sinistra das regies es-pirituais onde provisoriamenteestagiam tais Espritos; e, prin-cipalmente, acerca do auxlio quelhes prestado por Espritossocorristas.
Por no ser esprita e exercero ofcio de crtico, Pen/ukovexpe, sem contudo endoss--las, as teorias que negam a rea-lidade espiritual desvendadapela mediunidade, mas no sefurta a um comentrio final,bem sugestivo:
Isso, porm, no tem muita importncia, desde
que essas terrveis descries e os relatos como-
ventes evitem que pelo menos uma criatura se
desvie do gesto fatal e conserve a sua vida.
29Outubro 2008 Reformador 387
O mundo atormentado nau em desatinoSob a fria do mar que se agita e encapela...Tudo treme ao pavor da indmita procelaE o homem pobre viajor o triste
[peregrino.
Mas, alm, surge a mo do Condutor Divino,Doce, renovadora, imaculada e bela,Busca o Celeste Amor que longe se acastela,E acende para a Terra a luz de outro destino.
A voz dum s Pastor, uma s f que bradeConcrdia e entendimento a toda a
[Humanidade,Na vitria do bem, purificado e santo.
Ruge agora a tormenta... entretanto, a alvoradaPresidir com Cristo vida transformadaAo claro imortal da glria do Esperanto.
(Soneto recebido psicograficamente por Francisco Cndido Xavier, publicado em Reformador de junho de 1951, p. 6(122).)
Viso do cimo
Amaral Ornellas
Capa do livro Suicdio e suas
Conseqncias em esperanto
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