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II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar

REFLEXÕES SOBRE A ES

PEREIRA COSTA, STAEL DE ALVARENGA (1);

1. Escola de Arquitetura da UFMGEscola de Arquitetura/UFMG. Rua Paraíba, 697 sala 404c , Funcionários. Belo Horizonte

2. Escola de Arquitetura da UFMG

Rua do Mosteiro, 37/ apto 801, bairro Vila Paris, CEP 30380

3. Escola de Arquitetura da UFMG. Rua Coronel Pres, 319, Ap. 202

RESUMO

Este artigo trata da contribuição da Escola Italiana de Morfologia Urbana como método para elaboração de projetos urbanos, a partir da análise das transformações e permanências da paisagem edificada, visando reforçá-las ou inibi-las. A Escola Italiana foi partir da escala arquitetônica. Visa compreender a realidade presente como síntese da história coletiva, que pode ser examinada criticamente através da unidade habitacional mais recorrente denominada pelo autor como "tipo básico". Esse conceito, criado por Muratori, o fundador da escola italiana é entendido como "princípio orgânico" da arquitetura no qual, a forma é a síntese expressiva da realidade estrutural, funcional e ambiental, que embasa a análise torganismo edilício é criado e individuaà exigência típica de uma sociedade. Esses tipos são tratados como fios condutores das reflexões desse artigo, abordando conceitos como "tipo básico, processo tipológico, conjuntos, tecidos urbanos, rotas, construções especializadas e construções básicas". O objetivo é ampliar a discussão como a metodologia preconizada pela Escola Italiana pode contribuir para cidade de maneira mais aprofundada e interdisciplinar.

Palavras-chave: Morfologia Urbana. Escola Italiana de Morfologia Urbana. Tipologia edilícia.

Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e HumanidadesBelo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013

REFLEXÕES SOBRE A ES COLA ITALIANA DE MORURBANA

PEREIRA COSTA, STAEL DE ALVARENGA (1); SAFE, Simone M. SCleide. (3).

Escola de Arquitetura da UFMG. Prof. Dra. do Departamento de Urbanismo.

Escola de Arquitetura/UFMG. Rua Paraíba, 697 sala 404c , Funcionários. Belo Horizonte [email protected]

Escola de Arquitetura da UFMG. Mestranda em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável

MACPS Rua do Mosteiro, 37/ apto 801, bairro Vila Paris, CEP 30380

[email protected]

. Escola de Arquitetura da UFMG. Graduando em Arquitetura e UrbanismoRua Coronel Pres, 319, Ap. 202 - Sagrada Família - Belo Horizonte

[email protected]

Este artigo trata da contribuição da Escola Italiana de Morfologia Urbana como método para elaboração de projetos urbanos, a partir da análise das transformações e permanências da paisagem edificada,

las. A Escola Italiana foi desenvolvida por arquitetos e direciona a análise a partir da escala arquitetônica. Visa compreender a realidade presente como síntese da história coletiva, que pode ser examinada criticamente através da unidade habitacional mais recorrente denominada

autor como "tipo básico". Esse conceito, criado por Muratori, o fundador da escola italiana é entendido como "princípio orgânico" da arquitetura no qual, a forma é a síntese expressiva da realidade estrutural, funcional e ambiental, que embasa a análise tipológica e seu processo evolutivo no tempo. O organismo edilício é criado e individua-se numa experiência que se repete várias vezes para responder à exigência típica de uma sociedade. Esses tipos são tratados como fios condutores das reflexões

go, abordando conceitos como "tipo básico, processo tipológico, conjuntos, tecidos urbanos, rotas, construções especializadas e construções básicas". O objetivo é ampliar a discussão como a metodologia preconizada pela Escola Italiana pode contribuir para uma leitura e análise das formas da cidade de maneira mais aprofundada e interdisciplinar.

Morfologia Urbana. Escola Italiana de Morfologia Urbana. Tipologia edilícia.

em Sociais e Humanidades

COLA ITALIANA DE MOR FOLOGIA

Simone M. S . (2); CASTRO,

Prof. Dra. do Departamento de Urbanismo. Escola de Arquitetura/UFMG. Rua Paraíba, 697 sala 404c , Funcionários. Belo Horizonte – MG.

iente Construído e Patrimônio Sustentável

Rua do Mosteiro, 37/ apto 801, bairro Vila Paris, CEP 30380-780

Graduando em Arquitetura e Urbanismo pela UFMG. Belo Horizonte

Este artigo trata da contribuição da Escola Italiana de Morfologia Urbana como método para elaboração de projetos urbanos, a partir da análise das transformações e permanências da paisagem edificada,

desenvolvida por arquitetos e direciona a análise a partir da escala arquitetônica. Visa compreender a realidade presente como síntese da história coletiva, que pode ser examinada criticamente através da unidade habitacional mais recorrente denominada

autor como "tipo básico". Esse conceito, criado por Muratori, o fundador da escola italiana é entendido como "princípio orgânico" da arquitetura no qual, a forma é a síntese expressiva da realidade

ipológica e seu processo evolutivo no tempo. O se numa experiência que se repete várias vezes para responder

à exigência típica de uma sociedade. Esses tipos são tratados como fios condutores das reflexões go, abordando conceitos como "tipo básico, processo tipológico, conjuntos, tecidos urbanos,

rotas, construções especializadas e construções básicas". O objetivo é ampliar a discussão como a uma leitura e análise das formas da

Morfologia Urbana. Escola Italiana de Morfologia Urbana. Tipologia edilícia.

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1. INTRODUÇÃO

Este artigo destina-se a apresentar reflexões teóricas sobre a Escola Italiana de Morfologia

Urbana com aplicação prática no distrito de Morro Vermelho, município de Caeté, em Minas

Gerais. O método preconizado por esta escola integra parte da investigação do Projeto de

Pesquisa “A SINCRONICIDADE NAS ESCOLAS DE MORFOLOGIA URBANA E OS SEUS

PARADIGMAS SOCIAIS” do Edital Universal CNPq nº 14/2011, coordenado pela Professora

Dra. Staël de Alvarenga Pereira Costa, do Departamento de Urbanismo da Escola de

Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (EAUFMG), líder do Grupo de Pesquisa

em Desenho Ambiental cadastrado no CNPq.

Outros trabalhos desenvolvidos pela autora, também abordam o método em questão. Dentre

eles destacam-se elaboração da pesquisa sobre ″As Cidades Sul Metropolitanas do Ciclo do

Ouro″, (PEREIRA COSTA, 2003), bem como os Planos Diretores Participativos de seis

cidades mineiras, todas analisadas sob esta abordagem (PEREIRA COSTA; TEIXEIRA,

2006). Nestes estudos foram incorporados os instrumentos metodológicos desenvolvidos por

Saverio Muratori e principalmente, os conceitos referentes ao tipo básico e tecido urbano para

serem utilizados como ferramenta de análise e leituras das cidades. Estes conceitos surgem

da prática arquitetônica e acadêmica de Saverio Muratori, o criador da escola de italiana de

Morfologia Urbana e que foram posteriormente desenvolvidos por seus discípulos.

A trajetória de Saverio Muratori

O arquiteto Saverio Muratori é reconhecido como um dos primeiros investigadores da

Morfologia Urbana tendo nascido em Modena, Itália, em 1910.

A sua vida pública pode ser reunida em dois períodos. O primeiro se inicia após sua formatura

na Scuola Superiore di Architettura di Roma, no período situado entre 1933 a 1946, cuja

prática profissional se desenvolve de acordo com o conteúdo correspondente ao âmbito

cultural arquitetônico da Itália, antes da Segunda Guerra Mundial. Nesse contexto, o arquiteto

Muratori inicia sua cadeira profissional como projetista e se consolida como um arquiteto

moderno renomado, inserido na lógica do seu tempo.

Na primeira fase da sua vida profissional, Muratori se utiliza de temas e das linguagens

oriundas do racionalismo europeu, que faziam parte do rico e complexo debate italiano

naquele tempo. (MARETTO, 2012). Esta opção o levaria ainda muito jovem, a participar de

um concurso para o plano diretor de Aprilia (proposto em parceria com os arquitetos F.

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Fariello, L. Quaroni e Tedeschi). Este projeto não foi selecionado , embora recebesse elogios.

Dois anos após Muratori é contratado para coordenar o grupo romano no projeto da Praça

Imperial para a Exposição Universal de Roma. Estas experiências iniciais proporcionaram ao

arquiteto o rigor metodológico para o planejamento urbano, qualidade que manteria até o final

da sua vida. O diálogo com a história foi outro aspecto sempre presente na sua vida, utilizado

inicialmente, como uma maneira para se aprofundar nos temas modernos. Mais tarde seria

utilizado como um palimpsesto, no qual alavancava a crítica sobre o projeto para a cidade.

Essa fase precursora da sua carreira é reconhecida como a fase néo realista. (MARETTO,

2012)

O segundo período, de 1947 a 1963, pós-guerra, Muratori emerge progressivamente como

teórico e docente de arquitetura, buscando a superação do "Moderno"(CORSINI, 2001). É

nessa ocasião, que surge o critico da arquitetura moderna, cuja maturidade parece ter

ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial, quando ele se aprofunda nos estudos teóricos,

filosóficos. O trabalho de Friedrich Schiller foi um dos que vai desempenhar um papel

importante na sua nova visão cultural.

Como professor, Muratori examina a obra arquitetônica e a sua relação com o ambiente. Ele

critica o movimento moderno tanto na contextualização do projeto, quanto na recusa da

continuidade histórica. Nesse momento, ele visualizou o problema da relação arquitetura e

ambiente desde 1946, ainda não percebido pelos seus contemporâneos. Através do ambiente

é estendido o conceito de organismo da arquitetura para a cidade e cita: “O organismo

arquitetônico e o organismo urbano se definem no âmbito de uma determinada civilização,

porquanto tendem a exprimir na forma os valores característicos dessa sociedade."

(CORSINI, 1998, p.392)

Nessas críticas estão contidas, na prática, todos os conceitos da base da teoria Muratoriana,

que foram fundamentais para o desenvolvimento de uma metodologia operativa: o estilo como

a linguagem comum de uma sociedade; a linguagem que se exprime através do "tipo básico"

na síntese funcional e técnica de sua forma; o "tipo básico" como "síntese crítica" realizada

pelo arquiteto na relação entre arquitetura e ambiente; a realidade atual como síntese da

história coletiva, de uma sociedade, que pode ser relida através do "tipo básico". (CORSINI,

2001, p.392-394).

Em 1952, Muratori foi convidado para atuar como Professor em Veneza com a temática sobre

as características distributivas das edificações. Em 1954, Muratori volta a Roma como

Professor de Composição Arquitetônica, depois da experiência veneziana. Seus trabalhos

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mais conhecidos são os que descrevem a evolução urbana de Veneza e Roma. Estes

trabalhos colocam-no em divergência com o pensamento arquitetônico da época ao antecipar

temáticas que ainda são atuais.

As principais obras baseadas nas teorias de Muratori são Storia e critica del L’architettura

contemporânea (1980), organizada por Guido Marinucci, em Roma, no primeiro período da

vida pública de Muratori e Da Sckinkel ad Asplund. Lezioni di Architettura Moderna

(1959-1960), organizada por GianCarlo Cataldi e G. Marinucci, referente ao segundo período.

Também organizado por G. Marinucci a obra Architettura e Civiltà in Crisi, 1963, apresenta a

síntese conclusiva da crítica de Muratori à arquitetura moderna, em que propõe o método

operativo que tem como fundamento a relação entre história e projeto.

Depois da morte de Muratori, seus assistentes se viram obrigados a se deslocarem para

outras faculdades, onde continuaram a desenvolver as ideias de seu mentor, porém com base

nas próprias experiências pessoais. Assim, a Escola Italiana teve continuidade através de

seguidores, tais como Caniggia e Vaccaro, Maretto. Atualmente a Escola Italiana é

representada por Maffei, Cataldi, Marzot, Strappa, Petrotucci, Corsini, Marco Maretto e outros.

A Escola Italiana, por ter sido desenvolvida por arquitetos, direciona a análise morfológica a

partir da escala arquitetônica. Seu método vai do particular ao geral, da identificação do tipo

básico e sua evolução para a ocupação do território. Assim, a metodologia de análise dessa

Escola passa por três diferentes escalas: a do tipo básico e seu processo tipológico, a

formação de conjuntos e tecidos urbanos e, por último, a análise das rotas para compreensão

do processo de ocupação do território. Essas três escalas serão conceituadas, com base na

teoria trazida, especialmente, através de Caniggia e Maffei, e aplicadas no trabalho de campo

realizado em abril de 2013 no distrito de Morro Vermelho, em Caeté, Minas Gerais, para a

disciplina de Morfologia Urbana no MACPS (mestrado Ambiente Construído e Patrimônio

Sustentável) expostos nos itens a seguir.

2. PESQUISA TIPOLÓGICA 2.1 Conceitos da Escola Italiana de Morfologia Urba na

Essa metodologia tem como objetivo identificar e classificar as edificações em determinados

tipos. Uma cidade é composta por tipos edilícios de base e tipos edilícios especializados. Os

tipos edilícios de base são representado pelas residências, podendo ser multifamiliares, como

edifícios, ou unifamiliares, como casas. Já os tipos edilícios especializados são aqueles que

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se diferenciam na malha urbana da cidade por possuírem características mais complexas e

apresentarem maiores proporções, como, por exemplo, as igrejas e os palácios, constituindo

marcos de referência da cidade.

2.1.1 Tipo

O tipo, segundo definição de Caniggia e Maffei, “é uma espécie de conceito não desenhado, a

síntese da cultura edilícia de um lugar e de uma era, um arquétipo inerente à mente do

indivíduo de uma época, existente na mente de cada indivíduo construtor, direcionado pela

pré-figuração do que está prestes a produzir." (CANIGGIA, MAFFEI, 2004, p. 75, tradução

livre pelos autores).

O tipo básico é a edificação considerada síntese da cultura local e que pode se reconhecida

por meio das suas transformações, todas baseadas num principio comum, que se amplia ou

reduz, mantendo o formato inicial, perceptível através da análise morfológica. O tipo básico,

portanto forma a matriz do conceito residencial, do qual são herdadas as residências atuais

por meio de especialização da função e do crescimento. (CANIGGIA, MAFFEI, 2004, p. 88)

A pesquisa tipológica

Para se identificar os tipos básicos em Morro Vermelho foram efetuados levantamentos, por

meio de trabalho de campo, que se constitui de fotos e medições das fachadas in loco. Estes

posteriormente foram lançados sobre a base cadastral de Morro Vermelho. Esta base havia

sido desenvolvida pela Superintendência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de

Belo Horizonte, PLAMBEL, em 1977.

O tipo básico de Morro Vermelho

O identificação do tipo básico é definida a partir da observação e da interpretação do

conjunto, ou seja, através da percepção crítica que, posteriormente, reconhecerá a existência

do tipo e suas variações consequentes, o “processo tipológico", já que os edifícios são

entendidos como uma adaptação de tipos anteriores, ou seja, como um produto de

aprendizagem, que permite compreender a conformação do tecido urbano.

Em Morro Vermelho, o tipo básico mais recorrente é o que apresenta largura de fachada em

torno de 10 a 12 metros. Foram encontrados também tipos edilícios com variação de fachada

entre 6 a 8 metros e 13 a 15 metros. Este tipo básico mais recorrente possui partido horizontal

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e diminuto pé-direito. Encontra-se alinhado em relação à rua, sem recuo frontal e lateral,

estando elevado sobre embasamento de altura variável (Figura 01). O tipo mais antigo possui

a estrutura em gaiola de madeira com vedação em adobe. A fachada característica é

alongada com sucessão de esquadrias, cujas marcações fazem parte da própria estrutura

construtiva, sendo os cheios equivalendo a metade dos vazios ou a uma vez o vazio. A porta

não é obrigatoriamente central, deslocando-se para as laterais, em partido mais flexível

(Figura 02).

Os tipos especializados de Morro Vermelho

Como exemplos de "tipo especializado" destacam-se a Matriz de N. Sra. de Nazaré e a

Capela do Rosário, ambas monumentos tombados pelo Instituto de Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional ( IPHAN ), são do século XVIII, tendo sido construídas para substituir

primitivas ermidas.

A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso foi construída em 1756 pelo padre

Henrique Pereira. Devido à história do Distrito o IPHAN, no seu papel de autoridade máxima

na conservação de bens vinculados aos fatos memoráveis da História do Brasil, conforme

Decreto-lei 25, de 30 de novembro de 1937, percebeu a necessidade de preservar e

salvaguardar a Matriz de Nossa Senhora de Nazareth. Então, no ano de 1950, a Matriz foi

tombada. Passou por restauração em 1974 e recentemente foi objeto de novas restaurações,

desta vez financiadas pela própria comunidade. Esta atitude demonstra o valor da Igreja para

a população do distrito de Morro Vermelho. A matriz de Caeté também foi descrita pelo

viajante francês August de Saint-Hilaire que percorreu essa região no ano de 1833. Em suas

palavras:

A igreja é um templo de dimensões avantajadas com sólida e imponente fachada. A portada é de ombreiras largas, trabalhadas e encimadas por um alto medalhão que alcança até um dos janelões, mais acima. São três janelões ao todo, com molduras de pedras e cimalhinhas retas se encontrando no alto num toque meio romano. O corpo principal da fachada é delineado por pilastras duplas de cantaria, marcando a base das torres. Os cunhais também são de pedra. A cimalha que separa a base da fachada do frontão e torres é bem delineada e robusta mas não é de pedra. As torres são quadradas com pirâmides achatadas no topo e cantos arredondados, solução muita utilizada por Antônio Francisco Lisboa nos anos seguintes. O alto das torres é fechado por pináculos orientais. Há umas espécies de pinhas em cada um dos quatro cantos das torres ao nível da base das pirâmides. O frontão é alto, em curvas suaves e molduras de cantaria. Nas laterais há arremates de pedra em forma de pequenas colunas com bases alargadas. A cruz é simples e um tanto em desacordo com a robustez do frontão. Um pouco abaixo do centro do mesmo, abre-se um óculo ovalado guarnecido de vidraças. (SAINT-HILAIRE, 1974, p.65)

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Figura 01. Exemplo de "tipo base"- fachada situa-se no intervalo de 10 a 12 m, implantação e corte esquemáticos e foto do tipo Especializado: Matriz de N. Sra. de Nazaré - Morro Vermelho.

Fonte: Croquis por Luciane Faquineli, maio de 2013, esquema corte e implantação. Produzido pelas autoras, agosto 2013, com base mapa da PLAMBEL 1977 e vista aérea extraída no google earth e Foto Luciana Lelis, abril de 2013.

2.1.2 Processo tipológico O “processo tipológico" é o reconhecimento da existência do tipo e suas mudanças

consequentes ao longo do tempo. É um suceder-se de mutação e distinção temporal com

relativa influência espacial mútua. As principais mudanças ocorrem na implantação, e/ou na

ocupação e/ou na fachada.

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Os processos tipológicos de mutação apresentam "um outro aspecto de historicidade:

diversificação cronológica de tipos numa mesma área" (Caniggia e Maffei, 2001, p.76). Estes

processos recebem a conceituação de diatópicos, sincrônicos e diacrônicos. A diversificação

sincrônica refere-se à aplicação do mesmo tipo repetidamente, mesmo quando este não se

enquadra à situação na qual se insere, o que diminui a eficiência da edificação.

A diversificação diatópica refere-se à aplicação de um tipo que corresponde à consciência

espontânea1 de uma determinada área cultural em outra região geográfica, cuja consciência

espontânea difere da primeira, provocando assim uma variação regional geográfica. Um

exemplo da consciência espontânea pode ser vista sob a ótica da influência portuguesa

quando da ocupação do território nacional na formação dos primeiros arraiais.

Ao se observar a diversificação diacrônica, que atua a partir da observação sobre a

diversificação cronológica dos tipos numa mesma área, pode-se comparar algumas variáveis

apresentadas por diferenciações encontradas nos tipos contemporâneos que se seguiram. No

caso de Morro Vermelho, as variáveis se caracterizam pelo uso de novos materiais (janelas,

portas, telhados, revestimentos fachada, etc). O posicionamento da construção em relação à

rua - alinhado, sem afastamento e elevado acima do nível do passeio foi mantido, com

também a proporção da fachada- casas alongadas e retangulares de partido horizontal.

Pode-se verificar se houve uma evolução global de tipos no tempo e na mesma área cultural.

Este processo é reconhecido enquanto “mutação sintópica / diacrônica”, ou em grandes áreas

culturais num mesmo tempo.

É denominado "mutação diatópica/ sincrônica”, quando ocorre no tempo em grandes áreas

culturais (“mutação diatópica/ diacrônica), ou numa mesma área cultural num mesmo tempo

em questão (“mutação sintópica/ sincrônica”).

1 A consciência espontânea descreve atitudes de decisão tomadas pelos seres humanos, que não pensam duas vezes e decidem por si só suas escolhas. Se pensarmos em edificações espontâneas estes correspondem aos fazeres imediatos, feitos pelos próprios usuários, sem a interpretação de um profissional ou de uma técnica. Esses fazeres são consequentes de uma cultura edilícia, espontaneamente adquiridas e repassadas num momento determinado na sua área cultural. Interpretating Basic Building. 2001. p 43.

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Fig. 02 - Variações do "tipo", cuja fachada situa-se no intervalo de 10 a 12 m: versões tradicionais e diacrônicas.

Versões tradicionais coloniais Processo tipológico apresentando alterações na

fachada

Versão diacrônica do tipo base

Fonte: Simone Safe, maio de 2013.

As principais mudanças do processo tipológico verificadas em Morro Vermelho do tipo base

contendo fachada entre 10 a 12 metros ocorreram na implantação e/ou na fachada. As

variações como acréscimo de varandas frontais e garagens ou acessos laterais, marcados

por muros e portões foram as mais numerosas. Quanto à implantação, muitas apresentaram

recuo frontal, típicas de uma ocupação mais contemporânea. A existência de automóveis é

um dos vetores que conduz a essa necessidade de adaptação.

3. CONJUNTOS E TECIDOS URBANOS

A escola italiana propõe o estudo de “agregados” que pode ser definido como um bloco de

base, umaunidade de conjunto mínima da qual se formará um tecido . Nas cidades históricas,

os edifícios estão posicionados de acordo com as rotas que regem a ocupação do território e

que conduzem à formação de um agregado.

Os edifícios não são construídos lado a lado por acaso, pelo contrário, temos uma codificação,

um sistema de leis inerente à formação de um agregado. Em resumo verifica-se a existência

de um tipo de agregado, ou seja, historicamente “um auto-sistema regulado como regra, a

alteração orgânica no espaço e no tempo passa a produção ou transformação de um

agregado semelhante à produção de cada edifício.” (Caniggia e Maffei ,2001, p.118)

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O conceito de agregado urbano está baseado num sistema de regras de construção que para

conjuntamente estabelecer a formação de um tecido urbano. A referência não é efetuada a

um nível formal, mas em de distribuição e das exigências funcionais. Dessa classificação de

elementos urbanos, ou seja, o conjunto de tipos e suas relações é possível identificá-los com

relação à estrutura urbana em um determinado período de tempo.

De acordo com Caniggia e Maffei (2001, p.118-119) "o tecido é para o agregado, o que o tipo

edilício básico é para o edifício: o conceito da coexistência de vários tipos edilícios nas mentes

dos construtores antes do ato de construir, a partir da consciência espontânea, que produz

como resultado civil a experiência de colocar vários edifícios juntos, enquadrando-os segundo

seus aspectos mais interessantes e que se somam." Em resumo, é a priori, a síntese do

conceito de "tipo edilício" que tem seu termo transferido para um conjunto mais abrangente,

"tecido".

Em Morro Vermelho a ocupação urbana configurou-se de forma particular, onde o urbano e o

rural se aproximam e se mesclam. A ocupação favoreceu uma organização espacial linear

com arranjos formados ao longo de uma rede de caminhos mais antigos, configurados pelas

propriedades nos quais a testada adquiriu maior importância na divisão e na apropriação da

terra. Nesse distrito não há leitura clara de quarteirão ou bloco de base. Isso ocorre

principalmente, devido ao posicionamento das construções nos lotes e na sua própria

conformação. Ainda existe a presença de uma vegetação densa.

Fig. 03 - Conjunto Urbano Distrito de Morro Vermelho e Florença, Rua Maggio, exemplar de tecido especializado

Fonte: Produzido pelas autoras, 2013, com base mapa de Morro Vermelho (PLAMBEL, 1977) e vista aérea extraída no google earth. À direita parte do mapa de Morro Vermelho (PLAMBEL, 1977) e figura extraída do texto Caniggia e Maffei, 2001, p.120)

Conclui-se que as características urbanas do Distrito de Morro Vermelho são semelhantes

aos povoados, a um proto-núcleo em que não há tecido urbano consolidado. A concentração

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das edificações estão em torno do caminho tronco principal, que é o início da ocupação, a

origem de uma rota principal.

4. OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO: ROTAS O organismo Territorial é entendido como a “individuação das conexões típicas entre rotas,

assentamentos, organismos urbanos e produtivos” e se desenvolve relacionado ao processo

de evolução humana. (Caniggia e Maffei, 2001) A rota é a primeira e única estrutura feita pelo

homem na fase de estruturação inicial de um ambiente sob ocupação.

O território é estruturado num sistema de ciclos e difere, na correlação e hierarquia de seus

componentes, num ciclo de consolidação subsequente, ou seja, num ciclo que permita a

evolução e expansão do processo de ocupação do território (Figura 04). A Escola Italiana

estabelece quatro ciclos de ocupação, subdividos em dois períodos, que correspondem aos

seguintes períodos da civilização humana:

O primeiro ciclo um corresponde à fase civil nômade.

O ciclo dois corresponde à permanência sazonal, em que os assentamentos estabelecem-se

em locais produtivos, mas ainda não cultivados pelo homem.

O ciclo três destaca-se pela distinção com a existência de fazendas e celeiros para estoque,

demonstrando o início da capacidade de plantação e criação de animais.

Finalmente o ciclo quatro corresponde ao estágio civil e sua primeira formação urbana,

fechando o sistema de ciclos com a presença do homem.

O sistema de ciclos começa a ocorrer através de estruturas de cordilheiras, num primeiro

período, pelas cristas, que proporcionavam a visão estratégica da paisagem do entorno, e

prosseguiam com a ocupação na direção de cima para baixo, ou seja da crista para os fundos

de vale. Os ciclos de consolidação, num segundo período, se dão numa reestruturação global

induzindo a prevalência de fundo de vale, sendo a ocupação realizada de baixo para cima.

Esses ciclos parecem completar as séries possíveis de ocupação do território, porém os

processos de urbanização e de desenvolvimento tecnológicos subsequentes fazem com que

a ocupação ocorrida nos primeiros ciclos seja adaptada aos tempos históricos posteriores.

No primeiro período, a primeira missão do homem ao lugar é adaptar-se à sua estrutura

natural e às suas características morfológicas e climáticas. Na ausência de outras estruturas

humanas, as rotas seguem a linha de crista da cordilheira, que, na maioria das vezes

correspondem aos limites do território que separa duas civilizações. O primeiro ciclo desse

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período ou primeira rota situa-se no divisor de águas, onde está mais prolongado e contínuo e

não segue necessariamente em linha reta.

No segundo ciclo ou segunda rota, por questões naturais de acesso à água, amplia-se o

assentamento com braços secundários para os níveis inferiores. A escolha do local para

assentamento dá preferência a um promontório, pela identificação da área em vista das

outras, pela acessibilidade na linha das cristas e pela possibilidade de usar o local para

defesa. Esta escolha proporciona ao homem, a noção da porção de território sob suas posses

e competência, condição para a formação de uma área cultural.

No terceiro ciclo ou terceira rota, leva-se à formação sistemática do cruzamento de rotas de

crista junto com a mudança na produtividade, que passa a ter um sentido permanente em

cultivo e estocagem.

Por último, cria-se um sistema de cruzamento de rotas artificial, em que, progressivamente

caminha-se em direção ao desenvolvimento do território, de preferência áreas com

declividade, chegando até fundo de vales. Nessa fase excluem-se as áreas planas de fundo

de vale, pois requerem um sistema de regas artificiais e estágios mais avançados de

ocupação civil, em que, por ser essa um período de ocupação civil nômade, ainda não

existiam tais meios.

O segundo período é um ciclo de consolidação da ocupação do território pelo homem e se

desenvolve também, em quatro ciclos. Há uma reinterpretação da estrutura prévia e

integração territorial do assentamento num novo enquadramento.

No primeiro ciclo ou primeira rota desse segundo período, os núcleos urbanos, produzidos

pelos cruzamentos das rotas desde a crista atingem, pela primeira vez, as rotas do fundo de

vale.

O segundo ciclo ou segunda rota promove uma extensão da rede de rotas de fundo de vale

para além das bases dos montes, áreas costeiras e planícies dos vales, onde os núcleos

urbanos já se encontram. Promove-se assim, ligação entre dois fundos de vales opostos

através de pontes (Figura 04), estabelecendo neste ponto de encontro , um centro de

comércio.

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No terceiro ciclo, encontramos o desenvolvimento de rotas secundárias de fundo de vale,

dando continuidade a um cruzamento de rotas previamente estabelecido. Chega-se aos

promontórios de baixa altitude.

No última fase desse segundo período, o quarto ciclo, através de uma reestruturação de fundo

de vale chega-se a um cruzamento das rotas locais na sua maior altitude, e através dele, a um

promontório de assentamento elevado. A produtividade aumenta com o aumento do número

de novas áreas no fundo do vale. A figura 04, a seguir, demonstra, esquematicamente, as

fases de ocupação correspondentes aos períodos 1 e 2.

Fig. 04 - Modelo Esquemático rotas.

Fonte: Produzido pelas autoras com base em desenho elaborado durante a disciplina de Morfologia Urbana do MACPS oferecida por Stael de Alvarenga Pereira Costa e Manoela Netto no 1 º semestre de 2013. CorelDraw. Julho 2013.

Até este ponto, no fim do quarto ciclo do segundo período, o território encontra-se

completamente ocupado.

A razão da inversão da ocupação de fundo de vale em direção ao topo se dá

progressivamente, pois é necessário uma maior organização da comunidade, para se

implantar equipamentos, para tornar a área natural em área utilizável.

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As civilizações mais recentes, que correspondem aos períodos três e quatro, chegaram a um

poder civil de organização, político e técnico, podendo ali se desenvolver, por superarem as

condições negativas do fundo de vale.

Segundo Caniggia e Maffei (2001), a atualidade apresenta um desequilíbrio entre o

empobrecimento de ocupação das encostas e áreas montanhosas e o congestionamento em

excesso das áreas planas criadas artificialmente. O futuro depende da capacidade do homem

desenvolver tecnologias e regulamentos apropriados para compensar este desequilíbrios.

O conceito de rotas e a sua aplicação em Morro Verm elho

Para aplicar essa teoria ao contexto brasileiro, especialmente em Minas Gerais, torna-se

necessário levar em consideração a diversidade cultural, inclusive nos modos de vida e de

relacionamento com o território, dos diferentes povos que aqui entraram em contato desde os

primórdios do século XVI.

As rotas se desenvolveram tanto pelas cristas, com suas vistas panorâmicas para a

localização no território, quanto acompanhando os cursos dos rios, ambas usadas pelos

povos indígenas. Presume-se que , no território mineiro, os europeus, buscando expandir

seus domínios, realizaram seus deslocamentos pelas encostas e fundos de vale,

acompanhando a exploração mineral, o surgimento de lavouras e pastos e as rotas indígenas

primitivas.

Esse encontro de civilizações fez com que o território brasileiro fosse consolidado de forma

alternativa ao método apresentado pela Escola Italiana, pois que ocorreram ao mesmo tempo

e com estratégias hibridas.

Na época da ocupação do território mineiro, no período do ciclo do Ouro, a região de Caeté

era cortada por uma grande rota que a ligava à Sabará, Curral del Rei, Raposos, Catas Altas,

dentre outros, e que se estendia até a Capitania do Espírito Santo. Após o colapso do ouro, o

comércio e o abastecimento de gêneros despontam como motores da economia local, mas

sem a mesma preponderância da época de exploração aurífera.

Nesse cenário, outro fator que se destaca na ocupação do território mineiro, especialmente no

desenvolvimento de aglomerações urbanas, foi seu forte caráter religioso. Na maioria dos

casos, logo que uma área era ocupada os moradores tratavam de erguer uma capela, ao

redor da qual a vila se desenvolvia. Essas ermidas normalmente ficavam no topo das colinas

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ou em platôs, locais de destaque. Com o enriquecimento desses locais, muitas dessas

capelas davam lugar a construções de grande porte e extremamente simbólicas. Como em

muitos arraiais nascidos nas Minas do Período Colonial, Morro Vermelho apresenta a capela

do Rosário (“dos negros”) posicionada em contraposição à Matriz (“dos brancos”),

conformando uma das partes principais do caminho tronco, rota de ligação, do Arraial de

Morro Vermelho. Esse caminho começa no Rosário, passa pela Rua Evangelista Marques, o

Largo da Matriz, segue pela Rua Dr. Antônio Mourão Guimarães e termina no único chafariz

existente no distrito. (Figura 3)

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O exercício proposto nesse artigo demonstrou que a metodologia da Escola Italiana foi

possível de ser aplicada no Brasil, em especial, no caso de Morro Vermelho. Ela proporcionou

uma compreensão da história morfológica do lugar, principalmente a partir da identificação

dos tipos, onde foi possível compreender o processo de ocupação por sua identificação e

posicionamento ao longo do caminho tronco: Igreja do Rosário – Matriz – Chafariz.

Essa compreensão do processo de transformação urbana permite avaliar as influências

socioeconômicas e políticas que marcaram a história da cidade, bem como, sua forma urbana

e deste modo planejar futuras intervenções na paisagem, equilibrando preservação e

renovação sem grandes danos a historicidade local.

Em relação ao conceito de tecido urbano trazido pela Escola Italiana, ao aplicá-lo em Morro

Vermelho, a teoria não pode ser exemplificada de maneira completa, pelo fato de Morro

Vermelho ser ainda um agrupamento urbano em desenvolvimento e que permaneceu como

que "congelado" no tempo. Assim, não existiu desenvolvimento suficiente que pudesse

conformar um tecido urbano, permanecendo como um agregado.

Percebemos que o estudo das rotas não depende da análise dos tipos, pois é anterior ao

surgimento das edificações. Verificamos também, que as fases de ocupação do território

apontados pelos italianos possuem aplicação diferenciada no território brasileiro consequente

dos tempos históricos dessemelhantes e pela mescla de cultura e populações, indígenas e

europeias.

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Nascimento, C. F. B. 2010. Nada vem do nada: por uma revisão contemporânea do conceito de tipo edilício. Revista Pós USP. São Paulo. v.17 n.27. PLANO DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA SUSTENTÁVEL DOS MUNICÍPIOS DE CAETÉ, NOVA UNIÃO, RAPOSOS, RIO ACIMA E TAQUARAÇU DE MINAS. Produto 1 – Plano de Ação. 2008. Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana. Ministério das Cidades. Belo Horizonte. PREFEITURA MUNICIPAL DE CAETÉ. 2001. Memorial sobre o Patrimônio Histórico e cultural de Morro Vermelho. PREFEITURA MUNICIPAL DE CAETÉ. 2005. Fichas de Inventários de Estruturas Arquitetônica e Urbanísticas do Município de Caeté. Encadernado. Período 16-04-2003 a 15-04-2004. - ICMS Cultural – IEPHA. PREFEITURA MUNICIPAL DE CAETÉ. 2004. Dossiê de Tombamento da Capela do Rosário. Digitalizado.

AGRADECIMENTOS Os autores agradecem o apoio recebido da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais - FAPEMIG, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Cientifico- CNPQ e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES para o desenvolvimento desta pesquisa e apresentação deste artigo..