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REFLEXÃO ANTROPOLÓGICA SOBRE OCONHECIMENTO BIJAGÓS NAS PRÁTICAS DEGESTÃO DE RECURSOS NATURAIS
GT22 – Educação para a sustentabilidade nas dimensões ambientais,culturais e tecnológicas
Irina Mendes
Resumo: O presente artigo visa analisar o conhecimento Bijagós nas práticas de gestão de recursosnaturais no âmbito dos saberes e práticas tradicionais dos espaços e dos recursos essenciais eintegrais de suas vidas, tais como: terra, floresta e os recursos hídricos. Além disso, busca-secompreender a relação humana com o ambiente predominante, e o conhecimento ecológico bijagóscom foco nos recursos naturais e conservação da biodiversidade, com crescentes problemasambientais, e consequentes problemas sociais. Alguns estudos têm revelado que o conhecimentoecológico bijagós incorporado em sua visão de mundo tem mantido uma gestão sensata dos recursosnaturais. Este conhecimento também considera as organizações da física (não seria melhor natureza?),o ser humano, e os mundos espirituais, como organizado e formando sistemas unificados. O papel dehumano, nesse caso, é proteger e manter o equilíbrio dos sistemas e o respeito distante e permanentepara todas as relações estabelecidas. Os bijagós têm as leis, costumes, normas, valores, e o conceito demundo físico e humano, que orienta todas as suas ações e relações no universo. Em geral, essesconceitos são componentes da visão de mundo respeitável bijagós. O conhecimento desses conceitostem-se usado para manter relações entre o físico, o humano, e os mundos espirituais.
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O surgimento do desenvolvimento sustentável como um paradigma orientar para conservação
global, juntamente com as crescentes preocupações com a perda de biodiversidade, tem
generalizado o crescimento dos parques nacionais e áreas protegidas em todo o mundo. Na
Guiné-Bissau não é diferente, o arquipélago de bijagós foi classificado como reserva da
biosfera pela UNESCO em 1996 e tornou-se área de proteção ambiente e, recentemente o
governo guineense criou dois parques marinhos na região, como a forma de preservar e
proteger a fauna considerada muito rica e abundante.
O arquipélago de bijagós constitui por essa razão um dos principais locais de reprodução dos
recursos haliêuticos do país, representando a pesca um pilar da economia nacional. As
tecnologias endógenas dos Bijagós têm sido usadas para manter relações entre o físico, o
humano, e o mundo espiritual ligado à sustentabilidade e educação ambiental, portanto, a
etnia tem um comportamento normativo, adaptado ao ecológico, ligado a sua visão do mundo,
os saberes ou conhecimento transmitido de geração a geração por meio da oralidade, de modo
que, se em algum momento isso não ocorre, deixarão de existir. Portanto, este estudo visa
compreender a cosmovisão dos Bijagós sobre sustentabilidade e educação ambiental,
fornecendo algumas ideias sobre o conhecimento dos bijagós e sua importância na gestão dos
recursos naturais no país. Procuro fazer uma abordagem antropológica das filosofias bijagós
nas práticas de gestão de recursos naturais no âmbito dos saberes e práticas tradicionais.
As principais questões a abordar neste estudo incluem: A forma como os bijagós
percebem o cosmo e ordem cósmica relacionada com educação ambiental e sustentabilidade e
suas práticas de gestão de recursos naturais, estimados em sua visão de mundo intacta; e como
ele foi mantido a utilização sustentável dos recursos e harmonização ecológica desde tempos
imemoriais. Além disso, transmitindo tais práticas preciosas é importante para manter a
necessidade de estar em harmonia com o nosso meio ambiente.
1Bijagó é uma das etnias guineense que teve pouco contato com as tradições de cultura
ocidental. Pois, quando se instalou o sistema colonial português já havia um poder político
1 https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/7642/2/disserta%C3%A7%C3%A3o%2002.pdf. Os bijagós constituem uma etnia que habita o arquipélago dos Bijagós, na Guiné-Bissau. O grupo não constituem um povo homogéneo, mas sim um conjunto de grupos sociais, conscientes de uma unidade étnica fundamental, com idiomas e costumes variados, que divergem de ilha para ilha, e até dentro da mesma ilha.
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instituído há várias décadas, por que não dizer, há milhões de anos pelos Bijagós. Com isso,
os portugueses não tentaram aniquilar esse poder, mas, para melhor administrar, criou a figura
de chefe de tabanca (aldeia), em paralelo com o poder de Oronho e de Uam-moto (donos da
terra). No nível da tabanca, os portugueses sempre mantiveram o conjunto de órgãos
representativos do poder tradicional intacto nas suas atribuições e competências.
No entanto, o surgimento de sistemas do mundo moderno e o impacto da globalização
têm contribuído para mudanças significativas e maciças em sua filosofia que era mantida por
gerações. Assim, as apresentações de cultura ocidental para as tradições e cultura do povo
guineense mudaram os aspectos integrais de sua vida; embora, não é absoluta. Diferentes
estudiosos comentaram que os problemas ambientais são vistos ao longo do tempo como fruto
de diversas atividades humanas, ou melhor, as formas com que os seres humanos lidam com
seus ambientes culturalmente podem causadas impactos negativos ou positivos ambientais.
As etnias guineenses são socialmente organizadas e orientadas por meios de culturas
individuais, têm contato permanente influenciado sobre a terra, clima, plantas, espécies e
animais. O manejo desses recursos está diretamente ligado com mitos, regras, valores e
conhecimentos, que definem a maneira e período como tais recursos serão utilizados, podendo
ser considerados “elementos culturais regulatórios”, pois determinam as atitudes das pessoas
perante o meio ambiente (CULTIMAR, 2008). Assim, gestão da biodiversidade entre Bijagós
não é isolado, é um conceito compartimentado, mas parte integrante de suas vidas. Isto
suporta os pontos fortes do mundo filosófico da comunidade nas práticas de gestão dos
recursos naturais.
O objetivo da criação das áreas protegidas na Guiné-Bissau está baseado na filosofia
das etnias e áreas de conservação pela população local. Isso quer dizer, que as áreas de
conservação estão fora dos conceitos e da filosofia dos parques ocidentais; ou seja, as
comunidades locais ou residentes nessas áreas, em hipótese alguma, podem ser retiradas dos
seus territórios, já que dependem exclusivamente da exploração dos recursos naturais dessas
áreas, a qual vem sendo conservado através dos saberes e práticas tradicionais dessas
comunidades ao longo de várias gerações. As atividades nas áreas protegidas no país
promover a defesa do meio ambiente concentra-se na resolução de problemas imediatos da
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população local. Independentemente de sensibilizar as comunidades a preservar do ambiente e
os seus recursos, as áreas protegidas têm capitalizados as práticas e o conceito tradicional da
utilização sustentável dos recursos naturais, reconciliando as iniciativas de desenvolvimento
com a valorização das potencialidades locais, humanas, econômicas e culturais.
Diferente do Brasil, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação-2SNUC é
dividido em dois grupos: unidades de proteção integral e unidades de uso sustentável. As
áreas de proteção integral são áreas de uso indireto, ou seja, são áreas que não envolvem o
consumo, coleta, dano ou a destruição dos recursos naturais (artigo 2º da lei nº9597 de 18 de
Julho de 2000), não admitindo, portanto, a presença de moradores, nem mesmo sendo de
populações tradicionais.
No caso da Guiné-Bissau, o sistema é inverso, por se entender que a preservação dos
saberes, práticas tradicionais e da cultura dependem da manutenção desses povos em seu
lugar de origem; e, quando esses povos são retirados de seu lugar, corre-se o risco de sua
cultura se desaparecer devido à perda de contato com a natureza. Também os indivíduos
ficam suscetíveis a enfrentar situações traumáticas e problemas da sociedade moderna.
O Governo guineense, por isso, entende que a Biodiversidade ou Diversidade
Biológica, no entanto, não é simplesmente um conceito pertencente ao mundo natural, mas é
também uma construção cultural, social e socioecológico dos grupos etnia Bijagó, pois as
espécies são objetos de saberes, de domesticação e uso e também fonte de inspiração para
mitos e rituais Bijagós. Várias ações foram implementadas nos últimos anos, nas áreas
protegidas, em benefício das comunidades residentes, nomeadamente: introdução da
2 O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) é o conjunto de diretrizes e procedimentos oficiaisque possibilitam às esferas governamentais federais, estaduais e municipais e à iniciativa privada a criação,implantação e gestão de unidades de conservação (UC), sistematizando assim a preservação ambiental no Brasil.É composto por 12 categorias de UC, cujos objetivos específicos se diferenciam quanto à forma de proteção eusos permitidos: aquelas que precisam de maiores cuidados, pela sua fragilidade e particularidades, e aquelas quepodem ser utilizadas de forma sustentável e conservadas ao mesmo tempo. O SNUC foi concebido de forma apotencializar o papel das UC, de modo que sejam planejadas e administradas de forma integrada com as demaisUC, assegurando que amostras significativas e ecologicamente viáveis das diferentes populações, habitats eecossistemas estejam adequadamente representados no território nacional e nas águas jurisdicionais. Para isso, oSNUC é gerido pelas três esferas de governo (federal estadual e municipal). Criado pela lei 9.985, de 18 de julhode 2000 o Sistema Nacional de Unidades de Conservação foi gerado como resposta ao Art. 225, inciso 1º doCapítulo VI da Constituição Federal que determina a definição de espaços protegidos, como aponta a transcriçãoabaixo:
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apicultura, valorização do palmar com a introdução de prensas para a produção de óleo de
palma, valorização e conservação do pescado, introdução de fornos e fogões melhorados,
apóia a valorização do artesanato local, horticultura, criação de escolas de verificação
ambiental, rádios comunitárias e o principal e, a mais importante de todas: a alfabetização de
adultos, dentre outras. Todavia, todos esses grupos étnicos continuam exercendo a cultura
tradicional de culto aos seus ancestrais, o que reflete na produção de bens e materiais de
serviço, que culmina numa forte pressão sobre o meio ambiente, sobretudo florestal e
costeiro, incluindo áreas protegidas. Todas essas ações de âmbito produtivo são direcionadas
para a subsistência, na base de venda e troca de excedentes. Tudo isso acontece graças à
conservação da comunidade tradicional guineense, em especial da etnia Bijagós, que é objeto
deste estudo, pois a Guiné-Bissau, além de ter uma riquíssima diversidade biológica, também
possui uma expressiva diversidade étnica e cultural3.
Por sua vez, as comunidades rurais precisam das florestas para as suas atividades
extrativas e recolha de plantas medicinais, e ainda como locais de realização de cerimónias
sagradas ou tradicionais. Neste sentido, as florestas desempenham a função cultural e
religiosa4.
TECNOLOGIA TRADICIONAL BIJAGÓS SOBRE MEIO AMBIENTE
A sociedade Bijagós rege-se por uma grande quantidade de ritos de cerimônias
tradicionais, relacionados, em grande parte, ao meio ambiente. Segundo Lima (1947), as
cosmologias Bijagós fazem distinções ontológicas entre humanos, de um lado, e um grande
número de animais e plantas de outro. É, portanto, essencial ter em conta que, na cosmologia
Bijagó, a natureza e outros conceitos como ecossistema, tal como a ciência ocidental entende,
não são domínios independentes, mas fazem parte de um conjunto de inter-relações.
Portanto, para analisar as dinâmicas das tecnologias e as práticas tradicionais do grupo
e suas relações com a organização, gestão e conservação da biodiversidade no país, esta
pesquisa parte da abordagem antropológica da ecologia cultural. Mas, será preciso englobar
algumas categorias de análise definidas pelo sociólogo português Boaventura de Souza
3 https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/7642/2/disserta%C3%A7%C3%A3o%2002.pdf4 http://www.ue-paane.org/files/4914/6055/5535/9_Manual_Ambiente_e_Conservacao.pdf.
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Santos, que consistem na promoção de diálogos entre o saber científico ou humanístico que a
universidade produz e saberes tradicionais, ou não ocidentais que circulam na sociedade
(SANTOS 2006, p. 53). O autor desenvolve sua análise a partir dos conceitos sociologia das
emergências e sociologia das ausências. E propõe uma articulação entre o saber tradicional,
social, como saber técnico e científico, num processo de mútua fertilização e de inclusão do
conhecimento social excluído das universidades. De tal modo, ao falar da importância da
tecnologia utilizada pelos Bijagós na conservação da biodiversidade no país, fica explícito que
a cultura contribui para a construção de cidades e comunidades onde as pessoas vivem
trabalha e desempenha um papel importante no apoio ao bem-estar social e econômico.
Da mesma forma, o que foi explicitado para o grupo etnico Bijagós vale também para
outras etnias guineenses, como os manjaco, os felupes, os Balantas, os Nalus e outros. O que
mostram que há relações dinâmicas entre homem e natureza devido à diversidade cultural.
Conforme Leff (2009), as culturas e suas práticas tradicionais de convivência e manejo
sustentável da natureza vêm sendo reconhecidas não só por seu valor econômico na
bioprospeçao de novas intervenções tecnológicas nos organismos biológicos, como também
na sustentabilidade ecológica do planeta.
A interação entre o homem e natureza é um dos pontos apontados nas várias correntes
da antropologia no que diz respeito à cultura. Lévi-Strauss analisa alguns sistemas de
classificação dos recursos naturais por populações indígenas e sua relação com seus
conhecimentos e manifestações sociais: De fato, descobre-se mais, a cada dia, que, para
interpretar corretamente os mitos e os ritos e, ainda, para interpretá-los sob o ponto de vista
estrutural (que seria errado confundir com uma simples análise formal), a identificação
precisa das plantas e dos animais que se mencionam ou que são utilizados, diretamente sob a
forma de fragmentos ou de despojos, é indispensável (LÉVI-STRAUSS, 1989, p. 68).
Ao mesmo tempo, Marques (2001, p. 162) demonstra que são a partir destes elementos
que a população age com o meio natural e desenvolve seus sistemas tradicionais de manejo.
Existe uma relação de respeito, gratidão, medo e cumplicidade com a natureza, o que se
apresenta como causa direta da preservação ambiental das localidades nas quais as populações
tradicionais habitam. (CUNHA 1992).
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A chegada da cultura ocidental em seus ambientes, por sua vez têm esses impactos
recíprocos. Como Cunha (1999) apontou, essa mudança ocorreu basicamente através da
associação entre essas populações e os conhecimentos tradicionais e a conservação ambiental.
Assim, culturalmente e socialmente, problema ambiental da organização social representa
problemas da comunicação e socialização.
Os problemas ambientais são globais por afetarem todo o planeta, mas estão referidos
aos efeitos da intensificação do processo de comunicação sobre as relações entre indivíduos e
grupos, para além de cada região ou país. (CASTRO, 2000) Na comunidade Bijagós, cada
aldeia ou ilha pertence a um desses clãs que normalmente predominam a ilha ou tem a força
maior em decidir as coisas, e nenhuma outra tribo pode tomar decisões relativo a terra sem
autorização do “wami moto ou yawami moto” que quer dizer dono ou donos da terra.
(CORREIA, 2017)
Os Bijagós chamam sua terra wami moto ou yawami moto, livremente traduzido para o
português, quer dizer dono ou os donos da terra. Terra é simbolizada com a mãe. Eles
articulam o valor da terra em sua língua, dizendo yawami mato, livremente traduzido em
português significa portador. Eles costumam empregar este prazo para mostrar os valores
holísticos da terra em suas vidas inteiras. Os Bijagós usam esse termo em seus discursos
diários e em diferentes rituais, juramentos e maldições.
Com isso, Santos (2006), sugere que, no domínio da ecologia dos saberes, não há
saber em geral, tampouco há ignorância no geral; e que existe uma credibilidade contextual
que legitima a participação de outros saberes não científicos nos debates epistemológicos.
Estes sistemas de gestão do meio ambiente constituem parte integrante da identidade cultural
e da integridade social de muitas populações nativas. Ao mesmo tempo, seu conhecimento
incorpora uma riqueza de sabedoria e experiência da natureza conquistada ao longo de
milênios a partir de observações diretas, e transmitida, o mais frequentemente por via oral
passa de gerações a gerações.
Para os bijagós, o sucesso de uma busca sustentável parte dos mais velhos
considerados detentores do saber eles têm a obrigação de dar exemplos e orientações aos mais
novos e depois ensinando-os uma busca constante do equilíbrio mental do homem.
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(CORREIA, 2017) Na Guiné Bissau a terra é, sem dúvida, o recurso natural mais importante
para etnias Guineense. Sua Importância transcende a economia em uma amplitude de
significado social, espiritual, política e entre outros eventos, ela é considerado como um lugar
de nascimento; o lugar onde os antepassados são alocados para descansar; o lugar que o
criador tenha designado para passar para as gerações sucessivas.
Essas preocupações para os “yadjocos” principalmente as ligadas ao meio ambiente
precisam estar ligado à religiosidade e aos mitos para que o a preservação local dos recursos
naturais possam permanecer em perfeita harmonia. (Correia, 2017) Pois, isso permitirá o
respeito às divindades residido nas florestas, na terra e no mar que são lugares originários da
subsistência do homem, estabelecer esses laços só fortificará a relação homem e natureza; já
os mitos pregados servem para intimidar os curiosos a fim de manter a vida nesses locais;
concluindo essas fases essenciais finalmente se pode pensar numa gestão ambiental ou num
processo sustentável regida pela educação ambiental integrada, esses fragmentos do escopo
dos bijagós sob a ótica de um pensamento sustentável faz com que a biodiversidade na região
seja preservada.
Segundo a mitologia da maior parte das ilhas, uma primeira mulher deu à luz quatro
filhos, os quais fundaram os quatro clãs matrilineares (Ominca, Ogubane, Oraga e Orácuma),
cada um dos quais possuindo poderes e direitos que lhe são próprios. (NÓBREGA, 2009)
Assim, os Ogubanes têm uma relação (poder) privilegiada com o mar, o gado e algumas
espécies animais selvagens como o hipópotamo, ao passo que os Omincas têm poder sobre a
chuva, os Orácumas sobre a terra e os Oragas sobre o céu. Assim, o sistema de clãs apresenta
uma divisão territorial bem definida nas ilhas do arquipélago. (MADEIRA, 2009) A este
respeito, Álvaro Nóbrega refere: “nos Bijagós, todos os clãs são hierarquicamente importantes
e podem aceder ao poder”. A particularidade reside em que somente a geração “dona do chão”
o pode fazer no seu território
No entanto, a cultura desenvolve diferentes visões da natureza ao longo da história
humana. Muitas delas estão enraizadas em sistemas tradicionais de crenças, que os povos
usam para entender e interpretar seu ambiente biofísico. Santos (2006, p.4), proporcionando
diálogos com outros saberes e demonstrando possibilidades para a ciência construir
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conhecimentos “prudentes para uma vida decente”, através de uma aplicação edificante. O
autor propõe uma nova teoria crítica para sacudir as ciências e a emancipação política e social
que virá da aproximação de saberes, culturas, civilizações que constituem a diversidade.
Assim, interação entre comunidade é um espaço social interessante a partir do qual a observa
compreensão ambiental, senão pode levar um alto preço social e ecológico.
Afinal cada comunidade tem sua própria orientação privada ou adaptação ao ambiente
mais amplo institucionalizado na cultura do grupo, particularmente na sua tecnologia, que
inclui o conhecimento estabelecido de plantas e animais, clima e minerais, bem como
ferramentas e técnicas de extração de comida, roupa e amparo.
Por exemplo, o capitalismo para os bijagós como todo sistema seja eles políticos,
econômicos ou administrativos têm um caráter redundante ou dominatório; no caso do
Capitalismo, que é um sistema econômico não político, não é diferente. Porém, a sua acepção
para os bijagós. Para Correia (2017) o capitalismo é um sistema econômico, e não um sistema
político, mas que floresce e se adapta melhor em países democráticos. O grande problema do
capitalismo no cenário africano é sua introdução dentro de um sistema político antigo já
existente, sem estruturas que a alimenta. Ainda o autor, Os pilares deste sistema econômico
vão na contra mão da cosmologia dos Bijagós e dos seus ideais; nos costumes Bijagós estes
pilares teriam uma inversão para serem adequados aos costumes dos bijagós.
Na cosmovisão Bijagós, é o criador de todas as coisas, incluindo os recursos naturais e
os seres humanos têm as leis da ordem e coexistência harmoniosa entre os seres humanos e o
meio ambiente natural. As descobertas, revelar que clãs e yawami moto são autoridades
importantes de sua visão de mundo sobre a ordem cósmica.
Com o advento das tecnologias, tornou-se possível inovar, seguir, sugerir, trocar, e
aprender ideias e informações que visem o enfoque da sustentabilidade em sua plenitude,
essas preocupações não se restringem ao campo acadêmico. Se por um lado, a crise ambiental
afeta o mundo, os processos decorrentes desse fenômeno nos tornam regentes da orquestra em
questão, tanto de ponto de vista cultural, econômico, político, geopolítico, social, e, sobretudo
ético. Por estas e outras razões que se fundamenta a sustentação no assunto ao longo do seu
percurso; adequando-os as novas ferramentas e tecnologias em todas as esferas da nossa
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sociedade tornam-se latente os problemas e conquistas alcançados ao longo do tempo no
território guineense.
MATERIAL E MÉTODOS
Quanto a sua natureza, utilizou métodos de pesquisa qualitativa e fins exploratórios.
Ambas as fontes de dados primários e secundários utilizados para compilar esteve a dados
para o estudo. Para analisar as literaturas publicadas na área, o procedimento técnico utilizado
adveio da pesquisa bibliográfica e documental. O método histórico subsidiou a investigação
dos acontecimentos bibliográficos e documentais que influenciam o problema no presente.
RESULTADO DE PESQUISA
Os resultados mostram que há relações dinâmicas entre os bijagós, a terra, a floresta e
os recursos hídricos. Suas relações com cada um desses recursos são organizadas em torno
dos valores sociais, culturais, econômicos e ecológicos ligados a esses recursos. Por exemplo,
a terra yawami moto e os clãs têm valores simbólicos, simbolizados dona do chão, ou melhor,
dono de todos os seres vivos. Os valores sociais e culturais da terra incluem identidade e
vínculo social. Yawami moto e os clãs, na sabedoria do grupo são altamente valorizados e
respeitados. Estas carregam a identidade do grupo. Portanto, na utilização desses recursos, os
seres humanos devem respeitar o onipotente que, acima de tudo, faz com que cada existência
seja valorizada. Além disso, estes recursos estão associados com o psicológico, emocional,
bem como a identidade do grupo. Perde-las teria distorcido todos os aspectos da sociedade.
Em outras palavras, perder esta identidade significa a perda de conhecimento
tradicional associado a cada um desses valores, os clãs, leis, e outra qualidade interna moral
associado a ele. Suas relações com esses recursos, seja positiva ou negativa, retribuídas
através da chuva, boa colheita, bem-estar de pessoas e os seus animais, ou desastres naturais.
Por exemplo, as recompensas positivas para comunidade é chuva, boa colheita, bem-estar dos
seres humanos e animais. Ao contrário disto, as consequências negativas das ações erradas se
manifestam na ausência de chuva, a má colheita, surto de doença, fome e seca. Devido a estes
fatos, a comunidade age de acordo com as leis, normas, valores de Dona do chão, para manter
relações harmoniosas e equilibradas com os recursos naturais.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Enfim, os bijagós têm conhecimento habitual que faz parte de sua visão do mundo e
suas relações com os recursos naturais, e mantem essa relação de geração para geração. O
grupo tem saberes tradicional e práticas de gestão de recursos naturais, relacionada à floresta e
recursos hídricos que englobam os aspectos da vida integral. Estes recursos naturais (terra,
floresta e água) formam o esqueleto em torno do qual o conhecimento ambiental bijagós está
organizado. Acima de tudo, esses recursos são reservatório através ecologia, leis naturais e
leis tradicionais, abrangendo os clãs, dono do chão que determinam os padrões
comportamentais. E por serem extremamente ligados a natureza, a sua religiosidade facilita a
conservação de algumas espécies marinhas que habitam esse local. Essa forte crença regada
por ritos permanente dessa etnia fortalecendo suas práticas culturais e o respeito pela natureza
de onde se extrai alimentos, uma vez que, os recursos naturais são vistos como uma parte da
vida e o conhecimento para conservar esses recursos estão naturalmente transmitidos e é
incorporado de geração a geração.
Afinal, a sustentabilidade cultural examina formas de melhorar vidas humanas e deixa
também um legado prático para as gerações futuras. Uma vez que os valores culturais moldam
o modo de vida de cada sociedade e, portanto, tem o potencial de provocar a mudanças de
atitudes necessárias para assegurar o desenvolvimento sustentável. A habilidade envolve
esforços para preservar os elementos culturais tangíveis e intangíveis de sociedade de forma
que promovam a sustentabilidade ambiental, econômica e social. Atualmente, há uma
mudança de paradigma na visão de mundo em direção à sustentabilidade e inclusão a ecologia
cultural de maneira que não prejudica ecossistema, meio ambiente e bem-estar social. O
mundo não está apenas enfrentando desafios econômicos, sociais ou ambientais, mas também
a criatividade, a ciência, a diversidade e a generosidade são a base inevitável do diálogo para
a paz e o progresso, esses valores estão intrinsecamente ligados aos humanos. A Diretora
Geral da UNESCO (Irina Bokova) declarou em 2012 que a cultura é o que nos torna quem
somos fornecendo respostas para muitos dos desafios que enfrentamos hoje e que devemos
fazer muito mais para colocar a cultura no coração do mundo. (UNESCO 2012)
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A despeito disso, a cultura e valores são componentes significativos da sociedade. Porém, os
valores de cada cultura não são estáticos, eles evoluem com passar do tempo. Dessa forma , o
que realmente precisa ser afirmado e preservado é o reconhecimento dos princípios
fundamentais.
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