Recria de Novilhas Leiteiras
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Recria de Novilhas
Disciplina: Bovinos de Leite
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I. Crescimento de Novilhas
A obtenção de novilhas de tamanho e idade adequada ao primeiro parto pode
otimizar a produção de leite de maneira vantajosa. A obtenção dessas metas requer
nutrição e manejo alimentar adequados.
Em várias fazendas leiteiras o manejo de novilhas não é a atividade mais
importante do dia-a-dia, o que resulta na negligência de nutrição, manejo alimentar e
cuidados com instalações e saúde destas, resultando em aumento na idade ao
primeiro parto e menor produção de leite durante a vida produtiva do animal, quando
comparado às novilhas que foram alimentadas adequadamente.
Por outro lado o crescimento acelerado de novilhas também reduz sua
produção, podendo reduzir sua longevidade.
1. Avaliação do tamanho corporal de novilhas
O sucesso do programa de criação de novilhas pode ser avaliado pelo
monitoramento de peso e altura de bezerras e novilhas e sua comparação com a
média da raça para cada grupo específico de idade. Medir e pesar novilhas permite a
comparação do animal com o padrão da raça ou com animais da mesma raça em
grupos contemporâneos, podendo indicar problemas no programa de criação. No caso
de animais cruzados, embora não haja padronização de peso e tamanho corporal de
acordo com o grau de sangue do animal, este monitoramento também funciona como
ferramenta importante de avaliação do programa de criação.
O peso do animal pode ser obtido pela sua pesagem, ou estimado através da
fita de pesagem (Figura 38), que correlaciona perímetro torácico com peso vivo de
acordo com o porte do animal. A fita de pesagem tem uma acurácia dentro de 5 a 7%
do peso vivo real. Para o uso da fita, deve se certificar que o animal esteja em pé e
com a cabeça voltada para frente e para cima, de outra forma poderão ocorrer superou subestimativas. A fita deve ser passada em volta do animal, logo atrás das pernas
dianteiras, sem ser muito apertada junto ao seu corpo.
A medida de altura na cernelha também deve ser realizada com o animal com
a cabeça voltada para frente e para cima (Figura 38), sendo que este deve estar em
pé numa superfície plana para que a medida não seja alterada. O animal deve ser
medido no ponto mais alto da cernelha.
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Figura 38. Posicionamento correto de fita de pesagem e de régua pra medidade altura na cernelha
Os gráficos de padrão de crescimento de raças apresentam faixas (percentils)
da população, permitindo ao produtor que compare uma novilha com todas as outras edefina a taxa ideal de crescimento (Figura 39). Pesquisas têm demonstrado que
novilhas da raça holandesa com tamanho adequado para parição aos 22-24 meses, e
com níveis de produção de leite adequados, devem estar posicionadas próximo ou
acima da média de tamanho e peso corporal. A obtenção de novilhas extremamente
grandes pode não resultar no aumento na produção de leite. Além disso, o custo de
produção desses animais é extremamente alto.
Também é importante frisar que a idade ao primeiro parto está altamente
correlacionada com a lucratividade do animal, assim como o peso vivo após o parto
está altamente correlacionado com a produção de leite na primeira lactação. Uma
meta alcançável para a maioria dos produtores é manter a maioria das novilhas no
75o. percentil, ou seja 25% acima da média, e todo o rebanho variando entre a média
e o 95o. percentil.
Para que a novilha da raça holandesa tenha idade à primeira parição de 24
meses ou menos e alto potencial de produção, esta deve estar posicionada no topo ou
um pouco acima do 95o. percentil. Nestes gráficos, pode-se observar que a altura da
Maneiracorreta deposicionamento
da régua
Posicionamento da fita de pesagem
Perímetrotoraxico
Cernelha
Nível
Leitura
Maneiracorreta deposicionamento
da régua
Posicionamento da fita de pesagem
Perímetrotoraxico
Cernelha
Nível
Leitura
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cernelha é mais variável para animais mais jovens, e que em geral a variabilidade do
peso aumenta com o aumento da idade.
Figura 39. Padrão de crescimento (peso) de novilhas holandesas
Figura 40. Padrão de crescimento (altura) de novilhas holandesas
Peso de Novilhas726
635
545
454
363
273
181
91
0
95 percentil
75 percentil
Média
25 percentil
5 percentil
Meses
Peso de Novilhas726
635
545
454
363
273
181
91
0
95 percentil
75 percentil
Média
25 percentil
5 percentil
Meses
Altura de Novilhas1.52
1.40
1.27
1.14
1.0
0.89
0.76
0.63
0.50
95 percentil75 percentilMédia25 percentil5 percentil
Meses
Altura de Novilhas1.52
1.40
1.27
1.14
1.0
0.89
0.76
0.63
0.50
95 percentil75 percentilMédia25 percentil5 percentil
Meses
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O escore de condição corporal é uma ferramenta adicional que pode ser
utilizada para avaliar o manejo e a nutrição do programa de avaliação de novilhas
(Figura 41). O escore de condição corporal é uma maneira de avaliação de reservas
subcutâneas de tecido adiposo e muscular de animais. Dentre as limitações na
avaliação do escore corporal de novilhas inclui-se o fato de que é uma avaliação visual
e portanto subjetiva. Assim, é importante que o observador, ou observadores, sejam
sempre os mesmos, reduzindo a probabilidade de erros de avaliação. Além disso, o
comprimento dos pêlos do animal (mais problemáticos em região de clima frio) e a
dificuldade na aproximação da novilha para melhor observação da gordura nas
costelas e na inserção da cauda também podem ser considerados como fatores
limitantes.
Figura 42. Escore de condição corporal de novilhas de acordo com a idade
Bezerros jovens são naturalmente magros (2,0 a 2,5, numa escala de 1 a 5)
mas sua condição de escore corporal deve aumentar para 3,0 por volta da idade de
Recémnascido 2,0
6 meses3,0
12 meses3,25
15 meses3,5
24 meses3,75
Recémnascido 2,0
6 meses3,0
Recémnascido 2,0
Recémnascido 2,0
6 meses3,0
6 meses3,0
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15 meses3,5
24 meses3,75
12 meses3,25
12 meses3,25
15 meses3,5
15 meses3,5
24 meses3,75
24 meses3,75
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inseminação. O escore de condição corporal de 3,5 a 3,7 é considerado normal para
novilhas parindo entre 22-24 meses. Esse escore permite a avaliação do
armazenamento de moderada quantidade de gordura corporal, que será utilizada no
início da lactação quando o animal estiver em balanço energético negativo.
2. Crescimento e desenvolvimento da glândula mamária
Os objetivos da criação de novilhas são produzir animais de alta qualidade para
a reposição de vacas e melhorar o mérito genético do rebanho. Para que isso ocorra
de forma economicamente viável, produtores devem ter como meta a parição de
novilhas o mais cedo possível, com tamanho corporal que maximize a produção de
leite e minimize problemas de distocia (Heinrichs e Hargrove, 1987).
O fato de animais em crescimento não serem animais produtivos, com um
custo aproximado de US$1,25 à US$1,60 por dia (Cady e Smith, 1996), representando
o segundo maior custo de uma fazenda leiteira, tem levado produtores a acelerar as
taxas de ganho de peso de novilhas com o objetivo de se colocar o animal em
produção o mais rápido possível. Segundo Cady e Smith (1996), o aumento na Idade
ao Primeiro Parto (IPP) eleva o custo do rebanho de três formas: 1) aumentando os
dias de criação até a primeira parição; 2) aumentando o número de novilhas na
fazenda; e 3) diminuindo seu potencial de produção.
Embora a redução da IPP, alcançada com maiores taxas de ganho, resulte em
retorno econômico antecipado, uma avaliação em longo prazo pode revelar uma outra
situação. Durante os últimos 15 anos, vários trabalhos indicaram que o nível de
alimentação e especialmente o consumo de energia durante a fase pré-púbere, podem
afetar de forma marcante o desenvolvimento da glândula mamária e,
conseqüentemente a produção de leite futura de novilhas (Akers e Sejrsen, 1996).
Mais recentemente, pesquisadores têm sugerido que a aplicação de maiores taxas de
ganho de peso com o emprego de dietas de alta densidade energética não têm efeitoprejudicial ao desenvolvimento da glândula mamária desde que o nível de proteína da
dieta também seja alto (VandeHaar, 1997). Vários trabalhos demonstram problemas
com relação ao desenvolvimento da glândula em novilhas com alta taxa de
crescimento quando a relação proteína bruta (PB): energia metabolizável (EM) é
menor que 65g/Mcal (Sejrsen et al ., 1982; Harrison et al ., 1983; Capuco et al ., 1995;
Radcliff et al ., 1997).
A produção de leite de uma vaca é determinada principalmente pela habilidade
de produção de sua glândula mamária e por sua capacidade em fornecer nutrientespara a mesma (VandeHaar, 1997). Essa habilidade de produção de leite é
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dependente, ou está diretamente ligada, ao número de células secretoras que se
encontram no tecido parenquimal da glândula mamária, o que é determinado por
fatores genéticos e do ambiente (onde se enquadra a nutrição animal). Segundo Akers
et al . (1998), existe alta correlação (r=0,85) entre DNA total parenquimal e a produção
de leite do animal. O desenvolvimento da glândula mamaria pode ser dividido em
cinco fases principais, sendo elas: desenvolvimento fetal, pré-puberal, pós-puberal,
gestacional e durante a lactação.
2.1. Puberdade e Idade ao Primeiro Parto (IPP)
O termo puberdade foi definido por Robinson (1977) como o processo onde os
animais se tornam capazes de se reproduzir. Em fêmeas, este processo está
associado ao início da atividade cíclica ovariana. Entretanto, na maioria das novilhas,
a primeira ovulação não é sinônimo de puberdade, por isso, mais recentemente Moran
e colaboradores (1989) redefiniram o início da puberdade: primeiro estro seguido de
uma fase luteal normal. Em animais de grande porte este evento ocorre, de forma
geral, entre 9 e 11 meses de idade em animais de peso vivo entre 250 e 280 Kg,
existindo alguma variação entre e dentro de raças. Segundo Sejrsen e Purup (1997) a
maior fonte de variação na idade de início da puberdade dentro da raça é o nível de
alimentação dos animais. Por outro lado, o peso do animal à puberdade não é afetado
pelo nível de alimentação. A variação no ganho de peso diário de novilhas, conseguida
com maiores níveis de alimentação, possibilita redução na idade de início da
puberdade, já que animais alcançam pesos de 250 a 280 kg mais cedo. Trabalho de
Foldager et al . (citado por Sejrsen e Purup, 1997) mostra uma variação de idade ao
início da puberdade de 9 a 17 meses quando foram aplicados ganhos de peso diário
de 850 a 450g, respectivamente (Figura 43). Assim, o peso vivo, e não a idade,
determina o início da puberdade em animais de raças leiteiras.
O número de trabalhos nacionais avaliando idade à puberdade em novilhasleiteiras é escasso. As médias de IPP observadas nos rebanhos são bastante
variáveis e dependentes do grau de sangue dos diversos cruzamentos utilizados, além
dos sistemas de produção, ou mais especificamente, do manejo nutricional empregado
na fase de crescimento.
Avaliando dados de 153 animais, manejados no Nordeste brasileiro, Bacalhau
et al. (2001) observaram idade à puberdade de 38,8 meses e idade à concepção de
39,1 meses em novilhas da raça Gir, colocadas em reprodução a partir de 300 kg de
PV. Estes dados refletem o baixo ganho de peso destes animais durante a fase decrescimento, conseqüente IPP avançada e, portanto, alto custo de criação.
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Figura 43. Efeito o nível de alimentação na idade e peso à puberdade
A introdução de sangue europeu em cruzamentos para obtenção de animais
leiteiros geralmente reduz idade à puberdade. A avaliação de características de
novilhas Girolando realizada por Freitas e colaboradores (2002) apresentou média de
IPP de 33,7 meses de idade. O aumento da participação de sangue europeu reduziu a
IPP, já a partir do cruzamento ½ Holandês:Gir (HG), quando comparado com asnovilhas 3/8, assim como observado por Alves et al (2004).
Em trabalho subseqüente, Freitas et al. (2003), utilizando 6.781 registros dos
arquivos de controle leiteiro da Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas
Gerais, observaram redução na IPP em novilhas 7/8 HG (30,7) quando comparadas às
novilhas 3/4 (31,4), 15/16 (31,3) e 31/32 HG (31,3), todas manejadas como animais
puros da raça Holandesa. Ainda em animais cruzados Holandês-Zebu (HZ), Ruas et
al. (2004) observaram IPP variando de 30,2 a 35,7 meses, índices semelhantes aos
observados por outros autores.Teodoro et al. (1993) observaram menor idade e peso à puberdade em
novilhas filhas de vacas HG e touro Jersey, quando comparadas às filhas de touro
Holandês ou Pardo-Suíço. Estes dados levam à conclusão de que animais mestiços
com sangue Jersey sejam sexualmente mais precoces. Entretanto, o menor tamanho
corporal e/ou peso adulto destes animais estão intimamente relacionados ao menor
peso à puberdade. Assim, animais com menor peso adulto, quando manejados da
mesma forma que animais de maior porte, alcançarão peso à puberdade mais cedo.
Azevedo et al. (2004) também observaram menor IPP em animais com sangue Jersey,
I d a d e ( m e s e s )
P e s o Vi v o ( k g )
Ganho de peso (g/d)
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quando comparadas às novilhas com sangue Holandês, quando os animais foram
criados sob mesmo manejo nutricional: pastagem com suplementação na seca.
Mesmo considerando o sistema de produção mais comumente utilizado no
Brasil, conclui-se que os índices de idade à puberdade e ao primeiro parto ainda
precisam ser reduzidos para que a criação de novilhas seja economicamente viável.
Em sistemas baseados na exploração de pastagens tropicais, observa-se redução no
desempenho de novilhas leiteiras, principalmente no período da seca. Assim,
estratégias de suplementação podem contribuir de forma econômica para a redução
da IPP. Carvalho et al. (2004) compararam diferentes sistemas de suplementação
sobre o desenvolvimento e a idade de entrada em reprodução de novilhas mestiças F1
HZ. Os autores observaram que para animais recriados em pastagens, os diferentes
regimes de suplementação não alteraram o peso dos animais aos 24 meses de idade,
mas reduziram a entrada em reprodução por aumentar o peso dos animais aos 18 e
21 meses, possibilitando conseqüentemente redução na IPP.
Na intenção de reduzir IPP e portanto, o custo de novilhas no rebanho,
produtores têm realizado suplementação com mistura concentrada de maneira a
obterem altos ganhos de peso. Entretanto, a produção de leite destes animais pode
estar sendo reduzida devido aos efeitos de altos ganhos no desenvolvimento da
glândula mamária
2.2. Desenvolvimento da Glândula Mamária
O desenvolvimento da glândula mamária durante a puberdade é menos
pronunciado do que durante a gestação. Entretanto, problemas durante esta fase
podem ter grande influência na produção futura do animal. Ao nascer, a fêmea
apresenta as estruturas básicas da glândula, que se formaram durante a fase fetal,
sendo ainda rudimentar o tecido epitelial que, através de diferenciação, formará
células secretoras. O animal apresenta estroma, sistema circulatório e a parte externada glândula praticamente desenvolvidos, mas não apresenta alvéolos ou grande
número de dutos (Sejrsen e Purup, 1997).
Do nascimento aos três meses de vida aproximadamente, a glândula mamária
apresenta crescimento isométrico, ou seja, taxa de crescimento semelhante à taxa de
crescimento do corpo animal, onde ocorre crescimento principalmente de tecidos
epiteliais. Entretanto, após os três meses de idade esse crescimento passa a ser
alométrico, quando a glândula cresce a uma taxa superior àquela do corpo animal,
podendo ser de 1,8 até 3,5 vezes maior (Van Amburgh e Galton, 1994). Nesta fase,
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ocorre rápido crescimento do tecido adiposo e de dutos que se ramificam neste tecido.
Esta fase termina com o início da puberdade e, segundo Sejrsen e Purup (1997), está
intimamente ligada ao desenvolvimento dos órgãos reprodutivos. O sinal para que com
a puberdade o crescimento da glândula volte a ser isométrico ainda não está bem
definido, sendo sugeridos sinais hormonais provenientes de secreção ovariana
(Tucker, 1981) ou independente dessas secreções, podendo ocorrer antes ou após o
início da puberdade (Sejrsen e Purup, 1997).
2.3. Efeito Hormonal no Desenvolvimento da Glândula Mamaria
O efeito do hormônio do crescimento (GH), endógeno ou exógeno, no
desenvolvimento da glândula mamária foi amplamente estudado por vários autores
(Sandles e Peel, 1987; Purup et al., 1993; Weber et al., 1996; Brozos et al., 1998;
Sejrsen et al., 1999) (Tabela 14). A participação desse hormônio foi demonstrada pela
relação positiva entre níveis de GH circulantes e desenvolvimento da glândula
(Sejrsen et al., 1987), inclusive quando os níveis eram elevados por meio de
administração exógena (Sandles e Peel, 1987; Purup et al., 1993; Carsten et al., 1997;
Radcliff, 1997). Sandles e Peel (1987) estudaram o efeito da administração contínua
de GH, em 12 pares de novilhas gêmeas, dos 3,5 meses até o abate com
aproximadamente 8 meses, no desenvolvimento da glândula mamária. Animais
tratados com GH apresentaram glândula mamária de menor tamanho, mas com maior
proporção de parênquima na matriz adiposa após o abate. Medidas morfométricas
demonstraram aumento no volume de tecido conectivo (P
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Tabela 14. Efeito de GH exógeno no desenvolvimento da glândula mamaria de
novilhas
Referência Tratamento
(dose) no
animais Idade/peso
inicial Duração Tecido
Parenquimal (g) %
mudança
Sejrsen et al. Controle 9 8 16 454 (1986) 20 U/d 9 meses Semanas 537 + 18 Sandles e
Peel Controle 4 3,5 21 383
(1987) 0,6mg/kg0,75/d
4 meses Semanas 461 + 20
Purup et al. Controle 4 5,8 15 288 (1993) 15 mg/d 4 meses Semanas 326 + 13
Carsten et al. Controle 18 6 meses Até 305 (1997) 500 mg/2
sem 17 (159 kg) 390 kg 452 + 48
Radcliff et al. Controle 19 126 kg Até 405 (1997) 25µg/kg/d 19 5o estro 491 + 46 Adaptado de Sejrsen et al. (1999).
A ausência de ligação de GH na glândula mamária, além da falta de resposta
ao tratamento de GH in vitro (Akers, 1985), tem sugerido que seu efeito no
desenvolvimento desta ocorre por meios indiretos. Entretanto, alguns pesquisadores
reportaram a expressão de RNAm de GH na glândula mamária de novilhas (Glimm et
al ., 1990, citados por Sejrsen, 1999) e significante aumento no desenvolvimento da
glândula com a administração de GH através de seu canal (Collier et al ., 1993).Contrariamente, em trabalhos onde foi realizada administração de GH através do
canal ou subcutâneamente à glândula não foram observados efeitos na produção de
leite (Sejrsen et al ., 1999).
A via indireta pela qual o GH tem efeito sobre o desenvolvimento da glândula
mamária de bovinos deve ser seu estímulo sobre a produção de IGF-I, o qual é
produzido na maioria dos tecidos, inclusive na própria glândula, mas principalmente no
fígado do animal. A alimentação é um fator de variação nas concentrações de IGF-I
em bovinos. Animais em alto plano nutricional apresentam maiores concentraçõesdesse hormônio mas, como será discutido adiante, têm o desenvolvimento da glândula
mamária prejudicado quando da ocorrência de ganho de peso acima de 700-800 g/d.
Dessa forma, não se pode explicar redução no desenvolvimento da glândula mamária
em altos planos nutricionais devido ao menor nível de GH circulante, uma vez que a
ação deste é mediada por IGF-I.
Alguns autores têm sugerido que a relação entre GH, IGF-I e desenvolvimento
da glândula mamária pode ser modificado por proteínas ligadas ao IGF-I e/ou
produção local de IGF-I na própria glândula (Collier et al ., 1993; Sejrsen, 1994; eWeber et al .,1999). A hipótese de que GH atue diretamente na glândula não deve ser
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descartada, uma vez que foi encontrado RNAm deste hormônio na glândula mamária.
Efeitos opostos observados in vitro e in vivo devem ser decorrentes da ação de outros
fatores além da ação de GH e IGF-I.
O importante papel de estrogênio no desenvolvimento da glândula mamária
tem sido demonstrado através da retirada dos ovários de novilhas pré-púberes (Purup
et al ., 1993; Purup et al ., 1995; Ellis et al ., 1996). A realização de ovariectomia na
primeira semana de vida impossibilita a formação da glândula mamária (Wallace,
citado por Sejrsen, 1997). Se a ovariectomia for realizada aos 2,5 meses de idade, o
desenvolvimento da glândula é fortemente inibido (Purup et al ., 1993). Por outro lado,
quando esses animais, desprovidos de ovários, recebem doses de estrogênio tem o
desenvolvimento da glândula reiniciado.
Em trabalho de Purup e colaboradores (1993), a retirada dos ovários resultou
em menor peso e volume total (P
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ganho diário até esta idade de aproximadamente 800g. Como durante os 3 primeiros
meses de vida e ao final da gestação os ganhos observados são menores, durante a
fase pré-púbere os ganhos devem ser de aproximadamente 900 g/d. Caso o produtor
tenha como meta parição aos 20 meses por exemplo, os ganhos durante a fase pré-
púbere devem ser ainda maiores (≅ 1,10 kg/d) (VandeHaar, 1997).
A Figura 44, adaptada de Hoffman e Funk (1992), mostra como alterações na
curva de crescimento podem modificar a IPP. A estratégia ideal (representada pelos
segmentos C e E) consiste em limitar o ganho de peso pré-púbere, de forma a otimizar
o desenvolvimento do tecido secretor, e após a puberdade aumentar a taxa de ganho
de forma a se obter animais parindo com 600 kg de peso vivo aos 24 meses.
Problemas na obtenção de maiores taxas de ganho após a puberdade podem atrasar
a IPP ou levar o animal à parição com peso menor. Redução na idade ao primeiro
parto para 16 meses pode ser obtida com taxa de ganho de 1032 g/d desde o
nascimento. Da mesma forma, mantendo-se taxa de ganho de 600g/d na fase pré-
púbere e imprimindo-se taxa de 2440 g/d após a puberdade a fim de se alcançar idade
ao primeiro parto aos 16 meses é praticamente impossível.
Figura 44. Alterações na curva de crescimento de novilhas e efeito na idade ao
primeiro parto. (Adaptado de Hoffman e Funk, 1992).
Mudanças no balanceamento de dietas para animais pré-púberes com o
objetivo de se obter maiores ganhos de peso sem efeito negativo no desenvolvimento
da glândula mamária parecem ser boa estratégia. Todavia, a maior parte dos estudos
Taxa para mínimaidade
Taxa padrão
PuberdadeU
s U
IPP atrasada caso
ganho não ocorra
Ganho necessário p/
peso ao parto desejado
após C
Ganho inatingível
Taxa para maximização do
desenvolvimento da glândula
Peso (kg)
Idade (meses)
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mostra que altas taxas de ganho antes do início da puberdade estão associadas com
redução no desenvolvimento da glândula mamária, no que diz respeito ao tecido
parenquimal, e reduções na produção de leite desses animais.
Segundo Sejrsen e Purup (1997), o nível de alimentação, resultando em
ganhos superiores a 600 - 700 g/d, pode ter efeito negativo na glândula mamária. Por
outro lado, pesquisadores americanos afirmam que este limite é superior, 850 g/d, já
que os animais americanos são de maior porte (VandeHaar, 1997). Esta sugestão vem
trazendo pesquisadores a buscar meios de se imprimir ganhos de peso acelerado,
sem que ocorra efeito negativo no desenvolvimento da glândula mamária, seja pelo
controle de consumo de alimento ou do fornecimento de diferentes tipos de dietas.
A estratégia mais utilizada com o intuito de se limitar o ganho de peso na fase
pré-púbere é a redução da densidade energética da dieta para esta categoria animal.
Essa prática é geralmente realizada pela inclusão de maior proporção de forragem na
dieta e, em algumas situações, inclusão de forragens de menor qualidade, de forma a
satisfazer o animal através de limite físico de consumo. Em situações onde esta
estratégia não é possível, tem-se realizado limitação de consumo em até 80% do
consumo ad libitum .
Utilizando 48 novilhas de aproximadamente 4 meses de idade, Sejrsen e
Larson (1977), ofereceram dietas com diferentes proporções de silagem de milho e
concentrado e monitoraram o ganho de peso e a produção de leite à primeira lactação.
As diferentes dietas resultaram em altos ganhos de peso na fase pré-púbere sendo
893, 964, 929 e 1000 g, nos grupos de 100:0, 75:25, 50:50 e 25:75
(silagem:concentrado), respectivamente, nas últimas 4 semanas antes do 1o cio. A
baixa produção de leite e os altos ganhos de peso foram relacionados ao menor
desenvolvimento da glândula mamária, sendo este um dos primeiros trabalhos a
demonstrar que altos ganhos poderiam reduzir o desenvolvimento mamário e
subseqüente produção de leite.
Com o objetivo de se avaliar o efeito do plano nutricional no desenvolvimentomamário, Sejrsen et al. (1982) forneceram dieta com proporção 60:40
concentrado:forragem de forma restrita ou ad libitum para novilhas pré-púberes (7
meses) e pós-púberes (13 meses). Os ganhos de peso apresentados pelos animais
foram 637 e 1271 (pré-púberes) e 588 e 1164 (pós-púberes) para animais com dieta
restrita ou ad libitum , respectivamente. Animais alimentados ad libitum alcançaram a
puberdade mais cedo que animais com consumo restrito e apresentaram maior peso
total da glândula mamária. Entretanto, isso se deveu a maior quantidade de tecido
adiposo na glândula mamária (77% do peso da glândula). Animais pré-púberesalimentados de forma restrita apresentaram maior porcentagem da glândula como
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tecido parenquimal (38 vs. 23%), além de maior porcentagem de DNA parenquimal,
demonstrando maior capacidade secretora. Em animais pós-púberes o efeito do
regime de alimentação não foi tão marcante, sendo que o tecido parenquimal foi
apenas 3% menor em animais em regime ad libitum . O ganho de peso vivo de
novilhas pré-púberes foi correlacionado negativamente com medidas do tecido
parenquimal, e negativamente com peso total da glândula e porcentagem de tecido
adiposo. Estes resultados demonstram que altos ganhos de peso durante a fase
alométrica de crescimento da glândula mamária podem reduzir o desenvolvimento
mamário em termos de células secretoras, reduzindo conseqüentemente o potencial
de produção desses animais.
Em trabalho subseqüente, Sejrsen et al . (1983), também utilizaram diferentes
regimes de alimentação de uma mesma dieta para novilhas antes e após a puberdade,
obtendo ganhos de peso de 613 e 1218 g/d para animais em regime restrito vs. ad
libitum , respectivamente. Animais em regime restrito apresentaram maiores níveis de
GH, os quais foram positivamente correlacionados com a quantidade e porcentagem
de parênquima total e DNA parenquimal; e negativamente com a quantidade e
porcentagem de tecido adiposo da glândula. O trabalho mostra como novilhas com
alto consumo de energia podem apresentar redução no desenvolvimento mamário, e
sugere que em caso de dietas com alta energia, a restrição de consumo seja uma boa
prática de manejo.
Esses trabalhos mostram, de maneira clara, que animais em regime alimentar
restrito tem maiores níveis de GH e, quando ganhando até 650 g/d, apresentam
melhor desenvolvimento da glândula mamária. O ponto seguinte a ser entendido a
partir desses trabalhos seria então se o efeito é resultante da restrição de consumo, e
conseqüente aumento nos níveis de GH, ou devido ao menor consumo de energia
desses animais.
Seguindo a mesma linha de investigação, Sejrsen e Foldager (1992),
controlaram o consumo de energia de novilhas pré-púberes através do balanceamentode dietas com alta e baixa densidade energética, e não controlando o consumo. Os
animais não apresentaram diferença estatística com relação ao desempenho, com os
dois grupos apresentando ganho de peso de 500 g/d; independentemente da diferença
de consumo de matéria seca, a qual foi superior para animais com alta densidade
energética (P
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apresentou diferenças em relação à produção de leite na primeira lactação,
demonstrando que em baixos níveis de alimentação (que possibilitou ganho de peso
de apenas 500 g/d) a concentração de energia da dieta não afeta o desenvolvimento
mamário assim como a produção de leite do animal.
Também em 1992, Peri et al., restringiram o consumo de energia de novilhas
de 6 meses de idade a partir do balanceamento diferenciado de dietas e de diferentes
regimes de alimentação: A) 85% das recomendações do NRC até a puberdade,
seguido de 120% NRC; B) controle: 100% NRC, seguido de 90% NRC; e C) ad libitum
durante todo o período. O ganho de peso dos animais foi significativamente diferente
sendo de 625, 768 e 1100 g/d na fase pré-púbere e de 1162, 705 e 797 g/d na fase
pós-púbere, para os tratamentos A, B e C, respectivamente. A produção de leite dos
grupos B e C não foi diferente apesar da grande diferença em ganho de peso quando
a análise dos dados foi realizada com os dados dos dois períodos em conjunto (750
vs. 1000 g/d), e na fase pré-púbere quando animais do grupo C ganharam mais de 1
kg/d, valor muito superior ao sugerido por Sejrsen na literatura. Entretanto, novilhas do
grupo A, que apresentaram taxas de ganho durante a fase crítica de crescimento
dentro do sugerido por literatura, e um ganho considerado compensatório durante a
fase pós-púbere, apresentaram maior produção de leite na primeira lactação que
animais dos grupos B e C. Este trabalho, apesar de não ter determinado efeito no
desenvolvimento da glândula com medidas de peso, tecido parenquimal e adiposo,
demonstra o efeito negativo do ganho de peso acelerado durante a fase pré-púbere na
formação de tecido secretor de forma indireta. Reafirma também que maiores ganhos
de peso após a puberdade não afetam o desenvolvimento da glândula, uma vez que a
produção de leite não foi reduzida no grupo A.
Por outro lado, esses dados não foram confirmados no trabalho de Barash et
al. (1994), onde novilhas recebendo dietas de baixa densidade energética dos 6 aos
10 meses, seguida de dieta para ganho compensatório durante mais 2 meses (ainda
anterior à puberdade), foram comparadas a novilhas recebendo uma dieta controleque permitiu ganho de 650 g/d. Novilhas no tratamento para ganho compensatório
apresentaram ganho de peso de 460 e 1090 g/d enquanto os animais controle
apresentaram ganhos de 780 e 550 g/d no 1o e 2o período, respectivamente. Apesar
de novilhas no tratamento para ganho compensatório apresentarem ganho de peso de
1090 g/d durante os últimos dois meses da fase pré-púbere, não houve diferença
significativa na redução de produção de leite desses animais. A alta disponibilidade de
energia metabolizável (EM) durante o 2o período (ainda pré-púbere) poderia ter
resultado em menor produção de leite, mas essa dieta foi fornecida somente 40 kg
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antes do início da puberdade, o que talvez tenha reduzido o efeito negativo no
desenvolvimento da glândula mamária.
O efeito da fonte de proteína da dieta no desenvolvimento da glândula mamária
de novilhas também foi avaliado em diversos trabalhos (Van Amburgh e Galton, 1994;
Mantysaari et al ., 1995; Purup et al ., 1999). Entretanto, ainda se faz necessário a
realização de trabalhos para se avaliar diferentes concentrações de nitrogênio, ou
proteína, uma vez que trabalhos realizados com ratos e ovelhas mostraram que este
fator pode influenciar o desenvolvimento da glândula mamaria.
Pesquisadores da Universidade de Cornell realizaram estudo utilizando
quantidade crescentes, mas ainda muito reduzidas, de proteína sobrepassante (não
degradável no rúmen) em dietas formuladas para ganhos de peso de 600 (A), 800 (B)
e 1000 g/d (C) (Van Amburgh e Galton, 1994). Os tratamentos foram impostos do
desaleitamento até um peso vivo de aproximadamente 340 kg e, durante este período,
os animais apresentaram ganho de peso de 710, 840 e 950 g/d, para os tratamentos
A,B e C respectivamente. Embora dois grupos tenham apresentado ganhos de peso
elevados, em comparação ao limite sugerido em literatura, não foram observadas
diferenças com relação ao desempenho na primeira lactação entre os tratamentos. Os
autores sugerem que a ausência de efeito na produção de leite se deve a manutenção
de escore da condição corporal (BCS) das novilhas por volta de 3, numa escala de 1 à
5, sendo sugerido um BCS de no máximo 4 para novilhas pré-púberes (Van Amburgh
e Galton, 1994). Os autores não observaram efeito algum da proteína sobrepassante
no ganho de peso das novilhas, provavelmente devido às pequenas diferenças de
quantidades adicionadas nos tratamentos. Os autores sugerem que ganhos de 950 g/d
podem ser aplicados desde que as dietas sejam bem balanceadas e que animais não
sejam supercondicionados. Assim, o efeito negativo no desenvolvimento da glândula
mamaria, neste estudo medido indiretamente através de produção na primeira
lactação, pode não ocorrer. Os animais com maiores ganhos de peso apresentaram
ainda redução na IPP, sendo a diferença de até 85 dias comparando-se grupos A e C,o que possibilita a obtenção de um animal em produção mais cedo.
Da mesma forma, Mantyssari et al. (1995) não observaram efeito da fonte de
nitrogênio (uréia ou farelo de canola) na dieta de novilhas com relação ao
desenvolvimento da glândula mamária quando estes animais foram submetidos a
dietas com alto ou baixo nível energético. Entretanto, como demonstrado em trabalhos
anteriores (Sejrsen et al ., 1983; Sejrsen e Foldager, 1992; Peri et al ., 1992), houve
aumento significativo da quantidade de tecido e de DNA parenquimal em animais
recebendo dietas com menor nível de energia, que resultaram em ganhos de 692(uréia) e 655 g/d (farelo de canola) quando comparados com dietas de maior nível
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energético, que resultaram em ganhos de 805 (uréia) e 890 g/d (farelo de canola). Os
níveis de GH e IFG-I não foram afetados pelo nível energético da dieta, mas o
desenvolvimento mamário foi mais uma vez positivamente correlacionado com nível
de GH.
Em sumário realizado por VandeHaar (1997), reduções estatisticamente
significativas no desenvolvimento da glândula mamária ocorreram em apenas quatro
dos sete estudos agrupados (Tabela 15). Estes trabalhos apresentam grande variação
com relação aos métodos utilizados para induzir altas ou baixas taxas de crescimento
nos animais, além de variação na idade para início do tratamento. Alguns desses
estudos utilizaram ainda diferentes metodologias para acessar desenvolvimento da
glândula mamária, o que limita a comparação de trabalhos.
Usando técnicas semelhantes, Radcliff et al. (1997) e Sejrsen et al. (1982),
obtiveram resultados diferentes com relação ao desenvolvimento da glândula, em
termos de mg de DNA parenquimal, para novilhas com altas taxas de crescimento.
Aplicando ganhos diários de 800 ou 1200 g em novilhas holandesas com dietas de alta
energia e alta proteína, Radcliff e colaboradores reduziram idade à puberdade, sem
alterar peso vivo ou altura de cernelha nessa mesma idade. Não foram alterados
também o DNA, RNA ou a relação destes no parênquima mamário. De maneira
contrária, Sejrsen et al. (1982) observaram reduções de 23% no peso do tecido
secretor e de 32% no conteúdo de DNA quando novilhas foram alimentadas ad libitum ,
com ganhos médios de 1200 g/d, ou de forma restrita, permitindo ganho diário de
600g.
VandeHaar (1997) também compilou dados de trabalhos onde se determinou o
efeito da nutrição pré-púbere na produção de leite da primeira lactação e observou
diferença significativa em cinco dos seis estudos nos quais novilhas tiveram alto ganho
de peso antes da puberdade. Pode-se concluir desse sumário que a dieta na fase pré-
púbere pode afetar a produção de leite mesmo quando o ganho de peso não foi
diferente. Este é o caso do trabalho de Murphy et al. (1991), onde novilhas receberamdietas a base de silagem de milho ou alfafa, e apresentaram ganhos de peso
semelhantes (770 g/d), entretanto aquelas alimentadas com alfafa na fase pré-púbere
apresentaram maior produção de leite na primeira lactação.
Variações no desenvolvimento da glândula mamária e produção de leite em
resposta à dieta na fase pré-púbere podem ser devido a diferenças nos protocolos
utilizados em experimentos, diferenças de raça e genótipo dos animais, idade na qual
os tratamentos foram aplicados, nutrição após a puberdade, peso vivo na parição, e
composição da dieta em relação à energia. Mas, o único fator que mostra diferenças
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consistentes entre os diversos estudos compilados, é a porcentagem de proteína da
dieta, ou ainda, a relação proteína bruta e energia das dietas.
Tabela 15. Sumário realizado por VandeHaar (1997) relacionando ganho de peso
diário, DNA parenquimal e relação proteína bruta (PB) e energia metabolizável (EM)
da dieta.
Referência Tratamento Idade/
Duração Ganho
dePesog/d
Respostamamaria1 /
45,5 kg de pesovivo
RelaçãoPB:EM2
Sejrsen et al . Consumo restrito 7 meses 635 223 mg 48 (1982) Ad libitum aos 320
kg 1270 151 mg 48
Petitclerc et
al .
Consumo restrito 5 meses 770 103 mg 48
(1984) Ad libitum aos 350kg
1044 77 mg 48
Capuco et al . Alfafa/baixo grão 7 meses 770 260 mg 83 (1995) Alfafa/alto grão Aos 953 245 mg 83
Silagem milho/baixasoja
330 kg 770 277 mg 83
Silagem milho/alta soja 953 145 mg* 54 Radcliff et al . 90% feno/10% grão 4 meses 770 195mg 89
(1997) 25% feno/75% grão ao 2 o mêspós
púbere
1225 200mg 68
* Diferença estatisticamente significante P68 g/Mcal), apesar do ganho diário (770g) ter sido o mesmo entre tratamentos
(Murphy et al., 1991). Pode-se inferir ainda que animais com maiores taxas de
crescimento tenham maior exigência protéica e, sendo assim, maiores relaçõesPB:EM sejam necessárias para máximo desempenho, sem que a glândula mamária
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seja afetada. Em trabalhos onde foram aplicadas altas taxas de ganho de peso em
animais pré-púberes, alimentados com dietas seguindo recomendações do NRC,
observou-se efeito negativo no desenvolvimento da glândula mamaria (Sejrsen et al .,
1982; Harrison et al ., 1983; Petitclerc et al ., 1984). Contrariamente, quando animais
foram alimentados com dietas contendo relação PB:EM acima do recomendado pelo
NRC (50-60 g/Mcal) não se observou efeito, mesmo em animais com ganho de peso
diário acima do limite superior sugerido em literatura (0,95 kg/d - 83 g/Mcal, Capuco et
al ., 1995; 1,2 kg/d - 68 g/Mcal, Radcliff et al ., 1997). O efeito de maiores níveis de
proteína, ou maior relação PB:EM na fase pré-púbere, na produção futura desses
animais criados com altas taxas de crescimento precisa ser mais estudado.
Em estudo recente Dobos et al . (2000) avaliaram o desenvolvimento mamário e
a produção de leite a primeira lactação em novilhas alimentadas com dietas de alta
energia com variações nos teores de proteína bruta e proteína não degradável no
rúmen (PNDR). As maiores taxas de ganho de peso foram observadas nos
tratamentos com alta PB (70 g PB/Mcal EM), quer em baixa ou alta PNDR. O melhor
padrão de desenvolvimento da glândula foi observado no tratamento com alta PB e
baixa PNDR, embora não tenha ocorrido diferença significativa na produção de leite na
primeira lactação.
A nova edição do NRC (2001) associou valores de peso adulto com exigências
para crescimento, de forma a adequar a composição corporal da novilha, maximizando
ganho de peso, sem prejudicar o desenvolvimento da glândula mamária. A avaliação
da tabela de exigências para novilhas revela algumas relações:
1) Conforme o peso vivo animal aumenta, o conteúdo de energia do ganho aumenta,
enquanto a proteína diminui, uma vez que mais energia é depositada como gordura.
2) Conforme o ganho de peso aumenta, o conteúdo de energia do ganho aumenta,
enquanto o da proteína diminui, por que o ganho contém maior proporção de gordura
conforme a taxa de ganho aumenta.
3) Conforme o animal aumenta seu peso, a exigência de proteína metabolizável nãoreduz tão rapidamente quanto a exigência de proteína líquida, por que a eficiência de
absorção de proteína diminui.
Comparando dietas com diferentes relações entre proteína metabolizável e EM
(37, 41, ou 44 g PB/Mcal EM), Withlock et al . (2002) sugeriram que o fornecimento de
dietas com baixos teores de proteína bruta aumentam o risco de redução do
desenvolvimento da glândula mamária, quando novilhas são alimentadas para alto
ganho de peso e redução da idade a puberdade. Os autores afirmam que as
recomendações para a relação proteína:energia contidas na nova edição do NRC(2001) são adequadas para bom desenvolvimento da glândula mamária. Os dados em
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literatura são sempre referentes a dietas utilizando-se forragem conservada como
silagem de milho, pré-secado de alfafa ou até mesmo feno de alfafa, sendo então
necessária a geração de dados de animais recriados a pasto com suplementação de
concentrado.
A possibilidade de se reduzir a idade ao primeiro parto pelas altas taxas de
crescimento, sem que ocorra efeito negativo no desenvolvimento da glândula mamária
com a utilização de dietas com maior relação PB:EM parece promissora do ponto de
vista econômico. Embora exista um custo associado a maiores níveis de proteína na
dieta desses animais, em projeção feita por VandeHaar (1997), um investimento de
US$ 82 na criação de uma novilha resultaria em retorno de US$120.
Considerações Práticas
A produção de leite de novilhas está ligada ao desenvolvimento da glândula
mamária.
O perfil hormonal tem grande influência no processo de desenvolvimento da
glândula mamária.
Ganhos de peso acima do recomendado podem prejudicar o desenvolvimento
da glândula mamária.
Aumento na relação PB:EM em dietas para novilhas durante a fase pré-púbere
pode inibir o efeito negativo de altos ganhos de peso na fase pré-púbere.
Peso vivo e escore de condição corporal devem ser monitorados
periodicamente para avaliar o desenvolvimento dos animais. A tabela 3 sugere
pesos a diferentes idades que podem servir como orientação para o
estabelecimento de metas numa propriedade leiteira.
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Tabela 16. Sugestões de desenvolvimento ponderal para fêmeas de reposição deraças grandes, pequenas e de animais mestiços Holandês-Zebu.
Idade (meses) Peso (kg)
Raças grandes Nascimento 40
2 meses 68 6 meses 146 15 meses - cobrição 340 24 meses - parição 550
Raças pequenas Nascimento 25 2 meses 41 6 meses 104 13 meses - cobrição 250 22 meses - parição 360
Mestiças Holandês-Zebu Nascimento 30 2 meses 55 6 meses 120 24 meses - cobrição 330 33 meses - parição 420
II. Instalações para Novilhas
Assim como durante a fase de aleitamento, as instalações de novilhas
desmamadas devem ser ventiladas, limpas, com sombra disponível, e que permitam
acesso fácil e adequado ao alimento e a água. A Figura 45 apresenta exemplos de
instalações inadequadas, com alto número de animais por área, difícil acesso ao
alimento e ventilação inadequada e problemas relacionados ao piso. Existem inúmeras
opções de instalações para novilhas desmamadas, desde instalações de alvenaria
como free-stall (Figura 46), tie-stall (Figura 47) e loose-housing (Figura 48), os quaisapresentam alto investimento, até a utilização de piquetes (Figura 49), o que é mais
adotado em nossas condições. No caso de instalações fechadas, a superpopulação
deve ser evitada, uma vez que representa grande fonte de estresse principalmente
para novilhas mais jovens. Qualquer que seja o tipo de instalação, é muito importante
a manutenção de LOTES HOMOGÊNEOS, de forma a garantir adequado ganho de
peso individual dos animais do lote.
Atenção especial deve ser dada a bezerras recém desaleitadas para que seu
crescimento não seja prejudicado. É importante que, após o desaleitamento, a bezerracontinue por mais alguns dias na mesma instalação (casinha na maior parte dos
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casos) e depois seja transferida para outra instalação ou piquete em um grupo
homogêneo e de pequeno número (5 animais).
Figura 45. Exemplos de instalações inadequadas
Figura 46. Exemplos de Free-stall
Figura 47. Exemplos de Tie-stall
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Figura 48. Exemplos de loose-housing
Figura 49. Novilhas criadas em piquete provido de sombra, cocho e bebedouro
A formação de grupos ou lotes homogêneos, respeitando-se o número
adequado de animais por lote, é um ponto muito importante no manejo de novilhas.
Conforme as novilhas crescem suas necessidades são alteradas com relação ao
manejo nutricional e também de espaço e condições ambientais. Assim, as principais
exigências com relação á instalações são determinadas pela necessidade de espaço
conforme os animais crescem, mudanças na dieta, no manejo sanitário e reprodutivo e
até necessidade maior ou menor de observações. Conforme as novilhas crescem a
necessidade de abrigo diminui. Também com o crescimento das novilhas, o número
de animais por lote pode ser aumentado, podendo existir maior variação na idade e
peso dos animais sem que ocorram prejuízos no desempenho. Também importante é
a necessidade de observação e contenção dos animais que pode variar de acordo
com o manejo sanitário e reprodutivo do rebanho. A Tabela 17 apresenta um resumo
contendo sugestões para a divisão de lotes na propriedade, número de animais por
lote e exigência de espaço por animal.
Tabela 17. Recomendações para instalações de bezerros e novilhas.
Grupoa Idade
(meses)
Número
máximo de
animais/
grupo
Máxima
variação de
idade dentro do
grupo
Máxima
variação de
peso dentro
do grupo (kg)
Área mínima de
piquete por
animal (m2)
Comprimento
mínimo de
cocho por
animal (cm)b
Largura e
comprimento de
baias de free-stall
(cm)
1 0-2 1 0,7-1 Individual Não recomendado
2 2-4 3-5 3 semanas 0,9 45 Não recomendado
3 4-6 6-12 2 meses 34 0,9 38 70 x 122
4 6-9 10-20 3 meses 70 0,9 38 76 x 138
5 9-12 10-20 3 meses 90 0,9 45 87 x 153
6 12-18 10-20 6 meses 135 1,2 50 97 x 183
7 18-parto 10-20 6 meses 135 1,2 55 107 x 215a Grupos de 4 a 7 podem ser combinados no caso de reduzido número de animais. Quandoforem feitas combinações, exigências nutricionais e de manejo, além de peso e idade dosanimais devem ser considerados.b No caso do fornecimento de ração completa, o comprimento de cocho por animal pode serreduzido em 20% em grupos com animais com idade acima de 6 meses.
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Instalações simples, com diferentes tipos de área de descanso para os
animais, podem ser utilizadas como free-stall, tie-stall, loose-housing (que é também o
caso de piquetes com cochos e bebedouros). Existem vantagens e desavantagens da
adoção de cada uma destas alternativas, geralmente relacionadas ao custo inicial e de
manutenção. É importante que as instalações permitam fácil remoção de esterco e no
caso de piquetes a não formação de barro. A formação de barro também pode ser
evitada com a utilização de cochos de fácil movimentação, como o cocho trenó (Figura
50), ou com a pavimentação de área subjacente ao cocho. Estas instalações devem
permitir também, fácil movimentação dos animais para que a cada pesagem possam
ser remanejadas para novos grupos de acordo com peso e altura.
Figura 50. Cocho tipo trenó
Do ponto de vista de manejo nutricional, é vantajosa a adoção de piquetes ou
instalações que permitam o fornecimento do alimento sem que o tratador tenha que
entrar no piquete, o que demanda tempo e contribui para a formação de barro. Assim,
linhas de cocho pavimentado e/ou revestido, com altura pouco acima do nível do chão
tem sido adotadas (Figura 51). Muretas, postes e cordoalhas ou a utilização de canzil
são necessários para separar os animais do cocho propriamente dito. Sugestão de
dimensões de barreiras e cordoalhas são apresentadas na Tabela 18 e Figura 52. A
orientação destas linhas de cocho no sentido norte-sul também é recomendada por
permitir a entrada de sol tanto no cocho como na linha de alimentação, reduzindo a
formação de lama.
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Figura 51. Exemplos de linhas de cocho com canzil ou cordoalha
Tabela 18. Sugestão de dimensões de postes e muretas.
Idade (meses) Peso (kg) Altura da mureta (cm) Altura da cordoalha (cm)
6-8 165-225 35.5 71
9-12 225-295 40 76
13-15 295-350 43 86
16-24 350-545 48 104
Vacas 545-680 53 122
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Figura 52. Dimensões para construção de cocho pavimentado
Suporte ou poste
Altura da cordoalha
Corredor para
alimentação
Altura
da
mureta
Linha de cocho
Superfície do cocho
20
cm
10-
15
cm
5-15 cm