Reapresentação TCC Faccilita Corretor Fatec ipiranga - 02/03/2016
REAPRESENTAÇÃO DO RELATÓRIO CIENTÍFICO Projeto Temático ...
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REAPRESENTAÇÃO DO RELATÓRIO CIENTÍFICO
Projeto Temático – Lideranças Políticas no Brasil: características e questões institucionais
Nº do processo – 2012/50987-3
No primeiro Relatório Científico - período de 01/07/2013 a 30/08/2014, apresentamos a
estruturação da pesquisa, a montagem das equipes, alguns resultados parciais possíveis
em um primeiro momento da pesquisa e esclarecimentos sobre as participações e
publicações dos pesquisadores. Embora já tivéssemos alguns dados e pesquisas
desenvolvidas neste curto período de tempo, nos restringimos a apresentar,
sucintamente a estrutura de um Banco de Dados sobre Lideranças Políticas no Brasil e
as linhas de estruturação teórica. Convém lembrar que desenvolvemos um grande
esforço para montar a estrutura e a estratégia da pesquisa, de modo a avançar de forma
consistente nas quatro linhas do projeto.
Este primeiro relatório foi avaliado e, em consequência, solicitadas complementações ao
mesmo. Neste sentido, atendendo às recomendações do parecerista, complementamos o
relatório científico, conforme as indicações dadas no parecer. Seguimos de forma
sistemática as indicações emitidas no parecer.
GRUPO 1: LIDERANÇAS POLÍTICAS NAS TEORIAS E SISTEMAS DE PENSAMENTO
Procuramos sistematizar os estudos realizados neste primeiro ano de trabalho acerca das
abordagens teóricas que esperamos responder às solicitações do parecerista. A conexão
entre pensadores de teorias e épocas distintas se dará no sentido contrastante, com base
na formulação do problema. Nosso objetivo é construir um campo teórico conceitual
que dê conta da diversidade do comportamento político, estilos de atuação, procedência
das lideranças em contextos históricos distintos. Essa delimitação teórico-conceitual é
imprescindível para a análise das lideranças políticas brasileiras selecionadas.
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Divisamos inicialmente três grandes linhas de desenvolvimento analítico que estão em
processo de construção, mas já apresentaram produtos efetivos para a construção
conceitual.
I. Com base no pensamento político a partir das leituras de autores
clássicos e modernos discernimos algumas abordagens contrastantes entre o
pensamento da antiguidade greco-romana, medieval e a época moderna.
Um traço distintivo do período antigo (inclusive medieval) é o predomínio de uma
concepção de governo como um exercício da arte de comando. A dimensão
institucionalizada do poder soberano não configura um aspecto central. Platão no seu
diálogo a República define o governante como aquele dotado de uma arte específica
adquirida num longo processo de educação. O governante se distingue pela techné
regida por normas justas do agir.
Aristóteles, diferentemente de Platão, nos livros IV, V e VI da Política empreende uma
separação entre os domínios teóricos e a ação (práxis), inaugurando um campo de saber
prático. Assim, uma forma de governo deve ser pensada não somente do ponto de vista
da sua idealidade, mas como exequível. Temos, então, uma gênese do que, mais tarde,
nas épocas modernas e contemporâneas constituiria os estudos específicos da ciência
política. Trata-se da busca de uma estabilidade política ou fixar um ordenamento ou
taxis que imprima racionalidade ou previsibilidade às ações políticas. Em Max Weber o
êthos político da responsabilidade se aproxima da phronesis (uma práxis prudencial)
aristotélica. Embora a Constituição da cidade ou a forma do governo, em Aristóteles,
não se distingue do modo de ordenamento da vida política dos cidadãos, o problema
político do filósofo é de evitar a corrupção ou stásis de uma forma de governo: de uma
forma legítima com base na lei para uma forma corrupta com base nas paixões pessoais
dos governantes. A aproximação dos pensamentos de Weber e Aristóteles é profícua
e vai merecer uma atenção especial neste próximo ano de pesquisa.
Longe de reduzir a tradição antiga em Platão e Aristóteles, temos que registrar a
corrente de pensamento do estoicismo que exerceu grande influência nas artes de
comando nos períodos helenístico e do Império romano. Trata-se de um pensamento
político importante para definir um êthos de atuação política que deve orientar os
governantes ou liderança política.
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O pensamento medieval, com destaque para a diversidade das correntes do cristianismo,
fez uma releitura da antiguidade imprimindo um sentido próprio. Cabe destacar que a
centralidade no exercício do governo, ou poder político, conferido pelos pensadores,
toma a forma de deveres a serem cumpridos segundo uma tábua de valores prévios.
Durante um longo período, o governo dos reis se colocou como submisso ao governo
eclesiástico, numa clara separação de funções entre o governo das almas e dos corpos,
com a superioridade do primeiro em relação ao segundo.
Seguindo as sugestões de Michel Senellart (2006), os modos de exercício do governo
implicam em diversos tipos de regime político. As artes de governar ganham destaques
nos períodos em que não se configura o Estado como detentor da soberania. Até
Maquiavel no século XVI o termo stato é empregado no sentido de exercício do poder
político. Já com Hobbes, no século XVII, as práticas de governo se submetem às
exigências de uma poder soberano.
Grosso modo, em que pesem as nuanças dos pensadores políticos antigos e medievais, a
concepção de governo como uma arte de comando, transmuta, com a razão de Estado no
século XVII, na capacidade de fazer-se obedecer (SENELLART, 206, p. 37).
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A partir de um problema do presente, a governamentalidade nas democracias
contemporâneas, Foucault retoma a Antiguidade grega do período clássico para a
análise do termo parresía que compõe, segundo Políbio, juntamente com o termo
isegoria, a definição da Democracia. Por governo, Foucault entende o conjunto das
instituições e práticas através das quais se guiam os homens desde a administração até a
educação. Trata-se de um conjunto de procedimentos, técnicas, métodos que garantem a
orientação dos homens, uns pelos outros (FOUCAULT, 2010b p. 345). Tendo em vista
a sugestão do autor, entendemos ser importante para a delimitação de um campo
analítico da liderança política a retomada de suas pesquisas sobre o exercício do
governo na antiguidade.
Silvana Tótora e Miguel Chaia apresentaram o grupo de Teoria Política do IX Encontro
da Associação Brasileira de Ciência Política, o trabalho intitulada, Liderança política:
parresía e virtù. Elaboramos um texto publicado nos anais do Encontro e para a
apresentação oral na Sessão da Área Temática, Democracia, liderança e teoria política
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na América Latina, em Brasília no dia 05 de agosto de 2014. Este texto foi o produto de
discussões no grupo de pesquisa com vistas à delimitação de um campo teórico
conceitual para a liderança na atualidade. O texto integral será trabalhado para a
publicação em um Periódico no próximo ano, como um primeiro produto consistente da
pesquisa. (anexo o texto integral em sua primeira versão não revisada).
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Do artigo Liderança política: parresía e virtù, gostaríamos de destacar uma primeira
elaboração de linhas de análises das lideranças políticas tendo em vista a construção de
tipologias organizadas em dois grandes blocos.
No primeiro bloco podemos reunir diferentes atuações políticas de liderança tendo
como diferencial a ascendência de uns sobre os outros, pelos seguintes fatores: dar
início a algo novo, a fundação de novas instituições e arranjos políticos, catalisar
grandes mudanças sociais; um êthos expresso na coragem da verdade (parresía) no
enfretamento dos que governam, pondo em risco sua vida. Essa opção analítica é
profícua em razão de seu sentido aberto ao contexto histórico que inclui também o fluxo
do pensamento e os valores adotados.
No segundo bloco estão os líderes como efeitos do dispositivo de poder e que por sua
vez fazem com que esses mecanismos funcionem. Cumpre salientar que essas
tecnologias não são estruturas generalizáveis que se aplicam igualmente em diferentes
contextos históricos. Ao contrário, elas exigem um minucioso estudo descritivo de seu
funcionamento, elas sofrem mutações e tem uma história descontínua. Tais lideranças
podem variar numa escala que vai do tipo grotesco 1 (descrito por Foucault [2001] no
seu curso “Os anormais”) ao governante burocrata. Um mesmo personagem poderá, em
determinado contexto e momento da história, se configurar como liderança que afronta
1 Para uma formulação conceitual de liderança política seria profícua a sugestão de Foucault (2001 p. 15-17) sobre o funcionamento do “soberano infame”. Se situarmos o problema da liderança política como um conjunto de mecanismos para fazer funcionar o governo e produzir efeitos de poder, o líder infame, grotesco, a autoridade ridícula e todos os graus do que se poderia nominar de “indignidade do poder”, passam a ser relevantes para a análise e formulação conceitual. Além dos exemplos óbvios de Mussolini, Hitler, Bush, podemos acrescentar, no caso brasileiro, os de Jânio Quadros, Paulo Maluf e Collor de Melo. Acerca dos “governantes infames”, ou no caso desse estudo, de precisar um tipo de “liderança infame”, podemos adotar a analítica de Foucault, mostrando explicitamente o poder como abjeto, infame, ubuesco ou simplesmente ridículo, não se trata, de limitar os seus efeitos (...). Parece [segundo o autor] que se trata, ao contrário, de manifestar da forma mais patente a incontornabilidade, a inevitabilidade do poder, que pode precisamente funcionar com todo rigor e na ponta extrema da sua racionalidade violenta, mesmo quando está nas mãos de alguém efetivamente desqualificado (FOUCAULT, 2001, p. 17).
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os próprios mecanismos de governo e tornar-se, em outro momento, um líder que faz
funcionar esses mesmos mecanismos.
Esses blocos analíticos podem nos servir de orientações para uma pesquisa com
enraizamento na realidade histórica cujas especificações apontam para diferentes
possibilidades de lideranças políticas.
Desses blocos analíticos elaboramos dois conceitos distintos para liderança política, a
partir dos problemas em pauta.
O primeiro deles foi retomado dos estudos de Foucault sobre a governamentalidade 2,
situamos o problema da liderança política com base nos mecanismos, procedimentos e
técnicas que fazem funcionar uma dada relação de poder, ou exercício de governo de
uns sobre os outros. A liderança, neste caso, consistiria numa tecnologia de poder,
mais precisamente, do exercício do governo do Estado.
Outro conceito de liderança veio dos estudos do pensamento antigo, especificamente
dos estudos de Foucault (2010). Foucault recupera dos gregos o conceito de aleturgia,
cujo significado diz respeito ao conjunto de procedimentos de manifestação da verdade.
Esse termo é empregado para todo o exercício de poder que se realiza pela enunciação
da verdade. Segundo LEME, José Luis Câmara, “a crise da governamentalidade e o
poder ubuesco”(2008, p. 184-185), com o emprego desse termo Foucault pode
desvencilhar-se da dicotomia entre verdade e poder e desenvolver a ideia de “governo
pela verdade” e, com isso, realizar um deslocamento do eixo do poder para o êthos.
No seu curso de 1983, Foucault dedica-se ao estudo da parresía. Segue uma formulação
conceitual deste termo:
A parresía (...) é uma certa maneira de falar. Mais precisamente, é uma maneira de dizer a verdade. (...) Uma maneira de dizer a verdade tal que abrimos para nós mesmos um risco pelo fato de dizer a verdade. (...) A parresía é uma maneira de abrir esse risco vinculado ao dizer-a-verdade constituindo-nos de certo modo como parceiros de nós mesmos quando falamos, vinculando-nos ao enunciado da verdade e vinculando-nos à enunciação da verdade. Enfim, a parresía é uma maneira de se vincular a si mesmo no enunciado da verdade, de vincular livremente a si mesmo e na forma de um ato corajoso. A parresía é a livre coragem pela qual você
2 Foucault empregou pela primeira vez o termo governamentalidade no curso de 1978, Segurança, Território e População, para designar o governo das condutas dirigido à população com os recursos da economia política e dos dispositivos de segurança (FOUCAULT, 2008). Trata-se, portanto, de conceito construído para a análise do exercício do governo na época moderna.
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se vincula a si mesmo no ato de dizer a verdade. Ou ainda a parresía é a ética do dizer-a-verdade em seu ato arriscado e livre. Nessa medida, para essa palavra parresía (...) poderemos (...) propor [como tradução] o termo “veridicidade”. O parresiasta, aquele que utiliza a parresía, é o homem verídico, isto é, aquele que tem a coragem de arriscar o dizer-a-verdade e que arrisca esse dizer-a-verdade num pacto consigo mesmo, precisamente na medida em que é o enunciador da verdade. Ele é o verídico. (FOUCAULT, 2010, P. 63-64).
Foucault retoma a definição de democracia cunhada por Políbio. Trata-se de uma
combinação de parresía e isegoria. Esse caráter indissociável entre a parresía e a
democracia significa que o uso da parresía como a fala franca, o dizer-a-verdade,
pressupõe a constituição da cidade (politeía) que assegure o direito à palavra, a isegoria,
que é constitutivo da cidadania. Mas a parresía é algo diferente de isegoria. Afirma
Foucault:
[A Parresía] é um elemento que, no interior desse âmbito da politeía democrática que dá a todos o direito de falar, permite que os indivíduos adquiram certa ascendência uns sobre os outros (...). A isegoria define simplesmente o marco constitucional em que a parresía vai atuar como sendo livre e, consequentemente, corajosa atividade de alguns que se adiantam, tomam a palavra, tentam persuadir, dirigem os outros, com todos os riscos que isso comporta. (2010, p. 147).
Com o sentido acima de parresía no interior de uma constituição democrática podemos
formular um enunciado de liderança política. Por liderança política entendemos
alguém que assume ascendência sobre os demais e exerce o comando sobre eles pelo
uso da palavra franca com todos os riscos que isso comporta. Trata-se de um
exercício do governo das condutas com base num êthos.
O governo pela verdade não se restringe ao contexto histórico grego, mas se manifesta
em outros pensadores modernos e contemporâneos, como por exemplo, respeitando as
diferenças históricas e teóricas, no marxismo. Também constitui a atuação de lideranças
políticas revolucionárias no século XIX. O desdobramento desta concepção de governo
para o mundo moderno será desenvolvida nesta próxima etapa da pesquisa.
Podemos divisar pelo menos dois tipos de lideranças políticas. Primeira uma liderança
que emerge no interior das tecnologias de poder, trata-se de um efeito desses
mecanismos. Lideranças partidárias, parlamentares, governantes.
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Segundo, uma liderança parresiasta cujo móvel é a coragem da verdade no afrontamento
dos poderes instituídos. Emerge nos interstícios da política, em situações de confronto e
resistência, arrisca a vida na luta, cria algo novo, afronta as estruturas de poder. Essa
liderança se move em meio a situações de risco e insegurança. Lideres revolucionários,
líderes de movimentos minoritários, insurrecionais.
II. Uma segunda linha de abordagem teórica corresponde aos autores que
priorizam a ação da liderança política no âmbito das instituições
políticas.
Destacam os pensamentos de Max Weber e a especialização da liderança política com
base numa vocação que se profissionaliza na atuação política: trata-se, pois, dos
políticos profissionais. Para Weber o Parlamento seria o lócus privilegiado para a
emergência de uma liderança política. Schumpeter, na esteira de Weber, refere-se ao
acesso destas lideranças aos cargos políticos por meio dos partidos que disputam o voto
no mercado eleitoral para a obtenção do poder político. Há uma combinação entre o
conflito político e a racionalidade jurídico-política que assegura a vigência não
disruptivas dos afrontamentos conflitivos.
A liderança política, neste caso, depende do bom funcionamento das instituições da
democracia representativa. Assim, o problema da liderança política deverá ser analisado
à luz do ordenamento político institucional da democracia liberal representativa,
particularmente da perda da legitimidade de seus mecanismos na atualidade:
parlamento, partidos políticos e eleições. Cabe a pergunta: não estaria estas instituições
padecendo de um esgotamento e com elas o próprio sentido da liderança profissional?
Os sinais desse esgotamento, nas duas últimas décadas, tornaram-se visíveis a partir das
mobilizações, protestos e revoltas emergentes nos vários continentes, particularmente
no Brasil, no que ficou conhecido como as Jornadas de Junho de 2013. Não podemos
desvincular os impasses entre a vigência das lideranças institucionais no regime
democrático e a dinâmica capitalista neoliberal de gerenciamento da economia. Este
será o foco da nossa investigação para o segundo ano da pesquisa. Assim poder
contemplar à sugestão do parecerista sobre a articulação dos pensamentos de
Weber e Foucault
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Selecionamos além dos autores considerados seminais uma extensa bibliografia de
abordagem das instituições políticas.
II 1. excurso Realizamos uma extensa discussão com o pesquisador da equipe Carlos Melo com base
no seu texto publicado na Aurora. Melo (2012) sugere uma colocação do problema com
base na ética entendida no sentido que lhe confere Aristóteles, as virtudes que orientam
o agir político. Combina na construção da análise da liderança política a ética da
responsabilidade de Weber própria da racionalidade moderna, em que se articulam
meios e fins, com princípios do agir da ética aristotélica. Sugere uma tipologia da
liderança política com base nas seguintes qualidades: a virtude aristotélica do senso de
proporção que evita os extremos, trata-se do justo meio ou justa medida; a disposição
para agir e o carisma. Essas qualidades deverão ser balizadas por uma análise da
realidade concreta e da história.
Numa direção distinta, mas igualmente profícua para a discussão da liderança política
no mundo moderno, Chaia no referido texto, construído com Tótora: “Liderança
política, parresía e virtú”, destaca o pensamento de Maquiavel, particularmente o
conceito de virtù.
A virtù possibilita que o príncipe se defronte com a fortuna e, simultaneamente dê vazão
às qualidades ou às energias que são próprias do homem em ação. Portanto, há uma
especificidade no agir político do príncipe ao se considerar a virtù, pois supõe um gasto
de energia potencializadora da ação, do cálculo e da estratégia selecionada.
Assim, imbuído da virtù, e ampliando o conceito de liderança, pode-se pensar o príncipe
como um líder inovador e fundador na esfera política, elaborando um projeto
significativo fora do âmbito das instituições. O príncipe novo em Maquiavel desafia as
leis e os costumes tradicionais (cap. VI). O príncipe se move em meio ao perigo e
ameaças permanentes ao seu governo não só dos poderosos, mas do conjunto dos
súditos que não desejam ser governados. Daí a habilidade pessoal do príncipe em reunir
meios da fortuna e da virtù para um governo razoavelmente seguro.
III. O pensamento político brasileiro e latino americano. Destacamos o
estudo específico da obra de vários autores que conferiram destaque à
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liderança política ou forjaram conceitos para a análise da ação política de
governantes.
1. Destaque para os conceitos: bonapartismo, cesarismo e populismo. Com base
nestes conceitos selecionamos, dentre outros autores, para um a primeira
abordagem: Gino Germani, Laclau, Octávio Ianni e Francisco Weffort.
2. Selecionamos teses, dissertações e monografias específicas sobre uma liderança
política. Realizamos um seminário com o objetivo de leitura e exposição destes
trabalhos.
3. Elegemos alguns estudos de autores de destaque no pensamento político
brasileiro que abordaram o tema da liderança política. Dentre eles: Azevedo
Amaral, Plínio Salgado.
Predomina entre os pensadores conservadores do período de 20 e 30 uma concepção
elitista da liderança política com base nos pensamentos de Mosca e Pareto. Para Mosca,
a massa tem um papel bem definido de obedecer e legitimar uma minoria que nascera
para o mando. Observável desde as primeiras civilizações. Com base na presença deste
tipo de liderança que Amaral diferencia uma revolução de uma rebelião das massas.
Estas sem uma liderança só destroem e nada edificam, pois a massa é o conjunto de
indivíduos que se encontra no mundo sem condição de pensar a sua realidade
circunstancial por meio de sua própria singularidade.
Se uma concepção de liderança com base no pensamento elitista vinha acompanhada da
defesa de regimes autoritários. No Pós-1945 o elitismo combina-se com procedimentos
democráticos. Os lideres são selecionados em processos eleitorais de livre competição
pelo voto do eleitorado. As democracias liberais representativas ensejam uma
profissionalização da liderança política.
No Brasil particularmente emerge uma liderança populista. O líder se relaciona com as
massas trabalhadoras urbanas por meio de comícios, manifestações públicas, políticas
sociais e trabalhistas sem um vínculo partidário ou institucional consistente. Trata-se de
um fortalecimento do Poder Executivo Federal e dos executivos estaduais na figura do
Presidente da República e dos governadores.
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Esta terceira linha de pesquisa encontra-se em processo de construção. Ressaltamos,
entretanto, uma vasta produção de teses e dissertações dos pesquisadores integrantes
deste projeto temático.
Esperamos que com este texto tenhamos respondido às solicitações do parecerista.
Bibliografia
I. primeira linha analítica
ARISTÓTELES. Política. Brasilia: Editora UNB, 1985. Livros IV, V, VI
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
FINLEY, Moses. I. “Lideres e liderados”. Democracia antiga e moderna. Rio de Janeiro: Graal, 1988.
FOUCAULT, Michel. O governo de si e dos outros. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
FOUCAULT, Michel. (2010b). “Conversa com Michel Foucault”. Manoel Barros da
Motta (Org.). Ditos e Escritos V.. Rio de Janeiro: Forense Universitária.
FOUCAULT, Michel. (2008). Segurança, território, população. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes.
FOUCAULT, Michel. (2004). “Política e ética: uma Entrevista”. Ditos e Escritos V.
Org. Manoel Barros da Motta. Rio de Janeiro: Forense Universitária.
FOUCAULT, Michel. Os anormais. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo, Martins
Fontes, 2001.
FOUCAULT, Michel. “O que são as luzes?”. Ditos e Escritos II – Arqueologia das ciências e história dos sistemas de pensamento. MOTA, Manoel de Barros (organizador). Trad. Elisa Monteiro. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária, 2000.
FOUCAULT, Michel. “Nietzsche, a genealogia e a história”. Roberto Machado (org.). Microfísica do poder. 10ª edição. Rio de Janeiro: Graal, 1992a.
FOUCAULT, Michel. “sobre a história da sexualidade”. Roberto Machado (org.). Microfísica do poder. 10ª edição. Rio de Janeiro: Graal, 1992.
GROS, Frédéric. “Situação do curso”. FOUCAULT, Michel. O governo de si e dos outros. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
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LEME, José Luis Câmara, “a crise da governamentalidade e o poder ubuesco”. ALBUQUERQUE; VEIGA-NETO; SOUZA (Orgs.). Cartografia de Foucault. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. PLATÃO. A República. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. 5ª Edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, s/d. Livros VIII, IX
SENELLART, Michel. As artes de Governar. Trad. De Paulo Neves. São Paulo:
Editora 34, 2006.
EXCURSO:
MACHIAVELLI, Nicolo. O Príncipe. Trad. Lívio Xavier. Rio de Janeiro: Ediouro
Publicações, 1972.
MELO, Carlos. “Notas e reflexões sobre ‘Liderança Política’: contribuição para delimitação de um campo de estudo”. Aurora: revista de arte, mídia e política, São Paulo, v.5, n.14, p.11-30, jun.-set. 2012.
II. Segunda linha analítica:
WEBER, M, A política como vocação.
WEBER, M. Parlamento e governo.
SCHUMPETER, Joseph. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro: Zahar,
1984.
GRUPO 2 - LIDERANÇAS POLÍTICAS NOS DISTINTOS PERÍODOS HISTÓRICOS
DIVISÃO CRONOLÓGICA
Às atividades do grupo ‘Lideranças políticas nos distintos períodos históricos’ foram
concentradas no estabelecimento das diretrizes necessárias para o desenvolvimento das
fichas biográficas, concomitante ao desenho inicial do banco de dados onde são
tabulados os dados constantes destas fichas. Antes, no entanto, foi estabelecida pelos
pesquisadores do grupo uma divisão cronológica dos distintos períodos políticos
brasileiros. Para a concepção desta divisão cronológica utilizou-se o critério
institucional das mudanças políticas no Brasil considerando, pois, as alterações de
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forma e/ou sistema político do período colonial aos dias atuais. Assim, chegou-se a uma
divisão cronológica de 13 códigos:
1. Período colonial (1500-1808) 2. Transição para a Independência (1808-1822) 3. I Reinado (1822-1831) 4. Regência (1831-1840) 5. II Reinado (1840-1889) 6. I República (1889-1930) 7. Era Vargas/Governo Provisório (1930-1934) 8. Era Vargas/Constitucional (1934-1937) 9. Era Vargas/Estado Novo (1937-1945) 10. República Nova (1946-1964) 11. Regime Militar (1964-1985) 12. Redemocratização (1985-1989) 13. Período Democrático (1990 - ...)
SELEÇÃO INICIAL DAS LIDERANÇAS POLÍTICAS
Uma vez definida a divisão cronológica a pesquisa, então, realizou um levantamento
inicial das lideranças políticas em cada período, constituindo uma lista inicial de 158
nomes. É certo que nem todos os nomes serão trabalhados em profundidade nas metas
futuras do projeto, bem como deverá haver, também, recorte mais profundo na análise
do período contemporâneo. Em todo caso, neste primeiro momento da pesquisa, a fim
de que se possa analisar os diversos casos e reunir material suficiente para realizar
comparações e justificar exclusões ou inclusões, bem como recortes futuros, o grupo
tem arrolado tudo que julga ser historicamente pertinente para constituição de uma
tipologia de liderança política em cada período da cronologia política do Brasil,
independentemente da liderança ser parlamentar, popular, de um determinado grupo e
etc.. Daí que foram incluídas, também, lideranças do campo das artes, como Mário de
Andrade e Glauber Rocha e lideranças de grupos específicos, tal como Edson Carneiro
representando uma liderança política negra e etc. Assim, registra-se, pois, que esta lista
inicial deve aumentar e em etapas posteriores, após farta comparação que o banco de
dados permitirá, poder-se-á justificar o recorte mais aprofundado para períodos mais
importantes para a compreensão do presente, bem como será possível escolher na
plêiade de lideranças aquelas mais representativas e historicamente mais substanciais
para análises mais profundas. Os critérios desta seleção posterior deverão, pois, estar
fundamentados na pesquisa. De todo modo, registramos abaixo a lista inicial das
lideranças políticas elencadas para concepção do banco de dados:
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1. Abdias Nascimento 2. Ademar Pereira de Barros 3. Aécio Neves 4. Afonso Arinos de Melo Franco Filho 5. Afonso Penna 6. Alberto Sales 7. Alceu de Deus Collares 8. Almino Afonso 9. Aloízio Mercadante Oliva 10. André Franco Montoro 11. Antonio Aureliano Chaves de Mendonça 12. Antonio Carlos Magalhães 13. Antonio Carlos Magalhães Neto 14. Antony Garotinho 15. Apolonio de Carvalho 16. Armênio Guedes 17. Artur da Costa Silva 18. Artur da Silva Bernardes 19. Benedito Valadares Ribeiro 20. Benjamin Constant Botelho de Magalhães 21. Bernardo Pereira de Vasconcelos 22. Berta Lutz 23. Brás Florentino 24. Café Filho 25. Carlos Lacerda 26. Carlos Lamarca 27. Carlos Luz 28. Carlos Marighella 29. César Epitácio Maia 30. Chico Alencar 31. Ciro Gomes 32. Clóvis Moura 33. Delfim Moreira da Costa Ribeiro 34. Dilma Vana Rousseff 35. Diogo Antonio Feijó 36. Dom Paulo Evaristo Arns 37. Duarte da Costa 38. Eduardo Campos 39. Eduardo Cunha 40. Eduardo da Costa Paes 41. Eduardo Matarazzo Suplicy 42. Emílio Garrastazu Médici 43. Epitácio Lindolfo da Silva Pessoa 44. Ernani Peixoto 45. Ernesto Geisel 46. Evaristo de Moraes Filho 47. Fernando Affonso Collor de Mello 48. Fernando Haddad 49. Fernando Henrique Cardoso 50. Fernando Paulo Nagle Gabeira
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51. Floriano Peixoto 52. Francisco de Assis Chateubriand Bandeira de Melo 53. Francisco de Paula Rodrigues Alves 54. Francisco Julião 55. Geraldo Alckmin 56. Getúlio Dornelles Vargas 57. Gilberto Kassab 58. Glauber Rocha 59. Golbery Couto Silva 60. Gregório Bezerra 61. Guilherme Boulos 62. Heloísia Helena 63. Hermes da Fonseca 64. Humberto Alencar Castelo Branco 65. Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de
Bragança e Bourbon 66. Itamar Augusto Cautiero Franco 67. Ivan Valente 68. Jackson de Figueiredo 69. Jacob Gorender 70. Jacques Wagner 71. Jânio Quadros 72. Jarbas Passarinho 73. Jean Willys 74. João Amazonas de Souza Pedroso 75. João Figueiredo 76. João Goulart 77. João Mangabeira 78. João Maria José Francisco Xavier de Paula Luiz Antonio Domingos Rafael de
Bragança 79. João Pessoa 80. Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo 81. Joaquim da Silva Rabelo 82. Joaquim José da Silva Xavier 83. José Bonifácio de Andrada e Silva 84. José Carlos do Patrocínio 85. José da Silva Lisboa 86. José Dirceu de Oliveira e Silva 87. José Genoíno Guimarães Neto 88. José Linhares 89. José Martiniano de Alencar 90. José Oiticica 91. José Sarney 92. José Serra 93. Júlio Prestes 94. Júlio Prestes de Castilhos 95. Juscelino Kubitschek de Oliveira 96. Leonel de Moura Brizola 97. Luciana Genro 98. Luis Carlos Prestes
15
99. Luis Inácio Lula da Silva 100. Luiza Erundina de Souza 101. Manuel Deodoro da Fonseca 102. Manuel Ferraz de Campos Sales 103. Manuel Ferraz de Campos Sales 104. Manuela Dávila 105. Marcelo Freixo 106. Márcio Emanuel Moreira Alves 107. Marco Antonio de Oliveira Maciel 108. Maria Leopoldina de Áustria 109. Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima 110. Mário Covas Júnior 111. Mário de Andrade 112. Mario Palmério 113. Mário Xavier Andrade Pedrosa 114. Marta Teresa Smith Vasconcelos Suplicy 115. Mem de Sá 116. Michel Temer 117. Miguel Arraes 118. Miro Teixeira 119. Moreira Franco 120. Mota Assunção 121. Nereu Ramos 122. Nilo Peçanha 123. Olívio de Oliveira Dutra 124. Onyx Lorenzoni 125. Orestes Quércia 126. Padre Cícero 127. Paulino José Soares 128. Paulo Salim Maluf 129. Pedro Aleixo 130. Pedro de Alcantara Francisco Antonio João Carlos Xavier de Paulo Miguel
Rafael Joaquim José Gonzaga Paschoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon
131. Pedro Jorge Simon 132. Pedro Ventura Filipe de Araújo Pomar 133. Petrônio Portela Nunes 134. Plínio de Arruda Sampaio 135. Plínio Salgado 136. Prudente José de Moraes Barros 137. Ranieri Mazzilli 138. Regente Araújo 139. Roberto Costa de Abreu Sodré 140. Roberto Freire 141. Roberto Requião 142. Robson Rodovalho 143. Rodrigues Alves 144. Roseana Sarney 145. Rui Barbosa 146. Rui Costa Pimenta
16
147. Sérgio Cabral Filho 148. Silas Malafaia 149. Silva Jardim 150. Tancredo de Almeida Neves 151. Tarso Fernando Herz Genro 152. Tasso Jereissat 153. Teotônio Brandão Vilela 154. Tomé de Souza 155. Ulisses Silveira Guimarães 156. Venceslau Brás 157. Washington Luís 158. Zacarias de Góes e Vasconcelos
DIRETRIZ PARA ELABORAÇÃO DAS BIOFICHAS
Concomitantemente à definição da cronologia e o levantamento dos nomes, a pesquisa
desenvolveu um modelo básico para orientar os pesquisadores do projeto na concepção
das fichas biográficas. Esta diretriz foi transmitida a todos os integrantes da pesquisa,
bem como discutida e aprimorada coletivamente em reunião. A seguir segue o modelo
final da diretriz:
______________________________________________________________________
_______________
Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política (NEAMP) – PUC/SP
Projeto Temático FAPESP - Lideranças políticas no Brasil: características e questões institucionais (2013-2018)
FICHA BIOGRÁFICA – LIDERANÇAS POLÍTICAS BRASILEIRAS
Nome: Nome de registro completo
Nome(s) político(s): Nomes e/ou alcunhas e apelidos políticos ao longo da carreira
Data de nascimento: dd/mm/aaaa
Data de falecimento: dd/mm/aaaa ou ‘não se aplica’
Cidade natal: nome da cidade
Cidade de falecimento: nome da cidade ou ‘não se aplica’
Estado natal: UF ou nome da província quando for o caso
Estado de falecimento: UF ou nome da província quando for o caso (se falecido em
outro país colocar o nome do país no próximo campo) ou ‘não se aplica’
País de falecimento: nome do país no qual a liderança faleceu
Causa da morte: causa ou ‘não se aplica’
17
Formação: curso de formação superior quando for o caso ou ‘não se aplica’
Instituição de formação: nome e sigla da instituição ou ‘não se aplica’
Ano de ingresso: ano ou ‘não se aplica’
Ano de conclusão: ano ou ‘não se aplica’
Nota biográfica com no mínimo 1500 e no máximo 3000 caracteres com espaço. A nota
biográfica deve ser original de modo que não se pode simplesmente copiar e colar o
texto de outras referências. O texto não deve conter citações e/ou referências (as
referências de consulta vão abaixo em item específico) e deve ser feito levando-se em
consideração os itens biográficos da lista acima, bem como contexto político em que
desenvolveu sua trajetória e quais cargos políticos e/ou institucionais ocupou e por ou
em quais organizações. Se político e intelectual, deve-se compor a nota considerando
estas duas esferas na trajetória. Reitera-se que é importante frisar os partidos e
instituições pelas quais passou, bem como alianças e relações mais próximas com outras
lideranças quando for o caso. A composição do texto deve ser realizada em formato
dissertativo; não utilizar tópicos, portanto.
No caso das atuações políticas e/ou institucionais deve-se colocar entre parênteses de
frente ao cargo e/ou posição ocupada o ano de início e fim. Quando se tratar de cargo
eletivo deve-se considerar o ano da eleição como o ano de início e o término de
mandato como ano de fim no seguinte formato ex.: Presidente da República (2002-
2006).
A nota deve ser feita em Calibri, corpo 12, espaçamento 1,5 entrelinhas, alinhamento
justificado, espaçamento de 1,25 na primeira linha (parágrafo). Formato do arquivo A4
(não carta), margens superior e inferior 2,5cm e esquerda e direita 3,0 cm. Páginas
numeradas no canto inferior à direita. Utilize esse modelo como base uma vez que já há
o cabeçalho.
Nos campos abaixo, as referências bibliográficas devem seguir as normas da ABNT.
Nestes campos devem ser inseridas todas as referências que forem encontradas.
Seguir a padronização é importante para que o trabalho posterior de indexação do
arquivo ao banco de dados seja uniforme e facilitado. Abaixo segue uma ficha pronta
como modelo.
O arquivo deve ser salvo individualmente, isto é, uma liderança por arquivo, em
extensão .doc (word). O título do arquivo deve ser o principal nome político da
liderança separado por underline, ex.: Tancredo_Neves
18
Referências utilizadas para composição da nota biográfica
Neste item deve-se listar as referências, sites e etc (no padrão ABNT) que foram
utilizados para compor a nota biográfica original. Atenção: não há limites de caracteres
para as referências.
Referências da liderança
Neste item deve-se listar as referências de todo material textual produzido pela liderança
(no padrão ABNT). Caso não tenha escrever: ‘Não consta’. Atenção: não há limites de
caracteres para as referências.
Referências sobre a liderança
Neste item devem-se listar as referências de todo material textual, possível de ser
consultado, produzido sobre a liderança (no padrão ABNT). Devem ser separados pelas
categorias abaixo… Caso não tenha escrever: ‘Não consta’. Atenção: não há limites de
caracteres para as referências.
Livros
Dissertações e teses
Artigos
Outros (audiovisual, internet, artes e etc...)
ELABORAÇÃO DAS BIOFICHAS
Com o objetivo de pré-testar o modelo desenvolvido verificando sua viabilidade o
grupo desenvolveu 10 biofichas. Uma vez desenvolvidas foi possível identificar as
principais dificuldades na concepção, bem como estipular metas e prazos para o
desenvolvimento das fichas posteriores. Como ainda podem ser arrolados novos nomes
à lista e, também, como há diversos nomes com pouca informação disponível para
pesquisa foi definido que o grupo trabalhará com levas de 40 nomes distribuídos a cada
19
2 meses de atividades. Desse modo espera-se que até o fim do primeiro semestre de
2015 todas as biofichas estarão completas. Abaixo registramos as dez biofichas
desenvolvidas que, como explicitaremos no próximo tópico, foram tabuladas nos
primeiros testes do banco de dados. Deve-se registrar que ao final dos trabalhos, antes
de qualquer disponibilização do material, serão estudados aspectos formais de
diagramação, bem como o material passará por revisão de texto.
_____________________________________________________________________________
Nome: Afonso Arinos de Melo Franco Filho
Nome(s) político(s): Afonso Arinos
Data de nascimento: 11/11/1930
Data de falecimento: não se aplica
Cidade natal: Belo Horizonte
Cidade de falecimento: não se aplica
Estado natal: MG
Estado de falecimento: não se aplica
País de falecimento: Brasil
Causa da morte: não se aplica
Formação: Direito
Instituição de formação: UFRJ
Ano de ingresso: 1949
Ano de conclusão: 1953
Afonso Arinos de Melo Franco Filho é formado em Direito (Ciências Jurídicas e
Sociais) pela antiga Universidade do Brasil, atual UFRJ. Depois graduou-se no Instituto
Rio Branco (1951) iniciando sua carreira diplomática. Em seu histórico familiar
constam parentes que exerceram cargos políticos e diplomáticos e um tio-avô escritor,
Afonso Arinos de Melo Franco, homônimo de seu pai e membro da Academia
Brasileira de Letras. Por sua vez, seu pai foi deputado federal por Minas Gerais (1946-
1959); senador pelo Distrito Federal (1959-1967); Ministro das Relações Exteriores
(1961-1962) e membro da Academia Brasileira de Letras.
Sua carreira seguiu uma trajetória comum ao seu meio familiar tendo sido parlamentar,
diplomata e escritor, a exemplo de parentes próximos. Foi eleito deputado estadual
20
constituinte no Estado da Guanabara, atual Rio de Janeiro, pela União Democrática
Nacional (UDN). Em seu primeiro mandato como deputado estadual (1960-1963) foi
presidente da Comissão de Educação da Assembleia. Após o golpe militar de 1964 e
com a implantação do bipartidarismo em 1966 filiou-se ao Movimento Democrático
Brasileiro (MDB), de oposição ao regime autoritário.
Seu primeiro posto diplomático foi exercido na Embaixada do Brasil em Roma, como
primeiro secretário (1956-1959), depois ocupando o mesmo cargo em outras
importantes representações diplomáticas do país no exterior. Foi o Embaixador do
Brasil na Venezuela (1983-1985), no Vaticano (1986-1990) e em Haia (1990-1994).
Encerrou a carreira diplomática em 1994 quando filiou-se ao Partido Socialista
Brasileiro (PSB) e candidatou-se a deputado federal pelo Rio de Janeiro, não sendo
eleito. Em 2002 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras e quatro anos mais
tarde, em 2006, publica seu livro de memórias, Mirante, onde relata suas experiências
na diplomacia internacional e fatos políticos vividos como parlamentar no início dos
anos 1960.
Referências utilizadas para composição da nota biográfica
Portal Academia Brasileira de Letras. Disponível em <www.academia.org.br>. Acesso
em 19 de junho de 2014.
Verbete Afonso Arinos de Melo Franco Filho. Disponível em <www.fgv.br/cpdoc>.
Acesso em 19 de junho de 2014.
Referências da liderança
ARINOS FILHO, A. Primo canto: memórias da mocidade. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1976.
ARINOS FILHO, A. Atrás do espelho: cartas de meus pais. Rio de Janeiro: Record,
1994.
ARINOS FILHO, A. Perfis em alto relevo. São Paulo: Paz & Terra, 2002.
ARINOS FILHO, A. Diplomacia independente: um legado de Afonso Arinos. São
Paulo: Paz e Terra, 2001.
ARINOS FILHO, A. Mirante. São Paulo: Topbooks, 2006.
21
Referências sobre a liderança
Livros
Não se aplica
Dissertações e teses
Não se aplica
Artigos
Não se aplica
Outros (audiovisual, internet, artes e etc...)
Não se aplica
_____________________________________________________________________________
Nome: Armênio Guedes
Nome(s) político(s): Armênio Guedes; Lázaro Feitosa (codinome utilizado durante
exílio no Chile, entre 1971 e 1973); Júlio (codinome utilizado durante exílio na França,
em 1973)
Data de nascimento: 30 de maio de 1918 (96 anos)
Data de falecimento: Não se aplica
Cidade natal: Mucugê
Cidade de falecimento: Não se aplica
Estado natal: Bahia - BA
Estado de falecimento: Não se aplica
País de falecimento: Não se aplica
Causa da morte: Não se aplica
Formação: intelectual autodidata com produção nas áreas de História e Política, iniciou
o curso de Direito em 1934
Instituição de formação: Faculdade de Direito da Bahia
Ano de ingresso: 1934
Ano de conclusão: Não se aplica
Nota biográfica:
Nascido em 1918, um ano após a Revolução Russa, aos três anos de idade, Armênio
Guedes, baiano de Mucugê, se mudou para Salvador com o pai, a mãe e seus dez
22
irmãos. Com estímulo do pai, iniciou os estudos pelos livros de ciências jurídicas e, aos
dezesseis anos, entrou na Faculdade de Direito da Bahia, para se formar bacharel.
Tomou contato com as ideias comunistas por influência do irmão mais velho, Enéas, e
se filiou ao grupo baiano do Partido Comunista, em 1935, levando consigo o irmão mais
novo, Celito. Em 1941, fugindo da perseguição que o Estado Novo de Getúlio Vargas
havia imposto aos comunistas, Armênio Guedes veio para São Paulo e, em seguida, foi
para o Rio de Janeiro. Com vários líderes comunistas presos, Armênio articulou entre
companheiros paulistas e cariocas a Conferência da Mantiqueira, que praticamente
refundou o PCB, em 1943. Com a queda de Getúlio Vargas em 1945, o Partido
Comunista foi legalizado. Os líderes presos, incluindo o secretário geral Luís Carlos
Prestes, foram soltos e Armênio se tornou integrante do quadro profissional do PCB ao
ser indicado secretário particular de Prestes. No entanto, a legalidade dos comunistas
durou pouco. O partido foi cassado e a ilegalidade o levou ao isolamento. Com a saúde
abalada por uma doença pulmonar, Armênio Guedes foi se tratar em Moscou, em 1952,
onde viveu três anos, período que coincide com a morte de Stalin e com os preparativos
do vigésimo Congresso do Partido Comunista Soviético, onde Nikita Kruschev (1894-
1871), secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética por onze anos,
considerado um líder político mundial, denunciou os crimes do stalinismo. Em Moscou,
Armênio Guedes já questionava a cartilha soviética. De volta ao Brasil, torna-se um dos
principais articuladores da Declaração de Março, de 1958, que colocou a democracia
como objetivo da ação política do Partido Comunista. Nessa época, atuou como
assessor parlamentar e dirigiu a revista Estudos Sociais, junto ao escritor e jornalista
Astrojildo Pereira (1890- 1965), um dos fundadores do partido. Depois de 1964, mesmo
com a repressão do governo militar aos movimentos de esquerda, Armênio ficou no
Brasil clandestinamente até 1971. Saiu do país depois de ser abordado por um agente da
Agência Central de Inteligência Americana (CIA) em frente da casa onde morava e se
exilou no Chile. Com o codinome Lázaro Feitosa, se juntou aos outros exilados como
José Serra, Fernando Gabeira, Almino Afonso, Maria Conceição Tavares e Betinho, em
ações políticas para denunciar a repressão no Brasil. Nesse período, perde o irmão mais
próximo, Celito Guedes, que foi preso torturado e morto no Rio de Janeiro. Com o
golpe militar de Pinochet e a morte de Allende em 1973, Armênio buscou exílio na
França, onde chegou com o codinome Júlio. Com os exilados em Paris, entre eles Oscar
Niemeyer, Miguel Arraes, Aloysio Nunes Ferreira, Luiz Hildebrando Pereira, José Leite
Lopes, Armênio também organiza um esquema de denúncia da ditadura brasileira. E se
23
torna o responsável pelo jornal do partido, Voz Operária, levando seu grupo a
consolidar o princípio de que a democracia é um valor permanente e não apenas tático.
Em 1979, com a Lei de Anistia, retorna ao Brasil. No ano seguinte, Prestes rompe com
o PCB, que já mostrava outra divisão: de um lado, os que pregavam a democracia e
criticavam o modelo soviético, como Armênio, de outro, os que discordavam dessa
linha. A divergência levou mais gente a deixar o partido. Armênio Guedes saiu em
1986. Encerrou ali a militância de cinquenta anos. Continuou como ele mesmo diz, um
comunista. Mas sem partido e sem carteirinha. Em 30 de março de 2012, recebeu o
título de Cidadão Paulistano, oferecido pela Câmara Municipal de São Paulo.
24
Referências utilizadas para composição da nota biográfica:
VAIA, Sandro. Armênio Guedes: sereno guerreiro da liberdade. São Paulo: Barcarolla,
2013.
Programa Roda Viva da TV Cultura: entrevista com Armênio Guedes (11 de agosto de
2008). Disponível em:
http://www.rodaviva.fapesp.br/materia_busca/573/marxismo/entrevistados/armenio_gue
des_2008.htm
Referências da liderança:
Não encontrado
Referências sobre a liderança:
Livros
VAIA, Sandro. Armênio Guedes, sereno guerreiro da liberdade. São Paulo: Editora
Barcarolla, 2013.
Dissertações e teses
Não encontrado
Artigos
LUA NOVA. Revolução hoje? In: Lua Nova, vol.3 n.1, São Paulo, jun. 1986.
Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64451986000200009
Outros (audiovisual, internet, artes e etc...):
Programa Roda Viva da TV Cultura: entrevista com Armênio Guedes (11 de agosto de
2008). Disponível em:
25
http://www.rodaviva.fapesp.br/materia_busca/573/marxismo/entrevistados/armenio_gue
des_2008.htm
Vídeo Armênio Guedes, da série Os Protagonistas, de julho de 2010, no You Tube.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=FEogXxn3NUQ
Nome: Artur da Silva Bernardes
Nome(s) político(s): Artur Bernardes
Data de nascimento: 08/08/1875
Data de falecimento: 23/03/1955
Cidade natal: Viçosa
Cidade de falecimento: Rio de Janeiro
Estado natal: Minas Gerais - MG
Estado de falecimento: Rio de Janeiro - RJ
País de falecimento: Brasil
Causa da morte: ‘não se aplica’
Formação: Direito
Instituição de formação: Faculdade de Direito de São Paulo - Largo São Francisco
(atual USP)
Ano de ingresso: ?
Ano de conclusão: 1900
Artur Bernardes nasceu em Viçosa cidade mineira da Zona da Mata. Como quase todos
os Presidentes da República de então, formou-se em Direito pelo Largo São Francisco.
Começa advogando em sua cidade natal e atuando na imprensa local como colaborador
e diretor do jornal A Cidade de Viçosa (1903-1905).
Exerce o cargo de vereador em sua cidade (1905-1906) pelo Partido Republicano
Mineiro (PRN). Posteriormente exerceu dois mandatos como Deputado Federal (1909-
1910) e (1915-1918). Entre 1910 e 1914 foi secretário de finanças do Estado de Minas
Gerais e entre 1918 e 1922 tornou-se presidente do mesmo Estado.
Com eleições diretas, em 15 de novembro de 1922 é eleito Presidente do Brasil
sucedendo Epitácio Pessoa até 1926.
26
O seu governo se desenvolveu sobre forte instabilidade política e com diversas crises
sociais e internas proveniente das mudanças ocorridas no país durante este período. As
revoltas tenentistas iniciadas no Rio Grande do Sul e que se estenderam até São Paulo
forçou um governo em Estado de Sítio.
Em 1927, foi eleito Senador e tornou-se um dos responsáveis pela Revolução de 1930
em Minas Gerais sendo um das principais reivindicações o não reconhecimento da a
eleição de Júlio Prestes. Liderou a Revolução Constitucionalista em seu Estado em
1932, sendo preso e exilando-se em seguida. Com a Anistia de 1934 retorna ao Brasil
elege-se Deputado Federal (1935-1937) e no ano de 1946 tornou-se Deputado
Constituinte.
Com o golpe do Estado Novo, sua atuação restringe-se ao Rio de Janeiro e Viçosa. Em
1943, é um dos articuladores da candidatura do Brigadeiro Eduardo Gomes à
Presidência da República.
Em 1945, torna-se membro da comissão provisória da União Democrática Nacional
(UDN) e também participa da fundação do Partido Republicano (PR), sendo seu
primeiro presidente. Falece na cidade do Rio de Janeiro em 1955.
Referências utilizadas para composição da nota biográfica
http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/ex-presidentes/arthur-bernardes
http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/biografias/artur_bernardes
Referências da liderança
Mensagem do Presidente Artur Bernardes ao Congresso Nacional na abertura da
terceira sessão da décima primeira legislatura - 1923
Disponível em: <http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/ex-presidentes/arthur-
bernardes/mensagens-presidenciais/mensagem-ao-congresso-nacional-na-abertura-da-
terceira-sessao-da-decima-primeira-legislatura-1923/download>. Acesso em:08/2014.
Mensagem do Presidente Artur Bernardes ao Congresso Nacional na abertura da
terceira sessão da décima segunda legislatura - 1924
27
Disponível em: <http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/ex-presidentes/arthur-
bernardes/mensagens-presidenciais/mensagem-ao-congresso-nacional-na-abertura-da-
primeira-sessao-da-decima-segunda-legislatura-1924/download>. Acesso em: 08/2014.
Mensagem do Presidente Artur Bernardes ao Congresso Nacional na abertura da
terceira sessão da décima segunda legislatura - 1925
Disponível em: <http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/ex-presidentes/arthur-
bernardes/mensagens-presidenciais/mensagem-ao-congresso-nacional-na-abertura-da-
segunda-sessao-da-decima-segunda-segunda-legislatura-1925/download>. Acesso em
08/2014.
Mensagem do Presidente Artur Bernardes ao Congresso Nacional na abertura da
terceira sessão da décima segunda legislatura - 1926
Disponível em: <http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/ex-presidentes/arthur-
bernardes/mensagens-presidenciais/mensagem-ao-congresso-nacional-na-abertura-da-
terceira-sessao-da-decima-segunda-segunda-legislatura-1926/download>. Acesso em:
08/2014.
Referências sobre a liderança
Livros
________, Quatriennio Arthur Bernardes 1922-1926, Jornal do Commercio, Editora
Typ. Jornal do Comércio, 1926.
AMORA, Paulo, Bernardes: O Estadista de Minas na República, Companhia Editora
Nacional, 1964.
BARATA, Júlio, A Palavra de Arthur Bernardes, 1934.
BERNARDES, Arthur da Silva, Discursos e Pronunciamentos Políticos, Editora Belo
Horizonte, 1977.
BRANDT, Antônio, Arthur Bernardes e a Revolução Constitucionalista, Editora
Academia Letras Viçosa, 1999.
CHATEAUBRIAND, Assis, A vocação Revolucionária do Presidente Arthur Bernardes,
Editora O Jorna, Rio de Janeiro, 1926.
28
GÓES MONTEIRO, Norma de, Organizadora, Idéias Políticas de Artur Bernardes,
Editora do Senado Federal, 1984.
JÚNIOR, Amaurílio, Arthur Bernardes e a Revolução, Editora São Benedicto, 1931.
KOIFMAN, Fábio (org.) - Presidentes do Brasil, Editora Rio, 2001.
LIMA, Alberto de Souza, Arthur Bernardes Perante a História, Editora: I. H. G, Belo
Horizonte, 1983.
MAGALHÃES, Bruno de, Arthur Bernardes Estadista da República, Editora Loje, 1973.
PAVÃO, Ary, Arthur Bernardes e o Brasil, Editora Moderna, Rio de Janeiro, 1931.
Dissertações e teses
Não se aplica
Artigos
Não se aplica
Outros (audiovisual, internet, artes e etc…)
http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/biografias/artur_bernardes
Nome: Benjamin Constant Botelho de Magalhães
Nome(s) político(s): Benjamin Constant; “Fundador da República Brasileira”
Data de nascimento: 18/10/1833
Data de falecimento: 18/01/1891
Cidade natal: Niterói
Cidade de falecimento: Rio de Janeiro
Estado natal: Rio de Janeiro
Estado de falecimento: Rio de Janeiro
País de falecimento: Brasil
Causa da morte: Complicações derivadas da malária adquirida na Guerra do Paraguai
Formação: Militar/Engenheiro e Doutor em Ciências Matemáticas e Físicas
Instituição de formação: Escola Militar do Rio de Janeiro/Real Academia Militar/
Observatório Astronômico do Rio de Janeiro
Ano de ingresso: 1852
Ano de conclusão: 1859
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Nascido na cidade de Niterói, estado do Rio de Janeiro, Benjamin Constant ingressa na
Escola Militar do Rio de Janeiro em 1852 e em 1854 começa sua carreira como
professor de matemática naquela instituição.
Em 1862 é nomeado professor de matemática do Instituto dos Meninos Cegos, que fora
fundado em 1854 por Dom Pedro II. Dada à atuação de Benjamin Constant, que
chegaria a ser seu terceiro diretor, o instituto recebe, em 1891, o nome Instituto
Benjamin Constant. Foi ainda professor de matemática no Imperial Colégio de Pedro II
e fundou a Escola Normal Superior (1880).
Na década de 1870, sua atuação para divulgação do positivismo no Rio de Janeiro e no
Brasil se torna mais efetiva. Em 1876 participa da fundação da Sociedade Positivista do
Rio de Janeiro.
Sua atuação de apenas um ano na Guerra do Paraguai (1865-1870) - a malária contraída
o fez retornar ao Brasil - foi suficiente para que percebesse as iniquidades do campo de
batalha, que não se circunscreviam somente ao inimigo, mas na precariedade em que as
tropas brasileiras se viam enredadas.
Com essa amálgama de ideias e vivências, mescla do cientificismo do positivismo, do
liberalismo e do pacifismo advindo de sua experiência na Guerra do Paraguai, Benjamin
Constant conduziu sua atuação como liderança enquanto docente no meio militar e
positivista distinto da ortodoxia sectária de outros partidários de Comte, sobretudo no
campo político.
Daí vem a sua perspectiva do cidadão soldado, e a formação da geração de “bacharéis
soldados” em oposição a simples fazedores de guerras e de sua independência em
relação ao positivismo na medida em que abraça a liberdade oriunda do liberalismo.
Em 1887 Benjamin Constant funda o Clube Militar, instituição que se dedicou à
propaganda republicana. A sessão de 9 de novembro de 1889, que decidiria pela queda
da Monarquia, foi presidida por Constant, que após a proclamação da república ocupa o
cargo de Ministro da Guerra do Governo Provisório, com o posto de General-de-
brigada. Segundo seus biógrafos, por discordar das ideias de Deodoro da Fonseca, é
afastado do cargo e assume a pasta, para ele criada, da Instrução Pública, Correios e
Telégrafos.
Muitos dos seus ex-alunos iriam assumir cargos junto à República recém-fundada, o que
aponta que sua liderança se dava, sobretudo no plano das ideias que divulgava como
docente.
30
Com o Decreto nº 981 de 8 de novembro de 1890 – concebido na sua gestão junto ao
Ministério da Instrução Pública, Correios e Telégrafos – aprova-se o regulamento da
instrução primária e secundária do Distrito Federal, que pretendia dar ao Rio de Janeiro
- e por conseguinte influenciar o país - uma perspectiva de educação, neste dois níveis,
mais próxima ao seu ideário. Diz o Decreto n. 981, que a educação será: “...Livre,
gratuita e leiga, com disciplinas concentradas na matemática, português, geografia,
história, instrução moral e cívica, língua francesa, ciência físicas, noções de direito e
economia politica....”.
Referências utilizadas para composição da nota biográfica
(http://www.e-biografias.net/benjamin_constant/) último acesso 20/06/2014
http://educacao.uol.com.br/biografias/benjamin-constant.jhtm último acesso
20/06/2014
Lemos, Renato Luís do Couto Neto e (1997) Benjamin Constant: Biografia e
Explicação Histórica. Estudos Históricos. Rio de Janeiro.
Referências da liderança
Nada consta (Sem publicação passível de citação)
Referências sobre a liderança
Livros
Lemos, Miguel. (1943) Heróis Brasileiros – Benjamin Constant. Rio de Janeiro. Editora
Globo.
Lemos, Renato Luís do Couto Neto e. (1997) Benjamin Constant – vida e historia.
ToopBooks Editora.
Dissertações e teses
31
Guelere, Gabriela Doll. (2008)A liberdade individual para Benjamin Constant. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. USP.
Artigos
Lemos, Renato Luís do Couto Neto e (1997) Benjamin Constant: Biografia e
Explicação Histórica. Estudos Históricos. Rio de Janeiro.
Outros (audiovisual, internet, artes e etc...)
Não consta
Nome: Manuel Ferraz de Campos Sales
Nome(s) político(s): Campos Sales
Data de nascimento: 15/02/1841
Data de falecimento: 28/06/1913
Cidade natal: Campinas
Cidade de falecimento: Santos
Estado natal: São Paulo
Estado de falecimento: São Paulo
País de falecimento: Brasil
Causa da morte: natural
Formação: Direito
Instituição de formação: Faculdade de Direito de São Paulo
Ano de ingresso: 1859
Ano de conclusão: 1863
Campos Sales ingressa na política em 1867, filiando-se ao Partido Liberal. Em 1873 participa
da fundação do Partido Republicano Paulista (PRP) criado durante a Convenção de Itu. Entre
as ideias estabelecidas pela convenção estava o fim da monarquia e da escravidão.
Durante o Império foi vereador em São Paulo (1872), deputado provincial em São Paulo
(1867- 1871; 1882-1883 e 1888-1889) e deputado geral entre 1885-1888 (um dos três únicos
republicanos eleitos para a função no período).
32
Com o advento da República em 1889 tornou-se ministro da Justiça do governo provisório de
Deodoro da Fonseca (1889-1991) e simultaneamente Senador da República pelo estado de
São Paulo para a Assembleia Nacional Constituinte. Entre 1892 e 1893 parte para a Europa e
atua como colaborador para o jornal Correio Paulistano.
Foi presidente do estado de São Paulo de 1894 até 1898, quando o estado enfrentou um
grande surto de febre amarela ao mesmo tempo em que enviava tropas do estado para a
Guerra de Canudos.
Em 1898 ocorreram as eleições diretas para a Presidência da República e Campos Sales sai
vencedor e assume a presidência no dia 15 de novembro de 1898, governando até 1902.
Apoiou a agricultura com o cultivo de café. Recusou adotar medidas de proteção à indústria
brasileira em decorrência da política de encilhamento criada por Ruy Barbosa. Sales
renegocia a dívida brasileira com os banqueiros ingleses, o que ficou conhecido como
funding loan, caracterizado pelo combate à inflação e a desvalorização da moeda, além da
retirada de grande quantia de circulação e não permissão de emissão de papel-moeda pelos
bancos.
Foi responsável por afastar os militares da República e estabeleceu a chamada política dos
governadores. Com isso, emerge o pacto oligárquico caracterizado num acordo entre o poder
central e o local, na prática a não intervenção do poder do Estado nacional no mando dos
partidos e dos coronéis nos estados e municípios. Em troca, o presidente recebia apoio no
âmbito federal.
Este cenário tornou possível a criação da “política do café-com-leite”. Mineiros e paulistas
revezavam a presidência e a vice-presidência da República. Sales indicou o paulista
Rodrigues Alves como seu sucessor à presidência, o que veio a ocorrer 1º de março de 1902.
Referências utilizadas para composição da nota biográfica
CORRÊA, Arsênio Eduardo. O Pensamento Político de Campos Sales. Londrina:
Humanidades, 2009.
Referências da liderança
SALES, Campos., Mensagem apresentada ao congresso nacional na abertura da terceira
sessao da quarta legislatura pelo presidente da republica m. Ferraz de Campos Sales em 15
de novembro de 1898. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1898.
33
Referências sobre a liderança
Livros
CORRÊA, Arsênio Eduardo. O Pensamento Político de Campos Sales. Londrina:
Humanidades, 2009.
DEBES, Célio. Campos Salles: perfil de um estadista. Livraria F. Alves Editora, 1978.
MARCONDES, Ayrton. Campos Salles: uma investigação da República Velha.
Bauru: EDUSC, 2001.
GUANABARA, Alcindo. A presidência Campos Salles politica e finanças, 1898-1902 Rio de
Janeiro : Laemmert & co., 1902.
MENEZES, Raimundo de. Vida e obra de Campos Salles. Campinas, Secretaria de
Educação, Cultura Esportes e Turismo, 1974.
MONTEIRO, Tobias, O Presidente Campos Salles na Europa. Editora F. Briguiet, 1928.
Salles, Antônio Carlos. O idealismo republicano de Campos Salles. Rio de Janeiro: Z.
Valverde,[1944.
VILLEGAS, Maria Zelia de Camargo de El gobierno de manuel ferraz de campos salles, el
restaurador de las finanzas (1898-1902) Caracas : Instituto de Altos Estudios de America
Latina, 1993.
Dissertações e teses
Não consta
Artigos
Não consta
Outros (audiovisual, internet, artes e etc...)
Não consta
Nome: Carlos Marighella
Nome(s) político(s): Carlos Marighella
Data de nascimento: 05/12/1911
Data de falecimento: 04/11/1969
Cidade natal: Salvador
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Cidade de falecimento: São Paulo
Estado natal: Bhaia - BA
Estado de falecimento: São Paulo - SP
País de falecimento: Brasil
Causa da morte: Assassinado
Formação: Engenharia Civil
Instituição de formação: Escola Politécnica da Bahia
Ano de ingresso: 1929
Ano de conclusão: não concluiu
Nasceu em Salvador, capital do estado da Bahia, em 5 de dezembro de 1911. Filho de
uma família pobre com sete filhos, sua mãe era baiana, descendentes de escravos e seu
pai, mecânico de origem italiana. Seu pai teria sido um dos influenciadores das ideias
socialistas em Marighella. Cursou o primário e o secundário em Salvador e em 1929
ingressou na Escola Politécnica da Bahia para cursar Engenharia Civil. No início da
década de 30, ingressa no então PCB (Partido Comunista do Brasil) e é preso. Embora
tenha abandonado a universidade em 1932, continuou na militância estudantil. Passa a
ser um dos principais articuladores do partido até 1936 quando parte para o Rio de
Janeiro para ajudar na direção nacional do PCB.
Nesse mesmo ano (1936), é preso mais uma vez após o fracasso da Intentona Comunista
e a prisão de diversos líderes comunistas. Em 1937 sai da prisão e parte para São Paulo
tentar reorganizar o PCB. Em 1939, é preso novamente, onde permanece em reclusão
até 1944, divididos entre o presídio de Ilha Grande e Fernando de Noronha.
Com o fim do Estado Novo em 1945 e o surgimento de uma nova organização política,
incluindo a legalização do PCB, Marighella é eleito para a Assembleia Nacional
Constituinte (ANC). Em 1947, o registro do PCB é cancelado pelo TSE e, mais tarde,
seus deputados seriam cassados pela Câmara Federal. Volta para a clandestinidade junto
com seu partido. Na década de 50 exerceu vários cargos dentro do partido, sempre na
ilegalidade, atuando ao lado de sindicalistas e outros militantes nas atividades políticas.
Nesse período apoiou a greve de abril/maio de 1953 que, embora com a paralisação de
milhares de trabalhadores não obteve grandes resultados, a par os aumentos parciais nos
salários. Durante a década de 50 o PCB viveu grande crise interna de reorientação
devido à publicação do relatório Kruschev que denunciava os crimes de Stálin.
35
Na passagem da década de 50 para 60, o PCB aprova uma nova resolução que prega um
caminho para o socialismo pelas vias institucionais. Após o Golpe de 64, Marighella
não acreditava mais no caminho pacífico para o socialismo. No dia 9 de maio do mesmo
ano, recebeu voz de prisão por policiais do DOPS (Departamento de Ordem Política e
Social) em uma sessão de cinema no Rio de Janeiro, resistiu à prisão e foi alvejado com
3 perfurações por arma de fogo. EM 31 de julho de 1964 foi solto graças a um habeas
corpus defendido pelo seu advogado, Sobral Pinto. As divergências entre Marighella e o
PCB tornam-se cada vez mais insustentáveis. Em fins de 1966, deixa a comissão
executiva do PCB e defende a luta revolucionária para por fim à ditadura militar. Em
1968, funda a Aliança Libertadora Nacional, difundindo a guerrilha urbana no Brasil
com sequestros e assaltos à banco para angariar fundos para seu desenvolvimento que
recrudesceram a partir do AI-5, em 13 de dezembro de 1968.
Em 15 de agosto de 1969, um grupo liderado por Marighella ocupa a Rádio Nacional
em São Paulo, propriedade das Organizações Globo, e emite um manifesto escrito pelo
dirigente da ALN. Na noite de 4 de novembro do mesmo ano, em confronto com
policiais chefiados por Sérgio Paranhos Fleury, Carlos Marighella foi assassinado, na
Alameda Casa Branca em São Paulo. Até hoje existem divergências sobre o fato de ele
estar armado ou não e a presença de frades dominicanos na ação que resultou em sua
morte.
Referências utilizadas para composição da nota biográfica
MARIGHELLA, Carlos. (verbete). Disponível em:
<http://www.fgv.br/cpdoc/busca/Busca/BuscaConsultar.aspx>. Acesso em: 01/09/2014.
MAGALHÃES, Mário. Marighella, o querrilheiro que incendiou o mundo. 1ª ed. São
Paulo: Cia das Letras, 2012.
MAGALHÃES, Mário. Disponível em:
<http://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2014/07/31/ha-50-anos-com-
ajuda-de-sobral-pinto-marighella-se-despedia-da-cadeia/>. Acesso em: 01/09/2014.
_____________. Disponível em:
<http://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2014/05/09/ha-50-anos-baleavam-
marighella-no-cinema-leia-gratis-relato-da-biografia/>. Acesso em 02/09/2014.
_____________. Disponível em:
<http://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2014/08/15/ha-45-anos-guerrilha-
tomou-radio-e-transmitiu-manifesto-de-marighella/>. Acesso em: 30/08/2014
36
Referências da liderança
Livros
MARIGHELLA, Carlos. Poemas: rondo da liberdade. 1ª ed. São Paulo: Brasiliense,
1994.
_________________. Manual do guerrilheiro urbano e outros textos. 2ª ed. Lisboa:
Assírio & Alvin, s/d.
_________________. Escritos de Carlos Marighella. 1ª ed. São Paulo: Livramento,
1979.
_________________. Por que resisti à prisão. s/ed. São Paulo/Salvador:
Brasiliense/Edufba, 1994 [1965].
_________________. A questão agrária no Brasil. s/ed. s/local: Editora Brasil Debates,
1980.
_________________. Escritos de Carlos Marighella. s/ed. s/local: Editora Livramento,
1979.
_________________. A crise brasileira. 1966. (não foram encontradas mais
informações bibliográficas).
_________________. Minimanual do guerrilheiro urbano. 1969. (não foram
encontradas mais informações bibliográficas).
Referências sobre a liderança
Livros
BETTO, Frei. Batismo de Sangue: Guerrilha e Morte de Carlos Marighella. 14ª ed. rev.
e ampliada. Rio de Janeiro: Rocco, 2006.
JOSÉ, Emiliano. Carlos Marighella - O Inimigo Número Um Da Ditadura Militar. 1ª ed.
São Paulo: Editora Casa Amarela, 2004.
MAGALHÃES, Mário. Marighella, o querrilheiro que incendiou o mundo. 1ª ed. São
Paulo: Cia das Letras, 2012.
MARINGONI, Gilberto; CAMARGOS, Marcia; SACCHETTA, Vladimir (org). A
imagem e o gesto: fotobiografia de Carlos MArighella. 1ª ed. São Paulo: Perseu
Abramo, 1999.
NOVA, Christiane & NOVOA, Jorge (org). Carlos Marighella: o homem por trás do
mito. 1ª ed. São Paulo: UNESP, 1999.
37
REZENDE, Claudinei Cássio de. Suicídio revolucionário: a luta armada e a herança da
quimérica revolução em etapas. (ebook - ePUB). s/local, Ed. Scielo/UNE, 2012.
SILVA Jr., Edson Teixeira. Carlos, a face oculta de Marighella. 1ª ed. São Paulo:
Editora Expressão Popular, 2009.
Dissertações e teses
Não se aplica
Artigos
Outros (audiovisual, internet, artes e etc…)
MARIGHELLA, Carlos. (verbete). Disponível em:
<http://www.fgv.br/cpdoc/busca/Busca/BuscaConsultar.aspx>. Acesso em: 01/09/2014.
MAGALHÃES, Mário. Disponível em:
<http://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2014/07/31/ha-50-anos-com-
ajuda-de-sobral-pinto-marighella-se-despedia-da-cadeia/>. Acesso em: 01/09/2014.
_____________. Disponível em:
<http://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2014/05/09/ha-50-anos-baleavam-
marighella-no-cinema-leia-gratis-relato-da-biografia/>. Acesso em 02/09/2014.
_____________. Disponível em:
<http://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2014/08/15/ha-45-anos-guerrilha-
tomou-radio-e-transmitiu-manifesto-de-marighella/>. Acesso em: 30/08/2014.
MELITO, Leandro. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/cidadania/2014/08/ha-45-
anos-organizacao-de-marighella-tomava-transmissores-de-radio-em-sp-para>. Acesso
em: 02/09/2014.
Música
Racionais MCs - Carlos MArighella: Mil faces de um homem leal. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=5Os1zJQALz8>. Acesso em 02/09/2014.
Filmes
Batismo de Sangue. Helvecio Ratton, Brasil, documentário, 2006, 110 min.
Marighella, Retrato falado de um guerrilheiro. Silvio Tendler, Brasil, documentário, s/d.
Marighella. Isa Grinspum Ferraz, Brasil, documentário, 2012, 100 min.
38
Nome: Delfim Moreira da Costa Ribeiro
Nome(s) político(s): Delfim Moreira
Data de nascimento: 07/11/1868
Data de falecimento: 01/07/1920
Cidade natal: Cristina
Cidade de falecimento: Santa Rita do Sapucaí
Estado natal: MG
Estado de falecimento: MG
País de falecimento: Brasil
Causa da morte: Sífilis terciária
Formação: Direito
Instituição de formação: Faculdade de Direito de São Paulo
Ano de ingresso: 1886
Ano de conclusão: 1890
Décimo presidente do Brasil, Delfim Moreira exerceu o cargo com a morte do titular
Rodrigues Alves, no período de 15/11/1918 a 28/07/1919. Era mineiro, nascido em
Cristina, e representante, portanto, da política do café com leite.
Como defensor do republicanismo participou da fundação dos jornais: República
Mineira e Vinte e Um de Abril. Após a conclusão do curso de direito, trabalha como
promotor público e juiz municipal em Santa Rita do Sapucaí. Sua carreira política
começa com eleição para vereador e presidente da Câmara Municipal desse município.
Foi deputado federal por dois mandados (1894-1902) e no mesmo período exerceu
simultaneamente o cargo de secretário do interior de Minas Gerais. Foi presidente de
Minas Gerais (equivalente ao cargo de governador hoje) no período de 1914 a 1918.
Compôs a chapa vitoriosa de Rodrigues Alves como vice-presidente em 1918. Com o
falecimento de Rodrigues Alves, infectado pela gripe espanhola, Delfim Moreira
assume a presidência por um curto período de tempo até a realização de um novo
processo eleitoral vencido por Epitácio Pessoa.
Sua presidência ficou conhecida como “regência republicana”, período marcado por
greves e problemas sociais. Também afetado por problemas de saúde, sua curta gestão
ficou marcada pela transferência de tarefas para o ministro Afrânio de Melo Franco.
Referências utilizadas para composição da nota biográfica
39
MINISTÈRIO DA JUSTIÇA. Centro de Informações de Acervo dos Presidentes da
República. Disponível em: http://www.an.gov.br/crapp_site/default.asp. Acesso em
26/06/2014.
HISTÓRIA BRASILEIRA. Biografias: Delfim Moreira. Disponível em:
http://www.historiabrasileira.com/biografias/delfim-moreira/. Acesso em 25/06/2014.
Wikipideia. Delfim Moreira. Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Delfim_Moreira. Acesso em 24/06/2014.
UOL Educação. Biografias: Delfim Moreira. Disponível em:
http://educacao.uol.com.br/biografias/delfim-moreira-da-costa-ribeiro.jhtm. Acesso
24/06/2014.
ESTADÃO (acervo). Personalidades: Delfim Moreira. Disponível em:
http://acervo.estadao.com.br/noticias/personalidades,delfim-moreira,927,0.htm. Acesso
em 25/06/2014.
Referências da liderança
Não Consta
Referências sobre a liderança
Livros
KOIFMAN, Fábio, Organizador – Presidentes do Brasil, Editora Rio, 2001.
http://www.duplipensar.net/dossies/historia-das-eleicoes/presidente-delfim-
moreira.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Delfim_Moreira
SILVA, Hélio, Os Presidentes - Rodrigues Alves/ Delfim Moreira , Editora Três, 1983.
Dissertações e teses
Não consta
Artigos
CPDOC. Dicionário de Elite Política Republicanas (19889-1930). Verbete Delfim
Moreira. Disponível em: http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-
republica/MOREIRA,%20Delfim.pdf. Acesso em 26/06/2014.
40
GONÇALVES, Irlen Antônio. Um bacharel na secretaria do interior e justiça: o
intelectual Delfim Moreira ea reforma do ensino em Minas Gerais. Revista Brasileira de
História da Educação, 2012, 8.1 [16]: 125-146.
Outros (audiovisual, internet, artes e etc...)
Não consta
Nome: Manoel Deodoro da Fonseca
Nome(s) político(s): Marechal Deodoro da Fonseca
Data de nascimento: 05/08/1827
Data de falecimento: 23/08/1892
Cidade natal: Alagoas
Cidade de falecimento: Barra Mansa
Estado natal: Maceió
Estado de falecimento: Rio de Janeiro
País de falecimento: Brasil
Causa da morte: crise aguda de dispneia
Formação: Militar
Instituição de formação: Escola Militar do Rio de Janeiro
Ano de ingresso: 1843
Ano de conclusão: 1847
Presidente da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul (1886-1888), comandante
militar em Mato Grosso (1888-1889) e Primeiro Presidente da República (1889-1891).
O escritor e jornalista Laurentino Gomes (segundo blog do autor - ver nas referências
abaixo) escreveu que Deodoro da Fonseca era um “tarimbeiro”, jargão usado na época
para designar os militares veteranos da Guerra do Paraguai, com escassa formação
intelectual, mas grande experiência nos campos de batalha e na vida de caserna. Era um
homem vaidoso, intempestivo, rancoroso e de gênio difícil. Mas tudo indica que era
também um homem honesto, íntegro, incapaz de aceitar vantagens pessoais em troca de
favores ou prestígio político. Até as vésperas da Proclamação da República era
monarquista convicto e dizia-se amigo do imperador Dom Pedro II. Em 1888, numa
41
troca de cartas com um sobrinho, também militar, afirmou que “a república no Brasil
seria uma tragédia”.
O marechal foi personagem das circunstâncias históricas uma vez que sua participação
no golpe de Quinze de Novembro se deveu mais a mágoas e desavenças pessoais do que
a convicções políticas. Nos anos que antecederam a queda da monarquia, os
republicanos civis estavam divididos, não tinham votos e não viam perspectivas de
chegar ao poder pelas urnas. A mocidade militar de Benjamin Constant era ardorosa,
mas não tinha capacidade de mobilizar as forças armadas contra o Império. Por isso,
todos viam em Deodoro a única figura com autoridade moral para assumir a liderança
do golpe. E foi nessa condição que ele ergueu a espada contra o império em 15 de
novembro de 1889.
Feita a troca de regime, sua atuação à frente do governo republicano foi permeada por
complicações e crises. Durante o primeiro ano, a rotatividade nos governos estaduais foi
altíssima. Havia dificuldades de toda a natureza pela frente, a começar pela falta de
quadros republicanos para ocupar os postos chaves da administração e a pouca
experiência dos novos governantes. O estado do Rio Grande do Norte, por exemplo,
teve dez administrações. Minas Gerais, treze; Paraná, onze; Pernambuco, oito; e
Sergipe, sete.
Habituado à vida na caserna e desconfiado das reais intenções dos civis, que ele
conhecia pouco, Deodoro preferiu de início delegar esses cargos aos seus companheiros
de armas. Por essa razão, os militares dominaram por completo a cena política
brasileira. Uma reforma financeira e bancária decretada por Rui Barbosa, então ministro
da Fazenda, gerou a primeira grande corrida especulativa no Brasil, chamada
Encilhamento. A inflação atingiu níveis altíssimos. Muitos ministros pediram demissão.
Em meio ao nervosismo, Deodoro chegou a desafiar Benjamin Constant para um duelo
durante uma reunião ministerial. O resultado da crise foi o fechamento do Congresso e a
renúncia de Deodoro em novembro de 1891.
Deodoro morreu dez meses mais tarde, em agosto de 1892. Foi enterrado à paisana, sem
honras militares, como era seu desejo.
42
Fonte: http://laurentinogomes.com.br/blog/2013/10/deodoro-da-fonseca-de-refem-da-historia-a-heroi-republicano/
Referências da liderança
‘Não consta’.
Referências sobre a liderança
‘Não consta’.
Livros Deodoro e a verdade histórica para 15 de novembro de 1937 Leôncio CORREIA Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1937. Comissão Pró-Monumento Deodoro, por ocasião da inauguração do seu monumento, 1937
Fonseca, uma família e uma história Walter FONSECA Universidade do Texas: Editora Obelisco, 1982
Deodoro: A espada contra o Império ROBERTO MAGALHÃES JÚNIOR Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 1957 Deodoro, subsídios para a história Ernesto SENNA Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1981
Deodoro da Fonseca : primeiro presidente do Brasil Hélio Carneiro SILVA E Maria Cecília Ribas. Universidade do Texas: Editora Três, 1983
Dissertações e teses
MELLO, Rafael Reis Pereira Bandeira de. O Apostolado positivista e o projeto da ditadura republicana no Brasil (1889-1891) ' 01/11/2011 153 f. Mestrado Acadêmico em História Social Instituição de Ensino: Universidade do Estado do Rio de Janeiro Biblioteca Depositária: UERJ - REDE SIRIUS - BIBLIOTECA CEHD Orientador: MAGALI GOUVEIA ENGEL
Artigos
República Federativa do Brasil: origem histórica e a influência da Federação norte-americana no sistema brasileiro - DOI: 10.4025/actascihumansoc.v25i1.2211 The Federative Republic of Brazil: historical origin and influence of the U.S. federation on the Brazilian political system - DOI: 10.4025/actascihumansoc.v25i1.2211 Aroldo Luiz Morais ; Janaina Vandresen
43
Acta Scientiarum : Human and Social Sciences, 2003, Vol.25(1), p.185 [Periódico revisado por pares] Portal de Periódicos da Capes
Outros (audiovisual, internet, artes e etc...)
Nome: Dilma Vana Rousseff
Nome(s) político(s): Dilma Rousseff
Data de nascimento: 14/12/1947
Data de falecimento: não se aplica
Cidade natal: Belo Horizonte
Cidade de falecimento: não se aplica
Estado natal: Minas Gerais - MG
Estado de falecimento: não se aplica
País de falecimento: não se aplica
Causa da morte: não se aplica
Formação: Economista
Instituição de formação: Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
Ano de ingresso: 1974
Ano de conclusão: 1977
Nascida na cidade Belo Horizonte (MG), Dilma Rousseff é filha de imigrante búlgaro
Pedro Rousseff e de Dilma Jane da Silva, nascida em Resende (RJ).
A militância política de Dilma Rousseff começa ainda na década de 60, quando aos 16
anos se aproxima da Organização Revolucionária Marxista – Política Operária –
POLOP. Inicia então sua militância em organizações da esquerda revolucionária, que a
partir da instalação dos governos militares em 1964, combatem o regime autoritário
militar, ao mesmo tempo em que entendiam ser possível estabelecer um processo
revolucionário no país.
Em 1967 passa a militar no Comando de Libertação Nacional – Colina. Em 1969, já na
clandestinidade, integra-se a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares - VAR –
Palmares, organização advinda da união da Colina e da Vanguarda Popular
Revolucionária. Presa em 1970 é condenada pela Justiça Militar por subversão e cumpre
pena de três anos no presídio Tiradentes em São Paulo.
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Libertada, após breve estada em Minas Gerais onde buscou se recuperar das torturas
físicas e psicológicas sofridas na prisão, estabelecesse em 1973 em Porto Alegre, onde
mais tarde participa da fundação do Partido Democrático Trabalhista – PDT (1979).
Em 1974 ingressa no curso de economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
– UFRGS, retomando os estudos universitários interrompidos em Minas Gerais devido
à sua militância política na década de 60.
Entre 1980 e 1985 trabalha como assessora da bancada estadual PDT. De 1985 a 1988,
na gestão de Alceu Colares, foi Secretária da Fazenda do Município de Porto Alegre.
Em 1989 passa a ser Diretora Geral da Câmara Municipal de Porto Alegre, onde
permanece até 1990.
Com o apoio de Brizola a Lula no segundo turno da eleição presidencial de 1989,
Dilma, segue seu partido, o PDT, e apoia o candidato do Partido dos Trabalhadores,
derrotado naquela eleição por Fernando Collor.
De 1991 a 1993 foi Presidente da Fundação de Economia e Estatística – FEE do Rio
Grande do Sul. Em 1993 é nomeada, pelo então Governador Alceu Colares, Secretária
de Energia, Minas e Comunicações do Rio Grande do Sul, permanecendo no cargo até
1994. Durante a gestão do Governador Antônio Britto do PMDB (janeiro de 1995 a
janeiro de 1999), Dilma trabalha de 1995 a 1997 novamente na FEE, agora como
técnica. De 1999 a 2002 foi Secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul no
governo de Olívio Dutra do Partido dos Trabalhadores, partido no qual Dilma se filiou
em 2001.
Com a posse do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva em 2003, Dilma
assume o cargo de Ministra de Minas e Energia, cargo que só deixaria em 2005 para
assumir a Casa Civil substituindo o Ministro José Dirceu envolvido com o escândalo do
mensalão.
Escolhida por Lula como sua sucessora, Dilma Rousseff foi eleita em 2010 à primeira
mulher a ser presidente da república. Em julho de 2014, em convenção do Partido dos
Trabalhadores, por aclamação, Dilma é indicada a candidata à reeleição ao cargo de
presidente da república.
Referências utilizadas para composição da nota biográfica
http://www2.planalto.gov.br/presidencia/presidenta/biografia último acesso em
20/06/2014
45
http://www.e-biografias.net/dilma_rousseff/ último acesso em 20/06/2014
http://www.dilma.com.br/site/biografia último acesso em 20/06/2014
http://educacao.uol.com.br/biografias/dilma-rousseff.jhtm último acesso em 20/06/2014
http://lattes.cnpq.br/1357261451494509 último acesso em 20/06/2014
Referências da liderança
Artigos completos publicados em periódicos
ROUSSEFF, D. V. . O Crédito e a Inadimplência. Informe Econômico Rs, Porto Alegre
- RS, 1997.
_____________. Política Monetária e o Sistema Financeiro: A Estabilização das Taxas
de Juros e a Internacionalização do Mercado de Varejo Bancário. Indicadores
Econômicos Fee, Porto Alegre - RS, v. 25, n.2, p. 19-34, 1997.
_____________. Política Monetária e o Sistema Financeiro: A Elevação das Taxas de
Juros e a Concentração Bancária. Indicadores Econômicos Fundação de Economia e
Estatística – FEE, Porto Alegre - RS, 1997.
_____________. O Déficit e a Dívida Interna dos Estados. Informe Econômico RS,
Porto Alegre - RS, 1997.
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46
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Outros (audiovisual, internet, artes e etc...)
Presidente Dilma Rousseff concede entrevista exclusiva ao SBT – junho de 2014
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Fantastico - Patrıcia Poeta entrevista Dilma Rousseff (Rede Globo) setembro de 2011
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Hebe visita Dilma - COMPLETO – março de 2011
http://www.youtube.com/watch?v=E01FGfsj4fU
TodaysNetworkNews: US Pres. Obama's Meets Pres. Dilma Rousseff of Brazil – Agosto de 2012
http://www.youtube.com/watch?v=HPlkxVWY48Q
Dilma Rousseff e José Serra no debate Rede Globo 2º Turno 29/10/2010 (1/7)
http://www.youtube.com/watch?v=6sbbZB9mqa4
Entrevista de Dilma no Roda Vida 28 de junho de 2010 - parte 1
http://www.youtube.com/watch?v=XOB4NFKCj8w
Brazilian President Dilma Rousseff's Full UN Address – setembro de 2013
http://www.youtube.com/watch?v=3_hzgIyz4X0
Nome: Fernando Affonso Collor de Mello
Nome(s) político(s): Collor
Data de nascimento: 12/08/1949
Data de falecimento: -
Cidade natal: Rio de Janeiro
Cidade de falecimento: -
Estado natal: Rio de Janeiro - RJ
Estado de falecimento: não se aplica
País de falecimento: não se aplica
Causa da morte: não se aplica
Formação: Economia
Instituição de formação: Universidade Federal de Alagoas
Ano de ingresso: 1968
Ano de conclusão: 1972
Nascido na cidade do Rio de Janeiro, Fernando Affonso Collor de Mello formou-se
Bacharel em Ciências Econômicas na capital de Alagoas, Maceió, em 1972. Atuou
como diretor da Gazeta do Alagoas, jornal de propriedade de seu pai, Arnon de Mello.
Também exerceu o cargo de Superintendente da organização Arnon de Mello. Filiou-se
49
a Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e iniciou sua carreira política como Prefeito
de Maceió (1979-1982).
Foi eleito Deputado Federal pelo Partido Democrático Social (PDS), pelo estado de
Alagoas (1983-1986). Elegeu-se Governador do Estado de Alagoas (1987-1989) pelo
Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Em seu mandato como
governador de Alagoas ganhou notoriedade por combater marajás, termo usado para
denominar os funcionários públicos que ganhavam salários exorbitantes.
Fundou o Partido da Reconstrução Nacional (PRN) e lançou-se candidato a Presidência
da República, em 1989. Em uma disputa acirrada com Luís Inácio Lula da Silva, do
Partido dos Trabalhadores (PT), o candidato Collor (PT) ganhou em primeiro turno, a
primeira eleição direta, desde o ano de 1960, e tornou-se o presidente mais jovem da
história política do Brasil.
No exercício da presidência, lançou em 1990, um rígido plano econômico de controle a
inflação, denominado “Plano Collor”, que possuía como uma das principais medidas, a
proibição de saques de poupança e de conta-correntes no período de 18 meses. Diante
de uma medida impopular e sem conter a inflação, que passou a contar com indicadores
ascendentes a partir de abril de 1991, o Presidente Collor (PRN) foi acusado de
envolvimento em esquemas de corrupção, liderados por Paulo César Cavalcante Farias,
tesoureiro de sua Campanha Presidencial. O escândalo tornou-se ainda maior após as
denúncias do irmão Pedro Collor de Mello, que reafirmou a fraude.
Foi aberta uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o processo,
que ficou conhecido como “Esquema PC”. Comprovado o envolvimento do Presidente
Collor (PRN) no esquema de corrupção, seu impeachment foi encaminhado a Câmera
de Deputados em agosto de 1991. No senado, Collor (PRN) foi condenado por crime de
responsabilidade e obteve a perda definitiva do mandato e seus direitos políticos foram
cassados por oito anos.
Em 2002, concorreu as eleições para Governador do Estado de Alagoas pelo Partido
Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), quando perdeu para o adversário Ronaldo
Lessa, do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Foi eleito Senador pelo Estado de
Alagoas (2006-2014) no Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB) e migrou no
primeiro dia do mandato para o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). No ano de 2009,
Collor tornou-se Presidente da infraestrutura do Senado Federal. Foi eleito Membro da
Academia Alagoana de Letras, em 2009. Foi candidato ao Governo do Estado de
50
Alagoas pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) no ano de 2010 e saiu derrotado no
primeiro turno.
Referências utilizadas para composição da nota biográfica
http://www.senado.gov.br/senadores/dinamico/paginst/senador4525a.asp último acesso
em: jun.2014
http://www.e-biografias.net/fernando_collor/ último acesso em: mai.2014 último acesso
em: jun.2014
Referências da liderança
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Outros (audiovisual, internet, artes e etc...)
Não consta
CONCEPÇÃO INICIAL E TABULAÇÕES NO BANCO DE DADOS
A partir das primeiras biofichas a pesquisa desenvolveu a base de dados inicial listando
os campos necessários à tabulação dos itens constantes na ficha biográfica tal como
definidos no modelo básico de concepção das fichas. O desenvolvimento inicial da base
para lançamento dos dados foi feita em Microsoft Excel, mas já estudávamos outras
linguagens e plataformas de informação para o registro do banco. A ideia agora é, a
partir de mais tabulações, definir listas codificadas de partidos, períodos e outras,
pertinentes a fim de facilitar a tabulação, verificação e consistência dos dados. A seguir
copiamos a visualização de partes deste banco de dados inicial:
54
55
56
57
ENSAIO PERÍODOS HISTÓRICOS
Como meta futura para caracterização geral dos distintos períodos históricos elencados,
com vistas a compreender os elementos que permitem a formação e o aparecimento de
lideranças em cada um desses períodos, desenvolveremos, ao longo do primeiro
semestre de 2015, um ensaio coletivo.
O objetivo deste ensaio será o de compreender as condições históricas que propiciaram
a emergência de determinadas lideranças em seus respectivos períodos históricos. Duas
questões orientarão a pesquisa e a escrita: como as lideranças desse período se
relacionaram com o desenho institucional e com as ideologias políticas? e; qual a
relação (caso tenham) com o período histórico anterior e o posterior ao analisado
buscando um sentido histórico de mudança, ruptura ou conservação na construção das
lideranças.
O ensaio deverá trazer também uma revisão bibliográfica, considerada fundamental para
estudo do período, e ser feito em Calibri, corpo 12, espaçamento 1,5 entrelinhas,
alinhamento justificado, espaçamento de 1,25 na primeira linha (parágrafo). Formato do
arquivo A4 (não carta), margens superior e inferior 2,5cm e esquerda e direita 3,0 cm.
Número de páginas de 10 a 15 laudas.
O ensaio final abarcará, assim, os 13 períodos considerados com foco na questão das
lideranças políticas, gerando um texto final de 130 à 200 páginas que deverá servir de
base para as etapas ulteriores do projeto e constituirá material de referência para o
58
desenvolvimento de seminários e discussões no grupo, bem como poderá se
consubstanciar, também, posteriormente, em item para consulta e leitura de estudantes e
pesquisadores externos ao projeto.
GT 3 – AS REPRESENTAÇÕES DAS LIDERANÇAS POLÍTICAS NA MÍDIA E
NA ARTE
A partir dos três eixos construídos para o estudo do grupo 3 e das observações feitas
pelo parecerista do processo, solicitando “meios e nomes a serem analisados” pelo
referido grupo, complementamos o relatório anterior com outras indicações referentes
às representações das lideranças políticas na mídia e na arte. Mas, lembramos que
outros recortes e nomes ainda poderão ser acrescidos para o melhor desenvolvimento da
pesquisa e, também, assinalamos que o grupo 3 trabalha de forma orgânica com os
demais grupos do projeto.
O grupo 3 da pesquisa em andamento selecionou para estudo, duas lideranças que
atuaram na esfera cultural de forma significativa e, também, levantou um nome de um
artista que produziu interpretações simbólicas sobre lideranças políticas. Assim, nesta
primeira etapa do projeto, iniciou-se o estudo das concepções e das práticas das
seguintes lideranças que ganharam dimensões políticas no cenário brasileiro:
- Mário de Andrade, escritor e intelectual ativo que se expressou por meio da literatura
e, também, desenvolveu pesquisas culturais e atuou no cenário publico (nome já
incluído no banco de dados e discutido pelo grupo 2).
- Glauber Rocha, que fez do cinema sua plataforma para irradiar uma concepção sobre a
política brasileira e sobre o Terceiro Mundo (nome já incluído no banco de dados e
discutido pelo grupo 2). Observe-se que Glauber Rocha também criou representações de
lideranças políticas em seus filmes, mídia que ganha destaque para uma melhor
interpretação do significado das lideranças políticas.
Simultaneamente, decidiu-se por estudar algumas pinturas produzidas na história da arte
brasileira cujo tema refere-se à liderança política. Para tanto, após devidas avaliações,
optou-se pela análise de obras de Pedro Américo, cujo meio de ação se deu pelas artes
plásticas.
59
Mário de Andrade e Glauber Rocha, da perspectiva teórica como apontada pelo grupo
1, afetam de forma significativa o entorno cultural e político, fundando movimentos e
engendrando projetos culturais para o país. Os pensamentos e práticas dos dois
intelectuais impactaram nos dispositivos do poder, facilitados que foram pelo gozo da
‘virtú’ e da sabedoria em agir aproveitando-se das circunstâncias dadas. Vale enfatizar
que são dois atores significativos que, agindo no campo cultural, foram homens de ação
que fundaram situações e inovaram, tanto no nível da linguagem quanto nas propostas
para mudanças sociais no país.
Trata-se de lideranças culturais que surgem fora do âmbito institucional do Estado,
mesmo que mais tarde venham a contribuir para a criação de instituições publicas.
Ainda, a partir do terceiro nível teórico do grupo 1, pode-se proceder a um inicial
exercício teórico e aproximar Mário de Andrade (intelectual que discute a ideia de
nação), e principalmente, Glauber Rocha (que discute a natureza e os limites da política
brasileira), à ideia de “parresia”, enquanto lideres portadores de “maneira de dizer a
verdade”, que exercem o “direito da fala”, condições facilitadas pelo potencial da arte e
da autoria criativa – associado ao carisma portado por estas lideranças culturais. Neste
sentido, cabe imputar a estes líderes culturais e políticos a “coragem da verdade” e a
capacidade de “afrontar os poderes instituídos”, conforme conceituações constantes na
parte do relatório do grupo 1. Observe-se que as concepções políticas inovadoras
desenvolvidas por estas lideranças repercutem amplamente pelo país – e
internacionalmente, no caso de Glauber Rocha – até os dias de hoje.
As primeiras abordagens já indicam que estas duas lideranças, e pode-se incluir também
Pedro Américo, estiveram preocupadas em entender e analisar o Brasil e, para isso,
buscaram dar expressão às principais forças sociais em atuação no país, incentivando a
crítica e as transformações sociais ou os aprimoramentos institucionais. Desta forma
vale destacar a importância da crítica cultural para a política brasileira. Assim, enquanto
Mário de Andrade lançou bases para construir dispositivos culturais para a
governabilidade, Glauber Rocha apontou os limites da ação dos políticos brasileiros e
apontou formas radicais de transformação social, mesmo que mais tarde venha se
direcionar para a possibilidade de uma transição política pacífica.
Pedro Américo, recortando o período do Império, retratou Dom Pedro I, Dom Pedro II e
produziu uma das mais significativas pinturas da história da arte brasileira: “Tiradentes
60
esquartejado”. Por sua vez Glauber Rocha, em “Terra em transe” criou uma tipologia
representativa de lideranças políticas por meio de duas personagens alegóricas: Felipe
Vieira/José Lewgoy representa o líder populista, carismático e democrático; Porfírio
Diaz/Paulo Autran representa o líder autoritário, conservador e golpista. Enquanto
Pedro Américo elaborou signos visuais para amplificar a importância da relação entre
liderança e poder político, Glauber Rocha focou as lideranças para melhor compreender
o funcionamento da política e enfatizar a importância destes tipos de atores na política
brasileira, seja para eventuais progressos ou como formas de entraves para o
fortalecimento das instituições ou da sociedade.
A seguir apresentamos um levantamento inicial que permite embasar o papel de
lideranças política desempenhado por Mário de Andrade e Glauber Rocha e a escolha
de Pedro Américo como um criador e disseminador de imagens referentes ao líder
político.
MÁRIO DE ANDRADE (1893-1945)
Ao contrário do que se supõe no senso comum, Mário de Andrade não foi apenas um
grande escritor de literatura ou o homem ligado às artes e cultura, embora essa é sua
face mais conhecida. Há outra dimensão fundamental para entender sua importância: ele
também foi um intelectual, pensador que se debruçou em estudos, pesquisas e viagens
com a intenção de melhor compreender o Brasil e os brasileiros, fundamentalmente a
partir do campo cultural e artístico. Neste sentido, a pesquisa deverá abordar Mario de
Andrade desenvolvendo reflexões e ações no campo da política brasileira.
Santos (2012) aponta o fim dos anos 20, particularmente com suas viagens etnográficas
(conhecidas pelo livro O Turista Aprendiz, como um momento de formação de Mário
de Andrade que repercutiria em sua atuação política na década de 30. A partir de 1935,
Mário de Andrade coordena o Departamento de Cultura do Município de São Paulo,
onde dirigiu dois projetos de suma importância para analisar seu papel de líder político:
a Sociedade de Etnologia e Folclore (SEF) e a Missão de Pesquisas Folclóricas (MPF).
A primeira incentivou a formação de pesquisadores, na então incipiente academia
brasileira, para a coleta de materiais e objetos que pudessem ser recolhidos, registrados
com a intenção de contribuir com o desenvolvimento de áreas acadêmicas e científicas
que surgiam no Brasil. A segunda foi um projeto responsável por viajar pelo Brasil para
61
identificar e recolher manifestações artísticas e folclóricas do Brasil, ajudando no
entendimento e institucionalização dessas práticas.
Vale referir brevemente, aqui, que a criação da Sociedade de Etnologia e Folclore,
anterior à MPF, tinha como objetivo a formação de pesquisadores e técnicos capazes de
reconhecer e coletar dados de populações tradicionais brasileiras, inspirados em
trabalhos que ocorriam em outros lugares do mundo e que Mário de Andrade conhecia a
partir de revistas e livros que colecionava. Para isso, criou cursos que eram coordenados
pela etnóloga Dina Lévi-Strauss, primeira mulher do antropólogo Claude Lévi-Strauss.
Tanto a MPF quanto a SEF são representativos do que Mário de Andrade entendia por
pesquisas sobre cultura popular brasileira. De acordo com Antonio Candido (211), era
Mário de Andrade, no grupo modernista, quem tinha a preocupação maior em pensar
com profundidade a realidade brasileira. Algumas das ações desse homem público
propiciaram a visão da cultura popular brasileira como um legado, um patrimônio que
deveria ser estudado e preservado. Essa ideia permanece viva até os dias atuais. Esses
dois projetos institucionais, tão caros a Mário de Andrade, ecoam traços já delineados
por ele próprio na realização de suas viagens, são, por todos esses motivos, objeto de
análises mais acuradas.
Assim, analisamos aqui, o papel do autor modernista como ‘homem público’,
compreendido aqui em uma acepção mais ampla, como alguém que exerceu cargo
político na Prefeitura de São Paulo, desenvolvendo atividades que buscavam
institucionalizar politicas culturais no município de São Paulo, e que no futuro serviram
de base e fundamento para as políticas culturais brasileiras. Além disso, também
guardavam preocupações referentes à preservação do patrimônio histórico, artístico e
cultural brasileiro, seja material ou imaterial.
O cargo de chefia do Departamento de Cultura foi ocupado por Mário de Andrade entre
1935-38 e, mais tarde, ocupou também cargo no MES (Ministério da Educação e Saúde
no governo Vargas), durante a gestão de Gustavo Capanema. Mário de Andrade foi o
principal idealizador (ao lado de Paulo Duarte) e primeiro diretor daquele departamento,
que 50 anos mais tarde inspiraria a criação do Ministério da Cultura (MinC) do Brasil. É
nesse momento que Mário de Andrade, o homem ‘público’, coloca o Departamento de
Cultura como um modelo de pesquisas sobre a cultura brasileira (Santos: 2012, 17).
A proposta desta vertente de pesquisa é analisar a forma particular que Mário de
Andrade se apoia para se tornar uma liderança política, pelo viés da cultura.
Principalmente pelo entendimento e concepção que teve do Brasil, a partir da viagens
62
etnográficas que empreendeu e o auxiliou na construção cultural do Brasil. Assim, o
trabalho é uma tentativa de observar a fundamentação da prática política de Mário de
Andrade através da dimensão da cultura brasileira, seja por suas viagens mas também
nas redes de relações sociais que estabeleceu com outros artistas e intelectuais.
É sabido, por ampla literatura acadêmica e pesquisas, que os anos 20 e 30 foram
fundamentais para a consolidação de determinados direcionamentos políticos que
influenciaram o Brasil até os dias atuais. No caso aqui específico, não podem ser
esquecidas as ações ocorridas no interior do movimento Modernista. Antonio Candido
em Literatura e Sociedade (2000) lembra que:
A força do Modernismo reside na largueza com que se propôs a encarar a nova situação, facilitando o desenvolvimento até então embrionário da sociologia, da história social, da etnografia, da teoria educacional, da teoria política. Não é preciso lembrar a sincroniza dos acontecimentos literários, políticos, educacionais, artísticos, para sugerir o poderoso impacto que os anos de 1920-1935 representam na sociedade e na ideologia do passado (Candido: 2000, 122) .
Assim, o movimento modernista pode ser sintetizado como: um movimento, uma
estética e um período (Candido e Castello: 2006, 9). Assim, esse movimento expande
sua importância para além do campo cultural e artístico, ao contribuir em aspectos da
própria sociedade e política brasileira. A própria Semana de Arte Moderna de 22, ponto
de partida oficial do modernismo brasileiro é definido por alguns autores como uma
nova mentalidade.
Em perspectivas largas, o Modernismo foi apenas, na década de 20, a outra face de um ímpeto de reforma, inclusive política e social, de que se surpreendem as exsurgências mais diversas e inesperadas. Parece, portanto, perfeitamente correto tomar o ano de 1916 como a data convencional em que a caracterização de um novo estado de espírito implicará no aparecimento de uma nova escola literária e artística capaz de substituir o Parnasianismo e o Simbolismo, já então decididamente esgotados enquanto tipo de sensibilidade coletiva. (Paes & Moisés: 1964, 164).
Dentro dessa abordagem, ao procurar por uma nova sensibilidade coletiva, Mário de
Andrade dá mais ênfase em procurar por uma nova brasilidade, dentro do modernismo.
E essa brasilidade repercutiria no futuro de suas ações políticas. Essa busca é ressaltada
por Moraes (1978).
Podemos verificar na oposição de Mário a Oswald de Andrade, particularmente na defesa que o primeiro faz da sabedoria, do estudo, da “sabença” para utilizar sua expressão, que as vias de construção da cultura brasileira começavam a divergir. Sabemos como Mário de Andrade, desde essa época, preocupava-se mais em pesquisar, no sentido quase universitário da palavra, os elementos que constituem a brasilidade. Sua obra, com raras exceções, é obra de um estudioso. Ao final, de sua vida, Mário haverá de recriminar a si próprio o fato de ter praticamente abandonado o setor de criação artística da sua obra e de ter encaminhado para empreender o imenso levantamento da cultura brasileira em que ele energicamente batalhou (Moraes: 1978, 93).
63
Telê Lopez (2002) também defende que parte da reflexão modernista vinha deste
contacto que se pretendeu direto com uma parcela do povo brasileiro, pôde focalizar os
processos de criação popular (…) apresentando coincidência com propostas de
determinadas vanguardas europeias (p.16). Ou seja, o que se observa é uma tentativa
de incorporação de parcelas significativas do povo brasileiro para o fazer artístico e
cultural do Brasil, aqui compreendido em sua dimensão política.
Ao fazer a divisão periódica do modernismo brasileiro, Candido e Castello (2006)
ressaltam que para além do ambiente artístico, a emergência de novas áreas do
conhecimento como resultado do movimento.
É o caso dos estudos históricos e sociais: Sociologia, folclore, etnologia, história econômica e social, que passam por acentuada renovação, focalizando com intensidade crítica a realidade do País nas obras de Gilberto Freyre, Artur Ramos, Sérgio Buarque de Holanda, Fernando de Azevedo, Caio Prado Júnior e outros. É o momento em que se fundam grandes coleções de estudos brasileiros e as primeiras Faculdades de Filosofia, Ciência e Letras, que teriam influência decisiva na formação dos quadros intelectuais. O movimento editorial se firma e se amplia, em escala nunca vista, terminando a dependência das firmas estrangeiras. A vida artística assume importância antes desconhecida, na pintura, na arquitetura, na música, na renovação teatral (Candido & Castello: 2006, 32).
Como Mário de Andrade era uma das figuras proeminentes no modernismo brasileiro,
esteve diretamente envolvido, por exemplo, com a relação criada, estabelecida entre
artistas e academia, principalmente quando se analisa o papel que desempenhou com a
criação da SEF e o apoio dado ao casal Lévi-Strauss, que estavam no Brasil com a
Missão Francesa (grupo de professores que veio desenvolver a recém criada
Universidade de São Paulo - USP).
Durante as viagens etnográficas, principalmente a segunda, que esteve mais voltada
para os estudos (Lopez, 2002; Santos, 2012) é possível notar a preocupação de Mário de
Andrade com os Homens-do-povo e as condições de subsistência deles. Certamente,
sensibilizando-o para o abandono que se encontravam e contribuindo, dessa forma, para
as preocupações de Mário de Andrade em suas atuações políticas.
Vale lembrar ainda que, no Brasil, movimento modernista e política tem uma relação
dada por seus atores. Nosso modernismo nunca foi uníssono e dele partiram várias
vertentes tanto estéticas como políticas que o levaram a diversas subdivisões bem
conhecidas como: Movimento Pau Brasil, Movimento da Anta, Movimento Verde-
amarelo, Movimento Antropofágico. Alguns com colorações mais à progressistas e
outros mais conservadores, cujo exemplo mais eloquente é o verde-amarelismo de
64
Plínio Salgado que culmina com o projeto político da Ação Integralista Brasileira (AIB)
(Santos, 2012).
A análise aqui desenvolvida defende que Mário de Andrade foi um sujeito político sob
duas perspectivas: a primeira, como participante ativo de um debate público (com o
projeto modernista), que propunha reformulações e intervenções artísticas e culturais,
com claros interesses estéticos, mas também ideológicos. Também pode-se considerá-lo
como político no sentido da carreira institucional que desenvolveu como ‘homem
público’ que institucionalizou o campo cultural na política brasileira. Assim se propõe a
pensar a esfera do sujeito cultural atuando na política, pois Mário de Andrade sempre
teve como preocupação, demonstrada em diversos momentos de sua obra, a função
social do artista. Ou seja, o papel do artista no conjunto da sociedade. Assim, também
como político observamos o pilar ‘homem pesquisador’, uma vez que sua atuação
baseou-se em práticas metodológicas de cunho científico, que reverberaram na sua
atuação institucional.
As três faces do poeta modernista estudadas aqui, portanto, não devem ser
desmembradas: estão necessariamente interligadas. Como Coutinho (1988) afirma, o
século XX espalhou “a convicção que o Brasil podia ser ‘vivido’ intelectualmente, e,
com a matéria prima que oferece, recriado artisticamente” (pg. 236). Assim, Mário de
Andrade não só recria o Brasil artisticamente mas também age também como
fomentador de transformações políticas (Santos: 2012, 19).
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GLAUBER ROCHA (1939-1981)
O cineasta Glauber Rocha nasceu, em Vitória da Conquista, no estado da Bahia. Com
inserção no jornalismo e na literatura, Rocha pode ser descrito como um artista
catalisador de tendências estéticas e políticas que atravessaram a cultura brasileira dos
anos 1960 em diante. Enquanto cineasta é responsável pelas principais obras
cinematográficas produzidas no Brasil, sendo também um dos artistas brasileiros mais
reconhecidos internacionalmente. Rocha é objeto de retrospectivas de sua obra em
cinematecas, universidades e instituições culturais em inúmeros países, bem como tema
de pesquisa acadêmica em áreas de conhecimento que saem do escopo da teoria do
cinema, envolvendo também as teorias social e política, bem como estudos semióticos e
estéticos.
Sua trajetória de vida também se entrecruzou de forma incisiva com as perspectivas
econômico-políticas vivenciadas pelo país: nacional-desenvolvimentismo dos anos 1950
às modalidades tecnocráticas adotadas pelo regime militar nos anos 1960, que refletem
67
na sua obra cinematográfica e especialmente na forma como atuou enquanto artista
agregador de tendências estéticas e politicas. Seus filmes eram uma recusa do modelo
tradicional de narração e criação cinematográfica, pois procuravam observar o país em
seus múltiplos fluxos e em uma realidade multifacetada: os rituais afro-brasileiros
expostos em “Barravento” (1961); a síntese do desenvolvimento político brasileiro em
“Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964); a crise do populismo político em “Terra em
Transe” (19967) representa um avanço não apenas na teoria do cinema mas na
capacidade desse meio em examinar e produzir um diagnóstico totalizante do país e sua
inserção nos fluxos globais.
Glauber, inicialmente preocupado em desvendar os mecanismos que sustentam e
reproduzem o poder político, acabou produzindo um retrato mais amplo da formação
das inúmeras forças sociais que sustentavam o país: de uma burguesia atrelada aos
fluxos internacionais; do campesinato com seus rituais arcaicos e uma religiosidade
primitiva; de uma classe média incipiente e, sobretudo insegura diante dos processos de
modernização econômica em curso, forças essas que entravam em choque e nessa
dinâmica assimilavam uma às outras. Assim questões como a emergência de um padrão
cultural no Brasil; as relações entre identidade nacional, América Latina e
neocolonialismo cultural; as fusões entre diferentes culturas e tempos históricos,
transformaram de forma definitiva não somente o cinema no Brasil, mas o estado da
arte brasileira em geral.
Com tamanha ambição era natural que o cinema de Glauber não apenas o projetasse no
campo artístico, mas também no cenário político. Próximo da esquerda cultural dos
anos 1960 e simpático ao marxismo acadêmico então em voga, não deixou de imprimir
sua marca pessoal em todas essas balizas, muitas vezes as ultrapassando de forma
radical. Desde o início de sua carreira no final dos anos 1950 – seu primeiro filme, “O
Pátio”, de 1959, realizado na Bahia, chamou a atenção de críticos em São Paulo e no
Rio de Janeiro – até a sua morte em 1981, foi um artista agregador. Sua posição no
interior da cultura brasileira o aproxima de outros intelectuais com atividades que
extrapolam sua atividade original como, por exemplo, Mário de Andrade. Rocha
também mantinha uma correspondência intensa com amigos, cineastas e políticos,
indicando posições e trajetórias a serem perseguidas. Como Mário, aproximou-se das
instituições estatais e de uma concepção particular acerca do desenvolvimento político
do país, ultrapassando as fronteiras que delimitam o ofício do artista.
68
Glauber também foi o principal líder do movimento Cinema Novo, que ocorreu no
Brasil entre os anos 1950 a 1960. Além de atualizar a arte cinematográfica brasileira
com o debate internacional, o movimento propunha uma atuação política mais direta,
seja por meio dos filmes ou por atuação direta no poder político. Sua atuação enquanto
liderança no meio artístico pode ser observada em depoimentos, cartas e diversos
documentos, sendo que Rocha esgarçava as fronteiras do artista tradicional assumindo o
papel de condutor de um processo maior cujo objetivo era definir um padrão para a
cultura brasileira. E se essa sofre um processo de descaracterização cultural devido aos
fluxos econômicos internacionais, cabia então abrir uma nova frente de atuação tendo
Glauber operado uma transformação no sentido tradicional de liderança ao assumir uma
interlocução com as instituições estatais e o poder político. 3
Aqui Rocha propunha uma linha de atuação às instituições governamentais, mesmo
diante de um governo autoritário que dificultava a capacidade de articulação entre
artistas e Estado. Desde o começo dos anos 1960 encontramos nos escritos de Glauber
uma concepção de instituições estatais e de política cultural disposta a abrigar uma nova
concepção de cinema no Brasil. Essa capacidade de articulação cultural e política
possibilitou a abertura dos centros de decisão e de formulação de políticas. Sua
aproximação gradual com um núcleo influente de militares com perfil nacionalista
ajudou a consolidar um diálogo institucional entre o regime autoritário e agências
estatais de produção e difusão cultural. O resultado dessa ação de Glauber resultou
numa cunha aberta no interior do Estado ocupada posteriormente por cineastas e
produtores culturais. 4
Aqui notamos Rocha examinando o regime autoritário a partir de certas características
que seriam verificadas décadas depois, ou seja, a porosidade do regime autoritário em
3 O cineasta Nelson Pereira dos Santos definia esse comportamento agregador de Glauber: “há quem diga, jocosamente, que o Cinema Novo é o Glauber Rocha no Rio de Janeiro. Quando o Glauber aparece no Rio, fala-se, discute-se, combate-se, funda-se, liquida-se o Cinema Novo. O Glauber fundou o Cinema Novo e uma vez escreveu um artigo para acabar com o Cinema Novo. Ele tem essa capacidade de fazer onda, de arregimentar pessoas (grifo do autor). Revista Civilização Brasileira, n. 01, 1965, p.186. 4 Ivana Bentes analisou a correspondência de Glauber Rocha entre os anos de 1950 a 1980, notando assim um perfil de liderança que estipulava um ritmo e um papel aos diversos atores: “Glauber é dominado por esse “fogo de realização” que se alastra por todo um grupo ou geração. Impressiona o número de cartas em que estipula para si, para o remetente ou para o grupo de amigos um programa ou projeto coletivo, uma série de tarefas, obras e filmes a serem realizados. O tom é impositivo e cúmplice, dizendo o que fazer, como e por que fazer. Uma espécie de reforma agrária-estética-cinematográfica, distribuindo regiões do Brasil, roteiros e temas possíveis entre os cineastas, num desejo de mapear estética e politicamente o país”. BENTES, Ivana. Cartas ao mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 19.
69
relação à diversos segmentos da sociedade brasileira e a necessidade de responder a
demandas vocalizadas por grupos sociais específicos. A criação de diferentes agências
de suporte ao filme brasileiro – Instituto Nacional de Cinema (1967); Embrafilme
(1969) – respondiam à diferentes motivações e pressões, mas certamente a liderança
catalisadora de Glauber foi um elemento decisivo.
Transitando entre a cultura e a política, Glauber Rocha modificou os termos que
constituem uma liderança tradicional: não apenas mobilizou mas criou um conjunto de
ideias e argumentos que semeou em múltiplas direções; articulou uma visão sistêmica
para a atuação governamental e especialmente dialogou com diferentes concepções de
poder político. O seu exílio nos anos 1970 pode ser uma decorrência do escopo de sua
atuação; sua morte em 1981 não finalizou um estilo de liderança político e cultural, mas
consolidou um espaço para um tipo de líder atento aos distintos contextos – e sua
movimentação no interior deles – e aberto ao debate em uma sociedade que caminhava
rapidamente para a pluralização de suas instâncias de representação política e social. Os
anos 1980 em diante - com o processo de redemocratização do país - vai encontrar este
perfil de liderança melhor consolidado.
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PEDRO AMÉRICO (1843-1905)
A pesquisa toma por objeto a produção artística de Pedro Américo Figueiredo e Melo
na pintura, mormente os itens de sua produção voltados à figuração de lideranças
políticas brasileiras do período imperial (1822-1889) e objetiva uma compreensão que
ilumine problematizações sobre a cultura política relacionada a líderes brasileiros por
meio da análise de algumas de suas telas.
71
A abordagem poderá se dar sobre dois tipos de quadros produzidos pelo artista: aqueles
em que a liderança política é retrato, objeto central da tela, ou em que ela apareça como
protagonista em um cenário, contexto histórico. Como exemplo do primeiro caso pode-
se citar Tiradentes Esquartejado (1893) obra em que Pedro Américo retratou o líder da
Inconfidência Mineira, não obstante suas qualidades míticas, após sua execução; como
exemplo do segundo caso pode-se citar Independência ou Morte (1888) cujo cenário é o
da independência do Brasil em que figura a liderança de Dom Pedro I.
A obra de Pedro Américo situa-se entre as de maior repercussão entre os pintores
brasileiros pós-independência. Figura chave do Academismo brasileiro o pintor ainda se
destacou como escritor, político, teórico e cientista. Sua obra não raras vezes foi e é
utilizada na ilustração de livros didáticos de história do Brasil, bem como se ajustou e se
ajusta facilmente aos acervos dos museus brasileiros, sobretudo nas sessões voltadas ao
acervo de itens da política nacional. Pinturas de Pedro Américo cujo tema é lideranças
ou momentos da história política do Brasil podem ser encontrados nos acervos de
museus históricos como Museu Paulista - SP e Museu Histórico Nacional – RJ.
Destarte pode-se depreender certa leitura da cultura política brasileira a partir da
produção artística de Pedro Américo. Nesta proposta que toma por objeto as
representações das lideranças políticas em seus quadros este objetivo se coloca de
maneira mais aguda: compreender a criação e representação e porque não dizer o
reforço e/ou invenção de lideranças políticas brasileiras no imaginário nacional a partir
da produção pictórica de um artista brasileiro da segunda metade do século XIX.
Para o desenvolvimento da análise que permita alguma compreensão da cultura política
brasileira relacionada à representação de lideranças políticas na obra do pintor Pedro
Américo, selecionaremos quadros de dois tipos.
As do primeiro tipo são aquelas pinturas voltadas à representação figurativa de
personalidades reconhecidas no imaginário político nacional como lideranças políticas
sejam elas institucionais, populares ou não. Essas pinturas podem ser retratos, bem
como podem ser representação de um momento histórico específico, mas, nesse último
caso, a cena deverá estar voltada à representação da personagem, devendo outros
elementos ser coadjuvantes.
Um retrato específico foi selecionado para análise inicial. Trata-se do de Dom Pedro I,
pintado na década de sessenta do século XIX quando o segundo reinado era uma
realidade nas mãos do pai do retratado, Dom Pedro II. (Imagem 1).
72
Imagem 1 – Dom Pedro I
Fonte:http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&ve
d=0CAMQjxw&url=http%3A%2F%2Fwww.fotolog.com%2Fart3_xpresion%2F73500
525%2F&ei=Tv2FVJHOLYekgwTL9YCYAw&bvm=bv.80642063,d.eXY&psig=AFQ
jCNFBtmE_5mmNf2_Vkt5Jzmd6DN8hLg&ust=1418153673003301. Último acesso:
nov.2014
73
Serão analisados, também, dois quadros que representam momentos históricos
específicos em que as lideranças são foco da representação. Trata-se de um voltado a
representação de um evento institucional de grande importância que marcava a abertura
do ano legislativo no período imperial. A fala do trono, pintado em 1873, retrata o
protagonismo de Dom Pedro II. (Imagem 2)
Imagem 2 – A fala do trono (1873)
Fonte: http://joseliocarneiro.blogspot.com.br/2013/03/maior-e-principal-colecao-
dopintor.html.
Último acesso em: nov.2014
A segunda pintura que representa momento histórico específico com figuração central
de protagonismo político está relacionada, diferente da anterior, a uma liderança política
popular. Trata-se de Tiradentes Esquartejado, pintada em 1893, quatro anos após a
queda do império. Não obstante, pois, será analisada essa possível mudança na escolha
de personagens políticos figurados por Pedro Américo após a queda da monarquia em
1889. (Imagem 3)
74
Imagem 3 – Tiradentes esquartejado (1893)
Fonte: http://joseliocarneiro.blogspot.com.br/2013/03/maior-e-principal-colecao-
dopintor.html.
Último acesso em nov. 2014
A análise das pinturas será feita por meio de recursos anunciados, principalmente, em
Mangel (2001). Dar-se-á maior ênfase à análise interna das obras, procurando desvelar
os sentidos impressos pelo artista na figuração das personagens no que tange a relação
destas com a formação do imaginário político brasileiro.
A análise interna deverá, pois, elaborar uma sistematização que possibilite a formação
de chaves compreensivas para a formulação de uma relação entre o pintado pelo autor e
a realidade, isto é, da representação da liderança na obra de Pedro Américo e a
consubstanciação destas lideranças no imaginário político brasileiro.
Em um segundo movimento será verificado a difusão e utilização da obra de Pedro
Américo na iconografia brasileira, seja ela didática, museológica e/ou de referência. Isto
é, investigaremos os usos das pinturas de Pedro Américo ao longo da história, na
composição iconográfica de livros, materiais didáticos, documentários e etc. a fim de
verificar a popularização da obra do pintor na narração de fatos históricos.
O segundo tipo de pinturas do artista a serem analisadas são aquelas voltadas
diretamente à representação de momentos históricos específicos, cuja representação da
liderança fique explícita por meio da figuração do protagonismo. Isto é, a liderança
75
deverá aparecer não só representada como liderança, mas deverá estear agindo tal com
uma em um momento, episódio específico.
O recurso inicial de análise neste caso não é diferente do utilizado no primeiro, mas
serão incorporadas as noções de Testemunha Ocular (2004) de Peter Burke uma vez que
o volume traz estratégias de análise interessantes para pensar a relação da representação
de momentos históricos nas artes. Aqui será submetido à nossa análise um dos quadros
mais representativos da obra de Pedro Américo devido a sua dimensão e grande
repercussão histórica. Trata-se do Independência ou morte, pintado em 1888, um ano
antes, pois, à proclamação da República. (Imagem 4)
Imagem 4 – Independência ou morte (1888)
Fonte: http://joseliocarneiro.blogspot.com.br/2013/03/maior-e-principal-colecao-
dopintor.html
Ultimo acesso em nov. 2014
Após a análise interna das obras será realizada pesquisa sobre contexto em que viviam
as personalidades representadas com o objetivo de ampliar o campo de visão da
observação inicial para as relações com a narrativa anterior à produção dos quadros,
suas relações com a história política oficial ou não, bem como com a construção da
personagem e do fato na historiografia e a relação com a pintura.
Ademais, haverá também pesquisa sobre a trajetória e as relações do pintor com as
artes, com a política, crítica e público de seu tempo no sentido de produzir o material
empírico necessário à contextualização da relação autor, público e obra.
Assim, em certa medida, nossa proposta quer gerar uma compreensão sobre a
representação de lideranças políticas brasileiras nas artes sem perder e vista a relação do
pintor com seu tempo, com os temas que pintou, com a história, com o público e com a
crítica. O centro da análise, no entanto, não poderá se desviar do compromisso de tentar
76
conhecer o que é político no que é artístico, com vistas a conhecer melhor esta relação e
abrir janelas de compreensão a formação do mito, do imaginário, da iconografia das
lideranças políticas no Brasil.
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GRUPO 4: DIMENSÕES DA POLÍTICA A TUAL E A LIDERANÇA POLÍTICA
EM QUESTÃO
A pesquisa desenvolvida por esta linha de pesquisa se desdobrou em algumas análises e atividades relatadas a seguir:
1) Análise do debate sobre as lideranças políticos nos coletivos de ciberativismo
durante a partir das manifestações ocorridas durante junho de 2013, conhecidas
como Jornadas de Junho.
77
Apresentaremos a seguir algumas reflexões produzidas pelo grupo apresentadas no IX
Congresso da ABCP(Associação Brasileira de Ciência Política) e no 38o. Encontro
Anual da ANPOCS - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências
Sociais
Para a análise do debate sobre as lideranças políticas durante as Jornadas de Junho
selecionamos os perfis dos seguintes coletivos, considerando o número de curtidas
(pessoas que leram os posts colocados no facebook): Passe Livre São Paulo, Ocuppy
Brazil, Anonymous Brasil, Partido Pirata Brasil
Tendo como objetivo compreender os tipos de discurso presentes neste heterogêneo
movimento foi analisado o conjunto de postagens veiculadas nas páginas supracitadas
ao longo do mês de junho de 2013, período em que se desenvolveram os protestos,
inicialmente contra o aumento das tarifas dos transportes públicos em São Paulo e,
posteriormente se expalharam pelo país.
A análise foi organizada partir dos seguintes temas que emergiram nesse debate,
conforme observado nas páginas: i) partidos políticos; ii) liderança (des)centralizada;
iii) representação; iv) uso da violência; v) produção de informação e vi) livre circulação
na cidade.
Para cumprir os objetivos expostos acima, optamos pelo uso de instrumentos
metodológicos qualitativos e da estatística descritiva. Dessa forma, observamos as
publicações realizadas durante o mês de Junho de 2013 pelos movimentos Passe Livre
São Paulo, Anonymous Brasil, Partido Pirata e Occupy Brazil em suas respectivas
páginas do Facebook e, em seguida, quantificamos e geramos indicadores e
cruzamentos a respeito dos temas das postagens, dos recursos utilizados e da
interatividade.
Os critérios metodológicos utilizados na seleção dessas páginas foram: i) a quantidade
de perfis que curtem a página; ii) a interatividade gerada a partir das publicações nas
páginas durante o período analisado (número de curtidas, comentários e
compartilhamentos); iii) a discussão sobre os temas supracitados e iv) a relevância das
publicações dessas páginas na organização das manifestações no espaço público.
A partir da observação das referidas páginas foram criadas dezesseis categorias
temáticas para tipificar o conteúdo veiculado pelos coletivos no Facebook, assim como
dez categorias indicativas dos recursos empregados nos posts:
Categorias temáticas:
78
Categorias temáticas
T1 - Mobilização para os atos e atividades convocadas pelo movimento
T2 – Crítica aos políticos
T3 – Críticas às instituições democráticas
T4 – Crítica aos partidos políticos
T5 – Crítica ao capitalismo
T6 – Crítica aos meios de comunicação tradicionais
T7 – Crítica à polícia
T8 – Veiculação de informação alternativa
T9 – Infiltrados no movimento
T10 – Apoio ao movimento em outras cidades
T11 – Propostas
T12 – Divulgação de ações
T13 – Crítica aos grandes eventos
T14- Autopromoção da página e do movimento
T15- Veiculação de informação dos meios tradicionais
T16- Outros
Recursos utilizados pelos coletivos:
Tabela B:
Categorias indicativas dos recursos
R1- Fotos
R2- Gráficos
R3- Charges
R4- Vídeos
R5- Áudios
R6- Ilustrações/ Imagens
R7- Links
R8 – Hashtags
R9 – Pesquisa
R10- Outros /textos
79
2. Descrição dos coletivos estudados
2.1 Movimento Passe Livre São Paulo (MPL)
A página do Movimento Passe Livre (MPL) foi criada em 05 de junho de 2011. Este
movimento social, que se autodenomina como “horizontal, autônomo, independente e
apartidário, mas não “antipartidário”, engaja-se na mobilização pela gratuidade e
qualidade no transporte público urbano, enfatizando a defesa da Tarifa Zero, desde
2005. As ações do MPL se baseiam nos princípios da autonomia, horizontalidade,
independência, apartidarismo e federalismo. Além disso, o MPL utiliza-se do método
do consenso nos seus processos decisórios internos, adotando a forma deliberativa
apenas como último recurso, quando se verifica o esgotamento das formas de
argumentação capazes de atingir o consenso para a elaboração das estratégias de ação.
As postagens realizadas na página do MPL no Facebook revelam que vários dos
princípios acima mencionados foram exercidos e discutidos na rede social. Precursor
das Jornadas de Junho, o Movimento Passe Livre São Paulo contava até o momento
com 302 mil curtidas.
A partir da observação do gráfico 1 podemos perceber que três temas se sobressaíram
nas postagens realizadas na página do MPL, caracterizando assim o uso do Facebook
pelo movimento: “veiculação de informação alternativa” (18,31%)”, “mobilização para
os atos” (15,49%), e “propostas” (15,49%).
Gráfico 1
80
Ao cruzarmos essas informações com os dados do gráfico 2 notamos uma convergência,
pois esses são os temas que também geraram os maiores índices de interatividade na
página do movimento. Colabora para a explicação dessa convergência o fato de que
estes temas estavam sempre inter-relacionados nas postagens, em especial nas notas
oficiais geradas pelo site do movimento e reproduzidas em sua página no Facebook.
O MPL aproveitou-se da rede social para desfrutar da visibilidade, do espaço e da voz
que lhe são negados pelos meios de comunicação tradicionais (BACHINI, 2013).
Assim, o Facebook foi usado fundamentalmente pelo movimento para produzir e
veicular informações sobre si mesmo, divulgar suas propostas e convocar a população
para os seus atos.
Gráfico 2
15,49%
9,15%
6,34%
3,52%
5,63%
1,41%
10,56%
18,31%2,11%
0,00%
15,49%
8,45%
0,70%
0,00%0,00%
2,82%
Temas MPL
Mobilização para os atos
Crítica aos políticos
Críticas às instituições democráticas
Crítica aos partidos políticos
Crítica ao capitalismo
Crítica aos meios de comunicaçãotradicionais
Crítica à polícia
Veiculação de informaçãoalternativa
Infiltrados no movimento
Propostas
Divulgação de ações
Outros
81
Os membros do MPL usaram a página para divulgar e viralizar fotos e vídeos dos atos
que não circularam nos veículos de comunicação tradicionais, especialmente aquelas
que denunciavam a reação truculenta da polícia ao movimento (tema presente em
10,56% dos posts). O espaço e os recursos disponíveis foram aproveitados também para
que se defendessem das acusações da grande imprensa, que em larga escala
criminalizava o movimento, para divulgar informações a respeito dos militantes presos,
para angariar doações para as fianças desses militantes e para denunciar a renovação dos
contratos da prefeitura com a empresa de transporte responsável por diversas
ilegalidades.
A veiculação dessas informações alternativas colaborou com a mobilização para os atos
do movimento contra o aumento da tarifa do transporte público e para os atos de outros
movimentos com os quais desenvolve uma interlocução, tais como o movimento
“Contra a Copa do Mundo”.
Dentre as postagens relacionadas ao tema “mobilização para os atos”, destacaram-se o
número de confirmações para o 5º ato, aproximadamente 300 mil pessoas, e o post de
convocação para o 6º ato, que gerou 9.083 compartilhamentos, sendo esse o maior
índice registrado por esse recurso de interatividade.
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
45000
50000
Temas x Interatividade ‐MPL
Curtiu Comentou Compartilhou
82
Chamou a atenção também o uso da página pelo movimento para tecer “crítica aos
políticos” envolvidos no caso do aumento da tarifa e nas ações da polícia contra o
movimento. Este tema respondeu por 9,15% das postagens e foi responsável pelo
terceiro maior índice de interatividade gerado. Foram foco das críticas do movimento
especialmente Fernando Haddad, prefeito do Município de São Paulo e Geraldo
Alckmin, governador do Estado de São Paulo.
Tendo em vista os objetivos principais dessa pesquisa, outra constatação importante é
que em nenhuma das postagens há algum integrante do movimento que se destaca com
relação aos demais. Todas as postagens analisadas foram produzidas única e
exclusivamente em nome do MPL. Este fato corrobora com a tese da liderança
descentralizada ou compartilhada exercida nesses novos movimentos sociais que se
organizam em rede (HARDT e NEGRI, 2001; CASTELLS, 2013).
Com relação às postagens relacionadas à categoria “propostas”, presente em 15,49% das
inserções, estas se referiam basicamente a luta pela revogação do aumento da passagem
e a proposição de um espaço de negociação onde pudesse ser discutida a pauta única do
movimento.
No dia 20.06.2013 a prefeitura e o governo do Estado cancelaram o aumento da tarifa
do transporte público, configurando uma vitória do movimento.
Apesar da vitória, o MPL continuou utilizando a página do Facebook para defender a
sua principal bandeira: a Tarifa Zero.
2.2 Anonymous Brasil
Trataremos agora da página do Facebook Anonymous Brasil. A página começou em 22
de Julho de 2012 e até o dia 15 de junho de 2013 aproximadamente 400 mil pessoas a
haviam curtido. É importante ressaltar que esta página alcançou mais de um milhão de
curtidas no final de Junho de 2013. De acordo com as informações divulgadas pela
própria página, esse crescimento acompanhou o aumento no número de postagens
durante o mês referido.
O aumento de curtidas veio acompanhado de um grande número de postagens
divulgando a própria página, 29,55% do total, postagens essas que muitas vezes
divulgavam o número de curtidas já recebidas. Esses dados indicam que o coletivo
aproveitou-se do momento de ebulição dos protestos mais para se autopromover do que
como um instrumento de conscientização e mobilização popular, como o MPL.
83
A estratégia de autopromoção da página, ao que tudo indica, obteve êxito, tendo em
vista que algumas análises indicam o Anonymous como o coletivo mais atuante durante
as Jornadas de Junho, mesmo que essa atuação tenha sido apenas para divulgar os
protestos realizados.
Essas análises corroboram com a hipótese da ausência de lideranças centralizadas das
Jornadas de Junho, posto que mesmo sem participar ativamente da organização e
divulgação dos protestos, a página do Anonymous Brasil foi uma das que gerou maior
interatividade durante o período ao disseminar informações sobre as manifestações
realizadas.
Podemos encontrar aqui um indicativo do uso das redes sociais pelos coletivos durante
as Jornadas de Junho, o de circular a informação. Esse uso vai de encontro a uma das
bandeiras mundiais do Anonymous, que é a abertura de dados, especialmente os de
caráter público.
Contudo, diferentemente de outros coletivos, na página do Anonymous o tipo de
informação que gerou maior interatividade era proveniente dos meios de comunicação
tradicionais e não produzida pelos próprios manifestantes. Observamos que a página
funcionou como uma espécie de filtro de notícias, selecionando e indicando as
informações consideradas relevantes.
Outra categoria de assuntos que se destaca em 12,82% das postagens é “crítica aos
políticos”. Essas críticas foram um dos temas recorrentes durante as Jornadas de Junho
que ficaram marcadas pela forte descrença na classe política e nas instituições políticas.
Para melhor compreender como as pessoas que curtiram a página interagem com os
temas propostos, propomos a observação dos gráficos 3 e 4. Novamente, chama a
atenção, o grande número de curtidas (62447) e compartilhamentos (44776) das
postagens de divulgação do movimento e da página, mostrando que as pessoas que
curtiram a página tinham o interesse de divulgar o seu crescimento ao longo do mês de
Junho de 2013. Porém, o número de comentários (2288) não foi tão expressivo assim.
Gráfico 3
84
Gráfico 4
12,82%
2,56%2,56%
2,56%
5,13%
2,56%
10,26%
10,26%
35,90%
15,38%
Temas ‐ Anonymous Brasil
Crítica aos políticos
Crítica aos partidos políticos
Crítica aos meios de comunicaçãotradicionais
Crítica a polícia
Veiculação de informaçãoalternativa
Apoio ao movimento em outrascidades
Critica aos grandes eventos
Autopromoção da página e domovimento
Veiculação de informação dasmídias tradicionais
Outros
85
A página do Anonymous Brasil apresentou postagens com perguntas sobre os políticos
e sobre os próprios protestos. Uma delas propunha uma pesquisa que visava
compreender a opinião das pessoas que visitavam a página acerca das lideranças
políticas. Estas postagens também tiveram um número expressivo de curtidas e
compartilhamentos.
Esse tipo de postagem teve o caráter consultivo, portanto não apresentava postagens
propositivas. Ao mesmo tempo, reforçavam a multiplicidade de pautas e o processo de
um movimento, ainda em fase de construção. Assim, o uso do Facebook pelo
Anonymous está em consonância como um dos anseios mais propagados nas ruas ao
longo das Jornadas de Junho, o de não se buscar a uniformidade do movimento, mas
garantir a pluralidade.
2.3 Partido Pirata
O Partido Pirata, ainda em fase de organização no Brasil, surgiu em 2007 e integra a
rede internacional de partidos piratas cujo eixo central de atuação se baseia na defesa do
acesso à informação, no compartilhamento do conhecimento, na transparência na gestão
pública e na garantia da privacidade. Apesar de ainda não estar oficializado, o partido
teve participação ativa no processo de elaboração e de discussão do Marco Civil da
Internet.
Entre os princípios definidos para a atuação no país, destaca-se a forma colaborativa em
todo processo de discussão e o questionamento às formas partidárias tradicionais que
consideram burocráticas, hierárquicas e verticalizadas. Embora seja uma agremiação
política, o Partido Pirata critica as estruturas partidárias tradicionais, independentemente
do seu caráter ideológico.
No período da análise, o partido estava envolvido com o processo de convenções
regionais para sua legalização e esse foi um dos debates principais observados nos posts
da página. Contudo, notamos o envolvimento do partido no processo de mobilização
das Jornadas de Junho, que utilizou a página do Facebook para convocar as
manifestações no município de São Paulo, apoiar os protestos em outras cidades e
criticar a organização dos grandes eventos, como por exemplo, a Copa do Mundo,
conforme podemos observar no gráfico abaixo.
86
A crítica à repressão policial nos protestos também teve destaque, tanto nos posts
quanto nos comentários e nas fotos mostrando a atuação violenta com que as polícias
militares, principalmente em São Paulo, utilizaram para conter os protestos.
Gráfico 5
Constatamos o interesse da página em divulgar as manifestações, embora não se possa
afirmar que o partido tenha participado ativamente do processo de organização dos
protestos. Nesse sentido, observamos em alguns posts de ativistas ligados ao partido a
reivindicação de uma atuação mais efetiva do partido nas articulações das
manifestações.
Por fim, concluímos que a intensa participação do coletivo no processo de discussão do
Marco Civil da Internet não foi verificada nas Jornadas de Junho. Embora o partido
tenha se posicionado e defendido as manifestações, notamos que o envolvimento no
processo de discussão do movimento não demonstrou a mesma intensidade.
2.4 Occupy Brazil
29,03%
3,23%
16,13%6,45%
3,23%
25,81%
16,13%
Temas ‐ Partido Pirata
Mobilização para o ato
Críticas às instituiçõesdemocráticas
Crítica à polícia
Veiculação de informaçãoalternativa
Infiltrados no movimento
Apoio ao movimento em outrascidades
Critica aos grandes eventos
87
A página do Occupy Brazil foi criada em 17 de setembro de 2011 com o objetivo de
divulgar as informações referentes aos ocupantes de Wall Street e aos protestos contra a
corrupção no Brasil. Segundo sua auto-descrição, a página não representa nenhuma
bandeira ou organização. Contudo essa informação se contradiz com outra da página
onde o movimento se apresenta como engajado na luta contra a corrupção em todo o
mundo e entende esse problema como fruto do “falho sistema capitalista”. Atualmente a
página conta com 47 mil curtidas.
Reforçando a tese da conexão entre os movimentos sociais na sociedade em rede
(CASTELLS, 2013), o Occupy Brazil afirma estar conectado com outros movimentos
como o Occupy Together, o Global Revolution e o Acampadas Brasil e por isso todas as
informações referentes à identificação da página vêm sempre escritas em português e
inglês. Esta conexão com outros movimentos se torna evidente quando observamos o
gráfico 6, no qual o tema “apoio ao movimento em outras cidades” é registrado em
7,02% das postagens.
Porém são os estímulos do movimento aos seus seguidores em prol de uma gestão
colaborativa da página que se refletem nos temas de maior destaque no gráfico referido.
A página do Occupy Brazil convoca seus seguidores a participarem da gestão daquele
espaço e a contribuírem de outras formas para o combate à corrupção, como a
produzindo de reportagens a respeito deste fenômeno.
Observamos o predomínio entre as postagens dos temas “divulgação de ações”,
responde por 21,05% das inserções na página durante o período analisado, seguido por
“veiculação de informação alternativa”, registrado em 19,30% dos posts, “mobilização
para os atos” e “propostas”, estes últimos presentes em 10,53% das postagens.
88
Gráfico 6
3. Análises por eixos temáticos
Ao propormos este artigo, pontuamos a necessidade de analisar as Jornadas de Junho
através dos temas que vieram à tona a partir do debate entre os manifestantes e não por
bandeiras especificas ou somente a partir dos movimentos em si. Esse posicionamento
se baseia na tese de que a Multidão, organizada em rede, tem como principal
10,53% 3,51%
3,51%
1,75%
3,51%
0,00%
1,75%
19,30%
1,75%
7,02%
10,53%
21,05%
5,26%
3,51%
1,75%
5,26%
Temas ‐ Occupy Brazil
Mobilização para o ato
Crítica aos políticos
Críticas às instituições democráticas
Crítica aos partidos políticos
Crítica ao capitalismo
Crítica à polícia
Veiculação de informação alternativa
Infiltrados no movimento
Apoio ao movimento em outrascidades
Propostas
Divulgação de ações
Outros
Critica aos grandes eventos
Auto‐promoção da página e domovimento
Veiculação de informação das mídiastradicionais
89
característica a heterogeneidade e a pluralidade de demandas, em oposição a
movimentos que estabelecem pautas e opiniões mais uniformes.
É inquestionável que um conjunto de pautas foi colocado na agenda política a partir das
Jornadas de Junho, mas não é somente pelo fato de entrarem na agenda que elas se
tornaram relevantes e sim pelo processo que fez com que determinados temas
ganhassem a centralidade das preocupações da opinião pública. Nesse sentido, talvez
esse seja um dos aspectos mais importantes do que poderíamos chamar de legado das
Jornadas de Junho.
Por isso, nessa parte do trabalho analisaremos as postagens veiculadas nas páginas
supracitadas a partir dos seguintes temas que emergiram nesse debate, tendo em vista
compreender os tipos de discurso presentes neste heterogêneo movimento: i) direito à
cidade, ii) lideranças e representação, iii) violência, iv) partido políticos e v) produção
de informação.
3.1 Direito à cidade
O transporte público e, mais especificamente a mobilidade urbana, são aspectos que
afetam a vida de milhões de pessoas em todo país. Por isso, a combinação do aumento
da passagem com as precárias condições de vida encontradas nos grandes centros
urbanos, fez com que a questão urbana e o direito à cidade entrassem na pauta política.
Os coletivos analisados, mesmo que de formas diferentes, colocaram essa perspectiva,
que também já foram observadas em outros protestos globais, tais como o Indignados
da Espanha, o Occupy nos EUA, Primavera Árabe, apenas para citar os mais
emblemáticos.
Em todos eles, há algumas características em comum como a ocupação do espaço
público como forma de reapropriação da cidade pelo “cidadão” e o entendimento da
cidade como espaço de circulação e de conexão do homem.
Castells (2013) explica essa relação dos movimentos sociais com essas demandas a
partir do conceito de espaço da autonomia, que seria o espaço híbrido que se forma a
partir da conexão entre o espaço público tradicional e o ciberespaço, onde os indivíduos
adquirem a autonomia de produzir informação. Com a emergência desses espaços, os
movimentos se iniciam nas redes, nela crescem e se fortalecem e, posteriormente,
tomam as ruas. Portanto, “a rua é a rede e a rede está na rua”, frase repetida pelos
ocupantes da Puerta del Sol, pelos manifestantes dos Indignados da Espanha em 2011.
90
Na visão de Pomar (2013), o tema do transporte e da circulação na cidade está
diretamente associado a uma crítica ao sistema capitalista, pois é por meio do transporte
que a força de trabalho se desloca para os locais de produção e tem acesso à cidade.
Porém, como o sistema de transporte se organiza a partir dos arranjos entre as empresas
de ônibus, o governo e a indústria automobilística acabam por refletir as desigualdades
produzidas socialmente. Nas palavras do autor:
“O desenvolvimento urbano no Brasil desnuda as
características mais cruéis de uma sociedade marcada
estruturalmente pela desigualdade. As cidades, esses tesouros
monstruosos que concentram as grandes conquistas científicas e
tecnológicas da humanidade, crescem de acordo com os
interesses das grandes corporações financeiras e são o polo de
atração de camadas expressivas da população migrante em
busca de oportunidades. (...) As cidades crescem e se tornam
espraiadas, entremeadas de espaços vazios, subproduto do
capital especulativo imobiliário que expulsa a pobreza cada vez
mais para a periferia.
(...) Nesse contexto, o transporte coletivo é, ao mesmo
tempo, a primeira etapa da venda da força de trabalho, que por
imperiosa necessidade, desloca-se todos os dias para os locais de
produção e venda de mercadorias, e o instrumento primordial e
transversal que garante o acesso aos equipamentos públicos e à
cidade”. (POMAR, 2013; p. 15)
3.2 Lideranças e representação
A crítica à política apresentada pelos coletivos pode ser entendida como um caminho
para o aperfeiçoamento institucional. Nesse sentido, observamos nas postagens uma
cobrança sobre o papel das instituições e inúmeras críticas à atuação dos políticos,
principalmente relacionadas às denúncias de corrupção. O combate à corrupção aparece
como a salvação da política e como a forma de solucionar todos os problemas da gestão
pública.
91
Por outro lado, verificamos também a crítica que não se destina ao aperfeiçoamento das
instituições e aos procedimentos da política, mas que está na perspectiva da ruptura com
os modelos tradicionais da política e em consonância com os movimentos globais do
período, tais como o Democracia Real Ya da Espanha, movimento surgido nos protestos
ocorridos em 2011. Trata-se, no geral, do debate colocado a partir da perspectiva de
grupos de orientação anarquista ou libertária, que afirmam a impossibilidade de
aperfeiçoamento institucional e criticam as reformas por considerarem-nas insuficientes
para a solução dos problemas políticos do país.
A democracia representativa é questionada e vista como forma insuficiente para o
atendimento das necessidades políticas. Para esses manifestantes, “a representação não
é, de fato, um veículo da democracia, mas sim um obstáculo para sua realização”
(NEGRI e HARDT, 2014, p. 40).
Observamos que o questionamento às lideranças políticas está relacionado ao repúdio à
política tradicional e às formas verticalizadas, próprias das estruturas partidárias,
sindical e dos movimentos políticos tradicionais, que também são alvo de muitas
críticas. Nesse sentido, o discurso frequente é o da necessidade de criação de novas
formas de organização social e política, baseadas na horizontalidade, na quebra da
centralização dos debates focados na figura das lideranças e na afirmação do exercício
da democracia direta, considerada como a única forma capaz de incorporar mais sujeitos
políticos nos processos deliberativos e ampliar a participação política na sociedade.
3.3 Violência
A partir dos relatos da imprensa e do livro “A Multidão Foi ao Deserto”, observamos
dois tipos de abordagem relativas a violência: i) abordagens que tratam da violência
sofrida pelos manifestantes através das instituições repressoras como a polícia, e a
consequente recusa do movimento ao uso desse tipo de estratégia e ii) abordagens nas
quais a violência é considerada um instrumento político do próprio movimento.
Dividindo-as por relação entre os atores chegamos a três relações diferentes: o
confronto entre os próprios manifestantes (físico ou não), o confronto entre a polícia e
os manifestantes e a depredação de patrimônio.
A relação violenta entre os próprios manifestantes se dá no momento em que temos uma
discussão interna em relação à presença ou não de partidos nas manifestações, incluindo
bandeiras, camisetas, etc. Foi possível perceber a presença desta discussão dentro das
92
páginas do Facebook considerando que temas “crítica aos políticos”, “crítica as
instituições democráticas” e “crítica aos partidos políticos” juntos somam 14,39% das
postagens, mostrando a insatisfação dos participantes das Jornadas com o
funcionamento da Democracia de modo geral.
Gráfico 7
Os violentos confrontos entre a polícia e os manifestantes que ocorreram em diversos
momentos durante as Jornadas e em diferentes cidades foram mencionados nas páginas
do Facebook em 8,81% das postagens. Além disso, 1,84% das postagens tratavam da
existência de policiais infiltrados nas manifestações.
É interessante ressaltar neste embate o encontro entre a Multidão e o Estado e a
consequente relação que se estabelece entre esses dois tipos de organização, a Multidão
em rede e o Estado hierárquico, que se chocam e se estranham nas suas formas tão
diferentes. Não cabe nesse artigo nos estendermos sobre esse aspecto, mas talvez esse
encontro seja uma das chaves para entendermos o funcionamento das estruturas em
rede. (GALLOWAY, 2007)
A depredação de patrimônio público e privado, especialmente pelos Black Blocs, foi
tema de grande repercussão na imprensa. Contudo, essa expressão das manifestações
pouco apareceu nas postagens analisadas, nem como crítica a este tipo de atuação, nem
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Temas ‐ Agrupado
93
como um tipo de violência justificada, apesar de a violência policial ter sido alvo de
críticas nas postagens.
No livro “A Multidão foi ao Deserto”, o autor Bruno Cava diferencia os dois tipos de
violência, e coloca que a depredação ao patrimônio público foi a forma encontrada pelos
jovens que “tatuando a cidade e os monumentos cuja reverência e autoridade ele não
reconhece, o “vândalo” reafirma o simples propósito de existir” (CAVA, 2013; p. 33).
Desse modo, o autor justifica a violência praticada pelos manifestantes contra o
patrimônio e, ao mesmo tempo, critica a violência da polícia como uma reação do poder
constituído diante da Multidão.
3.4. Crítica aos partidos políticos
O tema “crítica aos partidos políticos” é um dos temas que mais aparece nas postagens
analisadas, corroborando com as hipóteses a respeito da crise da representação política.
Em seu livro, Cava identifica a distância existente entre os manifestantes a as
instituições políticas e midiáticas tradicionais de nossa sociedade. Na visão do autor,
essa desconexão gerou uma procura pela criação de conteúdos próprios dos
manifestantes, através de canais de comunicação alternativos.
As reflexões acerca desse eixo temático dão continuidade à discussão já realizada na
parte do eixo sobre liderança e representação, ressaltam mais uma vez multiplicidade de
visões presentes na Multidão. Alguns dos coletivos que participaram das Jornadas e
tiveram suas páginas analisadas, como o MPL, o Anonymous Brasil e o Occupy Brazil
são apartidários. Outros, como o Partido Pirata, estão se organizando para tornarem-se
um partido político. Desses quatro, nenhum se declara como anti-partidário, mas a
crítica aos partidos é sem dúvida um dos temas levantados durante as Jornadas de
Junho, este embora tenha sido proporcionalmente pouco comentado nas páginas
estudadas.
3.5. Produção de Informação
O uso das tecnologias de informação e comunicação (TICs) por esses coletivos e
movimentos corrobora com as hipóteses anteriores a respeito das potencialidades
democráticas da internet e contribui para a realização das formas de organização e
participação que estes movimentos defendem.
94
As potencialidades democráticas previstas nessas hipóteses baseiam-se na arquitetura
em rede da internet, que permite o exercício: i) do princípio da isegoria; ii) da produção
de informação; iii) da liderança horizontalizada; iv) da ação descentralizada dos
militantes; e v) da organização e da mobilização de cidadãos independentes.
(BACHINI, 2013; CASTELLS, 2013)
Atentando especialmente à segunda potencialidade democrática do uso das redes, a
produção de informação, Castells (2009) formula sua tese a respeito do poder de
comunicação (communication power). Para o autor, a arquitetura das redes provoca o
deslocamento do poder de produzir informação, que antes se concentrava nas mãos dos
mass media, democratizando-o e difundindo-o, e gera outra forma de poder que se
fundamenta na capacidade relacional dos indivíduos.
Desse modo, alguns autores entendem que o poder de comunicação que emerge das
redes tende a propiciar o empoderamento dos indivíduos e a estimulá-los ao debate e ao
engajamento políticos, ampliando assim as formas de participação na vida pública.
(PUTNAM, 2000; GOMES, 2011)
“A verdadeira democracia eletrônica consiste em encorajar,
tanto quanto possível – graças às possibilidades de comunicação
interativa e coletiva oferecidas pelo ciberespaço – a expressão e
a elaboração dos problemas da cidade pelos próprios cidadãos, a
auto-organização das comunidades locais, a participação nas
deliberações por parte de grupos diretamente afetados pelas
decisões, a transparência das políticas públicas e a sua avaliação
pelos cidadãos” (LÉVY,1999; p. 190)
A partir da análise de conteúdo realizada nas páginas dos coletivos que participaram das
manifestações de junho, observamos que esses se utilizaram do Facebook
essencialmente para produzir informação contra-hegemônica ou alternativa aos mass
media e mobilizar os cidadãos para os atos.
Com base no gráfico 1, notamos que esse espaço fora usado para que os integrantes
desses coletivos expressassem sua crítica a respeito dos políticos, das instituições
representativas, do sistema capitalista, da polícia e dos mass media.
Especialmente no que se refere a esses dois últimos usos, averiguamos a partir das
postagens relacionadas aos temas 6, 7, 8 e 12 que os coletivos se aproveitaram desse
95
espaço para corrigir as distorções da cobertura midiática e do governo sobre os atos e
denunciar a repressão truculenta que sofriam por parte da polícia militar. Para tanto, os
coletivos se utilizaram na maioria das vezes de fotos e vídeos produzidas pelos
manifestantes a partir de seus celulares durante os atos, conforme podemos verificar no
gráfico abaixo:
Gráfico 8
Chama a atenção também no gráfico 8 a alta frequência do uso de links nas postagens.
Esse uso está relacionado fundamentalmente as categorias 11 e 14, e revela que os
coletivos se aproveitaram desse espaço para dar a visibilidade não obtida em outros
meios às suas propostas. Nesse caso, destacou-se a página do MPL, que em diversas
postagens publicizou suas propostas, conforme podemos observar no gráfico 1.
Contudo talvez o uso mais bem-sucedido do Facebook por esses coletivos deu-se na
mobilização da população para os atos. De acordo com o gráfico 2, verificamos que esse
foi um dos tipos de postagem que mais estimulou os seguidores a interagir com a
página. Além disso, dados de fontes secundárias5 revelam que essa mobilização via
internet levou às ruas de pelo menos 350 municípios milhões de pessoas ao longo do
mês de junho de 2013.
Nesse sentido, os dados apresentados convergem com os estudos de Castells (2013)
acerca dos movimentos sociais que emergiram fora do Brasil a partir de 2011, e
especialmente, com sua tese a respeito da formação do espaço da autonomia.
5 Dados oficiais da Polícia Militar extraídos de SINGER, 2013 e divulgados amplamente pela imprensa.
0
10
20
30
40
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Nas palavras de Castells,
“Compartilhando dores e esperanças no livre espaço
público da internet (...) indivíduos formaram redes, a despeito de
suas opiniões pessoais ou filiações organizacionais. Uniram-se.
E sua união os ajudou a superar o medo, essa emoção
paralisante em que os poderes constituídos se sustentam para
prosperar e se reproduzir (...). Da segurança do ciberespaço,
pessoas de todas as idades e condições passaram a ocupar o
espaço público, num encontro às cegas entre si e com o destino
que desejavam forjar, ao reivindicar seu direito de fazer história,
sua história, numa manifestação de autoconsciência que sempre
caracterizou os grandes movimentos sociais”. (CASTELLS,
2013; p.8)
Outro comportamento observado nos coletivos participantes das manifestações de junho
que os aproxima desses movimentos internacionais e, consequentemente, das
inferências de Castells, reside na produção colaborativa de conteúdo já prevista na
hipótese da inteligência coletiva de Levy (1999) e caracterizada nas análises de HARDT
e NEGRI (2001).
Para esses autores, a internet pode ampliar os canais de participação na vida pública ao
apresentar espaços colaborativos que não se resumem apenas a publicização das
informações, mas que inserem o cidadão em discussões globais e permitem a
formulação de ações políticas conjuntamente. A partir de então, os cidadãos passam a
exigir a abertura dos “códigos–fonte das sociedades” assim como os dos softwares
livres, no sentido “que todos possam trabalhar em cooperação na solução de seus
problemas e na criação de novos e melhores programas sociais”. (HARDT E NEGRI,
2001; p.425)
Além de todas as páginas serem abertas para os seguidores publicarem, nesse sentido
destacou-se a página do Occupy Brazil, que estimulava seus seguidores a produzirem
conteúdo e colaborarem com a gestão daquele espaço e postava todos os conteúdos em
inglês e português para que os seus apoiadores de coletivos internacionais, como o
Occupy Together e o Global Revolution, pudessem compreendê-las.
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Observamos que durante as Jornadas de Junho, os coletivos que se organizaram
utilizando os sites de redes sociais (social networking sites) apresentaram
questionamentos sobre as formas tradicionais de organização política, tais como
partidos, movimentos sociais e sindicatos. Entre os principais questionamentos,
notamos a crítica à insuficiência da democracia representativa na condução dos
processos políticos contemporâneos.
Para Manin (1997), a chamada crise da representação política nos países ocidentais
decorre da metamorfose da democracia de partido para a democracia de audiência (ou
público), metamorfose essa cujo motor foi a introdução dos mass media na política.
Para o autor, o resultado desse processo é o declínio das relações de identificação entre
representantes e representados e da determinação das políticas públicas por parte do
eleitorado.
Contudo, ao refletir sobre os protestos atuais, Manin (2013) compreende que a
emergência desses novos movimentos sociais críticos à ordem vigente é uma
característica da própria democracia representativa, que tem como um de seus princípios
a liberdade de expressão e oposição.
Outra característica desses movimentos é o uso das tecnologias de informação e de
comunicação para a ação política. Nesse caso específico, constatamos que não se trata
apenas do uso comunicacional, mas a própria arquitetura em rede (CASTELLS, 2009)
dessas mídias expressa uma modificação no processo político, considerando o caráter
horizontal, sem centralização, as formas interativas e, principalmente, o aspecto
conectivo entre os coletivos políticos.
A incorporação de ferramentas digitais nos processos políticos proporciona um conjunto
de mudanças nos espaços tradicionais de discussão, nas instâncias de formulação e de
deliberação possibilitando a inovação nas formas de participação dos atores (GOMES,
2011).
Verificamos também a utilização de dispositivos digitais e virtuais na articulação de
redes sociais com o objetivo de dinamizar e descentralizar o debate político, de ampliar
as possibilidades de organização das ações coletivas e de processos de resistência,
incorporando os sujeitos aos debates sobre as questões sociais e políticas.
O uso das redes sociais para a ação política expressa uma modificação significativa no
papel das lideranças e na própria característica dos movimentos articulados em torno de
reivindicações sociais, econômicas, culturais e políticas. No geral, observamos a
multiplicidade de demandas (HARDT & NEGRI, 2005) e, ao mesmo tempo, a ausência
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de uma liderança com projeção no cenário político nacional. Contudo, ao utilizarem as
redes sociais para publicizar suas propostas, esses temas encontram ressonância no
campo social e ganham visibilidade, inclusive nas mídias tradicionais.
Observamos que as redes sociais potencializam determinadas questões do campo social
e podem catalisar sentimento de protesto ou de indignação em algumas convocatórias,
demonstrando uma capacidade que há muito os partidos políticos e movimentos sociais
tradicionais vêm perdendo. Temas considerados periféricos a agenda de debates ou até
mesmo que envolvem questões relacionadas às políticas públicas ganham outro
tratamento, uma abordagem que se difere das formas utilizadas pelas lideranças
tradicionais.
O funcionamento em rede sem um centro que concentre a capacidade de informar e de
convocar possibilita a descentralização da política e estimula o redimensionamento do
papel das lideranças políticas. Evidentemente, as redes sociais não encerram o papel das
lideranças políticas, mas impõem às lideranças a necessidade de se pensar em novas
práticas que convirjam com os anseios que hão de estruturar a chamada nova política.
“Devemos resistir precisamente a uma tradução assim
apressada da energia das manifestações para um conjunto de
demandas pragmáticas “concretas”. Sim, os protestos realmente
criaram um vazio – um vazio no campo da ideologia
hegemônica -. E será algum tempo para preenchê-lo de maneira
apropriada, posto que se trata de um vazio que carrega consigo
um embrião, uma abertura para o verdadeiro Novo” (ZIZEK,
2012, p. 18)
Em suma, observamos um processo em aberto, mas já deflagrado, em que os coletivos
estão buscando seus caminhos. Suas respostas não estão dadas previamente, mas em
fase de construção a partir do questionamento das atuais práticas políticas, das formas
institucionais e organizativas e da proposição e novas formas de se fazer política.
4. Referências Bibliográficas:
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libros de la Catarata, 2005.
99
BACHINI, Natasha. Sob o piado do Twitter: o novo tom das campanhas eleitorais
com a difusão da internet no Brasil. Mestrado em Ciências Sociais defendido na
PUC-SP. Maio, 2013.
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LÉVY, Pierre. A conexão planetária: o mercado, o ciberespaço, a consciência. São
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_________. Cibercultura, trad. Carlos Irineu da Costa. São Paulo, Editora 34, 2007.
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Occupy – movimentos de protesto que tomaram as ruas, São Paulo: Boitempo: Carta
Maior, 2012.
2. Acompanhamento dos coletivos atuantes nas Jornadas de Junho durante as
eleições presidenciais de 2014
A pesquisa se concentrou na criação de uma metodologia de coleta e tabulação de
postagens feitas no facebook por alguns coletivos durante o período das eleições de
2014.
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O critério de seleção dos coletivos se deu principalmente pela intensa participação
online e offline que exerceram nas Jornadas de Junho, pois a questão norteadora desta
etapa da pesquisa foi verificar o posicionamento que teriam em relação a este pleito
tendo em conta o contexto de crítica às lideranças políticas tradicionais que perpassou
as Jornadas.
A fim de obter uma uniformidade tanto na coleta quanto na proposição dos coletivos de
tal modo que pudesse coincidir com o debate eleitoral nacional, minimizando assim as
idiossincrasias locais dos discursos na rede, optamos por analisar coletivos que
apresentam uma plataforma nacional e não somente estadual, como é o caso do
Movimento Passe Livre que a despeito de seu intenso protagonismo possui uma
organização geograficamente descentralizada.
Assim, foram selecionados os seguintes coletivos:
1. Anonymos Brasil;
2. Anonymos BR;
3. Quero fim da corrupção;
4. A verdade nua e crua;
5. Mídia Ninja;
6. Fora do Eixo;
7. MTST (Movimento dos trabalhadores sem-teto).
Tendo estabelecido tal questão de pesquisa, o recorte temporal de coleta das postagens
se deu entre o dia 05 de setembro, um mês antes do primeiro turno, ao dia 26 de
outubro, o dia do segundo turno.
Contudo, definimos duas datas para a coleta de todos os coletivos, a primeira no dia 19
de outubro, das postagens do dia 05 ao dia 12 de outubro, e a segunda no dia 02 de
novembro, das postagens do dia 13 ao dia 26 de outubro.
Esse critério foi adotado primeiro para buscar uma padronização procedimental de
coleta e segundo para a que a interatividade – no caso do facebook através do
curtir/comentar/compartilhar – pudesse ocorrer em um tempo maior, minimizando esse
fator na interatividade na medida em que postagens feitas em apenas algumas horas ou
um dia, pois podem ter uma diferença de interatividade menor, não por um desinteresse
ao tema, mas pelo tempo menor de exposição na time-line.
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As postagens coletadas foram tabuladas em uma planilha feita em Microsoft Excel, que
pode ser verificada na cópia abaixo:
Adotamos a análise de discurso como metodologia de construção das categorias de
análise das postagens dos coletivos separadas em nove blocos: o bloco 1, por tratar de
variáveis discretas foi quantitativamente categorizado; do bloco 2 ao 8 categorizamos de
forma binária, 0 (zero) quando não apresenta a ocorrência considerada, e 1 (um) quando
apresenta, pois se trata de variáveis iminentemente qualitativas ou nominais, elas podem
apresentar mais de uma das categorias em cada postagem; e o último bloco é um campo
descritivo.
Aos blocos 4 e 5 acrescentamos a variável da valência, positiva ou negativa, pois além
da menção à liderança ou ao partido político, consideramos ser importante identificar a
valoração empregada nesse discurso.
Os blocos são:
1. Interatividade
Engloba as categorias: curtir/comentar/compartilhar. e foram quantitativamente
categorizadas.
2. Estratégias de comunicação
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Empreendemos uma definição conceitual dos tipos específicos de comunicação
utilizados na rede, sendo eles:
a) Evento off-line.
b) Informação: relato descritivo.
c) Posicionamento político: posicionamento e adesão a uma causa e/ou
discurso, demonstração de politização.
d) Debate: confrontação de ideias de forma mais explícita. Geralmente
ocorre nos comentários.
e) Evento online: criado no facebook.
f) Petição.
3. Temas (gerais e que poderiam ser tratados nas postagens segundo
recorte previamente estabelecido considerando o contexto político e
social atual)
a) Segurança pública.
b) Saúde.
c) Habitação.
d) Violência policial.
e) Presos políticos.
f) Mobilização urbana.
g) Pesquisas eleitorais.
h) Religião.
i) Educação.
j) Corrupção.
k) Reforma política.
l) Reforma tributária.
m) Reforma previdenciária.
n) Economia.
o) Agronegócio.
p) Sustentabilidade e meio-ambiente.
q) Relações exteriores.
r) Gênero.
s) Questão racial.
t) Desigualdade social.
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4. Recursos utilizados (nas postagens)
a) Foto.
b) Texto.
c) Filme.
d) Ilustrações.
e) Meme (ou virais).
f) Outros.
5. Lideranças citadas / valência (todas de âmbito nacional)
a) Dilma Rousseff.
b) Aécio Neves.
c) Marina Silva.
d) Eduardo Campos.
e) Eduardo Jorge.
f) Lula.
g) Fernando Henrique Cardoso.
6. Partidos citados / valência
a) PT.
b) PSDB.
c) PV.
d) Outros.
7. Temas-chave (considerados segundo escopo da pesquisa)
a) Democracia representativa.
b) Mídia tradicional.
8. Temas polêmicos
a) Aborto.
b) Drogas.
c) GLBTT.
9. Observações (questões que precisam ser aprofundadas em postagens
que apresentaram significativa interatividade, ou questões importantes
que não foram consideradas incialmente)
3. Elaboração e desenvolvimento de projeto de cooperação internacional FAPESP-ATN, em conjunto com a University of Queensland, Austrália
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Considerando que uma das principais características das novas formas de participação
política é o uso das tecnologias de informação e de comunicação para a ação política, o
projeto de cooperação Brasil e Austrália tem como objetivo principal elaborar
metodologia conjunta para analisar as práticas políticas desenvolvidas em rede.
Entendendo que a incorporação de ferramentas digitais nos processos políticos
proporciona um conjunto de mudanças nos espaços tradicionais de discussão, nas
instâncias de formulação e de deliberação, possibilitando a inovação nas formas de
participação dos atores e necessitam de procedimentos teórico-metodológicos de caráter
interdisciplinar para abarcar a complexidade dos fenômenos sócio-políticos da
contemporaneidade.
A proposta elaborada conjuntamente pelos pesquisadores brasileiros e australianos foi
aprovada pela FAPESP no mês de novembro de 2014. O projeto terá dois anos para ser
executado (de 01.12.2014 a 31.11.2016) e pressupõe a realização de quatro missões para
a realização de seminários conjuntos entre as equipes, além da produção de publicação
conjunta com o resultado da produção das atividades de pesquisa.
São Paulo, 15 de dezembro de 2014.
Vera Lucia Michalany Chaia
Coordenadora do Projeto Temático