Reação ao tema saúde e espiritualidade pelo meio acadêmico

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Foi realizado grupo focal com os alunos fundadores da liga a fim de coletar as falas dos pares a eles direcionados. Estas falas foram gravadas, transcritas e categorizadas após análise. Comparou-se as falas relatadas pelos alunos, que desenhavam certa reação do corpo discente, com a reação dos docentes em resposta a criação da liga. 1 Cirurgião geral, presidente da Associação Médico-Espírita do Ceará, docente do curso de graduação em Medicina-Unifor; 2 Médico de família e comunidade, docente do curso de graduação em Medicina-Unifor; 3 Discente do 3º semestre do curso de graduação em Medicina-Unifor; 4 Discente do 3º semestre do curso de graduação em Medicina-Unifor; 5 Discente do 3º semestre do curso de graduação em Medicina-Unifor. (Av. Washington Soares, 1321, Edson Queiroz, CEP: 60.811-905, Fortaleza-CE, Brasil); e-mail: [email protected] METODOLOGIA: REAÇÃO AO TEMA SAÚDE E ESPIRITUALIDADE PELO MEIO ACADÊMICO CAJAZEIRAS, F. A. C. 1 ; MARINHO, A. D. M. 2 ; MOREIRA, M. A. F. 3 ; LIMA, A. I. H. 4 ; JANUARIO, A. A. P. 5 O tema da espiritualidade em diálogo com a saúde vem ganhando corpo nos últimos anos, particularmente na atenção primária, cujo paradigma endossa uma medicina centrada na pessoa, incluindo convicções e formas de enfrentamento das angústias da finitude. A inserção do tema da espiritualidade está se processando apesar das resistências dos partidários do paradigma hegemônico da biomedicina. INTRODUÇÃO: “Eu estava no laboratório de anatomia, aí o pessoal não sabia que eu fazia parte da liga. Uma pessoa chegou e disse [com ironia]: ‘Vamos entrar nessa liga de espiritualidade’? Eu olhei pra ela e disse: “eu faço parte”. Em oposição a esses comentários, foi constatado apoio positivo, tanto do corpo docente, como de alunos de outras Universidades, interessados no assunto. “A gente está tendo apoio positivo na liga. Na página do Facebook, há diversos comentários e curtidas” “Tem pessoas se interessando, querendo saber como vai funcionar, se pode gravar nossas palestras, já outras querendo levar o assunto pra outras faculdades’’. “A coordenação da Medicina, também, nos apoiou, mostrando que outros cursos, também, gostaram da ideia, propondo que fizéssemos uma liga multiprofissional’’. No entanto, notou-se que alguns estudantes, que no início menosprezaram o assunto da espiritualidade, se interessaram pelo assunto ao descobrir a importância dessa na colaboração nos tratamentos médicos. “No início, notaram-se muitas piadas. Agora, percebemos que muitas pessoas, principalmente aquelas que se interessam pela atenção primária, veem que a medicina não é só aquele conhecimento, aquele âmbito. Percebemos, que algumas pessoas têm até interesse de participar de aulas, de cursos e até participar da liga, através de processo seletivo.” Relatar a experiência de fundação da Liga de Saúde e Espiritualidade (LISAES) na Universidade de Fortaleza, bem como evidenciar as disputas de campo epistêmico apontadas pela diversidade dos discursos com que essa liga foi recepcionada. OBJETIVOS: Percebeu-se que o corpo discente recebeu a fundação da liga de uma forma totalmente distinta do corpo docente. Logo que a liga foi fundada, muitos confundiam o tema da espiritualidade com religião, principalmente relacionando com práticas mediúnicas. “No processo seletivo, vai baixar espíritos?” “Durante as atividades da liga, vocês vão ficar rezando?” Após a apresentação da liga, em redes sociais e entre colegas, apontou-se a inutilidade do tema de forma jocosa. “Quando a gente foi publicar sobre a liga em um grupo, de uma rede social, que agrega os acadêmicos de Medicina da Universidade, um estudante comentou: ‘vamos criar a liga do primeiro plantão’, querendo insinuar que era uma liga sem sentido”. “Presenciei alunos comentando entre si: ‘vamos criar uma liga’?. Outro respondia: ‘já existem ligas de muitos assuntos’. E o outro falava: ‘se tem liga até de espiritualidade, a gente cria de qualquer coisa’. DISCUSSÃO: CONCLUSÕES: Vê-se que, apesar da política de humanização da assistência e da abertura da racionalidade médica para outros tipos de saber, os estudantes ainda apresentam uma mentalidade arredia às novas abordagens, em atitude de cisão cartesiana, não assumindo a multiplicidade das vozes no debate atual sobre o ser humano. É o paradigma biomédico que resiste apesar dos anúncios de seu crepúsculo. Palavras-chave: Espiritualidade; Educação Médica; Paradigma REFERÊNCIAS: FLEURI, R. M. Educação popular e saúde: perspectivas epistemológicas emergentes na formação de profissionais. REUNIÃO ANUAL DA ANPED, v. 28, p. 16, 2005. KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1975. VASCONCELOS, E. M. A espiritualidade no trabalho em saúde. Hucitec, 2006.

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Trabalho apresentado ao 13o Congresso Brasileiro de Medicina de Família, revelando as falas reativas do meio acadêmico sobre a criação de uma liga de saúde e espiritualidade.

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Foi realizado grupo focal com os alunos fundadores da liga a fim de coletar as falas dos pares a eles direcionados. Estas falas foram gravadas, transcritas e categorizadas após análise. Comparou-se as falas relatadas pelos alunos, que desenhavam certa reação do corpo discente, com a reação dos docentes em resposta a criação da liga.

1Cirurgião geral, presidente da Associação Médico-Espírita do Ceará, docente do curso de graduação em Medicina-Unifor; 2Médico de família e comunidade, docente do curso de graduação em Medicina-Unifor; 3Discente do 3º semestre do curso de graduação em Medicina-Unifor;

4Discente do 3º semestre do curso de graduação em Medicina-Unifor; 5Discente do 3º semestre do curso de graduação em Medicina-Unifor. (Av. Washington Soares, 1321, Edson Queiroz, CEP: 60.811-905, Fortaleza-CE, Brasil); e-mail: [email protected]

METODOLOGIA:

 REAÇÃO AO TEMA SAÚDE E ESPIRITUALIDADE PELO MEIO ACADÊMICO

CAJAZEIRAS, F. A. C.1; MARINHO, A. D. M.2; MOREIRA, M. A. F.3; LIMA, A. I. H.4; JANUARIO, A. A. P.5

O tema da espiritualidade em diálogo com a saúde vem ganhando corpo nos últimos anos, particularmente na atenção primária, cujo paradigma endossa uma medicina centrada na pessoa, incluindo convicções e formas de enfrentamento das angústias da finitude. A inserção do tema da espiritualidade está se processando apesar das resistências dos partidários do paradigma hegemônico da biomedicina.

INTRODUÇÃO: “Eu estava no laboratório de anatomia, aí o pessoal não sabia que eu fazia parte da liga. Uma pessoa chegou e disse [com ironia]: ‘Vamos entrar nessa liga de espiritualidade’? Eu olhei pra ela e disse: “eu faço parte”. Em oposição a esses comentários, foi constatado apoio positivo, tanto do corpo docente, como de alunos de outras Universidades, interessados no assunto. “A gente está tendo apoio positivo na liga. Na página do Facebook, há diversos comentários e curtidas” “Tem pessoas se interessando, querendo saber como vai funcionar, se pode gravar nossas palestras, já outras querendo levar o assunto pra outras faculdades’’. “A coordenação da Medicina, também, nos apoiou, mostrando que outros cursos, também, gostaram da ideia, propondo que fizéssemos uma liga multiprofissional’’. No entanto, notou-se que alguns estudantes, que no início menosprezaram o assunto da espiritualidade, se interessaram pelo assunto ao descobrir a importância dessa na colaboração nos tratamentos médicos. “No início, notaram-se muitas piadas. Agora, percebemos que muitas pessoas, principalmente aquelas que se interessam pela atenção primária, veem que a medicina não é só aquele conhecimento, aquele âmbito. Percebemos, que algumas pessoas têm até interesse de participar de aulas, de cursos e até participar da liga, através de processo seletivo.”

Relatar a experiência de fundação da Liga de Saúde e Espiritualidade (LISAES) na Universidade de Fortaleza, bem como evidenciar as disputas de campo epistêmico apontadas pela diversidade dos discursos com que essa liga foi recepcionada.

OBJETIVOS:

Percebeu-se que o corpo discente recebeu a fundação da liga de uma forma totalmente distinta do corpo docente. Logo que a liga foi fundada, muitos confundiam o tema da espiritualidade com religião, principalmente relacionando com práticas mediúnicas. “No processo seletivo, vai baixar espíritos?” “Durante as atividades da liga, vocês vão ficar rezando?” Após a apresentação da liga, em redes sociais e entre colegas, apontou-se a inutilidade do tema de forma jocosa. “Quando a gente foi publicar sobre a liga em um grupo, de uma rede social, que agrega os acadêmicos de Medicina da Universidade, um estudante comentou: ‘vamos criar a liga do primeiro plantão’, querendo insinuar que era uma liga sem sentido”. “Presenciei alunos comentando entre si: ‘vamos criar uma liga’?. Outro respondia: ‘já existem ligas de muitos assuntos’. E o outro falava: ‘se tem liga até de espiritualidade, a gente cria de qualquer coisa’.

DISCUSSÃO:

CONCLUSÕES: Vê-se que, apesar da política de humanização da assistência e da abertura da racionalidade médica para outros tipos de saber, os estudantes ainda apresentam uma mentalidade arredia às novas abordagens, em atitude de cisão cartesiana, não assumindo a multiplicidade das vozes no debate atual sobre o ser humano. É o paradigma biomédico que resiste apesar dos anúncios de seu crepúsculo.

Palavras-chave: Espiritualidade; Educação Médica; Paradigma  

REFERÊNCIAS: FLEURI, R. M. Educação popular e saúde: perspectivas epistemológicas emergentes na formação de profissionais. REUNIÃO ANUAL DA ANPED, v. 28, p. 16, 2005. KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1975. VASCONCELOS, E. M. A espiritualidade no trabalho em saúde. Hucitec, 2006.