R d laing laços [coleção psicanálise]
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LAÇOSpor
R. D. Laing
Tradução de
Mário Pontes
2' EDIÇÃO
FICHA CATALOGRAFICA
(Preparada pelo Centro de Catalogação na fontedo Sindicato Nacional dos Editores de Livros, GB)
Laing, Ronald David, 1927-L1871 Laços Iporl R. D. Laing; tradução de Mário
Pontes. Petrópolis, Vozes, 1974.100 p. 21 cm (Psicanálise, v. 9).
Do original em inglês: Knots.
1. Poesia inglesa. 2. Psicanálise. I. Titulo. II. Série.
CDD - 821.914 821.00931CDU - 820.1 194574-0387
820-1:159.964.2
EDITORA VOZES LTDA.Petrópolis
1977Os elementos que aqui apresentamos em esboço
Edição original publicada em 1970 porTavistock Publications Limited
11 New Fetter Lane, London EC4© The R. D. Laing Trust 1970Titulo do original inglês: KNOTS
© 1974 da tradução portuguesaEditora Vozes Ltda.Rua Frei Luís, 100
Petrópolis, RJBrasil
Os elementos que aqui apresentamos em esboço não
tinham merecido até agora o esforço classificatório de
nenhum Lineu da servidão humana. O que não
impede sejam todos eles, talvez, estranhamente
familiares. Limitei-me, nas páginas seguintes, a
mostrar alguns daqueles que eu próprio vi. As
palavras que me ocorrem para designá-los são: nós,
laços, labirintos, impasses, disjunções, redemoinhos,
ligaduras. Eu poderia ter permanecido mais fiel à
"pureza" dos dados em que tais elementos se
apresentaram. Por outro lado, poderia tê-los
trabalhado ainda mais, dando-lhes um tratamento
próximo ao do cálculo lógico-matemático abstrato.
No final de contas, espero não tê-los esquematizado
tanto ao ponto de tornar impossível relacioná-los
outra vez às mui particulares experiências de que
vieram. Mas espero também que permaneçam
bastante independentes de qualquer "conteúdo", para
que possamos perceber a acabada elegância formal
desse tecido de maya.
R. D. Laing
Abril de 1969
1Eles estão jogando o jogo deles.Eles estão jogando de não jogar um jogo.Se eu lhes mostrar que os vejo tal qual eles estão,quebrarei as regras do seu jogoe receberei a sua punição.O que eu devo, pois, é jogar o jogo deles,o jogo de não ver o jogo que eles jogam.
Eles não estão se divertindo.E se eles não se divertem eu também não me divirto.Somente se eu puder levá-los a se divertirpoderei divertir-me juntamente com eles.Mas não é nada divertido levá-los a divertir-se;pelo contrário, é trabalho muito árduo.Quem sabe, eu talvez me divertissese descobrisse por que não se divertem.Mas não fica nada bem que me divirta procurandosaber o porquê não se divertem.Ainda assim é um pouco divertido o ato de fingirque não encontro diversão em descobriro motivo por que não se divertem.
Vamos nos divertir? — convida a garotinhaque surge de repente não sei donde.E contudo divertir-me é perder tempo,já que me divertir não contribui para mostraro motivo por que não se divertem.
Como podes tu te divertirse Jesus na cruz morreu por ti?Achas acaso que na cruzJesus se divertia?
O nosso dever é fazer com que os nossos filhos
nos amem, nos honrem e nos obedeçam.Se não nos amam, não nos honram e não nos obedecem,o nosso dever é castigá-los; do contrárionão estaremos a cumprir nosso dever.
Se crescem nos amando, nos honrando e nos obedecendo —benditos sejamos por tê-los feito crescer no bom caminho.
Se crescendo não nos amam, não nos honram e não[ nos obedecem
bem, talvez lhes tenhamos indicado o bomcaminho, talvez não.
Se lhes mostramos o caminho bomé com eles que algo está errado.
Se não lhes mostramos o caminho bomé conosco que algo está errado.
O dever dos filhos seria respeitar os paissem que fosse necessário ensinar-lhes tal respeito,pois o respeito é algo natural —e afinal de contas foi assim que eu eduquei meu filho.
É claro que os pais devem ser dignos de respeito e,claro também, é possível que percam tal respeito.Mas ao final de contas espero que meu filho me respeitenem que seja porque lhe dou a liberdadede respeitar-me ou não me respeitar.
Algo de errado deve haver com elepois é certo que assim não agiria
se algo de errado não houvesse;portanto se é assim que ele ageé porque há com ele algo de errado
Ele não se apercebe de que há com ele algo de erradoporque
uma das coisas que nele andam erradasé não se aperceber de que há com elealgo de errado
portantotemos que ajuda-lo a aperceber-sede que o fato de não se aperceberde que há com ele algo de erradoé uma dessas coisasque nele andam erradas
algo de errado com ele está havendoposto que ele pensa
que é conosco que algo anda erradoporque tentamos ajudá-lo a perceberque algo de errado com ele deve haverpor pensar que conosco algo anda erradoporque tentamos ajudá-lo a perceber
de que o estamos ajudandoa perceber
que o não estamos perseguindoquando o estamos ajudandoa perceber que não o estamos perseguindoquando o estamos ajudandoa perceberque se recusa a perceberque algo de errado deve haver
com elequando não percebe que algo de errado deve haver
com ele
quando não nos agradecesequer pelo fato de tentarmos ajudá-loa perceber que algo de errado deve haver
com elequando não percebe que algo de errado deve haver
com elequando não percebe que algo de errado deve haver
com elequando não percebe que algo de errado deve haver
com elequando não nos agradece
pelo fato de que nunca tentamos fazercom que nos agradeça
O dever dos filhos é respeitar os paisE o dever dos pais é ensinar os filhosatravés do bom exemploa respeitar os pais.
Pais que não dão aos filhos bons exemplosnão merecem respeito.Se nós os pais lhes dermos bons exemplospodemos esperar pela sua gratidãoquando crescidos eles próprios forem pais.
De um filho malcriadonão teremos respeitoporque não o castigamosporque não nos respeita
Não devemos estragar com mimos nossos filhos.Decerto o mais cômodo é fazer o que eles querem,mas eles não nos respeitarão quando crescerempor deixá-los fazer o que eles querem.Eles não nos respeitarão
se não os castigarmospor não nos respeitarem.
Mamãe me ama.Eu me acho bom.
Eu me acho bom porque ela me ama.
Eu sou bom porque me acho bomEu me acho bom porque sou bomMamãe me ama porque sou bom.
Mamãe não me ama.Eu me acho mau.
Eu me acho mau porque ela não me amaEu sou mau porque me acho mau
Eu me acho mau porque sou mauEu sou mau porque ela não me amaMamãe não me ama porque sou mau.
Eu não me acho bomlogo sou maulogo ninguém me ama
Eu me acho bomlogo sou bomlogo todos me amam.
Eu sou bomvocê não me amalogo você é mau. Logo eu não amo você.
Eu sou bomvocê me ama.logo você é bom. Logo eu amo você.
Eu sou mauvocê me amalogo você é mau.
Mamãe me amaporque ela é boa
Eu sou mau, pois acho que ela é máLogo se eu sou bom
ela é boae me amaporque eu sou bompor saber que ela é boa.
Eu sou maupois duvido que ela me castigue por duvidar
de que me ama quando me castigapor duvidar de que me ama.
Diz mamãeque deve ser por culpa suase eu duvido que me ame.
Ela se acha máquando não percebo que me ama quando
se acha má quando não perceboque me ama.
Mamãe achaque é por culpa suaque posso ser cruel ao pontode duvidar de que me amaquando me faz sentir que sou cruelquando penso que tenta me fazerachar que sou cruel.
Laços Ec) 2918 — 2
E bom ser bondoso. É nau ser cruel.
E mau achar que mamãe é cruel comigo e portanto má.
Mamãe é cruel comigomas é cruel apenas para ser bondosapor eu ter achado que era cruelquando foi cruelpor ter me castigadopor eu ter sido cruel para com elapor pensar que ela era cruel para comigopor ter me castigado
por eu ter pensado que ala era cruelpor ter me castigado
por eu ter pensado...
Você é cruelpor me fazer achar que sou mau por pensar
que sou cruel por fazer você se achar cruelpor eu me achar mau por você ser tão cruel a ponto
[de pensarque não amo você, quando bem sabe que eu
[amo você.
Se você não sabe que eu amo você, algo de errado está[havendo
com você.
Lúcio sofrepor acharque Lúcia acha que ele a faz sofrerporque (ele) sofrepor acharque ela acha que ele a faz sofrerpor fazê-la achar que é culpadade fazê-lo sofrerporque (ela) achaque ele a faz sofrerporque (ele) sofrepor acharque ela acha que ele a faz sofrerpelo fato de que
da capo sine fine
2Era uma vez um menininho chamado de Lúcioquerendo ficar o tempo todinho com sua mãezinhatemendo que ela o deixasse sozinho
quando o menininho ficou maiorzinhoquis ficar longe de sua mãezinhaagora temendo que ela quisesseficar junto dele o tempo todinho
e ficando crescido Lúcio amou Lúciae queria estar com Lúcia o tempo todinhotemendo que Lúcia o deixasse sozinho
quando Lúcio cresceu ainda maisnão quis mais ficar todo tempo com Lúciaele tinha ficado com medode que ela quisesse ficar todo o tempo com ele ede que ela tivesse ficado com medode que ele não quisesse ficar todo o tempo com ela
Lúcio leva Lúcia a temer que ele a deixe porqueLúcio teme que Lúcia o deixe.
Lúcio teme que Lúcia seja como a mãe deleLúcia teme que Lúcio seja como a mãe dela
Lúcio teme queLúcia ache que ele é como a mãe dela
e queLúcia tema que
Lúcio ache que ela é como a mãe deleLúcia teme que
Lúcio ache que ela é como a mãe delee que
Lúcio tema queLúcia ache que ele é como a mãe dela
Lúcio quer devorar a mãe e ser devorado por elamais tarde, ele hesita entre querer devorá-lasem querer contudo ser devorado por elae não querer devorá-laquerendo contudo ser devorado por ela.
Mais tarde ainda, ele não quer devorá-lanem quer que ela o devore.
Lúcio acha que Lúcia o devora.
Lúcio é devoradopelo medo devorador deser devorado pelodesejo devorador de Lúcia
de que Lúcio devore Lúcia.
Ele acha que ela o devoracom a sua exigência de que a devore
Duas pessoas que inicialmentequeriam devorar e ser devoradasestão devorando e sendo devoradas
Ela é devorada por ele que é devorado pelodevorador desejo dela de ser devorada por ele
Ele é devorado por ela que é devoradapor não ser por ele devorada
Ele é devoradopelo medo de ser devorado
Ela é devoradapelo desejo de ser devorada
Seu pavor de ser devoradonasce de seu pavor de ser devorado pelo seu devorarSeu desejo de ser devoradanasce do seu pavor do desejo de devorar
LÚCIA
Eu não me respeitoEu não posso respeitar a ninguém que me respeiteEu só posso respeitar alguém que não me respeite.
Respeito Lúcioporque ele não me respeita
Desprezo Luísporque ele não me despreza
Somente uma pessoa desprezívelpode respeitar alguém tão desprezível quanto eu
Não posso amar alguém a quem desprezo
Logo, como eu amo Lúcionão posso acreditar que ele me ame
Que provas me daria de que me ama?
Lúcia se sente segura quando briga com Lúcioporque Lúcio não reage
Lúcia briga com Lúcioporque Lúcio não reage
Lúcia briga com Lúcioporque Lúcio não lhe mete medo
Lúcio não lhe mete medoporque não reagindo é inofensivo
Lúcia se sente segura diante de Lúciologo Lúcia o despreza
Lúcia se apega a Lúcioporque Lúcio não lhe mete medo
Lúcia despreza Lúcioporque se apega a eleporque ele não lhe mete medo
Lúcia é cônscia da própria inferioridadelogo Lúcia é superior a quem quer que a suponhasuperior a Lúcio.
Lúcia Tenho medoLúcio Não tenhas medoLúcia Tenho medo de ter medo quando
me dizes que não tenha medo
medomedo de ter medosem medo de ter medo
sem medocom o medo de não ter medosem medo de não ter medo
Lúcia Me aborreço por estares aborrecidoLúcio Não estou aborrecidoLúcia Me aborreço pelo fato de não te aborrecer o fato
de eu me aborrecer por estares aborrecidoLúcio Me aborreço pelo fato de que te aborreças pelo fato
de que me aborreço pelo fato de que te aborreçaspelo fato de eu estar aborrecidoquando na verdade não estou aborrecido.
Lúcia Estás me julgando malLúcio Não estou te julgando malLúcia Estás me julgando mal quando pensas
que me julgas mal.
Lúcio Desculpa-meLúcia NãoLúcio Nunca te desculparei por não me desculpares
Lúcia Tu me achas idiotaLúcio Não te acho idiotaLúcia Sou idiota quando acho que tu achas
que sou idiota quando na verdade não o achas:ou então estás mentindo.De qualquer forma sou uma idiota:quando acho que sou uma idiota, e sou uma idiotaquando acho que sou uma idiota, e não sou umaidiota quando acho que tu achas que sou uma idiotaquando na verdade não o achas.
Lúcia Sou ridículaLúcio Não, não és ridículaLúcia Sou ridícula por me achar ridícula quando
na verdade não o sou.Com certeza
estás rindo de mimpor achar que estás rindo de mim
quando na verdade não estás rindo de mim.
Até onde ser inteligente para ser idiota?Os outros disseram que ela era idiota. Então ela se fezde idiota para não ver até onde os outroseram idiotas por achar que ela era idiota,pois não ficava bem achar que eles eram idiotas.Ela preferiu ser idiota e boaa ser inteligente e má.
É mau ser idiota: ela tem que ser inteligentepara ser idiota e boa.E mau ser idiota, pois assim demonstrariaaté onde os outros foram idiotasquando lhe mostraram o quanto era idiota.
Me chateia o fato de que tenhas medode me chatear pelo fato de te interessares por mim.
Quando tentas me interessarnem calculas o quanto me chateias.
Tendo medo de chateartentas ser interessante não sendo interessadae só te interessas em não não seres chata.
Não estás Interessada por mim.Só estás interessada em que me interesse por ti.
Tu finges que te sentes chateadaporque eu não estou interessado
em que te amedrontesde que não me amedronte
de que não te interesses por mim.
Lúcio O teu erro é teres inveja de mimLúcia O teu erro é pensar que tenho inveja de ti
Lúcio Tu nunca reconheces as minhas qualidades.Nem suportas a idéia de reconhecê-las.
Lúcia É aí que estás errado. Não podes suportara idéia de que não possam me importar.
Lúcio Tu és tal qual a minha mãe.Lúcia Tu me tratas exatamente como a ela.Lúcio Pois é só não agires como ela.Lúcia Tu a odeias e por isso me tentas destruir.
Lúcio Não podes parar com as tuas projeções. Tué que és a frígida.
Lúcia Eu não o era quando te encontrei.
Lúcio Vê lá se não cospes em tua vagina paracuspir por tabela em meu pênis
Lúcia Quando desces a tal nível sinto que tudo está[perdido
Lúcio Já é um ponto de partida. Pela primeira vezadmites algum sentimento de inadequação.
Lúcia Espero que possamos pelo menos ser amigosLúcio Claro. Tenho sido sempre teu amigo.
Sou feliz porque és felizsou infeliz porque és infeliz
Lúcio é infeliz porque Lúcia é infelizLucia é infeliz porque Lúcio é infeliz
porque Lúcia é infeliz porque Lúcio é infelizporque Lúcia é infeliz
Lúcia se sente culpada de ser infelizse Lúcio é infeliz porque Lúcia é infeliz...
Lúcio se sente culpado porque Lúcia é infelizpois acha que deveria fazê-la feliz
Lúcia se sente culpadaporque Lúcio se sente culpado
porque Lúcia se sente culpadaporque Lúcio se sente culpado
Laços Ec) 2918 — 3
Ele não pode ser felizhavendo no mundo tanto sofrimento
Ela não pode ser feliznão sendo ele feliz
Ela deseja ser felizEle não se sente com direito a ser feliz
Ela quer vê-lo feliz Ele quer vê-la feliz
Ele se sente culpado se ele é felize sente-se culpado se ela não é feliz
Ela quer os dois felizes Ele quer ela feliz
Logo nenhum deles é feliz
Ele a acusa de ser uma egoístapor tentar fazê-lo feliza fim de que ela possa ser feliz
Ela o acusa de ser um egoístapor só pensar em si e mais ninguém
Ele acha que pensa em todo mundo
Ela acha que antes de tudo pensa neleporque é a ele que ela ama
Como poderia ela ser felizse o homem a quem ama é infeliz
Para ele é como se ela o chantageassequando o faz sentir-se assim culpadode ser ela infeliz porque é ele infeliz
Para ela é como se ele procurasse destruir o seu amorquando a acusa de ser egoístaestando o mal, na verdade, em não poderser ela egoísta o bastante para ser felizse o homem a quem ama é infeliz
Ela sente quealgo de errado deve haver com elapara amar alguém cruel a ponto dedestruir o amor que tem por elee sentir-se assim com culpa em demasia para ser felize não ser feliz por culpa de sentir a culpa
Ele se sente infeliz por ser culpadode ser feliz quando os outros não o sãoe por ter cometido o erro de casar-se com alguémque só pode pensar em ser feliz.
Agora ela começou a bebera beber para criar corageme cada vez é menor a sua coragem
quanto mais ela bebemaior o seu medo de ser escrava da bebida
quanto mais ela bebeumenor o seu medo de estar bêbada
maior o medo de estar bêbada quando não bebeumenor o medo quando já bebeumaior o medo quando não bebeu
quanto mais ela se auto-destróimaior o medo de que ele venha a destruí-Ia
quanto maior o medo de vir a destruí-lomais a si própria ela destrói
Lúcio Tu és um pé no sacoe para defender meu saco deste péque tu és, aperto as pernas e eu própriosou um pé no saco
tu és
Lúcia E a mim a cabeça me dói quando me esforçopor evitar que me faças doera cabeça.
Narciso enamorou-se da própria imagem ao tomá-lapela imagem de outro.
Lúcio está enamorado da imagem que Lúcia faz de Lúciotomando essa imagem pela própria.Lúcia não deve morrer para que Lúcioa si mesmo não se perda.Lúcio tem ciúmes de que a imagem de um outropossa refletir-se no espelho de Lúcia.
Lúcia é um espelho deformante de si própria.Lúcia precisa deformar-se como formade aparecer indeformada aos próprios olhos.
Para não se deformar ela quer que ele deforme a imagemdeformada de Lúcia no espelho deformado de LúcioEla espera que se ele deformar a sua deformaçãoela veja indeformada a sua imagemsem ter que ela mesma deformá-la.
Não consegui nunca aquilo que queria.Só tenho conseguido aquilo que não quero.Aquilo que eu quero
não consigo nunca.
Para conseguir, portanto, aquilo que eu queronão devo querer aquilo que eu quero
pois só consigo aquilo que não quero
só consigo aquilo que não queroaquilo que consigo é o que não quero
Não o consigoporque o quero
Só o consigoporque não o quero
Eu quero aquilo que não consigoporque
o que não consigo é o que quero
Eu não quero aquilo que consigoporque
o que consigo é aquilo que não quero
Não consigo nunca aquilo que eu queroNão quero nunca aquilo que consigo
Eu consigo aquilo que mereçoEu mereço aquilo que consigo
Eu o consegui,logo o mereço
Eu o mereçoporque o consegui
Tu não o conseguiste,logo não o mereces
Tu não o merecesporque não o conseguiste
Tu não o conseguisteporque não o mereces
Tu não o mereces,logo não o conseguiste.
Eu não tenho direito àquilo que tenhologo tudo o que tenho foi roubado.
Se eu consegui o que agora tenhoe se não tenho direito ao que tenho
devo tê-lo roubado certamente.
Eu não tenho direito àquilo que tenhoporque aquilo que tenho foi roubado.
Eu roubei aquilo que tenhologo não tenho direito aquilo que tenho.
Eu não tenho direito àquilo que tenhologo devo tê-lo roubado certamente.
Ou então alguém que tinha direito aquilo que tenhome deu por um grande favor aquilo que tenhoe assim é justo que eu deva agradecer por tudo o
[ que tenhoporque tudo aquilo que tenho
a mim me foi dado e não roubado por mim.
Laços positivos e laços negativos.
Negativo:Não posso vencer.
Tudo que faço é errado.Positivo:
Não posso perder.Tudo que faço é direito.
Eu o faço porque está direito.Está direito porque eu o faço.
QueroConsigoPortanto sou bom
QueroNão consigoPortanto sou mau
Sou mauporque não consegui
Sou mauporque quis o que não consegui
O que devo fazer é tentarconseguir o que queroquerer o que consigo
e não conseguir o que não quero
bom conseguir querer podermau não conseguir não querer não poder
consigo aquilo que queronão consigo aquilo que queroconsigo aquilo que não queronão consigo aquilo que não quero
de um modo geral não consigo aquilo que querologo
para conseguir aquilo que querofinjo que não quero aquilo que quero
sou mau porque quero aquilo que não consigonão tenho conseguido aquilo que quero
logo sou mau por querer aquilo que quero
se sou mau por querer aquilo que queronão serei menos mau por conseguir aquilo que quero
sou mau porque me acho mau emau porque me acho bom
pois é verdade que quanto mais má a gente émenos má a gente se acha
Algo de errado deve haver comigojá que não acho que algo de errado deve haver comigo
Tudo aquilo que a gente tema gente tem porque foi dado a gente
logo a gente tem direito a tertudo aquilo que a gente tem.
Quanto mais a gente temmelhor a gente é
pois quanto mais a gente temmais a gente foi recompensada
porque a gente é boa.Logo quanto mais muito mais eu faço
melhor muito melhor eu sou
quanto mais eu faço
mais eu tenho
quanto melhor eu sou
mais eu sou
Tudo o que tenho me foi dado e a mim pertence
Se tenho o que tenho é que decerto me foi dadoLogo o que tenho a mim pertence.
Não o tenhomas posso conseguir o que não tenhoe assim
já que me foi dada a capacidade de obtero que não tenho
que não tenho me pertence.
Não me pertencemas a mim foi dado e eu o tenhosou grato pois pelo que tenho ou
que a mim foi dado.
Ser grato contudo me irritapois se o que tenho me foi dado é que nem sempreme pertenceulogo se não me sinto grato
é que me não foi dadologo eternamente (passado, presente, futuro)me pertence.
[Se me pertence Moderatonão é parte de mim .....1
[Se não me pertencenão é parte de mim .....2
Se não é parte de mimnão me pertence ] .....3
Se é parte de mimme pertence ] .....4
Mas,se me pertence
não é parte de mim .....1
e se não é parte de mimnão me pertence .....3
Portanto,se,se não é parte de mim
não me pertence .....3
se,se não me pertence
não é parte de mim .....2
se,se me pertence
não é parte de mim .....1
assim sendo,se não é parte de mim
me pertence .....5
Laços Ec) 2918 — 4
Se não é parte de mim me pertence .....5 poco a poço
Se me pertence não é parte de mim .....1 accelerando
al fine
Se me pertence não é parte de mim .....1
Se não é parte de mimnão me pertence .....3
se não me pertencenão é parte de mim .....2
se não é parte de mimme pertence .....5
Se, se me pertence não é parte de mim .....1se não é parte de mim
não me pertence .....3logo,
Se me pertence não me pertence .....6Se, se me pertence não pertence .....6
se ( 1 2 3 4/ 1 3/ 3 2 1 5/ 5 1 1 3 2 5 1 3 )
então,se não me pertence
não é parte de mim .....2e se não é parte de mim
me pertence .....5se me pertence
não é parte de mim, .....1se, se não é parte de mim
não me pertence .....3se não é parte de mim
me pertence .....5então,
Se me pertenceé parte de mim .....7
se, se me pertenceé parte de mim .....7
se (1 2 3 4 1 3 3 2 1 5 5 1 1 3 2 5 1 3 6 6 2 5 1 3 5)se é parte de mim, me pertence .....4se me pertence não é parte de mim .....1
logo se não é parte de mim não me pertence .....3conseqüentemente,
Se não me pertence é parte de mim .....8Se não me pertence é parte de mim .....8se (1.....5 7 7 4 1 3)
se é parte de mimme pertence .....4se me pertence não me pertence .....6se não me pertence não é parte de mim .....2se não é parte de mim
me pertence .....5Então,
Se não me pertence me pertence .....9Se não me pertence me pertence .....9se (1.....3884625)se me pertence não me pertence .....6se não me pertencenão é parte de mim .....2se não é parte de mim me pertence .....5se me pertence é parte de mim .....7
Então, se é parte de mim não é parte de mim] .....10 (cf. uma alteração
en-armônica)
se não e parte de mim me pertence .....5se me pertence
é parte de mim .....7Se é parte de mim não me pertence .....11Se não me pertence
não é parte de mim .....2se não é parte de mim
me pertence
se me pertence não me pertencese não me pertence me pertence
se me pertence não é parte de mimse não é parte de mim não me pertence se não me pertence
é parte de mimse é parte de mim não me pertencese não me pertence não é parte de mim
logo, se não é parte de mim é parte de mimse não é parte de mim não me pertencese não me pertence não é parte de mimse não é parte de mim é parte de mimse é parte de mim
não me pertencese não me pertence
é parte de mimse é parte de mim me pertence
se me pertencenão é parte de mim
portanto, se não é parte de mimme pertence
se me pertence me pertence
se me pertence me pertencese me pertence não me pertencese não me pertence me pertencese me pertence me pertencese me pertence não me pertencese não me pertence
é parte de mimse é parte de mim me pertencese me pertence não é parte de mimse não é parte de mim é parte de mimse é parte de mim
não é parte de mimse não é parte de mimé parte de mim
se é parte de mim não é parte de mimse não é parte de mim se é parte de mimse é parte de mim se é parte de mimse é parte de mim se não é parte de mimse não é parte de mim se não é parte de mimé parte de mim se não é parte de mimse não é parte de mim é parte de mimse é parte de mim não é parte de mimse não é parte de mim é parte de mimse é parte de mimse não é parte de mimse é parte de mim
se não é parte de mimse é parte de mimse não é parte de mimse é parte de mimse não é parte de mim é parte de mimse não é parte de mim não é parte de mimnão é parte de mim se é parte de mimse é parte de mim é parte de mimé parte de mim se não é parte de mimse não é parte de mim não é parte de mimse não é parte de mim é parte de mimé parte de mim se é parte de mimse não é parte de mim não é parte de mimnão é parte de mim se não é parte de mimse é parte de mim é parte de mimse é parte de mim é parte de mimeu o souse é parte de mimse não é parte de mim, eu o sou, se não o sou,eu o sou, se eu o sou, não o sou
Ela deseja que ele a desejeEle deseja que ela o deseje
Para conseguir que ele a desejeela finge que o deseja
Para conseguir que ela o desejeele finge que a deseja
Lúcio desejao desejo de Lúcia por Lúcio Lúcia deseja
daí porque o desejo de Lúcio por LúciaLúcio diz a Lúcia daí porque
que Lúcio deseja Lúcia Lúcia diz a Lúcioque Lúcia deseja Lúcio
um contrato perfeito
Lúcia e Lúcio desejam ser desejados.
Lúcia deseja Lúcio porque ele deseja ser desejadoLúcio deseja Lúcia porque ela deseja ser desejada.
Lúcia deseja que Lúcio deseje*que Lúcia deseje
o desejo que Lúcio tem do desejo de Lúciapelo desejo de Lúcio pelo desejo de Lúcia pelo
desejo de Lúcio que Lúcia desejeque Lúcio deseje
que Lúcia desejeo desejo de Lúcio pelo desejo de Lúcia
pelo desejo que tem Lúcio de queLúcia deseje que Lúcio desej *
* repetir sine fine
Ela não consegue que ele dê a ela o que deseja deleela acha por isso que ele é mesquinho
Ela não consegue dar a ele o que dela ele desejaela acha por isso que ele é insaciável
Ele não consegue que ela dê a ele o que deseja delaele acha por isso que ela é mesquinha
eele não consegue dar a ela o que dele ela deseja
ele acha por isso que ela é insaciável
Lúcia acha que Lúcio é mesquinho e insaciávelLúcio acha que Lúcia é mesquinha e insaciávelquanto mais Lúcia acha que Lúcio é mesquinhotanto mais Lúcio acha que Lúcia é mesquinhaquanto mais Lúcia acha que Lúcio é insaciáveltanto mais Lúcio acha que Lúcia é insaciável
quanto mais mesquinho Lúcia acha Lúciotanto mais mesquinho Lúcia acha Lúcio
tanto mais insaciável Lúcio acha Lúciase Lúcio acha que Lúcia é insaciável
por Lúcia achar Lúcio mesquinhoLúcia acha que Lúcio é mesquinho
por Lúcio achar Lúcia insaciávelse Lúcio acha que Lúcia é mesquinha
por Lúcia achar Lúcio insaciávelLúcia acha que Lúcio é insaciável
por Lúcio achar Lúcia mesquinha
Lúcioacha Lúcia
mesquinha insaciável
porque porque
mesquinho insaciável
Lúcia achaLúcio
Lúcio acha que Lúcia
é
insaciável mesquinha
porque
Lúcia acha que Lúcio
é
insaciável mesquinho
Quanto maisLúcio acha Lúcia mesquinha por achar Lúcio insaciável
tanto maisLúcia acha Lúcio mesquinho
por achar Lúcia mesquinhapor Lúcia achar Lúcio insaciável
por Lúcio achar Lúcia mesquinha
Quanto mais Lúcia acha Lúcio mesquinhopor achar Lúcia mesquinha
por Lúcia achar Lúcio insaciávelpor Lúcio achar Lúcia mesquinha
tanto mais Lúcio acha Lúcia mesquinhapor Lúcia achar
Lúcio mesquinhopor Lúcio achar Lúcia mesquinhapor Lúcia achar Lúcio insaciávelpor Lúcio achar Lúcia mesquinha
por Lúcia não dar a Lúcio o que Lúcio deseja de Lúcia
Ele deseja dela que seja mais generosaem sua opinião sobre ele,
quer dizer, que não o ache mesquinhopor ele achá-la mesquinha
por ela achá-lo insaciávelpor ele achá-la mesquinha
por ela achá-lo mesquinhopor ele achá-la mesquinhapor ela achá-lo insaciávelpor ele achá-la mesquinha
Ela achaque ele está querendo demais (insaciável)quando espera que elanão ache que ele está querendo demais (insaciável)quando espera que elanão o ache nem mesquinho nem insaciável
quando acha que ela é mesquinhaquando acha que ele é insaciável
quando acha que ela é mesquinhaquando acha que ele é mesquinhoquando acha que ela é mesquinhaquando acha que ele é insaciávelquando acha que ela é insaciável
quando na verdade tudo o que ela quer dele é queele seja mais generoso em sua opinião sobre ela
quer dizer, que não a considere mesquinhapor ela considerá-lo mesquinhopor ele considerá-la insaciávelpor ela considerá-lo mesquinho
por ela considerá-la mesquinhapor ela considerá-lo mesquinhopor ele considerá-la insaciávelpor ela considerá-lo mesquinho
por ele desejar que seja mais generosa em sua opinião[sobre ele
quer dizer,
3Se eu não sei que não sei
penso que seiSe eu não sei que sei
penso que não sei
Há qualquer coisa que não seie que pelo visto deveria saber.
Eu não sei o que é isso que não seie que pelo visto deveria saber.
e me sinto como se fosse um idiotaquando dou mostras de não saber o que é isso
nem de não saber o que é que eu não sei.Finjo então saber o que não sei.
E assim fico com os nervos rebentadosjá que não sei o que devo fingir que estou sabendo.
Finjo então que de tudo estou sabendo.
Acho que sabes o que eu pelo visto deveria sabere contudo não me podes dizer do que se trataporque não sabes que eu não sei do que se trata.
É possível que saibas aquilo que não sei, mas que não saibasque não sei
e que não posso dizer-te que não sei.Terás portanto que dizer-me tudo.
Lúcio pode ver que está vendoaquilo que Lúcia não pode ver
e pode ver que Lúcia não pode ver queLúcia não pode ver aquilo
Lúcio pode ver que está vendoaquilo que Lúcia não pode ver
mas Lúcio não pode verque Lúcia não pode ver
que Lúcia não pode ver aquilo
Lúcio tenta levar Lúvia a verque Lúcio pode vero que Lúcia não pode ver
mas Lúcio não pode verque Lúcia não pode ver que Lúcia não pode ver aquilo
Lúcio vêque qualquer coisa há que Lúcia não pode ver
e Lúcio vêque Lúcia não pode ver que não pode ver aquilo
Embora Lúcio possa ver que Lúcia não pode ver que não[pode ver aquilo
ele não pode ver que também ele não o pode ver
Laços Ec) 2918 — 5
Lúcio pode ver1. que qualquer coisa há que Lúcia não pode ver2. e que ela pode ver que qualquer coisa há que ela não pode ver3. e que todavia ela não pode ver o que é que não pode ver
(Lúcio pode ver que)4. ela pode ver que Lúcio pode ver qualquer coisa
que ela pode ver que não pode vermas não pode ver o que é que não pode ver
Lúcio pensaque não sabe
que ele pensaque Lúcia pensaque ele não sabe
Mas Lúcia pensa que Lúcio sabe
Lúcia não sabe portantoque ela não sabe
que Lúcio não sabeque Lúcia pensaque Lúcio sabe
e Lúcio não sabe que ele não sabeque Lúcia não sabe que ela não sabeque Lúcio não sabe
que Lúcia pensa que Lúcio sabeque Lúcio pensa que ele não sabe
Lúcio não sabe que sabe e não sabeque Lúcia não sabe.
Lúcia não sabe que não sabee não sabe
que Lúcio não sabe que ele sabee que ele não sabe que Lúcia não sabe.
E assim tudo corre às maravilhas para os dois.
Lúcio pensa queo que ele sabe que Lúcia não sabe
é que não há coisa alguma por saberacerca daquilo que Lúcia procura saber,mas isto é a própria Lúcia que deve descobrir.
Lúcia pensa queLúcio sabe queLúcia pensa que Lúcia não sabe.
Lúcio não sabeque qualquer coisa há por saberque Lúcia pensa
que Lúcia não sabee que Lúcio sabe.
Daí, Lúcio convence Lúcia de que nada há por saber.
Lúciosabe que ele não sabe
e percebe que Lúcianão sabe que ela não sabe.
Quando diz a Lúcioo que Lúcio sabe que ele não sabe
Lúcia ajuda Lúcio a ajudar Lúciaa saber que ela sabeo que ela não sabe que ela sabe.
Mesmo assim Lúciaacha
que ela sabe que ela não sabee que Lúcio sabe
que ela sabe que ela não sabee que Lúcio sabe
o que Lúcia não sabe.
Lúcia achaque qualquer coisa há que ela sabeque ela não sabe que o sabe.
Ela acha que Lúcio não o sabeque Lúcio sabe que ele não o sabe.
Lúcia espera que por meio de LúcioLúcia venha a saberque ela sabeo que Lúcio sabe que ele não sabe —
mas só se Lúcio puder perceberque Lúcia sabeque Lúcio sabe que Lúcio não sabee que Lúcia não sabe que ela sabe.
Lúcio sabe que ele não sabeLúcia acha que ela sabe o que Lúcio não sabe, masela não sabe que ele não o sabe.Lúcio não sabe
que Lúcia não sabe que ele não sabe,e acha que ela sabe o que ele sabe que ele não sabe.
Lúcio crê em Lúcia.Lúcio não sabe agora que ele não sabe.Um final feliz.
Lúcio acha que Lúcio vê o que Lúcio não vê*e que Lúcia vê o que Lúcia não vê.
Lúcia crê em Lúcio.Agora ela acha que vê o que Lúcio acha que Lúcio vê
e que Lúcio também o vê.É provável que por ora os dois estejam totalmente errados.
• Existe aqui algo de ambíguo. Lúcio acha que está vendo miragens;estará ou não? Lúcio acha que não está vendo miragens.Estará ou não? Melhor examinar a coisa pelos dois lados.
Qualquer coisa há que Lúcio não vê.Lúcia acha que Lúcio não o vê.Lúcio acha que o vê e que Lúcia não o vê.E Lúcia por sua vez não vê o que
Lúcia acha que Lúcio vê.
Lúcio diz a Lúciao que Lúcio acha que Lúcia não vê.
Lúcia se apercebede que
se Lúcio achaque Lúcia não vê aquiloque Lúcia acha que vê,
Lúcio não vêo que Lúcia achava
que Lúcio via.
Lúcia achaque Lúcio acha
que algo existe que Lúcia não vê.
Lucio achaque Lúcia o vê
mas Lúcio não vêque Lúcia achaque Lúcio achaque Lúcia não vê.
Lúcia acha que não pode ver o que ela acha que Lúcio podever e que o próprio Lúcio acha que
Lúcia não o vê.
Lúcio vê que Lúcia vêque ela acha que ela não vê,
e que ela achaque ele acha
que ela não
Mas Lúcio não pode ver o que Lúcia não pode verrezão por que ela acha que ela não pode ver o queLúcio acha que ela pode ver,
e acha que ele acha que ela não pode.
Por exemplo:
Lúcia achaque Lúcio acha que Lúcia é idiota.
Lúcio não acha que Lúcia é idiota,mas não pode ver porque
Lúcia acha que Lúcio acha que Lúcia é idiotaquando Lúcio não acha.
Lúcia também não, só que para ela Lúcio está mentindo.
Lúcio vêque Lúcia não pode ver que Lúcia não pode ver
e queLúcia não pode ver
que Lúcio pode ver ever que ele vê
o que Lúcia não pode ver que ela não pode ver.Lúcio tenta levar Lúcia
a perceber que qualquer coisa deve haverque ela não pode ver que ela não pode ver.
Lúcia acha que Lúcia o vêe pode ver que Lúcio acha
que Lúcia acha que ela o vêmas que Lúcio acha
que Lúcia não pode ver que ela não pode ver.Lúcia acha
que Lúcio não pode ver que ele não pode vero que ele acha que pode ver
e que ele não pode ver (portanto)que ela vê o que ele acha que vê
mas não vê.
Lúcio acha que sabeLúcia acha que Lúcia não sabe Lúcio diz a Lúcia
o que Lúcio sabee sabe que sabee sabe que Lúcia não sabee sabe que Lúcia por vezes
acha que sabequando de fato não sabe.
As vezes Lúcio percebeque Lúcia idealiza Lúcioquando o acha onisciente (onipotente)e então ele lembra a Lúciaque é somente um ser humanoque não sabe de tudo nem tudo pode fazer.
Lúcio diz que Lúciaeleva Lúcioà onipotência para que ela mesma permaneça impotente
[para tornar Lúcioimpotente para torná-la potente paradestruir a potênciade Lúcio que Lúcia inveja...
Lúcia acha que Lúcio está errado.
Lúcio achaque ele não sabe o que (ele pode ver)
Lúcia acha que Lúcio sabe,e que Lúcia sabe
o que Lúcio pensa que Lúcio sabeque ele acha
que ele não sabe.
Lúcio diz a Lúcia:"Tu achas que eu o sei,
mas não o sei".Lúcia acha que ele sabe, porém se recusa a dizer-lhe
[o que sabe.
Lúcio sabe que não sabemas não sabe que Lúcia não sabe
que ela não sabe que ele sabe que ele não sabe.
Lúcio acha que
Lúcio sabe que Lúcio não sabe
sabe que Lúcia sabe
sabe que Lúcia sabe que ela sabe
sabe que Lúcia acha que Lúcio sabe
sabe que Lúcia acha
que Lúcio não sabe que Lúcio sabe
é que Lúcia percebe que é isso o que ele achamas que ela acha que ele está em erro.
Lúcio está vendo que Lúcia não sabeque Lúcio não sabe o queLúcia achaque Lúcio sabe.
Mas Lúcio não pode verporque Lúcia não sabeque Lúcio não sabeo que Lúcia achaque ele sabe.
Lúcio descobre que sabeque Lúcia não sabe
que Lúcio sabeque ele não sabe
o que ela achaque ele sabe
sem que seja contudo o que ela acha que ele sabe.
Lúcio percebe ainda que a própria Lúcia sabe o que Lúciaacha que Lúcio sabe, sem que Lúcia percebaque ela não sabe.
Lúcio está vendo queLúcia sabe
o que Lúcia achaque Lúcio sabe
e que Lúcia não sabeque ela sabee Lúcio sabe que ele não sabe.
Lúcio não pode dizer a Lúciado que se trata
pois embora ele possa ver que Lúcia sabe do que se trataele próprio não sabe do que se trata.
Lúcia não sabeque Lúcio não sabe o que x vem a ser
e que tudo o que Lúcio lhe pode dizeré que algo há, ele não sabe o quê,
algo há que ele não sabe.
Algo há que Lúcio não pode ver.Ele sabe que algo há que não pode vermas não sabe o que é que não pode ver.E contudo Lúcio pode ver que Lúcia pode ver
que algo há que Lúcio não pode ver.
Lúcio não sabeo que é que não sabe
mas Lúcio achaque Lúcia sabe seja o que for desse algo que ele não
[sabe.
Laços Ec) 2918 — 6 81
Lúcio não pode dizer a Lúcia o que éque ele quer que Lúcia lhe diga.Lúcia por sua vez não pode dizê-lopois embora Lúcia saiba o que x vem a serLúcia não sabe
que Lúcio não sabe o que x vem a ser.
Lúcio pode verque Lúcia sabe que elepercebe que elanão sabe que ela sabe o que x vem a ser.Lúcia só pode descobrir que ela o sabese perceber que Lúcio não o sabe.
Lúcia contudonão pode ver o que é
que Lúcio não sabe.Se o visse teria satisfação em dizê-lo.
Lúcio pode ver que está a vero que ele pode ver que Lúcia não pode ver
e que ele pode verque Lúcia não pode ver que ela não pode ver
mas ele não pode ver PORQUELúcia não pode ver que Lúcia não pode ver.
Lúciapode ver que Lúcio não a compreende
e pode ver que ele não pode ver que não a compreende:e pode ver
que ele não pode ver que ele não pode verque ela vê que ele não pode ver que ele não pode ver.
Por que Lúcia continua então a sentir-se perplexa?Lúcia não pode compreender porque ele não pode verque ela vê que ele não pode ver que ele não compreende.
Lúcia pode ver que Lúcio não pode vere que pode ver que ele não pode ver.
Lúcia pode ver PORQUELúcio não pode ver
mas Lúcia não pode ver PORQUELúcio não pode ver que ele não pode ver.
Lúcio "vê" que Lúcia está cegae que Lúcia não pode ver que está cega.
Lúcio percebe que tanto ele quanto Lúcia estão cegos.E quando um cego tem de guiar outro cegopouco importa que o guia saiba que é cego.
Lúcio não pode ver que ele não pode vere não pode ver
que Lúcia não pode ver que Lúcia não pode ver.E vice-versa.
4Lúcio tem medo de Lúcia Lúcia tem medo de Lúcio
Lúcio tem mais medo de Lúcia Lúcia tem mais medo de Lúcioquando Lúcio acha quando Lúcia achaque Lúcia acha que Lúcio acha
que Lúcio tem medo de Lúcia que Lúcia tem medo de Lúcio
E já que Lúcio tem medode que Lúcia possa achar
que Lúcio tem medo delaLúcio passa a simular
que Lúcio não tem medo de Lúciapara que Lúcia tenha mais medo de Lúcio
e já que Lúcia tem medode que Lúcia possa achar
que Lúcia tem medo deleLúcia passa a simular
que Lúcia não tem medo de Lúcio
AssimLúcio tenta fazer com que Lúcia o tema ao ver
que Lúcio não a temee Lúcia procura fazer com que Lúcio a tema
ao ver que Lúcio não o teme
Quanto mais Lúcio tem medo de Lúciatanto mais Lúcio tem medo
de que Lúcia possa acharque Lúcio tem medo de Lúcia
Quanto mais Lúcia tem medo de Lúciotanto mais Lúcia tem medo
de que Lúcio possa acharque Lúcia tem medo de Lúcio
quanto mais Lúcio tem medo de Lúciatanto maior é o medo de Lúcio
de não ter medo de Lúciapois é muito perigoso deixar de ter medoquando se tem pela frente alguém tão perigoso
Lúcio tem medo porque Lúcia é perigosaLúcia parece perigosa porque Lúcio tem medo
quanto mais Lúcia tem medo de Lúciotanto maior é o medo de Lúcia
de não ter medo de Lúcio
Quanto mais Lúcio tem medo de não ter medomais medo ele tem de parecer que tem medo
quanto mais Lúcia tem medode não ter medo
maior é o medo de Lúcia
de parecer que tem medo
quanto maior é o medo de ambosmenor a aparência do medo de ambos
Lúcio tem medode não ter medo de Lúcia
e de parecer que tem medo de Lúciae de que Lúcia não tenha medo de Lúcio
Lúcia tem medode não ter medo de Lúcio
e de aparentar ter medo de Lúcioe de que Lúcio não tenha medo de Lúcia
Lúcio procura portanto criar medo em Lúciaaparentando ele mesmo sem medo
de que Lúcia pareça sem medo
e Lúcia procura criar medo em Lúcioaparentando ela mesma sem medo
de que Lúcio pareça sem medo
Quanto mais Lúcio aparenta sem medomais medo ele tem
de não ter medode parecer que tem medode que Lúcia não tenha medo
Quanto mais Lúcia aparenta sem medomais medo ela tem
de não ter medode parecer que tem medode que Lúcio não tenha medo
Quanto é assim que se dámais Lúcio amedronta Lúciapor parecer que não se amedronta
e mais Lúcia amedronta Lúciopor parecer que não se amedronta
Chegarão ambos a ter medode ter medo e criar medo
ao invés de ter medode não ter medoe de não criar medo?
Poderão Lúcio e Lúciano pavor de que nem um nem o outro estejam
[apavoradoschegar ao ponto de
apavorar-se por tanto um como o outro estarem[apavorados,
e, alguma vez, nãoapavorar-se por tanto um como o outro não
[estarem apavorados?
5Tudo em tudoCada homem em todos os homenstodos os homens em cada homem
Todos os seres em cada serCada ser em todos os seres
Todos em cada umCada um em todos
Toda distinção é mente, pela frente, na mente, da menteSem distinção não há mente para distinguir
A gente está dentrologo a gente está fora daquele dentro onde a gente esteveA gente se sente vaziaporque não há nada dentro da genteA gente trata de pôr dentro da gente
aquele dentro do foradentro do qual a gente já estevequando a gente trata de por a gentedentro daquilo de que a gente está fora:para devorar e ser devorado
para pôr o fora dentro e para estardentro do fora
Mas é pouco ainda. A gente trata de chegarao dentro daquele fora do qual a gente está dentro echegar ao dentro do fora. Mas a gente não chegadentro do fora pondo o fora pra dentropois —embora a gente esteja toda dentro do dentro do foraa gente está fora do próprio dentro da gentequando a gente entra no foraa gente permanece vazia porqueenquanto a gente está dentromesmo o dentro do fora está forae ainda não há nada dentro da genteNunca houve nada dentro da gentee nunca haverá nada dentro da gente
Estou fazendoaquilo que estou fazendoé o eu que está fazendoaquilo que o eu está fazendoé aquilo que estou fazendoo eu está fazendo que eu esteja fazendoestou sendo feito pelo que estou fazendofazendo-o
A gente tem medodo eu que tem medodo eu que tem medodo eu que tem medoA gente pode falar talvez de reflexos
Embora seres inumeráveis tenham sido levados ao Nirvanaser nenhum foi levado ao Nirvana
Antes de atravessar a porta a gente podenão estar consciente de que tem lá uma portaA gente pode pensar que tem lá uma porta por atravessare procurar a porta durante muito temposem a porta acharA gente pode achar a portae não abrir-se a portaSe ela se abre a gente pode atravessara porta e ao atravessar a portaa gente vê que a porta atravessadafoi pelo eu que foi atravessadaninguém atravessou a portanão havia porta para ser atravessadaninguém jamais encontrou uma portaninguém jamais percebeu que jamais houve porta
Dizem aqueles que sabem o que se disse dos dharmasque como numa jangadadeveriam ser largados os dharmas e como elestambém os não-dharmas
Quando escutam dizer que os dharmase além deles ainda os não-dharmasdeveriam ser largadosalguns acham que não há portaé isto o que eles achamnão há como saber se há porta excetoatravessando a porta
um dedo indica a lua
Coloque-se a expressãoum dedo indica a lua entre parênteses(um dedo indica a lua)
A afirmação:"Um dedo indica a lua está entre parênteses"
é uma tentativa de dizer que tudo o que está entre parênteses( )
está para aquilo que não está entre parênteses,como um dedo para a lua
Coloque-se toda possível expressão entre parênteses,Coloque-se toda possível forma entre parêntesese coloque-se também os parênteses dentro de parênteses
Toda-expressão-e-toda-formaestá para o desprovido-de-expressão-e-formacomo um dedo para a luatoda-expressão-e-toda-formaIndica o desprovido-de-expressão-e-forma
a proposição"Toda forma indica o desprovido-de-forma"
é em si uma proposição formal
Não —o dedo está para a luacomo a forma está para a não forma
e simo dedo está para a luacomo
qualquer possível expressão, forma,proposição, inclusive esta, feitaou por fazer, inclusive parênteses,inclusive colchetes
está para
Ah que dedo mais engraçadinhodeixe-me chupá-lo
Ah mas não é nada engraçadinhotire esse dedo daqui
A afirmação indica o nada O dedo diz o nada