Quem é Filho de Gérson Não Deve Temer a Ninguém
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5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m
1/
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARDEPARTAMENTO DE CINCIAS SOCIAIS
PROGRAMA DE PS-GRADUAOMESTRADO EM SOCIOLOGIA
DISSERTAO
Quem f!"# $e G%' '(# $e)e *eme% + '',um. - T%+/e*0%+ $e um+ m(e-
$+-&+'*# '+ Um1+'$+2
3+'$' Fe%%e%+ $+ S!)+
F#%*+!e4+
Se*em1%# $e 5667
-
5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m
2/
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARDEPARTAMENTO DE CINCIAS SOCIAIS
PROGRAMA DE PS-GRADUAOMESTRADO EM SOCIOLOGIA
DISSERTAO
Quem f!"# $e G%' '(# $e)e *eme% + '',um. - T%+/e*0%+ $e um+ m(e-$+-&+'*# '+ Um1+'$+2
3+'$' Fe%%e%+ $+ S!)+
Dissertao submetida Coordenaodo Curso de Ps-Graduao emSociologia, como exigncia parcial
para a obteno do grau de Mestre emSociologia
!rea de concentrao" Sociologia
#rientador" Pro$ Dr %smael Pordeus &r
F#%*+!e4+
Se*em1%# $e 56672
-
5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARDEPARTAMENTO DE CINCIAS SOCIAIS
PROGRAMA DE PS-GRADUAOMESTRADO EM SOCIOLOGIA
DISSERTAO
Quem f!"# $e G%' '(# $e)e *eme% + '',um. - T%+/e*0%+ $e um+ m(e-$+-&+'*# '+ Um1+'$+2
3+'$' Fe%%e%+ $+ S!)+
'sta dissertao $oi (ulgada, em sua$orma $inal, por banca examinadoracomposta pelos seguintes membros"
))))))))))))))))))))))))))))))))
Dr Gilmar de Car*al+o
))))))))))))))))))))))))))))))))
Dr Crmen .u/sa C+a*es
))))))))))))))))))))))))))))))))
Dr 0nt1nio 2elington de#li*eira &3nior
F#%*+!e4+
Se*em1%# $e 56672
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Lecturis Salutem
4ic+a Catalogr$ica elaborada por5elma 6egina 0breu Camboim 7 8ibliotecria 7 C68-9:;umanas 7 ?4C
S;@A Sil*a , &andson 4erreira daBuem $il+o de Grson no de*e temer a ningumEF manuscritoH 7tra(etria de uma me-da-santo na umbanda : por &andson 4erreira da Sil*a7 IJJ
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5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m
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Dedico este trabal+o a Dona Das Dores -
mul+er de $ibra e 3nica criatura encarnada
Aue meus lbios c+amaram *erdadeiramente
de m(e- por me sempre apoiar nas +oras em
Aue mais precisei
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5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m
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Dorme menino
Que l vem Mame Tut
L no mato tem um bicho
Chamado carrapat
Cano de ninarN
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AGRADECIMENTOS
0 meus pais #molu e ndio da Solido, por me acompan+arem aonde Auer Aue
eu *
0 #xum e Seu Grson, por abrirem sua casa e a *ida de sua $il+a para mim
0 min+a me %ans e a Seu Preto Qel+o da Mata escura, por $aOerem de sua casa,
meu lar e porto seguro
0 Me QalZ/ria, por ter sido min+a musa inspiradora por durante Auase trs anos
0 meu orientador e padrin+o Pro$ %smael Pordeus, pelo inestim*el esmero e
pacincia com os Auais tratou a produo desse trabal+o
0os pro$essores da banca Aue to gentilmente aceitaram o con*ite
0os meus colegas irmos - &uliana, &uliano, >erbert e Monalisa - pelas
indispens*eis e preciosas interlocu[es cotidianas
0 meu Pai Qaldo e todos meus irmos-de-santo, por terem se tornado min+a
$am/lia e min+a re$erncia no mundo
0o Programa de 'ducao 5utorial, pelas sementes plantadas em meu tra(eto
acadmico Aue re*erberam at +o(e
'n$im, a cada orix e encantado, por tornarem a *ida nesse mundo maluco um
pouco mais colorida
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RESUMO
0 religio, como $orma de con+ecer e organiOar as coisas do mundo, surgiu nacondio de Auesto para a 0ntropologia e tem acompan+ado seus desen*ol*imento desdeseus primrdios como cincia 5omado como $ato social total, a anlise do campo religioso
possibilita *islumbrar as mais *ariadas es$eras da *ida social, tais como" economia, pol/tica,esttica, rela[es de parentesco
Propon+o aAui um estudo de caso de um terreiro de ?mbanda localiOado no bairrodo Pirambu, em 4ortaleOa 0 partir das narrati*as - rituais e pessoais - acompan+o as gera[es
de um grupo Aue no permanece o mesmo ao longo do tempo6itualisticamente, alguns elementos entramL outros ( sem usoN saemL outros
ainda so ressigni$icados, porm sem uma mudana radical da estrutura de culto 0dmitindo-se Aue toda religio um rearran(o de crenas preexistentes, a ?mbanda somente se utiliOadestas interritualidades para rea$irmar sua condio desde o surgimento" uma religio $lex/*ele em constante construo
Pala*ras-C+a*e" ?mbanda - Memria Coleti*a - Per$ormance
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A8STRACT
5+e religion, liZe a $orm o$ 5o Zno\ about and to organiOe t+e t+ings o$ t+e\orld, appeared as Auestion $or t+e 0nt+ropolog] and it +as $olloied its de*elopment sinceits beginning as science .iZe a $act social total, t+e anal]sis o$ t+e religious $ield maZes
possible to glimpse t+e most *aried sp+eres o$ t+e social li$e, suc+ as" econom], politics,
aest+etic, blood relations^% consider +ere a stud] o$ case o$ a place o$ $etic+ism o$ ?mbanda located in t+e
Auarter o$ t+e Pirambu, 4ortaleOa 4rom t+e narrati*es - ritual and personal - %_*e $olloied t+egenerations o$ a group t+at does not remain t+e same t+roug+out t+e time
Some elements enterL ot+ers alread] \it+out useN lea*eL ot+ers still areremeaning, +o\e*er \it+out a radical c+ange o$ t+e cult structure 0dmitting itsel$ t+at allreligion is a rearrangement o$ preexisting belie$s, t+e ?mbanda is onl] used o$ t+eseinterrituals to rea$$irm its condition since t+e sprouting" a $lexible religion and in constantconstruction
Re] 2ords" ?mbanda - Collecti*e Memor] -Per$ormance
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SUMRIO
K %T56#D?`#^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^ KI
KK M'? 860S%., 860S%.'%6#^^^^^^^^^^^^^^^^^ KV
KI Q#U ' C#6P# T0 P'64#6M0TC' #60.K@
I P'6C?6S#S^^^^^^^^^^^^^^^^^^^ ^IK
IK T0SC' ?M0 M'-D'-S0T5#II
II M0D6%T>0 8009K
I9 C0M8#T' S6G%#9V
IV M' D?.C' D# #G?M9Y
9 T06605%Q0S 6%5?0%S" 0 80%0;J
9K S?6G%M'T5# D0 ?M80TD0^^^^^^^^^^^^^^^^;J
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LISTA DE ILUSTRA9ES
FIGURA I - Consagrao de me-de-santo no terreiro de Pai .uis da Serrin+a -Pg IY
FIGURA II - 6ela[es de troca no terreiro de ?mbanda 8%6M0T, K
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KI
: INTRODUO
uando nasci, meu mundo era catlicoE 5al catolicismo no se resumia apenas s
missas dominicais, batiOados e enterros, para alm do e*entual, esta*a presente em todo meu
cotidiano e no de meus pares de $orma recorrente 0credito Aue tal Auadro no destoasse
muito da *ida na maior parte dos lares brasileiros Desta mesma $orma, durante min+a
in$ncia e boa parte da adolescncia, tempo, espao, durao, tica, corpo, esttica, en$im,
todo conceito utiliOado para me orientar no mundo esta*a alicerado num plano comum de
catolicismo
'ra a 4ortaleOa dos anos @J, suas ruas abriga*am di*ersas $ormas de religio Aue,
durante muito tempo, me soaram estran+as To Aue ignorasse por completo a existncia
delas, mas ainda no +a*ia espao em min+a *ida para gerar interesse ou $ala sobre elas Se o
assunto surgia em con*ersas $amiliares, era algo e*entual e o tom do discurso logo ser*ia para
demarcar bem os limites entre o Ts-estabelecidos e o 'les-out!ider!"
0 certeOa desse mundo un/*oco se mantm at um primeiro encontro com a
alteridade 4alo aAui de um encontro-acontecimento, onde esse #utro intima ser ou*ido, ser
*isto, ser percebido na condio prpria de di$erena Auando me percebo re$m desse
encontro e me recon+eo como di$erena tambm To tendo o con$orto do desdm pela
no*idade ou mesmo de recogniciOar a no*a experincia por meio dos *el+os re$erenciais, pois
no + mais, no nomo! $ormado, amparo imediato para tal ang3stia, apenas material a ser
Auestionado
0inda no campo da religio, tal encontro se deu comigo por ocasio de uma
pesAuisa de campo para uma disciplina de min+a graduao, Psicologia 'ra primeira *eO Aue
entra*a num terreiro de ?mbanda" o batuAue, as pessoas, os mo*imentos dos corpos, as
*oOes, as cores 5udo era estran+o para mim, muito apraO/*el, de*o con$essar Porm, o mais
positi*o Aue aAuilo tudo poderia adicionar em meus *alores, era a categoria do extico ual
no $oi meu espanto ao escutar, de uma sen+ora ao meu lado, no meio da sesso, um canto
Aue diOia" #l+a o tombo da (angada nas ondas do marE : uem Auer *er Me 5ut3
trabal+arf, tempo depois, $iAuei sabendo Aue a sen+ora por mim apreciada esta*a
incorporada com uma Bpreta-*el+aF de nome Me-5ut3, Aue canta*a seupontopela boca de
seu aparelho
K Mais sobre os conceitos de 'stabelecidos e out!ider!em 'lias IJJJN
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K9
.ogo Aue ou*i, lembrei da cano de ninarIAue min+a a* cantou, noites e mais
noites, a me embalar, durante boa parte de min+a in$ncia TaAuela poca, *o* ( no era
*i*a e, pelo Aue sabia, nunca te*e ligao com ?mbanda Ta *erdade, no sei se pelo menos
imagina*a Aue os *ersos com os Auais me nina*a s noites $ala*am de uma preta-*el+a 'u
mesmo ( no lembra*a essa cano at a experincia no terreiro
De modo Aue oponto cantadoda Me-5ut3 te*e aos meus ou*idos, o *alor do
instante em Aue a Madalena embebida em c+ toca os lbios do protagonista dem Bu!ca do
Tempo #erdido Da mesma $orma Aue este, a m3sica me arrastou por um $luxo desen$reado de
memrias recalcadas, Aue *oltaram plenas de sabores e sentidos no*os .embrei das +istrias
de engen+o Aue min+a a* conta*aL da migrao de min+a $am/lia de 8arbal+a a 4ortaleOaL de
min+a me e meus tios trabal+ando como artesos na peri$eria das $bricas de redes, das *eOes
em Aue min+a me me le*ou criana para ser reOado como $orma de a$astar alguma maOela da
carne ', pela primeira *eO, me dei conta do Auanto de negritude existia nos interst/cios
daAueles tra(es brancos dos Auais min+a $am/lia decidiu se tra*estir, $iados a partir do mais
puro catolicismo europeu, carregado de todos os seus *alores $inalmente, Auando encontro
o $amiliar no estran+o, Aue me percebo de todas as estran+eOas Aue +abitam as $restas do
$amiliar
desse Auadro con$uso de a$etos Aue nasce o dese(o de $aOer essa pesAuisa #
texto dissertati*o Aue aAui apresento, trata-se de um estudo de caso dentro do campo da
0ntropologia da 6eligio PesAuisei durante os anos de IJJY e IJJ< a *ida de D QalZ/ria,
uma me-de-santo de ?mbanda cu(o terreiro $ica localiOado no bairro Piramb3, em 4ortaleOa
0 +istria de *ida desta sen+ora me c+amou ateno por ser plena de rupturas e
mudanas bastante peculiares no camin+o Aue percorreu at c+egar idade adulta e adAuirir o
cargo de me-de-santo na religio ?mbanda natural do estado do 0cre, de apuri, $il+a depai (udeu e mdico e me pro$essora, donos de lati$3ndios 0inda mocin+a, casa-se com um
auditor $iscal $ederal e por conta do trabal+o do marido, *ia(a a Manaus e da/ a 4ortaleOa,
onde *em a $icar *i3*a, nem bem entrou na casa dos *inte
Testa poca l+e *m as primeiras mani$esta[es de uma doena cu(o diagnstico a
medicina cearense no *ai conseguir $ormaliOar" ausncias, desmaios, ataAues epilpticos ',
buscando cura para suas maOelas, orientada por amigos da $am/lia a procurar um pai-de-
santo de ?mbanda, cu(a $ama ( se espal+a*a pelas camadas mais abastadas da sociedadealencarina, con+ecido como .uis da Serrin+a ?ma *eO no terreiro de Sr .uis, a (o*em *i3*a,
I Cu(os *ersos $oram de*idamente registrados na ep/gra$e da presente dissertao
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KV
catlica, branca, $il+a de classe abastada, troca o preto do luto $ec+ado pelo branco da $arda de
mdium desen*ol*ente de ?mbanda e d in/cio sua (ornada para tornar-se me-de-santo
0nos mais tarde troca as ruas da 0ldeota, bairro nobre da cidade, por um peAueno beco
prximo uma col1nia de pescadores, onde $unda seu primeiro centro ati*o at +o(eN 'm
pouco tempo, torna-se uma pessoa de re$erncia comunidade do entorno 8ranca, *inda de
outro estado, $il+a da camada alta da sociedade acreana, de $ormao catlica, instru/da no
ensino $ormal %sso para citar alguns, entre uma srie de predicados Aue Auebram o esteretipo
mais di$undido sobre o Aue se(a uma me-de-santo de ?mbanda, moradora de um bairro de
peri$eria 0lm do mais, trata-se de uma sen+ora de @J anos, Aue abriu casa nos $inais da
dcada de ;J, portanto, retrato *i*o de uma poca em Aue as casas de ?mbanda comeam a
gan+ar *isibilidade por ocasio da $undao das primeiras $edera[es Dentre elas, a mais
con+ecida at +o(e a ?'C?M ?nio 'sp/rita Cearense de ?mbandaN, $undada em K
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K;
me trariam respostas bem interessantes Poderia concluir, por exemplo, Aue entre 8rasil, na
condio de pa/s subdesen*ol*ido, e 'stados ?nidos, + um enorme abismo a ser superado
se Auisermos estabelecer condi[es igualitrias de concorrncia nos mercados
internacionais
Poderia tambm, dissertar sobre a precariedade da educao, sa3de e da
Aualidade de *ida do cidado brasileiro em geral 'ntretanto, seria bem pro**el, Aue pouco
apreciasse dos *etores Aue $aOem da sociedade brasileira 3nica, singular, ou se(a, o Aue,
mesmo partil+ando $ormas comuns de dominao pol/tico-econ1mica com outras reas
subdesen*ol*idas - ou Bem desen*ol*imentoF, como Aueiram - $aO com Aue o 8rasil se
di$erencie entre as demaisf
'nsaiando mais uma deci$rao poss/*el da sociedade brasileira, DaMatta toca
nesse ponto ao conceituar o Aue c+ama de plano de elabora.o interna do !i!tema* Aue de
acordo com ele a BOona onde se processam as escol+as Aue iro determinar o curso da ao
aps o recebimento do est/mulo se(a do passado, se(a do presenteN e antes de se ter uma
respostaF D0M0550, K
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KX
# cap/tulo intitulado Pe%;u%& dedicado anlise das primeiras 5rago a
compilao das entre*istas e con*ersas in$ormais Aue ti*e com Me QalZ/ria e com algumas
pessoas Aue acompan+aram sua tra(etria 0s in$orma[es Aue seguem constituem relatos
sobre a +istria pessoal de cada entre*istado, com n$ase nos camin+os Aue l+es le*aram a
entrar em contato com a ?mbanda e, posteriormente, se iniciar # texto segue em primeira
pessoa, pois a prpria me-de-santo Auem narra, (untamente com seus pares 0tre*o-me a
uma peAuena inter$erncia num momento ou em outro Auando $or necessrio a um mel+or
esclarecimento da +istria para $ins de meu trabal+o
Sobre a categoria de lembranas Aue trato nesse cap/tulo, escre*e >alb\ac+s"
5---8 no!!a! lembran.a! permanecem coletiva!* e ela! no! !o lembrada! pelo!outro!* me!mo (ue !e trate de acontecimento! no! (uai! !2 n2! e!tivemo!envolvido!* e com ob%eto! (ue !2 n2! vimo!- @ por (ue em realidade* nunca e!tamo!!2!9- No 1 nece!!rio (ue outro! homen! e!te%am l* (ue* (ue !e di!tin)ammaterialmente de n2! por(ue temo! !empre cono!co e em n2! uma (uantidade depe!!oa! (ue no !e con&undem 5"* p- ?8-
0 principal tese de$endida na obra de >alb\ac+s ibidemN a de Aue + um
alicerce coleti*o sub(acente a toda lembrana indi*idual, Aue ele *ai c+amar de mem2ria
coletiva 'sta, por sua *eO, constru/da a partir de Auadros sociais reais, cada memria
estando sempre re$erida a um grupo espec/$ico, limitado no tempo e no espao
# processo de indi*idualiOao da memria, ou se(a, sua Btrans$ormaoF de
coleti*a em indi*idual d-se mediado por uma $aculdade c+amada por >alb\ac+s intui.o
!en!4vel, B+a*eria ento, na base de toda lembrana, o c+amado a um estado de conscincia
puramente indi*idual Aue - para distingui-lo das percep[es onde entram elementos do
pensamento social - admitiremos Aue se c+ame intuio sens/*elF ibdem, p 9YNV
Portanto, por *ia da intuio sens/*el Aue se cria nas conscincias dos su(eitos
a iluso de uma memria estritamente indi*idual Aue, na *erdade, consiste apenas no re$lexodas posi[es dos destes dentro dos grupos aos Auais essas memrias esto re$eridas
Desta $orma, as narrati*as aAui descritas so guiadas por estas lembranas
indi*iduas Aue, por sua *eO, so pontos de *istas sobre a memria coleti*a, constru/das a
partir das re$erncias e experincias prprias do grupo Da mesma $orma Aue lanam luO
sobre certos aspectos, outros acabam sendo obscurecidos em conseAncia, mantendo-se
assim, a relao conte3do:continente entre memria indi*idual e coleti*a, respecti*amente,
propostos por >alb\ac+s # Aue explica alguns desencontros e contradi[es entre os relatos
9 Gri$o meuV Gri$o do autor
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KY
Auando se re$erem a tal ou Aual $ato da tra(etria do terreiro
Tesses termos, tais narrati*as me a(udaram a compreender a $ormao do
terreiro -Casa Mame #xum, do grupo de iniciados Aue preenc+e a instituio e do corpo
ritual/stico Aue tem se processado no terreiro desde sua $undao ', alm da $ormao,
ser*em para salientar tambm as mudanas e permanncias Aue estes construtos so$reram ao
longo de sua +istria
# cap/tulo seguinte traO a segunda categoria de narrati*as e aparece intitulado
como N+%%+*)+& R*u+&< +Baia Tele tomo como exemplo a descrio de uma)ira, ritual
p3blico realiOado no terreiro de Me-QalZ/ria, como $orma de dar *isibilidade ao con(unto
de rela[es Aue se estabelecem naAuele grupo
6itual, aAui entendido como conduta $ormal Aue se passa num tempo separado
do tempo do dia-a-dia, ou se(a, trata-se de um e*ento extraordinrio Contudo, distingue-se
de acontecimentos identi$icados como as Bcatstro$esB, BmilagresF ou Bgolpes do destinoF,
pelo seu carter prescrito Signi$ica diOer Aue, embora ocorra num tempo parte, tem data,
durao e $reAncias de$inidas no calendrio do grupo ', sua relao com o tempo
cronolgico, a de demarcar seus limites e $ronteiras, os retornos e as mudanas de tempo
Qan Gennep K
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19
K@
do trabal+o na $orma ritual Aue a sociedade encontra a resoluo de certos problemas
coleti*os, per$ormatiOando-os e dando rele*o Auilo Aue mais *ale pena re$orar, para ser
lembrado e aprendido ', por conseAuncia, anulando aAuilo Aue se Auer esAuecer e Aue
insiste em no ser esAuecido pelos meios comuns ao tempo cronolgico
, portanto, uma $erramenta constru/da pela sociedade e para a sociedade, como
$orma de espel+ar *rias das rela[es Aue a constituem, dando a possibilidade de regr-las
atra*s da dramatiOao D0M0550, op citN
Testa perspecti*a, o s/mbolo ritual se con*erte num $ator de ao social, uma
$ora positi*a dentro de um campo de ati*idade 5?6T'6, opcit, IJJ;N Per$ormance
entendida sobretudo como um ato social de comunicao, ou se(a, a interao entre duas
instncias" um emissor aAuele Aue produO o enunciadoN e um receptor aAuele a Auem o
enunciado se destinaN 0inda, comp[e-se de uma mensagem o prprio enunciado, suas
signi$ica[es ou o e$eito Aue ele produON, um *etor o *e/culo material utiliOadoN
0lm destes, ainda se $aO necessrio atender a certas condi[es para Aue a
comunicao se(a poss/*el 5al*eO a mais basal delas se(a a de Aue existam certas normas
codi$icadas Aue este(am partil+adas pelos termos en*ol*idos no processo, segundo Uumt+or
Bao e dupla" emisso-recepoN, a per$ormance p[e em presena atores emissor,
receptor, 3nico ou *rios e, em (ogo, meios *oO, gesto, mediaoNF K
-
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K?* p- "K8-
Seguindo a lin+a de pensamento do Aue ( $oi explanado, tentarei explicitar as
$ormas como o corpo do iniciado d suporte per$ormance ritual, produOindo enunciados
atra*s de gestos, ol+ares, danas e posturas Ta parte em Aue trato do ritual de
de!envolvimento* abordarei as tcnicas utiliOadas na produo do corpo do transe e da
incorporao
Darei continuidade min+a anlise sobre as N+%%+*)+& R*u+&, desta *eO,
$alando sobre o panteo umbandista e sua +ierarAuia e dedicando o pen3ltimo cap/tulo de
meu trabal+o a isto 0presento uma construo Aue $iO a partir, principalmente, dosponto!
cantado!-
Tas C#'&$e%+=>e& F'+&, alm de explicitar, como de praxe, a Aue conclus[es
meu trabal+o me le*ou, aponto alguns temas de pesAuisa como sugest[es para algum
pesAuisador Aue leia meu trabal+o e este(a interessado em dar prosseguimento ao tema
-
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22
IK
5 PERCURSOS
#s relatos Aue seguem so $rutos de entre*istas Aue realiOei ao longo da pesAuisa
Dentro de todas as Aue tin+am comigo, estas Auatro me c+amaram mais ateno, por tanto,
seguem aAui explicitadas # critrio Aue utiliOei para $aOer esta seleo $oi a presena de
in$orma[es Aue me le*assem a uma descrio da *ida ritual/stica do terreiro ao longo de sua
+istria
?tiliOei o mtodo proposto por &os Carlos Sebe 8om Mei+] Kou*e algum umbandista ou algum de outra religio de matriOa$ricana na $am/liaf uem $oif ual era essa religiof : Como con+eceu a ?mbandaf :
-
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II
Passou por outras casas antes de con+ecer sua atualf: ual o moti*o de sua iniciaof :
Passou por di$iculdades $inanceiras ou te*e complica[es com a sa3def : Procurou outros
meios de resoluo para a crisef Deram resultado positi*of Parcial, total ou nen+umf : 0
crise, se existiu, se resol*eu com a iniciaof De Aue $ormaf : uem l+e apresentou a casa
onde se deu sua iniciaof : # Aue l+e moti*ou na escol+a da casa para sua iniciaof >a*ia
outras op[esf : >ou*e resistncia pessoal ou $amiliar Aue se $eO de obstculo sua iniciaof
uaisfL %%- Qida de iniciado" 0lgo mudou em sua rotina de *idaf # Auf : Qoc permanece na
casa onde se iniciouf : Se no, Aual o moti*of Mudou de religiof Migrou para outro terreirof
0briu sua prpria casaf %mpossibilidades pessoais de manter as obriga[esf uaisf
4inanceirasf Sa3def Di*ergncias com pai:me-de-santof : ue rituais e $estas acontecem no
terreiro ao Aual *oc est ligado aN atualmentef : 'ssa ritual/stica permanece a mesma desde
a poca de sua iniciao ou *oc obser*a mudanasf : ue mudanas so essasf : Consegue
localiO-las no tempof : PorAue essas mudanas rituais aconteceramf Consegue relacionar as
causas dessas mudanas a algum e*ento ocorrido no terreirof ual isNfL %%% - !r*ore $amiliar
inicitica" Qoc te*e mais de um aN pai:me-de-santo durante sua *ida religiosaf : Como era
o $uncionamento da casa de seu pai:me-de-santof : ue rituais ele aN realiOa*af : Se *oc
tem casa aberta, Auais rituais *oc mantm +o(e em dia Aue identi$ica como +eranaf :
Con+eceu seu suaN a*1:a*-de-santof : ual o $uncionamento da casa dele aNf Parecia com
a casa de seu suaN pai:me-de-santof : 0t onde consegue *oltar em sua r*ore iniciticaf
5odas estes eram Auestionamentos me acompan+aram durante as con*ersas e
orienta*am min+as entre*istas 0 maioria no $oi $eita diretamente ou de $orma estruturada,
estando presente, na maior parte do tempo, apenas de $orma impl/cita, norteando min+a
in*estigao
IK T0SC' ?M0 M'-D'-S0T5#
B'u nasci e me criei em apuri, no 0cre 4iAuei l at casar . era a coisa mel+or
do mundo De ruim s tem o $rio, Aue eu no gosto
BMin+a me se c+ama*a 'lse, era pro$essora l Meu pai era (udeu e mdico da
regio 5in+a seringal, cria*a gado e atendia as pessoas das redondeOas 'u sou a primeira
$il+a dos dois (untos Meu pai Aueria Aue nascesse um +omem, a/ nasceu QalZ/ria" ele no
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I9
gostouE Mas $aOia de tudo por mim, me Aueria muito bemE
Buando eu era moa menor 0ssim, trs ou Auatro anos, ele comprou um
carneirin+o todo eAuipado e me deu de presente de ani*ersrio ueria Aue aprendesse a
montar, para andar a ca*alo PorAue meu pai tin+a tudo" ca*alo, boi Mas como eu era muita
peAuena para aprender num ca*alo, me treinou no carneirin+o ' eu ti*e Aue aprender a
montar, porAue se no ele grita*a" hQoc tem Aue aprender a montarE QamosE Qoc tem Aue
aprender a montarE 0nde_E $ina $ora, nof 0t Aue aprendi mesmoEF
BPapai e mame ti*eram QalZ/ria, Qalmira, Qaldir, Qaldira e Qagner ' o Simo,
Aue a mame criou uase todos ( morreram, s $iAuei eu e Qaldir, meu irmo Aue da
Marin+a 4ora esses, alguns irmos Aue a gente est descobrindo agora, mas Aue so s por
parte de pai_
BMeu marido, con+eci em apuri 'ra um $ederal 0uditor $iscalE 4oi ser*ir l,
$oi Auando me casei .ogo depois $oi trans$erido para ManacapuruYe de l, para 4ortaleOa 'u
*im com ele 0Aui ele morreuE 'ra ;K, o anoE ' eu $iAuei 'stou at +o(e PagandoFE
B0 >rima, nossa 3nica $il+a, era beb, Auando aconteceu Mor*amos em
0nt1nio 8eOerra e, logo Aue ele $aleceu, nos mudamos para 0ldeota, na ./dia QalenteF
BDepois Aue meu marido morreu *eio a doena So$ri muitoE 'u adoeci de uma
tal maneira Aue $ica*a abirobada 0 >rima era peAueninin+a e o outro menino era menor
'les $ica*am com a empregada e eu ia receber o din+eiro da penso 0t +o(e como e bebo do
Aue meu marido me deixou meu marido" cuida de mim at +o(eE 'u *e(o as coisas e,
depois Aue ele se $oi, ainda apareceu para mim umas trs *eOes, me dando a*iso de doena ou
de algum Aue esta*a para morrerF
?ma das categorias nati*as Aue aparece re$erida ao longo de todo texto a dos
en:meno! Medinico!- Por mediunidade se entende a capacidade Aue uma pessoa serencarnado, dotado de matriaN possui de comunicar-se com esp/ritos seres imateriais, Aue (
ti*eram *ida e +istria na terraN 0 mediunidade*aria de acordo com a Aualidade dessas
mensagens, pode ser" auditi*a, *isual, de acordo com o sentido Aue Btomado de
emprstimoF pelos esp/ritos, ou incorporati*a Auando a conscincia pessoal $ica em
suspenso e o corpo do su(eito tomado totalmente pelo ser espiritualN 0 presena dessa
terminologia no *ocabulrio umbandista de*e-se ao contato Aue tais religi[es ti*eram com o
Rardecismo, em solo brasileiro, como dito mais a $rente
Y 6egio Metropolitana de Manaus
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IV
#s umbandistas acreditam Aue o percurso Aue *ai do nascimento morte de um
indi*/duo como apenas um peAueno tra(eto de sua existncia Segundo tal crena, a pessoa
seria $ormada por duas partes" o corpo $/sico tambm re$erido como mat1ria8, Aue perec/*el
e pro*isrio e a alma ou esp/rito, Aue eterno ao tempo e as mudanas Durante a existncia,
essa alma Aue *ai caracteriOar a conscincia indi*idual do serN adAuire morada em *rias
$ormas materiais presentes na natureOa como roc+as, plantas e animais 0 mudana de uma
$orma material para a outra, se d com a destruio da matria antigamente +abitada onde
uma das $ormas con+ecidas a morteN e a subseAuente passagem do esp/rito para outra $orma
0credita-se tambm Aue a alma c+ega a uma no*a $orma com conscincia parcial de seu
per/odo como $orma anterior e *em com uma misso espec/$ica para concluir naAuela $orma
atual, antes de mudar para outro estgio, Aue obrigatoriamente mais e*olu/do %sso se d
num continuum e*oluti*o onde a $orma mais a*anada seria Deus, Aue re$erido dentro da
?mbanda por *rios nomes
0 $orma material mais a*anada a ser alcanada a de ser +umano dotado de
escol+as ?ma alma pode reencarnar por di*ersas *eOes como ser +umano, antes de
completar sua escala e*oluti*a e todas as suas miss[es e de!encarnar # desencarne a
passagem para outro estgio da e*oluo, onde o esp/rito pode cumprir suas miss[es sem
necessitar de uma matria prpria
0credita-se Aue as di*indades re*erenciadas na ?mbanda so seres Aue ( ti*eram
*ida como +umanos encarnados e Aue ( desencarnaram 'mbora no precisem de um corpo
$/sico o tempo todo, tm como misso orientar a *ida das pessoas na terra com relao aos
seus estados de a$lio e, em troca, poder e*oluir na condio de esp/rito
Buando ia receber o din+eiro para sustentar min+a $am/lia, me perdia no mundo
de tal $orma Aue descon+ecia onde esta*a .embro uma *eO Aue eu $ui l pro lado deMaranguape Sabia nem onde eraE C+eguei l, perguntei onde Aue $ica*a a delegacia 0
mul+er disse"
h) 0 sen+ora t doidaf_
h) ToE_ 'u disse h'u t1 atrs de procurar aonde eu estouE PorAue eu no sei
aonde eu estouE_
h) 0+E 0 sen+ora no t normal, noE 'u *ou botar a sen+ora num 1nibus 0
sen+ora Aue *oltar pra 4ortaleOaf_h) ueroE_ 0/ *oltei pra 4ortaleOa, no le*ei din+eiro nem nada Buando $oi no
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I;
outro dia eu peguei uma pessoa pra ir comigo no bancoF
BTessa poca ainda no con+ecia a ?mbanda To con+ecia nadaE 'ra catlica
apostlica romana, dessas Aue se con$essam e comungam toda semana 8eataE Passei um ano
de luto $ec+ado To tira*a nem as sobrancel+as, usa*a *estido preto de mangas compridas
Aue iam at o pulso e um cabelo enormeF
Buando adoeci, no ti*e condi[es de $icar com as crianas" mandei c+amar a
mame no 0cre para me a(udar e ela *eio uando eu da*a ataAue, $ica*a dura, dura, dura
Sem condio de nadaE 0 mame c+ama*a a 0ssistncia para *ir em casa TaAuela poca no
existia ainda %&4@, esses carros de para-mdicos de +o(e C+ama*a a 0ssistncia e a o carro da
0ssistncia *in+a buscar em casa Min+a $il+a $ica*a agarrada com uma esttua de Tossa
Sen+ora das Graas Aue ten+o at +o(e uebrou muitas *eOes o pescoo dessa santa
.e*a*am-me ao +ospital e ela $ica*a atracada com a santa pedindo Aue no le*asse a me, Aue
( tin+a l+e le*ado o pai ' normalmente Auebra*aE 0perta*a tanto Aue Auebra*a o pescoo da
imagem ' os mdicos diOiam" hTo nadaE To nada_E ' da*am uma in(eo pra ner*os,
era Auando eu *olta*a Passa*a de um mdico pra outro e as pessoas no descobriam o
$undamento daAuela doena 0t Aue um algum, con+ecida da min+a me, disse" h# mdico
( $alou Aue no tem soluoE 0 medicina no tem soluoE 'nto por Aue Aue *oc no
procura o 'spiritismof ?m centro esp/rita_f ' ela $oi procurar Ta poca tin+a o %rmo
0lmeida, Aue era uma mesa RardecistaF
B4ui a esse %rmo 0lmeida uando comeou o negcio l, comecei a gritar
?m esp/rito pegou To sei o Aue $oiE Me senti pior e Aueria sair dali Me senti pior, pior,
piorF
B'scul+ambei todo mundoE PorAue a mul+er disse Aue eu esta*a assim porAue
esta*a namorando com +omem casado Coitada de mimE 'u nem pra namorarE PorAue eu erato doente Aue no tin+a tempo nem pra namorar Dei uma escul+ambadaE 'u $alei pra ela Aue
ela Auem de*ia estar doida 'u no esta*a doida no, esta*a precisando de a(uda Tisso,
desci as escadas correndo e um sen+or do bairro *iu Aue eu ta*a c+orando e gritando 0inda
+o(e me lembro 'le me sentou diOendo" h'spere Aue eu *ou l+e dar um calmante_ ' trouxe
um p/lula e me deu para beber Tunca mais *oltei lFE
@ %nstituto Doutor &os 4rota >ospital da Pre$eitura Municipal de 4ortaleOa e primeiroser*io de pronto-socorro da cidade 5rata-se da mesma 0ssistncia P3blica de 4ortaleOare$erida por D QalZ/ria 0 instituio $oi inaugurada em II de agosto de K
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IX
BTessa poca, $reAenta*a l em casa um amigo de min+a me Aue era sobrin+o
daAuele empresrio Aue morreu de desastre 4oi ter com mame e disse" hQoc sabe Aual o
problemaf 0 QalZ/ria est precisando de um caboclo De ?mbandaE .e*e-a na ?mbanda Aue
ela *ai $icar boaOin+a_ Da/ ele me le*ou para con+ecer meu pai-de-santo Aue ( morreu
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28/
IY
BTessa poca min+a $il+a ( estuda*a ' era s eu, ela e o menino e uma
empregada uando entrei, de*e ter sido por *olta do ano de ;Y .ogo depois, abandonei a
?mbanda e para cuidar de casa e de min+a *ida pessoal 0/ eu $ui con*idada pra uma $esta de
ani*ersrio ' eu no como carne de porcoE ' eu pra no $aOer su(eira 'sta*a com essededo indicador in$lamado ' eu, pra no $aOer su(eira, comi aAuele pedacin+o de nada de
carne de porco coOin+ada Casa de pessoal c+iAue" no podia $aOer $eioE To outro dia
aman+eci com o corpo todo inc+ado, parecia um bic+oEF
BTisso, c+egou-me onde esta*a deitada, uma entidade Pulando e brincando e
disse assim"
h) 5 doentefE_
h) 51E_ 'u disse hMe mate logoE_h) ToE To *im pra l+e matar no Qim l+e $irmarE Posso at matar, se *oc no
$iOer o Aue eu mandarE_
Sou uma pessoa Aue tambm sou *idente" o Aue de l eu enxergo
h) #l+e_, continuou a entidade heu *ou deixar *oc boaOin+a aman+ mesmo, mas
se *oc *oltar pra ?mbandaE Se no *oltar eu passo aman+ mesmo 'u passo *oc aman+
mesmoE_ ' era um rapaOin+oE ' eu disse"
h) Mas eu ten+o dois $il+os, no ten+o marido, no ten+o ningum, no ten+o com
Auem deixar meus $il+os Como Aue eu *ou deixar meus $il+os soOin+os em casa esse
tempo todof_
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I@
h) , se *oc *oltar pra ?mbanda *oc *ai $icar boa Mas se no *oltar, aman+
mesmo eu l+e carregoE_ 0/ eu s ti*e esse (eito" *oltarE
h) 0gora *oltar pra nunca mais sair, s sair Auando eu disser N ' a/f Qoc *ai
*oltarf_ 'u disse"
h) o (eitoE ual o outro (eito Aue eu ten+of esseE 5en+o Aue *oltarE_
h) Pois bem, aman+ *oc se le*anta, d ban+o, *este a roupa branca e procura um
lugar pra $aOer uma $, um trabal+o 6eOar, receber seu caboclo lE 'u *ou l+e orientar onde
Qoc Auer $icar boaf_
h) ueroE_ Mandou $aOer um c+ assim, assim, assimE 'u tin+a min+a empregada,
acordei a pobre da empregada pra $aOer o c+
h) 4aa o c+ pra eu beber todo diaE_ 'ra mais ou menos 'ra de man+E 'u
esta*a deitada entra a *ida e a morte, ti*e de escol+er_E Qoltei para ?mbandaFE
0 mediunidade encarada pelos $is como um dom inato, um presente de Deus e
algo Aue *em acompan+ada de uma BmissoB 'm min+as entre*istas, recorrente a $ala do
umbandista carregada de imperati*os Auanto ao uso da mediunidade, a exemplo" BDe*e ser
usada para a caridadeEF, B4il+o de caboclo tem uma misso" $aOer o bemEF ou BCuidar dos
a$litos nossa sinaEF So comuns +istrias de pessoas Aue entraram pra ?mbanda e Aue,
depois de iniciadas, abandonam a religio passam a so$rer com um no*o estado de cobran.a
5emos assim, um recomeo do ciclo do drama social descrito acima, Auando + o a$astamento
das $un[es religiosas rupturaNL o conseguinte estado de cobran.acrise e intensi$icao da
criseNL por *eOes, o retorno religio ao reparadoraN e o apaOiguamento das $oras Aue
geram a$lio des$ec+oN
%sso nos remete ao sistema de presta[es totais Aue Marcel Mauss K
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Iassam 0compan+ei-o numa *iagem 8a+ia e l procuramos uma pessoa Aue pudesse $aOer
o ritual em min+a cabea 4iAuei sete dias comendo s bolac+a Cream/Craerbebendo c+
4oi na $loresta Aue dei min+a cabea . tem um lugar apropriado para isso 5em at pol/ciaE
c+eio de policial em *olta, como $osse um parAueF
Tas religi[es de matriO a$ricana, in*aria*elmente, a cabea considerada a parte
mais importante do corpo, por isso, a mais carregada de simbolismos e ob(eto central de *asta
ritual/stica 0 exemplo do Candombl, as deidades cultuadas recebem o nome de oriF! Do
iorub" Ori cabeaNL $!a guardioN 0 cabea sua morada, ligao com sagrado por
excelncia por esse moti*o Aue antes processo de iniciao do Candombl, c+amado
eitura, o $iel passa por um ritual c+amadoBori- 'm iorub,Boripoder ser traduOido como
Bdar comida cabeaF KK # ato est alicerado na crena de Aue a cabea precisa ser
preparada para entra em contato com a energia sagrada - OriF - sendo $ortalecida com
comidas sagradas
?sa-se a expresso mo na cabe.a para se re$erir $am/lia religiosa de um
iniciado Portanto, se digo Aue .uis tem a mo na cabe.a de QalZ/ria, estarei diOendo Aue
QaZ/ria $oi iniciada na religio por .uis, sendo este, seu pai-de-santo uando um pai ou me-
de-santo $alece, diO-se Aue seu esp/rito ainda permanece sobre as cabeas dos Aue $oram por
ele iniciados de $orma parasitria, sugando as $oras e se alimentando de toda a comida Aue
se d a essas cabeas Para se li*rar dessa in$luncia maligna, o iniciado de*e procurar outro
pai ou me-de-santo, Aue se(a mais *el+o dentro da religio, disposto a reno*ar-l+e as
obri)a.3e!KI,numa espcie de adoo ritual 5al ato recebe o nome de tirar a mo do mortoou tirar a Mo/de/umbe
II M0D6%T>0 800
BSou natural de 8aturit, mas moro em 4ortaleOa desde Aue tin+a oito anos deKK Corruptela das pala*rasb2 comidaN e Ori cabeaN
KI Tome dado aos sacramentos recebidos nas religi[es de matriO a$ricana no geral
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9I
idade Casei aos *intes e dois e, logo ento, *eio a doena Tessa poca, min+a me reOa*a
'la era de mesa brancaK9E uando eu passa*a mal, ela reOa*a, a/ pronto" eu mel+ora*aEF
B4oi para tentar me curar Aue tambm $ui procurar uma mesa branca 'ncontrei
uma Aue $ica*a no Pirambu uando c+eguei l, o mestre do recinto mandou me botar na
ponta da mesa Depois de acabada a sesso, ele c+egou e disse ao meu cun+ado" h%rmo
6aimundo, essa sen+ora no de mesa branca da ?mbandaE Procure um terreiroE 'u *ou
l+e dar o nome de um terreiro, 'nto me indicou o nome da Madrin+a QalZ/ria %sso
aconteceu numa sexta-$eiraE To domingo, eu $uiF
To 8rasil, relao do Rardecismo com a ?mbanda sempre $oi estreita e, ao
mesmo tempo, contraditria, por se tratar de uma religio onde incorporao tambm tem um
lugar pri*ilegiado no rito 0s mani$esta[es caboclas, de entidades Aue remetiam
brasilidade, insistiam em acontecer nas mesas brancas 0s respostas Aue os centro Zardecistas
da*am eram as mais di*ersas 0lguns tenta*am doutrinar o m1diumde $orma Aue controlasse
sua incorporao, restringindo-a aos boca/&unda - categoria utiliOada para classi$icar um
esp/rito recm-desencarnado, a Auem so destinadas as sess[es de mesa branca #utros
doutrina*am os esp/ritos caboclos a somente se mani$estar em determinado dia da semana,
Auando o ocorria uma sesso especial, com a $inalidade de atender somente a esses esp/ritos
Geralmente eram sess[es secretas ao grande p3blico, acess/*eis apenas a uma elite medi3nica
( preparada do centro >a*ia ainda os Aue encamin+a*am o m1diumpara se desen*ol*er nos
terreiros de ?mbanda Toto Aue estas trs a[es *isam $aOer certa ascese ritual/stica, de $orma
Aue o rito Zardecista $icasse preser*ado e no so$resse in$luncia dos meios umbandistas
Buando c+eguei na porta do terreiro, o 0eu G1r!on, incorporado na Madrin+a
QalZ/ria, *in+a c+egando, ele $alou" hSe tu no morreu at ontem, de +o(e em diante tu no
morre maisE_ 0/ eu ( entrei para me desen*ol*erFBTo dei trabal+o no desen*ol*imento" com dois desen*ol*imentos, ( peguei
caboclo Com um me Aue esta*a no terreiro, o caboclo ( cantou, ( danou, ( bebeu cac+aa,
( bebeu ca$ 'u sou $il+a de preto/velho, mas trabal+a*a com oEaimundo Na minha
cabe.a, ele bebia cac+aa, bebia *in+o 8ebia o Aue desseFE
B'u era cabona e meu marido o cabonoKV 'le, $il+o de tranca-ruas e eu, $il+a de
preto-*el+o 0/ pronto" ele recebia o caboclo dele, eu recebia o meu !s *eOes eu esta*a meio
K9 6itual do Rardecismo onde a incorporao acontece 5em como uns dos ob(eti*osdoutrinar esp/ritos desencarnados para Aue estes continuem seu camin+o e*oluti*oKV 4ormas aportuguesadas do termo canbone
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assim 'la manda*a logo eu trabal+ar pra poder receber a corrente, pra poder $icar a(udando
ela no de!envolvimento do po*o Depois Aue desperta*a, a(uda*a no desen*ol*imento do
po*oF
BDepois Aue a gente esta*a bem $irme no caboclo, comea*am os cru'o! Se $osse
preto/velho, tin+a a obrigao de preto/velhoE 5in+a a o$erenda de preto/velho, o ca$, o
cac+imbo, $aro$a 'ssas coisas assimE 'u sou cruOada em todas as lin+as Mas s depois
Aue eu esta*a bem $irme, $oi Aue pude receber cruOo To era ela Auem da*a a odre, era Seu
Grson uando esta*a no tempo, ele $ala*a" hMaria, tu *ais te cruOar tal diaE 5e limpa, no
*en+as su(aE_ uem *iesse a(udar se prepara*a, se isola*a das $arras, das bebedeiras Como
eu era a cambonada casa, toda obrigao Aue ti*esse, eu passa*a a noite com a Madrin+a S
*olta*a para casa depois das Auatro da madrugada Dormia no terreiro, no c+o Da/ eu $ui
pembada na cabea, nas costas, na $rente, nos lados 'sse era o cru'oFE
BSeu Pedro e eu acompan+*amos a madrin+a a todos os lados Tessas andanas,
con+eci inclusi*e o Seu .uis da Serrin+a # terreiro dele era muito bonito Tas $estas, lota*a
de genteE ' l a gente sempre $oi muito bem recebido, da*am tudo na mo" comida, bebida,
assento 'ra muita gente Aue ela le*a*aE 0 madrin+a Aue abria o trabal+o - por ser $il+a-de-
santo dele - e ele $ec+a*aF
B0 madrin+a sempre gostou de $aOer as coisas certasE Desde Aue o terreiro abriu,
somos registrados na 4ederao 'la diOia Aue ia 0 esses cantos para tirar a licena para
podermos trabal+ar em paO, sem ser perturbado por pol/cia Desta $orma, nunca ti*emos
problemaE #s policias entra*am, $ala*am com a madrin+a # caboclo na cabea da madrin+a
sempre $oi muito amigoE 'les ol+a*am unicamente se tin+a a bebida Como no *iam, iam
embora ProntoE uanto a isso, nunca deram $lagrante" os nossos caboclo! trabal+a*am com a
garra$a escondida embaixo da roupa, enrolada num panoF# surgimento das $edera[es de ?mbanda pelo pa/s *em atender a duas demandas
espec/$icas 0 primeira delas diO respeito a legalidade da religio" a $ora da instituio
(uridicamente alicerada iria con$erir armas no combate s medidas discriminatrias e
repressi*as Aue, muitas *eOes, eram implementadas pelo prprio 'stado 0 segunda era tentar
trabal+ar no rumo oposto ao da segmentao e da disperso da religio, ou se(a, era num
longo praOo, tornar a ?mbanda como a religio legitimamente brasileira 8%6M0T, K
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9V
elaborar um modelo ritual, composto de normas Aue passa*am a ser seguidas pelos $iliados a
essas institui[es, em troca da proteo (udicial no Aue diO respeito liberdade de prtica
religiosa Prticas como a Macumba, o 5erec1 e o Camtib, Aue remetiam a um passado
BtnicoF como uma identi$icao com os po*os a$ricanos ou ind/genas, a exemploN eram
re(eitadas ou, por *eOes, $agocitadas e incorporadas pelo panteo umbandista To Cear, esse
mo*imento se inicia com a $undao da ?'C?M ?nio 'sp/rita Cearense de ?mbandaN, em
K
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9;
B.arguei o estudo cedo por causa de $arra Ta poca tin+a discotecas, seresta,
samba 5udo perto de casa, *iOin+o 0 gente con+ecia de tudoE To tin+a coisa certaE Muita
bagunaE Por causa disso ti*e de comear a trabal+ar cedo tambmF
BMin+a me *i*ia na ?mbanda e eu sempre acompan+a*a Certo dia, por causa de
briga e bebida, $iAuei com um inc+ao muito grande no brao 'la me le*ou *ou a um
terreiro, para reOar Da/ eu gostei e $iAueiFE
B0 me-de-santo se c+ama*a S/l*ia . era uma misturaE PorAue ela era deCandombl e o marido dela, meu padrin+o era de ?mbanda Para no des$aOer dele, ela
misturou Da/ $icou, como se c+ama" #moloc1 4icou aAuela ?mbanda traada Candombl
traadoF
0 $ala de Srgio me remete constatao de Prandi Auando, ao abordar o cenrio
religioso no sudeste brasileiro, diO"
Durante o! ano! "?* al)uma coi!a !urpreendente come.ou a acontecer- Com alar)a mi)ra.o do Norde!te em bu!ca da! )rande! cidade! indu!triali'ada! no
0ude!te* o candombl1 come.ou a penetrar o bem e!tabelecido territ2rio daumbanda* e velho! umbandi!ta! come.aram e !e iniciar no candombl1* muito! dele!abandonando o! rito! da umbanda para !e e!tabelecer como pai! e me!/de/!antoda! modalidade! mai! tradicionai! de culto ao! oriF!- Ne!te movimento* a
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9X
umbanda 1 remetida de novo ao candombl1* !ua velha e verdadeira rai' ori)inal*con!iderada pelo! novo! !e)uidore! como !endo mai! mi!terio!a* mai! &orte* mai!podero!a (ue !ua moderna e embran(uecida de!cendente- 5#randi* 8
'ste mo*imento de adeso ao Candombl por parte dos umbandistas $eO com Aue
o prprio rito umbandista absor*esse elementos rituais prprios do Candombl 'sse
mo*imento ele*ado mxima potncia deu origem a religi[es +/bridas, c+amadas de
?mbandombl, #moloc1 ou ?mbanda traada
B4oi l Aue eu con+eci a >rima # ex-marido dela era meu irmo-de-santo 'la
era da marin+a e *ia(a muito 4oi *ia(ando Aue eles se con+eceram uando ele con*idou-a
para con+ecer a casa da Madrin+a S/l*ia, eles ( tin+am o >assam 4oi a/ Aue $iOemos aAuela
amiOade 0lgum tem depois, eles *ia(aram para 4ortaleOa e $iOeram o con*ite para eu ir
tambm 'u *im s e estou aAui at +o(e 4iAuei morandoE Desde a dcada de YJE Tesse
tempo Aue passou, $iAuei pelo menos uns *inte anos morando $ora Casei, ti*e $il+o, saparei,
*oltei a morar no terreiro 0ssim" passei *inte anos s morando $ora, porAue deixar as
$un[es, nunca deixei Sempre *in+a, a(uda*a e *olta*a para casa 5ambm nunca sa/ do
bairro, mora*a aAui prximoF
B# terreiro$ica*a no meio do Auarteiro, onde +o(e, e a gente mora*a mais para
l, numa outra casa, na esAuina Com o tempo, $oi preciso *ender a casa e usar o din+eiro na
re$orma e na construo de outras instala[es 0 estrutura era totalmente di$erente" onde +o(e
o terreiro, $ica*am o Auarto da OFum, o Auarto de OFal e a camarinha #s trabal+os eram
realiOados no local onde +o(e em dia a garagem e a escada Aue d para os c1modos
superiores Mais para trs $ica*am o Auarto deFu e o Auarto do 0eu G1r!onF
B# ritual tambm era di$erente 0ntes era mais puxado na ?mbanda pura,
tradicional Principalmente a abertura" *in+am os ronda! abrir o trabal+o Passa*am trs
ronda!, s *eOes Auatro Qaria*aE Dependia muito de como a casa esti*esse na ocasio
uando ns c+egamos do 6io, ( comeamos a modi$icar alguma coisa # ritual era mais
*oltado para os caboclo!, os oriF! *ieram com a misturaFK;
B>o(e em dia, ela comea despac+ando Fu .ou*a O)um, Aue o +omem da
casa Pan):, as santas e, no $inal, OFal # pessoal at se admira porAue, se OFal o
supremo, de*eria ser o primeiro Mas OFal sempre o 3ltimo PorAue primeiro sempre *em
o po*o da rua, Aue Auem toma conta do trabal+o e da casa 'les Aue so os guardi[es da
casa, por isso tem Aue cantar pra eles primeiroF
K; 4alo no cap/tulo seguinte sobre essas mudanas na estrutura do ritual
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9Y
B0 gente saia pouco, passa*a mais tempo dentro do terreiro, $aOendo as
obriga[es 0ntigamente, tin+a baia trs *eOes na semana" na tera, na Auinta e no domingo 0
macumba acontecia a partir da orientao do 0eu G1r!on, Aue diOia em Aual linha trabal+ar"
se era mata, se era gua, se era O)um 0os domingos, geralmente aconteciam os
desen*ol*imentos e, na 3ltima baia do ms, geralmente eraFuF
B'la desen*ol*eu muita genteE 5em pai e me-de-santo desen*ol*ido por ela at
morando no exterior Gente com terreiro aberto, gente Aue desen*ol*eu gente >o(e em dia,
o terreiro peAueno ?ns se $oram, outros morreram, outros deixaram a religio, outros
abriram casaF
B0gora ela no d mais cruOo, porAue no tem m1diumcom preparo para receber
cru'o 'u no sei o Aue acontece Parece Aue os caboclos esto mais maneiros +o(e To
du*ido dos caboclo!, no Auesto de $, no issoE 0 min+a $ est mantidaE Mas no *e(o
mais, +o(e em dia, caboclo $aOer como $aOia antigamente To canto em $rente dispensa, $ica
apedra da peia uando o caboclo Aueria disciplinar o $il+o por alguma coisa Aue esti*esse
$aOendo de errado, batia com as mos deste na pedra at sair sangue 0 pancada era $orte 0
gente ol+a*a e se arrepia*a todo, sentia a energiaKXSabia Aue o caboclo esta*a l mesmoE #
ca*alo ia embora com as mos inc+adas, tal Auilo um sapo cururu" grossa e c+eia de bol+a das
pancadas >o(e eu no *e(o mais isso # caboclopede licena pra disciplinar o $il+o e s $aO
alisar a pedra Parece Aue est s limpando, tirando a poeira uando a gente ia trabal+ar
$ora, na encruOil+ada ou nas matas, tin+aFu Aue mata*a galin+a no dente 5in+a um $il+o-
de-santo Aue trabal+a*a com o Fu Gato #reto Di*ersas *eOes ele desperta*a em cima de
uma r*ore, porAue oFu subia e no descia mais >o(e no tem mais issoF
IV M' D?.C' D# OGM
C+ego casa de Me QalZ/ria para realiOar min+a pesAuisa num tempo em Aue seu
terreiro est bem reduOido 0 maioria dos m1diun! Aue trabalham nas baia! so pessoas
oriundas de outros terreiros, Aue ( c+egaram l pais ou mes-de-santo, carregando os tre(eitos
KX 0pedra da peia um paralelep/pedo, de aproximadamente meio metro de aresta, na$rente do Aual o caboclo se a(oel+a*a para castigar o m1diumAue no esti*esse cumprindocom suas obriga[es religiosas # castigo era aplicado batendo repetidamente as palmas eas costas das mos e a cabea na pedra, at *erter sangue
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de seus grupos de origens #s poucos m1diun! da corrente Aue eram seus $il+os
originalmente, ainda esta*am se de!envolvendo Gan+ou independncia religiosa cedo, em XK,
Auando $unda seu terreiro Passa desta $orma, condio de me-de-santo, de $orma Aue as
responsabilidades com sua casa e seus $il+os-de-santo acabam por apart-la da con*i*ncia
cotidiana com seu pai-de-santo, na condio de $il+a:aprendiO # contato dos dois, a partir de
ento, $ica restrito a umas poucas datas $esti*as, onde um c+ega*a casa do outro, como uma
*isita Auerida e distante
>alb\acs opcit-N $ala Aue os Auadros sociais precisam se manter prximos no
tempo para Aue a memria no se desarticule, caso o contrrio, ocorre um esAuecimento pelo
a$astamento do grupo Creio Aue as mudanas nos rituais na casa de Me QalZ/ria, as Auais
descre*o no prximo cap/tulo, ocorreram por causa deste $en1meno, Aue $oi se intensi$icando
ao longo dos anos, medida Aue esta mantm contato com outras tradi[es religiosas - e por
conseAncia, outros grupos, outras memrias - Aue acabam sobrecodi$icando experincias
anteriores De modo Aue, no tempo da pesAuisa, a 3nica testemun+a do tempo de Me QaZ/ria
no terreiro de Sr .uis da Serrin+a ela prpria
Teste sentido, o encontro com Me Dulce de #gum me $oi de extrema
importncia para o des$ec+o deste trabal+o 5rata-se de uma sen+ora Aue acompan+ou Pai
.uis at seus 3ltimos dias de *ida e Aue *eio abrir terreiro muito recentemente To momento
Aue ti*e com ela, pude perceber uma memria de sua r*ore iniciati*a ainda muito *i*a De
tal $orma Aue pude comparar as $ormas de rito presente nos dois terreiros e perceber as
mudanas e as permanncias descritas por Srgio no relato anterior
BSou a mais *el+a de Auatro irmosE 0t os onOe anos de *ida, eu no con+ecia
?mbandaE 4il+a de me dona de casa e cantora de igre(aE 0 min+a me era prima do Padre
5ito de 4ortaleOa e da Madre 4, Aue era diretora do Colgio das Dorotias Mora*a emMesse(anaE Meu pai era comercianteE 'ra um +omem de muitos recursos e, graas sua boa
condio $inanceira, *i*/amos muito bem, nessa pocaF
B4oi por essa idade Aue comecei a me sentir doenteE 'u no sentia nadaE 0paguei
de tudoE 4iAuei dentro de uma rede, sem comer e sem beber 0/ $oram pra mdico, $iOeram
exame TaAuele tempo a medicina era mais $raca, no tin+a os recursos, nem as mAuinas
Aue tm +o(e ?m primo meu mdico 'le se aposentou como coronel do exrcito, mas
nessa poca ele no era coronel, disse" h.e*e pra morrer em casa_E PorAue eu no comia, nobebia, no con+ecia pai, no con+ecia meE 0/ a la*adeira da min+a a*, D .aura - ela *ou
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De maneira anloga ao cabula, o cabone de ?mbanda secunda o pai:me-de-
santo c+amado tambm ponta/de/me!ae, durante a incorporao do pai:me-de-santo,
adAuire a $uno de sacri$icador, organiOando as pessoas nas corrente!, controlando o tempo
da baia, orientando Aual caboclo de*e cantar seupontonaAuela *eO uando em terra, aocambone Aue as entidades se dirigem
0ntes de entrar para a baia, cada iniciado de*e manter certos cuidados com o
corpo a $im de a$astar os perigos rituais descritos no cap/tulo anterior, bem como coloc-lo
num estado de maior contato com as potncias sagradas Pede-se Aue resguarde nas +oras Aue
antecedem ao ritual - desde o dia anterior at a +ora da gira - de lcool, $estas, sexo e Aue,
momento antes de entrar para a corrente se ban+e com uma mistura de er*as pre*iamentepreparada
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; um
entrelace entre som e linguagem Aue $orma um Bestilo oral r/tmicoF, Aue $aO com Aue os
atabaAues e maracs se(am componentes de um gnero potico particular #s instrumentos so
dotados de uma $ala Aue se mante*e ao longo do tempo em sua Aualidade de m3sica idemN
sobre este trip Aue os ponto! cantado! tecem o panteo umbandista
constru/do" narrati*as orais propriamente ditas, as narrati*as orais percussi*as e as narrati*as
corporais De $orma mais precisa, posso diOer Aue o ritual o prprio panteo, inspirado por
.eac+, Auando este diO" B# mito, em min+a terminologia, a contrapartida do ritualL mito
implica ritual, ritual, implica mito, ambos so uma s e a mesma coisaF .'0C>, #p Cit, p
YXN Contrariando, desta maneira, uma tendncia clssica da antropologia social inglesa de
tomar o ritual como a dramatiOao do mito e o mito como uma (usti$icati*a do ritual
ibdemN
0inda me detendo em 0ustin e as condi[es Aue se de*e atender para Aue se
$ormem per$ormati*os $eliOes"
No! ca!o! em (ue* como ocorre com &re(u9ncia* o procedimento vi!a J! pe!!oa!
com !eu! pen!amento! e !entimento!* ou vi!a J in!taura.o de uma condutacorre!pondente por parte de al)un! do! participante! devem ter a inten.o de !econdu'irem de maneira ade(uada* e* al1m di!!o* devem realmente condu'ir/!ede!!a maneira !ub!e(uentemente 5A0T$N* Op- Cit* p- I"8-
Pode ocorrer Aue uma pessoa, agindo de m $, durante a !e!!o, $in(a estar
incorporada, de $orma a con*encer os outros membros da correntee os espectadores do ritual
da *eracidade de seu transe 5al $eito c+amado e9*no lingua(ar religioso e *isto de $orma
extremamente pe(orati*a pela comunidade de $iis #s atos concretiOados por um indi*/duo
Aue este(a dando e9no so dignos de crdito, nem deles se espera e$iccia
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9X 0 CZAMADA DO0 CABOCLO0
?ma *eO saudados todos os orixs, +ora de c+amar os caboclos c+e$es da casa
para declararem os trabal+os abertos 6espeitada a +ierarAuia, os primeiros a passar so
sempre os caboclos c+e$es da casa, na cabe.ada me-de-santo 'sta segue at o altar, $ec+a
os ol+os e $ranOe a testa em sinal de concentrao 'rgue a cabea um pouco, como esti*esse
esperando algo *indo de cima De repente, seu corpo comea a tremer em mo*imentos
epilepsi$ormes, cessados por um $irme piso de seu p direito contra o c+o Sua $ace adAuire
$ei[es masculinas e sua *oO se torna gra*e e $irme Tessa +ora no mais Me QalZ/ria
Auem est no comando, mas Tapinar1 ouEei do! [ndio!, como tambm con+ecidoN, o
&lecheiroI9da me-de-santo 0o c+egar em terra, o cabone l+e entrega os instrumentos Aue so
seus" uma $aixa de tecido branco Aue este coloca por sobre o ombro e o cigarro aceso
0ntes de tudo, cumpre protocolo cab/*el a todo caboclo, se dirige ao cambone
dando graas" B.ou*ado se(a DeusFE 0 resposta" BPara sempre se(a lou*adoEF acompan+ada
do !inal da cru'catlicoN ' sa3da" BSal*e DeusEF 0 resposta" BSal*eEF acompan+ada por
palmasN 4acultando-se aAui, acrescentar a esta, sauda[es a outras pessoas:elementos,
con$orme a necessidade 0 exemplo, a entidade pode saudar" o grande dia de +o(e, o), os
pais e mes-de-santo Aue esto no reino, os $il+os da casa, Auem tem $, Auem no tem $, o
seu c+e$e superiorL todas estas respondidas com um BSal*eFE acompan+ado de palmas
4inalmente, pede licena para trabalhar" BDa/-me a permissoFE 0 resposta" BDada por Deus
e a Qirgem da ConceioFE ' canta"
0ou eu um caboclo 4ndio
u !ou &ilho do #ar
u !ou um caboclo )uerreiro* meu pai
Na!ci para )uerrear
A &lecha (ue eu atirar* meu pai
02 Deu! (uem pode tirar
II uando um determinado m1diumincorpora um esp/rito, diO-se Aue aAuele esp/rito estna cabe.aou na coroa do m1dium-I9 lecheiro o nome dado ao caboclo c+e$e da lin+a das matas
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4inda sua passagem saudando todos Aue esto presentes e declarando"
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YI
Cai no cho
0imbamba da! !ete onda!
W* 0ibamba*
Bebe at1 rolar pelo cho
olha por &olha*
L da! mata! vem 0ibamba*
Olha o bebo na Macumba % rolou
Olha o bebo na Macumba vai rolar
mbola* embola 1 na Macumba au9
@ na Macumba* au9 @ na macumba* au
# terceiro esp/rito a c+egar J cabe.a de D QalZ/ria 0eu N9)o G1r!on, )uiada
me-de-santo # cabone cuida para Aue o c+apu de marin+eiro se(a trocado por um gorro
branco pertencente entidade, para Aue o cigarro se(a trocado por um c+aruto e para Aue o
peAueno copo no $iAue totalmente *aOio de u/sAue Cumprido mais uma *eO o protocolo de
c+egada, +ora do esp/rito anunciar sua c+egada em m3sica"
u tava lon)e* eu
Tava lon)e* eu
Tava lon)e
De!!a terra
0o Aue as pessoas respondem"
Tava lon)e* ele
Tava lon)e* ele
Tava lon)e
e!t em terra
Cumprimenta os componentes da sesso, um a um #bser*ando de $orma OelosaAuem *isita, Auem amigo antigo do terreiro, Auem cliente e Auem est na eirapela
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primeira *eO, dando a cada um o tratamento e ateno Aue l+e so de*idos na condio de
c+e$e espiritual da casa, de bom tom Aue $aa as +onras de recepoN
#bser*a tambm se + algum na corrente Aue este(a em de!envolvimento- #
m1dium em de!envolvimento aAuele Aue possui a misso de trabalharcom caboclos, mas
Aue ainda no incorpora, portanto, sua incorporao precisa ser treinada Qia de regra, so
pessoas Aue entraram para a religio + pouco tempo, sendo esta a primeira $ase de sua
iniciao
9Y #D0NOL$MNTO' #S CE6O0
#s de!envolvente!so c+amados um por *eO # $il+o sa3da o altar tocando-l+e a
cabea num dos patamaresL sa3da o tambor tocando-l+e o c+o com a mo e depois, a prpria
cabeaL a(oel+a-se aos ps de 0eu G1r!on para tomar-l+e a bno 'ste, por sua *eO, o
!aravaIVe o conduO ao centro do terreiro ordenando" BPense em DeusEF 0 ordem soa como
a*al para o desen*ol*ente comear a se concentrar 4orma-se ao seu redor um c/rculo
composto pelas pessoas Aue *o a(udar no processo
5o logo o no*o m1diumeste(a de ol+os $ec+ados, 0eu G1r!oncomea a cantar os
ponto!de chamada-ponto! cantado! Aue tm por ob(eti*o con*ocar os caboclos da corrente
Aue o no*o m1diumcarre)aa se mani$estarem por meio da incorporao 5ais ora[es *ariam
de um terreiro a outro 0baixo transcre*o algumas das Aue escutei no per/odo de campo"
0e eu chamar ele vem
0e eu mandar ele vai
0u!tenta a Gira* Cabocloilho de mbanda no cai
Bota e!!e! m1diun! para trabalhar
#ra ver a &or.a (ue a Hurema tem
Hurema W* Hurema
la 1 uma linda cabocla de pena!
IV 0arav / 8antuniOao da pala*ra Bsal*eF .#P'S, IJJ9N Gesto de cumprimentoutiliOado nos terreiros de ?mbanda 6ealiOado $aOendo seu ombro tocar o ombro oposto deoutrem, de ambos os lados, enAuanto l+e aperta as mos ou no decorrer de um abrao
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Ai:* Huremeiro
Ai:* Hurem
A &olha caiu !erena* Hurema*
dentro de!!e con)a
A &olha caiu !erena* Hurema*
Dentro de!!e con)a
ou chamar todo! caboclo! de pena
#ara trabalhar
OFal chamou
% mandou bu!car
O! caboclo! da Humrema
No !eu Hurem
#ai OFal*
Que 1 rei do mundo inteiro
H deu orden! pra Hurema
Mandar !eu! capan)ueiro!
Mandai* mandai
Linda Cabocla Hurema*
O! !eu! )uerreiro!
!!a 1 a ordem !uprema
OFal chamou
Arreia capan)ueiro
Capan)ueiro da Hurema
Arreia Capan)ueiro
Arreia na !anta pa'
0eu Eei do! [ndio!
Chama o! 4ndio! 1 pra aldeia@ pra aldeia* caboclo
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@ pra aldeia
Caboclo no tem caminho para caminhar
Caminha por cima*
#or baiFo da &olha*
m (ual(uer lu)ar
O9* caboclo
A Hurema mandou di'er
Que na !ua aldeia ainda tem caboclo
#i!a no ra!tro do outro* caboclo
#i!a no ra!tro do outro
u % !elei meu cavalo !opra no andar a p1
A minha ca!a 1 num morro de areia
@ c1u @ mar
@ morro e no 1 mar1
Olha palha do co(ueiro* orir9
Olha palha do co(ueiro* orir
Orir9 Orir
0e a !ua banda no vier*
u vou bu!car
Abre e!!a porta*
u no mandei porta &echar*
Quem tem !an)ue de caboclo
T na hora de baiar
# corpo do de!envolvente no centro do terreiro, antes em repouso, comea a
demonstrar t/midos mo*imentos" bre*es contra[es dos m3sculos da testa, peAuenos tremoresnos ombros e nas pernas, um balano pendular do tronco para $rente e para trs Con$orme as
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can[es a*anam, tais mo*imentos *o gan+ando intensidade at se trans$ormarem em
*erdadeiros espasmos Aue colocam o m1dium para rodar incessantemente, percorrendo, de
$orma irregular, todo o espao do terreiro 0s pessoas Aue se colocam em sua *olta abrem os
braos de $orma a aparar seu corpo, impedindo com isso Aue se mac+uAue, escorregando,
caindo ou tombando com algum obstculo como pilastras, o altar, cadeiras ou outras
pessoasN 6elata-se Aue, durante este estado de semi-transe, os sentidos adormecem, sobretudo
o tato Portanto, comum Aue se mac+uAue enAuanto se roda, c+egando at a *erter sangue
por conta de uma pancada numa Oona mais delicada do corpo, e s *ir a sentir as
conseAuncias do acidente +oras mais tarde
0 sesso de de!envolvimento continua por deO ou AuinOe minutos, at Aue 0eu
G1r!onindiAue Aue ( o bastante 5oma o de!envolvente em seus braos, como num abrao
e l+e sopra em cada um dos ou*idos para Aue este torne ao estado de conscincia desperto
Pode le*ar meses ou at anos para o primeiro esp/rito tomar por completo corpo e
mente de um indi*/duo, necessitando passar por *rias sess[es de de!envolvimento- #
primeiro esp/rito a incorporar no cavalo de $orma completa o su$iciente para conseguir cantar
opontopor sua boca c+amado)uiaou caboclo da direita-0credita-se Aue este acompan+a
o m1dium a todo o momento, como um duplo espiritual ele Aue abre a! linha!, ou se(a, Aue
abre e mantm abertoN o canal de comunicao do corpo $/sico do m1dium com o plano
espiritual Portanto, todas as outras entidades Aue incorporarem naAuele cavalo, s o $aro
com a permisso de seu)uia 'ste, por sua *eO, $unciona como uma espcie de Oelador da
cabea de seu aparelho, $ec+ando-l+e o corpo para AuaisAuer energias indese(*eis
Certa *eO, $oi-me contada uma +istria de uma garota Aue ( trabalhava de
caboclo + certo tempo, mas no esta*a cumprindo com as ordens passadas por seu)uia
6eceio Aue +a*ia algo relacionado com a$astar-se de $estas e lcool ou resguardossemel+antes Seu)uiaapro*eitou-se da ocasio de uma baiapara *ir em !ua cabe.ae disse
em alto e bom tom pro*a*elmente se dirigindo ao cambone*porm, Auem esta*a presente
tambm escutouN" BDiga a meu cavalo Aue no sou menino pra $icar diOendo uma coisa e ela
se $aOer de surdaE De +o(e em diante eu no *en+o mais na cabe.a delaE Se ela me der uma
cabea de boi como sacri$/cio, tal*eO eu at *olte, antes disso noEF ' a garota, nunca mais
incorporouE
'sp/rito e mat1ria corpo $/sicoN so potncias estran+as entre si # processo dede!envolvimentoconsiste numa gradati*a aproximao das duas metades de um modo Aue
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possam se con+ecer aos poucos e criar */nculos cada *eO mais $ortes Para tanto, a ?mbanda
lana mo de *rias tcnicas Aue agem tanto sobre o corpo do iniciante, Auando sobre a
potncia sagrada a Aual se Auer acessar 5ais tcnicas transcendem o espao do terreiroe o
tempo da baia, incidindo inclusi*e na *ida comum do su(eito 0 exemplo" banho! de &or.a
ban+os de er*as Aue tm por $uno preparar o corpo para a aproximao do )uiaN, ora[es,
*elas e o$erendas para seu )uia- 0 $orma e a $reAuncia dessas tcnicas auxiliares so
de$inidas e ensinadas por 0eu G1r!one *ariam dependendo da pessoa e dos caboclos Aue ela
carrega
# !tatu! de de!envolvente considerado uma condio liminar, pois seu corpo
est se abrindo para as energias sagradas, porm, seu caboclo ainda no est em plena
+armonia com o corpo $/sico para de$end-lo de AuaisAuer male$/cios Como o m1dium se
encontra numa posio espiritualmente $ragiliOada, as precau[es contra os perigos rituais so
redobradas e as medidas de ascese religiosa Aue descre*i anteriormente se tornam ainda mais
imperati*as neste per/odo
Tas primeiras incorpora[es de um m1dium, o esp/rito ainda no tem o total
controle de seu corpo, porAue ainda no se acostumou totalmente com ele Qem com
mo*imentos robticos, sem eAuil/brio e, muitas *eOes, mudo Cabe s pessoas Aue esto
dando assistncia orient-lo ordenando" BD sustento matriaEFL BCuidado com seu
aparelhoE To precisa maltratarEFL BPode cantar, meu *el+oE Seu cavalo tem bocaEFL B0bra a
boca do cavaloE Comece oponto*Aue a gente a(udaFE
Pode acontecer tambm uma disputada entre dois ou mais esp/ritos pelo dom/nio
de um aparelho-Tesses casos, tare$a do pai ou me-de-santo ou d_alguma entidadeem !ua
cabe.a inter*ir, resol*endo a disputa Sobre isto, uma *eO 0eu G1r!on incorporado em Me
QalZ/ria, por ocasio de uma sesso de de!envolvimento* *irou-se para mim e explicou asituao do m1diumAue era (ogado de um canto a outro do terreirona inteno de incorporar"
B5em dois caboclos Auerendo a cabea desse meninoE 'sto em guerraE 'u Aue ten+o de
resol*er isso" ten+o Aue passar um dos dois pra $rente, pra toma conta da cabea e o outro $ica
em segundoFE
?ma *eO Aue a incorporao ( ten+a se dado, o processo de educao do corpo
em transe ainda no termina 0s entidades Aue ocupam o corpo do m1dium precisam ser
ensinadas a se portar Portanto, $aO parte tambm do processo de desen*ol*imento, treinar ocorpo em transe a adAuirir comportamentos Aue *o caracteriOar cada entidade e di$erencia-
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ls entre si 4aOem parte dessa pedagogia" ensinar aos pretos-*el+os a $umarem cac+imbo,
tomarem c+ e ca$L s crian.a! de !ombraa pedirem moedas e bombons
uando a incorporao do m1dium( est bem treinada e as entidades *m em seu
corpo com mo*imentos mais de$inidos e seguros, o $iel passa da categoria de de!envolventea
trabalhador Tessa no*a condio, tem por obrigao trabalhar nas baia!-
Con$orme o iniciado *ai a*anando na religio, *ai passando por sacramentos por
nome cru'o! So sete ao todo, cada um correspondente a uma das linha!da ?mbanda #s
cru'o!tm a $uno de consagrar o m1dium energia re$erida pela linha, con$erindo-l+e mais
controle sobre seu acesso e manipulao desta
0 +ora de dar o cru'o dita por um caboclo incorporado na me-de-santo ou no
prprio m1dium a ser cruOado e este tempo *aria muito de um m1dium para outro Qaria
tambm a ordem deles Portanto, no porAue um $iel cruOado na Linha da! Mata! antes de
$aO-lo naLinha de #reto/Qel+o, Aue a mesma ordem *al+a como regra para outro $il+o-de-
santo Tisto se di$erencia do Candombl, onde as obriga[es so datadas no tempo contado a
partir da &eituraI;- 0 exemplo do Candombl Retu, temos obriga[es com um, trs, sete,
AuatorOe e *inte e um anos
# ritual de cru'ar um m1dium $eito parte da baia, a portas $ec+adas, pois
secreto S iniciados escol+idos a dedo pela me-de-santo ou por seu cabocloN podem assistir
a um m1diumser cru'ado
Cada m1dium possui uma entidade Aue responde por cada linha na Aual $oi
cru'ado 'stas entidade! so c+amadas che&e! de linha Ta +ora de receber o cru'o,
c+amada a entidade Aue *ai ser che&e daAuela linha Aue est sendo cru'adanaAuele m1dium-
> tambm o caso de entidade! +/bridas Aue, por sua prpria caracteriOao, podem trabal+ar
em mais de uma linha- Testes casos, pode ocorrer, por exemplo, de 0ibamba, Aue umMestre, ser o che&edaLinha de Me!tre numa cabea porAue $oi a entidade Aue respondeu
chamadaAuando aAuele indi*/duo $io cru'ado na linha- De outra $orma, por ser maru(o e
passar tambm naLinha do Mar, pode c+e$iar esta Auando em outra cabe.a, desde Aue ten+a
respondido na +ora de dar o cru'ore$erente
Sendo assim, o processo inic/tico na ?mbanda segue a $rmula B*rios esp/ritos
numa s cabeaF 8%6M0T, op cit, p I9N, $undando, desta $orma, o corpo-iniciado como
palco de um teatro a$eti*o .Q%-S560?SS, K
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80/
Y206CU,
Op- CitN0 literatura romntica um dos $ortes exemplos de saberes Aue se debruou sobre
essa Auesto, construindo um leAue de tipos e alegorias cu(as caracter/sticas mais exacerbadas
se aproximam bastante dos personagens mitolgicos Aue comp[em a Linha da! Mata! na
?mbanda Sobretudo nos personagens da literatura indigenista9V 4'66'%60
P'..'G6%T%, K
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KJ;
Ta ?mbanda, incorporam eretos 5m express[es ariscas e mo*imentos rpidos
Danam pelo terreiro como se atirassem $lec+as com a ponta dos dedos Gritam e ui*am
con$orme *o trabal+ando 5raOem consigo todo o esteretipo do /ndio *alente, arrogante e
rebelde o mito do sel*agem atualiOado no teatro de possesso
Seusponto! $alam das caadas aos animais, na luta constante pela comida e pela
sobre*i*ncia nas matas *irgens"
le andava na! mata!
le andava ca.ando
m cima do rochedo !e perdeu
oi l (ue !e encantou
Olha (uem che)ou o [ndio da 0olido
Com !ua &lecha*
ai &lechar no cora.o-
com !eu punhal*
ai vencer toda (ue!to
u tava na mata ca.ando tatu
Ah* eu vi meu pai l no Arer9
Caboclo bom
Caboclo baia* Dend9
A patrulha de mbanda
mandou procurarm bom ca.ador
Que !oube!!e atirar
le atirou* atirou*
Atirou no veado e no matou
Atira Atira
la vai atirar
Atira Atirale % atirou
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KJX
Caboclo Gentil*
L do p1 da !erra
@ matador de on.a
atirador de &lecha
amo! embora* )ente
Que eu no !ou de!!a terra
u moro 1 muito lon)e*
@ na loca da! pedra!
0 re$erncia constante &urema nas ora[es denota a presena de um lingua(ar
nordestino na religio 0 r*ore ocorre em todo semi-rido e s/mbolo de extrema rele*ncia
na construo da cultura cabocla, como planta Aue se destaca na paisagem por uma srie de
propriedades, sobre as Auais $ala 'uclides da Cun+a"
A! %urema!* predileta! do! caboclo! / o !eu haFiFe capito!o* &ornecendo/lhe!* )rti!*ine!timvel bebera)em* (ue o! revi)ora depoi! da! caminhada! lon)a!*eFtin)uindo/lhe! a! &adi)a! em momento!* &eito &iltro m)ico / derramam/!e em
!ebe!* impenetrvei! tran(ueira! di!&ar.ada! em &olha! diminuta!; re&rondam o!maFiFeiro! raro! / mi!terio!a! rvore! (ue pre!!a)iam a volta da! chuva! e da!1poca! anelada! do verde e o termo da ma)r1m / (uando* em pleno &la)elar da!eca* lhe! pore%am na ca!ca re!!e(uida do! tronco! al)uma! )ota! d,)ua;reverdecem o! an)ico!; loureiam o! %u! em moita!; e a! barana! de &lore! emcacho!* e o! araticun! J ourela do! banhado!--- 5CNZA* >* ##- R? R>8-
Como re$lexo da importncia desta planta para a *ida do caboclo nordestino, a
&urema gan+a lugar de destaAue dentro da religio comum, por exemplo, encontrarmos
tocos da r*ore como parte dos a!!entamento!dos caboclos To dia IJ de (aneiro, dia de So
Sebastio, a data em Aue se celebra OFo!!i orix regente dos caboclosN na ?mbanda
Comumente preparada a beberagem +om1nima r*ore para ser ser*ida aos esp/ritosincorporados, de $orma a reconstruir no espao m/tico a realidade sob a Aual *i*eram os
caboclos
u bebi Hurema
u bebi Hurema
No me embria)uei
No me embria)ueiu comi )uin1
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u comi )uin1
No adormeci
No adormeci
ntrei na! mata! !em pedir licen.a
02 pra ver a &or.a (ue a Hurema tem
Ai:* Hurema Ai:* Hurema
Ai: Hurema ilha de Tupinamb
%nd/cios de uma linguagem tipicamente cearense so encontrados nesta parcela do
panteo # mel+or exemplo disto so os personagens dos li*ro de &os de 0lencar maior
expoente da literatura indigenista do estadoN $igurando como caboclos de pena e a presena de
algumas $iguras $amosas da literatura de cordel
O 4ndio #eri che)ou
O 4ndio #eri che)ou
le vem na linha de na):
le vem virar o! contrrio!*
irar a macumba (ue a $ta mandou
Quem canta !eu! male! e!panta
Quem chora relembra uma dor
0olta o! cabelo! entre a! pena!
0ou eu uma 4ndia $racema
0ou 4nida brava )uerreira
Na!cida em Acara4
ui bati'ada na! )ua!
o meu nome 1 NecS
Avan.a )uerreira* avan.a
Di!para &lecha (ue tra'02 temo a Deu! na! altura!
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o meu mano Hupi
V; 0L$NZA DA0 CACZO$EA0#?L$NZA D PANGW
0ssim como a Linha da! Matas, aLinha da! Cachoeira! composta de esp/ritos
sel*agens, de uma estrema ligao com a natureOa, Aue no con+eceram a Bci*iliOaoF do
+omem branco 0credita-se Aue estes se encantaramnas pedras ou nas guas Aue comp[em as
cac+oeiras e delas retiram a energia para trabalhar-
6egidos pelo oriF Pan):, estas entidade!Auando *m terra para trabalhar
numa s3plica por (ustia aos $il+os Auando esto sendo */timas de algumas perseguio, se(a
(ur/dica, se(a pessoal, se(a na $orma de $eitios uando esto trabalhando na de!mancha dos
$eitios, $aOem o corpo do m1dium se cur*ar e sua cabea dar repetidas *oltas em torno de sua
coluna em mo*imentos parecidos com o da incorporao, mas com os ps $irmes, sem bat-
los contra o c+oN, como num mo*imento de mimetismo ao de um redemoin+o de guas
comum aparecerem men[es a OFum e$an! s *eOes identi$icada como Santa
8rbaraN nosponto!dessa linha, $ato Aue se (usti$ica por ambas terem sido esposas de Pan):
e o acompan+arem
Pan):* meu pai
u vou pedir a prote.o ao meu Pan):
O! inimi)o (uer me derrubar
Quem rola pedra por cima da cachoeira!*#or cima da cabe.a de (uem (uer me ver na poeira
Quarta/&eira J mie/noite
u &ui na pedreira de Pan):
Acendi uma vela
Chamei pelo meu protetor
0arav 0aravChamei pelo meu #ai Pan):
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