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“Que jamais algum pai sonhe em retirar o
desporto a uma criança!”
Relatório de Estágio Profissional
Orientador: Dr. Tiago Manuel Tavares de Sousa
Ana Margarida Machado de Oliveira
Porto, julho de 2016
Relatório de Estágio Profissional apresentado
à Faculdade de Desporto da Universidade do
Porto com vista à obtenção do 2º ciclo de
Estudos conducente ao grau de Mestre em
Ensino de Educação Física nos Ensinos
Básico e Secundário (Decreto-lei nº 74/2006
de 24 de março e o Decreto-lei nº 43/2007 de
22 de fevereiro)
II
Ficha de catalogação
Oliveira, A. (2016). Que jamais algum pai sonhe em retirar o desporto a uma
criança. Relatório de Estágio Profissional. Porto: A. Oliveira. Relatório de Estágio
Profissional para a obtenção do grau de Mestre em Ensino de Educação Física
nos Ensinos Básico e Secundário, apresentado à Faculdade de Desporto da
Universidade do Porto.
PALAVRAS-CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL, EDUCAÇÃO FÍSICA,
ENSINO-APRENDIZAGEM, PRÁTICA DISTRIBUÍDA, SER PROFESSOR.
III
DEDICATÓRIA
À Francisca, à Beatriz e ao Guilherme,
Por me fazerem ver o que de melhor tem a vida, pelos sorrisos, pelos
momentos, pelo crescimento, pelo amor. Que o mundo vos sorria sempre.
V
AGRADECIMENTOS
Ao meu Pai por fazer de mim a “filha do papá”, por me corrigir as
composições e os trabalhos, por me ensinar tudo sobre a vida, por permitir que
eu seguisse o meu sonho e por ser o melhor pai que alguém um dia vai conhecer.
À minha Mãe pelos ensinamentos e pela solução, pela capacidade de fazer tudo
num segundo e por dizer vezes sem conta que eu sou capaz por detrás de um
olhar doce no meio da janela.
Aos meus irmãos Miguel e Pedro por serem o meu exemplo, a minha garra,
por ver neles a superação e a proteção. Por serem de sempre e para sempre os
melhores do mundo. À Elsa por ser a minha ouvinte de muitos anos, a
conselheira dos trabalhos e da vida. À Paula pela partilha de experiência, pelas
coreografias na cozinha, pelos segredos.
Ao Professor Cooperante Arnaldino Ferreira (Dino), por todos os
ensinamentos, por todas as oportunidades e por nunca me ter cortado o fio da
esperança. Por nunca nos tentar moldar e nos deixar ser quem somos, no mais
íntimo e profundo ponto do ser humano. Por todas as vezes que se esqueceu de
alguma coisa e pela sua maneira energética de solucionar tudo.
Ao Professor Orientador Tiago, por colmatar todos os desvaneios e
solucionar os problemas que pareciam não ter solução. Por se desdobrar em mil
bocadinhos para poder corresponder sempre às expetativas e às oportunidades
da vida.
Ao 10ºD, por serem para sempre os meus primeiros, por me fazerem
defender com unhas e dentes esta profissão, por me fazerem acreditar que sorte
é poder ensinar alguém.
Ao Clube de Trampolins, aos meus ginastas preferidos, à Professora Tânia
e à Professora Graça por tudo o que me proporcionaram, por me permitirem
gostar muito da ginástica e por perceber que sorte é tê-los tido na minha vida.
VI
À ESAS, pelo acolhimento, pela partilha, por ser uma escola de referência,
por tudo o que me ouviu naquelas paredes e por todas as histórias que guarda
naqueles espaços.
À Patrícia da Biblioteca por toda a trabalheira, por ser incansável, pelos
emails a ajudar e pelas soluções mirabolantes.
Ao Ramiro Rolim, ao Rui Faria, ao Manuel Botelho, ao Filipe Conceição
e ao Rui Araújo por contribuírem para marcar a minha vida, por serem os
exemplos dos professores na faculdade, como todos aqueles que me
influenciaram a seguir este caminho.
À Sara, à Rita, ao Diogo, ao André e à Ramôa, por serem os mesmos de
sempre e para sempre. Pelas histórias, pelos momentos, pela vida passada em
conjunto.
À Sandra e à Sónia por serem as irmãs de mães diferentes. Pelas conversas
de 3 horas ao telefone, pelas noites a comer chocolate a ver os jogos olímpicos,
ou pelas noites a sussurrar demasiado alto nas conversas infindáveis.
Ao Grupo de Jovens e ao Grupo Coral, por me ensinarem a ajudar, a
partilhar, a ser eu própria, por me proporcionarem momentos únicos na minha
vida.
À Té, à Marta, à Sara, por todos os almoços e cafés ao fim da tarde, pelos
passeios na ribeira e pelos pneus de bicicleta rebentados. Por serem desde
sempre as únicas eternas amigas da faculdade.
Ao Rodrigo e à Kiki, por serem os melhores padrinhos que a faculdade me
deu, por todos os momentos e por todas as partilhas.
À Gui, à Vânia, à Calçada, à Filas, ao Marques e ao Falcão por sermos os
mesmos de sempre do mestrado.
À equipa OLAFAST, por todos os momentos que jamais esquecerei.
VII
À equipa de voleibol da FADEUP pela união, por colmatarem a minha
saudade do voleibol, por me ensinarem a reaprender o toque de dedos e por me
ensinarem o verdadeiro valor da equipa.
Ao Sporting de Braga Voleibol, ao Carlos Dias e ao Bruno Fernandes
por me ensinarem a crescer, a lutar e por nunca me deixarem desacreditar que
temos de ser Sempre Fortes!
À minha Família, por ser (in)comum.
Ao Jorge por ser o meu companheiro de todas as horas, de todos os dias,
por ser o meu confidente, o meu porto seguro, por me ensinar a lutar pelo que
quero e por toda a calma que me incutiu quando os momentos apertavam.
À FADEUP por ser a melhor Faculdade do mundo.
Obrigada do fundo do coração.
IX
ÍNDICE GERAL
DEDICATÓRIA .................................................................................................. III
AGRADECIMENTOS ......................................................................................... V
ÍNDICE DE GRÁFICOS ................................................................................... XIII
ÍNDICE DE TABELAS ..................................................................................... XV
ÍNDICE DE ANEXOS .................................................................................... XVII
RESUMO........................................................................................................ XIX
ABSTRACT .................................................................................................... XXI
LISTA DE ABREVIATURAS ......................................................................... XXIII
1.INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1
2.ENQUADRAMENTO PESSOAL ..................................................................... 5
2.1.Era uma vez … ......................................................................................... 5
2.2.Porque escolhi esta profissão, este caminho? .......................................... 9
2.3-Expetativas e impacto com o contexto de Estágio Profissional .............. 11
3.ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL ................................... 15
3.1.Análise macro – O Estágio Profissional no contexto da formação inicial 15
3.1.1.O que é a escola como instituição? ..................................................... 17
3.1.2.Aprender a ensinar ............................................................................... 18
3.2.Análise meso – O Estágio Profissional no contexto legal e institucional . 23
3.3.Análise micro – O Estágio Profissional no contexto funcional ................. 26
3.3.1.A Escola Secundária Alberto Sampaio (ESAS).................................... 26
3.3.2.Legitimação da Educação Física ......................................................... 29
3.3.3.Caracterização do meio envolvente ..................................................... 35
3.3.4.Núcleo do fato de treino e/ou da sapatilha ........................................... 36
3.3.5.10º Ano, os meus primeiros para sempre ............................................ 37
X
3.3.6.6º Ano, os melhores do basquetebol ................................................... 42
3.3.7.Professor Cooperante – O SER ........................................................... 45
3.3.8.Orientador Estágio, o solucionador da encruzilhada de pensamentos 46
3.3.9.Grupo de Educação Física ................................................................... 47
3.3.10.Grupo do Desporto Escolar ................................................................ 48
3.3.11.De aluna a professora e aluna: uma dualidade dentro do mesmo ser 48
4.REALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL .............................................. 51
4.1.Área I: Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem ................ 51
4.1.1Ensino da Educação Física ................................................................... 51
4.1.1.1.Análise dos Documentos orientadores .............................................. 53
4.1.1.2.Programas de Educação Física ........................................................ 54
4.1.1.3.Prática distribuída como orientação metodológica ............................ 59
4.1.2.Planeamento ........................................................................................ 63
4.1.2.1.Planeamento Anual – Análise macro ................................................ 64
4.1.2.2.Unidade Didática – Análise meso ..................................................... 65
4.1.2.3.Plano aula- Análise micro ................................................................. 66
4.1.2.4.MEC: A Bíblia dos Professores ......................................................... 68
4.1.2.5.Roulement, os espaços, nos espaços dos espaços .......................... 70
4.1.3.Realização do Processo Educativo ...................................................... 71
4.1.3.1.1ª Aula e rotinas ................................................................................ 71
4.1.3.2. Clima de aula ................................................................................... 73
4.1.3.3.Relação professor-aluno ................................................................... 75
4.1.3.4.Aprendizagem dos alunos: Ensinar é diferente de aprender ............ 80
4.1.3.5.Somos melhores porque somos de Desporto! .................................. 85
4.1.3.6.Gestão da aula .................................................................................. 89
4.1.3.7. O Modelo Híbrido ............................................................................. 92
XI
4.1.3.8.Instrução e feedback ......................................................................... 95
4.1.3.9.Alunos Superatletas como agentes de ensino .................................. 99
4.1.3.10.Avaliação: A complexa palavra com nove letras. .......................... 102
4.2. Área II: Participação na Escola e Relações com a Comunidade ......... 108
4.2.1.Desporto Escolar: “Ponta, calcanhar e olhar para a frente” ............... 108
4.2.1.1.1ª Competição de Desporto Escolar ............................................... 113
4.2.1.2.Prova Distrital de Desporto Escolar de Ginástica ............................ 115
4.2.2.Diretora de turma: O triângulo do triunfo escolar ............................... 116
4.2.3.Reuniões: O conhecimento fora e dentro das salas ........................... 119
4.2.4.Taça ESAS......................................................................................... 122
4.2.5.Troféu ESAS ...................................................................................... 123
4.2.6.Evento Culminante ............................................................................. 126
4.2.7.Sarau ................................................................................................. 130
4.3.Área III: Desenvolvimento Profissional .................................................. 132
4.3.1.Professor Reflexivo: um fio incondicionalmente necessário .............. 132
4.3.2.Observação: Para, escuta, vê ............................................................ 136
4.4.A APRENDIZAGEM DO RETORNO NO VOLEIBOL ATRAVÉS DE UMA
PRÁTICA DISTRIBUÍDA: ESTUDO REALIZADO COM UMA TURMA DO
ENSINO SECUNDÁRIO ................................................................................. 139
Resumo ....................................................................................................... 139
Abstract ....................................................................................................... 140
Introdução ...................................................................................................... 141
Objetivo do Estudo ......................................................................................... 147
Metodologia .................................................................................................... 147
Participantes ............................................................................................... 147
Instrumentos ............................................................................................... 148
XII
Procedimentos/protocolo de recolha de dados ........................................... 149
Procedimentos de análise dos dados ......................................................... 149
Apresentação dos resultados ......................................................................... 150
Discussão ....................................................................................................... 155
Conclusão ...................................................................................................... 157
Referências Bibliográficas .............................................................................. 158
5. O FIM DO INÍCIO ....................................................................................... 163
6.REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ............................................................ 167
ANEXOS ....................................................................................................... XXV
XIII
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1- Perspetiva geral ............................................................................. 152
Gráfico 2-Retorno ........................................................................................... 153
Gráfico 3- Início de cada aula ......................................................................... 154
Gráfico 4-Fim de cada aula ............................................................................ 154
Gráfico 5- Diferenças entre o início e o fim da aula anterior ........................... 150
XV
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1-Resultados………………...…………………………………………. 152
XVII
ÍNDICE DE ANEXOS
Anexo I- Ficha informativa do aluno ........................................................... XXV
Anexo II- Planeamento anual 1ºPeríodo .................................................. XXVII
Anexo III- Domínio Atitudinal (participação e empenhamento nas 3 áreas
consideradas: eu-eu, eu-tarefa, eu-outros). ............................................ XXVIII
Anexo IV- Prova Troféu ESAS – Peddy Papper ....................................... XXIX
Anexo V- Prémios do Evento Culminante .................................................. XXX
Anexo VI- Cartaz do Sarau de Ginástica .................................................. XXXI
Anexo VI- Categorias de observação e componentes críticas do GPAI para o
Voleibol adaptado a partir de Oslin et al. (1998) proposto por Mesquita (2006
................................................................................................................. XXXII
Anexo VII- Medidas da performance do GPAI para o Voleibol adaptado a partir
de Oslin et al. (1998) adaptado por Mesquita (2006) .............................. XXXIII
XIX
RESUMO
“Que jamais algum pai sonhe em retirar o desporto a uma criança” é uma frase,
à qual me amparo, para relatar a minha história enquanto professora de
Educação Física em contexto de Estágio Profissional e todo o meu crescimento
decorrente do mesmo. A elaboração deste documento visa todo o relato da
experiência vivida e uma reflexão crítica acerca das aprendizagens
desenvolvidas numa escola cooperante em Braga ao longo de um ano letivo.
Este documento encontra-se organizado em cinco capítulos por forma a dar
resposta às três áreas de desempenho que o Estudante Estagiário deve dominar
para poder exercer a docência de Educação Física. No primeiro capítulo
“Introdução”, está contextualizado o documento; no segundo “Enquadramento
Pessoal, abro o meu livro de histórias e faço passar as pegadas mais marcantes
do meu caminho até ao dia de hoje; no terceiro “Enquadramento da Prática
Profissional”, apresento de forma detalhada o contexto de realização da minha
prática profissional; no quarto “Realização da Prática Profissional”, está dividida
em três grandes áreas de desempenho, onde é descrito todo o processo,
dificuldades, momentos positivos e negativos, momentos de aprendizagem,
atividades, modos de avaliação e atuação. A área 1, destinada à “Organização
e gestão do Ensino e Aprendizagem”, a área 2. “Participação na Escola e
Relações com a Comunidade” e por fim a área 3. “Desenvolvimento Profissional”,
onde é feita uma reflexão acerca da importância da investigação e da
observação para o desenvolvimento profissional do Estudante Estagiário. Neste
capítulo é ainda apresentado um estudo de investigação-ação com a temática
“A aprendizagem do retorno no voleibol através de uma prática distribuída”, que
me permitiu retirar conclusões pedagógicas para o futuro. No quinto capítulo “O
Fim do Inicio”, faço o balanço da minha experiência no ano de estágio e
perspetivo as minhas expetativas futuras no que diz respeito à profissão docente.
PALAVRAS-CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL, EDUCAÇÃO FÍSICA,
ENSINO-APRENDIZAGEM, PRÁTICA DISTRIBUÍDA, SER PROFESSOR
XXI
ABSTRACT
"We shall never dream, as parents, to remove the sports from a childlife", it is a
quote that I begin with to report my story as a physical education teacher in a
context of professional training and all my growth as a result of it. This document
is aimed at the entire experience and also it is a critical reflection about the
learning developed in a cooperative school in Braga, over the course of a school
year. This document is organized into five chapters to respond to three
performance areas that the student trainee must master to be able to carry out
the teaching of physical education. In the first chapter "Introduction", is
contextualized the document; in the second "Personal Framework, I open my
book of stories and I do spend the most remarkable footprints of my way until
now; in the third "Professional Practice Framework", introduces in detail the
context of my professional practice; the fourth chapter "Realization of
Professional Practice", is divided into three main areas of performance, where is
described the whole process, difficulties, positive and negative moments,
moments of learning, activities, and assessment modes. The area 1, for the
"Organisation and Management of Teaching and Learning"; the area 2,
"Participation in School and Community Relations"; and finally the area 3,
"Professional Development", where there is a reflection about the importance of
research and observation for the professional development of EE. Being an
opportunity for the development of EE in the different areas of expertise. This
chapter is still presented na action-research with the theme "learning from
volleyball through a distributed practice", which allowed me to draw conclusions
for the future teaching. In the fifth chapter "The End of the Beginning", I do a
balance of my experience in the internship and show my future expectations
regarding to the teaching profession.
KEYWORDS: PROFESSIONAL INTERNSHIP, PHYSICAL EDUCATION,
TEACHING-LEARNING-EDUCATION, DISTRIBUTED PRACTICE, BEING A
TEACHER/PROFESSOR
XXIII
LISTA DE ABREVIATURAS1
AESAS- Agrupamento de Escolas Alberto Sampaio
ATL- Atividades dos Tempos Livres
CFD- Centro de Formação Desportiva da Ginástica
DE- Desporto Escolar
DT- Diretor de Turma
EE-Estudante Estagiário
EF- Educação Física
EP – Estágio Profissional
EPE- Parque escolar
ESAS – Escola Secundária Alberto Sampaio
FADEUP – Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
GPAI- Game Performance Assessment Instrument
JD- Jogos desportivos
JDC- Jogos desportivos coletivos
MAPJ- Modelo de abordagem progressiva ao jogo
MEC- Modelo de Estrutura e Conhecimento
MED-Modelo de educação desportiva
MID- Modelo de instrução direta
NE- Núcleo de Estágio
PC-Professor Cooperante
PNEF- Programas Nacionais de Educação Física
PO- Professor Orientador
RE- Relatório de Estágio
TGFU- Teaching Games for Understanding
UD – Unidade Didática
1 Todas as abreviaturas referenciadas assumirão as designações de singular e plural no decurso do relatório de estágio
1
1.INTRODUÇÃO
Passados cinco anos, cerca de 1825 dias e milhares de horas, chegamos ao
culminar de todo o nosso percurso, o Estágio Profissional (EP). Surge assim a
oportunidade de fazer valer todas as nossas aprendizagens numa das mais
fascinantes profissões do mundo. É o princípio de uma nova aventura como
docente no primeiro contexto real de prática e o fim de um ciclo intenso como
estudante. Foi, é e sempre será o ano mais gratificante, onde o processo de
transformação interno e externo à docência da Educação Física (EF) fez de mim
um ser humano mais atento à vida e às experiências que esta nos proporciona.
A realização e criação do meu primeiro livro, - Relatório de Estágio - torna
este documento extremamente importante e intensamente complexo e
desafiador. Traduz ainda que apenas em palavras, todo um relato altamente
pessoal e reflexivo auxiliado pela literatura existente, de todos os processos que
eu fui desenvolvendo ao longo deste último ano da minha formação académica,
conducente ao grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos
Básico e Secundário da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
(FADEUP).
“Que jamais algum pai sonhe em retirar o desporto a uma criança” foi uma
das frases escritas por mim numa das primeiras reflexões que me marcou até
hoje. Esta frase busca ser o motor da esperança do início ao fim das nossas
vidas. O desporto, a Educação Física são e sempre serão o sonho que move a
vida, para mim e para todos os que acreditam no verdadeiro poder destes.
A elaboração do Relatório de Estágio Profissional foi alvo de orientação por
parte do Professor Orientador (PO) e do Professor Cooperante (PC), tendo o
estágio decorrido na Escola Secundária Alberto Sampaio situada no concelho de
Braga, com um núcleo de estágio constituído por mais dois elementos (um do
sexo feminino e outro do sexo masculino). Ao longo deste ano letivo fiquei
responsável por uma turma de 10º ano do curso ciências e tecnologias, tendo
ainda uma turma partilhada do 6º ano.
2
O EP “oferece aos futuros professores a oportunidade de imergir na cultura
escolar nas suas mais diversas componentes, desde as suas normas e valores,
aos seus hábitos, costumes e práticas, que comprometem o sentir, o pensar e o
agir daquela comunidade específica” (Batista & Queirós, 2015, p. 33). As tarefas
requeridas ao Estudante Estagiário (EE) não se cingem apenas à realização das
aulas, sendo de extrema importância todo o processo de planificação, reflexão e
avaliação dos aspetos que dizem respeito ao ensino. Só assim será possível
uma resposta adequada a todos os desafios inerentes à prática docente. Assim,
o principal objetivo do EP, segundo as normas orientadoras2 é a “integração no
exercício da vida profissional de forma progressiva e orientada, em contexto real,
desenvolvendo as competências profissionais que promovam nos futuros
docentes um desempenho crítico e reflexivo, capaz de responder aos desafios e
exigências da profissão” (p.3) Competências essas que vão sendo conquistadas
e (re) construídas ao longo do estágio pelo EE. Esta é uma “uma profissão que
exige a contínua construção de uma matriz identitária profissional consistente”,
sendo por isso moldada e construída uma identidade fruto da interação com as
pessoas (Batista, 2014, p. 12). Desta forma, surge como uma oportunidade o
facto de podermos estagiar em contexto real de prática, tendo a possibilidade de
aplicar as aprendizagens alcançadas em anos anteriores de formação. Sendo o
EP também uma enorme fonte de aquisição de conhecimentos que acabam por
ser implementados ainda no decorrer da prática.
Assim, Batista e Queirós (2015, p. 35) referem, que o EP é um local onde “o
estímulo ao pensamento e à atitude crítica dotarão o futuro profissional de
ferramentas para além do como fazer. Por esta via, este será capaz de colocar
as questões adequadas e saberá responder ao porquê e para quê da sua ação.”
Este documento procura espelhar todas as minhas aprendizagens, vivências
e experiências conseguidas ao longo do EP, enquanto EE e enquanto “Stora”
para os meus alunos. Assim, o documento encontra-se organizado em 5
capítulos por forma a dar resposta às três áreas de desempenho que o EE deve
dominar para poder exercer a docência de EF. No primeiro capítulo “Introdução”,
2 Normas Orientadoras da Unidade Curricular Estágio Profissional do Curso do 2º Ciclo do Mestrado em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário Ensino de Educação Física, aprovadas no ano letivo 2014/2015
3
está contextualizado o documento; no segundo “Enquadramento Pessoal”, abro
o meu livro de histórias e faço passar as pegadas mais marcantes do meu
caminho até ao dia de hoje; no terceiro “Enquadramento da Prática Profissional”,
apresento de forma detalhada o contexto de realização da minha prática
profissional; no quarto “Realização da Prática Profissional”, está dividida em três
grandes áreas de desempenho, onde é descrito todo o processo, dificuldades,
momentos positivos e negativos, momentos de aprendizagem, atividades,
modos de avaliação e atuação. A área 1, destinada à “Organização e gestão do
Ensino e Aprendizagem”, que engloba conceção, planeamento, realização e
avaliação. A área 2. “Participação na Escola e Relações com a Comunidade”
onde relato a minha participação na escola e todas as relações estabelecidas
com a comunidade escolar dos alunos aos pais, professores e funcionários. Por
fim a área 3. “Desenvolvimento Profissional”, onde é feita uma reflexão acerca
da importância da investigação e da observação para o desenvolvimento
profissional do EE. Sendo a oportunidade para o desenvolvimento do EE nos
diferentes domínios de atuação. Neste capítulo é ainda apresentado um estudo
de investigação-ação com a temática “A aprendizagem do retorno no voleibol
através de uma prática distribuída”, que me permitiu retirar conclusões
pedagógicas para o futuro. No quinto capítulo “O Fim do Inicio”, faço o balanço
da minha experiência no ano de estágio e perspetivo as minhas expetativas
futuras no que diz respeito à profissão docente.
5
2.ENQUADRAMENTO PESSOAL
Por mais dura que seja a viagem haverá sempre fotografias para relembrar,
momentos caricatos para partilhar e um longo caminho por terminar. Enquanto
isso, juntaremos todos os trocos, todas as roupas, todo o mundo para estarmos
prontos para partir.
2.1.Era uma vez …
Descrever a minha vida em algumas linhas de um papel, torna-se sem
dúvida difícil, não por ser dolorosa a caminhada, mas pela perceção que tomo
ao olhar para trás. Cinco anos de formação académica, o fim de um percurso
que tanto sonhei, e agora nem dá para acreditar. É agora, é a hora! Somos todo
um conjunto de tintas e aguarelas caídas num papel branco, capazes de montar
um arco-íris ondulado de histórias, de vivências, de momentos só nossos. Somos
o ser e não ser, o ir e o ficar, a dor e a esperança, a luta e a perseverança. Somos
o que acreditamos, o que defendemos, o que lutamos.
Professora pode apresentar-se…
No dia 24 de Maio de 1992,pelas oito horas da noite com alguma pressa,
nasci eu. Chamo-me Ana Margarida Machado de Oliveira, tenho 24 anos e sou
a mais nova de três irmãos. Digamos que com a idade que nos distancia eu vim
um bocadinho fora do tempo. Sou natural de São Victor, em Braga, e realizei o
meu Estágio Profissional na Escola Secundária Alberto Sampaio (ESAS).
Iniciei o meu percurso escolar numa escola primária perto da minha
residência, na freguesia de Palmeira, transitando depois para a Escola Básica
na mesma freguesia, tendo-me mantido lá até ao meu 9º ano. Adorava escrever
e no 8º ano concorri com uma composição a nível Europeu intitulada “O Planeta
Azul não é cor-de-rosa” e ganhei.
6
Desde pequena que sempre fui a Salpicos 3, a que tinha “bichos-
carpinteiros”4,a que fazia cambalhotas nas argolas das Atividades dos Tempos
Livres (ATL) e a única que nunca teve um arranhão. Digamos que aqui já se
verificava o desporto como dimensão lúdica do jogo, por ser uma atividade
alegre, prazerosa e divertida, que apesar de algumas vezes ser ofuscada por
outras valências, nunca deixou de estar presente (Graça & Mesquita, 2011).
Segundo Gomes et al. (2014, p. 132) “educar no e pelo desporto é uma das
missões da escola (…) favorecendo o desenvolvimento da personalidade,
proporcionando valores, razões, motivos e saberes que ajudarão a nortear as
vidas”. Lembro-me que fui muito, muito feliz, por todas as brincadeiras e
traquinices que fazia. Por viver e ver no desporto alegria, brincadeira, diversão,
superação e liberdade. Toda esta felicidade veio mais tarde a ser
complementada por todos os bons exemplos e vivências que me recordo dos
meus professores de EF, passando esta a ser a minha disciplina de eleição.
Lembro-me da minha primeira professora exigente que nos disse que a primeira
aula ia ser muito calminha e saímos de lá quase a rastejar, ou até de fazerem
um círculo no meio do campo para me cantarem os parabéns e a professora de
EF me dar um chocolate como prenda. Na idade dos porquês e dos sonhos
irreais e fascinantes, quando me perguntavam “o que queres ser quando fores
ainda maior” eu respondi sempre: - Professora de EF, por causa deles, de todos
esses meus professores malucos, apaixonados, especiais e únicos que foram
capazes de mostrar o que de melhor tem o mundo, o DESPORTO. Que foram
capazes de manter o respeito, que foram capazes de manter a ordem, mesmo
quando procurávamos o caus, que impunham regras rígidas capazes de nos
levar a uma organização primordial para o nosso crescimento em sociedade, que
conseguiram cativar de um jeito sincero e só deles, sem falsas ilusões e sem
nunca deixarem de ser professores, de dar matéria, de colocar metas e objetivos.
Hoje vejo em cada um deles, características que fizeram a diferença, que me
fazem ser assim, um conjunto de interligações cruzadas com o melhor que retirei
de cada um. Como afirma Moreira et al. (2015, p. 264), “ (…) é evidente que as
3 Alcunha 4 Expressão popular usada para caracterizar pessoas que são muito enérgicas e que não param
7
experiências enquanto aluno, o seu passado desportivo e a influência dos
professores, contribuíram em larga medida para a escolha do curso do EE.” O
desporto é o amor enraizado em cada um de nós, Gomes et al. (2014, p. 132)
diz-nos que “o desporto é parte integrante da cultura de uma nação, património
da humanidade, fator de cultura global, de civilização, de cidadania (…). A
importância do desporto na história da humanidade parece ser hoje em dia
indiscutível.”
A partir do 5º ano comecei a praticar Atletismo no Desporto Escolar (DE) e
ia a todas as competições com a escola à Grande Nave no Parque de
Exposições, em Braga. Como havia uma ligação entre a minha escola e o
Sporting Clube de Braga, comecei a treinar e a competir federada. Aqui começou
o meu percurso enquanto atleta, chegando a conquistar títulos regionais e
nacionais, títulos esses muitas das vezes conseguidos com records regionais e
nacionais principalmente em barreiras. Fui representar Portugal nos Jogos da
Fédération Internationale Sportive de L’Enseignement Catholique na Hungria em
Atletismo no ano 2007, competindo num escalão acima, conseguindo trazer a
medalha de 3º lugar no salto em altura. Foi aí que percebi que gostaria de
experimentar um desporto coletivo, onde pudesse partilhar e compartilhar a
vitória em conjunto. Não que a vitória fosse partilhada individualmente antes,
mas porque todos sabemos que numa equipa todos dependemos uns dos
outros, e numa corrida de velocidade eu corro sozinha, por mim. Numa conversa
de autocarro, uma amiga propôs-me ir a um treino de voleibol no Sporting Clube
de Braga, e eu fui. Fui porque gostava da modalidade, e porque desde pequenina
que acompanho o meu pai nos Jogos da Amizade realizados pela Portugal
Telecom onde todas as delegações pertencentes se juntam, 2 vezes por ano,
para jogar voleibol misto. Na verdade, jogar voleibol para mim era jogar em
família, chegamos a ter na mesma equipa, os meus irmãos, o meu pai a minha
cunhada e os meus primos. Pratiquei voleibol federado do 10º até ao meu
primeiro ano de faculdade.
Desde que me lembro sempre quis ser professora de Educação Física,
seguia o exemplo do meu irmão mais velho, o meu padrinho. Depois de um
percurso de aluna média no Ensino Secundário, chegaram os pré-requisitos na
8
tão desejada Faculdade de Desporto com a total aprovação. Porém um
contratempo surgiria na minha vida quando rompi o ligamento cruzado anterior
e posterior, tive de retirar o menisco interno, e, reconstruir o externo. Foi dos
momentos mais dolorosos que tive até hoje. Primeiro porque o voleibol teria de
ser deixado de lado, no mínimo 6 meses e depois porque na minha cabeça eu
não conseguiria ir para um curso de desporto naquelas condições, tendo-me
candidatado para Ciências da Comunicação na Universidade do Minho.
Passado 6 meses num curso que pensava gostar, enfrentei os meus pais e
disse-lhes que preferia “perder um ano da minha vida do que ser frustrada a vida
inteira” e voltei a fazer os pré-requisitos; e, finalmente, entrei na FADEUP em
2011/2012. Todo o entusiasmo rapidamente se transformou numa azáfama
devido à elevada carga de trabalho coordenada com as viagens todos os dias
do Porto para Braga, o que acabou por condicionar o meu futuro no voleibol
federado. A principal razão encontrada para aquela desistência era pelo simples
facto de me ter comprometido sempre que em tudo o que eu me propunha a
fazer tinha de ser bem feito, 100% empenhada, e isso por mais que eu quisesse
era impossível. Ingressei no voleibol da faculdade para colmatar a saudade
existente, tendo sido campeã nacional e ficado em 7º lugar nos Campeonatos
Europeus em Roterdão em 2014. Após ter realizado os três anos de licenciatura,
segui o meu sonho, ingressei no Mestrado de Ensino, afinal de contas sempre
quis lecionar, é intuitivo. O primeiro ano foi vivido de forma muito enérgica, numa
sensação de faltarem horas para dormir mas com a perceção que tudo o que dali
fosse retirado seria extremamente crucial para a minha vida e para o meu futuro.
As vivências do primeiro ano traduziram apenas uma pequena parte do que seria
realmente o estágio em contexto real, com uma turma só minha. Na hora da
escolha, Braga era a minha eleição, pretendia acabar com o ritmo alucinante das
viagens Braga-Porto e seguindo os conselhos de alunos que já frequentaram
uma das escolas, decidi candidatar-me e entrei na minha primeira opção. Na
verdade a lista intensa que nos obrigaram a consultar e o compromisso assinado
por mim para ficar com a escola que me fosse destinada, tiraram-me muitos dias
pacatos. Nós sabíamos que as médias contavam, além disso sabia também
9
quem concorria comigo, e eu queria ficar com eles. Passados alguns dias
angustiantes, entramos os três!
Considero-me uma pessoa trabalhadora, extremamente organizada,
perfecionista, determinada, atenta, minuciosa, companheira, prestável e
lutadora. Gosto de me “meter em tudo” como me diz muitas vezes a minha mãe:
dou catequese, fui coordenadora do grupo de jovens, canto no grupo coral e faço
voluntariado com crianças com autismo ou até mesmo no banco alimentar. Em
2011 e 2013 respetivamente, fui às Jornadas Mundiais da Juventude e a Taizé
e estas duas experiências acho que toda a gente deveria vivenciar pelo menos
uma vez na vida. Porque só com as nossas pequenas experiências e no contacto
com os outros é que aprendemos, evoluímos e damos valor ao essencial, ao
necessário. Contudo, também sou muito pessimista, ansiosa, resmungona,
teimosa, insegura e com medo em errar.
2.2.Porque escolhi esta profissão, este caminho?
Em tom de brincadeira ou não, é comum encontrarmos muitos pais que
ambicionam que os filhos sejam médicos ou enfermeiros, para que quando a
chegada da velhice, a saúde comece a fraquejar eles possam ter por perto
alguém forte e suficientemente capaz de cuidar deles. De responder a todas as
dúvidas sobre as dores no corpo, na alma ou até mesmo qual o medicamento
que fará efeito mais rápido. Esquecem-se que ajudar, todas as pessoas são
capazes de fazer sem ser médicas ou enfermeiras, para isso basta o amor,
compaixão e gratidão que nutrimos por eles. Eu nunca o quis, não que a
medicina não seja uma via importante, mas porque nunca me fascinou. A
experiência e os sentimentos são de certa forma diferentes, nesse ramo, eles
salvam pessoas e diagnosticam doenças, assim como nós diagnosticamos o
problema do exercício e o salvamos. O porquê de seguirmos uns caminhos em
prol de outros, nem sempre tem uma justificação plausível e concreta, apenas
sabemos que somos um conjunto de influências boas e más, num livro tudo
menos branco com papel prensado de várias formas. Gostamos e escolhemos
ser o que nos parece mais perto do ideal de todos os nossos gostos. Queremos
ser porque temos exemplos, em casa, na família ou nos amigos. E então vamos,
10
por um caminho desconhecido, mas que acreditamos, com a certeza de
encontrar apenas duas verdades, a do sucesso ou a da desilusão. Digamos que
somos o que escolhemos ser, mais doces ou mais amargas, consoante a nossa
história, a nossa maneira de lidar e de ver os acontecimentos, as coisas, a vida.
Somos os caminhos trilhados, as quedas dadas e todo um conjunto de sorrisos,
de partilhas, de memórias. Verdade ou não, as pessoas que passam na nossa
vida, passam com um propósito. Propósito de provocar em nós diferentes
estímulos capazes de exaltar influências boas ou menos boas, de nos desafiar,
de nos marcar. Eu não tenho a certeza da existência de um caminho escolhido
por influência deles, dessas pessoas que me marcaram de alguma forma, mas
tenho a certeza que provocaram em mim admiração, vontade de ser livre a fazer
o que eu gosto independentemente de tudo o resto. Quero com isto dizer que
não houve nunca, nem por parte do meu irmão, nem por parte dos meus
professores/treinadores um incentivo para eu ser professora de EF, mas quer
queiramos quer não, eles foram importantes nessa minha decisão, porque
consciente ou inconscientemente eles sempre foram pessoas importantes e de
quem eu me orgulho muito. Se me perguntassem na altura da escolha qual era
a melhor profissão do mundo eu provavelmente diria que não sabia a resposta,
apesar de acreditar ser a minha. Mas nunca a tinha vivenciado, apenas via no
rosto deles a satisfação do que é ensinar alguém. Mas eu via de um prisma
diferente do que vejo agora, a sensação transcende a visão. Partilhar e enraizar
nos outros alguma coisa, alguma aprendizagem, algum raiozinho de luz que os
atravessa e que rapidamente passam a utilizar como se sempre fosse deles é
fascinante e eles faziam-no comigo. Eu é que não prestava a devida atenção,
atenção essa que eu me rio ao lembrar. Eles foram importantes e marcantes e
peças fundamentais para eu estar hoje a escrever este meu primeiro livro.
Provocaram em mim experiências que ainda hoje me marcam e que guardo com
carinho no coração. Experiências grandes e pequenas que foram capazes de me
influenciar no que sou hoje e para sempre.
11
2.3-Expetativas e impacto com o contexto de Estágio Profissional
“Sobre o tempo, no outro dia era Setembro, e eu “morria” de medo de todas
as coisas novas que iria enfrentar, agora sinto-me parte da mobília cá da
escola. Esta passou a ser a minha primeira casa, entro aqui de manhã,
almoço e muitas das vezes janto e saio tarde e a más horas. Saio de
bagagem e coração cheio com novas experiências, com novas histórias que
os lá de casa se “cansam” de ouvir vezes sem conta. A diferença de idades
entre mim e os alunos parece mínima, mas digamos que 8 anos ainda é
alguma coisa. Os “problemas” da adolescência são engraçados, às vezes
faço um esforço para perceber como eu era, mas não consigo, naquela altura
achávamos que o mundo era complicado demais e há medida que o tempo
avança as nossas opiniões mudam e mudam muito. Na minha altura e na
altura deles (as), ainda hoje, jogava-se aos jogos das cantigas e das palmas,
da coordenação de quem se esquecia de baixar no tempo certo e dos toques
nos pés com piruetas. Gostávamos de andar na moda, de ouvir a música do
momento e de rir envergonhadamente quando falávamos de rapazes”.
Reflexão aula 45 e 46. 10 Dezembro de 2015
Durante todo o verão, recriei imagens de como seria a escola, a turma, os
professores, como seria eu enquanto professora Margarida. Perguntava-me se
estaria à altura, se a turma me respeitaria, se a conseguiria controlar. Não que
me achasse mais ou menos capaz, mas porque o cenário pintado por
professores próximos e pelas notícias que nos eram bombardeadas todos os
dias, era urgente saber atuar. Ainda que o caminho do ensino não estivesse no
seu auge, era o que realmente eu queria, e nada, nem a falta de empregabilidade
me fizeram mudar de ideias.
Falando mais concretamente das expetativas vivenciadas, o primeiro aspeto
que me ocorre foi o facto de passar a linha, de passar a estar do lado de lá do
palco, isto é, ser professora Margarida e não aluna Margarida. Durante anos a
fio olhei os meus professores com respeito e com o sonho de poder ser eu
naquele lugar, de poder transmitir saberes, experiências e alegrias. Apesar de
nunca ter deixado de ser aluna, adquirindo assim um duplo estatuto, este foi um
12
ano incrível para a minha formação inicial em contexto real de prática, até por
ser crucial para a minha identidade profissional. Segundo Queirós (2014b, p. 58),
“compreender a profissão docente na atualidade, implica uma visão
multifacetada que revele toda a complexidade do problema”. Ser professor antes
de o ser, acaba por ser um conjunto de especulações e expetativas mirabolantes
às quais nos sujeitamos. O grande fascínio de ser professor é poder ensinar,
educar, partilhar técnicas, experiências e vivências com outras pessoas.
Uma outra expetativa era perceber de que forma conseguiria aplicar, ou não,
todos os conhecimentos transmitidos ao longo do primeiro ano de mestrado,
nomeadamente, na realização das Unidades Didáticas (UD) através do Modelo
de Estrutura e Conhecimento (MEC), Plano de aula, posição e relação do
professor com o aluno entre outros. Tudo isto era inquietante e desafiador, uma
vez que, apesar de já termos lecionado aulas em algumas escolas a realidade e
o contexto eram totalmente diferentes. Contudo considero que fui capaz de
incorporar os conhecimentos advindos da minha formação e de me adaptar a
novas realidades e desafios.
Mentiria se dissesse que não tinha expetativas relativamente à forma como
viria a ser integrada na escola, qual seria o meu papel e que importância teria a
minha ação para comunidade escolar. Temia ser mais uma estagiária com o
excessivo negativismo que por vezes a palavra acarreta. Mas quanto a isto, as
expetativas foram superadas. Fui tratada como uma professora normal, sem
estatuto diferente e a minha integração foi-se efetuando de dia para dia, fazendo
com que a minha intervenção fosse marcante e positiva a todos os níveis.
Em relação às infraestruturas, desejava que a escola tivesse as condições
necessárias para promover um ensino de qualidade. Condições como o material
e os espaços e rapidamente comprovei que a escola oferecia condições
excelentes no que a este ponto diz respeito. Nunca, em nenhuma aula, houve
falta de material ou falta de espaço adequado para a prática. As infraestruturas
foram sem dúvida um dos pontos que permitiam à escola estar num patamar
superior relativamente ao desporto.
13
O método de supervisão e acompanhamento do meu processo de estágio
sempre foram uma grande inquietação. Esperava que tanto o PC como o PO
fossem capazes de me auxiliar e de discutir comigo pressupostos para
chegarmos a uma verdade pensada e refletida. Após o término do meu percurso,
posso afirmar que as expetativas foram bem superadas. No que diz respeito ao
PC, revelou desde sempre imensa experiência e conhecimentos nesta área. A
sua disponibilidade e abertura para discutir ideias, a forma como as transmite e
a audácia de nos incluir inteiramente em todas as atividades escolares foi
realmente notável. Pude contar com a sua presença para refletir sobre os meus
erros, para aprender, para crescer, e, tornar-me cada vez mais competente
enquanto docente. Relativamente ao PO, como o próprio nome indica, acabou
por ser o meu melhor mentor. Apoiou-me em questões do projeto investigação-
ação do meu Relatório de Estágio (RE), emitiu-me feedbacks acerca da
observação das minhas aulas, e, através da sua experiência e conhecimento,
preparou-me para um ano de trabalho importantíssimo e cheio de ricas
experiências para o meu futuro enquanto profissional.
No grupo de EF, esperava reter diferentes perspetivas e conhecimentos de
professores mais experientes, e que, na eventualidade de ocorrer algum
problema, eu fosse capaz de os resolver o mais rapidamente com a partilha das
suas vivências. Esta foi mais uma expetativa superada, tendo havido um
relacionamento saudável entre todo o grupo pudendo receber críticas
construtivas sobre o meu trabalho.
Relativamente aos meus dois colegas de estágio, como já os conhecia e
estava de certa forma habituada a trabalhar com eles, perspetivava um núcleo
de trabalho forte, unido e coeso, havendo de sempre e para sempre um apoio
incondicional em todos os trabalhos realizados e em todas as dúvidas que
pudessem surgir.
Em relação aos meus alunos, este era o ponto mais sensível de todos.
Digamos que com as notícias que ouvimos todos os dias acerca do ensino, da
indisciplina e da situação da Educação Física, este era um ponto que eu não
conseguiria controlar. Talvez o medo de não conseguir controlar a turma, ou até
mesmo o facto de não me respeitarem por ser demasiado nova. Eram
14
especulações e assombrações sem sentido. Não buscava a utopia do aluno
perfeito, que fosse um modelo, que não falhasse, que soubesse fazer todas as
modalidades exemplarmente. Queria apenas que eles aprendessem, que me
deixassem ensinar, que me deixassem incutir neles, os melhores valores que o
desporto transporta para a vida, como a superação, a interajuda, entre outros,
aculturando-os de desporto, capazes de levar consigo o ânimo de praticar
desporto fora das escolas, que não o deixassem desvanecer na escola e nas
aulas de EF. E ainda que “os professores fascinantes não são aqueles que
conhecem bem a matéria que lecionam, mas antes aqueles que promovem uma
educação inspirada na emoção, na libertação da inteligência e na expansão do
imaginário, que conhecem o funcionamento da mente”(Cury, 2006, p. 105). A
verdade é que esta expetativa foi mais que superada. A minha turma foi desde
sempre muito simpática, cumpridora dos objetivos propostos e respeitadora.
Criei imensas expetativas que no meu entender foram superadas de forma
positiva. Com o decorrer das primeiras apresentações e reuniões a calma
instalou-se, porém uma certa ansiedade tomava o seu lugar. Ansiedade de
querer fazer e conhecer tudo, apaziguada rapidamente pela forma esplêndida
como fomos recebidos e integrados na escola. São estas interações que o
mundo necessita, que nós enquanto docentes precisamos, interações com a
comunidade escolar, partilha de todas as histórias, conversas e valores que
vamos construindo o nosso Eu profissional, a nossa identidade. Somos assim,
todo um conjunto de socializações desde a porta da escola, aos corredores, aos
professores e aos alunos.
15
3.ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL
3.1.Análise macro – O Estágio Profissional no contexto da formação
inicial
Todos sabemos que o estágio é importante, assemelha-se em todos os
casos a uma preparação para a realidade que tende a ser brusca e repentina,
assim como um bebé também faz estágio na barriga da mãe 9 meses antes de
conhecer a dura realidade que o espera. Comparar todo o processo com algo
mais próximo do senso comum, leva muitas das vezes a que a explicação seja
mais clara, mais leve. Contudo, antes de chegarmos a esse estágio, é necessário
que haja uma preparação, um aviso, um terreno fértil para perguntas, para
experimentos, para partilha de saberes. A isso damos o nome de formação
inicial. A formação inicial tem como encargo, mostrar aos futuros docentes
através de práticas e conceitos como será a futura realidade profissional
(Queirós, 2014a). A entrada na profissão acaba por ser uma fase extremamente
crucial para o próprio desenvolvimento do conhecimento e da identidade
profissional. O estágio pode ser claramente entendido como “terreno de
construção da profissão”, sendo este uma peça basilar para a socialização inicial
na profissão em contexto real de prática(Queirós, 2014a). Começamos então a
criar o nosso “Eu” docente, profissional, pessoal e social dentro de toda a
panóplia de oportunidades que a escola nos oferece. Mas afinal o estágio
profissional é o quê?
Do ponto de vista dos propósitos, segundo as normas orientadoras5 (ano
2014-2015), “O Estágio Profissional tem como objetivo a formação do professor
profissional, promotor de um ensino de qualidade. Um professor reflexivo que
analisa, reflete e sabe justificar o que faz em consonância com os critérios do
profissionalismo docente e o conjunto das funções docentes entre as quais
sobressaem funções letivas, de organização e gestão, investigadas e de
5 Normas Orientadoras da Unidade Curricular Estágio Profissional do Curso do 2º Ciclo do
Mestrado em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário Ensino de Educação
Física, aprovadas no ano letivo 2014/2015
16
cooperação. Este visa a integração no exercício da vida profissional de forma
progressiva e orientada, em contexto real, desenvolvendo as competências
profissionais que promovam nos futuros docentes um desempenho crítico e
reflexivo, capaz de responder aos desafios e exigências da profissão” (p.3). O
Estágio Profissional é muito mais do que nele é exigido. São necessárias
imensas horas de trabalho árduo, de reflexão, de tomada de decisão para se
chegar à própria ação educativa. Todavia o trabalho continua após essa
chegada, havendo uma análise de tudo o que correu bem e menos bem,
colhendo as devidas ilações para recomeçar todo o processo com as
aprendizagens daí retiradas. Acaba por ser o teste do produto final, o último
cartuxo, a última tentativa, a última fase. O estágio permite premiar o futuro
professor de EF com ferramentas úteis para o desenvolvimento de competências
baseadas “na experiência refletida e com significado”, adquirindo estas uma
enorme importância para o futuro (Batista & Queirós, 2015, p. 41).Segundo Rolim
(2015, p. 58), “O Estágio Profissional (EP) deve ser por todos entendido como
um processo consciente e inequívoco, prolongado e profundo, diariamente
construído, desconstruído e reconstruído novamente, com muitos avanços e
recuos. A sua edificação (EP) cimenta-se gradualmente sobre uma superfície
(escola) altamente mutável e complexa, para a qual estamos rara e cabalmente
preparados.” Acabamos assim por experimentar, por escrever e sarrabiscar e
voltar a reconstruir pequenos pedaços do que queremos ser, do caminho que
queremos trilhar. Caímos muitas vezes e levantamo-nos vezes sem conta,
tomamos a consciência que o que é pensado até poderia ser um trabalho
excecional mas na prática foi apenas um plano furado. Vivemos assim neste ano
de estágio o confronto direto com todas as necessidades e complexidades da
escola, esperando sair com a bagagem mais rica, mais útil, mais verdadeira.
Encarei este processo como mais uma aprendizagem, escadinha a escadinha
nos patamares da minha formação. Aqui aprendi com os meus erros, com os
meus sucessos, com os meus conhecimentos e nas relações com os alunos,
com os professores, com a escola e com todo o meio envolvente. Sentia-me
como em todo este processo de ensino, extremamente motivada e pronta para
embarcar nesta viagem com toda a minha dedicação e responsabilidade.
17
Prontifiquei-me a evoluir, para me tornar melhor, sim, melhor pessoa e melhor
profissional, desenvolvendo muitos dos meus conhecimentos e capacidades.
Segundo Rolim (2015, p. 61) “O Estágio Profissional, sendo um processo que
repousa quase exclusivamente nos ombros do estagiário é uma experiência
pessoal e identitária que percorre todo um ano letivo. Nesta caminhada, cada um
por si e em comunidade de prática (núcleo de estágio) procura simultaneamente
encontrar-se, descobrir-se e divulgar-se aos outros, com o desígnio de integrar
toda esta construção no seu Património Imaterial.”
3.1.1.O que é a escola como instituição?
Se perguntarmos aos nossos avós, aos nossos pais como era a escola,
verificaremos sem dúvida, que esta tem sofrido ao longo dos anos inúmeras
mudanças. Desde dos cadernos em lousã ou as reguadas que levavam caso
não soubessem a resposta, tudo foi e é história. O mundo acaba por evoluir e
avançar a uma velocidade gigante como se nos escapasse de certa forma pelos
dedos das mãos. O que ontem era a época dos nossos pais, hoje é a nossa
época e amanhã será a época dos nossos alunos. Incrivelmente e de uma forma
assustadora revejo-me nos meus pais a dizer “na minha altura não era assim”,
como se de uma forma mais ou menos fundamentada eu pertencesse à idade
da pré-história comparada com a atualidade. O que era verdade ontem
provavelmente já nem fará muito sentido amanhã. As modas tomam o seu lugar
e a acomodação de certos rituais escolares acabam por tornar a escola pouco
atual e pouco aberta à inovação. Desde que me recordo de tomar em atenção
aos assuntos da atualidade que a escola e a educação tem constituído um dos
assuntos mais debatidos de todos os tempos na sociedade. Procuramos resolver
os problemas da avaliação, das médias, do abandono escolar, dos modelos mais
adequados ou até mesmo encontrar solução para uma escola multicultural. A
mudança veloz verifica-se tanto ao nível das escolas como dos professores. A
estes são colocados inúmeros desafios que carecem de uma responsabilidade
permanente. Desafios como o aumento da influência da média nos alunos, os
modelos educativos díspares numa sociedade multicultural ou até mesmo o
18
aumento das oportunidades de aprendizagem fora da escola. (Batista & Pereira,
2014).
Segundo Nogueira (2014, p. 167), “ a Escola do século XXI, deverá manter-
se aberta, disponível a conceitos de projetos educativos originais. Sendo assim,
uma escola dinâmica, atenta às novas tendências pedagógicas, necessita de ter
criatividade e irreverência para a concretização de projetos inovadores e
aliciantes direcionados à comunidade escolar”. A mesma autora defende que a
educação, em sentido lato, tem e deve ser encarada pela Escola/Instituição de
Ensino e por todos os intervenientes como o valor máximo de toda a sua
atividade. E que nunca nos esqueçamos que a escola é quem alberga e lhe dá
todo esse sentido. Cabe à escola proporcionar aos jovens momentos que os
façam verificar que a educação é necessária e extremamente crucial para estes
estarem preparados para encarar a sociedade, de forma responsável (Nogueira,
2014, p. 173).
Contudo e acima de tudo não nos podemos esquecer que “é na escola e no
diálogo com os outros professores que se aprende a profissão. O registo das
práticas, a reflexão sobre o trabalho e o exercício da avaliação são elementos
centrais para o aperfeiçoamento e inovação” Queirós (2014a, p. 81). Assistimos
a uma aprendizagem mútua entre o professor e o aluno, havendo uma partilha
rica em conhecimentos. A escola permite assim uma educação multidisciplinar e
variada, possibilitando ao aluno aprender não só os conteúdos de cada matéria
de ensino, como também um conjunto de normas e valores essenciais para a
sua vida e para o seu crescimento pessoal. É portanto de extrema importância
que o professor esteja em constante reflexão acerca desta temática e que nunca
deixe de trabalhar em prol desta panóplia cultural. Hoje mais que nunca, o
professor não pode ser simplesmente um reprodutor de conteúdos.
3.1.2.Aprender a ensinar
A evolução é tão veloz que os professores tomam consciência que a
formação inicial não basta para o resto da vida, que é necessário aprender
19
durante toda a vida, atualizar-se, modernizar-se (Delors, 2003), aprender a
ensinar não é exceção.
Sabe-se, de antemão, que todos os professores do ponto de vista de
“aprender a ensinar” passam por diferentes estádios, fases, ao qual são
confrontados com distintas exigências pessoais, profissionais, sociais (Queirós,
2014a). Diria que ninguém nasce ensinado, assim como ninguém nasce
professor do dia para noite. Acredito haver dentro de cada um de nós uma certa
predisposição que nos corroí e nos atribuí significado. Assim como o bicho da
madeira a perfura a fim de mexer com ela, não no sentido de a estragar mas
como se quisesse que esta acordasse para ver cumprida a sua missão.
Somos ensinados a vida toda, desde os primeiros passos até à idade em que
precisamos do auxílio da bengala para andar. E todos nós ensinamos alguma
vez, alguma coisa a alguém, as primeiras palavras, o apertar os cordões, a andar
de bicicleta, ou até que as rosas picam mas que a sua beleza é especial. Ensinar
no verdadeiro sentido da palavra implica um pouco mais do que todas as
aprendizagens do senso comum. Matos (2014, p. 174) diz-nos que “falar de
educação é falar do processo que permite transformações duradouras e
significativas para o desenvolvimento e formação do ser humano. Falar de
educação significa falar da intencionalidade, da organização, das condições e
circunstâncias, da qualidade e quantidade das tarefas, do tempo e do espaço,
da estrutura, da sistemática do processo educativo”. Podemos assim entender a
existência da educação em sentido lato e em sentido restrito. Em sentido lato,
como referido anteriormente porque toda a vida nos educa. Em sentido restrito,
quando falamos de uma ação decorrente entre pelo menos duas pessoas
(educador e educando), onde existe uma transmissão. É urgente no entanto que
haja uma ligação entre estas duas educações, existindo uma troca de
informações e partilha, mas nunca ignorando toda a educação provinda do
mundo, das coisas, da natureza, dos factos e das situações (Bento, 1995).
Para que possamos ir mais longe e perceber este ponto bastante sensível,
importa perceber outros aspetos a ser tomados em consideração. A pesquisa
educacional aborda duas metáforas segundo Sfard (1998) que acabam por
20
elucidar a aprendizagem profissional. Não se pretende contudo, defender uma
em prol da outra, mas perceber que estas se complementam. Assim podemos
distinguir a metáfora de “aquisição de conhecimento” que é a mais antiga. Esta
defende que o cérebro humano é um recetor de conhecimentos, pronto a ser
cada vez mais preenchido com determinadas matérias, sendo que a pessoa que
aprende, acaba por ser detentor de tais aprendizagens significativas. Assim que
tomamos consciência que esta metáfora da aquisição está presente em todas
as áreas da aprendizagem, acabamos por nos tornar mais recetivos à sua
importância, isto é, a tudo que nos rodeia. Adquirindo o máximo de competências
mesmo que em outras áreas, acabaremos sempre por conseguir aplicá-las em
áreas totalmente diferentes. Recebemos e tornamos nosso esse conhecimento,
por forma a construí-lo e adaptá-lo a nós. O professor deve ajudar o aluno no
sentido em que ele consiga alcançar os seus objetivos, isto é, deve ser capaz de
usar todas as ferramentas possíveis para que o aluno evolua. Assim que
adquirimos o conhecimento, podemos aplicá-lo e depois partilhá-lo com os
outros. Ao longo dos tempos este conceito de aquisição tem persistido num vasto
número de artigos (Sfard, 1998). A mesma autora defende ainda a existência de
outra metáfora, a “participação na construção da aprendizagem” sendo esta mais
atual. A metáfora da aquisição está de tal forma enraizada em cada um de nós,
que muito provavelmente nunca iriamos ter a noção de uma metáfora alternativa.
As novas pesquisas remetem-nos para a participação na construção da
aprendizagem. Os conceitos mudaram e o “ter” passa a dar importância ao fazer.
Um conhecimento não estará completo segundo a metáfora mais atual
“participação na construção da aprendizagem” se àquilo que aprendemos não
formos capazes de acrescentar e nos envolver no processo de aprendizagem.
Como diz o provérbio chinês “Não dês o peixe, mas ensina-o a pescar”6. Não
importa só acumular aprendizagens mas saber evocá-las na prática, isto é, o
processo de aprendizagem é muito mais do que adquirir conhecimentos e torná-
los próprios, mas passa essencialmente segundo este ponto de vista, por
caracterizar o aprendiz numa pessoa interessante, na participação de
6 Provérbio chinês que significa que o mais importante é que saibamos fazer determinadas coisas em vez de estas nos aparecerem feitas. Neste caso em concreto é necessário que saibamos (re) construir o conhecimento e não apenas que o adquiramos.
21
determinadas atividades, em vez de acumular os conhecimentos para si mesmo.
Ou seja, com isto podemos afirmar que a capacidade de comunicar acaba por
ser desenvolvida em contexto real de prática, aquando da inserção numa
comunidade, neste caso a escola, conseguindo uma adaptação a todas as
normas vigentes que esta acarreta. Assim o aprendiz (futuro docente) acaba por
tornar-se parte integrante da comunidade escolar. A aprendizagem implica
participação nas atividades de instrução e a participação deve ser encarada
profundamente. Enquanto a aquisição salienta o individual, a prática dá
importância ao meio envolvente e aos indivíduos que dela fazem parte. Em suma
torna-se fulcral saber conjugar as duas metáforas por forma a adquirir uma
aprendizagem mais eficaz e duradoura.
A aprendizagem pode ainda ser caracterizada segundo Belle (1982) como:
formal, informal e não formal. Através destas três aprendizagens construímos o
caminho e os alicerces necessários para uma boa aprendizagem de como
ensinar, isto é, através das atividades e dos próprios processos que nos
sujeitamos ao longo da vida vamos aprendendo determinadas características
que se tornam cruciais para o momento de atuação. Assim, Belle (1982) refere
que a aprendizagem informal é um processo que decorre ao longo da vida, onde
cada pessoa vai adquirindo conhecimentos, capacidades, posturas através das
experiências e do próprio contacto com o meio ambiente. Traduzindo em toda a
minha vida fui sujeita a influências que me foram úteis para o ensino, para
aprender como ensinar e que me tornam única com as particularidades que
incorporei da influência recebida. Relativamente à aprendizagem não formal,
esta é caracterizada como sendo qualquer atividade organizada e sistemática,
ou seja, tudo o que é realizado fora da estrutura dita formal (escola) no sentido
de providenciar diferentes tipos de aprendizagens úteis para sabermos lidar com
outras pessoas e com o facto de termos de conseguir ensinar alguma coisa a
alguém (Belle, 1982). Neste ponto, o facto de ter retirado algumas formações
desportivas, de frequentar o voleibol, dar catequese e participar no grupo de
jovens fez com que o contacto com os alunos fosse mais real, mais próximo.
Acabava por adquirir competências que eram utilizadas nas aulas sem me
aperceber e que acabavam por ter transfer das tarefas para a escola e da escola
22
para as restantes tarefas. Por fim, a aprendizagem formal foi toda aquela que foi
aprendida de forma institucionalizada e hierarquizada, começando na escola
primária e acabando na universidade (Belle, 1982). Aqui a aprendizagem ao
longo dos anos, inclusive na faculdade através do ensino específico da profissão
tornou-se uma mais-valia para poder moldar o meu eu profissional, assim como
todas as influências positivas e negativas dos professores com quem interagi.
Assim a universidade foi capaz de promover uma prática reflexiva
proporcionando um ambiente de aprendizagem crucial para poder ensinar. A
reflexão torna-se particularmente útil na formação de professores, sendo capaz
de proporcionar uma ponte entre os conhecimentos adquiridos, e a experiência
profissional, as observações e o próprio contacto com a restante comunidade
educativa (Nelson & Cushion, 2006). O autor supracitado aborda três formas de
refletir: a reflexão na ação (ou seja, durante a ação presente), reflexão sobre a
ação (no âmbito da ação presente mas não no meio da atividade) e reflexão
sobre a reflexão na ação (fora da ação). Ao longo deste estudo, Nelson e
Cushion (2006) concluíram que a reflexão oferece uma estrutura conceitual para
entender a formação de treinadores. Assim como para nós, futuros docentes, o
facto de refletirmos criticamente sobre as experiências de ensino e sobre as
aulas torna-nos cada vez mais conscientes do contexto em que estamos
inseridos e dos erros que não devemos cometer.
Na verdade, é através deste processo reflexivo que os estudantes
estagiários tomam consciência dos seus comportamentos e desenvolvem um
raciocínio logico por trás de cada ação.
Tornarmo-nos professores, acaba por ser um caminho cheio de curvas e
contracurvas, numa velocidade aceitável e evolutiva que acarreta todo um
conjunto diverso de aprendizagem e experiências ao longo de todo o percurso
formativo (Pacheco & Flores, 1999).Assim, podemos retroceder ao filme da
nossa vida, ao exato momento em que eramos alunos e perceber tudo o que não
gostávamos nos professores, só assim seremos capazes de não reproduzir com
os nossos alunos o mesmo caminho. Seremos capazes de lhes proporcionar
oportunidades mais alargadas e mais vincadas nas questões fulcrais para o
desenvolvimento de competências (Allessandrini, 2002). Segundo Queirós
23
(2014b, p. 59)“ensinar é assumir uma postura ética no mundo, e sugere que esta
mesma postura ética seja talvez, a única, mas também a melhor satisfação que
um professor possa ter”. Foram realmente muitas as horas que passei a refletir,
a discutir com os colegas, a dormir sobre os assuntos, sobre o desporto e as
suas perspetivas e concluo que valeu apena, que ensinar é a coisa mais
gratificante que um professor pode ter e que cá para nós, ainda tenho muito que
suar. Aprender a ensinar acaba por ser um processo de aprendizagem onde há
uma alteração da nossa atuação consoante as informações que recebemos e
analisamos (Rodrigues, 2015). Para que possamos perceber todo o contexto a
que nós, EE nos sujeitamos, é necessário que haja um enquadramento legal.
Não nos esqueçamos que o EE não é um professor efetivamente da escola, mas
sim alguém externo que vai realizar o contexto profissional numa escola para
poder continuar o seu percurso formativo.
3.2.Análise meso – O Estágio Profissional no contexto legal e institucional
As Normas Orientadoras do EP do 2º ciclo de Estudos conducente ao grau
de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário da
FADEUP, operacionalizaram o Regulamento do EP para o ano letivo em vigor.7
Do ponto de vista legislativo, “a estrutura e funcionamento do Estágio
Profissional (EP) consideram os princípios decorrentes das orientações legais
constantes do Decreto-lei nº 74/2006 de 24 de março e o Decreto-lei nº 43/2007
de 22 de fevereiro e têm em conta o Regulamento Geral dos segundos Ciclos da
UP, o Regulamento Geral dos segundos ciclos da FADEUP e o Regulamento do
Curso de Mestrado em Ensino de Educação Física.”8 Para que o EE consiga
uma integração ajustada às exigências do cumprimento profissional, o artigo 14º
do Decreto-lei nº 43/2007 de 22 de fevereiro9 descreve-nos variadas
7 Matos, Z. (2014). Normas orientadoras do estágio profissional do ciclo de estudos conducentes ao grau de mestre em ensino de Educação Física nos ensinos básico e secundário na FADEUP. 8 Matos, Z. (2014). Regulamento da Unidade curricular Estágio Profissional do ciclo de estudos conducentes ao grau de mestre em ensino de Educação Física nos ensinos básico e secundário na FADEUP. 9 Ministério da Educação. (2007). Decreto-lei nº43/2007 de 22 de Fevereiro. Diário da República – 1.ª série (38), 1320-1328.
24
componentes de formação. O EP deve proporcionar a observação e colaboração
em situação de prática de ensino supervisionada na sala de aula e na escola;
experiências de planificação, de ensino e avaliação, de acordo com as
competências e funções docente; a lecionação de grupos ou turmas com
diferentes níveis e ciclos de ensino; e, por último, adotar uma postura crítica e
reflexiva em relação aos desafios, processos e desempenhos do dia-a-dia
profissional.
Institucionalmente, o EP é uma unidade curricular pertencente ao segundo
ciclo de estudos conducente ao grau de Mestre em Ensino de Educação Física
nos Ensinos Básico e Secundário, mais especificamente ao segundo ano,
correspondendo a um total de 48 unidades de crédito European Credit Transfer
and Accumulation System (Batista & Queirós, 2015). De acordo com as autoras
supracitadas, esta unidade curricular integra duas componentes: a) a prática de
ensino supervisionada, realizada numa escola cooperante com protocolo com a
FADEUP e b) o RE que revivência todo o trabalho elaborado durante o ano letivo,
orientado por um professor da faculdade, sendo este o responsável da instituição
de ensino superior que supervisiona o EE no contexto da prática de ensino
supervisionada. Os estudantes candidatam-se às escolas consoante os
protocolos estabelecidos entre a FADEUP e uma vasta rede de escolas que se
prontificam a ser cooperantes, por ordem de preferência e entram nas vagas
existentes para o EP, de acordo com os critérios estipulados no regulamento
(médias). Cada escola tem previamente um PC definido, tendo este de ser
professor de EF experiente e capaz de depositar confiança por parte da
faculdade, tendo a seu encargo um grupo de três ou quatro EE, durante um ano
letivo. Cada EE fica responsável por uma das turmas do PC para realização da
prática de ensino supervisionada. Assim é esperado que haja um cumprimento
de todos os pressupostos por parte dos estabelecimentos de ensino, nunca nos
esquecendo que o processo de estágio decorre em variadas instituições de
ensino sob a orientação de diferentes PC e PO, o que implica naturalmente
diferentes exigências no cumprimento das tarefas exigidas. Concluindo este ciclo
de estudos, o aluno fica habilitado para a docência da disciplina de Educação
Física no Ensino Básico e Secundário.
25
As Normas Orientadoras do EP do 2º ciclo de Estudos conducente ao grau
de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário da
FADEUP encontram-se num documento dividido em três áreas de
desempenho10, baseado no Perfil Geral de Desempenho do Educador e do
Professor (Decreto-lei nº 240/2001 de 17 de Agosto 11), sendo elas:
I. Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem
II. Participação na Escola e Relação com a comunidade
III. Desenvolvimento profissional
No que diz respeito às três áreas, posso assumir que cumpri as tarefas
exigidas pela PO e PC, sendo responsável pela conceção, planeamento,
realização e avaliação de uma turma do ensino secundário e de uma turma do
ensino básico. Elaborei todas as reflexões necessárias para o meu crescimento
pessoal e profissional, nomeadamente das aulas lecionadas, das observações
das aulas dos colegas do NE e do PC, da Direção de turma, de todas as reuniões
com o PO, Departamento, Conselhos de turma. Fui ainda capaz de elaborar o
Projeto de Formação Individual e de manter sempre o portefólio atualizado
contendo os documentos necessários para que o PO pudesse acompanhar de
perto tudo o que estava a ser desenvolvido na minha escola. Planeei juntamente
com o NE atividades extracurriculares (Troféu ESAS, Evento Culminante, Taça
ESAS), dentro e fora da escola e fui responsável por ajudar a classe de ginástica
de trampolins do desporto escolar, tanto nos treinos como nas competições.
10 A área I engloba as tarefas de conceção, planeamento, realização e avaliação tendo o EE de conduzir o processo de E-A no âmbito da EF. A área II inclui todas as atividades não letivas, pretendendo que haja uma integração do EE em toda a comunidade escolar. A área III pretende que haja um incremento das competências profissionais por parte do EE, numa procura da inovação, através da reflexão, investigação-ação. 11 Ministério da Educação. (2001).Decreto-lei nº 240/2011 de 17 de Agosto. Diário da República – 1.ª série, 5569-5572
26
3.3.Análise micro – O Estágio Profissional no contexto funcional
3.3.1.A Escola Secundária Alberto Sampaio (ESAS)
A Escola Secundária Alberto Sampaio (ESAS) remonta a sua origem para
11 de Dezembro de 1984, quando Braga era dotada com ensino técnico, a
funcionar na Escola de Desenho Industrial, no Largo das Carvalheiras. Mais
tarde denominou-se Escola Técnica Bartolomeu dos Mártires, integrando o curso
elementar de comércio. A partir de 1936 ficou situada na Rua do Castelo, tendo
havido a separação entre a Escola Técnica Bartolomeu dos Mártires e a Escola
Industrial e Comercial Carlos Amarante, tendo estas a 31 de Maio de 1951 sido
fundidas novamente na Escola Comercial e Industrial de Braga. O ensino técnico
secundário passa a ser proporcionado por dois estabelecimentos, a parte
industrial pela Escola Técnica Carlos Amarante e a parte comercial na Escola
Técnica Bartolomeu dos Mártires. A partir de 1979, através da portaria n.º
608/79, de 22 de Novembro12, a escola passa a designar-se Escola Secundária
de Alberto Sampaio (ESAS) situando-se na Rua do Castelo. Em 1980, as suas
instalações são transferidas para a Quinta de Santo Adrião. A ESAS foi a
primeira escola, em Braga, a promover a inclusão de alunos surdos, continuando
com esta iniciativa ao longo dos últimos anos. Esta funciona como Gabinete de
Apoio Educativo Especializado em Surdez (Educação Especial), sendo também
a primeira escola de Braga a dispor de acesso à internet em banda larga, através
da rede de fibra ótica ("Escola Secundária de Alberto Sampaio", 2016).
Em 2007, no quadro da avaliação externa das escolas13 do setor público em
Portugal, foi atribuída à ESAS a classificação máxima em todos os domínios:
resultados dos alunos, prestação do serviço educativo, organização e gestão
escolar, liderança, capacidade de autorregulação e melhoria da escola. Desta
forma, a ESAS encontrava-se entre as cinco escolas que, a nível nacional,
12 Ministério da Educação. (1979). Portaria nº 608/79 de 22 de Novembro. Diário da República – 1.ª série, 2999 - 3010 13 Quadro da avaliação externa das escolas 2007
27
obtiveram a classificação máxima “muito bom” em todos os domínios da
avaliação externa.
Entre os anos 2009 e 2010 no âmbito da intervenção do Parque Escolar
(EPE), as instalações escolares foram alvo de um processo de requalificação,
com o objetivo de criar novos espaços em falta e remodelar outros a fim de
adapta-los às necessidades de uma escola moderna, e às exigências do ensino
em Portugal. Presentemente reúne as condições ideais para o desenvolvimento
da ação educativa. A escola, já remodelada, foi inaugurada a 5 de Outubro de
2010, fazendo parte da iniciativa "100 escolas para os 100 anos da República".
Este novo espaço proporciona aos alunos e aos professores excelentes
condições de trabalho para a lecionação de todas as disciplinas, inclusive de EF.
O Agrupamento de Escolas Alberto Sampaio foi anunciado pelo Ministério
da Educação e Ciência a 16 de janeiro de 2013, tendo sido nomeada a Comissão
Administrativa Provisória em 26 de abril do mesmo ano. A nova unidade orgânica
resultou da agregação entre a Escola Secundária de Alberto Sampaio e o
Agrupamento de Escolas de Nogueira ("Escola Secundária de Alberto Sampaio",
2016). O Agrupamento conta assim com 13 Escolas, sendo elas: Escola
Secundária Alberto Sampaio (Sede), Escola EB 2/3 de Nogueira, Escola Básica
com Jardim de Infância de Arcos, Escola Básica com Jardim de Infância de
Esporões, Escola Básica com Jardim de Infância de Fraião, Escola Básica com
Jardim de Infância de Nogueira, Escola Básica de Lomar, Escola Básica de
Morreira, Escola Básica de Nogueira da Silva, Escola Básica de Trandeiras,
Jardim de Infância de Lomar, Jardim de Infância de Monte e Jardim de Infância
de Trandeiras.
É de realçar que para responder à heterogeneidade da comunidade
educativa que serve, a ESAS apresenta na sua oferta formativa todas as
modalidades de formação de nível secundário: cursos científico-humanísticos;
cursos profissionais; cursos vocacionais, cursos de ensino recorrente e cursos
de regime não presencial. Relativamente ao desporto, a escola aposta numa
formação específica no que diz respeito ao DE, tendo por isso enveredado
28
apenas por uma modalidade com o intuito de se especializar na mesma. Deste
modo, criou o centro de formação desportiva (CFD) em Ginástica.
De acordo com os dados extraídos do Perfil de Escola, a população escolar,
em 2015-2016, é constituída por 1270 alunos (todos inseridos no ensino regular
à exceção de uma turma de ensino vocacional), 402 alunos do ensino
profissional, 94 alunos no ensino recorrente e 11 alunos no regime não
presencial. A equipa docente é constituída por 197 professores, dos quais 86,8%
são do quadro da Escola, ou de zona pedagógica. O pessoal não docente é
constituído por 42 trabalhadores, dos quais, 27 assistentes operacionais e 15
assistentes técnicos, tendo a maioria contrato em funções públicas por tempo
indeterminado.
No que diz respeito às instalações onde decorrem as aulas de educação
física, a ESAS, com a intervenção do EPE, ficou apetrechada de condições
fantásticas, possuindo vários espaços de qualidade para a sua lecionação: o
Pavilhão Polidesportivo (P), que se subdivide em P1 (um terço) e P2 (dois
terços), o Ginásio Grande (G), o Ginásio Pequeno (B), dois espaços exteriores
(C1 e C2) e uma pista de atletismo. Note-se que a escola disponibiliza ainda
sistemas de som e imagem para os diferentes espaços desportivos e um projetor
na bancada do ginásio grande, permitindo proporcionar aos alunos uma
demonstração mais eficaz através de imagens e vídeo.
“Salienta-se o facto de termos tido a possibilidade de colocar música na aula
o que proporcionou um ambiente mais aconchegante e tranquilizante. Os
alunos estavam calmos e a certa altura dei por mim a pensar que estava a
trabalhar com adultos, contudo estes foram alertados que para este clima se
repetir estes têm de corresponder às regras estabelecidas para o bom
funcionamento da aula”. Reflexão aula 11 e 12. 8 Outubro de 2015
“Sobre aquele assunto do espaço e da densidade motora, bem acho que
mudei de ideias… Um espaço pequeno é sem dúvida limitativo, mas um
espaço enorme às vezes torna-se assim um “caos organizado” numa correria
de chegar a toda a gente e de os corrigir ou os alertar para o mau
comportamento”. Reflexão aula 27 e 28. 5 Novembro de 2015
29
Importa destacar que a ocupação dos espaços é confinada pelo “Roulement
de instalações”. Este é um documento de gestão e denominação do espaço de
aula para cada professor. Deste modo, cada professor deverá planear as suas
aulas tendo em consideração o espaço que lhe for atribuído. Os espaços rodam
de 15 em 15 dias, sendo que esta gestão permite que estejam 5 turmas em
simultâneo a ter aula.
No que diz respeito à Comunidade Educativa (Diretor, Funcionários,
Professores, alunos), todos nos receberam com simpatia e agrado, fazendo-nos
sentir como parte integrante da escola. Na verdade, ser incluída numa escola,
numa comunidade, acredito que seja fácil para quem está habituado a ser cordial
com toda a gente, mas, para mim, o salto de ser uma simples aluna para ser
chamada “Professora” foi alto. Aliás, às vezes dou por mim a rir baixinho quando
me dirijo à funcionária para colocar alguma questão e esta me responde sempre
sorridente “Sim Senhora Professora”. Esta é sem dúvida uma escola de
referência, porque aqui nós somos como todos os outros professores, porque
aprendemos e estes aprendem connosco. Nesta escola todos formamos uma
comunidade, um departamento, um núcleo, um grupo. Nesta linha de
concordância existe uma frase no Projeto Educativo de Escola14 que dá
significado à afirmação anterior: “A escola continua a investir na excelência e na
qualidade, esforço construído coletivamente e que se fundamenta, novamente,
no prazer de estar, pertencer, (...) ser (...) Escola Secundária de Alberto
Sampaio” (p.2). Seremos sempre bem tratados se soubermos tratar bem!
3.3.2.Legitimação da Educação Física
“Na quinta-feira há aula, ninguém falta, dizia eu na última aula. Demorei tanto
tempo a preparar as equipas e tenho surpresas. Digamos que a parte das
surpresas mudou muito a opinião de vir ou não às aulas, mas claro que
muitos não iriam faltar à aula que dizem ser a melhor. Até poderia entrar por
aí e dizer que se esta é a disciplina preferida dos alunos e se é tão necessária
porque ainda nos continuam a por no fundo do túnel? Porque nos associam
14 Projeto Educativo Alberto Sampaio 2011
30
apenas à saúde e às coisas banais de pessoas que não tentam perceber ou
não estudam? Mas acho que não me adianta ir por aí, não porque não tenha
argumentos, mas porque acredito que apesar de não podermos mudar o
mundo somos capazes de atuar em pequenas coisas que um dia serão
grandes avalanches”. Reflexão aula 49 e 50. 17 Dezembro de 2015
Pois, quem nos dera que todos percebessem o essencial da Educação
Física, que todos remássemos dentro do mesmo barco, em cima da mesma
maré, que fossemos capazes de disseminar todo esse sentimento morto, cruel
e órfão e nos restabelecesse a curiosidade, a autoestima, a perspetiva e o
impacto. Se esperamos o consenso, mais nos vale aguardar sentados pelo dia
que nunca chegará. Se pertencermos ao grupo dos que preferem dizer mal em
vez de agir, dos que esperam que as coisas caiam do céu e da “fragmentação e
cada-um-por-si”, mais nos vale tomar calmantes ou protetores para o estômago
para que possamos continuar a dormir. Agora se não formos capazes de deixar
que todos estes problemas nos passem ao lado, é bom que tomemos
consciência que não será fácil, mas só nos conseguirmos ouvir, partilhar, trocar
ideias, com esforço e persistência havemos de chegar lá (Graça, 2015, p. 13). A
falta de compreensão da importância inequívoca que a EF têm no processo
educativo e no desenvolvimento holístico dos alunos, tem contornos históricos,
filosóficos e culturais tão antigos que neste tempo tão veloz e de mudança,
sentimo-nos pouco compreendidos e aceites no lugar que somos colocados no
sistema educativo, assim como os argumentos que utilizam para a sua
justificação (Matos, 2014).
A urgência e a relevância indestrutível da legitimação da EF no currículo
escolar emerge da preocupação séria acerca da sua situação precária como
disciplina escolar. Infelizmente e como defende Matos (2014), a EF na escola
está distante de ser vista como uma necessidade, como uma preferência para o
próprio sistema educativo. A EF lida com graves descrenças no que diz respeito
à sua relevância social e em relação às descrenças graves relativamente ao seu
potencial educativo/formativo, proveniente da insatisfação dos seus resultados
escolares e das críticas sobre a qualidade da formação dos seus professores.
Vemos assim a obrigatoriedade da EF no currículo escolar a desmoronar, a ser
31
questionada e posta em causa. A constante imposição da saúde sobre a EF pode
de certa forma não permitir que haja uma saída da crise em que a disciplina se
encontra, a saúde deve ser pensada de uma forma mais pedagógica e não como
um “mero subproduto” no seio da EF (Graça, 2014c). Deste modo, orientar a EF
escolar apenas e só com base na sua ligação à saúde pode ser eticamente
irresponsável, se tudo o que essa justificação cingir não for enquadrado numa
perspetiva mais abrangente, articulando com as finalidades de uma boa EF
(Matos, 2014). Note-se que não estamos com isto a querer dizer que a saúde
não é um argumento válido nesta discussão, mas é urgente desvincularmo-nos
desta e permitir desbrochar a EF no seio escolar com outras ideias capazes de
nos tornar mais especiais no currículo do aluno (2014, p. 170).
Consequentemente somos ameaçados pela antiga legitimação retórica da saúde
e acabamos por perder o poder persuasivo da disciplina. As conceções de EF
aceite, tem de ser limpas, objetivas, purificadas de qualquer ideologia,
preconceito e eufemismo não caindo em falsas teorias, por mais encantadoras
e simpáticas que sejam (Matos, 2014). Posto isto e sendo nós, profissionais,
capazes de poder argumentar sobre a importância da nossa disciplina, urge a
necessidade de recorrer a argumentos de outra natureza que evidenciem e
disseminem todas as dúvidas acerca do peso e do valor primordial que a EF
assume na sociedade.
A EF atua como uma introdução planeada na “Cultura do Movimento”, ao dar
as competências necessárias para participação na mesma, contudo salienta-se
que esta não basta apenas como “Cultura do Movimento”, mas sim com uma
intencionalidade inerente aos diferentes desportos. Deste modo, a legitimação
da EF alicerça-se na “Cultura do Movimento”. Esta cultura refere-se ao modo
como um grupo social lida com a necessidade e desejo de movimento,
albergando um conjunto de ações de movimento e o lazer de um grupo. A
participação e a manutenção na “Cultura do Movimento” exige um leque de
competências (técnico-motoras, socio-motoras, reflexivas e conhecimento
prático) que carecem de ser adquiridas, uma vez que, o ser humano não nasce
com elas incorporadas (Crum, 1993). A EF é o lugar ideal para a aquisição e
incorporação dessas aprendizagens vantajosas, sendo capaz de permitir ao
32
homem ser alvo de um processo de ensino-aprendizagem devidamente
organizado e estruturado. Cabe à escola assumir um papel absolutamente
decisivo nesta introdução dos alunos na “Cultura do Movimento”, pois estas
estão dotadas de professores especializados na área de EF.
Não obstante, para legitimar a EF é fulcral recorrer à justificação da mesma
através de bases antropológicas e não apenas ao movimento como o autor
supracitado enfatiza. É necessário que admitamos que apesar de existir um
vasto leque de conceções acerca da EF, esta não pode aceitar que qualquer
proposta possa ser aceite no seio da EF escolar, devendo ter a capacidade de
analisar as questões antropológicas, transformando-as num argumento de peso
e praticamente incontestável (Matos, 2014).
As categorias antropológicas são intrínsecas ao ser humano e inerentes ao
Desporto (Grupe & Kruger, 1994). Sendo necessário determinar “o significado
de categorias como o movimento, o jogo, o desporto, o rendimento, para a
educação e formação do ser humano.” (Matos, 2014, p. 170). A EF não pode ser
única e exclusivamente considerada como uma disciplina que cuida unicamente
do corpo, mas que vai muito para além do corpóreo, do físico. Esta deve ser
entendida como uma forma particular de lidar com a “corporalidade” enquanto
um conjunto de comportamentos culturais (Bento, 1999). Demanda, a
necessidade de conhecer e dominar o nosso corpo, sendo através dele que
interagimos com o mundo e sem ele seria difícil assumir uma identidade pessoal
e impossível de “corporalizar” uma cultura (Bento, 1987). Digamos que através
do corpo podemos reviver e atribuir significado e sentido às coisas e ao mundo
(Grupe & Kruger, 1994). Sentimos o corpo, a mão que toca na bola e os
movimentos que realizamos quando corremos, mas essa sensação acaba por
ser acessória, isto é, sem que haja uma acentuação do corpo, e quando há, é
muito na questão estética e da harmonia da ação bem realizada, bem na verdade
não nos distinguimos do corporal, melhor dizendo “em linguagem antropológica:
NÓS SOMOS O NOSSO CORPO!”(Bento, 1987, p. 36). É através do movimento
que nos relacionamos, expressamos e comunicamos. Este confere-nos a
capacidade de ação e ajuda-nos na formação da nossa autoimagem e esquema
corporal, sendo que estes aspetos são cruciais não só em contextos desportivos,
33
como em situações do quotidiano. Através do movimento ganhamos
conhecimento propriocetivo do mundo que é fundamental para conhecer os
nossos limites e capacidades, evitando riscos (Bento, 1987). O movimento pode
ser considerado como parte essencial da vida (Grupe & Kruger, 1994), sendo
considerado como experiência (meio de aquisição) e realização (instrumento
relacional), sendo assim extremamente imprescritível para a nossa realidade
vital através do qual alcançamos o nosso mundo e envolvimento (Bento, 1987).
O jogo assume, talvez, o papel mais especial e completo, pois é nele que
encontramos a maior densidade de respostas às necessidades do homem. Este
representa uma alusão antropológica clara para justificar a EF (Grupe & Kruger,
1994). O homem é um ser lúdico e, como tal, sente necessidade e prazer em
jogar. O jogo acaba por realizar o jogo, sendo considerado como um direito do
mesmo (Bento, 1987). O jogo é simbólico, promove a socialização, excede as
necessidades diretas da vida e concede um sentido à ação (Huizinga, 2000).
Despoleta a inteligência, implica estratégias e regras e desenvolve as
habilidades motoras. Para além disso, promove valores importantíssimos como
a cooperação, a competição, o respeito e a entreajuda que têm um gigantesco
transfer para a sociedade, assumindo-se como valores da própria vida. O jogo
deixa de lado todas as diferenças e provoca novos comportamentos, onde uma
nova realidade é criada, onde se alteram os papéis de todos os intervenientes e
onde sobressaem as características mais reais de cada um (Grupe & Kruger,
1994). Podemos ver ainda o jogo como um meio de libertação de stress do dia-
a-dia, contribuindo para o bem-estar social, promovendo um estilo de vida mais
ativo e saudável, tendo um papel preponderante na diminuição do sedentarismo
e de riscos associados a doenças como a obesidade. Por fim, o rendimento,
profundamente relacionado com a superação e a busca da transcendência, nada
mais é que objetivo capital da nossa existência humana, sendo dois aspetos que
devem nortear a nossa vida, em busca sempre de mais e melhores resultados a
todos os níveis (Bento, 1987).
Perante o mencionado, facilmente se chega à conclusão que a EF é uma
disciplina imprescindível no currículo escolar, contudo, a situação precária da EF
vai para além da sua mera legitimação. Há também um grave problema
34
relativamente ao modo como os professores concebem e ensinam a disciplina.
A maioria da comunidade de professores de EF é influenciada por ideologias
inadequadas e esquecem-se que a principal função do professor de EF é ensinar
e fazer com que os alunos aprendam. O problema atual é que se fala em "ensinar
EF" sem qualquer evidência e intenção de produzir aprendizagem. Como
consequência desta real falta de compromisso com o ensino, há uma carência
evidente de aprendizagem nas aulas de EF. Deste modo, a EF não alcança o
perfil de uma atividade educativa de relevo, minimizando a sua importância
pedagógica. A EF deve ser projetada para ensinar, oferecendo experiências
emocionantes e alegres, devendo ainda ser complementada com o DE (Santos,
2015). Outro problema pertinente é o facto de as ideologias de professores de
EF mais antigos continuarem muito impregnadas na nossa sociedade. São elas
respetivamente a "educação do físico" (o corpo humano é visto como uma
máquina e a EF é então vista como "treino do físico”) e a "educação através do
físico" (o movimento potencia o desenvolvimento cognitivo, estético e social das
crianças, sendo que os efeitos educacionais estão intrínsecos através da
participação em atividades providas de movimento) (Crum, 2001). Estes
conceitos permanecem vivos atualmente e, consequentemente influenciam os
pensamentos e ações dos futuros profissionais, colocando a verdadeira
conceção de EF em perigo. É fundamental que se desconstrua estas ideias
concetuais.
Estamos então perante um ciclo que pode ser perigoso e de difícil
retrocesso. Fruto das minhas experiências, tenho a perceção que as perspetivas
convencionais de alguns professores de EF produzem uma prática em que
vigoram os princípios do entretenimento ou do treino. Pese embora a falta de
fundamentação para o que apresento, o meu olhar para a atividade profissional
do ensino de EF faz-me acreditar nesta tese. Assim, importa refletir sobre o facto
de os futuros professores de EF terem vivenciado, no seu percurso escolar, 12
anos de aulas de EF, vir a afetar fortemente as suas conceções acerca do ensino
da disciplina. A quebra deste ciclo vicioso está nas mãos das instituições de
formação de professores de EF. Para isto, é decisivo existir acordo concetual
entre o corpo docente das diferentes faculdades, visando a EF como uma
35
atividade de ensino-aprendizagem. Só assim, será possível a transformação das
práticas escolares.
Cabe a nós, professores iniciantes, sermos capazes de resistir a este
sistema impregnado e marcar a diferença com ideias inovadoras assentes no
processo de ensino-aprendizagem. Só esta atitude pode legitimar a EF e fazer
com que esta volte a alcançar o papel que merece no currículo escolar.
3.3.3.Caracterização do meio envolvente
Segundo o Projeto Educativo15, Braga foi fundada pelos Celtas no séc. III a.
C., tornando-se a Bracara Augusta do império romano, fundada pelo imperador
Augusto aquando da sua vinda à Península Ibérica. São José de São Lázaro é
uma freguesia citadina pertencente ao concelho de Braga, com cerca de 172 ha
e uma população em 2011 de 14 301 habitantes mil habitantes. Em 2013, no
âmbito de uma reforma administrativa nacional, a freguesia foi extinta tendo sido
agregada à freguesia de São João do Souto, para formar uma nova freguesia
denominada União das Freguesias de Braga (São José de São Lázaro e São
João do Souto) da qual é a sede.
A ESAS capta uma população estudantil muito diversificada, servindo,
fundamentalmente, a zona centro e sul da cidade. Contudo, nos últimos anos,
tem-se acentuado a tendência para uma maior diversificação, integrando a
escola alunos provenientes de todas as freguesias da cidade. Do ponto de vista
sociológico, esta escola integra alunos oriundos de famílias de nível social
médio-alto e alto, mas também, numa parcela significativa, alunos oriundos de
famílias de nível social médio-baixo e baixo, portadores de níveis de instrução
muito baixos.
Registe-se que a escola não está devidamente servida de transportes
públicos urbanos, dado que a maior parte dos trajetos terminam na Avenida da
Liberdade e não realizam o circuito da escola. Para utilizarem a rede de
transportes urbana, os alunos têm de se deslocar alguns metros da escola para
15 Projeto Educativo Alberto Sampaio 2011
36
poderem encontrar paragens de autocarro por fim a regressarem a suas casas.
Todavia, de ano para ano, vemos aumentar o número de alunos que pretendem
frequentar este estabelecimento de ensino e que, muitas vezes, para isso, têm
de atravessar, a pé, a cidade.
3.3.4.Núcleo do fato de treino e/ou da sapatilha
O núcleo de estágio (NE) deve funcionar como uma “comunidade de
práticas”, levando a que haja uma troca de ideias capazes de gerar novo
conhecimento e novas competências (Batista & Queirós, 2015). Não somos nem
nunca seremos nada sem alguém, assim como as flores necessitam de água,
nós também precisamos de amor, de amizade, de crescimento. De partilha
essencialmente. Poderíamos realizar o estágio sozinhos, independentes mas
seriamos com toda a certeza muito mais pobres. Todas as horas que dedicamos
a reunir serviram para nos conhecermos melhor, para atribuirmos a cada um de
nós uma tarefa que nos fazia mais disciplinados e incapazes de deixar alguma
ponta solta no meio de tanta encruzilhada. Chamei-nos o núcleo da sapatilha ou
do fato de treino, porque na verdade esta sempre foi a nossa caracterização, e
nós gostávamos. Eramos três, duas meninas e um menino, digamos que ele ali
no meio era quase que arrastado pelo furacão das mulheres. Fomos os pontos
de equilíbrio, a respiração na hora de faltar o ar e o auxílio quando a emergência
tardava em aparecer. Fomos os “tapa buracos” uns dos outros, os disfarces no
meio da aflição e as gargalhadas em momentos caricatos. Fomos, eramos e
seremos sempre os três. Os três professores estagiários, os três a resolver as
coisas, os três a jogar voleibol e os três a organizar tudo. Passamos imensas
horas juntos e toda e qualquer coisa que seja pensada e discutida teve um
grande impacto nas nossas e nas minhas aulas, porque acreditamos que seja a
melhor forma, porque nos preocupamos com os alunos, com o fato de estes
aprenderem, e principalmente com a esperança que seremos para alguém no
mundo, uma referência. Admitíamos os erros no nosso refúgio, pedíamos ajuda
uns aos outros, debatíamos muitos assuntos e continuávamos a correr riscos
porque sabíamos que o crescimento era certo com eles. No meu núcleo de
37
estágio conhecemo-nos há quatro anos, desde aquele dia que entramos todos
na camioneta que ligava Braga ao Porto num abrir e piscar de olhos, trabalhamos
quase sempre juntos, por isso a relação só poderia ser positiva e uma mais-valia
para o estágio.
“Fazer a contagem do tempo total de prova, fazer o somatório dos pontos e
verificar a classificação final. No nosso gabinete, o núcleo da sapatilha, mais
morto que vivo começou numa amizade e a tratar por tu todos os números
escritos em cada papel. As horas iam passando e as tarefas iam diminuindo,
pelo meio soltavam-se gritos, risadas e uns certos palavrões por a cabeça
tender a complicar o que era fácil. Se nos filmassem naquelas horas que lá
estivessem provavelmente achavam que eramos doidos, mas depois de
analisarem bem a filmagem percebiam que somos um excelente grupo de
trabalho e partilha em equipa. Somos todo um bocadinho de cada um sem
alterarmos nenhuma propriedade nossa. Sabemos as fraquezas e os pontos
fortes de cada um sem ser demasiado invasivos, somos o meio-termo entre
o céu e o mar. Somos acima de tudo amigos.” Reflexão do Troféu ESAS –
Peddy Papper. 17 Março de 2016
3.3.5.10º Ano, os meus primeiros para sempre
“Já somos tão parte “integrante” deles que passamos a saber os seus
maiores segredos, que caem das escadas, as suas primeiras bebedeiras, e
sabem também que acabam por “levar na cabeça” porque só queremos o
melhor para eles. As nossas idades próximas e a capacidade que temos de
os “perceber” leva-os a ser sinceros e por fim, no meio de uma avaliação
conseguimos que estes passem a fazer os exercícios só porque acreditamos
neles, e eles o sentem. Tenho tanto medo de não puder voltar a ter esta
experiência, como se num ato louco isso fosse possível, o mundo ainda é
tão grande”. Reflexão aula 47 e 48. 15 Dezembro 2015.
Talvez eu não tivesse pensado nem esperado alunos ideais, com boas
notas, com boas apetências, o tal aluno dito “médio” que nunca existiu mas que
38
as pessoas e a sociedade tendem a caracterizá-lo. Vivemos hoje numa
sociedade multicultural que exige de todos uma adaptação, uma atuação, um
avanço. Somos todo um conjunto de processos e interações, boas e menos boas
(Pereira, 2004). Passamos por diversos momentos, diferentes fases, tomamos o
dito por não dito e vamos crescendo. São grandes alunos, com tremendas
histórias e somos nós, simples professores que queremos cumprir o nosso
dever. Cumprir e vivê-lo e senti-lo e sonhá-lo. Um dia tudo passa, tudo muda e
ficarão pequenas marcas, pequenas e simples lembranças do que foi ter
professores estagiários. Quanto a nós, serão sempre os nossos primeiros,
motivados ou não, pestes ou menos pestes serão sempre os primeiros a sério,
de verdade, de coração. Que haja sempre o passaporte na mochila e a vontade
de apanhar a primeira viagem que nos for possível, porque lá no fundo a vida
corre rápido demais.
Em relação aos meus alunos, eu esperava que estes fossem participativos,
que gostassem de desporto, que se empenhassem e participassem. Pretendia
estabelecer uma relação saudável, implementar o espírito de equipa e fazer com
que pelo menos saíssem da escola a gostar um pouquinho mais desta bela
disciplina. Procurei resguardar o respeito mútuo, ponto crucial para uma boa
relação professora/aluno, bem como transmitir-lhes um conjunto de normas de
conduta comportamental e valores para que pudessem crescer física,
psicologicamente e socioafetivamente. Esperava e concretizou-se, se eu
pudesse assemelhar esta descrição ao veículo da vida, eu diria que nunca
conseguiremos nos locomover sem amor.
A caracterização da minha turma do 10º ano foi baseada em dois momentos:
nos questionários (ANEXO I) entregues aos alunos na primeira aula de
apresentação, onde constavam perguntas sobre as modalidades preferidas, o
desporto praticado, o nível de prática, os hábitos diários e questões de saúde. E
num segundo momento, através das fichas aplicadas pela diretora de turma, que
abarcavam perguntas mais pessoais e familiares. A constituição da turma sofreu,
ao longo dos períodos, um remoinho, uma vez que houve a saída de dois alunos
no meio do primeiro período, a entrada de dois no final do primeiro período e
consecutivamente a entrada de mais dois no início do segundo período. A turma,
39
depois destes três casos, era então constituída por 29 alunos (10 rapazes e 19
raparigas), com idades compreendidas entre os 14 e os 17 anos. Ressalva-se
que o número de alunos que efetivamente realizavam a aula era de 28 alunos
no primeiro período, 26 no segundo período e 28 no terceiro período, uma vez
que houve lesões que impossibilitaram a prática de atividade física. Dos 29
alunos, 2 repetiam pela 2ª vez o 10 º ano. O Português era a língua materna de
todos eles. Cerca de 26 alunos viviam com os pais, 1 vivia apenas com o pai, 1
vivia apenas com a mãe e 1 vivia com uma amiga.
No que diz respeito ao número de horas que costumam dormir, 62.08%
dorme entre 7 a 8 horas, 34.48% dorme entre 8 a 9 horas e apenas 3.44% dorme
menos de 7 horas por dia. Relativamente aos hábitos alimentares, todos tomam
o pequeno-almoço em casa e realizam 3 ou mais refeições ao longo do dia.
Os problemas de saúde dos alunos variavam, tendo 48.27% da turma
afirmado ter doenças, das quais referiram a epilepsia, asma, dificuldades visuais
e alergias, e os restantes 51.73% dos alunos consideram-se saudáveis. Estes
dados foram sem dúvida muito importantes, uma vez que, sendo na aula de
Educação Física exigido esforço físico, todo o cuidado era pouco. Procurei
perceber qual os melhores procedimentos para atuar caso houvesse um ataque
de epilepsia/ asma, por forma a estar informada e ser capaz de intervir
atempadamente. Depois de uma das alunas ter uma crise de asma, reforcei a
importância de trazer para todas as aulas o respetivo medicamento (inalador)
por fim a evitar novas situações.
“Hoje uma das “minhas” meninas sentiu-se mal, depois de todos os
procedimentos básicos, do copo com açúcar ao levantar das pernas, as
melhoras não se repercutiam. O facto de termos uma pessoa frágil a
necessitar dos nossos cuidados faz com que os outros 28 estejam de certa
forma entregues à “desordem” certo? Mas com a ajuda do Professor foi-me
possível terminar a aula dentro da normalidade e seguir para ver como
estava a aluna. Esta encontrava-se ainda num estado frágil e preferiu ficar a
descansar no quarto de “primeiros socorros” no pavilhão. Vinha sempre
espreitá-la como se aquelas minhas minivisitas pudessem de alguma forma
“curá-la”. Passado algum tempo, decidi que estava na hora de agir, dei-lhe
40
um pão seco, tomou o comprimido para a crise de vesicula que a assombra
há duas semanas e esperei que estabilizasse, mas isso não aconteceu.
Decidi intervir e ligar para o pai a explicar a situação e este veio busca-la
juntamente com a mãe e eu expliquei todo o acontecimento e prontifiquei-
me a ajudar caso fosse necessário mais alguma coisa. Todos os dias
acontecem coisas novas, acontecimentos que necessitamos de estar
preparados, dos quais vamos aprendendo, crescendo mais um bocadinho,
conseguindo novas maneiras e formas de atuar. Todos os dias deixamos a
nossa inexperiência para o lado e procuramos aprender, para nos tornarmos
melhores, mais desenrascados, mais preparados para a vida e para viver em
sociedade. Somos precisos a cada esquina, a cada instante, como se aqui
na aula ou ali na vida deles fossemos uma peça fundamental e fulcral para
os educar e fazer crescer, assim como eles nos fazem a nós, e muito”.
Reflexão aula 41 e 42. 1 Dezembro de 2015
Em relação ao hábitos de estudo, 5 alunos dizem aprender melhor sozinhos,
10 nas aulas, 6 em grupo e 8 com um explicador. Todos têm computador em
casa e acesso à internet.
Dos 29 alunos, apenas 3 mencionaram não gostar de Educação Física, os
restantes 26 afirmavam gostar e sentiam-se motivados para a disciplina. Entre
as disciplinas preferidas destacaram o futebol e a dança e as que tinham mais
dificuldades o atletismo e a ginástica. À pergunta das características que
esperavam encontrar no professor, as respostas foram unanimes, queriam um
professor amigo, dedicado, profissional e que os ajudasse nas suas dificuldades.
Das características que menos estimavam, ressalvaram o desinteresse e a
impaciência.
Cerca de 55.17% dos alunos praticou algum desporto e deixou de o praticar
atualmente, apenas 34.48% praticava e continua a praticar, os restantes 10.35%
não praticam nem nunca praticaram. Estes números são realmente
assustadores e só espelham a realidade não só escolar e da minha turma em
questão, mas uma realidade à escala Nacional (Baptista et al., 2011).
Apesar de todos os números obtidos através dos questionários
implementados, tudo o que fui descobrindo ao longo do ano, através de
41
conversas, atitudes e reações perante as situações criadas, foram muito mais
valiosas. Há medida que o tempo foi passando, a evolução do número de
características que conseguia atribuir a cada um foi notória. Passei a saber sem
qualquer dúvida o que cada um gostava mais ou menos de fazer, quais os
medos, quais as modalidades que no geral todos torciam o nariz e a ter de gerir
a preferência dos rapazes e das raparigas para as modalidades mais solicitadas,
fazendo com que vivenciassem e dessem oportunidade a outras. Chegavam
sempre mais cedo do que o toque para a entrada todos equipados e prontos a
ajudar. As raparigas pediam dança e voleibol e os rapazes todas as aulas
queriam futebol. Quando eu queria falar, eles calavam-se e mandavam calar
quem não respeitava essa regra. Permitiam-me rir das barbaridades que às
vezes dizia, permitiam-me falar com eles do mesmo nível e com a mesma
autoridade. Se hoje fosse o primeiro dia, aquele que tive de escolher a turma
mesmo sem a conhecer, voltaria a escolher por sorte a minha. A união da turma
era tanta que nunca passaram um problema para as minhas mãos sem antes o
tentarem resolver sozinhos. Faziam-me lembrar a minha turma do secundário.
No fim do ano verbalizei uma frase que descrevia cada um, com todas as
particularidades e todos os pontos que nem eles mesmos julgavam eu saber.
Apercebi-me que nem sempre o que achamos que não vai funcionar, não
funciona na verdade, e que eles até são recetivos à mudança e à novidade.
“Perdoem-me se achei várias vezes que não conseguia dizer nada sobre o
processo, sobre as aulas. Sempre fui exageradamente ligada aos fios
invisíveis da vida, eu sei, erro crasso, erro meu. Já vos disse que gosto
deles? Pois, gosto tanto que lhes permito um salto em modo avaliação e os
corrijo só para fazerem de novo e mostrarem que conseguem. Gosto deles
no verdadeiro sentido de gostar, da maneira de quem protege, da forma de
quem segura a mão para não cair. Não gosto por gostar, gosto porque eles
fazem com que eu goste, porque eles ensinaram-me a saber gostar todos
os dias, em cada abraço ou frases soltas no meio da aula, gosto deles
porque me fazem sorrir, porque me fazem ser eu no mais intimo que me
conheço, porque me protegem dos ditos perigos externos, porque se
preocupam, porque gostar é assim mesmo não ter explicação e gostar na
42
mesma. Gosto deles com e sem explicação, com saudade, com sol ou
chuva, alegre ou zangada, com ou sem música mas gosto e vou sempre
gostar.” Reflexão aula 109 e 110. 5 Maio de 2016
“Como se hoje ao me descrever eu fosse um bocadinho de cada um deles,
uma paleta de cores misturadas para pintar uma casa, um alicerce, um porto
seguro. O ambiente que vivi e que vivo em cada uma das aulas é o mesmo
da lareira em dias de chuva ou de um gelado no verão. Por mais dias
cinzentos que possam atrapalhar e que saibamos que nem tudo é cor-de-
rosa, a verdade é que eu gosto deles, eles fazem-me rir, surpreendem-me e
têm uma relação comigo e eu com eles excecional. O bom ambiente criado,
está sem dúvida alguma relacionado com vários fatores, de todo o tipo de
cariz. Pode ter a ver com os alunos, com a professora, com as relações entre
os alunos dentro da turma, com a modalidade e com todo um conjunto vasto
de outras coisas. A verdade é que saímos todos a rir, a saber fazer as coisas
e somos quase que cúmplices uns dos outros. Somos uma série de variáveis
que se cruzam, se transformam, se interligam e que criam tudo o que uma
aula deve ter, respeito, aprendizagem e ambiente acolhedor. Posso ficar com
isto para sempre?”. Reflexão aula 79 e 80. 25 Fevereiro de 2016.
3.3.6.6º Ano, os melhores do basquetebol
A turma do 6º ano esperava à porta do pavilhão antes de a professora
chegar, vestiam-se em segundos e ouviam atentamente o que eu dizia para
começarmos a aula o mais rapidamente possível. A Escola EB 2,3 de Nogueira
faz parte do Agrupamento de Escolas Alberto Sampaio e é dotada de diferentes
espaços para a lecionação das aulas de Educação Física, sendo eles o Pavilhão
Polidesportivo que se subdivide em 1 (um terço) e 2 (dois terços), o e o espaço
exterior (E). No que diz respeito ao basquetebol, a Escola EB 2,3 de Nogueira é
dotada de diferentes espaços para a lecionação desta modalidade,
nomeadamente o Pavilhão Polidesportivo com a possibilidade de 3 campos de
basquetebol (6 tabelas) na vertical. Podemos ainda utilizar o campo exterior E
com a existência de três campos (6 tabelas). Para a lecionação de basquetebol,
43
a Escola EB 2,3 de Nogueira usufrui de inúmeros recursos materiais para uma
boa prática desportiva. Na Escola EB 2,3 de Nogueira a carga horária semanal
para a disciplina de Educação Física, no 6º Ano é de um bloco de 45 minutos e
outro bloco de 90 minutos. Importa referir que desses 90 minutos, são
considerados 80 minutos de tempo útil, pois os 10 minutos finais da aula eram
reservados para os alunos tomarem banho. Nas aulas de 45 minutos, apenas
eram reservados 5 minutos no final da aula, tendo estas um tempo útil de 40
minutos. A Escola EB 2,3 de Nogueira conta com a colaboração ativa e/ou
passiva de dois funcionários no Pavilhão Polidesportivo, dos professores de EF
e dos alunos, com o intuito de proporcionar um efeito positivo no processo
ensino-aprendizagem.
A turma dos pequenotes era então constituída por 20 alunos (10 meninos e
10 meninas), com idades compreendidas entre os 10 e os 14 anos de idade.
Esta era a turma do 2º Ciclo, onde lecionei 6 aulas de Basquetebol, e do
pouquinho que estive com eles, ressalvo a enorme vontade de trabalhar, de
aprender e de evoluir. As aulas de 45 minutos passavam a voar e as de 90
também, porque eles queriam sempre mais, de mim e do basquetebol.
“Como se por momentos retrocedesse ao dia 22 de Setembro, ao primeiro
contacto com os meus primeiros alunos de sempre. Estava nervosa, como
se nunca tivesse dado aulas a ninguém. Havia uma série de mudanças, a
turma que não conhecia, outra professora cooperante, nova escola e novos
métodos. Hoje a reflexão só poderia ser descritiva, porque bem lá no fundo
alterei a minha rotina, a minha dita normalidade. Bom dia sou a Professora
Margarida e vou dar-vos todas as aulas de basquetebol. Foi como se fosse
professora de basquetebol, ou a treinadora deles por algumas aulas. Estava
tímida e faltava-me um pouco de à vontade, porque me sentia caída de
paraquedas na sala dos professores e no pavilhão onde o funcionário é que
vai buscar e quem arruma o material.” Reflexão aula 1 Nogueira. 27 Janeiro
de 2016
Lembro-me de sair da primeira aula com a sensação que eles sabiam tudo,
tudo no sentido figurativo claro, mas todos os pequenos aspetos que pedimos
44
no basquetebol eles dominavam. Quase não driblavam porque ainda não tinham
essa permissão, havia sempre uma procura incrível de espaços livres e o
objetivo deles era, sem dúvida, o do jogo, encestar. Ria-me sozinha a pensar
que tinha de os levar para os da minha turma do secundário verem como se faz.
Em muitas aulas proferi que os pequeninos, apesar de serem pequeninos, em
idade e tamanho sabiam organizar-se melhor que eles em filas quando eu pedia
e do basquetebol que lhe davam 10 a 0. As idades, os pensamentos e as
prioridades são diferentes e isso nem sempre é bom, mas a verdade é que eu
sabia que mexia um pouco com eles o facto de eu fazer essa comparação.
“(…)Acabei a aula a ouvir a frase “Já acabou professora?”, prometo voltar,
para que possam experienciar novos jogos, novos métodos, novas lições.”
Reflexão aula 3 Nogueira. 2 Fevereiro 2016
O tempo passa a voar, principalmente quando gostamos do que fazemos, quando
aprendemos com todos e nas mais pequenas coisas. Eu aprendi com eles, aprendi que
o importante é sabermos ser criativos, deixar de lado a rotina e experimentar coisas
novas, novos desafios. Mas nunca esquecer, que o importante é que haja prática, que
haja desporto, tudo o resto? A gente arranja!
“Qualquer despedida por mais ou menos difícil que seja é sempre uma
despedida, um até já ou um até qualquer dia. Num qualquer sentimento de
não saber qual será a próxima vez, ou quando o destino se encarregará de
nos voltar a juntar. Fui mais cedo mas não tão cedo como queria, coloquei
com um alfinete bebé atrás de cada colete um papel A5 com um número de
1 a 4 para na impossibilidade de me esquecer do nome de qualquer um.
Havia um marcador para cada campo, medalhas para todos, feitas por mim
ontem à noite e os calendários e a constituição das equipas colados na
parede. 90 minutos naquele ambiente souberam-me a dois, em cada
medalha/credencial que entreguei a cada um com o seu nome dizia no final
sejam felizes. Que eles nunca se esqueçam disso. Colocaram-se todos em
fila depois de tirarmos a foto de grupo para receberem o rebuçado que tinha
trazido e ia dizendo adeus até um dia e eles diziam “chau professora até um
dia”, quem sabe até um dia Professora Margarida. O passaporte estará
45
sempre na mão pronto para embarcar. Que venha a aventura!” Reflexão aula
6 Nogueira. 19 Fevereiro 2016
3.3.7.Professor Cooperante – O SER
A identidade profissional acaba por ser moldada pelo futuro docente, muito
através das experiências vivenciadas individualmente, mas principalmente pelas
experiências proporcionadas pelos que percebem mais deste assunto, pelos
“detentores do saber da prática”, sendo estes, os professores cooperantes os
principais impulsionadores para a nossa entrada na profissão (Batista & Pereira,
2014, p. 94). Ser PC é de uma enorme responsabilidade e de um enorme
desafio, sendo necessário ter perfil para o ser. Este é o nosso ponto de miragem
e o responsável pela imagem que passa da EF aos futuros professores (Reina,
2015). Salvador da pátria, apaziguador dos momentos de pânico e sabedor do
essencial, do ensino, dos alunos, dos processos e da escola. Conhecedor de
frases célebres como “os alunos provocam o caus mas procuram a ordem” ou
“tão disperso quanto possível tão concentrado quanto necessário”. Desde o
primeiro dia, a 1 de setembro de 2015, que revelou imensa experiência e
conhecimentos nesta área. A sua disponibilidade e abertura para discutir ideias,
a forma como as transmite e a audácia de nos incluir inteiramente em todas as
atividades escolares é e foi realmente notável. Toda a sua prática fez com que
os processos decorrentes do primeiro contacto estivessem na ponta da língua e
que as reuniões posteriores ao primeiro embate fossem realmente produtivas.
Para além de ter cumprido com todas as exigências habituais por parte da
faculdade, pude ainda contar com a sua presença para refletir sobre os meus
erros, para aprender, para crescer, e, tornar-me cada vez mais competente
enquanto docente. Ajudou-me a resolver as minhas dúvidas, inquietações, e foi
capaz de perceber as minhas inseguranças e de me ajudar a colmata-las de
forma reflexiva e pensada. Primava a discussão dos pressupostos e permitia
uma viagem sobre os assuntos, sobre o ensino, sobre os processos. Foi capaz
de nos deixar experimentar todas as estradas, sem nos deixar cair no fundo do
poço, deu-nos autonomia e liberdade para podermos ser na íntegra professores.
46
3.3.8.Orientador Estágio, o solucionador da encruzilhada de pensamentos
Meses antes de começar esta aventura, só pedia para ter um bom
orientador, que fosse capaz de ser organizado, que colocasse metas e que
seguisse o padrão de exigência aceitável, capaz de fazer com que as coisas
corressem bem. Esperava que este me apoiasse em questões do projeto
investigação-ação do meu RE, que me emitisse feedbacks acerca da
observação das minhas aulas, e, que através da sua experiência e conhecimento
me preparasse para este ano de trabalho importantíssimo e cheio de ricas
experiências para o meu futuro. Lembro-me de ver um PowerPoint enorme com
o nome dos núcleos e à frente constavam os PO, ouviam-se reações de “ufa,
ainda bem” e eu não conseguia encontrar a minha escola. Voltei a passar os
olhos e identifiquei-a, a minha reação foi “quem é?”, fui rapidamente procurá-lo
na lista dos docentes e um rápida pesquisa ao Facebook ®. Não o conhecia,
mas pertencia ao gabinete de Pedagogia de certeza que teria de ser profissional,
pensava eu. Pelo contacto estabelecido, o PO mostrou ser uma pessoa
responsável, exigente e organizada, mas principalmente disponível para me
ajudar a ultrapassar algumas barreiras que surgiram no decorrer deste ano. O
orientador acaba por ser alguém capaz de acompanhar o processo de estágio
do estagiário que tem a seu encargo, sendo competente para o orientar, avaliar
e ajudar no término da sua formação académica (Rodrigues, 2015). O PO é o
elo de ligação entre a faculdade e a escola, sendo sem sombra de dúvida
primordial na fase inicial da profissão. Posso concluir que foi um privilégio poder
contar com a experiência do PO, sendo este capaz de ser rápido solucionador,
pragmático e implementador da pesquisa, da procura, da autonomia. A
orientação pessoal, personalizada busca colocar o futuro professor no centro do
processo de formação, acreditando que o processo de aprender a ensinar é um
processo de autoconhecimento. Neste seguimento o objetivo é orientar os
estudantes para a autonomia e os professores passam a ser vistos como
facilitadores de toda essa aprendizagem (Silva et al., 2014, p. 118).
47
3.3.9.Grupo de Educação Física
Somos um conjunto de socializações, e funcionamos se houver uma coesão
de grupo e todos remarmos para o mesmo lado da maré. Se todo esse conjunto
de interações constituírem uma experiência positiva, vai influenciar para sempre
a vida e a atitude do professor perante o ensino da EF assim como da sua própria
profissão (Reina, 2015). O grupo de EF era constituído por 15 docentes da ESAS
e nós os 3, num total de 18 docentes. Com eles esperava reter diferentes
perspetivas e conhecimentos principalmente dos professores mais experientes,
e, que na eventualidade de ocorrer algum problema, eu fosse capaz de os
resolver o mais rapidamente com a partilha das suas vivências. Desde o primeiro
dia que se prontificaram a ajudar, a cooperar mas essencialmente a integrar. Nós
eramos e fomos desde sempre considerados docentes, iguais a todos os outros.
Estabelecemos entre o grupo um relacionamento saudável e pude debater e
receber críticas construtivas sobre o meu trabalho, por forma a crescer enquanto
pessoa e profissional. Ao longo dos três períodos tive a possibilidade de dialogar,
trocar ideias com todos os docentes, quer nas atividades escolares, quer no
desporto escolar, quer em pedidos de ajuda para alguma atividade.
“ (…) Esta reunião serviu para conhecer um pouquinho a metodologia de
trabalho de cada uma das escolas e de verificar que existe uma boa relação
entre todos os docentes do departamento apesar dos diferentes métodos
adotados. Todos lutamos por novas e melhores metodologias que sejam
capazes de responder as exigências dos nossos alunos. Que nunca nos
esqueçamos de lutar pela nossa Disciplina!” Reflexão da 1ª reunião de
Departamento. 8 Setembro de 2015
48
3.3.10.Grupo do Desporto Escolar
O grupo do DE à quinta-feira era constituído por mim, pelo meu colega
estagiário e por duas professoras. No vasto leque de professores que constituem
o DE, fiquei contentíssima por ter ficado com as duas professoras responsáveis
pelo grupo de trampolins. Era e foi muito importante observar as suas rotinas, os
seus feedbacks, e aprender. Aprender como se corrigiam alguns elementos
gímnicos, como se faziam as ajudas de elementos mais complexos, como se
mantinha um grupo de mais de 30 crianças em linha sem se mexerem para fazer
a saudação. Aprendi a ser professora de ginástica naquele pequeno instante,
porque elas permitiam, porque elas incentivavam. A forma como cada uma se
entregava naquela hora de treino era admirável e ainda mais notável era
perceber que se esforçavam para que os alunos evoluíssem. Eram diferentes e
ao mesmo tempo completavam-se. Daí que a aprendizagem só poderia ser real
retirando o melhor que cada uma dava à ginástica.
3.3.11.De aluna a professora e aluna: uma dualidade dentro do mesmo ser
Às segundas sentava-me numa das inúmeras cadeiras do auditório da
faculdade para assistir às minhas aulas, como aliás aconteceu durante 5 anos.
Em todos os outros dias da semana eu era a Professora Margarida, a estagiária
de EF. A parte da estagiária ficava em casa, era só a Professora Margarida. No
verão aguardávamos ansiosamente pelo resultado das colocações e a 1 de
Setembro estamos lá, com uma inexperiência que nos cortava a respiração e
numa atitude tudo menos confiante por dentro, mas muito adulta por fora.
Acabamos por ser duas pessoas no mesmo ser, ou talvez muitas mais, todas as
que quisermos ser. A mudança lenta de estatuto, não serve apenas para nos
sentirmos mais importantes ou mais responsáveis, até porque todos sabemos
que vamos aprender a vida inteira. Chegados ao patamar de professores,
seremos sempre alunos em qualquer circunstância, nem que seja a aprender
coisas da vida, que a canela fervida tira o cheiro dos fritos na cozinha ou que o
café ajuda a controlar a asma. O estranho era sentir que socialmente, todo esse
49
cliché de ser Senhora Doutora parece alterar muita coisa. Acabamos por ter uma
fila própria e mais rápida no bar, não precisamos de passar o cartão na entrada
(mesmo que imensas vezes tenhamos sido parados), já podemos jogar no
torneio de voleibol dos professores e ainda temos direito a casa de banho só
para nós. Esta dualidade acabou por nunca se impor, porque me via na pele de
todos eles (alunos) à segunda, e porque nunca me conseguiria ver como um ser
superior. Entre as gargalhadas e as figurinhas que fazia por me esquecer que
tenho outros direitos e deveres, fui sempre mais eu do que qualquer outro
estatuto. Aqui, era exigido que pudesse operacionalizar e questionar os
conhecimentos adquiridos, que os avisos dos professores da faculdade não
fossem esquecidos e que nunca me esquecesse de ser eu, no meio de todo este
processo. Apesar de eu não considerar, literalmente, a existência de um choque
com a realidade, a verdade é que todo este novo contexto, em prática real, com
alunos só meus, com condições intrínsecas à escola e a todo o envolvimento,
exigiam de mim constantes adaptações e problemas normais nestas situações.
As tarefas, os compromissos e as responsabilidades eram redobrados, porque
aqui nesta escola o palco era real, a peça ia estriar e nós, os atores principais,
não queríamos correr o risco de nos enganarmos no texto. O facto de sermos
estimulados desde cedo para ter opinião e refletir sobre os nossos problemas,
dificuldades, estratégias e controlo de todo o trabalho desenvolvido, permitiu que
as soluções chegassem mais cedo do que o esperado. A aplicabilidade da
reflexão nas aulas repercutia-se na evolução, do problema à resolução, da
ignorância ao saber.
51
4.REALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL
4.1.Área I: Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem
4.1.1Ensino da Educação Física
Todos sabemos que para concretizar e para viver a vida, necessitamos de
nos locomover, não só por sermos humanos mas porque é uma condição (Freire,
2010). Na escola, a educação socorre-se de variados saberes especializados,
muitas das vezes comprovados cientificamente. Acabamos assim por educar os
alunos para a vida, para que saibam viver, através do que lecionamos, do que
ensinamos dentro e fora da aula. Todos eles, sem exceção necessitam de um
vasto leque de disciplinas para obterem melhores recursos para viver, no caso
da EF, esta ajuda os alunos a viver corporalmente e a saber estar no mundo. É
isto que nos distingue das tantas outras disciplinas, somos a única que educa o
corpo em movimento (2010, p. 11). Correia (2011) é da mesma opinião,
assegurando que as aulas de EF são cruciais para o desenvolvimento do
adolescente na busca do seu estilo corporal próprio. O mesmo autor salienta que
o objetivo é oferecer aos alunos, conhecimentos importantes, capazes de
provocar uma postura crítica e interpretativa para que estes possam ter uma
opinião clara da cultura desportiva em que vivemos. Ainda assim importa referir
que a EF não transforma a escola sozinha, mas com a ajuda e articulação entre
as diferentes disciplinas, pode ser uma mais-valia para a organização escolar. A
escola deve assim ser estimulada a reconsiderar o valor do corpo, só assim
poderá ter em conta o processo de sociabilização dos alunos inerente a este
(2011, p. 163). Os professores devem ser capazes de atender à
multiculturalidade dos seus alunos, para que haja um processo de ensino-
aprendizagem correspondente às necessidades de cada um. Ou seja, “a
igualdade de possibilidades na Educação, não significa igualdade de tratamento,
mas possibilidade igual de todos serem tratados de maneira diferente, consoante
as suas necessidades educativas” (Januário, 1988, p. 86). Cabe a nós,
52
professores do ensino e da EF, colocar a competição e o desporto no centro da
EF, tendo em conta todas as especificidades de cada aluno e percebendo uma
EF como uma “prática desportiva sistemática, carregada de intencionalidade
educativa, concebida de forma integrada e com significado cultural, capaz de
proporcionar prazer ao aluno, fundada nos valores do desporto. O
empenhamento, a superação, o esforço, o confronto, a partilha poderão, então,
retomar o seu lugar nas aulas de EF e, consequentemente, a aprendizagem
poderá ocorrer” (Batista & Pereira, 2014, p. 82). Nunca nos esquecendo que “as
conceções que os professores possuem acerca dos conteúdos de ensino e
acerca dos alunos com quem trabalham refletem-se no modo como pensam e
desenvolvem as suas práticas de ensino” (Graça, 2001, p. 110).
Quanto a ensinar, à EF, não sei tão pouco que rumo tomará, a conjetura que
atravessamos corroí-nos a pele, mas lutaremos pelos nossos direitos, pela
essência que move o ser humano. A minha opinião neste dia era de cortar à
faca, provavelmente estaria revoltada, mas numa revolta de querer mexer as
engrenagens do mundo. A 3 de Dezembro 2015, na reflexão da aula 43 e 44
proferi as seguintes palavras:
“Porque não fazemos o que queremos? Não que seja um contrassenso de
querer quebrar as regras e fazer tudo o que nos apetece, mas porque não
fazemos o que gostamos quando podemos e temos competência para tal?
Não digo comer um chocolate quando desejamos, mas porque não temos a
oportunidade de dar aulas quando o estágio acabar? Porque não podemos
continuar a fazer os alunos felizes? A nós próprios. Porque nos “obrigam” a
tirar cursos para ficar em casa quase que num desespero de escolher outras
áreas. Porque deixam chegar uma profissão à exaustão? Ao ponto de
sabermos na perfeição que quando for a nossa vês de mostrar o nosso
passaporte para entrar no avião, a nossa capacidade já diminuiu, e sabem
porquê? Porque a descrença de poder exercer a nossa profissão, sim a
nossa, a que escolhemos, morreu. Passamos o tempo que estudamos a
adiar o inevitável, as pessoas que estão a tentar ingressar no mundo do
trabalho dizem que está mau, aliás toda a gente diz que está mau mas, nós
jovens com a nossa energia e capacidade de querer mudar tudo até o mundo
53
se for preciso, não cremos nisso, porque acreditamos, porque queremos,
porque achamos. Por mais que nos digam e que nós até constatemos pelas
notícias, pelas “facadas” que os nossos pais levam nos ordenados e na vida,
nós não queremos mudar de país, porque a saudade é tamanha e é tão
cinzenta a distância que sabemos que não queremos ir por aí. Afinal de
contas a vida é tão curta … e nós só queremos ensinar Educação Física”.
Para percebermos melhor a forma como a preparação do ensino é gerida é
necessário que haja, previamente, uma análise dos documentos que norteiam
essa preparação, documentos esses, essenciais para melhor perceber a escola
e os processos adjacentes à mesma.
4.1.1.1.Análise dos Documentos orientadores
A preparação do ensino “é complementado e interpretado por uma série de
documentos e materiais auxiliares que ajudam o professor a concretizar e
adaptar as exigências centrais às condições locais e situacionais da escola”
(Bento, 2003, p. 19). Assim, no início do ano letivo, o PC recomendou a análise
dos Programas Nacionais de Educação Física (PNEF)16, do Regulamento
Interno, do Projeto Educativo, do Plano anual de Atividades e dos Referenciais
da ESAS para cada modalidade. Os referenciais são documentos orientadores
realizados pelos docentes de EF da escola tendo por base os PNEF. Além disso,
analisamos ainda as normas e o regulamento do EP, sendo estes documentos
orientadores da nossa prática pedagógica. Para que possa adequar o ensino ao
contexto, o professor deve ser detentor de todos estes documentos para que
possa retirar ilações dos mesmos, tendo em conta a sua realidade escolar e os
seus alunos. Existe assim um aproximar entre os documentos centrais e locais
da própria escola a fim de se gerar uma adaptação para as condições do ensino
em questão. O desenvolvimento da autonomia da escola solicita a participação
de todos os intervenientes quer na elaboração do projeto educativo, quer em
todas as decisões que lhe digam respeito. O Projeto de EF escolar orienta e
16 Programa de Educação Física 10º, 11º e 12º anos, Cursos Científico-Humanístico e Cursos Tecnológicos. 2001, Lisboa: Ministério da Educação – Departamento do Ensino Secundário. Jacinto, J., Carvalho, L., Comédias, J. & Mira, J.
54
organiza o trabalho do conjunto de professores e de cada um em particular. O
Projeto de EF deve contemplar a constituição do currículo dos alunos, de acordo
com o PNEF, conter propostas de atividades físicas de enriquecimento
curricular, onde se encontra o DE, tendo em conta as caraterísticas gerais da
população escolar, as caraterísticas dos recursos e os objetivos a alcançar no
processo de desenvolvimento curricular.
O professor deve identificar os alunos que vão precisar de mais
acompanhamento, as matérias que merecem mais destaque, as capacidades
motoras que devem usufruir de uma atenção especial e, em última análise,
descortina os aspetos críticos no tratamento de matérias e na organização da
turma. Isto possibilita ao professor estimar o número de unidades de ensino e
decidir sobre a estratégia de composição dos grupos que lhe parece mais
adequada, sobre as atividades de aprendizagem que irá propor aos seus alunos
e os momentos em que pensa recolher as informações necessárias ao
ajustamento do processo de avaliação. Desta forma, o professor deve ser capaz
de adaptar os documentos globais e agir na comunidade escolar, mediante todas
as características que tem a seu dispor.
A análise destes documentos permitiu-me perceber melhor o funcionamento
da escola e todo o processo que a envolve. Todos eles, sem exceção, buscam
o desenvolvimento dos alunos, da aprendizagem, dos direitos dos alunos e
principalmente da educação.
4.1.1.2.Programas de Educação Física
Os PNEF foram concebidos como um guião, com o intuito de orientar o
docente na prática da sua profissão. Os professores agem rumo ao
desenvolvimento dos seus alunos e nos programas encontram indicadores
capazes de os orientar na sua ação, sempre em coordenação com os outros
professores de EF da escola e com os outros colegas das restantes disciplinas.
Estes programas visam alertar para a necessidade de se criarem as condições
necessárias para que os alunos possam usufruir totalmente dos benefícios da
EF, promovendo um desenvolvimento holístico do próprio aluno e da EF escolar.
55
A motivação e a qualidade da participação do aluno são uma mais-valia para o
desenvolvimento do programa já que, a combinação destes dois fatores, leva a
uma aprendizagem positiva, profunda, significativa e estável do próprio aluno.
Assim, os PNEF foram construídos com o intuito de atingir dois objetivos
principais: o desenvolvimento dos alunos e o desenvolvimento da EF escolar. A
viabilidade deste programa depende da capacidade de mobilização do
departamento de EF na escola, em função dos objetivos da disciplina, através
do desenvolvimento de estratégias que possibilitem a sua concretização. O
sucesso da aplicação destes programas revela-se pelas decisões coletivas e
pelo trabalho produzido pelo Departamento de EF.
No que diz respeito à organização vertical, o programa de EF apresenta uma
estrutura coerente, todavia diferenciada a nível de organização (em sentido
vertical) da disciplina de EF (1º e 12º anos). Os ciclos lecionados foram o 2º Ciclo
e o Secundário. No que diz respeito ao PNEF do 2º Ciclo17 verifica-se a
existência de um conjunto de matérias que se repetem na estrutura do programa
curricular de EF até ao 12ºano. Embora as matérias de ensino sejam iguais nas
duas fases de ensino deste ciclo (5º e 6º ano), cada escola poderá adicionar
matérias alternativas ao seu currículo, em função do contexto e das
caraterísticas escolares. O que distingue o 5º do 6º ano é a progressão do nível
de ensino das matérias. Este ciclo de ensino carateriza-se por abordar as
matérias de ensino no nível elementar, pois estas já foram introduzidas no 1º
ciclo. Porém existe uma exceção, dado que os jogos já se encontram num nível
avançado, uma vez que foram ministrados, a nível elementar, ainda no 1º ciclo.
Deste modo, o 5º ano, deve preparar os alunos para as atividades físicas
caraterísticas das etapas posteriores e, por outro lado, promover a revisão de
matérias abordadas no 1º ciclo e aperfeiçoar e/ou recuperar os alunos que
possam revelar algumas lacunas. Relativamente ao PNEF do Ensino
17 Programa de Educação Física do Ensino Básico do 2º ciclo, Organização curricular e programas (Vol. I). s.d, Lisboa: Ministério da Educação – Departamento do Ensino Básico. // Programa de Educação Física do Ensino Básico do 2º ciclo, Plano de organização do ensino- -aprendizagem (3ª ed. Vol. II). s.d, Lisboa: Ministério da Educação – Departamento do Ensino Básico.
56
Secundário18,pretende-se que os alunos evoluam a nível físico, psicológico e
social. Os objetivos do plano curricular são semelhantes aos do 3º ciclo, apenas
mudam as modalidades. O 10º ano é caraterizado pelo seu carácter de revisão,
reforço e consolidação de matérias anteriormente abordadas, com o intuito de
compensar ou recuperar os alunos/turmas em áreas em que apresentam mais
dificuldades. Portanto, promove-se o avanço em determinadas matérias e a
experiência dos alunos em atividades alternativas. Relativamente ao 11º e 12º
ano existe a hipótese de os alunos/turmas poderem escolher as matérias em que
preferem aperfeiçoar as suas capacidades, contudo sem se perder a variedade
e a possibilidade de desenvolvimento ou “redescoberta” de outras atividades,
dimensões ou áreas da EF. Assim, os alunos acabam por ser premiados com as
matérias que mais gostam, estando motivados para a prática. Deste modo,
derivado às experiências positivas, os alunos quando terminarem o Ensino
Secundário poderão dar continuidade à prática desportiva fora da escola.
Importa mencionar que a escolha, por parte dos alunos ou docentes, em cada
ano (11º e 12º anos), terá de incluir duas matérias de desportos coletivos, outra
de ginástica ou atletismo, uma de dança e duas das restantes (matérias
alternativas).
Na articulação horizontal, o programa do 2º Ciclo engloba os jogos
desportivos coletivos, assim como os individuais. Neste ciclo são abordados os
três níveis: introdutório, elementar e avançado. Note-se que estes se vão
alterando ao longo do 5º e 6º anos, com o intuito de aumentar a dificuldade e as
exigências das modalidades. Facilmente se verifica que no 5º ano há a
consolidação dos jogos, passando a preocupação a centrar-se na iniciação aos
jogos desportivos individuais e coletivos. Para complementar o programa
específico temos algumas modalidades alternativas tais como, corfebol, hóquei
em patins, hóquei em campo, escalada, natação, entre outros. De uma forma
resumida, o programa curricular para o 2º Ciclo, tem como objetivo o sucesso
pessoal e do grupo, a promoção do respeito por todos os colegas e pelo
18 Programa de Educação Física 10º, 11º e 12º anos, Cursos Científico-Humanístico e Cursos Tecnológicos. 2001, Lisboa: Ministério da Educação – Departamento do Ensino Secundário. Jacinto, J., Carvalho, L., Comédias, J. & Mira, J.
57
professor, promover a entreajuda, impulsionar o bom ambiente na turma e, deste
modo, aumentar o gosto pela prática desportiva. Pretende ainda,
consciencializar os alunos sobre as práticas de higiene, as condições de
segurança pessoal e dos companheiros e a preservação dos recursos materiais.
É de realçar que a força, a resistência, a velocidade e a flexibilidade são as
capacidades físicas que o programa do 2º ciclo foca.
Relativamente às caraterísticas do programa curricular do ensino
secundário, há uma clara diferenciação do 10º ano, comparativamente ao 11º e
12º ano. Por um lado, no 10º ano, as matérias obrigatórias são abordadas nos
níveis de tratamento mais elevados em relação ao que tinha sido feito até ao
momento. Por outro lado, no 11º e 12º ano, as matérias obrigatórias dadas até
ao 10º ano são abordadas nos níveis mais avançados, enquanto as matérias
alternativas são abordadas em todos os níveis (introdutório, elementar e
avançado). No Ensino Secundário, a EF tem como finalidades a melhoria da
qualidade de vida e de saúde através da melhoria aptidão física, a participação
em diferentes atividades numa perspetiva cultural e educativa e reforçar a prática
de atividade física ao longo da vida, quer numa dimensão individualista, quer ao
nível da sociedade.
A avaliação dos alunos em EF processa-se de forma idêntica à das restantes
disciplinas do plano curricular, sendo aplicadas as normas e os princípios gerais
que as regulam, decorrendo dos objetivos de cada ano e de cada ciclo. Estes
objetivos esclarecem os aspetos em que deve recair a observação dos alunos,
bem como as qualidades que permitem ao docente interpretar os resultados da
própria observação, elaborando uma apreciação representativa das
características apresentadas pelos alunos. Os objetivos de ciclo constituem as
principais referências no processo de avaliação do aluno, contendo o tipo de
atividade em que devem ser desenvolvidos e evidenciados os conhecimentos,
as atitudes e as capacidades comuns às áreas e subáreas de EF. O sucesso
reporta-se às competências adquiridas pelos alunos, decorrentes dos objetivos
do ciclo de formação. O grau de sucesso do aluno corresponde à manifestação
das várias competências no desempenho dos conteúdos programáticos. Os
critérios de avaliação estabelecidos pela escola e pelo (s) professor (es)
58
permitirão determinar, concretamente, esse grau de sucesso. Os processos e os
resultados da avaliação devem contribuir para o aperfeiçoamento do processo
de ensino-aprendizagem e, também, apoiar o aluno na procura e alcance do
sucesso em EF. Para que isso seja possível, os procedimentos aplicados devem
assegurar a utilidade e a validade dessa apreciação, ajudando o aluno a formar
uma imagem consistente das suas possibilidades, de modo a que ele se sinta
intrinsecamente motivado a melhorar as suas capacidades e participe nas
atividades propostas voluntariamente. É de realçar que as Normas de Referência
para a Definição do Sucesso em EF são um ponto que se insere na avaliação.
Neste, torna-se fundamental criar um conjunto de princípios, tendo em conta
diversas variáveis, que facilitem a avaliação do sucesso nesta disciplina. É de
enaltecer que o sucesso reporta-se às competências adquiridas pelos alunos. É
desejável determinar um patamar onde se possa incluir todos os alunos que
possuam as competências essenciais promovidas pela área de EF. Para isso, é
necessário encontrar uma referência, que seja independente das condições de
lecionação e de tudo aquilo que promove desigualdade entre turmas e escolas,
que defina o ponto a partir do qual se considera que o aluno deve ter sucesso
em EF. De salientar que a principal preocupação destas normas de referência,
está em potenciar as caraterísticas mais importantes da EF, principalmente
aquelas que contribuem para a formação holística do jovem.
Note-se que se consideram como referência essencial para o sucesso da
EF, três grandes áreas de avaliação específica, que representam as áreas de
extensão da EF: Atividades Físicas (matérias); Aptidão Física e Conhecimentos.
Para além desta divisão, as Atividades Físicas (matérias) ainda se subdividem
em três níveis introdutório, elementar e avançado. Um aluno é colocado num
nível introdutório ou elementar quando está apto a aprender um nível mais
exigente do programa, respetivamente o nível elementar ou o avançado.
Ninguém discorda que o“ ensino da EF carece de ser balizado (…) por
programas elaborados em conformidade, isto é, pedagógica e cientificamente
reconhecidos” (Bento, 2003, p. 8). Porém teremos de ser realistas o suficiente e
conhecedores da prática quando estipulamos um conjunto de princípios que
norteiam esse ensino. Daí ter verificado no contexto da prática, algumas metas
59
bastante ambiciosas que em muito dos casos exigiam que os alunos fossem
“superatletas”. Isto poderia ainda verificar-se nas situações de jogo das
modalidades coletivas que apresentavam estruturas complexas como o 11x11
no futebol ou o 7x7 no andebol. Assim em alguns casos, os alunos não estavam
preparados para aprender conteúdos avançados, havendo a necessidade de
conjugar e adaptar os conteúdos à turma e aos respetivos alunos. Note-se ainda,
que apesar de não ser obrigatória a revisão de todas as modalidades, no caso
do 10º ano, a quantidade de conteúdos pareceu-me ser um pouco extensa para
o tempo disponível, conjugada com todos os fatores internos e externos à
realização dos mesmos. Porém a sequência lógica dos elementos, bem como as
ideias e os traços primordiais parecem-me estar apropriados. Havendo desde
sempre a necessidade do professor readaptar os programas ao contexto escolar
em que está inserido, só assim será feita a distinção entre um simples professor
e um bom professor.
4.1.1.3.Prática distribuída como orientação metodológica
Bento (2003) afirma que os programas de ensino de cada disciplina possuem
um estatuto central no conjunto dos documentos necessários para o
planeamento do ensino por parte do professor. Assim, o planeamento surge do
cruzamento das indicações provindas dos programas, com a capacidade do
professor se adaptar ao seu contexto, às condições da escola e aos seus alunos.
A falta de estudos que se debrucem sobre as aprendizagens dos conteúdos
da EF seguindo diferentes ordenamentos não me permitem poder fazer uma
analogia entre o correto e o errado. Na verdade apenas contarei a minha
experiência, e tudo o que me foi possível refletir. Nesta escola em concreto, com
estas condições, com estes espaços e com estes professores. Seremos sempre
as mesmas pessoas se cairmos na rotina, na aceitação que tudo é assim porque
alguém superior o diz, ou porque vem escrito naquelas mil e uma leis que o
nosso país e todos os outros acarretam. Contudo, se formos capazes de nos
sujeitar às mudanças, à inovação, a fugir da nossa zona de conforto,
conseguiremos pelo menos tentar debandar e quebrar as regras. Sempre me
60
ensinaram que a prática era feita em blocos, numa Unidade Didática (UD) com
princípio, meio e fim. A questão aqui nunca será falar bem ou mal de uma em
prol da outra, apenas se constatam os factos vivenciados por mim, uma simples
professora estagiária. Quando cheguei à escola e me disseram que o ensino era
realizado em prática distribuída, fiquei entre a confusão e o medo de não saber
como ir por ali. Até sermos confrontados com outras realidades continuaremos
a navegar pelos mares ditos como certos, como confiáveis, como nossos.
A explicação para o que é a prática distribuída são um conjunto de
informações contidas nos programas nacionais19, trocadas e discutidas entre
mim e o meu PC, pela sua experiência inabalável nestas andanças. Digamos
também que se nos sujeitássemos a estudar e a cumprir os programas
nacionais, muitas das coisas estaríamos em desacordo, uma vez que neles se
encontram alguma falta de veracidade que é vivenciada nas escolas, tanto a
nível de materiais e instalações como das dificuldades dos alunos. Contudo e
antes de partirmos para a simples e fácil negação e não-aceitação dos mesmos,
devemos ser capazes de os contornar, de os perceber no mínimo detalhe que
seja. São as nossas leis, os nossos pontos cardeais, a nossa bússola das
matérias escolares.
Ao que se consta, em Lisboa as escolas realizavam avaliações diagnósticas
a todas as modalidades de forma exaustiva no primeiro período que buscavam
perceber quais as necessidades de cada turma. Com isso eram realizadas
diferentes estações em cada aula que pretendiam corresponder às
necessidades dessas mesmas avaliações. Apesar de a bibliografia não estar
publicada, como explica um professor conceituado nesta área após contacto
pessoal por email20:
“Olá (…) Muita dessa informação é apenas resultado da minha visão pessoal
dos modelos. Não existe literatura sobre isso que eu tenha conhecimento.
19 “ (…) a atividade formativa é tão global quanto possível e tão analítica quanto necessário.” P.28. Por outras palavras, cada matéria deve ser aplicada sobre o princípio de ser tão dispersa quanto possível e tao concentrado quanto necessário 20 Professor Catedrático da Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa (comunicação pessoal, 5 Abr. 2016)
61
Os programas de EF e os referenciais da formação mantêm essas
indicações. Veja nas teses de mestrado e doutoramento (…) se existe
alguma investigação sobre isso. Não creio.”
Optar por dar vários estímulos numa mesma aula de EF nem sempre é fácil
para quem estava habituada a dar aulas em blocos. A metodologia é sem dúvida
muito vantajosa mas ao mesmo tempo suscita algumas dúvidas, nomeadamente
como serão as avaliações, ou como será programada a aula. Na verdade, essa
confusão também surgia na minha cabeça, mas rapidamente foi resolvida com
a aplicação na prática. Estes diversos estímulos dados ao longo das aulas evitam
que se esteja sempre a fazer introdução de um conteúdo quando este já foi
adquirido. Vejamos como exemplo, se eu der voleibol por blocos, eu dou a UD,
e depois de a terminar os alunos só voltarão a experienciar voleibol no ano
seguinte, logo os alunos com mais dificuldades e mesmo os que tenham menos,
vão ter de rever todos os conteúdos novamente. Esta metodologia permite ainda
que os alunos possam ter a possibilidade de numa mesma aula realizar uma
modalidade que não gostem tanto e outra de que gostem mais, havendo para
isso sempre mais que uma modalidade.
Digo estímulos e não conteúdos porque existem diferenças, apesar de este
ser um assunto controverso e que gera muitas das vezes discussão entre alguns
professores. A verdade é que somos diferentes, temos outro método de ensinar
as modalidades, de as partilhar, esse método é usado pela nossa escola. Talvez
se hoje fosse o primeiro dia de aulas eu ficasse como fiquei, confusa sem
perceber o método, sem saber como reagir e agir sobre o mesmo. Atualmente
considero que me custará agir de outra forma, porque quem experimenta não
quer mais voltar ao que todos usam só porque sim, só porque é mais fácil, só
porque sempre nos ensinaram assim. Antes de mais, importa ressalvar que nem
todos os estímulos têm um novo conteúdo. Eu estimulo alguém para uma ação
e não para um conteúdo específico de drible por exemplo. Quem faz diferente
pode ter duas vias, ou ser extraordinário ou bater com a cabeça, e nessas duas
escolhas eu preferi tentar. A frase que mais me marca acerca deste assunto que
é muitas das vezes dita pelo PC é que as matérias devem ser tão dispersas
62
quanto possível e tão concentradas quando necessário. Mas tomemos como
exemplo uma coreografia, o skill tem de ser concentrado uma vez que a
aprendizagem tem de ser seguida, logo não há dispersão desse estímulo. Porém
se o objetivo fosse dançar aí não havia qualquer problema de haver dispersão
da dança pelas diferentes aulas percebem? Parece um pouco confuso, eu sei,
mas reparem neste exemplo, porque é que eu dando aulas em blocos em
outubro de 2015 escreverei o mesmo sumário em outubro de 2016 “introdução
ao lançamento na passada”? Se o basquetebol acaba no primeiro período
quando é que os alunos vão voltar a exercitar? Os jogadores da National
Basketball Association também não treinam essas habilidades todos os dias? Dá
que pensar e na verdade gera muita discussão. Será que se eu nadar crol agora
e depois daqui a uns tempos nadar de novo não saberei nadar melhor do que se
nadar hoje e depois só nadar no próximo ano? Não há nenhuma tese nem
nenhum estudo que comprove as ilações que tiramos, não há, mas connosco
funciona. As modalidades que sejam avaliadas sumativamente não podem ter
continuidade depois porquê? Ficaria a interrogar-me vezes sem conta até poder
discutir com alguém que experiencie o mesmo e que possa admitir a
possibilidade de existir vários caminhos.
Vejamos mais uma das possíveis justificações para agirmos assim: se
propunham a existência de 3x50’ (150’) de aulas o que dava um total de 35’ em
cada aula, só teríamos a capacidade de dar uma matéria. Contudo se forem 90
minutos (4x45’ =180’) dá-nos um tempo útil de 35’+35’ =70’ logo é possível dar
duas matérias, certo ou errado? Toda a gente defenderá o que acha correto, pelo
que viveu, pelo que vive e pelo que experiencia.
Esta foi a minha experiência, a que me habituei e adaptei durante este ano
de estágio, claro que os programas, como já referi anteriormente acabam por
propor coisas um pouco irreais, nomeadamente a existência de um espaço
polivalente para todas as disciplinas o que não nos é possível. Organizamos as
UD com uma progressão lógica exatamente como na prática em blocos, apenas
fazemos uma gestão de quais as modalidades a serem abordadas em
determinado dia e espaço no planeamento anual. Numa mesma aula
63
conseguimos dar diferentes estímulos, sendo um de maior foco e outro de uma
supervisão mais à distância, isto é, de autonomia.
“Lecionar mais do que uma modalidade por aula levanta de certa forma,
alguns constrangimentos na minha cabeça. Será que vou conseguir que
todos estejam motivados? Será que serei capaz de dar atenção necessária
e controla-los ao mesmo tempo? (…) Confesso que inicialmente não
trabalhar por blocos me fazia confusão, afinal de contas somos “formatados”
para agir assim. Com o avançar das aulas notei que trabalhar com mais que
uma modalidade se tornava sem dúvida mais motivante para os alunos e
mais desafiante para mim enquanto professora. Nas aulas iniciais o número
de alunos era preocupante para mim uma vez que não sabia lidar
rapidamente com a distribuição dos mesmos pelas diversas tarefas. Com o
passar das aulas, consegui manter-me mais calma e arranjar estratégias
para que todos passassem pelas diferentes modalidades mais que uma vez,
tentando com isso analisar o grau de empenhamento dos mesmos. Ou seja
após verificar uma maior paragem no jogo, alterava as equipas e mudava-
as de modalidade ou de campo”. Reflexão aula 7 e 8. 1 Outubro 2015
“Ao mesmo tempo que avaliava, os restantes alunos da turma encontravam-
se a jogar basquetebol em autonomia supervisionados por mim. Separei os
alunos e disse-lhes que teriam 2 minutos para se organizarem em 4 equipas
de 5 elementos, sendo que apenas jogavam 3 e trocavam de funções. Eu
tinha a noção que demasiada autonomia poderia provocar o caos, mas decidi
experimentar. Após dois minutos, havia corridas cruzadas e bolas a circular.
Tive sorte pensei eu, mas lá no fundo tive tanto orgulho de ver os meus
alunos a crescer e a desenvolver a autonomia.” Reflexão 33 e 34. 17
Novembro 2015
4.1.2.Planeamento
Planeamos as férias, a roupa que vamos usar naquela festa, a comida para
a semana, as boleias, os treinos, as aulas, os testes, a vida. Como se de um
momento para o outro houvesse horas para rir, para falar, para comer, para
64
andar. Apesar da rotina assombrada com que nos debatemos é importante
planear, porque faz parte querer, ter uma intenção, um objetivo, um rumo. Na
escola, planear não é exceção, sendo de extrema importância para que o
professor tenha noção do currículo sendo capaz de pensar mais alto e não
apenas na matéria que tem de lecionar em cada aula. Como afirma Bento (2003,
p. 16) “uma melhor qualidade de ensino pressupõe um nível mais elevado do
seu planeamento e preparação”. Neste sentido, com vista a proporcionar um
ensino eficiente junto das minhas turmas, recorri a três níveis de planeamento
que se interligam. Numa ótica mais macro, o planeamento anual que espelha e
reflete o desenho e organização geral da disciplina de EF ao longo dos três
períodos letivos. Numa perspetiva meso, surge a UD, onde são analisadas e
tomadas decisões a nível dos conteúdos/ matérias/ estímulos a serem
abordados em cada aula, no terceiro nível de planeamento, o plano de aula,
contendo este, tudo o que foi planeado nos dois níveis anteriores. Com este
planeamento procurei uma distribuição equitativa das matérias, tendo sempre
em conta os diversos fatores associados, nomeadamente as aulas disponíveis,
os espaços, as necessidade e dificuldades de cada aluno e as condições
climatéricas para que o planeamento fosse o mais perto possível do real.
Goc-Karp e Zakrajsek (1987) percebem que a competência para planear ou
tomar decisões assume uma das funções primordiais para ser professor. Assim,
planear para além de antecipar o futuro, implica também, ponderar antes da
ação, ou seja, do ensino.
4.1.2.1.Planeamento Anual – Análise macro
A elaboração do plano anual forma a primeira tarefa do planeamento e
organização do ensino, devendo o professor ser capaz de tomar algumas
decisões no que diz respeito ao processo educativo para todo o ano letivo
(Bento, 2003). Deste modo, idealizar e realizar um planeamento anual não é fácil,
é como se tivéssemos um puzzle com mil peças e precisássemos de o montar,
tendo em conta os espaços, as matérias a lecionar, a sequência e distribuição
65
lógica dos conteúdos e a escolha do momento oportuno para avaliar (ANEXO II).
Tudo isso conjugado com 7 disciplinas. Fiquei entre o pânico e o desespero de
conseguir reunir toda a informação num simples e único documento. Verifiquei
os dias das aulas, os feriados, as atividades extracurriculares, os espaços, as
matérias e comecei a desenhar um planeamento anual com uma dispersão de
estímulos pelas aulas, tendo sempre em conta a progressão de cada modalidade
e conteúdo e nunca esquecendo que determinados skills têm de ser dados de
forma mais seguida, como foi o caso da dança. Todo o planeamento foi
elaborado e construído de forma bastante cuidadosa e detalhada, tendo em
consideração todos os constrangimentos inerentes ao contexto que estava
inserida. Nesta linha de pensamento, Bento (2003, p. 122) afirma que “nenhuma
outra disciplina é tão dependente do clima e do tempo como a EF. Este fator é
determinante para a elaboração do plano anual de ensino, nomeadamente, para
a distribuição das unidades temáticas pelos diferentes períodos e aulas, e
mesmo até para a escolha de modalidades e disciplinas desportivas”. Um dos
aspetos que condicionou, em grande escala, a dispersão dos diferentes
estímulos, foi o roulement das instalações, uma vez que inicialmente se
encontrava em fase de reajustamento, o que dificultava ter a certeza exata dos
espaços atribuídos. Todo o planeamento teve em conta o PNEF, os referenciais
adotados pela ESAS para o 10º ano, o número de aulas previstas, a dificuldade
dos conteúdos de cada matéria de ensino, o nível inicial dos alunos observado
na avaliação diagnóstica e as atividades extracurriculares presentes no plano
anual de atividades. Ressalva-se que este documento abarca um planeamento
a longo prazo e, como tal, esteve sujeito a alterações e reajustes oriundos de
constrangimentos que surgiram ao longo do ano. Assim foi da minha
responsabilidade adaptá-lo e reajustá-lo de modo a garantir a aprendizagem dos
alunos.
4.1.2.2.Unidade Didática – Análise meso
“Um dos maiores desafios que se coloca aos professores de educação física
é a de, no contexto atual, promover de forma consistente a evolução dos seus
66
alunos” (Guilherme, 2015, p. 117). Assim, é fundamental que haja uma
organização sequencial e lógica de todo o processo de ensino- aprendizagem
em função das diferentes aulas e de todos os aspetos verificados no
planeamento anual. Podemos afirmar que é na UD que está o foco do trabalho
do professor, permitindo que este possa ser criativo e empreendedor (Bento,
2003). O mesmo autor advoga ainda que o planeamento da UD deve ter em
conta o desenvolvimento da personalidade dos alunos, nomeadamente as suas
capacidades, conhecimentos, atitudes e comportamentos e não apenas uma
distribuição de matérias aleatórias sem fim específico. Só assim o ensino
assumirá uma função de promotor dos alunos permitindo uma formação e um
desenvolvimento holístico dos mesmos (2003, p. 78). Para a realização das
minhas UD utilizei as habilidades motoras que incorporava os conteúdos a
lecionar, a Cultura Desportiva que incluía o regulamento, os Conceitos
Psicossociais que concretizavam o domínio socioafetivo e os Conceitos
Fisiológicos que incorporavam a condição física, sendo Vickers (1990) a
responsável por este modelo de planeamento. A fim de conseguir conjugar toda
a informação e proceder a uma distribuição lógica e equitativa da extensão dos
conteúdos, reuni informações referentes a cada modalidade, assim como os
dados retirados da avaliação diagnóstica de cada modalidade e procedi à
distribuição real dos conteúdos tendo em conta as necessidades dos alunos e
da turma. Com os percalços que foram acontecendo no decorrer da prática
pedagógica, a UD esteve passível a reformulações, principalmente na introdução
de novos conteúdos. Por fim importa referir que foi realizada uma abordagem do
topo para a base, possibilitando uma visão global através do jogo, antes de
esmiuçar o cerne das dificuldades. A única exceção ocorreu na ginástica de
solo/acrobática, uma vez que optei por abordar os elementos mais simples e só
depois partir para os elementos mais complexos.
4.1.2.3.Plano aula- Análise micro
“Isto para refletir que um plano de aula, um projeto, não depende apenas dos
meus conhecimentos, mas da amabilidade de todo um conjunto de pessoas
67
que me proporcionam alternativas para poder dar uma aula a 26 alunos com
1/3 do pavilhão. A Dona Elvira- 21 amavelmente arranjou solução para que
todos os meus alunos pudessem jogar voleibol, andamos no pavilhão à
procura da melhor forma para colocarmos uma rede improvisada em forma
de fita sinalizadora e no fim quando já se falava em alternativas ao plano, eis
que bate à porta do gabinete, a penúltima do corredor e diz -Sr.ª Professora
está resolvido!”. Reflexão aula 9 e 10. 6 Outubro de 2015.
O plano acaba por ser isso mesmo, um plano que nos liga nesse fio condutor
da aula mas que nos permite ajustar e reajustar a toda a hora. A essência e a
diferença de quem é bom professor é essa mesma, a de se sujeitar à mudança,
ao clima, à indisposição de um conjunto de alunos com inúmeros problemas.
Contudo e apesar desse reajuste possível, um bom planeamento a nível da UD,
possibilita que o plano de aula dessa mesma unidade possa ser mais efetivo.
Para isso o professor deve preparar atempadamente o plano de aula de forma
clara e coerente tendo em conta essa mesma unidade (Metzler, 2011). O plano
deve ter em conta todas as características inerentes ao ato educativo, devendo
por isso ser um auxiliador e guia da própria aula, não devendo nunca ser
comprometedor e objeto de extrema exigência e cumprimento.
O plano de aula deve ser consoante o gosto e a necessidade de cada
professor, para isso o meu plano de aula continha um cabeçalho inicial com o
nome do PC da Professora estagiária, a função didática, a data, o número de
alunos, o número da aula, hora, duração, espaço, objetivo gera da aula e o
material necessário à realização da mesma. No seguimento do plano coloquei o
tempo necessário para cada exercício, a situação de aprendizagem e as
componentes críticas. Conjuntamente com esta estrutura, recorri a um esquema
dividido em três partes distintas ao qual Bento (2003) denomina de parte
preparatória, principal e final, o autor advoga que qualquer sessão de ensino
logicamente organizada seguirá normalmente esta estrutura. Nos planos
idealizados, a terminologia adotada foi: parte inicial, fundamental e final. A parte
inicial da aula era marcada pelo registo das presenças dos alunos e pela
introdução dos conteúdos a serem abordados. Como Bento (2003, p. 158)
21 Nome fictício utilizado para descrever a pessoa em questão
68
salienta “o professor tem a tarefa de realizar os objetivos e de transmitir os
conteúdos propriamente ditos da nossa disciplina”. Com o passar do tempo, a
tarefa do registo de presenças tornou-se mais rápida uma vez que com o
conhecimento dos alunos já não necessitava de chamar um a um mas ia
registando conforme chegavam ao pavilhão. Ainda na parte inicial havia uma
preparação dos alunos para os estímulos a desenvolver, com uma ativação geral
tendo em conta os objetivos pretendidos a curto e a longo prazo. A curto prazo,
no momento da aula, possibilitando a cada aluno assumir a responsabilidade de
ministrar o aquecimento e a longo prazo quando era solicitado corrida contínua
numa busca de melhoria da condição física para a realização da milha. Com esta
metodologia adotada, os alunos sentiam-se motivados e integrados na própria
aula. Relativamente à parte principal ou fundamental, os exercícios propostos
buscavam uma prática rica e variada a fim de permitir aos alunos o confronto
com diferentes exercícios. Esta linha de pensamento é fundamentada por Bento
(2003, p. 158) quando assegura que “devem predominar, na parte principal,
exercícios e formas de exercitação alternadas, a fim de evitar (…) a monotonia”.
A parte final da aula era reservada à avaliação do domínio socioafetivo, onde os
alunos se auto avaliavam e permitiam uma hétero avaliação do professor e dos
restantes colegas em relação à prestação da aula.
Nunca nos esqueçamos que o plano de aula acaba por ser um ajudante,
uma orientação para o professor e não têm necessariamente de ser realizado na
sua totalidade, pois “o ensino real tem naturalmente mais facetas do que aquelas
que podem ser contempladas no planeamento e preparação”(Bento, 2003, p.
16).
4.1.2.4.MEC: A Bíblia dos Professores
Toda a gente do Mestrado de Ensino conhece os longos documentos,
conhecidos como MEC de Vickers (1990), realizados e aprendidos na Unidade
Curricular de Didática Geral. São documentos extensos, mas com um fio
condutor esplêndido e lógico, capaz de permitir encaixotar uma modalidade, um
69
contexto e os alunos dentro daquelas linhas todas. Espelham um pensamento
transdisciplinar, pretendendo mostrar como uma matéria pode e deve ser
estruturada, servindo esta como um guião para o ensino, apresentando
princípios comuns a todos os desportos e atividades (Vickers, 1990). Assim
como uma bíblia é capaz de colecionar uma infindável lista de textos religiosos
de valor sagrado para determinadas religiões, o MEC acaba por abranger todos
as informações necessárias e úteis para podermos ter uma prática de ensino
com um sequência lógica inigualável. São 8 módulos que nos permitem uma
visão global do necessário para o ensino, desde a caracterização da escola, dos
alunos até à extensão dos conteúdos e a sua avaliação. Assim como a bíblia nos
apresenta um conjunto de capítulos nomeadamente os livros históricos, os
proféticos entre outros que nos permitem obter uma noção mais simples de como
foi a história. Não há dúvidas que a nossa bíblia, a dos professores, assim como
a bíblia propriamente dita acaba por estar sempre pronta a ser consultada a
qualquer momento e em qualquer lado.
Desde o início do ano que nos propusemos realizar todos os MEC das
respetivas modalidades, para que nos outros períodos pudéssemos estar mais
libertos para escrever o RE e preparar as atividades da escola. Este modelo
surge como meio de ligação entre o conhecimento declarativo (o que vou
ensinar?) e processual (como vou ensinar?), onde existe um processo
interventivo por parte do professor a três fases, na análise, decisão e aplicação,
subdivididas em oito módulos. O módulo 1,2,3 é de análise, o módulo 4 a 7 são
decisões e o módulo 8 é a aplicação (Vickers, 1990). Optamos por realiza-los em
conjunto, numa pesquisa incessante que pudesse ser capaz de captar o maior
número de informações. Definimos a metodologia de trabalho e optamos por
recolher toda a informação necessária das 7 disciplinas para o módulo 1.
Posteriormente (Módulo 2), elaboramos um inventário de todos os espaços onde
poderiam ser realizadas as 7 modalidades e todos os recursos físicos e materiais
existentes na escola. Assim pude fazer uma análise de todo o envolvimento no
que diz respeito aos recursos espaciais, materiais, temporais e humanos. Com
esta preparação, a planificação e a elaboração dos módulos seguintes foram
sem dúvida facilitados. Ressalvo as condições brilhantes que eram
70
disponibilizadas para as aulas de EF desde os espaços aos materiais o que
fomentou uma elevada motivação para o ato educativo. Por forma a conhecer os
meus alunos, analisei as características dos mesmos para que a planificação e
as atividades propostas fossem ajustadas (Módulo 3). Depois desta vasta
análise, estava pronta para decidir. Decidir o que ensinar e quando ensinar
(Módulo 4), tendo em conta a calendarização do ensino e de todas as atividades
planificadas a nível da escola e de departamento, com especial atenção para
todas as condicionantes como o clima e o horário, os espaços, entre outros. No
Modulo 5 decidi os objetivos essenciais para cada área/ categoria
transdisciplinar, tendo em conta o nível dos meus alunos para que estes fossem
reais e concretizáveis. Para poder avaliar todo o processo (Módulo 6) optei por
decidir as formas, os critérios e como transformar os dados da avaliação em
classificação. Para que esses objetivos fossem cumpridos elaborei um desenho
de atividades de aprendizagem (Módulo 7) com uma progressão lógica e
sequencial permitindo que os alunos tivessem êxito nas tarefas.
Todo este planeamento culmina com a aplicação prática de todo o
conhecimento aqui idealizado, sendo materializado nos planos anuais, nas UD,
nos planos de aula, nas grelhas de avaliação, nas reflexões de aula e nas grelhas
de observação (Módulo 8), que foram sendo arquivadas ao longo do ano no
portefólio digital.
Este foi, sem dúvida, um documento extremamente importante e de fácil
consulta permitindo retirar rapidamente qualquer dúvida que surgisse no
processo educativo.
4.1.2.5.Roulement, os espaços, nos espaços dos espaços
Com a existência de 5 professores em simultâneo, a cada um deles
correspondia um espaço, sendo que quando a meteorologia não permitia aulas
no exterior, todos os professores tinham direito a um espaço fechado. Na
distribuição dos espaços, cada professor permanecia 15 dias no mesmo espaço,
conseguindo depois uma ordem rotativa pelos outros 5. A elaboração de um
roulement tem e segue à risca um conjunto de fatores que são necessários ao
71
bom funcionamento da escola, do pavilhão, das turmas e dos professores. É
indispensável que haja um processo igualitário para todos, para as turmas e para
os professores, possibilitando a oportunidade de ter aulas nos diversos espaços
ao dispor. É assim indispensável que se saiba partilhar, para que haja um bom
funcionamento da instituição. A elaboração de um roulement não é fácil, porque
acarreta consigo todo um conjunto variado de condições que se tornam num jogo
de quebra-cabeças. Só o considera quem nunca olhou para ele, quem nunca
conjugou os espaços, as turmas, os balneários e todas aquelas coisas que na
hora da verdade dão um nó na cabeça. Importa salientar que apesar do
estabelecimento dos espaços para cada professor, é possível haver trocas entre
os mesmos quando é necessário algum reajuste de uma modalidade por
exemplo. Assim este é um documento de extrema importância, na medida em
que permite um estabelecimento de regras e oportunidades iguais para todos os
professores.
4.1.3.Realização do Processo Educativo
4.1.3.1.1ª Aula e rotinas
Estava tudo preparado, mas faltava conhecê-los. A 22 de Setembro de 2015
houve o contacto formal e a respetiva apresentação com os alunos do EP. O
objetivo primordial desta aula era conhecer e comunicar com os alunos,
apresentando-lhes um conjunto de regras necessárias ao bom funcionamento
do ano letivo e conhecê-los um pouquinho que fosse. O grau de ansiedade de
nervosismo era grande, porque já os professores da faculdade citavam que
nunca voltaremos a ter uma segunda oportunidade de criar uma boa impressão.
E inevitavelmente todos sabemos que o primeiro contacto com os alunos foi, é e
sempre será o mais importante. Para colmatar toda essa ansia, elaborei um
guião e uma apresentação em PowerPoint pensada ao detalhe. Nela continha
um conjunto de regras importantes ao bom funcionamento, um vídeo
motivacional para a prática desportiva e para as aulas de EF e um conjunto de
informações relevantes para o início do ano letivo.
72
A sala foi invadida por um conjunto de alunos com características diversas,
com sonhos e ambições distintos e o primeiro contato aconteceu. Apresentaram-
se os estagiários, o PC e foram realizadas um conjunto de perguntas para que
cada aluno se apresentasse, nomeadamente o nome, a idade, de que escola
provinha e o que queria ser quando acabasse o secundário.
Relativamente às regras de funcionamento, expliquei a existência de 2 aulas
de 90 minutos (70’ tempo útil) por semana, tendo os alunos entre 8 a 10 minutos
para se equipar e igualmente 10 minutos para tomar banho no final da aula.
Recomendei a utilização de equipamento adequado à prática desportiva, que o
cabelo estivesse preso e proibi a utilização de adereços (brincos, anéis, colares,
relógios), chicletes e telemóveis durante a aula. Relembrei que a entrada dos
alunos na arrecadação do material só era aceite com autorização dos
professores e o limite de faltas injustificadas era 8 x 45’ (4 x 90’). Expliquei ainda
a fórmula da avaliação e as atividades internas e extracurriculares. No fim
solicitei o preenchimento de uma ficha informativa do aluno, realizada pelos
estagiários a fim de conhecer o historial do aluno.
Quer queiramos, quer não, o nosso contexto é dentro de um pavilhão, com
bolas, com material desportivo, assim como um médico precisa de um hospital
ou de um gabinete para dar consultas. Há medida que o tempo passava, o medo
era deixado em casa e a vontade de ser iguais a nós mesmas aumentava, sem
papéis que atrapalhassem ou horários rígidos a cumprir em cada tarefa. No
nosso terreno, a regra fundamental e que nunca deveria ser quebrada era o
silêncio no momento da instrução, todos eles sabiam que haveria momentos
para tudo na aula, para falar, para descontrair, para jogar, mas essencialmente
para ouvir e serem ouvidos. Assim, as bolas ficavam paradas no momento de
instrução, e os castigos eram implementados sempre que um palavrão se
soltasse indevidamente.
Eu chegava sempre mais cedo do que o toque para organizar todo o material
e toda a disposição pretendida para cada aula, e incrivelmente todos eles
chegavam antes dos dez minutos de tolerância para ajudar, para contar as
novidades ou até mesmo só para saber o que iriamos abordar naquela aula.
73
Todos sabiam, que a partir de determinada altura o aquecimento seria dado por
um aluno da turma para que a autonomia pudesse ser partilhada por todos e que
no fim da aula além de ajudarem a arrumar o material, haveria uma avaliação do
domínio socioafetivo de cada um e que todos os outros podiam interferir na sua
autoavaliação (ANEXO III).
As primeiras aulas serão sempre o nosso guia, o nosso rumo, caso sejamos
incoerentes em alguma regra, o caus pode instalar-se, por isso manter-me fiel
aos princípios estabelecidos foi meio caminho andado para o sucesso na
implementação das rotinas pretendidas.
4.1.3.2. Clima de aula
O clima de aula foi desde sempre exemplar, porque os alunos permitiam e
porque eu era tão apegada a eles que me tornei afetivamente incontrolável. Tive
sorte, é verdade, todos eles funcionavam como um todo, como uma turma que
se protegia concomitantemente todos os dias, mas que era capaz de chamar à
atenção quando os caminhos perdiam o rumo certo. E não havia rancor, ou
discussão, havia aceitação, sempre! A emoção vincula as aprendizagens, os
momentos marcantes vêm dessa mesma emoção porque marcam, porque se
perpetuam no tempo, porque de alguma forma fazem com que a aprendizagem
seja significativa. Rosado e Ferreira (2011, p. 190) afirmam que “a otimização do
ambiente de aprendizagem exige a consideração do sistema de relações entre
o professor e o aluno, sendo num ambiente caloroso e vivencial, de consideração
e cuidado, numa orientação clara para o aluno, que os níveis mais elevados de
participação podem ser conseguidos”. O facto de termos conseguido estabelecer
uma relação próxima facilitou a autonomia e a confiança depositada neles nos
momentos em que deveriam estar a realizar os exercícios de forma autónoma e
supervisionada por mim à distância. Era importante perceber que neste contexto
com esta realidade, o facto de o professor não estar presente não era momento
para provocar o caus, mas para continuar com as tarefas propostas. Esta
capacidade autodidata dos alunos permitia-me fazer grupos na aula
rapidamente, não tendo de os escolher atempadamente em casa. Isso
possibilitava-me ajustes muito mais rápidos no caso de algum aluno faltar e de
74
modificar o objetivo dos exercícios caso não correspondesse ao pretendido.
Nomeadamente o golo das raparigas contar como 2 ou até mesmo diminuir o
tamanho da fasquia em salto em altura. Para que o professor consiga criar um
clima positivo e possa gerir com uma autoridade que seja aceite pelos alunos é
necessário que haja uma implementação de regras e rotinas na aula. Assim, a
disciplina ao ser bem gerida tem muito menos probabilidade de se tornar um
problema para o professor (Siedentop, 1991). O clima estabelecido entre mim e
os alunos era pautado por um conjunto de regras, mínimas na verdade, que eram
aceites por todos com bom agrado. No início do ano, as regras estabelecidas
eram as de bom funcionamento e cumprimento de aula. Com o passar do tempo
implementei a regra dos 10 saltos sempre que alguém dissesse um palavrão
inapropriado e a contagem de 3,2,1 para que todos viessem mais rápido para a
transição de exercícios ou para o fim da aula. A verdade é que a “disciplina não
é só o resultado da eficaz aplicação de técnicas de controlo disciplinar, mas sim
o resultado da organização e gestão da atividade, da competência com que é
aplicada e, também, do clima relacional em vigor” (Sarmento et al., 1993, p. 4).
Como refere Oliveira (2002, p. 88) um “conhecimento profundo dos seus alunos
por parte do professor facilita uma maior compreensão das suas necessidades
e problemas, e capacita o professor para o estabelecimento de respostas mais
adequadas, nomeadamente na ajuda ao aluno, a fim de desenvolver o seu
autoconceito e autoconhecimento.”
“Não sei o que vocês sabem sobre as relações humanas, sobre as relações
entre os professores e os alunos, nem tão pouco o que sabem do clima que
uma aula pode tomar, das proporções da mesma, mas hoje se estivessem
na minha aula sairiam certamente mais ricos com tudo o que se passou. Não
que eu me ache a única e inventora de tais conceitos, mas porque o que eu
vivi hoje, o que se passava no ar ou no pó mágico que os contos de fadas
inventam foi surreal. Eu tinha o pavilhão todo para mim e queria montar três
estações nos três campos, uma de treino funcional, uma rede de voleibol e
o colchão para o salto em altura. A 15 minutos do toque para entrada já tinha
os alunos equipados a ajudar-me. Sim podem dizer que devo ter sido eu
quem lhes pedi, ou que talvez não tivessem mais nada para fazer ou outra
75
desculpa parecida. A verdade é que eles estavam lá, a verdade é que em
vez de estarem no intervalo que é o lugar deles, estavam a fazer-me
companhia ou a mexer nas bolas que deviam estar paradas mas estavam
percebem? E isso já ninguém me tira! (…) Sou feliz, estou e fiquei feliz por
os ver felizes, por os ver a praticar desporto e principalmente por ter tido a
oportunidade de os ter.” Reflexão aula 105 e 106. 28 Abril 2016
Claro que tudo isto é possível porque aquela escola o permite, porque a
cultura implementada e incutida nos alunos sobre o desporto e a EF é forte e
convicta. Rink (1993) defende que é muito mais fácil para um professor ensinar
quando os alunos estão motivados. A mesma autora advoga que as tarefas da
aula devem ser repensadas para que o aluno desenvolva autonomia, porem
adaptadas consoante o nível de cada aluno. Deste modo, os alunos conseguem
encontrar e identificar as suas necessidades de uma forma positiva. Com isto,
os professores devem procurar novas formas de apresentar os conteúdos para
poder acrescer o interesse e a motivação dos alunos. As tarefas devem ser
desenhadas por forma a permitir que cada estudante possa ter a mesma
oportunidade de participação (1993, p. 192).
4.1.3.3.Relação professor-aluno
Fernandes (1990), apesar de distante do tempo atual, já afirmava que a
afetividade é indispensável para o desenvolvimento do aluno e para a sua
aprendizagem escolar. O mesmo autor defendia que o professor tem de ser
capaz de identificar as individualidades de cada aluno, bem como a sua história,
para ser sensível e humanamente capaz de conduzir o educando a uma
orientação motivacional (1990, p. 110). Com a crescente globalização, a
aprendizagem encontra-se ao virar da esquina, o conhecimento pode ser
adquirido em diversos recursos, contudo o professor torna-se indispensável
principalmente para aqueles alunos que não conseguem ser autónomos na
procura do saber. Desta forma, todos nós somos capazes de identificar os
professores mais exigentes, os que requeriam maior capacidade reflexiva e o
que nos ajudaram a superar determinados obstáculos (Delors, 2003). A relação
76
afetiva estabelecida entre o professor e o aluno é fulcral para que toda a ação
pedagógica siga um caminho estruturante. Os alunos sentir-se-ão motivados
para a escola e para a vida, se os professores forem capazes de provocar
sensações de bem-estar e um bom clima escolar nos alunos (Fernandes, 1990).
Esta ideia é ainda reforçada por Delors (2003) que afirma que o vínculo relacional
formado entre o professor e o aluno passa a ser o centro de todo o processo
pedagógico.
À medida que o tempo foi passando e depois de alguma autoanálise e
feedbacks de algumas pessoas, eu percebi que era mais emocional do que outra
coisa. Como se numa autoperceção de mim mesma, eu me tivesse conhecido
mais nestes últimos meses, do que no resto da minha vida. Incrível assumir-me
tão desconhecedora de tais factos, mas a verdade é que eles (alunos), o ensino
e a escola tocaram no ponto mais profundo do ser humano, da vida, da evolução.
A relação que estabelecemos com todo este processo, acaba por ter várias
fases, começando muito tímida no início e quase que numa atitude de medo,
mas muito protetora no final, de querer fazer deles os melhores do mundo, de
querer viver com eles a melhor fase da vida, a adolescência. Guilherme (2015,
p. 121) partilha da mesma opinião dizendo que “todos estes estados emocionais
não seriam muito relevantes se não tivessem implicações diretas com as
pessoas com quem estamos a relacionar-nos”. Era ali, naquele confronto,
naquela arena que todos os atores desafiavam, sorriam e partilhavam a vida. Ser
professor é contribuir para mudar o mundo, por mais pequena que seja essa
contribuição para este nosso mundo, jamais sairemos daquela criança, daquele
jovem, daquela pessoa. A nossa marca ficará para sempre enraizada. Queirós
(2014a, p. 71) ressalva que “o professor iniciante encontra-se numa situação
peculiar, pois poucas profissões permitem um contacto tão direto e intenso com
a futura atividade profissional. O professor em início de carreira já foi aluno
durante muitos anos, facto que lhe proporcionou o contacto com diferentes tipos
de atuação e múltiplos métodos de ensino por parte dos seus professores”. Mas
a verdade é que a relação estabelecida entre o professor e o aluno é um conjunto
de interações, de fatores, mas essencialmente de paixão, de entrega, como
afirma Guilherme (2015, p. 122) “se formos apaixonados pelo que fazemos, o
77
nosso corpo transmite essa paixão. Se estivermos empolgados, o nosso corpo
faz transparecer esse entusiasmo. Se estivermos alegres, o nosso corpo irradia
felicidade. Se estivermos confiantes, o nosso corpo espelha firmeza. Se
conseguirmos expressar, conseguiremos contagiar”. E a maior prova dessa
relação, são as minhas reflexões:
“(…) A verdade é, que lá no fundo, eu tenho tanto o espírito maternal que só
os quero proteger, que só quero que evoluam porque acredito que eles são
capazes, e disso eu tenho a certeza! Oh meu Deus não haverá certamente
profissão mais fascinante que esta”. Reflexão aula 17 e 18. 20 Outubro 2015
“Chegar aos 14 anos e ter que escolher o nosso futuro às vezes torna-se um
pouco irónico, na verdade aos 14 anos pensamos em jogar futebol na rua ou
em mandar mensagens no nosso telemóvel novo de entrada no 10º ano.
Normalmente mudamos de escola, achamo-nos mais importantes e mais
crescidos, aceitando menos esses joguinhos que mais parecem para
crianças do que para nós. Eu já passei por isso tudo, por essas dúvidas que
atormentam qualquer um, nesta mudança brusca de escolaridade. Comecei
por este tema porque dois dos meus alunos vieram com a conversa de
querem mudar de curso e que esta seria a última aula de EF comigo. Fiquei
intermitente e a pensar no assunto, mas prossegui a aula. (…) Findada a
aula, decidi abordar os dois alunos que me tinham comunicado a mudança
de curso, tentando assim perceber quais as razões e dando a minha opinião
acerca do assunto. O meu discurso era ouvido não só por esses dois alunos
mas também por um conjunto de mais alunos da turma que participavam na
discussão. (…) Todos seguimos o nosso caminho para casa, todos sem
exceção fomos a pensar naquele assunto, os alunos porque não querem
perder os amigos e eu por não quer perder os meus alunos. Chegamos a
criar uma relação tão próxima e tão maternal que é como se todos eles
coubessem naquelas “bolsas” onde os cangurus transportam os seus filhos,
mas em vez de bolsas é dentro do coração. Os nossos alunos são os nossos
pequenos, para quem trabalhamos e para quem queremos desde sempre o
melhor.” Reflexão aula 25 e 26. 3 Novembro 2015
78
“(…) “Eu estou aqui e prometo-te que nunca te deixo cair”, dizia eu como se
ela acreditasse que eu tinha poderes sobrenaturais. Ela saberia exatamente
que eu era humana, logo que fraquejaria, mas a minha convicção era tanta
que por instantes ela confiou e saltou, sem medo, apenas saltou porque
confiou, percebem? Talvez se a confiança em mim fosse nula, teria de
estudar o caso, de como perder o medo em certos exercícios, como
familiarizar com um objeto já trabalhado desde sempre, mas não foi preciso.
Será que aquela aluna teria sido “abandonada” aquando a sua dificuldade
naquele aparelho? Quanto tempo teremos nós para despender com quem
não quer tentar? E com quem quer tentar mas há algo… vocês sabem, algo
que as impeça? Teremos nós a capacidade e a audácia de saber distinguir
diferentes casos? Quanto tempo o tempo tem? Provavelmente muito pouco.
Mas o necessário para nunca nos esquecermos de quem mais precisa de
ajuda. Porque afinal de contas a emergência tem pouco tempo, mas nunca
desiste de chegar ao sítio e à pessoa pretendida, à cura.” Reflexão aula 39
e 40. 26 Novembro 2015.
“Se precisasse de uma prova muito forte de que os alunos gostam de mim
e me querem proteger, hoje eu tinha-a. Todos os comportamentos e
segredos que ouvi hoje foram a prova de que eles nunca me queriam ver
mal, que se preocupam pelo facto de eu ser avaliada, que no fundo e apesar
de tudo eles são apenas adolescentes que não conseguem ser soldados e
gostam de procurar o distúrbio de vez em quando. Não que essa prova só
tenha sido dada hoje, mas porque foi bonito de se ver, a forma preocupada
com que olhavam para mim e para o professor, o ar de desconfiança e o
sentimento de serem capazes de me proteger se de uma guerra se tratasse.
São os “meus” pequenos, os meus de sempre, e não esperaria mais nada.
Que nunca nos tirem as vivências, as memórias, as partilhas, os momentos,
o Desporto!”. Reflexão aula 77 e 78. 23 Fevereiro 2016.
“O amor é sem dúvida a arma mais poderosa de uma pessoa, mas
principalmente do professor. Poder ensinar algo a alguém jamais terá preço,
será sempre uma marca a caneta permanente e ali, nem que venham todos
79
os “corretores” do mundo, ela ficará para sempre enraizada na história de
cada um.” Reflexão aula 29 e 30. 10 Novembro 2015
“Como se em todos os inícios as pessoas tivessem de se sentir receosas,
pela ausência e a desabituação das relações. Como se o medo nos
corroesse as veias e nos fizesse entupir o pensamento ao ponderarmos que
alguma coisa pudesse mudar. Já não digo por causa das notas, mas que a
relação, essa mesma, tivesse sido esmorecida num ato louco de “quem não
vê esquece”. (…) Mas sobre eles, sobre a nossa história que é construída
todos os dias, em todos os momentos, eu nunca poderei deixar de refletir,
sabem porquê? Porque só a viver, só a sentir é que as pessoas tentam
exprimir o que se passa, o que se sente, o que se guarda. O tempo pode
estar a faltar, mas daqui a dois meses, vai sobrar, e pensar nesse mesmo
tempo de ausência disto tudo, dá uma certa picada no coração que me
obriga a não deixar de apreciar estes instantes, a não deixar que toda esta
azáfama me retire a possibilidade de vivenciar mais um bocadinho que seja
todo este processo magnífico. Reflito quase sempre sobre eles, porque eles
são o motor da carruagem, o telhado da casa, a engrenagem da máquina de
lavar.” Reflexão aula 91 e 92. 4 Abril 2016
Desta forma, as turmas, os alunos, continuam a ser o nosso navio nos dias
de tempestade, a nossa dor de cabeça de manhã, à tarde à noite, a nossa vitória
e derrota, o nosso avanço e recuo. Toda a aprendizagem que retiramos de cada
turma, toda a especificidade de cada aluno e de todos em conjunto moldam-nos,
conjuntamente com o que somos, com o que acreditamos ser e com o que eles
nos transformam. Atuamos, adaptamo-los à nossa maneira, à nossa realidade,
ou pelo menos tentamos, porque bem lá no fundo todos sabemos que os
humanos são tudo menos plasticina e são sim, um conjunto de ondas incertas,
incessantes, únicas, diferentes, nossas e não nossas, deles. O amor move o
mundo para sempre.
80
4.1.3.4.Aprendizagem dos alunos: Ensinar é diferente de aprender
Qual será a aprendizagem dos alunos? Será assim tão fácil ensinar? Ou
ensinar e aprender têm certamente definições diferentes?
Infelizmente vivemos numa sociedade onde se busca o conhecimento e as
competências básicas didaticamente organizadas e concretamente avaliáveis,
para que todo esse conhecimento possa ser memorizado e desbobinado nos
testes/exames, com respostas pré-estabelecidas por alguém, que não os alunos,
apesar de todas as limitações educativas que lhes aponta (Graça, 2015). O
processo ensino-aprendizagem não é um assunto passível de ser regido por um
conjunto de passos escritos em mil e um livros. Tudo o que é trabalhado em
contexto de aula é o que é percebido pelos alunos, o que capta a sua atenção,
o seu esforço, a sua perceção, a sua aplicação e ação (2015, p. 23). Assim “o
envolvimento emocional dos alunos com as atividades realizadas parece ser um
forte aliado do processo ensino-aprendizagem. Por um lado, cria contextos
prazerosos de atividade e, por outro, os estados emocionais intensos estão
associados à maior consistência das aprendizagens”(Guilherme, 2015, p. 122).
Com isto, espera-se que os professores sejam capazes de criar um clima
adequado à aprendizagem, através de uma relação única estabelecida entre
estes e os alunos.
“Digamos que dar uma aula acaba por ser quase que como se corrêssemos
uma maratona e ficássemos nos 10 primeiros lugares. Digo isto porque em
cada aula, damos o melhor de nós, como se nos partíssemos em bocadinhos
e todas as fibras tipo II fossem gastas até ao limite. Preparar uma aula de
ginástica por vagas é sem dúvida alguma extremamente positivo, e juntando
os skill cards que realizamos ainda se torna mais fácil. Temos sempre o
cuidado de colocar o professor na vaga que é necessária mais ajuda, ou
melhor na única onde é crucial que ele lá esteja. Mas hoje todos queriam
saber fazer a rondada, todos queriam treiná-la, todas as três vagas
necessitavam que eu as visse, que eu as corrigisse, no rolamento, nas
figuras, nas posições de equilíbrio. Como se hoje todos carecessem de
atenção.” Reflexão aula 57 e 58. 14 Janeiro 2016.
81
Os professores devem trabalhar em prol das necessidades da turma e dos
alunos, numa busca do sucesso. Porque afinal, ensinar é nortear de forma
incessante e gradual os alunos (Fernandes, 1990). Contudo apesar de ser
importantíssimo o papel do professor neste processo pedagógico, não nos
podemos esquecer nunca que a aprendizagem, não é produto do professor, mas
sim do aluno, uma vez que por mais eficientes que sejam os métodos
pedagógicos utilizados e o trabalho realizado pelo professor, o ensino só é
encarado como tal quando cria contextos competentes de criar no aluno
motivação, atividade e esforço. Assim, para que haja aprendizagem é
indispensável que o aluno queira aprender, sinta necessidade, parta da sua ação
e do seu desejo, tenha sentido, significado ou razão de ser (1990, p. 161).
Aprender ao contrário do que muitos pensam não é um efeito espontâneo do
ensino. Não porque se aprende naturalmente por outras vias que não o contexto
de ensino, ou para além do referido intencionalmente pelo ensino, mas porque
existe uma ponte entre o ensino e a aprendizagem, provocada pela atividade
dinâmica do sujeito na aprendizagem (Mesquita & Graça, 2011).
Inexplicavelmente as “preocupações com o ensinar e aprender não se esgotam
nesta componente performativa do professor; não ficam circunscritas aos
mecanismos de sobrevivência da aula, ainda que por aí comecem; aparecem
também implicadas nas exigências de ajustamento dos exercícios e tarefas de
aula, e de justificação dos conteúdos dos planos de aula ou de unidade didática”
(Albuquerque et al., 2005, p. 99). Podemos então afirmar que “quando se diz que
“ninguém ensina nada a ninguém” não se estará, por certo, a defender a
impossibilidade de ensinar, mas antes que o sucesso do ensino depende do que
o aluno faz para aprender. Ou seja, o ensino não é uma atividade que se baste
a si própria, é uma atividade relacional e tem que atender não apenas à
especificidade da matéria, mas também às particularidades dos aprendentes e
dos contextos, das situações, das circunstâncias” (Graça, 2015, p. 23). Assim os
professores não são meros transmissores de conhecimento, ou de informações,
devendo ser capazes de provocar nos alunos a capacidade de querer resolver
problemas, de modo a que este possa estabelecer uma relação entre a
interrogação e a procura de soluções (Delors, 2003). A relação pedagógica
82
desenvolvida entre o aluno e o professor visa o desenvolvimento da
personalidade do aluno, para que mais tarde estes possam ser capazes de
continuar a aprender e a adaptar-se às mudanças. Deste modo, a relação
estabelecida com o trabalho e com o diálogo entre o professor e o aluno acabam
por ajudar o aluno a ser mais crítico face aos acontecimentos (2003, p. 135). O
professor deve então ser entendido como um “gestor e promotor de todo o
processo de ensino e aprendizagem, ao recorrer a estratégias de comunicação
não-verbal, tem o poder de reforçar a mensagem que deseja passar envolvendo
emocionalmente os alunos nas atividades e na sua evolução” (Guilherme, 2015,
p. 123). A motivação foi e é desde sempre uma preocupação para os
professores, não só de EF mas de todas as disciplinas que enfrentam o processo
ensino-aprendizagem.
“A aula estava preparada em vagas como de costume, mas hoje em todas
as estações havia um skill card referente ao exercício. Os alunos ficam
entusiasmados e para os mais esquecidos uma imagem vale sempre mais
que mil palavras. As dificuldades eram notórias nos novos elementos, o
rolamento à frente e atrás com os membros inferiores afastados, as novas
figuras, mas principalmente a rondada. Desconstruir a ideia de que a roda
não é igual à rondada custa um pouco, até que em jeito de brincadeira lhes
propus no final da aula que perdessem dois segundos a procurar na internet
vídeos de pessoas a fazerem a roda e a rondada. Aquando a minha
demonstração, eles ficavam mais esclarecidos, mas passado uns segundos
varria-se tudo e voltavam a não saber como fazer, muitos por medo, outros
por não acreditarem que realmente é possível fazer coisas de cabeça para
o ar”. Reflexão aula 53 e 54. 7 Janeiro 2016.
Os professores sabem que os alunos quando estão motivados atingem
níveis mais elevados de prestação nas tarefas escolares e adquirem um grau de
satisfação muito maior quando os objetivos propostos são atingidos (Carita et
al., 1998). As mesmas autoras salientam que o processo motivacional não
procede no vazio, existindo um conjunto de fatores que o norteiam, tais como “o
nível preocupação dos alunos relativamente à dificuldade da tarefa, a perceção
83
de sucesso na aprendizagem, a tonalidade afetiva com o professor … e a
natureza mais ou menos significativa que a matéria tem para o aluno” (1998, p.
43). O professor deve assim ser capaz de criar estratégias para motivar os
alunos através da sua relação com os mesmos e implementar métodos capazes
de propiciar a aprendizagem (1998, p. 43).
“Ser a que gosta de tudo no sitio e tudo organizado às vezes não é fácil, dá
muito jeito é verdade, mas chegamos a ser em muito dos casos um pouco
exigentes demais, não com os alunos mas connosco. A perfeição não existe,
e longe de mim acreditar nessa ideologia, mas por vezes exijo demasiado
da resposta da turma, como se as linhas tivessem que seguir um padrão
mais reto do que curvo, tendo eu a capacidade de andar nos dois, por vezes
acho, é que fico sem rodas. Digamos que um pouco mais de algazarra e
desconcentração levam-me a achar que a aula correu mal e que me saiu das
“estribeiras”. Como afirma Rodrigues (2015, p. 95), “cabe ao professor
decidir e aplicar as técnicas e processos que considere mais eficazes para
que as aprendizagens e a formação se façam com mais rapidez, com mais
consistência e com mais durabilidade”. Por isso, na próxima aula de voleibol
tentarei implementar uma estratégia que permita maior motivação nas
situações onde o foco é mais específico”. Reflexão aula 27 e 28. 5 Novembro
2015.
“Somos os melhores do mundo nuns dias, ou que raio estamos nós aqui a
fazer no outro. Somos a água e o azeite, o gato e o cão, o sal e a pimenta.
Somos o ser e o não ser a razão e a emoção, o certo e o errado. Somos
demasiado picuinhas, organizadas, a achar que o mundo perde as
estribeiras quando não corre tudo bem, quando achamos que há uma areia
no sapato ou um cabelo pendurado no ombro. Somos não, Sou. Sou
demasiado em demasia, a querer mais do que às vezes é possível. Ou
simplesmente a sonhar. Talvez eu gostasse de investigar a causa da
rebeldia, do não fazer só para provocar, ou talvez da constante chamada de
atenção. Poderia investigar sobre a motivação, sobre a EF não contar para
a média entre muitas outras coisas, mas não é isso. Não é porque não posso
84
acreditar que seja esses ditos problemas já com nome. Porque eu sei que a
minha turma é boa, porque para mim é a melhor e porque seria e será
sempre, porque é minha, porque acredito neles com tanta força que lhes
queria ensinar tudo. E no meio desta controvérsia toda ainda acreditar que
um dia possam todos dizer sim quando damos uma modalidade que foge do
tradicional, que não peçam uma bola de futebol apenas porque é o que mais
gostam de fazer. Que aceitem o desafio de remar contra a onda mesmo sem
barco, que acreditem que experimentar faz parte da vida e que nunca
desistam deles, de mim e de nós. Há dias em que a reflexão da reflexão dá
uma enorme confusão. Melhores dias virão, com mais respostas, mais
soluções, mais vida, mais paixão pela profissão!” Reflexão aula 73 e 74. 16
Fevereiro 2016
Como estratégias para a obtenção do sucesso nas diferentes modalidades
utilizei frequentemente o uso de skill cards, vídeos da modalidade em questão
ou do conteúdo a lecionar, demonstrações tanto da minha parte como através
de alunos modelo e papéis que continha a informação toda a ser avaliada e a
ser preenchida por eles para entregar.
“Aula no pavilhão inteiro dedicada à velocidade e à partida de blocos. A
estratégia utilizada foi tornar a velocidade o mais real possível, com
desqualificações e todos os processos carimbados no regulamento de
atletismo. Pessoas a perturbar, desta vez sentei-as e resultou lindamente!
Fiz e proporcionei diferentes formas de partirem, troquei as posições nas
corridas de perseguição e no fim ainda queriam repetir. Ando
contrabalançada entre a noção que os alunos às vezes não estão virados
para aprender, mas que há situações em que realmente isso acontece.
Assim como as aulas com todo o conjunto de fatores a ela associada podem
correr bem ou menos bem. Não será tudo linear, tudo contado da mesma
forma.” Reflexão aula 69 e 70.4 Fevereiro 2016
Mais do que as estratégias propriamente ditas e que funcionaram para os
cativar, o facto de me envolver nas tarefas e nos exercícios que lhes propunha,
tendo muitas vezes de o demonstrar, acabava por os motivar para a realização
85
da tarefa. Assim, como o facto de os provocar, de os incentivar a serem melhores
que eles próprios, que a professora, que o colega que faz mais dois centímetros
porque o voo foi melhor aproveitado. Sempre me preocupei em demasia com o
que os alunos pensavam acerca do que lhes era proposto, muito mais que a
simples motivação para os exercícios era a forma como se envolviam, como
efetivamente se deixavam controlar pelo dito efeito arrebatador do desporto.
Sempre me preocupei que eles percebessem que não gostam porque não
sabem fazer e que se não sabem é porque nunca perceberam como se faz, ou
porque ninguém perdeu tempo a ensinar, ou então porque nem todos aprendem
à primeira e da mesma maneira. Sempre me preocupei em incentivá-los a tentar,
por mais que achassem que o que lhes pedia era impossível e demasiado para
o comum dos mortais. Sempre me preocupei em criar raízes que fossem
capazes de os vincular emocionalmente à matéria, para que esta não passasse
por eles mas que ficasse lá efetivamente, que houvesse realmente
aprendizagem. A minha principal estratégia foi, desde sempre nunca excluir
ninguém, nem os bons nem os menos bons, todos tiveram oportunidade de
evoluir, porque eu perdia realmente um pouco de tempo com esses casos.
Perdia não, ganhava.
4.1.3.5.Somos melhores porque somos de Desporto!
Aos “Professores de Educação Física ficou incumbida a missão de motivar
e preparar os jovens para uma prática desportiva que vá de encontro aos seus
objetivos de vida, tanto em termos da hábitos de saúde, como de relação com
os outros, dotando-os de capacidades para enfrentar um quotidiano
inexoravelmente competitivo, onde a superação e a luta por níveis mais elevados
de qualidade de vida e felicidade se apresentam como premissas para um viver
digno e pleno” (Sarmento et al., 2014, p. 333). As enormes exigências a que nós,
professores nos debatemos atualmente são sem dúvida gigantes, devendo o
professor ser capaz de corresponder, adquirindo assim um papel multifacetado
no ato educativo. De acordo com Rodrigues (2015, p. 95), o professor é o “
condutor do processo de ensino e aprendizagem. É a ele que compete criar as
condições para que se efetive a apropriação do conhecimento e de
86
desenvolvimento de competências para a vida por parte dos alunos”. Não chega
ao professor ter conhecimentos numa determinada área do saber, nem um
conjunto de estratégias para passar esse conhecimento, mas é necessário que
este, seja capaz de despoletar um desenvolvimento profundo e geral no aluno,
que o permita mais tarde ser autónomo e reflexivo em relação à sociedade e à
sua profissão (Cunha, 2008). O autor supracitado assegura que existe uma
busca incessante de encontrar um modelo para o bom professor, contudo
objetivamente é difícil classificar, dados os inúmeros fatores intervenientes
(humanos, profissionais, culturais) que determinam o perfil desses profissionais.
Estes devem ser professores “completos”, operando nos diversos campos
pedagógicos, sendo capazes de explicar o “quê”, o “porquê”, o “de quê” e o
“como” fazem e refletem a sua atividade pessoal e profissional (2008, p. 83).
Aqui entra a conceção do que cada um pode e acha ser um bom professor de
EF, as crenças, as teorias, o estudo, a prática, o saber. Nós, EE, futuros
professores, somos os atores principais do nosso progresso e transformação,
com a unicidade de sermos concomitantemente agentes e sujeitos da história da
nossa mudança. Assim recai sobre nós a responsabilidade pela nossa evolução
e crescimento, bem como a procura da nossa identidade enquanto futuros
docentes (Rolim, 2015). Para se ser professor é necessário que se esteja
predisposto para o ser, que nasça em nós determinada característica que nos
torne únicos e capazes de exercer esta profissão. Ser professor de EF vai para
além do que a formação nos pode dar, ou seja não chega aceder a um conjunto
de informação teórica, mas é necessário confrontar essa informação com
contextos próprios e refletir sobre os mesmos. Esta ideia é ainda defendida por
Thurler (2002, p. 90), quando afirma ser essencial que os professores deixem de
ser vistos como indivíduos em formação, ou como meros cumpridores, devendo
ser vistos como protagonistas de um sistema que estes contribuem para
modificar e transformar, entregando-se inteiramente, recrutando “o máximo de
competências e fazendo o que for preciso para que possam ser construídas
novas competências a curto ou médio prazo”. Torna-se assim, indispensável
uma vontade de aprender com o dia-a-dia, misturado com a paixão e a entrega
que damos a esta profissão. Como afirma Queirós (2014b), “a ação educativa só
87
pode ser desempenhada por quem acredite que contribui para a formação
integral de seres humanos e que as suas funções não se limitam a transmitir
conteúdos programáticos”. Ser professor é uma tarefa extremamente importante,
mas ser professor de EF é poder conjugar todas as disciplinas numa só (tema
que já foi refletido no capítulo anterior). Digamos que acabamos por abarcar
numa só disciplina conhecimentos multidisciplinares e sendo desde já a única
que trabalha o corpo em movimento permite-nos ter um conhecimento mais
profundo de onde nos situamos e como nos situamos no mundo.
Provavelmente, o facto de a EF não contar para a média, leva-nos a ficar
numa posição um pouco constrangedora, entre a falta de argumentos para tal
medida e as indisciplinas que acabamos por ter de enfrentar. Ao contrário do que
ultimamente nos querem fazer ser, somos muito mais do que isso. Somos a
malta das cambalhotas e dos jogos de futebol, mas somos profissionais,
continuamos a ser, como todos os outros professores. Talvez pudesse entrar
pela importância das disciplinas, ou de qual a mais importante e mais digna para
constar no currículo escolar, mas estaria a defender apenas o que é meu sem
olhar para a realidade escolar. O facto de sermos professores de EF não nos vai
impedir de perceber de matemática a nível das contas do supermercado, ou até
mesmo do português a ler as placas do mesmo. Todas as disciplinas são
importantes para uma formação holística do aluno, sendo que estas permitem
uma formação articulada entre si por forma a munir o aluno de competências e
conhecimentos necessários para entrar no mundo do trabalho ou prosseguir
para o ensino superior (Henriques, 2016). Tomemos como exemplo, um aluno a
jogar basquetebol: no campo encontram-se 8 jogadores, existem linhas que
delimitam o campo, uma bola, dois cestos, inúmeras regras que é necessário
conhecer, variáveis que é necessário ter em conta: a movimentação dos colegas
de equipa e adversários, a trajetória da bola, a coordenação óculo-manual para
dominar aquela coisa redonda e que não para quieta, o sentido do jogo; as ações
táticas ofensivas e defensivas bem como um vasto leque de outras coisas que
necessitam de estar dominados para que o aluno possa tomar decisões num
breve espaço de tempo, sendo que as variáveis estão constantemente a mudar
(Henriques, 2016). Incrível? Como este, haveria muitos mais exemplos. A
88
quantidade de estímulos que são recebidos no cérebro de um aluno naquela
fração de segundos é gigante, não será isto suficientemente importante para a
capacidade de memória, análise, raciocínio e interpretação do aluno? Não é
visível a promoção de valores inerentes à própria vida de superação, à
transcendência, ao trabalho de grupo e ao respeito assim como à resiliência ao
insucesso na EF? Se concordamos todos com isto, por que razão não deve esta
contar para a média de acesso ao ensino superior? Baixa as médias aos alunos?
De que alunos? Erro crasso para quem não entendido em EF é assentar a sua
opinião numa visão redutora da disciplina do pontapé para a frente, da corrida e
das cambalhotas, imagem essa, associada ao tempo em que a disciplina era
dada como um recreio. O facto incontornável é todo o licenciado nesta área,
estuda, percebe do que fala e é professor como qualquer outro docente, por isso
se a EF não é facultativa, então o direito é igual ao das outras disciplinas, sendo
necessário interiorizar e valorizar a utilidade da mesma, num outro contexto. Não
somos inferiores porque nos julgam com preconceito. É nesta linha de
pensamento que se insere a afirmação de Henriques (2016), EF não é ginástica,
ginástica é uma modalidade, seria a mesma coisa se eu chamasse à disciplina
de matemática trigonometria, ou à de português lírica camoniana.
Ainda assim, nem que só haja uma luz ao fundo do túnel, sou apologista de
que “… esperamos que todos nós continuemos a sonhar, a pensar, a defender
e a gritar bem alto aquilo em que acreditamos e, ao mesmo tempo, nunca
deixarmos de trabalhar para sermos melhores pessoas e melhores professores”
(Rolim, 2015, p. 83). Não temos pejo porque somos do domínio motor, os do fato
de treino e da sapatilha a semana inteira, ou os únicos que atuam numa sala de
aula exposta e aberta ao mundo, também eu tenho orgulho nisso e corroboro
Bento (2004, p. 41) “sou professor e tenho orgulho nisso. Por pertencer ao
número daqueles que se empenham em realizar a possibilidade de fazer o
Homem, de sagrar de Humanidade todos e cada um, para darmos um nível
aceitável à nossa imperfeita perfeição.”
89
4.1.3.6.Gestão da aula
Gerir uma aula engloba um conjunto de 5 aspetos que estão diretamente
relacionados: os alunos, os materiais, os exercícios, o tempo e o espaço. Cada
um destes aspetos de organização, segundo Rosado e Ferreira (2011, p. 189)
corresponde a um “plano de ação do professor que tem por objetivo a gestão do
tempo, dos espaços, dos materiais e dos alunos, visando obter elevados índices
de envolvimento (…) fazendo uso eficaz do tempo”.
No seu conjunto estes aspetos levam o professor a um processo de
questionamento constante em busca das melhores soluções para o processo de
ensino-aprendizagem. Assim, o professor de EF deve pensar e refletir em
estratégias adequadas para que possa proporcionar aulas motivantes aos seus
alunos (Vaz et al., 2015). No que diz respeito aos alunos, o professor deve ser
capaz de gerir a formação dos grupos e a divisão dos mesmos. No meu caso em
especifico, o nível da minha turma era de certa forma homogéneo, o que permitiu
uma escolha fácil na constituição dos grupos, não sendo necessária uma
construção prévia dos mesmos em casa. Contudo atendia a algumas exceções
de alunos com maiores necessidades. Na gestão dos materiais, tinha a
preocupação de ir mais cedo para cada aula e colocar o material todo disponível
para que nada faltasse e não fosse necessário repor material a meio da aula,
para uma melhor otimização do tempo letivo. Havia um grande número de alunos
que se equipavam antes do toque para me poderem ajudar a montar aula e no
final de cada uma, todos os alunos arrumavam o material nos respetivos locais.
Os exercícios eram pensados e estruturados a pensar nos alunos e nas
condições que tinha ao meu dispor. Como dizia o meu PO, cada aula é um
poema e cada exercício, uma palavra desse mesmo poema. Podemos dizer
ainda que cada exercício é uma forma de comunicar com a aprendizagem, assim
todos os exercícios eram escolhidos, não porque todos os faziam, mas porque
era o que eu defendia, o que fazia mais sentido e tinha mais lógica ser aplicado
naquele contexto específico da minha turma. Todos os exercícios tiveram um
foco para o jogo funcionar, ou seja, em todos eles o transfere era real e precioso
para o jogo. Todos foram pensados tendo em conta a especificidade da turma e
90
dos alunos em questão, promovendo uma progressão lógica e motivante para
que as aulas fossem espaço principalmente de aprendizagem e de envolvimento
positivo entre todos. Desde as aulas por vagas em ginástica com skill cards, às
aulas de dança com cartões dos passos, passando por aulas de comprimento
com tapetes pontuados, tudo foi aprendizagem, tudo foi pensado e discutido até
ao ínfimo pormenor. De acordo com Quina (2009, p. 41) “existem várias formas
de organizar a atividade dos alunos durante a aula de EF”, destacando como as
mais usuais a organização em vagas, por áreas e em circuito. Foi visível ao longo
das minhas aulas socorrer-me de diferentes tipos de organização por forma a
conjugar os diversos fatores implícitos na mesma (alunos, espaço aula, controlo,
tempo, matéria e objetivos).
“Começamos a aula de uma forma diferente do habitual. Visualizamos um
filme alusivo ao salto em altura e principalmente à técnica que iriamos
abordar, a Fosbury. Depois organizei a aula em circuito para que todos
pudessem passar pelos diferentes estímulos que levavam ao salto final”.
Reflexão aula 21 e 22. 27 Outubro de 2015.
“O facto de existir a possibilidade de os alunos visualizarem vídeos alusivos
à modalidade em questão, permite que estes percecionem o exercício de
forma mais rápida e que a explicação no terreno seja menor. Assim existirá
mais tempo para a prática e para a correção de erros verificados”. Reflexão
aula 71 e 72. 11 Fevereiro de 2016.
Relativamente à gestão do tempo e do espaço, estes foram dois aspetos a
serem bem pensados no início do ano, uma vez que com a existência de mais
do que uma modalidade era necessário uma boa gestão para que todos os
alunos tivessem a mesma oportunidade de participação nas modalidades.
Acredito que uma má gestão do tempo e do espaço possa arruinar por completo
um plano de aula, melhor dizendo a aula em si. Antes de iniciar o estágio, em
aulas dadas em conjunto no primeiro ano de mestrado, o tempo era, no meu
ponto de vista, contado ao minuto, tendo eu sempre uma preocupação acrescida
em cumprir os tempos destinados para cada exercício. Contudo com o início do
estágio e com o passar das aulas, o tempo deixou de ser uma preocupação e
passou a ser gerido naturalmente, sem grandes exageros, nem cumprimentos à
91
risca de cada minuto acabando por se tornar uma mais-valia para o processo de
ensino-aprendizagem, possibilitando a todos terem o mesmo tempo em cada
tarefa. O espaço confinado em cada aula era aproveitado na sua globalidade,
tendo em muitas das situações aproveitado campos que não estavam a ser
utilizados e que não me pertenciam, para que houvesse maior tempo de jogo em
determinada modalidade.
Em suma, a gestão da minha aula passou quase sempre pela necessidade
e urgência de rentabilizar o tempo disponível para a prática, planeando sempre
todo e qualquer momento, nunca deixando que esse pormenor fosse dominador
da aula, mas que fosse capaz de proporcionar uma progressão útil e motivante
para cada sessão de ensino. O material era disposto, antecipadamente no local
da prática, e arrumado no final da mesma. No decurso da prática, todos
ajudavam para que a gestão fosse partilhada e para que houvesse uma
envolvência maior de todos e uma economização do tempo de aula. A regra dos
10 saltos, sempre que havia uma incorreta utilização do material em momentos
de instrução ou de prática, revelou-se uma boa estratégia nos momentos em que
necessitava de instruir uma variante ou um novo exercício já em períodos de
prática, assim como o conjunto de regras pré-estabelecidas, nomeadamente, o
silêncio em momentos de instrução, a transição entre exercícios ser rápida ou
até mesmo a construção autodidata de grupos, que foi sendo melhorada com a
prática e com o tempo. No decorrer das aulas, alguns exercícios eram repetidos
até mesmo em diferentes modalidades, o que proporcionava uma melhor
perceção dos mesmos e uma rápida e eficaz forma de iniciá-los.
“ (…) O facto de utilizar os mesmos exercícios em aulas dispersas leva a que
a explicação diminua, que a familiarização com os exercícios seja maior e
automaticamente que o empenho motor aumente.” Reflexão aula 35 e 36.
19 Novembro 2016.
A pontualidade era um ponto de extrema importância para uma realização
eficaz da própria aula, devendo desde cedo os alunos assumir essa
responsabilidade não só na aula, como na vida.
92
“ (…) Alguns alunos andam consecutivamente a chegar atrasados, tendo por
isso sido repreendidos para que estes atrasos não se tornem a repetir. Na
verdade 10 minutos são suficientes para os alunos se equiparem. Estes
atrasos causam muitas das vezes perturbações no início da aula, devendo
por isso ser evitados.” Reflexão aula 17 e 18. 20 Outubro 2015
4.1.3.7. O Modelo Híbrido
Como era de esperar, com uma metodologia de ensino diferente, não
poderia ser apresentado apenas um modelo de instrução. Nem tão pouco a
existência de um só como base, mas fragmentos selecionados, por forma a criar
um modelo sem nome, mas nosso, de cada um. Digamos que não existe um
modelo ideal para todos os envolvimentos de aprendizagem, mas sim um
conjunto de modelos de instrução que proporciona uma edificação global e
coerente do ensino e do desporto (Mesquita & Graça, 2011). Assim, o processo
de ensino-aprendizagem baseou-se no que fomos aprendendo no primeiro ano
de mestrado em alguns modelos de instrução, nomeadamente, no modelo de
ensino dos jogos para a compreensão (Teaching Games for Understanding –
TGFU), modelo de instrução direta (MID), modelo de abordagem progressiva ao
jogo no ensino do voleibol (MAPJ) e o modelo de educação desportiva (MED).
Em cada um deles foi utilizado uma ou mais características que criaram o tal
modelo híbrido de ensino que acabou por funcionar perfeitamente na realidade,
onde eu estava inserida, provocando por isso maior qualidade para o relato da
prática. Importa antes de mais, perceber o que cada um defende para depois
discutir os resultados destes modelos para os alunos.
O MID acaba por centrar as decisões no professor, nomeadamente a
determinação do envolvimento dos alunos nas tarefas, realizando um controlo e
estabelecimento de regras e rotinas de gestão dos alunos. A utilização do tempo
de aula é fulcral para um tempo de prática motora elevada (Mesquita & Graça,
2011). Os mesmos autores advogam que, com a supervisão duradoura das
tarefas realizadas pelos alunos, o professor visa uma prática mais autónoma.
Quando existe uma rotina e uma assimilação do conteúdo, existe uma elevada
93
taxa de resposta motora, estando o professor a propor desafios alcançáveis e
com progressões motivantes, aumentando assim o sucesso (2011, p. 50).
O TGFU surge por forma a opor-se às abordagens tradicionais
excessivamente centradas nas técnicas descontextualizadas, sendo o jogo, na
maioria das vezes esquecido (Graça & Mesquita, 2013). Este modelo adota um
estilo de descoberta guiada, onde o aluno é exposto a um problema e é
estimulado a procurar soluções, comunicá-las, discuti-las e explicá-las, tendo em
conta um conjunto de questões fornecidas pelo professor (Graça & Mesquita,
2011). Assim, o modelo adota formas de jogo simplificadas adequadas à idade
e ao nível de experiência dos alunos. O foco pedagógico incide sobre a tomada
de consciência dos princípios táticos do jogo, sobre a tomada de decisão, a
exercitação das habilidades e sobre a incorporação da técnica e da tática para a
melhoria do jogo e da sua performance (2011, p. 139). O TGFU preocupa-se em
evitar a alienação do jogo, questionando os alunos sobre o que fazer e quando
fazer e não somente como fazer. É assim um modelo centrado no aluno e no
jogo, tendo por isso em conta a forma de jogo a ser apresentada aos alunos
(Graça & Mesquita, 2013).
O MED é um modelo que pretende, pela sua estruturação, recriar um
contexto desportivo mais verídico. Em detrimento das UD de curta duração,
acaba por criar o conceito de época desportiva que aglomera a ideia da prática
desportiva, extremamente organizada e com competições calendarizadas,
havendo um registo absoluto e uma atribuição de papéis fundamentais para que
o envolvimento desportivo seja o mais real possível (Graça & Mesquita, 2013).
Segundo os autores supracitados, o MED utiliza formas de jogo de acordo com
as capacidades dos alunos para poder haver uma motivação e uma maior
participação e envolvimento dos mesmos na competição. Este modelo acredita
ainda na vantagem de uma aprendizagem em pequenos grupos, ressalvando o
espirito de grupo e a ajuda mútua que se desenvolve entre todos os
intervenientes (2013, p. 15).
O MAPJ privilegia uma abordagem holística em detrimento de uma exclusiva
abordagem técnica, apoiando-se em alguns modelos, nomeadamente o MED e
94
o TGFU, por forma a conseguir criar uma proposta didática coerente (Mesquita
et al., 2013). Existe assim uma interação entre a tática e a técnica em conciliação
com a dinâmica interna do jogo. Assim, o modelo não nega a precisão do ensino
da técnica, mas fá-lo através de formas modificadas de jogo, sendo o jogo o
ponto crucial para o processo de ensino (2013, p. 81).
O 10º ano, sendo um ano de revisão, implica que matérias já abordadas em
ciclos anteriores, sejam de certa forma, relembradas aos alunos. Contudo, com
todos os constrangimentos em que nos debatemos, nomeadamente, com a falta
de tempo e com as condições climatéricas que acabam por alterar por completo
a ocupação dos espaços as 7 modalidades que são previstas abordar acabam
por sofrer grandes alterações. Digamos que a forma como as revemos consiste
numa distribuição, nem sempre preferencial das mesmas, em que se insiste mais
numas em detrimento de outras. Das 7 modalidades (atletismo, voleibol,
basquetebol, ginástica, andebol, dança e futebol) as modalidades como o futebol
e o andebol acabaram por ser um pouco prejudicadas, devido à minha escolha
de ambas serem lecionadas em campo exterior. Contudo ressalva-se que as
modalidades mais abordadas acabaram por ser revistas e um pouco mais
aprofundadas. Por isso em todas as modalidades e mais numas do que noutras
houve um cruzamento destes 4 modelos de ensino. Vejamos alguns exemplos
que elucidam o sucedido. No atletismo, nomeadamente, em salto em
comprimento, os alunos usaram tapetes pontuados em pequenos grupos com
alguns skill cards fornecidos por mim para conseguirem perceber as diferentes
fases do salto. Contudo ainda que estivessem de certa forma a utilizar algumas
características presentes no MED, houve de início uma explicação feita por mim,
professora, ou seja, um pouco de instrução direta (MID). Verificamos deste modo
um cruzamento de mais do que um modelo de ensino na mesma modalidade ou
um só modelo em modalidades distintas. Na abordagem ao voleibol, utilizei o
MAPJ embora adaptado às condições e especificidades da turma, não deixando
de promover em muitas aulas, torneios, de forma, a proporcionar um ambiente
mais real do contexto desportivo. Na ginástica, foi utilizada, para além de uma
descoberta guiada e de instrução direta a utilização de grupos de trabalho para
poderem compor a coreografia. Foram utilizadas ainda os skill cards fornecidos
95
por mim que continham os passos que deviam ser inseridos por forma a serem
avaliados os alunos (MED). No basquetebol, foi notória a implementação da
descoberta guiada, de como, o que e quando fazer determinadas habilidades,
em momentos do jogo, utilizando assim o TGFU.
A implementação de diferentes modelos de ensino permitiu aos alunos uma
maior experiência no que diz respeito às práticas, tendo sempre por base o
desenvolvimento holístico e integral de cada um. Puderam assim vivenciar
momentos em que ouviam a professora, outros em que visionavam vídeos
acerca do tema a ser desenvolvido na aula, podendo ser autónomos na utilização
de skill cards e na construção dos próprios exercícios, assim como perceber qual
os passos a serem dados para conseguirem alcançar determinado objetivo, quer
fosse encestar, quer fosse marcar golo, quer fosse transpor a fasquia no salto
em altura.
Não nos esqueçamos, como enunciam Mesquita e Graça (2011, p. 64) que
os “modelos instrucionais não são estanques (…) A sua adaptabilidade depende
fortemente de variáveis de ensino e de aprendizagem a que é necessário atender
no momento da sua escolha”.
4.1.3.8.Instrução e feedback
A capacidade de nos expressarmos através dos comportamentos do corpo,
das movimentações e da própria comunicação, torna-se, hoje em dia, cada vez
mais determinante para a eficácia pedagógica no que diz respeito ao ensino da
EF (Rosado & Mesquita, 2011). O processo instrucional torna-se
progressivamente mais necessário, sendo nele que “o professor avalia as
necessidades, os interesses e as capacidades dos alunos; concebe, seleciona e
adapta atividades, tarefas e exercícios para concretizar os objetivos de
aprendizagem, otimizando os recursos disponíveis; apresenta tarefas, dá
explicações, comunica expectativas e exigências sobre o que deve ser feito e
como deve ser feito; apoia o confronto dos alunos com as tarefas de
aprendizagem; estimula, supervisiona, orienta, regula, avalia o empenhamento
na atividade e o rendimento dos alunos. No processo de instrução, os alunos
96
não são elementos passivos no direcionamento ou no desenvolvimento das
atividades de aprendizagem; trazem consigo conhecimentos, capacidades e
disposições, expectativas e motivações que condicionam o que se pode passar
e o que efetivamente se passa na aula; interpretam e respondem às intervenções
e solicitações dos professores, às exigências das tarefas de um modo concreto
que vai condicionar a ação pedagógica e a qualidade da aula.” Graça (2015, p.
21)
Podemos assumir que a instrução assume um lugar de destaque no
processo de ensino-aprendizagem, ao socorrer-se de informação provinda
diretamente dos objetivos e da matéria de ensino. Assim, adota um papel fulcral
na estruturação e transformação das situações de aprendizagem, uma vez que
para que haja eficiência dos sistemas que integra depende, em grande escala,
dos resultados de aprendizagem dos alunos (Rosado & Mesquita, 2011). No que
diz respeito à instrução, esta pode ser projetada em referência a três momentos
distintos: (1) antes da prática, socorrendo-se à exposição das tarefas, (2) durante
a prática, através dos feedbacks; (3) após a prática, pela análise no que diz
respeito à prática (Siedentop, 1991).
A comunicação/instrução nunca foi um aspeto que me bloqueasse a
respiração ou trocasse os sonhos durante a noite. Fazia parte, ser fiel a mim
mesma, agir e acreditar no que sabia, ter confiança no que transmitia e só assim
as palavras acabavam por sair naturalmente. Ao longo das aulas, recorri a
diversas ferramentas para auxiliar a minha instrução, nomeadamente, a
utilização de vídeos, skill cards ou demonstrações. Como afirmam Rosado e
Mesquita (2011, p. 96), o “ uso associado de diferentes estratégias instrucionais,
nomeadamente na apresentação das tarefas motoras, em conformidade com a
natureza específica das habilidades de aprendizagem e o nível de desempenho
dos praticantes, revela-se particularmente eficaz”. Assim, os vídeos eram
utilizados no início da aula para que quando os alunos iniciassem a atividade
pudessem ter na memória a informação provinda do vídeo. Os skill cards
ajudavam a relembrar qual o exercício destinado a cada estação aquando da
demonstração da minha parte, concretamente, em modalidades como a
ginástica, treino funcional, salto em altura, dança. Podemos então admitir que
97
recorrer a demonstrações é de extrema utilidade e importância quando estas
são realizadas em contextos idênticos àqueles em que a habilidade vai ser
solicitada (Serra & Graça, 2003, p. 199). A comunicação pode ser concretizada
em duas formas, a verbal e não-verbal. A comunicação não-verbal pode ser
gestual, como a demonstração, ou com recurso a esquemas e desenhos. A
comunicação verbal consiste na emissão/ exposição de um conteúdo apenas e
só através da linguagem, devendo conter o mínimo de informação possível para
informar o aluno acerca da tarefa a realizar (Rosado & Mesquita, 2011). Digamos
que o processo não é assim tão fácil quanto aparenta, até porque para que
possamos ser ouvidos, é necessário que o nível de atenção do aluno esteja
apurado a fim de a comunicação ser eficaz, assim como nem todos têm a mesma
capacidade de absorção de informação (Rosado & Mesquita, 2011). Estamos
assim envolvidos num processo de interajuda entre o professor e os alunos numa
busca incessante de transmitir informação e conhecimento. Na verdade, os
mesmos autores enunciam que “retemos, por exemplo, melhor o que vemos do
que aquilo que ouvimos; recordamos ainda melhor o que vemos e ouvimos;
recordamos particularmente bem o que dizemos e o que dizemos e fazemos (...)
o que foi dito em primeiro lugar (…) mais recente (…) apresentadas com maior
vivacidade ou por fontes mais credíveis.” (2011, p. 73). Com isto verificamos que
apesar de ser necessário que os alunos estejam atentos, é ainda mais
importante que os alunos estejam disponíveis para serem persuadidos e que
adiram efetivamente às atividades propostas (Rosado & Mesquita, 2011).
O feedback foi outro instrumento associado à instrução, que utilizei ao longo
do estágio. Segundo Januário (1996, p. 116), o feedback é definido “pelo
comportamento de ensino que consiste na reação do professor (em geral verbal,
mas podendo ser também não verbal) à prestação académica do aluno,
intervindo no processo de aprendizagem com a função de avaliar a prestação,
de a descrever, de a prescrever ou de interrogar o aluno sobre o que fez ou como
fez”. Assim, aquando da realização de alguma tarefa por parte de um aluno, este
deve receber um feedback referente à forma como realizou a ação, por forma a
poder melhorar o seu desempenho (Rosado & Mesquita, 2011). Os mesmos
autores defendem que o feedback resulta de “ uma competência de tomada de
98
decisões oportunas, com base numa seleção e num processamento de
informação pertinente recolhida durante uma observação formal ou informal,
envolvendo não só a análise da resposta motora do aluno, mas também o
ambiente em que ela se desenvolve”(2011, p. 84). Note-se que não devemos
esquecer que a distribuição do feedback necessita de ser cuidada, devendo
abranger todos os alunos, procurando sempre perceber e analisar o efeito das
correções anteriores nas novas realizações (Rosado & Mesquita, 2011).
“ (…) Usei sempre o feedback, demonstrei os saltos no minitrampolim e
principalmente utilizei o toque, para que estes percebessem exatamente o
posicionamento do corpo e das mãos nas diferentes fases do salto. O toque
e o contacto com cada um deles fá-los sentir mais próximos de mim, mais
próximos da atividade, mais envolvidos, fá-los sentir mais importantes, com
valor. (…) Tive a necessidade de reduzir a corrida e de insistir na pré-
chamada a um pé, assim como explicar o amortecimento necessário na
receção após o salto.” Reflexão aula 11 e 12. 8 Outubro 2015
Outra estratégia utilizada por mim foram os questionamentos, sendo estes
introduzidos no decorrer do ano letivo. O questionamento já é tão velho como a
instrução, sendo a interrogação um dos métodos mais utilizados pelos
professores (Rosado & Mesquita, 2011). Os mesmos autores advogam que a
utilização de frases como: “O que achas que ainda não está bem no teu salto?”
Podem ser, sem dúvida alguma, uma forma de motivar os alunos na procura de
soluções, podendo tratar a informação que recebem das suas execuções e
autoavaliarem a sua prestação. A comparação do que pensam com a informação
provinda do professor e a posterior análise conjunta pode ajudar a solidificar
aspetos cognitivos fundamentais para execuções futuras. Assim, o
questionamento torna-se uma ferramenta útil e valiosa na medida em que
envolve o aluno numa atividade de autoavaliação, permitindo não só a avaliação
do mesmo, assim como do próprio ensino, dos professores e dos contextos onde
estão inseridos (2011, p. 102). Para que o aluno seja autodidata e procure não
somente conhecimentos declarativos mas procedimentais, onde haja maior
empenho e motivação, é possível adotar um questionamento de descoberta
guiada. Assim, procura-se que a dúvida seja o impulsor para a procura de
99
soluções, de investigação e descoberta por parte dos alunos, sendo este um
processo extremamente enriquecedor (Rosado & Mesquita, 2011). “Que vamos
fazer hoje professora?
“Avaliação a voleibol” dizia eu. Na medida em que estes eram chamados e
distribuídos para os campos, as caras eram de preocupação e medo. Todos,
sem exceção, diziam que estavam a fazer correto, até eu estar a observar.
A presença do professor e o facto de ser chamada avaliação condicionava a
forma como estes atuavam. Na verdade, os feedbacks não deveriam existir,
mas muitas das vezes lançava palavras-chaves para o ar, porque sabia
exatamente o que estes sentiam e principalmente o que valiam. (…) O facto
é que um feedback num momento tão intenso e importante como a avaliação
acaba por ser assimilado muito mais rapidamente do que noutro momento
qualquer”. Reflexão 33 e 34. 17 Novembro 2015
4.1.3.9.Alunos Superatletas como agentes de ensino
As turmas não são todas iguais, se pensarmos bem, ninguém o é. Todos
somos um poço infindável de descoberta e de cruzamentos diferentes. Assim,
numa turma, também podemos encontrar alunos com diferentes capacidades
para as diferentes modalidades. Desde os que não praticam exercício aos que
praticam regularmente, todos devem ter a mesma oportunidade de
aprendizagem. Contudo essa balança positiva nem sempre é fácil de gerir, sendo
necessária a utilização de estratégias capazes de contornar aspetos que podem
tornar-se sérios problemas. Ninguém gosta de perder, quer queiramos quer não,
toda a gente que joga, joga para ganhar, é instintivo, é humano, assim como
quem é bom numa modalidade e quem a pratica gosta de mostrar que é bom,
gosta que os outros vejam a sua mestria. Quem não gosta de jogar, de praticar,
provavelmente é porque não tem habilidade motora e evidencia dificuldades que
o impossibilitam de brilhar, não só aos olhos dos outros, mas também aos seus
próprios olhos.
A verdade é que nós, os professores, não estamos preparados para agir em
todos os problemas que possam surgir, nomeadamente, se começarmos a
100
perder o controlo da aula. Não se trata aqui de um problema concreto da minha
turma, aliás, porque como já referido anteriormente, a turma e o clima foram ao
encontro das mais altas expetativas de qualquer professor. Não se tratou de um
problema constante, porque fui capaz de gerir da forma que achei mais correta
os superatletas, embora também me tenha ocorrido um episódio bastante “sui
generis” sobre este assunto que a seguir nomeio.
Eu, professora estagiária, estava preparada para dar a aula, para proceder
a uma sequência lógica dos conteúdos e responder às dúvidas e perguntas dos
alunos, mas não para saber como gerir outro tipo de conflitos, principalmente
para nós, os mais inexperientes nestas andanças. Inevitável seria dizer que cada
aluno acarreta consigo um historial inimaginável de boas e más recordações, de
violências, de traumas, de problemas que acabam por culminar na escola, na
aula ou com determinado aluno/ professor. Não quero com isto dizer que o
processo seja sempre o mesmo, que as histórias tenham o mesmo fim, mas fácil
não é manter a ordem no meio da gigante confusão daqueles adolescentes.
Vejamos um exemplo que se passou na aula 97 e 98, a 14 Abril 2016:
“ (…) Durante um jogo, um aluno perdeu as estribeiras, soltando um palavrão
grave e feio para o ar, e eu percebi a causa daquela atitude mais intempestiva,
mas era frequente ninguém querer jogar com ele porque ele era bom jogador,
mas eu desconhecia os verdadeiros motivos disto. Imediatamente mandei-o
sentar e tentei junto dos outros alunos perceber o que se passava. E nessa
altura, a situação descontrolou-se e pude então saber o historial que explicava o
sucedido. Chamei toda a turma, sem exceção, até mesmo todos os que tinham
pedido dispensa, mandei-os sentarem-se no chão, respirei fundo e comecei a
falar, um pouco entre a gaguez e a convicção que eles me ouviriam por mais
asneiras que eu pudesse dizer. No meio daquela polémica e de toda a minha
inexperiência, disse-lhes que a única história que eu sabia é que nunca ninguém
queria jogar com ele, mas segundo o que todos me explicavam é que ele era
extremamente bruto e não media a força, sendo muito das vezes individualista.
Então, comecei por dar o exemplo que quando alguém pratica alguma
modalidade fora da escola é normal que queira mostrar os seus dotes e que é
101
bom, e, sendo o basquetebol uma modalidade com um espaço mais reduzido
comparativamente ao futebol, era normal que as pessoas sentissem mais
dificuldade quando jogassem com alguém mais competente. Não obstante disse-
lhes que ninguém, ali na minha aula, seria mais do que outra pessoa, que todos
tinham os mesmos direitos e os mesmos deveres e que apesar de haver
jogadores, não só de basquetebol como também de futebol e de outras
modalidades, todos tinham de medir a sua força e o modo como jogavam, porque
é completamente diferente o contexto de um treino e de uma aula de EF”.
Reflexão aula 97 e 98 – 14 Abril 2016
Naquele dia, inexperiente ou não, agi daquela forma, com mais ou menos
segurança, com mais ou menos experiência, mas resultou, assim como poderia
não ter resultado. O recurso a um “aluno-modelo” é salientado, positivamente,
por Rosado e Mesquita (2011) como um dos critérios didáticos primordiais no
que diz respeito à demonstração, sendo um um recurso sublime para facultar
uma imagem motora à turma, libertando “o professor para a focalização da
atenção dos alunos nos aspetos relevantes a atender, através do complemento
da informação verbal”(2011, p. 98). Os alunos são também “coautores da
instrução, que, em certa medida, é uma construção conjunta de professores e
alunos, na medida em que partilham conhecimentos entre si, não dependem
apenas de uma única fonte de informação, e os alunos mais experientes
modelam comportamentos e habilidades e fornecem feedback e apoio aos
colegas menos experientes.”(Graça, 2015, p. 21). A necessidade de aceitação
das qualidades uns dos outros, nestas idades nem sempre é regular, mas cabe-
nos ser capazes de utilizar os nossos alunos superatletas como agentes de
ensino, para que estes sejam capazes de se sentir uteis e hábeis a ajudar e a
ensinar o que sabem aos outros. Só assim se sentirá uma maior aceitação por
parte dos alunos menos dotados para determinada modalidade.
102
4.1.3.10.Avaliação: A complexa palavra com nove letras.
Avaliar não é de longe nem de perto pera doce, além disso todas as práticas
avaliativas estão dependentes de todo um emanado e complexo jogo de
processos que passam pelas interpretações que cada professor tem da escola,
da educação, da avaliação e de todo o processo educativo. Assim, através do
que cada professor acha que é o Ser Humano, o Homem, a boa educação e
principalmente a boa EF é que determina em grande escala a avaliação (Rosado
et al., 2002b).
“Avaliação … como se de um momento para o outro, essa fosse a palavra
da moda. Os tempos são curtos, os atores e as atrizes estão sempre a mudar
de papel. Ontem era a personagem principal, hoje foram eles, os alunos. (…)
No fim formavam-se círculos à minha volta para que pudessem perceber a
minha opinião acerca da prestação de cada um. Tranquilizei-os, a avaliação
é contínua, não se determina num dia, numa hora nem num local. A questão
se coloca sempre é como avaliar pessoas, alunos, comportamentos? É
melhor não falar já sobre isso, pois as dificuldades bifurcam-se em outras
tantas, mas há que fazer uma escolha e adotar um método” Reflexão 33 e
34. 17 Novembro 2015.
No início, o processo era um pouco complexo demais para se saber
aprofundadamente sobre ele. É como se de um bicho se tratasse, era necessário
pensar sobre ele, refletir sobre a forma de avaliar o processo e o produto da
mesma. A avaliação nas suas duas medidas: qualitativa e quantitativa torna-se
angustiante pois é obrigatório atribuir um número nessa escala quantitativa, que
define valorativamente o aluno e há que ponderar muito todos os argumentos ou
contra-argumentos e o medo de errar e até de deixarem de ter a empatia
conquistada, afligia-me e preocupava-me. Era a minha primeira vez, quase
inexperiente, a atribuir classificações a sério, a responsabilidade era enorme e a
confiança do nosso PC em nós era total, por isso era preciso fazer jus a isso.
Avaliar é e sempre será extremamente necessário. As pessoas precisam de se
situar, de se comparar e de se superarem. Saber avaliar e avaliar os outros é
difícil, subjetivo até, ou mesmo injusto. Avaliar como defende Rosado et al.
103
(2002b, p. 19) “é uma atividade humana constante, já que em todo o momento
temos de recolher informação do meio, valorizar essa informação e decidir em
conformidade. Trata-se de um mecanismo básico de processamento de
informação por parte dos seres humanos”. Os autores supracitados defendem
que a avaliação faz parte do processo educativo, devendo ser um processo
pensado, metódico e planeado, onde haja uma recolha de informação, uma
comparação dessa informação com determinados critérios e por fim uma tomada
de decisão provinda desse armazenamento de informação/memória. Contudo
esta tomada de decisão pode ser extremamente pessoal e subjetiva, saindo
muitas das vezes do pretendido para o meio educativo (2002b, p. 9).
“Vou ser, sou Professora de Educação Física e quero ensinar, ensinar tudo
isso que a avaliação engloba, mas este será sempre o papel mais ingrato
desta profissão, o de dividir por patamares, por números, por critérios ou
normas os alunos. Acredito que com a prática a “dor” seja menor, que o peso
que carregamos nas costas vá diminuindo e que avaliar passe a ser um
processo natural, necessário e fulcral”. Reflexão aula 49 e 50. 17 Dezembro
2015.
Na verdade oscilava entre ser contra ou a favor da avaliação, como se por a
achar difícil não concordasse com ela. Concordo, mas tirou-me o sono à noite e
deixou-me dias e dias a pensar nisto. E apesar de ter sido muito “bebé” no
processo, nas primeiras vezes, fez parte e serviu para aprender e evitar
comportamentos que não queria repetir de uma próxima vez, a ser mais realista
por exemplo. O facto de conhecer mais a modalidade de voleibol, fez-me ser
mais exigente e ao mesmo tempo concordar com as notas finais de cada
parâmetro. No que diz respeito às outras modalidades tive mais dificuldades,
porém tive de as reajustar conforme a minha avaliação ao longo do período.
Através da observação, pela convivência, eu sabia exatamente o que cada aluno
valia e quem valia mais ou menos.
“(…) É curioso perceber que a avaliação é um momento que lhes interessa,
espreitam as notas, tentam perceber onde se colocam no meio da turma e o
que lhes está a faltar, sendo que muitas das vezes conseguem ser eles a
104
identificar as falhas. Informei-os que as classificações seriam colocadas
naquela quinta-feira no INOVAR. Números redondos, sem vírgulas, que
representam tantas coisas e ao mesmo tempo quase nada. Eles passam a
ser um número, uma associação, como se na impossibilidade de explicar
que dentro de uma classificação existem diversos motivos e parâmetros que
os distinguem. Ninguém é igual, eu sei, mas então porque há classificações
iguais? A escala acaba, chega de utopia! Não me esquecerei de estar mais
atenta agora que os conheço e que não é tudo novo. Começarei por tentar
perceber as diferenças que os distinguem para que seja mais fácil a minha
análise no próximo período. Encontramo-nos depois da interrupção letiva
ok?”. Reflexão aula 49 e 50. 17 Dezembro 2015.
Eu tinha medo, medo de errar, de ser subjetiva, de ser irrealista. Quer
queiramos, quer não, a avaliação é um processo extremamente subjetivo,
implica muito mais do que a atribuição de um valor consoante os critérios
estabelecidos. É impossível avaliar independentemente das pessoas em
questão, além disso não existem critérios inteiramente neutros, aceitando-se
assim que não seja possível uma objetividade total na avaliação (Rosado et al.,
2002b). No contexto pedagógico, interligam-se uma, grande, multiplicidade de
agentes, cuja análise e controlo é de extrema dificuldade. A subjetividade
avaliativa agrava-se quando se pretende avaliar competências do foro atitudinal
e sócio afetivas que não adquirem uma manifestação comportamental direta
(2002b, p. 23).
A-V-A-L-I-A-Ç-Ã-O tem 9 letras e milhares de sentimentos, contradições e
coisas estranhas que desde sempre me passavam pela cabeça, pelo coração e
pelo corpo todo. Uma professora numa das apresentações sobre como devemos
fazer o RE, disse-nos que se saíssemos da escola sem saber avaliar então não
eramos professores. Fui engolindo o sabor amargo de não poder cumprir os
requisitos para ser professora mas, com o meu instinto a dizer-me que não
poderia desistir. Uma coisa era certa, eu sentia-me mais madura, a minha
capacidade de análise de uns períodos para os outros evoluía, a minha exigência
ficava mais vincada e os “truquezinhos” de cada um deles, também já os
105
conhecia sobejamente. Recordo-me exatamente deste momento como um
pequeno troféu alcançado, a 18 Fevereiro de 2016 na reflexão da aula 75 e 76
proferi as seguintes palavras:
“Sentei-me na cadeira num ar de “é agora” e estive certamente mais atenta
do que o costume. Antes de sarrabiscar alguma coisa observei, tive a ideia
completa, ou quase, do que cada um “valia”. E num atrevimento da caneta,
saltou para o papel e começou a escrever quase sozinha, com um “ar” de
quem sabia o que estava a fazer. E continuou até ao fim da aula, até quando
o tempo parecia apertar ela escrevia, convicta do que fazia e eu deixei,
porque a verdade é que a caneta escrevia, porque eu sabia o que estava a
fazer. Não que eu não soubesse antes, mas porque me sentia mais apta,
porque me preparei, porque avaliar e saber avaliar é possível, com o tempo
e com a prática. Mas calma, ainda tenho muito para aprender, todos os dias,
com toda a gente, mas estarei sempre pronta e convicta que também
ensinarei alguma coisa a alguém.”
A avaliação deve ser desde sempre contínua, num processo de
acompanhamento de todo o ato educativo. Na verdade a avaliação está presente
em tudo na nossa vida, porque nunca podemos de deixar de nos questionar
acerca do valor daquilo que fazemos (Rosado et al., 2002b). Devemos assim
começar a avaliação inicial no começo do ano para conseguirmos aferir as
dificuldades dos alunos nas diferentes matérias e permitir uma revisão dos
resultados dos anos anteriores (2002b, p. 73). A avaliação tem como principal
objetivo aprimorar o processo ensino-aprendizagem, por forma a ser possível
classificar o desempenho dos alunos de forma qualitativa e quantitativa.
Na ESAS abordamos as diferentes modalidades de forma dispersa ao longo
do ano letivo, permitindo aos alunos um contacto mais prolongado com as
diferentes matérias de ensino através de estímulos das mesmas. Deste modo,
no final de cada período, serão realizadas avaliações sumativas parciais às
modalidades estabelecidas no planeamento anual. Desta forma, são avaliadas
as habilidades que já ensinamos por forma a atribuir uma classificação. Para a
realização, das tabelas da avaliação sumativa foi tida em conta as informações
106
contidas na UD no plano anual e no MEC pré-estabelecidas por mim e
reajustadas ao longo do ano.
Relativamente à avaliação diagnóstica, este é um processo decisivo que
permite o professor orientar e organizar o trabalho da turma traçando os objetivos
pretendidos para a composição curricular, visando um desenvolvimento global
da turma (Gonçalves et al., 2010). Para a realização da avaliação diagnóstica
utilizei uma lista de verificação tendo em conta os referenciais da ESAS que têm
por base os programas nacionais de EF.
Quanto aos procedimentos, a avaliação pode ser efetuada com referência
ao critério ou à norma. Como refere Rosado et al. (2002b), para as aulas de EF,
a avaliação referida à norma não tem muito interesse, devendo ser utilizada uma
avaliação referenciada ao critério, ou seja em função dos objetivos
estabelecidos. Relativamente ao procedimento com referência à norma, este
estabelece objetivos de acordo com valores de referência estabelecidos por uma
escala nacional, comparando os alunos com tabelas ou valores padrão estáveis
(Ex: Fitnessgram). Contudo, este processo levanta um problema uma vez que
não atende à evolução do aluno.
No que diz respeito ao procedimento com referência ao critério, este define
os objetivos através de uma escala de apreciação (critérios) tendo em conta a
natureza da tarefa. Através dos critérios conseguimos saber como está a
performance de cada aluno, não o envolvendo em comparações com os outros
alunos, mas sim comparando-o em função do ideal de realização da tarefa.
Assim, Rosado et al. (2002b) partilham da mesma ideia, considerando fulcral ter
em conta o indivíduo e os seus progressos numa avaliação contínua e presente.
Para isso os alunos devem vivenciar os exercícios muitas vezes em contexto de
aula, para que no dia da avaliação, estes a entendam como um situação típica
da aula e sem demasiado stress (2002b, p. 32). Perante tudo o que foi referido,
em núcleo de estágio optamos por seguir o padrão de referência ao critério, uma
vez que este é mais inclusivo e democrático, tendo em conta a evolução e a
progressão do aluno.
A avaliação era diferente em ambos os ciclos que lecionei (2º Ciclo e
secundário). No 10º ano a avaliação era constituída pelo Domínio Motor +
107
Conhecimentos - 55% da classificação final, pelo Domínio Sócio Afetivo
(atitudinal- auto e hétero avaliação no final de cada aluno) – 30% e pela Aptidão
Física – 15%. No 2º Ciclo a classificação era dividida pelo domínio emotivo 30%
e pelo domínio cognitivo 70%. Dentro do domínio emotivo, 25% era para a
responsabilidade e o empenho, o equipamento, a pontualidade, participação e
comportamento e 5% para a organização/ Colaboração. Os restantes 70%
respeitantes ao domínio cognitivo eram subdivididos em 55% para as atividades
físicas e 15% para a aptidão física. A classificação final de cada aluno era
apresentada numa escala de 0 a 5 valores no 2º ciclo de ensino básico e de 0 a
20 valores no secundário. Assim com a lecionação em diferentes ciclos, pude
experienciar diferentes procedimentos avaliativos, nomeadamente nas escalas
de avaliação. Pude constatar com a aplicação das diferentes escalas que a
escala de 0 a 20 valores era muito mais correta e fidedigna, uma vez que a
disparidade verificada em alunos com o mesmo nível não era tão elevada como
na escala de 0 a 5. É extremamente necessário, principalmente para os
profissionais, saber produzir instrumentos avaliativos, que vão de encontro aos
diferentes objetivos pretendidos, para poder fazer face ao contexto rigoroso e
complexo que é o processo avaliativo (Rosado et al., 2002a). Assim, devem ser
elaborados pelos professores instrumentos para as diferentes formas de
avaliação, desde a avaliação diagnostica à sumativa, por forma a utilizarem
instrumentos que se adaptem à sua forma de atuar e que permitam uma
avaliação eficaz e confortável (2002a, p. 101). Os mesmos autores asseguram
que a elaboração de instrumentos avaliativos está relacionada com a
planificação e com a identificação de objetivos, ou seja a construção destes
instrumentos passa pela definição dos objetivos, variáveis e indicadores numa
primeira fase, após definido um quadro referencial teórico a calcular (2002a, p.
105). Assim, construí grelhas avaliativas tendo em conta o comportamento e não
somente as habilidades. Contudo apesar de não avaliar a técnica isolada, esta
era avaliada por exemplo nos diferentes momentos do salto em altura. Por forma
a integrar e poder avaliar os alunos que estavam impossibilitados de praticar EF
durante o ano letivo, conjuntamente com o PC e o NE, decidimos recorrer a uma
avaliação com um carácter mais teórico através de trabalhos escritos.
108
Elaboramos um guião que contia toda a informação necessária para a realização
do trabalho, nomeadamente, as cotações de cada parâmetro. Para que o
trabalho fosse mais motivante para os alunos e para nós enquanto corretores,
procuramos promover o espirito de reflexão conjugando as temáticas atuais,
fugindo um pouco dos temas mais banais.
Apesar de toda a dificuldade inerente ao processo avaliativo nunca nos
devemos esquecer que “a classificação em Educação Física deverá ter o mesmo
estatuto das outras disciplinas” (Rosado et al., 2002b, p. 81).
4.2. Área II: Participação na Escola e Relações com a Comunidade
A Escola, a ESAS, foi, é, e sempre será a nossa segunda casa, que em
muitos dos dias passava a ser a primeira. Todas as atividades em que
estávamos envolvidos, desde a DT, ao DE, até mesmo às reuniões ou às
atividades internas e externas da escola, nós estávamos sempre presentes,
fazíamos parte da “mobília” da casa. Relativamente às atividades
extracurriculares a ESAS apresentava um vasto número de atividades,
nomeadamente o Troféu ESAS subdividido em três provas: Orientação (1º
Período), Peddy Papper (2º Período) e Torneio de Canoagem (3º Período). No
que diz respeito à atividade interna, existia o torneio de voleibol, torneio de futsal
(m/f) inter-turmas e o torneio de basquetebol 3x3, estas atividades decorriam ao
longo do ano à 4ª feira (15:30h – 17:30h). Como atividade de final de ano, houve
o 3º Festival de Ginástica do CFD ESAS realizado pelo Centro de Formação
Desportiva da Ginástica (CFD) a 4 de Junho.
4.2.1.Desporto Escolar: “Ponta, calcanhar e olhar para a frente”
Sarmento et al. (2014, p. 337) afirma que “por entendermos o desporto como
fenómeno sociocultural, o desporto escolar deve ter clareza da função social da
escola, sendo inserido em seu projeto político pedagógico. Para tanto, se faz
necessário apresenta-lo às crianças e jovens, adotando-se mecanismos de
109
diferenciação pedagógica”. Assim, segundo o Programa do DE22 oriundo do
Ministério da Educação para o quadriénio de 2013-2017, a missão do DE passa
por “proporcionar o acesso à prática desportiva regular de qualidade,
contribuindo para a promoção do sucesso escolar dos alunos, dos estilos de vida
saudáveis, de valores e princípios associados a uma cidadania ativa” (p.8). Na
escola, o DE adquire uma importância gigante e toda a estrutura montada em
torno do DE faz com que haja uma verdadeira equipa que luta pelo desporto.
Segundo o regulamento interno do CFD da ESAS 23, o CFD está distribuído em
três clubes autónomos, o Clube do DE, o Clube Artigym e o Clube dos Veteranos.
Dentro do Clube do DE existe a atividade interna constituída pelos torneios
organizados na escola, pela Taça ESAS e pelo Troféu ESAS. No que diz respeito
à atividade externa, o Clube do DE que participa nas competições/atividades de
DE, regidos pelos regulamentos específicos e emanados pelo Ministério da
Educação, conta com os seguintes grupos/equipas de ginástica: A Classe de
Trampolins, constituída por alunos provenientes das diferentes
escolas/agrupamentos de Braga que frequentem o 3º, 4º, 5º e 6º anos de
escolaridade, pretendendo uma formação variada tendo por base os desportos
gímnicos. A Classe de Formação, constituída prioritariamente por alunos do
Agrupamento de Escolas Alberto Sampaio (AESAS) que frequentem do 7º ano
ao 12º ano de escolaridade, tem como objetivo continuar o trabalho iniciado
anteriormente na classe dos trampolins e oferecer a oportunidade de praticar
ginástica a novos alunos. A Classe de Acrobática, constituída unicamente por
alunos da ESAS que frequentem o 7º, 8º e 9º anos, institui como objetivo
desenvolver as competências e gímnicas na modalidade de ginástica acrobática.
Por fim a Classe de Grupo, composta unicamente por alunos da ESAS que
frequentem do 7º ao 12º ano de escolaridade, tinha como premissa dar
continuidade ao trabalho desenvolvido nas classes anteriores (Trampolins,
Formação e Acrobática.). O acesso às diferentes classes/ grupos equipa faz-se
de diferentes modos, nomeadamente, através de provas de seleção de acordo
22 Programa do DE 2013-2017, Lisboa: Ministério da Educação e Ciência. Direção de Serviços de Projetos Educativos – Divisão de DE. 23 Regulamento do Centro de Formação Desportiva de Ginástica da Escola Alberto Sampaio 2016
110
com as necessidades de cada grupo, por convite a classes anteriores ou por
seleção de todos os que se inscreverem para participar.
No que diz respeito ao Clube Artigym, é uma associação sem fins lucrativos
com o objetivo de desenvolver atividades desportivas, neste caso relacionadas
com a ginástica, por isso é um clube com estatutos próprios. Como clube
autónomo, com um corpo técnico próprio, estabelece com a Direção da AESAS
um protocolo cooperativo todos os anos que visa oferecer equipamento de
ginástica que a escola não possui e técnicos com formação especializada na
ginástica, para trabalhar com as classes do clube do desporto escolar em troca
da cedência das instalações desportivas da escola nos horários não letivos. Por
fim, o Clube de Veteranos pretende proporcionar a antigos alunos pertencentes
ao Clube de Desporto Escolar da ESAS a prática da ginástica. Assim, o acesso
fica restrito a ex-alunos que tenham terminado o percurso escolar (12ºano) ou
que tenham saído da escola e tenham idade igual ou superior a 16 anos, feitos
até ao dia 1 de setembro desse mesmo ano letivo.
A grande finalidade deste CFD presente no regulamento do Centro de
Formação Desportivo de Ginástica da ESAS24 é que haja prática de atividade
física motivada e adequada, com promoção de autonomia e responsabilidade e
que haja valorização da criatividade e da cooperação.
A escola não pode ser apenas encarada como uma instituição de formação
de saberes, mas deve ser capaz de fomentar a prática desportiva a todos os
alunos por via do DE, permitindo que haja um desenvolvimento holístico de todos
os alunos. Para muitos desses alunos, o DE é a única forma de praticarem
Desporto fora das aulas de EF de uma forma estruturada e organizada. Assim
nunca nos podemos esquecer que o Desporto move mundos, alunos e
intrinsecamente educação e aprendizagem (Marques, 2011). A minha atuação
no DE incidiu sobre a Classe de Trampolins.
Em jeito de brincadeira, perguntávamos uns aos outros se estávamos
nervosos para o primeiro dia de DE, na verdade eram crianças pequenas e era
ginástica. Porque se fosse voleibol, no meu caso, ou futebol no caso dos meus
24 Regulamento do Centro de Formação Desportivo de Ginástica da Escola Secundária de Alberto Sampaio, 2016.
111
dois colegas estagiários, a história seria outra. Tudo isto fazia crescer a
ansiedade e o encargo a assumir. A autonomia, a disciplina e a
responsabilidades presente no grupo de trampolins foi fascinante. Tive a
convicção que todos os atletas que lá estavam era por paixão, porque gostam
da ginástica e de a praticar.
Eu e o meu colega estagiário ficamos na mesma classe de ginástica, porque
o horário dessa, era o único que se ajustava com os nossos compromissos fora
da escola. Todas as quintas feiras, das 18.45h às 20.15h estávamos
responsáveis por ajudar as duas professoras do grupo de trampolins. No primeiro
dia, chegamos ainda mais cedo, e foi-nos rapidamente explicado o modo de
funcionamento da classe de trampolins.
A fila formou-se após uma ordem de sentido por parte de uma das
professoras, os olhares eram de estranheza. Na verdade, estavam dois
desconhecidos a assistir ao treino deles. Havia uma coordenação arrepiante,
quase assustadora de crianças que mais pareciam pequenos gigantes. Uma
coreografia inicial começara de repente, seguido de um aquecimento dado por
uma das alunas mais responsáveis. Sim, ali as crianças eram premiadas pelo
esforço e pela responsabilidade, essa recompensa era dada através da liderança
dos exercícios, sendo uma tarefa de enorme prestígio para todas elas.
O grande grupo subdividia-se em três, o A, B e C consoante os níveis dos
alunos, sendo o A o dos mais avançados e o C, o dos com mais dificuldades na
ginástica. A nossa função prendia-se com auxiliar os alunos na execução dos
exercícios ou até mesmo na própria condição física. Ser um elemento novo no
treino fez com que eles ficassem mais quietos e com necessidade de mostrar o
que sabiam fazer e o que eram capazes.
No final de cada treino, todos aqueles pequeninos que mais pareciam uns
adultos levavam o material, algum maior do que eles, para os respetivos sítios e
em menos de 5 minutos estava tudo arrumado e pronto para o grito final de
grupo.
“Hoje fiz a chamada. Eu sei que se eu dissesse a alguém que fiz a chamada
na classe de trampolins, eles provavelmente troçariam de mim, fazer a
chamada é uma coisa normalíssima. Mas para mim não era, não é e não foi,
112
porque hoje ouviam-se as moscas, as posturas eram de irrepreensíveis e a
saudação aquando da chamada do nome era exemplar. A cada dia que
passa, deixamos de ser mais dois estranhos e passamos a ser mais dois
professores, que merecem carinhos no fim e no início do treino, que servem
para proteger dos castigos e que eles ouvem com muita atenção para
poderem perguntar se achamos que eles são capazes de fazer o salto de
mãos no chão no dia da prova. Levaremos para sempre connosco as
recordações, uns dos outros. Quão fascinante é o desporto e o que dele
advêm.” Reflexão do 7º dia do Desporto Escolar. 3 Dezembro 2015
À medida que o tempo ia passando fui adotando diferentes estratégias, numa
primeira fase, havia muita observação das correções e de todos os feedbacks
que ouvia por parte das outras professoras. Num segundo momento, utilizava o
meu conhecimento e a minha análise e corrigia o que achava, o que via e o que
sentia que estava incorreto. O mais gratificante foi perceber que o simples facto
de proferir palavras simples como “estica o pé”, ou até mesmo “contraí” alterasse
por completo todo o elemento gímnico realizado por eles. Aqui, a noção e a
perceção de que eu apesar de não ser da ginástica, percebia do assunto porque
era professora, porque estudava, porque aprendia com todos os professores
todos os dias foi enorme, e as ajudas, ou pedidos, as perguntas, aumentavam
dia para dia, assim como a confiança, o desabafo e a evolução.
“Gosto de crianças, de pegar nelas ao colo e pressioná-las ou pô-las de
“cabeça para baixo”. Gosto, porque tenho 3 sobrinhos e faço deles “gato-
sapato”. No desporto escolar, eles são um pouco mais velhos, mas ainda
comentam a cor do verniz, as prendas do natal e fazem perguntas que, com
a minha idade, já não me lembrava daquela inocência de criança. Todos
querem ser os melhores, aliás todos não, mas alguns querem mesmo, ao
ponto de chorarem quando as tentativas teimam em não dar resultado,
gostam de chamar à atenção, de fazer corretamente o exercício só quando
olho ou porque sabem que me vou rir, porque percebo que estão sempre na
brincadeira. Gosto de me sentar no meio deles e de os imitar a fazer a
saudação ou de imitar a coreografia inicial feita todos os treinos. Gosto de
receber beijinhos de despedida e de ser chamada mil vezes para corrigir
113
quando estão no aquecimento só para que haja garantia que eu olhei para
todos. Gosto de saber a data dos aniversários deles e de lhes pedir bolo no
dia do treino ou até de discutir que bolo de gelatina é sempre melhor e mais
saudável e de ouvir o que não quero. Gosto de poder gostar de tudo isto num
segundo, numa hora que passo com eles todas as quintas-feiras. O pior de
tudo é saber que daqui a uns meses cada coisinha destas desaparece, pior
ainda é viver na tristeza de saber que vai acabar, como se essa certeza nos
impossibilitasse de poder gostar, ou continuar a gostar. Continuarei a gostar,
prometo!”. Reflexão do 10º dia do Desporto Escolar. 7 Janeiro 2016.
“Falta uma semana para a primeira competição, ajustam-se as séries, dão-
se castigos para quem não cumpre o que já tinha obrigação de ser feito e
grita-se “Boooaaaa” muito alto para que se sintam recompensados pelo
esforço. Pedimos que repitam o que está mal, vezes sem conta. Quando
esgotamos todo o nosso stock de feedbacks possíveis, dizemos que
acreditamos e pedimos que respirem e não entrem em pânico. Vai ser a
primeira competição para muitos deles, levam os papéis das autorizações e
sabem que na próxima semana os treinos têm de render mais do que o
costume. Quanto à prova, depois eu conto-vos como correu, até lá só sei
que tenho de levar muitos casacos e uma manta de preferência, parece que
frio é a palavra de ordem. Agora já sabem “ponta calcanhar e olhar para a
frente”!” Reflexão do 15º dia do Desporto Escolar. 11 Fevereiro 2016
Confesso que nos primeiros dias sonhei com a ginástica, com aquelas rodas
e aqueles apoios faciais invertidos seguidos de espargatas de todos os tipos.
Mas principalmente sonhei com aqueles pequenos (as) que amavam o desporto
como eu o amo, do jeito mais sincero do amor e a partir desse mesmo dia o DE
passou a ser o brilho dos meus olhos, uma das experiências mais gratificantes
que tive até hoje.
4.2.1.1.1ª Competição de Desporto Escolar
8h da manhã, sábado e um “frio de morrer”, ou melhor de congelar. Sempre
ouvi dizer que quem corre por gosto não cansa. O autocarro ia quase cheio,
114
ouviam-se ruídos e conversas bem altas, sobre as mantas, as provas, as
músicas da rádio ou como se traduziam frases em inglês. Eu ia um pouco entre
o sono e a expetativa. Quando lá chegamos, deparamo-nos com uma realidade
um pouco diferente da nossa, o chão era daquele que podia ter farpas e os
colchões eram moles e instáveis distribuídos numa linha quase ondulada. Temos
tanta sorte, pensava eu!
Todos alinhados nas respetivas filas começaram o aquecimento e todos os
que estavam no pavilhão não ficaram indiferentes a toda a disciplina e rigor que
estes apresentavam. Eram os “meus”, não na forma possessiva de os ter, mas
porque estaria a torcer por eles e a defendê-los até ao fim. Começaram os treinos
no mini e no solo e as dúvidas e os pedidos de atenção hoje eram em dose dupla.
A verdade é que eu, não percebendo para além do dito básico da ginástica,
tenho-me visto a crescer, a corrigir pelo que vejo, pelo que ouço ou pelo que
questiono. Digo coisas que penso estarem certas, sem ter essa certeza e
confirmo mais tarde a observar ou a ouvir o mesmo feedback. Eu a professora
Sara e a professora Rita25 distribuímo-nos pelos dois minis e pelo solo, estando
todos os nossos mini-atletas acompanhados. A cara de medo que apresentavam
na posição de apresentação faziam-nos soltar algumas gargalhadas e piscar uns
“olhitos” para que descontraíssem. Passados muitos saltos e rodas e
cambalhotas e rondadas terminaram as competições. Voltaram a fazer o desfile
assim como no início da prova e receberam o diploma de participação.
Arrumaram as mantas nos sacos porque o sol brilhava lá fora, abraçaram os
pais babados que os viram na primeira competição e lanchavam felicíssimos no
pátio da escola. Na mochila no caminho para casa levavam sorrisos, histórias do
que queriam ser quando fossem grandes, partilha de bolachas e de bollycao e a
certeza que estavam a fazer o que gostavam. E cá para nós, o nosso desporto
sabe sempre dar o melhor a cada criança e a todos que dele usufruem.
O coração fica apertadinho, pequenino e com a vontade de ficar com eles
até eles serem grandes, em tamanho e na ginástica.
25 Nomes fictícios atribuídos às Professoras do Desporto Escolar
115
4.2.1.2.Prova Distrital de Desporto Escolar de Ginástica
O pavilhão estava todo montado e o ambiente era de corroer por dentro.
Todas maquilhadas, gel em abundância e equipadíssimas a rigor. Depois de
saberem a série, de irem à casa de banho, de fazerem milhares de perguntas,
apertei e coloquei gel a umas quantas e descemos para o aquecimento. Damos
sempre na vista com o nosso rigor e precisão naqueles aquecimentos pensados
especialmente para eles. Começaram a treinar as sequências e os saltos no
minitrampolim. Os nervos ferviam-lhes na pele, limpava as lágrimas àquelas que
não foram capazes de suportar a pressão e piscava o olho numa missão de
confiança a outros.
Engraçado foi voltar ao local onde também estagiei (Universidade do Minho),
no terceiro ano da licenciatura e ser lembrada por todos os que lá trabalhavam.
Melhor ainda é ter encontrado professores que foram meus na competição, os
quais eu estimo muito, como se em cada prova, em cada organização, houvesse
um ponto de encontro. O mundo é tão mas tão pequenino!
Podem-me chamar sonhadora, utópica, mas nunca ninguém me disse como
era, nunca ninguém me disse que ia ser assim, tão intenso, que ser professor
(a) é ser tudo numa só pessoa é ver é sentir, acreditar, solucionar, mudar
comportamentos, atitudes e as vidas daqueles pequenos grandes SERES!
Fiquei no solo e respondia às perguntas dos juízes, porque era eu a
responsável por eles. Implicava com o pino no treino das sequências mas fazia
uma festa a todos no fim de cada exibição. Falhar faz parte, mas tenho a certeza
que deram o seu melhor.
No fim, agradeceram-me, como se a palavra obrigada fizesse todo o sentido
… lá no fundo eu não fui obrigada a nada, sou é muito agradecida por tudo o que
ser professor (a) engloba e por tudo o que eles, os outros professores fazem
nesse sentido. Afinal de contas, nunca me avisaram que ia ser assim tão
profundo, tão real, tão único e que no meio de todo este clima, de toda a música
apropriada ao cair da lágrima, se ouvissem vozes bem lá no fundo: “Professora
Margarida é agora? Estou com fome”.
116
Nunca ninguém me avisou que ia ser assim com a ginástica, com eles e com
isto tudo, nunca ninguém me avisou que eu era assim tão sentimentalista. São
os meus ginastas preferidos!
Que jamais algum pai sonhe em retirar o desporto a uma criança!
4.2.2.Diretora de turma: O triângulo do triunfo escolar
As segundas-feiras eram na verdade um pouco agitadas. Primeiro, porque
estava sempre condicionada pelas sessões no Porto e segundo porque existiam
as aulas de tópicos às 14.30h não podendo sair tarde da hora de atendimento
da Direção de Turma para poder chegar a horas. No primeiro dia, após alguns
minutos de espera, a Diretora de Turma (DT) da minha turma compareceu na
sala de reuniões, e houve uma mútua apresentação, uma vez que não tínhamos
sido apresentadas mais cedo. Como não estava agendada nenhuma reunião
com Encarregados de Educação, a professora fez-me a apresentação do dossier
da turma e uma “viagem” resumida por todos os processos necessários à direção
de turma, nomeadamente as reuniões com os pais, as informações de
professores de outras disciplinas, a justificação de faltas, entre outros. A turma
não apresentava nenhuma questão significativa mas foi essencial perceber que
“o aumento da importância atribuída à educação e à formação das crianças e
dos jovens, está associada a consciência crescente do papel que a colaboração
entre a escola e a família desempenha no seu sucesso educativo e académico”
(Zenhas, 2006, p. 11). A mesma autora expressa as variadas funções
competentes ao DT, particularmente a de informar, contactar os pais para virem
à escola, resolução de problemas e conflitos, transmissão de acontecimentos e
informações e coordenação e orientação de reuniões (2006, p. 50). Assim, o DT
acaba por ser um mediador do processo pedagógico acumulando uma função
tripartida, como afirmam Boavista e Sousa (2013), ou seja, uma relação entre os
alunos, os encarregados de educação e os restantes professores da turma. A
DT da minha turma cumpria todos esses requisitos, as informações e os
processos corriam todos por caminhos claros. A prova disso era a resolução
117
eficaz de todos os problemas que foram surgindo ao longo do ano, não havendo,
por mérito da mesma, casos extremos e de demorada resolução.
A importância que me atribuía nas escassas vezes que me deslocava lá era
encarada por mim como um voto de extrema confiança e respeito, tendo em
alguns desses dias, em casos de urgência familiar, me pedido para atender
Encarregados de Educação sozinha caso houvesse necessidade. Preferia-me a
mim a outras colegas que havia solicitado caso eu não pudesse comparecer e
isso enchia-me de orgulho.
Apesar de terem sido poucas as vezes em que me desloquei ao gabinete da
direção de turma, as expetativas sempre que lá ia eram enormes. Porque em
cada reunião havia nova aprendizagem, novo crescimento, nova noção do
trabalho árduo e minucioso que um DT tem e deve ter, para que a turma funcione
na sua plenitude. Houve desde sempre uma enorme vontade de me ensinar, de
me integrar na turma e em todo este processo por parte da DT e isso foi crucial
para a minha aprendizagem.
“Assim que iniciamos a verificação de faltas, fomos interrompidas por uma
Encarregada de Educação que tinha marcação. “Vens atender comigo o
EE?”, Se puder dizia eu, “claro, acho que deves”, e lá fomos. Mais um
passinho para o meu crescimento, pensava eu, enquanto ia buscar uma
cadeira para me sentar. Eu sabia do que se tratava, era a mãe do meu aluno,
aquele que tinha como objetivo ter 10 no domínio atitudinal em educação
física e aquele que me ouviu na minha mini “palestra” para que ninguém
abandonasse o curso. Assim que ele me viu, esboçou um sorriso,
manifestando lembrar-se dessa nossa longa conversa. Na verdade, como
estou farta de pensar sobre este assunto, no 9º ano dão-nos a possibilidade
de escolher o nosso caminho, caminho esse que não sabemos muitas das
vezes escolher. A maioria dos percursos que “escolhemos” nós vamos por
ali, porque os nossos amigos vão, porque apesar de não sabermos para
onde ir, só sabemos que queremos ir por ali. Não nascemos todos para ser
médicos ou tão pouco astronautas, a terra precisa de serralheiros e
carpinteiros e de pintores e eletricistas. Não querendo dizer com isto que há
118
profissões para os mais inteligentes e para os que menos sabem, há sim
uma elite francamente estereotipada de um conjunto de profissões. (…)
Gosto de sentir que a minha presença é bem-vinda, que as pessoas gostem
que eu as ajude e de me sentir útil. A caminho para o carro falávamos da
minha aprendizagem nas horas de atendimento, nas quais a DT achava que
eu não deveria aprender grande coisa, mas eu logo discordei dizendo que o
facto de me deixar estar presente e falar com os pais me ensina muitas
coisas, nomeadamente a saber ouvi-los, a conseguir procurar soluções para
os problemas que apresentam e a buscar sempre na minha aula formas de
ultrapassar todos esses aspetos”. Reflexão 2ª reunião Diretora de Turma. 16
Novembro 2015
Foi sem dúvida uma experiência enriquecedora para escrever numa das
inúmeras páginas por escrever do nosso livro. Nenhuns dos dias foi igual, todos
eles foram carregados de simbologias e de histórias novas. Os processos e os
modos de resolução de cada problema foram distintos e as gargalhadas
incontáveis. Que haja mais DT como esta, como a minha e que quando chegar
a minha vez eu possa aplicar tudo o que aprendi com esta.
“Se eu quisesse poderia não ir, inventaria aulas inexistentes ou
simplesmente diria que o relatório me tirava a paz dos meus dias. Mas
sabem que mais? Ainda bem que não deixo que ele me retire o que de
melhor posso aproveitar da escola, o que aprendo sempre que entro e saio
de lá, o que ouço e experiencio e o tratamento que recebo desde sempre.
Apesar de todos sabermos do esforço com que me debato com as segundas-
feiras e com todas as aulas que são marcadas em cima da hora, e que não
me permitem ir à DT, sempre que vou faço o que de melhor se pode fazer,
atender pais. Poucos são o que questionam a minha presença, todos já
ouviram em alguma circunstância falar sobre mim, aliás todos os problemas
que existem eu sei deles e trabalho para os resolver com eles.” Reflexão 7ª
reunião Diretora de Turma. 9 Maio de 2016
119
4.2.3.Reuniões: O conhecimento fora e dentro das salas
Desde as reuniões de Departamento, às do PC, passando pelas de final de
período até às com o PO, todas foram aprendizagem. Fazia parte integrarmo-
nos na escola e uma das funções do EE passava exatamente por estar presentes
em todas as reuniões necessárias para o bom funcionamento escolar. As
reuniões realizadas no início do ano letivo, como as do DT e as gerais serviram
para nos integrar na escola e na comunidade e para conseguirmos perceber
como se processa e se desenrola toda a organização escolar. Não foi fácil,
confesso, existe dentro desta casa que é a escola, um conjunto enorme de
divisões e portas que se tornam difíceis de perceber para quem não está dentro
da estrutura, mas que rapidamente e com a ajuda de todos, se tornou de fácil
perceção. É incrível a interligação existente no meio escolar, ninguém tem a
noção dos fios invisíveis que se criam, como se de um quadro de eletricidade se
tratasse, todos são importantes, todos trabalham para dar luz à escola. Assim,
para que a luz nunca falhe são realizadas um conjunto de reuniões que permitem
que todos esses fios invisíveis se entendam, que saibam principalmente
trabalhar em conjunto em prol do mesmo objetivo. Entre as inúmeras reuniões
existentes, as de Departamento serviam para discutir os problemas e para
organizar as atividades a ser realizadas no âmbito da EF, assim como discutir
assuntos oriundos do Conselho pedagógico ou da Direção. Estas reuniões eram
previamente marcadas e presididas pelo Coordenador do Departamento de
Educação Física e pelos restantes professores de EF pertencentes ao
Agrupamento. O bom relacionamento entre todos os membros fazia com que as
reuniões fluíssem de uma maneira descontraída, mas sempre profissional e que
houvesse momentos de partilha interessantes e com conclusões muito
produtivas. Todos os tópicos eram devidamente registados por um professor
voluntário que trocava de funções de reunião para reunião e que ficava
responsável por idealizar a ata.
“Passado 2 meses, aquando do primeiro contato com o Departamento de
EF, os corredores de acesso à reunião já não eram longos e as pessoas
olhavam para nós e não nos confundiam com alunos perdidos na escola.
120
Com a entrada dos professores para a reunião, a relação estabelecida entre
todos, inclusive comigo era de tal forma enorme que só pensava “quem me
dera ficar aqui”. Não sei como são as realidades das outras escolas, falo
desta porque conheço. O ambiente que se vive aqui não se explica. Os
Professores, estagiários ou não, podem dar a sua opinião, a Educação Física
é reconhecida e a relação entre todos os docentes do grupo do fato treino é
fascinante.” Reflexão da 2ª reunião de Departamento. 18 Novembro de 2015.
A opinião mantêm-se e manter-se-á. Se agirmos como um grupo, como uma
equipa toda a escola se iluminará, caso contrário apenas seremos simples raios
abandonados e a dar choque em algumas partes das imensas divisórias que a
estrutura acarreta.
Relativamente às reuniões com a PC do 2º ciclo serviram para perceber a
metodologia adotada num ciclo diferente e para ajustar o processo de estágio,
nomeadamente as aulas dadas, as dificuldades de cada aluno e a modalidade
pretendida para lecionar.
As reuniões com o Coordenador do Desporto Escolar serviram para dar
início ao acompanhamento de uma classe de DE e para tratar de alguns
assuntos no que diz respeito à organização e estrutura do CFD.
As reuniões com o Núcleo de Estágio e com o Professor Cooperante
ocorriam sempre à quinta-feira e serviam para falarmos de tudo o que diz
respeito à escola: os problemas, assuntos importantes e até para percebermos
um pouco da história e evolução do ensino e das metodologias utilizadas. Estas
foram sem dúvida uma mais-valia para podermos colmatar os nossos erros, mas
principalmente para aumentar a nossa cultura no que à escola e ao ensino diz
respeito. O PC preparou desde sempre as reuniões com grande cuidado e
afinco, tendo por isso conseguido ver avanços, dúvidas e resoluções da nossa
parte.
“Hoje a nossa reunião foi feita no praticável, a experienciar, como em tudo o
que nos caracteriza, nós somos os do fato de treino, da sapatilha e do
pavilhão. Sentir e falar das dificuldades que enfrentam os alunos torna-nos
mais sensíveis aos pequenos detalhes, faz-nos melhorar a compreensão e
121
automaticamente por sabermos um pouquinho mais, o feedback será melhor
da próxima vez. Só ensinamos o que sabemos, mas admitamos que muitas
das vezes acabamos por saber as coisas como nos ensinaram, quase que
me arrisco a dizer que passamos ao discurso dos nossos pais ou avós “no
meu tempo foi assim que aprendi”. Não que não queiramos evoluir mas
porque foi a forma que se automatizou em nós. Aprender com pessoas que
são mais experientes deixa-nos mais confiantes e experienciamos coisas
nunca antes praticadas. Deixamos de dizer as coisas só porque ouvimos
mas essencialmente porque as experimentamos, porque sabemos que
resulta, porque nós próprios as sentimos. Fazer a roda, “de pernas para o
ar” dá um certo ar de ginasta, mas nunca me vi a fazê-la. Além disso, a última
vez que tomei consciência do que fazia e vi de relance por um espelho
parecia-me tudo menos alinhada e sem dúvida toda mal conseguida.
Seguindo os feedbacks já aprendidos do afundo pronunciado e segmentos
alinhados, após uma filmagem verifiquei que afinal não faço assim tão mal.
Não faço porque usei os métodos aprendidos de novo. A postura e o
alinhamento dos segmentos são importantíssimos para o sucesso do
elemento. Sem estes, a ginástica deixa de ser estética, rigorosa, exemplar e
disciplinada. É importante incutir esta ideia nos nossos alunos, não porque
queiramos formar ginastas de alta competição, mas porque é fundamental
eles perceberem onde realmente se inicia e finaliza o movimento.” Reflexão
reunião Professor Cooperante. 7 Janeiro 2016
As reuniões com o Orientador ocorriam nos momentos de observação e
em sessões programadas e agendadas pelo mesmo para tratar de todas as
burocracias e esclarecer todas as nossas dúvidas tanto a nível do RE como
noutros assuntos respeitantes à escola.
As reuniões de final de período, ou de classificações, presididas pela DT,
foram as reuniões que mais nervosismo me deram, só se foi apaziguando de
reunião para reunião. Antes de cada uma passava dias a pensar se as
classificações tinham sido bem atribuídas ou não, era uma responsabilidade
tremenda. Os procedimentos realizados em cada reunião já me tinham sido
explicados pelo PC, mas todo o envolvimento me fazia sentir um elemento
122
àquela turma e com palavra sobre a mesma. Era eu quem falava em
representação da EF, apesar de me fazer acompanhar do PC, a apreciação
global da turma era proferida por mim. Proferiam-se as informações aquando da
apresentação de todos os professores e dos representantes dos alunos e dos
Encarregados de Educação e todos tinham oportunidade de usar da palavra.
Retiravam-se os pais e os alunos e ficávamos, em família, todos os professores
a falar de assuntos que só nós sabíamos, porque os conhecíamos por dentro,
porque lidamos com eles. Houve momentos de partilha muito rica de informação
e senti que todos os problemas retratados eram de meu conhecimento e que em
muitos casos eu sabia mais informação que os restantes professores, por uma
questão de partilha e troca de vivências por termos idades mais próximas. Por
fim, eram enunciadas as classificações de cada aluno em cada uma das
disciplinas para que cada professor pudesse confirmar ou corrigi-las. A par
destes contactos com a DT e com os Encarregados de Educação na hora de
atendimento para o efeito. Essas reuniões permitiram um contacto mais próximo
com os encarregados de educação de alguns alunos, podendo opinar sobre os
problemas que os pais levavam para as reuniões e ouvindo o feedback que estes
tinham dos filhos acerca de mim e da disciplina de EF.
A presença nestas reuniões de grupo permitiu-me um envolvimento maior e
um acompanhamento mais próximo da escola e dos processos inerentes à turma
e à disciplina.
4.2.4.Taça ESAS
A Taça ESAS é uma competição subdividida em três provas (Skills – 1º
Período, tribola -2º Período e canoagem -3º Período) para permitir que os alunos
do unificado (7º,8º e 9º anos) possam ter oportunidade para competir e vivenciar
o desporto ao máximo. A taça ESAS é uma atividade que visa promover o
sucesso educativo dos alunos, assim como promover a responsabilização do
mesmo relativamente ao ato educativo. Pretende-se com estas atividades uma
diversificação de metodologias de ensino/aprendizagem e que haja uma
123
valorização partilhada nos processos de aprendizagem. A organização destas
provas esteve a cargo de alguns Professores do Agrupamento proporcionando
aos alunos uma variedade de exercícios, desafiantes e educativos para que
estes pudessem vivenciar o desporto da melhor forma, promovendo não só a
escola mas também os alunos, nunca esquecendo a ligação existente entre a
Escola de Nogueira e a ESAS que fazem parte do mesmo agrupamento AESAS.
A minha intervenção na prova de skills passou pela ajuda na estação do salto
em altura e nas estafetas, onde os alunos teriam de realizar a estafeta sobre os
espaldares com uma bola de andebol no menor tempo possível. A última prova,
a canoagem foi realizada juntamente com os alunos do secundário. Estas
experiências foram muito enriquecedoras, na medida em que me
proporcionaram o contacto com diferentes alunos e idades e possibilitaram que
houvesse um estreito relacionamento entre os docentes de Educação Física que
colaboravam nas provas.
4.2.5.Troféu ESAS
O Troféu ESAS é um dos pontos altos das atividades da escola. Esta
subdivide-se em três provas distribuídas pelos três períodos. A orientação, o
Peddy Papper e a Canoagem.
Todas as grandes organizações necessitam e escondem um enorme
trabalho por detrás, trabalho de quem lidera e de quem se predispõe a ajudar.
Acho que apesar de muitos dos alunos não se aperceberem desse trabalho,
conseguem de certa forma admirar e acabar por disfrutar da prova, que é o nosso
objetivo primordial.
Todos os mapas ensacados, cartões cortados e escritos valeram a pena
para ver o sorriso e o esforço estampado na cara de cada um deles. O
entusiasmo por participar em provas fora da escola e o convívio é sempre motivo
de grande algazarra e regozijo. Às 8h30 aquando da montagem por parte da
organização, já se avistavam alguns elementos das equipas. A prova começou
às 10h19 para a primeira fila de equipas com um apito e uma voz de comando,
as restantes filas de equipas partiam com 2 minutos de distância recebendo os
mapas da prova 1 minuto antes de cada partida.
124
Meia hora após a saída de todas as equipas, a primeira chegada ocorreu,
nós os três, o “núcleo da sapatilha” estava pronto e capaz para os receber,
apontando a hora de chegada e partida, verificando se estavam todos e
recolhendo os cartões de prova.
Ficou tudo apontado, as equipas despediam-se com sorrisos, com histórias
caricatas para contar, por balizas que saíram do sítio ou porque um dos
elementos caiu no meio do monte. O pavilhão ficou vazio, restava o nome das
equipas colado em cada fila. Fomos para o terreno recolher todas as balizas e
fomos embora. Olhando para trás ressalvo tanto trabalho que acaba em
instantes, mas fica um enorme orgulho por fazer parte desta equipa, por
aprender todos os dias técnicas novas, por ter o prazer de conhecer pessoas
com histórias e com algo para ensinar. Não estudei nesta escola, mas
recomendo-a vivamente a todos, pelo ambiente que vivemos como docentes e
que certamente vivem os alunos.
Não mudava nada na organização do evento, que muito se deve aos anos
de experiência do professor. Na bagagem, levo a forma incrível de organizar
quase 50 equipas num pavilhão, sem desordem, com cordialidade. A 2ª prova
do Troféu fomos nós, os “pequeninos”, do núcleo da sapatilha a organizar.
Depois de umas 700 folhas impressas no dia anterior, esperávamos que não
faltasse nada no dia. Decidimos o percurso, o regulamento, a descrição das
provas e as perguntas do roteiro. Acertamos os pormenores, distribuímos as
pessoas e verificamos o material.
Estavam previstas 69 equipas. Às 07h50 entrei na escola. Era o dia.
Distribuímos o nome das equipas, o regulamento e um conjunto de palavras no
chão do pavilhão, bem ordenado e coordenado para que as equipas não
tivessem que esperar muito.
Tivemos uma reunião para desejar boa sorte e para explicar tudo aos que
são mais distraídos ou mais afastados do processo. Ali é que deu para ver que
éramos uma equipa, por todo o ambiente que se viveu naqueles 5 minutos de
conversa. As piadas e as frases de quem já percebe muito deste tipo de eventos
fizeram-nos sentir felizes sabem? Mais uma vez pude comprovar que ser
professor é… sei lá explicar, todo um conjunto de sentimentos que nos fazem
125
sentir úteis, reais. Todos tomaram os seus caminhos e demos início à prova.
Fiquei responsável pela prova número dois intitulada “Poesia em acrobacia”
(ANEXO IV) onde os alunos tinham de elaborar com algumas palavras uma
pequena declamação/música enquanto executavam uma figura acrobática. A
imaginação e a criatividade em alguns dos casos foi notória, noutros, a falta de
paciência e o “deixa lá isso” tomaram conta da atuação. Contamos com a
presença de alguns júris especiais, os professores aposentados da ESAS que
nos foram ajudar.
Em 69 equipas, apenas participaram 37, o que todos lamentamos,
questionando-nos se não teria sido por não ter havido incentivo por parte de
alguns professores. E são questões como estas: Porque é que isto sucedeu?
Terá sido problema dos alunos?, que queremos ver respondidas. No meu tempo
de estudante, toda a turma participava nos torneios e em todas as provas,
queríamos ganhar, lutávamos e só desistíamos no fim. Atualmente o esforço não
se nota muito, mas sinceramente eu não sou assim de uma geração tão afastada
da deles, o mundo é que evoluiu rápido demais. Terminada a prova, todos os
professores foram almoçar, contavam-se peripécias das provas e partilhavam-
se experiências passadas.
Faltava o principal, saber quem era o vencedor e que trabalheira que isso ia
dar. Fazer a contagem do tempo total de prova, fazer o somatório dos pontos e
verificar a classificação final. No nosso gabinete, o núcleo da sapatilha, mais
morto que vivo começou numa amizade e a tratar por tu todos os números
escritos em cada papel. As horas iam passando e as tarefas iam diminuindo,
pelo meio soltavam-se gritos, risadas e certos termos menos apropriados ao bom
falar por a cabeça tender a complicar o que era fácil. Se nos filmassem naquelas
horas que lá estivemos, provavelmente achavam que eramos doidos, mas
depois de analisarem bem a filmagem percebiam que somos um excelente grupo
de trabalho e de partilha em equipa. Somos todos um bocadinho de cada um
sem alterarmos nenhuma propriedade nossa. Sabemos as fraquezas e os
pontos fortes de cada um sem sermos demasiado invasivos, somos o meio-
termo entre o céu e o mar. Somos acima de tudo amigos!
126
Por fim, e não menos importante foi a terceira prova, a canoagem. O
processo organizativo não passou diretamente pelas nossas mãos mas, eu
consegui arranjar um contacto de uma empresa onde já tinha trabalhado para
alugar as canoas e o preço ficou o mais baixo de sempre desde que esta prova
se realiza. Às 9 horas, e a empresa das canoas já estava perto do rio pronta para
descarregar. Começaram a chegar os outros professores, montaram-se as
mesas, a aparelhagem, o local de acreditação e os alunos começaram a chegar,
foram 4 autocarros cheios. Desdobravam as toalhas e desfilavam os bikinis
novos. O ambiente era de festa mas a preocupação era redobrada, a
responsabilidade era gigante por causa da quantidade de alunos a participar, e
por se tratar de um local onde qualquer descuido na água poderia ser fatal.
Depois de ter ido imprimir umas folhas necessárias das séries das equipas as
provas iniciaram. Os alunos eram chamados, colocados atrás da respetiva canoa
e vestiam os coletes para ouvirem atentamente a mini palestra acerca dos
cuidados e dos procedimentos da prova. Por volta das 13h a prova estava
concluída, arrumaram-se as canoas para fora do rio, os alunos foram almoçar,
jogar ou conviver. Os professores certificando-se que tudo estava arrumado,
foram fazer um piquenique/convívio com professores ativos e reformados. Esta
foi sem dúvida uma prova onde mais uma vez se verificou o bom ambiente
existente entre todos os professores e onde pude interagir com os meus alunos
num meio fora do contexto da sala de aula.
O Troféu ESAS foi um ponto-chave para a participação dos alunos nas
atividades, permitindo uma maior integração dos mesmos não só com a escola
mas com toda a comunidade.
4.2.6.Evento Culminante
Ainda hoje me lembro de todo o trabalho que deu a organizar o Evento
Culminante da Faculdade, mas só voltamos a fazer e a realizar o que nos foi
inesquecível. Aqui ficam algumas palavras de um professor26 no email enviado
26 Professor da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (comunicação pessoal, Julh. 2015)
127
aos alunos de mestrado de ensino “Confesso-vos que, dados as sensações e os
momentos vividos, é-me particularmente difícil falar-vos de uma forma
desapaixonada sobre as nossas últimas pegadas desta viagem em comum na
nossa “MEDlândia”, Exposições e Evento Culminante. (…) Não querendo ser
injusto com ninguém, tenho que destacar no ANTES e/ou no DURANTE: - a
presidente das Organizações Culminantes 2015 (…) Registei o entusiasmo dos
vossos cantos, a força dos vossos gritos em uníssono, o colorido dos vossos
estandartes, t-shirts e mascotes, as pinturas guerreiras, as máscaras, as faixas,
os balões, os megafones e as vuvuzelas,. (…) Não é por acaso que, por diversas
vezes, vos tenho afirmado que aprendo muito convosco, para o bem e para o
mal, pelas melhores ou piores razões, mas aprendo sempre. (…) Se mais não
fiz e não faço, é porque humanamente não posso ou não sei. Gostaria de ser
imenso, mas sou um comum mortal no rol dos substituíveis. (…)Este ano, mais
uma vez na minha vida de professor nesta casa, aquando da minha última aula
formal e em algumas das turma, os alunos despediram-se de mim com saudade.
Também vos confidencio que já sinto saudades dos muitos momentos passados.
Confesso-vos que, em alguns momentos deste semestre, as atuações das
equipas fizeram saltar uma lágrima do canto do meu olho.” Neste dia, depois de
ler tudo isto, o sentimento foi de missão cumprida e no fim a lágrima escorreu-
me pelo canto do olho. Foram imensos dias, milhares de tarefas, de disciplinas,
de vivências que jamais esqueceremos. Foi por isso que voltei a fazer tudo de
novo, porque estas experiências só nos fazem crescer como docentes e como
pessoas. Organizar qualquer que seja o evento não é fácil, acabamos por lidar
com pessoas que só querem o "nome na placa", pessoas que estão 100% para
ajudar e aquelas que acabam por fazer ao fim de lhes pedirmos. Tinha a certeza
que apesar do MED ser "levado ao extremo" como se ouvia nos corredores da
faculdade, iria ser usado por todos nós no ano de Estágio.
Escolhemos as modalidades, o dia, a distribuição de alunos por modalidades
e pelos respetivos postos de trabalho, o que engloba toda uma organização
deste tipo, como juízes, fotógrafos, treinadores, claque, entre outros.
Apresentamos a ideia à Direção e ao Coordenador de Departamento, explicando
todos os propósitos necessários, os locais, as disciplinas que as turmas têm no
128
horário destinado e toda a ideia da competição. Ambos aceitaram a ideia com
grande agrado. Seria a última atividade organizada totalmente por nós, havia
uma certa felicidade por estar a terminar o nosso percurso, mas por outro lado
uma dor típica da saudade, da despedida, do cessar das funções. As
modalidades escolhidas foram o Salto em Comprimento (Masculino e Feminino),
Salto em Altura (Masculino e Feminino),Lançamento do Peso (Masculino e
Feminino),Corrida de Barreiras (Masculino e Feminino), Corrida de 100m
(Masculino e Feminino) e Corrida de Estafetas (Masculino, Feminino e misto).
Os locais necessários para a realização do evento eram a pista, a caixa de areia,
um campo de futebol (C) e P1. O grande objetivo do evento era proporcionar
uma manhã de convívio e competição saudável interturmas e uma afiliação
intraturma. Assim seria promovido o exercício físico conjugado com valores
cruciais e inerentes à vida quotidiana como o respeito, o esforço, o empenho, a
superação, entre outros, havendo desde sempre um clima festivo e o mais real
possível de uma competição formal.
No dia anterior, organizamos o placar das pontuações, pusemos fita-cola em
todas as barreiras, imprimimos 90 credenciais e encadernámo-las e verificamos
todos os materiais e todos os prémios (medalhas e diplomas). A 9 de Junho,
pelas 7h50 da manhã entrávamos pelo pavilhão para começarmos a montar
tudo. Comecei a contar os passos necessários para marcar a corrida de
estafetas, os meus colegas começaram a montar o salto em altura e o PC o salto
em comprimento, e num abrir e fechar de olhos, estavam os alunos todos a
chegar e começaram a ajudar a montar o que faltava. O ambiente era
semelhante ao que se vivia no evento culminante da faculdade, mas desta vez
nós estávamos do lado dos que apenas observavam, eles eram os atletas. As
camisolas de cores diferentes identificavam as três turmas, ouvia-se música e
gritos das claques sempre que havia um bom desempenho por parte dos atletas
favoritos. As provas foram decorrendo dentro da normalidade, os alunos
aprenderam coisas novas, nomeadamente, em questões de regulamento oficial
e relembraram modalidades não abordadas no 10º ano, concretamente o
lançamento do peso.
129
Toda a escola parava para vir ver o que estava a acontecer. Formavam-se
plateias de alunos mais velhos e mais novos que questionavam o porquê de não
estarem a participar. Era uma organização dos estagiários, respondíamos nós.
No final, cantavam-se hinos de vitória, distribuíram-se as medalhas (ANEXO V)
depois de um discurso intenso e os alunos rumaram a casa com os diplomas e
o dever cumprido. A festa foi deles e para eles, o trabalho foi nosso, mas o prazer
e a alegria que senti do início ao fim já ninguém me tira.
O espetáculo desportivo serviu para proporcionarmos uma competição
próxima do real, permitindo um envolvimento incontornável por parte dos alunos,
para que estes nunca se esqueçam da beleza que o desporto proporciona. Estes
dias de festividade servem para aumentar o grau de interação, espírito de grupo
e solidariedade entre os alunos, despertando neles o sabor da conquista. Todos
estes momentos proporcionados em ambiente festivo servem para o
crescimento pessoal, cultural e desportivo de cada um daqueles alunos, aqui
mais do que reviverem e aprenderem todo o processo necessário para uma
competição e toda a sua regulamentação, tiveram a oportunidade de vivenciar
novas modalidades e ainda na função de juízes, de as ensinar aos restantes
atletas. O grande propósito de incutir o MED e consecutivamente o espetáculo
desportivo mais próximo da realidade permite um envolvimento total dos alunos
(independentemente do nível em que estes se encontram) na aprendizagem e
acaba por contribuir para uma configuração de EF mais perto do Desporto
(Ferreira et al., 2015).
Assim, podemos concluir que o espetáculo desportivo acaba por
proporcionar um sentimento de filiação que contribui para o aumento dos níveis
de motivação. Com isto, houve um aumento não só do envolvimento de todos os
alunos mas da sua motivação, autonomia e aprendizagem quer a nível cognitivo,
quer a nível motor e psicossocial.
130
4.2.7.Sarau
A 4 de Junho de 2016, decorreu no Grande Auditório do Parque de
exposições o XVII Sarau ESAS. Este evento contou com duas edições, uma às
15:00 (só para os Encarregados de Educação dos alunos do CFD Ginástica da
ESAS) e outra às 21:00h (para a comunidade ESAS - Professores, funcionários,
alunos e convidados) pretendendo ser um momento de grande festa para a
ESAS. Uma festa não funciona apenas com uma parte, os alunos e os demais
departamentos da ESAS constituem o bolo, mas todas as fatias foram
importantes para o sucesso e emoções daquele dia.
Às 8h15, entrava pela porta do auditório rodeada de miúdos e graúdos
identificados de azul e amarelo. O dia prometia, era o culminar de todo um ano
de esforço e dedicação. Passamos a vida a pedir que o tempo passe e,
cronologicamente, 4 de junho era tão distante quando percecionada a 1 de
Setembro que deixei o tempo me apanhar de surpresa de tão rápido que passou.
Os cenários, a organização, os panfletos, os treinos, os horários de entrada e
saída eram cumpridos com o devido rigor que a ginástica obriga. O tempo foi-
me escorregando pelos dedos e às 15 horas já havia distribuído o programa e o
cartaz do festival (ANEXO VI), um por um, naquelas cadeiras infindáveis do
auditório do parque de exposições de Braga. As purpurinas, as fitas e os cabelos
com gel também estavam prontos e verificados por mim. Às 16 horas abriram-
se as portas e a busca pelo melhor lugar foi sem dúvida o melhor de se ver, as
correrias, os adeus aos filhos em sinal de apoio e o nervosismo enorme que os
fazia sentar e levantar da cadeira segundo sim, segundo sim. Estava mais
nervosa do que eles, admito, talvez porque não quisesse aceitar o fim ou
simplesmente porque todo aquele ambiente, toda aquela envolvência carecia de
um pouquinho de cada um de nós.
De porteira a salvadora de vidas de pessoas desmaiadas, todos eramos
necessários. Havia muita coisa a acontecer ao mesmo tempo e qualquer falha
era colossal. Às 16h30 encerraram-se as portas, ouviram-se aplausos,
apagaram-se as luzes e iniciou-se o espetáculo. Dos veteranos à ginástica de
grupo, foram 2 horas de pura emoção. No meio das atuações, retiramos as 33
131
crianças mais bonitas da festa para irem aquecer. Preparamo-nos e eles subiram
ao palco. Eu espreitava entre as cortinas pretas cada entrada deles e piscava o
olho àqueles que se atreviam a pedir força. Entre a necessidade e a coragem,
contive as lágrimas e os meus olhos brilhavam. Escusado será dizer que foi a
melhor atuação que alguma vez fizeram.
Acabou-se o primeiro espetáculo, comeu-se alguma coisa na hora que
faltava para o próximo e recebeu-se novamente os meninos. A casa voltou a
encher e os processos repetiram-se. Houve ainda tempo para momentos de
brincadeiras, de penteados à professora Margarida e de fotografias para captar
o momento. Para abrilhantar mais a noite, dos alunos que se disponibilizaram a
ajudar, 8 eram da minha turma. Estavam lá muitas pessoas importantes na
minha vida e no meu crescimento durante todo este ano repleto de surpresas.
Às 23h30, acabou a música, aglomeraram-se as palmas, fecharam-se as
cortinas, caíram as lágrimas … foi o fim.
Foi um dia bom, mas como todos os finais, teve também a sua parte de dor
e sofrimento nostálgico.
A realização de momentos como o sarau na escola acaba por ser uma
estratégia para atrair as famílias, valorizando os talentos culturais presentes na
comunidade. Em termos pedagógicos, o sarau acaba por ser um evento onde os
alunos têm a oportunidade de aparecer, de participar e de se expressarem ou se
manifestarem artisticamente. Estes momentos acabam por mostrar o culminar
de um ano de trabalho, por forma às crianças conseguirem expor tudo o que
aprenderam, todo o resultado de um ano de esforço e dedicação. Assim, estes
momentos acabam por unir e fortalecer a identidade da comunidade escolar,
procurando a inclusão de todos de forma simples e familiar, criativa e envolvente.
É um momento em que se conjugam todos os conhecimentos, todas as
descobertas e se partilham as vivências conjuntamente. A escola acaba por ser
reconhecida pelas famílias que assistem a estes espetáculos, acabando por
beneficiar no envolvimento destas com o estudo dos filhos. Para mim estes
momentos acabaram por ser o feedback que necessitava para constatar se o
que lhes fui ensinando ou dizendo, e ver se se verificavam os resultados diretos
ou não na atuação dos alunos.
132
O sarau acaba assim por ser um momento para despertar a sensibilidade
das pessoas para a realidade envolvente e para a própria cultura por forma a
poderem refletir sobre ela a partir de diferentes linguagens.
4.3.Área III: Desenvolvimento Profissional
Nunca seremos suficientemente bons, nem suficientemente cultos, nem
suficientemente inteligentes para o mundo tão veloz como o nosso. É urgente
fazer mais, estar disposto a inovar, a aprender, a melhorar. Sem isso, seremos
simplesmente mais um entre os muitos que vivem à sombra do sol, com medo
de serem melhores, de lutar para conseguir, de suar por insistir. É agora e
sempre será a hora, porque daqui a um minuto já foi passado e daqui a um
segundo já será tarde demais.
4.3.1.Professor Reflexivo: um fio incondicionalmente necessário
A complexidade que atinge o processo de ensino – aprendizagem, e o tempo
que é preciso para que o futuro docente amadureça a nível profissional é gigante,
daí ser necessário que na sua formação inicial se promovam disciplinas capazes
de proporcionar aos professores uma investigação critica e uma análise reflexiva
da sua atividade prática ao longo da vida (Albuquerque et al., 2005). Os mesmos
autores defendem que é errado conjeturar que todas as capacidades de decisão
e reflexão advém da experiência que o tempo harmoniza, mas que é necessário
haver disciplinas nucleares que ajudem essas habilidades de pensamento (2005,
p. 168). A reflexão esteve sempre presente no Mestrado de Ensino,
principalmente nas disciplinas que visavam a nossa opinião crítica dos assuntos
relacionados com a escola. A perceção tomada aquando da realização dessas
mesmas reflexões não é a mesma de hoje. Se me dissessem, há alguns meses
atrás, que é importante refletir, provavelmente eu teria dito que era uma perda
de tempo com todo o trabalho que acarreta o estágio. Hoje eu percebo o quão
importante é refletir o porquê das coisas serem assim, o porquê de haver o
princípio, o meio e o fim. A importância de deixar de lado a descrição de cada
aula, como acontecia nas primeiras reflexões e falar de acontecimentos reais, do
133
que se passou e de tudo o que possa estar envolvido nesse acontecimento. Hoje
sei que refletir é tornarmo-nos melhores pessoas, melhores professores,
melhores atores na escola. Refletir sobre tudo o que fazemos ajuda-nos a querer
sempre mais e melhor do que o que foi feito.
“Neste ano, de todas as coisas que faço fora-estágio, ponho-me a refletir
acerca do que correu bem ou mal. Como se de uma forma assustadora me
sentisse num total estágio de vida. Dou catequese, vou a alguma formação
e no fim pergunto-me o que será que vou reter e refletir sobre isto? Aí caio
em mim e percebo que não estou em estágio, é a vida real, não que o estágio
não seja real, mas é condicionado por todos os seus agentes. Pensando
bem, refletir sobre o que fazemos, sobre o que correu bem e menos bem é
difícil, mas sempre necessário. Se essa observação não for feita, raramente
poderei evoluir e colmatar os erros efetuados”. Reflexão aula 39 e 40. 26 de
Novembro de 2015
Segundo Graça (2014b, p. 7) “a reflexão e a investigação constituem, nos
nossos dias, referenciais inevitáveis nos discursos sobre as práticas de formação
de professores. A reflexão, essa mesmo, transformou-se num termo tão comum
e tão repetido que acaba por correr o risco de se esvaziar de significado e de
perder o valor formativo que preconiza… Importa, igualmente, evitar tratá-la
como ritual, como prática iniciática, como finalidade em si mesma… Quer isto
dizer que a reflexão carece de uma cultura profissional, de uma identificação
cognitiva e afetiva com modos úteis de falar de educação e de educação física,
referenciados ao labor conjunto de uma comunidade de prática empenhada em
dar um sentido positivo à sua experiência profissional”.
Digamos que somos aquilo que aprendemos, aquilo que refletimos, sujeitos
da nossa evolução, da nossa prática, da nossa experiência. Por mais pequena
que seja a nossa experiência enquanto docentes, trazemos uma bagagem de
vivências passadas, boas e más que despoletam em nós diferentes formas de
atuar perante um mesmo problema. Cada um de nós enquanto professor, e cada
um deles enquanto aluno, faz parte de um passado, que muitas vezes condiciona
o presente, carregado de medos, desconfianças, receios por associações, por
elos difíceis de descruzar. Feridas que exigem de nós um curativo momentâneo
134
num ser tão fragilizado, como se fôssemos a emergência que vem em alta
velocidade antes de todos os outros. Curar nunca foi fácil, implica tempo, aliás
quanto maior a dor menor será a cicatriz.
Sendo o ato educativo um processo complexo e imprevisível, a reflexão
assume-se como intermediária entre a teoria e a prática e como um instrumento
interveniente entre as crenças, as teorias dos professores e as evidências da
prática. Pretende-se assim que haja um diálogo entre a teoria (comunidade
cientifica) e a prática (professores no terreno/escola) e não uma subordinação
(Cunha, 2008). Ideia defendida também por Albuquerque et al. (2005, p. 17)
quando afirma que o ensino reflexivo permite uma capacidade de
questionamento, tendo em conta as posturas que os professores terão
incessantemente de regular, estimar e corrigir na sua prática. Assim, um
professor para ser competente deverá ser um prático reflexivo, sendo capaz de
gerir e produzir saberes através das suas práticas (Cunha, 2008).
“Existem factos que se não nos forem questionados, mas passaram ao lado.
Digo isto, não porque não nos questionemos pelo que acontece, mas porque
devemos e contra mim falo, adquirir uma opinião fundamentada para além
dessa mesma opinião. Confuso? Então vejamos um exemplo rápido, se me
perguntarem o que eu acho do comportamento dos alunos na experiência
que estou a ter (2º Ciclo e Secundário). Eu sei opinar sobre o assunto, aliás
sou capaz de já ter pesquisado sobre o mesmo, contudo além dessa opinião
há por detrás dele um conjunto enorme de fatores a ter em conta para que a
mesma possa fazer sentido, tenha lógica. Digamos que todos os problemas
devem ser discutidos não pelo seu resultado, mas pelo seu cerne. Se os
alunos têm maus resultados numa prova, não podemos discutir apenas os
resultados, devemos sim conseguir fazer uma ligação entre a dificuldade da
prova e o que realmente os alunos sabem para a realizar”. Reflexão reunião
Professor Cooperante. 12 Fevereiro de 2016.
Podemos então concluir que a harmonia entre a teoria e a prática poderá
proporcionar um verdadeiro diálogo, onde a prática adquira uma dimensão
epistemológica mais profunda cooperando para uma intervenção educativa
135
eficiente e fundada (Cunha, 2008). O mesmo autor defende que a “prática é fonte
de construção do conhecimento e a reflexão sobre as práticas, o instrumento
dessa construção. Cada professor deverá ter a capacidade de desenvolver o seu
próprio quadro interpretativo sobre o ato educativo, o qual resulta de uma
reflexão sistemática e fundamentada acerca do significado das experiências da
prática e das técnicas educativas baseadas na investigação (quadros de
referencia).”(Cunha, 2008, p. 78).
“Desculpem se a reflexão tende a ser curta, mas estamos na hora do
pensamento profundo, do arrumar das ideias, da definição de caminhos, da
superação de obstáculos. Quando houver algo que careca da devida
referência, as palavras sairão naturalmente, sem a pressa de escorrer um fio
incontornável de frases para um texto gigante, mas porque serão sentidas,
importantes e cruciais serem ditas e escritas. Até lá, contentamo-nos com o
que existe, com o que nos permite o coração, o pensamento, a emoção.”
Reflexão aula 93 e 94. 7 Abril 2016.
A reflexão passou a ser parte integrante da minha vida, de tudo o que eu
fazia e de tudo o que eu me propunha a fazer. Assim consegui encontrar um
ponto de equilíbrio entre o que fazia bem e o que necessitava de melhorar e
comecei a ser mais crítica, mais ambiciosa com as tarefas e comigo mesmo.
(…) Um dos aspetos negativos foi o fato das vagas serem todas iguais
excetuando a vaga da ajuda, o que de certa forma desmotivou um pouco os
alunos. Estes procuravam desafios diferentes, porém é importante perceber
que a ginástica precisa de treino e de várias repetições para conseguirem
alcançar o objetivo. Ao aperceber-me disto, optei por realizar um desafio dos
abdominais nos espaldares com todos os alunos e estes acabaram por
gostar da ideia e empenharam-se. (…) procurarei novas alternativas para
melhorar o método de ensino por forma a que estes se sintam mais
motivados (…).Reflexão aula 15 e 16. 15 Outubro 2015
(…) Outro dos aspetos que carece a minha reflexão foi o facto de não me
ter apercebido na aula que lecionei do meu colega, de colocar os
distribuidores do lado oposto ao lado de batimento. Digamos que os alunos
136
têm de ser capazes de rematar na entrada e na saída independentemente
de serem destros ou sinistrômanos, contudo numa primeira fase é preferível
colocar o passador do lado da entrada (a meio da rede) e os alunos
rematarem com o distribuidor à sua direita. À medida que vou revendo os
conteúdos, apercebo-me que existem muitas lacunas, nomeadamente, em
aspetos técnicos que depois impossibilitam alguns aspetos táticos. (…).
Reflexão aula 61 e 62.21 Janeiro 2016
A reflexão acabou por ser o meu refúgio, mais ou menos emocional, mas a
única que me deixava transmitir o que vivia, o que sentia, o que não explicava
em voz alta, o que o coração escondia.
4.3.2.Observação: Para, escuta, vê
A observação surgiu como uma das tarefas impostas ao professor estagiário.
Todo este processo baseou-se num plano de observação sistemática da
observação do comportamento do professor, do aluno e da análise do tempo de
aula. As observações foram distribuídas pelos três períodos letivos, quer aos
colegas estagiários, quer aos outros professores. A par disto, fomos ainda
observados uma vez em cada período pelo PO. “Qualquer instrumento é o
prolongamento do pensamento, como o lápis é o instrumento de prolongamento
da fala” (Sarmento, 2004, p. 255).
Seremos mais evoluídos se conseguirmos observar, retirar ilações para mais
tarde aplicar, na vida, no contexto educativo e na prática. Segundo Sarmento
(2004, p. 161) “observar “qualquer coisa” não é só olhar o que se passa à nossa
volta. Mais do que isso, é captar significados diferentes através da visualização
… atribuir-lhe um sentido significativo”. Cada um vê e olha as coisas de forma
distinta, consoante o seu passado e a atribuição que deu a essa mesma
realidade. A observação é um procedimento complexo e ativo, por causa do
processo observativo ser realizado por diferentes observadores em diferentes
ocasiões, o que despoleta entendimentos diferenciados da realidade (2004, p.
162). Podemos então observar a mesma realidade e retirar conclusões
completamente díspares, porque somos humanos, diferentes, com histórias
137
cruzadas e influenciadas por passados, presentes e futuros. Podemos então
perceber que “[…] observar uma aula, é olhar para ti, através do seu reflexo. E
mais importante do que isso, refletir sobre o que observaste é olhar para nós,
professores, e o que é que nós estamos a fazer com os nossos aprendizes.”
(Ferreira, 2015, p. 122). Podemos então observar os outros, mas somos também
muitas das vezes observados, em contexto de estágio pelo nosso orientador e
por todos os professores da escola que querem atualizar-se sobre os novos
métodos de aprendizagem. Passamos a ser um encruzilhar de informações e
pensamentos oriundos da observação.
“O dia da Observação foi antecipado, é na terça- feira!”. A minha reação foi,
bem não há mal nenhum, o Professor tem de vir, o dia não interessa. Mas
… sejamos sinceros, ninguém gosta de ser “avaliado”, não pela situação de
o ser, mas pelo processo “doloroso” a que se expõe. Não teremos de ser
outras pessoas porque temos um avaliador que tem como finalidade dar-nos
dicas para melhorar. Contudo pensar no dia, no espaço, na disposição do
professor, dos alunos, da nossa, dá uma “dor” que corta por momentos a
respiração. A aula foi planeada como sempre, de forma cuidada e a pensar
nos meus alunos. Não tinha medo, acho que ser avaliado é um processo
necessário e natural, para que as pessoas possam evoluir e não se
acostumem ao mesmo de sempre. Só queria e só pedia que a minha
ansiedade me deixasse em paz, eu sei que sou capaz, eu tenho a certeza
que quero ser professora, é o meu sonho! Até ao dia só pedia que ela me
deixasse ser quem sou, como se num ataque de incertezas me fizesse
pensar que ela poderia alguma vez ser mais forte que eu. Que estupidez!”
Reflexão aula 29 e 30. 10 Novembro 2015.
Como afirmava Rolim (2015, p. 67)acerca deste assunto, “a nossa primeira
visita às aulas dos estagiários é sempre precedida de uma preparação dos
estagiários para esse desafio… A mensagem que sempre passamos aquando
destas visitas, é de que: Nós vamos observar-vos à escola, apenas e só para
vos ajudar. De outra maneira, não faria sentido lá ir. Esperamos viver momentos
de alegria”.
138
A observação é um instrumento extremamente útil e valioso para a eficácia
global do ato pedagógico, e a sua prática permite uma aprendizagem crucial para
o desenvolvimento de todos os docentes. Assim, a observação passa a ser um
meio extremamente útil para os profissionais agirem criticamente sobre os seus
e os comportamentos que observam (Sarmento, 2004). O mesmo autor aponta
várias metodologias de observação e de registo, que tem como objetivo estudar
e avaliar os comportamentos. Os estudos na área do ensino, buscam cada vez
mais perceber a interação entre os docentes e os discentes, para poderem
perceber a qualidade do ensino e as estratégias que são utilizadas para
proporcionar um ambiente positivo e de aprendizagem (Sarmento, 2004, p. 166).
Podemos então dizer que “observar a frequência e a duração de um
comportamento significa identificar as suas variáveis e a terminologia da sua
descrição”(Sarmento, 2004, p. 167) porém, observar comportamentos e
situações dependem de um conhecimento prévio sobre a forma e o significado,
isto é para investigar o comportamento utilizando como instrumento a
observação é necessário ter em conta “(…) o campo da observação, o conjunto
de comportamentos (categorias) observados, o processo de notação e registo
adequado e a validade e garantia da aplicação”(Sarmento, 2004, p. 168).
Para observar os professores e os meus colegas estagiários, utilizei fichas
pré-definidas de observação do comportamento do professor e do aluno e a
análise do tempo de aula. A observação do comportamento do aluno e do
professor consistia em 5 períodos de observação de 3 minutos, sendo que entre
cada período de análise existia um minuto de intervalo. No que diz respeito à
análise do tempo de aula eram observados 45 minutos da mesma. As fichas
continham diferentes categorias que permitiam estimar a duração absoluta e
relativa de cada uma delas durante o período observado. Assim era feita uma
descrição e interpretação desses dados a ponto de aferir o que deveria ou não
ser melhorado na aula. Nunca nos poderíamos esquecer que “ (…) o professor
ao questionar-se, ao refletir criticamente sobre a sua própria experiência, ao
compreendê-la, tenha por objetivo a melhoria da sua prática e, simultaneamente
o desenvolvimento da sua autonomia e competência profissional” (Jacinto, 2003,
p. 49). Assim não observava com intuito de dizer mal da aula, mas sim para
139
aprender e para refletir sobre o porquê de ter acontecido dessa forma e não de
outra. Porém na minha opinião a observação e a aprendizagem superavam
muitas das vezes a simples ficha. A observação da aula e da forma como os
professores mais experientes tratavam dos assuntos e os resolviam constituía a
verdadeira lição da observação que me permitiu crescer enquanto professora.
Os momentos de observação e de aprendizagem não se cingiam à ficha e aos
momentos estipulados de observação, mas sim a muitos momentos informais
que analisávamos e discutíamos sobre as práticas exercidas por outros
professores. Muito mais do que os resultados das fichas o importante era
verificar se a aula era bem conduzida e quais as estratégias utilizadas em
diferentes momentos.
“(…)E ainda assim observamos os outros professores, os nossos colegas,
com o objetivo de evoluir, de aprender, de retirar ilações com mais ou menos
precisão, com mais ou menos etiqueta, mas a verdade é que aprendemos,
no contacto com a prática, na discussão feita na passagem das aulas.
Aprendemos sobretudo com o tempo, com o saber o porquê de uns
utilizarem o A e outros utilizarem o B, aprendemos o que queremos observar,
o que devemos observar e principalmente porque o fazemos. Mais ou menos
protocolo, mais ou menos discórdia, nós aprendemos sempre, com isto e
com tudo na vida”. Reflexão da reunião com o Professor Cooperante. 7 Abril
de 2016
4.4.A APRENDIZAGEM DO RETORNO NO VOLEIBOL ATRAVÉS
DE UMA PRÁTICA DISTRIBUÍDA: ESTUDO REALIZADO COM
UMA TURMA DO ENSINO SECUNDÁRIO
Resumo
O presente estudo teve como objetivo examinar a aprendizagem dos alunos num
conteúdo estruturante da modalidade de voleibol desenvolvida em prática
distribuída. Neste sentido, foram avaliados 6 alunos (4 raparigas e 2 rapazes,
com idades compreendidas entre os 15 e os 17 anos de idade) numa turma do
10º ano de escolaridade pertencente a uma escola do norte do país, ao longo de
140
5 minutos iniciais e finais de cada uma das 6 aulas. No voleibol foram utilizados
pressupostos do MAPJ, do MID e do MED. A colheita dos dados fora analisada
através da observação sistemática de vídeos e da utilização do Game
Performance Assessment Instrument (GPAI). Para os procedimentos estatísticos
foi utilizado a média e o desvio-padrão e para comparar os resultados obtidos
usou-se o item da tomada de decisão do GPAI. O impacto da aplicação deste
conteúdo (retorno) em prática distribuída foi de um modo geral positiva, tendo os
alunos melhorado a habilidade do início da aula 1 para o final da aula 6.
PALAVRAS-CHAVE: PRÁTICA DISTRIBUÍDA, APRENDIZAGEM, RETORNO,
GAME PERFORMANCE ASSESSMENT INSTRUMENT, VOLEIBOL
Abstract
The present study aimed to examine the students’ learning in a structuring
content of volleyball mode developed in distributed practice. For that, 6 students
were evaluated (4 girls and 2 boys, aged between 15 and 17 years old) in a 10th
grade class, of a school in the North of the Portugal, during 5 minutes right after
the lesson start and at the end of each of the 6 classes. In the voleyball model
assumptions were used Progressive Approaches to the Teaching of the
Volleyball Game (MAPJ), Direct Instruction Model (MID) and Model of Sports
Education (MED). The collected data was analyzed through systematic
observation out of videos and the use of Game Performance Assessment
Instrument (GPAI). For the statistical procedures were used the mean and the
standard deviation and, in order to compare the results, was used the decision-
making of the GPAI item. The impact of the application of this content (return) in
distributed practice was generally positive, having the students improved the
ability from class 1 to the class 6.
KEYWORDS: DISTRIBUTED PRACTICE, LEARNING, FEEDBACK, GAME
PERFORMANCE ASSESSMENT INSTRUMENT, VOLLEYBALL
141
Introdução
Os Jogos Desportivos (JD) adquirem um papel extremamente crucial no
currículo da EF em variadíssimos países de todos os continentes, desde o século
passado. Estes têm o seu valor próprio e são capazes de enriquecer de prazer,
de vida, de plenitude todos aqueles que estão ligados à sua prática (Graça &
Mesquita, 2013). Os jogos vieram assim, presentear a EF com um conteúdo
intimamente educativo, alicerçado no próprio valor do jogo, de dever cumprido e
de “sonho de transcendência”, à sociedade que os acolhe (Graça & Mesquita,
2011, p. 132). A mesma autora advoga que para se ensinar o jogo é necessário
que se desenvolva o ânimo pelo mesmo e a ideia de lúdico. Mas para que nunca
nos esqueçamos que é necessário construir as pedras da calçada, o ensino dos
jogos devem permitir a capacidade de jogar, de perceber a essência dos
mesmos, de desfrutar, de melhorar a relação entre o jogo e todos os que nele
intervém, só assim o ensino dos jogos passa a ser educativo (Graça & Mesquita,
2013). Sendo o voleibol parte integrante dos Jogos Desportivos Coletivos (JDC),
incorpora um sistema complexo e dinâmico, constituído por diferentes variáveis
e formando “estruturas coerentes, em resultado da interação do conjunto dos
subsistemas” (Mesquita, 2005, p. 358). A mesma autora defende ainda que
sendo o voleibol uma modalidade com um cunho próprio, ditado pelo seu
regulamento e pela sua dinâmica operante, confere conceitos e terminologias
específicas aos JDC, que importa ter em conta para a preparação didática das
tarefas do ensino (2005, p. 376). O voleibol é então um jogo predominantemente
interativo em contante alteração, levando a que o sucesso não tenha unicamente
de ser efetuado pelo mesmo procedimento. Assim consideramos uma
modalidade predominantemente aberta, tendo em conta que as habilidades são
reguladas externamente (Araújo, 2010) . Urge a necessidade de tornar o jogador,
neste caso o aluno, autónomo e capaz de saber decidir corretamente perante os
diferentes contextos, para isso é necessário que em situação de treino (na aula)
sejam aplicadas tarefas de aprendizagem que se assemelhem e permitam a
compreensão do jogo. Assim a ação não pode ser desvirtuada da decisão, ou
seja a forma como o jogador/aluno compreende e analisa o jogo depende, em
142
grande escala da natureza da decisão tomada (Mesquita, 2005). A mesma
autora defende ainda que o jogador/ aluno não deve apenas compreender as
suas ações/movimentos, mas deve ser capaz de prever os movimentos dos
adversários e da bola, adquirindo assim uma posição antecipatória e não apenas
reativa. Portanto a aprendizagem da técnica deve seguir um fio condutor lógico
tendo em conta os problemas existentes no jogo, não fazendo sentido que o
aluno saiba fazer do ponto de vista técnico o que o jogo não exige ao nível tático.
Neste caso em concreto, se os alunos não percebem o motivo pelo qual realizam
o retorno não faria sentido saber executá-lo. Daí ser necessário que estes
percebam para que tal habilidade serve (2005, p. 364). O que se pretende que
um jogador/ aluno faça no jogo é certamente que este tenha consciência do
mesmo e seja capaz de o perceber taticamente para tomar decisões eficazes e
eficientes, revelando assim ser um jogador “brilhante”(Tavares & Casanova,
2013). Os mesmos autores garantem que numa situação de prática, os alunos
são confrontados com uma série de situações e problemas para resolver,
essencialmente de ordem tático-técnica, sendo esta muitas das vezes
imprevisíveis, forçadas por diversos fatores conforme o contexto do jogo,
devendo por isso o jogador ser capaz de usar os “processos percetivo-cognitivos
de forma adequada” para poder obter os seus objetivos (2013, pp. 55-56).
O facto de o voleibol ser um jogo onde as habilidades técnicas têm por base
padrões de execução relativamente estáveis, oriundo das punições
regulamentares, fez com que a técnica fosse treinada de forma isolada durante
longos anos. Ainda assim, pelo facto de a bola não poder ser agarrada e todo o
terreno de jogo constituir uma zona de alvo, urge a necessidade de se tomar
decisões muito rápidas num curto espaço de tempo (Mesquita et al., 2013). Logo,
esta modalidade requer ao jogador uma elevada velocidade de processamento
de informação e uma enorme capacidade adaptativa às diferentes situações.
Desta forma, técnica e tática devem relacionar-se e acabam sempre por se
influenciar (2013, p. 77). O MAPJ acaba assim com as perspetivas de
abordagem de determinadas habilidades em detrimento de outras e busca uma
aprendizagem holística tendo em conta o jogo. O jogo começa desde a sua
versão mais simples (1x1) para a sua versão mais complexa (6x6),passando por
143
quatro etapas de aprendizagem com as suas respetivas progressões, tendo
sempre em conta as variáveis da mesma tarefa (articulação horizontal) e tarefas
com graus de dificuldades diferenciados (articulação vertical). Para cada etapa
de jogo é caracterizado um nível que nos permite decidir em qual das etapas se
encontram os alunos (2013, p. 81). Através da caracterização do nível III
(organização rudimentar do ataque), onde se verificam situações onde a
finalização ainda não é totalmente eficaz, tendo o distribuidor ainda a
necessidade de se colocar de frente para o recebedor e não para a zona de
ataque, urge a necessidade da implementação da terceira etapa de
aprendizagem caracterizada por “recebe e vai atacar”. Esta etapa caracteriza-se
pela utilização do jogo 3x3, pressupondo assim mais uma opção de ataque do
que a anterior etapa (2x2) (Mesquita et al., 2013). Nesta etapa surge a
necessidade da abordagem ao retorno, sendo este uma ação sem bola que visa
o regresso à posição inicial após alguma intervenção, por exemplo após um
ajustamento do primeiro toque para uma finalização mais eficiente, ou até
mesmo recuperar o ponto de partida após ações ofensivas (2013, p. 100). O
interesse do presente estudo surge para poder perceber se realmente existe ou
não aprendizagem deste conteúdo estruturante para o voleibol, por outras
palavras se houve melhoria da habilidade numa prática de ensino distribuída,
quero com isto dizer de forma dispersa no tempo.
Antes de mais importa referir como e o porquê de ter chegado ao conteúdo
escolhido e de onde este surgiu. Todos sabemos que o voleibol é um JD de
elevada exigência técnica e contem uma quantidade infinita de particularidades
que o caracterizam e o tornam único, sendo muitas vezes essas mesmas
particularidades que dificultam a sua aprendizagem. Assim, torna-se
extremamente crucial que o ensino seja pensado e estruturado com bases
sólidas e com “pressupostos didáticos e metodológicos pedagógica e
cientificamente fundados” (Graça & Mesquita, 2011, p. 40). Foi então criado por
Isabel Mesquita em 1989/1990 o MAPJ especificamente para ser aplicado no
voleibol (jogo não invasivo), pretendendo que o este adquira um elevado valor
pedagógico, possibilitando que todos os participantes possam experimentar e
144
disfrutar desta bela modalidade, não consentindo que nenhum praticante seja
esquecido (2011, p. 40).
O processo de ensino-aprendizagem demanda que a controvérsia e a
ligação estabelecida entre a teoria a prática seja mantida, onde as estratégias
para a formação passem de um saber fundamentado em regras e teorias para
um saber situado. Só assim é possível a existência de uma estrutura que é capaz
de colocar todos os ensinamentos teóricos em situação prática (Mesquita et al.,
2013). Assistiu-se durante alguns anos a um avanço da importância da técnica,
assumindo esta um lugar de destaque nas situações de aprendizagem, sendo o
jogo um veículo para a aplicação dessas mesmas habilidades técnicas
aprendidas e praticadas em situação analítica, desprovidas de significado.
Digamos que em Portugal, os professores davam primazia ao treino das
habilidades técnicas isoladas, passando para as progressões para treinar essa
mesma habilidade técnica, até chegarem aos jogos modificados e da
precedência dos problemas do jogo, do entendimento tático e da tomada de
decisão. (Mesquita et al., 2013). Com a criação deste modelo o ensino da técnica
foi subordinado ao ensino da tática. Porém, os mesmos autores defendem a
necessidade de ensinar os JDC, em particular o voleibol, numa lógica onde a
tática e a técnica se influenciem, tendo o jogador de perceber as situações
decorrentes no jogo para poder tomar decisões corretas, e por outro lado possuir
um amplo leque técnico que só adquire o seu auge quando aplicado em lógica
funcional de jogo (2013, pp. 77-78). O MAPJ é constituído por quatro etapas de
aprendizagem do voleibol estabelecendo-se progressões lógicas do ensino do
voleibol conforme as dificuldades dos alunos, havendo assim um compromisso
entre a articulação horizontal (variantes da mesma tarefa) e vertical (tarefas com
dissemelhante dificuldade) dos conteúdos a serem aprendidos. No decorrer das
quatro etapas, são abordados as formas modificadas de jogo 1x1,2x2,3x3,4x4
até ao 6x6. (Mesquita, 2006). As quatro etapas são ainda antecedidas por níveis
de jogo. Os Nível 1 (jogo estático) têm como resolução dos problemas a 1ª etapa
de aprendizagem (envia a bola por cima da rede), o nível 2 (jogo anárquico) a
etapa 2 (coloca-se para receber e reenvia de seguida), o nível 3 (organização
rudimentar do ataque) a 3ª etapa (recebe e vai atacar) e por fim o nível 4
145
(estruturação defensiva de acordo com o ataque adversário) a 4ª etapa
(diferencia a defesa próxima da defesa afastada da rede) (Mesquita et al., 2013).
São assim identificados os problemas nos níveis e apresentadas soluções nas
etapas de aprendizagem. Assim a turma encontrava-se na terceira etapa,
prestes a iniciar a abordagem ao retorno, sendo este o conteúdo escolhido para
a análise. O retorno é um conteúdo estruturante do jogo de voleibol, descrito por
Mesquita et al. (2013, p. 100), como uma “ação sem bola que significa o regresso
ao ponto de partida após uma intervenção (por exemplo, voltar à posição de
partida após ajustamento no primeiro toque, para uma finalização mais eficaz) e
defensivas (por exemplo, recuperar a posição-base após ações ofensivas). O
retorno induz maior dinamismo e intencionalidade ao jogo, permitindo maior
continuidade das ações.”
A fim de tentar perceber como é realizada a retenção da aprendizagem de
um determinado conteúdo, foram pesquisados alguns conceitos que possam
estar na base dessa mesma retenção. Segundo Utley e Astill (2008, p. 3)
aprendizagem motora é uma mudança relativamente permanente no
comportamento, como resultado da prática ou experiência. Segundo as autoras
supracitadas esta é uma área interessada em examinar como o ser humano
aprende e retém skills de movimento. Deste modo, a aprendizagem motora
envolve a retenção, que corresponde ao processo de resgatar memórias
motoras recém-adquiridas, sem a necessidade de prática adicional durante um
período de tempo (Abe et al., 2011). Podemos ainda perceber outros conceitos
capazes de nos permitir uma viagem mais aprofundada sobre o tema. A memória
é assim a capacidade de relembrar, de recordar ou de ser influênciado por
experiências passadas. Esta é uma componente do sistema de processamento
da informação, onde a informação é armazenada e processada (Magill, 2001,
pp. 142-143). Por outro lado, Schmidt e Wrisberg (2000, p. 83) consideram que
a memória é a capacidade de reter e utilizar a informação de várias formas
durante vários períodos de tempo. Sendo assim, a memória também é capaz de
facilitar a retenção e o armazenamento de toda a informação aprendida.
Outro dos conceitos referido por Júnior (1999) é o da interferência
contextual, afirmando que “de acordo com o efeito da interferência contextual
146
(EIC), a prática variada aleatória ou prática com alta interferência contextual
(abcbcacbabac) proporciona pior desempenho de aquisição, porém melhor
transferência e retenção em comparação à prática variada em blocos ou prática
com baixa interferência contextual (aaaabbbbcccc). Entretanto, muitas
pesquisas não confirmaram totalmente o EIC, o que põe em dúvida a aplicação
do princípio no domínio motor ”. Por fim, não menos importante, importa perceber
o que se entende por tomada de decisão e como esta pode ser importante no
sucesso e na retenção da aprendizagem. Afonso et al. (2008, p. 138) afirma que
“a investigação realizada no âmbito dos jogos desportivos (JD), através da
análise de jogo, tem vindo a produzir conhecimento válido acerca das
regularidades do jogo. Todavia, a relação entre variáveis especificadoras que
antecedem ou proporcionam as ações não tem sido alvo de análise.”, como é o
caso do retorno. Afonso (2012, p. IX) reforça ainda que “o estudo da tomada de
decisão (TD) no desporto tem sido alvo de um interesse crescente, em particular
no contexto dos Jogos Desportivos, fruto do papel nuclear que assume na
obtenção de elevadas performances. São, contudo, escassos os estudos
realizados em situações representativas do jogo, particularmente no âmbito do
voleibol”. A tomada de decisão “dinâmica, não raramente, se baseia mais na
intuição do que na reflexão consciente, o treino deve criar situações ajustadas,
propiciadoras do acoplamento perceção-ação.” (Afonso et al., 2008, p. 145).
Assim na opinião de Araújo (2005) a tomada de decisão é o procedimento
fundamental onde o individuo escolhe uma ação com o propósito de resolver os
problemas colocados pelos contextos em que se encontra.
Tendo em consideração a escola e o método de ensino adotado para a
disciplina de EF, uma das maiores curiosidades apresentadas desde sempre,
fora perceber se a prática distribuída permitia uma retenção dos conteúdos
lecionados. Haveria ou não aprendizagem? Daí ter nascido o tema deste estudo,
para poder aprofundar a temática em questão e verificar, ainda que em pequena
escala, a importância ou não de ser aplicado esta metodologia de ensino.
A metodologia utilizada na ESAS é a prática distribuída, quer isto dizer que
uma modalidade dada hoje, pode voltar a ser dada apenas daqui a uma semana,
ou duas, ou até mesmo ser dada em regime de autonomia supervisionada.
147
Assim, numa mesma aula os alunos são confrontados normalmente com mais
do que uma modalidade, permitindo que numa modalidade estejam a ser dados
conteúdos e noutra estejam a relembrar e a exercitar conteúdos já abordados.
Objetivo do Estudo
O objetivo do presente estudo foi indagar/avaliar a existência de
aprendizagem, de um conteúdo estruturante do jogo de voleibol, o retorno, numa
situação de jogo 3x3 numa turma do 10º ano de escolaridade de uma escola do
norte do país.
Metodologia
Participantes
O presente estudo, realizado no ano letivo 2015/2016, contou com a
participação de seis alunos de uma turma 10ºano da escola de Braga,
matriculados na disciplina de Educação Física. Note-se que a escolha dos seis
participantes teve por base o critério da assiduidade e a nota do domínio
atitudinal do 1º Período. Tendo em conta a importância do estudo, o número de
aulas para a lecionação de educação física, o critério de escolha destes alunos
teve de englobar para além dos mais assíduos, onde a probabilidade de faltar a
uma gravação era menor, os mais responsáveis, tendo em conta o domínio
atitudinal. Só assim pude contar com os 6 alunos em todas as aulas onde era
prevista a gravação, tendo com isto facilitado a recolha dos dados e a
organização da restante turma. Os alunos selecionados foram informados sobre
o estudo em causa, sendo explicado todo o propósito do mesmo e fornecido aos
participantes uma autorização a ser preenchida pelos encarregados de
educação para a respetiva autorização. Recolhidas todas as autorizações, os
alunos escolheram as equipas, tendo decidido a sua composição (duas meninas
e um rapaz). Posteriormente foram agendadas as gravações, em função do
planeamento anual, tendo em conta as aulas previstas para a lecionação da
modalidade de voleibol. Todos os jogos foram concebidos de forma a que o
contexto de jogo fosse semelhante para os alunos ao longo de todo o estudo,
148
tendo todos os alunos participante jogado sempre com a mesma equipa e contra
a mesma equipa adversária.
Instrumentos
O instrumento de observação utilizado para a elaboração deste estudo foi o
GPAI desenvolvido por (Oslin et al., 1998) uma ferramenta adaptada por
Mesquita (2006) para a modalidade de voleibol, com o intuito de avaliar a
performance dos alunos em jogo (ANEXO VII).
O GPAI é então “ um sistema de observação multidimensional concebido
para medir os comportamentos de performance no jogo que demonstrem a
compreensão da tática, bem como a capacidade do aluno de selecionar e aplicar
as habilidades técnicas”(Graça & Mesquita, 2011, p. 155). Este instrumento é
assim usado para fins didáticos ou de investigação, sendo extremamente útil
para auxiliar o professor na avaliação da performance em jogo dos alunos (2011,
p. 156).
Adaptando o GPAI à modalidade em questão (voleibol), a componente a ser
avaliada foi a tomada de decisão. O instrumento foi adaptado de acordo com os
conteúdos abordados ao tendo em conta a etapa de jogo dos alunos. Assim
através do GPAI, foram contabilizadas as ações, classificadas num total de
“apropriadas” (A) e “inapropriadas” (I), dando origem a um índice de cálculo final
da tomada de decisão. Importa salientar que todas as filmagens foram realizadas
em contextos semelhantes, para que os alunos obtivessem oportunidades em
contexto de jogo semelhantes, ao longo das 6 aulas do estudo. Além disso, em
todos os jogos, a equipa manteve-se, tendo os participantes jogado sempre com
a mesma equipa e sempre com a mesma equipa adversária. Obtidas as
gravações das seis aulas para o estudo, eu e um segundo observador
(familiarizado com o estudo), procedemos à observação da tomada de decisão,
assinalando no GPAI todas as ações dos alunos preferidas, como “apropriadas”
(A) ou “inapropriadas” (I).
149
Procedimentos/protocolo de recolha de dados
Na primeira aula em que o conteúdo retorno foi lecionado, realizou-se uma
filmagem no final da aula, aos 6 alunos selecionados. Nas aulas sequentes em
que o conteúdo foi abordado, foram realizadas filmagens no início e no final de
cada aula. Foram filmados 5 minutos de jogo, ao longo de 6 aulas de voleibol. O
estudo foi realizado na terceira etapa de voleibol, sendo esta desenvolvida
através do jogo 3x3. As dimensões do campo de voleibol foram reduzidas
consoante o nível da turma e utilizadas as mesmas medidas do início ao fim do
estudo. A reposição das bolas em campo era feita pelos próprios alunos do
estudo, havendo sempre duas bolas disponíveis de lado de cada campo. A
observação foi sempre realizada dentro do mesmo contexto, num dos campos
do pavilhão interior. Os alunos foram avisados que sempre que se procedia à
recolha de dados/filmagem teriam de jogar voleibol sem que houvesse pausa
para qualquer tipo de distrações, devendo ainda encarar o jogo, como sempre
como uma competição verídica e real.
Procedimentos de análise dos dados
As filmagens digitais foram analisadas, através do GPAI, mais
concretamente, utilizando o Índice de Tomada de Decisão (ITD)- (nº tomadas de
decisão apropriadas a dividir pelo nº tomadas de decisão inapropriadas +
apropriadas), registando o número de vezes que ocorrem as componentes
críticas pretendidas (comportamentos). Recorreu-se à estatística descritiva, por
forma a obter resultados de frequência e percentagens de ocorrência em cada
categoria, por ação de jogo observada. Utilizou-se a média e o desvio padrão e
verificou-se a diferença entre o final e o início de cada aula e entre o início da
abordagem do conteúdo até ao seu final.
150
Apresentação dos resultados
Através da análise da tabela 1 e do gráfico 1 verifica-se que houve melhoria
do retorno no voleibol em prática distribuída.
Tabela 1- Resultados
Aluno IA1F IA2I IA2F IA3I IA3F IA4I IA4F IA5I IA5F IA6I IA6F
I 1 1 1 0,7 1 1 1 1 1 1 1
D 0,5 0,3 1 0,5 0,8 0,7 0,8 1 1 1 1
A 1 0,7 1 1 1 0,6 0,8 1 1 1 1
S 0,3 0,7 1 0,5 1 1 1 1 1 1 1
L 0,5 0,5 0,7 1 0,5 1 1 0,8 1 0,8 1
N 0 0,5 1 0,5 0 1 1 1 0,7 0,8 1
Gráfico 1- Perspetiva geral
No que diz respeito ao aluno I verificou-se de um modo geral uma
continuidade na aprendizagem do início da aula para o fim da aula e do fim da
aula para a aula seguinte, exceto um decréscimo do final da aula 2 para o início
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
IA1F IA2I IA2F IA3I IA3F IA4I IA4F IA5I IA5F IA6I IA6F
Perspetiva Geral
151
da aula 3, que rapidamente foi colmatado do início da aula 3 para o final da
mesma.
O aluno D apresenta alguma variabilidade de aprendizagem ao longo das
aulas. Da aula 1 final para a aula 2 inicial houve um decréscimo de
aprendizagem, que foi retificado no início da aula 2 para o fim da mesma aula.
Estes resultados levam-nos a concluir que com a prática dos conteúdos a ser
observados, existe melhoria quando avaliado novamente. Contudo, através dos
resultados apresentados, podemos verificar que existe sempre um decréscimo
de uma aula para outra, ainda que esse grau de piorio diminua, ou seja, apesar
de ter diminuído do final da aula 2 para o início da aula 3 e de ter aumentado no
final da mesma aula, verifica-se que comparativamente ao início da aula 3 (0.5)
para o início da aula 4 (0.7),o grau de piorio melhorou. Depois do final da aula 4
verificou-se um aumento pela primeira vez para o início da aula 5 e depois o
valor estagnou, manteve-se constante.
Relativamente ao aluno A, verificamos que houve um decréscimo na
melhoria da aprendizagem do final da aula 1 para o início da aula 2, tendo sido
recuperado o valor no final da mesma e mantido constante até ao final da 3ª aula.
Verificou-se ainda um decréscimo do final da aula 3 para o início da 4ª aula,
tendo melhorado no final da mesma e melhorando ainda mais no final da 4ª aula
para o início da 5ª. Da 5ª aula depois manteve-se até ao final o mesmo valor.
O aluno S viu a sua melhoria subir de forma positiva ao longo de três
observações, isto é, no final da aula 1 e no início e fim da aula 2. Verificou-se um
decréscimo do final da aula 2 para o início da aula 3 que foi recuperado no início
da aula 3 para o seu final e se manteve constante até ao fim da aula 6.
No que diz respeito ao aluno L, do final da aula 1 para o início da aula 2 não
houve melhoria, tendo esta sido notória do início da aula 2 para o seu final e para
o início da aula 3. No início da aula 3 para o final da mesma verificou-se um
decréscimo, sendo a melhoria verificada do final da aula 3 para o início da aula
152
4. Do início ao fim da aula 4 o valor manteve-se constante, tendo diminuído do
final da 4ª aula para o início da 5ª. Verificou-se ainda uma melhoria do início da
aula 5 para o seu final, um decréscimo do final da aula 5 para o início da 6 e por
fim um aumento do início da aula 6 para o seu final.
O aluno N apresentou melhoria do final da aula 1 para o início da aula 2 e
consecutivamente para o seu final. Contudo houve um decréscimo do final da
aula 2 para o início da 3ª e do início da 3ª para o seu fim, tendo sido recuperado
no início da aula 4. Do início da aula 4 ao início da aula 5 o valor manteve-se
constante, tendo diminuído do início da aula 5 para o seu final e melhorado do
final da aula 5 para o início da aula 6 e do início da aula 6 para o seu final.
Gráfico 2- Retorno
Através do gráfico 3, que demonstra o início de cada aula, verifica-se que a
aprendizagem foi aumentando gradualmente, havendo uma melhoria mais
acentuada no início da aula 5.
0
1
2
3
4
5
6
7
I A 1 F I A 2 I I A 2 F I A 3 I I A 3 F I A 4 I I A 4 F I A 5 I I A 5 F I A 6 I I A 6 F
RETORNO - VOLEIBOL
I D A S L N
153
Gráfico 3-Início de cada aula
Relativamente ao gráfico 4, onde se observa o final de cada aula, verifica-se
que houve um aumento da aula 1 final para a aula 2 final, um decréscimo da aula
2 final para a aula três e um crescimento da aula três para as restantes aulas até
à 6ª. No que diz respeito às diferenças entre o final e o início de cada aula,
presentes no gráfico da figura 4, averigua-se uma relação negativa entre a aula
2 e 3 e uma relação positiva entre a aula 3 e 4. Contudo apura-se que onde
existiu maior diferença foi entre o final da aula 1 e o final da aula 6, podendo
concluir, ainda que sem diferenças significativas que houve melhoria da
habilidade do retorno.
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
IA2I IA3I IA4I IA5I IA6I
Início de cada aula
154
Gráfico 4- Fim de cada aula
Em suma, numa perspetiva geral, através do gráfico da figura 5, podemos
concluir que houve melhoria do início da abordagem do retorno para o fim da
abordagem do mesmo. Contudo a melhoria verificou-se em maior escala nos
alunos D,S,L,N e os alunos I e A mantiveram os mesmos resultados.
Gráfico 5- Diferenças entre o início e o fim da aula anterior
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
IA1F IA2F IA3F IA4F IA5F IA6F
Final da cada aula
-0,3
-0,2
-0,1
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
Dif 2-1 Dif 3-2 Dif 4-3 Dif 5-4 Dif 6-4 Dif 6-1
Diferenças Início e Fim da aula anterior
155
Discussão
O presente estudo visou analisar a existência ou não de melhorias de
desempenho dos alunos, no seguimento de um conjunto de 6 aulas dadas em
prática distribuída. Os resultados mostraram que apesar das aulas serem dadas
de uma forma desfasada do tempo, os alunos numa forma geral, acabaram por
melhorar o seu desempenho no jogo, nomeadamente na subcategoria de
tomada de decisão.
No modelo híbrido utilizado em prática distribuída, verificaram-se melhorias
tanto nos rapazes como nas raparigas. Havendo apenas uma estagnação do
valor inicial para o final em duas raparigas no que diz respeito à tomada de
decisão. Assim, não podemos afirmar que houve maior proveito desta unidade
de um sexo em detrimento do outro, uma vez que o número de raparigas (4) era
superior à dos rapazes (2) e tendo duas raparigas estagnado no valor do pré-
teste para o pós-teste o número de rapazes e raparigas com melhoria ficou igual
2-2.
Apesar da não existência de estudos que utilizem a aplicação de
determinado conteúdo no voleibol num modelo em prática distribuída, existem
estudos que comprovam subsistir uma melhoria de determinadas habilidades
nas aulas de EF do pré-teste para o pós-teste. Bastos (2011) realizou um estudo
analisando o impacto da aplicação de um modelo híbrido (SE-SGA) no
desempenho do aluno no jogo, tendo em conta o sexo do mesmo, sendo
analisada o índice de tomada de decisões. Os resultados evidenciaram
melhorias no desempenho do jogo, na tomada de decisão, no ajuste e execução
habilidade para rapazes e raparigas quando confrontados com uma abordagem
hibrida. Algumas pesquisas sobre o impacto do MED (Modelo de educação
desportiva) têm mostrado melhorias significativas no jogo por parte dos alunos
na tomada de decisão e na execução habilidades (Hastie, 1998; Hastie et al.,
2009; Pritchard et al., 2008). De acordo com os resultados do presente estudo,
ambos, rapazes e raparigas, melhoraram do pré-teste para o pós-teste. Assim
156
os resultados demonstram ser possível observar melhorias no processo de
tomada de decisão dos alunos.
Refletindo acerca da melhoria/evolução dos alunos do pré-teste para o pós-
teste, os dados descobertos neste estudo são coerentes com os resultados
obtidos no estudo realizado por Pritchard et al. (2014), comprovando o
desenvolvimento de certas habilidades técnico-táticas ao longo da unidade de
Voleibol. À semelhança deste estudo, (Sousa, 2015) realizou um estudo com o
objetivo de examinar as aprendizagens dos alunos em voleibol, tendo sido
avaliados 10 alunos do 11º ano ao longo de 15 aulas com 45 minutos de tempo
útil. As performances dos alunos foram analisadas através da observação
sistemática de vídeos e através do GPAI. A recolha de dados foi realizada em
três momentos de avaliação: pré-teste, teste e o teste de retenção da
aprendizagem. Da análise efetuada, à exceção da dimensão eficácia, as
diferenças foram estatisticamente significativas em todas as dimensões do
GPAI, sendo notória a evolução dos alunos como também evidente a retenção
de aprendizagem observada após três semanas de interrupção da modalidade.
Também Araújo et al. (2015) obteve resultados positivos no que diz respeito às
melhorias significativas em todas as dimensões do GPAI, nomeadamente na
tomada de decisão.
As formas de jogo utilizadas, neste caso o 3x3, resultam do Modelo da
Abordagem Progressiva ao Jogo, que é utilizado para determinar a etapa de jogo
em que os alunos se encontram. Assim determinamos a etapa de aprendizagem
a ser abordada ao longo das aulas, de acordo com o nível de desempenho dos
alunos verificado na avaliação diagnóstica (Mesquita et al., 2013). Assim sendo,
este modelo oferece ao aluno a oportunidade de evoluir consoante as suas
necessidades. Um outro fator que pode justificar esta evolução é o facto de terem
sido utilizadas situações reais de jogo em vez de as praticar em situações
isoladas (Pritchard et al., 2008). Ou até mesmo o facto de existir melhoria da
aprendizagem por parte dos alunos pode de certa forma estar relacionado com
o trabalho desenvolvido em equipa, havendo uma gradual tomada de decisões
157
individuais que vão simultaneamente refletir-se no aumento da execução de
habilidades técnico-táticas (Pritchard et al., 2008).
Em suma, com a utilização de um modelo híbrido (MAPJ e MED) verificados
na utilização das etapas consoante o nível dos alunos e nos torneios e na
envolvência em equipa, podemos verificar que a aprendizagem acaba por ser
influenciada por estes dois modelos para proveito dos alunos. Isto é, ao utilizar
estes modelos em prática distribuída, ainda que a abordagem do conteúdo
retorno seja desfasada no tempo, quando existe efetivamente uma
aprendizagem o conteúdo acaba por ser relembrado e aplicado em contexto de
jogo. Quer isto dizer que se o aluno executa a habilidade quando esta é
solicitada, ainda que tenha de recorrer ao seu subconsciente para a relembrar,
podemos concluir que este a aprendeu.
Conclusão
Este estudo surgiu da necessidade de verificar a existência ou não de uma
melhoria da habilidade e de certa forma, da aprendizagem de um conteúdo
estruturante da modalidade de voleibol (retorno). O objetivo passou por
proporcionar aos alunos as melhores aprendizagens possíveis em contextos
apropriados, para que no final houvesse efetivamente aprendizagem adquirida
nas aulas de voleibol.
Contudo, podemos constatar que houve uma melhoria de forma geral de
todos os alunos do início das aulas para o final em que o conteúdo foi abordado
e analisado. A fundamentação desta melhoria pode ser justificada através da
utilização dos dois modelos (MAPJ e MED) que de certa forma acabaram por
influenciar de forma positiva os alunos. Com uma amostra de certa forma muito
reduzida não foi utilizado o nível de significância.
Quanto às implicações para a prática, a aplicação destes modelos e da sua
aplicabilidade em tempo desfasado, através da modalidade de Voleibol
transportou consigo algumas dificuldades iniciais, nomeadamente à organização
158
das aulas. Facto justificado pela não convivência dos alunos com estes modelos,
nem com este conteúdo.
Para futuros estudos seria interessante perceber a existência de retenção de
aprendizagem do retorno utilizando a prática distribuída, ou seja em aulas
desfasadas no tempo e em unidades didáticas seguidas no tempo. Seria também
interessante a utilização de diferentes modelos de ensino no mesmo conteúdo.
Por mais pequenas que possam ser, as limitações e os pressupostos
acabam sempre por fazer parte de todos os estudos. Salienta-se o facto de os
alunos serem informados atempadamente da recolha de dados (vídeo) durante
as 6 aulas de voleibol aleatórias. Ressalva-se ainda que em alguns momentos
do jogo, alguns alunos acabavam por desperdiçar uma oportunidade de ataque
e de respetivo retorno (habilidade estudada) porque ficavam no bloco mesmo
sem o abordar, ou então porque a oportunidade de ataque dependia muito do
primeiro toque e de como seria feita a distribuição. Ainda assim, existiam em
alguns momentos observados, os alunos “salva bolas” que acabavam por
recolocar a bola em jogo mas viam a oportunidade de ataque reduzida e
consequentemente, o retorno. E por mais que a etapa fosse adaptada ao nível
em que os alunos se encontravam, acabava por existir sempre jogadas em que
a continuidade do jogo era notória e onde havia muita possibilidade de
retornarem à posição inicial tanto no que diz respeito as ações ofensivas e
defensivas, e havia jogadas em que a bola teimava em estar sempre no chão.
Tomando a consciência que a amostra selecionada foi reduzida (6 alunos),
legitima-se que os resultados não são extensíveis ao universo populacional.
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163
5. O FIM DO INÍCIO
Revisitando o meu longo percurso, nestes cinco anos, verifico que a
faculdade me proporcionou um enorme leque de amizades, aventuras,
momentos de diversão, mas acima de tudo muito sacrifício e estudo.
O EP é o culminar de uma história, de um anseio, de um objetivo, embora
todo o futuro seja incerto. Deste Estágio Profissional retirei todas as
aprendizagens possíveis e impossíveis para poder concretizar as funções de um
bom Professor, conseguindo perceber a necessidade de conceber, planear e
refletir para uma maior evolução. O Estágio Profissional acaba por ter um papel
preponderante na vivência com a profissão. Segundo Graça (2014a, p. 56), “a
construção da formação dentro da profissão requer mudanças de mentalidades
e de atitudes, requer tempo e requer aprendizagens. Importa que os futuros
professores possam aprender com os professores mais experientes. Mas como
isso se processa, como se aprende com a experiência dos mais experientes e a
experiência própria, como se mobiliza a experiência de ensino para ajudar a
ensinar é capaz de ser bem mais difícil do que parece”. Na verdade depois desse
dia, o dia 1 de Setembro, o dia em que a minha cabeça estava formatada para o
choque com a realidade, este não aconteceu. O “choque com a realidade” como
refere Queirós (2014a, p. 73), “transformou-se deste modo numa expressão
vulgarmente utilizada para referir à situação pela qual passam os professores no
seu primeiro contacto com a docência, quando os dilemas vividos assumem uma
dimensão assustadora, fruto muitas das vezes de um distanciamento entre o
idealizado e o realmente vivido”. Choque é o que apanhávamos ao falar sobre o
estágio sem o conhecer, sem o vivenciar. Quem vai para o terreno experiencia
emoções, vivências extremamente fortes. A realidade escolar é a nossa
realidade, é o mundo, a sociedade. Assistimos às turmas uns dos outros, como
se tivéssemos três turmas e fossemos um bocadinho de cada uma, de cada
aluno.
Dou por encerrada esta jornada, aquela que aqui foi descrita por entre as
linhas que constituem o meu primeiro livro. A elaboração deste documento
164
permitiu-me refletir e reviver todos os processos deste ano de estágio e permitiu-
me vincar as razões por ter escolhido ser professora de EF.
Obrigada FADEUP por criarem um regulamento que nos obriga a
permanecer 8 horas na escola cooperante, que nos obriga a viver a escola, a
participar na DT, no DE e em todas as atividades desenvolvidas na escola. Só
assim pude vivenciar o que de melhor fazem os professores e experienciar
sentimentos, momentos e aprendizagens nunca antes sentidas, nunca antes
vivenciadas. Aprendi que só adianta falar, discordar do ensino, dos métodos, das
opções, depois de estar na prática e na realidade. Aprendi a contornar as
autoestradas carregadas de informações vindas de todos os lados e a escolher
o meu caminho, a filtrar a minha terra. Tornei-me mais exigente, mais crítica
consoante as aprendizagens e os diferentes pontos de vista apresentados.
Aprendi que a nossa realidade, a portuguesa não é fácil mas que se dermos o
nosso melhor enquanto tivermos a oportunidade, um dia a sorte virá e o ensino
sofrerá a maior reviravolta nunca antes vista. Aprendi que todos pensamos e
dizemos que o melhor é procurar noutras terras, noutros países, mas se todos
começarmos por melhorar a nossa, haverá sem sombra de dúvidas um percurso
para trilhar. Aprendi o que é o amor sem o saber explicar. Aprendi que ensinar é
a tarefa mais prazerosa na vida de alguém e que isso, só um professor sabe
fazer como ninguém. Aprendi que existem dias que não ensinamos nada, mas
por outro lado, há dias em que lhes ensinamos tudo, em que com uma palavra,
um gesto ou uma demonstração, para que eles sintam, vivenciem e percebam o
movimento tudo muda. Às vezes vamos de bagagem vazia, mas há outros dias
que ela trasborda de todas as coisas possíveis e impossíveis. E nesses dias a
confiança e a esperança reanima e renasce. Um dia, breve espero eu, seremos
o que sempre quisemos ser, na mais dura e plena essência que a vida nos pode
dar. E quando esse dia chegar seremos todos assim, felizes e cheios de energia
a transbordar. Que nunca se perca a esperança. O que sou hoje, devo-o a cada
pessoa que passou na minha vida, a todos os processos dolorosos e menos
dolorosos que me fizeram crescer e acreditar que tudo vale a pena quando nos
focamos, quando queremos muito.
165
Ser docente, assim como todas as exigências que dai advém, não é assim
tão fácil como se pensa, aliás, como eu pensava. É uma forma mais próxima de
lidar e relacionar com o ser humano, de o ajudar a educar, de provocar nele
profundas mudanças apelando ao coração, a uma força inexplicável e mágica,
“quase inacreditável e milagrosa”, que na maioria das vezes, não tem razões
óbvias nem respostas feitas e que só a vivência diária explica. Bons professores,
inspiram e fascinam, acabando por fazer os alunos aprender sem se
aperceberem. Apesar de a inteligência por si só conseguir muitas coisas, para
formar o coração é necessário recorrer aos afetos e aos sentimentos,
conseguindo assim, atingir muitos outros objetivos não programados. A
“incógnita” para nós prevalece, por um lado pelo desconhecimento da realidade
em termos de exercício, por outro com o receio de que não tenhamos «força
capaz» para defender a “nossa profissão” como os médicos, quando alegam ser
os defensores da vida humana.
É o cessar de 5 anos em prol de um objetivo, é a missão cumprida, a força
destemida, o coração cheio. O futuro é incerto, pouco certo, todo encoberto, mas
o caminho faz-se andando, caminhando para a frente, em busca da corrente que
liga a vida. Que nunca nos esqueçamos que ser professor é muito mais do que
saber dar aulas, do que transmitir conhecimentos e fazer todo o tipo de
planeamentos possíveis. A constante aprendizagem não deixa nunca de ser um
suporte e uma preparação para enfrentar o mesmo futuro. Para isso é necessário
saber adequar-me aos tempos que irão surgir nesta mesma profissão em função
dos desenvolvimentos e das temáticas inovadoras a que a mesma irá estar
sujeita. Provavelmente mais não teria a refletir se o assunto não tocasse na mais
dura ferida que é o futuro incerto, o fim de um início desconhecido. Como se a
qualquer instante todos pudéssemos ser atingidos por essa epidemia quase
sempre inevitável que nos deixa fracos e vulneráveis. Como se a vida, passasse
a ter mais significado com uma mera e tudo menos simples incerteza. Como se
a rotina fosse desfeita e nos preocupássemos mais com as coisas que realmente
importam, deixássemos de lado todas as discussões, as desavenças, os
contratempos que teimamos em não deixar de lado. Somos muito mais do que
parecemos ser, somos um conjunto de todas as outras pessoas que connosco
166
interagem, somos um poço infindável de amor, de todo o tipo de amor. E sobre
a questão da idade permitir uma melhor aceitação da perda, esqueçam … a
idade não define nada, porque bem lá no fundo nunca ninguém está preparado
para perder, para dizer adeus, ao que se ama, ao que se gosta de fazer, ao que
se lutou tantos anos para ser. Mas, nem o futuro, nem a incerteza serão capazes
de me retirar a vontade e a convicção de dar valor ao que defendo, ao que
aprendi, ao que tenho e ao que certamente vou conquistar. O futuro não sei o
que me reserva, mas vou sem medo do que me poderá oferecer e com a certeza
que, esteja do jeito que tiver, encará-lo-ei de forma firme e convicta do que
sempre quis, do que quero e prometerei defender a EF até que as forças me
faltem e a voz me doa.
Todas as expectativas vividas este ano foram correspondidas e
ultrapassadas em muitos dos casos. A escola foi uma referência, assim como os
docentes que a constituíam e o PC que se tornou desde sempre exemplar para
acompanhar o nosso processo. O PO foi um excelente mentor e os meus colegas
de estágio o meu núcleo da sapatilha para sempre. Os meus alunos, por serem
os meus, foram os melhores do mundo, os primeiros para sempre. Relativamente
a perspetivas futuras, posso dizer que me encontro sempre com o passaporte
na mão, pronta para embarcar na primeira viagem que esta profissão me
destinar. Não desistirei do que acredito, do que defendo. Um dia, em breve serei
professora Margarida, a professora de EF.
Aprendi imenso mas ainda tenho tanto para aprender.
167
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XXV
ANEXOS
Anexo I- Ficha informativa do aluno
XXVI
XXVII
Anexo II- Planeamento anual 1ºPeríodo
XXVIII
Anexo III- Domínio Atitudinal (participação e empenhamento nas 3 áreas
consideradas: eu-eu, eu-tarefa, eu-outros).
XXIX
Anexo IV- Prova Troféu ESAS – Peddy Papper
XXX
Anexo V- Prémios do Evento Culminante
XXXI
Anexo VI- Cartaz do Sarau de Ginástica
XXXII
Anexo VI- Categorias de observação e componentes críticas do GPAI para o
Voleibol adaptado a partir de Oslin et al. (1998) proposto por Mesquita (2006)
XXXIII
Anexo VII- Medidas da performance do GPAI para o Voleibol adaptado a partir
de Oslin et al. (1998) adaptado por Mesquita (2006)