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Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso | 1
Júnior Macambira
Francisca Rejane Bezerra Andrade
Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos
PROGRAMA JUVENTUDE EMPREENDEDORA:
UM OLHAR SOBRE O TRABALHO
E A VIDA DO JOVEM EGRESSO
Fortaleza
2013
2 | Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso
Estudo realizado pelo Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) - Organização Social Decreto Estadual nº 25.019,
de 03/07/98.
Coordenação da Pesquisa
Júnior Macambira
Suzana de Sousa Cavalcante Barreira
Elaboração
Júnior Macambira
Francisca Rejane Bezerra Andrade
Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos
Equipe Técnica Arlete da Cunha de Oliveira
Diórgia Maria Dias de Carvalho
Maria Simone Mendes Nunes
Raimunda Maryane Mendes Saraiva
Rosaliane Macedo Pinto Quezado
Suzana de Sousa Cavalcante Barreira
Apoio Técnico Alana Cintia Almeida Saraiva
Anna Ligia da Costa Santos Vieira
Camila Bezerra Alves
Cícera Edilânia Rodrigues Silva
Elionelma Guimarães Lima
Glauber Augusto Lira Sousa
José Arimatea Brito
Josicleyton de Souza Vieira
Lindon Johnson G. C. de Azevedo
Lucivânia Cordeiro Inácio
Maria Risete Nogueira Maia
Mawrely Saraiva Lima
Raremy Ribeiro dos Santos
Ricardo César Alves Torres
Samara Silva Angelo
Selênia Maria Feitosa e Paiva
Thiago Oliveira Barbosa
Editoração eletrônica e layout Clayton Queiroz de Oliveira
Raquel Marques Almeida Rodrigues
Revisão Vernacular Regina Helena Moreira Campelo
Normalização Bibliográfica
Paula Pinheiro da Nóbrega
Correspondências para:
Instituto de Desenvolvimento do Trabalho - IDT
Av. da Universidade, 2596 - Benfica
CEP 60.020-180 Fortaleza-CE
Fone: (085) 3101-5500
Endereço eletrônico: [email protected]
M114p Macambira, Júnior.
Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a
vida do jovem egresso / Júnior Macambira, Francisca Rejane Bezerra
Andrade, Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos. – Fortaleza : Instituto de
Desenvolvimento do Trabalho : Universidade Estadual do Ceará : Banco do
Nordeste do Brasil, 2013.
45 p.
1. Juventude. 2. Trabalho. 3. Desenvolvimento Social. I. Andrade,
Francisca Rejane Bezerra. II. Santos, Geórgia Patrícia Guimarães dos. III.
Título.
CDU: 314:331.5
Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso | 3
Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT)
Francisco de Assis Diniz
Presidente
Antônio Gilvan Mendes de Oliveira
Diretor de Promoção do Trabalho
Sônia Maria de Melo Viana
Diretora Administrativo-Financeira
Francisco de Assis Papito de Oliveira
Diretor de Estudos e Pesquisas
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 7
2 JUVENTUDE E JUVEMP:
O PERFIL SOCIOECONÔMICO E FAMILIAR DOS EGRESSOS 9
3 ASPECTOS DA OCUPAÇÃO E DO MERCADO DE TRABALHO:
UMA ANÁLISE DA SITUAÇÃO OCUPACIONAL DOS
JOVENS EGRESSOS DO JUVEMP 18
4 AVALIAÇÃO DO PROGRAMA JUVENTUDE EMPREENDEDORA
(JUVEMP) NA ÓTICA DO JOVEM EGRESSO 30
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 42
REFERÊNCIAS
Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso | 7
1 INTRODUÇÃO
O Programa Juventude Empreendedora (JUVEMP) é uma iniciativa do governo do
Estado do Ceará, para favorecer o desenvolvimento dos valores de responsabilidade social e da
cultura empreendedora na formação dos jovens em situação de maior fragilidade social e
econômica, na faixa etária de 17 a 24 anos, visando sua integração na comunidade, na sociedade e
no mercado de trabalho.
O referido Programa, desde sua criação em 2006 até 2010, contemplou 36 municípios,
totalizando 1800 jovens. Em sua primeira versão (2007), participaram 400 jovens; em 2008, 500
jovens foram contemplados pelo Programa; em 2009, 450 jovens e, em 2010, 450 jovens.
Baseado num processo de aprendizagem teórico-vivencial, tornando o educando, num
contexto de trabalho em grupo, apto ao exercício de suas competências e habilidades, bem como
de aplicar conhecimentos multidisciplinares assimilados, o Programa JUVEMP apresenta uma
concepção metodológica fundamentada no desenvolvimento social, profissional e pessoal do jovem
a partir da conscientização de suas possibilidades em ações coletivas organizadas.
Considerando a relevância do referido Programa para os jovens que se encontram em
situação de vulnerabilidade social, no Ceará, ao buscar minimizar as possíveis lacunas na formação
básica destes, bem como qualificá-los profissionalmente e proporcionar-lhes vivências práticas de
intervenção social na sua comunidade, o Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) realizou uma
pesquisa com o objetivo de avaliar o impacto do Programa Juventude Empreendedora (JUVEMP) na
inserção ocupacional do jovem egresso e em sua vida familiar e comunitária.
Em termos metodológicos, os pesquisadores responsáveis por desenvolver o estudo adotaram o
procedimento de selecionar uma amostra em dois estágios: no primeiro, o sorteio dos municípios, no
segundo, os jovens beneficiários do Programa, nos respectivos municípios amostrados.
Como os municípios do universo apresentam características homogêneas, foram
selecionados dez municípios, observando os critérios da área de localização, ou seja, atendendo às
regiões do estado e, em segundo lugar, a quantidade anual de ações nos respectivos municípios. Por
conseguinte, o sorteio da amostra do segundo estágio ocorreu de forma aleatória e sistemática,
utilizando a listagem dos beneficiários do Programa residentes nos municípios pesquisados.
Finalmente, o levantamento foi realizado nas unidades domiciliares dos jovens selecionados dos dez
municípios contemplados pelo Juvemp, no período de 2007 a 2010.
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O tamanho da amostra dos jovens foi definido a partir de um modelo probabilístico de
amostragem aleatória simples, aplicando como parâmetro p-50%. Estipulando um erro de amostragem de
7% e um nível de confiança de 95%, o que estabelece um escore de 1,96 sob a curva normal, delineou-se
uma amostra de 180 jovens distribuídos em dez municípios, representando uma fração de amostragem de
10% do total de jovens assistidos pelo Programa, ou seja, 180 jovens.
Os municípios contemplados na pesquisa foram: Aracati (21 questionários aplicados);
Camocim (19 questionários); Cedro (18 questionários); Fortaleza (12 questionários); Monsenhor
Tabosa (20 questionários); Guaiuba (15 questionários); Limoeiro do Norte (18 questionários);
Maracanaú (9 questionários); Paraipaba (20 questionários); Ubajara (28 questionários). Ressalte-se
que a amostra desenhada é representativa para a análise global, não sendo possível fazer inferência
isolada para os municípios.
Este relatório apresenta os resultados desta pesquisa através da descrição da situação
socioeconômica e familiar do jovem pós-participação no Programa, caracterizando o perfil do egresso; a
avaliação da importância do Programa para a atuação do jovem egresso em sua comunidade; os
aspectos da ocupação e do mercado de trabalho; e a avaliação do JUVEMP na ótica do jovem egresso.
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2 JUVENTUDE E JUVEMP:
O PERFIL SOCIOECONÔMICO E FAMILIAR DOS EGRESSOS
Neste primeiro momento da análise sobre o impacto do Programa Juventude
Empreendedora na inserção ocupacional do egresso e em sua vida familiar e comunitária, abordam-
se os aspectos relacionados a quem são estes jovens. Gênero, idade, etnia, estado civil e quantidade
de filhos, por exemplo, foram as características investigadas para traçar o perfil do egresso, além da
identificação da importância do auxílio bolsa para eles e do nível de participação na vida
econômica familiar.
Os dados coletados na amostra indicada revelaram que houve uma participação maior no
JUVEMP do jovem do sexo feminino (64,4%) em comparação aos do sexo masculino (35,6%), porém,
observando a faixa etária, vale acrescentar que, entre os homens, 85,9% estão acima de 20 anos de
idade, enquanto entre as mulheres, são 75%. Esta situação, contudo, inverte-se quanto à faixa etária de
17 a 19 anos, em que se encontram mais mulheres (25%) do que homens (14,1%).
Verifica-se assim uma consonância com o olhar demográfico de alguns pesquisadores
sobre os jovens brasileiros, no qual se percebe um envolvimento maior das mulheres com os
estudos, especificamente com a qualificação profissional, o que remete a busca de uma melhor
preparação para o mercado de trabalho, da independência financeira e profissional feminina,
indicando que estas necessidades têm se posto cada vez mais precocemente para elas. Como
avaliam Camarano; Mello e Kanso (2009, p. 85), as trajetórias dos jovens brasileiros são
diferenciadas por sexo: “as mulheres passaram a participar mais ativamente do mercado de
trabalho, e diminuiu expressamente a proporção de mulheres que saíram da escola e não
ingressaram nas atividades econômicas”.
O fato de, pela amostragem, o JUVEMP ter contemplado mais mulheres do que homens,
sendo eles mais velhos que elas, pode indicar porque, em comparação com as mulheres, entre os
homens existiram mais educandos com experiência anterior em programas governamentais de
qualificação profissional para a juventude. Essa diferença é mais de 2,7 vezes, todavia 88,9% dos
participantes não tinham frequentado outros programas governamentais de capacitação para
jovens, sendo 93,1% das mulheres e 81,2% dos homens.
Ademais, não somente o gênero tem influenciado na condição de ser jovem, mas a cor da
pele ou a indicação étnica/raça também deixa suas marcas nessa trajetória. No âmbito do JUVEMP,
ao se considerarem, em sua maioria, de cor parda, ambos os sexos mantiveram uma quantidade
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equilibrada: 66,4% delas e 64,0% deles. Todavia, no que diz respeito ao cruzamento entre sexo, faixa
etária e etnia, pode-se dizer que houve mais jovens pardos, na idade de 17 a 19 anos (77,8%), do que
entre as pardas da mesma faixa etária (62,1%), enquanto na idade acima de 20 anos, existiram mais
mulheres pardas (67,9%) do que homens (61,9%).
“O Perfil da Raça Cearense”, elaborado pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica
do Ceará (IPECE), a partir da análise dos dados do Censo Demográfico de 2010, do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), demonstrou que dos 8.180.087 habitantes do Ceará, 61,88%
autodeclaram-se pardos – resultado um pouco acima do apresentado pelo Nordeste e bem superior ao
do Brasil (43%), mas que colocou o estado em 8º lugar no ranking nacional. (IPECE, 2012). Nesse
sentido, é notável que o JUVEMP tem atendido quantitativamente um número expressivo de jovens que
compõem a maior parcela da população cearense, ou seja, o segmento das pessoas pardas,
possibilitando, assim, uma ampliação de suas ações, mesmo sendo um Projeto de caráter focalizado.
Seguindo no perfil dos jovens egressos do JUVEMP, referente ao estado civil, os dados
indicam que 70% dos participantes da pesquisa são solteiros, ou seja, 126 egressos. Entre todas as
jovens mulheres consultadas, 63,8% são solteiras e, no conjunto dos homens pesquisados, 81,2%
também são solteiros. Apenas um homem com idade acima de 20 anos é divorciado e os demais
consultados são casados (36,2% das mulheres e 17,2% dos homens).
Observou-se ainda que: entre os homens de 17 a 19 anos e aqueles acima de 20 anos,
respectivamente, 77,8% e 81,8% não constituíram matrimônio. No que diz respeito às mulheres, o maior número
de solteiras está na faixa etária mais jovem: são 72,4% de 17 a 19 anos e 60,9% acima de 20 anos.
Verificou-se também que os jovens do sexo masculino, com idade entre 17 a 19 anos,
concentram um maior número de casados (22,2%), quando comparado com aqueles com idade
acima de 20 anos, nos quais apenas 16,4% firmaram matrimônio. Todavia, entre as jovens
mulheres, esta comparação se inverte: 39,1% daquelas com idade acima de 20 anos e 27,6% das
com idade entre 17 e 19 anos são casadas.
No que diz respeito aos resultados sobre a quantidade de filhos por sexo e estado civil
dos egressos do JUVEMP (2007-2010) pesquisados, avalia-se que a maioria das jovens do sexo
feminino, tanto solteiras como casadas, não tem filhos – 89,1% e 54,7%, respectivamente. Essa
mesma conclusão é referida aos jovens do sexo masculino, que tanto os solteiros (98,1%) como os
casados (63,6%) também não possuem filhos.
Mas, na oportunidade, cabe destacar que 18,1% das jovens mulheres contempladas na
pesquisa e 7,8% dos jovens homens têm um filho, sendo que 38,1% delas e 27,3% deles são casados
contra 6,8% e 1,9% que são, respectivamente, solteiros. Sobre os que possuem mais de um filho, a
amostragem total revelou-se insignificante, 1% indicou ter três filhos e menos de 3%, dois filhos.
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A partir desse compêndio, e de acordo com as considerações de Camarano e Andrade
(2006), pode-se dizer que os lares onde residem os egressos do JUVEMP participantes dessa
pesquisa se caracterizam, em sua maioria, como domicílios com jovens, haja vista eles não
ocuparem condição de chefe ou cônjuge, como seria o caso dos domicílios de jovens. As autoras
pressupõem que a posição de um indivíduo no domicílio pode indicar seu status e, no caso dos
jovens, sugerir o estágio em que se encontram no processo de passagem à vida adulta.
Nesse sentido, as informações da pesquisa indicam que, entre as jovens solteiras
(44,5%), o genitor é o principal responsável pela renda familiar e, em 31,1%, a mãe é a principal
provedora do lar. No conjunto das jovens casadas, percebeu-se que 64,3% das famílias são
mantidas financeiramente pelo cônjuge ou companheiro. Entre os jovens solteiros, a situação é
muito similar, 44,2% têm o pai como chefe de família e 32,7%, a mãe. Contudo, entre 45,4% dos
jovens casados, eles próprios são os mantenedores financeiros do lar.
Costanzi (2009) alerta para o fato de que existem implicações diretas no mercado de trabalho
juvenil quando o jovem se torna a pessoa de referência econômica no lar, na medida em que isso ocorre
mais por necessidade do que por escolha voluntária. De pronto, vale ainda ressaltar que, entre 27,3% dos
jovens casados pesquisados, o pai continua sendo o principal responsável pelo sustento familiar, ou seja,
mesmo tendo constituído família, estes jovens permanecem dependentes de seus genitores.
Desta feita, as inferências até o momento sinalizam para o fato de que, entre os egressos do
JUVEMP pesquisados, a maioria das famílias desses jovens depende financeiramente do pai e/ou da mãe;
as jovens mulheres casadas são dependentes de seus cônjuges ou companheiros; e a maior parte dos
jovens homens casados é responsável pelo próprio sustento e de sua família.
Vale considerar que a pesquisa denotou que a média de pessoas que moram com o
egresso do JUVEMP é de 4,24 e, dessas pessoas contabilizadas, 2,07 possuem renda própria, isto é,
menos da metade das pessoas residentes possui alguma renda.
Quando a análise se direciona para o sexo, observa-se que a média de pessoas que
moram com as jovens mulheres é de 4,28 – maior que a dos jovens homens (4,19). Entretanto,
apesar de haver uma média maior em termos de quantidade de pessoas residindo com o jovem do
sexo feminino, a média de pessoas com renda própria é menor (1,90) do que a recebida por aqueles
que residem com os jovens egressos do sexo masculino (2,38).
Estes dados mostram que o Projeto Juventude Empreendedora, no período em questão
(2007-2010), atendeu aos jovens cujas famílias não possuem renda suficiente para suprir suas
necessidades básicas – individuais e coletivas. Portanto, não por acaso, os jovens procuram sua
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inserção no mercado de trabalho no intuito ou de contribuir com o sustento da família ou de, ao
menos, satisfazer seus anseios individuais.
Por isso, a contrapartida de um auxílio financeiro durante a realização do curso
profissional tornou-se tão importante. O jovem se vê na possibilidade de se qualificar para o
mercado de trabalho e, concomitantemente, contribuir com o seu sustento ou de sua família,
mesmo que o valor disponibilizado seja considerado irrisório, como é a quantia de R$ 60,00
(sessenta reais) mensais, no caso do JUVEMP.
Dos jovens egressos contemplados neste estudo, a maioria, independente do sexo, faixa
etária, etnia, estado civil e até quantidade de filhos, afirmou a importância do auxílio bolsa do
JUVEMP por, primeiramente, contribuir para a aquisição de bens de consumo individual (50,4%) e, em
segundo lugar, de bens de consumo familiar (28,9%). Apenas 6,7% disseram que puderam fazer
alguma poupança para o futuro com o auxílio oferecido e, para 1,6%, ele não teve importância. Os
demais indicaram outro significado para o recebimento deste auxílio.
Com relação à descrição por sexo e faixa etária de 17 a 19 anos, houve algumas
diferenças relevantes sobre a indicação da importância do auxílio bolsa. A maioria das mulheres
(52,1%) e dos homens (64,3%) considerou que o auxílio contribuiu para a aquisição de bens de
consumo individual. Todavia, um número maior de mulheres (10,9%) indicou a contribuição do
auxílio para uma poupança, em comparação aos homens (7,1%), e uma quantidade um pouco
maior entre os homens (28,6%), em comparação às mulheres (26,1%), ainda nesta mesma idade,
indicou a aquisição de bens de consumo familiar.
Quanto aos jovens acima de 20 anos, as indicações foram mais aproximadas, pois tanto as
mulheres (49,4%) como os homens (49,5%), relacionaram a contribuição do auxílio à compra de bens de
consumo individual. Com relação à aquisição de bens de consumo familiar, 29,5% das mulheres e 29,3%
dos homens marcaram essa opção e, concernente à composição de uma poupança, a diferença foi também
pequena – 5,8% das mulheres contra 6,1% dos homens.
Nem o estado civil nem tampouco a quantidade de filhos mudaram a referência do
auxílio como um contributo importante ao acesso de bens de consumo individual, embora 31,7%
dos casados; 27,5% dos solteiros, juntamente com 35,4% dos que possuem um filho, tenham
considerado importante este auxílio para a aquisição de bens de consumo familiar. Mais da metade
(52,6%) dos solteiros; 46,5% dos casados; 51,2% dos que não possuem filhos e metade dos que
têm um filho marcaram o uso do auxílio voltado ao consumo individual.
Para uma certificação mais aprofundada sobre esta e outras questões, entrevistaram-se
os familiares de alguns dos egressos pesquisados, escolhidos aleatoriamente. Das 28 famílias
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inquiridas, treze também disseram que o auxílio financeiro recebido pelo egresso foi de suma
importância para aquisição de bens de consumo individual. Alguns comentários dos familiares
entrevistados ilustram esta assertiva:
“Era bom, ajudava nas despesas dele. O valor não era assim muito, mas ajudava pra que ele
pudesse comprar o que ele tava precisando, enfim, só servia pra ele mesmo...” (Família 3 - Maracanaú).
“Era bom, ajudava a comprar as coisa dele, aqui pra casa também. Ele já chegou até a
comprar um tênis, na prestação... Pra você ver, era muito bom. Era ajuda mesmo, minha filha”.
(Família 4 - Maracanaú).
“Foi bom, foi ajuda em casa. Você me desculpe aí, mas eu acho que era pouco, mas era
só pra ela, pra comprar as coisa pra ela, aí dava...” (Família 4 - Guaiúba).
Para onze familiares entrevistados, o auxílio bolsa também foi muito importante para a
aquisição de bens de consumo da família, conforme indicam as falas a seguir:
“Ah, foi uma ajuda, melhorou muito as condições com esse valor aí. Ela podia comprar umas
coisinha pra ela, ajudar a comprar alguma coisa pra casa. Era muito bom!” (Família 3 - Guaiúba).
Era bom, ajudava a comprar as coisa dele, aqui pra casa também. Ele já chegou até a
comprar um tênis, na prestação... Pra você ver, era muito bom. Era ajuda mesmo, minha
filha. A gente comprava alimento, às vez uma coisa aqui, um gás. Ele ficava com um
poquim pra ele pra comprar as coisinha dele e me dava o resto. Ele dizia assim: Taí mãe
pra ajudar aqui em casa. (Família 4 - Maracanaú).
“Era um incentivo do governo para que os jovens não desistissem do curso, além de
ajudar nas despesas de casa e também pessoais” (Família 2 - Camocim).
Os demais familiares ou consideraram sem importância o auxílio, devido à relevância
do próprio curso, ou indicaram aspectos mais subjetivos que a administração de um aporte
financeiro, embora pequeno, pôde proporcionar na vida de um jovem, como responsabilidade e
incentivo de continuar estudando.
Com relação à participação na vida econômica da família, pelo Gráfico 1, é possível
compreender que mais da metade (51,6%) dos jovens egressos do JUVEMP pesquisados, ainda que
trabalhe, é dependente financeiramente. Ou melhor: 48,2% das mulheres e 21,9% dos homens não
trabalham e têm seus gastos custeados; 12,1% das mulheres e 14,1% dos homens trabalham, mas
não são independentes economicamente.
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Gráfico 1 - Jovem Egresso do JUVEMP, por Sexo, segundo a Participação na Vida Econômica da Família
Mar.-Abril/2012 (%)
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
Em todos os itens em que os jovens de ambos os sexos trabalham, a mulher aparece
com uma participação menor em relação ao homem, sobretudo no que se refere à independência
financeira e à inserção de alguma forma no sustento da família. Observou-se que 7,8% dos jovens
do sexo masculino, consultados pela pesquisa, trabalham e são independentes financeiramente,
contra 5,2% das mulheres. Entre os que trabalham e são responsáveis pelo sustento da família,
têm-se 5,2% das jovens e 9,4% dos jovens, os que trabalham e contribuem para o sustento da
família (sem serem os responsáveis) aparecem 29,3% das mulheres e 46,8% dos homens.
As análises sobre a participação do jovem na vida econômica da família confirmam
como se tornaram mais complexas as etapas para o início da vida adulta, quais sejam: a partida da
família de origem, a entrada na vida profissional e a formação de um casal. (SPOSITO, 1997). Há,
inclusive, nesta fase de transitoriedade – passagem da heteronomia da criança para a autonomia
do adulto –, a abertura de múltiplas possibilidades: i) o exercício do trabalho; ii) a situação de
desemprego recorrente; iii) a condição antecipada de pai ou mãe, com família constituída ou
mesmo isoladamente; iv) a fase de estudo na residência dos pais e dependentes deles; v) a fase de
estudo com residência distante dos pais e dependentes deles; vi) a fase de estudo com vida
independente e com família própria; vii) situação de possuir mais de 24, na condição de
desempregado ou de ocupação com rendimento insuficiente, tornando-o dependente dos pais,
entre outras circunstâncias. (POCHMANN, 2004).
Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso | 15
É dentro desse caleidoscópio de possibilidades que se contextualiza a situação atual
dos egressos do JUVEMP informantes desta pesquisa. Nota-se que, entre os jovens casados, 41,6%
não trabalham e seus gastos continuam sendo custeados pela família. Esta situação não difere
muito daqueles que estão solteiros, dos quais 37,3% permanecem na mesma situação dos
anteriores. Ainda entre os jovens casados, 58,4% trabalham, sendo que somente 3,8% são
independentes financeiramente; 11,3% são responsáveis pelo sustento da família; 35,8% (a
maioria) contribuem com a renda familiar, isto é, necessitam do auxílio de outros membros da
família; e 7,5%, apesar de trabalharem, não são independentes.
Em relação aos jovens solteiros, a percepção é praticamente a mesma da dos casados,
com algumas variações. Cabe registrar que a quantidade de solteiros que trabalham e não são
independentes financeiramente (15,1%) é o dobro da dos casados (7,5%) enquanto o número de
solteiros que trabalham e contribuem para o sustento da família é quase o mesmo dos casados
(diferença de 0,1%). Além disso, a porcentagem dos solteiros que trabalham e são responsáveis
pelo sustento da família (4,8%) é menos da metade da porcentagem dos casados.
No que diz respeito à condição de estudo e trabalho, verifica-se uma tendência dos
egressos do JUVEMP pesquisados em somente trabalhar (45%) ou de conciliar as duas atividades
(16,1%), embora exista um número preocupante (26,1%) que não exerce nenhuma dessas
atividades, conforme revela o Gráfico 2.
Gráfico 2 - Jovem Egresso do JUVEMP, por Sexo, segundo a Situação de Estudos e Trabalho
Mar.-Abril/2012 (%)
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
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Percebe-se ainda que o número de jovens mulheres que não trabalham nem estudam é mais
que o triplo dos homens. Isto provavelmente se relaciona ao fato de que, entre as mulheres, a despeito das
transformações geradas na constituição familiar, do maior acesso feminino às salas de aula e ao mercado
de trabalho, persiste quase que intocável a sua responsabilidade pelas atividades domésticas e pelo
cuidado com os filhos. Com esse acúmulo de responsabilidades, a mulher passa a ter menos
disponibilidade para o estudo e ao trabalho, sendo mais seletiva ao se atentar para algumas
condicionalidades impostas por sua longa jornada: trabalhar ou estudar próximo da moradia ou da escola
dos filhos, não poder dormir no trabalho, não assumir extensa carga horária, etc.
Considera-se, nesse sentido, que o estado civil pode interferir na situação de estudo e
trabalho dos jovens. Importa notar, então, que o número de jovens solteiros egressos do JUVEMP,
que somente estudam (15,1%), é o dobro do dos casados (7,5%). Conciliar estudo e trabalho
também se mostra como uma possibilidade maior entre os solteiros (19,8%) do que entre os
casados (7,5%). Entre aqueles que somente trabalham, tem-se pouco mais da metade dos casados
(51%) contra 42,9% dos solteiros. Todavia, há mais casados (34%) sem trabalhar nem estudar do
que entre os solteiros (22,2%).
Costanzi (2009) elucida que quando os jovens de famílias ou domicílios com baixa
renda per capita ocupam a posição de pessoas de referência e têm filhos, eles tendem a ter maior
necessidade de ingressar precocemente no mercado de trabalho para contribuir com a renda
familiar, encontrando, por conseguinte, mais dificuldades para continuar os estudos. Esta
provavelmente deve ser a situação da maior parte dos egressos pesquisados que só trabalham.
Nesse sentido, a Tabela 1, a seguir, retrata a situação de estudo e trabalho dos egressos do JUVEMP
pesquisados e sinaliza o quanto é preeminente o envolvimento deles com a atividade laboral,
inclusive nas idades mais jovens.
Tabela 1 - Jovem Egresso do JUVEMP, por Sexo e Faixa Etária, segundo a Situação de Estudo e Trabalho -
Municípios do Juventude Empreendedora Mar-Abril/2012
Situação de estudo e trabalho
Sexo/Faixa etária
Feminino Masculino
17 a 19 anos 20 anos ou mais 17 a 19 anos 20 anos ou mais
estuda e trabalha 10,3 12,6 33,3 21,8
somente estuda 6,9 16,2 22,3 9,1
somente trabalha 51,8 35,6 33,3 58,2
não trabalha nem estuda 31,0 35,6 11,1 10,9
Total 100 100 100 100
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso | 17
Pela Tabela 1, observa-se que as jovens do sexo feminino, atualmente a maior parte delas,
independente da faixa etária, ou estão envolvidas somente com o trabalho ou não trabalham nem
estudam. Contudo, verificou-se maior esforço dos homens em conciliar estudo e trabalho, porém há um
número menor que não trabalha nem estuda. Outro aspecto importante é que as mulheres de 17 a 19
anos estão envolvidas somente com o trabalho (51,8%), em contrapartida, são os homens mais velhos
(acima de 20 anos) que estão nesta situação.
A propósito dos aspectos relacionados ao mercado de trabalho juvenil, após esta
caracterização socioeconômica e familiar do egresso do JUVEMP (2007-2010), esta pesquisa se
deteve na investigação da situação ocupacional desses jovens, como indicado a seguir.
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3 ASPECTOS DA OCUPAÇÃO E DO MERCADO DE TRABALHO:
UMA ANÁLISE DA SITUAÇÃO OCUPACIONAL DOS
JOVENS EGRESSOS DO JUVEMP
As estatísticas sobre a situação do jovem no mercado de trabalho sempre revelam elevadas
taxas de desemprego, quando comparadas às dos adultos. Tal situação não é um fenômeno isolado do
Brasil, mas um cenário na maioria dos países. Fatores como renda, ausência de qualificação profissional,
nível de escolaridade, pouca experiência, entre tantos outros aspectos, acirram o grande descompasso e o
distanciamento de jovens e adultos no mundo do trabalho.
Considerando a realidade dos jovens egressos do Projeto Juventude Empreendedora
(JUVEMP), a pesquisa revelou que 61,7% deles se encontravam ocupados. Um dos fatores que pode
contribuir para esse nível de inserção é o fato de o Programa JUVEMP possuir uma meta de inclusão
de 30% de seus beneficiários, ou seja, a existência dessa iniciativa, em parceria com os segmentos
produtivos da economia e com a administração pública, acaba, em grande medida, proporcionando
um canal mais rápido para o mercado de trabalho. É importante lembrar ainda os obstáculos e os
labirintos que tanto dificultam o ingresso de milhares de jovens no mundo do trabalho, o que os
tornam mais vulneráveis, se comparados a outros segmentos populacionais, principalmente quando
fatores como: diferenças sociais, padrão de rendimento, raça/cor, entre outros, são também
considerados. Estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) indica que
A magnitude do desemprego entre os jovens guarda relação direta com aspectos de
natureza demográfica e estruturais associados ao mercado de trabalho. Pelo lado da
oferta, a pressão de origem demográfica ainda se faz presente, fruto, sobretudo, da onda
jovem, que vem gerando efeitos de caráter duradouro. (OIT, 2012, p. 67).
O estudo da OIT ainda observa que
Esse processo irá manter-se, embora com uma intensidade cada vez menor, até o final da
próxima década. Ou seja, pelo lado da oferta, o desafio será o de conviver com uma
pressão por novos empregos de origem demográfica, provocada pela onda jovem, pelo
menos até 2020, apesar desse fenômeno já ter começado a se atenuar na segunda metade
da atual década. (OIT, 2012, p. 67).
Mesmo diante da realidade apresentada pela OIT, é fato que a pressão dos jovens por
um espaço no mercado de trabalho continua sendo intensa, levando-os, muitas vezes, à renúncia
de seus estudos para antecipar seu ingresso no mundo do trabalho, principalmente os jovens de
famílias mais pobres. Para estes, postergar esse ingresso na vida laboral é algo ainda distante, sem
Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso | 19
falar das consequências futuras dessa decisão, como disputa desigual por melhores salários,
melhores ocupações, poucas chances de mobilidade ocupacional, entre outras situações. E, no caso
dos jovens do JUVEMP, 17,2% dos entrevistados afirmaram não estar ocupados, mas procurando
trabalho, sendo que 21,1% não estavam ocupados tampouco procurando trabalho, numa clara
demonstração de inatividade. Esta, por sua vez, possui uma dupla dimensão: a primeira, quando
torna evidente o caráter de uma certa fadiga das pessoas quando buscam uma inserção
ocupacional durante um longo tempo e não a encontram, o que gera estado de desânimo e falta de
confiança no mercado; a outra, quando assenta no “alongamento da inatividade como alternativa
de postergação do desemprego juvenil e de maior preparação para o ingresso da juventude no
mercado de trabalho em condições menos desfavoráveis”. (POCHMANN, 2001, p. 36). Para Gonzalez
(2009), no caso das mulheres, essa realidade reflete ainda a dedicação de muitas jovens aos
cuidados domésticos e familiares. Porém, em grande medida, o que ocorre é que os jovens que
saem da escola encontram dificuldade tanto em se empregar como em se manter no emprego.
Tabela 2 Jovem Egresso do JUVEMP, segundo a sua Situação Ocupacional Municípios do Juventude
Empreendedora Mar.-Abril/2012
Situação ocupacional %
Ocupado 61,7
Não está ocupado, mas procurou efetivamente trabalho nos últimos 30 dias 17,2
Não está ocupado e nem procura trabalho 21,1
Total 100,00
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
É importante ainda destacar que a maioria (68,5%) dos jovens egressos do JUVEMP ocupados
pretende mudar de ocupação e de estabelecimento, numa clara demonstração de que eles almejam
melhores oportunidades de trabalho e de renda, enquanto outros jovens afirmaram a intenção de
continuar na mesma ocupação e no mesmo estabelecimento (14,4%) ou ainda permanecer na mesma
ocupação, mas em outro estabelecimento (14,4%). Neste último caso, nota-se, na opinião dos jovens
entrevistados, a necessidade de mudança, de ampliar novas conquistas e espaços para seguir uma melhor
carreira profissional. Outra característica dos jovens ocupados, identificada na pesquisa, é o desejo de
continuar trabalhando no próprio município (72,1%), fato que pode estar relacionado à importância de
manter o vínculo com a sua cidade, às suas raízes e, acima de tudo, com os seus familiares. Para uma
outra parcela dos jovens, 21,6%, o anseio é o de trabalhar em outro município do estado, ou seja, procurar
alternativas, mudanças em sua trajetória ocupacional. Por último, apenas 6,3% dos jovens entrevistados
afirmaram ter vontade de trabalhar em outro estado.
20 | Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso
Tabela 3 Jovem Egresso do JUVEMP, segundo a sua Pretensão em relação ao Mercado de Trabalho - Municípios
do Juventude Empreendedora Mar.-Abril/2012
Pretensão %
Continuar na mesma ocupação e no mesmo estabelecimento 14,4
Continuar na mesma ocupação, mas em outro estabelecimento 14,4
Mudar de ocupação e de estabelecimento 68,5
Mudar de ocupação, mas permanecer no mesmo estabelecimento 2,7
Total 100,00
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
Gráfico 3 Jovem egresso do JUVEMP, segundo a sua Pretensão em relação ao Mercado de
Trabalho - Municípios do Juventude Empreendedora Mar.-Abril/2012
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
Considerando os resultados demonstrados há pouco, nota-se ainda que, para os jovens
ocupados, 49,6% permanecem na mesma ocupação desde o término de sua participação no
JUVEMP. Este quadro, aparentemente, pode ser considerado positivo, haja vista que, para a maioria
dos jovens, o emprego mostra-se mais estável, até mesmo entre os que, na passagem do JUVEMP
para o mercado de trabalho, já se encontravam em sua segunda ocupação, situação vivenciada por
35,1% dos entrevistados, enquanto 10,8% dos jovens se encontravam na terceira ocupação, pós-
realização do JUVEMP. Em termos de gênero, as mulheres jovens que permaneciam na mesma
ocupação desde a conclusão do Programa foram superiores ao percentual de homens jovens nesta
mesma condição, o que pode transparecer que elas tendem a ter uma inserção mais duradoura,
com menor grau de volatilidade. Outro elemento favorável entre as mulheres jovens é que elas
respondem por 55% do total de jovens ocupados, diante de 45% da participação dos homens
jovens. De modo geral, os dados mostram que a maioria dos egressos do JUVEMP ocupados está
integrada em seus diferentes mercados de trabalho, mesmo considerando as inúmeras dificuldades
de inserção da população jovem no mundo do trabalho.
Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso | 21
Para Gonzalez (2009, p. 120),
[...] a inserção dos jovens brasileiros no mundo do trabalho se dá de forma precária e
difícil. Além de constituírem o grupo etário mais desfavorecido pelas condições restritivas
do emprego, também reproduzem em si desigualdades de gênero e de renda presentes na
população brasileira como um todo.
Por fim, ressalte-se que esta análise não teve o propósito de investigar a qualidade dos
postos de trabalho dos egressos do JUVEMP, restringindo-se, nesse caso, à ocupação atual do
jovem e às eventuais mudanças que possam ter ocorrido, no período recente.
Tabela 4 Jovem Egresso do JUVEMP, por Sexo, segundo a sua Ocupação Atual - Municípios do Juventude
Empreendedora Mar.-Abril/2012
Experiência Sexo
Total Feminino Masculino
Permanece nesta ocupação desde a conclusão do
JUVEMP 57,4 40,0 49,6
Esta é a segunda ocupação pós-JUVEMP 29,5 42,0 35,1
Esta é a terceira ocupação pós-JUVEMP 8,2 14,0 10,8
Esta é a quarta ocupação pós-JUVEMP 4,9 4,0 4,5
Já teve mais de quatro ocupações pós-JUVEMP --- --- ---
Total 100,00 100,00 100,00
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
Outro elemento importante na ocupação dos jovens diz respeito ao seu local de trabalho.
Para a maioria dos jovens ocupados (70,3%), o ambiente de trabalho está localizado em um bairro
diferente do seu local de moradia, situação bem diferente dos que moram e trabalham na mesma
comunidade ou bairro (22,5%). Mesmo diante de quadros tão opostos, esta situação nos municípios ainda
é menos delicada quando comparada aos grandes centros urbanos, em que amplas parcelas de
trabalhadores costumam gastar um tempo maior no percurso residência-trabalho.
Analisando-se de forma mais segmentada a situação de estudo e trabalho das pessoas
ocupadas, a pesquisa mostrou que 86,3% dos jovens, que estudam e trabalham, exercem suas
atividades profissionais em bairro diferente do de sua moradia, já outros 65,5%, nesta mesma
situação, somente trabalham. Mesmo considerando que em cidades menores o tempo despendido
entre o trabalho e o domicílio é menor na comparação aos grandes centros urbanos, é verdade que,
para aqueles que estudam e trabalham, qualquer deslocamento adicional exige esforço ainda maior
para os jovens. Em outro contexto, figuram os jovens que estão ocupados e que atuam no mesmo
bairro ou comunidade que residem. Para estes, 10,3% dos jovens estudam e trabalham, diante de
outra parcela que somente trabalha (25,9%). Em síntese, pôde-se concluir que a maioria dos
22 | Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso
jovens, que estuda e trabalha, assume seus postos de trabalho em bairros diferentes de suas
residências. Para uma parcela menor de jovens (10,3%), que também estuda e trabalha, o seu local
de trabalho está centrado na mesma comunidade ou bairro onde mora, e outros 25,9%, que estão
na condição de somente trabalhar, estão ocupados no mesmo bairro onde residem. Figuram ainda
entre os ocupados aqueles que estão trabalhando em outro município (3,6%), percentual ínfimo,
dentro de um conjunto maior, conforme já demonstrado anteriormente.
Tabela 5 Jovem Egresso do JUVEMP, por Situação de Estudo e Trabalho, segundo o Local de Trabalho -
Municípios do Juventude Empreendedora Mar.-Abril/2012
Local de trabalho Situação de estudo e trabalho
Total Estuda e trabalha Somente trabalha
Na comunidade e bairro onde mora 10,3 25,9 22,5
Em outro bairro do município que mora 86,3 65,5 70,3
Em outro município 3,4 3,7 3,6
Outro --- 4,9 3,6
Total 100,00 100,00 100,00
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
Atendo-se ao motivo mais importante para se ter um trabalho, a pesquisa identificou que
32,8% dos entrevistadores apontaram a independência financeira como a razão maior para obter um
trabalho, e, na ordem dos principais motivos, a opção por crescer profissionalmente (26,1%) e ter mais
responsabilidade (14,4%). Estes motivos expressam, para a maioria dos jovens entrevistados, as reais
motivações em relação ao seu ingresso no mercado de trabalho, mesmo que estas transcendam toda e
qualquer dificuldade que estes jovens possam vir a enfrentar ao longo de sua trajetória ocupacional.
Outro motivo também destacado e relevante na concepção dos entrevistados se refere à contribuição
para a renda familiar, ou seja, para 11,7% dos jovens, esta situação pode se justificar pela necessidade
de contribuir com o sustento de suas famílias, melhorar as condições de vida, dentre outros aspectos.
Ademais, é importante ressaltar que a maior parte da renda das pessoas é oriunda do trabalho.
Considerando-se o gênero e os principais motivos para se ter um trabalho, já elencados
anteriormente, nota-se, no caso das mulheres jovens, que elas têm uma participação maior nos motivos
independência financeira e crescer profissionalmente, dois exemplos que ratificam, em grande medida,
a maior presença delas no mundo do trabalho, onde cada vez mais essa presença se dá de forma mais
latente, em diversos segmentos da economia. Em algumas ocupações, chega até a desmistificar
situações passadas em que os homens eram, majoritariamente, mais influentes, como é o caso, por
exemplo, das atividades vinculadas à construção civil.
Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso | 23
Tabela 6 - Jovem Egresso do JUVEMP, por Sexo, segundo o Motivo Mais Importante para se ter um Trabalho -
Municípios do Juventude Empreendedora Mar.-Abril/2012
Motivo Sexo
Total Feminino Masculino
Para ter mais responsabilidade 9,5 23,4 14,4
Independência financeira 39,7 20,3 32,8
Contribuir para a renda familiar 12,9 9,4 11,7
Adquirir experiência 11,2 4,7 8,9
Crescer profissionalmente 19,8 37,5 26,1
Sentir-se útil 4,3 1,6 3,3
Para fazer amigos, conhecer pessoas --- --- ---
Não acho importante ter um trabalho --- --- ---
Outro 2,6 3,1 2,8
Total 100,00 100,00 100,00
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
Não muito diferente dos motivos apresentados pelas mulheres jovens, os homens jovens
também apontaram esses mesmos motivos, mas acrescidos do fator mais responsabilidade, algo
assinalado por 23,4% dos jovens pesquisados. Mesmo diante de uma pequena amostra dos motivos que
levam homens e mulheres a procurarem oportunidade de trabalho, é fato, porém, que ainda se
vivenciam episódios de fragmentações socioeconômicas entre os gêneros, situações pelas quais não
podem nem devem ser mascaradas no contexto de uma sociedade que prega a liberdade de opinião e a
igualdade de direitos, indistintamente. Nesse sentido, estudo recente do IPEA (2012, p. 17) afirma que
A desigualdade de gênero existente no interior das famílias determina processos sociais e
econômicos que reproduzem uma desigualdade estruturante em nossa sociedade,
subjugando um grupo de pessoas em relação a outro e limitando suas possibilidades de
exercício pleno e efetivo da cidadania.
Por fim, e considerando os dados disponibilizados na Tabela 6 a seguir, verifica-se,
tanto para os homens quanto para as mulheres jovens, um nítido grau de maturidade e de
responsabilidade destes diante das razões que os motivaram a ter um trabalho.
Corroborando com os motivos assinalados como os mais importantes para se ter um
trabalho, é imprescindível mencionar o quanto o Programa JUVEMP é necessário nessa construção
contínua de preparação dos jovens para um ambiente mais produtivo e qualificado do mundo do
trabalho, a partir do olhar de seus familiares. E sobre isso, vale conferir alguns depoimentos de pais
e responsáveis pelos jovens quanto ao ingresso destes na esfera profissional.
“O JUVEMP preparou para o mercado de trabalho e foi importante para obter
experiência e para dar peso ao currículo”. (Família 1 - Paraipaba).
24 | Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso
“O curso fez o jovem aprender muito sobre o que o mercado de trabalho exige e
também ajudará para participar de concursos públicos”. (Família 3 - Paraipaba).
“Meu filho ficou mais capacitado para o mercado de trabalho, que o mesmo aprendeu
mais sobre computação e que agora está fazendo faculdade. Foi importante para sua inserção no
mercado, pois o JUVEMP lhe deu mais conhecimento”. (Família 1 - Fortaleza).
Nota-se, pela fala dos pais ou responsáveis pelos jovens, a importância que o JUVEMP
teve no contexto da formação/orientação dos jovens para o mundo do trabalho.
Assim sendo, segue agora a análise da categoria ocupacional em que os jovens estão
inseridos.
De acordo com os resultados da pesquisa, 81,1% dos jovens são empregados
particulares, trabalham para a iniciativa privada, o que não é surpresa, haja vista a força desse
segmento em qualquer economia, mesmo em caso de mercados de trabalho pouco estruturados,
formalizados. Os autônomos, outra categoria que também tem sua influência no conjunto da
economia e por despertar em muitos uma oportunidade muitas vezes mais rápida, em termos de
inserção produtiva, ainda que traga em sua essência alguns estrangulamentos e deficiências,
mesmo assim ainda responde por 9,00% da ocupação total dos jovens do JUVEMP. Neste último
caso, as mulheres possuem peso maior (14,8%) na comparação aos homens (2,00%), enquanto no
primeiro caso – empregado particular -, por se tratar da categoria com maior peso dentro do
universo total dos ocupados, tanto os homens quanto as mulheres jovens têm uma boa inserção,
sendo eles os detentores do maior grau de ocupação nesse segmento.
Tabela 7 Jovem Egresso do JUVEMP, por Sexo, segundo a Categoria Ocupacional - Municípios do Juventude
Empreendedora Mar.-Abril/2012
Categoria ocupacional Sexo
Total Feminino Masculino
Empregado doméstico --- --- ---
Empregado particular 72,1 92,0 81,1
Trabalhador familiar 3,3 2,0 2,7
Empregador --- --- ---
Autônomo 14,8 2,0 9,0
Outro 9,8 4,0 7,2
Total 100,00 100,00 100,00
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
Entre os ocupados, outra característica identificada na pesquisa diz respeito ao seu grau de
formalização, ou seja, averiguou-se a condição da posse ou não da carteira de trabalho. No caso feminino,
Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso | 25
59,00% das jovens ocupadas não possuíam carteira assinada, com ênfase para os setores da
administração pública (60,00%), comércio (69,6%) e serviços (51,7%). No primeiro caso, esse percentual
tende a ser alto por se tratar de vagas temporárias, sem realização de concurso público. Nos demais
setores, a inexistência da carteira assinada assenta na existência de mercados extremamente
precarizados, com elevados índices de informalidade. Por outro lado, verifica-se, na indústria, uma ampla
parcela de mulheres jovens com carteira assinada e em regime de tempo integral (66,7%).
No cômputo geral, 41,00% das mulheres jovens possuem carteira de trabalho assinada,
ou seja, para cada dez jovens ocupadas, apenas quatro possuem carteira.
Entre os homens jovens, o hiato posse ou não da carteira de trabalho assume posições
diferentes às observadas entre as mulheres jovens, ou seja, no caso deles, 62,00% encontram-se
ocupados com carteira assinada, independente da relação de contrato, ante um percentual de
38,00% que trabalha sem o registro da carteira de trabalho. Fazendo-se um recorte setorial desse
quadro, a indústria (90,00%), o comércio (54,5%) e os serviços (54,2%) ocupam os melhores
espaços, em termos de formalização do trabalho, para aqueles que trabalham em tempo integral.
Em linhas gerais, mesmo diante de algumas situações positivas, em termos de
formalização, ainda é distante o sonho de se ter, na maioria dos municípios brasileiros, mercados de
trabalho mais organizados e com oferta de vagas mais qualificadas, persistindo ainda elevadas taxas de
informalidade. Estudo do IPEA (2012, p. 12) é mais um testemunho de que
Diante do nível de informalidade existente no Brasil, somado à crescente heterogeneidade
do mercado de trabalho, a duração da jornada remunerada tende a ser cada vez menos
regulada. Isto porque são muitos os tipos de regime de trabalho atualmente existentes e,
por conseqüência, são distintos os arranjos acerca da totalidade de tempo dedicado ao
trabalho e sua distribuição ao longo da semana. Soma-se a isso a ampliação do acesso às
tecnologias da informação, que tornam as fronteiras entre tempo de trabalho e tempo de
não trabalho mais tênues, o que traz repercussões para um conjunto cada vez maior de
trabalhadores e trabalhadoras.
Desse modo, e conforme já anotado anteriormente para o caso das mulheres jovens, os
homens jovens apresentam-se com maiores chances de acesso à carteira, ou seja, para cada dez
homens jovens empregados, aproximadamente seis possuem carteira de trabalho assinada. Mesmo
sem ter pretensão de mitigar essas diferenças, é fato que o mercado de trabalho ainda guarda
elevadas desigualdades de gênero.
26 | Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso
Tabela 8 Jovem Egresso do JUVEMP, por Setor de Atividade, segundo o Sexo e o Trabalho com Carteira Assinada
- Municípios do Juventude Empreendedora Mar.-Abril/2012
Sexo / carteira assinada
Setor de atividade
Total Indústria Comércio Serviço
Administração
pública
Feminino
Sim, em tempo integral 66,70 30,40 34,50 20,00 32,80
Sim, em tempo parcial --- --- 6,90 --- 3,30
Sim, com contrato temporário --- --- 6,90 20,00 4,90
Não tem carteira assinada 33,30 69,60 51,70 60,00 59,00
Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
Masculino
Sim, em tempo integral 90,00 54,50 54,20 25,00 58,00
Sim, em tempo parcial 10,00 --- --- --- 2,00
Sim, com contrato temporário --- --- --- 25,00 2,00
Não tem carteira assinada --- 45,50 45,80 50,00 38,00
Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
Como se pode observar a seguir, um dos aspectos que ainda guarda estreita ligação
com esse quadro de desigualdade diz respeito à renda do trabalhador. As faixas de renda dos jovens
ocupados, segundo o sexo, expõem situações bem antagônicas, mesmo considerando o universo
pequeno de jovens e de municípios com mercados de trabalho marcados por características
essencialmente precárias. Desse modo, e considerando o total de mulheres ocupadas, cerca de
88,5% delas percebem até um salário mínimo, entre os homens, esse percentual recai para 76,00%.
Nas faixas de salários mais elevados, a diferença mais uma vez se manifesta favorável aos homens,
ou seja, enquanto 11,50% das mulheres ganham mais de um salário mínimo, eles alcançam o
patamar de 24,00%.
Setorialmente, observam-se situações distintas entre os gêneros. Na indústria, cerca de
50,00% dos homens ocupados percebem mais de um salário, para elas, esse percentual recai para
33,3%. Estas diferenças também se confirmam nos setores do comércio e serviços. Na faixa de
meio a um salário mínimo, o maior percentual de homens ocupados encontra-se no setor de
serviços, já no caso feminino, a indústria e o comércio despontam como os setores com maior
percentual de pessoas empregadas.
Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso | 27
Tabela 9 - Jovem Egresso do JUVEMP, por Setor de Atividade, segundo o Sexo e as Faixas de Rendimento -
Municípios do Juventude Empreendedora Mar.-Abril/2012
Sexo / Faixa de rendimento
Setor de atividade
Total Indústria Comércio Serviço
Administração
pública
Feminino
Até 1/2 salário --- 30,4 58,6 40,0 42,6
> 1/2 até 1 salário 66,7 60,9 27,6 60,0 45,9
> 1 salário 33,3 8,7 13,8 --- 11,5
Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
Masculino
Até 1/2 salário 10,0 18,2 20,8 --- 18,0
> 1/2 até 1 salário 40,0 54,5 62,5 100,0 58,0
> 1 salário 50,0 27,3 16,7 --- 24,0
Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
Fazendo um paralelo com a situação dos rendimentos das famílias, a renda média destas
alcança o valor de R$ 1.044,00, sendo a renda familiar per capita média o valor de R$ 272,00.
Registra-se ainda a prevalência dos setores comércio e serviços na absorção dos jovens
egressos do JUVEMP. Estes setores respondem por 30,6% e 47,8%, respectivamente, do total da
ocupação dos jovens, sendo a indústria o terceiro setor (11,7%) com o maior percentual de ocupados. A
administração pública, importante segmento na absorção de jovens nos municípios, apesar do caráter
efêmero da maioria das contratações, respondeu por 8,1% da ocupação geral.
Quanto à distribuição da ocupação, segundo o gênero, as mulheres jovens inserem-se
com maior peso nos setores do comércio (37,7%) e dos serviços (47,8%), sendo estes os mesmos
setores em que os homens jovens estão mais presentes, embora, no caso deles, uma importante
parcela dos ocupados encontra-se na indústria (20,00%).
Os resultados aqui apresentados só reforçam a importância e o predomínio desses
setores nas diferentes economias municipais e, acima de tudo, a relevância destes para o
desenvolvimento do mercado de trabalho.
Tabela 10 Jovem Egresso do JUVEMP, por Sexo, segundo o Setor de Atividade - Municípios do Juventude
Empreendedora Mar.-Abril/2012
Setor de atividade Sexo
Total Feminino Masculino
Indústria 4,9 20,0 11,7
Comércio 37,7 22,0 30,6
Serviço 47,6 48,0 47,8
Administração pública 8,2 8,0 8,1
Outra 1,6 2,0 1,8
Total 100,00 100,00 100,00
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
28 | Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso
Por sua vez, e considerando algumas limitações - informalidade, pequenos
empreendimentos, vagas temporárias, dentre outros aspectos - dos diferentes mercados de trabalho na
esfera municipal, conforme já mencionado anteriormente, não é estranho o fato de 46,9% dos jovens
ocupados - quase a metade da população jovem ocupada -, ainda não terem sido promovidos e nem
mudados de posto de trabalho na atualidade, ou seja, sem nenhuma alteração do seu quadro funcional.
Outros 21,6% dos jovens ainda não experimentaram nenhuma promoção, enquanto
aqueles que já foram promovidos, pelo menos uma vez, embora sem mudança de ocupação, alcançam
10,8% das situações de ascensão na ocupação atual, assim como para os jovens que já foram
promovidos e mudaram de ocupação, com 19,8% dos casos registrados na pesquisa.
Considerando os casos de ascensão segundo o sexo dos jovens, 50,8% das mulheres ainda
não receberam promoção tampouco mudaram de ocupação. Nessa mesma situação, os homens aparecem
com 42,0% do total de casos registrados. Entre os que receberam promoção e mudaram de ocupação,
essa relação foi de 19,7%, no caso das mulheres, e de 20,0%, no caso dos homens.
Levando-se em consideração o tempo de emprego dos jovens na atual ocupação e as
dificuldades de inserção já mencionadas, ao longo desta análise, os dados não revelam situações
incomuns diante da realidade nacional e, mais especificamente, no caso dos jovens, onde se sabe
das inúmeras dificuldades que eles têm de mobilidade ocupacional, em particular, aqueles com
pouca escolaridade e menor grau de qualificação profissional, fatores que são decisivos para
alcançar as vagas mais qualificadas do mercado de trabalho.
Tabela 11 Jovem Egresso do JUVEMP, por Sexo, segundo a sua Situação de Ascensão na Atual Ocupação -
Municípios do Juventude Empreendedora Mar.-Abril/2012
Situação de Ascensão Sexo
Total Feminino Masculino
Já foi promovido uma vez, mas exerce a mesma ocupação 8,2 14,0 10,8
Já foi promovido mais de uma vez, mas sem mudança da atual
ocupação 1,6 --- 0,9
Já foi promovido e mudou de ocupação 19,7 20,0 19,8
Ainda não foi promovido 19,7 24,0 21,6
Ainda não foi promovido e nem houve mudança de ocupação 50,8 42,0 46,9
Total 100,00 100,00 100,00
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
No que diz respeito à jornada de trabalho, nota-se que a maioria dos jovens ocupados,
39,6%, possui jornada superior a 44 horas semanais, acima do previsto pela Constituição Federal e pela
Consolidação das Leis do Trabalho, que estabelece uma jornada de até 44 horas semanais. Para essa
parcela de jovens que trabalha em jornadas tão extensas, e considerando os eventuais excessos de
exploração da mão de obra, pode-se imaginar que estes jovens dispõem de pouco tempo para outras
atividades de suas vidas, situação que contraria o estabelecido pela Declaração Universal dos Direitos do
Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso | 29
Homem, de 1948, no seu artigo XXIV, que afirma que “Todo homem tem direito a repouso e lazer,
inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas”.
Nas palavras de Rosso (2008, p. 55),
O alongamento da jornada é um processo historicamente constatável e atingiu a sua
dimensão maior na primeira Revolução Industrial em quase todos os países do mundo. Um
maior número de pessoas trabalhando e/ou o mesmo número de pessoas trabalhando
durante mais horas produzem a forma de mais valor chamada de mais-valia absoluta.
Diferentemente dessa realidade, a maioria dos ocupados, 60,4%, tem uma jornada de
trabalho menos intensa, com até 44 horas semanais, ou seja, uma jornada mais flexível, se
comparada ao tempo despendido pela outra parcela de jovens que enfrentam longas jornadas de
trabalho. Relacionando-se esse quadro à condição do gênero, as mulheres, em sua maioria (60,7%),
possuem jornada de até 44 horas, situação bem próxima à realidade masculina, com 60,0%. Em
síntese, tanto no plano global da ocupação, quanto na relação com o gênero, a maioria dos jovens
ocupados tem uma jornada mais apropriada do ponto de vista da legislação trabalhista, conforme
já mencionado anteriormente.
Tabela 12 Jovem Egresso do JUVEMP, por Sexo, segundo as Horas Trabalhadas por Semana - Municípios do
Juventude Empreendedora Mar-Abril/2012
Horas trabalhadas Sexo
Total Feminino Masculino
Até 44 horas 60,7 60,0 60,4
Mais de 44 horas 39,3 40,0 39,6
Total 100,00 100,00 100,00
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
Fica evidente, ao longo da análise deste terceiro tópico, a importância do trabalho na
vida dos jovens, assim como urge a necessidade de melhorias na qualidade dos postos de trabalho
que estão sendo gerados, de maneira a contribuir com as carreiras profissionais de tantos jovens
que sonham com melhores oportunidades de trabalho e de cidadania. Para isso, é preciso ampliar
os estudos e a formação profissional, atributos estes que são decisivos na esfera de mercados de
trabalho cada vez mais competitivos, que exigem mais conhecimento e criatividade das pessoas. E
é com esse objetivo que o Programa Juventude Empreendedora, atento a estas transformações e
avanços do mercado, procurou ao longo do tempo, despertar nos jovens uma proposta de formação
inspirada nesse mundo de mudanças contínuas.
30 | Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso
4 AVALIAÇÃO DO PROGRAMA JUVENTUDE EMPREENDEDORA
(JUVEMP) NA ÓTICA DO JOVEM EGRESSO
Neste tópico, avalia-se o JUVEMP segundo a ótica do egresso participante da pesquisa.
Os indicadores de análise compreenderão: a) tempo de conclusão do JUVEMP; b) motivos de
participação no JUVEMP; c) conhecimentos adquiridos no JUVEMP e a preparação do jovem para o
mercado de trabalho; d) avaliação do JUVEMP, em termos técnicos e pedagógicos; e) carga horária e
conteúdo programático do JUVEMP; f) contribuições do JUVEMP; g) avaliação do JUVEMP pela
família; h) mudanças no relacionamento familiar a partir da participação no JUVEMP; i) importância
do auxílio bolsa para a participação no JUVEMP; j) principal decisão tomada após a conclusão do
JUVEMP; e k) perspectivas futuras do jovem pesquisado.
Importa evidenciar que o Programa Juventude Empreendedora (JUVEMP) é coordenado
pela Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social do Estado do Ceará, desenvolvido pelo
Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), com o objetivo de favorecer o desenvolvimento dos
valores de responsabilidade social e da cultura empreendedora na formação dos jovens em situação
de maior fragilidade social e econômica, visando sua integração na comunidade, na sociedade e no
mercado de trabalho.
Iniciam-se as análises dos dados coletados discorrendo, portanto, sobre o tempo em que
os jovens egressos participantes da pesquisa concluíram o Programa JUVEMP. Saliente-se que a
maioria dos pesquisados participou da turma de 2010, ou seja, 28,9%; seguida pelo grupo de jovens
que concluíram o programa há mais de 12 e até 24 meses (26,7%). Em terceiro lugar, estão os jovens
que participaram do JUVEMP há mais de 36 meses (25%). O menor índice de jovens pesquisados
(19,4%) concluiu o JUVEMP há mais de 24 e até 36 meses (2007).
Tabela 13 - Jovem Egresso do Programa Juventude Empreendedora, por Sexo e Faixa Etária, segundo o Tempo que
Concluiu o JUVEMP - Municípios do Juventude Empreendedora Mar.-Abril/2012
Tempo
Sexo / Faixa etária
Feminino Masculino
17 a 19 20 anos ou mais 17 a 19 20 anos ou
mais
Até 12 meses 65,6 26,5 66,7 7,3
Mais de 12 até 24 meses 27,6 25,3 33,3 27,3
Mais de 24 até 36 meses 3,4 24,1 --- 23,6
Mais de 36 meses 3,4 24,1 --- 41,8
Total 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso | 31
A comparação entre o tempo de conclusão do Juvemp e a situação de estudo e trabalho
revela situações bem distintas, ou seja, a primeira é a de que quanto menor for o tempo de conclusão do
programa maior é o percentual de jovens que não trabalha e nem estuda (38,3%); a segunda situação é
que, para os jovens que estudam e trabalham, cerca de 38% deles possuíam um tempo de conclusão
superior a 36 meses. É importante anotar que, para o último grupo de jovens, a continuidade dos estudos
demonstrou ser tão importante quanto o trabalho.
Atenta-se, portanto, para o problema de escolarização da população jovem brasileira, que
afeta particularmente os filhos de famílias em situação de vulnerabilidade econômica e social.
Segundo Corbucci et al. (2009, p. 106):
A situação educacional dos jovens brasileiros decorre, em grande medida, do acesso
restrito à educação infantil e da baixa efetividade no ensino fundamental, evidenciadas
pela elevada distorção idade – série e pelos incipientes índices de conclusão deste nível de
ensino. Desse modo, parcela considerável das crianças ingressa na juventude com elevada
defasagem educacional, tanto do ponto de vista quantitativo (anos de estudo) quanto em
termos qualitativos (capacidades e habilidades desenvolvidas). Estas defasagens são
agravadas pelas precárias condições socioeconômicas, que concorrem para manter baixo o
rendimento dos estudantes e, não raro, ampliar as taxas de abandono escolar.
Ao buscar identificar a participação do jovem egresso do JUVEMP, em outros
programas públicos de qualificação profissional, observou-se que cerca de 20% dos jovens que
concluíram o programa, até 12 meses antes do início da pesquisa, já haviam participado de outros
programas. Para os jovens que concluíram há mais de 1 ano e até 2 anos, identificou-se um índice
de 25% de participação em outros programas. Quando se verificaram os jovens que concluíram o
JUVEMP há mais de 2 anos e até 3 anos, verificou-se o índice de 30% do total de jovens que
participaram de outros programas de qualificação profissional. Finalmente, notou-se que 25% dos
jovens que concluíram o programa há mais de 36 meses já haviam participado de outros programas
de qualificação profissional.
O Estado brasileiro realiza, desde 1990, uma gama de iniciativas voltadas ao público
jovem, contando com a participação do Poder Executivo federal, estadual e municipal, envolvendo
ainda a parceria com organizações não- governamentais. O fato é que ocorre, desde então, a
sobreposição de ações e programas governamentais destinadas ao mesmo tipo de público-alvo,
resultando “em ações conflitivas e concorrentes, além de desperdícios de capitais humano, físico e
financeiro, podendo mesmo haver sobreposição de benefícios para um mesmo indivíduo.” (SILVA;
ANDRADE, 2009, p. 57).
Diante de tantos programas destinados à juventude brasileira e cearense, buscou-se
identificar os dois principais motivos da participação dos jovens no JUVEMP, e os resultados indicaram
que a possibilidade de uma qualificação profissional foi o principal motivador para tal participação,
32 | Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso
totalizando 61,7% das respostas. Em segundo lugar, está a aquisição de novos conhecimentos,
perfazendo 38,4% das respostas dos jovens pesquisados.
Corroborando com as análises, a Tabela 14 abaixo indica ainda que os jovens do sexo
feminino, que identificaram a qualificação profissional como primeira motivação para participar do
JUVEMP, representam 51,7%, dos que se encontravam na faixa etária de 17 a 19 anos, e 66,8%, daqueles
que estavam na faixa etária de 20 anos ou mais.
Tabela 14 - Jovem Egresso do Programa Juventude Empreendedora, por Sexo e Faixa Etária, segundo o Primeiro
Motivo Mais Importante da Participação no JUVEMP - Municípios do Juventude Empreendedora Mar.-
Abril/2012
Motivos
Sexo / Faixa etária
Feminino Masculino
17 a 19 20 anos ou
mais 17 a 19
20 anos ou
mais
Possibilidade de uma qualificação profissional 51,7 66,8 55,6 59,9
Adquirir novos conhecimentos 27,6 19,5 44,4 21,8
Receber a bolsa auxílio - - - -
Colaborar nos trabalhos sociais voltados para
a melhoria de vida da comunidade 6,9 1,1 - 5,5
Abrir o próprio negócio 6,9 1,1 - 5,5
Contribuir para a melhoria do negócio da
família - - - -
Outro 6,9 11,5 - 7,3
Total 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
No caso dos jovens do sexo masculino, estes índices evoluem para 55,6%, para a faixa
etária de 17 a 19 anos, e reduzem para 59,9%, para a faixa etária de 20 anos ou mais.
A aquisição de novos conhecimentos passa a ser a segunda opção para os jovens do sexo
feminino, na faixa etária de 20 anos ou mais, todavia, 31,1% das jovens de 17 a 19 anos destacam outro
motivo como segunda opção para participar do JUVEMP. Quanto aos jovens do sexo masculino, a aquisição
de conhecimentos atinge o maior índice (41,9%) entre os jovens com 20 anos ou mais, assim como para a
faixa etária de 17 a 19 anos de idade, destaque-se que esse mesmo percentual é indicado para outro motivo
importante para a participação do jovem do sexo masculino no JUVEMP.
No imaginário de muitos dos jovens cearenses e brasileiros, habita a compreensão de
que a conclusão de uma qualificação profissional contribui para a inserção imediata no mercado de
trabalho, porém se sabe que o processo não apresenta essa linearidade, principalmente porque as
políticas de educação profissional têm, historicamente, pouca, ou muitas vezes nenhuma,
articulação com as políticas de emprego e renda no Brasil.
Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso | 33
Tabela 15 Jovem Egresso do Programa Juventude Empreendedora, por Sexo e Faixa Etária, Segundo o Motivo
Mais Importante da Participação no JUVEMP - Municípios do Juventude Empreendedora Mar.-Abril/2012
Motivos
Sexo / Faixa etária
Feminino Masculino
17 a 19 20 anos ou mais 17 a 19 20 anos ou mais
Possibilidade de uma qualificação profissional 24,2 13,8 22,3 14,5
Adquirir novos conhecimentos 10,3 46,1 33,3 41,9
Receber a bolsa auxílio 10,3 8,0 - 5,5
Colaborar nos trabalhos sociais voltados para
a melhoria de vida da comunidade 3,4 2,3 11,1 12,7
Abrir o próprio negócio 13,8 13,8 - 9,1
Contribuir para a melhoria do negócio da
família 6,9 3,4 - 1,8
Outro 31,1 12,6 33,3 14,5
Total 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
Interessante notar a relação entre o motivo mais importante para a participação do
jovem egresso no JUVEMP e seu estado civil. Conforme o Gráfico 4 abaixo, a possibilidade de se
adquirir uma qualificação profissional representa o principal estímulo à procura do JUVEMP para
60,3% dos jovens solteiros e 66% dos jovens casados.
Gráfico 4 Jovem Egresso do Programa Juventude Empreendedora, por Estado Civil, segundo o Primeiro
Motivo Mais Importante da Participação no JUVEMP Municípios do Juventude Empreendedora
Mar.-Abril/2012
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
Os resultados acima confirmam o entendimento de que o jovem brasileiro percebe a
necessidade de concluir os estudos e realizar uma qualificação, objetivando uma inserção laboral
nesse mercado restrito e competitivo atual.
34 | Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso
Nessa perspectiva, parte-se para a análise referente aos conhecimentos adquiridos no
JUVEMP e a preparação dos jovens pesquisados para ingresso no mercado de trabalho. Reconhece-se que
a maioria dos jovens pesquisados se considera preparada para o mercado de trabalho, pois os maiores
índices, para ambos os sexos e em todas as faixas etárias, indicam essa condição, mesmo que se tenha
observado, na Tabela 16 abaixo, o interesse dos jovens em realizar outro curso.
Tabela 16 - Jovem Egresso do Programa Juventude Empreendedora, por Sexo e Faixa Etária, Segundo o Preparo
para o Mercado de Trabalho - Municípios do Juventude Empreendedora Mar.-Abril/2012
Condição
Sexo / Faixa etária
Feminino Masculino
17 a 19 20 anos ou mais 17 a 19 20 anos ou mais
Sim, preparado, mas quer fazer outro curso 51,7 57,5 55,6 72,8
Sim, preparado 41,4 35,6 33,3 23,6
Não está preparado 6,9 6,9 11,1 3,6
Total 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
Este resultado converge para o modelo de proposta curricular do Programa, pois o
processo de formação pessoal, social e profissional dos alunos ocorre pela participação nos
seguintes módulos: formação para o empreendedorismo social; capacitação para o trabalho I e II;
elaboração do projeto de vida profissional; encaminhamento para o mercado de trabalho ou
incentivo à criação de negócios individuais ou coletivos. Tais módulos estão claramente vinculados
à proposta de iniciação profissional dos jovens do Programa, com perspectivas de inserção
profissional destes no mercado de trabalho local.
A condição do jovem egresso do JUVEMP de se considerar preparado para o mercado de
trabalho também pode ser visualizado, quando se percebe o estado civil dos pesquisados, conforme
exposto no Gráfico 5, a seguir:
Gráfico 5 Jovem Egresso do Programa Juventude Empreendedora, por Estado Civil, Segundo o
Preparo para o Mercado de Trabalho Municípios do Juventude Empreendedora Mar.-Abril/2012
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso | 35
Entende-se que os jovens pesquisados, apesar de considerarem que o Programa
JUVEMP contribuiu para sua preparação para o mercado de trabalho, compreendem também que a
realização de outra qualificação profissional poderá torná-lo mais competitivo diante dos demais
jovens que buscam uma ocupação.
Em seguida, avalia-se a importância do JUVEMP, na ótica do jovem egresso pesquisado, a
partir de nove aspectos: a) liberdade de expressar suas ideias; b) a equipe técnico-pedagógica respeita os
alunos e alunas; c) amizade e respeito entre alunos(as) e funcionários(as); d) nas aulas são discutidos
problemas da atualidade; e) convivência entre alunos(as); f) a equipe técnico-pedagógica organiza-se
para apoiar a resolução de problemas de relacionamento entre alunos(as); g) a equipe técnico-pedagógica
leva em conta seus problemas pessoais e familiares; h) capacidade de o professor relacionar os conteúdos
das matérias com o cotidiano; i) capacidade de avaliar seus conhecimentos.
A Tabela 17 abaixo indica como estes aspectos foram avaliados pelos jovens:
Tabela 17 - Jovem Egresso do Programa Juventude Empreendedora, por Avaliação do JUVEMP, Segundo Diferentes
Aspectos - Municípios do Juventude Empreendedora Mar.-Abril/2012
Aspectos Avaliação
Total Excelente Ótimo Bom Regular Insuficiente
Liberdade de expressar suas ideias 46,2 32,2 19,4 2,2 - 100,0
A equipe técnico-pedagógica respeita os
alunos e alunas 54,4 36,1 8,9 0,6 - 100,0
Amizade e respeito entre alunos(as) e
funcionários(as) 36,6 30,0 25,6 7,8 - 100,0
Nas aulas são discutidos problemas da
atualidade 35,5 39,4 22,8 1,7 0,6 100,0
Convivência entre alunos(as) 21,0 25,6 40,0 12,8 0,6 100,0
A equipe técnico-pedagógica organiza-se
para apoiar a resolução de problemas de
relacionamento entre alunos(as)
48,3 27,2 21,7 2,2 0,6 100,0
A equipe técnico-pedagógica leva em
conta seus problemas pessoais e familiares 37,7 30,5 25,6 5,6 0,6 100,0
Capacidade do professor relacionar os
conteúdos das matérias com o cotidiano 48,3 32,8 16,7 2,2 - 100,0
Capacidade de avaliar seus conhecimentos 40,0 36,1 22,2 1,7 - 100,0
Total 41,0 32,2 22,5 4,1 0,2 100,0
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
A análise dos percentuais indica que os jovens avaliaram positivamente os nove aspectos.
Todavia, ressalta-se que 40% dos pesquisados indicaram que a convivência entre os alunos(as) é “boa”, o
que pode revelar a necessidade de um trabalho mais específico com o público-alvo sobre os
relacionamentos interpessoais e sua importância para a vida em sociedade, com o intuito de levar os
jovens a compreenderem a importância da convivência entre as pessoas que partilham o mundo. Como se
pode observar na citação de Souza (2004, p. 63-64):
36 | Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso
Freire (1999) dizia que, onde há vida, há o inacabado, e que nossa presença no mundo não
se faz no isolamento, isenta de influências. E para Charlot, “nascer significa ver-se
submetido à obrigação de aprender. Aprender para constituir-se [...]. Aprender para viver
com outros homens com quem o mundo é partilhado” (Charlot, 2000:53). Nesse sentido, a
influência do meio sobre o indivíduo humano inacabado é um processo relacional e,
portanto, não se está somente posicionado em..., mas em relação com... Aprender na
relação com o outro, viver em grupo é o grande desafio posto a todos.
Indagados sobre a carga horária do JUVEMP, tendo como referência a sua
programação, os jovens pesquisados apontaram, em sua maioria, que a carga horária é suficiente. A
exceção está entre os jovens do sexo masculino, na faixa etária de 17 a 19 anos, pois 55,6% a
consideraram não suficiente.
Com o objetivo de identificar as contribuições que o jovem obteve ao realizar o
JUVEMP, listam-se os seguintes itens: a) obtenção de cultura geral/ampliação da formação pessoal;
b) aquisição de muitos amigos/conhecer várias pessoas; c) a aquisição da expectativa dos pais
sobre os meus estudos; d) formação para a cidadania/busca por direitos; e) participação em
atividades comunitárias, esportivas, culturais e de lazer. O resultado da pesquisa pode ser
visualizado no próximo Gráfico 6.
Gráfico 6 - Jovem Egresso do Programa Juventude Empreendedora, por Sexo, Segundo as Contribuições que
Obtiveram ao Realizar o JUVEMP Municípios do Juventude Empreendedora Mar.-Abril/2012
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
A obtenção de cultura geral/ampliação da formação pessoal foi a contribuição com
maior percentual para ambos os sexos, o que revela que o JUVEMP contribuiu, na perspectiva
Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso | 37
destes, para a ampliação de conhecimentos dos jovens que estão em situação de vulnerabilidade
econômica e social e encontram-se fora da escola. O Programa JUVEMP favorece, de certa forma, a
ampliação de visão de mundo destes jovens.
Indagados sobre a avaliação que a família faz de sua participação no JUVEMP, os
jovens do sexo feminino responderam, em sua maioria, que a família considera a participação no
Programa importante para seu ingresso no mercado de trabalho; para outro percentual de mulheres
jovens egressas do Programa, o pensamento da família em relação a este se mostra desconhecido
(19,9%), ou seja, as jovens desconhecem o pensamento de seus responsáveis sobre sua participação
no Juvemp. Com relação aos jovens do sexo masculino, esta última situação refletiu em 19,8% dos
entrevistados. No entanto, observou-se que o segundo aspecto indicado tem uma diferença
percentual ínfima, pois 19,2% indicaram que a família avalia sua participação importante para seu
ingresso no mercado de trabalho.
Gráfico 7 - Jovem Egresso do Programa Juventude Empreendedora, por Sexo, Segundo a Avaliação que a
Família faz da sua Participação no JUVEMP - Municípios do Juventude Empreendedora Mar-Abril/2012
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
Em entrevista realizada com os familiares responsáveis pelo jovem egresso do JUVEMP
participante da pesquisa, identificaram-se falas que confirmam os resultados acima, então vejamos:
Desenvolveu muito sua criatividade, aumentando muito suas oportunidades profissionais,
está sempre participando de várias ações na comunidade, desenvolve projetos sociais e
está sempre a frente de todas as ações que são desenvolvidas na cidade. (Família 1 –
Limoeiro do Norte).
38 | Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso
“Aprendeu a ter mais segurança profissional, mais interesse, adquiriu experiência e novas
qualidades, ele está preparado para o mercado de trabalho e para a vida”. (Família 2 – Limoeiro do Norte).
“O JUVEMP preparou bem para o mercado de trabalho, porém a dificuldade de emprego
é grande”. (Família 1 – Camocim).
Ao serem questionados sobre se o JUVEMP proporcionou alguma mudança na sua
relação familiar, a partir dos itens: a) responsabilidade para resolução dos problemas; b)
participação na tomada de decisões; c) abertura ao diálogo; d) valorização da convivência familiar;
e) afetividade, confiança e respeito, os jovens pesquisados apontaram o indicado na Tabela abaixo:
Tabela 18 - Jovem Egresso do Programa Juventude Empreendedora, por Sexo, segundo a Mudança que
Proporcionou no Relacionamento Familiar - Municípios do Juventude Empreendedora Mar.-Abril/2012
Mudança Sexo
Feminino Masculino
Responsabilidade para resolução dos problemas 19,2 19,4
Participação na tomada de decisões 17,8 18,1
Abertura ao diálogo 21,2 19,8
Valorização da convivência familiar 21,8 21,6
Afetividade, confiança e respeito 20,0 21,1
Total 100,0 100,0
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
Identificou-se que, para os jovens de ambos os sexos, a valorização da convivência
familiar atingiu o maior percentual, perfazendo 21,8% entre os jovens do sexo feminino e 21,6%
entre os jovens do sexo masculino. O segundo maior percentual indicado pelos jovens do sexo
feminino foi a abertura ao diálogo (21,2%) e, para os jovens do sexo masculino, foram a
afetividade, a confiança e o respeito (21,1%).
A melhoria da convivência familiar também foi apontada pelos familiares
entrevistados. Vejamos o que eles apontam:
“Minha filha melhorou muito, para mais para ouvir as pessoas, melhorou o respeito
entre os familiares”. (Família 1 – Camocim).
“Meu filho mudou muito, a forma de falar com as pessoas, como por exemplo, pedir,
por favor. Antes ele era estressado, não pedia desculpas, hoje diz, por favor, e pede desculpas”.
(Família 2 – Ubajara).
Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso | 39
“Ela ficou mais atenciosa, mais respeitadora, conversa muito comigo, por que antes ela
era muito calada, não falava o que estava acontecendo com ela, agora ela é minha amiga, ela
amadureceu”. (Família 2 – Aracati).
Ao adentrar no tema referente à importância do auxílio bolsa, no valor de R$60,00
(sessenta reais), para a participação do jovem pesquisado no JUVEMP, a maioria dos pesquisados, de
ambos os sexos, destacou que o referido auxílio foi um estímulo para a conclusão do curso. Em segundo
lugar de importância está o estímulo para realizar uma formação profissional.
Tabela 19 - Jovem Egresso do Programa Juventude Empreendedora, por Sexo, segundo a Importância do Auxílio
Bolsa para a Participação no JUVEMP - Municípios do Juventude Empreendedora Mar-Abril/2012
Importância Sexo
Feminino Masculino
Estímulo para concluir o curso 30,2 28,2
Estímulo para realizar uma formação profissional 20,7 23,4
Ajuda na renda familiar 19,8 20,3
Sem a bolsa não teria condições de realizar o curso 1,7 3,1
Não considera importante 11,2 20,3
Outro 16,4 4,7
Total 100,0 100,0
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
A falta de condições financeiras para a aquisição de material escolar básico faz parte da
realidade da maioria dos jovens brasileiros. Dessa forma, a possibilidade de receber um auxílio que
contribua para a satisfação de tal necessidade condiz com o perfil do público-alvo definido para o
Programa JUVEMP e favorece a permanência no curso, reduzindo, consequentemente, o índice de evasão.
Por outro lado, é importante apontar que esse auxílio é utilizado também para atender outras
necessidades do jovem e de sua família, como bem destacam as falas dos familiares entrevistados:
“Foi importante para ele comprar as coisas dele, e investir no que ele estava
aprendendo”. (Família 3 – Aracati).
“Muito importante, pois estimulava o jovem a participar do projeto, além de ajudá-lo a
adquirir bens pessoais que ele precisava para poder frequentar o projeto. Foi uma ajuda muito bem
vinda”. (Família 2 – Limoeiro do Norte).
40 | Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso
“O auxílio bolsa era muito importante. Era um incentivo do governo para que os jovens não
desistissem do curso, além de ajudar nas despesas de casa e também pessoais”. (Família 2 – Camocim).
Em seguida, os jovens foram indagados sobre a principal decisão que tomaram ao concluírem
o JUVEMP. Os jovens pesquisados, de ambos os sexos e faixas etárias, apontaram prioritariamente que
procuraram um emprego. A continuidade dos estudos ficou com o segundo maior percentual de respostas.
Somente os jovens do sexo masculino, na faixa etária de 17 a 19 anos, indicaram igualmente a decisão de
realizar curso profissionalizante e se preparar para o trabalho.
Tabela 20 - Jovem Egresso do Programa Juventude Empreendedora, por Sexo e Faixa Etária, Segundo a Principal
Decisão que Tomou Quando Concluiu o JUVEMP - Municípios do Juventude Empreendedora Mar-Abril/2012
Decisão
Sexo / Faixa etária
Feminino Masculino
17 a 19 20 anos ou
mais 17 a 19
20 anos ou
mais
Continuou os estudos 10,3 23,0 22,2 16,4
Procurou um emprego 79,4 54,1 55,6 63,7
Fez curso profissionalizante e se preparou
para o trabalho --- 3,4 22,2 14,5
Trabalhou por conta própria / Trabalhou em
negócio da família --- 6,9 --- 3,6
Ainda não decidiu 3,4 3,4 --- ---
Outro 6,9 9,2 --- 1,8
Total 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Pesquisa Direta IDT.
Ao menos dois fatores devem ser considerados quando foram identificados os
resultados acima. O jovem egresso do JUVEMP busca um emprego para contribuir com a renda
familiar e, por conseguinte, ajudar a melhorar as condições de vida de sua família. Além disso, o
jovem egresso conhece a atual situação de desemprego no Brasil e no Ceará, o que favorece o seu
anseio em ingressar o quanto antes numa ocupação, mesmo que esta seja desprovida de direitos e
garantias. Nessa perspectiva, a edição do livro do IPEA, intitulado Políticas Sociais:
acompanhamento e análise de 2007, alerta que:
Nesse cenário de restrição das oportunidades de emprego – que afeta inclusive os
trabalhadores já inseridos, desacreditando a estabilidade como marca fundamental da
vida adulta – duas grandes tendências se configuram entre os jovens. Aqueles de origem
social privilegiada adiam a procura por uma colocação profissional e seguem dependendo
financeiramente de suas famílias; com isso, ampliam a moratória social que lhes foi
concedida, podendo, entre outras coisas, estender sua formação educacional, na
perspectiva de conseguir uma inserção econômica mais favorável no futuro. Os demais,
que se veem constrangidos a trabalhar, em grande parte das vezes acabam se submetendo
Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso | 41
a empregos de qualidade ruim e mal remunerados, o que, em algum grau, também os
mantêm dependentes de suas famílias, ainda que elas lidem com isto de forma precária.
Embora ganhe tonalidades diferentes segundo as possibilidades que o nível de renda
familiar permite, o bloqueio à emancipação econômica dos jovens, em ambos os casos,
além de frustrar suas expectativas de mobilidade social, posterga a ruptura com a
identidade fundada no registro filho/a, adiando a conclusão da passagem para a vida
adulta e ensejando uma tendência de prolongamento da juventude. (IPEA, 2008, p. 8-9).
Concluiu-se a pesquisa indagando aos jovens se haviam planejado o que gostariam que
acontecesse em suas vidas, em médio prazo, e a maioria dos pesquisados do sexo feminino indicou
ter planos de ingressar no ensino superior. Este também foi o plano dos jovens do sexo masculino,
na faixa etária de 20 anos ou mais. No entanto, os jovens do sexo masculino, na faixa etária de 17
a 19 anos, apontaram ter outro plano para o futuro.
Este resultado condiz com os resultados de outra pesquisa do Instituto de
Desenvolvimento do Trabalho (IDT) (ANDRADE; MACAMBIRA, 2011), que sinalizou o interesse dos
jovens participantes do PROJOVEM em concluir o ensino fundamental, realizar uma qualificação
profissional e ingressar no ensino superior.
É claro o anseio da maioria dos jovens em continuar os estudos através de cursos
profissionalizantes até a conclusão de cursos superiores. Esse aspecto pode ser
considerado como indicativo de reflexão para os gestores das políticas de educação
profissional no Estado do Ceará, com vistas a identificar as possibilidades de os jovens
serem inseridos nos cursos técnicos de nível médio ofertados pelas escolas estaduais de
educação profissional e pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará,
favorecendo a elevação da escolaridade e a possibilidade de inserção qualificada desses
jovens no mercado formal de trabalho do Ceará. (ANDRADE; MACAMBIRA, 2011, p. 22).
Entende-se que o caminho apontado mostra a compreensão dos jovens cearenses
pesquisados acerca da necessidade de ampliação dos conhecimentos, habilidades e atitudes
fundamentais ao trabalhador preocupado em ingressar no mercado de trabalho de forma decente, o
que pressupõe um novo olhar do governo e da sociedade civil para com as políticas públicas
destinadas à juventude brasileira.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A avaliação do impacto do Programa Juventude Empreendedora (JUVEMP),
desenvolvido entre o período de 2007 a 2010, na inserção ocupacional do jovem egresso e em sua
vida familiar e comunitária, considerou a importância da qualificação profissional para além da
análise circunscrita à empregabilidade. Buscou-se compreender as influências do JUVEMP, no
âmbito pessoal, familiar e social dos jovens contemplados.
O JUVEMP insere-se no conjunto das políticas públicas sociais, de caráter focalista e
emergencial, oportunizando ao jovem em situação de vulnerabilidade social sua (re)inserção ou
permanência no mercado de trabalho, bem como promover mudanças no seu relacionamento com
a família e com a comunidade onde vive.
Direcionado não apenas à formação do empreendedor social, mas visando à elaboração de
um projeto de vida profissional, o JUVEMP promoveu atividades analítico-reflexivas (dinâmicas de
grupo, entrevistas, pesquisas e visitas), capazes de estimular no jovem o autoconhecimento, o
fortalecimento dos vínculos familiares e a apropriação da realidade socioeconômica do município. Tais
elementos proporcionaram a este egresso a valorização da convivência com a família; a abertura ao
diálogo; a ampliação no senso de responsabilidade para a resolução dos problemas; maior participação
na tomada de decisões e aumento da autoestima.
Conforme a pesquisa, o JUVEMP também contribuiu com a ampliação da visão de
mundo e da sociabilidade juvenil, por meio da obtenção de conhecimentos de cultura geral, do
reconhecimento de direitos, da construção de uma rede de amizades (networking).
Como uma política de formação profissional, embora se defenda a perspectiva de que a
qualificação profissional por si só não se reflete em uma linha direta ao trabalho/emprego, 61,7% dos
egressos do JUVEMP encontravam-se em uma ocupação, no momento da pesquisa, sendo que quase
metade dos pesquisados se manteve na mesma ocupação desde a participação no Programa. Estes
dados traduzem-se em prerrogativas positivas no ponto de vista do impacto da formação profissional,
pois, mesmo não considerando que este seja o único elemento influenciador, não se pode negar que
esta experiência possa ter contribuído para a fixação dos jovens em seus locais de trabalho.
Contudo, vale ressaltar que 68,5% dos egressos ocupados, que participaram da pesquisa,
aspiravam mudar de ocupação e de estabelecimento; e 72,1% almejavam permanecer trabalhando no
mesmo município, ou seja, comprova-se a necessidade de uma articulação entre as políticas de
formação profissional e as de geração de emprego e renda. Este aspecto é indicativo de que os
Programa Juventude Empreendedora: um olhar sobre o trabalho e a vida do jovem egresso | 43
investimentos em qualificação profissional devem estar alinhados a uma política capaz de dinamizar e
diversificar as oportunidades de trabalho e emprego local.
Outros dados pertinentes indicaram que a maioria dos egressos ocupados,
contemplados no estudo em questão, trabalha até 44 horas/semanais, em tempo integral, e ganha
entre ½ e 1 salário mínimo. E entre os que não possuem carteira de trabalho assinada, a maioria
dos jovens é do sexo feminino.
Nesse sentido, é inegável o anseio da população jovem em ampliar seus anos de
escolaridade e se profissionalizar para se inserir no mercado de trabalho. É também evidente o
aumento dos investimentos estatais em escolas profissionalizantes e as possibilidades viabilizadas
para a democratização do acesso a maiores níveis de ensino formal. Todavia, cabe uma discussão
mais aprofundada sobre qual desenvolvimento está sendo perseguido e sob quais condições. Quais
têm sido, de fato, as possibilidades de ascensão e mobilidade social diante das atuais políticas
públicas para a juventude, do desemprego crescente, da informalidade, da precariedade, das
elevadas jornadas de trabalho e das persistentes desigualdades sociais.
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