Prática expandida - Experimentação conceptiva
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prática expandidaexperimentação
conceptiva
rodrigo arraes gianoni trabalho final de graduação
faculdade de arquitetura e urbanismo - usp
prática expandidaexperimentação
conceptiva
rodrigo arraes gianoni trabalho final de graduação
faculdade de arquitetura e urbanismo - usp
orientação: carlos roberto zibel da costasão paulo, dezembro 2011
Agradecimentos
Jamais teria alcançado meu objetivo, e muito menos ainda um produto que me satisfizesse sem a ajuda de
pessoas queridas e importantes nesta trajetória. Agradeço principalmente ao professor Carlos Zibel por sua
orientação precisa, acolhe doura e dedicada; ao professor Paulo da Fonseca, pelo interesse e conselhos
preciosos. Aos meus pais, fundamentais e cujo apoio incondicional durante todos estes anos de faculdade
(e foram muitos!) me possibilitaram estar aqui. Aos trabalhadores do LAME, por seu auxilio na execução das
maquetes; ao Bolinha, que conseguiu para mim um projeto de temática semelhante; aos meus amigos e a
minha namorada, Fabiola Diniz.
INTRODUÇÃO
NOVOS PENSAMENTOS
AS VERDADES ABSOLUTAS
MODERNIDADE LÍQUIDA
INTERDISCIPLINARIDADE
METODOLOGIA A PRIORI?
DESMONTAGEM E REMONTAGEM
O METAPROJETO
INPUT E OUTPUT
TOP-DOWN x BOTTOM-UP
PRODUÇÃO INTEGRADA
METODOLOGIAS E PROCESSOS
ALÉM DO PROGRAMA
MÉTODOS EXPERIMENTAIS
PROPOSTA INICIAL
OBSERVAÇÃO
PROGRAMA E DIRETRIZES
A FUNÇÃO ESPACIAL
REFLEXÃO INTERMEDIÁRIA
PROPRIEDADE: GAIOLA
CIRCUNSTÂNCIA: ANÔMALO
IDENTIDADE: ENTUBADO
CASUALIDADE: ôCO
DESENCADEANDO
GAIOLA
ANÔMALO
ENTUBADO
ôCO
REVISÃO POTENCIALIDADES
REFLEXÃO FINAL
REFERÊNCIAS
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SUMÁRIO
Cloud Cities, Tomas SaracenoInstalação de volumes geométricos inflados, alterando noções de lugar, espaço, futuro e gravidade, possível através de uma arquitetura de interação entre sujeito e objeto.
introdução 9
Colocar a metodologia no papel principal neste ponto permite compreender as etapas de projeto de uma forma não linear.
As soluções, pesquisas, desenhos, visitas, protótipos, referências devem estar em constante revisão e aprimoramento. Dar
margem para a reflexão dos processos projetuais é fundamental para a sua compreensão, por isto o resultado final não
deve ser abordado como um projeto sólido e apresentado com soluções definitivas, mas sim uma narrativa complexa e
fielmente organizada conforme a trajetória do trabalho.
Para que esta metodologia pudesse ser estuda com propriedade, foi necessário primeiramente compreender todo o novo
cenário contemporâneo pela qual a sociedade atravessa. O ato projetual atual ainda está demasiadamente atrelado as
necessidades do século XX, quando as relações e troca de informações eram estáticas, pouco dinâmicas. Porém, com
o avanço das novas tecnologias, a revolução na disseminação das informações e os formatos das comunidades de
consumo criaram um cenário mais liquido, e é neste cenário que se insere o trabalho, da modernidade líquida (Bauman).
A modernidade liquida permite que esta troca de valores aconteça constantemente, ao passo que define os processos
projetuais de forma absolutamente liquida e instável, sempre sujeita a transformações originadas de circunstâncias muitas
vezes imprevisíveis. A condição de fazer parte de uma realidade líquida pressupõe que a metodologia adotada também
não deva ser estática e rígida.
Estes processos devem, portanto, extrapolar os limites convencionais do projeto, absorvendo etapas prévias e posteriores
do mesmo. Acredita-se que somente com este olhar abrangente sobre o projeto é possível entender e conectar todo
o seu processo de concepção dentro da nova modernidade. E mais, começar a expandir esta atividade visa uma nova
perspectiva para o universo projetual, em especial para a arquitetura, em que se entenda que o edifício não deve ser
definido tão somente como uma “obra de arte” intocável e congelada na cidade; mas sim um instrumento que corresponde
às expectativas e os anseios de seus usuários.
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por princípio o estudo metodológico das etapas de composição do espaço e da interdisciplinaridade por meio da experimentação de formas, linguagens e funções. O principal objeto de estudo não é o produto final, mas sim os processos de desenvolvimento e construção projetual, narrando o caminho trilhado conforme ele aconteceu, com todas as suas indefinições, dúvidas e reflexões.
prática expandida - experimentação conceptiva10
No inicio deste trabalho, nunca se imaginou o percurso a se seguir até o momento em que ele começou a ser construído.
Os caminhos pré-estabelecidos, dados a priori, induzem soluções pouco pensadas e contemplativas, onde a produção
linear e direta acontece sem que haja nenhum tipo de reflexão. Isto é preocupante para o desenvolvimento de um projeto,
uma vez que uma série de possibilidades ficam pelo caminho, ao passo que a reavaliação do programa ou das diretrizes
inicias não faz parte do trabalho. Novamente colocando a modernidade liquida em questão, observa-se que o espaço
existe diretamente conectado as necessidades dos sujeitos que o usam. Portanto, a inconstância de tais necessidades gera
o anseio pela mudança para se adaptar a estas transformações, gerando valores e programas que sempre devem ser
revisados.
Como isto reflete no universo projetual e na concepção do espaço? É importante entender que um projeto, mesmo que na
prancheta tenham todas as suas mais possíveis variáveis, possibilidades e problemas levantados, a execução real de tal
consigo novos enfrentamentos antes obscuros. Não apenas durante sua execução, mas também durante toda a sua vida
útil. A inserção de tal projeto na realidade líquida exige uma reaproximação do criador para com a criatura, na intenção de
controlar e entender quais escolhas foram acertadas e quais foram erradas. O projetista apenas insere os valores de “input”
(conceito que será explicado no capítulo “Novos pensamentos”) dentro do sistema, o que acontece a partir dai foge
completamente do seu controle, ainda mais se considerado que agentes externos podem mudar a percepção de tal projeto.
A não ser que o mesmo esteja disposto a acompanhar toda a sua vida após o nascimento, e não abandoná-la como “obra
pronta”. O trabalho sempre esta em desenvolvimento (work in progress).
Ainda neste cenário, outras duas vertentes serão exploradas como participantes desta metodologia “experimental”: a
vivência espacial e a interdisciplinaridade. No primeiro caso sabe-se que não necessariamente um espaço permite uma
interação instantânea entre sujeito e objeto, homem e espaço. Ela só acontece quando os sujeitos passam a se relacionar
entre si, e esta relação aconteça também com o espaço. Assim, o espaço vazio e sem vida torna-se lugar. É usual, em
circunstâncias cotidianas, encontrar situações inusitadas para tais; espaços projetados de forma pomposa, acolhedora
e abertos ao público, mas que, por fatores diversos, jamais conseguem aproximação com as pessoas. Por outro lado, o
contrário também acontece, com espaços absolutamente impróprios que se “lugarizam” por ali estabelecerem condições
para isto ocorra. Estabelecer condições e entender o perfil das pessoas e da tipologia de projeto é fundamental.
A interdisciplinaridade, por sua vez, tende a combinar as diversas ciências pertinentes a um projeto, sem que haja a
sobreposição de valores. Aqui, todas as etapas de projeto devem se comunicar mutuamente, uma dependente da outra,
para que o resultado final seja condizente com um todo. O que se observa é uma clara influencia do conceito de “sistemas
complexos”, onde o todo será sempre maior que a somatória das partes, pois se entende que a parte comunica-se entre si
gerando novos produtos específicos. Aqui, a hierarquização acontece, porém menos autoritária. É comum o uso do sistema
onde a hierarquia e a linearidade de projeto são predominantes. O que aqui se propõe é o uso de um outro sistema para
que todas as disciplinas consigam trabalhar em conjunto, no mesmo tempo e espaço, objetivando um resultado em comum
e com uma integração muito mais forte.
introdução 11
Todos estes conceitos serão retomados no momento oportuno, onde cada uma delas será devidamente explorada
e sua importância indicada dentro do trabalho geral. O nome deste trabalho, “Prática Expandida”, é um termo muito
recorrente em outras disciplinas, em especial no ensino. Na área da arquitetura, ele surge pela primeira vez nas instalações
experimentativas do MyStudio, dos arquitetos Hôweler e Yoon, que diante da pouca versatilidade projetual, tiveram a
coragem para propor novas aproximações, novas idéias, novos processos. Este nome será emprestado neste trabalho
pois exemplifica perfeitamente o que será feito: uma extensão da prática, indo além daquilo que se condiciona e tentando
romper as complicadas barreiras do tradicionalismo conceptivo e projetual.
prática expandida - experimentação conceptiva12
Presente em grande parte do século XX, as teorias hoje usadas dentro do universo projetual (ou cultura projetual, como alguns afirmam) carecem de uma releitura para se adequarem a um novo cenário, a uma nova realidade surgida após sensíveis transformações da sociedade e dos seus desejos e necessidades. Com isto, não somente os projetos, mas a prática e a metodologia também necessitam de alterações e reavaliações.O fato é que, imerso nessas novas necessidades,
que exigem novas posturas dos profissionais
envolvidos no projeto, as tradicionais e batidas
fórmulas de projeto tornam-se obsoletas, ineficientes
ao tentarem responder os novos anseios. Não que
devam ser abandonadas por completo; muitas
delas ainda desempenham um papel fundamental
em boa parte da sociedade, ainda respondendo
positivamente as suas necessidades. Sem contar
que já está consolidado e absorvido pela grande
maioria dos profissionais. Entretanto, a releitura de
seus aspectos e abertura de suas atividades, que
cada vez mais passam a ser menos especificas e
mais gerais, invocam a mudança e a adaptação.
Mas, por que isto é relevante dentro desta pesquisa
e experimentação?
É importante, pois como proposta de uma
exploração experimental e investigativa, procurou-
se a liberação das amarras tradicionais que os
modelos de projetar modernistas concretizaram
e engessaram durante todo o século passado.
Compreender como estas relações ocorre, quais
foram os motivos destas transformações, em qual
momento ocorreu à abertura dos processos e da
realidade passa a ser de extrema importância para
um posicionamento sobre o assunto, estimulando
assim uma criatividade de acordo com a nossa
contemporaneidade. A idéia é mostrar como
diversos conceitos podem contribuir decisivamente
para a metodologia projetual, tanto quando se
dispõe a avaliar os novos conceitos emergidos ou já
se posicionam sobre estes especulando propostas e
refletindo.
Estes conceitos serão apresentados aqui
brevemente, com a profundidade necessária para
deixar clara a sua contribuição neste trabalho.
Evitou-se uma discussão maior em alguns temas
(apesar de serem questionáveis o suficiente para
isto), pois geraria uma discussão infindável e que
se distanciaria da proposta inicial do trabalho.
Entretanto, em alguns pontos se fez necessário
ampliar a discussão, pois era impossível passar em
branco por estas sem uma reflexão ou reavaliação
das questões.
NOVOS PENSAMENTOS
novos pensamentos 13
interagem e reagem a algumas novas variáveis
surgidas nas últimas décadas.
O modernismo sempre olhou para frente,dificilmente
para trás, sempre caminhando para o futuro, para o
“progresso”. O que é batizado como “modernismo”
desconsiderou parte das complexidades que a
cultura possui, negando sistemas que romperiam
com a estática modernista. De certa forma,
o modernismo (não todo ele, mas uma parte
considerável) rompeu com elos do passado
com um estilo vanguardista e internacional,
condicionando o homem a se relacionar com
o espaço e não o contrário. Muitas vezes, este
pensamento a não flexibilidade destes pensamentos
resultou em verdades absolutas, inegáveis, barrando
quaisquer outros tipos de pensamento ou código
que poderiam contribuir significativamente para a
produção, privilegiando uma solução pré-definida
independente do enfrentamento.
Aparentemente, as cidades contemporâneas
se afastaram deste cenário imaginado pelos
modernistas; ao invés da ordem industrial e lógica
temos um cenário complexo e diversificado.
Segundo Moraes (Moraes, 2010) esta complexidade
acontece por diversos fatores, como o nivelamento
da capacidade produtiva entre os países, livre
circulação das matérias-primas no mercado global
e a fácil disseminação tecnológica; juntos, eles
permitiram a produção de bens de consumo
massificados, compostos de estéticas hibridas,
colocando em cheque os conceitos de estilo e
estética adotados até aquele momento. Além disso,
as formas de interações sofreriam uma drástica
transformação: deixariam de ser estáticas para
serem dinâmicas.
As verdades absolutas
O cenário estático e previsível, característico de
boa parte do século XX, influenciou diretamente os
ideais do projeto moderno. Com a maioria destes
conceitos originados da lógica e razão iluministas
e das éticas e estéticas industriais (pelo menos
em sua primeira fase), fórmulas pré-estabelecidas
surgiram com o objetivo de determinar uma nova
ordem social, da integração e da razão construtiva.
A idéia de “salvação”, caminho para a felicidade
e organização sempre subsidiaram o movimento
nessas escolhas, pois se acreditava que o projeto
modernista era a “arca de Noé”(Koolhaas, 1976)
da sociedade. O projeto modernista previa o
controle sobre o futuro da sociedade, no sonho de
que o mundo seguiria uma lógica clara e objetiva.
Existiram uma série de outros movimentos paralelos
ao modernismo, muitos deles compartilhando alguns
de seus conceitos, mas o próprio se adaptou e
readaptou durante o século XX, originando diversas
fases ou faces.
O modernismo (ou a crítica dele) deu origem a
outro movimento, o Pós-modernismo. Este termo
já foi muito combatido por diversos pensadores e
historiadores, como Benevolo, que afirmou que o
uso do prefixo “pós” é inadequado, pois sugere
uma idéia de “superação de algo”, neste caso
do modernismo, o que não é verdade. O próprio
se predispõe a indicar outros prefixos cabíveis,
como “neo”, “pro” ou “anti” modernismo. De fato,
este movimento apresenta uma série de conflitos
de idéias, alguns acreditando ser o reflexo de
uma contemporaneidade plural e diversificada.
Independente da postura perante cada movimento
(o que não é pertinente dentro desta discussão),
é fundamental entender como estes movimentos
prática expandida - experimentação conceptiva14
Modernidade líquida
A melhor forma de introduzir está liquidez presente
na contemporaneidade e que resultará em
mudanças nas etapas de projeto é citar as palavras
de um dos pioneiros desta observação, Bauman,
que nomeou este fenômeno como “Modernidade
Líquida”. A citação a baixo (do seu livro de mesmo
nome, extraída de Bicudo, 2008) exemplifica
perfeitamente este pensamento:
“(...) “fluem”, “escorrem”, “esvaem-se”, “respingam”,
“transbordam”, “vazam”, “inundam”, “borrifam”,
“pingam”; são “filtrados, “ destilados”; diferente dos
sólidos, não são facilmente contidos - contornam
certos obstáculos, dissolvem outros e invadem ou
inundam seu caminho. Do encontro com sólidos,
emergem intactos, enquanto os sólidos que
encontram, se permanecem sólidos, são alterados
- ficam molhados ou encharcados. A extraordinária
mobilidade dos fluídos é o que associa a idéia de
“leveza”. (...) Associamos “leveza”ou “ausência de
peso” à mobilidade e inconstância: sabemos pela
prática que quanto mais leve viajamos, com maior
facilidade e rapidez nos movemos.” ( Bauman, 2011,
pg. 8)
As revoluções nas comunicações, a velocidade
na troca de informação e, por conseqüência,
a redução na validade destes valores podem
ser apontadas como causas deste fenômeno.
Esta modernidade é um sintoma da mudança
comportamental das comunidades, que
deixaram de ser de “vida” e passaram a ser de
“destino”(Bauman, 2011). As “comunidades de vida”
são caracterizadas pelos estados fortes (estados-
nação), que ditavam os estilos de vida. Já as
“comunidades de destino” são representadas pela
liberdade de escolha, na qual as pessoas podem
escolher suas identificações e seus objetos de
consumo. Portanto, a dissolução de estados fortes e
regionais e o crescimento de um estilo internacional
forte e disseminado privilegiaram o crescimento das
“comunidades de destino”, criando relações mais
dinâmicas. Apenas como ilustração, uma relação
direta pode ser feita destas comunidades com os
movimentos projetuais. As “comunidades de vida”,
tradicionalmente estáticas e representantes dos
estados-nação, se relacionariam diretamente com
o primeiro movimento modernista (que foi, inclusive,
um movimento muito admirado pelos regimes
totalitários). Já as de “destino” necessitaram de
movimentos mais abertos, devido a sua flexibilidade
e fluidez de valores. Este último torna-se mutável
ao passo que as pessoas estão ansiosas por
identidade(s) e dispostas a consumir valores pouco
claros, gerando uma constante incerteza de valores
que se modificam conforme interesses diversos.
Neste cenário, o ato de projetar pode ser
compreendido como um momento de solidificação
desta fluidez, com a intenção de compor um
sistema de códigos que se encaixe neste fluxo
constante. Existe uma contradição aqui, uma vez
que este sistema dinâmico deve estar sempre
aberto a transformações para um balizamento do
projeto com a realidade, não podendo assim ser
tão “sólido”. Projetar, dentro desta fluidez, passa a
ser lidar com um universo de possibilidades e não
mais o encarar de maneira diacrônica, casual e
definitiva,
Além disso, as novas dinâmicas e o fluido da
contemporaneidade valorizaram aspectos
antes considerados secundários na produção,
Museu do futebol - SP, 2008Projeto multdisciplinar que envolveu filósofos, historicistas,
psicólogos, museólogos, arquitetos e designers
novos pensamentos 15
como as afetivas, emocionais e psicológicas,
multidisciplinares, que agora também fazem parte
do produto. Muitos dos cenários, antes estáticos,
passam a ter que lidar com este fluido e com
a interdisciplinaridade, como o marketing, a
arquitetura, o design e a comunicação, entrando
portanto em conflito com esta realidade mutável.
É compreensível, portanto, que neste cenário
instável, os profissionais mais atentos as
necessidades demandadas pelas pessoas e,
principalmente, aqueles que se anteciparem a
elas estão sujeitas a um maior sucesso. Eles devem
estar sempre preparados para atuar em campos
que vão além da sua formação inicial, adentrando
as demais e sempre estando disposto a convergir
para outras áreas do conhecimento. Além disso,
devem estar sempre preparado para mudanças,
interpretando, antecipando ou prospectando estas
novas realidades.
Interdisciplinaridade
A criação é um campo cada vez mais vasto. O
desenvolvimento e a presença de inúmeras novas
mídias e a velocidade da informação fazem com
que as disciplinas tenham a obrigatoriedade de
interagir entre si. Evidentemente, cada uma das
disciplinas tem que ter os seus limites bem definidos
e suas especialidades respeitas. A música cabe
aos músicos; o texto aos escritores; a fotografia
ao fotografo; a arquitetura ao arquiteto. Quando
todos estes passam a operar juntos, passa a ser
responsabilidade do designer/projetista operar
este sistema para que ele seja o mais harmônico e
eficiente o possível. Uma visão geral do processo,
muitas vezes confundida com a centralização da
produção (“o faz tudo”), mas que exige do designer
a capacidade de explorar a competência de cada
uma das áreas e especialidades (Bicudo, 2008).
A ansiedade pela busca de identidade, de
algo para se identificar, em uma sociedade
em que é possível “negociar” esta identidade,
resultado da liberdade de escolha da sociedade
contemporânea, segundo os conceitos do próprio
Bauman. Um dos motivos da necessidade do
trabalho interdisciplinar está na fragmentação das
formas de se expor uma linguagem, resultando uma
grande confusão de informações que prejudicam
a totalidade da informação. Portanto o trabalho
deve ser realizado por equipes multidisciplinares que
devem articular conjuntamente suas especialidades
para um produto final mais adequado. Intercambiar
linguagens passa ser indispensável para um novo
pensamento projetual, explorando intersecções
entre as diversas disciplinas.
O conceito de rizoma aqui se faz extremamente
importante. Para lidar com toda a complexidade
de um sistema interdisciplinar, em que existe a
intersecção entre as suas partes, incluindo o próprio
tempo, que passa a ser um fator de importante
prática expandida - experimentação conceptiva16
na reavaliação e redefinição deste sistema. Parte
do que nos ano 90 ficou conhecido como design
experimental (Bicudo, 2008) influenciou muito o
pensamento de trabalhar o processo para permitir
uma melhor integração entre as partes, devida
especialmente a complexidade que estes sistemas
interdisciplinares carregam consigo. Possibilitam
também um novo tipo de comunicação entre as
partes e um dialogo mais rico entre enunciador e
enunciatário.
Metodologia a priori?
Os modernistas (e também muitos ditos “pós-
modernistas”) fizeram crer que o método a priori,
estático e indiscutível de construção projetual era
a mais adequada e respondia com mais eficiência.
Este formato metodológico pressupunha elementos
de “fácil decodificação, por não serem híbridos, e
quase sempre construídos por conteúdos previsíveis”
(Moraes, 2010). Como citado, a referência ao
método modernista projetual percorreu todo o
século XX em um cenário estático, propondo uma
metodologia objetiva e linear, quase seqüencial.
Realmente, em certo instante, esta metodologia
correspondeu às expectativas impostas pelos
“consumidores” (a sociedade em geral), entretanto
as complexidades do novo cenário colocaram a
sua validade em cheque.
Promover, portanto, uma prática projetual que crie
padrões de desenvolvimento ao mesmo tempo que
absorve os próprios padrões obtidos (Bicudo, 2008).
E a fluidez desta prática projetual deve permitir uma
nova aproximação entre sujeito e objeto através da
identificação e contatos comunicativos, afastando-
se conceito inicial modernista da adaptação
do homem ao espaço que o cerca e criando
uma relação mútua. Apesar das complicações
em se trabalhar neste cenário experimentativo
(mais comum no design gráfico, por exemplo), a
arquitetura já deu seus primeiros passos em direção
a experimentação e ao exercício da espacialidade,
escapando da típica visão física (construída) para
a puramente espacial, da vivência. Basta observar
a quantidade de sites que funcionam como museus
virtuais, além de games que criam/recriam um
espaço virtual.
Esta metodologia deve ser compreendida como
uma organização dentro de um sistema liquido
que se constrói mediante um contexto. Em outras
palavras, as condições estilísticas dadas por estes
movimentos e apontados por diversos teóricos
(como Benevolo) são mutáveis e redefinas
conforme o processo se desenvolve. O projeto
é o desenvolvimento de um padrão inicial,
sendo constantemente acompanhado do seu
desenvolvedor durante um espaço de tempo, por
intermédio de processo de feeedback/ reavaliação
(Johnson, 2003). A questão estilística se esvai,
uma vez que busca uma constante operação de
leitura e releitura dos códigos, sendo “muito mais
dado pelo contexto do que por uma imposição
do projeto”(Bicudo, 2008, pg. 26). Esta operação
constante leva crer que os processos não devem
ser dados a priori, mas sim construídos conforme
o ato de projetar, em uma resposta constante a
reorganização destes códigos. A modernidade,
através de um programa e um planejamento
estático, tende a engessar esta versatilidade
da metodologia, ignorando outros fatores e
possibilidades. Possibilidades estas que superam
de forma singular a metodologia inicial, ao passo
permitem a abertura do campo projetual para
Galeria Melissa- SP, 2007Projeto de uma loja de calçados, que tem a proposta de uma fachada dinâmica, “mutante”, que se recria de tempos em tempos com artistas convidados.
novos pensamentos 17
a descoberta e reprogramação. Segundo Mauri
(Morais, 2010) o “ sonho de um desenvolvimento
contínuo e linear se fragmentou diante as
emergências que não foram previstas, e que se
demonstraram imprescindíveis.”
A crise na metodologia imposta pelos movimentos
predominantes do século XX é o resultado
da não adequação de suas diretrizes dentro
da complexidade aqui descrita. As novas
circunstâncias pelas quais o universo projetual
esta submetido coloca uma nova metodologia
como protagonista, uma vez que discutir a
organização e as condicionantes projetuais passam
a ser indispensáveis. Pensando em um sistema
previamente estruturado, podemos identificar três
etapas para este novo desenvolvimento projetual:
o problem finding, o problem setting e o problem
solving (Moraes, 2010). O primeiro, é encontrar o
problema, depois configurar as suas necessidades
e por final resolve-lo. Dentro deste universo de
projeto, a metodologia desempenha o papel de
intervenção flexível e dinâmica, abandonado a
especificidade e o pontual. Esta metodologia deve
lidar com questões muito mais complexas que as
anteriores, em especial quando aborda questões
que extrapolam as unidades projetuais tradicionais
e tangem aspectos não materiais e valores que
articulam outros sentidos.
Entende-se portanto, que a metodologia deve
dar suporte a este cenário liquido, participando
e interagindo diretamente com os componentes
de um sistema fluido. Isto dificulta o trabalho com
uma metodologia dada a priori, onde os caminhos
a se percorrer são conhecidos desde o inicio.
Somado a isto esta a ampliação do campo de
responsabilidades do projetista, extrapolando
os limites do projeto ao exercer influencia sobre
os indivíduos, promovendo reações e repostas
constantes dos envolvidos. Ao contrário do
engessamento moderno, em que o cenário gerava
os parâmetros de trabalho, o caminho aqui deve ser
trilhado conforme o avanço no projeto e, em alguns
casos, redefinida durante o percurso. Isto indica,
segundo Moraes, uma habilidade muito maior dos
designer/projetistas/arquitetos em lidar com as
informações disponíveis.
Desmontagem e remontagem
Um dos princípios mais importantes quando
estudamos a metodologia é compreender que esta
nada mais é do que uma constante operação entre
prática expandida - experimentação conceptiva18
desmontagem e remontagem de códigos. Isto se
justifica na própria falência da metodologia dada
a priori. Deleuze leva este conceito ao extremo,
quando afirma: “O artista clássico é como Deus, ao
organizar as formas e as substâncias, os códigos e
os meios, e os ritmos, ele cria o mundo”(Deleuze,
1997, vol. 5. pg. 216). Também nesta mesma linha
de raciocínio, Villém Flusser em seu livro “O mundo
codificado” aproxima a atuação do projetista a de
um profeta, pois não é somente um técnico, mas
sim um ser que possui um “olha-sentinela”(Flusser,
2007), dotado da consciência de responder pelos
outros homens, transformando objetos cotidianos
em veículos de comunicação (Bicudo, 2008).
Decodificar estes códigos e recodificá-los passa
a ser um importante fator para o sucesso de um
projeto. Uma das teorias mais exemplares de como
este funcionamento procede é a semiótica, que
“aparece como apoio fundamental neste ato
contínuo de projetar, a partir de sua capacidade
de desmontagem e remontagem dos objetos
analisados e de si própria” (Bicudo 2008). Portanto,
o projeto é uma associação entre dados iniciais e
de padrões que surgem conforme a profundidade
do projetista dentro deste e da interação deste
projeto com os agentes participativos. Em um
sistema tradicional de desenvolvimento projetual
tem etapas bem definidas de trabalho (programa
e projeto), adicionando a estes uma terceira etapa
que corresponderia a de reavaliação do sistema
depois de pronto. Entretanto, este pensamento já
pressupõe uma reorganização estruturada do ato
de projetar, estabelecendo um padrão pré-suposto.
Por exemplo, a etapa de reavaliação poderia
ser uma etapa intermediaria, como instrumento
de investigação e aperfeiçoamento tanto do
programa quanto do projeto mesmo quando ele
ainda esta processo de execução, produção e
pensamento. Portanto, o papel do designer pode
ser compreendido como algo muito maior do
que o simples ato de projetar, mas sim como um
verdadeiro descobridor de essências. Deve-se
aprofundar em um cenário mutante e complexo e
o papel do designer / arquiteto deixa de ser apenas
técnico e linear.
O Metaprojeto
As novas exigências aqui descritas obrigam os
projetistas a buscarem alternativas para se adaptarem
a elas; o universo projetual passa a cobrar uma maior
gama de conhecimentos do que antes, fazendo
o projetista ter que se aventurar por campos antes
pouco explorados, como o psicológico, semiótico
entre outros. Amplia-se o campo de atuação, ao
mesmo passo que se torna muito mais complexo,
exigindo uma ótica mais aberta e de poucos vícios.
As metodologias tradicionais, moldadas a priori,
já não correspondiam de forma positiva a estas
necessidades, em especial por pouco lidar com
as dinâmicas e contextos que envolvem o objeto
projetual; portanto, uma metodologia mais aberta e
dinâmica era uma alternativa a ser buscada. Assim,
surge o método conhecido como o Metaprojeto.
Originado do termo italiano “Metaprojecto” e
trabalhado pelo arquiteto Giuseppe Ciribini e
por Mario Oliveri, esta metodologia propõe uma
nova aproximação com as etapas de projeto,
desmembrando as diversas partes que a compõe
e as analisando individualmente. Este trabalho é
focado em reconhecer as partes dinâmicas e inter
relacionadas, estudá-las e identificando como
elas podem se reorganizar dentro do projeto. O
metaprojeto pode ser entendido como uma fase que
Siberian Airlines - LandorDisciplinas interagem-se na composição de um sistema visual
novos pensamentos 19
antecede a do projeto em si, pois existe uma abertura
muito maior de análise, cenários e possibilidades
do que quando o projeto é executado. O termo
“concept” (muito usado nas academias italianas)
aqui é recorrente, uma vez que o trabalho com a
concepção é a grande força desta metodologia.
Esta concepção atua como uma especulação de
um ou mais cenários, tanto na etapa inicial de um
novo projeto quanto como uma análise corretiva ou
de balizamento de um projeto já existente.
A grande singularidade deste sistema projetual
esta em não promover uma produção definida ou
definitiva, mas sim propor um alargamento “do seu
raio de ação próximo ao complexo conjunto de
atividades compreendidas em sua concepção. A
forma e a função contidas no projeto tornam-se o
ponto de partida e não o fim do projeto.” (Moraes,
2010). Aqui, não necessariamente resolvem-se
todos os problemas projetuais ou responde-se a
um programa previamente estipulado (como na
metodologia estática modernista), mas sim se
estudam as possibilidades e potencialidades de
um cenário abordado. Analisa-se um cenário atual
e especula-se um cenário próximo, obrigando o
projetista a lidar com as etapas já superadas em uma
atividade de reavaliação constante.
Importante colocar que o terreno de trabalho que
o projetista encontra aqui é a potencialidade como
sua produção. Considerando um sistema input e
output (que será abordado adiante), o metaprojeto
se dispõe a estudar profundamente todos os campos
e as potencialidades dos dados de inserção (input)
deste sistema, sem necessariamente definir os de
saída (output). No universo de projeto, isto significa
não prever um modelo de projeto único e definitivo,
mas sim “um articulado e complexo sistema de
conhecimentos prévios que erve de guia durante
o processo projetual.” (Moraes, 2010). Portanto ele
é um suporte importante para o projeto, dando
perspectivas de reflexão na sua elaboração e
pesquisa. Em outras palavras, o termo que vem
sendo usado para exemplificar esta metodologia é
bem sintetizadora: “ o projeto do projeto”. Não se
deve encarar o metaprojeto como prescritivo, mas
sim uma ferramenta de reflexão teórica, que induz a
decodificação do projetável.
Para que este “input” resulte em um ou diversos
“concepts”, é necessário estudar uma infinidade
de interações e condições, mapeando o cenário
de projeto e contextos. O resultado disso é uma
etapa “pré-projeto” mais importante que a própria
prática expandida - experimentação conceptiva20
etapa projetual, uma vez o sucesso deste pode
estar condicionado à compreensão correta deste
contexto. Portanto, o metaprojeto é um “pack of
tools”, responsável pela sustentação e orientação da
atividade projetual dentro da contemporaneidade
líquida, Ela não deve ser considerada uma substituta
a velha metodologia modernista, mas sim uma
paralela que se dispõe a estudar e criar os cenários
de atividade para esta metodologia, sendo uma
alternativa mais ampla e adaptável a diferentes
contextos do universo de projeto. Um importante
mediador da leitura da realidade e do ato projetual,
auxiliando este último a fornecer as repostas mais
adequadas ás complexas relações atuais. Esta leitura
da realidade possibilita não somente uma solução ou
resposta para uma problemática, mas sim abre um
campo de possibilidades e situações distintas, antes
não percebidas ou levadas em conta pela prática
projetual tradicional.
Conceitualmente, lida inteiramente com os dados
que compõe o “input”, atuando predominantemente
nas etapas iniciais de projeto. Esta afirmação,
defendida pelos seus idealizadores, pode não
verdade por completo. O metaprojeto pode e deve
atuar durante todo processo de desenvolvimento
e até mesmo durante a vida útil do mesmo, uma
vez que a realidade liquida criam necessidades
diferentes freqüentemente. Poder se adaptar e
readaptar pode fazer parte todo o processo e não
apenas no inicio de sua composição ou definição
do “concept”, dando os subsídios de reconstrução
projetual. ,
O metaprojeto é um percurso projetual de
observação da realidade e da não definição de
uma solução, mas sim da exposição de diversos
conceitos possíveis. Observa-se (analítica e
criticamente) o existente, explicam-se escopos,
objetivos e meios projetuais. Configura-se, portanto,
um cenário existente e previsto, que verifica uma
série de parâmetros como ciclo de vida, fatores
sociais, mercadológicos, que levará “a obtenção
de um mapa projetual que nos levará a uma visão
conceitual e, por fim, a um concept mais definitivo
antes da fase projetual” (Moraes, 2010).
Input e Output
Este conceito esta muito presente no texto de
Johnson (Johnson, 2003). Estes dois valores são
originados na linguagem de computação e na
elétrica. Através de experimentos juntamente com
programadores de softwares, Johnson chegou a
conclusão que só é possível controlar os dados de
inserção dentro de um sistema, os inputs. Em outras
palavras, por intermédio de uma seleção de dados
associados a alguns algoritmos (regras), o sistema
se desenvolve continuamente, e o seu idealizador
perde o controle sobre o resultado, sobre o output.
Conforme já citado, o metaprojeto pode ser
compreendido como o “projeto do projeto”,
o projetar mais especialmente estes dados de
“input” dentro de um sistema especulativo. Afasta-
se, portanto, a metodologia meramente como
uma produção linear e técnica, mas sim a da
produção e reflexão de uma realidade. Com isto, o
metaprojeto pode ser não apenas um definidor dos
dados de “input”, mas também um componente
importante de definição de possibilidades e regras
do sistema no qual estes “inputs” e “outputs” estarão
inseridos. Provavelmente, a única etapa pela qual o
metaprojeto não atua é o “output”. Considerando
ainda que o metaprojeto possa ser mais dinâmico
Cenpes Petrobras, Zanettini Arquitetura, RJ - 2010Projeto pioneiro na integração entre espaço de trabalho,
lazer e meio ambiente. O processo de projeto também seguiu esta visão de conjunto, uma vez que diversas disciplinas
(arquitetura, programação visual...) trabalharam juntas em um sistema bottom-up
novos pensamentos 21
do que os autores propõe, pode-se imaginar que
estes “inputs” e sistemas sejam dinâmicos, a partir
de uma reavaliação constante dos resultados
(“outputs”) deste conjunto combinados com a
fluidez da modernidade. Operar este conjunto
constantemente pode ser uma resposta interessante
a modernidade liquida. Pressupõe-se, portanto, que
o sucesso de um projeto está diretamente ligado
a capacidade de operar os “inputs” e o sistema e
avaliar constantemente os “outputs”.
Top Down (discurso) x Bottom Up (diálogo)
Os sistemas Top-Down são tipicamente hierárquicos,
onde uma significativa parte do processo é
desenvolvida linearmente, de cima para baixo.
Já o sistema Bottom-Up se difere por esta relação
não ser vertical, mas horizontal, onde o coletivo
é a prioridade ante o individual. Em um cenário
multidisciplinar fica clara a relevância deste sistema.
Steven Johnson, em seu livro “Emergência” (2003)
exemplifica isso neste trecho:
“múltiplos agentes interagindo dinamicamente de
diversas formas, seguindo regras locais e não
percebendo qualquer instrução de nível mais alto”
(Johnson, 2005, pg. 15)
Estes sistemas emergentes, segundo a visão de
Johnson, são observações da interação entre
sistemas diversos que geram padrões aplicáveis.
Processos emergentes, complexos e auto-
organizaveis (Johnson 2003) tornam-se fundamentais
para caracterizar sistemas operados “top-down”,
ante operados “bottom-up”(Johnnson 2003). A
simbiose entre as disciplinas é importante, pois
somente com uma organização neste sentido
que as partes conseguirão se compor de uma
Digital Water Pavillion, Zaragoza, 2008Espaço, gráfico e interatividade proporcionam uma nova relação do sujeito com o espaço dinâmico.
prática expandida - experimentação conceptiva22
reconhece isto, e busca uma terceira alternativa a
estes sistemas, onde a escolha pelo “top-down” e
“bottom-up” é o resultado de regras inicialmente
estipuladas em um projeto, que serão submetidos
a alguma análise para se definir qual dos dois
caminhos seguir.
Produção integrada
Para entrar melhor no assunto, observa-se o artigo
de Márcio Fabrício para a revista PÓS. Neste artigo,
o autor explora o conceito de reaproximação
entre as partes, remetendo a valores há muito
tempo perdidos, quando o artesão ainda tinha
o completo controle sobre todas as etapas do
processo. Conforme as profissões foram surgindo,
e a atividade manual passou a ser mecânica; e
muito mais do que mecânica, passou a ser em
série, ficou complicado para o profissional ter ampla
visão do projeto como unidade. Os trabalhadores
começaram apenas a lidar com a especialidade
com a qual eram designados.
A profissão de arquiteto pode ser entendida desta
forma. O autor usa como exemplo grandes projetos
de empreiteiras, mas este exemplo é plenamente
aplicável nas demais áreas. O projeto, como um
todo, demanda muito mais do que simplesmente
a arquitetura. Demanda projetos complementares
a este que são especializados nas suas respectivas
funções (exemplos: iluminação, elétrica,
paisagismo...). Considerando que cada uma destas
disciplinas corresponde a profissionais diferentes,
muitas vezes contratados como terceirizados,
costurar todas estas partes pode ser maçante.
E realmente é, uma vez que é comum encontrar
projetos com uma infinidade de incompatibilidades
entre as partes, como uma iluminação que não
forma mais harmônica, pensada conjuntamente
e não hierarquicamente. É importante colocar
que este sistema de organização proposto pro
Johnson é interessante, porém não é totalmente
funcional e aplicável, ao passo que um sistema
não necessariamente exclui o outro; o ideal seria
um sistema integrado entre top-down e bottom-up,
aproveitando-se das principais virtudes de cada
um deles. São compreensíveis as dificuldades em se
propor um sistema “bottom-up”, pois estes exigem
uma recombinação projetual que escapa do
convencional, obrigando a mudança drástica de
visão sobre os processos. Por outro lado, o “top-
down” propõe uma homogeneização produtiva
de pouco dinamismo, porém mais receptível
dentro do campo profissional. O próprio Johnson
arquitetura
comunicação
arquitetura
elétrica
estrutura
paisagismo
hidráulica
paisagismo
hidráulica
arquitetura
produto
gráfico
urbanismo
arquitetura comunicaçãoproduto gráficourbanismo
elétrica
estrutura
arquitetocoordernador
sistema de regulação e
reflexãometaprojeto?
arquitetura
comunicação
arquitetura
elétrica
estrutura
paisagismo
hidráulica
paisagismo
hidráulica
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urbanismo
arquitetura comunicaçãoproduto gráficourbanismo
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sistema de regulação e
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comunicação
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paisagismo
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elétrica
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arquitetocoordernador
sistema de regulação e
reflexãometaprojeto?
arquitetura
comunicação
arquitetura
elétrica
estrutura
paisagismo
hidráulica
paisagismo
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urbanismo
arquitetura comunicaçãoproduto gráficourbanismo
elétrica
estrutura
arquitetocoordernador
sistema de regulação e
reflexãometaprojeto?
Márcio M. FabrícioModelo de organização de equipessem coordenação
Márcio M. FabrícioModelo de organização de equipescom coordenação
Sistema de organização projetualtop-down
Sistema de organização projetualbottom-up
novos pensamentos 23
se adequa ao paisagismo, ou a arquitetura com
a elétrica. O motivo disto é a falta de visão de
conjunto. As trocas de informações ocorrem
unilateralmente; se por um lado esta troca é mais
rápida, por outro ela não integra as suas soluções
ao todo, resultando nas incompatibilidades
discutidas. Então, o autor propõe um novo sistema
de organização do trabalho, no qual o arquiteto (ou
um coordenador geral) se encarregaria de efetuar
a troca de informações entre as partes. O que
este trabalho propõe é um pouco diferente, mas
valido. Enquanto Fabrício acredita que as trocas
devam acontecer tão somente por intermédio
deste coordenador, aqui a proposta é que as trocas
também ocorram entre as partes, mas que elas
sejam validadas, documentadas e consultadas pelo
coordenador geral. Para um olhar mais claro sobre
as propostas, olhar os gráficos que se seguem.
Projeto concurso La Villete - OMARepresentação marca época ao dispensar dados técnicos e investir no didático e no estudo das sensações
metodologias e processos 25
METODOLOGIAS E PROCESSOS
Como visto, a metodologia não deve ser dada a priori; ela deve ser construida conforme o desenvolvimento, conforme o projetista se aprofunda no universo de trabalho. É compreensível que permitir a abertura dentro de uma proposta é uma tarefa dificil de ser visualizada, ainda mais quando métodos muito consolidados e estabelecidos são o ponto de partida.
Propor uma nova forma de se projetar passa
a ser um desafio para aqueles que já estão ou
foram iniciados no universo do projeto. Como
conseguir criar e recriar processos em um cenário
já consolidado? Ainda mais na arquitetura, onde
sua lentidão em reconhecer e absorver novos
pensamentos afasta muito dos interessados na
investigação. Mais assustador é como esta atividade
de experimentar metodologias pode ser absorvida
por um mercado cada vez mais intransigente
e pouco receptivo ao novo, ao diferente. O
próprio arquiteto Mies van der Hoe afirmava
constantemente, quando questionado sobre a
semelhança muito grande entre seus projetos,
justificava que era impossível criar um projeto novo
toda a segunda-feira. De fato, o arquiteto estava
correto, mas vale lembrar que o cenário no qual
projetava era o estático modernista, e hoje as
novas metodologias e processos são obrigados
a investigarem e celebrarem as diversidades
Mesmo assim, iniciativas experimentativas existem,
e não são poucas; alguns se arriscam mais que
outros, é verdade, porém inovações sempre estão
sendo debatidas e propostas, sejam por projetos,
instalações, métodos pessoais ou simplesmente
pelas idéias. Experiências que refletem em diversos
pontos do universo do projeto sejam na concepção,
na execução ou na observação de uma
oportunidade de trabalho.
Neste ponto do trabalho haverá uma
exemplificação de como estes corajosos novos
produtores tem se esforçado no objetivo de ampliar
os horizontes projetuais. E muitos outros poderiam ser
citados, entretanto os aqui colocados não foram
selecionados por acaso; cada uma delas terá uma
contribuição importante para o desenvolvimento
do trabalho e das idéias que se seguirão. Portanto,
antes de avançar para fase propositiva e o inicio
das etapas produtivas, explorar um pouco a estes
processos e metodologias pode ser edificante, pois
quando aliadas aos novos pensamentos, ajudarão
na compreensão da seqüência do trabalho.
Danish Superharbor-BIGProjeto proposto pelos arquitetos ao governo dinamarques e alemão, a partir da observação de se liberar território na costa dinamarquesa para o turismo e adequar o suporte naval nacional as demandas européias.
prática expandida - experimentação conceptiva26
Além do programa
Em “novos pensamentos”, guiados na busca de
novas respostas para novos programas, alguns
arquitetos/designers se propuseram a rastrear
necessidades bem contemporâneas, antecipando-
se a possíveis clientes que as solicitassem. Esta
atitude passa a ser determinante na compreensão
metodológica e profissional atual, segundo os
fatores já mencionados. O posicionamento perante
os problemas e as propostas para os mesmos pode
ser algo novo e enriquecedor, porém muitas vezes é
ignorado por boa parte dos projetistas, em especial
arquitetos. Estes ainda preferem abordar a sua
profissão como uma resposta direta a um programa
estabelecido e não como um possível exercício na
construção do mesmo. O design, auxiliado pelo
“design thinking” (TIm Brown, 2010), conseguiu
avanços notórios neste sentido. Existe, portanto,
uma quebra tradicional do programa, agora não
mais fornecido ou solicitado por terceiros; o próprio
projetista pode ser o construidor de seu programa,
observador e desenvolvedor das necessidades.
Possivelmente, não existe melhor articulador que
este, uma vez que está imerso em universo de
projeto ao qual domina amplamente. Aqui serão
mostrados dois exemplos de como profissionais (no
caso da arquitetura, mais especificamente) teceram
seus olhares sobre problemas reais e propuseram
soluções por eles mesmos, independente de outros.
Danish Superharbor - BIG
Esta proposta tem origem a partir de uma
interessante observação do grupo BIG (Bjarke Ingels
Group sediado em Copenhagen, Dinamarca) sobre
o território e os portos da Dinamarca. Eles notaram
que a Dinamarca possui muito mais área de mar do
que de terra (aproximadamente o dobro) e a sua
costa possui dimensões muito significantes, sendo
que 2/3 da população reside nas suas proximidades.
Entretanto, boa parte desta costa esta ocupada
por atividades portuárias, que representam apenas
uma pequena fração na economia do país (ainda
mais comparada ao turismo, por exemplo). Eles
acreditam que usam seus melhores lugares com
o objetivo errado. Então, baseado em uma nova
demanda naval européia, que se expande para
o leste, e a necessidade de um novo porto que a
comporte, o escritório propôs um zona portuária
localizada no meio do mar báltico, entre a
Dinamarca, a Holanda e a Alemanha. Este novo
porto, além de ter uma localização estratégica,
libera parte da costa dinamarquesa para outras
atividades que são mais lucrativas para o país
(como o turismo). O projeto foi de absoluta iniciativa
The Bucky Bar - Studio for Unsolicited Architecture - NAIProjeto construído em uma tarde, em uma praça central de Amsterdã. É uma estrutura simples de guarda-chuvas que abrigam DJs, formando uma balada espontânea e momentânea, fechada com a chegada da polícia.
metodologias e processos 27
do escritório e de seus profissionais, sem um
intermediador ou cliente que a solicitou. Quando
levado e apresentado às autoridades responsáveis
e possíveis clientes, certa resistência aconteceu,
entretanto, para a surpresa do próprio grupo, a
proposta foi aceita e hoje se encontra em fase de
construção.
Studio for Unsolicited Architecture - NAI
Esta atividade é uma proposta inovadora do
escritório holandês, que propõe uma forma liberal
de produzir arquitetura sem estar atrelado a clientes,
orçamentos ou programa definidos. O projeto surge
através da observação, especulação, análise
e digressão de aspectos da dinâmica social do
ambiente urbano, observando a interação entre
as pessoas e cidade, propondo uma intervenção
arquitetônica que propicie isto. Este estúdio é
itinerante, promovendo diversos workshops pelo
mundo, inclusive no Brasil. A proposta surge através
do estudo especifico das relações das pessoas com
os locais e propõe intervenções que intensifiquem
essas relações. Muito antes de se propor a resolver
problemas ‘sociais’, onde a arquitetura é um ator
coadjuvante comportando um programa, coloca a
arquitetura como protagonista do espaço urbano,
sendo ela a mediadora entre as relações e o
espaço. Pode parecer conflituoso, mas é a grande
virtude dessa prática. Fora a questão libertária,
que leva a pensar na arquitetura como um meio
não como um fim em si mesmo, e a desenvolver
projetos sem as amarras do programa, do partido,
do conceito. É a arquitetura insurgente da própria
dinâmica do espaço – uma operação de vazios.
Os projetos deste grupo instigam pela diversidade
e criatividade de produção, indo desde festas
construídas com guarda-chuvas até pintar faixas de
pedestres no chão.
Métodos experimentais
Indo em outra direção da produção inovadora, ao
invés de lidar com o encontro de um programa e de
uma proposta, será abordada a experimentação
como desenvolvimento projetual. Em alguns
casos, são apenas respostas diferentes ou ousadas
das mesmas solicitações de projeto, apenas
experimentando alguns aspectos do projeto,
como forma e linguagem. Uma experimentação
pontual. Já em outros casos, esta experimentação
é mais profunda; a experimentação torna-se uma
ferramenta importante de validação de escolhas
e até mesmo de construção de programas e
definição de processos. Seguem alguns casos de
destaque.
White noise white light - Atenas, 2004Instalação interativa mesclando luzes e sons que respondem ao movimento das
pessoas conforme estas o percorrem, conturbando um ambiente inicialmente estático.
LoRezHiFi - Washington, 2005Instalação interativa, onde luzes captam o movimento das pessoas e reproduzem em
um telão de LED, descriminando uma série de comportamentos naquele espaço.
Light Drift - Intersect - Philadelphia, 2010Instalação de órbitas luminosas que interagem uma com as outras estimuladas pelas ondas e distúrbios do rio.
prática expandida - experimentação conceptiva28
Expanded Pratice : Höweler + Yoon - MyStudio
Como mencionado, a experimentação
metodológica da dupla de arquitetos foi
fundamental para a idealização deste trabalho;
não por menos, o batismo de suas atividades
nomeia este trabalho. A prática consiste no uso
da tecnologia como a ferramenta protagonista
na composição projetual, ao passo que permite
novas interações dos espaços com os sujeitos
que os usam. Além disso, eles usam e abusam
de sensações diferentes, como luzes e sons para
produzir novas percepções espaciais, em uma
atividade interdisciplinar notável. A combinação
(ou mescla) da arquitetura com instalações criam
valores combinados e recombinados dentro de
contexto. Mais que isto, permite uma reavaliação
e trabalham constantemente com as resposta dos
usuários, resultando em uma importante análise
do sistema, permitindo o reajuste e a adaptação
do mesmo conforme os dados obtidos. Em alguns
pontos, os experimentos ultrapassam a mera
intenção de promover a interação, passando a ser
um poderoso coletor e denunciador das atividades
e comportamentos humanos. Portanto, a dupla se
Stephan HenrichProdução digital permite uma combinação de funções convencionais com estilo, forma, e linguagem robótica.
metodologias e processos 29
aproxima de uma inovadora forma experimentativa
de contribuição indispensável para a composição
de um programa, podendo ser considerada uma
prática inserida no metaprojeto, apesar de em
nenhum momento clamarem por tal definição em
suas pesquisas.
Stephan Henrich - Robotic architecture
No sentido das novas experiências originadas pela
tecnologia, este arquiteto propõe um novo caminho
para se pensar às formas e a linguagem. Usando
programas paramétricos, ele cria composições
lúdicas partindo de algoritmos gerados segundo
alguns critérios pré-estabelecidos. O resultado são
formas únicas, ousadas e singulares, apesar da
linguagem se aproximar bastante das possíveis
pelos programas paramétricos. Existe uma
aproximação muito forte da produção de Henrich
com a máquina; o próprio nomeia suas criações
como máquinas que devem cumprir determinadas
função perfeitamente. Se por um lado, temos uma
metodologia tradicional no sentido de respeitar um
programa previamente pensado, a intenção de
procurar novos caminhos para se compor formas e
linguagens associadas com funções é uma atitude
de destaque.
Maquetes - OMA
O escritório de Rem Koolhaas é um dos
grandes incentivadores das novas produções e
pensamentos. É de seu grupo de profissionais uma
das mais simbólicas mudanças na forma de pensar
e apresentar o projeto, através da proposta para
o parque La Villete, em Paris. Mas o escritório não
se resume apenas a esta investida; é recorrente
encontrar entre seus trabalhos experimentações
volumétricas com maquetes, em especial de
Estudo maquetes - OMAEstudo de maquetes, aliada a um programa pré-estabelecido, define as formas e linguagens das construções.
Colagens - EMBTMontagem de imagens associativas ajudam a criar um sistema de referências que será importante na definição da linguagem e da forma projetual.
prática expandida - experimentação conceptiva30
ciada. Assim como o OMA, o EMBT não se dispõe a
reavaliar o programa ou abrir as portas para novas
percepções e articulações, entretanto o caminho
projetual que utiliza para definir as linguagens de seu
trabalho é particular. Aqui, ao invés de maquetes
físicas, encontram-se outras composições tendo as
texturas como ponto de partida, por meio de “ima-
gens referenciais” que possuem algum tipo de liga-
ção com o objeto de projeto. A construção e união
destas imagens geram gráficos de intensidade
forte, quase como colagens de referências, que ao
se comporem abrem espaço para definições de
linguagens e formas. Neste sentido, a metodologia
afasta-se da modernista, pois desconsidera a téc-
nologia como parte indispensável da linguagem (a
caráter lingüístico. Apesar de seguir a tradicional
composição programática da metodologia, ele
deixa que as formas e as funções fiquem abertas
e, a partir de interações com diversos materiais
durante a composição física, recria novas
disposições e relações. As maquetes, portanto,
contribuem significativamente para definição da
linguagem do projeto e para as composições
formais e funcionais nela presentes, apesar de não
se aprofundarem no questionamento de nenhuma
delas.
Colagens - EMBT
Este é um outro escritório que investe na diversidade
produtiva e na metodologia de projeto diferen-
Mapeando as sombras - Antony VescardiEm uma atividade educacional, metodológica e investigativa
Vescardi propõe obter novas formas a partir da sombra de estruturas existentes. Em um ato continuo de leitura e
releitura, ele incentiva a constante descoberta e os possíveis desencadeamentos que esta prática pode atingir, ao repetir o
processo exaustivamente com um mesmo objeto origem.
metodologias e processos 31
honestidade dos materiais), indo em direção a uma
nova construção lingüística avaliadora do cenário
de inserção projetual.
As sombras - Antony Vescardi
Para finalizar, após serem citados processos de
diversas naturezas, algumas que se aproximam
muito do cenário dinâmico e fluido da
modernidade, enquanto outros que propõe
apenas enfrentamentos diferentes do desenvolver
projetual, mais um caso desta última situação
serão estudados. A produção de Vescardi
extrapola por completo as referências anteriores de
desenvolvimento projetual (maquete e colagem)
indo em direção a uma nova apropriação e
composição. O processo de trabalho é complexo:
ao se observar estrutura pré-existente sobre a
incidência de uma fonte de luz, uma série de
sombras projetadas sobre um plano são obtidas. A
interação entre as estruturas e as sombras obtidas
da projeção gera uma metodologia particular,
de cheios e vazios, que passam a enriquecer o
universo do projeto. Este conceito, batizado de
“mapeamento das sombras” pressupõe o ato
de projetar através da construção das sombras,
imaginando como formas e linguagem podem
se combinar no sentido de nova possibilidade e
desdobramentos. Isto gera uma reação em cadeia,
onde a construção inicial gera uma sombra, que
depois passa a ser construída, para depois gerar
uma outra sombra a ser construída novamente.
Uma relação cicilica, porém sempre descobridora e
nova.
prática expandida - experimentação conceptiva32
As abordagens previamente descritas criaram o escopo de trabalho que deverá ser seguido. Os mecanismos que serão
usados são bem próximos aos do metaprojeto, onde o objeto de trabalho não é o projeto em si, mas sim todas as variáveis
que orbitam a esfera deste projeto e possibilitam que tal exista dentro da liquidez da contemporânea. Portanto, o que será
feito aqui são estudos completamente abertos, sem nenhuma indicação definitiva, mas todos embasados na realidade,
onde o campo das possibilidades e potencialidade de um sistema é a grande chave. Assim como visto, o primeiro passo
a ser dado é a observação, ou o “problem finding”. A partir de um olhar crítico, uma necessidade urbana e cotidiana será
encontrada. Esta necessidade deve permitir o trabalho interdisciplinar, que aqui ficará restrito apenas as tradicionais
disciplinas de projeto (arquitetura, urbanismo, design), pois um verdadeiro trabalho entre disciplinas exigiria uma inter-
relação profissional que aqui não será possível. Não será uma observação pura por completa, uma vez que o “objeto-
tema” deve corresponder a algumas expectativas de trabalho, como a integração entre arquitetura e programação visual.
Portanto, dentro desta possibilidade, a necessidade será encontrada e desmontada, para que seus problemas, relações,
adversidades possam ser explorados. Como o ato de projetar trilha o constante caminho da desmontagem e remontagem,
a etapa de observação se estenderá até o ponto em que praticamente todas as fontes de averiguação estejam bem
estudas, possibilitando assim remontagem deste sistema com base nestes dados. É importante reafirmar como esta
observação será indispensável para uma reconstrução dos sentidos. Nesta remontagem, serão propostas diretrizes e
programas alternativos e multidisciplinares, que visão a solução do conjunto e não a desfragmentada.
Dentro do metaprojeto, estaria sendo explorando todo o conjunto compreendido pelos inputs e o sistema, no qual os
primeiros seriam as análises obtidas pela desmontagem do objeto tema e o sistema as propostas de construção deste
sistema conforme um programa e diretrizes. Por outro lado, para não cair em um senso de estranhamento e subjetividade,
algumas possibilidades de outputs serão desenvolvidas, apenas em caráter expositivo/indicativo, mas que servirá
como ilustração dos objetivos alcançados pelo processo. Assim, o produto final serão todas as condicionantes para a
execução de um ou mais projetos, diferentes ou iguais em essência. O resultado será apresentado na forma de concepts
de desenvolvimento, ilustrações conceptivas de comportamentos e intenções sem a necessidade de se preocupar com as
questões técnicas e construtivas.
Levando em consideração a próxima etapa, a de observação, será mais detalhado como será feita esta seleção, quais
PROPOSTA INICIAL
investigação
cotidiano
necessidades
comportamentos
desmontagem
remontagem
viabilidadedinamismo
ciclo de vida
aplicação
estratégias
disciplinas
espaçourbanográficoprodutooutros
OBSERVAÇÃO
ANÁLISE
SELEÇÃO
proposta inicial 33
serão os critérios usados. Em um primeiro momento, ocorrerá a observação; a observação acontece no momento em que a
crítica se da conta de um problema presente e que se faz necessário a algum tipo de usuário/consumidor . Esta observação
abrange diversas frentes de pesquisa e pensamento, indo desde observações de sintomas urbanos característicos de certo
recorte, até comportamentos pontuais da sociedade. A seleção deveria ser feita crua, simplesmente como uma resposta
a um problema; em um cenário ideal, isto é possível, mas para conseguir abranger todas as possibilidades projetuais
imaginadas, ela deve corresponder a algumas expectativas preliminares. Elas são diversas, mas as principais e que serão
determinantes são as disciplinas e o dinamismo. O objetivo é conseguir trabalhar com uma tipologia que permita a
transição pelas diversas disciplinas do universo projetual (aqui considerado espaço, urbano, gráfico e produto) além dos
subjetivos., que não serão explorados por exigirem maior comunicação com outros profissionais. Além deste, o grande
motivador desta seleção é o dinamismo, por ser um forte sinalizador das mudanças estudadas pela modernidade líquida,
de valores pouco duráveis e constantemente mutáveis. Encontrar uma possibilidade projetual que induzisse a esta última
abre possibilidades que se fazem tão importantes quanto o próprio trabalho multidisciplinar. Portanto, encontrar uma
tipologia, um “objeto-tema”, que corresponda a todas estas virtudes e que articule estas possibilidades para um estudo
aprofundado e experimentativo é o próximo passo deste trabalho.
Night Club em Berlim, AlemenhaCasamento entre arquitetura e design visual, música e interatividade.
observação 35
Inicialmente, estes critérios de seleção não deveriam ter um olhar viciado, sendo
que as propostas e diretrizes surgiriam conforme a investigação do mesmo e de
um estudo de elementos cabíveis de inserção em um programa multidisciplinar.
E, como já esperado, ao invés de uma seleção restritamente oriunda da
observação, houve uma constante análise das possibilidades e potencialidades
antes da escolha do mesmo. Por exemplo, a escolha de determinada tipologia
de projeto poderia desviar praticamente todo o foco do trabalho, distanciando
as soluções propostas das pensadas em um primeiro momento.
Isto expõe um problema dentro da seleção: nem todas as tipologias
permitem um trabalho de linguagem aberto o suficiente que possibilitassem
a experimentação. Diversos fatores podem reduzir estas possibilidades, como
excessiva importância de um valor regional (como um conjunto habitacional)
ou um estilo de vida próprio, muito especifica. Portanto, a escolha deveria ser
criteriosa o suficiente para compreender os limites de cada uma das propostas
levantadas. Dentre estas propostas, basta lembrar que o fator “multidisciplinar”
foi muito presente; foi, na verdade, a circunstância principal de escolha, pois
com ela as articulações em diversos níveis de comunicação ficariam muito
mais evidentes, seja na definição de um mobiliário, escolha de texturas em uma
parede ou composição de materiais gráficos.
OBSERVAÇÃO
Necessidades cotidianas. Usos corriqueiros. Serviços esporádicos. Através de um olhar constante de análise e crítica, foi feita uma pré-seleção de algumas possibilidades de projeto. Os critérios fundamentais de seleção eram que esta necessidade oferecesse a possibilidade de trabalhar o espaço (físico ou virtual) interdisciplinarmente e com certa dinâmica. As possibilidades foram abrangentes, indo desde lojas, redes sociais e até sex shops.
e oferecem não somente riscos aos usuários, como também falta de conforto e adaptação aos usos. Existe também pouca interatividade do usuário com o espaço em si; alguns ainda propõem uma interação entre a musica e painéis animados digitais, mas esta relação poderia acontecer em outras esferas também, em espacial naquela em que o sujeito não se dá conta que esta imerso no espaço. Por fim, outro ponto importante é a liquidez que este tipo de entretenimento possui. É comum que diversos destes espaços tenham um ciclo de vida reduzido, é a própria proposta do formato. Desta forma, sempre existe renovação de conteúdo e público, para que sempre exista um frescor de novidade e o empreendimento renove-se no primeiro sinal de desgaste. Esta dinamica acaba sendo decisiva na escolha de um sistema projetual flutuante, respondendo sempre as expectivas de determinados usuários.
Com base nestes critérios, a tipologia selecionada foram os centros noturnos de entretenimento e socialização, popularmente conhecidos como “baladas”. Diversos fatores pesaram para sua escolha, sendo o principal corresponder aos critérios postos como excenssiais. Em princípio, o que foi mais notório é como este tipo de construção contribui negativamente para a paisagem urbana. Normalmente são construções para uso quase que exclusivamente noturno, dispondo fachadas pensadas para este propósito. Com isto, é normal a presença destas “manchas” dentro da paisagem, que ganham outra dimensão à noite, mas que de dia são apenas grandes vazios. Outro ponto favorável a sua escolha foi à concepção deste espaço. A grande maioria deles são adaptações de armazéns, galpões e edifícios em desuso. Nenhum problema quanto a isto; porém estas adaptações muitas vezes não são adequadas
prática expandida - experimentação conceptiva36
observação 37
Peccato Night Club - SPCasa noturna paulista de simples fachada e difícil identificação durante o dia
Skol Sensation 2010Ambientação no Anhembi com instalações infláveis
para aproximadamente 40 mil pessoas
Casa 92Casa adaptada para baladas, sendo cada um dos
ambientes projetos para sumularem um festa em casa
prática expandida - experimentação conceptiva38
Investigação
Nesse ponto, com a tipologia devidamente
selecionada, é importante que a mesma seja
desvendada para deixar mais claro o leque de
possibilidades que permite. E não existe nada
mais apropriado neste caso do que um profundo
estudo de caso, com o objetivo de evidenciar
necessidades e valores em cada um dos projetos
relacionados. A posse deste estudo dará condição
para o desenvolvimento de um programa mais
consciente e próximo de uma necessidade ideal.
A primeira observação é a mais objetiva possível:
uma rápida análise destes estabelecimentos na
cidade de São Paulo. Neste mapeamento, grande
parte dos projetos estão alojados em edifícios
adaptados ou reformados para o seu uso, em
especial grandes galpões industriais em desuso. Por
tanto, é muito comum encontrar estas tipologias
em locais da cidade que já abrigaram edifícios
com tal finalidade, como por exemplo, a Vila
Leopoldina e o Brás, resultando em trechos das
cidades canalizadores destes serviços. Outro lugar
que concentra uma quantidade relativamente
alta é a Vila Olímpia, cuja urbanização recente
associada às dimensões dos lotes propiciaram um
centro noturno interessante. Entretanto, este formato
carrega consigo uma vantagem: a adaptação
destes logradouros não esta apenas limitada a estes
grandes galpões e antigos moinhos, mas também
a outras construções de menor porte, como
residências, facilmente encontradas no bairro da
Vila Madalena (SP), por exemplo.
Ainda em outros casos, são encontradas situações
extremas, tanto para pequenos espaços quanto
para grandes. Para pequenos, podemos citar a
Moinho Santo AntônioGrande moinho adaptado para as funções de uma balada,
ainda assim presevando as características originais do espaço
Sub- AstorPorão é o suporte de um
ambiente intimo
observação 39
adaptação de terraços e de porões; para os grandes, o Anhembi (que recebe
festivais e shows com certa freqüência) e até mesmo grandes campos abertos,
como chácaras, que recebem tanto shows quanto “raves”. Esta variedade de
instalações indica uma propriedade importante: o espaço incorporado por
uso não necessita obrigatoriamente transformar o mesmo, mas podendo se
adaptar, inclusive em alguns casos incorporando a própria construção como
parte das suas características. É o caso do Moinho Santo Antônio, em que o
edifício original, suas texturas e materiais, compõem o espaço juntamente com
os elementos específicos inseridos posteriormente para o projeto. Outros espaços
optam exatamente pelo oposto. Em alguns casos, como a Casa 92, uma casa
foi inteiramente reformada, cada um dos ambientes projetados por artistas,
arquitetos e designer diferentes, com o objetivo de simular uma festa em casa,
sendo as ambientações importantes nesta função.
O Sub - Astor também é outro exemplo desta
característica, onde um porão foi ocupado com a
intenção de criar um ambiente intimo e restrito.
Talvez o exemplo mais importante deste isolamento
da intervenção em relação ao espaço que o
suporta sejam os eventos esporádicos, como os
festivais eletrônicos e as “raves”. Nestes casos,
grandes espaços abertos (chácaras) ou fechados
(como grandes salões de exposições) são usados
eventualmente, recebendo instalações que não
devem alterar suas construções, adotando soluções
temporárias. Esta diversidade de instalações permite
possibilidades interessantes, reconhecendo o fato
que qualquer lugar pode de fato abrigar este
uso, contanto que se aparelhe dos instrumentos
específicos(que serão tratados mais adiante).
The Edge (primeira) e Studio SP (segunda)- São Paulo, SP
Fachadas pouco expressivas escondem interiores e não
sinalizam uso
FumódromosEspaços inadequados tentam se adaptar as novas leis anti-fumo
prática expandida - experimentação conceptiva40
Outro fator importante para se observar são as
fachadas de tais ocupações. Muitas vezes, os
rearranjos internos dos espaços pouco influenciam
na estética externa destas construções. Ao
contrário, a maioria destes espaços acabam por
possuir fachadas absolutamente inexpressivas
durante o dia, mas que a noite, com o auxilio das
luzes de, ganham vida, É até mesmo complicado
definir o seu uso durante o dia, o tornando em um
absoluto “fantasma” e irreconhecível para quem o
vê em outras horas do dia. Interessante como este
fenômeno se assemelha muito com uma famosa
cidade: Las Vegas. Robert Venturi explora muito isto
em seu livro, Aprendendo com Las Vegas (Venturi,
Brown, Izenour 2003), desvendando como a cidade
A variação na ocupação trás consigo alguns
problemas, especialmente espaços mal preparados
para receber tais eventos; claramente “não-
projetados”, muitos sofrem com diversos problemas,
como ineficiência acústica, ausência de um
número suficiente de sanitários, péssima adequação
as leis de segurança, péssimas condições de
conforto, entre outros. Muitos ainda se adaptam
corriqueiramente e despreparadamente às
novas leis, como a da proibição de fumar em
ambientes fechados regulamentada pelo governo
do estado de São Paulo, muitas vezes ocupando
áreas externas e não propícias (como calçadas),
tornando-as “fumódromos”.
Las Vegas - dia e noiteDiferença de profundidade e persuasão.
observação 41
é transformada durante a passagem do dia para
a noite, criando novas profundidades e relações
muitas vezes bastante persuasivas. Este fenômeno
acontece, pois existe uma necessidade evidente
de criar uma vida noturna chamativa, de destaque,
fazendo com que os visitantes da cidade sintam-se
atraídos e dispostos a freqüentar tais lugares, sendo
cassinos e hotéis em sua maioria.
Enquanto algumas “baladas” e night clubs optam
por soluções fáceis e quase provisórias, que na
maioria das vezes são desagradáveis para os
freqüentadores, outras vão contra a maré e se
propõe a seguir soluções não tão simples, mas muito
mais eficazes e interessantes. E exemplos não faltam,
em diversas partes do mundo e também no Brasil,
algumas delas inclusive servindo como referência
em diversas publicações especializadas. Aqui
serão expostos três destes projetos, escolhidos por
apresentarem singularidades importante de serem
ressaltadas e que contribuirão decisivamente para
a formulação de diretrizes. A primeira é a Roxy/
Josefine, do arquiteto Fred Mafra, na cidade de
Belo Horizonte, mesclando de forma contundente
o espaço com o grafismo e a iluminação; na
seqüência a D-edge, do artista Muti Randolph e dos
arquitetos da Triptyque, na cidade de São Paulo,
que compreenderam a comunhão entre arquitetura
e design visual desde as etapas preliminares de
projeto; e o Lab Club, do grupo multidisciplinar
RISCO, também na cidade de São Paulo, resultando
em um interessante trabalho que abrange diversas
disciplinas, até mesmo a gastronomia molecular.
prática expandida - experimentação conceptiva42
Roxy/JosefineArquiteto: Fred MafraAno: 2007/2011 (reforma)Belo Horizonte - MGÁrea construida: 955m2
Capacidade: 1500 pessoas
Espaços(áreas aproximadas)
Área fumantes - 55m2
DJ - 72m2
Pista - 420m2
Lounge Lounge vipBarCozinhaDepósitoCopaEscritório
CamarimEntradaCheck-InChapelariaPalcoÁrea técnicaCheck-outBanheiro masc - 8 cab.Banheiro fam. - 6 cab.Banheiro acessi. - 2 cab.
Reforma e ampliação de uma casa noturna já
existente, com uma proposta de união entre
sensações estimuladas por diversos ambientes,
alguns compostos de materiais reluzentes e grafismos
e outros somente por luzes e formas geométricas.
Possui três bares (localizados próximo as pistas de
dança), quatro camarotes vips (podendo serem
recombinados e transformados em apenas um),
dois lounges e área para fumantes com teto
retrátil. Segundo o autor do projeto, os pilares de
desenvolvimento foram à comodidade, o escapismo,
a flexibilidade e a tecnologia. O principal elemento
de linguagem são os hexágonos, que são explorados
em diversos tamanhos e proporções. Estes hexágonos
se espalham por todas as paredes internas e
também pelo forro e, com o auxilio de luzes de LED,
proporcionam outra forma de tridimensionalidade,
além de dinâmicas luminosas singulares.
observação 43
AcessoCaixasAdministraçãoPistasLounge
D-EdgeArquiteto: Muti Randolph / triptyque arch.Ano: 2003/2011(reforma)São Paulo - SPÁrea construida: 648 m2 Capacidade: 900 pessoas
Espaços
Casa de música eletrônica, trazendo uma proposta
de interiores que utiliza um software que sincroniza
o jogo de luzes com as musicas e as animações
projetadas nas paredes, pisos e tetos. É uma outra
experiência de vivência espacial, através das
ondas sonoras que alteram a arquitetura do espaço
conforme os ritmos das músicas. O conjunto e
sobreposição de luzes se entrelaçam, criando um
ambiente dinâmico, fluido, que se altera como se
o ambiente estivesse tremendo, interagindo. Este
aspecto só é compartilhado pelas pistas, enquanto
os demais espaços, como os lounges e bares (o
afastado sãs pistas), são mais tranqüilos e menos
agitados.
prática expandida - experimentação conceptiva44
Lab ClubArquiteto: RiscoSão Paulo - SP
Área Construida: ? Capacidade: 226 pessoas
O antigo galpão da rua Augusta foi parcialmente
reformado, mantendo suas características principais,
recebendo um anexo funcional com escadas,
banheiros e administração. A ligação entre o antigo
e o novo é feita através de uma estrutura de metal
e vidro, que, desde a fachada, percorre todo o
galpão – um dispositivo transitável que abriga bares,
caixas e passagens, ao tempo em que serve de
suporte cenográfico para projeções que iluminam
o ambiente. Descendo a meio nível, ao ar livre, há
um quintal com jardim, banco e deque de madeira,
onde se pode fumar. No piso inferior fica uma pista
intimista, envelopada de borracha, com projeção
widescreen atrás do DJ e um dinâmico sistema de
iluminação em leds.
O projeto de arquitetura e identidade visual do LAB
é assinado pelo estúdio RISCO, que participou da
concepção e implementação do clube, de maneira
coordenada, no sentido de um design total: auxiliou
os proprietários na escolha do imóvel, desenhou
a reforma do espaço, equipamentos funcionais
(bancadas, balcões, sofás, apoios), displays
promocionais, logomarca, sinalização, cardápios e
site.
O bar transcende a proposta multidisciplinar
com a coquetelaria molecular, tendência da
mixologia contemporânea que aplica técnicas e
equipamentos da vanguarda gastronômica mundial
na elaboração de drinks, alterando a estrutura física
e química de ingredientes para a criação de novas
texturas e formas.
Skol SensationAssociação entre balões
infláveis e luzes compõe o ambiente
Balada silenciosa SoniqueInterações acontecem
conforme a música, aqui por meio de fones de ouvido
Disco ClubAmbiente mutável, sempre com novidades visuais
observação 45
Além destes projetos, alguns outros exemplos mais pontuais contém interessantes características. Ainda
na cidade de São Paulo, encontra-se a Disco Club, do arquiteto Isay Weinfeld. Aqui, um antigo galpão foi
reformado, propondo uma série de alterações de materiais, revestimento e linguagens conforme o tempo,
resultado em um frescor constante ao espaço. Um exemplo mais singular é balada Sonique, localizada em
São Paulo, onde eventualmente ocorre a chamada balada silenciosa; com fones de ouvido ao invés de caixas
de som, o público interage de outra forma, resultando em novas percepções e vivências. Outro exemplo, já
previamente citado, é o festival eletrônico Skol Sensation, que desenvolve uma linguagem particular com
balões infláveis e muitas luzes, criando o espaço de uma forma diferente e propicia, escapando da tradicional
solução construtiva.
Berghain BerlinJogo de luzes respeita o edifício e é a principal linguagem da balada
Berghain BerlinMaterial gráfico de divulgação (flayer)
prática expandida - experimentação conceptiva46
Já no cenário internacional, encontramos outras características pertinentes. A Berghain Berlin é possivelmente
uma das mais interessantes. Aqui, o espaço é composto em um antigo edifício claramente identificado com a
linguagem da arquitetura alemã, com sua rigidez formal, simetria e peso. Existe um respeito muito grande pelo
edifício original, já que todo ele foi completamente preservado, tornando a única intervenção o jogo de luzes
na fachada e alguns dos revestimentos existentes internamente.
Outra curiosidade nesta balada são as diversas campanhas desenvolvidas periodicamente, buscando atrair
públicos diversos. Neste caso, uma série de artistas são convidados para fazerem as artes do material gráfico
de divulgação e produtos de venda (como suvenirs). Estes produtos não apenas atraem o público, mas dão
um frescor de novidade e renovação constante ao empreendimento. Entretanto, uma linguagem central
sempre é mantida, aproximando-se todas as linguagens esporádicas a um tom sublime, destinado a um pú-
blico mais jovem e urbano da cidade de Berlim.
Berghain BerlinMaterial gráfico de
divulgação
InteratividadePaineis LED interagem
público, espaço e som
Vistas exóticasHorizontes e cidade tornam-
se plano de fundo
observação 47
Além destes, outros também se destacam por partidos singulares em sua concepção. Em alguns, a cidade e
o “skyline” fazem parte do pano de fundo, aproveitando vistas inspiradoras. Em outros casos, uma interação
ousada é proposta. Um grande painel de luzes de LED programadas por um computador respondem a
estímulos tanto musicais quanto dos usuários que estão na pista, excedendo a tradicional relação entre sujeito,
espaço e o acontecimento.
prática expandida - experimentação conceptiva48
Antes da elaboração, foi proposto um estudo sobre a interdisciplinaridade, afinal ela é dos pontos fundamentais
aqui apresentados. Para que o programa seja desenvolvido, antes de tudo é imprescindível entender como as
diversas partes deste sistema se integrarão e, principalmente, como se adequarão ao sistema de linguagem
proposto. Estas partes em comunicação e conexão resultam em um programa específico para cada atividade
e um total, que deve somar as partes integrando-as sensivelmente.
Em outras palavras, a interdisciplinaridade reinvidica uma comunhão entre as partes e ampliação do campo
de abrangência. Aqui, apenas foram citados exemplos originais das artes, como arquitetos, designers, artistas
plásticos, músicos...Porém o campo pode ser muito mais vasto e incluir profissões como psicologia e economia.
Portanto, este hibridismo de soluções e profissionais específicos só tende a engrandecer a qualidade dos
projetos.
Tomando por base a interdisciplinaridade estudada, definiram-se quatro disciplinas de projeto que deveriam
se integrar da forma explicita. Todas elas teriam uma conexão estreita entre cada, de forma direta, porém
com o auxílio de algum tipo de regulador, coordenador, que fizessem com que estas partes se articulassem
em prol de um produto final melhor. Antes que estas disciplinas fossem escolhidas e especificadas, algumas
diretrizes gerais, que serviriam como base para cada um dos trabalhos foram pensadas. Estas diretrizes devem
ter presença marcante em cada uma das disciplinas, como condição essencial.
• identidade mutável e adaptável - a idéia por trás disso é não criar um espaço(s) rígido, intransponível,
mas sim que possa acontecer e reacontecer de diversas maneiras dentro do seu universo. Para isto, todas
as disciplinas devem trabalhar com a idéia que estão produzindo um ciclo de vida projetual real; ele deve
ter começo, meio e fim. O fato de já projetar sabendo que um dia o objeto fatalmente deixará de existir é
complicado, mas abre ótimos precedentes para requalificação do trabalho e renega a idéia de se trabalhar
com uma arte estabelecida e intocável.
• explorar ganho e perda de valores - neste tipo de empreendimento isto é importante. Na verdade,
a realidade é que muitos dos “donos” de tais “baladas” já inauguram seus estabelecimentos imaginando que
PROGRAMA E DIRETRIZES
O fim das etapas de observação e investigação dá largada ao início da elaboração do programa e das diretrizes, que serão parte importante na composição do complexo sistema nos moldes do metaprojetual. Não serão colocadas como regras rígidas e absolutas, mas sim possibilidades amplas e passíveis de futuras revisões, em especial por apenas considerarem uma fração das possibilidades.
programa e diretrizes 49
ele terá uma vida útil determinada. Isto já faz parte do processo de confecção destes espaços. Entretanto, o
que aqui se propõe é uma organização de tal processo, na tentativa de brecar com a idéia de “mudar para
renovar” e sim “mudar para mudar”, atingindo os diversos públicos pelos seus interesses particulares e não
para oferecer uma sensação superficial de “novidade”.
• espaço físico indeterminado - a mais importante das diretrizes. Como visto durante a observação
das referências de trabalho, esta tipologia tem uma curiosa adaptação ao espaço que reside; ora ocupa
pequenas casas, ora grandes galpões. Esta variedade acabou por se tornar o principal elemento definidor
deste sistema, pois não haverá nenhum lugar, terreno, abrigo, ou outro espaço físico para se empregar o
sistema; aqui se considera que o uso é livre, adaptável a qualquer situação, como um sistema viral que se
espalha sendo por composições de fachada, mobiliário ou até mesmo um drink.
Estas diretrizes, portanto, ajudarão na composição de cada uma das disciplinas, que devem segui-las como
método de validação do trabalho. Partindo disto, temos as primeiras escolhas de cada uma delas, além
de qual produto de projeto seria mais cabível em cada caso, em uma primeira análise. A seguir estão às
disciplinas a serem trabalhadas e os produtos propostos que cada um gerará.
Espaço
Principal disciplina de estudo deste trabalho. Como conceber um espaço que esteja de acordo com as demais
disciplinas e as diretrizes? Inicialmente, entende-se que o espaço não deva ser algo fixo, e sim maleável as
novas necessidade impostas não apenas por esta tipologia de projeto, mas também pela realidade líquida. O
espaço, portanto, deve fazer parte do ciclo de vida do restante. Este ciclo de vida deve vir deste a etapa mais
primordial de projeto, desde a sua composição, execução, nascimento, uso e desuso. É importante considerar
todas estas fases no inicio do projeto, pois elas serão decisivas para os desenhos, escolhas de materiais, etc.
A seguir estão algumas das preocupações que serão levadas em conta durante o processo de desenho do
espaço.
• interatividade - para uma melhor relação entre o usuário e o espaço, será proposta uma interatividade
entre ambos. Tanto do usuário para com o espaço, quando o inverso, seja por estímulos sonoros, táteis, entre
outros. Evidentemente, tal interatividade por si só não é suficiente para criar o espaço comunicante, porém já
possibilita uma interação interessante entre as partes.
•dinâmica e versatilidade - é complicado propor algo neste sentido nos dias atuais. Com a tecnologia
fulminante e em constante transformação, criar um espaço que esteja sempre receptível a novas funções é
complicado. O mais comum é que as novas funções sejam “encaixadas”, sobrepostas. O uso de materiais de
fácil manutenção e de sistemas de construção que possam ser desmontados podem ajudar nesta adaptação.
prática expandida - experimentação conceptiva50
• construção e desconstrução - o uso de novas técnicas construtivas mais flexíveis, como estruturas
de aço, painéis, sistemas pré-fabricados, ajudam não apenas na construção, mas também na desconstrução
do espaço. A idéia é que nenhum dos espaços seja plenamente rígido; porém, tal liberdade de construção
deve ter algumas regras para um melhor controle. Pensando em uma “base mínima” e uma “base máxima”,
ou seja, dependendo das condições de inserção urbana. Um projeto em uma cobertura de edifício terá
limitações que não estarão presente em um projeto em um terreno aberto, por exemplo. Compreender como
estes sistemas construtivos se comportarão em diversas aplicações faz parte do processo.
• uso e reuso - segue muito do colocado no ponto anterior. Com a construção mediante a
necessidade de uso, a desconstrução gerará uma série de materiais sem um uso aparente, mas que poderão
ser reconstruídas em outras partes, em outras unidades do projeto, como um sistema “nômade”, que sempre
busca a área de maior demanda para se aplicar. Evidentemente, perdas pode haver no caminho, portanto
novamente as técnicas construtivas devem ser exploradas a exaustão.
• reciclagem - com o uso e o reuso e as inevitáveis perdas materiais, será importante fazer uma
escolha destes que ofereçam a possibilidade de reciclagem.
Gráfico
O projeto gráfico será aquilo que conterá a maior parte da linguagem, estando também presente
espacialmente. Existem planos de trabalhos variados neste quesito; pode-se pensar em painéis digitais,
produtos impressos, virtuais (luzes, vídeos, projeções). A linguagem é fundamental, e não necessariamente
deve estar condicionada a uma solução técnica apenas, mas se construindo por si própria.
• marca - apesar da liberdade da identidade, é necessário que exista uma identidade única para
o conjunto, que demonstre e especifique o tipo de serviço fornecido. Um nome, logo, papelaria, entre outras
peças. Identificar é uma peça chave, que deve fazer parte de todos os demais campos, como a arquitetura.
• divulgação - ferramenta de disseminação, conhecimento e aproximação dos usuários com
o empreendimento. Deve haver sempre uma atualização entre todas as suas peças, resultando em uma
divulgação clara, objetiva e única. Existem três caminhos passiveis de exploração: sites, viral e impresso. Os
sites são tradicionais, sempre carregando informações de acontecimentos, serviços, datas, entre outros.
Portanto é o principal informativo sobre o que se passa. O viral é uma novidade no ramo da divulgação. Com
sites falsos, e-mails e usando redes sociais, este é um meio mais pontual e menos informativo geral, como o site.
Neste caso, apenas um acontecimento é destacado. Por fim o impresso, no formato de cartazes e flayers que
também participam de uma divulgação mais pontual e em destaque.
programa e diretrizes 51
• painéis interativos - podem ser digitais ou não. Interagir com os usuários e o ambiente ou não.
Eles são importantes, pois elevam o grau de entretenimento e vivência a um outro patamar, mais amplo e
envolvente, podendo ser de alta-tenologia (visores de LED, painéis interativos) ou até mesmo de baixa, como
paredes de gelo ou de lousas para giz de cera.
• produtos e souvenires - sacolas, cartões, ingressos, cds, camisetas, chaveiros, livros de arte, tudo
deve englobar as duas identidades, mas especialmente a da campanha. Aqui se entende que este possa vir
a se tornar uma ótima proliferação da arte, na qual ela é aplicada na identidade da balada, geram produtos
comerciais e livros e cds que façam parte da divulgação dos autores e artistas envolvidos.
• sinalização - sinalização interna dos espaços, usando somente a linguagem geral do projeto.
Produto
Esta disciplina será pouco explorada neste trabalho. Apenas algumas diretrizes serão postas devido ao tempo
de execução, quase nenhum produto será aprofundado. O produto é simplesmente traduzir aquilo que foi
proposto nas demais disciplinas na confecção de materiais como louças, mobiliário, equipamentos, etc. A
escolha dela como disciplina participativa e diferenciada é a possibilidade de um trabalho mais específico,
e com isso obter resultados mais satisfatórios do que os de costume. Ainda é necessário se explorar um pouco
mais o território de projeto para uma melhor definição do que esta disciplina conseguirá contribuir efetivamente
para a produção final.
Urbanismo
A quarta disciplina. Fazer a concepção do espaço não se deve jamais desconsiderar a inserção urbana.
O que mais importa no urbanismo é como inserir o espaço no contexto urbano sem que este resulte em um
impacto negativo para a vizinhança, para o tráfego, entre outros. Como a idéia (inicial, ao menos) é tornar
este espaço como sendo um grande atrativo diurno também, de lazer e ócio; e se isto não possível, pelo
menos que permita uma fachada mais agradável de ser vista a luz do sol. Não haverá, entretanto, nenhuma
seleção de terreno (s) para verificar os impactos. Possivelmente isto fragilizará um pouco as escolhas, porém a
complexidade das questões pertinentes a implantação são todas reconhecíveis O que se propõe, portanto, é
apenas uma análise subjetiva de como esta inserção acontecerá, sem maior profundidade.
Como pode ser visto, as disciplinas de espaço e gráfico estão mais detalhadas, e não por acaso; elas serão
o grande foco deste trabalho, pois se entende que com o tempo e os recursos disponíveis os resultados serão
melhores. Na seqüência, existe um gráfico para fácil visualização das disciplinas e produtos de trabalho. Após
uma proposta especulativa espacial, onde por intermédio das análises feitas em etapas anteriores foi possível
extrair uma resposta ao programa.
eixo
prin
cipa
l de
lingu
agem
interatividade
souvenirsequipamentos
outros
distribuídos
luzescartões
sacolas
pulseiras
fake sitee-mail
cartaz
flayer
nome
simbolo
virtual
outros
saída
acessos
caixaslogobanh. estático
massa
individual
comércio
dinâmico físico
rede social
sofaspoltronas
puffs
bancada
prateleiracopos
utensílios
bancos
banheiros
indicações
estar
bar
não int.
interno
guiascomportamentos
interesses
gastronomia molecular
música
acesso
entorno
entorno
fachada
fluxos
visualfinanceiro
indicativas
identidade
externo
interativos
logo
site
impresso
viral
papelaria
mobiliário
localização
sinalização
acabamentos
paineis
marca
divulgação
paisagem
impacto
comunicação
estudos
disciplinas
versatilidade
dinâmica
construçãodesconstrução
reciclagem
ESPAÇO
PRODUTO
URBANO
OUTROS GRÁFICO
regulador
prática expandida - experimentação conceptiva52
Ocupação especulada = 1000 pessoas
Distribuição do programa pela área estipulada (ver detalhes)
Área total prevista= 1062 m2 (+ 20 % circulação)
+
programa e diretrizes 53
A Função espacial
Um dos pontos mais importantes de desenvolvimento é o de um sistema funcional aberto, que permita o
emprego em diversas tipologias diferentes e adaptação a situações especificas. Pode ser sim considerado
uma “receita de bolo”, na qual os espaços são estipulados para determinada capacidade de frequentadores
baseando-se em leis do estado e projetos existentes. A grosso modo, o objetivo é dar a possibilidade de se
estudar o depois disso; cruzar um sistema funcional a um sistema de linguagem e observar o resultado. É
comum ( em especial em uma arquitetura modernista que levanta a bandeira da lógica e da razão) considerar
este sistema funcional já o projeto definitivo; sua forma é o resultado da combinação de seus espaços e sua
linguagem os materiais aparentes, a construção “nua”. Entretanto, com uma rápida observação , é possivel
notar que a linguagem cria uma reviravolta nas necessidades de cada lugar. Portanto, como será visto a
termino deste tabalho, função e linguagem se compõe e criam dinãmicas próprias entre si.
Para conceber este espaço, optou-se pela neutralidade; nenhum dos espaços terão um peso maior sobre
o outro. A base para isto foram os projetos aqui previamente mostrados, alguns outros de experiências
profissionais pessoais e o Código de Obra e Construção, além de algumas normas (ABNT e NBR) de segurança.
Plano de ocupação
Para um planejamento embasado, que leva em conta fatores reais durante a sua construção, deve-se estipular
como acontecerá à ocupação e qual será a sua capacidade. Com base em levantamentos, ficou estipulado
que a combinação destes espaços seria o suficiente para comportar 1000 freqüentadores (não considerando
funcionários), um número razoável levando em canta os outros empreendimentos do gênero. Lembrando
que esta é apenas uma especulação espacial, não uma definição, onde a prioridade é o equilíbrio entre o
espaço e o senso comum que está presente na grande maioria dos exemplos desta tipologia. O resultado é
desvendar as funções espaciais, suas conexões físicas e visuais, quanto comporta cada um dos espaços, quais
têm acesso restrito e quais não. Por conseqüência, tem-se um projeto preliminar, idealizado, que poderá ter
uma parcela de maior ou menor importância na seqüência do trabalho, dependo do tipo de apropriação
que será feita.
Mesa + circul. 1,20m = 1,80 m2
1,80 m2 x 8 = 14,40 m2
prática expandida - experimentação conceptiva54
Bilheteria
Composição: Controle de acesso, recepção, distribuição de cartões, caixas, check-out
Lotação: 8 funcionários (acomodados em computadores)
Equipamentos: mesa, cadeira, computadores, organizadores.
Acesso: restrito funcionários - atende público - conexão visual média
Conexão espacial: entrada-saída (alta), chapelaria (alta), loja (alta), banheiros (média),
pista (baixa), bar (baixa)
Dimensionamento preliminar: 15 m2
Chapelaria
Composição: balcão de recebimento, guarda-volumes
Lotação: 2 funcionários (recebimento e devolução)
Equipamentos: balcão de recebimento, escaninhos e araras
Acesso: restrito funcionários - atende público - conexão visual média (balcão) e baixa
(guarda-volumes)
Conexão espacial: entrada-saída (alta), bilheteria (alta), loja (alta), banheiros (média),
pista (baixa), bar (baixa)
Dimensionamento preliminar: 15 m2
Loja
Composição: vendas, espera, recepção, área de trabalho
Lotação: 3 funcionários (2 atendentes + 1 caixa)
Equipamentos: caixa, expositores, estoque
Acesso: restrito funcionários - atende público - conexão visual média
Conexão espacial: entrada-saída (alta), chapelaria (alta), bilheteria (alta), banheiros
(média), pista (baixa), bar (baixa)
Dimensionamento preliminar: 20 m2
circulação = 1,10márea aprox. conjunto (banquetas, balcão e circ.) = 30m2
a = 1,30m2 a = 3,60m2
a = 5,75m2
unid. = 10 unid. = 20
unid. = 3
área de trabalho = 0,75m
programa e diretrizes 55
Pista dança
Composição: Pista(s) de dança
Lotação: 700 pessoas em pé
Equipamentos: nenhum especifico
Acesso: aberto - conexão visual alta
Conexão espacial: entrada (baixa), bar (alta), lounge (média), lounge privado (baixa),
banheiros (médio) , espaço artista - palco (alta)
Dimensionamento preliminar: 280 m2
Bar + lounge bar
Composição: balcão bar, área de trabalho bar, espaço para mesas, espaço em pé
Lotação: 200 pessoas (120 acomodadas) + 5 funcionários bar
Equipamentos: balcão (servir e preparado), estande de bebidas, depósito acesso rá-
pido, banquetas balcão, mesas 2/4/6 pessoas, sofas (alternativa)
Acesso: aberto - conexão visual alta
Conexão espacial: entrada (baixa), pista (alta), lounge (alta), lounge privado (alta),
banheiros (médio) , espaço artista - palco (baixa), serviços - cozinha/dep. (alta)
Dimensionamento preliminar: 160 m2
5-6 conjuntos previstos18,5 m2 cada
prática expandida - experimentação conceptiva56
Lounge privado
Composição: espaço intimista, privado, semi-isolado, unido ou separado
Lotação: 50 pessoas
Equipamentos: sofas, puffs, mesas, conjunto mobiliários
Acesso: restrito público - conexão visual baixa
Conexão espacial: entrada-saída (média), chapelaria (média), loja (média), banheiros
(alta), pista (média), bar (média)
Dimensionamento preliminar: 90 m2
Lounge
Composição: espaço aberto, de descanso, pouco definido
Lotação: por volta de 50 pessoas
Equipamentos: sofas, puffs, mesas, conjunto mobiliários
Acesso: aberto público - conexão visual alta
Conexão espacial: entrada-saída (média), chapelaria (média), loja (média), banheiros
(alta), pista (alta), bar (alta)
Dimensionamento preliminar: 50 m2
Banheiros
Composição: banheiro feminino, masculino e de deficiente em todos os pavimentos
Lotação: 1 bacia e 1 vazo para cada 20 pessoas do sexo (COE São Paulo)
Equipamentos: lavatórios, vasos e mictórios em cabines; cabines deficientes junto ou
separados dos demais. Idem lavatórios.
Acesso: aberto público - conexão visual alta (sinalização)
Conexão espacial: entrada-saída (média), chapelaria (média), loja (média), lounge(alta),
lounge privado (média), pista (alta), bar (alta).
Proporção usada para cálculo de área = 60% homem + 40% mulher (dados obtidos em
locais específicos, médios para a cidade de São Paulo)
Dimensionamento preliminar: 120 m2
área = 0,80m2
área = 0,60m2
área = 1,15 m2
área = 2,75 m2
programa e diretrizes 57
Espaço artísta
Composição: palco (variável, indo de apresentações maiores até somente para DJs),
camarins com banheiro, sala de instrumentos.
Lotação: 1 a 5 pessoas
Equipamentos: diversos, alguns pode ser muito específicos
Acesso: restrito artistas - conexão visual alta (palco) e nenhuma (camarins/instrumentos)
Conexão espacial: entrada alternativa (alta), bar (baixa), lounge (baixa),
admistração(alta)
Dimensionamento preliminar: 125 m2 (60 palco/15 instrumentos/60 camarins)
Serviços
Composição: cozinha, depósitos, administração e funcionários (vestiário e copa)
Cozinha
Lotação: 5 funcionários
Equipamentos: específicos conforme oferta
Acesso: restrito funcionários - conexão visual nula
Conexão espacial: entrada alternativa (alta), bar (alta), adm. (alta), depósitos(alta),
funcionários (alta)
Dimensionamento preliminar: 25 m2
Depósitos
Composição: alimentício, bebidas, equipamentos, mobiliário
Equipamentos: especificos/câmaras frias
Acesso: restrito funcionários - conexão visual nula
Conexão espacial: entrada alternativa (alta), bar (alta), adm. (alta), cozinha(alta),
funcionários (alta)
Dimensionamento preliminar: 40 m2
ExternosEntradaÁrea para fumantesTerraçoVarandasPróximo da pista e do bar, preferencial-mente
Circulação verticalEscadasRampasElevadoresEscalada???
SaídaemergênciaSegue padrões de segurança con-forme solicitação da legislação e bombeiros
Legenda hierarquias
acesso aberto
acesso restrito
conexões espaciais
visual direta
visual semi - direta
prática expandida - experimentação conceptiva58
Administração
Lotação: 3 funcionários + segurança
Equipamentos: específicos escritório
Acesso: restrito funcionários - conexão visual nula
Conexão espacial: entrada alternativa (alta), depósitos (alta), cozinha(alta), funcionári-
os (alta), bilheteria (média)
Dimensionamento preliminar: 20 m2
Funcionários
Composição: espaço para troca, banho, alimentação e descanso
Lotação: 10 a 15 funcionários
Equipamentos: específicos
Acesso: restrito funcionários - conexão visual nula
Conexão espacial: entrada alternativa (alta), bar (alta), depósitos (alta), cozinha(alta),
administração (alta)
Dimensionamento preliminar: 50 m2
Técnicos
Composição: cabine primária, cabine de som e luz, caixa de retardo, câmara de lixo e
carga e descarga.
Equipamentos: específicos
Acesso: restrito funcionários - conexão visual nula
Conexão espacial: entrada alternativa (alta), serviços (média)
Dimensionamento preliminar: não estipulado
bilheteria + chapelaria
lounge privado
lounge
eixo principal de distribuição
bar externos
serviços
técnicosespa
ço a
rtist
a
ba
nhe
iros
loja
pist
a d
e d
ança
controle
acesso
recepção
caixas
pista
palco
camarins
sala
instrumento
s
lounge
lounge
balcão bar
fumódromo
cozinha
cabine
primária
cabine
som e lu
z
caixa
retard
ocâmara
lixocara
ga e
descarg
a
depósitos
admistração
funcionários
vara
ndas
terra
ço
masc.
fem.
acess.
área trabalho
bar lounges
mesas
venda
espera
área
trabalho
recebimento
chapelaria
guarda
volumes
programa e diretrizes 59
prática expandida - experimentação conceptiva60
Ao chegar a este ponto, algumas complicações surgiram. Em um primeiro momento, após o desenvolvimento do programa
e das diretrizes, algumas idéias surgiram de como seria possível adequar estes dentro da produção. De fato, a construção
destas “regras” induzia a uma preocupante composição de “fórmulas de projeto”, criando regras rígidas a serem seguidas
e pouco discutíveis. Não exista muito espaço para a experimentação programática, apesar da própria desmontagem da
tipologia abrir um leque de possibilidades muito diferentes uma das outras. O receio era cair na vala comum, do convencional
e usual, da metodologia estática e dada a priori, o que contraria toda a pesquisa e proposta que aqui se fez tão importante.
O programa e as diretrizes respondiam apenas a um sistema intacto, maleável no que diz respeito à produção, mas pouco
abrangente quando o foco é promover novas interações, novos pensamentos e aproximações, sendo parâmetros rígidos
demais para um sistema intitulado aberto. Estes parâmetros apenas respondiam a uma determinada fração das diversas
possibilidades levantadas, desconsiderando outras que também seriam cabíveis, que ao serem deixadas de lado provocam o
enrijecimento da construção metodológica e a falta de versatilidade. Neste sentido, o que até aqui foi desenvolvido é apenas
um aprofundamento da metodologia estática modernista, ao passo que o universo das possibilidades é demasiadamente
restrito. Sendo mais pontual, o programa e as diretrizes se
encaixam em um contexto pré-estabelido e ideal, onde todos
os espaços contribuem igualitariamente. Apesar disto já ter
sido previsto anteriormente, é fundamental entender que
esta é apenas uma das infinitas possibilidades, obrigando
a exposição das diversidades permitidas pelo sistema por
meio da exemplificação conceptiva.
O programa gerou as condições, produtos e itens que
deveriam ser produzidos, independente de outras
possibilidades. O material gráfico, urbano e espacial seria
uma produção rígida, certeira e pouco experimentativa. As primeiras tentativas na continuidade deste trabalho indicam esta
situação, onde a produção era uma mera resposta ao programa e não a revisão do mesmo. Em um primeiro momento, na
tentativa de codificar o programa em uma linguagem interdisciplinar, algumas texturas foram selecionadas, dentro de um
leque de texturas que se avaliaram pertinentes. Esta seleção não teve nenhum outro critério a não ser o estético. O resultado
foi uma grande dificuldade em se trabalhar com este sistema de texturas, uma vez que a falta de aproximação delas com o
REFLEXÃO INTERMEDIÁRIA
reflexão intermediária 61
objeto de projeto resultavam em códigos muito distantes dos observados. Outra alternativa foi à produção de um sistema de
linguagem e códigos mais rígido, quase como um manual corporativo, um “manual de branding”. Parte do levantamento
gerado na etapa anterior abria precedente a isto; poder trabalhar materiais e produtos dentro deste método. Portanto, uma
segunda hipótese de trabalho seria a construção de um sistema nestes moldes, onde as possibilidades seriam levantadas
mediante a construção de todas os produtos propostos pelo programa. Porém, esta idéia tornou-se inviável principalmente
por dois motivos. Ao tentar desenvolver este sistema de identidade integrado, uma estruturação tradicional da metodologia
projetual seria o resultado; deixaria de lado novamente o caráter instintivo e aberto para se produzir apenas a um sistema
aplicável, carimbo. O inicio da produção, onde foi proposta um nome e um logotipo, já se afastaram das possibilidades
interessantes que o sistema permitia, obtendo definições. Além disso, iniciar um trabalho por este caminho (nome e logotipo)
seria equivocado, pois eles são ferramentas de síntese
máxima de um sistema de identidade. Portanto, o resultado
poderia ser desconexo, sem uma linguagem clara e sem
integração entre as partes, estruturada em um sistema
hierárquico onde o ponto de partida era um nome, logo, ou
imagem de referência.
O outro motivo determinante pela não continuidade da
proposta usando os sistemas de manuais corporativos esta
na própria inadequação deste sistema em se adaptar a nova
realidade, sendo extremamente rígido e autoritário. Dentro destes manuais, é comum encontrar infinitas “regras” a serem
seguidas, que vão desde o comportamento da identidade até todas as dimensões, unidades e linguagens dos produtos
relacionados a si. Não se pressupõe uma linguagem aberta, integradora, vislumbrante de possibilidades sempre novas, mas
sim uma rigidez formal, funcional e lingüística pouco edificante. De certa forma, um pouco da preocupação após o término
da etapa de programa e diretrizes era neste sentido, de restringir todas as possibilidades para uma solução estabelecida.
Deve-se botar em questionamento a real necessidade destes sistemas, uma vez que são completamente estanques, criando
entraves para um desenvolvimento coletivo. Desenvolve-se uma complexidade tão definitiva que praticamente qualquer
interação externa ao sistema passa a ser renegada, o que ainda por cima, minimiza a intervenção e participação de terceiros
e suas possíveis contribuições e leituras do sistema. Como são sistemas rígidos e pouco maleáveis, obrigam os demais
prática expandida - experimentação conceptiva62
profissionais (ou equipes multidisciplinares) a seguirem a
risca a cartilha estipulada por ela, com o risco de terem seus
trabalhos negados. A não abertura destes sistemas limita
ao máximo as possibilidades interpretativas e propositivas,
quase que descartando a potencialidade intelectual de
outros profissionais, que possivelmente poderia contribuir
de forma operante e instigante no sistema. Aqui, os inputs e
outputs são previstos, definitivos e inalterados.
O desenvolvimento inicial parecia muito distante do
proposto. Fazer a seleção arbitrária de imagens e depois
tentar desenvolver um sistema de identidade não parecia
corresponder às expectativas propostas inicialmente,
Nos dois casos (particularmente no último) havia um cenário fechado, de poucas alternativas, que seriam a apenas um
cumprimento as definições obtidas no programa desenvolvido. A palavra chave é alternativa; havia a necessidade de se
buscar alternativas a produção, que não apenas fossem capazes de permitir a abertura da linguagem, formas e funções,
mas também que pudessem questionar o programa desenvolvido, possibilitar a releitura deste programa e apontar outras
diretrizes não exploradas até o momento. Paralelo a isto, criar mecanismos de avaliação que deixariam mais claros, mas não
definidos, possíveis caminhos de direcionamento e redirecionamento, em especial a partir da possibilidade interação, um
elemento fundamental para construção de um projeto. A simplificação destas interações (que deixaram de ser rígidas para
serem maleáveis) permitem maior facilidade no momento de readaptar o projeto segundo novos conceitos, ao invés de usar
fórmulas e metodologias projetuias que limitem esta visão.
A grande dúvida era como fazer isto. Como promover uma abertura projetual, na tentativa de explorar as diversas
possibilidades dentro do cenário do projeto e, além disso, permitir que a integração e a interatividade deste sistema possa
ser determinante na sua concepção? Retornando um pouco ao conceito de metaprojeto, onde o que se produz são os inputs
do sistema, como seria possível promover inputs e regras abertas, direcionando a produção para outputs mais adaptáveis,
livres de verdades inquestionáveis? A resposta encontrada para isto era a experimentação.
reflexão intermediária 63
Experimentar, neste sentido, em diversos níveis da atividade projetual. Anteriormente foram explorados como se deram
algumas destas experimentações; pontuais, como na composição de fachadas, sistemas de linguagem, formas arquitetônicas.
Já em outros casos promoveram transformações mais profundas, quando estava diretamente ligadas a composição de um
projeto, a proposição de um programa; neste, experimentar é uma importante ferramenta ao coletar dados que serão operados
futuramente. Faz-se necessário entender qual seria o tipo de experimentação aqui pertinente e como ela contribuiria para a
formatação do sistema. Para isto, será parcialmente deixado de lado os dados e soluções obtidas na etapa anterior; o motivo
é que estes parâmetros estavam viciando o olhar, conduzindo a produção e dificultando a abertura projetual. Não que eles
devam ser descartados, ao contrário, são características fundamentais para a composição dos inputs deste sistema, pois
avaliam aspectos e possibilidades reais, apesar de restritas. Este programa será recuperado somente mais adiante, próximo
ao fim do trabalho. A idéia é deixar o pensamento livre para a experimentação, depois unindo as duas e estudando como
elas podem ser operadas em conjunto. Uma intenção bastante próxima da proposta pelo metaprojeto, onde a metodologia
livre e aberta ajuda na operação da fechada e estática. Serão somente mantidas dentro da experimentação as características
essenciais da tipologia, para que a produção não se distancie do objeto que esta sendo explorado.
A experimentação que será feita será a do processo, da construção, do levantamento de imagens e da sua reconstrução. Das
formas, das possíveis interações e, principalmente, da linguagem. Pode-se a chamar de “metodologia da experimentação”,
e provavelmente ela corresponda a isto. O formato usado será muito simples, em especial pelas diversas limitações (técnicas,
logísticas e financeiras) na concepção dos experimentos; como a idéia é fazer diversos experimentos para o sistema, e
não apenas um, para que assim fosse obtido um universo maior de possibilidades, experimentos muitos complexos foram
descartados. O conceito é simples: partindo de algumas situações corriqueiras, uma série de montagens tridimensionais são
construídas, quase como um jogo de imagens sobrepostas e referências (como as colagens do EMBT), porém que aqui criam
profundidade de ralações em virtude de ocuparem determinado espaço. Invés de pressupor apenas um material gráfico como
ponto de partida do desenvolvimento da linguagem e das formas, estas construções passam a compor espaços e, em alguns
casos, a lidar com fatores construtivos e multidimensionais. Serão propostos quatro experimentos, com objetos selecionados
conforme indicado, gerando relações de imagens intertextuais (que extrapolam o perímetro da referencia inserida da
tipologia estudada). Ao termino delas, serão avaliados estes processos para depois, na etapa chamada de desencadeando,
ver como estes experimentos podem interagir com o programa e recriá-lo, em um estudo de potencialidades.
GaiolaEstudo de luzes
Experimento gaiolaArranjo de objetos
finalizado
propriedade: gaiola 65
E, foi a partir do manuseio de um objeto cotidiano, que
surgiram as primeiras idéias de desenvolvimento para o
primeiro experimento. Ao observar um simples “protetor de
fruta”, facilmente encontrado em mercados, encontrou-se
uma propriedade que seria impossível ao se estudar texturas
na tela de um computador: a elasticidade. Com o manuseio,
brincadeira e articulação, este simples material respondia
a uma identidade notável e correspondia a intenção inicial
para um sistema de linguagem.
Esta apropriação de um objeto qualquer não é uma
novidade, já que artistas de grande renome como Miró já se
apropriaram deste “objeto encontrado” para composição de
obras. Aqui, entretanto, o objeto encontrado não consegue
por si só compor uma linguagem singular, fazendo com que
se busquem outros destes objetos. Pedaços restantes de
papel. Restos de acrílico. Pequenos pedaços de MDF. Um
gancho de cabide velho e enferrujado. Objetos separados,
combinações pensadas, imagens associadas, linguagem
pronta. Mais instigante e provocador que o velho caminho da
escolha programada e unilateral.
PROPRIEDADE: GAIOLA
Os novos meio de produção e reprodução afastaram o projetista do contato direto com os elementos com o qual trabalha. A internet, os computadores, os softwares, são ferramentas que contribuíram para um melhor dialogo entre partes . Este contribuição jamais deveria ser uma substituição, mas uma soma as demais. O que se vê não é bem isso, e o profissional se distância cada vez mais dos objetos e etapas do processo de execução. Pegar um material em mãos, sentir seu peso, sua textura, sua cor, é fundamental. Portanto, como um primeiro experimento, partiremos de uma propriedade material, somente compreendida através do seu manuseio.
Elasticidade como propriedadeEstudo das possibilidades de deformações do objeto encontrado
prática expandida - experimentação conceptiva66
A propriedades
Antes, a atividade de manuseio do material é a
prioridade, explorando o seu volume, o seu peso
e a sua deformação. Ele possui uma propriedade
muito sutil de elasticidade, pois quando muito
exigido, sua deformidade torna-se permanente.
Ele não apenas é um elemento elástico, como sua
trama ainda possibilita a transparência entre os
lados e, quando exposta sobre um ponto de luz,
desenha uma trama sobre a parede sobre outras
coisas.
Deft PunkMúsica e palco, identidade particular e agressiva.
Fachadas Toyo ItoFachadas lembram muito películas de envolvimento
World of GooJogo eletrônico com visual
que lembra estruturas
propriedade: gaiola 67
Imagens referênciais
Antes de dar inicio a construção da composição
de linguagem, é possível atentar um pouco para
algumas referências visuais que se associam a este
material escolhido. Em primeiro plano, observa-
se uma forte semelhança com alguns palcos de
shows do Deft Punk, em especial pela sua forma.
Outra associação pode ser feita com a produção
gráfica do jogo World of Goo, onde animais juntam-
se para erguerem estruturas bem próximas do
campo da edificação. E, na área arquitetônica, as
fachadas de Toyo Ito lembram bastante películas
que revestem funções de um determinado edifício.
Lembrando que as referências aqui são todas
intertextuais, ou seja, não necessariamente devem
se remeter a tipologia (“baladas”), propondo assim
uma maior abertura lingüística.
prática expandida - experimentação conceptiva68
Compondo o objeto
Este é o inicio da composição do primeiro
experimento que servirá de referência para o
desenvolvimento que se seguirá. Inicialmente,
separou-se o protetor da fruta (evidentemente,
não se desperdiçando o alimento). Este objetivo
tem, como já bastante citado anteriormente,
como principal propriedade a elasticidade. Então,
após o estudo desta propriedade, decidiu-se
que ela serviria muito bem como um invólucro
para alguma coisa ainda não muito definida.
Como uma das referências visuais mostrava
uma arquitetura modernista envolvida por uma
propriedade: gaiola 69
película, então esta se tornou a solução: envolve-
la em uma forma tipicamente modernista, tendo
como base materiais que representassem muito
bem o seu estilo. Considerando que os elementos
formais mais claros do modernismo arquitetônico
são a laje e as aberturas piso-laje; um papel com
certa gramatura incorporava as lajes, enquanto o
acrílico eram estas grandes aberturas. O estilo da
arquitetura modernista faria parte da composição
e só precisava ser revestida com o objeto elástico.
O resultado foi bem parecido com as imagens
de referência, estando ainda demasiadamente
arquitetônico, construtivo. Era preciso ainda de
certo tom lúdico ao objeto, tornando-o mais aberto
a interpretações e apropriações. Fazendo alguns
croquis que pudesse iluminar a seqüência do objeto,
a melhor forma encontrada era tirá-lo do chão, mas
ao invés dos tradicionais pilotis do estilo moderno,
a idéia era pendurá-lo, como uma estrutura
dificilmente executável pela engenharia civil atual,
gerando outras possibilidades de linguagem e
formas.
prática expandida - experimentação conceptiva70
Com um gancho
de cabide comum,
facilmente encontrado
em qualquer lugar,
somado a um anel
fixo ao volume obtido
antes, a estruturação
estava feita, somente
faltando aquilo que
servirá de suporte para
erguer o este conjunto.
Entretanto, deixou-se
um pouco de lado esta
preocupação para se
aproveitar o momento
de composição para
investigar outro aspecto:
o conjunto não estava
propriedade: gaiola 71
fechado e ainda havia a possibilidade de testar alguma coisa a mais. A primeira é o uso das luzes, afinal elas
são componentes importantes nesta tipologia, conforme colocado antes. Mas nada de simuladores muito
elaborados; foram usadas luzes de árvore de natal, que com o jogo de troca de luzes resultaram em uma
surpreendente combinação de cores, transparência dos materiais e das sombras da película. Além das luzes,
entrando mais a fundo no universo arquitetônico, povoou-se cada um dos “pavimentos” como simulações
de escalas humanas, que tomam forma com o uso de canudos coloridos cortados com um tamanho
que gerassem uma determinada relação deles com o espaço. Isto só reforça ainda mais a característica
arquitetônica que este conjunto parcialmente composto pelo estilo arquitetônico modernista.
prática expandida - experimentação conceptiva72
Ainda restava um elemento para o experimento
estar completo, exatamente o suporte que
prenderia o gancho. Após algumas tentativas, com
composições que mais pareciam grandes arcos,
grandes construções, verdadeiras estruturas de
grande porte que provavelmente desvirtuariam a
idéia inicial de uma linguagem e formas abertas.
O receio era o resultado seguir uma direção
excessivamente arquitetônica e construtiva, o
25 x 2,5 cm h = 0,5cm
18 x 2,5 cm h = 0,5cm
12 x 2,5 cm h = 0,5cm
propriedade: gaiola 73
que não será algo ruim (afinal, a mesma pode ser
um grande disseminador lingüístico), mas como
era um conceito aberto, o mais apropriado era
estimular a variação de referências. Portanto,
o suporte deveria agregar mais valores ao
conjunto, na medida do possível explorando outras
possibilidades e potencialidades. Deveria cumprir
bem o seu papel e, se possível, tornar-se também
um importante elemento de apropriação e de
construção de linguagem. A solução encontrada
foi um suporte de pequenos pedaços de MDF com
aproximadamente 0,5 cm, que ao mesmo criavam
esta linguagem própria, mas de forma tênue, pouco
pesada. Uma base maior foi colocada para que o
apoio permitisse o equilíbrio do conjunto; o suporte
vertical prende o volume, lhe dando uma altura
apropriada; e, por fim, o pedaço superior que se
junta no topo e encaixa o gancho, dando forma
final a experimentação.
A Gaiola parte da propriedade de um material encontrado; sua elasticidade,
composta juntamente com um volume muito próximo a de uma arquitetura
modernista e solta no espaço pela combinação entre um suporte de madeira
e um gancho. Entretanto, o grande elemento ainda parecer ser o objeto inicial,
dotado da propriedade mais instigante. Não esquecendo a evidente presença
das demais peças de construção deste experimento, que também abre outros
precedentes que serão estudados no momento oportuno.
circunstância: anômalo 75
A característica mais importante da “Gaiola” era
a apropriação de objetos cotidianos. Estes objetos,
recombinados e guiados por imagens intertextuais
formaram o primeiro objeto de linguagem e
experimentação. Para rever esta origem, existem
dois caminhos: o primeiro, uma readaptação
do processo anterior, ou seja, procurar novos
objetos, novas composição, repetindo o processo
com novos objetos. O segundo caminho, mais
complicado e mais atraente, seria partir de nova
idéia, uma nova proposta, uma outra origem.
E, como não interessava repetir todo um processo
já explorado novamente, o segundo caminho foi
o escolhido. Entretanto, recomeçar continuava
complicado, até o momento em que o inusitado
apareceu; um erro em um programa durante uma
das últimas tarefas da “Gaiola” resultou em uma
seqüência de eventos que foram se encaixando
e se somando até a formação deste novo
experimento de linguagem e forma.
AnômaloVolume final obtido após a combinação de técnicas, imagens referências e materiais
CIRCUNSTÂNCIA: ANÔMALO
Recomeçar um mesmo trabalho é complicado. Em geral, as decisões já estão viciadas e o trabalho encaminhado. Não é verdade. O reinicio de um trabalho trás consigo dificuldades sim, mas também é trajeto rico de conhecimento do trabalho, reavaliação de processo e crítica produtiva. Esta é a primeira etapa neste novo processo: reavaliar a anterior para propor algo não apenas diferente, mas possivelmente complementar.
prática expandida - experimentação conceptiva76
A circunstância
O gatilho de desenvolvimento para esta tipologia
foi, coincidentemente, o final do primeiro
experimento, durante o trabalho com a fachada
paramétrica (que será abordado na etapa seguinte,
a “desencadeando”). Durante uma das pesquisas
de desenvolvimento, mais especificamente em um
tutorial sobre o programa Grasshopper (um plug-in
para outro programa, o Rhinoceros), a idéia era
gerar um parâmetro para que uma forma específica
respondesse a um estimulo externo. Dentro
desta oportunidade levantada, foi considerado
um ponto de referência que deveria interagir
uma série de blocos dispostos em uma malha.
Um algoritmo simples foi desenvolvido, em que,
conforme a distância entre o ponto e algumas das
intersecções da malha aumentasse ou diminuísse,
a altura dos blocos responderia de forma aleatória
a este estimulo. Portanto, conforme este ponto
mudava sua posição no eixo XYZ e se afastava ou
se aproximava da malha de blocos, a altura de
cada um destes variava conforme esta distância.
Dentro do universo projetual, este estimulo poderia
deixar de ser simplesmente aleatório e tornar-se um
algoritmo com função técnica que contribuiria para
decisões de projeto (dimensionamento de aberturas
em uma fachada conforme a incidência de luz
direta, por exemplo). Mas este não o caso aqui, e
ele acabou tendo outra finalidade.
Rhino + GrasshopperAprendizado do desenvolvimento
de um algoritmo voltado para a transformação de um volume.
circunstância: anômalo 77
Neste caso, a apropriação acontece por um fator que vem agregado com
a produção digital, e não um resultado dela, de certa forma sendo inusitada.
Durante todo o trabalho com o programa, especialmente na tentava de
produzir este algoritmo que gerasse a construção descrita a pouco, sempre
houve erros durante as tentativas. Os volumes estavam satisfatórios, porém ainda
faltava algum componente a mais, alguma coisa a ele. Então, ao invés de
encarar os erros de processo como descartáveis não aproveitáveis, optou-se por
exatamente fazer o contrário: assumir de uma vez este erro, esta deformação,
esta não aceitação. Neste momento surge pela primeira vez a palavra
“anômalo” neste experimento.
Rhino + GrasshopperAlgoritmo para a forma
de um sistema de blocos, estimulados conforme a
distância destes para um ponto de referência
GrasshopperMensagem de erro. Primeiro sinal do “sintoma anômalo” neste experimento.
prática expandida - experimentação conceptiva78
Imagens referenciais
Anômalo. Eis a palavra que será o ponto de partida
para a pesquisa de imagens que contribuirão
para ao desenvolvimento do objeto. A idéia
basicamente é a mesma da “Gaiola”: uma
pesquisa rápida usando a ferramenta mais eficiente
de seleção de imagens disponível nos dias de
hoje, o Google Images. Com certeza não existe
instrumento mais direto e acessível do que este.
Com uma pesquisa bem básica de imagens, foi
feita a seleção de algumas possíveis referências
que tenham aproximação com a idéia proposta.
Algumas referências foram encontradas, indo desde
cover-arts de bandas, esculturas de artistas, até
arquitetura e pintura.
As imagens selecionadas tinham algumas
características próximas uma das outras. Dentre
elas, pode-se citar o disco do RadioHead lançado
em 2011, The King of Limbs, que apresenta uma
música instrumental singular e pouco convencional,
que reflete na escolha da arte para a capa do
álbum. Outros ainda, como os grandes robôs de
Star Wars, a pintura de “A tentação de Santo
Antônio” de Salvador Dali e as aranhas da artista
Louise Bourgeois acrescentam criaturas de pernas
esguias e corpos compactos, lembrando muito
deformações visuais que seriam pertinentes
dentro do nome “anômalo”. Somada a isto outras
referências, como o Atomium (construção feita
para a Grande Exposição Internacional de 1958 em
Bruxelas, Bélgica) e as peças gráficas de divulgação
do nightclub londrino Nuke Them All reforçam esta
face “sublime” e alternativa alcançada.
RadioHead - The King of Limbs (2011)Disco da banda inova pelo seu estilo
musical experimental
Star Wars - The Empire Strikes BackRobôs de grandes alturas sobre
grandes pernas
Nuke them all!Festa londrina underground famosa por
reunir estilos alternativos
circunstância: anômalo 79
Importante aqui que, ao contrário do que aconteceu com a gaiola, onde as referências mais fortes estavam
na arquitetura, às imagens foram selecionadas propositalmente para serem mais intertextuais. Ou seja,
diversas técnicas, produções artísticas, indo desde músicas, esculturas, arquitetura, pintura... A comunhão
inter artística ajudará a compor o objeto que se juntará a forma previamente pensada dos blocos, avaliando
o que cada uma destas imagens aqui postas tem em comum: o sublime.
Atomium BruxelasConstrução para a Grande Exposição Internacional de
1958 sediada na Bélgica
A tentação de Santo AntônioSalvador DaliDeformação aproxima o belo do feio, o sublime
Aranha Louise BourgeoisEscultura
prática expandida - experimentação conceptiva80
Para fazer a montagem do cubo, foi importante
observar que as quantidades de peças obtidas
não resultariam em um cubo, pois este necessitaria
de mais peças para que fosse completamente
fechado. Portanto, haveria algumas peças faltantes,
que deveriam ser tratadas como possíveis fendas,
aberturas, abrindo outras possibilidades não pensadas
3,5x3,5 cm 3 peças
base meio topo
4,0x4,0 cm 7 peças
4,5x4,5 cm 2 peças
5,0x5,0 cm 6 peças
5,5x5,5 cm 2 peças
circunstância: anômalo 81
Composição maquete
Inicialmente, procurou-se resolver os blocos de diferentes alturas conforme
obtido no estudo paramétrico. Para isto, um pedaço de 1 metro de caibro
foi cortado em pedaços irregulares, porém mantendo um determinado
padrão para que, combinados, pudessem formar um volume próximo
a de um cubo. O tamanho intermediário é de 4,5 por 4,5 centímetros;
os demais possuem uma progressão crescente ou decrescente de 0,5
centímetros (portanto, o maior tem 5,5 cm e o menor 3,5). No tatal, foram
obtidas 20 peças.
antes. Três fases foram pensadas: uma base, um meio
e um de topo. A junção destas formou o volume final
do cubo, que além de apresentar sua superfície
irregular (resultado da combinação de tamanhos
diferentes dos blocos com o cuidado de não estarem
alinhados) também tinham vazios não preenchidos.
Com o volume pronto, outra possibilidade foi notada:
o que antes era uma base e um topo, ao serem
rotacionados tridimensionalmente, criam outras
possibilidades, outros vazios sequer antes imaginadas.
Possibilidades estas somente compreendidas com o
manuseio do objeto final construído.
prática expandida - experimentação conceptiva82
Os vazios no cubo resultado da falta de peças que o completassem instigavam
possibilidades de utilização. Era necessário pensar em algum tipo de ocupação
para este espaço, adicionando mais um elemento de linguagem e forma.
Pensando que o fundamento de tudo é uma
linguagem aberta, foi proposta uma solução: imãs
foram colados nestes vazios, para que pudessem
tanto ser mantidos os vazios quanto acoplados
diversos objetos nestes. Observou-se aqui a
possibilidade de troca; o imã permitia não apenas
uma solução, mas diversas, sendo não apenas um
material encaixado, como nenhum ou diversos com
características diferentes. Em outras palavras, ela
não precisaria ser definitiva, mas uma em constante
transformação e mudança.
imã
circunstância: anômalo 83
Como exemplificação deste sistema em
transformação, uma identidade foi criada para servir
de encaixe no objeto. Apenas uma foi criada, mas
poderiam ser uma infinidade, portanto ela é de fato
apenas um exemplo. Com varas de bambu cortadas
e combinadas para formarem um wireframe de
blocos que se encaixariam no vazio por intermédio
dos imãs. Além disso, um fio de lã encobriu toda a
superfície deste volume aleatoriamente, sem uma
regra, apenas tomando o devido cuidado para que
se obtivesse uma textura harmônica e caótica ao
mesmo tempo. Quando encaixadas nos espaços
vazios do cubo revelam uma nova linguagem,
completando a anterior e criando uma nova estética
e outras potencialidades
A título de trabalho, será considerada daqui por
diante este conjunto de bambu com lã como parte
da linguagem. Porém é importe retomar que ela não
é definitiva, sendo outros desdobramentos possíveis.
imã
30°45°
45°
15°
30° 45°
45°30°
prática expandida - experimentação conceptiva84
O volume esta acabado,
mas ainda faltava
alguma coisa que
completasse o conjunto.
Faltava o elemento
de contradição, que
ajudaria a justificar o
nome de anômalo.
Neste momento as
imagens de referência
foram fundamentais,
em especial quando
comparadas e
uma semelhança
encontrada.
A semelhança estava na composição formal de
cada. Todas tinham uma forma em comum: corpo
pequeno, compacto e convencional, suportados e
erguidos por longos pés finos que contribuíam para
sua construção e contradição de sua proporção.
Portanto este era o elemento faltante: longos pés,
que dessem suporte a um volume rígido, neste caso
o cubo executado anteriormente. Para isto, foram
projetados alguns “pés” de suporte, que seriam
fixados na base deste cubo. Eles seriam constituídos
por pequenas pequenos pedaços de madeira
com secção circular com junções de diversos
ângulos e dimensões variadas dando um caráter
de desencontro e descontinuidade do conjunto.
Evidentemente, tiveram que ser pensadas com um
pouco mais de cuidado para que tivessem o mesmo
tamanho total para cada um servisse de suporte ao
cubo.
circunstância: anômalo 85
Com o desenho pronto, faltava escolher o material,
que foram as varas de marfim, devido a sua boa
resistência que facilmente suportaria o alto peso
do cubo. O tamanho máximo da altura das partes
combinadas deveria ser de 40 cm, uma boa altura
considerando o volume já criado e a junção dos
pés com ele. Desenhou-se o projeto em folhas para
que servissem de molde para o posicionamento
das varas, respeitando assim os ângulos entre as
partes e por conseqüência respeitando o trançado
pensado. Depois cada uma das partes foi colocada
sobre este desenho e estariam prontas para a junção
definitiva. Para a junção, inicialmente pensou-se em
colas, para depois se chegar à conclusão que seria
muito mais eficiente o uso de resina epóxi para a
fixação, principalmente pela segurança na junção
que futuramente suportaria o peso do volume acima
dele.
Quando finalizado, uma outra questão pairou
sobre o resultado. As resinas de epóxi deveriam
ser consideradas parte do sistema de linguagem
ou apenas um instrumento de construção do
experimento? Esta questão ficará em aberto, mas é
interesse compreender que qualquer relação pode
sim ser um elemento lingüístico.
prática expandida - experimentação conceptiva86
Com os pés prontos, faltava apenas junta-la ao
volume inicial. Entretanto não foi tão fácil quanto
parecia a princípio, principalmente porque a
principal formação visual era muito difícil de ser
seguida, pois não sustentaria o conjunto. O resultado
foi procurar manter a deformidade na construção
e permitir o equilíbrio necessário para que tudo
ficasse de pé. Para juntar os pés ao cubo, uma peça
que sobrou do caibro foi usada, usando a mesma
fixação que as partes da vara de marfim e sobre ela
encaixando o cubo. Este encaixe, por sinal, não é
fixo, permitindo que descoberta sobre a posição das
aberturas permanecesse validas e o jogo de volumes
ficasse enriquecido.
circunstância: anômalo 87
Anômalo é a mistura entre uma forma tradicional,
o cubo, associada a uma completamente irreal
e subjetiva, os pés que suportam e dão altura
ao experimento. O cubo tem faces irregulares,
motivado por tamanhos diferentes de cada um
dos blocos; blocos estes que não completavam
um cubo por inteiro, deixando aberturas
interessantes para os testes de diversos materiais
encaixáveis aqui exemplificados pelas varas de
bambu entrelaçados com linhas de lã. Somado a
isto, os pés compostos de varas de marfim unidos
com resina de epóxi, criando uma linguagem
confusa, caótica, associada diretamente com a
característica mais básica desde experimento: a
deformação, o erro, a anômalia.
identidade: entubado 89
Observando atentamente o desenvolvimento tanto
da “Gaiola” quanto do “Anômalo”, boa parte do
processo de produção desconsiderou a relação
direta com a tipologia das “baladas”. No caso da
“Gaiola”, o objeto encontrado e no do “Anômalo”,
uma oportunidade de referências. Este afastamento
não deve ser entendido como uma desvalorização
destes dois experimentos, mas sim uma fuga da
esfera tradicional da referência selecionada
quando esta é estreita ao tema abordado.
Apesar desta fuga, é pertinente explorar mais o
território que o próprio conjunto de linguagens já
possui, através da recombinação de elementos,
em um processo de construção e desconstrução
recorrente nesta investigação. A principio, algumas
referências de linguagem já foram levantadas
durante a observação e exploração da tipologia;
entretanto, é interessante ir adiante destas
possibilidades e conduzir o caminho por uma trilha
que ainda não foi muito trabalhada.
EntubadoObjeto final da experimentação
IDENTIDADE: ENTUBADO
Olhando as experimentações anteriores, sentiu-se a necessidade de uma aproximação mais significativa entre a produção destes e a tipologia selecionada. Colocar objetos de referência direta no centro de desenvolvimento da linguagem provavelmente redirecionaria a novas e instigantes possibilidades.
prática expandida - experimentação conceptiva90
A identidade
Algumas referências já haviam sido exploradas,
sendo que qualquer uma delas tem potencial para
servir como base para este experimento. Entretanto,
olhando mais atentamente a elas, uma certa
preocupação surgiu: praticamente todas tinham
como referência estilos musicais ou eram muito
especificas e singulares, dificilmente configurando
a identidade de uma balada ou festa. Portanto,
nenhuma delas se encaixava perfeitamente
no objetivo aqui proposto, pois desenvolver um
experimento com base neles significaria usar a
identidade daquela balada especificamente, e não
de uma identidade total da tipologia. A solução foi
procurar novamente um ponto de referência.
A melhor possibilidade dentre as encontradas era
compor elementos diretamente relacionados com
imagens de referência de um determinado evento
ou balada. Ao observar algumas possibilidades,
selecionou-se a que parecia mais interessante:
as raves. Estas são festas que acontecem
normalmente durante um período de 2 ou 3 dias
ininterruptamente, onde a interação acontece
tanto de dia quanto de noite. Famosa por
acontecer em grandes campos e reunir grande
quantidade de pessoas, as raves usualmente
abusam do uso de iluminação e de simulação de
um espaço que funcione bem tanto de dia quanto
a noite.
RaveFestas acontecem em
grandes campos , tanto de dia quanto de noite
identidade: entubado 91
Quando vemos este mesmo espaço a noite, a
percepção passa a ser outra, bem distinta. As luzes
criam e recriam o espaço, transformando-o em uma
nova composição. O dinamismo, a associação com
as músicas e, em especial, a interação do público
tornam-se jogos visuais interessantes. Importante
ressaltar a participação do público neste processo,
que munidos de luzes, pequenas lâmpadas de LED,
auxiliam na construção deste espaço somente
luminoso, virtual.
Como primeiro passo no desenvolvimento deste
experimento, será usado o mesmo artifício de
composição usado pelo público deste evento: as
luzes. Portanto, o primeiro trabalho a ser realizado
será um estudo da volumetria alcançada,
brincando com este sistema de construção de luzes.
Durante a pesquisa de como seria possível este
estudo, uma interessante alternativa apareceu: o
uso do lightpaiting.
Imagens topoJogos de luzes dinâmicos
que criam um espaço fluído, continuo e dinâmico
Imagens abaixoMunidos de iluminação,
público contrinbui com a composição do espaço
prática expandida - experimentação conceptiva92
O lightpaiting é uma pratica já muito explorada, inclusive por artistas
consagrados como Pablo Picasso. Esta técnica é relativamente simples: em um
ambiente totalmente escuro ou com pouca iluminação, perto da escuridão,
e usando uma câmera (que possua o modo de longa exposição) fixa em um
tripé, o fotógrafo usa diferentes fontes de luz como se fossem pincéis. A única
coisa necessária é uma fonte luminosa e um ambiente com pouca iluminação
para investigar a interação desta iluminação com o ambiente. As imagens
nesta página mostram um pouco desta interação. Em alguns casos, a simulação
da luz é uma pintura sobre corpos, ambientações espaciais entre outros.
Logicamente, com muita modéstia em relação aos resultados obtidos por estes,
experimentasse a técnica para estudar o resultado.
Lightpainting- experimentosUso da técnica para a valorização dos corpos
Lightpainting- experimentosUso da técnica para a valorização do espaço
Lightpainting- Pablo PicassoArtista se aventurou com a
técnica em algumas de suas obras
prática expandida - experimentação conceptiva94
Infelizmente o resultado do estudo do lightpainting
foi modesto demais, mas algumas coisas podem ser
aproveitadas: neste caso as formas geométricas,
em espacial o circulo. Olhando as referências das
raves, dois elementos pareceram em destaque: a
iluminação e o gramado. A iluminação em si era um
pouco complicada de inserir dentro do experimento
volumétrico, apesar de ser importante considerar
que a investigação do lightpainting faz parte da
experimentação. Entretanto, como solução para a
maquete, até mesmo para enriquecer a produção,
será proposta algumas das volumetrias como já
feito anteriormente. O principal volume foi o cilindro,
obtido durante o lightpainting. Para representá-
lo, usou-se um tubo hidráulico com bitola de 10
centímetros e aproximadamente 40 centímetros de
profundidade.
Carretel de barbante
Tubo hidráulico bitola = 10 cm
Tubos de cola plástica
identidade: entubado 95
Juntamente com o cilindro, a grama foi pensada,
para que o volume cilíndrico abrigasse esta
característica e elas se somassem para a criação
da linguagem. Como partido para este trabalho foi
pensado em enrolar a grama e torná-la algo como
um “revestimento” interno do volume cilíndrico.
Para isto, um papel na cor verde foi cortado nas
dimensões internas do cilindro e depois colado
um tipo de fuligem pintada de verde, usada
costumeiramente na confecção de maquetes
arquitetônicas. O resultado foi adicionado
internamente ao cilindro e, com isto, a combinação
entre ambos os elementos aconteceu.
Papel verde com fuligem simulando grama
prática expandida - experimentação conceptiva96
O resultado pode ser observado na imagem acima.
Além deste volume, alguns outros eram importantes
dentro deste objeto, portanto deveriam ainda ser
explorados. Observado atentamente o jogo de luzes
presente à noite, quanto os canhões de luz jogam
luzes de diversas cores sobre a multidão, um novo
panorama é observado. A confusão e o caos das
luzes podem gerar um importe paradigma para a
recriação destes elementos, mas agora como um
volume físico. Para isto, foi pensada a utilização
de uma série de objetos, sendo selecionado um
em especifico que correspondia perfeitamente
às necessidades pensadas: os tubos de cola
plástica, que além de possuírem um diâmetro de
secção compatível com o volume do cilindro,
eram fáceis de serem cortados e apresentavam
uma transparência oportuna. Cortados em partes
pequenas, de aproximadamente 10 centímetros (e
assim encaixando perfeitamente dentro do tubo)
foram dispostos irregularmente, nos eixos XYZ. Ao
lado pode-se ver a combinação entre todos os
elementos.
Jogo de luzesCombinação de canhões de luz contribuem com confusão
e caos espacial
Tubos de cola plástica Diamêtro, manuseio e transparência adequados
prática expandida - experimentação conceptiva98
O resultado da composição do tubo era
interessante, porém ainda faltavam algumas coisas.
Olhando para as experimentações anteriores,
foi comum no final do processo se desenvolver
um elemento de suporte a composição inicial,
possivelmente aqui isto também seria interessante.
O primeiro passo era a escolha do material de
suporte. Alguns estudos formais foram propostos, a
maioria deles usando do barbante (que até agora
era apenas uma idéia não aproveitada) para a
suspensão. Como material, foi escolhida a espuma
de poliuretano, pela sua facilidade de manuseio
e corte, apesar de soltar muitos resíduos e de não
apresentar uma cara verdadeiramente simbólica.
identidade: entubado 99
linear das peças de poliuretano, como um elemento
de suporte continuo e repleto de eixos, confusão,
sobreposição e continuísmo, Como se fosse uma
construção pré-existente, onde o tubo se encaixaria
como uma das peças dos blocos, mas aqui
diferenciada completamente pelo seu formato,
estética e, possivelmente, função. Um recorte até
mesmo próximo e representativo do conceito e
organização de uma cidade.
As formas obtidas durante os estudos volumétricos
para o suporte não estavam dando certo, em
especial devido ao grande peso do tubo e a
dificuldade em entrelaçar o barbante de uma
forma que o conjunto ficasse equilibrado. Como
alternativa, para a construção deste objeto, foi
proposto algo mais simples: uma sobreposição não
prática expandida - experimentação conceptiva100
O resultado final já era satisfatório, entretanto
ainda caberia o uso de um dos objetos pensados
inicialmente, mas que esta sendo deixado de
lado: o barbante. No inicio, a idéia era usar da
mesma origem proposta para os tubos de cola,
da desorganização presente no jogo de luzes,
para fazer dele este elemento caótico. Em um
segundo momento, ele passou a servir quase como
uma estrutura de suporte ao conjunto, quando
combinado com os blocos de construção. No
final, quando aparentemente estava passando
batido, sem uso mais, ele surgiu como um bom
componente final do arranjo, apesar de parecer
uma insistência em seu uso. Um componente de
entrelaçamento entre todas as partes do conjunto,
como um agregador das partes, unificando em
um só objeto volumes tão diferentes quanto os
blocos desorganizados e o tubo. O resultado final
é para ser observado não apenas no ângulo
em que foi composto, mas também dos diversos
outros, ficando assim mais fácil compreender a sua
profundidade e potencialidade
identidade: entubado 101
Um dos princípios imediatos da formação
do Entubado foi a estreitar a relação entre
a seleção de objetos com a identidade da
tipologia. Porém, isto foi adiante, influenciando
inclusive no processo de criação, ao passo
que as luzes foram importantes formadores
de soluções para esta experimentação. O
objeto final é importante, mas o processo é
tão importante quanto, como é foi bastante
observado. As luzes trazem características
complementares não vistas nos outros
experimentos: o rígido do lugar ao dinâmico;
o certo e concreto ao incerto e abstrato;
a forma pura e simples pela forma virtual e
idealizada, momentânea, de passagem.
Associado isto ao objeto resultante,
possibilidades abrem-se dentro deste universo.
casualidade: Ôco 103
As experimentações anteriores investiram em outras possibilidades de trabalho
que permearam outras esferas de possibilidades. Entretanto, foi evidente que
em cada uma delas algo já pensado e construído para que o resultado gerasse
muitas possibilidades e desencadeassem interessantes instrumentos de trabalho
dentro de um projeto aberto. Entretanto, todos eles tiveram como ponto de
partida a composição de objetos como o processo chave de formação, apesar
de que o Entubado com o Lightpainting fugiu um pouco deste cenário comum.
Portanto, todos os experimentos tiveram como centro
de desenvolvimento um processo em comum aqui
desenvolvido, de apropriação de materiais, associação
de imagens e composição de um experimento
emblemático e referencial. Porém, e se a fonte de
apropriação não fosse nenhuma das anteriormente
citadas, mas sim um processo de construção
propriamente dito? Em outras palavras, a apropriação
não do resultado, não da situação pronta, mas sim das
etapas e estudo de desenvolvimento já consagrado por
algum artista ou investigador do processo.
Esta possibilidade abriu a necessidade para
mais um experimento.
ôCORearranjo e recombinação de elementos e processos diferentes
CASUALIDADE: ôCO
Quando as possibilidades levantadas pelas experimentações anteriores pareciam suficientes para um trabalho de rico desenvolvimento e revisão do programa, surgi uma nova possibilidade de trabalho, desta fez originada em outra situação e em outras combinações. Tal situação não seria pertinente caso as possibilidades de desdobramento não fossem tão interessantes quando a dos demais experimentos.
prática expandida - experimentação conceptiva104
A casualidade
É compreensível que o acaso é complicado
de ser estudado. A partir do momento em que
existe alguma seleção, este acaso deixa de ser
um mero deslumbramento e passa a enfrentar
situações reais e deve lidar com as questões
mais técnicas e necessárias. A casualidade aqui
apresentada tem outra abordagem, mais próxima
das circunstâncias na construção de projeto do
que da teoria do acaso. Neste experimento será
feita uma combinação entre um processo de
desenvolvimento de um famoso artista para uma de
suas obras e uma produção já finalizada de outros
CriaturasCombinação entre elemen-tos arquitetônicos, tribais e rústicos
casualidade: Ôco 105
Para ajudar a composição do processo escolhido,
foram selecionados os trabalhos artísticos “Criaturas”
do escritório franco-brasileiro Triptyque Arquitetura.
O interessante nestas ambientes nestas criaturas é
a combinação de diversos elementos criando um
ambiente lúdico, que se aproxima sensivelmente
da arquitetura e espacialização incorporando
equipamentos específicos arquitetônicos (escadas,
janelas...) como elementos definidores de um
sistema de linguagem. O ponto mais notório neste
trabalho é a comunicação, a linguagem tribal,
rústica e natural.
artistas.
Como processo de desenvolvimento de um
projeto, que envolve diretamente um método
causal, foi selecionado o projeto da banqueta
dos Irmãos Campana. Segundo os próprios
autores do projeto, um processo que segue a
espontaneidade, o momento e a construção
de um objeto por intermédio da construção
livre. O processo é simples: de posse de algumas
varas metálicas, elas são soltas e, conforme a
distribuição alcançada dentro desta aleatoriedade,
à banqueta vai tomando forma até o momento
em que se transforma em objeto utilizável. Se
este desenvolvimento é ou não verdadeiro não
é passível de averiguação; o que importa aqui é
incorporar este processo dentro da produção deste
experimento. Portanto, a aleatoriedade de objetos
submetidos a estímulos específicos e transformações
não planejadas.
Irmãos CampanaProcesso criativo de desenvolvimento de uma baqueta
prática expandida - experimentação conceptiva106
Conforme o conjunto de imagens selecionadas
acima, era fundamental a seleção de um objeto
que remetesse ao caráter tribal e rústico, assim
como a apropriação da linguagem proposta.
Dentre todas as opções, a mais interessante
pareceu ser a do coco, pois sua forma e a texturas
pareciam adequados o suficiente para um trabalho
interessante. Além do mais, não é um objeto
engessado e esperado, como o protetor de frutas
da gaiola ou o tubo. Cada coco tem características
casualidade: Ôco 107
especificas, singulares, nunca sendo um igual a
outro, seja na cor, no peso ou na forma. Estas
são qualidades importantes deste elemento e
a sua diversidade será explorada mais adiante
durante o desenvolvimento deste experimento.
Como processo, será usado um processo
parecido ao da banqueta dos Campanas:
ele será submetido a transformações
aleatórias através da sua quebra. Entretanto,
o primeiro passo a se fazer com o objeto é,
cuidadosamente, abri-lo com o auxilio de um
abridor de garrafas, e seu liquido consumido.
É um líquido rico em sais mineriais e vitaminas,
muito importante à saúde para ser descartado
em uma composição experimental como esta.
prática expandida - experimentação conceptiva108
O próximo passo é a quebra. Jogado de uma altura
significativa, ao chão, com uma força razoável para
que fosse possível a sua quebra. A quebra do coco
estimulou uma nova observação sobre o próprio
objeto. Ele é divido em duas “fases”: uma externa,
visível, e outra interna, apenas percebida após a
sua quebra. Esta parte interna carrega consigo
o “branco” comestível, porém possui uma capa
de proteção deste interessante. Serão fases assim
tratadas, como o interno e o externo.
casualidade: Ôco 109
Já a camada interna não pareceu tão estimulante
quanto o objeto anterior. Sua textura é peculiar,
bem diferente e mais homogênea do que a
camada externa. Por ter mantido a forma original,
alguma relação de abrigo poderia ser adotada,
como uma forma dentro de outra. A dificuldade
em se trabalhar com a quebra e a junção entre
as partes, além de ser um produto perecível
desestimularam a continuidade do trabalho com
este elemento, apesar de ser significativo notar sua
existência.
O resultado externo foi à casca do coco totalmente
despedaçada. Observam-se algumas das partes,
abertura e fendas obtidas após a quebra. Ele
quebrado não interessava muito como composição
final, então ele foi reconstruído com suas maiores
peças e as menores foram postas em “espera”
para um uso futuro. Ainda nesta parte, olhando
outros cocos e comparando as texturas de suas
faces, percebe-se a diferença que um mesmo
elemento pode ter e isto cria uma característica a
ser trabalhada mais tarde.
prática expandida - experimentação conceptiva110
Com texturas tão diversificadas, uma nova
quebra foi proposta, agora em mais três outros
cocos, sendo escolhidos conforme a maior
diversidade de sua aparência, em especial na
textura e na forma. O processo se repete deste o
consumo do líquido até a separação da camada
interna. Conforme observado anteriormente,
as complicações no trabalho da parte interna
levaram a outro uso dela, um pouco afastado do
experimento, conforme é possível ver nas fotos ao
lado, possivelmente aproveitando de fato a sua
maior potencialidade. Já a parte externa continua
com a mesma característica. A resposta aqui é a
mesma, propondo uma reconstrução de cada um
deles partindo dos maiores pedaços e deixando
os demais menores em espera para uma possível
utilização futura.
casualidade: Ôco 111
Com as quatro unidades desconstruídas e
reconstruídas, faltava compreender o que
poderia ser feita com elas. Decidiu-se unir as duas
referências (o processo e a linguagem) colocadas
no inicio e, com isto, propor uma composição
não apenas entre os processos, mas também
na linguagem. O resultado foi à junção de um
elemento metálico, representativo de um elemento
tecnológico, em contradição ao teor rústico e
bruto do coco. O elemento metálico é uma antena
de televisão, rádio, que além de corresponder as
expectativas da linguagem, ainda permitia certa
flexibilidade de tamanho quando desdobrado. Para
fixar, uma combinação de cola e resina epóxi, além
da adesão das sobras das quebras sobre o volume,
sobrepondo formas e texturas.
+
Coco rústico
Antena tecnológica
prática expandida - experimentação conceptiva112
O resultado pode ser visto nas páginas seguintes, onde é possível observar como a composição acontece
conforme as formas, texturas, alturas e a adesão das sobras sobre o coco reconstruído. O resultado é uma
complexidade de alternativas, pontos de vista e composição. Estas alternativas devem ser observadas não
apenas com o objeto isolado, mas principalmente com a junção e comunicação entre cada uma das
partes, e mais adiante entre estes experimentos e um possível usuário.
prática expandida - experimentação conceptiva114
Coletivamente, existem outras possibilidades mais
profundas. É complicado ressaltar um caráter
claro para este experimento. Seria ela uma
forma arquitetônica? Um simples objeto ou uma
instalação? Estas possibilidades serão abordadas
no momento oportuno, aqui ainda deve-se dar
seqüência a produção. Inseridos em conjunto,
respeitando as alturas compostas separadamente,
o resultado e a disposição entre as partes pareciam
um pouco desconexas. Alguns problemas de altura,
inter relação e sobreposição eram nítidas. Por sorte,
a escolha do material que da suporte a cada um
dos cocos, as antenas, permitem uma variação
bastante oportuna de altura que poderia ser
trabalhada de modo livre. Primeiro alguns testes de altura foram feitos, para que fosse possível compreender
a altura mínima e a máxima que cada uma poderia chegar mantendo o equilíbrio. Em seguida, todas foram
colocadas em seu menor tamanho e depois, uma de cada vez passava se reconstruir apenas pela diferença
de altura de cada um. O resultado final é uma outra composição, nem pior nem melhor que da inicial ou da
intermediária, mas diferente, possibilitando uma nova relação entre si e para fora do experimento.
casualidade: Ôco 115
Ôco é a mescla entre um processo e uma
linguagem. Um encontro programado, mas
casual pelas possibilidades encontradas durante
o processo, mesmo que com algumas coisas
descartadas. Uma linguagem que mescla o rústico
com a tecnologia, o natural com o artificial, que se
dispõe a ser uma forma itinerante, de composições
infinitas e relações abertas, ressaltadas por texturas
e formas que remetem a natureza e ao homem.
prática expandida - experimentação conceptiva116
As experimentações geraram possibilidades conforme previsto inicialmente. Ao se afastarem da proposta programática
inicial, elas abriram precedentes para uma releitura de todo o contexto, explorando alguns territórios antes pouco claros
quando levado em conta um campo de trabalho pouco flexível. Os experimentos têm um apelo mais forte no sentido da
forma e da linguagem, explorando pontualmente outros aspectos, como a concepção, a construção e até mesmo o próprio
programa. São junções, composições de imagens e materiais na forma de objetos de referência, mas que podem adquirir
um comportamento mais profundo, ao passo que o processo de sua composição pode ser levado em conta para a sua
construção projetual. Além disso, algumas destas composições trazem consigo contextos espaciais que, quando devidamente
analisados, permitem alguns interessantes desdobramentos para um determinado projeto.
Portanto, a grande força dos experimentos está na composição dos processos associadas ao objeto final, não somente o
resultado obtido pela sua construção. Um exemplo é o “entubado”, onde a descoberta do uso das luzes como componente
do sistema é tão importante quanto o objeto final em si. Os objetos finais são construções que adiantam algumas tendências
lingüísticas e formais, auxiliando na composição de uma nova espacialidade, de novas possibilidades de interação e de
novas perspectivas para o projeto. Existem características semelhantes entre os quatro, como a busca por referências que
escapem da tradicional seleção de referências baseadas nas disciplinas referências; em outras palavras, não são necessárias
as auto-referênciais. Na arquitetura, por exemplo, esta atividade é muito recorrente, em especial no movimento moderno,
onde se procura as soluções para as suas problemáticas dentro dela mesma. Alias, é interessante observar como outras
formas artísticas, como as artes plásticas, cinema e música, conseguem transitar com muito mais facilidade pelos diversos
campos da arte, enquanto a arquitetura tende a se manter fechada. Isto pode ser o resultado de uma necessidade constante
da arquitetura em ter que responder a usos constantes, devendo ser funcional e operacional, uma ferramenta em função do
espaço e das pessoas que estão nele. Este dialogo, entretanto, pode ser posto de lado, uma vez que esta função e operação
podem estar sujeitas a uma infinidade de possibilidades, não apenas as tradicionais pautadas pela lógica industrial e razões
iluministas. Talvez, os experimentos aqui desenvolvidos tornem a arquitetura o elemento principal de disseminação de uma
linguagem, ao que passo que todos eles trabalham substancialmente com o espaço; afastando a arquitetura como uma
absorvedora de uma linguagem puramente construtiva e industrial. Ao passo que existem fisicamente, interagem no espaço
e entre seus componentes, pode-se afirmar que as experimentações nada mais são do que colocar uma arquitetura de
linguagem no centro da produção multidisciplinar.
DESENCADEANDO
desencadeando 117
Outro ponto de intersecção entre as experimentações foi à opção pela escolha de objetos baratos, do cotidiano, para a
composição. Devido à velocidade que estas experimentações deveriam ser realizadas, optou-se por uma seleção menos
criteriosa e mais rápida destes objetos. Estes objetos foram encontrados e compostos segundo os parâmetros expostos
em cada caso, não necessariamente respondendo diretamente ao objeto-tema de estudo (o que de fato só acontece no
entubado). Estes objetos são recombinações tridimensionais de imagens, de composições espaciais e de produção artística.
Uma interessante colocação sobre estas composições está no fato de que tais experimentos são composições intermediárias
de projeto, como uma busca não por uma referência pronta, mastigada, direta; mas sim a recombinação destas para uma
nova referência. Em outros cenários, por exemplo, seria como se um designer ou arquiteto, ao se envolver em um projeto,
tem como seu primeiro passo uma pesquisa visual das possibilidades de seu trabalho, mas após isso ele não mergulha
diretamente neste universo, não trás estas imagens instantaneamente para o projeto. Ele as explora em outro sentido, em
outra produção, que aqui são os experimentos, mas que poderia ser pinturas, esculturas, cenário, animações, movimentos,
instalações...Uma reprodução destas imagens em um outro sentido, como um estudo aprimorado das possíveis relações
entre as imagens e determinadas formas e linguagens, para só depois cair no território mais rígido projetual, mas neste agora
municiado destas produções. Passar do território experimentativo para o projetual pode ser uma transição complicada,
cabendo ao idealizador compreender os limites permitidos entre cada uma das partes.
Este processo de “reconstrução da referencia” pode colocar em cheque o mito da “página em branco”, os velhos medos
e anseios do inicio projetual, aqui já aparado de uma construção referencial que de fato contribuirá para todas as etapas
do projeto. Entretanto, no que isto atinge e se reflete neste trabalho? Em um primeiro momento, é significativo traçar um
paralelo entre ele e os manuais corporativos, que em certa altura foram o objeto de criação deste trabalho. Ao se colocar
um do lado do outro, claramente se observa uma situação adversa, quase, oposta: enquanto um estanca leis e regras para
o desenvolvimento de um trabalho, como um manual de referência exata, o outro permite uma abertura mais abrangente,
de poucas definições, mas com alguns estudos substanciais de composição formal e lingüística. Recuperando a imagem
do projetista que experimenta antes de começar a projetar, podemos atualizar a atividade do manual corporativo como
uma experimentação exata e definitiva, inquestionável, uma referência imutável e autoritária. O experimento aqui exposto
já não, pois sua abertura, falta de definições, falta de regras e hierarquias resultam apenas em algumas potencialidades,
que podem ser identificadas de forma diferente por diferentes tipos de projetistas. Em um cenário idealizado, o manual
corporativo daria lugar à experimentação, que devolveria a criatividade, a inventividade aos envolvidos. Além disso, as
prática expandida - experimentação conceptiva118
aberturas que os experimentos carregam ainda adicionam parâmetros interessantes no input de um sistema metaprojetual,
como referências passiveis de transformações, readaptações, interferências e interação, esta última sendo a situação chave
para o desenvolvimento. Quando se fala em experimentos, não se tem em mente apenas a imagem das aqui produzidas, mas
também todo campo experimentativo.
Com estas definições bem claras de como a experimentação pode contribuir para o cenário de projeto, acontecerá à
seqüência da proposta de desenvolvimento. Como decidido anteriormente, a produção dos experimentos e do programa
em separado precisariam ser novamente conectados para se entender melhor como podem operam juntos. Portanto, nesta
etapa final, a desencadeando, será promovida a interação entre ambos, fazendo uma releitura de como a experimentação
e o programa podem se comportar juntamente, não apenas em uma leitura direta das formas e linguagens, mas também
em novas possibilidades de interpretação do programa. Isto será feito apenas no campo propositivo, sem levar conta
problemáticas projetuais, construtivas ou de materiais; a intenção e buscar algo, além disso, anterior ao ato projetual
convencional, através da exploração de novas interações entre o sujeito e o espaço, novas disposições e argumentações
sobre tecnologia, percepções, incentivos e como estes podem compor o espaço por si só. A linguagem é um instrumento de
trabalho forte e necessário, ainda mais se levarmos em conta as condições pela qual a tipologia e seus usuários necessitam.
Em se tratando dos experimentos, todos os seus parâmetros serão considerados, desde os objetos quanto o próprio processo
de desenvolvimento, que em alguns casos se mostraram mais importante. Em outros, entretanto, este aspecto será posto
em segundo plano, mas está é uma visão pessoal das experimentações, que não impede que uma segunda opinião faça
outra leitura dos potenciais. Do programa, alguns aspectos serão deixados de lado, pois exigiram uma complicação de
desenvolvimento que fugira das propostas abertas, como por exemplo o material gráfico (flayers, papelaria, site...) pois se
pressupõe que desenvolvimentos destes produtos seriam fáceis mediante a definição de um sistema maior de linguagem. O
grande foco é o espaço e as dinâmicas nele inserida, como pontos de referência, interconexão entre espaços e interatividade
de sujeito e objetos com uma profundidade mais significativa. Portanto, a organização espacial (e por conseqüente, a
arquitetura) torna-se instrumentos protagonistas na disseminação de uma linguagem. Apenas alguns objetos e produções
pontuais serão abordados, uma vez que podem contribuir no contexto de formação, em um cenário onde estes limites
disciplinares começam a se esvaziar e mesclar arquitetura, grafismo, objetos e, por que não, urbanismo.
Os materiais que serão apresentados têm por finalidade expor algumas destas possibilidades e potencialidades, não sendo
desencadeando 119
definitivas ou absolutamente corretas. São apenas alguns exemplos aplicativos deste sistema, procurando estudar algumas
das relações e comportamentos desta metodologia experimentativa. Na verdade, tudo é um grande conjunto de idéias,
um “brainstorm” em que gráficos e simulações virtuais serão mostradas como exemplificação de uma possível aplicação
segundo uma lógica e apropriação pessoal.
prática expandida - experimentação conceptiva120
Gaiola
O primeiro experimento tem três elementos de
trabalho, que devem se auxiliar dentro do suporte
desta linguagem. O primeiro deles é o conjunto
laje e abertura piso-teto, muito característica da
arquitetura modernista. Como este foi um elemento
escolhido propositalmente durante a construção
do experimento, ele mantém suas característica
originais de trabalho: é um símbolo da arquitetura
funcional, reducionista, reservada apenas ao
fato de cumprir com sua função mais primaria e
não planejar o exagero, o excesso. Portanto, o
extremo funcionalismo que marca a edificação
modernista aqui ficará responsável por abrigar
todas as funcionalidades tradicionais da balada;
muito provavelmente, a continuação tradicional do
desenvolvimento do projeto a partir do programa
rígido e absoluto resultaria neste aglomerado de
funções que ditam praticamente toda a forma
desencadeando 121
e a linguagem da arquitetura. O outro elemento que contribuirá para a
formação desta linguagem é o suporte de MDF com o gancho preso, que
dava suporte ao experimento. Neste caso, a melhor solução é de fato usá-lo
para este princípio, mas logicamente não para a suposta sustentação de um
edifício em questão, mas sim de outros componentes dentro do universo do
projeto, como mesas, cadeiras, balcões. Destaca-se o uso do gancho como
um elemento forte e marcador, podendo ter um peso lingüístico mais forte. A
última peça de linguagem e, provavelmente, a mais importante de todas é o
objeto que originou toda a experimentação: o “protetor de frutas”, conforme
ficou aqui conhecido. Sua propriedade aliada a sua forma serão o principal
foco de trabalho no desencadeamento deste experimento.
Para o desenvolvimento desta “malha” ou película, pensou-se em como ela poderia interagir e compor um
conjunto quando esta diretamente relacionada a uma volume. Para isto, uma simulação desta película
foi feita no programa Grasshopper, onde os volumes do experimento foram reproduzidos digitalmente,
representando a película que envolve um determinado volume, como um edifício.
prática expandida - experimentação conceptiva122
Para que esta simulação acontecesse como
previsto, cada um dos volumes componentes
desta película foram modelados em separado,
para que cada um tivesse uma interação própria,
respondendo cada uma de forma diferente
segundo um estimulo. Este estimulo seria um ponto
de referência inserido nos eixos XYZ; este ponto se
relacionaria diretamente com o ponto central de
cada um dos volumes geométricos em separado.
Esta relação seria mediante a distância entre os
dois; quanto mais perto o ponto de referência do
volume, menor abertura ele teria. Por outro lado,
pontoreferência
volumesgeométricos
desencadeando 123
quanto maior à distância ente os dois, mais abertos estará esta forma geométrica. Aparentemente, esta
relação é apenas estética, mas poderia também ter um caráter funcional. Imaginado que o ponto possa ser
um ponto de vista do observador, sendo as aberturas janelas do edifício. Outro ponto é a transparência de
uma fachada ou divisória, sendo que cada um dos seus volumes pode estar fechada conforme um maior ou
menor interesse em se manter a visão dos lados em que esta película esta posicionada. Falou-se muito sobre
a película como um “revestimento” do edifício, entanto é fundamental entender que está é apenas uma
das possibilidades, sendo possível pensar em outras aplicações, como tendas, divisórias, mobiliários (sofás e
balcões), além de a área multidisciplinar, usado como um forte marcador de linguagem e identidade.
Além disso, pensando em um valor estético para
a composição destas películas, a relação entre
suas aberturas pode ser diversa. Em um primeiro
momento (como feito no estudo paramétrico),
a película responderia de uma forma uniforme e
progressiva ao estimulo (as duas imagens acima).
Mas também pode ter uma resposta diferente, mais
caótica e menos linear, mais espontânea, como se
fosse um ser orgânico da natureza, como a imagem
ao lado.
pontoreferência
A Gaiola é um trabalho misto entre três elementos: a forma da arquitetura modernista, que se encarrega neste estudo de abrigar todas as necessidades do projeto; o volume suporte, que aqui está apenas dedicado a certo uso; e o principal, a película, que é o grande elemento deste experimento, sendo propostas uma série de atividades com ela, desde deformações paramétricas de sua geometria até outras formas de aplicação, como nas fachadas de edifícios e divisórias.
desencadeando 125
prática expandida - experimentação conceptiva126
Anômalo
O segundo experimento tem aproximações mais
nítidas com processos de marcenaria. Basta olhar os
elementos usados (caibro, varas de marfim...). São
elementos construtivos usados como ornamentação
e linguagem. Existem dois elementos fortes
aqui: os “pés” e a “cabeça”. Os pés, esguios e
estruturados com a função de suporte a cabeça,
foram pensados exatamente com este principio.
Mas isto não significa necessariamente que, em
uma apropriação destes elementos, ele deva ter
uma função estrutural, assim como a forma da
cabeça sugere uma função de abrigo, mas não
necessariamente assim possa ser adotada. Portanto,
como induz estas formas e linguagens, o aspecto
arquitetônico tradicional será o norte: o abrigo, a
estrutura, as divisórias, as funções. Para um trabalho
mais especifico, é importante retomar alguns
conceitos já apresentados outrora neste texto:
desconstruir as partes e estudá-las em separado
para entender como articular melhor o conjunto.
A lã que abraça os volumes soltos reapresentam
bem o caráter caótico e desorganizado que
acompanha todos os elementos. Esta é a
característica que deve seguir até o final: caos,
desordem, desencontro, tudo seguindo um curto
caminho ao sublime, ao estranho e ao não familiar.
Este experimento clama por esta solução formal,
uma vez que a origem de sua composição foi
exatamente esta. Portanto, ser fiel a esta desordem
e a anomalias é um partido interessante a ser
seguido daqui por diante.
desencadeando 127
Desorganizados como os blocos. Tradicionalmente da concepção formal
modernista, os volumes sempre buscaram uma harmonia total: ou esbeltos e
sutis, ou grandes e chamativos. Aqui se observa o meio termo, que se constrói
sem estar necessariamente condenada a exercer uma função, mas que constrói
um outro escopo de linguagem. Associada a ela, uma iluminação entre as
partes também é proposta: com os blocos em diferentes tamanhos e posições,
a luz comporta-se como um valorizador das frestas e, portanto, ressaltando os
encontros e desencontros entre elas.
Os pés tendem a uma característica
de fixação e apoio, podendo ou
não ser funcionais. As varas de
madeira e as junções são materiais
aparentes. Pode-se pensar em muitas
alternativas neste caso; como será
visto adiante, as peças podem possuir
tamanhos, formas e junções de
diversos tamanhos e formas, além da
própria função, que pode fazer parte
do programa construtivo do espaço
(pilares, divisórias), ser um marco
espacial (espaço artista, bar) ou estar
apenas de acordo com um contexto
ornamental e lingüístico.junções
prática expandida - experimentação conceptiva128
Estudando o conjunto externamente, parte-se da
forma obtida do experimento. O volume cúbico
construído originalmente indica uma sensação de
abrigo, estar, que pode ser diretamente associada
ao conjunto proposto pelo programa da balada.
As fendas de iluminação dão uma outra dimensão
ao visual externo; dependendo do angulo de
visão, podem ficar evidentes ou encobertas,
apenas iluminado os blocos difusos. Os recortes
deste cubo (no experimento, envolvidos pala lã)
possuem um potencial de abertura e isolamento,
quase que um escape do interior turbulento da
balada. Portanto, talvez sejam os postos mais
propícios para abrigarem os lounges. Os elementos
próximos a um formato arquitetônico leva a crer
que este experimento será o que mais se manterá
fiel a proposta programática inicial. Entretanto,
as formas obtidas pelo experimento físico geram
complicações técnicas reais, como as estruturas
e os próprios blocos. O que vemos ao lado é uma
brincadeira de como ele pode ser desconstruído e
reconstruído, adaptando-se a circunstâncias bem
mais reais. Primeiro, o volume é simplificado ao
máximo, reduzido a primeira idéia do experimento;
depois, ele se liquefaz, como se cada um dos
blocos fossem se encaixando em um cenário,
sendo as grandes aberturas propostas conforme as
oportunidades do entorno.
desencadeando 129
Especulação de reorganização externa com base em uma forma arquitetônica executável
desencadeando 131
Imaginando uma situação ideal, apenas na
construção de uma imagem para o uso interno
deste experimento, imagina-se que este está
povoado internamente por usuários da “balada”.
Como observado já durante o trabalho externo,
internamente observa-se com uma potencia de
conter toda a parte envolvida com a produção
sonora e luminosa, que exige aberturas menores.
As partes abertas podem ser os lounges, ou até
mesmo parte do bar, sendo espaços mais calmos,
de escapismo.
prática expandida - experimentação conceptiva132
Internamente, o panorama é um pouco diferente.
Os desenhos investigativos esbanjam um outro tipo
de função dentro do conjunto final; evidentemente,
a forma cúbica dificulta muito a ocupação
deste tipo de espaço, em especial pelos pés
direitos muito altos. Por outro lado, não se podem
excluir possibilidades; em algum local que possua
área suficiente, ele pode funcionar. Apesar das
mãos atadas, algumas possibilidades devem
ser levantadas, para que a linguagem interna
corresponda às expectativas da linguagem. Os
três elementos chaves são pensados de forma
parecida de quando trabalhadas externamente: os
blocos caóticos, as tiras divisórias ou aberturas na
fachada e as pés estruturas (simplesmente como
um funcionamento de linguagem). Ao lado, um
esquema foi pensado do possível desenvolvimento
destas linguagens. Partiu-se de um espaço vazio que
abrigaria perfeitamente os 280 m2 da pista. Em uma
tentativa de desenhos, este espaço é segmentado
e suas paredes são redesenhas conforme os
desenhos dos blocos e as frestas de luz. Os blocos
vão tomando forma e cada vez mais reduzindo a
superfície coerente e harmônica das paredes. Por
sua vez, os pés são adicionados de formas distintas;
por um lado, são espalhados aleatoriamente pelo
espaço e de outro, já concentrados, podendo ser
um grande marco interno.
O anômalo possui características muito próximas da construção arquitetônica tradicional, onde o espaço e suas divisões podem acontecer segundo o programa estipulado anteriormente. Outras possibilidades podem ser levantadas, ou melhor, ainda, revistas por outras pessoas que tenham uma interpretação diferente. Neste estudo de potencialidade, entretanto, a face explorada foi esta, ao se entender que estes conjuntos de sistemas lingüísticos e formais seriam facilmente aplicados no desenvolvimento de um projeto tradicional de uma casa no-turna.
prática expandida - experimentação conceptiva134
prática expandida - experimentação conceptiva136
Entubado
Cilindros e luzes. O terceiro experimento apontou
desde o principio para estas duas possibilidades,
basta observar com atenção as imagens usadas
como referência e os testes com o lightpainting.
O grande desafio neste caso era transformar estes
dois componentes em espacialidade, e como
de praxe, estimular a interação e a vivência do
sujeito presente. Como representantes destes,
foram apontados dois materiais: o tubo, grande
forma simbólica deste experimento, internamente
revestida de grama e os tubos transparentes que
se encontram no seu interior. Juntamente a estes
dois, ainda outros dois que podem alterar seu
sentido mais básico: o entrelaçamento do tubo
(representados no experimento pelo barbante)
e os próprios blocos desconexos em que está
entrelaçado. Por sua vez, a força deste último
recupera um valor arquitetônico importante: ao
indicar desordem, eixos desalinhados, formar
sobrepostas, caminhos e visuais, pressupõe
uma inserção urbana como nenhuma outra
composição possibilitou. Acrescenta-se a isto
ainda o entrelaçamento das formas, como um
componente simbiótico ou parasita, que se
apropria das condições urbanas para se estruturar
e acontecer. Portanto, têm-se dois potenciais
aqui: o arquitetônico, da forma, do uso, da
função em relação à espacialidade; e urbana, de
presença, criação de referência (um “landmark”
possivelmente). Estas possibilidades serão melhor
exploradas adiante. Por hora, é importante separar
cada um dos elementos/componentes e depois
repensar o conjunto, como feito no “anômalo”.
desencadeando 137
Agora, os barbantes que unem o tubo aos blocos
desconexos. Existem duas possibilidades aqui: ou
admiti-lo como estrutura de suporte e esconde-lo,
realizando assim o volume cilíndrico que abraça; ou
o contrário, evidenciá-lo com o uso de luzes. Esta
escolha pressupõe tratamento diferenciando para
cada caso, alterando a composição inicialmente
pensada. No caso de ser apenas estrutura invisível,
não assiste a necessidade de abraçar o existente,
podendo ser simplificado. No outro caso pode-se
respeitar mais a composição inicial, pois a evidencia
luminosa apontaria para um tratamento de
fachada e destaque no meio do caos visual urbano.
O tubo, como já dito, é o principal elemento,
portanto será o norte aqui. Apesar de alguma
incerteza dentro do conjunto final, a grama interna
será mantida, mas ela será apenas uma simulação,
evidentemente. Avançando um pouco no estudo, o
tubo foi segmentado e decomposto, sendo algumas
de suas peças retiradas, resultando em uma série de
aberturas em sua superfície. Tomando como partido
isto como uma possível forma arquitetônica, estas
aberturas deveriam respeitar a cobertura e o piso
(devendo receber uma planificação, aqui sendo
mostrado curvo por se tratar apenas como uma
exemplificação). Já as aberturas serviriam como
janelas para a cidade. A idéia não consiste em
trabalhar com luzes ao compor o espaço? Portanto,
nada mais justo que as luzes da cidade participem.
prática expandida - experimentação conceptiva138
Os cilindros internos eram transparentes e, quando
a luz passava por eles, refletiam e espalhavam tal
iluminação pelo ambiente. Neste caso, a forma e
a distribuição irregular podem ser mantidas, mas
o material poderá ser trocado, ainda sendo um
irradiador de luz. Umas das possibilidades é o uso
de tubos com líqüidos no seu interior, que além
de possibilitarem uma dinâmica diferente, ainda
refletem a luz de forma espontânea e natural. No
exemplo acima, é possível observar um exemplo
deste sistema, que possuem bombas que mantém o
movimento do líquido e iluminação em suas bordas.
Restaurante instalado na cobertura de museu em Paris
desencadeando 139
De todos os elementos que compõe este
experimento, este é mais complicado. De fato,
durante a construção dele, houve mudanças
importantes na sua forma: inicialmente seria algo
como um “pórtico”, depois tirantes e por fim uma
forma desconexa de blocos. Mas, em todos eles,
existia uma característica semelhante: sustentar
ao tubo. E, com a falta de uma linguagem própria
para este componente, esta função acaba por
sendo indispensável para sua idealização. Portanto,
ele é aberto por completo, pode ser qualquer
coisa que possa dar suporte ao tubo, não apenas
estruturalmente como funcionalmente. Um exemplo
(e aqui, devida a forma obtida, bem nítida) é usar as
construções em coberturas como um meio possível
para abrigá-lo.
Quanto ao conjunto, primeiro estuda-se o quesito formal da
fachada. Mantém-se os blocos desconexos como suporte
apenas como simbólico, pois propor uma aplicação real disto
necessitaria uma avaliação criteriosa e técnica que destoa
deste estudo. Portanto, o volume cilíndrico continua sendo
o grande símbolo, aliado as aberturas nos seus extremos,
além das laterais que servem como escape para a cidade.
O elemento conflitante continua sendo as “tiras” que
envolvem o cilindro e abraçam o suporte. Como salientado
anteriormente, caso não sejam iluminadas, o grande destaque
no cenário urbano noturno passa a ser o interior da balada,
que deverá ser muito iluminado. Por outro lado, com estas
tiras iluminadas, o volume tem um grande destaque, sendo
uma solução singular e criando um “landmark” para a vida
noturna. Esta dúvida pode ser resolvida pelo entorno: se está
em um vazio, pode ser iluminada; porém se estiver adjacente
a demais tipologias semelhantes, a iluminação só causará
confusão visual e pouco ajudará em destacá-lo.
prática expandida - experimentação conceptiva140
Apesar do trabalho externo ter um trabalho especifico,
o interno será o grande expoente desta linguagem.
Mas para a criação e concepção do espaço interno,
não serão usada as tradicionais formas e soluções
espaciais; aqui, o que dita à espacialidade são as
luzes, que advêm de diversas fontes. As tracionais,
emitidas por canhões de luz. Depois, os tubos com
as bolhas de água, que resultam no reflexo da
água quando banhadas pelos canhões de luz. Isto
gera uma outra ambientação e uma outra forma
A primeira está na participação direta. Ou seja, além
de estar presente, ele pode interagir na formação
do espaço, com distribuição de itens luminosos,
que vão desde colares e pulseiras até aos copos
dos drinks. Cada um, portanto, passa a contribuir
com a iluminação local, formando e deformando o
espaço com movimentos, associações e integração.
Fazer parte torna-se divertido e instigante. Por fim,
uma condição externa, mas muito bem vinda: as
luzes da cidade, que com as aberturas permitem
desencadeando 141
de exploração da iluminação nestes ambientes.
Entretanto, isto deve ser trabalhado de forma sutil
para que a iluminação se integre harmoniosamente.
Outra exploração está na presença de telões de
projeção, que além de iluminar, projetam imagens
e outros tipos de interações. Além disto, é importante
que cada sujeito participe da composição deste
espaço e não seja apenas um agente passivo
no cenário. Para isto, algumas alternativas foram
pensadas.
não apenas a vista para as pessoas que estão em
seu interior, mas também com a adesão das luzes
da noite que de forma muito especifica contribuem.
Portanto, o espaço se constitui além do físico; passa
a ser também virtual, liquido modificável, interativo.
Apaguem as luzes e teremos a cidade; ascendam
somente os tubos e termos marcações firmes; liguem
as projeções e tem-se um grande dinamismo da
imagem em movimento; liguem tudo e termos um
caos luminoso.
Mais que um espaço arquitetônico, que envolve a forma e função física, parte do ambiente pode ser composto por elementos mais dinâmicos, fluidos, que acima de tudo permitisse a interação das condições internas e externas, em uma constante transformação espacial. A resposta para isto foi o uso das luzes, que além de serem mutáveis, permitem a participação de agentes externos (como as músicas) e principalmente das pessoas, que de posse deste elemento de transformação, são participantes do cenário e do espaço.
desencadeando 143
prática expandida - experimentação conceptiva144
Ôco
Finalmente a última experimentação. Após a
exploração das anteriores, ficou complicado
encontrar um direcionamento singular para este
último, pois as possibilidades mais nítidas durante
o desenvolvimento já foram bem exploradas.
Mas, justamente pela casualidade que deu lhe
origem, ela viria a ser a mais diferente de todas.
Olhando com atenção, existem dois pontos
fortes nele: a oposição dos elementos que o
compõe e a abertura em relação a sua forma
e a sua relação entre as partes. Esta última será
devidamente trabalhada adiante. No outro caso,
os componentes constituem linguagem opostas: o
coco é um elemento rústico, da natureza, portanto
espontâneo, ainda mais quando submetido ao
processo de quebra e reconstrução. Do outro lado
temos a antena, que trás consigo todo um potencial
tecnológico, de inovação. A combinação entre
o rústico e o polido, o natural e o artificial devem
permanecer como principal direção da linguagem.
Pode-se imaginar como esta composição
acontece, criando um padrão de desdobramento
destas formas e texturas. As antenas (portanto,
a tecnologia) podem ser representadas como
elementos estruturais reais, de alta tecnologia, que
conforme os cálculos específicos devem sustentar
e estruturar todo o conjunto. Independente da
técnica, o importante é manter o código da
estrutura como o símbolo do avanço tecnológico.
Do outro lado, o elemento de contradição, o rústico
do coco, que pode ser pensado com diversas
técnicas representativas. Ao lado, é possível ver
um diagrama esquemático das formas, partindo
da simulação da forma dos cocos usados até a
sobreposição de algumas peças como se fossem os
pedaços dos mesmos. Apesar de ser um diagrama
simplificado, apresenta bem a idéia.
Formas básicas obtidas dos cocos usados no experimento
Simplificação em estrutura reticulada simples
Inserção aleatória da primeira camada de revestimento
Inserção aleatória da segunda camada de revestimento
desencadeando 145
Desenvolvimento da forma básica a ser aplicada nas faces volumé-tricas que simulam os cocos
prática expandida - experimentação conceptiva146
A construção destas formas está diretamente ligada às formas originais dos
cocos do experimento. Porém, no momento de compor o revestimento a
estrutura formal, houve muitos problemas para encontrar uma linguagem
parecida, pois as circunstâncias encontradas durante a quebra dos mesmos
dificilmente seriam as mesmas de quando simuladas pelo computador. Portanto,
somente como uma simulação, usando um formato de peça que se repetiu
bastante durante a quebra, uma forma padrão de blocos foi pensada e ela
distribuída pela superfície do volume. Apesar de ainda estar longe do ideal, o
resultado mostra um pouco a cara do que deveria ser volume final. Os volumes
paramétricos poderiam ajudar neste quesito, porém será deixada apenas
em aberto esta possibilidade para estudar melhor a principal força deste
experimento, a forma e a relação entre as partes.
E, se a principio pode parecer um tanto estranho que os elementos não se
desconstruam para um estudo individual e coletivo (como aconteceu nos
demais) isto não é apenas uma coincidência. De fato, as formas aqui obtidas
são as que mais se aproximam de um resultado final. Como? A necessidade
de explorar uma abordagem diferente para este experimento resultou em uma
revisão inusitada de todo o programa, das diretrizes, da tipologia e até mesmo
da própria construção da arquitetura. E neste momento se atinge ponto máximo
da experimentação: nada de programa, nada de diretrizes e muito menos de
espaços construídos; o objetivo inicial atingirá sua plenitude simplesmente por
agregar pessoas, promover a socialização e a vivência e comunicar objeto e
sujeito. Todas estas condições essenciais, mas aqui incorporada de uma outra
forma: como objetos de aglomeração e afinidades.
Pavilhão espanhol expo Xangai 2010 - EMBTExemplo de associação entre estrutura metálica tecnológica e revestimento rústico
Golden Fish Barcelona - Frank GehryExemplo de associação entre estrutura metálica tecnólógica e revestimento rústico
desencadeando 147
FogueiraSimbolo de união e aglomeração
“Feijão” - Anish Kapoor, ChicagoNovas possibilidades de vivências
urbanas além da edificação
prática expandida - experimentação conceptiva148
A expressão “objetos de aglomeração” pode
parecer muito vasta e imprecisa, porém ela pode
sintetizar a relação. Para entender melhor o que
esta acontecendo, retornam-se as primeiras
manifestações históricas de encontro, acolhimento
e reunião entre as pessoas. Observamos, por
exemplo, a fogueira, um objeto simples, mas que
consigo trás conforto, união e socialização. Não
é por nada que este simples elemento torna-
se tradicionalmente presente em diversas festa
populares, como as festas juninas brasileiras.
Retomando ainda princípios básicos da arquitetura,
de promover a abertura social, dialogo entre partes
e tantas outras ficam claro que a fogueira consegue
com muita eficiente ao reunir todos os atributos
para compor um espaço sem o edifício, “não-
edificado”. Quando se começa a entender isto, fica
claro que não existe mais a simples necessidade da
construção tradicional, mas sim a da construção
do sentido, da aproximação do sujeito com o
objeto (como é especialmente observado no
exemplo dado). Portanto, abandona-se a idéia
da construção e se dá um passo adiante: o lugar
(espaço humanizado) acontece diretamente pela
relação do ser com o objeto em questão, que no
caso especifico é o experimento.
?? ?? ? ??
! !! !! !
:):P ;):D:) :D:) :P :)
desencadeando 149
Entretanto, admitir o experimento como “esculturas”
pode não resultar no efeito desejado. Elas podem
simbolizar uma situação, mas não necessária
aproximar as partes. Usando novamente o exemplo
da fogueira, ela trás consigo benéficos que
extrapolem suas formas: o calor, a luminosidade...
Portanto, adiciona-se mais atributos em cada um
deles para que, assim, cada sujeito una-se com
ele. Simplificando e reduzindo o programa para
os itens mais indispensáveis para o acontecimento
da balada: som, bebidas e pessoas. Banheiros?
São importantes, mas existem alternativas; o ideal
é reduzir apenas ao absolutamente necessário
para a existência da “balada”. Estes selecionados
são suficientes, apesar de ser possível pensar em
outras interações, como estímulos a celulares
conforme a aproximação do objeto. Cada um
deles (ou conjunto deles) passa ser um polarizador
de encontros de pessoas, permitindo inclusive unir
diversas tribos de gostos distintos em um mesmo
local, mas cada em seu próprio “objeto de
aglomeração”.
Ôco resultou uma capacidade não explorada pelos outros: recompreender o espaço como uma outra solução, não necessariamente focada no “espaço construído”, mas sim naquela que acontece conforme as relações sociais de dão ao seu redor, lugarizando o espaço. Para que isto ocorra, uma simples expectativa pode não suportá-la, necessitando assim de algum suporte para que ocorra. Neste caso em especifico, cada uma das instalações seriam munidas de música e bebida, itens básicos para compor esta tipologia. Esta interação não acontece apenas entre a instalação e seus usuários, mas também entre instalações, propiciando vivências diferentes conforme sua posição, altura (mais baixos ao redor, médios em baixo e altos referenciais), direcionamento, entre outros, juntando afinidades parecidas e experiências sensoriais singulares.
prática expandida - experimentação conceptiva150
prática expandida - experimentação conceptiva152
A interação entre programa e experimentação apresentada são principalmente propostas formais e lingüísticas, apesar
de lidarem também com a reconstrução do programa. Cada um possui seus respectivos materiais, volumes, estruturas e
construções, sendo que para o estudo de potencialidades cada uma destas peças foi isolada, pois separadas poderiam
render outras possibilidades além do conjunto. As formas encontradas são um sistema aberto a especulação e apropriação,
podendo ser alteradas conforme outras leituras feitas da mesma. Estes experimentos de linguagem e formas têm como ponto
central o desenvolvimento espacial, sendo esta a principal disciplina desenvolvida, deixando de lado outras disciplinas
pensadas inicialmente, como as peças gráficas ou os produtos. A arquitetura e o espaço, mediante a uma linguagem
especulada para elas, podem-se tornar um fortíssimo elemento disseminador de linguagem, agregador de valor e construtor
de um sentido. Imaginando a multidisciplinaridade das mídias, conhecidas como crossmedia, onde uma série de formatos
midiáticos é desenvolvida ao mesmo tempo conforme uma mesma identidade seja em pequenos portáteis como aplicativos
para celulares ou até grandes cartazes. A arquitetura e o espaço podem participar também como uma forte mídia, na
escala da cidade. O caminho oposto pode ser observado, partindo-se da linguagem arquitetônica até as menores e simples
formas de difusão de mensagem. Isto seria impossível caso se use os tradicionais processos modernistas, onde a tecnologia
é a linguagem indispensável; ela pode fazer parte, juntamente com outros elementos que se justifiquem e que criem as
circunstâncias para isto.
Em se tratando de uma revisão programática, de diretrizes e de função, cada um dos experimentos foi estudado
propositalmente com diferentes abordagens para que obtivesse resultados diversos. No caso do Anômalo, por exemplo,
a aproximação entre experimento e programa é mais sensível, a experimentação pouco propondo para a revisão do
programa. Os espaços estavam bem definidos, construídos e seguiam parte das disposições e espaços previstos pelo
programa. A única singularidade estava no ponto de referencia dentro do espaço, neste caso as formas caóticas originadas
dos pés do experimento; além disso, as aberturas permitiam um outro trabalho funcional, recebendo áreas que exigem mais
tranqüilidade (como os lounges). A Gaiola é outro exemplo de como o programa pode se encaixar de forma perfeita, usando
os volumes da arquitetura modernista para resolverem o programa e deixando o valor experimental para o trabalho com
o material. No caso no entubado, houve um hibridismo destas funções, pois existe tanto a possibilidade de concretizar um
espaço físico quanto um virtual. Neste caso, o componente espacial deve promover a vivência, um fator contemporâneo
indispensável, que vai muito além do que a típica formatação de vivências propostas pela organização espacial do edifício.
Quando uma situação de programa é proposta, sem serem levadas em conta valores de cada um dos freqüentadores do
REVISÃO POTENCIALIDADES
revisão potencialidades 153
espaço, geralmente criam-se regras a serem seguidas sem que haja outros valores conjuntos para que sejam validados. Por
exemplo, se propõe exatamente onde as pessoas se reunirão, por onde elas circularão, sem haver um trabalho mais profundo
do estudo das relações destas pessoas com o espaço e entre elas mesmas. Quando o homem passa a ser repensado como
um agente participante e modificador do que está ao seu redor, a estrutura tradicional de projeto pode ser deixada de lado
para se focar especialmente nestes agentes espaciais.
Após todas estas análises, fica um estranhamento de como uma montagem tipicamente volumétrica e materiais em pequena
escala poderiam servir como participantes na rearticulação de um programa. De fato, um experimento que permitisse uma
interação entre a sua construção e os usuários da tipologia resultaria em alternativas, possivelmente mais instigantes no
campo do programa. Neste trabalho esta releitura e abertura do programa acontecem através da interpretação de cada um
dos experimentos, de seus materiais, formas e também da nova observação de parte das referências das “baladas” expostas
em um momento anterior. Em outras palavras, pode-se considerar perfeitamente que se partiu de formas para se chegar a
alguma função, e não o inverso, a já consagrada “a forma segue a função”.
Para finalizar, estes experimentos podem interagir entre eles, em matérias, formas e funções. Um exemplo é uma mistura
entre o elemento base da Gaiola e as formas geométricas do ôCO; ou a forma externa do entubado associada ao interior do
anômalo. Pode-se juntar cada umas das potencias, cada um dos valores mais significativos em cada para a composição de
um só experimento lingüístico, criando um caos formal e lingüístico singular, mas que precisaria ser devidamente estudado.
prática expandida - experimentação conceptiva154
O resultado deste trabalho não é de caráter definitivo, indicando que todo ele não passou de uma grande experimentação
metodológica, experimental e conceitual com base nas novas exigências que emergiram na sociedade nas últimas décadas.
O imediatismo, a fluidez e liquidez das relações fizeram com os métodos de projeto estáticos e pré-estabelecidos não
mais respondessem adequadamente a estas problemáticas. Além disso, o excesso das informações e o bombardeio das
comunicações exigiram cada vez mais uma interação mais próxima entre as diversas disciplinas projetuais, além de outras
antes desconsideradas neste meio. O resultado é o surgimento de novas alternativas metodológicas aliadas às antigas,
procurando uma readequação a este novo cenário.
O que se propôs neste trabalho foi encontrar uma metodologia que lidassem com estas variáveis. Não definir uma
metodologia fechada e rígida de principio, mas sim encontrar aspectos interessantes e pertinentes conforme o caminho
de trabalho é percorrido. Construir a metodologia e os processos passa o ser o grande protagonista, em uma investigação
continua de aprofundamento no contexto do projeto e dos comportamentos da sociedade. Os dois, metodologia e processo,
se fazem ao longo de um trajeto não linear e repleto de alternativas, não apenas um caminho único e certeiro. Este ideal se
aproxima bastante do conceito de metaprojeto, onde o que interessa de fato não é projeto em si, mas sim criar as condições
para que o projeto aconteça através da formatação de possibilidades, programas e potenciais de um determinado contexto.
Com isto, o que se pode dizer é o que a produção desenvolvida foi um metaprojeto livre, onde o importante foi compreender
os parâmetros inicialmente dados através de uma análise profunda da tipologia de projeto (as casas noturnas, baladas...) e
alteradas significativamente com as experimentações compositivas. Estas experimentações, que inicialmente tinham apenas
intenção de responder a novas idéias lingüísticas e formais, foram decisivas para a reorganização e revisão do programa e
das diretrizes especuladas, uma vez que colocaram a arquitetura e o espaço como tema central de uma trama multidisciplinar,
abrindo possibilidades não imaginadas antes.
Entretanto, este sistema tem os seus limites. As escolhas das experimentações, dos seus processos e materiais foram
absolutamente pessoal, sem haver qualquer outro tipo de interação com outras pessoas durante o processo, sejam elas
usuárias ou designers/arquitetos/projetistas/curiosos que quisessem se aventurar nesta experimentação. Isto esvazia
um pouco o resultado obtido, pois a impressão que se tem é que jornada das experimentações foi quase um processo de
descoberta pessoal do que de equipe, de um conjunto de pessoas envolvidas no ato de projetar. Imaginando um cenário
ideal, onde as experimentações possam ser originadas não apenas por uma pessoa, mas sim a partir de interações em
REFLEXÃO FINAL
reflexão final 155
diversos níveis (projeto colaborativo e participativo) de trabalho e processos, atribuindo especialidades de cada um dos
participantes, mesmo que eles estejam dentro da mesma disciplina. Isto enriqueceria substancialmente as experimentações,
pois diferentes agentes contribuíram na confecção de experimentos que poderiam ser recombinados, discutidos, debatidos
até o ponto no qual o objeto de referência torna-se coletivo; uma arte de todos. No terreno acadêmico isto poderia ser
muito proveitoso, uma vez que grupos de alunos podem ser incentivados a criar seus próprios experimentos como parte da
definição de um partido projetual, para somente depois partirem para o desenvolvimento projetual segundo os resultados
obtidos por este.
Outra atividade que contribuiria para um melhor aproveitamento das experimentações seria a interação destas com possíveis
usuários e sujeitos presentes no espaço da “balada”. Neste sentido, experimentos iniciais poderiam ser propostos, gerando
diversas possibilidades de interação aos usuários e pessoas de fora para que contribuíssem na sua construção. Tomando
como exemplo as experimentações aqui realizadas, as pessoas poderiam interagir tanto na seleção de materiais quanto na de
referencias e até mesmo no processo de combinação e construção destas composições. A participação direta também pode
ter em um sentido mais subjetivo, próximo do que o Höweler e Yoon propõe no “expanded pratice”, onde a experimentação
(simbolizada pelas suas instalações) é desenvolvida com a intenção de coletar dados dos usuários que ajudarão na definição
de um futuro programa e projeto arquitetônico. A complexidade desta proposta parece mais interessante, ao passo que uma
série de comportamentos podem ser analisados em separado e encaminhados para uma produção. Outra possibilidade vai
até mesmo além do que o grupo pretende; ao invés de um programa definido por uma observação tendenciosa (como foi
feita aqui) e experimentações que ajudam a balizar e abrir perspectivas para o universo projetual, por que não experimentar
para observar?
Sendo mais especifico: desde o inicio deste trabalho, onde o uso das experimentações ainda não era claro, a idéia foi
primeiro observar necessidades e comportamentos que correspondessem às expectativas que seriam trabalhadas. Isto
não se questionou em nenhum momento, nem mesmo após a confecção dos experimentos. Se, ao invés de propor uma
observação para encontrar uma necessidade, por que não experimentar para encontrar esta necessidade? Portanto, criam-
se experimentações interativas lançadas ao alcance de determinado público, coletando dados e comportamentos destes,
obtendo assim uma necessidade singular, real e muito mais próxima da sociedade. As experimentações aqui realizadas
não se dispõem a tal coisa, até porque tais instalações exigiriam uma complexidade de sistemas operando juntamente que
prática expandida - experimentação conceptiva156
estariam muito além das possibilidades aqui apresentadas. Dentro do que foram obtidas, as experimentações são apenas
revisões internas de trabalho, de uma metodologia mais flexível e aberta a novas interpretações, escapando do senso comum
e tradicional de composições formais, funcionais e lingüísticas. Não que isto este que seja equivocado ou extremamente
limitado no campo experimental. O que se esperava destas experimentações é exatamente o que foi obtido: investigar um
cenário, uma circunstâncias, explorar possibilidades pouco claras em determinado momento.
Assim sendo, a metodologia apresentada propõe soluções para alguns problemas e vícios típicos dos processos dados a
priori, deixando portas abertas para a reinvenção, para a abertura das mentes mais engessadas no conteúdo estático do
século que se passou. Lembrando que todos os processos são dados em estado work in progress. Nada é definitivo, tudo
muda tudo se transforma inclusive a própria metodologia, que deve acompanhar as mudanças dando respostas pouco
imaginadas em circunstâncias diversas, estimulando constantemente a inventividade, a inovação e a inquietação. Nada é
para sempre, tudo flui em uma velocidade impressionante na nova modernidade; tanto que, ao término deste trabalho,
o sentimento mais evidente é do anseio pela continuidade, pelas novas experimentações e pela inquietação produtiva e
investigativa.
prática expandida - experimentação conceptiva158
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