Positivismo

6
Positivismo Metafísica X física Opinião ciência Comparação → noção de sistema (teoria) Auguste Comte (Curso de Filosofia Positiva; Discurso sobre o Espírito Positivo; Catecismo Positivista). Discípulo de Saint-Simon Lei dos três estados: noção de evolução, progresso do espírito humano. “(...) a marcha progressiva do espírito humano, considerado em seu conjunto, pois uma concepção qualquer só pode ser bem conhecida por sua história. Estudando assim o desenvolvimento total da inteligência humana em suas diversas esferas de atividade, desde seu primeiro voo mais simples até nossos dias, creio ter descoberto uma grande lei fundamental a que se sujeita por uma necessidade invariável, e que me parece poder ser solidamente estabelecida, quer na base de provas racionais fornecidas pelo conhecimento de nossa organização, quer na base de verificações históricas resultantes dum exame atento do passado. Essa lei consiste em que cada uma de nossas concepções principais, cada ramo de nossos conhecimentos, passa sucessivamente por três estados históricos diferentes: estado teológico ou fictício, estado metafísico ou abstrato, estado cientifico ou positivo” (COMTE, 1973, p. 09-10). Fenômeno: é o acontecimento, o que aparece no ser, estudado com abstração de sua fonte, considerado no modelo subjetivo, ideal, imaginário, não concreto. A ciência pura se constitui de leis abstratas sobre os fenômenos , em generalidade, leis impossíveis de conhecer devido à complexidade do ser concreto. COURS, I,70 Filosofia é a explicação do mundo e do humano, encontrada sob muitas formas, desde as mais primitivas populações. Inclui a busca de princípios gerais, capazes de dar unidade ao saber, necessária para estabelecer o consenso, para a coerência do indivíduo e do grupo: é a razão por que a generalização em forma de sistema sempre foi preocupação dos filósofos. Sem a unidade mental não existiria coordenação grupal. COURS, 2-481; MARTINEAU, II, 414, ver gnosiologia

description

texto-aula

Transcript of Positivismo

Page 1: Positivismo

Positivismo

Metafísica X física

Opinião → ciência

Comparação → noção de sistema (teoria)

Auguste Comte (Curso de Filosofia Positiva; Discurso sobre o Espírito Positivo; Catecismo Positivista). Discípulo de Saint-Simon

Lei dos três estados: noção de evolução, progresso do espírito humano.

“(...) a marcha progressiva do espírito humano, considerado em seu conjunto, pois uma concepção qualquer só pode ser bem conhecida por sua história. Estudando assim o desenvolvimento total da inteligência humana em suas diversas esferas de atividade, desde seu primeiro voo mais simples até nossos dias, creio ter descoberto uma grande lei fundamental a que se sujeita por uma necessidade invariável, e que me parece poder ser solidamente estabelecida, quer na base de provas racionais fornecidas pelo conhecimento de nossa organização, quer na base de verificações históricas resultantes dum exame atento do passado. Essa lei consiste em que cada uma de nossas concepções principais, cada ramo de nossos conhecimentos, passa sucessivamente por três estados históricos diferentes: estado teológico ou fictício, estado metafísico ou abstrato, estado cientifico ou positivo” (COMTE, 1973, p. 09-10).

Fenômeno: é o acontecimento, o que aparece no ser, estudado com abstração de sua fonte, considerado no modelo subjetivo, ideal, imaginário, não concreto. A ciência pura se constitui de leis abstratas sobre os fenômenos, em generalidade, leis impossíveis de conhecer devido à complexidade do ser concreto. COURS, I,70

Filosofia é a explicação do mundo e do humano, encontrada sob muitas formas, desde as mais primitivas populações. Inclui a busca de princípios gerais, capazes de dar unidade ao saber, necessária para estabelecer o consenso, para a coerência do indivíduo e do grupo: é a razão por que a generalização em forma de sistema sempre foi preocupação dos filósofos. Sem a unidade mental não existiria coordenação grupal. COURS, 2-481; MARTINEAU, II, 414, ver gnosiologia

Física: estudo da natureza. A física newtoniana parece continuar comprovada e aplicada. Diz Comte que “a lei de Newton não vale para toda distância, nem a lei de Mariotte para toda pressão”. A imutabilidade das leis é relativa, contingenciada pelas condições prévias estabelecidas na experimentação e não uma revelação dogmática absoluta. POLITIQUE, II, 32, 33

Física social: expressão inicialmente usada por Comte para o estudo em abstrato das relações sociais. Esse nome composto jamais indicou que o filósofo então proporia a mecanização materialista da ciência social; pelo contrário, uma nova metodologia com rigor científico seria empregada, agora não mais de caráter analítico, mas de feição sintética, o método subjetivo, partindo do todo para as partes, com base numa filosofia da história verificável. COURS, IV,252; COMTE,1972,133 Ver método subjetivo, sociedade, sociologia.

História: pela pesquisa da evolução humana propôs Comte uma filosofia da história verificável, base de sua sociologia, construída sobre a identificação das funções sociais e dos órgãos

Page 2: Positivismo

correspondentes. Dos materiais registrados nos anais da história é que seria possível ler o grande romance da evolução da raça humana, para descobrir suas relações sociais e identificar o mais real dos seres, a sociedade, que cria seus ídolos e seus deuses, de quem o indivíduo é o importante agente independente e em liberdade, formando os indispensáveis elos no tempo presente, e capaz de unir o passado ao futuro. A pesquisa das leis históricas é fundamental para o embasamento de uma sociologia científica, infalível no plano abstrato, reconhecidas as mais importantes relações entre as instituições e órgãos sociais. As tendências e sua conceituação têm valor normativo sério e certo, podendo determinar o sucesso ou o fracasso no estudo histórico e na aplicação política efetiva. Como no erro político grosseiro de tentar a eliminação do capital, da família, do mercado ou da moeda. POLITIQUE III, p.1; BUNGE,1965, p.282 Ver afeição, conhecimento, técnica, para suas respectivas evoluções na Lei dos 3 estados generalizada.

Influências:

Georges Cuvier (Jean Leopold Nicolas Fréderic Cuvier), Montbéliard, 23/08/1769-Paris, 13/05/1832, foi um dos mais importantes naturalistas da primeira metade do século XIX, tendo desenvolvido métodos e programas de pesquisas para várias áreas da História Natural. Procurando atingir a compreensão das leis naturais que regem o funcionamento dos seres vivos formulou as leis da Anatomia Comparada, que possibilitaram as reconstruções paleontológicas. A partir daí, os fósseis poderiam passar a pertencer a um sistema de classificação biológica, único, em conjunto com os organismos vivos. Através da Anatomia Comparada, Cuvier pôde comprovar que as ossadas fósseis de mamutes e mastodontes diferiam das ossadas dos elefantes viventes, asiáticos e africanos e que, portanto, pertenciam a espécies distintas.

Desta forma estabeleceu, definitivamente, a ocorrência do fenômeno da extinção, visto que não haveria possibilidade de que aqueles enormes quadrúpedes fossem encontrados em alguma região remota do globo, já bem explorado naquele momento. Concluiu que alguns órgãos tem sobre o conjunto da economia orgânica influência decisiva e essa foi a base da lei da subordinação dos órgãos.

Charles Darwin, "luz será lançada no tocante à origem do homem e sua história". Eugenia: seguindo a publicação da "Origem das Espécies", o primo de Darwin, Francis Galton, aplicou as ideias de Darwin à sociedade, de forma a promover o conceito de "melhorias hereditárias". Ele iniciou este trabalho em 1865, completando-o em 1869. Em "The Descent of Man", Darwin concordou que Galton tivesse demonstrado que "talento" e "genialidade" em humanos eram provavelmente herdados mas acreditava que as mudanças sociais que ele propunha eram muito utópicas. Nem Galton nem Darwin concordavam que o Estado devesse interferir nestas questões. Acreditavam que, no máximo, a hereditariedade deveria ser considerada na escolha de cônjuges. Em 1883, depois da morte de Darwin, Galton começou a chamar a sua filosofia social de Eugenia. No século XX, movimentos de eugenia ganharam popularidade em vários países e foram associados a programas de controle de reprodução tais como leis de esterilização compulsória. Tais movimentos acabaram sendo estigmatizados após serem usados na retórica da Alemanha Nazista em suas metas de alcançar "pureza" racial.

Herbert Spencer (Derby, 27/04/1820-Brighton, 8/12/1903): filósofo inglês, um dos representantes do positivismo. Spencer foi um profundo admirador da obra de Charles Darwin. É dele a expressão “sobrevivência do mais apto” e em sua obra procurou aplicar as leis da evolução a todos os níveis da atividade humana. Spencer é considerado o pai do darwinismo social, embora jamais tenha utilizado o termo. Com base em suas ideias, alguns autores procuraram justificar a divisão da sociedade em classes, sugerindo que estes seriam exemplos de seleção natural. Aplicou à sociologia ideias que retirou das ciências naturais, criando um sistema de

Page 3: Positivismo

pensamento muito influente. Suas conclusões o levaram a defender a primazia do indivíduo perante a sociedade e o Estado, e a natureza como fonte da verdade, incluindo a verdade moral. No campo pedagógico, Spencer fez campanha pelo ensino da ciência, combateu a interferência do Estado na educação e afirmou que o principal objetivo da escola era a construção do caráter.

Durkheim: filósofo dedicado à Sociologia. Seu principal trabalho é na reflexão e no reconhecimento da existência de uma "Consciência Coletiva". Ele parte do princípio que o homem seria apenas um animal selvagem que só se tornou Humano porque se tornou sociável, ou seja, foi capaz de aprender hábitos e costumes característicos de seu grupo social para poder conviver no meio deste. Este processo de aprendizagem Durkheim chamou de "Socialização", a consciência coletiva seria então formada durante a nossa socialização e seria composta por tudo aquilo que habita nossas mentes e que serve para nos orientar como devemos ser, sentir e nos comportar. E esse "tudo" ele chamou de fatos sociais, os verdadeiros objetos da Sociologia. Mas nem tudo que uma pessoa faz é um fato social, para ser um fato social tem de atender a três características: generalidade, exterioridade e coercitividade, isto é, o que as pessoas sentem, pensam ou fazem independente de suas vontades individuais, é um comportamento estabelecido pela sociedade. Não é algo que seja imposto especificamente a alguém, é algo que já estava lá antes e que continua depois e que não dá margem a escolhas. O mérito de Durkheim aumenta ainda mais quando publica As regras do método sociológico, onde define uma metodologia de estudo que, embora sendo em boa parte extraída das ciências naturais, dá seriedade à nova ciência. Era necessário revelar as leis que regem o comportamento social, ou seja, o que comanda os fatos sociais. Em seus estudos, concluiu que os fatos sociais atingem toda a sociedade, o que só é possível se admitirmos que a sociedade é um todo integrado: se tudo na sociedade está interligado, qualquer alteração afeta a sociedade, o que quer dizer que se algo não vai bem em algum setor da sociedade, toda ela sentirá o efeito. Partindo deste raciocínio ele desenvolve dois dos seus principais conceitos: Instituição social e Anomia. A instituição social é um mecanismo de proteção da sociedade, é o conjunto de regras e procedimentos padronizados socialmente, reconhecidos, aceitos e sancionados pela sociedade, cuja importância estratégica é manter a organização do grupo e satisfazer as necessidades dos indivíduos que dele participam. As instituições são, portanto, conservadoras por essência, quer seja família, escola, governo, polícia ou qualquer outra, elas agem fazendo força contra as mudanças, pela manutenção da ordem. Durkheim deixa bem claro em sua obra o quanto acredita que essas instituições são valorosas e parte em sua defesa, o que o deixou com uma certa reputação de conservador, que durante muitos anos causou antipatia a sua obra. Mas Durkheim não pode ser meramente tachado de conservador, sua defesa das instituições se baseia num ponto fundamental, o ser humano necessita se sentir seguro, protegido e respaldado. Uma sociedade sem regras claras (num conceito do próprio Durkheim, “em estado de anomia”), sem valores, sem limites leva o ser humano ao desespero. Preocupado com esse desespero, Durkheim se dedicou ao estudo da criminalidade, do suicídio e da religião. O homem que inovou construindo uma nova ciência inovava novamente se preocupando com fatores psicológicos, antes da existência da Psicologia. Seus estudos foram fundamentais para o desenvolvimento da obra de outro grande homem: Freud.

Basta uma rápida observação do contexto histórico do século XIX, para se perceber que as instituições sociais se encontravam enfraquecidas, havia muito questionamento, valores tradicionais eram rompidos e novos surgiam, muita gente vivendo em condições miseráveis, desempregados, doentes e marginalizados. Ora, numa sociedade integrada essa gente não podia ser ignorada, porque de uma forma ou de outra, toda a sociedade sofreria as consequências. Aos problemas que observou, classificou como patologia social, e chamou aquela sociedade doente de “anômana”. A anomia era a grande inimiga da sociedade, algo que devia ser vencido e a sociologia era o meio para isso. O papel do sociólogo seria, portanto, estudar, entender e ajudar

Page 4: Positivismo

a sociedade. Na tentativa de “curar” a sociedade da anomia, Durkheim escreve Da divisão do trabalho social, onde discorre sobre a necessidade de se estabelecer uma solidariedade orgânica entre os membros desta. A solução estaria em seguir o exemplo de um organismo biológico, onde cada órgão tem uma função e depende dos outros para sobreviver. Se cada membro exercer uma função específica na divisão do trabalho da sociedade, ele estará vinculado a ela através de um sistema de direitos e deveres, e também sentirá a necessidade de se manter coeso e solidário aos outros. O importante para Durkheim é que o indivíduo realmente se sinta parte de um todo, que realmente precise da sociedade de forma orgânica, interiorizada e não meramente mecânica.

As Regras do Método Sociológico, publicado em 1895, é reconhecido por ser resultado direto do projeto próprio de Durkheim de estabelecer a sociologia como uma nova ciência social. Assim sugere duas teses principais, sem as quais a sociologia não poderia ser uma ciência:

1) Precisa ter um objeto específico de estudo: fato social.

2) Precisa respeitar e aplicar um reconhecimento objetivo, um método científico, trazendo-a para perto, dentro do possível, das outras ciências exatas. Este método pode evitar a todo custo preconceitos e julgamentos subjetivos.