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Português culto e popular: entrelaçamentos
Marli Quadros Leite1
RESUMO: O trabalho visa a suscitar discussões a respeito da relação existente entre os registros culto e popular que caracterizam a norma lingüística da variedade brasileira do Português. Para tanto, parte‐se para o exame de dados empíricos, para mostrar como se concretiza o amalgamento de ambos os registros na fala de informantes considerados não‐cultos, tanto pelo baixo (ou nenhum) nível de escolaridade (ou seja, falantes iletrados) quanto pela condição social (criminosos, ex‐presidiários). A hipótese é a da existência de “complexa heterogeneidade” lingüística na fala desses informantes, que, de um lado, apresentam uma linguagem denunciadora da condição iletrada dos falantes, e, de outro, também mostra o contato desses com falantes do registro culto e de outra condição sociocultural, já que, com proficiência, tanto usam algumas estratégias discursivas quanto fazem escolhas léxico‐gramaticais consideradas, prototipicamente, como próprias da linguagem corrente, comum a pessoas cujas falas podem ser consideradas mais próximas do pólo “culto” do continuum dos citados registros. O trabalho a ser apresentado encontra apoio teórico metodológico, principalmente, nos textos de Aléong (1983), Labov (2001) e Preti (1994 e 1999).
PALAVRAS‐CHAVE: variação lingüística; registro culto; registro popular; uso lingüístico; norma lingüística.
1. Introdução
Sem a pretensão de apresentar pesquisa exaustiva nem dados conclusivos, comentaremos aspectos de um estudo que vimos realizando sobre o português popular falado por pessoas das mais baixas camadas sociais, sob o ponto de vista da cultura formal, letrada.
Nos últimos anos, a crescente inserção, nos noticiários, de falas de bandidos, adultos, adolescentes e crianças, chamaram nossa atenção sobre a especificidade daquele discurso e sua representação no quadro do falar popular do Brasil. Alguns traços observados naquelas inserções foram, de um lado, a coerência discursivo‐textual das falas dos bandidos em defesa de seus interesses, de suas idéias de seu modo de vida; de outro, sob o ponto de vista da tradição cultural letrada, a precária estruturação lingüístico‐gramatical dos enunciados. Ainda mais, sob o ponto de vista léxico‐ semântico, as escolhas, seja de palavras chulas e de palavrões, seja de palavras de circulação corrente e comum, não encontravam maiores problemas naquele discurso. O destaque, a grande marca dessa norma, parecia residir nos campos da fonologia‐fonética e das simplificações de concordância nominal e verbal. Além disso, a heterogeneidade culto/popular também levantou nossa curiosidade.
Instigada por essas hipóteses, procuramos recolher corpus que servisse à investigação. A primeira fase do trabalho, que já está em andamento, foi a busca de entrevistas cedidas por essa categoria de informante e, também, por moradores de favelas que têm contato com a vida dos criminosos, mas que são pessoas honestas e trabalhadoras. Dos documentários Notícias de uma guerra particular (1998‐99, 56 minutos), de Katia Lund e João Moreira Salles, 1 USP – Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas. Rua Prof. Luciano Gualberto, 403 – Cidade Universitária. [email protected]
e Santa Marta: duas semanas no morro (1987, 54 minutos), de Eduardo Coutinho, obtivemos material de pesquisa (entrevistas e depoimentos), tanto de bandidos como de moradores da favela.
Integram o documentário Notícias de uma guerra particular, em DVD à parte (disco 2) algumas entrevistas com policiais, delegado, bandidos e um escritor, Paulo Lins, autor da obra Cidade de Deus, que foi adaptada para o cinema. Dentre essas, selecionamos três entrevistas, na íntegra, de dois bandidos e um ex‐bandido, hoje morador do morro. Do filme do documentário, selecionamos trechos de depoimentos de moradores sobre a vida do crime e a vida no morro (Rio de Janeiro).
As entrevistas são as seguintes:
Nome Qualificação
Nome Qualificação
(Guerra1) Adriano [Paulo] Bandido, 21 anos, analfabeto. Entrevista de 21 minutos, concedida em 1997. Morto em 1999.
(Guerra2) José Carlos Gregório (Gordo) Bandido, 46 anos, alfabetizado. Entrevista de 27 minutos, concedida em junho de 1997. Morto em 1999.
(Guerra3) Adão Kalembarandã Morador do morro, ex‐bandido, 51 anos. Nível de escolarização ignorado. Entrevista de 18 minutos.
Do filme do documentário Santa Marta: duas semanas no morro, selecionamos alguns depoimentos, dentre os quais o de uma senhora de 70 anos (St. Marta1) aproximadamente, e de um ex‐travesti (St. Marta2).
Outra fonte de pesquisa são as entrevistas que integram o livro Falcão: meninos do tráfico, de autoria de MV Bill, rapper, e Celso Athayde, produtor de Hip Hop, co‐produtores do DVD que tem o mesmo título do livro. O documentário foi pré‐apresentado pela Rede Globo de televisão, pelo programa dominical Fantástico, e o trecho apresentado ficou algum tempo à disposição do público no site da rede.
O livro traz, além dos relatos e comentários dos autores, muitas transcrições, na íntegra, das entrevistas feitas com os bandidos (menores ou não). A transcrição segue, em geral, pelo que se pode observar, as normas ortográficas no tangente à pontuação e grafia das palavras, mas procura ser fiel à pronúncia e à sintaxe dos enunciados dos entrevistados no que diz respeito a tudo o que marca a fala dos entrevistados. Assim, as discordâncias gramaticais e a pronúncia de algumas palavras (bicicreta, mermo) são registradas. Não é possível perceber, contudo, porque a transcrição não marcou, casos de apagamentos do –r final dos infinitivos, a neutralização ‐e / ‐i e outros fenômenos, mais ou tão sutis quanto esses. Os entrevistados não
são identificados por nomes, mas por função no crime, ou por uma particularidade da roupa, cor ou tipo de vestimenta, ou, ainda, por um designativo qualquer: um apelido, um hiperônimo, como cara etc.
As entrevistas selecionadas para a investigação são as seguintes:
Título da entrevista ‐ Entrevistador Descrição ‐ Entrevistado
(Falcão1) Pó de dez (Celso Athayde) Boca de tráfico em morro do Rio de Janeiro. Entrevistado adolescente mais velho, casado, alfabetizado. Alfabetizado.
(Falcão 2) Até quando eu não sei (Celso Athayde)
Boca de tráfico em morro do Rio de Janeiro. Entrevistado adulto de 22 anos. Nível de escolaridade não declarado.
(Falcão 3) A primeira vez que eu rodei (MV Bill)
Rogerinho. Sem informações sobre o entrevistado e o local da entrevista; pelo contexto, vê‐se que é na boca do tráfico. Nível de escolaridade não declarado.
(Falcão 4) Os terroristas (Celso Athayde) Entrevista tomada às duas horas da manhã, em um pátio de uma igreja, no alto do morro. São seis menores, identificados como Menor e Menor 2, 3, 4 e 5, além de um identificado como Mais velho. Entrevistados analfabetos.
(Falcão 5) Vivendo a vida (MV Bill) Entrevista com um Falcão de Foltaleza. Esse é um informante adolescente (idade não definida) mais velho, que já tem um filho. Informante alfabetizado.
(Falcão 6) A vida imita a arte que imita a vida (Celso Athayde)
Entrevista com um menor apelidado, pelo entrevistador, Vampetinha, que cursa a 5ª série do fundamental. A entrevista se passa primeiro no morro, perto da boca, e, depois, no CIEP, onde algumas crianças brincam de polícia e ladrão, imitando a invasão policial no morro.
(Falcão 7) Partida de futebol (MV Bill) Entrevista realizada em um barraco, durante a “endolação” (preparação de papelotes de droga), enquanto os Falcões assitiam a uma partida de futebol pela TV. São dois informantes mais velhos (já têm filhos), identificados pelas cores das camisas (verde e branco). Informante de verde faz 2º ano do nível médio; informante de branco é
analfabeto.
(Falcão 8) Um péssimo bom exemplo (MV Bill) Entrevista concedida por um amigo de infância de Bill, da Cidade de Deus, onde ambos moram. Betinho é um ex‐bandido, hoje paralítico, vendedor ambulante de balas em sinais de trânsito. Informante alfabetizado que declara ter feito vários cursos.
2. Marcas do discurso popular
Analisar, classificar e interpretar as variedades lingüísticas é tarefa que exige do analista um ponto de partida teórico e um parâmetro para avaliação e julgamento dos dados. A própria qualificação da variedade ‐ popular, culta – implica uma tomada de posição, afinal, diz‐se popular em relação com que outra? culta em relação com que outra? Por que denominar uma e outra como popular e culta?
Nas sociedades letradas, o conhecimento produzido pelo labor intelectual humano é registrado por escrito, o que produz uma acumulação de cultura em todos os domínios e forma uma tradição. No campo da língua, a tradição era, até pouco tempo, somente associada ao registro do que foi produzido pela literatura, considerada “de ponta”, escrita por autores tidos como grandes e bons escritores. Hoje, a situação mudou um pouco, porque esse quadro ficou ampliado pelo prestígio sociolingüístico da linguagem jornalística, que vem sendo tomada como padrão, como modelo de linguagem culta. A sistematização das regras gerais seguidas nesse tipo de texto, literário e jornalístico, então, enquadra o que se concebe por linguagem culta. Tudo o que escapa, sem intenções artísticas, a esse padrão, é considerado, em níveis variados, como linguagem popular.
Essa situação só pode ser teoricamente admitida. Na realidade, as duas variantes se entrelaçam, não há homogeneidade na língua. Assim como a linguagem culta vai‐se beneficiando de aspectos da linguagem popular e, aos poucos, vai‐se modificando e modelando, o que Preti (1994) denominou língua comum, a linguagem popular é beneficiária das contribuições da linguagem culta. Isso tem duas explicações, uma é o fato de os falantes interagirem, seja pessoalmente, em diversas situações sociais em que se forma uma espécie de rede de comunicação, quando falantes, ao desempenharem seus papéis sociais, se encontram e conversam; outra, talvez mais forte pela abrangência que tem, é a influência dos meios de comunicação de massa, a televisão e o rádio que, em quase totalidade da programação, divulga a norma culta. Exemplo disso é a comunidade profissional, da qual fazem parte tanto pessoas altamente instruídas (presidentes de empresas, gerentes, diretores, chefes em geral etc), medianamente instruídas (contínuos, atendentes, secretárias etc.) e de baixa ou quase nenhuma instrução (serventes, pessoal de limpeza). As pessoas que não possuem nenhuma instrução escolar, em geral, ficam à margem do mercado de trabalho
formal. Quando muito, trabalham em serviços domésticos, para os quais o nível de instrução não é, em geral, critério de admissão, mas essa situação tem‐se modificado nos grandes centros urbanos.
A variedade popular é marcada por alguns aspectos lingüísticos que “saltam aos ouvidos”. Em primeiro lugar, são os fonológicos e fonéticos que denunciam o nível cultural do falante. Nesse aspecto, exploraremos mais as entrevistas do documentário Notícias de uma guerra particular, porque temos o áudio. As transcrições de Falcão: meninos do tráfico não marcam pormenores de pronúncia, mas é fiel no registro da realização de concordâncias, nominais e verbais, e da pronúncia das palavras (não marcam, por exemplo, a queda dos erres finais, nem a neutralização e assimilação de vogais, no interior ou no final das palavras). A pronúncia das palavras é reproduzida, por exemplo, marabarismo, mermo etc. A seguir, passaremos a exemplificar alguns desses aspectos:
I. Aspectos fonético‐fonológicos
1. Eliminação de fonemas finais: ‐s; ‐r; ‐m; ‐l
(St. Marta2)
E2: tá tudo em ordem? J: não tá tudo em orde mais dá pra receber alguém né?
(Guerra1)
A.: (...) depois de ter tirado 7 anos de cadeia c’uma condenação de 13 num pude ganhá minha liberdade que era semi‐aberta e nem a condicional só pude ganhá minha liberdade através de mim mesmo que foi conquistano ca ajuda de Deus que foi fugino novamente...
(Guerra2)
J.C.: meu crime foi... eh... receptação de arma militar né? do exército... assalto a banco... furto de automóve... por aí afora né? assalto e furto né?
2. Redução de grupos consonantais: –ndo; ‐pr; ‐tr; e vocálicos: ‐ei; ‐ou.
(Guerra1)
A.: pela tercera veiz... fiquei mais 1 meis e poco em liberdade só:: fui preso de novo em outo artigo 157 inu pa cadeia passanu pel’aquele sofrimento tudu de novo aonde qui tirei mais dois ano e pouco de prisão né?
3. Epêntese de –i em sílabas –es; ‐ez; ‐as;‐az; ‐ós
(Guerra1)
A.: olha:: muita dos às vezes falece um morador no morro e o enterro queim fais é nóis porque às veize:: as próprias pessoa das família (...)
4. Troca de grupos consonantais cl‐ por cr‐; bl‐ por br
Em geral, o falante que faz essas trocas as emprega sistematicamente. O informante do Falcão8, Betinho, por exemplo, é um homem que estudou e tem o nível de linguagem, internamente à norma popular, médio, mas não consegue realizar, pelo que mostra a transcrição, esses grupos. Adriano, por sua vez, faz muitas variações em torno de outras características da fala popular, mas, nesse caso, não apresenta variação:
(Guerra1)
E: então... quais... que tipo de profissões têm as pessoas que compram a droga?
A: ah:: muitas dela é pessoas de bem... é... eles vem da crasse pobre da crasse média da crasse alta... é relativo... mais a maioria deles tudo da crasse alta né?
(...)
A: as veiz também num tem aquela mentalidade que as veiz no caso EU TENho então se eu deixar por conta deles às veiz também acontece muitos pobrema
(Falcão8)
Bill: O que é o crime para você?
Betinho: Na minha época, eu entrei para o crime porque eu passei muita fome, muita necessidade. O crime realizou muito sonho meu. Quando eu era moleque, eu queria ter uma bicicreta, queria botar uma roupa da moda, eu queria passar o natal com a minha família, com a mesa cheia de coisa. Então o crime facilita isso. Traz pobrema. Então por causa de quê eu falo? (...)
Como comentamos, porém, algumas características não são de uso sistemático para esses falantes, que muitas vezes variam suas escolhas entre a forma tradicional e outras, alternativas, no mesmo contexto. Adriano, por exemplo, tanto usa a forma tradicional às vezes, como às veize, ou às veizes, ou às veiz. O mesmo acontece com referência à denominação do dinheiro, que tanto ele usa o plural reais, como o singular pelo plural reau:
A: (...) que tem condições de gastá o pobre não tem condições de gastá mil reais ali cheirando cocaína porque o filho dele vai passar fome no outo dia... agora o rico gasta e... e não vai fazer falta (...)
A: ah:: é aquele pá... é aquele negócio... a cocaína ela é comprada como se fosse um investimento né? ninguém hoje em dia joga pra perdê... se eu comprá um relógio ali por cem reau (...)
De modo sistemático, invariável na fala de Adriano, percebe‐se a realização –no para os gerúndios e a redução do grupo –pr, na forma pra realizada pá, recorrentes na fala de analfabetos como a desse entrevistado. Na fala de quem tem qualquer nível de escolarização, a regra é a variação.
Os falantes cariocas alternam a realização do –s medial chiante /‐ş/ com um –s aspirado /‐r/, como em mesmo, realizado [mermo], ou em vocábulos fonológicos como das’madame, realizado [dar’madames], ou em meu irmão, realizado [meu’rmão].
(Falcão4)
Celso: Você usa droga?
Menor3: Uso maconha. Só maconha mermo. Veneno, pô, só o veneno na maconha mermo. Nada de nariz.
(Guerra1)
A: minha mãe como eu falei né? antes que ela morava ness/nesse local aqui... ela:: sustentava nóis com a ajuda dos outros moradores com a ajuda dar’madames que ela pedia as coisas na rua...
Alguns traços sentidos como populares não são exclusivos dessa norma. Teyssier (2001 [1980]), por exemplo, diz, ao descrever a pronúncia brasileira em geral: “A pronúncia chiante do –s e –z em final de palavras provoca, não raro, o aparecimento de um iode; ex.: atrás, luz,
pés, pronunciados como [atrays], [luys], [peys].”, como se verifica, também na fala popular. O autor não se referiu à pronúncia sibilante do –s, porque trabalhava com a variedade carioca como modelo do português do Brasil, mas essa também provoca o mesmo fenômeno, o aparecimento do iode referido.
II. Aspectos morfossintáticos
As marcas mais fortes da norma popular, quanto à sintaxe, são as das concordâncias nominais e verbais, segundo regras diferentes da tradicional, e a redução do paradigma verbal. Esses traços, contudo, não são sistemáticos, porque os falantes, uns mais e outros menos, a depender do nível de escolaridade, ora fazem os plurais nominais e verbais e ora não os fazem. Vejamos alguns exemplos:
1. Economia de marcas de plural no sintagma nominal
(Falcão1)
Celso: Qual é sua função?
Cara: Eu fico na contenção do vapor, entendeu? O vapor traficando e eu na contenção deles. Se os home brotar ali, eu solto fogos, corro, e eles se escondem (mostra como são os fogos). Isso... aqui... são dois. Se um falhar, solto outro. Ou então se soltar esse aqui e esse aqui explodir, já não vai explodir na minha mão, já tem aqui pra segurar.
(...)
Celso: E a polícia?
Cara: Eles são safado. (...)
Esse informante, alfabetizado, tem um nível de linguagem médio, que revela a escolarização por que passou. Realiza muitos plurais nominais e verbais, mas também não os realiza em algumas oportunidades. Sistemática é a referência à polícia como “os home” e aos traficantes de facções amigas, denominados “os amigo”, o que é regra para todos, já que é uma denominação e, como todas (os cana, os fiel, os puliça), segue a regra determinante plural + nome singular.
Outro informante, não escolarizado apresenta maior regularidade quanto ao uso da concordância determinante plural + nome singular, embora, também, use a regra tradicional.
(Falcão1)
Bill: vale a pena?
Rogerinho: Pelo um lado, vale a pena, por outro, é meio sinistro. Tem hora que tu passa uns perrengue sinistro.
Das entrevistas analisadas, a de Adriano é a que oferece alguns casos especiais. Por exemplo, o uso de determinante singular com nome plural, o que, a priori, consideraríamos como agramatical e de impossível atualização, mas é o que se vê (ouve) no seguinte trecho:
(Guerra1)
E: a boca:: tem lucro hoje em dia?
A: ah:: é aquele pá... é aquele negócio... a cocaína ela é comprada como se fosse um investimento né? ninguém hoje em dia joga pra perdê... se eu comprá um relógio ali por cem reau ah: um ano depois eu posso vendê ele por cento e vinte é o que acontece... o tráfico... investe o dinheiro que dê a condições de pagar a quem trabalha né? e tem a pessoa também que ganha alguma coisa em cima
Adriano usa mais de uma vez essa concordância com o substantivo condições que, pelo que se pode deduzir, a palavra parece ter‐se cristalizado (para ele) no plural, em decorrência de expressões como “sem condições”, “ela não tem condições” etc.
Como caso de agramaticalidade, vimos outro exemplo, em trecho já apresentado, quando o falante realizou um sintagma em que aparecem encadeados pela preposição por em contração com o artigo o, seguido do artigo um: “Pelo um lado, vale a pena, por outro, é meio sinistro.”.
2. Economia de marcas no sintagma verbal
A conjugação verbal corresponde, predominantemente, a um paradigma de duas formas, uma para a primeira pessoa e outra para as demais. Ocorrem, todavia, outros dois paradigmas, tanto na fala dos analfabetos quanto na dos alfabetizados, de níveis variados. Todos, porém, usam o primeiro paradigma.
1º paradigma 2º paradigma 3º paradigma
Eu vendo
Tu
Ele vende
Você
Nós vendemos
A gente
Eles
vendem
Vocês
Eu vendo
Tu
Ele
Você vende
Nós
A gente
Eles vendem Vocês
Eu vendo
Tu
Ele
Você
Nós vende
A gente
Eles
Vocês
A primeira pessoa do plural, quando é realizada, tanto pode vir na forma tradicional quanto na variante sem o –s final. A predominância, contudo, para dizer a primeira do plural é a forma a gente que, como o nós, pode ou se referir apenas ao falante, ou a ele e os outros. Os exemplos abaixo ilustram os casos:
a. realização da 1ª pessoa do plural na forma tradicional
(Guerra1)
A.: ... tem algumas norma que nóis aqui né? botamos no caso é:: toda vagabundage e::antes dele discuti com algum morador eles têm que vim até mim pa mim passá pa mim vê qual foi o pobrema que teve que se eu deixá por eles né?
(...)
b. realização da 1ª pessoa do plural de formas variantes
E: e aí o que acontece num caso desses?
A: ah... geralmente... por exempo assim... eu tô no morro aqui agora mais aí tem um cara que convive comigo aqui mais daqui a pouco ele é visto numa boca de fumo do nosso inimigo... cumeno e bebeno junto cos cara... então geralmente a gente pode achar o quê? esse cara tá de tramação ca’gente tá de leva e traz ca’gente pô mais vamo levantar isso direito:: a gente pede algumas pessoas nossas né? pa se infor::mar pa ter alguma dica sobre ele... geralmente às veiz é confirmado que:: ele as veizes fais parte de outra facção... tá aqui pa querer estudá nóis pa querer levantá como é que nóis tomo vê aonde que nóis não tem vigia vê aonde que é um ponto fraco que eles pode entrar... então esses cara assim... a gente corta o mal pela raiz... num podemo deixar viver porque senão eles trais pobrema à toa pa gente tá bom depois a gente perde a nossa vida por eles mes::mo e é:: naquela de confiança de achar que é uma boa pessoa mais por trás daquela boa pessoa ali ele tem uma totalmente outra image
(...)
A.: (...) as vezes recorre até nóis porque sabe que sem dúvida nenhuma a gente vamo ajudá
O falante alterna, à vontade, a realização da conjugação da primeira pessoa: primeiro, usando a concordância tradicional, suprimindo o –s final do sufixo número pessoal, mas sem alterar o radical do verbo (vamo); depois, usando a concordância tradicional, também suprimindo o –s do sufixo verbal, mas alterando o radical do verbo (tomo por estamos); por último, variando a concordância tradicional, pelo cruzamento do pronome de primeira com o verbo de terceira pessoa do singular (nóis não tem). Além disso, ocorre também o cruzamento da forma a gente com o verbo em primeira pessoa (a gente vamo).
b. realização de a gente (eu) e a gente (nós)
(Falcão7)
Bill: Por que tu tá nessa?
De verde: Pô tô aqui porque a sociedade aí fora não dá nenhum meio de vida pra gente aí fora. Se a gente quer procurar um trabalho, é difícil. Até pra procurar uma escola é difícil, a gente não tem escolha pra nada. Então, eu tô aí, mano, como cê tá vendo, nesse ambiente aqui, que chega até a ser desagradável. Eu não sou bandido não, eu tô aqui porque eu preciso, certo, ajudar dentro de casa, porque eu não quero ver minha coroa sofrendo. Então, pô, quer comprar um gás, o gás já é trinta e poucos real, então o governo não dá meios de vida pra nós aí fora. Então tô aqui pra tu ver, tem uns manos aí que trocam tiros com os home aí fora. A gente tá aqui só pra trabalhar. Aqui é trabalhador comum, é civil comum. Gente que luta pra sobreviver.
Nesse trecho, é possível interpretar o último a gente como forma correspondente a eu, porque o falante vem fazendo uma exposição sobre a sua situação pessoal como trabalhador no
empacotamento de droga (na “endolação”). Os demais referem‐se às pessoas em geral que, como ele, têm dificuldade de conseguir participar normalmente da vida social brasileira.
c. realização de concordância tradicional de terceira pessoa do plural
(Falcão1)
Celso: O que é isso?
Cara: Quebrar o arrego? É a gente dar dinheiro pra eles e eles entrarem na favela. A gente dá dinheiro pra eles pra eles não entrarem, mas eles entram na favela.
Pelo que se pode verificar, a conjugação tradicional da terceira pessoa do plural no presente do indicativo é mais difícil de ser realizada pelos falantes analfabetos que a terceira do pretérito perfeito, que aparece com o sufixo modo temporal e número pessoal alterado de ‐rão para –ro. Quando o falante tem algum nível de escolaridade, a variação é maior, como se vê nos trechos a seguir apresentados:
(Falcão2)
Celso: Como é com as outras facções:
Falcão: Eles são errados, eles querem acharcar os moradores, cobrar pedágio. Isso é errado. Isso não é forma que nós age não. Nós age na pureza. Primeiramente, tem que respeitar os moradores. Amar a Jesus Cristo acima de tudo. E tem que honrar nossas famílias. Da forma que eles agem, eu nem sei da forma que eles agem com a família deles. Mas eles são errados. Age de uma forma diferente, de forma errada que nós não age. E que nós não gosta.
Esse informante, de nível de escolaridade não declarada, de 22 anos, tem uma linguagem variada, em que aparecem estruturas tradicionais e alternativas um pouco mais equilibradamente que outros declaradamente analfabetos. Isso pode nos fazer pensar que tenha algum nível de escolaridade. A quantidade de concordâncias tradicionais em terceira pessoa do plural, como se vê no trecho acima transcrito, por exemplo, é um diferencial. Ao mesmo tempo, contudo, que realiza esse tipo de concordância, realiza outros discordantes, o que caracteriza a norma popular
d. realização da terceira pessoa do singular com o pronome de segunda, tu
Paredes (2003) tentou comprovar a volta e, portanto, a existência e o vigor da forma de tratamento pelo pronome tu na fala carioca, mas encontrou problemas. Nos corpora investigados, primeiro gravações do PEUL, depois gravações de conversas de colegas professores universitários em situação de informalidade, depois conversas de alunos em diversas situações de comunicação e, por último, gravações secretas familiares, não obteve pleno êxito. Chegou à conclusão que, embora se possa sentir a presença desse tipo de tratamento, pois está divulgado em anúncios publicitários e em outros tipos de textos, é difícil captá‐lo na fala espontânea. Talvez porque, diz a autora, o pronome seja usado numa estrutura em que há a “perda da concordância verbal padrão” e, por isso, é estigmatizado, não foi possível apreendê‐lo nos registros que encontrou gravados, ou que gravou.
Paredes intuiu a razão de não encontrar o pronome, mas não percebeu por que ele é presente e ao mesmo tempo ausente onde ela o procurou. Está presente porque a fala do morro é muito “ouvida” no Rio de Janeiro, é presente, e está ausente porque, como ela percebeu, é socialmente marcada. É a fala do morro: do bandido e do pobre. Dentre poucos exemplos que a autora reproduz ‐ apenas quatro (um slogan de uma rádio, uma pergunta de um aluno da Faculdade de Letras, um pedido de uma atendente, ao telefone) ‐, um é de um manobrista...
No corpus sobre o qual trabalhamos, ao contrário, esse pronome é largamente utilizado e concorre, talvez com vantagem (seria preciso fazer uma análise quantitativa para verificar), com o você. Vejamos alguns exemplos:
(Falcão1)
Celso: Você tava ali falando de “teto preto”... o que é “teto preto”?
Cara: Teto preto? Tipo tu vai fumar uma maconha, vai fumar outra, uma atrás da outra, porra, tipo assim, tua vista escurece, tu desmaia, tu fica uma hora desacordado, meia hora desacordado, é a droga que faz isso. Pô, tu cheira, cheira, tua língua, teu olho vira, tu começa a se tremer. Vem pra garganta aqui, já vem sufocando você, tu morre. Se não vier ninguém pra te socorrer, tu morre.
Esse trecho é ilustrativo. A alta freqüência de uso do pronome tu, a alternância dele com o você e a combinação tu / tua/ te / se mostram um pouco das possibilidades de seu emprego na fala popular.
O pronome aparece também nas perguntas dos entrevistadores que, embora originários dos morros, são pessoas que já alcançaram outro nível sociocultural e têm algum prestígio social. Mas não abandonaram muitos de seus hábitos lingüísticos, o que se vê na fala direta das entrevistas, nas perguntas, e, também, nas narrativas e nos comentários que cada um faz sobre as histórias que compõem o documentário. Vejam‐se alguns exemplos:
Celso: Quem é tua família?
Bill: O que tu faz?
Bill: Há quanto tempo tu tá aqui nesse caô?
(Falcão6)
Celso: E aí menor, tu faz o que aqui na linha do trem?
Menor: Estudo...
Celso: Sempre te vejo envolvido com os caras...
Essa presença do tu na fala dos entrevistadores não é, porém, sistemática, muitas perguntas são com o pronome você e a resposta com tu ou você, indiferentemente. Vejamos mais um exemplo:
(Falcão8)
Bill: Você tentou trabalhar:
Betinho: Eu tomava conta de carro na Freguesia, passava noite lá tomando conta de carro. Fui muito humilhado. Aí, pô, eu falei, meu Deus do céu, que vida é essa minha? Vou ser sempre humilhado? Nego jogando comida na minha cara! Às vezes eu dormia na rua, nego me chutava. Aí falei: vou entrar pro crime. Comecei a pegar umas carguinha. Tu começa de baixo. Aí, depois, pô, comecei a passar umas carga. Aí me chamaram prum assalto, eu gostei, 155, meter caxanga. Aí depois passei pro 157, assalto a mão armada. Quer dizer, tu vai indo, vai evoluindo mais ainda, que tu começa a assaltar assim, depois tu sempre quer mais. Aí caí pro crime.
III. Aspectos do léxico
O léxico dessas entrevistas é misto: tem características específicas da linguagem do tráfico, a gíria usada pelos traficantes para despistar a polícia, mas há também termos chulos de uso corrente e termos da linguagem comum. Alguns trechos ilustram muito bem essa situação:
(Falcão4)
Celso: O que é com e sem lucro?
Menor: Lucro é porque você vai ganhar a mais, você vai vender seis carga de pó e uma de maconha, seis carga cada uma é um lucro de um galo.
Celso: O que é carga?
Menor: É aquele saquinho que a gente vende a cocaína.
(...)
Celso: (pro outro menino) O que você faz?
Menor3: Eu fortaleço os amigo da minha forma, e eles fortalece da forma deles.
Celso: Como é o fortalecimento?
Menor3: Depende de uma coisa, de um dinheiro para comprar um chinelo, aí fortalece, eu fortaleço. Se precisar de uma ajuda para comprar um negócio, eu vou. Fazer um favor.
Linguagem chula, palavras de baixo calão, mas de circulação geral:
(Falcão3)
Bill: Qual é a pior parte pra você?
Rogerinho: Pô, isso aí mesmo. A gente não dorme direito, porra. A boca fecha às seis horas, abre meio‐dia, a gente não dorme direito, é sinistro. Os cana pegam, os cana machucam pra caralho. É foda. E a vida vai levando. Não pode errar com os amigo, cagüetar.
Outro ponto a destacar é que não houve ocorrência de falta de adequação vocabular. Alguns itens empregados por outros, por exemplo onde por quando, por que, ou por por isso (“A.: (...) Deus... mais saber que ele existe porque atendeu o meu pedido também onde [=por isso] que eu tô vivo aqui até hoje...”) não são marcas da norma popular, pois já fazem parte da linguagem comum. Pelo que se percebe, o onde sofreu um esvaziamento de seu sentido locativo e adquiriu a possibilidade de ser semanticamente preenchido em diversos contextos.
III. Estratégias discursivas
Embora precário sob o ponto de vista da estruturação lingüística, o texto popular organiza‐se, discursivamente, de modo coerente. O falante não tem possibilidade de fazer muitas escolhas no âmbito do léxico e da gramática, mas com os poucos recursos de que dispõe, consegue desenvolver seu raciocínio. Observemos dois exemplos disso:
(Guerra1)
E: o que vocês fazem pra comunidade?
A: → opinião [ah... pa comunidade a gente:: supre aquela necessidade que as veiz elas precisa né?]
→argumento e nova opinião [porque nem todo mundo mesmo no morro tem uma condições de vida né? de receber um salário legal...]
→ argumento no 1 [primero... primero porque o salário hoje em dia né? todo mundo vê aí que num tem condição de vida nenhuma um rapaiz que tem quatro filho dentro de casa vivê pa ganha cento e doze reais todo mundo já sabe que num dá pa vivê mes::mo]
→ argumento 2 [segundo.... é que minha família hoje em dia... ela poco ou ruim... mais ela ainda pode tê alguma coisa que eu posso ajuda ela né?]
→ conclusão [ma::is tem muito moradô no morro que não tem uma condição de vida legal]
Nesse caso, Adriano formula seu raciocínio de modo a defender o tráfico sob dois aspectos, primeiro o do apoio que a organização criminosa oferece aos moradores do morro, fornecendo itens de necessidade básica; depois, expondo o argumento mais forte e mais utilizado pelos traficantes: o de que, pelo crime, as pessoas “melhoram de vida”, porque passam a adquirir bens que jamais conseguiriam adquirir com os baixos salários do trabalho honesto. O argumento dois, que parece deslocado à primeira vista, funciona como um exemplo para reforçar a segunda opinião. No fim, o mas funciona como um marcador que tem uma importante força argumentativa de contraste, já que opera no subentendido “embora isso seja verdade, há os que não acreditam e não entram para o crime”.
Outro exemplo:
(Falcão8)
Bill: Você já tirou a vida de alguém:
Betinho: → Tese‐argumento [Crime, né, irmão?]
→ Argumento 1 [Pra tu não morrer, tu tem que matar.]
→Argumento 2 [Eu nunca tirei vida de ninguém que tivesse rezando, trabalhando, que nunca me fez mal, que eu nunca conhecesse.]
→Argumento 3 [Você tem que se defender, porque senão é foda.]
→Conclusão [Pra chorar tua mãe, melhor chorar a dele, né?]
Nesse par de pergunta e resposta, vale a pena ressaltar a estratégia do entrevistado. Como a pergunta era comprometedora, difícil, ele não a respondeu abertamente, mas formulou uma pergunta que encerra uma tese e um argumento ao mesmo tempo. Implícita na pergunta está a afirmação “Sim, matei”, mas também o argumento “Mas matar é próprio do crime”. Depois vêm os argumentos que, ao mesmo tempo, sustentam a tese proposta e o absolvem dos crimes que foi “obrigado” a cometer, “em legítima defesa”. Finalmente, formula uma afirmação que é, ao mesmo tempo, um argumento ‐ ainda em benefício da “legítima defesa”, porque no embate do crime um dos dois morrerá ‐ e uma conclusão.
3. O discurso culto no popular
A heterogeneidade é própria de todos os discursos e inerente à linguagem. Nos textos que ora examinamos, de origem popular, é audível a voz do discurso culto. Esse é um fato que pode ser explicado de vários modos. Primeiro, porque os falantes de qualquer variedade não têm limites de atuação em grupos e comunidades específicas, todos circulam por todas as comunidades. Segundo, porque, nas sociedades letradas, há meios de divulgação das diversas normas, especialmente da norma culta.
Além do contato interpessoal, as normas populares são divulgadas por meio de músicas, como rap, hip hop, pagode e outras, de rádios de freqüência restrita, e de inserções de falas populares na mídia em geral. Também, o discurso publicitário aproveita marcas do discurso popular para atingir o público comprador de certos produtos. Filmes são outro meio pelo qual a norma popular tem‐se tornado mais conhecida do público em geral. Talvez não seja exagero dizer que hoje, pela facilidade de publicação, há livros que divulgam essa norma.
O livro Falcão: meninos do tráfico que contém as entrevistas corpus deste trabalho, por exemplo, divulga doses da norma popular, não somente nas entrevistas mas também na fala dos narradores. Vejamos a primeira frase do capítulo inicial, que traz o relato de Celso Athayde: “Eu já tava de culhões cheios de tanto andar pelo Brasil à procura de menores infratores (...).” (p. 13) e, mais adiante “(...) Mas pela expressão dele, vi que ele deveria ter avisado para evitar surpresas desagradáveis. Só que eu é que comecei a ficar puto, pois eu é
que devia decidir se queria ir ou não para aquele ambiente. Agora foda‐se, já tava... (...)” (p. 17‐8).
Já a norma culta conta com um aparato social e um aparelho de referência para sua divulgação (Aléong, 1983). Como aparato social, há um “discurso da norma” que veicula a ideologia da tradição; também, a norma culta é difundida por todos os meios de comunicação e, ainda, conta com espaços especiais para sua divulgação, como a escola. É a norma culta exigida nas correspondências e documentos da administração pública e privada. Como aparelho de referência, a norma culta conta com os instrumentos lingüísticos, gramáticas e dicionários, além de obras que tratam de correção da linguagem. A língua escrita em geral, e especialmente a literária, é divulgadora de padrões cultos. A literatura, todavia, não tem compromisso com a manutenção de padrões normativos, embora, na maioria dos casos, siga a tradição.
Enfim, se, de um lado, a norma culta exerce uma pressão enorme sobre todos os falantes e, por isso, está, em maior ou menor dose, presente nos enunciados, de outro, a norma popular nunca deixou de se fazer presente na linguagem dos brasileiros, desde os primeiros tempos da colonização. A maior pressão da norma popular sobre a culta, hoje, tem duas origens: falta de escolaridade e quantidade de falantes.
O gráfico1, apresentado a seguir, estruturado sobre o fator nível de instrução dos falantes e sua exposição aos principais meios de comunicação, resume esse problema. De acordo com os dados do IBGE (2003), o Brasil hoje tem 186 milhões de habitantes. Desses, 11% não têm escolaridade, 50% têm baixo nível de instrução, 16% têm nível médio e 23% têm alto nível de instrução. Considera‐se, somente como critério objetivo, inferido dos dados do IBGE, como “alto nível de instrução” o percentual de quem tem 11 anos ou mais de escolaridade. Na realidade, tempo de escolarização não é, no Brasil, garantia de que o sujeito tenha adquirido instrução suficiente para ser considerado de “alto nível”. De qualquer modo, pode ser considerado pelo menos de nível médio, em escala interna que pode variar de baixo a alto.
Partindo dessas informações, projetamos uma representação da situação da população em relação ao conhecimento da tradição lingüística. No gráfico, as estrelas coloridas representam, percentualmente, os falantes, numa escala em que cada uma representa um milhão de falantes.
O gráfico dois, a seguir apresentado, é uma representação das redes de comunicação pelas quais os falantes, de todos os níveis de escolarização e conhecimento, interagem. Nesse processo, ocorrem os contatos lingüísticos e a hibridização da norma. Por isso, não podemos aceitar a idéia de que as normas, culta e popular, sejam estanques, ao contrário elas têm vasos comunicantes e formam um continuum lingüístico. Essa é uma fonte de renovação, variação e mudanças lingüísticas.
As redes de comunicação, no gráfico espelhadas em estrelas, representam os grupos, ou comunidades lingüísticas. Esses têm formação variada e se transformam a cada momento, como uma figura em calidoscópio, a depender da movimentação dos falantes. Em determinadas situações, pode haver grupos homogêneos, sob o ponto de vista da formação educacional dos informantes, por exemplo, como o de uma reunião de profissionais. Também pode haver níveis de heterogeneidade nos grupos, por exemplo, o grupo familiar, que pode ser constituído por membros de mesmo nível cultural, mas pode ter a ele integrado um empregado doméstico, de nível um pouco, ou muito mais baixo, que convive diariamente com a família. Os grupos profissionais, em geral, são heterogêneos, pois formados de funcionários de todos os níveis culturais (chefes, secretárias, serventes etc.). Os grupos sociais mais abertos, como os de entretenimento, os de conhecidos que se encontram em bares, os de grupos de bailes, os de grupos de escola de samba etc., em geral agregam falantes de todos os níveis de escolaridade. Além disso, os encontros e conversas casuais, em filas de padarias e supermercados, em pontos de ônibus, em hospitais públicos também funcionam como trocas, como contatos lingüísticos que permitem aos falantes ouvir e, se possível, avaliar o que foi ouvido. A assimilação de padrões, de uns por outros, é inconsciente. Labov (2001) trata da adoção de novos padrões por falantes de uma dada comunidade a partir do ponto de vista do
“prestígio” que determinado membro da comunidade lingüísticas pode ter sobre ou outros, mas a assimilação de padrões dá‐se também por outros meios. Vejamos o gráfico:
As setas representam os “vasos comunicantes, ou seja, indicam que os falantes dos diversos grupos migram de uns para outros, em decorrência da mobilidade social, no exercício dos diversos papéis sociais que exercem. Assim, aquele profissional que, em um momento de sua vida forma um grupo homogêneo com seus pares, em outro, pode integrar um grupo maximamente heterogêneo como o de uma escola de samba e, ainda em outro momento, o do trabalho, e assim sucessivamente. Nessa interação constante, as trocas lingüísticas acontecem e a linguagem se vai misturando, se hibridizando.
Disso resulta, para o que nos interessa em específico, a presença de padrões cultos no discurso popular, como passaremos a exemplificar. Tomemos o caso do discurso de Adriano, que não tem o menor nível de educação formal, e que, como ele mesmo declara, jamais foi à escola.
I. Presença de léxico culto
(Guerra1)
E: o que vocês fazem pra comunidade?
A: ah... pa comunidade a gente:: supre aquela necessidade que as veiz elas precisa né?
(...)
E: me dá exemplos do tipo de pedidos e reclamações que vêm até você da comunidade.
A: (...) ela pede a gente pa que a gente né? cede um dinheiro as veiz pa pode comprar material né? no caso muitas veize telha.
(...)
E: quem paga a escola das crianças dos presos, dos mortos?
A: olha:: muita dos as vezes falece um morador no morro (...) de fazer o enterro daquele ante querido deles (...)
(...)
E: e qual era a lei que não pode roubar... quais são as outras leis que o morador precisa respeitar?
A: simplesmente num cagüetá a gente né? isso aí eles tem que respeitar a gente que a gente também num prejudica eles (...) é o respeito é mútuo entre eles e entre nóis agora... tem algumas norma que nóis aqui né? botamos
(...)
E: e aí o que acontece num caso desses?
A: ah... geralmente... por exempo assim... eu tô no morro aqui agora mais aí tem um cara que convive comigo aqui mais daqui a pouco ele é visto numa boca de fumo do nosso inimigo...
(...)
E: como é que funciona a divisão de poder?
A: divisão de poder?
E2: é...
A: aí tem um... um um líder né? que é o dono... segundo tem os assessores dele né? e:: é que passa a ser no caso até como seu braço direito... e outro nome que ganha também é como gerente...
(...)
E: e o dinheiro que você ganha... por exemplo... quanto é que você ganha por semana?
A: pô... aí fica uma quantidade incalculável porque:: eu gasto também né? conforme eu vô ganhano vô gastano...
É importante notar que os termos são conscientemente empregados e alguns são até parafraseados. Isso ocorre quanto ao uso de mútuo, que o falante explica claramente antes de usar, quando diz que uns têm respeitar os outros, e, depois, com o resumo feito depois do emprego da palavra, “entre eles e entre nóis”. O mesmo acontece quando o falante usa o
termo assessores e, depois, faz a metalinguagem “e outro nome que ganha também é como gerente...”.
Ainda para comprovar essa assimilação da voz do discurso culto, observamos o uso de algumas palavras pronunciadas de modo incorreto, o que denuncia ter o falante ouvido a palavra, mas não conseguiu captar bem a sua forma, embora o conteúdo, sim. Como aquela história da frase popular “ouviu o galo cantar, mas não sabe onde”. É o que aconteceu com a expressão “ente querido” que ele pronuncia “ante querido”, como já visto em exemplo acima apresentado. Também é o que acontece com a palavra “angústia”, que ele pronuncia angusta, com se pode ver a seguir:
(Guerra1)
(...)
E: como é que é esse Deus que você acredita?
A: ah:: é um Deus que as veiz já me livrou de vários perigo né? de vários momento de angusta
Também é o que acontece com o termo achacar, empregado por um Falcão:
(Falcão2)
Celso: Como é com as outras facções?
Falcão: Eles são errados, querem acharcar os moradores, cobrar pedágio. (...)
Nesse caso, vê‐se que a explicação “cobrar pedágio” confirma que o falante tem idéia precisa de que o sentido do termo é “causar aborrecimento, molestar, desagradar.”.
Outro exemplo é o seguinte, do discurso de um (ex‐)bandido de alta periculosidade, que cumpria, em regime semi‐aberto, uma pena de sessenta e um anos de cadeia. Esse foi o bandido que resgatou de presídio de segurança máxima do Rio de Janeiro, de helicóptero, na década de 90, outro bandido, conhecido pelo apelido de Escadinha. José Carlos Gregório, o Gordo, foi morto em 1999, dois anos depois de ter participado do documentário e ter concedido essa entrevista. Em conversa com o entrevistador, ele disse:
(Guerra2)
E: agora... quando você ouve falá que::... sei lá... o que é do Comando Vermelho... o alemão e do Comando Vermelho... isso quer dizer alguma coisa pra você? Ou eles estão utilizando um nome que...
JC: Não... realmente existe... (...) Parada de Luca é o Alemão... aquele que não se perfila... não... não fecha com o Comando Vermelho... não adota a filosofia do dito Comando vermelho...
O falante usa o verbo perfilar, usado no meio militar, numa espécie de analogia, de extensão de sentido, alinhar ou estar em paralelo, e mostra conhecer o sentido que atribuiu ao termo, já que fez duas paráfrases para explicá‐lo “não fecha” e “não adota a filosofia” Percebe‐se que a estratégia da paráfrase foi adotada para garantir a compreensão do “outro” (do entrevistador e dos espectadores do documentário), que poderiam não entender o que a palavra perfilar, naquele caso, significava.
II. Presença de estruturas gramaticais próprias do discurso culto
Em um exemplo acima apresentado, Adriano emprega a palavra conforme como conjunção proporcional, no sentido de à media que “eu gasto também né? conforme eu vô ganhano vô gastano...”, o que não é comum, dado que o universo de itens gramaticais, do inventário fechado, na norma popular é também reduzido.
A noção de relatividade dos fatos é expressa de modo preciso no discurso de Adriano. Diante da insistência da entrevistadora a respeito do perfil dos freqüentadores da “boca”, ele, por não querer, ou mesmo não poder, responder com precisão ao questionamento, sai‐se com um “é relativo”. Vejamos a seqüência:
(Guerra1)
E: então... quais... que tipo de profissões têm as pessoas que compram a droga?
A: ah:: muitas dela é pessoas de bem... é... eles vem da crasse pobre da crasse média da crasse alta... é relativo... mais a maioria deles tudo da crasse alta né?
(...)
E: quais são as profissões dessas pessoas?
E2: mé::dico?
A: é relativo né? é geralmente:: veim até pessoas de alto nível né? que:: na nossa presença mermo né? eles demonstra... mais por traz daquilo ali são outas coisa
(...)
E: eles vêm pessoalmente ou eles mandam alguém vir?
A: é relativo... quem tem as veize um contato um meio de mandá apanhá... manda apanhá e aqueles que já num tem medo que já né? são acostumado a vim eles mesmo vem
No primeiro trecho, a expressão “é relativo” é uma paráfrase da seqüência de possibilidades que o falante oferece, o que mostra a consciência que tem do sentido da expressão escolhida. No trecho dois, já explicado o sentido, a expressão “pessoas de alto nível” deixa subentender, na relatividade, o leque de profissões das pessoas que freqüentam a “boca”. No último trecho, o relativo, resume as duas opções possíveis de resposta, já oferecidas na pergunta alternativa da entrevistadora. A insistência do entrevistado com a manutenção do conteúdo de sua resposta mostra a segurança que tinha em relação ao que dizia por meio do item lexical escolhido.
Mais um exemplo é o do discurso de Adão, ex‐traficante, rico de presença do discurso culto e do discurso político‐social. Para expressar suas opiniões, o falante aprimora a pronúncia, especialmente no início da gravação (minutos depois parece que ele se acostuma com a câmara, e sua pronúncia fica mais relaxada, mais próxima da popular), usa léxico e estruturas gramaticais muito próximas daquelas do discurso culto, como se pode verificar a seguir:
(nesse trecho inicial da gravação não aparece a pergunta do entrevistador)
(Guerra3)
A: pelo que venho vendo/ na minha época [de traficante, dono de boca] eh:: o direito que nós tínhamos era assim... quer dizer... muito limitado... não é? certo? então... hoje em dia... com essa reação armada... você vê que:: que:: que as pessoas que dominam o país têm que ceder... têm que dar o direito que nós temos não é? de igualdade porque::/ o que eu ia falar é o seguinte... essa guerra armada é até inconsciente... você sabe que eles usam a arma mas eles não têm uma mentalidade eh... social a mentalidade deles é essa... “isso aqui é meu” e::: “tô vendo meu tráfico aqui tô ganhando dinheiro” certo? (...) então toda essa arma que fica aqui é pra protegê a droga... não é nem assim... sabe? por exigir condições melhores e a justiça social sabe? quer dizer... eu acho que isso não leva a lugar nenhum (...)
Primeiro, chama a atenção a concordância verbal e nominal que o falante realiza: nós tínhamos; as pessoas que dominam esse país; o direito que nós temos; eles usam as armas. Depois, a articulação das idéias na aparente desarticulação do texto. O falante tem consciência do que quer deixar registrado como seu conceito acerca do problema social do Brasil (a desigualdade social); por isso, quando começa a perceber que as palavras vão indo longe do que ele tem a dizer, interrompe o fluxo verbal e diz “o que eu ia dizer é o seguinte”, e refaz o texto para dizer, eufemicamente, mas diz, que as armas estão nas mãos dos traficantes, mas eles não têm consciência de que poderiam usá‐la para fazer uma revolução social. Nesse caso, é perceptível que, além da estrutura lingüística culta, existe um discurso, uma ideologia que o falante defende.
Não temos condições de resgatar a história de Adão Kalembarandã no âmbito do documentário. Apenas podemos, pelo contexto em que ele e sua família aparecem, dizer que participou da vida do crime e que, na ocasião da gravação do filme, 1997, tinha família constituída, mulher e duas filhas, também participantes da filmagem. O local em que habita, um barraco da favela, é paupérrimo.
Não é possível dizer como Adão adquiriu esse discurso e essa linguagem diferentes, no particular, dos de seus pares. A gravação de dezoito minutos permitiu, também, ver a semelhança de sua linguagem com a de todos da favela, no que diz respeito a outros aspectos especificamente lingüísticos, como algumas concordâncias nominais e verbais, além da adoção da pronúncia de certas expressões (os puliça, os home etc.).
Considerações finais
Se se partir da premissa de que o português do Brasil é mais resultante de normas populares (a dos portugueses colonizadores das baixas classes socioculturais portuguesas e dos aloglotas que aprendiam essas normas como superestrato) do que de normas cultas, e de que a situação educacional do país sempre foi deficiente (durante quatro séculos inexistente, depois insuficiente, hoje deficiente) não será difícil entender porque a norma popular exerce tão importante força sobre a norma culta. Não obstante isso, a força inversa também se faz sentir e a norma culta avança sobre a popular a partir de diversos canais.
Numa reflexão ligeira e, talvez, ingênua, poderíamos admitir que a maior influência da linguagem culta sobre a popular fosse pelo intercâmbio direto dos falantes. Isso, contudo, num panorama geral, não parece ser verdadeiro porque tais contatos são localizados e, se analisarmos a formação dos grupos sociais de que os falantes cultos fazem parte, na maioria deles, os falantes da norma popular aparecem em menor escala. Pensemos na família em que esses são minoria; ou nos grupos de trabalho nos quais esses, teoricamente, são os serventes, portanto, minoria; pensemos nos grupos de trabalho voluntário das classes economicamente mais altas em que são minoria os das baixas, e assim sucessivamente. Agora, pensemos nos grupos em que os falantes da norma popular predominam, e veremos que, inversamente, são os da norma culta que escasseiam: os grupos das escolas públicas das periferias urbanas em que, não raro, os falantes da norma culta são os professores; os de associações e sindicatos em que, não raro, há um líder praticante da norma culta, porque mais politicamente engajado; pensemos nos grupos de mutirão e trabalho voluntário popular dos quais fazem parte poucos voluntários de classe social mais elevada e que, em tese, são praticantes da norma culta.
Na realidade de hoje, são, preponderantemente, os meios de comunicação de massa os divulgadores de norma. Como predomina o falar culto nas apresentações, esse se hibridiza mais fortemente na fala popular. O contrário também ocorre, porque aspectos da fala popular são aproveitados pelo discurso da mídia em geral, seja em programas regulares, para criar o efeito de realidade, naturalidade e proximidade com o espectador, seja em discursos publicitários que visam a alcançar e atingir diretamente seu público alvo. Nesse caso, o público
é formado por pessoas de menor nível instrução, falantes da norma popular (ou das normas populares), como é comprovado por meio de pesquisas estatísticas.
O resultado de tudo isso é o português do Brasil, cuja norma culta é sabidamente recheada de pitadas de popularismos e, ao contrário, como procuramos mostrar alguns aspectos, cuja norma popular possui também aspectos da culta. Observa‐se, contudo, que esse quadro é mais complexo do que parece, porque internamente às normas cultas e populares há diferentes níveis de realização, a depender dos níveis de instrução dos falantes. Pelo que se pode perceber, não é possível estabelecerem‐se padrões: tudo depende de aspectos culturais e cognitivos dos falantes, o que é, se não impossível, pelo menos difícil de ser mensurado. O certo é que, como dizia Celso Cunha (por Diego Catalán, idéia também adotada Paul Teyssier, 2001, p. 98), a questão da norma brasileira é sociocultural. O continuum vertical de normas, proporcionado pelo intercâmbio lingüístico é uma verdade difícil de ser representada, concretizada, mas é real. Portanto, falemos de normas cultas e de normas populares, já que o singular, nesse caso, não existe.
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