Português - 12º Ano 2016-2017 Comparação entre Alberto ... · estrófica, métrica e rítmica e...
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Comparação entre Alberto Caeiro e Ricardo Reis:
A nível de conteúdo estes dois heterónimos aproximam-se principalmente pelo modo
como tentam encarar a vida: tanto Caeiro como Reis, além de considerarem que a
felicidade só se alcança através de uma vida serena e em comunhão com a natureza,
defendem a vivência plena do presente, sem preocupação nem com o passado nem com
o futuro (carpe diem, desfrutar de cada momento).
No entanto, pode verificar-se que são grandes as diferenças entre eles. Enquanto que
Ricardo Reis é caracterizado pela intelectualização das emoções e pelo medo perante a
morte, Alberto Caeiro é exatamente o poeta das sensações, considerando o pensamento
como uma entrave à observação da natureza, e é o poeta que não se preocupa com a
passagem do tempo. Outra grande diferença é que Alberto Caeiro acredita (num só)
Deus enquanto elemento da natureza (tudo é divino), ao passo que Ricardo Reis crê em
vários deuses pois identifica-se com a civilização grega.
A nível formal estes dois heterónimos são o oposto: de um lado temos Caeiro com a sua
linguagem simples e familiar, a sua despreocupação a nível fónico, a sua irregularidade
estrófica, métrica e rítmica e as suas frases essencialmente coordenadas; e, de outro,
temos Ricardo Reis com toda a sua complexidade – estrofes e métrica regulares,
predomínio da subordinação e linguagem erudita, cheia de simbolismos clássicos.
Comparação entre Alberto Caeiro e Álvaro de Campos:
Não é de estranhar que estes dois poetas não tenham muito em comum, uma vez que um
é o poeta natural e pacífico, e o outro é o poeta da modernidade, da técnica e é
caracterizado por um certa violência e agressividade. No entanto, apesar destes
contrastes, têm alguns fatores em comum, considerando a 2ªfase de Álvaro de Campos:
ambos são poeta solitários, rejeitam a subjetividade da lírica tradicional, tentando ser
objetivos na observação do real, e neles predominam as sensações visuais. As maiores
divergências, a nível temático, verificam-se na conceção do tempo (para Caeiro só
existe o presente, para Campos o presente é a concentração de todos os tempos), no
objeto da sua poesia (Caeiro exulta as qualidades da natureza e Campos, na 2ªfase,
exulta as da civilização moderna), e na atitude perante a vida (enquanto que Caeiro é
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Comparação entre heterónimos
feliz, Campos – na 3ªfase – é um homem sem identidade e cansado de viver, pois a vida
nunca lhe trouxe nada de bom).
A nível formal, apesar de ambos se caracterizarem pela irregularidade estrófica, métrica
e rítmica, verifica-se que, enquanto Caeiro utiliza uma linguagem simples e com poucos
artifícios, Campos distingue-se pelo recurso a um grande número de figuras de estilo
(que tornam a compreensão da mensagem mais difícil) e, por isso mesmo, por uma
exuberância que choca evidentemente com a simplicidade e serenidade dos versos do
mestre Caeiro.
Comparação entre Álvaro de Campos e Ricardo Reis:
Álvaro de Campos foi um poeta que, pelo seu estilo eufórico e, mais tarde, disfórico, se
afastou dos outros heterónimos, já que estes procuravam a serenidade, que Campos
também procurava, de uma forma mais tranquila. Assim, são poucas as semelhanças
entre Ricardo Reis e Campos: tanto Campos (na 3ªfase) como Reis se angustiam perante
a efemeridade da vida, consideram a infância como momento de maior felicidade e
aceitam o seu destino (conformismo). No entanto, neste último ponto, os motivos para
essa aceitação são diferentes: enquanto que Reis o aceita pois considera que essa é a
melhor forma de ser feliz, Campos fá-lo numa atitude de resignação perante a vida, não
deixando de se sentir infeliz por aquilo que ela lhe reservou. Aquilo que mais os
distancia é a sua relação com a realidade – Campos vive em eterno conflito com a
humanidade e Reis “dá-lhe conselhos” (através da 1ªpessoa do plural no imperativo) – e
a solidão que caracteriza Campos na 3ªfase.
A nível formal tanto um como outro apresentam versos brancos, embora Reis seja
regular a nível estrófico e métrico. Pode verificar-se que Álvaro de Campos, na 2ªfase,
utiliza a ode como forma de expressão, tal como Ricardo Reis. Nestes dos heterónimos
pode encontrar-se grande riqueza a nível estilístico, nomeadamente no que respeita
`assonância e aliteração, e uma utilização frequente do modo imperativo. No entanto,
enquanto que Ricardo Reis submete a expressão ao conteúdo, Campos valoriza mais a
expressividade dos seus poemas, sendo que esta acaba por se sobrepor ao seu conteúdo
– ou acabar por resumir o último.
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Características comuns aos três:
Encontram-se, nos heterónimos, dois fatores comuns a todos eles. Primeiro, a
descoberta de um equilíbrio entre o sentir e o pensar: Caeiro encontra-se através da
natureza; Reis encontra-se através do equilíbrio entre a dor e o prazer; e Campos não se
encontra. Em segundo lugar, verifica-se que todos associam à infância o momento em
que foram verdadeiramente felizes – porque ingénuos e inocentes. No entanto, enquanto
que Reis e Caeiro acreditam poder voltar a ser felizes como foram em criança, Campos
considera essa felicidade perdida, pois só é feliz se for inconsciente, o que só aconteceu
na sua infância, na pré - consciência.
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