Polo XIII - Comeerj 2011 - Bibliografia Basica (1)

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 Bibliografia Básica Pólo XIII - Emaús

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  • Bibliografia Bsica Plo XIII - Emas

  • 2 Objetivo Geral:

    Compreender a Caridade como a concretizao da ao crist, ressignificando-a a partir do estudo e vivncia evanglico- doutrinrios.

    Mdulo I: Por que ser cristo?

    Refletir sobre a essncia e a proposta da Boa Nova trazida por Jesus. Reconhecer que a vivncia crist uma ferramenta que possibilita ao homem progredir,

    ascender.

    Mdulo II: Caridade vivncia crist

    Ampliar a percepo do conceito de Caridade. Mostrar a possibilidade de uma vivncia crist concreta na atualidade

    Mdulo III: Caridade para consigo mesmo

    Reconhecer na vivncia evanglica o caminho para a construo do Reino dos Cus em mim.

  • 3 Contedo Mdulo I: Por que ser cristo? .................................................................................................................................. 6

    O Cristo (Allan Kardec, in O Evangelho Segundo o Espiritismo cap. I, itens 3 e 4) ............................................... 6

    Aliana da Cincia e da Religio (Allan Kardec, in O Evangelho Segundo o Espiritismo cap. I, item 8) ................. 6

    O Cristo Consolador (Allan Kardec, Evangelho Segundo o Espiritismo cap. VI).................................................... 7

    O jugo leve .......................................................................................................................................................... 7

    Consolador prometido ......................................................................................................................................... 7

    Instrues dos Espritos Advento do Esprito de Verdade ................................................................................... 7

    Fora da caridade no h salvao (Allan Kardec, in O Evangelho Segundo o Espiritismo cap. XV) ........................ 8

    O de que precisa o Esprito para ser salvo. Parbola do bom samaritano. ............................................................ 8

    O mandamento maior ....................................................................................................................................... 10

    Necessidade da caridade, segundo S. Paulo ....................................................................................................... 10

    Fora da Igreja no h salvao. Fora da verdade no h salvao ..................................................................... 10

    Instrues dos Espritos Fora da caridade no h salvao .............................................................................. 11

    Pelas suas obras que se reconhece o cristo (Allan Kardec, in O Evangelho Segundo o Espiritismo cap. XVIII, item 16) ................................................................................................................................................................ 11

    Ao chamado do Cristo (Joanna de ngelis, in Dimenses da Verdade) ................................................................ 12

    A Doutrina Secreta (Leon Denis, in Cristianismo e Espiritismo cap. 4) ................................................................ 13

    Seguir Jesus (Amlia Rodrigues, in Luz do Mundo cap. 15) ............................................................................... 16

    Servo de todos (Amlia Rodrigues, in Luz do Mundo cap. 18) .......................................................................... 18

    O Reino (Joana de Angelis, in Jesus e o Evangelho cap. 21) .............................................................................. 19

    Jesus, o Pedagogo da Humanidade (Dora Incontri, in A Educao Segundo o Espiritismo) .................................. 21

    Introduo ........................................................................................................................................................ 21

    As Virtudes de Jesus .......................................................................................................................................... 22

    A Pedagogia do Amor ........................................................................................................................................ 22

    A Didtica do Mestre ......................................................................................................................................... 23

    Jesus e as Crianas ............................................................................................................................................ 24

    Jesus, o Libertador (Joanna de ngelis, in Libertao pelo Amor cap. 30) ........................................................ 24

    Cristos (Emmanuel, in Vinha de Luz cap. 161) ................................................................................................ 26

    Mdulo II: Caridade vivncia crist .......................................................................................................................26 Necessidade do trabalho (Allan Kardec, in O Livro dos Espritos 3 parte cap. III) .......................................... 26

    Privaes voluntrias. Mortificaes (Allan Kardec, in O Livro dos Espritos 3 parte cap. V) ......................... 26

    Caridade e amor do prximo (Allan Kardec, in O Livro dos Espritos 3 parte cap. XI) .................................... 26

    As virtudes e os vcios (Allan Kardec, in O Livro dos Espritos 3 parte cap. XII) .............................................. 27

    Caracteres do homem de bem (Allan Kardec, in O Livro dos Espritos 3 parte cap. XII)................................. 27

    A beneficncia (Allan Kardec, in O Evangelho Segundo o Espiritismo cap. XII item 12) .................................. 28

    A beneficncia (Allan Kardec, in O Evangelho Segundo o Espiritismo cap. XII item 15) .................................. 28

  • 4

    Honrai a vosso pai e a vossa me (Allan Kardec, in O Evangelho Segundo o Espiritismo cap. XV) ..................... 29

    Piedade filial ..................................................................................................................................................... 29

    Quem minha me e quem so meus irmos? .................................................................................................. 30

    A parentela corporal e a parentela espiritual ..................................................................................................... 30

    Instrues dos Espritos A ingratido dos filhos e os laos de famlia ............................................................... 31

    O homem de bem (Allan Kardec, in O Evangelho Segundo o Espiritismo cap. XXVII item 3) ........................... 33

    A Teoria e a Prtica (Richard Simonetti, in Encontros e Desencontros) ............................................................... 34

    Bens Materiais (Joanna de ngelis, in Leis Morais da Vida cap. 9) .................................................................... 35

    Ante o amor (Joanna de ngelis, in Leis Morais da Vida cap. 55) ..................................................................... 35

    Desarmamento ntimo (Joanna de ngelis, in Leis Morais da Vida cap. 56) ...................................................... 36

    Ave, Cristo! (Emmanuel, in Ave, Cristo - prefcio) .............................................................................................. 37

    A busca (Joanna de ngelis, in O Despertar do Esprito) ..................................................................................... 37

    Introduo ........................................................................................................................................................ 37

    Torvelinho social e solicitude ............................................................................................................................. 38

    Cansao e Desnimo ......................................................................................................................................... 40

    Perda do sentido tico existencial ...................................................................................................................... 41

    Relacionamentos Humanos (Joanna de ngelis, in O Despertar do Esprito) ....................................................... 43

    Introduo ........................................................................................................................................................ 43

    Relacionamentos Familiares .............................................................................................................................. 44

    Relacionamentos com parceiros ou cnjuges ..................................................................................................... 46

    Relacionamentos sociais .................................................................................................................................... 48

    Sublime Ao (Joanna de ngelis, in Libertao pelo Amor cap. 17) ................................................................ 50

    O Holocausto Maior (Rogrio Coelho, in Reformador maro de 2001) ............................................................. 51

    Mdulo III: Caridade para consigo mesmo ...............................................................................................................53 Vida de insulamento. Voto de silncio (Allan Kardec, in O Livro dos Espritos 3 parte cap. VII) ..................... 53

    Povos degenerados (Allan Kardec, in O Livro dos Espritos 3 parte cap. VII) ................................................. 53

    Paixes (Allan Kardec, in O Livro dos Espritos 3 parte cap. XII) .................................................................... 54

    Paraso, inferno e purgatrio (Allan Kardec, in O Livro dos Espritos 4 parte cap. II) ..................................... 54

    Concluso (Allan Kardec, in O Livro dos Espritos Concluso item IV) ............................................................ 54

    Mostarda e Fermento (Carlos Pastorino, in Sabedoria do Evangelho volume V)............................................... 55

    O Segredo da Vida (Vincius, in Na Seara do Mestre) .......................................................................................... 57

    Boa parte (Vincius, in Na Seara do Mestre)........................................................................................................ 57

    Caridade Antes (Joanna de ngelis, in Dimenso da Verdade) ............................................................................ 58

    Caridade e Doutrina Esprita (Joanna de ngelis, in Dimenso da Verdade) ........................................................ 59

    Em Busca da Iluminao Interior (Joanna de ngelis, in Encontro com a Paz e a Sade cap. 10) ...................... 60

    Introduo ........................................................................................................................................................ 60

    A Iluminao Interior ......................................................................................................................................... 61

  • 5

    Processo de Auto-iluminao ............................................................................................................................. 62

    Conquista da iluminao interior ....................................................................................................................... 63

    Reintegrao na Religiosidade (Joanna de ngelis, in Triunfo Pessoal cap. 10)................................................. 65

    Introduo ........................................................................................................................................................ 65

    Necessidade da f religiosa ............................................................................................................................... 66

    Apoio teraputico pela religiosidade .................................................................................................................. 67

    Religio e sade ................................................................................................................................................ 69

    Plenitude da Vida (Joanna de ngelis, in Libertao pelo Amor cap. 29) .......................................................... 70

    Os sentimentos (Joanna de ngelis, in Auto-descobrimento cap. 11) .............................................................. 71

    O Amor.............................................................................................................................................................. 71

    Os Sofrimentos .................................................................................................................................................. 72

    Estar e Ser ......................................................................................................................................................... 73

    Abnegao e Humildade .................................................................................................................................... 74

    Triunfo sobre o Ego (Joanna de ngelis, in Auto-descobrimento cap. 12) ........................................................ 75

    Infncia Psicolgica ........................................................................................................................................... 75

    Conquista do Si .................................................................................................................................................. 77

    Libertao Pessoal ............................................................................................................................................. 78

  • 6

    Mdulo I: Por que ser cristo?

    O Cristo (Allan Kardec, in O Evangelho Segundo o Espiritismo cap. I, itens 3 e 4)

    Jesus no veio destruir a lei, isto , a lei de Deus; veio cumpri-la, isto , desenvolv-la, dar-lhe o verdadeiro sentido e adapt-la ao grau de adiantamento dos homens.

    Por isso que se nos depara, nessa lei, o principio dos deveres para com Deus e para com o prximo, base da sua doutrina. Quanto s leis de Moiss, propriamente ditas, ele, ao contrrio, as modificou profundamente, quer na substancia, quer na forma. Combatendo constantemente o abuso das prticas exteriores e as falsas interpretaes, por mais radical reforma no podia faz-las passar, do que as reduzindo a esta nica prescrio: "Amar a Deus acima de todas as coisas e o prximo como a si mesmo", e acrescentando: a esto a lei toda e os profetas.

    Por estas palavras: "O cu e a Terra no passaro sem que tudo esteja cumprido at o ltimo iota", quis dizer Jesus ser necessrio que a lei de Deus tivesse cumprimento integral, isto , fosse praticada na Terra inteira, em toda a sua pureza, com todas as suas ampliaes e conseqncias. Efetivamente, de que serviria haver sido promulgada aquela lei, se ela devesse constituir privilgio de alguns homens, ou, sequer, de um nico povo? Sendo filhos de Deus todos os homens, todos, sem distino nenhuma, so objeto da mesma solicitude.

    Mas, o papel de Jesus no foi o de um simples legislador moralista, tendo por exclusiva autoridade a sua palavra. Cabia-lhe dar cumprimento s profecias que lhe anunciaram o advento; a autoridade lhe vinha da natureza excepcional do seu Esprito e da sua misso divina. Ele viera ensinar aos homens que a verdadeira vida no a que transcorre na Terra e sim a que vivida no reino dos cus; viera ensinar-lhes o caminho que a esse reino conduz, os meios de eles se reconciliarem com Deus e de pressentirem esses meios na marcha das coisas por vir, para a realizao dos destinos humanos. Entretanto, no disse tudo, limitando-se, respeito a muitos pontos, a lanar o grmen de verdades que, segundo ele prprio o declarou, ainda no podiam ser compreendidas. Falou de tudo, mas em termos mais ou menos implcitos. Para ser apreendido o sentido oculto de algumas palavras suas, mister se fazia que novas idias e novos conhecimentos lhes trouxessem a chave indispensvel, idias que, porm, no podiam surgir antes que o esprito humano houvesse alcanado um certo grau de madureza. A Cincia tinha de contribuir poderosamente para a ecloso e o desenvolvimento de tais idias. Importava, pois, dar Cincia tempo para progredir.

    Aliana da Cincia e da Religio (Allan Kardec, in O Evangelho Segundo o Espiritismo cap. I, item 8)

    A Cincia e a Religio so as duas alavancas da inteligncia humana: uma revela as leis do mundo material e a outra as do mundo moral. Tendo, no entanto, essas leis o mesmo princpio, que Deus, no podem contradizer-se. Se fossem a negao uma da outra, uma necessariamente estaria em erro e a outra com a verdade, porquanto Deus no pode pretender a destruio de sua prpria obra. A incompatibilidade que se julgou existir entre essas duas ordens de idias provm apenas de uma observao defeituosa e de excesso de exclusivismo, de um lado e de outro. Da um conflito que deu origem incredulidade e intolerncia.

    So chegados os tempos em que os ensinamentos do Cristo tm de ser completados; em que o vu intencionalmente lanado sobre algumas partes desse ensino tem de ser levantado; em que a Cincia, deixando de ser exclusivamente materialista, tem de levar em conta o elemento espiritual e em que a Religio, deixando de ignorar as leis orgnicas e imutveis da matria, como duas foras que so, apoiando-se uma na outra e marchando combinadas, se prestaro mtuo concurso. Ento, no mais desmentida pela Cincia, a Religio adquirir inabalvel poder, porque estar de acordo com a razo, j se lhe no podendo mais opor a irresistvel lgica dos fatos.

    A Cincia e a Religio no puderam, at hoje, entender-se, porque, encarando cada uma as coisas do seu ponto de vista exclusivo, reciprocamente se repeliam. Faltava com que encher o vazio que as separava, um trao de unio que as aproximasse. Esse trao de unio est no conhecimento das leis que regem o Universo espiritual e suas relaes com o mundo corpreo, leis to imutveis quanto as que regem o movimento dos astros e a existncia dos seres. Uma vez comprovadas pela experincia essas relaes, nova luz se fez: a f dirigiu-se razo; esta nada encontrou de ilgico na f: vencido foi o materialismo. Mas, nisso, como em tudo, h pessoas que ficam atrs, at serem arrastadas pelo movimento geral, que as esmaga, se tentam resistir-lhe, em vez de o acompanharem. E toda uma revoluo que neste momento se opera e trabalha os espritos. Aps uma elaborao que durou mais de dezoito sculos, chega ela sua plena realizao e vai marcar uma nova era na vida da Humanidade. Fceis so de prever as conseqncias: acarretar para as relaes sociais inevitveis modificaes, s quais ningum ter fora para se opor, porque elas esto nos desgnios de Deus e derivam da lei do progresso, que lei de Deus.

  • 7

    O Cristo Consolador (Allan Kardec, Evangelho Segundo o Espiritismo cap. VI)

    O jugo leve

    1. Vinde a mim, todos vs que estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei. Tomai sobre vs o meu jugo e aprendei comigo que sou brando e humilde de corao e achareis repouso para vossas almas, pois suave o meu jugo e leve o meu fardo. (S. MATEUS, cap. XI, vv. 28 a 30.)

    2. Todos os sofrimentos: misrias, decepes, dores fsicas, perda de seres amados, encontram consolao em a f no futuro, em a confiana na justia de Deus, que o Cristo veio ensinar aos homens. Sobre aquele que, ao contrrio, nada espera aps esta vida, ou que simplesmente duvida, as aflies caem com todo o seu peso e nenhuma esperana lhe mitiga o amargor. Foi isso que levou Jesus a dizer: "Vinde a mim todos vs que estais fatigados, que eu vos aliviarei."

    Entretanto, faz depender de uma condio a sua assistncia e a felicidade que promete aos aflitos. Essa condio est na lei por ele ensinada. Seu jugo a observncia dessa lei; mas, esse jugo leve e a lei suave, pois que apenas impe, como dever, o amor e a caridade.

    Consolador prometido

    3. Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu rogarei a meu Pai e ele vos enviar outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: - O Esprito de Verdade, que o mundo no pode receber, porque o no v e absolutamente o no conhece. Mas, quanto a vs, conhec-lo-eis, porque ficar convosco e estar em vs. - Porm, o Consolador, que o Santo Esprito, que meu Pai enviar em meu nome, vos ensinar todas as coisas e vos far recordar tudo o que vos tenho dito. (S. JOO, cap. XIV, vv. 15 a 17 e 26.)

    4. Jesus promete outro consolador: o Esprito de Verdade, que o mundo ainda no conhece, por no estar maduro para o compreender, consolador que o Pai enviar para ensinar todas as coisas e para relembrar o que o Cristo h dito. Se, portanto, o Esprito de Verdade tinha de vir mais tarde ensinar todas as coisas, que o Cristo no dissera tudo; se ele vem relembrar o que o Cristo disse, que o que este disse foi esquecido ou mal compreendido.

    O Espiritismo vem, na poca predita, cumprir a promessa do Cristo: preside ao seu advento o Esprito de Verdade. Ele chama os homens observncia da lei; ensina todas as coisas fazendo compreender o que Jesus s disse por parbolas. Advertiu o Cristo: "Ouam os que tm ouvidos para ouvir." O Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porquanto fala sem figuras, nem alegorias; levanta o vu intencionalmente lanado sobre certos mistrios. Vem, finalmente, trazer a consolao suprema aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem, atribuindo causa justa e fim til a todas as dores.

    Disse o Cristo: "Bem-aventurados os aflitos, pois que sero consolados." Mas, como h de algum sentir-se ditoso por sofrer, se no sabe por que sofre? O Espiritismo mostra a causa dos sofrimentos nas existncias anteriores e na destinao da Terra, onde o homem expia o seu passado. Mostra o objetivo dos sofrimentos, apontando-os como crises salutares que produzem a cura e como meio de depurao que garante a felicidade nas existncias futuras. O homem compreende que mereceu sofrer e acha justo o sofrimento. Sabe que este lhe auxilia o adiantamento e o aceita sem murmurar, como o obreiro aceita o trabalho que lhe assegurar o salrio. O Espiritismo lhe d f inabalvel no futuro e a dvida pungente no mais se lhe apossa da alma. Dando-lhe a ver do alto as coisas, a importncia das vicissitudes terrenas some-se no vasto e esplndido horizonte que ele o faz descortinar, e a perspectiva da felicidade que o espera lhe d a pacincia, a resignao e a coragem de ir at ao termo do caminho.

    Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem, para onde vai e por que est na Terra; atrai para os verdadeiros princpios da lei de Deus e consola pela f e pela esperana.

    Instrues dos Espritos Advento do Esprito de Verdade

    5. Venho, como outrora aos transviados filhos de Israel, trazer-vos a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como o fez antigamente a minha palavra, tem de lembrar aos incrdulos que acima deles reina a imutvel verdade: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinem as plantas e se levantem as ondas. Revelei a doutrina divinal.

    Como um ceifeiro, reuni em feixes o bem esparso no seio da Humanidade e disse: Vinde a mim, todos vs que sofreis."

    Mas, ingratos, os homens afastaram-se do caminho reto e largo que conduz ao reino de meu Pai e enveredaram pelas speras sendas da impiedade. Meu Pai no quer aniquilar a raa humana; quer que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, isto , mortos segundo a carne, porquanto no existe a morte, vos socorrais mutuamente, e que se faa ouvir no mais a voz dos profetas e dos apstolos, mas a dos que j no vivem na Terra,

  • 8 a clamar: Orai e crede! pois que a morte a ressurreio, sendo a vida a prova buscada e durante a qual as virtudes que houverdes cultivado crescero e se desenvolvero como o cedro.

    Homens fracos, que compreendeis as trevas das vossas inteligncias, no afasteis o facho que a clemncia divina vos coloca nas mos para vos clarear o caminho e reconduzir-vos, filhos perdidos, ao regao de vosso Pai.

    Sinto-me por demais tomado de compaixo pelas vossas misrias, pela vossa fraqueza imensa, para deixar de estender mo socorredora aos infelizes transviados que, vendo o cu, caem nos abismos do erro. Crede, amai, meditai sobre as coisas que vos so reveladas; no mistureis o joio com a boa semente, as utopias com as verdades.

    Espritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instru-vos, este o segundo. No Cristianismo encontram-se todas as verdades; so de origem humana os erros que nele se enraizaram. Eis que do alm-tmulo, que julgveis o nada, vozes vos clamam: "Irmos! Nada perece. Jesus Cristo o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade." - O Esprito de Verdade. (Paris, 1860.)

    6. Venho instruir e consolar os pobres deserdados. Venho dizer-lhes que elevem a sua resignao ao nvel de suas provas, que chorem, porquanto a dor foi sagrada no Jardim das Oliveiras; mas, que esperem, pois que tambm a eles os anjos consoladores lhes viro enxugar as lgrimas.

    Obreiros, traai o vosso sulco; recomeai no dia seguinte o afanoso labor da vspera; o trabalho das vossas mos vos fornece aos corpos o po terrestre; vossas almas, porm, no esto esquecidas; e eu, o jardineiro divino, as cultivo no silncio dos vossos pensamentos. Quando soar a hora do repouso, e a trama da vida se vos escapar das mos e vossos olhos se fecharem para a luz, sentireis que surge em vs e germina a minha preciosa semente.

    Nada fica perdido no reino de nosso Pai e os vossos suores e misrias formam o tesouro que vos tornar ricos nas esferas superiores, onde a luz substitui as trevas e onde o mais desnudo dentre todos vs ser talvez o mais resplandecente. - O Esprito de Verdade. (Paris, 1861.)

    Em verdade vos digo: os que carregam seus fardos e assistem os seus irmos so bem-amados meus. Instru-vos na preciosa doutrina que dissipa o erro das revoltas e vos mostra o sublime objetivo da provao humana. Assim como o vento varre a poeira, que tambm o sopro dos Espritos dissipe os vossos despeitos contra os ricos do mundo, que so, no raro, muito miserveis, porquanto se acham sujeitos a provas mais perigosas do que as vossas.

    Estou convosco e meu apstolo vos instrui. Bebei na fonte viva do amor e preparai-vos, cativos da vida, a lanar-vos um dia, livres e alegres, no seio dAquele que vos criou fracos para vos tornar perfectveis e que quer modeleis vs mesmos a vossa malevel argila, a fim de serdes os artfices da vossa imortalidade. - O Esprito de Verdade. (Paris, 1861.)

    7. Sou o grande mdico das almas e venho trazer-vos o remdio que vos h de curar. Os fracos, os sofredores e os enfermos so os meus filhos prediletos. Venho salv-los. Vinde, pois, a mim, vs que sofreis e vos achais oprimidos, e sereis aliviados e consolados. No busqueis alhures a fora e a consolao, pois que o mundo impotente para d-las. Deus dirige um supremo apelo aos vossos coraes, por meio do Espiritismo. Escutai-o. Extirpados sejam de vossas almas doloridas a impiedade, a mentira, o erro, a incredulidade. So monstros que sugam o vosso mais puro sangue e que vos abrem chagas quase sempre mortais.

    Que, no futuro, humildes e submissos ao Criador, pratiqueis a sua lei divina. Amai e orai; sede dceis aos Espritos do Senhor; invocai-o do fundo de vossos coraes. Ele, ento, vos enviar o seu Filho bem-amado, para vos instruir e dizer estas boas palavras: Eis-me aqui; venho at vs, porque me chamastes. - O Esprito de Verdade. (Bordus, 1861.)

    8. Deus consola os humildes e d fora aos aflitos que lha pedem. Seu poder cobre a Terra e, por toda a parte, junto de cada lgrima colocou ele um blsamo que consola. A abnegao e o devotamento so uma prece continua e encerram um ensinamento profundo. A sabedoria humana reside nessas duas palavras. Possam todos os Espritos sofredores compreender essa verdade, em vez de clamarem contra suas dores, contra os sofrimentos morais que neste mundo vos cabem em partilha. Tomai, pois, por divisa estas duas palavras: devotamento e abnegao, e sereis fortes, porque elas resumem todos os deveres que a caridade e a humildade vos impe. O sentimento do dever cumprido vos dar repouso ao esprito e resignao. O corao bate ento melhor, a alma se asserena e o corpo se forra ao desfalecimentos, por isso que o corpo tanto menos forte se sente, quanto mais profundamente golpeado o esprito. - O Esprito de Verdade. (Havre, 1863.)

    Fora da caridade no h salvao (Allan Kardec, in O Evangelho Segundo o Espiritismo cap. XV)

    O de que precisa o Esprito para ser salvo. Parbola do bom samaritano.

    1. Ora, quando o filho do homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, sentar-se- no trono de sua glria; - reunidas diante dele todas as naes, separar uns dos outros, como o pastor separa dos bodes as ovelhas, - e colocar as ovelhas sua direita e os bodes sua esquerda.

  • 9

    Ento, dir o Rei aos que estiverem sua direita: vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino que vos foi preparado desde o princpio do mundo; - porquanto, tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; careci de teto e me hospedastes; - estive nu e me vestistes; achei-me doente e me visitastes; estive preso e me fostes ver.

    Ento, responder-lhe-o os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? - Quando foi que te vimos sem teto e te hospedamos; ou despido e te vestimos? - E quando foi que te soubemos doente ou preso e fomos visitar-te? - O Rei lhes responder: Em verdade vos digo, todas as vezes que isso fizestes a um destes mais pequeninos dos meus irmos, foi a mim mesmo que o fizestes.

    Dir em seguida aos que estiverem sua esquerda: Afastai-vos de mim, malditos; ide para o fogo eterno, que foi preparado para o diabo e seus anjos; - porquanto, tive fome e no me destes de comer, tive sede e no me destes de beber; precisei de teto e no me agasalhastes; estive sem roupa e no me vestistes; estive doente e no crcere e no me visitastes.

    Tambm eles replicaro: Senhor, quando foi que te vimos com fome e no te demos de comer, com sede e no te demos de beber, sem teto ou sem roupa, doente ou preso e no te assistimos? - Ele ento lhes responder: Em verdade vos digo: todas a vezes que faltastes com a assistncia a um destes mais pequenos, deixastes de t-la para comigo mesmo. E esses iro para o suplcio eterno, e os justos para a vida eterna. (S. MATEUS, cap. XXV, vv. 31 a 46.)

    2. Ento, levantando-se, disse-lhe um doutor da lei, para o tentar: Mestre, que preciso fazer para possuir a vida eterna? - Respondeu-lhe Jesus: Que o que est escrito na lei? Que o que ls nela? - Ele respondeu: Amars o Senhor teu Deus de todo o corao, de toda a tua alma, com todas as tuas foras e de todo o teu esprito, e a teu prximo como a ti mesmo. - Disse-lhe Jesus: Respondeste muito bem; faze isso e vivers.

    Mas, o homem, querendo parecer que era um justo, diz a Jesus: Quem o meu prximo? - Jesus, tomando a palavra, lhe diz:

    Um homem, que descia de Jerusalm para Jeric, caiu em poder de ladres, que o despojaram, cobriram de ferimentos e se foram, deixando-o semimorto. Aconteceu em seguida que um sacerdote, descendo pelo mesmo caminho, o viu e passou adiante. - Um levita, que tambm veio quele lugar, tendo-o observado, passou igualmente adiante. - Mas, um samaritano que viajava, chegando ao lugar onde jazia aquele homem e tendo-o visto, foi tocado de compaixo. - Aproximou-se dele, deitou-lhe leo e vinho nas feridas e as pensou; depois, pondo-o no seu cavalo, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele. - No dia seguinte tirou dois denrios e os deu ao hospedeiro, dizendo: Trata muito bem deste homem e tudo o que despenderes a mais, eu te pagarei quando regressar.

    Qual desses trs te parece ter sido o prximo daquele que cara em poder dos ladres? - O doutor respondeu: Aquele que usou de misericrdia para com ele. - Ento, vai, diz Jesus, e faze o mesmo. (S. LUCAS, cap. X, vv. 25 a 37.)

    3. Toda a moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, isto , nas duas virtudes contrrias ao egosmo e ao orgulho. Em todos os seus ensinos, ele aponta essas duas virtudes como sendo as que conduzem eterna felicidade: Bem-aventurados, disse, os pobres de esprito, isto , os humildes, porque deles o reino dos cus; bem-aventurados os que tm puro o corao; bem-aventurados os que so brandos e pacficos; bem-aventurados os que so misericordiosos; amai o vosso prximo como a vs mesmos; fazei aos outros o que querereis vos fizessem; amai os vossos inimigos; perdoai as ofensas, se quiserdes ser perdoados; praticai o bem sem ostentao; julgai-vos a vs mesmos, antes de julgardes os outros. Humildade e caridade, eis o que no cessa de recomendar e o de que d, ele prprio, o exemplo. Orgulho e egosmo, eis o que no se cansa de combater. E no se limita a recomendar a caridade; pe-na claramente e em termos explcitos como condio absoluta da felicidade futura.

    No quadro que traou do juzo final, deve-se, como em muitas outras coisas, separar o que apenas figura, alegoria. A homens como os a quem falava, ainda incapazes de compreender as questes puramente espirituais, tinha ele de apresentar imagens materiais chocantes e prprias a impressionar. Para melhor apreenderem o que dizia, tinha mesmo de no se afastar muito das idias correntes, quanto forma, reservando sempre ao porvir a verdadeira interpretao de suas palavras e dos pontos sobre os quais no podia explicar-se claramente. Mas, ao lado da parte acessria ou figurada do quadro, h uma idia dominante: a da felicidade reservada ao justo e da infelicidade que espera o mau.

    Naquele julgamento supremo, quais os considerandos da sentena? Sobre que se baseia o libelo? Pergunta, porventura, o juiz se o inquirido preencheu tal ou qual formalidade, se observou mais ou menos tal ou qual prtica exterior? No; inquire to-somente de uma coisa: se a caridade foi praticada, e se pronuncia assim: Passai direita, vs que assististes os vossos irmos; passai esquerda, vs que fostes duros para com eles. Informa-se, por acaso,

  • 10 da ortodoxia da f? Faz qualquer distino entre o que cr de um modo e o que cr de outro'? No, pois Jesus coloca o samaritano, considerado hertico, mas que pratica o amor do prximo, acima do ortodoxo que falta com a caridade.

    No considera, portanto, a caridade apenas como uma das condies para a salvao, mas como a condio nica. Se outras houvesse a serem preenchidas, ele as teria declinado. Desde que coloca a caridade em primeiro lugar, que ela implicitamente abrange todas as outras: a humildade, a brandura, a benevolncia, a indulgncia, a justia, etc., e porque a negao absoluta do orgulho e do egosmo.

    O mandamento maior

    4. Mas, os fariseus, tendo sabido que ele tapara a boca aos saduceus, se reuniram; e um deles, que era doutor da lei, foi propor-lhe esta questo, para o tentar: - Mestre, qual o grande mandamento da lei? - Jesus lhe respondeu: Amars o Senhor teu Deus, de todo o teu corao, de toda a tua alma, de todo o teu esprito. - Esse o maior e o primeiro mandamento. - E aqui est o segundo, que semelhante ao primeiro: Amars o teu prximo, como a ti mesmo. - Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos. (S. MATEUS, cap. XXII, vv. 34 a 40.)

    5. Caridade e humildade, tal a senda nica da salvao. Egosmo e orgulho, tal a da perdio. Este princpio se acha formulado nos seguintes precisos termos: "Amars a Deus de toda a tua alma e a teu prximo como a ti mesmo; toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos." E, para que no haja equvoco sobre a interpretao do amor de Deus e do prximo, acrescenta: E aqui est o segundo mandamento que semelhante ao primeiro, isto , que no se pode verdadeiramente amar a Deus sem amar o prximo, nem amar o prximo sem amar a Deus. Logo, tudo o que se faa contra o prximo o mesmo que faz-lo contra Deus. No podendo amar a Deus sem praticar a caridade para com o prximo, todos os deveres do homem se resumem nesta mxima: FORA DA

    Necessidade da caridade, segundo S. Paulo

    6. Ainda quando eu falasse todas as lnguas dos homens e a lngua dos prprios anjos, se eu no tiver caridade, serei como o bronze que soa e um cmbalo que retine; - ainda quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistrios, e tivesse perfeita cincia de todas as coisas; ainda quando tivesse a f possvel, at o ponto de transportar montanhas, se no tiver caridade, nada sou. - E, quando houver distribudo os meus bens para alimentar os pobres e houvesse entregado meu corpo para ser queimado, se no tivesse caridade, tudo isso de nada me serviria.

    A caridade paciente; branda e benfazeja; a caridade no invejosa; no temerria, nem precipitada; no se enche de orgulho; - no desdenhosa; no cuida de seus interesses; no se agasta, nem se azeda com coisa alguma; no suspeita mal; no se rejubila com a injustia, mas se rejubila com a verdade; tudo suporta, tudo cr, tudo espera, tudo sofre.

    Agora, estas trs virtudes: a f, a esperana e a caridade permanecem; mas, dentre elas, a mais excelente a caridade (S. PAULO, 1 Epstola aos Corntios, cap. XIII, vv. 1 a 7 e 13.)

    7. De tal modo compreendeu S. Paulo essa grande verdade, que disse: Quando mesmo eu tivesse a linguagem dos anjos; quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistrios; quando tivesse toda a f possvel, at ao ponto de transportar montanhas, se no tiver caridade, nada sou. Dentre estas trs virtudes: a f, a esperana e a caridade, a mais excelente a caridade. Coloca assim, sem equvoco, a caridade acima at da f. que a caridade est ao alcance de toda gente: do ignorante, como do sbio, do rico, como do pobre, e independe de qualquer crena particular.

    Faz mais: define a verdadeira caridade, mostra-a no s na beneficncia, como tambm no conjunto de todas as qualidades do corao, na bondade e na benevolncia para com o prximo.

    Fora da Igreja no h salvao. Fora da verdade no h salvao

    8. Enquanto a mxima - Fora da caridade no h salvao - assenta num princpio universal e abre a todos os filhos de Deus acesso suprema felicidade, o dogma - Fora da Igreja, no h salvao - se estriba, no na f fundamental em Deus e na imortalidade da alma, f comum a todas as religies, porm numa f especial, em dogmas particulares; exclusivo e absoluto. Longe de unir os filhos de Deus, separa-os; em vez de incit-los ao amor de seus irmos, alimenta e sanciona a irritao entre sectrios dos diferentes cultos que reciprocamente se consideram malditos na eternidade, embora sejam parentes e amigos esses sectrios. Desprezando a grande lei de igualdade perante o tmulo, ele os afasta uns dos outros, at no campo do repouso. A mxima - Fora da caridade no h salvao consagra o princpio da igualdade perante Deus e da liberdade de conscincia. Tendo-a por norma, todos os homens so irmos e, qualquer que seja a maneira por que adorem o Criador, eles se estendem as mos e

  • 11 oram uns pelos outros. Com o dogma - Fora da Igreja no h salvao, anatematizam-se e se perseguem reciprocamente, vivem como inimigos; o pai no pede pelo filho, nem o filho pelo pai, nem o amigo pelo amigo, desde que mutuamente se consideram condenados sem remisso. , pois, um dogma essencialmente contrrio aos ensinamentos do Cristo e lei evanglica.

    9. Fora da verdade no h salvao equivaleria ao Fora da Igreja no h salvao e seria igualmente exclusivo, porquanto nenhuma seita existe que no pretenda ter o privilgio da verdade. Que homem se pode vangloriar de a possuir integral, quando o mbito dos conhecimentos incessantemente se alarga e todos os dias se retificam as idias? A verdade absoluta patrimnio unicamente de Espritos da categoria mais elevada e a Humanidade terrena no poderia pretender possu-la, porque no lhe dado saber tudo. Ela somente pode aspirar a uma verdade relativa e proporcionada ao seu adiantamento. Se Deus houvera feito da posse da verdade absoluta condio expressa da felicidade futura, teria proferido uma sentena de proscrio geral, ao passo que a caridade, mesmo na sua mais ampla acepo, podem todos pratic-la. O Espiritismo, de acordo com o Evangelho, admitindo a salvao para todos, independente de qualquer crena, contanto que a lei de Deus seja observada, no diz: Fora do Espiritismo no h salvao; e, como no pretende ensinar ainda toda a verdade, tambm no diz: Fora da verdade no h salvao, pois que esta mxima separaria em lugar de unir e perpetuaria os antagonismos.

    Instrues dos Espritos Fora da caridade no h salvao

    10. Meus filhos, na mxima: Fora da caridade no h salvao, esto encerrados os destinos dos homens, na Terra e no cu; na Terra, porque sombra desse estandarte eles vivero em paz; no cu, porque os que a houverem praticado acharo graas diante do Senhor. Essa divisa o facho celeste, a luminosa coluna que guia o homem no deserto da vida, encaminhando-o para a Terra da Promisso. Ela brilha no cu, como aurola santa, na fronte dos eleitos, e, na Terra, se acha gravada no corao daqueles a quem Jesus dir: Passai direita, benditos de meu Pai. Reconhec-los-eis pelo perfume de caridade que espalham em torno de si Nada exprime com mais exatido o pensamento de Jesus, nada resume to bem os deveres do homem, como essa mxima de ordem divina. No poderia o Espiritismo provar melhor a sua origem, do que apresentando-a como regra, por isso que um reflexo do mais puro Cristianismo. Levando-a por guia, nunca o homem se transviar. Dedicai-vos, assim, meus amigos, a perscrutar-lhe o sentido profundo e as conseqncias, a descobrir-lhe, por vs mesmos, todas as aplicaes. Submetei todas as vossas aes ao governo da caridade e a conscincia vos responder. No s ela evitar que pratiqueis o mal, como tambm far que pratiqueis o bem, porquanto uma virtude negativa no basta: necessria uma virtude ativa.

    Para fazer-se o bem, mister sempre se torna a ao da vontade; para se no praticar o mal, basta as mais das vezes a inrcia e a despreocupao.

    Meus amigos, agradecei a Deus o haver permitido que pudsseis gozar a luz do Espiritismo. No que somente os que a possuem hajam de ser salvos; que, ajudando-vos a compreender os ensinos do Cristo, ela vos faz melhores cristos. Esforai-vos, pois, para que os vossos irmos, observando-vos, sejam induzidos a reconhecer que verdadeiro esprita e verdadeiro cristo so uma s e a mesma coisa, dado que todos quantos praticam a caridade so discpulos de Jesus, sem embargo da seita a que pertenam. Paulo, o apstolo. (Paris, 1860.)

    Pelas suas obras que se reconhece o cristo (Allan Kardec, in O Evangelho Segundo o Espiritismo cap. XVIII, item 16)

    "Nem todos os que me dizem: Senhor! Senhor! entraro no reino dos cus, mas somente aqueles que fazem a vontade de meu Pai que est nos cus." Escutai essa palavra do Mestre, todos vs que repelis a Doutrina Esprita como obra do demnio. Abri os ouvidos, que chegado o momento de ouvir. Ser bastante trazer a libr do Senhor, para ser-se fiel servidor seu? Bastar dizer:

    "Sou cristo", para que algum seja um seguidor do Cristo? Procurai os verdadeiros cristos e os reconhecereis pelas suas obras. "Uma rvore boa no pode dar maus frutos, nem uma rvore m pode dar frutos bons." - "Toda rvore que no d bons frutos cortada e lanada ao fogo." So do Mestre essas palavras. Discpulos do Cristo, compreendei-as bem! Que frutos deve dar a rvore do Cristianismo, rvore possante, cujos ramos frondosos cobrem com sua sombra uma parte do mundo, mas que ainda no abrigam todos os que se ho de grupar em torno dela? Os da rvore da vida so frutos de vida, de esperana e de f. O Cristianismo, qual o fizeram h muitos sculos, continua a pregar essas virtudes divinas; esfora-se por espalhar seus frutos, mas quo poucos os colhem! A rvore boa sempre, porm maus so os jardineiros. Entenderam de mold-la pelas suas idias; de talh-la de acordo com as suas necessidades; cortaram-na, diminuram-na, mutilaram-na; tomados estreis, seus ramos no do maus frutos, porque nenhuns mais produzem. O viajor sedento, que se detm sob seus galhos procura do fruto da esperana, capaz de lhe restabelecer a fora e a coragem, somente v uma ramaria rida, prenunciando

  • 12 tempestade. Em vo pede ele o fruto de vida rvore da vida; caem-lhe secas as folhas; tanto as remexeu a mo do homem, que as crestou. Abri, pois, os ouvidos e os coraes, meus bem-amados! Cultivai essa rvore da vida, cujos frutos do a vida eterna. Aquele que a plantou vos concita a trat-la com amor, que ainda a vereis dar com abundncia seus frutos divinos. Conservai-a tal como o Cristo vo-la entregou: no a mutileis; ela quer estender a sua sombra imensa sobre o Universo: no lhe corteis os galhos. Seus frutos benfazejos caem abundantes para alimentar o viajor faminto que deseja chegar ao termo da jornada; no amontoeis esses frutos, para os armazenar e deixar apodrecer, a fim de que a ningum sirvam. "Muitos so os chamados e poucos os escolhidos." que h aambarcadores do po da vida, como os h do po material. No sejais do nmero deles; a rvore que d bons frutos tem que os dar para todos. Ide, pois, procurar os que esto famintos; levai-os para debaixo da fronde da rvore e partilhai com eles do abrigo que ela oferece. - "No se colhem uvas nos espinheiros." Meus irmos, afastai-vos dos que vos chamam para vos apresentar as saras do caminho, segui os que vos conduzem sombra da rvore da vida.

    O divino Salvador, o justo por excelncia, disse, e suas palavras no passaro: "Nem todos os que dizem: Senhor! Senhor! entraro no reino dos cus; entraro somente os que fazem a vontade de meu Pai que est nos cus."

    Que o Senhor de bnos vos abenoe; que o Deus de luz vos ilumine; que a rvore da vida vos oferea abundantemente seus frutos! Crede e orai. - Simeo. (Bordus, 1863.)

    Ao chamado do Cristo (Joanna de ngelis, in Dimenses da Verdade)

    Quem examine o programa scio-moral da Terra, apressadamente, tem a impresso de que a grande nave que veleja pelo Infinito segue sem rota, sem timoneiro capaz.

    A misria estampa em toda parte a mscara e o esgar, que a identificam como se estivesse triunfante, soberana invencvel.

    O galope desenfreado do sofrimento lembra fantasmagorias imaginadas por menos exarcebadas. Calamidade, injustia, sensualidade so lugares comuns onde quer que nos encontremos. E diante de tanto desequilbrio, expresses convincentes de honradez esboroam-se ao impacto das

    circunstancias; eloqentes atestados de f esfacelam-se ao contato dos testemunhos; incontestveis servidores do bem debandam ante a avassaladora invaso surgindo o campo ermo, que se afigura domicilio de trasgos que escarnecem, zombeteiros, dos esforos de quantos perseveram...

    Esse o nosso domiclio, enquanto na viagem carnal; esse o solo pantanoso a drenar, a gleba a arrotear, ao chamado do Cristo, cuja voz ressoa na acstica da alma.

    Quem escutou o chamado do Cristo no desfruta de paisagens ridntes coroadas de sol, nem de noites formosas vestidas de estrelas.

    Caminha muitas vezes a ss, na multido, cantando a melopia da tristeza, em trismos de agonias vigorosas. Tem os passos seguidos e, buscando repouso, desperta a cada instante convidado pela aflio. Incompreendido invariavelmente, v os sonhos convertidos em pesadelos. Desejando melhorar a paisagem de sombras, sofre o confronto decepcionante do que faz com o que dizem

    foi feito. Buscando refgio na famlia consangnea sente-se estranho. Abraando a grande famlia humana, v-se renegado. Parece no haver lugar, na Terra, para quem ouviu o chamado dEle. No entanto, imperioso que mantenhas incorruptvel o ideal de amar e servir atendendo-lhe voz. Ningum considerar o teu esforo, mas diante de ti est a lio da semente desconsiderada, consolando-te

    em silncio. Ningum te entender, porm canta ao teu lado o crrego uma mesma balada a conforta-te. Ningum te respeitar, todavia, sofrendo, o gro de trigo fala a mesma linguagem de compreenso. Insta no bem, ouvinte do Cristo, e unge-te de amor pelos homens da Terra que voluteiam sob o comando

    divino para os rumos superiores da vida. No desfaleas nem desesperes.

    * Um dia que no tardar muito, reclinars, cansado, a cabea enovelada pelos problemas e arrebatando de

    aflio, em busca de justo repouso. Repassars as agonias das pelejas e revers as horas idas, em mgico cinemascpio evocativo. Quando as lgrimas brotarem copiosas quais ddivas do solo farto, na primavera do teu corao e escorrerem quente, suave torpor paralisar as atividades do teu corpo suado e vencido, e ento plainar, alm e acima de todas as vicissitudes, renovado e feliz, seguindo para Jesus Cristo, ouvindo o Seu chamado...

  • 13

    A Doutrina Secreta (Leon Denis, in Cristianismo e Espiritismo cap. 4)

    Qual a verdadeira doutrina do Cristo? Os seus princpios essenciais acham-se claramente enunciados no Evangelho. a paternidade universal de Deus e a fraternidade dos homens, com as conseqncias morais que da resultam; a vida imortal a todos franqueada e que a cada um permite em si prprio realizar o reino de Deus, isto , a perfeio, pelo desprendimento dos bens materiais, pelo perdo das injrias e o amor ao prximo.

    Para Jesus, numa s palavra, toda a religio, toda a filosofia consiste no amor: Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam; para

    serdes filhos de vosso Pai que est nos cus, o qual faz erguer-se o seu sol sobre bons e maus, e faz chover sobre justos e injustos. Porque, se no amais seno os que vos amam, que recompensa deveis ter por isso? (Mateus, V, 44 e seguintes.).

    Desse amor o prprio Deus nos d o exemplo, porque seus braos esto sempre abertos para o pecador: Assim, vosso Pai que est nos cus no quer que perea um s desses pequeninos. O sermo da montanha resume, em traos indelveis, o ensino popular de Jesus. Nele expressa a lei moral

    sob uma forma que jamais foi igualada. Os homens a aprendem que no h mais seguros meios de elevao que as virtudes humildes e escondidas. Bem-aventurados os pobres de esprito (isto , os espritos simples e retos), porque deles o reino dos

    cus. Bem-aventurados os que choram, porque sero consolados. Bem-aventurados os que tm fome e sede de justia, porque sero saciados. Bem-aventurados os que so misericordiosos, porque alcanaro misericrdia. Bem-aventurados os limpos de corao, porque esses vero a Deus. (Mateus, V, 1 a 12; Lucas, VI, 20 a 25.)

    O que Jesus quer no um culto faustoso, no umas religies sacerdotais, opulentas de cerimnias e prticas que sufocam o pensamento, no; um culto simples e puro, todo de sentimento, consistindo na relao direta, sem intermedirio, da conscincia humana com Deus, que seu Pai:

    chegado o tempo em que os verdadeiros adoradores ho de adorar o Pai em esprito e verdade, porque tal quer, tambm, sejam os que o adorem. Deus esprito, e em esprito e verdade que devem adorar os que o adoram.

    O ascetismo coisa v. Jesus limita-se a orar e a meditar, nos stios solitrios, nos templos naturais que tm por colunas as montanhas, por cpula a abbada dos cus, e de onde o pensamento mais livremente se eleva ao Criador.

    Aos que imaginam salvar-se por meio do jejum e da abstinncia, diz: No o que entra pela boca o que macula o homem, mas o que por ela sai. Aos rezadores de longas oraes: Vosso Pai sabe do que careceis, antes de lho pedirdes. Ele no exige seno a caridade, a bondade, a simplicidade: No julgueis e no sereis julgados. Perdoai e

    sereis perdoados. Sede misericordiosos como vosso Pai celeste misericordioso. Dar mais doce do que receber. Aquele que se humilha ser exaltado; o que se exalta ser humilhado. Que a tua mo esquerda ignore o que faz a direita, a fim de que tua esmola fique em segredo; e ento teu

    Pai que v no segredo, te retribuir. E tudo se resume nestas palavras de eloqente conciso: Amai o vosso prximo como a vs mesmos e sede perfeitos como vosso Pai celeste perfeito. Nisso se

    encerram toda a lei e os profetas. Sob a suave e meiga palavra de Jesus, toda impregnada do sentimento da natureza, essa doutrina se reveste

    de um encanto irresistvel, penetrante. Ela saturada de terna solicitude pelos fracos e pelos deserdados. a glorificao, a exaltao da pobreza e da simplicidade. Os bens materiais nos tornam escravos; agrilhoam o homem Terra. A riqueza um estorvo; impede os velos da alma e a retm longe do reino de Deus. A renncia, a humildade, desatam esses laos e facilitam a ascenso para a luz.

    Por isso que a doutrina evanglica permaneceu atravs dos sculos como a expresso mxima do espiritualismo, o supremo remdio aos males terrestres, a consolao das almas aflitas nesta travessia da vida, semeada de tantas lgrimas e angstias. ainda ela que faz, a despeito dos elementos estranhos que lhe vieram misturar, toda a grandeza, todo o poder moral do Cristianismo.

    * A doutrina secreta ia mais longe. Sob o vu das parbolas e das fices, ocultava concepes profundas. No

    que se refere a essa imortalidade prometida a todos, definia-lhe as formas afirmando a sucesso das existncias terrestres, nas quais a alma, reencarnada em novos corpos, sofreria as conseqncias de suas vidas anteriores e prepararia as condies do seu destino futuro. Ensinava a pluralidade dos mundos habitados, as alternaes de vida

  • 14 de cada ser: no mundo terrestre, em que ele reaparece pelo nascimento, no mundo espiritual, ao qual regressa pela morte, colhendo em um e outro desses meios os frutos bons ou maus do seu passado. Ensinava a ntima ligao e a solidariedade desses dois mundos e, por conseguinte, a comunicao possvel do homem com os espritos dos mortos que povoam o espao ilimitado.

    Da o amor ativo, no somente pelos que sofrem na esfera da existncia terrestre, mas tambm pelas almas que em torno de ns vagueiam atormentadas por dolorosas recordaes. Da a dedicao que se devem as duas humanidades, visvel e invisvel, a lei de fraternidade na vida e na morte e a celebrao do que chamavam os mistrios, a comunho pelo pensamento e pelo corao com os que, Espritos bons ou medocres, inferiores ou elevados, compem esse mundo invisvel que nos rodeia, e sobre o qual se abrem esses dois prticos por onde todos os seres alternativamente passam: o bero e o tmulo.

    A lei da reencarnao acha-se indicada em muitas passagens do Evangelho e deve ser considerada sob dois aspectos diferentes: volta carne, para os Espritos em via de aperfeioamento; a reencarnao dos Espritos enviados em misso Terra.

    Em sua conversao com Nicodemos, Jesus assim se exprime: Em verdade te digo que, se algum no renascer de novo, no poder ver o reino de Deus. Objeta-lhe

    Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo j velho? Jesus responde: Em verdade te digo que, se um homem no renasce da gua e do esprito, no pode entrar no reino de Deus. O que nascido da carne carne, e o que nascido do esprito esprito. No te maravilhes de te dizer: importa-vos nascer outra vez. O vento sopra onde quer e tu ouves a sua voz, mas no sabes de onde vem nem para onde vai. Assim todo aquele que nascido do esprito. (Joo, III, 3 a 8.)

    Jesus acrescenta estas palavras significativas: Tu s mestre em Israel e no sabes estas coisas?. O que demonstra que no se tratava do batismo, que era conhecido pelos judeus e por Nicodemos, mas

    precisamente da reencarnao j ensinada no Zohar, livro sagrado dos hebreus. Esse vento, ou esse esprito que sopra onde lhe apraz, a alma que escolhe novo corpo, nova morada, sem

    que os homens saibam de onde vem, nem para onde vai. a nica explicao satisfatria. Na Cabala hebraica, a gua era a matria primordial, o elemento frutificado. Quanto expresso Esprito

    Santo, que se acha no texto e que o torna incompreensvel, preciso notar que a palavra santo nele no se encontra em sua origem e que foi a introduzida muito tempo depois, como se deu em vrios outros casos. preciso, por conseguinte, ler: renascer da matria e do esprito.

    Noutra ocasio, a propsito de um cego de nascena, encontrado de passagem, os discpulos perguntam a Jesus:

    Mestre, quem foi que pecou? Foi este homem, ou seu pai, ou sua me, para que ele tenha nascido cego? (Joo, IX, 1 e 2).

    A pergunta indica, antes de tudo, que os discpulos atribuam a enfermidade do cego a uma expiao. Em seu pensamento, a falta precedera a punio; tinha sido a sua causa primordial. a lei da conseqncia dos atos, fixando as condies do destino. Trata-se a de um cego de nascena; a falta no se pode explicar seno por uma existncia anterior.

    Da essa idia da penitncia, que reaparece a cada momento nas Escrituras: Fazei penitncia, dizem elas constantemente, isto , praticai a reparao, que o fim da vossa nova existncia; retificai vosso passado, espiritualizai-vos, porque no saireis do domnio terrestre, do crculo das provaes, seno depois de haverdes pagado at o ltimo ceitil. (Mateus, V, 26).

    Em vo tm procurado os telogos explicar doutro modo, que no pela reencarnao, essa passagem do Evangelho. Chegaram a raciocnios, pelo menos, estranhos. Assim foi que o snodo de Amsterd no pde sair-se da dificuldade seno com esta declarao: o cego de nascena havia pecado no seio de sua me.

    Era tambm opinio corrente, nessa poca, que Espritos eminentes vinham, em novas encarnaes, continuar, concluir misses interrompidas pela morte. Elias, por exemplo, voltara Terra na pessoa de Joo Batista. Jesus o afirma nestes termos, dirigindo-se multido:

    Que saste a ver? Um profeta? Sim, eu vo-lo declaro, e mais que um profeta. E, se o quereis compreender, ele o prprio Elias que devia vir. O que tem ouvidos para ouvir, oua. (Mateus, XI, 9, 14 e 15)

    Mais tarde, depois da decapitao de Joo Batista, ele o repete aos discpulos: E seus discpulos o interrogam, dizendo: Porque, pois, dizem os escribas que importa vir primeiramente

    Elias? Ele, respondendo, lhes disse: Elias, certamente, devia vir e restabelecer todas as coisas. Mas eu vo-lo digo: Elias j veio e eles no o

    conheceram, antes lhe fizeram quanto quiseram. Ento, conheceram seus discpulos que de Joo Batista que ele lhes falara. (Mateus, XVII, 10, 11, 12 e 15).

  • 15

    Assim, para Jesus, como para os discpulos, Elias e Joo Batista eram a mesma e nica individualidade. Ora, tendo essa individualidade revestido sucessivamente dois corpos, semelhante fato no se pode explicar seno pela lei da reencarnao.

    Numa circunstncia memorvel, Jesus pergunta a seus discpulos: Que dizem do filho do homem? E eles lhe respondem: Uns dizem: Joo Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas. (Mateus, XVI, 13, 14;

    Marcos, VIII, 28) Jesus no protesta contra essa opinio como doutrina, do mesmo modo que no protestara no caso do cego

    de nascena. Ao demais, a idia da pluralidade das vidas, dos sucessivos graus a percorrer para se elevar perfeio, no se acha implicitamente contida nestas palavras memorveis: Sede perfeitos como vosso Pai celeste perfeito. Como poderia a alma humana alcanar esse estado de perfeio em uma nica existncia?

    De novo encontramos a doutrina secreta, dissimulada sob vus mais ou menos transparentes, nas obras dos apstolos e dos padres da Igreja dos primeiros sculos. No podiam estes dela falar abertamente. Da as obscuridades da sua linguagem.

    Aos primeiros fiis escrevia Barnab: Tanto quanto pude, acredito ter-me explicado com simplicidade e nada haver omitido do que pode

    contribuir para vossa instruo e salvao, no que se refere s coisas presentes, porque, se vos escrevesse relativamente s coisas futuras, no compreendereis, porque elas se acham expostas em parbolas. (Epstola catlica de So Barnab, XVII, l, 5).

    Em observncia a esta regra que um discpulo de So Paulo, Hermas, descreve a lei das reencarnaes sob a figura de pedras brancas, quadradas e lapidadas, tiradas da gua para servirem na construo de um edifcio espiritual. (Livro do Pastor, III, XVI, 3, 5).

    Porque foram essas pedras tiradas de um lugar profundo e em seguida empregadas na estrutura dessa torre, pois que j estavam animadas pelo esprito? Era necessrio, diz-me o senhor, que, antes de serem admitidas no edifcio, fossem trabalhadas por meio da gua. No poderiam entrar no reino de Deus por outro modo que no fosse despojando-se da imperfeio da sua primeira vida.

    Evidentemente essas pedras so as almas dos homens; as guas so as regies obscuras, inferiores, as vidas materiais, vidas de dor e provao, durante as quais as almas so lapidadas, polidas, lentamente preparadas, a fim de tomarem lugar um dia no edifcio da vida superior, da vida celeste. H nisso um smbolo perfeito da reencarnao, cuja idia era ainda admitida no sculo III e divulgada entre os cristos.

    Dentre os padres da Igreja, Orgenes um dos que mais eloqentemente se pronunciaram a favor da pluralidade das existncias. Respeitvel a sua autoridade. So Jernimo o considera, depois dos apstolos, o grande mestre da Igreja, verdade diz ele que s a ignorncia poderia negar. S. Jernimo vota tal admirao a Orgenes que assumiria, escreve, todas as calnias de que ele foi alvo, uma vez que, por esse preo, ele, Jernimo, pudesse ter a sua profunda cincia das Escrituras.

    Em seu livro clebre, Dos Princpios, Orgenes desenvolve os mais vigorosos argumentos que mostram, na preexistncia e sobrevivncia das almas noutros corpos, em uma palavra, na sucesso das vidas, o corretivo necessrio aparente desigualdade das condies humanas, uma compensao ao mal fsico, como ao sofrimento moral que parece reinarem no mundo, se no se admite mais que uma nica existncia terrestre para cada alma. Orgenes erra, todavia, num ponto. quando supe que a unio do esprito ao corpo sempre uma punio. Ele perde de vista a necessidade da educao das almas e a laboriosa realizao do progresso.

    Errnea opinio se introduziu em muitos centros, a respeito das doutrinas de Orgenes, em geral, e da pluralidade das existncias em particular, que pretendem ter sido condenadas, primeiro pelo conclio de Calcednia e mais tarde pelo quinto conclio de Constantinopla. Ora, se remontamos s fontes, reconhecemos que esses conclios repeliram, no a crena na pluralidade das existncias, mas simplesmente a preexistncia da alma, tal como a ensinava Orgenes, sob esta feio particular: que os homens eram anjos decados e que o ponto de partida tinha sido para todos a natureza anglica.

    Na realidade, a questo da pluralidade das existncias da alma jamais foi resolvida pelos conclios. Permaneceu aberta s resolues da Igreja no futuro e esse um ponto que se faz preciso estabelecer.

    Como a lei dos renascimentos, a pluralidade dos mundos acha-se indicada no Evangelho, em forma de parbola:

    H muitas moradas na casa de meu Pai. Eu vou a preparar-vos o lugar e, depois que tiver ido e vos tiver preparado o lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que onde eu estiver, vs estejais tambm. (Joo, XIV, 2 e 3)

  • 16

    A casa do Pai o infinito cu; as moradas prometidas so os mundos que percorrem o espao, esferas de luz ao p das quais a nossa pobre Terra no mais que mesquinho e obscuro planeta. para esses mundos que Jesus guiar as almas que se ligarem a ele e sua doutrina, mundos que lhe so familiares e onde nos saber preparar um lugar, conforme os nossos mritos.

    Orgenes comenta essas palavras em termos positivos: O Senhor faz aluso s diferentes estaes que devem as almas ocupar, depois que se houverem despojado

    dos seus corpos atuais e se tiverem revestido de outros novos.

    Seguir Jesus (Amlia Rodrigues, in Luz do Mundo cap. 15)

    Aqueles eram dias de intenso jbilo. Bnos de esperanas vrias caam abundantes sobre aqueles coraes.

    O Grupo crescia consideravelmente. Mulheres abnegadas desdobravam cuidados, homens diligentes formulavam planos e jovens fascinados pelas notcias comovedoras deixavam-se arrastar pelas expectativas enobrecedoras dos dias do futuro.

    As jornadas se faziam entre alegres promessas de xito, em emocionantes realizaes. Para trs ficavam os receios e as inquietaes. No obstante as intrigas polticas, os cimes religiosos, as

    problemticas de cada esprito, uma harmonia generalizada identificava os espritos reunidos em torno do Rabi arrebatador.

    As Suas lies eram recebidas como concesses divinas que penetravam o mago dos sentimentos e descortinavam panoramas dantes jamais sonhados.

    Quando marchavam pelos imensos caminhos na sementeira do amor, o ritmo de todos formava uma cantilena tocante que parecia ressoar alm dos limites da terra que lhes era cara. Sentiam-se dominados por estranho e singular entusiasmo. A Presena dava-lhes desconhecido poder e todos pareciam dispostos a qualquer trabalho, a indistinta batalha que estrugisse nos diversos stios.

    Em conversas ntimas discutiam as razes porque os dominava o estranho magnetismo do Mestre. Conquanto o Seu amor constante e a ternura com que os recebia, no poucas vezes revelava-se austero, enrgico. Era um Comandante que os conduzia com segurana, assumindo responsabilidade por todos os atos. Jamais negaceava a Verdade e nunca deixava perder a oportunidade de ensinar com a altissonante linguagem do exemplo.

    Era, pois, uma perene primavera de emoes a Sua Presena, a Sua mensagem... * * *

    Caminhavam, e havia msica leve no ar, ciciada pela ramagem do arvoredo suavemente sacudido pelo vento passante.

    Mestre, disse um deles, e a voz se embargou pela emoo que lhe estrugia no peito eu seguirei contigo aonde quer que fores...1

    Houve um "stacatto".

    O envolvente olhar do Senhor caiu-lhe, enquanto respondia, e ele se fez ainda mais comovido. "As raposas tm covis e as aves do cu tm seus ninhos, mas o Filho do Homem no tem onde reclinar a

    cabea..." O silncio se fez espontneo. Seguir Jesus... Bandoleiros dormem em palcios e meretrizes se prostram sobre leitos de marfim e mogno, acolchoados de

    veludos e sedas.. . Saltimbancos se fazem onzenrios e mentirosos triunfam na abastana. Homicidas amparados pela habilidade de juzes e advogados infiis Justia erguem opulentos

    apartamentos para o repouso, e "cabos de guerra" condecorados pelo sangue dos irmos conseguem monumentais residncias para viver.

    A astcia consegue o poder e a impiedade produz a dominao... ... O Filho do Homem no tem uma pedra para reclinar a cabea. Sua a Casa Universal: ilimitada, indimensional. Segui-Lo renunciar s vs ambies da posse, das quimricas aquisies que no transpem o tmulo.

    Permutar os limites do que se toca pelo horizonte sem-fim das realizaes espirituais. ter sem deter.

    1 Mateus: 8-1 9 a 22; Lucas: 9-57 a 62. Nota da Autora espiritual.

  • 17

    Possuindo sem dominar. Ter os cus como teto, num zimbrio brochado de estrelas como gemas engastadas num dossel de

    insupervel beleza. No ter nada e tudo possuir. Sem amanh, num perene hoje a perder-se na verticalidade do amor. "Seguir-te-ei onde quer que fores", dissera o discpulo. Ignorava, porm, que o termo terreno para Ele era uma cruz de hediondo horror, que se transformaria

    depois em florescente caminho de esperanas para os caminhantes do futuro. * * *

    Como a jornada se aureolava de sol e o cntico da Natureza enchia de modulaes o dia, um outro acercou-se do Mestre e tomado de singular entusiasmo, aps o silncio extenuante que se fizera, abordou:

    Sim, seguirei contigo, sorriu algo encabulado e ao mesmo tempo jubiloso. Mas, deixa-me primeiro sepultar o meu pai, que est morto.

    Morte e vida. Morrer comear a viver e no raro viver mergulhar nas sombras da morte... Havia um cadver sua espera e a vida o chamava ao. O corpo querido que fora prognie do seu corpo, agora em jornada de desagregao molecular e aquele

    esprito igualmente amado, que o convocava para a perene imortalidade. O Mestre estugou o passo e fitou-o. O olhar transparente, desnudando o nefito, reconfortava-o. Um oceano de paz em duas bagas de viso

    clarificadora. "Deixa aos mortos falou Ele com nobre energia o cuidado de enterrar os seus mortos." Comeou a reflexionar enquanto O seguia. Muitos se afadigam pelas coisas mortas. Os corpos esto vibrando, mas so a morte, pois que passam. Carga para a marcha da evoluo, projetam

    sombra e ensejam luz enquanto avanam. Depois... H tantos agregados s sombras, aos interesses escusos: que estes sepultem os mortos!

    Vivos para a Verdade. Mortos para a Vida. Para viver era-lhe necessrio trocar a pesada canga da ambio e da limitao do corpo para fruir as

    legtimas aspiraes do ser. Dexai aos mortos...

    * * * A cidade est vista. O grupo exulta de raro contentamento. Novas experincias e novas lies so prenunciadas. O Mestre exultante avana e outro, quase tmido, fala, resfolegante: Tambm eu seguirei contigo. Permite-me, porm, que me v despedir dos meus familiares. Foi repentino. As palavras bordavam os lbios do Senhor como flores sublimes desabrochando em gleba rica

    e risonha. "Aquele que toma da charrua Ele falou docemente e olha para trs no digno do Reino dos

    Cus..." O campo a est eriado de abrolhos e rico de dificuldades esperando os instrumentos que lhe revolvam os

    empeos e os afastem. A terra dos coraes se apresenta vencida pela erva daninha da m vontade e do pessimismo. O agricultor que sulca o solo e o deixa, fita-lo- mais tarde infelicitado pela invaso de maior quantidade de

    plantas perniciosas. Os sulcos ressecam ao sol ou se transformam em pntano sob chuva, ao abandono... Tomar a charrua e avanar. Indeciso insegurana. Medo significa ignorncia. Timidez representa experincia em comeo. Dubiedade traduz pusilanimidade. Deciso firme e marcha segura no bem manifestao de esprito que se encontrou a si mesmo e sabe o

    que deseja, como quer e para que quer: no olha para trs! Seguirei contigo Mestre disseram todos. Apresentavam, porm, condicionais, justificavam indecises. At hoje, h os que pretendem seguir Jesus. Avancemos, porm, seguindo alm do pretender. Sigamos j.

  • 18

    Servo de todos (Amlia Rodrigues, in Luz do Mundo cap. 18)

    A imensa plancie se desdobra entre os contrafortes dos outeiros. Ao longe, o "primognito dos montes" da Palestina o Hermon ostenta o cabeo aureolado de sol, e, a

    regular distncia, o Tabor, parecendo uma sentinela natural, altaneira, defendendo a imensa plancie, onde a balsamina medra em abundncia e os tamarindeiros se arrebentam em flores...

    Simultaneamente ali est a plancie dos homens na qual se misturam as paixes e se decompem as esperanas.

    Plancie da Terra e plancie dos coraes. Naquela se misturam os cadveres e as moscas entre crregos que cantam e flores que desatam aromas.

    Nesta as inquietaes e desesperos, fecundando sorrisos e edificaes. Na terra os homens... Nos homens o barro frgil da terra...

    * * * A plancie dos espritos se perde de vista. A multido se agita e percorre os caminhos. Longas so as estradas a vencer. Dia de sol e cu transparente. A leve brisa murmura uma doce msica no arvoredo, carreando ondas de

    suave perfume. A Sua figura um desafio desafio de amor! Mais do que um estico, porque faz do sofrimento um meio

    de atingir Deus e no o fim precpuo do Seu ministrio, Ele parece penetrar no ddalo de todas as solicitudes humanas.

    Pairando na face o tnue vu de singular melancolia, Seus olhos se transformam em duas estrelas reluzentes.

    Que vnheis discutindo pelos caminhos? indagou. A voz pausada possua um tom de reproche melanclico.

    Vivia com aqueles companheiros, sentia suas aspiraes, participava das suas dores, falava-lhes do Reino e das suas realizaes e eles, no entanto, continuavam esvaziados de ideal. Fizera-se igual sem participar das suas querelas, testemunhando a nobreza da Sua compreenso permanente e ajudando-os, no obstante se demoravam trfegos, levianos...

    Que vnheis discutindo pelo caminho? A indagao os surpreendera, crianas espirituais, disputadores da iluso...

    * * * Eles vinham joviais e alegres. Uma festa nalma cantava jbilos inesperados. O dia de sol, a transparncia do

    ar, o azul do cu, o frescor daquela hora matinal, as recordaes dos acontecimentos ltimos, no alto Tabor e em baixo, ao lado do epilptico, as exaltaes da massa j saciada nas primeiras tentativas, que no suportavam sopitar as inquiries que desde h algum tempo bailavam nas suas mentes.

    Quem dentre ns ser o maior, no conceito do Rabi? Qual ser o maior no Reino dos Cus?2

    A pergunta espocou espontnea, natural, inocente...

    Estugaram o passo e se entreolharam... Quem seria realmente o maior dentre todos? pensaram. E como se o assunto no merecesse maiores consideraes um silncio incomodo se abateu sobre o grupo. No ntimo, porm, cada um se exalta e sorri emocionado, meneando a cabea em assentimento, como se estivesse a ouvir o Mestre gentil destacar o mais amado, o mais relevante claro, que cada um a si se atribui o mrito da escolha.

    As pedras do solo ao atrito com as alpercatas rolam, produzem caracterstico rudo e a marcha prossegue. Eu, referiu-se Judas sem dvida gozo da relevante confiana do Amigo. A mim me foi entregue a

    bolsa da Comunidade, num atestado inequvoco de considerao. No receio, por isso, ser, seno o maior, um dos maiores...

    Sorriu e cofiou a barba, fitando os companheiros extremunhados. Sou austero apostrofou Tiago, Maior. E o Mestre nunca deixou de me reservar Suas confidncias,

    expressivas e nobres. Convida-me, no poucas vezes, a colquios longos, narrando aos meus o que outros ouvidos no podem escutar...

    Tom, o Ddimo, verberando a prospia dos companheiros, atroou:

    2 Mateus 18: 1 a 6; Marcos 9: 33 a 37; Lucas 9: 46 a 48. Nota da Autora espiritual

  • 19

    E Simo Pedro? No tem sido Ele o distinguido com maior considerao? No a sua a casa elegida para as reunies e os estudos dos planos futuros? No esteve ele, tambm, no Tabor, como testemunha? Eu desconfio muito que no estaria mal situado na opinio do Senhor...

    Joo, todavia, repousa no seu peito aventou Bartolomeu. o mais jovem de todos ns, carinhosamente tratado pela ternura do Embaixador Celeste. Talvez no tenha ainda toda a inteireza exigvel para continuar a Obra ora encetada, no obstante...

    Mateus Levi, convm ressalvar, afirmou Pedro, algo inquieto o mais erudito do grupo. Somos pescadores ignorantes, ele, todavia, l e escreve, hbil na arte das letras e da convivncia com as leis. Embora o seu silncio...

    No concordo! bradou Judas... A discusso se fez acalorada e por pouco o pugilato infeliz no perturbou a unio dos coraes chamados ao

    amor, concrdia, paz... Que vnheis discutindo pelo caminho? eis a indagao do Senhor. "Quereis saber quem dentre vs o maior no Reino dos Cus. Eu vos digo: aquele que se fizer o menor. "O responsvel do grupo o servidor de todos. O comandante o colaborador do grupo. O chefe o

    subalterno das necessidades dos servidores. "Servo dos servos. "No se pertence nem se permite repouso. "Renuncia ao nome e paz, alegria e prpria opinio. "Zeloso pelo bem-estar de todos magoado por uns e outros, por todos incompreendido? "Quando ajuda sofre e sofre porque no pode ajudar e todos o espezinham. Ferem-no e buscam--no,

    traem-no e sorriem para ele servo de todos! "O maior se apaga servindo. "Apontado, ningum cr nele, subestimam-no. No merece considerao e assim paira naturalmente

    inatingido, sereno no dever ntimo, respeitado por si mesmo: o maior dentre todos!" Os invigilantes recordam, ento, o pedido de Salom, a imprudente e a precipitada esposa de Zebedeu, que

    fora solicitar-Lhe colocar os dois filhos, um direita outro esquerda do Seu trono, quando fosse a hora do triunfo. No esqueceriam a resposta pausada e triste com que Ele elucidara a ambiciosa me: " necessrio saber se eles estaro dispostos a sorver a taa da amargura at a ltima gota respondera.

    Quanto, porm, a coloc-los um minha direita e outro minha esquerda, isto no me compete..." Houve um silncio. De cabelos encaracolados, passou grrula criana de sorriso em flor. O mestre, tomando-a, dela fez o seu modelo. "Aquele que se fizer semelhante a um menino este penetrar no Reino de Deus." Os pequenos e claros olhos

    cheios de brilho do infante refletem pureza integral. Ser adulto, com alma de criana, sem as mazelas da idade adulta. Envelhecer e permanecer puro sem malcia, sem impiedade, sem mgoa, jovial inocente como uma

    criana na quadra primaveril. O maior de todos o mais afvel, o que mais se dedica e serve. Servo de todos e de todos amigo, no

    escolhendo misteres para ajudar. H os que so os maiores na iluso e no engodo e sofrem a febre da ambio e da loucura. Grandes, o mundo sempre os teve, com a alma enferma e mesquinha. Pequenos nas grandes coisas e grandes nas tarefas insignificantes. Apequenar-se na grandeza para glorificar-

    se na pequenez. Que vnheis discutindo pelo caminho? Seja, o que deseja o destaque, o servo de todos; faa-se o menor. Menor no orgulho. Maior na abnegao,

    na renncia. Maior menor de todos, como Ele se revelara.

    O Reino (Joana de Angelis, in Jesus e o Evangelho cap. 21) Evangelho Segundo o espiritismo Cap.II item 2

    O meu reino no e deste mundo. S. Joo, cap. XVIII, v. 36. O mundo, examinado sob a tica teolgica a luz da psicologia profunda, um educandrio de

    desenvolvimento dos recursos espirituais do ser em trnsito para o reino dos cus.

  • 20

    Do ponto de vista teolgico ancestral, e possuidor de um significado secundrio e perturbador para o Esprito, que o deve desprezar e mesmo odi-lo.

    Essa viso originada no Cristianismo primitivo, encontrou, na ignorncia medieval, o seu apogeu, estimulando os crentes a renunci-lo, deixando o corpo consumir-se pelas enfermidades degenerativas e pelo abandono a que era relegado como passaporte para a glria celeste.

    A medida que a sombra coletiva, no seu carter universalista, comeou a dissipar-se em razo dos avanos do conhecimento, a dicotomia em tomo do mundo e do Reino deixou de ser separada por um imenso abismo, graas a ponte da lgica e da razo que foi colocada entre as duas bordas, facilitando a comunicao, o acesso de quem desejasse transferir-se de um para o outro lado.

    Fosse o mundo apenas um vale de lgrimas, ou a regio de dares infernais, defrontaramos um absurdo tico, ao analisarmos a Divindade com todos os atributos da Perfeio, atirando criaturas psicologicamente infantis e desequilibradas em uma experincia impossvel de ser vivenciada com dignidade e elevao.

    Quaisquer excees que ocorressem, se apresentariam como portadoras do transtorno masoquista, que haviam elegido a desdita e o infortnio, a fim de alcanarem a glria como compensao pelas dores sofridas. Seria uma conquista difcil de ser conseguida pelo ser humano, constituindo um paradoxo na rea da razo e do bom senso, face ao impositivo de que o sofrimento e o caminho nico para facultar o equilbrio e jbilo.

    Isso constituiria a morte do amor, o aniquilamento da esperana e a destruio da caridade. Em nenhum momento, o Homem-Jesus anuiu com essa ideia ou fez algum pronunciamento que pudesse dar

    validade a esse conceito absurdo e cruel, desnaturando a magnanimidade de Deus. O mundo tem as suas caractersticas e legislao, condutas e tica ainda imperfeitas, certamente, mas que

    se aprimoram a medida que o ser humano se aperfeioa e adquire equidade, enobrecimento. Eleger a Deus antes que ao mundo, ressaltam inmeras passagens neotestamentrias, sem que isso

    signifique detestar um a beneficio do outro. Para que houvesse esse procedimento evolutivo e qualitativamente ocorressem transformaes incessantes,

    Jesus veio viver nele, participar das suas conjunturas, abenoar as suas paisagens, ensinando como transformar os fatos constritores, limtrofes, em linhas direcionais para o bem, ante a inevitabilidade do fenmeno da morte fsica.

    A Sua e uma doutrina toda alicerada nas expresses imortalistas, na vida futura que a todos aguarda, propiciando a conquista desse desiderato mediante a autotransformao, a elevao de propsitos, a eleio de metas significativas e profundas.

    Jesus jamais se escusou de participar do convvio social conforme as regras do mundo, e quando no foi recebido conforme os preceitos legais na casa de Simo, o fariseu, que o convidara para um almoo, censurou essa conduta ignbil, exaltando a mulher que abandonava a sombra e sublimava a libido pervertida, lavando-Lhe os ps e os enxugando com os seus cabelos...

    Igualmente aquiesceu jovialmente em receber Nicodemos, que era doutor da Lei e autoridade do Sindrio, para uma entrevista, desvelando-Ihe a incomparvel Lei dos renascimentos corporais como necessrios para entrar no reino dos Cus, e assim integrar-se no concerto csmico.

    Visitou com alegria mais de uma vez os samaritanos vitimados pelos preconceitos dos judeus, e, por sua vez, reacionrios aqueles, divulgando nos seus stios a estratgia para a felicidade na vida espiritual, que a verdadeira.

    Tomou parte da sua a famlia de Lazaro, da Betnia, aceitando as gentilezas de Maria e advertindo com bonomia a preocupada Marta.

    Em momento nenhum levantou Sua voz para maldizer o mundo, para conden-Io, antes propunha respeito e considerao pela sua estrutura conforme Ele prprio se comportava, comedido e afvel.

    Mas que O Seu reino no era deste mundo transitrio, relativo, material, e por definitivo, uma grande verdade. Ele viera para que os homens conhecessem a Realidade, que de origem pastoril e nmade, no tinham, ao tempo de Moises, condio para entend-Ia, necessitando antes do rigor de leis severas, a fim de comportar-se com equilbrio aps sucessivos perodos de escravido, nos quais amolentaram o carter, a conduta, a existncia sem ideal de crescimento e dignificao.

    Na viso da psicologia profunda, embora Ele se referisse as Esferas de onde procedia, O Seu reino tambm eram as paisagens e regies do sentimento, onde se pudessem estabelecer as bases da fraternidade e o amor unisse todos os indivduos como irmos, conquista primordial para a travessia pela ponte metafsica do mundo terrestre para aquele que e de Deus e nos aguarda a todos.

    Humanizado, Ele enfrentava os desafios e compreendia a sombra que pairava sobre o discernimento das pessoas, qual ainda ocorre na atualidade expressivamente.

    A ignorncia da realidade predomina nos jogos dos interesses servis, deixando sempre os seus ulicos profundamente frustrados por no encontrarem neles tudo quanto crem necessitar para estarem em harmonia.

  • 21

    Essa busca de coisa nenhuma, a que se atribui demasiado valor, sempre conduz a solido, ao desespero, ao vazio existencial, perturbando as melhores aspiraes de beleza e de realizao pessoal.

    No foram poucos os indivduos que desejavam instalar aqueIe reino por Ele anunciado no prprio corao. Fascinavam-se com a Sua eloqncia, com a lgica da proposta libertadora e logo recuavam, ante um mas, que abria condio para optar pelos interesses das paixes a que estavam acostumados, iludindo-se quanto a improvveis possibilidades de retornarem ao Seu convvio.

    Um jovem queria segui-IO e era rico. Sensibilizado, afirmou que deixaria tudo e at mesmo daria os seus bens aos pobres pela alegria de o acompanhar, mas, naquele momento, tinha outros compromissos que pretendia atender, aps os quais se resolveria pelo que fazer corretamente. E se foi...

    Outro moo sintonizou com o Seu chamado, experimentou a sensao indizvel da Sua presena harmnica, mas, seu pai havia morrido e ele estava obrigado a sepult-Io, escamoteando o motivo real, que era receber a herana e tambm se foi...

    Dez leprosos haviam recebido O Seu aval para a recuperao orgnica, e seguiram jubilosos, cantando hosanas, mas, s um voltou para agradecer, e no se sabe se ingressou nas fileiras da Boa Nova, porque outros objetivos o esperavam. E tambm se foi...

    A multido que O exaltou no momento da entrada triunfal em Jerusalm, desapareceu aos primeiros sinais de luta, abandonando o entusiasmo e os pIanos acalentados, mas, anelavam por coro-lO seu rei. E se foram...

    ... E o Seu reino no e deste mundo, onde os homens se transformam em chacais para tripudiarem e disputarem as carnes dilaceradas e em decomposio das presas que foram vencidas.

    O mas, em relao a Jesus, predomnio da sombra que paira nessa demorada infncia psicolgica dos indivduos como pessoas e das massas como grupamentos.

    Esse mas foi utilizado contra Ele pelos seus argutos e astutos adversrios, que O admiravam, mas O invejavam, assacando ento calnias odientas, informando que Ele era representante de Satans ante a impossibilidade de realizarem o que Ele fazia.

    Suas palavras eram sabias, todos as reconheciam assim, mas, o despeito e a sordidez moral, levava-os a deforma-Ias com declaraes de que no correspondiam a tradio nem ao orgulho da raa, que desprezava os gentios, todos os no judeus. E Ele era judeu... Assim mesmo o crucificaram tornados pela sombra coletiva neles dominante.

    Ele conhecia Herodes e Pilatos, Anas e Caifas, tteres do povo e dominadores de um dia no mundo que lhes parecia pertencer por um pouco, mas que perderiam pelo exlio, pela desonra poltica, pela morte, enquanto Ele O vivenciara com grandeza moral, a fim de alar-se ao reino dos Cus que, sem dvida, comea aqui neste mundo.

    A psicologia profunda, metodolgica e analtica, v Jesus, O Homem, como triunfador, tirando dEle o que a ingenuidade cultural dos primeiros tempos, havia-Lhe atribudo, como sendo

    Deus, Seu filho Unignito, para situ-lO no nobre lugar de Conquistador, que enfrentou todos os desafios e os venceu com afabilidade e energia, na Sua realeza moral, porque viera para lanar o hfen de luz entre as sombras do mundo e as Esferas de incomparvel claridade.

    ... E Ele respondeu a Pilatos: - O meu reino no e deste mundo, pondo-o ao alcance de todos aqueles que O desejem alcanar, havendo nascido na Terra, para dar O Seu testemunho.

    Jesus, o Pedagogo da Humanidade (Dora Incontri, in A Educao Segundo o Espiritismo)

    Introduo

    Jesus o nosso modelo moral por excelncia. Destitudo de todos apetrechos mtiCOs com que os sculos o enfeitaram, ele reaparece, luz do Espiritismo, na sua grandeza de Esprito Puro, que veio Terra para nos mostrar o caminho da evoluo. Surge aos nossos olhos no mais como Rei, Salvador, segunda pessoa de uma trindade irracional, mas como Irmo mais adiantado, Esprito perfeito, com o nico ttulo que aceitou em vida: o de Mestre. E Mestre Jesus da humanidade. Ele o Pedagogo da nossa Educao espiritual. Professor das almas matriculadas na escola da Terra, Ele representa o "caminho, a verdade e a vida" para nosso progresso.

    Por isso, se quisermos elevar a nossa compreenso ao exemplo mximo de educador, temos de meditar na vida e na personalidade de Jesus de Nazar. Os maiores educadores foram os que tentaram imit-lo e seguiram seus ensinamentos. Pestalozzi o amava ternamente, Montessori o cita em cada texto seu, Comenius procurava servi-lo, Bach o louvava pela vida e pela msica, Eurpedes era seu discpulo to fiel que recebeu sua visita espiritual, Gandhi se inspirava nele e Kardec nos deu a chave para melhor compreend-lo, liberto dos dogmas irracionais.

    Por mais se rebelem aqueles que tm dificuldades em aceitar o Cristianismo, que por orgulho ou m f gostariam de colocar Jesus no mesmo nvel da massa humana ou apenas igual-lo a outros proclamadores da Verdade indiscutvel que Cristo foi o padro mais perfeito de moralidade, de amor e de sacrifcio e que os Espritos

  • 22 elevados que o sucederam a ele se ligaram para transcenderem a mediocridade terrena. S quem se impregna do Esprito de Jesus e age em sintonia com o influxo de sua vontade est de fato trabalhando na vanguarda da evoluo planetria. Ele nosso lder espiritual e preside aos destinos do planeta, desde a sua formao3

    Deus, em seu infinito poder e sabedoria, como Causa inteligente e Providncia de todo o universo, o princpio e o alvo de todas as coisas. Manifesta-se por suas Leis imutveis, por seu hlito de amor, no qual tudo est mergulhado, pela vontade criadora que anima a evoluo. Acima de nossas definies e de nossa compreenso, sabemos que Ele e que est na origem de ns mesmos e do nado universal. Os Espritos puros que atingiram a perfeio moral e a sabedoria celeste, so seus colaboradores na criao e na manuteno do universo. Jesus um desses Espritos, responsvel pela Terra, guia da humanidade e ningum de ns pode chegar ao Pai seno por ele!

    .

    justo, pois, examinarmos sua c